Você está na página 1de 164
Verbo Juridico DIREITO ADMINISTRATIVO. |. Direito Administrativo... I. Administragao pablica.. Ml, Administracao piiblica direta e indireta. IV. Ato administrativo, V. Licitacao. VL Contratos administrativo: VIL. Servigo piibico.. IIL, Bens piblico: 1X, Agentes puiblicos. X. Responsabilidade civil do Estado... XI, Intervencdo do Estado na propriedade. XII. Controle da administracao publica. XIll. Lei de Improbidade Administrativa. XIV, Estatuto da Policia Civil do Estado de Santa Catarina (Lei 6.843/86)... 002 006 024 031 047 057 062 067 069 081 090 095, 102 Verbo Juridico DIREITO ADMINISTRATIVO I. DIREITO ADMINISTRATIVO 1. CONCEITO Para uma methor conceituagio do Direito Administrativo, langaremos mio da ligo de Maria Sylvia Zanella di Pietro, para quem © Dircito Administrative é “o ramo do dircito piiblico que tem por objeto os rgiios, agentes ¢ pessoas juridicas administrativas que integram a Administragao Pablica, a atividade juridiea nao contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para a consecugao de seus fins, de natureza publica’ 2. OBJETO © objeto do Dircito Administrativo engloba todas as fungdes exercidas pelas autoridades administrativas; a regulamentagdo da estrutura, do pessoal (Srgdos ¢ agentes), dos atos e atividades da Administragao Publica, praticados ou desempenhados na qualidade de poder piiblico. Toda © qualquer atividade de administragio, seja ela exercida pelo Poder Executive, pelo Poder Legislative ou pelo Poder Judiciério, € tutelada pelo Direito Administrativo. 3. PRINCIPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO A Administragao Piblica rege-se por diversos principios, os quais norteiam seus alos de forma a garantir a consecugo de sua finalidade. O art. 37 da Constituigo da Repiblica dispde que “A administragdo publica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unido, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedeceré aos principios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia”. Além destes cinco, encontramos outros, principios nortcadores da atividade administrativa, tanto em nosso texto constitucional quanto na legislagio infraconstitucional, os quais passaremos a estudar com maior detalhamento: 2 Verbo Juridico * PRINCIPIO DA LEGALIDADE E principio que explica como sc di a atuagio da administragio, servindo, também, como contengio a0 arbitrio estatal. Determina a completa submissio da Administragio Piiblica a lei e a0 Direito, sendo permitido aos administradores fazer Lio somente aquilo que se encontre expressamente autorizado em texto legal Salienta-se que este principio se manifesta de formas diferenciadas nos Ambitos piiblico ¢ privado, sendo que no segundo consubstancia a autorizagio da ago, desde que niio haja proibigdo legal, enquanto no primciro, como vimos, trata-se de impossibilidade de agio sem determinagio da lei, motivo pelo qual o Principio da Legalidade, no ambito da Administragio Piblica, é também chamado Principio da Reserva Legal + PRINCIPIO DA IMPESSOALIDADE, Este principio assume dois significados: a) A administrago deve conduzir seus atos tendo em vista o bem da sociedade como ‘um todo, no podendo beneficiar ou prejudicar determinados particulares, pois € sempre o interesse piblico que norteia sua atividade, Ou seja, os atos devem possuir, sempre, finalidade piiblica: b) Os atos e provimentos administrativos so imputiveis no ao funcionsrio que os pratica, mas ao Orgdo ou entidade da Administrago Publica, de sorte que ela é a autora institucional do ato. [2 assegurado Administragio, entretanto, 0 dircito de regresso contra 0 responsivel nos casos de dolo e culpa, nos termos do art, 37, §6° © PRINCIPIO DA MORALIDADE, Esta intimamente ligado aos conceitos de probidade, de honestidade, ¢ de interesse pliblico. Por este principio a Administragio e seus servidores tém de atuar segundo padries Gtivos de probidade, decoro ¢ boa-fé. Assim a atividade administrativa deve obedever nto apenas a lei, mas, também seguir principios éticos de boa-fé ¢ lealdade, A moralidade consignada no preceito constitucional nao é a moral comum, ¢ sim a moral que se deduz da conduta interna da administrago. © ato administrativo imoral poderd ser legal, mas sera invalido. Assim, a violago a principios anténomos (legalidade ou moralidade) acarretara 0 mesmo resultado, a invalidade. Verbo Juridico * PRINCIPIO