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DESIGN GRÁFICO
PROFESSOR
ALBERTO PALMIERI
DISCIPLINA
ILUSTRAÇÃO
ALUNA
No fim dos anos 70, Crema estava encucado com o fato de muitos
autores apontarem uma "patologia da pequenez": o medo de se deixar ser em
sua totalidade. Ele deparou-se com muitos pensadores, entre eles o alemão
Erich Fromm (1900-1980), que falava do medo da liberdade, e o suíço Carl
Jung (1875-1961), que afirmava que só os medíocres aspiram à normalidade.
Crema misturou ao caldo a célebre declaração do escritor britânico G.K.
Chesterton (1874-1936), que disse que "louco é quem perdeu tudo, exceto a
razão", e acrescentou os anos de observação e prática em sua clínica
pedagógica.
Desnormotização
O carioca Eduardo Marinho, hoje com 50 anos, percebeu cedo que não
queria ser como os outros. Filho de militar, abriu mão de sua condição
financeira e de sua faculdade ao se dar conta, aos 18 anos, que não queria
olhar para sua vida quando velho e pensar que não tinha feito nada relevante.
"Não queria ser bem-sucedido e me sentir fracassado". Eduardo saiu pelo País
pedindo abrigo e comida em troca de favores e buscando algo que o
preenchesse. Depois de passar por poucas e não tão boas pelo Brasil, deu voz
a sua vocação. Hoje é artista plástico.
Bug cerebral
A cura da normose é trabalho individual, mas alguns esforços sociais
podem ajudar. Para começar, seria um adianto se tivéssemos um novo modelo
educacional. A escola poderia ser o lugar onde as crianças descobrem suas
verdadeiras vocações - em vez de tentar padronizar os alunos e convencê-los
a serem normais.
Mundo afora, estão surgindo escolas com uma nova lógica, como a
Escola da Ponte, em Portugal. A instituição não segue um sistema baseado em
séries, e os professores não são responsáveis por uma disciplina ou por turmas
específicas. As crianças e os adolescentes que lá estudam definem quais são
suas áreas de interesse e desenvolvem seus próprios projetos de pesquisa,
tanto em grupo como individuais.
Claro que não há vagas para todos nós no Google nem para todos os
nossos filhos na Escola da Ponte. A cura da normose não vai ser resultado de
uma ou outra iniciativa isolada - ela só vai ser possível quando houver no
mundo gente suficiente disposta a questionar tudo o que achamos normal.
E talvez isso demore anos para acontecer. A explicação para isso pode
estar num bug que todos carregamos no cérebro, que tem uma tendência de
recusar sempre novos jeitos de olhar o mundo. É o que explica o psicólogo
israelense Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de
2002, em seu livro Rápido e Devagar: Duas formas de pensar. Segundo ele,
nosso cérebro confunde o que é familiar com o que é correto: ao ver ou sentir
algo que desperta alguma memória, o cérebro define aquele "familiar" como
"correto", da mesma maneira que o novo é decodificado como passível de
desconfiança.
Esse sistema foi muito útil para nossos antepassados homens das
cavernas, que não podiam mesmo sair comendo qualquer frutinha nova que
aparecesse à sua frente. Mas, nos dias de hoje, que exigem novas ideias para
lidar com um mundo em mudança constante, esse mecanismo cerebral virou
um entrave à inovação. Segundo essa tese, a normose não é uma doença: é
uma característica humana, moldada pela evolução. Ou seja, talvez ser
normótico seja normal.
ANÁLISE DA REPORTAGEM
Qual o assunto?
R: O texto fala sobre normose, uma obsessão doentia por ser normal
Quais as palavras-chave?
R: - Normose (nome da doença, é em torno dela que o texto é elaborado)
- Humanidade (fala sobre o ser humano, suas características e a influência que
a sua cultura tem para que influencie a normose)
- Capacidade de lidar com a cultura (a normose é um efeito da sociedade atual
e do modo de pensar divulgado pela mesma. Tal modo de pensar é embasado
na cultura)
Quero ter sucesso. Quero ser um ótimo trabalhador nas 40 horas por
semana fixas e mais as horas extras que trabalho. Quero andar de terno. Só
quero ler livros técnicos. Quero ter uma família comportada que ande somente
com roupas sociais e vou ter dinheiro suficiente para bancar isso e o modo de
vida deles. Quero ter carro na garagem da casa própria, vizinhos que me
peçam açúcar e viagens somente a trabalho. E quero tudo isso porque aí sim
serei aceito na sociedade é considerado uma pessoa normal.
Estava num hospício. Não era louca. Amarrada numa cadeira ao lado
de um homem demente e uma mulher desmaiada, a solidão, a raiva e o
desespero nunca se fizeram tão presentes. Era loucura ser quem se é? Ela só
sabia que estava ali para receber injeções de normalidade e sair se
comportando como tal.
Luiz teve um dia cheio. Acordou, tomou café, dirigiu até o trabalho,
conversou por horas com o chefe numa reunião, almoçou, esbarrou num
homem na rua lotada, terminou relatórios, fez horas extras, voltou para casa
onde largou as chaves e dormiu no sofá. Luiz teve um dia cheio. Quis dizer,
vazio.
PAINEL SEMÂNTICO
CONCLUSÃO