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A Bula “In Eminenti” do Papa Clemente XII

A Bula “In Eminenti” assinada pelo Papa Clemente XII em 1738, foi na verdade
uma articulação daqueles que estavam à sua volta, sob o comando do Cardeal Néri
Corsini, sobrinho, assessor e braço direito de Clemente XII.
O Papa nessa época estava muito doente, quase não saia da cama (sofria de
artrose severa que praticamente o impedia de sair da cama, que os médicos da
época chamavam de “gota” e tinha também uma hérnia, que por vezes lhe saíam
as vísceras, precisava sempre andar com ligaduras para mantê-las no lugar), e
completamente cego.... Tudo o que ele assinava, tomava conhecimento através do
que lhe era falado.
Depois do conteúdo de qualquer documento ser explanado e, ele estando de
acordo, seu assessor, o Cardeal Corsini, orientava sua mão na parte do documento
que deveria ser assinada. Sinteticamente, como a maioria de nós já sabe, a Bula
diz que quem frequentar Ordens Iniciáticas Secretas (inclui-se aí a Maçonaria) será
excomungado.
Vamos narrar alguns factos históricos importantes para entendermos porque e
como ela foi elaborada.
A Igreja Romana preocupava-se especificamente com um oficial Inglês chamado
Barão Stosch, pois para a época ele era um revolucionário que pregava ideais de
liberdade que colocavam em risco o poder da Igreja, além disso falava aos quatro
ventos que era um “Liberi Muratori” (Free-Mason - Franco-Maçom) e membro de
uma Loja Maçónica em Florença, como a Igreja já tinha conhecimento de que na
Ordem havia um “grande segredo” que não poderia ser revelado, esse foi um
motivo muito grande para colocar a Ordem na mira do poder da Igreja.
Vale um esclarecimento, a maioria esmagadora das Lojas Maçónicas Europeias do
séc XVII e XVIII formam fundadas por Ingleses, Irlandeses e Escoceses, das mais
variadas áreas profissionais.
É bom reforçar, todas elas tinham Ingleses, Irlandeses e Escoceses nos seus
quadros, que para a Igreja Católica eram considerados hereges.
Ocorre que nem na própria Maçonaria, em Florença, o Barão Stosch era bem
quisto. Mas, como ele era amicíssimo e mantinha um óptimo relacionamento com
Sua Majestade o Rei da Inglaterra, ninguém tinha coragem de propor sua saída da
Ordem e de Florença e, apesar da Igreja pressionar o Grão-Duque da Toscana a
expulsar o mencionado oficial, ele demora a executar essa ordem, pois também
não queria criar um problema sério com o Rei da Inglaterra.
Os Membros do Clero que estavam assessorando o Papa estavam de olho nele e na
Maçonaria de algumas cidades Italianas, (Florença, Veneza, Pisa) e era contra elas
que estavam preparando uma “punição”. Mas, por sua (da maçonaria) dita
“universalidade”, o Vaticano acabou estendendo essa “punição” para toda a
instituição europeia continental, a coisa deixaria de ser pessoal e passaria a ser
contra a instituição. Mais ou menos assim: - matar a vaca para acabar com o
carrapato.
Desde o Século XVII a alta cúpula do Papado de Roma estava preocupada com a
nova sociedade, que surgia com muita força em quase todos os países da Europa.
Denominada Franco-Maçonaria, não por evidências de desvio de comportamento de
seus integrantes, mas principalmente pelo conteúdo do juramento que era prestado
pelos homens que nela entravam.
Percebam que já era de conhecimento da Igreja, desde o final do Séc. XVII, o
conteúdo do Juramento da nossa Cerimónia de Iniciação Maçónica.
O que lhes causava verdadeiro “pânico” era os iniciados se permitirem ter uma
morte “horrível” e “cruel” se revelassem o seu segredo.... Que era o de ter o P.'.
cortado e a cabeça A.'. e seu C.'. Ent.'. nas areias do mar, onde o F.'. e R.'. das
ondas o mantivesse em P.'. Esquecimento.
Para eles, a permissão desse tipo de morte para guardar um segredo, dava
margem a criarem um sem número de teorias conspiratórias contra o poder da
Igreja no continente Europeu, e esse também foi o argumento utilizado pela Igreja
para trazer como aliados Reis de alguns Países europeus. De forma bem objectiva
não era nada mais que isso.
O conteúdo do nosso Juramento está escrito em vários documentos do Vaticano
espalhados por toda a Europa, e estão guardados em Arquivos ou Bibliotecas
Nacionais e no próprio Arquivo Secreto do Vaticano até hoje. >>>Só a título de
curiosidade, o jornal londrino “The Flying Post” publicou nos dias 11, 12 e 13 de
Abril de 1723, “a masons examination” (o exame de um maçom) e nessas edições,
colocou todo o conteúdo do juramento prestado pelo Aprendiz no dia de sua
Iniciação.
Quando o Vaticano, através dos assessores do Papa Clemente XII, resolveu tomar
uma medida punitiva contra os Membros de algumas Lojas Maçónicas da Itália,
repito, por causa de sua conhecida “universalidade” maçónica, resolveram estender
isso para toda a Ordem existente na Europa católica. Acontece que a Maçonaria em
sua Origem é eminentemente Cristã, na Inglaterra, Escócia e Irlanda não católica,
mas cristã.
Quando os padres inquisidores, principalmente em Portugal e Espanha, foram atrás
de seus membros para proibi-los de se reunirem sob pena da excomunhão,
surpreenderam-se, pois todas as Lojas já não mais se reuniam, resolveram
encerrar suas actividades assim que tomaram conhecimento da proibição pela Bula
Papal.
Podemos perceber aqui que, como sabemos, os Maçons respeitaram o que
juravam, assim como fazemos hoje, respeitar as Leis, os Poderes Constituídos e a
soberania dos Reis e, naquela época, uma ordem Papal era Lei.
Ninguém fora da Ordem sabia que o juramento “terrível”, restringia-se apenas à
divulgação dos toques, sinais e palavras pelos quais os Obreiros utilizavam para se
reconhecer em qualquer lugar do mundo.
A Maçonaria naquela época era realmente de ajuda mútua, quando um Irmão
precisava de ajuda, os outros se reuniam e o ajudavam para evitar que “profanos”
tirassem proveito dessa ajuda mútua, juravam segredo quanto aos sinais, toques e
palavras... Comportamento este herdado das antigas guildas de pedreiros livres.
Bem resumidamente, o incomodo que o Barão Stosch causava no Clero com seus
discursos revolucionários, associada a essa falta de entendimento da diferença do
juramento, mais o medo da força que a Ordem vinha adquirindo por causa do nível
intelectual de seus membros e da “febre’ que acometeu a alta sociedade europeia
em participar da Ordem, foram as principais causas para a Edição da Bula.
Esses factos resumidamente colocados acima, são ingredientes mais do que
suficientes para compreendermos o que aconteceu depois...
É da natureza humana criar monstros onde não existem, o desconhecimento causa
perturbação, que geram as suposições e as teorias conspiratórias, que acabam
tornando-se problemas reais... Daí à acção é apenas um pequeno passo....

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