DA PUBLICIDADE Principio inerente a Administragio Pablica, determina que esta se encontra obrigada a Publicar seus atos para que a poptilagao deles tenha conhecimento, ¢, conseqiientemente. possa contesti-los. Assim como a administragio deve divulgar: de forma razoavel suficiente; suas atividades, também deve permitir 0 acess ao conhecimento destas. A publicidade, entretanto, nio & absoluta, devendo ser ressalvadas as hipéteses de sigilo previstas em lei * PRINCIPIO DA EFICIENCIA Eo mais novo dos principios. Passou a fazer parte da Constituigio a partir da Emenda Constitucional n° 19, de 04.06.98. Exige que 0 exereicio da atividade administrativa (atuagio dos servidores, prestagio dos servigos) atenda requisitos de presteza, adequabilidade, perfeigdo técnica, produtividade e qualidade, * PRINCIPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PUBLICO A Administragao Piblica ocupa posigao privilegiada frente aos particulares, em razio da fungiio de gerenciamento dos interesses piblieos que exerce, Neste caso, havendo conflito centre um interesse particular e outro de natureza piblica, este devera prevalecer. Saliente-se «que tal principio nao dispensa o respeito ao interesse privado, entendimento depreendido do dispositive constitucional que diz que a administragao piblica deve agir sempre rexpeitando o direito adquirido, a coisa julgada ¢ 0 ato juridicamente perfeito (art. 5°, ine. XXXVI, da CF). * PRINCIPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PUBLICO. Deve a Administragio agir sempre buscando o interesse piiblico, no Ihe sendo permitida a disposigio de tais interesses, assim como de seus bens © direitos. A Administragao, in casu, atua como mera gestora, no Ihe sendo autorizado qualquer ato de disposigio ou alionago sem que haja lei anterior que assim preveja. Saliente-se que tal principio no se confunde com o da legalidade, embora com ele se relacione. O principio da legalidade ¢ antecedente légico deste ¢, por isso, merece algum destaque em relagdo a ele Verbo Juridico * PRINCIPIO DA CONTINUIDADE Este principio preza a nio interrupgiio dos servigos piiblicos, em razo da relevancia social que detém. Por ele s¢ justficam algumas limitagdes ao direito constitucional de greve. conforme art. 37, VII, CF. Ha, ainda, determinadas fungdes que sequer podem ser intcrrompidas, como no caso dos militarcs, o que encontra amparo constitucional no art. 42, IV, CF. Do mesmo modo, nao so admitidas paralisagdes nos servigos tidos por essenciais, Destaque-se, ainda, a faculdade que tem a Administragao de utilizar-se da estrutura da empresa com quem contratou (maquindrio, material, instalagdes etc.) para garantir a continuidade do servigo. No mesmo sentido, admite-sc a encampagio da concessiio de servigo Piblico ¢ nio se aplica aos contratos administrativos a excesio de contrato nio cumprido, prevista no art, 476 do CC, em face da Administra + PRINCIPIO DA AUTOTUTELA A Administragio Péblica possui a faculdade de anular atos ilegais ¢ revogar os atos que julgar inconvenientes ou inoportunos, sem a nevessidade de recorrer ao Poder Judicidrio, Trata-se da autotutela, que tem como fonte o principio da legalidade. Uma vez que a Administragio Piblica subordina-se a lei é eabivel a esta o controle da legalidade de seus riprios atos. Os stos administrativos poderio ser anulados quando eivados de vicios que os tornem ilegais, porque deles nao se originam direitos, ou poderdo ser revogados quando nao forem ‘mais, a juizo da administragdo, convenientes ou oportunos, respeitados, contudo, os direitos adquiridos ¢ ressalvada, em todos 0s casos, @ apreciagao judicial * PRINCIPIO DA ESPECIALIDADE, De acordo com principio da especialidade nao podem ser alterados, abandonadas ou modificados os objetives que deram ensejo A oriagio das entidades estatais, ou seja, devem coperar com vista ao fim social que Thes du origem, A alteragio do objeto s6 sera admitida se for respeitada a sua forma de constituigdo, conforme estabelecem 0s incisos XIX e XX do art 37 da CF Verbo Juridico * PRINCIPIO DA RAZOABILIDADE Administrador Piblico deve atuar buscando atingir os interesses ¢ valores comuns a toda coletividade ¢ nio segundo valores proprios. Nao cabe ao administrador interpretar ov aplicar a lei sendo visando interesse piblico. F principio decorrente légico do principio constitucional do devido processo legal. cncontrando-se