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Ciro Bächtold 1
APRESENTAÇÃO
Prezado aluno...
Ciro Bächtold
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 2
Aula 1
INTRODUÇÃO
Quando nos deparamos com uma disciplina, primeiramente
buscamos informações a respeito do assunto, do professor e alguns
mais apavorados, a quantidade de alunos que já reprovaram na
matéria. Se não temos estas informações, prestamos atenção nos
elementos que temos em mãos e no desenvolvimento das aulas para
que possamos tirar nossas conclusões. Bem, neste caso antes de tirar
uma conclusão estamos fazendo uma análise. Ou seja, análise pode
se traduzir pelo estudo das partes que compõem o todo. Alguns
preferem traduzir análise por verificação, e olhando por este lado
verificar é provar a verdade, confirmar.
Assim, a conclusão da análise é uma forma de expressar a verdade,
sobre a situação da empresa. Quando falamos de Análise das
Demonstrações Contábeis, estamos querendo dizer: verificação das
demonstrações e relatório sobre a situação atual da empresa e sua
evolução. Para que o trabalho seja realizado de forma adequada,
vou passar algumas dicas que vão desde antes do início da análise e
termina com o relatório que é a síntese sobre a realidade da
empresa.
É possível que você já tenha visto esta disciplina com o nome de Análise de Balanços e esteja
imaginando, mas será Análise de Balanços ou análise das demonstrações contábeis? Aí
recorremos ao histórico da atividade para poder tirar uma conclusão. Por se exigir no início
apenas o Balanço Patrimonial, por muito tempo a disciplina foi apresentada no meio acadêmico
como Análise de Balanços, porém com a solicitação de outras demonstrações contábeis para
análise alguns autores preferiram utilizar o termo de Análise das Demonstrações Contábeis,
enquanto outros defendem a permanência do título original por considerar a Demonstração do
Resultado do Exercício (DRE) como o Balanço Econômico da empresa e o fluxo de caixa como
sendo o Balanço Financeiro. Assim, é comum no meio técnico a tendência de considerar como
sinônimos as duas expressões.
Antes de iniciarmos o estudo, é bom lembrar de uma frase muito utilizada pelo Professor
Júlio César Martins: Contabilidade é Fácil! Se isto é verdade, Análise das Demonstrações
Contábeis é mais fácil ainda.
HISTÓRICO
Costuma-se dizer que a Análise das Demonstrações Contábeis é antiga como a própria
contabilidade. Com relação ao surgimento da contabilidade podemos mencionar a citação de um
conhecido de vocês, competente, excelente professor e meu amigo, Carlos Alberto de Ávila no
livro Gestão Contábil para contadores e não contadores: “A contabilidade constitui um dos
conhecimentos mais antigos da humanidade e surgiu em função da necessidade que o ser
humano tem de controlar suas posses e riquezas, ou seja, seu patrimônio. É tão antiga quanto à
própria humanidade. Há, inclusive, hipóteses de que a contabilidade tenha surgido antes mesmo
da escrita e até que tenha sido base para o surgimento desta”.
Quando surgiu a contabilidade com a finalidade de apuração do patrimônio,
automaticamente surge a análise que corresponde ao processo de verificação e parecer sobre a
situação patrimonial e sua evolução quantitativa e qualitativa.
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 3
“Se nos reportarmos par o início provável da contabilidade ( 4000 a.C.), em sua forma
primitiva, encontraremos os primeiros inventários de rebanhos (o homem que voltava sua
atenção para a principal atividade econômica: o pastoreio) e a preocupação da variação da
riqueza (variação do rebanho)”. (MARION – 2002).
A análise das demonstrações contábeis como atividade distinta, surgiu em virtude de
exigências do sistema bancário que durante algum tempo foi o principal usuário da atividade.
O professor José Carlos Marion no livro Análise das Demonstrações Contábeis
menciona que o início da análise é do final do século XIX, quando banqueiros norte-americanos
começaram a exigir o documento como requisito para o fornecimento de empréstimo bancário,
informação confirmada pelo professor Dante C. Matarazzo no livro Análise Financeira de
Balanços.
Seqüência Evento
1 No final do século passado, banqueiros norte-americanos começam a solicitar o
balanço de empresas que desejam contrair empréstimos bancários;
2 Em 09/02/1895, passa a ser recomendado pelo Conselho Executivo da
Associação de Bancos de Nova Iorque a solicitação de declarações escritas e
assinadas de seus ativos e passivos;
3 No ano de 1900 houve divulgação da Associação de Bancos de Nova Iorque de
proposta de crédito incluindo espaço para o balanço patrimonial;
4 Em 1915, por determinação do Federal Reserve Board (banco central dos EUA)
só poderiam ser redescontados os títulos negociados por empresas que tivessem
apresentado seu balanço ao banco;
4 Em 1919, Alexander Waal (considerado o pai da análise de balanços)
desenvolveu um modelo de análise baseado em índices extraídos de balanços;
5 Em 1925, Stephen Gilman realizou críticas à análise por coeficientes e propôs a
sua substituição pela análise horizontal dos índices;
6 Em 1930, na empresa Du Pont surge um modelo de análise de rentabilidade
(ROI – Return on Investiment ou Retorno sobre o Investimento) que
decompõem o retorno em taxas de margem de lucro e giro dos negócios;
7 Em 1931, a Dun & Bradstreet passa a elaborar e divulgar índices-padrão para
os diversos ramos de atividades dos EUA;
8 No Brasil, em 1968, foi criada a SERASA, empresa que centralizou a Análise
de Balanços de bancos comerciais.
Seqüência de eventos em ordem cronológica adaptada dos livros Análise Financeira de
Balanços de Dante C. Matarazzo, páginas de 26 a 28 e do livro Elaboração daS Demonstrações
Contábeis, página 195, de José Hernandez Perez Jr e Glaucos Antonio Begalli, ambos da editora
Atlas S.A.
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 4
AULA 2
FINALIDADE DA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
Qual a finalidade principal da análise das demonstrações contábeis? Traduzindo, qual
seu principal objetivo? É extrair informações úteis para a gestão da empresa. Mas isto envolve
alguns aspectos como o estático e o dinâmico.
“O aspecto estático compreende o estudo da situação da empresa como ela se apresenta
no momento, sem se preocupar como passado ou o futuro. O aspecto dinâmico se preocupa com
a evolução da empresa e do ritmo de seus negócios, comparando os resultados atuais com os de
anos anteriores e ponderando, inclusive, as possibilidades de evolução futura.” (REIS – 1993)
Alguns autores afirmam que o trabalho do analista começa onde termina o trabalho do
contador, por ser a contabilidade uma atividade baseada em registros e avaliação do patrimônio,
enquanto a análise trata-se de uma atividade posterior, que visa concluir sobre os registros já
efetuados. Portanto é comum ler em livros do gênero: “A análise começa onde termina a
contabilidade”.
