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‘Hi SAS My 109 JEAN CHESNEAUX DEVEMOS FAZER TABULA RASA DO | PASSADO? a, —__ rere | Sobre a hist6ria e os historiadores { i ‘Tradugéo de Marcos A. da Silva 116. Rios da vols: progress eee, dsocamentas¢ ressurgimentos 158 117-Ainvergio da histria oespgoageopaltca 166 18. Dsencravarotetitrio do histoviador: que plsrdeiplinanidade?” 178 19. Qual histea pra arevolugo? 185 Prefacio Ler Chesneaux no tempo da desuniao soviética Marcos Ada Siva Erste vro de Jean Chesnenx cir ula no Brasil de forma resvita, desde seu langamento em francés (1976) e espanhol (1977) Sua fortuna critica, entre nés, tem sido esconcertante. Precedido, em portugues, pels avalanche da No- va Historia, que rejelts em muitos aspectos, ele foi objeto de co- mentivios critcos que contribuiram para fixar imagens antes de sua leitura 1) Obra importante, compardvel ade Paul Veyne (abundante «© precocementetraduzido no Brasil) na condiglo de esforgo terico mas desequilibrada pela rensincia a0 oficio do historiadar (Le Gott. 2) Exemplo dos “marxistas revolucionétios” que se oper & {nterdisciplinaridade (Niza da Silva). 3) Caétics ingénua mistura de movimentos e problemas so- ciais que nto devem ser equiparados, como esquerdisma frances de 1968, feminists, maoismo e movimentos regionalistas (Cardoso), 4) Rejecio das seqténcias mectinicas cle periodos histicos, inclusive como "modos de producto” (Vesertfin) ‘ evinoe tzu TARULA BASH DO PASAY 5) Referéncia para o ensino de histéria que luta por deseen- tualizar a produgio de conhecimento em relacio 8s sus inatincas mais tradiionas (Silva eSilva/Antonace) Acesconten-se a iso idenifcagSesimediatistas que alguns stores bresiliras Sizer entre Chesneatx eo maoimo (que se contra desprestigia neste in de sical), a frmalas de mana Chouve quem equparsse o debate sobre quadiparsmo a mucin Cas lina do tempo" le crise das pies dts silts desde os ‘nos ta letra este ivo conte mesmo muitos desafios. Iso no signin, com carters que ea sejadesncrasiia 0 ‘vA. As propria exticns de Chemeasx 8 Nova Fitri, neligen- Ciadae entre nse “subsites” pela obvervagbes de Dose (que tanto deve Aqul) sto elementos pra se avaiaro interes © a cada do ito, Seu cmentri sobre as dependénciasintlee tui politics dos paises eno dite socialists a padres aac ‘nics dos paes capitate, por seu tuo, revlam, mais que Slgum "profeta’ da queda subseqdent,oobservador atento eer tio de experince soins plas qua aspirava e que consderava sind mao eats Tass cnpos temsteos (Nova Hist e socialimo/manis- ‘mo) sto importantes para se verificar como eae autor const dima vor incomoda, peoal ea contrat, que, por so mesmo, precisa se uvida por todos agueesquelidam com hitrin equ yom pensar sobre seu fazer. Muito mals qu um gui ico 04 Po- Itica, Chessex se even, através de polemicas¢ mesmo ios sincrasiag, ea fonte pare debates sobre dimenstes sodas do teatalho do histriadar, ltrapassandoo nivel de mera adesSo ot ‘ei aoe Sets pontos de vita. ‘As dlscordinclas de Chesneaux que erefrem a Nova Hists- sae histra marssta se rticolam ao horizonte da ignorincia regligncn qu as duns tradigbesallmentam sobre elagbesenze Saber bilo e pris soca. O autor valoriz ingultases e sniicas da Nova Histiria (nem todas, certamente) horizontes teiicn mars (desde que eos mantenha em aberto em face de noves experince sons e marca diferengs entre Marke 5 historiadores marsstas, mas reprove o formalism de seus procedientos que se eneram no manopstieacadémico sobre 0 tempo socal, desprezam relacies enre saber histrico e préticas sociis e “desapropriam as massas populares de sua historia” [esses termos, Nova Histria e histéria manistasdo por ele iden tifcadas 20s caminlhos dos saberes histricos agambaccados por _minorias convents com a clase dominant ‘A altima questio pode ser entendida como beco sem saida: ng um peso das relagbes dominantes sabre conhecimento hist ‘co que esmaga ou compromete até supoite vanguard tdrieas| (Nova Historia) ou politics (itera marisa), configurando uma imagem de poder sem alterativas, Tal impasse & superado pot ‘Chesneaux através da consderagio do poder do conecinent hité- rico, que embasa seu esorco par realcar a necesidade de se assu- rmirem demandas de grupos dominados em luta no cento-de sua produgio: é devido a forza do conhecimento histrico na vida s0- {al que ales pena lutar por sua tansformagio. "asa forca se express tanto em sua importincia para os r= os socinis dominantes quanto nas miltiplas potencalidades que fos eaberes histéricos contém para os dominades em lta. Da, a proposts de se inverterem as relagdes passado-presente significar prloidade a dimenstes politias do conhecimento histérco, do pnto de vista dos iltimos grupos. ‘Tal postra ndo equivalea renincia a qualquer rigor cent «0, O que Chesnesux rota é a identificagto de todo 0 rigor com ‘os modelos de saber dominantes nos paises capitalists, sem anda encontrar reais lterativas nos paises eno dios socaistas — in dlusive na China, apesar do destaque a alguns de seus procei= ‘mentos no campo do conhecimento histric. ‘Ao falar de grupos dominedos em luta, Chesneaux no os edu ao proletalado abril nem ao compesinato, pensand, eft ‘vemente, em imigranes,idesos,prisioneroe, minoras etnias € tantos outros setores da sociedad como leitimosintegrantes da- {quele mundo. Nessa perspectiva o fim do monopéli do saber his {Geico pelos pofisiomnis da fea resulta em que as massas popula- tes se reapropriem de sua histéra: atendendo as demandas de leigos,aqueles profisionas construisiam novas artculagSes com a sociedade em que atuam,ultrapassando cpaformismos acedémi- cos — inclusive os “de esquerda” 8 eve razen raniLA