explicitado na Lei n.9.784/99, que funciona como limitagio do poder administrativo, + PRINCIPIO DA PROPORCIONALDADE Este prineipio também € chamado de principio da proibigio do excesso, visa a estabelecer um equilibrio entre os meios utilizados ¢ os fins aleangados pela Administragiio, Piiblica cuja atuago deve sempre procurar o sacrificio minimo de dircitos para preservar-thes ‘na sta maioria, Tem por escopo, portanto, evitar abusos do Poder Piblico, impossibilitando-o de agir de forma desproporeional ¢ em beneficio proprio. * PRINCIPIO DA MOTIVACAO, A tomada de decisées no Ambito da Administragio Pabliea requer sejam indicados seus pressupostos de fato ¢ de direito, TLADMINISTRAGAO PUBLICA 1. CONCEITO Segundo ensina Maria Sylvia Zanella Di Pietro 0 conccito de administrago piblica divide-se em dois sentidos: "Em sentido objetivo, material ou funcional, a administragio ptiblica pode ser definida como a atividade concreta ¢ imediata que o Estado desenvolve, sob regime juridico de dircito péblico, para a consecugao dos interesses coletivos. Em. sentido subjetivo, formal ou organivo, pode-se definir Administragio Publica, como sendo o conjunto de drgaos ¢ de pessoas juridicas aos quais a lei atribui o exereicio da fungdo administrativa do Estado" Em sentido objetivo ¢ a atividade administrativa executada pelo Estado, por seus Orgios e agente, com base em sua fungdo administrativa. Fa gestio dos interesses piiblicos, [por meio de prestagio de servigos piblicos. I a administragio da coisa pablica (res publica), seems DELEGADO DE POLICIA DE SC Verbo Juridico Ja no sentido subjetivo é o conjunto de agentes, drgaos ¢ entidades designados para cexecutar atividades administrativas, Assim, administragdo piblica em sentido material é administrar os interesses da coletividade c em sentido formal ¢ 0 conjunto de entidade, orgios ¢ agentes que execulam a fungo administrativa do Estado, As atividades estritamente administrativas devem ser exercidas pelo proprio Estado ou por seus agentes, 2. NATUREZA ‘A natureza da administragio pibliea é de um minus piblico para que a exeree, ot seja, a de um encargo de defesa, conservagio ¢ methoramento dos bens, servigos ¢ interesse da coletividade. Ao ser investido em uma fingio ou cargo piiblico, todo o agente assume para com a coletividade o compromisso / dever de bem servi-la 3. PRINCIPIOS BASICOS 3. 1. Principios explicitos (exprestos) Adota-se esta nomenclatura porque vém expressamente constantes no caput do art. 37, da CF/88, sendo eles os prineipios da: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade € ficiéncia ‘+ Principio da legalidade ‘Tem-se este principio como um dos basilares da Administragio Pablica, pois, segundo le, toda e qualquer atividade administrativa deve ter por fundamento a lei. E. uma sujcigao, tum limite a0 qual 0 administrador piblico esta submetido, pois todos os seus atos deverio ser pantados na lei De acordo com o art. 5°, Il, da CF/88: minguém send obrigado a fazer ou deixar de Facer alguma coisa senda em virtude de lei Isto quer dizer que, ao particular, tudo 0 que nao estiver vedado por zi, Ihe & permitido. Entretanto, para a Administragdo, tudo 0 que nio estiver autorizado em lei, the é vedado, Se mesmo sem fundamento legal tomar alguma atitude, restara esta ilicita SS =e. Verbo Juridico trado, pois sabe que podendo, desta forma, E também o principio da legalidade uma garantia para o admin toda a atividade administrativa deve estar respaldada na legislagi softer investidas arbitrarias por parte do Administrador Pablico, Atualmente, este principio vem sofrendo um alargamento. Em verdade, no propriamente o principio, mas sim 0 conecito de legalidade. Isto porque deve o administrador piblico respeitar niio somente a lei propriamente dita, mas também os prineépios, e, de uma forma geral, 0 Dircito como um todo. Por isso, niio & incomum ver-se ages ingressadas, contra administradores que nao inffingiram a Ici em scu sentido formal, mas sim principios, zo sentido amplo da palavra (neste sentido STF no RMS n° 24.699 e no RE n° 76.729). Em alguns momentos, entretanto, « legalidade pode ser posta num segundo plano pela propria Constituigo Federal, permitindo 0 administrador agir sem autorizagio legal como na adogio das medidas provisérias (art. 62), na instituigio do estado de defesa (art. 136) © do ‘estado de sitio (art, 137 a 139), além