Na minha modesta opinião, a Análise está contida na contabilidade. E para justificar cito
as funções da contabilidade estudadas em Contabilidade Básica, do módulo I, deste curso
técnico em contabilidade, na página 18: “as principais funções da contabilidade são: registrar,
organizar, demonstrar, analisar e acompanhar as modificações do patrimônio em virtude da
atividade econômica ou social que a empresa exerce no contexto econômico”. E também por ser
uma disciplina obrigatória nos cursos de contabilidade. No mundo competitivo de hoje, o
contador é além de tudo analista e consultor, parceiro que pode auxiliar na tomada de decisões e
tem a responsabilidade de estar preparado para assumir esta função.
No livro Análise de Balanços de Sérgio Iudícibus (1998), nas páginas 20 e 21,
caracteriza a análise de balanços como “a arte de saber extrair relações úteis, para o objetivo
econômico que tivermos em mente, dos relatórios contábeis tradicionais e de suas extensões e
detalhamentos, se for o caso”. E faz ainda seguinte citação: “Consideramos que a análise de
balanços é uma arte, pois, embora existam alguns cálculos razoavelmente formalizados, não
existe forma científica ou metodologicamente comprovada de relacionar os índices de maneira a
obter um diagnóstico preciso. Ou, melhor dizendo, cada analista poderia, com o mesmo
conjunto de informações e de quocientes, chegar a conclusões ligeiras ou até completamente
diferenciadas. É provável, todavia, que dois analistas experimentados, conhecendo igualmente
bem o ramo de atividade da empresa, cheguem a conclusões bastante parecidas (mas nunca
idênticas) sobre a situação atual da empresa, embora quase sempre apontariam tendências
diferentes, pelo menos em grau, para o empreendimento”.
Quando o prof. Sérgio de Iudícibus escreveu sobre “.a arte de saber extrair relações
úteis, para o objetivo econômico que tivermos em mente, ...”, é possível interpretar esta
expressão como: é a ciência que extrai informações de acordo com finalidade de seus usuários.
As demonstrações financeiras fornecem uma série de dados sobre a empresa, de acordo
com regras contábeis. A Análise de Balanços transforma esses dados em informações e será
tanto mais eficiente quanto melhores informações produzir. (MATARAZZO-1993).
A finalidade da Análise de balanços é transformar os dados extraídos das demonstrações
financeiras em informações úteis para a tomada de decisões por parte das pessoas interessadas.
(RIBEIRO – 2004).
Assim, é possível concluir que o objetivo principal é o fornecimento de informações dirigidas às
necessidades de seus usuários.
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 5
A análise interna é realizada dentro da entidade por seus próprios empregados, e visa
informar administradores e diretores, auxiliando-os nas tomadas de decisões. Por pertencerem à
própria entidade objeto da análise, os analistas não encontram dificuldades para coletas os dados
necessários a realizar suas tarefas, tendo inclusive acesso aos controles internos. Por isso a
análise interna é considerada a mais completa. (RIBEIRO –2004)
A análise externa é efetuada fora da entidade objeto da análise, e seu objetivo é informar
aos interessados acerca da situação econômica ou da estabilidade da entidade para concretização
de negócios, concessões de créditos e financiamentos. É efetuada por profissional externo,
normalmente pertencente às entidades interessadas na análise. Nesse caso, o analista tem em
mãos somente as demonstrações financeiras publicadas pela entidade, além de alguns
esclarecimentos adicionais, constantes dos relatórios ou das notas explicativas que acompanham
as demonstrações. (RIBEIRO – 2004).
Sabendo para quem a análise é dirigida pode-se transformar a linguagem técnica em
linguagem de fácil entendimento. O relatório da análise será formatado para seu público.
“O produto da Análise de Balanços é relatórios escritos em linguagem corrente. Na
medida do possível, recomenda-se o uso de gráficos como auxiliares para simplificar as
conclusões mais complexas. Ao contrário das demonstrações financeiras, os relatórios de
análise devem ser elaborados como se fossem dirigidos a leigos, ainda que não o sejam... As
demonstrações financeiras apresentam-se carregadas de termos técnicos e suas notas
explicativas são feitas exclusivamente para técnicos, a tal ponto que permitem freqüentemente
manipulações e acobertamentos. Assim, a Análise de Balanços deve assumir também o papel de
tradução dos elementos contidos nas demonstrações financeiras.” (MATARAZZO-1993).
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 6
AULA 3
Requisitos para uma boa análise
Para que o processo seja realizado com sucesso, algumas etapas devem ser respeitadas. O
trabalho deve ter início, desenvolvimento e conclusão.
Alguns requisitos indispensáveis para uma boa análise são:
1 – Conhecer as Demonstrações Contábeis que serão analisadas;
2 – Conhecer as características da empresa;
3 – Conhecer o objetivo de sua análise;
4 – Coleta das Demonstrações Contábeis e demais documentos;
5 – Exame e Padronização dos documentos;
6 – Análise Vertical e Horizontal;
7 – Cálculo e Interpretação de Indicadores;
8 – Comparação com os Padrões de mercado;
9 – Conclusão – Relatório da análise.
Esta disciplina está separada em dois módulos, nesta primeira etapa será estudado até o
item análise vertical e horizontal, deixando as demais etapas para Análise das Demonstrações
Contábeis II.
AULA 4
Vamos relembrar e apresentar características que devem ser levadas em consideração no
momento da elaboração e análise das demonstrações contábeis.
BALANÇO PATRIMONIAL
É uma demonstração estática, sintética e ordenada do patrimônio da empresa, refletindo
a posição financeira da empresa de forma quantitativa e qualitativa em determinado momento.
Antes de falar das principais contas patrimoniais, é importante conceituar origem e
aplicação de recursos.
Origem de recursos é de onde a empresa está conseguindo o capital para investir na empresa,
por isso também é conhecida como fonte de recursos e pode ser dividida em: capital próprio
(CP) e capital de terceiros (CT). Nenhum recurso ingressa na empresa sem passar pelo Passivo
ou Patrimônio Líquido.
Capital Próprio – É o capital dos sócios e está representada no Balanço Patrimonial pelo
Patrimônio Líquido;
Capital de Terceiros – É o capital dos outros (terceiros) que estão representados no Balanço
Patrimonial pelas obrigações de curto prazo (Passivo Circulante) e longo prazo (Passivo Não
Circulante e Resultado de Exercícios Futuros).
Aplicação de Recursos - É onde estão sendo investidos os recursos na empresa. Pode ser
dividido em aplicações de curto (Ativo Circulante) e de longo prazo (Ativo Realizável a Longo
Prazo e Ativo Permanente).
Assim temos a igualdade:
ATIVO = PASSIVO ou APLICAÇÃO = ORIGEM.
