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Wanderson Lima Vieira
Abstract: This article seeks to present the interpretive solutions to the impasse of liability in cases of
aggravated murder for pay or promise of reward, The text aims to analyze the main existing arguments
currently seeking the most appropriate formula for the individualization of punishment to the Mastermind
of offense and the executor.
Keywords: murder, qualifying, payment, mastermind, incomunicability, promise of reward
Resumen: Este artículo busca presentar las soluciones interpretativas al impasse de la responsabilidad
en los casos de homicidio agravado por una remuneración o promesa de recompensa. El texto tiene
como objetivo analizar los principales argumentos existentes actualmente buscan la fórmula más
adecuada para la individualización de la pena al autor intelectual del delito y el ejecutor.
Palavras clave: asesinato, cualificación, precio , inductor, incomunicación , promesa de recompensa .
1 - Introdução
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Advogado. Especialista em Direito Criminal.E-mail: wanderson.direito@hotmail.com
Contudo, quando o coautor o faz motivado por um pagamento ou mesmo pela
promessa de uma vantagem, surge uma das hipóteses do homicídio dito qualificado.
Não se trata aqui da chamada autoria mediata onde o autor se faz valer de um
inimputável ou induz alguém em erro ou coação para tirar a vida de outrem. Nessas
hipóteses não há concurso, pois o executor foi na verdade um instrumento do crime e
não coautor.
Para que se possa versar sobre o alcance de uma norma jurídica, o primeiro
passo deve ser a leitura atenciosa de sua letra. Para tanto, se propõe adiante um breve
estudo do texto legal:
HOMICÍDIO QUALIFICADO
§ 2º Se o homicídio é cometido:
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
Ou ainda:
E ainda:
Para Greco, as elementares são “dados essenciais à figura típica, sem os quais
ou ocorre uma atipicidade absoluta ou uma atipicidade relativa” (GRECO, 2011, pag.
99).
O professor César Bitencourt ensina que as “elementares do crime são dados,
fatos, elementos e condições que integram determinadas figuras típicas”
(BITENCOURT, 2000, pag 399).
Contudo não se pode afirmar que trata-se de uma elementar pois não integra o
núcleo do tipo. Não sendo uma elementar, por conseguinte, não se comunica ao
mandante.
Para melhor juízo deste fragmento da teoria do tipo penal é razão pela qual se
passa a analisar os conceitos de tipo básico e tipo derivado.
O tipo derivado, por sua vez, demonstra sempre uma conexão com o
fundamental e cumpre a função de especificar peculiaridades agravando, atenuando,
qualificando ou privilegiando a conduta.
A doutrina aponta ainda para os chamados delicta sui generis. Estes são tipos
autônomos com aparência de privilegiados, por exemplo, o infanticídio.
Contudo nada impede que este mandante seja movido por um motivo de
relevante valor moral, como no exemplo de Marcelo Carvalho, um filho que ao ver o pai
acometido de sofrimento e agonia implorando pela morte contrata outrem para cometer
eutanásia.
Sendo assim:
Pode-se citar ainda o caso do sujeito que contrata alguém para matar o
estuprador de sua filha. Caso estes mandantes respondam pela qualificadora, restará
configurado o concurso de privilégio e qualificadora subjetiva, ou seja, um crime
considerado “torpe” e “moral” simultaneamente.
Sendo torpe, por obvio, não pode ser de relevante valor moral ou social.
Por esta ótica, sem que houver ajuste o executor pratica conduta “torpe” que em
nenhuma hipótese será de relevante valor moral ou social.
Supõe-se então uma situação em que um sujeito tenha uma jovem filha que
beira a morte e necessita urgentemente de um rim para que sobreviva, contudo não
aparecem doadores. Um jovem médico muito influente de um hospital o aborda e diz
que o seu tipo sanguíneo e idade o faz ser um doador perfeito para acamada senhorita.
Diz ainda que a equipe dele está pronta para fazer o transplante desde que ele ponha
fim à vida do Diretor do hospital para que ele venha alcançar o cargo. O pobre senhor,
na ânsia de ver sua filha curada, tira a vida do terceiro e sua filha recebe o tão precioso
órgão.
Contudo, nenhuma interpretação seria capaz de sanar uma falha no texto da lei.
No momento em que o legislador colocou a paga ou promessa como um exemplo de
motivo torpe, não se pode separar estes conceitos. Sendo assim, o comportamento do
senhor no exemplo será sempre torpe.
Assim, por mais que o executor tenha agido por uma razão que não se pode
considerar “torpe” seu crime será “torpe”. A falha legislativa demonstra uma incoerência
técnica que afasta a individualização da pena, uma vez que impede a aplicação do
privilégio.
Considerações Finais
Por todo o exposto considera-se o texto legal resta eivado de equivoco trazendo
de fato dúbia interpretação e constantes injustiças aos apenados. A melhor solução
seria a reformulação da letra da lei tornando clara a individualização da Pena bem
como separando o motivo torpe e o ajuste de recompensa.
Contudo, levando em consideração que a função dos operadores da lei não
prevê a alteração de texto normativo, mas apenas sua interpretação e aplicação,
observa-se que imputar qualificadora ao mandante do crime não é a decisão mais
acertada.
Além de tudo deve-se ponderar que se há dúvida deve se aplicar a medida mais
protetiva ao réu em respeito a um dos princípios basilares do direito penal.
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