do easo do art. 84, VI, da CF/88, aprofindado na parte referente aos poderes da Administra, * Principio da impessoalidade Para Celso Antonio Bandeira de Mello! nada mais & que o principio da isonomia ou igualdade. ely Lopes Meirelles® jé entende ser 0 clissico principio da finalidade, A professora Lucia Valle Figueiredo’ distingue impessoalidade de igualdade, Para cla a impessoalidade até pode levar a igualdade, mas com ela ndo se confunde, A impessoatidade implicaria o estabelecimento de regra de agir objetiva (independent de todas as particularidades individuais) para 0 administrador, independentemente de qualquer interesse politico, confundindo-se, ai sim, com a imparcialidade. Para a autora, seria possivel haver tratamento igualitirio @ determinado grupo (que satisfaria o prineipio da igualdade); porém se fosse ditado por conveniéncias pessoais do grupo c/ou administrador, estaria infringindo a impessoalidade. A igualdade para esta administrativista permitira, por exemplo, tratamento “desigual” adotando certos diserimenes, dividindo-se igualdade na lei e perante a lei. No primeiro caso seria aferida perante os principios constitucionais, servindo de limite ao logislador. Jé 0 segundo caso (igualdade perante a lei) dar-se-ia no momento da aplicagio da lei, seja cle juiz ou administrador." A atividade administrativa no pode ter por fim pessoa especifica, determinada, com 0 objetivo de the garantir privilégios que nio sejam estendidos de forma isondmica aos demais. "MELLO, Ceo Anno Bain de. Ciao de Die Adurao. Leo alo Malis, 200.55, 2 MIRELLES, Hl Lopes Dio dna Braet. 38 S89 Put: Nalin, 289, p98 FIGUEIREDO, Lisa Valle Choe Dio ata 9 Sie Pale “Idem 47-50 Verbo Juridico Deve ser destinada a todos os cidadiios de forma geral, sem discriminagao, por forga inclusive do art. 5°, I, da CF/88 que afirma: todos so iguats perante a lei, sem distinedo de qualquer nahureza |...), ou seja, a finalidade da lei ¢ que todos sejam tratados de forma impessoal Exemplo elassico que se tem do principio da impessoalidade é a regra contida no art, 37, II, da CF/88 exigindo para a investidura em cargo ou emprego piblico aprovagio prévia em coneurso piblico de provas ou de provas ¢ titulos, de acordo com a natureza ¢ a complexidade do cargo ou emprego. ‘Também 0 ¢ a exigéncia da realizayio de licitagio previamente as contratagdes (salvo excogdes legais). A impessoalidade objetiva o tratamento igualitirio que a Administragio Piblica deve dispensar a todos os administrados. José Afonso da Silva’ traz importante observagio. A impessoalidade pode ser tanto em relago aos administrados como a propria Administragio. A primeira forma de impessoalidade foi a que até aqui se trabalhou (em relagao aos administrados). J a segunda forma, a qual serd aprofundada no tépico referente & Administragdo Pablica direta ¢ indircta, ‘quer dizer que a responsabilidade pelos atos praticados nfo ¢ imputada ao agente que o praticou, mas sim a pessoa juridica a que ele pertenee, por forga da Teoria do Orgio, 1h aleavene damned: dallas fatisiptas Gee ae: Wedd pRGaGa’. pedal. (dk administradores, forte no art. 37. §1°, da CF/88: “A publicidade dos atos, programas, obras. servigos © campanhas dos érgdos piblicos deverd ter cariter educativo, informative ou de orientagio social, dela niio podendo constar nomes, simbolos ou imagens que caracterizem promogao pessoal de autoridades ou servidores publicos” (neste sentido. também, STF no RE n® 191.668/RS). Outro exemplo recente & a edigdo da Stimula Vinculante n? 13 do STF que cestabeleceu a vedagdo do nepotismo. Ainda os arts, 2°, pardgrafo Unico, Ill, 18 a 21, da Lei n® 9,784/99 e art. 149, §28, da Lei n° 8.11290 + Principio da moralidade Ainda que de dificil definigao, 0 principio da moralidade esta ligado ao coneeito de honestidade, de conduta ilibada, ética, decente, lealdade: de bom administrador. Aparece na Constituigio Federal de 1988 em trés artigos distintos: no art. 5°, LXXIII (quando trata da ago popular), no art. 14 (quando aborda os casos de inclegibilidade) e caput do art. 37 (que trabalha os prineipios da Administraso Pablica). De acordo com a doutrina modema © a jurisprudéncia, a imoralidade & vista como uma forma de ilegalidade, e, portanto, sujeita a0 controle do Poder Judiciario, "SIENA, lx Afonso, Coro de Dio Constuctonal Posi 21 e8 Sho Pl Macon, 2002.68 DELEGADO DE POLICIA DE SC Verbo Juridico