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FÁBIO MACHADO

LEGISLAÇÃO APLICADA AO
SUS
TEORIA, LEGISLAÇÕES
136 QUESTÕES DE PROVAS DE CONCURSOS DA EBSERH 
AOCP GABARITADAS

 Teoria, Legislações e Seleção das Questões:


 Prof. Fábio Machado

 Coordenação e Organização:
 Mariane dos Reis

2ª Edição
DEZ  2014

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SUMÁRIO
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE NO BRASIL E A CONSTRUÇÃO
DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) – princípios, diretrizes e arcabouço legal ................................. 05
Questões de Provas da EBSERH  AOCP ......................................................................................................................... 13

2. CONTROLE SOCIAL NO SUS............................................................................................................... 13


Questões de Provas da EBSERH  AOCP ......................................................................................................................... 16

3. RESOLUÇÃO 453/2012 DO CONSELHO NACIONAL DA SAÚDE.................................................... 16


Questões de Provas da EBSERH  AOCP.......................................................................................................................... 20

4. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ARTIGOS DE 194 a 200 ....................................................................... 22


Questões de Provas da EBSERH  AOCP ......................................................................................................................... 24

5. LEI ORGÂNICA DA SAÚDE – ............................................................................................................... 29


LEI Nº 8.080/1990 ...............................................................................................................................................29
Questões de Provas da EBSERH  AOCP ......................................................................................................................... 38

LEI Nº 8.142/1990 ...............................................................................................................................................44


Questões de Provas da EBSERH  AOCP ......................................................................................................................... 45

DECRETO PRESIDENCIAL Nº 7.508, DE 28 DE JUNHO DE 2011 ..................................................................47


Questões de Provas da EBSERH  AOCP ......................................................................................................................... 51

6. DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE .......................................................................................... 55


Questões de Provas da EBSERH  AOCP.......................................................................................................................... 56

7. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE ....................................................................................... 56


Questões de Provas da EBSERH  AOCP.......................................................................................................................... 58

GABARITOS ....................................................................................................................................... 59
Legislação Aplicada ao SUS Teoria + Legislações + Questões por Tópicos Prof. Fábio Machado

LEGISLAÇÃO APLICADA AO SUS

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE NO


1 BRASIL E A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) –
princípios, diretrizes e arcabouço legal.
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Até 1850, as atividades de saúde pública estavam
limitadas a: i) delegação das atribuições sanitárias
ANTECEDENTES às juntas municipais e ii) controle de navios e saúde
A administração portuguesa, no Brasil, não se carac- dos portos.
terizou, pelo menos até a metade do século XVIII, pela Verifica-se que o interesse primordial estava limitado
organização do espaço social visando a um combate ao estabelecimento de um controle sanitário mínimo
às causas das doenças. Antes do século XIX, não se en- da capital do Império, tendência que se alongou
contra, seja nas instituições propriamente médicas, seja por quase um século.
no aparelho de Estado, a relação explícita entre saúde A Junta não resolveu os problemas de saúde públi-
e sociedade. A atuação do Estado e dos médicos tem ca. Mas, embora não tenha destruído as epidemias,
como objetivo evitar a morte (MACHADO, 1978). ela marca uma nova etapa na organização da hi-
O século XIX assinala para o Brasil o início de um giene pública no Brasil. Essa forma é que será manti-
processo de transformação política e econômica que da durante o século XIX.
atinge igualmente o âmbito da medicina, inaugurando A fase imperial da história brasileira encerrou-se sem
duas de suas características, que têm vigorado até o que o Estado solucionasse os graves problemas de
presente: a penetração da medicina na sociedade, que saúde da coletividade. Tentativas foram feitas, mas
incorpora o meio urbano como alvo da reflexão e da sem os efeitos desejados.
prática médica, e a situação da medicina como apoio
científico indispensável ao exercício de poder do Esta-  A SAÚDE NA REPÚBLICA
do. Nasce um tipo específico de medicina que pode ser
A Proclamação da República, em 1889, foi embala-
chamado de medicina social (MACHADO, 1978).
da na ideia de modernizar o Brasil. A necessidade
Efetivamente, somente no século XX, iniciam-se polí- urgente de atualizar a economia e a sociedade, es-
ticas de saúde para enfrentar o quadro sanitário existen- cravistas até pouco antes, com o mundo capitalista
te no país. mais avançado favoreceu a redefinição dos traba-
lhadores brasileiros como capital humano. Essa ideia
 A SAÚDE NA COLÔNIA E NO IMPÉRIO tinha por base o reconhecimento de que as funções
A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil em 1808 produtivas são as fontes geradoras da riqueza das na-
determinou mudanças na administração pública ções. Assim, a capacitação física e intelectual dos
colonial, até mesmo na área da saúde. Como sede operários e dos camponeses seria o caminho indicado
provisória do império português e principal porto do para alterar a história do país, considerado no exte-
país, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se centro rior como “região bárbara”. Nesse contexto, a medici-
das ações sanitárias. Era necessário, então, criar ra- na assumiu o papel de guia do Estado para assuntos
pidamente centros de formação de médicos, que sanitários, comprometendo-se a garantir a melhoria
até então eram quase inexistentes em razão, em da saúde individual e coletiva e, por extensão, a de-
parte, da proibição de ensino superior nas colônias. fesa do projeto de modernização do país (BERTOLLI
Assim, por ordem real, foram fundadas as academi- FILHO, 2004).
as médico-cirúrgicas, no Rio de Janeiro e na Bahia, País predominantemente rural, com um contingente
na primeira década do século XIX, logo transforma- de analfabetos estimado em 70% no censo de 1920 –
das nas duas primeiras escolas de medicina do país. analfabetos e doentes, como apregoou os que se en-
Por volta de 1829, foi criada a Junta de Higiene Pú- gajaram no movimento sanitarista da época –, esse
blica, que se mostrou pouco eficaz e, apesar de vá- era o Brasil das três primeiras décadas do século XX.
rias reformulações, não alcançou o objetivo de cui- Naquele contexto, emergia a questão social associa-
dar da saúde da população. No entanto, é o mo- da às primeiras manifestações operárias urbanas,
mento em que instâncias médicas assumem o con- com intensos conflitos entre capital e trabalho a-
trole das medidas de higiene pública. Seu regula- companhados de violenta repressão e ausência de
mento é editado em 20 de setembro de 1851 e a canais legais de articulação de interesses.
transforma em Junta Central de Higiene Pública. Tem No âmbito das políticas sociais, pela Constituição de
como objetivos a inspeção da vacinação, o controle 1891, cabia aos estados a responsabilidade pelas
do exercício da medicina e a polícia sanitária da terra, ações de saúde, de saneamento e de educação.
que engloba a inspeção de alimentos, farmácias, ar-
As políticas de saúde, cujo início efetivo pode ser in-
mazéns de mantimentos, restaurantes, açougues, hos-
dicado em fins da década de 1910, encontravam-se
pitais, colégios, cadeias, aquedutos, cemitérios, ofi-
associadas aos problemas da integração nacional e
cinas, laboratórios, fabricas e, em geral, todos os lu-
à consciência da interdependência gerada pelas
gares de onde possa provir dano à saúde pública
doenças transmissíveis. Foi o resultado do encontro de
(MACHADO, 1978).

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um movimento sanitarista, organizado em torno da balhadores organizavam associações de auxílio mú-
proposta de políticas de saúde e saneamento, com tuo para lidar com problemas de invalidez, doença
a crescente consciência por parte das elites políti- e morte.
cas sobre os efeitos negativos do quadro sanitário A Lei que regulamentou a criação das Caixas de
existente no país (LIMA, 2005). Aposentadorias e Pensões (CAPs) tem sido indicada
A falta de um modelo sanitário para o país deixava as como o momento inicial da responsabilização do Es-
cidades brasileiras à mercê das epidemias. No início tado pela regulação da concessão de benefícios e
do século XX, a cidade do Rio de Janeiro apresen- serviços, especialmente da assistência médica. Trata-
tava um quadro sanitário caótico, caracterizado pe- va-se de organizações de direito privado, criadas para
la presença de diversas doenças graves que acometi- grupos específicos de servidores e organizadas segun-
am a população, como a varíola, a malária, a febre do princípios de seguro social, ou seja, um modelo em
amarela e, posteriormente, a peste. Esse quadro aca- que os benefícios dependiam das contribuições dos
bou gerando sérias consequências, tanto para a saú- segurados (ESCOREL; NASCIMENTO; EDLER, 2005).
de coletiva quanto para outros setores, como o do A Lei deveria ser aplicada a todos os trabalhadores.
comércio exterior, visto que os navios estrangeiros não Para que fosse aprovada no Congresso Nacional, do-
mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro em minado na sua maioria pela oligarquia rural, foi impos-
razão da situação sanitária existente na cidade. ta a condição de que esse benefício não seria es-
A incorporação dos novos conhecimentos clínicos e tendido aos trabalhadores rurais. Fato que, na histó-
epidemiológicos às práticas de proteção da saúde ria da previdência do Brasil, perdurou até a década
coletiva levou os governos republicanos, pela primei- de 1960, quando foi criado o Funrural. Assim foi apro-
ra vez na história do país, a elaborar minuciosos pla- vada, contemplando somente o operariado urbano.
nos de combate às enfermidades que reduziam a Tratando-se de um sistema por empresa, restrito ao
vida produtiva, ou útil, da população. Diferentemen- âmbito das grandes empresas privadas e públicas, as
te dos períodos anteriores, a participação do Estado CAPs possuíam administração própria para os seus
na área da saúde tornou-se global: não se limitava fundos, formada por um conselho composto de re-
às épocas de surto epidêmico, mas se estendia por presentantes dos empregados e dos empregadores.
todo o tempo e a todos os setores da sociedade.
O Estado não participava propriamente do custeio
A contínua intervenção estatal nas questões relati- das Caixas, que, de acordo com o determinado pe-
vas à saúde individual e coletiva revela a criação lo artigo 3° da Lei Eloi Chaves, era mantido por em-
de uma “política de saúde”. pregados das empresas (3% dos respectivos venci-
A atenção para as epidemias nas cidades, como a mentos), empresas (1% da renda bruta) e consumi-
de peste bubônica em 1899, no porto de Santos, es- dores dos serviços destas (CORDEIRO, 2004).
teve na origem da criação, em 1900, das duas prin-
cipais instituições de pesquisa biomédica e saúde  A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA
pública do país: o Instituto Soroterápico Federal – O primeiro governo Vargas é reconhecido pela lite-
transformado posteriormente em Instituto Oswaldo ratura como um marco na configuração de políticas
Cruz (1908) e Fundação Oswaldo Cruz (1970) –, no sociais no Brasil. As mudanças institucionais que ocorre-
Rio de Janeiro, e o Instituto Butantan, em São Paulo. ram, a partir de 1930, moldaram a política pública bra-
Nessas instituições, uma nova geração de médicos, sileira, estabelecendo um arcabouço jurídico e ma-
formados segundo o paradigma da bacteriologia e terial que conformaria o sistema de proteção social
influenciados pela pesquisa científica praticada na até um período recente.
França e na Alemanha, começaria a exercer forte
Coube ao Estado Novo acentuar e dirigir o processo
influência nas concepções sobre as doenças trans-
de expansão do capitalismo no campo, de maneira
missíveis e nas propostas de ações em saúde pública
a impedir que nele ocorressem alterações radicais
(LIMA, 2005).
na estrutura da grande propriedade agrária.
Além de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, Adolpho
Em 1937, é promulgada nova Constituição, que refor-
Lutz, Arthur Neiva e Vital Brasil, entre outros, desta-
ça o centralismo e a autoridade presidencial (dita-
cam-se na definição de rumos para a saúde pública
dura). O trabalhismo oficial e as suas práticas foram
e na criação de instituições.
reforçados a partir de 1940 com a imposição de um
Um ativo movimento de Reforma Sanitária emergiu sindicato único e pela exigência do pagamento de
no Brasil durante a Primeira República, sob a lideran- uma contribuição sindical.
ça da nova geração de médicos higienistas, que
alcançou importantes resultados. Entre as conquis- Em 1939, regulamenta-se a justiça do trabalho e, em
tas, destaca-se a criação do Departamento Nacio- 1943, é homologada a Consolidação das Leis Traba-
nal de Saúde Pública (DNSP), em 1920. Durante a lhistas (CLT).
Primeira República, foram estabelecidas as bases A crescente massa assalariada urbana passa a consti-
para a criação de um Sistema Nacional de Saúde, tuir-se no ponto de sustentação política do novo go-
caracterizado pela concentração e pela verticali- verno de Getúlio Vargas, por meio de um regime cor-
zação das ações no governo central. porativista. São promulgadas as leis trabalhistas e, ao
As medidas de proteção social e, em particular, a mesmo tempo, cria-se a estrutura sindical do Estado.
assistência médica só viriam a ter reconhecimento Essas ações transparecem como dádivas do Governo
legal como política pública com a aprovação da e do Estado, e não como conquista dos trabalhadores.
Lei Eloi Chaves, de 1923, resultado do crescente im- No que tange à Previdência Social, a política de Es-
pacto do que passou a ser definido como a questão tado pretendeu estender a todas as categorias do
social no país. Até então, muitas categorias de tra- operariado urbano organizado os benefícios da pre-