ATIVO PASSIVO
Curto Prazo Capital de Terceiros
Curto Prazo + (divida com 3°s)
Aplicação
+ Longo Prazo
Longo Prazo Origem
Patr. Líquido
Capital Próprio
(divida com sócios)
No Balanço Patrimonial o grupo de contas deve ser registrado conforme orientação do art. 178 da Lei
6.404/76, conforme segue:
Art. 178. No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio que registrem, e
agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia.
§ 1º No ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados,
nos seguintes grupos:
a) ativo circulante;
b) ativo realizável a longo prazo;
c) ativo permanente, dividido em investimentos, ativo imobilizado e ativo diferido.
§ 2º No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos:
a) passivo circulante;
b) passivo Passivo Não Circulante;
c) resultados de exercícios futuros;
d) patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, reservas de reavaliação, reservas de lucros e
lucros ou prejuízos acumulados.
§ 3º Os saldos devedores e credores que a companhia não tiver direito de compensar serão classificados
separadamente.
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 8
Investimentos 45 45
Imobilizado 3.723.310 3.610.152
Diferido 106.772 159.589
Aula 5
CONTAS DO ATIVO
Para ser Ativo é necessário que qualquer item preencha quatro requisitos simultaneamente:
Constituir bem ou direito da empresa;
Ser de propriedade, posse ou controle de longo prazo da empresa;
Ser mensurável monetariamente;
Trazer benefícios presentes ou futuros.
(Fonte: IUDÍCIBUS – 1998)
Ativo Circulante – São classificadas neste grupo as contas que devem circular (girar) no
máximo até o próximo exercício social. Ou seja, tem uma rotação rápida e devem se transformar
em dinheiro até o final do exercício subseqüente.
Vai ser recebido este Vai ser recebido no Vai ser recebido após o
ano próximo ano próximo ano
Ativo Não Circulante – São classificadas aqui as contas que devem entrar em liquidez somente
após o encerramento do próximo exercício.
O realizável a longo prazo compreende teoricamente as mesmas contas do Ativo Circulante
(com exceção das disponibilidades) cujo prazo de realização seja superior a um ano ou ao ciclo
operacional se esta for superior a um ano. (MATARAZZO – 1993).
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 11
Ativo Permanente – São os bens e direitos que por não haver interesse da empresa em se
desfazer deles, seu grau de liquidez é menor.
O Ativo permanente se divide em três partes:
Investimentos – Não são destinados à manutenção da atividade operacional da empresa,
são ativos que a empresa não tem intenção de se desfazer deles. É chamada por alguns
profissionais de imobilização financeira.
A Lei das S.A. estabelece que devem ser classificadas em Investimentos as participações
permanentes em outras sociedades e os direitos de qualquer natureza que não se destinem à
manutenção da atividade da empresa e não se classifiquem no Ativo Circulante ou realizável a
longo prazo. (MATARAZZO – 1993)
A Lei nº 6.404 determina que as participações classificadas no circulante do lanço anterior, e
que não tiverem sido alienadas até o balanço atual, deverão ser transferidas para o Ativo
Permanente. (REIS – 1993)
Saiba mais
É comum em investimentos os termos coligada, controlada e relevância do investimento, vamos
então a estas definições:
Coligada – Participação com 10% ou mais do capital social da sociedade investida até o
ponto de não exercer o controle.
Controlada – A investidora, direta ou indiretamente, através de outras sociedades
controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente,
preponderância nas deliberações sociais e poder de eleger a maioria dos administradores.
Relevância do Investimento – Em cada sociedade coligada ou controlada, se o valor contábil
de cada investimento é igual ou superior a 10% do patrimônio líquido da investidora. No
conjunto de sociedades coligadas e controladas, se o valor contábil total dos investimentos é
igual ou superior a 15% do patrimônio líquido da investidora. O valor contábil do
investimento abrange também saldos de ágio e deságio ainda não amortizados e provisão
para perdas. Para fins de determinação dos citados percentuais serão adicionados aos valores
contábeis do investimento as quantias a receber (créditos) da sociedade investidora contra
suas coligadas e controladas. (ALMEIDA – 1997)
Exemplos: Participação permanentes em outras sociedades, obras de arte, terrenos e imóveis
para futura utilização, imóveis não de uso, bens locados a terceiros, (-) provisão para
perdas em investimento, (-) depreciação acumulada.
AULA 6
CONTAS DO PASSIVO
No passivo são registradas as obrigações da empresa, sendo conhecido como exigível.
Assim, no jargão técnico Exigível Total é a soma das obrigações da empresa, incluindo aqui as
dívidas de curto e de longo prazo. A classificação é em ordem decrescente do grau de
exigibilidade.
Grau de exigibilidade – diz respeito a prioridade de pagamento por exigência de terceiros que
tem direito ao recebimento.
Vai ser pago este ano Vai ser pago no Vai ser pago após o
próximo ano próximo ano
Passivo Circulante – São classificadas aqui as obrigações que devem ser pagas ou recolhidas
até o término do próximo exercício. Geralmente aparecem acompanhadas da expressão “a pagar
ou a recolher”, muitas vezes sendo esta a única distinção da despesa que possui o mesmo nome
de conta. É de grande importância na análise das demonstrações contábeis por se tratar de
valores com grande influência no fluxo de caixa da empresa. Falta de controle nas obrigações de
curto prazo podem levar a empresa à falência. As principais contas aqui são referente a
obrigações com fornecedores, funcionários, fiscais e trabalhistas, provisões, entre outras.
Exemplo: Fornecedores, Duplicatas a Pagar, Impostos a Recolher, Encargos Trabalhistas a
recolher, Salários a pagar, Empréstimos e financiamentos a pagar, adiantamento de clientes,
dividendos a pagar, títulos a pagar, Energia Elétrica a Pagar, Aluguel a Pagar, Provisão para 13º
salário, Provisão para férias, Provisão para Imposto de Renda, juros a pagar, dividendos a pagar,
(-) juros passivos a transcorrer, todas as obrigações de curto prazo.
Passivo Passivo Não Circulante – São contas de obrigações e só diferem do Passivo Circulante
pelo prazo de pagamento. Com o passar do tempo as contas do Passivo Não Circulante passam
para o passivo circulante, quando estas obrigações passam a ser exigíveis até o final do próximo
exercício, isto não ocorrerá somente se o pagamento for feito quando a dívida é de longo prazo,
antecipando o prazo de pagamento.
Exemplo: Financiamentos, Empréstimos, Adiantamentos, Contas a Pagar, Fornecedores,
Imóveis a Pagar, Títulos a Pagar, enfim todas as obrigações de longo prazo.
Patrimônio Líquido – É o grupo de contas que embora não seja considerado exigível, está
vinculada ao Passivo por se tratar de uma dívida da empresa para com os seus sócios. E também
para estabelecer o equilíbrio dos recursos entre o Ativo (aplicação) e o Passivo (origem).