ish Bonar Utopia? Se for iso, louve-se sua exstincla num mundo em {que oe anuncia, héalgum tempo o fim das utopias e onde a falta Ge alternatives é uma tnica dominant Ousadia ecoragem? Esses arbutos sto mals que possvels, Jevande-s em conta a rgidaetquetaacadémica francesa (e— por ‘que no? — brasileira) que evita pensar sobre tenses téricas co- ‘ho quests pllticas {Ler Chesneaux no fim do séeulo XX, sem 8 Unio Sovidtica fu maioria dos paises antes conhecides como socialists, em ‘meio a um trinfliemo neoliberal que anunca alegremente fim. da hstéria, como ocorre em Fuleuyama, serve para recolocar pro- blemas adormecidas mas muito vivos, (Com certza,ndo se permanece indiferentediante das proxi mas paginas estos citados: Canooso, Ciro Fémarion S. Ua iraqi d hits, So Paul, Bras Tins, 1961 (Coleco Primelros Voos) Doss, Fangs, A hist en galas, Tra, Dulee A. Silva Rames, ‘Sho Paul Erno, 1982. oxuvay, Francis O find itl din tome, Trad. Astyde ‘Soares Rodrigues, Rio de Janeiro, Rocco, 1992 [Le Gor, Jaques. Uma ciéncia em marche, uma clénia naif. Iie diz A Histra Nove. Trad. Eduardo Brando. S80 Paulo, Martins Fontes, 1950p. 15-25, [Nizza ba Siva, Mata Beatriz, A pesquisa hstrca no Bras. Cini ‘Citra 80 Palo, SBPC, 35 (1):45/5, en 1953. Suva, Marcos A. da. A vida o comiteio dos vives. In: org. ‘Reensundo alist Ro de Janez, Maco Zero, 1984. . 2k, — Antonaci Maria Antonie M, Vivénciae da contramfo. Revit ‘Bras de Hiri. Sto Paulo, ANPUH/ Mateo Ze, 9 (19)9/28, sc 1969/fv, 190 ‘Vesa, Cals A. Escola livre didatico de istria.I: Siva, Mar- 05 A. da, org Reponsndo astra. cp. 6-0 ‘eine, Paul, Cono se none «hist Tend. Antonio Jot a Silva “Moreira. isos, Ealigbs 70, 1987 Apresentagao Erste enstio sobre o saber histr- <0 € escrito por um profsionl(des)confortavelnente salad fm sum eitedrae em sua tung. Todavia,pretede lem des ‘eflexdsgeassobre a Nstia que mulls “colega” tm pubes doh alg aves, sempre no interior do disor inlectal edo “tertrio” do hstorador. Que Inga oe 0 saber sti na ‘ida sca? tun a favor da orden estabdlecda ou cone el? E tum produtohieraquizado, que desce dos especies em diecso 205 “consuidores de histra” por meio do vo, da feve ou de turismo? Ou, antes eth enaizado numa nessa elt, ame relagtocom-o pasado agindo em fodoo coro socal edo qual Desqutesespecilzadaa Seria apenas sspeto dene ous? Tos esas quests so palin Tentl bord, portant, x emos dzetamente pois, a pans de une lego de conjnto findamentada na reusa Cepitelismea partir, a0 mesmo tempo, da pit soll, ds fas concretas de que leo podido partipar i lgurs anos: Dig ‘os a parte de ums posto massa ¢comunist guaaguer ue Sham simprecsfo ea ambigaldade destes dois ermos: Quis quer que sem também as desvanagens que representa, pare ona bem esta reflexto politic, minha qaldsde de cade co eo eolaren socal quae a contapatida de meus piven. Tene simultneament ref sore ox problemas fandamentis do snberhistrco — sobre o cater centfico do conhecimento a [DEVIMOS FAZER TABULA RASA EO PASEABOT histiico, sobre a objetividade eos limites dos documentos e das técnica, sobre as relagSes entre oacontecimento e a longa duxacao, sobre ingerg80 da histéria no expaco geopoliic eno mundo na- tural, sobre tudo aguilo qu impede «histia humana de ser rea mente universal... — e pensar hstricamente a sociedad na qual ros debatemos todos por esse motivo que, equi es apes polit- os da atuaidade cancretae das lites militants s0 to frequen tes, quando no mais, quanto As referencias livrescas 20s esritos e oultos hstriadoree. Esse Itas conetiniem o tersno privil tado a partir do qual a relleo histria se torna possivel; sto las, © somente els, que a tomam necesiria elegiina e quedo sentido de prfundidad para tl flex. ‘Quase todos os “clegas” aceitam e até mesmo relvindicam viver em estado de dupla personalidade. Enquanto historiadores, 0 neutros, objetivo, cienfcos o militanteantimperilista po- ‘ers, portant, coabitar no interior da instituigfo com o ex-om= rita que fenha ganho as boas gracas da CIA e tenha sabia rent bilizerhabilmente suas virados de casca, Mas eada sm enquanto pessoa “privada”, se reserva o dreto deter “opinibes” politieas ‘ue seus colegas respetario por principio e que, em todo e880, supe nfo iterferrem em seu “trabalho cientifica" Aqui esse iso- Jamento convenciona édeliberadamenterejeitado,repelio, "Nessa tentativa de esclarecer poiticamente os problemas do saber histrco,apoieime ao mesmo tempo na herangateérca do ‘maralsmo, ni come dogma mas como eragio continua (specal- ‘mente Gramsci), nas conguistas da Revolugio Chinesa, quaisquer {que seam suas contedigbes (Tota entre a dus linas”) ehesta- ‘Bes para formularteoicemente suas posturas sobre muitos pro- biomass, enfim, na experiéncin conerta do esquerdismo ocden- tal New Le americana ou "pos Maio” francés. Chega o momento fem que vale a pena recolher,reacticlar todas essas conquistas © texperienclas, «tina erties ao saber histeico espera contribu tum pouco paraiso, Seuramente, de forma parcial e provisria ‘Mag, ainda eguramente, nfo A maneia dos doutindeios, uj dis- curso marssta se volta incansavelmente sobre si mesmo, nutride ‘omplacentemente de citagbestedrieas¢relerdncaslvzescas, lon- ‘ge das tas populares ede suas intimagées eoneretas,Seguramen- te, também, no A manelre dessesreformados inativos do esquer- Araesaeracho 7 dlismo intelectual, dos quais 2 zombaca cinia ea strogincia des- trutiva sto insuportvels; dsses “desencantados que se refuglam numa metafsce da revolt, que afimam fugir das dogmatismas Jogando Marx fora com s gua suja da boca cujerecusa do idea lism dito protetirio obrignos ase atirrem nas mnaquinas dese jantes ou ns ituminagéo mista”, como expressam