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vidência. Dessa forma, as antigas CAPs são substituí- 3. implementação da campanha nacional contra a
das pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP). lepra e das campanhas de controle e erradica-
Nesses institutos, os trabalhadores eram organizados ção de doenças, como a malária, de 1958 a 1964;
por categoria profissional (marítimos, comerciários e 4. realização da 3ª Conferência Nacional de Saúde,
bancários) e não por empresa. em 1963.
Em 1933, foi criado o primeiro Instituto de Aposenta- Esses marcos reforçavam aspectos importantes, tais
doria e Pensões, o dos Marítimos (IAPM). Seu decreto como:
de constituição definia, no artigo 46, os benefícios
1. permanência da disjunção entre saúde pública
assegurados aos associados:
e assistência médica com ênfase da primeira
a. aposentadoria; nas populações rurais;
b. pensão em caso de morte: para os membros de 2. foco das ações sobre doenças específicas;
suas famílias ou para os beneficiários, na forma
3. deslocamento do processo de discussão e deci-
do art. 55;
são para arenas fora da burocracia pública, tais
c. assistência médica e hospitalar, com internação como o Congresso Nacional e a politização da
até 30 dias; saúde nos congressos de higiene e nas confe-
d. socorros farmacêuticos, mediante indenização rências nacionais.
pelo preço do custo acrescido das despesas de A dinâmica política da sociedade brasileira come-
administração. çava, desde meados da década de 1950, a permitir
Até o fim dos anos 1950, a assistência médica previ- a compreensão das proposições de mudanças nas
denciária não era importante. Os técnicos do setor políticas da saúde, promovida pelos “desenvolvimentis-
consideravam-na secundária no sistema previden- tas”, que defendiam a ideia da saúde como ques-
ciário brasileiro, e os segurados não faziam dela par- tão de superestrutura, isto é, não como causa do de-
te importante de suas reivindicações (POLIGNANO, senvolvimento econômico e social, mas uma conse-
quência dele.
2006).
A 3ª Conferência Nacional de Saúde (3ª CNS), realiza-
As políticas de saúde, então implementadas, corres-
da em dezembro de 1963, foi o último evento na ex-
ponderam a alterações em diversos campos. Na es-
periência democrática. Os principais pontos da 3ª CNS
fera institucional, a principal mudança consistiu na
eram a rediscussão da distribuição de responsabili-
criação do Ministério da Educação e Saúde Pública
dades entre os entes federativos, uma avaliação crí-
(Mesp), o qual passou por sucessivas reformulações.
tica da realidade sanitária do país e uma clara pro-
Ao Mesp cabia a saúde pública, ou melhor, tudo que
posição de municipalização dos serviços de saúde,
dissesse respeito à saúde da população e que não
intenção revelada no temário da Conferência e ex-
se encontrava na área da medicina previdenciária,
plicitada nos discursos do presidente da República,
desenvolvida no Ministério do Trabalho, Indústria e
João Goulart, e do ministro da Saúde, Wilson Fadul.
Comércio.
O Sistema Nacional de Saúde implantado no Brasil
O Mesp fazia a prestação de serviços para aqueles
no período militar (1964-1984) caracterizou-se pelo pre-
identificados como pré-cidadãos: os pobres, os de-
domínio financeiro das instituições previdenciárias e
sempregados, os que exerciam atividades informais,
pela hegemonia de uma burocracia técnica que
ou seja, todos aqueles que não se encontravam ha-
atuava no sentido da mercantilização crescente da
bilitados a usufruir os serviços oferecidos pelas caixas
saúde.
e pelos serviços previdenciários.
O governo militar implantou reformas institucionais que
Tal dualidade tornou-se uma das marcas do sistema
afetaram profundamente a saúde pública e a me-
de proteção social de saúde no Brasil, formalizando dicina previdenciária. Com a unificação dos Institutos
no campo da saúde uma separação, uma distinção de Aposentadoria e Pensões (IAPs) no Instituto Nacio-
institucional entre duas áreas de gestão em políticas nal de Previdência Social (INPS), em 1966, concentra-
públicas de saúde, que marcaria definitivamente as ram-se todas as contribuições previdenciárias, ao mes-
ações de saúde no Brasil (LIMA, 2005). mo tempo em que o novo órgão passou a gerir as
Com a promulgação de uma nova Constituição em aposentadorias, as pensões e a assistência médica
1946, o país inicia um período de 19 anos de experiên- de todos os trabalhadores formais, embora excluísse
cia democrática. A saúde pública, ainda que herdeira dos benefícios os trabalhadores rurais e uma gama
dos aparatos estatais construídos nos 15 anos do primei- de trabalhadores urbanos informais.
ro governo Vargas, teve sua estrutura centralizada com A saúde pública, relegada ao segundo plano, tornou-
múltiplos programas e serviços verticalizados para im- se uma máquina ineficiente e conservadora, cuja
plementar campanhas e ações sanitárias, assim como atuação restringia-se a campanhas de baixa eficá-
sua burocracia foi confrontada com novos contextos e cia. A carência de recursos — que não chegavam a
contornos políticos e sociais que caracterizaram o 2% do PIB — colaborava com o quadro de penúria e
Brasil até 1964. decadência, com graves consequências para a sa-
Os marcos institucionais desse período foram: úde da população. Os habitantes das regiões me-
tropolitanas, submetidos a uma política concentra-
1. criação do Ministério da Saúde, em 1953, velha dora de renda, eram vítimas das péssimas condições
aspiração dos médicos da saúde pública; de vida que resultavam em altas taxas de mortali-
2. reorganização dos serviços nacionais no Depar- dade. Esse quadro seria ainda agravado com a re-
tamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu), pressão política, que atingiu também o campo da
em 1956; saúde, com cassações de direitos políticos, exílio, in-