De acordo com a Lei 6.404/76, o patrimônio líquido é dividido em:
Capital Social, que representa valores recebidos dos sócios da empresa, quer a título de
investimento inicial, aumento de investimento ou até mesmo aplicação de lucro para
aumentar o investimento na empresa, deduzindo-se a parcela não integralizada;
Reservas de capital, são valores emitidos pela empresa que não se destinam à formação
do capital social, doações e subvenções para investimentos, ágio na venda de ações,
prêmio recebido na emissão de debêntures;
Reservas de reavaliação, que representam acréscimo de valor atribuído a elementos do
ativo acima dos índices de correção monetária. A reserva quando constituída deve ser
comprovada através de laudos elaborados por peritos e aprovado em Assembléia Geral,
de acordo com o § 3° do Art. 182 da lei 6.404/76;
Reservas de lucros, que representam lucros obtidos pela empresa, retidos com a
finalidade específica:
a) Reserva Legal – Está prevista no Art. 193 da lei 6.404/76, conforme segue:
Art.193. Do lucro líquido do exercício, 5% (cinco por cento) serão aplicados, antes de qualquer outra
destinação, na constituição da reserva legal, que não excederá de 20% (vinte por cento) do capital social.
§ 1° - A companhia poderá deixar de constituir a reserva legal no exercício em que o saldo dessa reserva,
acrescido do montante das reservas de capital, exceder de 30% (trinta por cento) do capital social.
§ 2° - A reserva legal tem por fim assegurar a integridade do capital social e somente poderá ser utilizada
para compensar prejuízos ou aumentar o capital.
b) Reserva Estatutárias – O art. 194 da Lei das S.A. estabelece:
Art. 194 –O estatuto poderá criar reservas desde que, para cada uma:
I – Indique, de modo preciso e completo, a sua finalidade;
II – Fixe os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos que serão destinados à sua
constituição; e
III – Estabeleça o limite máximo da reserva.
c) Reserva para contingências – Está previsto no Art. 195 da Lei das S.A.:
Art. 195 – A assembléia geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, destinar parte do lucro
líquido à formação de reserva com a finalidade de compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro
decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado.
§ 1° A proposta dos órgãos da administração deverá indicar a causa da perda prevista e justificar, com as
razões de prudência que a recomendem, a constituição da reserva;
§ 2° A reserva será revertida no exercício em que deixarem de existir as razões que justificaram a sua
constituição ou em que ocorrer a perda.
c) Reservas de Lucros a Realizar – previsto no Art. 197 da Lei das S.A., prevê a constituição quando a
assembléia geral por proposição dos órgãos da administração, destinar sobras de lucro nos casos de: lucro
por aumento do valor investido em sociedades coligadas ou controladas e ainda não realizado ou lucro em
vendas a prazo que serão realizadas após o término do exercício subseqüente. O saldo credor da correção
monetária do balanço também previsto neste artigo, deixou de ser realizado por proibição da Lei 9.249/95.
Lucros ou prejuízos acumulados, que são também resultados obtidos, mas retidos sem
finalidade específica (quando lucros), ou à espera de absorção futura (quando
prejuízos). (FIPECAFI – 1993)
Exemplos: Capital social, (-) capital social a subscrever, ágio na emissão de ações, reservas de
reavaliação, reserva legal, reservas estatutárias, reservas para contingências, lucros acumulados,
(-) prejuízos acumulados.
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 15
BALANÇO PATRIMONIAL
Recursos
Origem de
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Aplicação de
IMOBILIZADO
Bens móveis, imóv., veíc. PATR LÍQUIDO
(-)Deprec acumuladas Capital integralizado
Total Total
Fonte: Adaptado da Apostila Contabilidade Geral I de Jair Antonio Fagundes
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AULA 7
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO (DRE)
Participações no Lucro
Debêntures – As companhias podem solicitar empréstimos ao público em geral pagando juros periódicos e
concedendo amortizações regulares. Para tanto, emitirão títulos a longo prazo com garantias: são as
debêntures;
Empregados e administradores – É um complemento à remuneração de empregados e administradores.
Normalmente, é definido no estatuto ou contrato social um percentual sobre o lucro;
Partes Beneficiárias – Normalmente, são concedidas às pessoas que tiverem atuação relevante nos destinos
da sociedade ( tais como fundadores, reestruturadores, etc.). São títulos negociáveis, sem valor nominal
que a companhia pode criar a qualquer tempo. Os portadores desses títulos tem direito a participação
(prevista em estatutos) nos lucros anuais;
Contribuições para Instituições ou fundos de Assistência ou Previdência de Empregados. São doações com
finalidade de assistir ao quadro de funcionários, às previdências particulares, no sentido de complementar
aposentadoria, etc. que, definidas em estatutos, serão calculadas e deduzidas como uma participação nos
lucros anuais.
Fonte: (IUDÌCIBUS – 1998)
Cálculo das Participações: Leva em conta a ordem acima mencionada, deve ser feito o cálculo
em cascata, conforme exemplo abaixo .
Considerando que o estatuto prevê 10% (dez por cento) sobre o lucro para participação de debêntures, empregados
e partes beneficiárias, e que o lucro após o IRPJ e CSSL no período foi de R$ 500.000,00. Segue o cálculo para
chegar no lucro líquido do exercício
AULA 8
DLPA – DEMONSTRAÇÃO DE LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS
Como o próprio nome diz, é a demonstração que retrata a situação dos lucros ou
prejuízos e o destino desses valores, já que uma parte do lucro pode ser distribuída aos sócios
(dividendos) e outra pode ser reinvestida na empresa ou constituir garantias para aplicações
futuras (reservas).
O Professor Sérgio de Iudícibus no livro Análise de Balanços, identifica a DLPA como
instrumento de integração entre o BP e a DRE. Explica ainda que até 1976 (anterior a lei
6.404/76) a distribuição do lucro era mostrada na Demonstração de Lucros e Perdas, hoje DRE.
Ajustes de exercícios anteriores: podem ser de duas fontes: de mudança de critério contábil ou
de erro não imputável ao exercício corrente.Tais ajustes devem ser contabilizados diretamente
na conta de lucros acumulados, de maneira a aumenta-los ou diminuí-los. Critérios contábeis
somente devem ser alterados quando essa mudança ocasionar uma melhora na informação
contábil. Os erros devem ser evitados. Porém, se descoberto algum, deve ser feita sua correção,
usando a conta de lucros ou prejuízos acumulados.
Reversão de reservas – São importantes porque algumas delas alteram o montante que servirá de
base para a apuração do dividendo obrigatório. É o caso, por exemplo, da reserva de
contingência. (Perez Jr & Begalli – 1999)
A DLPA , deve ter uma apresentação formal, conforme o Art. 186 da Lei 6.404/76, I, II e III, §§
1° e 2°, abaixo exemplificado.