muito bem nos 0s camaradas das Rivals logiques. “Para quem escreves?", pergunta Lu Xun. Esté af “uma ‘questi fundamental, uma questo de principio", diz um cataz {que se compra em qualquer livaria de Pequim. Todavia, muito poucos historiadores comecam suas obras tentando definir seu projeto. Pareceshes evidente que se dirgem priimeiramente “a ‘seus pares” (M, de Certau), depois ao pili “culto”, dotado de bon vontade erespelto pars se instr junto Aqueles que “traba- ham com a histéna Aqui, dinjo-me, certamente, soe outros historladores,E so bretudo aqueles que se sentem mal na carporagio, na insitigto académica em geal, porque se sentem ml na sociedade cepitais: fa, vem necessaramente se sentrem bem nas estrus “organiza- das” da esquerda ou da extrema esquerda. Os intelectusis em con Alto mais ou menes latente com a ordem estabelecia tém seu Iugar no combate em comm. Desde a daplorsvel fim desses mil- tantesarrogantes que, por volta de 1970, priavam a terrorismo “antiintelecs” ea culpablizagfo, principalmente nos meios “maolstas”,virow-se uma pagina. Como os outros intlectusis, os historiadores no podem aguardar 0 dessparecimento da cultura bburguese e da sociedade burguesa para se interrogar sobre seu priprio campo (aqui, a histria) como jogo deltas politeas. Con- fanto que no fiquem, confortavelmenteente eles. A historia &, de fato, um saber inteleetul que ainge meios muito amplos: milhoes de alunos diante de seu manual, espe: tadoresescolhendo seu program, litres de revstas populates, turistasvisitando um eastlo ou uma cated, Sem divi, &an- tes de tudo a eles que eu deveris me dirgi, para flat um pouco ‘com eles sobre todas as madilhas do discuso histrico, Mas eso « apenas um voto piedaso,t2origidementefechados sto os inte- lectuais em nossa Sociedade (deixados de Iago aqueles que agra- ‘dam aos poderosos da imprensa ou da tev). As potas invsivels 2 vind tAZER TABULA BAA DOPAEADOP de noses universidades s20 também tio hermeticamente feche fdas quanto as das fSbricas cos grandes conjuntos ou dos comple x05 hosptalares. ‘O passada é20 mesmo tempo um jogo de lutas eum elemen- to consitativo de selagda de formas potas, Todavi, no seio do "movimento", no sentido ameriano do term, quer dize, de tor dos aqueles que lutam & sua manera contra o sistema, sejam mil- tantes “organizadoe” ou franco-atradores, no é sempre que se tem euidado em rlagio as armadilhas do diseurso histrico domi ante, Canta-se "devemos fazer tabula rasa do passedo!”, mas ‘celtan-se muito fackmente a falsssevidéncias do saber histric, 1 recortecronologico por fais, o gosto pela narrativa do pastado, ® sutoridede do text impreso, a distociaglo entre os documentos {20s problemas oa tilizagio seritica dos wabalhos dos especais- tas, Espero encorajr aqueles que pavtcipam de todas essa tas — operirios ou eclogisas, mulheres ou eccitancs — a romper ‘com esses automatismos do saber histérico dominante. Cabe thes onstrir por seus préprios meio, sa relagio com o passado, be- feada evidentemente em conguistas comuns mas apeiando-se Jgualmente-enexperiéncias necessidades propris, formando, com seu passado, sm dos lstos de sua reflexdo fundamental, In verter a relagdo hirarguizada entre passado e presente, entre es- pecilistas enfo-especialists de histvia, para se saber de qual his tora a uta revlulonéria necesita hoje! Oshistoriadore no 80 05 nicas a enfrentarem atualmente ‘os problemas colocados pela atividade intelectual profisional, ‘por meio de seu lugar social de wabalho ede sua stuagio coneets Eles no so os tnicas a conhecerem a inquitude, « procurarem tua revisio radical do sober clentfice de elite, Mss assumindo-se, ‘em ver de procurar “nege-se enquantointelecuais, como os de- ‘ominava J-P. Sartre, na bela época do G. P. (Groupe Paysan)! F- Scoe de eaquerda fundaram a evista Impescience porque, para tls, uma determinada “ciéncia” é um impasse do qual estio precupados em sls. GeGgrafossbrem os autos eo processo da bevgrafia dos mandazinse dos experts, cimplie ativa da organi- {Zasto do fersitio e autres engrenagenseficazes do capitalismo teqnacritico avancado. Eendloges convidam a acabar 2 etologia ‘como saber especalizado. Os economistas da Acses se questio- semesavencho B ‘nam sobre crise atl, esforgandorse em romper ao mesmo tem- po com oacademicismo econémico e com a economia “aplicada” os teenocratas. Os juristas do Movimento de Agio Judicis (MA) edo Sindicato da Magistratureabrizam uma breche decisi- ‘vans ideologia judiciria dominante, por exemplo,em rela 208 acidentes de trabslho, Em todos eses casos através de (érmulas muito diversas, € necessrio defini novas rlagdes entre o saber intelectual e alta politica, da qual esse saber € um componente tivo por suas implicates ideologies, Est iro tenta se inserr neses debates e Tatas mas, 20 mes- smo tempo, traz as marcas de minhas experiéncas longinguas ¢xe- centes. "O eu € detestivel”,inculcramnos desde a infincia, © € lfc se desvencilhar dese clasicismo, Tentando avaliar,no de- cotter da redact, a contibuigio original de Mare Bloch em rela- ‘0 20s outros escitosfranceses de refiexdo histrio, ul imed ‘mente surpreendido por sua hebilidade em dizer “ew” na Apap a histria. Para, em seguida, comprovar que, condiconado pelo uso de todos os historiadoresiicilmente eu havie ocultado tudo aquilo que, em minha experiencia pessoal, agucara minha sensibi- lidade eorentara minha reflect. A China ¢0 Viios to freqientemente mencionados aqui, fo ram durante muitos anos meu campo privilelada de atividade academics, base de minha “carteiea”- Mas tamisém x terreno de asio politica, através de todes os movimentos de solidaredade ‘om esses dois povos, E ainda um elo afevo