A niio observancia deste principio pode gerar inéimeras conseqdéncias legalmente previstas como: propositura de Ago Popular (art. 5°, LXXIII, da CF/88 ¢ Lei n° 4.717/65), de Agiio Civil Pablica (Lei n° 7347/85, art. 1°, IV) ¢ de Ago de Improbidade Administrativa (Lei n’ 8.429,92). Para a doutrinadora Maria Sylvia Zanella Di Pietro®, em se tratando de matéria administrativa, sempre que se verifiear que 0 comportamento da Admintstragao ou do administrado que com ela se relaciona juridicamente, ainda que em consondncia com a let, afende a moral, os bons costumes, as regras de boa administracdo, a idéia comum de honestidade, estaré havendo ofensa ao principio da moralidade administrativa, A moralidade administrativa refere-se a0 uma moralidade juridica que se chega pela observincia de principios como os da supremacia do interesse piblico, legalidade, impessoalidade, igualdade, ao qual se aciona mais um elemento o dever de lealdade as instituigbes ‘+ Principio da publicidade Principio que toma obrigatoria a divulgagio dos atos praticados pela Administragao Piblica. E inerente ao proprio conceito de democracia, ou seja, atribui dever de transparéncia, de visibilidade do Poder Piblico. Com previsiio Constitucional no art. 37, §1°, a publicidade dos atos, programas, obras, servigos © campanhas dos érgaos piblicos devem ter carter educativo, informative ou de rientagao social A publicidade gera a eficdcia dos atos administrativos e também alguns efeitos como: 1 presunedo do conhecimento, 0 desencadeamento do decurso do prazo para interposigio de recursos; o inicio da contagem dos prazos de prescrigdo ¢ decadéncia, entre outros, mas & importante salientar quc nao ¢ cla (a publicidade) clemento constitutivo do ato administrativo, sendo, somente, requisito para sua eficdoia, Aparece previsto em inimeras normas: art, 5°, XXXII primeira parte, e inciso XXXIV; art. 93, IX e X todos da CF/88, na Lei n° 8.66/93, art. 3°, §3° primeira parte, arts. 21 © 61, pardgrafo inico, art, 14, da Lei n° 9.784/99, entre outros Escapam a regra da publicidade: art, 5° XXXII, da CF/88 (com relagio as informagoes impreseindiveis a seguranga da sociedade © do Estado, regulado pela Lei n° 11.11/05) ¢ ainda 0 inciso LX, 0 art. 14, § 11 da CF/88, o art. 37, §3°, IL, da CF/88, o art. 20 do CPP, o art, 155 do CPC, art, 21, §1° da Lei n®9.472/97, entre outros. *DIPIETHO, Mina Siva Zana Dito Adin, 15. ed Sh Paul: At, 200, p79. |ARAUO. El Net de Caro de into Annu, Sis Pal: See, 2009, 9,367, EA eee. DELEGADO DE POLICIA DE SC Verbo Juridico principio da publicidade constitui, também, uma garantia para o administrado, pois facilita o controle sobre as agSes do administrador. Os instrumentos utilizados para a garantia deste principio sio, via de regra, 0 habeas data (Let n° 9.507/97) e 0 mandado de seguranga (Leis n? 12.016/09). + Principio da eficiéncia Presente no caput do art, 37 da CF/88, desde a Emenda Constitucional n° 19 de 1998, consubstancia-se na busca pela qualidade do servico piiblico prestado, Busca a otimizagio. rapidez ¢ aperfeigoamento dos resultados com 0 menor desperdicio de recursos possiveis. Ou seja, melhor desempenho, com menor custo. Ainda que somente em 1998 tenha integrado o caput do art. 37, da CF/88, jd era previsto na propria Constituigo Federal de 1988 no artigo 74, I no art, 144, §7°e até mesmo em legislagio esparsa como no Decreto-Lei n® 200/67, art. 26, III ena Lei n° 8.987/95, art. 6°, sr ‘A avaliagio especial de desempenho, condiglo para a aquisigdo da estabilidade, prevista no art. 41, §4°, a avaliagdo periddica de desempenho, exposta no art, 41, §1°, IIT, a criagio © manutengao de escolas de governo, art. 39, §2°, a criagio do subsidio como forma remuneratoria, art. 39, §4° todos da CF, so exemplos da aplicago do principio da eficiéneia A edigdo de stmulas vinculantes (art. 103-A, da CF/88) e a duragao razoavel do processo (at. 5°, LXXVIIL, da CF/88) configuram-se, também, como busca pelo dever de eficiéneia E a relagdo custo-beneficio® que deve presidir todas as agdes publicas. A palavra liga & idéia de servigo répido e preciso. Exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, rendimento e busea da perfeigao. 