Empresa Ensino à Distância Ltda
CNPJ 11.111.111/0001-11
DEMONSTRAÇÃO DE LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOES (DLPA)
AULA 9
DEMONSTRAÇÃO DE MUTAÇÃO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO
É a demonstração das movimentações ocorridas com as diversas contas que compõem o
Patrimônio Líquido, durante um determinado exercício, indicando a origem e o valor de cada
acréscimo ou diminuição do Patrimônio Líquido.
Tem como finalidade de evidenciar as mutações ocorridas no exercício com as contas do
Patrimônio Líquido, indicando de forma sumária, a formação e a utilização de todas as reservas
(não apenas das originadas por lucros, como a DLPA), as modificações no capital da empresa e
a compreensão do cálculo dos dividendos obrigatórios.
A DMPL auxilia a elaboração da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos,
já que parte de tais mutações, no total do Patrimônio Líquido, representa parcelas que
representam origens ou aplicações de recursos.
Essa demonstração não é obrigatória pela Lei das S.A., mas sua elaboração e publicação
é exigida pela CVM (Comissão de Valores Imobiliários) em sua Instrução n.º 59, de 22.12.86,
para as companhias abertas.
A lei das 6.404/76 no parágrafo 2o. do art. 186; prevê que a DLPA “poderá ser incluída
na demonstração das mutações do patrimônio líquido, se elaborada e publicada pela
companhia.” Assim é possível substituir a DLPA pela DMPL, se a empresa assim o desejar.
Destinações
Reserva legal - - 29.170 (29.170) -
AULA 10
DOAR – DEMONSTRAÇÃO DE ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS
A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) tem por objetivo
apresentar de forma ordenada e resumida as informações relativas às operações de investimento
e financiamento da empresa durante o exercício, evidenciando a modificação da sua posição
financeira.
Como diria o Geraldo Alckmin “qual a origem do dinheiro?”, na DOAR encontramos
explicação sobre a fonte do recurso que foi utilizada para financiamento das atividades da
empresa.
A elaboração da DOAR não é complicada como alguns julgam. Uma maneira simples é
estabelecer um roteiro para registro dos valores:
a) sempre que houver aumento do ativo ou diminuição do passivo ou patrimônio líquido, há
uma aplicação de recursos;
b) sempre que houver aumento do passivo ou patrimônio líquido ou diminuição do ativo, há
uma origem de recursos.
O demonstrativo, num sentido mais amplo, permite a identificação clara dos fluxos
financeiros que aumentaram ou reduziram o capital circulante líquido, indicando suas origens
(que elevaram o capital circulante líquido) e aplicações (que diminuíram o capital circulante
líquido). (ASSAF NETO – 1993).
Capital Circulante é o capital de giro rápido, aquele que a empresa utiliza a curto prazo,
sendo representado pelo Ativo Circulante, quando queremos saber o capital circulante líquido,
devemos subtrair as dívidas de curto prazo para saber quanto sobre de recursos.
Encontramos o capital circulante liquido pela fórmula CCL = AC – PC.
ATIVO PASSIVO
CCL
= AC - PC
CCL
Como o total do Ativo é Igual ao total do Passivo, logicamente trabalhando com os
valores não circulantes, ou de longo prazo, também encontramos o capital circulante líquido
através da Fórmula CCL = (RLP + AP) – (ELP + REF + PL).
ATIVO PASSIVO
CCL
= ANC
- PNC
+
PL
CCL
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 24
1 – ORIGENS DE RECURSOS R$
a. Lucro líquido do exercício
(+) Depreciação, amortização ou exaustão
(+ ou -) Variação nos resultados de exercícios futuros
b. Realização do capital social
c. Contribuições para reservas de capital
d. Aumento do passivo Passivo Não Circulante
e. Redução do ativo realizável a longo prazo
f. Alienação de investimentos e bens ou direitos do ativo permanente
TOTAL DE ORIGENS
2 – APLICAÇÕES DE RECURSOS
a. Dividendos distribuídos
b. Aumentos de bens ou direitos do ativo permanente
c. Aumento do ativo realizável a longo prazo
d. Redução do passivo Passivo Não Circulante
TOTAL DAS APLICAÇÕES
3 – AUMENTO OU DIMINUIÇÃO DO CAPITAL CIRCULANTE
LÍQUIDO (1-2)
4 – VARIAÇÃO DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO
Ativo Circulante inicial
(-) Passivo Circulante inicial
a. Capital Circulante Líquido inicial
Ativo Circulante final
(-) Passivo Circulante final
b. Capital Circulante Líquido final
c. Variação do Capital Circulante Líquido (b – a)
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 25
Ativo circulante
No fim do exercício 3.693.383 3.937.629
No início do exercício 3.937.629 3.668.987
(244.246) 268.642
Passivo circulante
No fim do exercício 1.359.674 1.092.429
No início do exercício 1.092.429 1.339.915
267.245 (247.486)
É a sua vez! Através das contas abaixo, faça a DOAR para o exercício de 2006.
Aula 11
NOTAS EXPLICATIVAS
As Notas Explicativas são parte integrante das demonstrações contábeis.As
informações nelas contidas devem ser relevantes, complementares e/ou suplementares
àqueles não suficientemente evidenciadas ou não-constantes nas demonstrações contábeis
propriamente ditas.
As notas explicativas incluem informações de natureza patrimonial, econômica,
financeira, legal, física e social, bem como os critérios utilizados na elaboração das
demonstrações contábeis e eventos subseqüentes ao balanço.
Segundo o disposto no § 4° do art. 176 da Lei n°6.404/76, “as demonstrações serão
complementadas por notas explicativas e outros quadros analíticos ou demonstrações
contábeis necessários para esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do
exercício”.
O § 5° do mesmo artigo da Lei n°6.404/76 relaciona as informações que deverão estar
inclusas nas notas explicativas, estabelecendo que elas deverão indicar:
“a. os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente
estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de provisões
para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização de
elementos do ativo;
b. os investimentos em outras sociedades, quando relevantes;
c. o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avaliações;
d. os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, ad garantias prestadas a terceiros
e outras responsabilidades eventuais ou contingentes;
e. a taxa de juros, as datas de vencimentos e as garantias das obrigações a longo prazo;
f. o número, espécie e classes das ações do capital social;
g. as opções de compra de ações outorgadas e exercícios;
h. os ajustes de exercícios anteriores;
i. os eventos subseqüentes à data de encerramento do exercício que tenham, ou possam
vir a ter efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da companhia”.
A Lei n°6.404/76 menciona nove casos que deverão constar em nota explicativa;
contudo, podem ocorrer situações que não estão contempladas na referida Lei e que devem
ser mencionadas em nota.
Além do mencionado há pouco, a lei, em seu art. 177, § 1°, estabelece que devem ser
indicados em Notas Explicativas os efeitos das mudanças de critérios contábeis.