extremamente fore, ‘sem dividafundamentado mama recusa mult instintvae profune ‘dade tudo aquilo que a socledade burguesa me impés desde a in- fancia: a civlizagio “rst, a cultura “ocidental”, a ténica "mo: ddema". Quando deel de me sentira vontade no dscutso hstrlco académieo em geal, renuncel ao mesmo tempo s permaneser co: ro “especilista”universtério da hstriacontemportnea desses alse, Ruptura que me foi faclitada, sem atvida, pelo fato de que «China e, pacalmente 0 Viet efetuaram uma rupture mais im [Portante com a histia scadémics, Eses povosvivem intensanen tesa reagio com o passado mas acham mite engracado ofato de {sso produzir tse “de nivel internacional”, brihar nos oléqulos e seminérios do Ocidente, figurar no sumario das revises do mundo ‘capitalists sobre os orients, uma adverténca para aqueles que 1 DEMOS FAZER TABULA RAGA DO PASEADCR continsam procurando al ae provas da “qualidade” das atividades Fistéreas noe novos Estados da Asia ou da Africa Porque ita re- ‘oluciondrs dos chineses, dos vietamitas ou dos cambojancs 6, [por si mesma, uma criti ative do discurso histricoacadémico do (cident, um desmentido severo de tants “trabalhes”eruditos © dl tantas carceirs universirias "bom-sucedidas; ess lta revo- Tiiondsa manifesta a inanidade total de tudo ss. ‘As grime vigens tudo aqulo que eas acrescentam aos pri- ‘vilepiados que tém a oportunidad de delastirar provito. A custa Ga coletvidade e uizanda hablmente rlagoes pessoaise faci ‘dadesinsitucionas, como tanos outos, minha carrera univers tiria me permitia visitar, em vérias ocasides, China e Vietn, Unido Sovietcn e Estados Unidos, Austria e Madagascar. Todas esas longes viagens levam am contato quae isco com a total ‘dade plnetiris, Coneibueam mito para mou apetite de relexto Comparativa sobre ofatohistrico em sua generalidede, sobre a historia como péssado em comum da humanidade e, portato, co- ro base de ses devir em comm. Apesat dé ainda se estar proc Fando o novg interacionalsmo (0 Partie Const, no qual permanesivintee um anos. Ser preciso, um dia, que ae explique bem, sobretudo o que ele repre Senta como acréscimo e, 0 mesmo tempo, como mutlagzo. Pata tanto, iso noel ¢ precio ultrapaseararelacso de amargura semocional que conservam qusse todos os "ex" em regio a0 "Par- fido",sobretudo entre or intelecaais. O Partido Comunista & um {ato socal da Frang contemporinea. Ele pode incomodar consde- ravelmente 0 poder, Tem a confianga de amplos setores da classe ‘operriae das classes médias, No entanto, para muitos entre nés, ‘le etd na retaguarda de nossa preocupaches, porque ele esté na Felaguards das las populares conduzidas com tanto dingmismo por outras camadas da classe operéria e por outros grupos das {asses médias radicalizadas, As formas “slvagens” de uta nas f- bras a erica co modelo escolar de promarao individual peo s- ber individual, a zeflexio sobre o contetido politico da delingién- ia, een do sexismo e do exéct sua cidadel, a hostilidade 08“ pequenos chefes”e 90 litimo dos executvos e dos especla- lists, tudo isco no € obra de uma parcola de intelectualsesquer- dlstas manipulados pela reacio; todo iso esté vivo em amplas _massas, que no se rencontram no Partido Communists. "A soci dade presas tanto de contramestes quanto de médicos ede pro- fessores", disse sincera elogicamente Georges Séquy. Néo precisa nem de médicos descalos, nem de universidades abetas, nem de ‘comitésrevlucianéris de fabric [No campo do saber histrico essa recsa em clear aideole- fia dominante significa para o marsismo académico a adesto a0 fiscurso intelectualista,produtivsta etecniita. Signlfica a acelt- ‘lo dos jogos e das sedges do sistema universitco, Este livro Insite rissa muitas vezes porque essa adesdo e essa aceitagSo $80 fendmenos relativamente rcentes. Vivi no inilo dos anos 1950, a virada radial que levou PCF 2 orienta seus intlecuis em dite ‘fo ts instituigdes e 2 dicureo da burguesa, no memento em que le remunciava as teses de Jdanov sobre “ciéncia burs eciéncia| proletzia”(apftulo 19). AtéentZo, um intelectual comunist, mt Tradigio dos Politzer e dos Jacques Deco, recusava sstematie- mente as delicis os venenos da carceira universisa burguest. Logo aps © Maio de 1968, tomei um certo distanciamento ‘em elagio, ao mesmo tempo, a0 Partido Comunistae instituicso dos histriadores, po eapas,apazentemente sem choques brutai, ‘numa seine que me parece hoje 0 natural que tenho dificul ddades para me explicar — ainda que estiveseligada a uma crise pessoal muito profunda, Terho diiculdades em analisar to Aquilo que me fez aeitar durante tantos anes 0 duplo condicona- mento da “carrera” e do “partido”. Porque eu conhecia bem o jogo do mandarinatoe suas satsta- shes de prestigio, de poder de dinero, Quando & necessitio Snalisat (capitulo 7) os mecanismos da mini-sociedade dos histo- Fiadores eu se do que flo, Romper, 3 menos parclalmente, com ‘esse sistema seria otitimo avatar de um mandarinato que se man- ‘ém privlepiado até em sas recusis? Certament, parque eu no ependo nem de um inspetorgeral nem de uma banca de minha futur tse, nem da inserigao numa das lista do "Comité Consul ‘yo"e multo poucos esto nesta stuagso. Todavia, aqueles que re- provatno que minhas recusestém ainds de prvilegiado nao res pponderam ainda a esta simples questio: por que tio poucos de Ineus “pares” ulllizam seus privlégios no mesmo sentido que cu? Ali, teria eu rompido verdadelransent? Trata-se de auto- 6 evENOS FAZER TABULA RAGA BO ASEADOY soma confortivel, no de independéncia frugal... Mantenho-e ligedo 20 sistema, como tantos outros intletuais.E 0 qu signili- ca # fuga individual? Quantos facassos patéticos ocorrem entre fqueles