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timidações, inquéritos policial-militares, aposentado- tros movimentos sociais, mais ou menos vigorosos, que
ria compulsória de pesquisadores, falta de financia- tinham em comum a luta pelos direitos civis e sociais
mento e fechamento de centros de pesquisas. percebidos como dimensões imanentes à democracia
Na década de 1970, a assistência médica financiada (ESCOREL; NASCIMENTO; EDLER, 2005).
pela Previdência Social conheceu seu período de Os Departamentos de Medicina Preventiva (DMPs)
maior expansão em número de leitos disponíveis, em constituíram a base institucional que produziu conhe-
cobertura e em volume de recursos arrecadados, cimentos sobre a saúde da população e o modo de
além de dispor do maior orçamento de sua história. organizar as práticas sanitárias. A Lei da Reforma Uni-
Entretanto, os serviços médicos prestados pelas em- versitária de 1968, que incorporou a medicina preven-
presas privadas aos previdenciários eram pagos por tiva no currículo das faculdades, tornou obrigatórios
Unidade de Serviço (US) e essa forma de pagamen- os DMPs. No Brasil, os primeiros foram criados na dé-
to tornou-se uma fonte incontrolável de corrupção. cada de 1950.
A construção ou a reforma de inúmeras clínicas e Esse novo campo da especialidade médica foi o lócus
hospitais privados com dinheiro público, mais especi- a partir do qual começou a se organizar o movimen-
ficamente com recursos financeiros da Previdência to sanitário, que buscava conciliar a produção do
Social, associada ao enfoque na medicina curativa, conhecimento e a prática política, ao mesmo tem-
foi concomitante à grande expansão das faculda- po em que ampliava seu campo de ação, envol-
des particulares de medicina por todo o País. O INPS vendo-se com organizações da sociedade civil nas
financiou a fundo perdido as empresas privadas que suas demandas pela democratização do país. Foi nes-
desejassem construir seus hospitais (ESCOREL; NAS- se período que as ideias da medicina social penetra-
CIMENTO; EDLER, 2005). ram nos meios acadêmicos brasileiros. Sua aborda-
Em 1975, o modelo econômico implantado pela di- gem contrapunha-se à “concepção positivista de
tadura militar entra em crise. A população com bai- uma ciência universal, empírica, atemporal e isenta
xos salários, contidos pela política econômica e pela de valores”, uma abordagem médico-social funda-
repressão, passou a conviver com o desemprego e da na percepção do caráter político da área da
as suas graves consequências sociais, como aumen- saúde (ESCOREL, 1998).
to da marginalidade, das favelas e da mortalidade Em fins da década de 1960, desenvolve-se na Amé-
infantil. O modelo de saúde previdenciário começa rica Latina uma forte crítica aos efeitos negativos da
a mostrar as suas mazelas: medicalização. Os programas de medicina comunitá-
1. por ter priorizado a medicina curativa, o modelo ria propõem a desmedicalização da sociedade, com
proposto foi incapaz de solucionar os principais programas alternativos de autocuidado da saúde, com
problemas de saúde coletiva, como as endemias, atenção primária realizada por pessoal não profis-
as epidemias e os indicadores de saúde (morta- sional e a valorização da medicina tradicional.
lidade infantil, por exemplo);
A Conferência Internacional sobre a Atenção Primá-
2. aumentos constantes dos custos da medicina cu-
ria à Saúde, realizada em Alma-Ata (localizada no
rativa, centrada na atenção médico-hospitalar
atual Cazaquistão), em 1978, foi o ponto culminante
de complexidade crescente;
na discussão contra a elitização da prática médica,
3. diminuição do crescimento econômico com a
bem como contra a inacessibilidade dos serviços mé-
respectiva repercussão na arrecadação do sis-
dicos às grandes massas populacionais. Na Confe-
tema previdenciário, reduzindo as suas receitas;
rência, reafirmou-se ser a saúde um dos direitos fun-
4. incapacidade do sistema em atender uma po-
damentais do homem, sob a responsabilidade polí-
pulação cada vez maior de marginalizados que,
tica dos governos, e reconhece-se a sua determina-
sem carteira assinada e contribuição previden-
ciária, se via excluídos do sistema; ção intersetorial.

5. desvios de verba do sistema previdenciário para As novas formulações em torno da prática médica
cobrir despesas de outros setores e para realiza- caracterizaram-se pela revisão crítica da teoria pre-
ção de obras por parte do governo federal; ventivista, até então hegemônica na análise dos pro-
6. o não repasse pela União de recursos do Tesouro blemas da saúde. Delimitou-se teoricamente o campo
Nacional para o sistema previdenciário, visto ser da saúde coletiva e, nessa perspectiva, o estudo do
esse tripartite (empregador, empregado e União). processo saúde-doença teria como foco não mais o
indivíduo ou o seu somatório, mas a coletividade (as
 O MOVIMENTO SANITÁRIO classes sociais e suas frações) e a distribuição de-
Com a rearticulação paulatina dos movimentos so- mográfica da saúde e da doença (ESCOREL, 1998).
ciais, tornaram-se mais frequentes as denúncias sobre Portanto, o movimento sanitário, entendido como mo-
a situação caótica da saúde pública e dos serviços vimento ideológico com uma prática política, consti-
previdenciários de atenção médica e amplificaram- tuiu-se a partir dos DMPs em um confronto teórico com
se as reivindicações de solução imediata para os
o movimento preventivista liberal de matriz america-
problemas criados pelo modelo de saúde existente.
na e com sua versão racionalizadora proposta pela
Nesse contexto, sindicatos das diversas categorias pro- burocracia estatal. O pensamento reformista, que iria
fissionais da saúde — principalmente médicos, acadê-
construir uma nova agenda no campo da saúde,
micos e cientistas — debatiam em seminários e con-
desenvolveu sua base conceitual a partir de um diá-
gressos as epidemias, as endemias e a degradação
da qualidade de vida do povo. Um movimento pela logo estreito com as correntes marxistas e estruturalis-
transformação do setor de saúde fundiu-se com ou- tas em voga.

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O ano de 1974 marcou o começo de uma importante Alguns desses projetos tornaram-se modelos de ser-
inflexão política do regime militar que inicia o processo viços oferecidos pelo sistema de saúde. Entre eles, o
de abertura, completada pelo último presidente militar Projeto Montes Claros (MOC) cujos princípios, mais
(1979-1984). Esses anos são marcados pelas críticas ao tarde, servirão para nortear a proposta do SUS. O
regime, que procurou resistir, ampliando, por um lado, Programa de Interiorização das Ações de Saúde e
de forma controlada, o espaço de manifestação polí- Saneamento (Piass) propunha a “interiorização das
tica; por outro, utilizando-se simultaneamente de dois ações de saúde” e teve como sua área de ação
mecanismos voltados para responder às demandas privilegiada a região Nordeste. Abrangendo 10 esta-
das camadas populares: concessões econômicas res- dos, tornou-se viável por haver contado, a partir de cer-
tritas e uma política social ao mesmo tempo repressi- to momento, com o apoio de secretários de Saúde
va e paternalista. Destacam-se, ainda, o ressurgimento dos estados e da própria Previdência Social.
do movimento estudantil e o surgimento do movimen- O governo Figueiredo, marcado pela abertura polí-
to pela anistia e do novo sindicalismo, além do início tica e pela influência do II PND, do período Geisel,
do movimento sanitário (CORDEIRO, 2004). pareceu, no primeiro momento, mais promissor para
Entre essas políticas, o II Plano Nacional de Desenvol- a área da saúde. Contudo, não concretizou a unifi-
vimento (II PND) foi um plano quinquenal voltado ao cação dos Ministérios da Previdência e da Saúde,
desenvolvimento econômico e social, o qual conti- desejada para o aprofundamento das reformas pre-
nuava ideologicamente orientado pela visão do tendidas.
“Brasil Grande Potência”. Apareciam nele, entretanto,
Em contrapartida, as pressões sociais e políticas do
algumas prioridades no campo social: educação,
setor da saúde resultaram na criação de mecanis-
saúde e infraestrutura de serviços urbanos. O diag-
mos de coordenação interministerial com o objetivo
nóstico apresentado para a saúde pública e, até
de se elaborar um projeto de grandes proporções pa-
mesmo, para a assistência médica da Previdência
ra o reordenamento do setor. A primeira versão do
denunciava a carência de capacidade gerencial e
projeto, de julho de 1980, denominada originalmen-
estrutura técnica.
te de Pró-Saúde e, mais tarde, Prev--Saúde, passou
Para fazer frente a esses desafios, o governo criou o
por diversas redefinições.
Conselho de Desenvolvimento Social (CDS). O regime
precisava lançar mão de políticas sociais para a sua Na sua primeira versão, o Prev-Saúde apresentava-se,
aparentemente, como um plano que, inspirado em
legitimação, por isso investiu, canalizou recursos e prio-
programas de atenção primária, como os projetos
rizou projetos nesses setores. No entanto, não tinha
Sobradinho, MOC e Piass, tinha como pressupostos
quadros para ocupar todos os espaços abertos e ter- básicos a hierarquização das formas de atendimen-
minou por criar espaços institucionais para pessoas de to por níveis de complexidade, a integração dos ser-
pensamento contrário, senão antagônicos, ao domi- viços existentes em cada um dos níveis de comple-
nante, em seu setor. Por essa brecha, lideranças do xidade, fossem de origem pública ou privada, e a
movimento sanitário entraram na alta burocracia es- regionalização do atendimento por áreas e popula-
tatal, na área da saúde e da Previdência Social ções definidas. Contudo, não passava de uma pro-
(ESCOREL, 1998). posta de investimento no nível primário de atenção,
que não tocava significativamente na rede hospita-
A estratégia de distensão política, iniciada pelo go-
lar privada.
verno do general Geisel (1974-1979), possibilitou ao
movimento sanitário apresentar propostas transfor- Ao incorporar o ideário do movimento sanitário, cons-
madoras no sentido de melhorar e democratizar o truído em amplos debates oficiais, como o I Simpósio
atendimento à saúde das populações mais caren- sobre Política Nacional de Saúde e a VII Conferência
tes. A política de saúde, adotada até então pelos Nacional de Saúde, em 1980, bem como em deba-
governos militares, colocava ênfase em uma medi- tes não oficiais, o Prev-Saúde permaneceu como
cina de cunho individual e assistencialista, em detri- paradigma das reformas sanitárias desejadas, jamais
mento de ações vigorosas no campo da saúde co- atendidas pelo governo (ESCOREL; NASCIMENTO;
letiva. Além de privilegiar uma prática médica cura-
EDLER, 2005).
tiva, em detrimento de medidas de ações preventivas
de interesse coletivo, a política de saúde acabou A década de 1980 inicia-se com um movimento cada
por propiciar um processo incontrolável, por parte vez mais forte de contestação ao sistema de saúde
dos setores privados, que, na busca do superfatura- governamental. As propostas alternativas ao modo
mento, multiplicavam e desdobravam os atos médi- oficial de atenção à saúde caracterizam-se pelo apelo
cos, optavam por internações mais caras, enfatiza- à democratização do sistema, com participação po-
vam procedimentos cirúrgicos desnecessários, além pular, à universalização dos serviços, à defesa do ca-
de utilizar pouco pessoal técnico e equipamentos ráter público do sistema de saúde e à descentraliza-
antigos, entre outros expedientes (CORDEIRO, 2004). ção. Ao mesmo tempo, o agravamento da crise da
Atuando sob forte pressão do regime autoritário, o Previdência Social, em 1981, resultou no lançamento
movimento sanitário caracterizou--se, gradualmente, do chamado “pacote da previdência”, que previa
como uma força política construída a partir da arti- o aumento das alíquotas de contribuição, a diminui-
culação de uma série de propostas contestatórias ao
ção dos benefícios dos aposentados e a intervenção
regime. Nesses primeiros anos do movimento sanitá-
na área da assistência médica da Previdência Social.
rio, a ocupação dos espaços institucionais caracteri-
zou-se pela busca do exercício e da operacionali- Foi nesse contexto que teve origem o Conselho Con-
zação de diretrizes transformadoras do sistema de sultivo de Administração da Saúde Previdenciária
saúde. (Conasp).