3.2. Principios implieitos Como dito anteriormente, além dos principios expressos no art. 37, caput, da CF/88, ha principios que também so reconhecidos, mas esto presentes somente de forma implicit nna Constituigio Federal, " GASPARINL Diogenes Dino Adwinisratvo 1, ed Sto Pl: Saniv, 206 9.22, SS =a. Verbo Juridico © Principio da supremacia do interesse pablico sobre o interesse particular As atividades desenvolvidas pela Administragio Pibliea devem buscar sempre 0 beneficio da coletividade, o interesse piblico (caso contrario, restario eivadas de ilegalidade) So as prerrogativas, os poderes da Administragio Piiblica Em alguns momentos a Administragio Piblica deve se colocar num patamar de superioridade frente ao particular para buscar o interesse coletivo (interesse piblico). Quando © Poder Piblico coloca-se nesta posigio vertical (de superioridade) utiliza-se do principio da supremacia do interesse piiblico sobre o interesse particular. Para Maria Sylvia Zanclla Di Pietro’ ¢ Hely Lopes Meirelles'” é 0 proprio principio da finalidade piiblica. Sao excmplos: as cléusulas exorbitantes constantes na Lei 8.666/93, no art. 58, a encampagiio prevista no art, 37, da Lei n® 8.987/95, as restrigdes ao direito de greve do art. 37, VII da CF/88, ete, I2 por forga deste principio, também, que se justifies a coereibilidade (ov imperatividade) dos atos administrativos, Se o objetivo buscado pela Administragdo ¢ sempre o piblico, nada mais natural que a sia vontade prevalega sobre a do particular, Inclusive, no momento em que a finalidade & desvirtuada, para outra que ndo a piblica, 0 ato restart ilegal pelo desyio de poder, também chamado de desvio de finalidade. Costuma-se distinguir interesse publico primirio, que sio os interesses da coletividade ‘como um todo, de interesse piblivo secundirio que sio os interesses do Estado como sujeito de direitos (independente de sua qualidade como servidor do interesse de tercciros), O primeiro é o tinico interesse concebido como verdadeiro interesse piblico, ou como afirma ‘Celso Antonio Bandeira de Mello'’ interesse do todo, do proprio conjunto social, o interesse piblico propriamente dito. Com efeito, em suas decisdes, nem sempre o Administrador atende ao real interesse da ‘comunidade, podendo ocorrer que a Administragio esteja imbuida da defesa de interesses, unicamente da Administragdo, mas nio necessariamente interesses piblicos. Diferencia 0 Autor’? supravitado as duas categorias de interesse piiblico: - Primério: coincidle com a realizagio de politicas piiblicas voltadas para o bem estar social. Satisfaz o interesse da sociedade, do todo social DIPUETRO, Maris Siva Zana uit distro, 15 ef St Paul: A, 2003p. 68. ""MEIRELLES lly Lopes. Dito Adina Brasiro 35, el Si Pl Maen, 2009p 105. " MELLO, Celio Amato Bande de Cao de Die admins, 14 ed. Sh Pl: Malus, 202, . 69 Tera sutetads plo “tslano Rene Ale, Stdan.p 153 i? Verbo Juridico © iinteresse piblico primério justifiea o regime juridico administrative © pode ser compreendido como o priprio interesse social, 0 intcresse da coletividade como um todo. Pode-se afirmar também que os inleresses primarios estio ligados aos objetivos do Estado, que nao so interesses ligados a escolhas de mera conveniéncia de Governo, mas sim determinagdes que emanam do texto constitucional ~ Secundirio: decorre do fato de que o Estado também & uma pessoa juridica que pode ter interesses priprios, particulares. Estes interesses existem € devem conviver no contexto dos demais interesses individuais. De regra, o interessc secundério tem cunho patrimonial, tendo como exemplos o pagamento de Valor infimo em desapropriagées, a recusa ‘no pagamento administrativo de valores devidos a servidor piiblico, a titulo de remuneragao. Logo, as prerrogativas (poderes) alcangadas ao Estado somente sc justificam se ‘manejadas para 0 alcance dos interesses piblicos primérios, e nfo para satisfazer unicamente interesses ou conveniéncias do aparelho estatal: interesses secundirios.'