que a tentaram? Contin, portanto,assegurando meu ervigo com oensino e rcebendo as gordassomas aque ten “dl- reito™ Mesa se tento propor as estudants algo um poucodife- rete de uma ft de saber Wistérco recortado segundo as gras Sob océdigo “J. 11-912", porque o computador de Jussieu & mul- to restito nesse dominio, o present ensalo fo dscutide durante anos com estadantes de lcenciatura, Maio de 1968 foi bastante representativo para muitos de nés. Nia 6 toa que a cinica expresso "solzante-huitards" acabou vi+ rando moda, justamente no reino do iberalismo “avancado” gis- ‘catdiano, Os rscos de idealzagso mica de Malo de 1968 sio evie lentes — mas isso representa exatamente a preocupacio da Dburguesiay ela tem necessidade de um pouco de sangue fresco, de idias novas de talentos até entio mal-empregadios, pata dar cor- po ts reformas de,que sentenecessidade. Os "soxante-muitards” Artependidosintegrades na questo do meio ambient, no marke fing socolgic, na administrago cultura no conselho industial, na promogio furistica, sf0 numerosos. Como os “quarante-h tards" eoutzos saintsimonianos sensatos que se colocaram a Se ‘igo de negociatas do Segundo Impési, por volta de T850-186, Porém 0 “Belo Maio” merece mais. Nao se enterrar numa mitoo iia passadita eem nostlgias de antigo combatente. Master a me ida exata de Mio de 1968 como bred e como eps. Pensa hist ricamente Maio de 1958 em tudo aquilo que ele permiiueem tudo ‘quilo que ele exprimi, Para poder i mas Longe. ‘Os temas dest iv foram ruminados durente anos, no iso- lamento ou através das “TD com meus orentandes. Mas cen temente o questionamnento do saber histrico progrediy muito, natadamente através do movimento do "Forum Histria"™, orga- ir fe UE oe Geogr Cnc Sica, Unveriade Pre ‘oir, pone qu fire?) a atseNtacho v nizado em maio de 1975 por alguns istoriadores parsienses. Este lio ¢ uma contebugse pessoal, que nao compromete o Férum, mas deve muito a sues interrogecdes coleivas: ol enriquecido ‘com a toca de idéins que aconteces no Frum grag 20 Forum, de "rabathar com histvia" fora das faculdades, pelo mencsna- ‘quele momento... Que aqui recebam agradecimentos multo calo- rosos todas aquelescujs advertincias e reflexes permitiram ent- quecer 0 texto deste ensaio — quer tenham aceltado reler 0 ‘manuserto, quer tenham sugeride uma fermula ou uma ctaio, ‘quer simplesmente eu tenha podido tiar partido de uma troca amigavel de pontos de vista em qualquer lgar da Bretanha ou da Oectinia De uma forma mais ample, a exposigto de ideas, a reflext, ‘8 andlise sto apenas aparentementetarefas individuals. Todo tex to ests principalmente enraizado numa Sociedade, num meio so lal enim movimento politico. Qualquer que sj thus do eda tor sobre sua lberdade de “criador”.. Seria entlo necessrio asinareste livre? ‘Assinar um live parece bio, O leitorcolocaré uma etique ta, oiniciante poder fazer “um nome", o editor se Benefciaré da notoriedade do autor que jé publicow , de qualquer forms, na sara individualista-burguess do Ocidente cad um deve asumir ‘ responsabilidade "privada” sobre o que esereve, “Hone a assi- stra” esa regra clementar do comércio vale também para 0s intelectonis, ‘Como se um texto ste por exemplo, devesse tudo a seu au tore ninguém mais. Como se a8 informagies agul eunidas, 35 andliese as divides tvescem nascido no expléndido islamento do eérebro de um individue. O autor é apenas um catalisador, a texcita € apenas um refexo. Um texto, ¢ @2 isso que 0 presente texto se prope, pode ajudar 2 colacar os problemas, a amadure clos. Mas suas Informagbes, suas andlises e suas divides 56 pu- dleram sor formuladas e resgatadas pelo autor porque j circu ‘vam em estada latente, porque exstiam na consciéncn coletiva de modo difuso, porque eram pradusidas por ums prétce socal — {neste caso, pela crise do saber histirco, tanto entre os produto 108 como entze 0s consumidores dessesabgr- Sea hstria€ rel ‘mente uma relagio ative coletiva com o Bassado (eapitalo 1), 2 16 evince rAZeRTARULA HASH DO PASADOY reflexio sobre hiséria também 36 pode ser ativa e coletiva; as contbuigies individvais so contam na medida em que se iase- rem nessa rlagioetiva e coletiva, para melhor formuli-la, para The dar mais ors ‘Uma assinatura, de qualquer forma, é um desemperihoindl- vial. Eo gosto dese coloca® na diantelra — vel por explo, ‘estado febril da iniensa maiorin dos autores quando se trata de ‘comrgir suas provas, de assinar os abalhos para a imprenss, de collar as resenhas que lhessfo consagradas, para nfo falar dos direitos autorals. & gostoso se auto-afirmar, chamara aengio pa~ i, porque € isso que conta no jog socal do Oxidente capltalis- ta, E gostoso se pavonearna capa de um livr, mesmo que ea es ‘condendo afer do pé. Conta ese exbilonismo, nem sempre franco e nem sempre assumido, 0 pseudénimo nao é 0 emédio mais simples? Ou a assinaturacoleva, ou mesmo o anonimate? Sebe-e 0 que representou para toda uma gerasio o peeudénimo coletivo “Bourbali” em matemdtica, a marca "Socalsmo ou Barbétie” nos anos 1980. Marx nfo asinowo Manta comune, ‘que continu send seu “melhor texto” (como se diz entre 0s crit- cos cullos), porque ele acreditava ser apenas um eatalisador e um reflexo, acreditava ajudar os operdros revolucionérios da Liga dos Justos a resgatar suas andlisese suas perspecivas,e nada ‘nas, Os joven intelectuaisradicais que fundaram o Partido Co- riunista Chinés, nos anos 20 e 30, usavam sistematicamente 0 psevénimo — nem tanto por vigiléncia contra a poicia quanto fomo antidoto conta a valoiaagio do Individuo. Apuraram-se ‘intent e ues pseudGnimos diferentes para Qu Qiurbai,eritco lterdrio que em determinado momento era secretério-geral