Apesar de haver previsão legal para as Notas Explicativas, não significa que sempre haja
necessidade de ter, no mínimo, essas notas, pois, muitas vezes, alguma não são aplicáveis, ou
não representam informações relevantes, ou seja, de utilidade para esclarecimento da
demonstração financeira. Por exemplo uma empresa prestadora de serviço pode ter em seu
estoque apenas materiais de escritório, não é relevante dizer qual o critério de avaliação do
estoque, por ser uma informação não relevante. Da mesma forma é possível que existam
situações em que sejam necessárias informações adicionais além das previstas na lei 6.404/76.
A CVM recomenda de acordo com o § 3° do Art. 177 da lei das S.A., em
complementação às notas explicativas previstas por esta lei, que sejam divulgados diversos
assuntos relevantes como por exemplo:
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 28
A Resolução do CFC n° 737/92, que aprova a norma NBC T-6, cujo subitem 6.2 aborda os
aspectos fundamentais a serem observados pelas empresas durante a elaboração das notas
explicativas, ressalta:
As informações devem completar os fatores de integridade, autenticidade, precisão,
sinceridade e relevância;
Os textos devem ser simples, objetivos, claros e concisos;
Os assuntos devem ser ordenados, obedecendo à ordem observada nas demonstrações
contáveis, tanto para os agrupamentos como para as contas que as compõem;
Os assuntos relacionadas devem ser agrupados segundos seus atributos comuns;
Os dados devem permitir comparações com os de datas de exercícios anteriores;
As referências a leis, decretos, regulamentos, normas brasileiras de contabilidade e
outros atos normativos devem ser fundamentadas e restritas aos casos em que tais
citações contribuam para o entendimento do assunto tratado na nota explicativa.
Livros disponíveis para download gratuito no site www.crcpr.org.br. Procure o link publicações
e série biblioteca do CRCPR.
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 30
AULA 12
RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO
Também chamado de relatório da diretoria. É um documento importante onde quem é
responsável pela gestão da empresa tem a liberdade para apresentar as demonstrações contábeis
e também expressar sua opinião sobre a situação da empresa e perspectiva futura. Não há um
modelo específico, portanto sem rigor técnico, a criatividade é importante na elaboração.
Resultados
O Resultado Operacional antes dos gastos com Reestruturação e Resultado Financeiro, no 1º trimestre de 2000,
atingiu R$ 9,4 milhões contra R$ 9,2 milhões em 1999. O Resultado Líquido do período, após 5 anos
consecutivos de prejuízo, foi um lucro de R$ 0,6 milhões, contra um prejuízo de R$ 18,7 milhões registrados em
1999, sinalizando uma melhora significativa nos resultados, tendência que poderá ser mais acentuada a partir do
2º trimestre.
Investimentos
A Companhia investiu no 1º trimestre R$ 9,6 milhões, tendo por principais objetivos: ampliar a capacidade de
produção das instalações fabris localizadas em Salto e Botucatu, propiciar significativa melhoria nos índices de
qualidade, além da produção de novos produtos com maior valor agregado.
Ao término dos investimentos programados para esse ano, a capacidade instalada da fábrica de aglomerados em
Botucatu deverá ser ampliada em mais de 40%, ou seja uma produção anual da ordem de 330 mil m³.
Patrimônio Líquido
O Patrimônio Líquido da Companhia, em 31 de março de 2000, foi de R$ 389,0 milhões, com o equivalente
valor patrimonial das ações de R$ 454,80, o lote de mil. O capital social subscrito e integralizado está
representado por 857,2 milhões de ações, divididas em 289,6 milhões ordinárias e 567,6 milhões preferenciais.
Recursos Humanos
Até o final de março de 2000, a Companhia investiu cerca de R$ 4,0 milhões em programas de assistência
médico-odontológica, transportes, alimentação, treinamento e segurança no trabalho, para seus 3.272
funcionários e respectivos dependentes.
São Paulo, Maio de 2000
A Administração.
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 35
AULA 13
DEMONSTRAÇÃO DE FLUXO DE CAIXA (DFC)
Há atualmente uma tendência em alguns países no sentido de adotar-se a demonstração
de Fluxo de Caixa em substituição à Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos. Isto
deve-se basicamente à maior facilidade de entendimento daquela pelos usuários, onde é
visualizado de forma mais clara o fluxo dos recursos financeiros durante o período, apesar de a
DOAR ser mais rica em termos de informações. (FIPECAFI – 1993)
A Demonstração dos Fluxos de Caixa indica, no mínimo, as alterações ocorridas no
exercício no saldo de caixa e equivalentes de caixa, segregadas em fluxos das operações, dos
financiamentos se dos investimentos. Essa demonstração será obtida de forma direta (a partir da
movimentação do caixa e equivalentes de caixa) ou de forma indireta (com base no
Lucro/Prejuízo do exercício). As práticas internacionais dispõem que essa demonstração seja
segregada em três tipos de fluxos de caixa: os fluxos das atividades operacionais, das atividades
de financiamento e das atividades de investimentos. (MARION – 2002)
conciliação entre o resultado e o caixa gerado pelas atividades operacionais devem ser
claramente identificados como itens de conciliação.
EXEMPLOS
18. Deve-se classificar como oriundo de atividade operacional o numerário recebido de:
Clientes por venda de produtos e serviços; Subsidiárias avaliadas pelo método de equivalência
patrimonial, a título de lucros ou dividendos; Reembolsos de fornecedores, companhias de
seguro, restituição de impostos, etc.
19. Deve-se classificar como utilizado na atividade operacional o numerário pago a:
Fornecedores por compra de material produtivo; Empregados; Processos, reembolsos a clientes
etc.; Governos por impostos e contribuições.
20. Deve-se classificar como oriundo de atividades de investimentos o numerário recebido por:
Venda de ativos permanentes; Distribuição de lucros ou dividendos de outros investimentos.
21. Deve-se classificar na atividade de investimentos o numerário utilizado na aquisição de
ativo permanente.
22. Deve-se classificar como oriundo de atividades de financiamentos o numerário recebido por:
Integralização de capital; Colocação de títulos a longo prazo (debêntures e equivalentes);
Obtenção de empréstimos.
23. Deve-se classificar na atividade de financiamentos o numerário pago a: Acionistas ou
cotistas por lucros, dividendos, juros sobre o capital próprio ou reembolso de capital; Credores
de obrigações por financiamentos. NPC nº 20 completa no site www.ibracon.com.br
Balanço Patrimonial
ATIVO 31/12/05 31/12/06 PASSIVO 31/12/05 31/12/06
Circulante 1.427 1.630 Circulante 1.120 1.041
Disponibilidades 302 180 Fornecedores 650 721
Duplicatas a Receber 420 650 Salários a Pagar 120 150
Estoques 705 800 IR e CSLL a Pagar 150 59
Dividendos a Pagar 200 111
Não Circulante 1.540 1.250
Realizável a L. Prazo 100 80
Dupl. a Receber 100 80 Não Circulante 500 381
Financiamentos 500 381
Permanente 1.440 1.170
Investimentos 80 70 Patrimônio Líquido 1.347 1.458
Imobilizado 860 700 Capital Social 1.000 1.000
Diferido 500 400 Lucros Acumulados 347 458
Total 2.967 2.880 Total 2.967 2.880
A redução do Imobilizado deve-se a R$ 60,00 de Depreciação e R$ 100,00 de venda de ativo.