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O Conasp, criado em setembro de 1981, pelo Decreto acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde”.
n. 86.329 da Presidência da República, como órgão Esse documento serviu de base para as discussões
do Ministério da Previdência e Assistência Social, de- na Assembleia Nacional Constituinte (CONFERÊNCIA
veria operar como organizador e racionalizador da NACIONAL DE SAÚDE, 1986).
assistência médica e procurou instituir medidas mo- Outro tema bastante debatido foi o da unificação
ralizadoras na área da saúde, como, por exemplo, a do Inamps com o Ministério da Saúde. Para os con-
Portaria n. 3.046, de 20 de julho de 1982, que estabe- ferencistas, a Previdência Social deveria ater-se às
leceu parâmetros assistenciais, visando disciplinar o ações próprias do seguro social, enquanto a Saúde
atendimento médico-hospitalar dos hospitais conveni- deveria ser entregue a um órgão federal com novas
ados e da rede pública e que se corporificou no características. O setor saúde receberia recursos vindos
Plano de Reorientação da Assistência à Saúde no de diferentes receitas e o seu orçamento contaria
Âmbito da Previdência Social. com recursos provenientes do Instituto Nacional de
As Ações Integradas de Saúde (AIS) surgiram sob a Assistência Médica da Previdência Social Inamps.
forma de um programa dentro do Plano do Conasp Assim, foi na 8ª Conferência Nacional de Saúde que
e concretizaram-se por meio de convênios, assina- se aprovou a criação de um Sistema Único de Saú-
dos pela maioria dos estados brasileiros entre o de, que se constituísse em um novo arcabouço insti-
MPAS/MS/MEC e as secretarias estaduais de saúde, tucional, com a separação total da saúde em rela-
com a incorporação progressiva dos municípios. ção à Previdência.
Apesar de todos os problemas em sua implementa- O financiamento e a discussão da operacionalização
ção, as AIS significaram avanços consistentes no for- ainda deveriam ser mais aprofundados, sendo neces-
talecimento da rede básica ambulatorial, na contra- sária a organização de fundos únicos de saúde nos
tação de recursos humanos, na articulação com os ser- três níveis da Federação. Propôs-se a criação de um
viços públicos municipais, na revisão do papel dos servi- grupo executivo da Reforma Sanitária, convocado
ços privados e, em alguns casos, na participação da pelo Ministério da Saúde – a Comissão Nacional da
população na gestão dos serviços. Esses avanços, en- Reforma Sanitária (CORDEIRO, 2004).
tretanto, não impediram retrocessos (ESCOREL, 1998).
Enquanto se aprofundavam as discussões sobre o finan-
Mesmo antes do advento da chamada Nova Repú- ciamento e a operacionalização para a constituição
blica, o movimento sanitário realizou sua estratégia do Sistema Único de Saúde, em julho de 1987, criou-
de ocupação de todos os espaços de discussão se o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
possíveis. Articulado com as lideranças políticas do (Suds), que tinha também como princípios básicos: a
País, promoveu encontros cuja finalidade não se re- universalização, a equidade, a descentralização, a
sumia a planejar políticas para a área de saúde, regionalização, a hierarquização e a participação
mas, sim, de influenciar na sua adoção. comunitária.
Em 1985, o regime militar chega ao fim. Com o ad- De acordo com José Noronha (NORONHA; PEREIRA;
vento da Nova República, lideranças do movimento VIACAVA, 2005), secretário de Medicina Social do
sanitário assumem efetivamente posições em pos- Inamps, à época:
tos-chave nas instituições responsáveis pela política
O Suds é o estágio evolutivo das AIS. (...) É essa a ideia do
de saúde no país. Como expressão dessa nova rea-
Suds (...) a transferência de recursos do Inamps para os ser-
lidade, destaca-se a convocação, em 1986, da 8ª viços do Estado, mediante convênios. Não por prestação de
Conferência Nacional de Saúde, cujo presidente foi serviços, mas em função de uma programação integrada. (...)
Sérgio Arouca, então presidente da Fundação Os- A idéia é que os estados devam coordenar o processo de mu-
waldo Cruz. Esse evento é considerado o momento nicipalização (...).
mais significativo do processo de construção de uma
Pode-se dizer que o Suds foi norteado pelo princípio
plataforma e de estratégias do “movimento pela
de que os recursos federais devessem efetivamente
democratização da saúde em toda sua história”
realizar o real acesso à atenção à saúde, por parte
(ESCOREL; NASCIMENTO; EDLER, 2005).
de toda a população. Ao mesmo tempo, pretendia-
Foi na 8ª Conferência Nacional de Saúde, entre 17 e se garantir, ao máximo, que os recursos destinados à
21 de março de 1986, em Brasília, que se lançaram saúde não se dispersassem nem fossem apropriados
os princípios da Reforma Sanitária. Nessa Conferên- para outros fins.
cia, que contou com a presença de mais de quatro
Não foi por acaso que se implantava o Suds, ao mes-
mil pessoas, evidenciou-se que as modificações no
mo tempo em que se instalava a Comissão Nacional
setor da saúde transcendiam os marcos de uma sim-
de Reforma Sanitária (CNRS). O Suds constituía-se
ples reforma administrativa e financeira. Havia ne-
em uma estratégia-ponte para “a reorientação das
cessidade de uma reformulação mais profunda, com
políticas de saúde e para a reorganização dos ser-
a ampliação do conceito de saúde e sua corres-
viços, enquanto se desenvolvessem os trabalhos da
pondente ação institucional.
Constituinte e da elaboração da legislação ordiná-
Questão fundamental para os participantes da Con- ria para o setor” (CORDEIRO, 2004).
ferência foi a da natureza do novo sistema de saú-
Criada por Portaria Ministerial MEC/MS/MPAS n. 2/86,
de: se estatal ou não, de implantação imediata ou
de 22 de agosto de 1986, a Comissão Nacional de
progressiva. Recusada a ideia da estatização, man-
Reforma Sanitária, apesar de seu caráter fortemente
teve-se a proposta do fortalecimento e da expansão
institucional, foi capaz de elaborar uma proposta de
do setor público. Seu documento final define o con-
conteúdo de saúde que subsidiou a Constituinte, além
ceito de saúde como “resultante das condições de
de um projeto para a nova lei do SUS. Embora não
alimentação, habitação, educação, renda, meio am-
consensual, pois combatida pelos representantes da
biente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
iniciativa privada, que a consideravam radical, e cri-

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ticada pelos representantes do movimento sindical,  ARCABOUÇO LEGAL DO SUS
que a consideravam insuficiente, a proposta da CNRS
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
para a Subcomissão de Saúde, Seguridade e Meio
Ambiente da Constituinte acabou aceita pelo mo- Em 1988, concluiu-se o processo constituinte e foi pro-
vimento sanitário, por estar consentânea com as re- mulgada a oitava Constituição do Brasil. A chamada
comendações da 8ª Conferência Nacional de Saúde. “Constituição Cidadã” foi um marco fundamental na
De qualquer forma, a área da saúde conseguiu che- redefinição das prioridades da política do Estado na
gar à Assembleia Nacional Constituinte com sua pro- área da saúde pública.
posta discutida, legitimada e completa, do ponto de
A Constituição Federal de 1988 define o conceito de
vista do ideário do movimento sanitário (ESCOREL;
NASCIMENTO; EDLER, 2005). saúde, incorporando novas dimensões. Para se ter saú-
de, é preciso ter acesso a um conjunto de fatores, co-
Como resultado das diversas propostas em relação ao
mo alimentação, moradia, emprego, lazer, educação
setor de saúde apresentadas na Assembleia Nacio-
etc.
nal Constituinte, a Constituição Federal de 1988 apro-
vou a criação do Sistema Único de Saúde, reconhe- O artigo 196 cita que “a saúde é direito de todos e de-
cendo a saúde como um direito a ser assegurado ver do Estado, garantido mediante políticas sociais e
pelo Estado e pautado pelos princípios de universa- econômicas que visem à redução do risco de doença
lidade, equidade, integralidade e organizado de ma- e de outros agravos e ao acesso universal e igualitá-
neira descentralizada, hierarquizada e com partici- rio às ações e serviços para sua promoção, proteção e
pação da população (CONASS, 2003). recuperação”. Com esse artigo fica definida a univer-
salidade da cobertura do Sistema Único de Saúde.
Cabe lembrar que, antes da criação do Sistema Único
de Saúde, o Ministério da Saúde desenvolvia quase O SUS faz parte das ações definidas na Constituição
que exclusivamente ações de promoção da saúde e como sendo de “relevância pública”, sendo atribuído
prevenção de doenças, como campanhas de vaci- ao poder público a sua regulamentação, a fiscaliza-
nação e controle de endemias. A atuação do setor ção e o controle das ações e dos serviços de saúde.
público na chamada assistência médico-hospitalar Conforme a Constituição Federal de 1988, o SUS é de-
era prestada por intermédio do Instituto Nacional de finido pelo artigo 198 do seguinte modo:
Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), As ações e serviços públicos de saúde integram uma
autarquia do Ministério da Previdência e Assistência rede regionalizada e hierarquizada e constituem um
Social, e a Assistência à Saúde desenvolvida benefi- sistema único, organizado de acordo com as seguin-
tes diretrizes:
ciava apenas os trabalhadores da economia formal,
I. Descentralização, com direção única em cada esfe-
segurados do INPS e seus dependentes, não tendo
ra de governo;
caráter universal (SOUZA, 2002).
II. Atendimento integral, com prioridade para as ativi-
dades preventivas, sem prejuízo dos serviços assisten-
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ciais;
O Sistema Único de Saúde (SUS) é constituído pelo III. Participação da comunidade.
conjunto das ações e de serviços de saúde sob gestão Parágrafo único – O Sistema Único de Saúde será fi-
pública. Está organizado em redes regionalizadas e hierar- nanciado, com recursos do orçamento da seguridade
quizadas e atua em todo o território nacional, com dire- social, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
ção única em cada esfera de governo. O SUS não é, po- Municípios, além de outras fontes.
rém, uma estrutura que atua isolada na promoção dos O texto constitucional demonstra claramente que a
direitos básicos de cidadania. Insere-se no contexto das concepção do SUS estava baseada na formulação
políticas públicas de seguridade social, que abrangem, de um modelo de saúde voltado para as necessida-
além da Saúde, a Previdência e a Assistência Social.
des da população, procurando resgatar o compro-
misso do Estado para com o bem-estar social, espe-
 RESPONSABILIDADES DAS TRÊS ESFERAS DE GOVERNO
cialmente no que refere à saúde coletiva, consolidan-
A Constituição brasileira estabelece que a saúde é
do-o como um dos direitos da cidadania.
um dever do Estado. Aqui, deve-se entender Estado
não apenas como o governo federal, mas como po- Ao longo do ano de 1989, procederam-se negocia-
der público, abrangendo a União, os estados, o Dis- ções para a promulgação da lei complementar que
trito Federal e os municípios. daria bases operacionais à reforma e iniciaria a cons-
A Lei n. 8.080/90 (BRASIL, 1990) determina, em seu arti- trução do SUS.
go 9º, que a direção do SUS deve ser única, de acordo LEI N. 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990 – LEI ORGÂNICA DA
com o inciso I do artigo 198 da Constituição Federal, SAÚDE
sendo exercida, em cada esfera de governo, pelos A Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe sobre
seguintes órgãos: as condições para a promoção, proteção e recupe-
I. no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde; ração da saúde, a organização e o funcionamento
II. no âmbito dos estados e do Distrito Federal, pela dos serviços correspondentes. Essa lei regula em todo o
respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente; território nacional as ações e os serviços de saúde,
executados isolada ou conjuntamente, em caráter
III. no âmbito dos municípios, pela respectiva Secre-
permanente ou eventual, por pessoas naturais ou ju-
taria de Saúde ou órgão equivalente.
rídicas de direito público ou privado (BRASIL, 1990).