do PCC e fol assssinado pelo Kuomintang em 1988. Os cinta 2 ica da revista Inpascence usam sistematicamente 0 anonimate: ‘nenhum artigo €assinado. Isto se refere as armacihas da assinatura a montane, do I ‘dodo autor. Mas jusante, do Iedo do leitor, as ambiglidades sto as mesma. O ltr aredita concer o autor, sua mareareista> fa, sew passad, Ele nfo lero texto por sua fore intrnsoca de in- ‘expelagto mas pea relago com esa imagem que faz do autor, de ses projetos, de sus intengoes:"Onde ests aqueleautr?”, Proc rams as fchas da investigago eum Hira dormene casa de muitos AmeseNTAchO » critica; ressalta-se citagdes ou lembrangas de vinte anos ats pata colocarpessoalmente 0 autor em stuagio embacasosa ‘Além disso, assinatura é um elemento de valovizagio mun dana e publiitria na sociedade do espetéculo. ABI 0 ultimo Glcksmann! Ah! o timo Deleuze! Quando se dispbe desse pon. to de referéncia,¢ fil falar alestoriamente sobre um livro que se lew apenas superfcialmente ou nao se les. Mas um livro sem em balagem publictria personalizads, nfo se ters Julgemento sobre aquilo que ele diz, nem mesmo seré mencionad, a menos que ‘gut otenhaefetivamente lida Para poupar o texto de todos esses excessos de toda essa po- Aridlo, de todas essasprojegBes a montantee a jusante, para que «le desempenhe seu papal simultaneo de relexo de uma pti, social coletiva eee contibuigo a al pti novamente, a solugao nfo € 0 anonimate nem o pseudénimo, Se finalmente deci assnar este livro, aps muta hasita- ‘es, porque um texto, cuja forma hoje permaneceftaliment in dividual deve sempre muito aventura pessoa, a tudo agulo que © radator-transeritor viveu,apreciou, desprezoy, jlgou verdadel- ro, sofreu,recusou. Assinar um livro ¢ fazer oesfarg deal dizer “eu”, nem sempre é fi. Nao nos ensinaraa 130, e foi preciso uma crise excepcional em sua correla de grande universitri para que Bloch se cise por isso. Este lvro tem evidentemente valor de autocrtics. Assumindo-o pessoalmente asinando-o, assume todo o passado individual de que ele &o fim tanto parame fei tar como para me lastimae por iso, Assim, mas sem complacén- ‘ia nareistea. Os balangosindividuais estdo na mova, quer se trate dos bem-sucedios ou daqueles que o sistema precsou esmagar.E disso 0s editores estdo vidos. Mas “questionar-e novamente iio incomoda ninguém se no se vai além dlaso. £ tao agravel ara um intelectual falar de i, uma vez quebrado o elo! Como it além? Como transformar um balango complacent em forse polit cexofensiva? Este trabalho se apresenta de forma adequada a seu objeto, Isto, em estado inacabado. A reflexsovaie ver, es fs oe tecem ¢ se entrecruzam, voli-e ats, retoma-se mullas vezes a mesine {questo sab outro prisma:teoriastalinsta os cinco estigios ou Sentldo histrico do movimento oceitano, rten da matxlsino ace 20 vane YARILA RASA BO PABA émico ou balango complexo da experéncia chinesa. Camino si- ‘nuoeo, espiahoso, que é apenas aexpressio de minhas incetezas| tem distant do exquema linear em tes ou nove parte, "a par- {ir do qual deve brilhar plano de uma aula de efetvaceo”, como slria meu velho mestre Charles E. Perrin. Mas a histia¢decididamente muito importante para ser re legada aos historiadores, 1 A histéria como relagao ativa com o passado Teco speciizao au mandi cles — A “he” de itis — Em quecanposesiuostber hist? — Arma do incall eo profi slonliso— Una exparso sti] Maitos historiadores vive 99 conforto corporativo. A histéra é seu oficio, seu “teritéria”™ Ele sio os especalistas eso respettados enquanto tas. Aimpren sa, anda mas, tev tem tomado conereta «familia sua situagio de privlegiados experts em pastado, Este confor comporativ ets solidamenteinstalado na propria ambigtidade do termo “hist 1a": 20 mesmo tempo o movimento profundo do tempo eo estudo {que dele se faz. A biologia etude a vida; « tstronomia, os astos, ‘Mas a “histca” estuda a "histone": indicio de identifeagto que * usc, M.A pou oo mir ita. Ba, pte: ego 1 hi ease Manoa tga» el Cr. Uiboe, Pekan are me LeRoy Leonor, 2 DeVIMOSTAZSR TABULA RAGA DO Pasta alimentatma exraordinéia presuncéo, inicio de uma armadliha (quese fecha sobre si mesma, “Todavia, cada um sente muito bem que a histela € uma col- sa totalmente diferente e que ela diz respito a todos nés. A lin- ‘guagem cotdiana estécheis de refencias hstria. Bist a “ro- fda da historia”, que gira implacavelmente mas pode para, fcelerar-se, recuar. Exstem as “ironias" da histria, seus ardis, suas “armadilhas", seus “designios" suas faces ocultas mesmo ‘para os observadores. A historia seria uma grande maquina auto- fcetiva, capaz de “eter” ou “esquecer” as pessoas, as datas, os fatos ela tom até suas quetaes menores, porque ets bem organi dada. Ela sera capaz de dar ligdes, de dstibuir lauréis aqueles ‘que conseguiram manterse em cena ox mesma de condi ulga- mentor do alto de seu “tribunal”. es vezes ela guard seus “enigmas",recusne falar or ts dessae féemulas, tio habituais que nao chamam a tengo, ha alguma coisa de coorente © perigos, tio perigosa ‘quanto a pretensio dos historiadores profisionas de esgotarem 0 [passedo, saber, a idéiade que hstria domina os homens apar- [rd um higa externo,exere sabre eles uma autoridede suprema org inserita num paseado por definiio ireversivel e que é preciso inclinarse docimente diane dela. Que & 0 passado, por- fanto, que comanda o presente “Todavie”, diz Marx, “a histrin no fz nada, ela no possul renkhuma imenca rgueza, cla io tava nenhumabatalha. E sobre- ftdo o homem, o homem reslmente vivo, que executa tudo, que dlomina eque ita.” ‘Se opassada conta, ¢ pelo que significa para nés, Ele 60 pro- dluto de nosse meméra coleiva €0 set tecido fundamental. Quor| se