Para demonstrar que para elaboração da Demonstração do Fluxo de Caixa, são necessárias
apenas informações do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício,
deixei de elaborar a DLPA ou DMPL, DOAR e não há notas explicativas, pois nas contas
apresentadas possuímos todos os elementos necessários para que possamos elabora a
Demonstração de Fluxo de Caixa.
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 39
Atividades de Investimento
Realização de investimento 10
Alienação de Bens Permanente 100
Amortização de Diferido 100
210 210
Atividades de Financiamentos
Redução de Financiamentos (119)
Dividendos (200) (319)
Redução de caixa no ano (122)
Saldo Inicial do caixa 302 302
Saldo Final do caixa 180 180
Assim como fazemos na DOAR, onde trabalhamos comparação de contas de um para outro
exercício, de forma semelhante é trabalhado para elaboração da DFC. Convém observar também
que todo o disponível é considerado como caixa da empresa, já que são valores que estão à
disposição, independente de estar na conta caixa ou banco.
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 40
Modelo Direto
Demonstração do Fluxo de Caixa – 2006
Saldo Inicial em 31/12/05 302
Entradas
Receita Operacional Recebida 1.290
Receitas Financeiras 6
Realização de investimentos 10
Alienação de Bens do Permanente 100
Diferido 100 1.506
Saídas
Pagamento de Mercadorias (974)
Redução de Financiamento (119)
Despesas de Vendas (90)
Despesas Administrativas (15)
Despesas Financeiras (80)
I R e CSLL (150)
Dividendos (200) (1.628)
Saldo Final em 31/12/99 180
Explicação:
Ingresso de receita operacional = Receita líquida 1.500 + Dupl Rec. CP (2005) 420 – Dupl. Rec.
CP (2006) 650 + Dupl. Rec. LP (2005) 100 – Dupl. Rec. LP (2006) 80 = 1.290
Receitas Financeiras = 6 (DRE)
Realização de Investimentos = RLP (2005) 100 – RLP (2006) 80 = 20
Alienação de Bens do Permanente = Imobilizado (2005) 860 – Imobilizado (2006) 700 –
Depreciação (2006) 60 = 100
Diferido = Diferido (2005) 500 – Diferido (2006) 400 = 100
Pagamento de Mercadorias = Compras {CMV = Ei + C – EF 950 = 705 + C – 800
C= 1.045} + Fornec (2005) 650 – Fornec (2006) 721 = 974
Redução de Financiamento = ELP (2005) 500 – ELP (2006) 381 = 119
Despesas de Vendas = 90 (DRE)
Desp. Administrativas = 105 (DRE) – Deprec. 60 – Salários a Pg (2005) 120 + Salários a Pg
(2006) 150 = 15
Desp. Financeira = 80 (DRE)
IR e CSLL = 59 (DRE) + IR e CSLL a Pg (2005) 150 – IR e CSLL a Pg (2006) 59 = 150
Dividendos = {Lucro líquido (DRE) 222 - Lucro Acum (BP-2006) 458 + Lucro Acum (BP-
2005) 347 =} 111 + Dividendos a Pg (2005) 200 – Dividendos a Pg (2006) 111 = 200.
AULA 14
DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO (DVA)
O IBRACON – Instituto dos Auditores do Brasil, reconhece na NPC (normas e
procedimentos de contabilidade) nº27, a DVA como sendo uma Demonstração Contábil, mesmo
não sendo sua divulgação obrigatória pela empresa.
Inexiste ainda uma forma de apresentação definitiva para a DVA, porém podemos assim
visualizar a estrutura básica do relatório.
Juros 28%
Dividendos 22%
Impostos
22% 12%
Lucro Reinvestido
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 43
Antes mesmo de iniciar a análise de balanços, conheça intimamente a empresa que pretende
analisar: o produto que transaciona, a função produção da empresa, se existem operações típicas de
financiamento, etc. Existem casos interessantes a respeito. Algumas empresas de fertilizantes, por
exemplo, realizam as vendas aos agricultores já financiadas por bancos oficiais. Ou, visto o problema de
outra forma, os agricultores somente compram mediante financiamento de bancos oficiais. Nesse caso,
na verdade, o cliente verdadeiro da empresa, em termos de valores a receber, é o Governo e se, de um
lado, isto normalmente aumenta os prazos de recebimento das contas a receber, por outro diminui os
riscos do recebimento. Um analista que, sem conhecer esse detalhe, se aventurar a interpretar de forma
muito restrita os quocientes ligados a contas a receber, ou levar em conta a provisão para devedores
duvidosos (que praticamente não tem razão de existir nesse caso), estará expondo-se a erros de a criticas
muitos grandes. É necessário, portanto, conhecer bem as características operacionais da empresa, as
formas peculiares de financiamento (se existirem), a característica dos estoques, o tipo de máquinas e
equipamentos utilizados, etc. Se a análise estiver sendo realizada por analistas externos, deverão estes
procurar inteirar-se pelo menos do essencial sobre as peculiaridades, se não da empresa em particular,
pelo menos do setor em que atua. Neste sentido, a consulta à biblioteca, a revistas especializadas e a
especialistas do setor é indispensável. Imaginemos um analista querendo realizar uma análise de uma
companhia seguradora sem um mínimo de conhecimento sobre as características do ramo. Um dos
grandes problemas da análise de determinados estudos amplos é justamente a natural dificuldade de levar
em conta tais particularidades setoriais. Entretanto, alguns quocientes têm significado quase que em
todos os tipos de empreendimento. Os relacionamentos entre contas do lado do passivo normalmente têm
uma significação universal. Entretanto, quocientes que levam em conta elementos do ativo ou da DRE
sofrem muito o impacto da mudança das características técnicas e comerciais (e até financeiras) do
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 44
empreendimento. De qualquer forma, conheça, o melhor que puder, a empresa que irá analisar.
(IUDÍCIBUS – 1998).
CONHECER O OBJETIVO DA ANÁLISE
Quando iniciamos qualquer processo é importante identificar primeiro qual o objetivo,
para então buscar os caminhos para alcançar êxito na atividade. Não podemos em momento
algum esquecer o profissionalismo e o compromisso com a realidade. È preciso diagnosticar e
relatar a situação como ela é, e não maquiar o relatório para agradar aos interessados.