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A Lei n. 8.080/90 institui o Sistema Único de Saúde, cons- LEI N. 8.142, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1990
tituído pelo conjunto de ações e serviços de saúde, A Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, dispõe
prestados por órgãos e instituições públicas federais, sobre a participação da comunidade na gestão do
Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências
estaduais e municipais, da administração direta e indi-
intergovernamentais de recursos financeiros na área
reta e das fundações mantidas pelo poder público. de saúde, entre outras providências. Também instituiu
A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único as Conferências e os Conselhos de Saúde em cada
de Saúde em caráter complementar. esfera de governo (BRASIL, 1990).
CAPÍTULO II O SUS conta em cada esfera de governo com as
Dos Princípios e Diretrizes seguintes instâncias colegiadas de participação da
sociedade: (i) a Conferência de Saúde e (ii) o Con-
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços
selho de Saúde.
privados contratados ou conveniados que integram o Sis-
tema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo
Nos últimos 70 anos (1941-2011), foram realizadas 14 Con-
ferências Nacionais de Saúde (CNS) em contextos políticos
com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Fede-
diversos e cujas características em termos de com-
ral, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
posição, temário e deliberações foram muito dife-
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos rentes entre si.
os níveis de assistência; Na Lei n. 8.142/90, ficou estabelecido que a Confe-
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto ar- rência Nacional de Saúde (CNS) fosse realizada a
ticulado e contínuo das ações e serviços preventivos e cu- cada quatro anos, “com a representação dos vários
rativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde
todos os níveis de complexidade do sistema; e propor diretrizes para a formulação de políticas de
saúde nos níveis correspondentes, convocadas pelo
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua Poder Executivo ou, extraordinariamente, por este ou
integridade física e moral; pelo Conselho de Saúde”.
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou Essas Conferências se realizam em um processo as-
privilégios de qualquer espécie; cendente, desde Conferências Municipais de Saúde,
V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; passando por uma Conferência Estadual de Saúde em
cada estado e culminando em uma Conferência
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos ser- Nacional de Saúde.
viços de saúde e a sua utilização pelo usuário;
Os Conselhos de Saúde buscam participar da dis-
VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prio- cussão das políticas de saúde, tendo uma atuação
ridades, a alocação de recursos e a orientação programá- independente do governo, embora façam parte de
tica; sua estrutura, e onde se manifestam os interesses dos
VIII - participação da comunidade;
diferentes segmentos sociais, possibilitando a nego-
ciação de propostas e o direcionamento de recursos
IX - descentralização político-administrativa, com direção única para diferentes prioridades.
em cada esfera de governo:
Em seu parágrafo 2º, a Lei n. 8.142/90 define:
a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; “O Conselho de Saúde, em caráter permanente e de-
b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; liberativo, órgão colegiado composto por representan-
tes do governo, prestadores de serviço, profissionais de
X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e
ambiente e saneamento básico; no controle da execução da política de saúde na ins-
tância correspondente, inclusive nos aspectos econô-
XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, ma-
micos e financeiros, cujas decisões serão homologadas
teriais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e pelo chefe do poder legalmente constituído em cada
dos Municípios na prestação de serviços de assistência à esfera de governo”.
saúde da população; A representação dos usuários deverá ser paritária (50%)
XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os ní- em relação ao conjunto dos demais segmentos.
veis de assistência; e As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde
XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar têm sua organização e normas de funcionamento de-
duplicidade de meios para fins idênticos. finidas em regimento próprio, aprovado pelo respec-
tivo Conselho.
A Lei n.º 8.080/90 trata: A Lei n. 8.142/90 trata, ainda, da alocação dos recur-
a. da organização, da direção e da gestão do SUS; sos do Fundo Nacional de Saúde, do repasse de for-
b. da definição das competências e das atribuições ma regular e automática para municípios, estados e
das três esferas de governo; Distrito Federal. Para o recebimento desses recursos,
os municípios, os estados e o Distrito Federal devem
c. do funcionamento e da participação complemen- contar com: i) Fundo de Saúde; ii) Conselho de Saúde;
tar dos serviços privados de assistência à saúde; iii) Plano de Saúde; iv) Relatório de Gestão; v) Con-
d. da política de recursos humanos; trapartida de recursos para a Saúde no respectivo
orçamento e vi) Comissão de elaboração do Plano
e. dos recursos financeiros, da gestão financeira, do
de Carreira, Cargos e Salários (PCCS).
planejamento e do orçamento.

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IMPORTANTÍSSIMO!!!

SUGESTÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR:

Para informações esquematizadas e relevantes, em rela-


ção ao tópico em questão, vale apena acessar e ler o
conteúdo disponível através do link:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sus_saude_brasil_3ed.pdf

QUESTÕES DE PROVAS DA EBSERH  AOCP

Não foram encontradas questões, em provas de concursos anteriores, realizadas para EBSERH, pela AOCP, que abordas-
sem sobre esse tópico, porém, acessando o link abaixo, você terá acesso a um excelente material, com 53 questões
comentadas pelo professor Rômulo Passos. Vale muito a pena conferir...

http://romulopassos.com.br/rp-admin/materiais/AULA%2001%20-%20HISTORIA%20DA%20SAUDE%20NO%20BRASIL-20131208-124027.pdf

2 CONTROLE SOCIAL NO SUS.


PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL A discussão com ênfase dada ao controle social na
Após um longo período no qual a população viveu nova Constituição se expressa em novas diretrizes para
sob um estado ditatorial, com a centralização das deci- a efetivação deste por meio de instrumentos normativos
sões, o tecnicismo e o autoritarismo, durante a década e da criação legal de espaços institucionais que garan-
tem a participação da sociedade civil organizada na
de 1980 ocorreu uma abertura democrática que reco-
fiscalização direta do executivo nas três esferas de go-
nhece a necessidade de revisão do modelo de saúde
verno.
vigente na época, com propostas discutidas em ampliar
a participação popular nas decisões e descentralizar a Na atualidade, muitas expressões são utilizadas cor-
gestão pública em saúde, com vistas a aproximar as riqueiramente para caracterizar a participação popular
decisões do Estado ao cotidiano dos cidadãos brasilei- na gestão pública de saúde, a que consta em nossa
ros (DALLARI, 2000; SCHNEIDER et al., 2009; VANDERLEI; Carta Magna e o termo ‘participação da comunidade
ALMEIDA, 2007). na saúde’. Porém, iremos utilizar aqui o termo mais co-
Nessa perspectiva, a dimensão histórica adquire re- mum em nosso meio: ‘controle social’.
levância essencial para a compreensão do controle so- Sendo o controle social uma importante ferramenta
cial, o que pode provocar reações contraditórias. De de democratização das organizações, busca-se adotar
fato, o controle social foi historicamente exercido pelo uma série de práticas que efetivem a participação da
Estado sobre a sociedade durante muitos anos, na épo- sociedade na gestão (GUIZARDI et al., 2004).
ca da ditadura militar.
Embora o termo controle social seja o mais utilizado,
É oportuno destacar que a ênfase ao controle social consideramos que se trata de um reducionismo, uma vez
que aqui será dada refere-se às ações que os cidadãos
que este não traduz a amplitude do direito assegurado
exercem para monitorar, fiscalizar, avaliar, interferir na ges-
pela nova Constituição Federal de 1988, que permite não
tão estatal e não o inverso. Pois, como vimos, também
denominam-se controle social as ações do Estado para só o controle e a fiscalização permanente da aplicação
controlar a sociedade, que se dá por meio da legislação, de recursos públicos. Este também se manifesta através
do aparato institucional ou mesmo por meio da força. da ação, onde cidadãos e políticos têm um papel soci-
A organização e mobilização popular realizada na al a desempenhar através da execução de suas fun-
década de 80, do século XX, em prol de um Estado de- ções, ou ainda através da proposição, onde cidadãos
mocrático e garantidor do acesso universal aos direitos participam da formulação de políticas, intervindo em
a saúde, coloca em evidência a possibilidade de inver- decisões e orientando a Administração Pública quanto
são do controle social. Surge, então, a perspectiva de um às melhores medidas a serem adotadas com objetivo
controle da sociedade civil sobre o Estado, sendo incor- de atender aos legítimos interesses públicos (NOGUEIRA,
porada pela nova Constituição Federal de 1988 junta- 2004; BRASIL, 2011b; MENEZES, 2010).
mente com a criação do SUS (CONASS, 2003).
O preceito constitucional controle social na saúde
A participação popular na gestão da saúde é pre vis- deve ser proposto, estimulado e garantido pelos dirigentes
ta pela Constituição Federal de 1998, em seu artigo 198, da saúde. Esta proposição é um direito de cidadania, e
que trata das diretrizes do SUS: descentralização, integrali-
aqui mais uma vez recorremos à Constituição Cidadã,
dade e a participação da comunidade. Essas diretrizes
onde lemos em seu parágrafo único de seu Artigo 1º:
orientam a organização e o funcionamento do sistema,
com o intuito de torná-lo mais adequado a atender às “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio
necessidades da população brasileira (BRASIL, 2006; de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
WENDHAUSEN; BARBOSA; BORBA, 2006; OLIVEIRA, 2003). desta Constituição” (CNS, 2006a).