trate daquilo que se sofreu passivamente — Verdun, a crise de 1928, 1900 9 ocupasio nazists, Hiroshima — ou do que ge vivew stivamente —a Frente Popular, a Resistencia, Maio de 1968, Mas te pesado, proximo ou longinguo, tem sempre um sentido para 'néaElenos ajuda acompreender melhor a sociedad na qual vive- tos hoje, saber © que defender e preserva, saber também o que ruvder e desrur. A hisnia tem uma relagio ativa com o passed. ( patsado ests presente em todas as esferas da vida sci. O tae ‘alho profisional dos historiadores expecializaes faz part dessa 1 austen couonaLacho AmvA cou OPAS=ADS a ‘elagiocoletivae contraitria de nossa sociedad com seu passa~ do, Nada mais é, porém, do que um aspecto particular, nem sem- pre o mala importante e jamais independents do contexto social © Aa ideologia dominente A relagi coletiva com 0 passedo,o conhecimento ativo do pasado, a0 mesmo tempo wna exgénciae uma necessidade, 0 pasado pesa e desg-se romper com ele. “Devers fazer tabula asa do pessado!” ‘Ao mesmo tempo, “existe uma grande fome de histéria entre © pove", segundo a formula empregada pelo historiador “am dor" Claude Manceron, num debate com Claude Mazauric, not vel da Universidade e histriador "especilista” do PCF mas apa- Fentemente sem conseguir interessar seu interlocutor nessa ‘questo, "Tem-se sempre necessidade de ancestrais quando pre~ Sente vai mal”, ressaltou Le Monte (26 de julho de 1974) por oca- So do lancamento simultineo de um liveo sobre os gauless e de ‘um outro sobre os caubsis americans ‘Com efeto, ssa “Tome” de historia pode contr algo de vis- carl e primitive, a busca de um refigo contra o que val mal, mas pode também sgnificar uma vontade de lta uma lgagio ative. A ogueira de Montségur estéintesamente presente na coneciéncia ceetana de modo renovado ¢ o téfco de negeos, no movimento Black Power, quaisquer que sejam as ambigiidades eas incertezas slo movimento acct ou da movimento negro, A histéra, passado, sso € do interesse de todos. Certos his toriadores proisionas tem sentido iso, eles tm buscado da & Fistrin e a0 conhacimento histérico uma definigSo mais clei, menos espcilizadne técicr “B o que uma época julge importante numa outra” J. Bure nara), “Ba necessidade que cada grupo humano experiment, a cada momento de sus evolugio, de buscar questioner, no esse o,0s fatos os aconteciments, as tendéncias que preparam o tem~ po presente e permitem compreendé-lo, que ajudam a vivélo” (Cutien Febere ez Noe dan. 1975 ao ‘Sem divide esses historadores da vetha goragio eram, af ral de contas, bem mais modestos que nossostecnocatas de com ptador, eles aeitavam estar, antes de mais nada, descuta de seu tempo ede seu povo. Mas permaneciam, ainda astm, intelectais; “observar a pessado”,“compreender o presente". seus olhos, 0 conheciment intelectual do pasado, mesmo cleivo, bastava por ' mesmo; ele nfo tnhe de esclarecer uma prtica social um enga- Jamento atv econcreto, ‘Todavia, nosso conheeimento do passado é um elemento at vvodo movimento da sociedade,é uma artculagto das ltaspolis- case idealgicas, uma zona asperamente disputada.O passado eo ‘comhecimentohisérco podem funcionar a servigo do conservado- ‘smo social ou das ites populares. A histéra se insere na Ita de ‘lasses; ela nunca éneutra, nunca ests aime da pelea (© cantor miltante oceitzno Claude Mari canta os alistados rebelde languedacianos de ISL, negandovse ase debsar mata em rome de Napoleéo na Alemanhs ou na Rissa, canta os vinhatei- 10s revoltosos de 1907. Mas no verdo de 1975 0 tricentenério do riarechal Turenne deu a0 primeira ministo Chirae oeasida para cxatar as virkudes do "Estado Nacional, em plena explosio da revollacorea, Cada um escolhe seu passad, cess esolh nunca é Jnccente Em que campo se situa o saber histric, em que sentido far ona a telagdo ativa com © passado? Nenlum historiador pode lidir essa questo, mesmo que que. ‘Ao colocar a relagi coletiva com o passedo como base do conhecimenta histrio,inverte se radcalmentearelaglo passado- presente. Nio é mais 0 passado que comanda, que di lige, que julga do alto de seu tribunal £ presente que questona e faz as sntimacces. ‘Mas 0 presente sé tem necessidade do passa em relagio a0 futuro. Nao se tata apenas de melhor “vivero presente", como se contentava Lucien Febvre, mas de mudé-lo ou defend&4o). A me- ‘mériacoletiva eo apelo& histéra desempennam o papel de ukima fnetinca em relacSo a0 fatur. A relagio diléica entre passado e futuro, elemento, ao mesmo tempo, de continuidade eruptura, de coesio ede lute, a prépra trams histric, 1 piston como RELAgAo ATA SOMO MASAO 25 Aisa da humaniéede 6 um movimento constant do rina rnecessidace rua 20 reno loerdade. Nur ssinade onde fubsiem cee, 3 lua de castes no poderd aeabar.E = hes tere o vaho eo ovo, ene 0 verador «oo promeguis Indencamaree ra socedde ary chtaes [1] A fag fil do ‘Sher histrco & poraneo, fer um bang de exprncas de humanicde, em racdr de deecoberm, om macira de venga, ‘ommatia de cago, en macs de progres Aftrmando o caréter nfo apenas coletivo mas ativo do cone ‘imentahistérico da relagio em 0 passado, repelese, com o mee ‘mo lance, para o fundo da cena os temas uss do discurso hist’ rico, suas falses evidéncias 0 comumente admitidas que ringuém sedi nem ao trabalho de demonstra: * 0 intteeuslisma, O conhecimenta intelectual do pessado sera um objeto vélido por si mesmo, independente da vida social ‘onceta. Engenhosamente, os histoladores inventaram a distin- fo entre histria-quese-faz hstéla-que-se-esrave, A primeita Sera cose de “politicos” ocasionlmente com intervengto, feliz fou lastinavel (segundo se & de direits ou exquerda), das massas populares. A segunda, a que