Como a teoria política moderna contribuiu no debate
epistemológico das relações internacionais bem como na
discussão sobre cooperação e conflito.
Por Celso Assis
Dezembro de 2014
O mundo de hoje deve muito aos estudos esforçados de homens do
passado que tinham como meta identificar, pormenorizar, explicar e compreender o ambiente em que viviam. Suas teses são defendidas e debatidas até os dias de hoje pelos pesquisadores atuais. As Relações Internacionais, como um campo de estudo relativamente recente, toma emprestado da teoria política moderna certos conceitos para agregar a seu próprio. Homens políticos, séculos atrás, já deram sua cartada de como o mundo se comporta, tão certeira que Maquiavel, no século XVI, e Grócio, no século XVII, são consultados pelos modernos internacionalistas.
Para os estudantes da teoria realista nas Relações Internacionais, o autor
de O Príncipe é, sem dúvidas, uma grande inspiração. Maquiavel lida com a manutenção do poder em seus registros e leva em conta os interesses e as circunstâncias. Na primeira metade do século XX, quando a teoria realista estava sendo construída, E.H.Carr baseou-se no ponto de vista de Maquiavel para estruturar seu livro Vinte anos de crise. Em 1948, Morgenthau publica sua obra A política entre as nações, quando a teoria realista começa a ganhar estrutura e se apartar do clássico maquiavélico (OLIVEIRA; GERALDELLO, 2013).
Um século após Maquiavel publicar sua obra-prima, o inglês Thomas
Hobbes se autoproclama o pai da teoria política moderna devido a seu clássico Leviatã. No que se refere a contratos (ou pactos) sociais, o analista das relações internacionais pode entender que “o contratualismo de Hobbes descreve o caminho legal para o poder. Todos concordam contratualmente em abdicar, em favor do soberano, de seu precário direito a tudo” pois “somente esse poder está em condições de estabelecer a paz entre os homens” (HERB, 2013). Tal conceito nos leva a entender a origem do Estado moderno, estabelecida na Paz de Vestefália. Hugo Grócio foi um pioneiro do Direito Internacional Público. Os internacionalistas liberais estudam as obras deste jurista pois uma de suas principais defesas era a sustentação da harmonia e da paz. Grócio criou a ideia de tratado no Direito Internacional para estabelecer direitos e deveres entre as partes assinantes.
As Relações Internacionais se baseiam na análise da paz e da guerra, da
cooperação e do conflito. Para estes autores clássicos citados e para tantos outros ao longo dos séculos, a natureza humana determina a situação do sistema político. Para Maquiavel e Hobbes, o homem nasce malvado e fará de tudo para conquistar poder de modo que garanta sua sobrevivência. Já Grócio é de opinião que a natureza do homem é de cooperação, entretanto “o direito de empreender uma guerra externa surge da violação do princípio de convivência pacífica entre os Estados” (BARNABÉ, 2009).
Os conflitos, as guerras civis e internacionais, as revoluções e as revoltas
dos últimos quatro séculos serviram de tema e motivação para vários intelectuais lançarem suas ideias para a solução dos problemas que viam diante de si, como é o caso de À paz perpétua de Immanuel Kant. Portanto, a ciência política estabelecida ao longo dos “vinte anos de crise”, segundo Carr, contribuiu para que as Relações Internacionais se firmasse como campo de estudo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
OLIVEIRA, Marcelo Fernandes; GERALDELLO, Camila Silva. Maquiavel, os
Realistas e a Política Internacional. Brazilian Journal of Inernational Relations, vol.2, n.1, 2013. PP. 170-171
BARNABÉ, Gabriel Ribeiro. Hugo Grotius e as relações internacionais: entre o
direito e a guerra. Cadernos de Ética e Filosofia Política, vol.15, .2, 2009. P.44.
HERB, Karlfriedrich. Além do bem e do mal: o poder em Maquiavel, Hobbes, Arendt
e Foucault. Rev. Bras. Ciênc. Polít., Brasília, n. 10, abr. 2013. P. 273.