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Legislação Aplicada ao SUS Teoria + Legislações + Questões por Tópicos Prof. Fábio Machado
Ao transferir poderes a seus representantes, o cida- nas três instâncias públicas, municipal, estadual e fede-
dão define uma carga de participação da sociedade ral (CONASS, 2011; FERRAZ, 2006).
nas decisões sobre as políticas públicas, ressaltando que Os Conselhos de Saúde, como meios através dos quais
estes responderão não apenas aos interesses pessoais e a população, de forma autônoma, pode intervir no pro-
sim do coletivo. Isto, por consequência, exige a supera- cesso de gestão das políticas públicas, para em conjun-
ção da tradicional. Assim, ao falar de controle social não to com o órgão gestor criar estratégias, controlar, fiscali-
se pretende apenas que se consigam implantar meca- zar e deliberar sobre as políticas públicas em cada esfe-
nismos que reduzam, eliminem ou previnam os desperdí- ra do governo, podem se constituir ainda em espaços
cios, os desvios e as malversações na aplicação dos re- democráticos de construção de uma nova ordem ca-
cursos públicos. paz de revigorar o sentido autêntico de liberdade, de-
Busca-se assegurar que os gestores públicos se com- mocracia e igualdade social (CONASS, 2011; COTTA;
prometam com a excelência na concepção e imple- CAZAL; RODRIGUES, 2009; SILVA; CRUZ; MELO, 2007).
mentação dos programas, projetos, ações e serviços de Apesar de suas contradições e fragilidades, os Con-
saúde. De um lado, portanto, o controle tem um sentido selhos têm sua importância, num país como o Brasil, em
de vigilância e responsabilização. Do outro, tem o senti- que a cultura de submissão ainda está arraigada na maio-
do de efetividade e compromisso com a coisa pública. ria da população e em que o público é tratado como
A sociedade empreende constantes e intensos mo- posse de pequenos grupos de privilegiados.
vimentos, cercados de contradições, o que, adicional- Inúmeros estudos e pesquisas demonstram a impor-
mente, exige que se identifiquem tendências e intenções tância dos Conselhos na participação direta na gestão das
explícitas e implícitas, valorizando nos diferentes momentos políticas públicas em saúde. Sua forte presença, quanti-
os passos dados na direção do fortalecimento da de- tativa e qualitativa, especialmente na área da defesa dos
mocracia e da justiça social, pois é disso que se trata. direitos de crianças, do adolescente, da mulher e do idoso.
Tendo em vista que os mecanismos de representação O que constitui um marco na década de 1990, estabe-
social não eram mais suficientes para garantir o exercí- lecendo novas regulações e padrões no desenvolvimento
cio da democracia e os interesses dos cidadãos, cria- dessas políticas (TATAGIBA, 2005; GOMES, 2003; SANTOS,
ram-se os conselhos de saúde. Previu-se na Constituição 2005).
Federativa de 1988 a institucionalização de instâncias deli- Militar, com vistas a fortalecer o controle social au-
berativas na organização e funcionamento das políticas tônomo, paritário, democrático e deliberativo e em todas
públicas, denominadas de Conselhos e Conferências de as agências de fiscalização, com vistas na defesa de
Saúde, cuja formação prevê usuários, prestadores de direitos e do bem comum, legitimando os Conselhos de
serviços e trabalhadores da saúde. Saúde como espaços estratégicos de gestão participa-
O princípio que inspirou a criação dessas instâncias tiva para pactuação e estabelecimento de compromis-
foi a constatação de que a atividade político-eleitoral era sos entre a gestão pública, os trabalhadores e os usuários,
insuficiente para representar uma análise, fiscalização e visando o desenvolvimento e a qualificação dos servi-
julgamento dos governos. Dessa forma, a inserção do con- ços e das políticas públicas de saúde, como política de
trole social reserva-se a grupos populacionais que antes governança, impactando na melhoria da qualidade de
vida da população, devem ser uma de nossas metas
não tinham acesso às decisões governamentais, para
(PEREIRA, 2009; BRASIL, 2011a; KLEBA; WENDAUSEN, 2009).
que de fato as conheçam, saibam por que foram ado-
tadas e as reorientem a partir do reconhecimento de Ao falar das Conferências de Saúde, muitos pensam
que é um acontecimento recente, mas na verdade elas
quais são os problemas que devam prioritariamente ser
acontecem há algum tempo. A última edição desse
enfrentados pela ação pública.
evento, a 14ª Conferência Nacional de Saúde, foi divi-
Pois bem, muito se tem escrito sobre a participação em dida em três etapas (municipal, estadual e federal), rea-
saúde, ratificando sua necessidade e importância. Sendo lizada em Brasília, entre os dias 30 de novembro e 4 de
tais práticas exercidas de duas formas: a participação insti- dezembro de 2011. Antes da realização da Conferência
tucionalizada, regulamentada pela Lei nº 8.142/1990, que Nacional Saúde, os municípios e estados devem eleger
na área da saúde se expressa nos Conselhos locais, mu- representantes e discutir questões que venham qualifi-
nicipais e estaduais e nas Conferências de Saúde nos níveis car o debate sobre a realidade do SUS no país nas suas
municipal, estadual e nacional, onde atores participam conferências preparatórias (CONASS, 2011). Normalmente,
como representantes de instituições ou entidades; e a as Conferências Nacionais de Saúde possuem temas cen-
forma não institucionalizada, que são as possibilidades de trais que norteiam as discussões e debates. Na 14ª edição
participação em toda e qualquer atividade de saúde, da Conferência o tema central foi: “Todos usam o SUS!
desde as mais individuais/assistenciais (exemplo: uma con- SUS na Seguridade Social, Política Pública, patrimônio do
sulta) até as mais coletivas/educativas (exemplo: grupo Povo Brasileiro”, o qual contemplou vários assuntos que
educativo) (CAMPOS; WENDHAUSEN, 2007; ARANTES et al., são considerados desafios para o sistema. Dentre eles, des-
2007; BRASIL, 1990; PEREIRA et al., 2004). tacam-se questões como o acesso e acolhimento com
Atualmente, os Conselhos e Conferências de Saúde qualidade; a participação da comunidade e o controle
são os principais espaços para o exercício da participa- social; a política de saúde na seguridade social, finan-
ção e do controle social sobre a implementação das ciamento; o Pacto pela Saúde e as relações público-
políticas de saúde em todas as esferas governamentais privadas, com vistas a fortalecer o SUS (CONASS, 2011).
(BRASIL, 2009). Embora esteja prevista na lei, a participação social
Os Conselhos e Conferências de Saúde são espaços é um processo, em permanente construção, que com-
privilegiados para a explicitação de necessidades e pa- porta avanços e recuos, e, por muitas vezes, depende de
ra a prática do exercício da participação e do controle ampla mobilização da comunidade na defesa de seus
social sobre a implementação das políticas de saúde direitos.

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Barros (1998) trata o controle social sobre a ação es- A terceira é influenciada pela visão estruturalista al-
tatal dentro da perspectiva da democratização dos pro- thusseriana do marxismo que nega a historicidade e a
cessos decisórios com vistas à construção da cidadania. dimensão objetiva do real, analisando o Estado e as ins-
Destaca que, tituições como aparelhos repressivos da dominação bur-
guesa. Nesta perspectiva, os conselhos são concebidos
ao longo de décadas, os governos submeteram os como espaço de cooptação dos movimentos sociais pelo
objetivos de sua ação aos interesses particulares de al- poder público, e a saída das entidades deste espaço é
guns grupos dominantes, sem qualquer compromisso recomendada. A quarta posição é a representada pela
com o interesse da coletividade. (BARROS, 1998, p.31). tendência neoconservadora da política que questiona a
Neste sentido é que houve a ‘privatização do Estado’. democracia participativa, defendendo apenas a demo-
Em contraponto a esta realidade, afirma que a concep- cracia representativa. Rejeita os Conselhos, por conside-
rá-los canais de participação incompatíveis com esta últi-
ção de gestão pública do SUS é essencialmente demo-
ma (BRAVO; MATOS, 2002).
crática, devendo ser submetida ao controle da socie-
dade. Os entraves para a efetividade do controle social
sobre as políticas públicas também estão em nível ma-
Raichelis (2000) considera controle social como um
croeconômico e político, dada a predeterminação das
dos elementos constitutivos da estratégia política da es-
definições em torno dos orçamentos públicos, especial-
fera pública. Ele
mente no que tange aos gastos sociais, resultantes das
implica o acesso aos processos que informam deci- negociações com os organismos financeiros internacio-
sões da sociedade política, que devem viabilizar a par- nais em torno das bases para o refinanciamento da dí-
ticipação da sociedade civil organizada na formulação vida externa e da contratação de novos empréstimos.
e na revisão das regras que conduzem as negociações
Este limite tem sido determinado pela dinâmica pró-
e arbitragens sobre os interesses em jogo, além da fisca-
pria da sociedade do capital, que no seu estágio de cri-
lização daquelas decisões, segundo critérios pactuados.
se atual necessita que os recursos públicos subsidiem,
Na perspectiva de Gramsci (2000, 2002), não existe cada vez mais, a reprodução ampliada do capital, em
neutralidade no Estado, pois “a unidade histórica das detrimento da reprodução do trabalho. É dentro deste
classes dirigentes acontece no Estado e a história delas limite maior da sociedade do capital que está situado o
é, essencialmente, a história dos grupos de Estados” controle social em sua contraditoriedade – o controle
(GRAMSCI, 2002, p.139). A articulação dialética entre da classe dominante para manter o seu domínio, e as
estrutura e superestrutura se expressa na sua afirmação estratégias de controle das classes subalternas na busca
“de que não pode existir igualdade política completa e da construção de sua hegemonia.
perfeita sem igualdade econômica”, e que “o Estado-
Nessa perspectiva, o controle dos segmentos que
classe não podia ser a sociedade regulada” (GRAMSCI, representam as classes subalternas sobre as ações do
2000, p.224). Estado e sobre o destino dos recursos públicos torna-se
Segundo Dias (1996), essa visão só é correta do pon- um desafio importante na realidade brasileira para que
to de vista liberal, e pensá-la na perspectiva dos traba- se criem resistência à redução de políticas de saúde, à
lhadores requer sua articulação com os movimentos so- sua privatização e à sua mercantilização (CORREIA,
ciais organizados apreendendo toda a sua contradição. 2005; GUIZARDI, 2008).
E, ao colocá-los no centro da luta social, percebe-se o Dessa forma, buscar fortalecer a gestão participati-
alcance real da sociedade civil. Dias (1996, p.115) afir- va, nas três esferas de governo, contemplando todos os
ma que a sociedade civil desmistificada, componentes da Política Nacional de Gestão Estratégi-
ca e Participativa, fortalecendo o planejamento estra-
[...] se revela espaço de luta e não mais cenário de tégico entre todos os setores e os Conselhos de Saúde,
pactos sociais. Ela se apresenta agora no pleno das suas no sentido de contribuir para articular, mobilizar e estimular
contradições. Não cabe mais a ilusão de que ela é ne- a participação popular na elaboração e modificação
cessariamente progressista [...] Também não se está au- dos termos de compromisso do pacto de gestão, para
torizado a falar em debilidade da sociedade civil. Débeis, defender o SUS, mudança no modelo de atenção e for-
erráticos e fragmentários são os instrumentos de inter- talecer a participação popular, com vistas a uma aten-
venção classista das classes subalternas nela. ção à saúde universal e de qualidade, são alguns dos
objetivos que devemos pleitear (CONASS, 2007; CEC-
Bravo e Matos (2002) fazem uma análise das quatro CIM; FEUERWERKER, 2004).
posições teóricas e políticas que têm embasado o de-
bate sobre os Conselhos de Saúde e o controle social. A RESOLUÇÃO 453/2012 DO CONSELHO NACIONAL DA SAÚDE
primeira, baseada no aparato teórico de Gramsci (2000, Um novo texto passou a reger o funcionamento dos con-
2002), parte da contradição de classe, visualizando os selhos de saúde: a resolução 453 substitui a resolução 333.
Conselhos como arena de conflitos, em que grupos dife- De acordo com a nova versão, o tempo de mandato dos
rentes estão em disputa. Nesta perspectiva, o consenso conselheiros será definido pelas respectivas representa-
implica dissenso e contradição. A segunda baseia-se na ções.
concepção de consenso de Habermas e dos neo-haber- A Resolução 453/2012 do Conselho Nacional da Saú-
masianos, e considera os Conselhos como espaço con- de foi aprovada considerando, dentre outros, os objetivos
sensual, em que grupos com diferentes interesses conver- de consolidar, fortalecer, ampliar e acelerar o processo
de Controle Social do SUS.
gem, através de pactuações, para o interesse de todos.