* ‘+ Principio da indisponibilidade do interesse piiblico © administrador nao possui livre disposigao do interesse piblico, pois como visto este interesse & proprio da coletividade. Ao contririo, cabe a ele tio-somente gerir, conservar, zelar por este interesse. Por isso, inclusive, que 0 interesse piblico deva prevalecer, porque 0 interesse piblico nao ¢ o interesse do gestor, ¢ 0 interesse de toda a coletividade. Sao as sujeigdes (deveres) impostas a Administragao Péblica, O administrador publico é somente um gestor dos bens, direitos, interesses e servigos da Administragao, nfio estando estes 4 sua livre disposigao (neste sentido STF no RE n? 253.885/MG), salvo excegdes previstas legalmente. Exemplo clissico da indisponibilidade do interesse piiblico é a atividade vinoulada tributiria, prevista no art. 3° do CTN, na qual ocorrendo o fato gerador Administragiio Piblica resta, unicamente, efetuar 0 langamento do tributirio, Disposigao semelhante ‘encontra-se no art. 23, I da CF/88 no sentido de que cabe ao Administrador conservar 0 patriménio piblico, ou no inciso III no sentido de proteger os documentos, as obras e outros bbens de valor histérico, artistico e cultural SCUNHASUNIOR Duley Camo de Divito ntsratino 7 ed Salvador: DePodirm, 209, 9.40. Verbo Juridico 4. PESSOA JURIDICA DE DIREITO PUBLICO Pessoa juridica consiste num conjunto de pessoas ou bens, dotado de personalidade jjuridica propria e constituido na forma da lei Conforme o artigo 40 do Cédigo Civil brasileiro dde 2002, as pessoas juridicas (admitidas pelo Dircito brasileiro) sao de direito piblico (interno ou externo) ¢ de direito privado. As primeiras encontram-se no Ambito de disciplina do direito piblico, ¢ as tiltimas, no do direito privado. Art. 40. As pessoas juridicas sao de direito publico, interno ou externo, de direito privado. 4.1. Pessoas juridicas de direito piiblico interno Conforme o artigo 41 do Cédigo Civil brasileiro de 2002, sio a Unidio, os Estados, © Distrito Federal ¢ os Territérios, os municipios, as autarquias (como o INSS, ete) ¢ as demais entidades de cardter piiblico criadas por lei (por cxcmplo, fundagdes piblicas como as universidadcs federais ou estaduais). Sua existéncia legal (personalidade), ou seja, sua criagio extingo ocorrem pela lei Art, 41. Sao pessoas juridicas de direito piiblico interno: 1a Unido; I-08 Estados, 0 Distrito Federal e os Territérios; ML- os Municipios; IV - as autarquias, inclusive as associagdes publicas; (Redactio dada pela Lei n° 11.107, de 2005) V- as demais entidades de carater piiblico criadas por lei. Paragrafo nico. Salvo disposigao em contrario, as pessoas juridicas de direito piiblico, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto 20 seu funcionamento, pelas normas deste CAdigo. Art. 43. As pessoas juridicas de direito puiblico interno sao civilmente responsaveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parle destes, culpa ou dolo. 4.2. Pessoas juridicas de direito pablico externo Sto os Estados estrangeiros, ¢ todas as pessoas que forem regidas pelo dircito internacional pablico, além de organismos internacionais (ONU, OFA, Unitio Européia, Mercosul, ete) so pessoas juridicas supracstaduais, Eles se constituem ¢ se extinguem geralmente mediante fatos historicos (guerras, revolugdes, ete), Verbo Juridico Att. 42. Sao pessoas juridicas de direito publico externo os Estados estrangeiros & todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional piblico. ORGAOS E AGENTES: Segundo Helly Lopes Meirelles, Orgio pablico ¢ uma unidade com atribuigio especifica dentro da organizagio do Estado. F. composto por agentes publicos que dirigem © compiem o rgio, voltado para o cumprimento de uma atividade estatal Os Srgios piblicos formam a estrutura do Estado, mas nao tém personalidade juridica, uma vez que sto apenas parte de uma estrutura maior, essa sim detentora de personalidade, Como parte da estrutura maior, 0 érgio piblivo nao tem vontade propria, limitando-se a cumprir suas finalidadades dentro da competéncia funcional que thes foi determinada pela organizagao estatal 5.1. Orao piiblico quanto it pos + érgaos independentes- Sdo os definidos na Constituiglo © representativos: dos Poderes do Estado. Nao possuem qualquer subordinagio hierérquica © somente sic controlados uns pelos outros. Ex.: Congreso Nacional, Camara dos Deputados, Senado Federal, Chefias do Executivo, Tribunais ¢ Juizes, Ministério Pablico e Tribunais de Contas. + érgaos auténomos - So os subordinados dirctamente a ctipula da Administragao. ‘Tém ampla autonomia administrativa, financeira e técnica, caracterizando-se como Oreos diretivos, com fungdes de planejamento, supervisio, coordenagio ¢ controle das atividades que constituem sua area de competéncia. Seus dirigentes so, cm geral, agentes politicos nomeados em comissio, So 0s Ministérios e Secretarias, bem como a AGU (Advooacia- Geral da Unio) ¢ as Procuradorias dos Estados e Municipios. * érgios superiores - Detém poder de dircydo, controle, decisio ¢ comando dos assuntos de sua competéncia especifica. Representam as primeiras divisies dos érgios independentes ¢ autdnomos. Ex.: Gabinetes, Coordenadorias, Departamentos, Divisdes, et. * érgios subalternos - So os que se destinam & execugio dos trabalhos de rotina cumprindo ordens superiores. Ex.: portarias, segdes de expediente, ete. Verbo Juridico 8. Orgio pablico quanto a estrutura + Orgaos Simples: também conhecidos por unitirios, sio aqueles que possuem apenas uum tinico centro de competéncia, sua caracteristica fundamental € a auséncia de outro érgio em sua estrutura, para auxilié-lo no desempenho de suas fungdes + Orgios Compostos: so aqueles que em sua estrutura possuem outros érgos ‘menores, seja com desempenho de fungo principal ou de auxilio nas atividades, as fungées sao distribuidas em virios centros de competéncia, sob a supervisio do éraio de chetia. 5.3. Orgio piblico quanto & atuagdo funcional + Orgios Singulares: so aqueles que decidem ¢ atuam por meio de um inico agente, « chefe. Os Srglos singulares possuem varios agentes auxiliares, mas sua caracteristica de singularidade & expressa pelo desenvolvimento de sua funglo por unm tnico agente, em geral o titular. + Orgiios Coletivos: sio aqueles que decidem pela manifestagio de varios membros, de forma conjunta e por maioria, sem a prevaléneia da vontade do chefe, a vontade da maioria & imposta de forma legal, regimental ou estatutiria 6. ATIVIDADE ADMINISTRATIVA A Administragio Piblica atua por meio de seus Srgios e seus agentes, 0s quais so ineumbidos do exercicio das fungdes piblicas, ou seja, da atividade administrativa, A atividade administrativa existe nos trés poderes, sendo que & exercida tipicamente pelo Poder Executivo e atipicamente pelos demais poderes (Poder Legislativo © Poder Judicisrio). Cabe ao Poder Executive, como fungio tipica, administrar 0 Estado na busea da efetivagio do interesse piblico. Contudo, podem ocorrer abusos ilegalidades que necessitam ser fiscalizados ¢ controlados. Portanto, controle administrative é 0 conjunto de mecanismos juridicos para a corregao ¢ fiscalizagio das atividades da Administragio Piiblica, DELEGADO DE POLICIA DE Sc Verbo Juridico 7. PODERES DA ADMINISTRAGAO PUBLICA Para o Estado por em pritica a busca pelo interesse piblico (interesse coletivo), 0 ordenamento juridico Ihe atribuiu certas prerrogativas, peculiaridades denominadas poderes administrativos. Sio em verdade formas que o Estado tem de fazer sobrepor a sua vontade frente a individual Em que pese a palavra poder dar a impressio de se tratar de uma faculdade, & na realidade uma obrigacdo, um dever imposto a Administragao Piblica, ¢ por isso poder-dever ‘ou dever-poder, na busca do bem estar da coletividade. Os poderes administrativos aqui tratados serio os poderes instrumentais (instrumentos que servem para a atuagdo Estatal) ¢ nio os poderes politicos, estruturais ou também denominado de orgdmcos que compiem a estrutura do Estado (Poder Judicitrio, Poder Legislativo, Poder Executive), Do uso ¢ abuso de poder © uso do poder & uma prerrogativa da autoridade, do agente piblico. Usar normalmente o poder expde Hely Lopes Meirelles ' ¢ emprega-lo segundo as normas legais. ‘8 moral, o interesse piblico, de forma razodvel e proporcional, dentro dos limites que a lei tragou, em suma, seu uso para ser legal deve ser normal. O uso do poder é licito, © abuso ilicito, A uutilizagao ilegal, inadequada ou até imoral dos poderes administrativos leva ao abuso de poder. Este, por sua vez, pode ovorrer de duas maneiras: quando 0 agente piblico ‘tua fora dos limites de sua competéncia, além de suas atribuigdes, ou quando o fim buscado & ‘outro que ndo o interesse piiblico. No primeiro caso temos 0 excesso de poder, no segundo desvio de poder (ou desvio de finalidade) Os poderes administrativos so classificados da seguinte forma: poder vinculado, poder discricionério, poder hicrarquico, poder normativo, poder disciplinar e poder de policia © Poder Vineulado Também denominado de regrado, ¢ aquele a0 qual a lei confere uma tinea solugiio Juridica vélida para a prética de um ato. A execugdo de um ato administrativo esté inteiramente definida na lei, sendo validamente possivel somente uma forma de proceder. "“MBIRELLES,Hety apes. Dino Adnstratvo Brio 38 o Sie Pm Malhos 2008p. 112 =e.

Você também pode gostar