se escrove, sera coisa de historiado- 1s, Mas est intelectualismo est profundamente enraizado,Eevi- dente para os hsteriadores de ofcio, eo “grande public”, por sua ‘vez, esti habituado com ele. Mare Bloch escreveu sua Apologia da Iistrin quando foi expulso da Sorbonne, cossedo pelos nazistas, rumo&resistncia clandesting, torturas, morte. Todavia, ele all eciarou, em sua linguagem de dinasta univeritrio: “Theasea hits de or earmamne Inference to Home eter ou 26 Ho polis, e se bstara pas sia dfs sr recanecis oo neces plana reaszarSo do Hamo sapien [re et tam prior exeos que he so psp []” * O ojeiviomo apttin. Sore-se com desdém quando se cita 1 frase de Fénclon: "0 bom histriador nfo é de nenhumn tempo rnem de nenhum pais"; velha querelaultrapasseda, diz-se, Mas o 2% LEMOS FAZER TARULA RAGA DO PASEADOY Paul Veyne, especalista em isteia antiga muito “estimado” por seus olegas eseeve ainda em 1968, na Encylopedia Universalis “Um historiadorséio, quer dizer, desintoressado, no se in- teresea pela histria da Franga porque é francs. Ele se intressa porele poramora histéria” Pouguissimos histriadores de ofcioaceltam refletir sia rigorosamentesobee o papel que tem sua avidade profissional na ‘vida politica e socal frances: ela atua a favor da ordem estabeect {a ou s favor das lutasrevolucionries? Fouguisimos aceitam re- Nets sobre as relagdes qu exstem entre os temas de seus estudos, ‘a propria forma pela qual sS0 conduzidos o equilibrio da scie- dade burguesa, Vivem conforavelmente na idéia do isolamento entre "oficio”evocedade + 0 profisonaismo. A hist6ria, conhecimento do passado, ependeria principalmente das qualifiagbes ténicas, da habili- ‘ade, do offcio. Q saber histérco ccularia na sociedade de acor- {Go com um dispositive de mo dice se elaboraria em circuito| fechado, nas esferas eminentes de pesquisa especializada, para depois tamara descer, de andar em andar, degradando-se 4 me- ida que o faz — manutis excolares,historiadores “amadores”, vulgarizacio. Recustr esse discurso elitista no significa que nio'se colo quem problemas resis e dliffes: tem-se nocessdade de uma cela Givisio de trabalho visindo a conhecer 0 passado? Pode-se critica © profssionalismo do historiadore, a0 mesmo tempo, manter a texigénca de rigor clentifico? Mas as pessoas do oficio sé discutem ‘esses problemas no interior de seu pequeno mundo corporativo e privilegiado; eas consideram seus privilégios crporativesdbvios, E prs pl contr, parr d ugar gable do ppl do pw sado em nossa sociedades dvididas conta elas mesmas, dlacera- as por ontradigbessocinis agudas, es6 eno se podem abordar ‘os problemas tcnios préprios a ster hstric. [A prods histrica se encontra hoje em expanso,e muitos profssionas se felictam por iso, centenas de tses, evistas espe lizades que se malipicam,inumerdveis volumes para o grande Dblico, coldqulos enuditos a propésito de tudo, reedigbes fre ‘qientes de documentos antigo e outras luratives operagies de 1 + AnsToRIA COMO RELACO ATA COMO PASDO 2 mercado livreire, Mas essa expansio espetaclaroculta um debate politic: el atua em que sentido ea favor de quem? “Enquanto a vel histria factual se mantém muito vive, no tadamente no cinema ena tev, duas correntes histricas ext ho- jem fae ascendente: — Nova Historia, da qual os volumes cole ‘vos de Pierre Nor e Jacques Le Goff Fire desta) fram como {que um manifesto e que est dvida por inlugncia junto a0 grande pblico (publicacio,teve, et); ela se quer atraente,aberta a todos 0s problemas do homem, mentalidades, téenicns, vida e morte. a histvia universitsia marist, apoiada no prestigioe nos melos ‘materia da histria académica ovitica, assim como nas posses {ganas ep6s 1968 pelo Partido Comunista na insttigto univers tiria(UER, revistas coldquios etc). Ess duas correntes, entre a5 quais intervém um jogo complexo de rvalidades, compromissos, ‘ooperapes,estio ambas furdamentadas numa acetagfo comum das flsas eviéncas do saber historic (aptulo 6) e das regs 0- ciais de fancionamento de institughes de histriadores (capitulo 7) esas duas corentas a respeito de cx iniuéncia se relomars _muites vezes os capitulas seguintes, propagam, wma eoutr, ua concepsio des mecanlsmes lstércos que se apéia na lent cont dade, nos processes exteriores ao movimento ava das masses. ( tecido fundamental da histva seria eonstituido, num cas, pela “longa duragio" braudelina; no outo, pela lenta dinimica das forgas produtivas entrando inelutavelmente em contradigo com as relagbes de producio (como explicou doutamente Althusser & John Lewis). © que tem por desfech, de qualquer maneirs,desa- propriare expulsar as massas populares de sua histéa simulta eamente porque se reserva seu estudo 40s especiales privile- giadas e porque se langa a divide sobre mia capacidade de Intervencio ava sua capacidade de “fazer historia”: Adeptos da [Nova Histcia e marsstas académicos, assim como a velhahistéria fen goram area fundamental ene aber tse pee tien soci 2 Historia e pratica social: no campo do poder Sc pasado como stcdade politica — Anes de Endo — Conde 1s forts also — Gals egardsmnem ae do psd fants — | gum opasdoncomodn?— Cad oid dec milo pasado [Ns sociedades de clase, hist ria faz part dos intrumentos por meio dos quasa classe dirigen- te mantém seu poder, O aparelho de Estado procurs controlar passado, simultancamente, no nivel da politica pritica e no nivel Sa deologin, © Estado ¢ o poder organizam 0 tempo passado e moldam «sua imagem em fungso de sous intereses politicos e ideologicos [No antigo ito fradnico ou na China das dinastis imperiais, ere sucesso das dinastias que moldava ahistea, mareava o tempo,

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