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QUESTÕES DE PROVAS DA EBSERH  AOCP


1. [Assist. Adm.-(Ár. Adm.)-(NM)-(T)-EBSERH-HUSM-UFSM- 2. [Anal. Adm.-(Administração)-(Ár. Adm.)-(NS)-(T)-EBSERH-
RS/2014-AOCP].(Q.21) Analise as assertivas e assinale a HUSM-UFSM-RS/2014-AOCP].(Q.21) A respeito do Contro-
le Social no SUS (Sistema Único de Saúde), analise as as-
alternativa que aponta as corretas.
sertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas.

I. O controle social no SUS é um dos principais instrumen- I. A Resolução 453/2012 do Conselho Nacional da Saúde
tos para promover a democratização da saúde. foi aprovada considerando, dentre outros, os objetivos
de consolidar, fortalecer, ampliar e acelerar o processo
II. A Constituição Federal de 1988 é omissa em relação
de Controle Social do SUS.
ao controle social no SUS.
II. Os Conselhos de Saúde, consagrados pela efetiva parti-
III. O controle social no SUS é uma forma de controle da cipação da sociedade civil organizada, representam polos
sociedade civil organizada nas esferas da ação do Es- de qualificação de cidadãos para o Controle Social nas
tado na área da saúde. esferas da ação do Estado.
IV. As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde III. Compete aos Conselhos de Saúde Nacional, Estaduais,
Municipais e do Distrito Federal fortalecer a participação
são mecanismos formais de controle social.
e o Controle Social no SUS, mobilizar e articular a socie-
dade de forma permanente na defesa dos princípios cons-
a) Apenas I, II e III. titucionais que fundamentam o SUS.
b) Apenas I, III e IV. IV. A Constituição Federal de 1988 dispõe sobre o Con-
c) Apenas I e III. trole Social no SUS quando consagra a participação da
d) Apenas I e IV. comunidade como uma das diretrizes do SUS.
e) I, II, III e IV.
a) Apenas I, III e IV.
b) Apenas I, II e IV.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e IV.
e) I, II, III e IV.

3 RESOLUÇÃO 453/2012 DO CONSELHO NACIONAL DA SAÚDE.


Um novo texto passou a reger o funcionamento dos conselhos de saúde: a resolução 453 substitui a resolução 333.
De acordo com a nova versão, o tempo de mandato dos conselheiros será definido pelas respectivas representa-
ções.
Ao longo de três anos, um grupo de trabalho dedicou-se a propor uma nova versão do texto com as atualiza-
ções necessárias para adequar-se às mudanças na conjuntura do controle social no país. Depois de apresentada
ao pleno do Conselho Nacional de Saúde, a proposta foi submetida à consulta pública no site do CNS. As contribui-
ções foram recebidas, via site e também por escrito.
O novo texto define as diretrizes para instituição, reformulação, reestruturação e funcionamento dos conselhos de
saúde”, explica o conselheiro nacional Clóvis Boufleur, membro do grupo de trabalho que propôs as mudanças da
resolução 333 para a resolução 453. Dentre as mais relevantes inovações do texto, Clóvis Boufleur destaca:

Tema O que mudou


1. Atribuições Na nova versão foram incluídas as atribuições previstas na Lei Complementar nº 141, de
13 de janeiro de 2012 e no Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamen-
tam a Lei Orgânica da Saúde. Assim, os conselhos poderão avaliar, explicitando os cri-
térios utilizados, a organização e o funcionamento do Sistema Único de Saúde do SUS e,
além disso, irão examinar propostas e denúncias de indícios de irregularidades, respon-
der no seu âmbito a consultas sobre assuntos pertinentes às ações e aos serviços de sa-
úde, bem como apreciar recursos a respeito de deliberações do Conselho, nas suas
respectivas instâncias.

2. Mandato De acordo com a nova versão, o tempo de mandato dos conselheiros será definido
pelas respectivas representações. As entidades, movimentos e instituições eleitas para o
conselho de saúde terão seus representantes indicados, por escrito, conforme proces-
sos estabelecidos pelas respectivas entidades, movimentos e instituições e de acordo
com a sua organização, com a recomendação de que ocorra renovação de seus re-
presentantes.

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3. Renovação de entidades A recomendação explicitada no novo texto é de que, a cada eleição, os segmentos
de representações de usuários, trabalhadores e prestadores de serviços, ao seu critério,
promovam a renovação de, no mínimo, 30% de suas entidades representativas.
4. Responsabilidades A atualização do texto deixou explícito que, no exercício de sua função, o conselheiro
deve estar ciente de que, responderá conforme legislação vigente por todos os seus
atos.
5. Participação da sociedade As reuniões plenárias dos Conselhos de Saúde, além de serem abertas ao público, de-
verão acontecer em espaços e horários que possibilitem a participação da sociedade.
6. Orçamento O conselho de saúde terá poder de decisão sobre o seu orçamento, não será mais a-
penas o gerenciador de suas verbas.
7. Quorum A nova redação esclarece os conceitos de maioria simples (o número inteiro imedia-
tamente superior à metade dos membros presentes), maioria absoluta (o número inteiro
imediatamente superior à metade do total de membros do conselho) e maioria qualifi-
cada (2/3 do total dos membros do conselho) de votos para tomada de decisão do
CNS.
8. Competências A adequação das competências dos conselhos ao que está previsto no atual regimen-
to do Conselho Nacional de Saúde, também foi explicitada no novo texto.
9. Banco de dados Compete ao próprio conselho, atualizar periodicamente as informações sobre o conse-
lho de saúde no Sistema de Acompanhamento dos Conselhos de Saúde (SIACS)

RESOLUÇÃO Nº 453, DE 10 DE MAIO DE 2012.


Texto atualizado em 22.05.14

O Plenário do Conselho Nacional de Saúde, em sua Ducenté- DA DEFINIÇÃO DE CONSELHO DE SAÚDE


sima Trigésima Terceira Reunião Ordinária, realizada nos dias 9 e
10 de maio de 2012, no uso de suas competências regimentais Primeira Diretriz: o Conselho de Saúde é uma instância colegiada,
e atribuições conferidas pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de deliberativa e permanente do Sistema Único de Saúde (SUS) em
1990, e pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, e pelo cada esfera de Governo, integrante da estrutura organizacional
Decreto nº 5.839, de 11 de julho de 2006, e do Ministério da Saúde, da Secretaria de Saúde dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, com composição, organização e
Considerando os debates ocorridos nos Conselhos de Saúde, competência fixadas na Lei nº 8.142/90. O processo bem-sucedido
nas três esferas de Governo, na X Plenária Nacional de Conse- de descentralização da saúde promoveu o surgimento de Conse-
lhos de Saúde, nas Plenárias Regionais e Estaduais de Conse- lhos Regionais, Conselhos Locais, Conselhos Distritais de Saúde,
lhos de Saúde, nas 9ª, 10ª e 11ª Conferências Nacionais de Sa- incluindo os Conselhos dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas,
úde, e nas Conferências Estaduais, do Distrito Federal e Munici- sob a coordenação dos Conselhos de Saúde da esfera corres-
pais de Saúde; pondente. Assim, os Conselhos de Saúde são espaços instituídos
de participação da comunidade nas políticas públicas e na
Considerando a experiência acumulada do Controle Social da administração da saúde.
Saúde à necessidade de aprimoramento do Controle Social da
Saúde no âmbito nacional e as reiteradas demandas dos Con- Parágrafo único. Como Subsistema da Seguridade Social, o Conse-
selhos Estaduais e Municipais referentes às propostas de com- lho de Saúde atua na formulação e proposição de estratégias
posição, organização e funcionamento, conforme o § 5º inciso e no controle da execução das Políticas de Saúde, inclusive nos
II art. 1º da Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990; seus aspectos econômicos e financeiros.

Considerando a ampla discussão da Resolução do CNS nº 333/03 DA INSTITUIÇÃO E REFORMULAÇÃO DOS CONSELHOS DE SAÚDE
realizada nos espaços de Controle Social, entre os quais se des-
tacam as Plenárias de Conselhos de Saúde; Segunda Diretriz: a instituição dos Conselhos de Saúde é esta-
belecida por lei federal, estadual, do Distrito Federal e munici-
Considerando os objetivos de consolidar, fortalecer, ampliar e pal, obedecida a Lei nº 8.142/90.
acelerar o processo de Controle Social do SUS, por intermédio
dos Conselhos Nacional, Estaduais, Municipais, das Conferên- Parágrafo único. Na instituição e reformulação dos Conselhos
cias de Saúde e Plenárias de Conselhos de Saúde; de Saúde o Poder Executivo, respeitando os princípios da demo-
cracia, deverá acolher as demandas da população aprovadas
Considerando que os Conselhos de Saúde, consagrados pela nas Conferências de Saúde, e em consonância com a legisla-
efetiva participação da sociedade civil organizada, represen- ção.
tam polos de qualificação de cidadãos para o Controle Social
nas esferas da ação do Estado; e A ORGANIZAÇÃO DOS CONSELHOS DE SAÚDE

Considerando o que disciplina a Lei Complementar nº 141, de Terceira Diretriz: a participação da sociedade organizada, ga-
13 de janeiro de 2012, e o Decreto nº 7.508, de 28 de junho de rantida na legislação, torna os Conselhos de Saúde uma ins-
2011, que regulamentam a Lei Orgânica da Saúde. tância privilegiada na proposição, discussão, acompanhamen-
to, deliberação, avaliação e fiscalização da implementação
Resolve: da Política de Saúde, inclusive nos seus aspectos econômicos e
financeiros. A legislação estabelece, ainda, a composição pa-
Aprovar as seguintes diretrizes para instituição, reformulação, ritária de usuários em relação ao conjunto dos demais segmen-
reestruturação e funcionamento dos Conselhos de Saúde: tos representados. O Conselho de Saúde será composto por
representantes de entidades, instituições e movimentos repre-

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sentativos de usuários, de entidades representativas de traba- VII - A ocupação de funções na área da saúde que interfiram
lhadores da área da saúde, do governo e de entidades repre- na autonomia representativa do Conselheiro(a) deve ser avali-
sentativas de prestadores de serviços de saúde, sendo o seu presi- ada como possível impedimento da representação de Usuário(a)
dente eleito entre os membros do Conselho, em reunião plená- e Trabalhador(a), e, a juízo da entidade, indicativo de substitui-
ria. Nos Municípios onde não existem entidades, instituições e ção do Conselheiro(a).
movimentos organizados em número suficiente para compor o
Conselho, a eleição da representação será realizada em plenária VIII - A participação dos membros eleitos do Poder Legislativo,
no Município, promovida pelo Conselho Municipal de maneira representação do Poder Judiciário e do Ministério Público, como
ampla e democrática. conselheiros, não é permitida nos Conselhos de Saúde.

I - O número de conselheiros será definido pelos Conselhos de IX - Quando não houver Conselho de Saúde constituído ou em
Saúde e constituído em lei. atividade no Município, caberá ao Conselho Estadual de Saú-
de assumir, junto ao executivo municipal, a convocação e rea-
II - Mantendo o que propôs as Resoluções nos 33/92 e 333/03
lização da Conferência Municipal de Saúde, que terá como um
do CNS e consoante com as Recomendações da 10ª e 11ª
de seus objetivos a estruturação e composição do Conselho
Conferências Nacionais de Saúde, as vagas deverão ser distri-
Municipal. O mesmo será atribuído ao Conselho Nacional de
buídas da seguinte forma:
Saúde, quando não houver Conselho Estadual de Saúde cons-
a) 50% de entidades e movimentos representativos de usuários; tituído ou em funcionamento.
b) 25% de entidades representativas dos trabalhadores da área
de saúde; X - As funções, como membro do Conselho de Saúde, não se-
rão remuneradas, considerando-se o seu exercício de relevân-
c) 25% de representação de governo e prestadores de serviços
cia pública e, portanto, garante a dispensa do trabalho sem
privados conveniados, ou sem fins lucrativos.
prejuízo para o conselheiro. Para fins de justificativa junto aos
III - A participação de órgãos, entidades e movimentos sociais órgãos, entidades competentes e instituições, o Conselho de
terá como critério a representatividade, a abrangência e a com- Saúde emitirá declaração de participação de seus membros
plementaridade do conjunto da sociedade, no âmbito de atu- durante o período das reuniões, representações, capacitações
ação do Conselho de Saúde. De acordo com as especificida- e outras atividades específicas.
des locais, aplicando o princípio da paridade, serão contem-
pladas, dentre outras, as seguintes representações: XI - O conselheiro, no exercício de sua função, responde pelos
seus atos conforme legislação vigente.
a) associações de pessoas com patologias;
b) associações de pessoas com deficiências; ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DOS CONSELHOS DE SAÚDE
c) entidades indígenas;
d) movimentos sociais e populares, organizados (movimento Quarta Diretriz: as três esferas de Governo garantirão autono-
negro, LGBT...); mia administrativa para o pleno funcionamento do Conselho
de Saúde, dotação orçamentária, autonomia financeira e or-
e) movimentos organizados de mulheres, em saúde; ganização da secretaria-executiva com a necessária infraestru-
f) entidades de aposentados e pensionistas; tura e apoio técnico:
g) entidades congregadas de sindicatos, centrais sindicais, con-
federações e federações de trabalhadores urbanos e rurais; I - cabe ao Conselho de Saúde deliberar em relação à sua es-
trutura administrativa e o quadro de pessoal;
h) entidades de defesa do consumidor;
i) organizações de moradores; II - o Conselho de Saúde contará com uma secretaria-
j) entidades ambientalistas; executiva coordenada por pessoa preparada para a função,
para o suporte técnico e administrativo, subordinada ao Plená-
k) organizações religiosas;
rio do Conselho de Saúde, que definirá sua estrutura e dimen-
l) trabalhadores da área de saúde: associações, confedera- são;
ções, conselhos de profissões regulamentadas, federações e
sindicatos, obedecendo as instâncias federativas; III - o Conselho de Saúde decide sobre o seu orçamento;
m) comunidade científica;
IV - o Plenário do Conselho de Saúde se reunirá, no mínimo, a
n) entidades públicas, de hospitais universitários e hospitais
cada mês e, extraordinariamente, quando necessário, e terá
campo de estágio, de pesquisa e desenvolvimento;
como base o seu Regimento Interno. A pauta e o material de
o) entidades patronais; apoio às reuniões devem ser encaminhados aos conselheiros
p) entidades dos prestadores de serviço de saúde; e com antecedência mínima de 10 (dez) dias;
q) governo.
V - as reuniões plenárias dos Conselhos de Saúde são abertas
IV - As entidades, movimentos e instituições eleitas no Conselho ao público e deverão acontecer em espaços e horários que
de Saúde terão os conselheiros indicados, por escrito, confor- possibilitem a participação da sociedade;
me processos estabelecidos pelas respectivas entidades, mo-
vimentos e instituições e de acordo com a sua organização, VI - o Conselho de Saúde exerce suas atribuições mediante o
com a recomendação de que ocorra renovação de seus re- funcionamento do Plenário, que, além das comissões interseto-
presentantes. riais, estabelecidas na Lei nº 8.080/90, instalará outras comissões
intersetoriais e grupos de trabalho de conselheiros para ações
V - Recomenda-se que, a cada eleição, os segmentos de re-
transitórias. As comissões poderão contar com integrantes não
presentações de usuários, trabalhadores e prestadores de ser-
conselheiros;
viços, ao seu critério, promovam a renovação de, no mínimo,
30% de suas entidades representativas.
VII - o Conselho de Saúde constituirá uma Mesa Diretora eleita
VI - A representação nos segmentos deve ser distinta e autô- em Plenário, respeitando a paridade expressa nesta Resolução;
noma em relação aos demais segmentos que compõem o
Conselho, por isso, um profissional com cargo de direção ou de VIII - as decisões do Conselho de Saúde serão adotadas medi-
confiança na gestão do SUS, ou como prestador de serviços de ante quórum mínimo (metade mais um) dos seus integrantes,
saúde não pode ser representante dos(as) Usuários(as) ou de ressalvados os casos regimentais nos quais se exija quórum es-
Trabalhadores(as). pecial, ou maioria qualificada de votos;

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GABARITOS (136 QUESTÕES)

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE NO BRA-


1 SIL E A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) –
princípios, diretrizes e arcabouço legal.
Não foram encontradas questões, em provas de concursos anteriores, realizadas para EBSERH, pela AOCP, que
abordassem sobre esse tópico.

2 CONTROLE SOCIAL NO SUS.


1 2
B E

3 RESOLUÇÃO 453/2012 DO CONSELHO NACIONAL DA SAÚDE.


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
B C E D D E A C D A B C B B B B E B E

4 CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ARTIGOS DE 194 a 200.


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
A D D C D B A C E B C A C B A D A D D D D E C E
25 26 27 28 29 30 31
C C D C C E E

LEI ORGÂNICA DA SAÚDE –


5
Lei nº 8.080/1990, Lei nº 8.142/1990 e Decreto Presidencial nº 7.508, de 28 de junho de 2011.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
C A A E D E A B E A C A E C E C E C B C C B E B
25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48
E D A A D D C E D E B E B A C A E B E D C D B E
49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72
C B B D A E D B E C B A D A C D D B E B B E D B
73 74 75 76 77 78 78 80 81 82 83 84
C B E C A D E C C C D A

6 DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE.


Não foram encontradas questões, em provas de concursos anteriores, realizadas para EBSERH, pela AOCP, que
abordassem sobre esse tópico.

7 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE.


Não foram encontradas questões, em provas de concursos anteriores, realizadas para EBSERH, pela AOCP, que
abordassem sobre esse tópico.

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