Ao longo da minha experiência como funcionário público municipal, contador e professor,
aprendi muito com os livros e com as pessoas. Algumas lições aprendi com vocês, alunos e
monitores. Levando em consideração o tempo da aula e as características de uma tele-aula
precisei encontrar uma forma mais adequada para transmitir o conteúdo das disciplinas. Dentro
de minhas limitações assisti algumas aulas para entender como se sentem os alunos, conversei
com alunos, professores, monitores e coordenadores de curso, procurei ler cada comentário
sobre mim e sobre os demais professores, troquei mensagens eletrônica com alunos, monitores e
professores, assisti minhas aulas com senso crítico e de alguns professores que se destacaram na
opinião dos alunos para aprender com seu método de ensino. Isto não quer dizer redução de
conteúdo ou menor qualidade no ensino, pelo contrário o objetivo é ensinar mais e melhor.
No caso da análise muitos podem ser os objetivos. E devo trabalhar adaptando ou focando
o trabalho, de acordo com a demanda. Ou seja, adequar o trabalho de acordo com a
necessidade. Por exemplo, não devo me preocupar em extrair informações sobre as
imobilizações da empresa, se simplesmente esta informação é irrelevante em virtude a atividade
operacional e característica da empresa. Em contra-partida esta informação pode ser
fundamental para empresas que investem muitos recursos, bem como seus concorrentes, no
permanente da empresa.
Quando o analista assume o compromisso de realizar o trabalho de análise das
demonstrações contábeis, é importante que ele saiba o que é mais importante em sua missão. E
o mais importante, logicamente, será fornecer a quem contratou os seus serviços informações
úteis para a tomada de decisões. Assim, o grau de importância das demonstrações e cálculos
efetuados vai variar de acordo com o público interessado na análise. Por exemplo, o fornecedor
tem maior interesse na situação de liquidez da empresa, enquanto o investidor ou sócio
interessa-se pelo risco do recebimento e também pela taxa de retorno sobre o investimento, o
administrador quer saber as tendências e também avaliar seu desempenho com base no padrão
de mercado, enfim haverá maior probabilidade de sucesso o trabalho realizado por quem sabe
onde quer chegar.
Para a Comissão de Empresas Transnacionais da ONU, as características da informação
contábil (útil) são:
a) Pertinência – se a informação é capaz de influir sobre uma decisão, ela deve ser
evidenciada mesmo que não tenha uma utilização imediata;
b) Oportunidade – a informação contábil deve estar disponível ao usuário no momento
em que este a necessita;
c) Comparabilidade – a informação contábil deve permitir que os usuários possam
efetuar análises temporais e entre empresas distintas;
d) Confiabilidade – a informação contábil deve reunir os atributos de fidelidade de
apresentação, neutralidade/honestidade, prudência e capacidade de verificação;
e) Inteligibilidade – a informação contábil deve ser compreendida com garantia pelo
usuário o que implica que seja expressa de maneira não ambígua.
Fonte: (FAGUNDES – 2006).
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 45
AULA 16
COLETA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E DEMAIS DOCUMENTOS
Esta etapa é importantíssima no processo e de fundamental importância. Reunir os
documentos para análise requer também alguns cuidados.
Para um bom trabalho é interessante reunir as demonstrações contábeis: Balanço
Patrimonial (BP), Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), Demonstração de Lucros ou
Prejuízos Acumulados (DLPA) ou Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
(DMPL), Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), Notas Explicativas
(NE), e outros documentos como Relatório da Diretoria, Parecer da Auditoria Independente,
Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC), Demonstração do Valor Adicionado (DVA), Registro
de Inventário, Controle de Recebimentos e Pagamentos, enfim todos os que o analista julgar
necessário para uma boa análise.
Quanto maior for o número de exercícios analisados, melhor será a análise para
demonstrar as tendências da empresa. Recomenda-se possuir no mínimo 3 (três) exercícios.
Os documentos reunidos para a análise deverão possuir a assinatura de profissional
qualificado para dar maior segurança ao trabalho que será realizado.
O Professor José Carlos Marion, no livro Análise das Demonstrações Contábeis (Editora
Atlas – 2002), apresenta quatro situações como subsídio ao analista para julgamento das
demonstrações contábeis:
a) O ideal:
1 – Demonstrações Contábeis publicadas em jornais que atendam aos requisitos legais (Lei
das Sociedades Anônimas);
2 – Assinadas por contador, com Relatório da Diretoria e Notas Explicativas completas;
3 – Parecer da auditoria de Pessoa Jurídica que não tenha empresa-cliente que represente mais
de 2% do seu faturamento e que não esteja auditando a empresa analisada por mais de quatro
anos.
b) Situações encontradas que requerem alguns cuidados do analista:
1 – Demonstrações contábeis em que há relatório da Diretoria sucinto demais e/ ou Notas
Explicativas incompletas;
2 – Demonstrações contábeis com parecer da autoria que não preencham todos os requisitos
do modo ideal acima mencionado;
3 – Demonstrações contábeis publicadas que não atendam a todos os requisitos legais.
c) Situações que requerem do analista profundos cuidados:
1 – Demonstrações contábeis não publicadas em jornais;
2 – Demonstrações contábeis sem parecer da auditoria ou parecer com ressalva;
3 – Demonstrações contábeis que não atendam a parte dos requisitos legais e outras situações
não previstas nas situações A e B acima expostos.
d) Situações em que não se deveria fazer análise com base nas Demonstrações
Contábeis:
1 – Quando a empresa trabalha à base do Lucro Presumido, sem fazer contabilidade (nesses
casos, as demonstrações contábeis podem ser montadas especialmente para a análise);
2 – Quando há contradições nas demonstrações contábeis ou “exageros” facilmente
detectáveis;
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 46
“Erro e fraude não são a mesma coisa. A fraude é sempre um erro. Nem todo erro,
entretanto, é fraude. O erro pode ser cometido sem vontade. A fraude é sempre um erro
calculado”.
“O profissional da contabilidade precisa conhecer a fraude para defender-se contra ela,
como também para proteger o seu cliente”.
Aliás, a prática também não é privilégio nosso e ocorre em todos os países, talvez alguns lembrem dos
casos das empresas Enron e WorldCom que ocorreu nos E.U.A., onde descobriu-se que irregularidades eram
cometidas para tornar a empresa mais atraente para seus investidores e a descoberta de fraudes fez despencar o
preço da ações da empresa. Após isso surgiram diversos estudos sobre as fraudes contábeis e movimentos
favoráveis a valorização da ética profissional, aumentou também a procura e responsabilidade dos auditores
contábeis.
Talvez você esteja questionando a possibilidade da utilização de técnicas contábeis e que sejam também
legais para tornar os números da empresa mais atraentes. Este é um tema polêmico e em muito se deve a lacunas
legais, onde a subjetividade que existe na legislação, possibilita ao contador o uso de seu conhecimento para
maquiar as demonstrações contábeis.
Sobre este tema há um excelente artigo chamado “A MAQUIAGEM DAS DEMONSTRAÇÕES
CONTÁBEIS COM A CONTABILIDADE CRIATIVA”, elaborado pela Professora Drª Maria Elisabeth Pereira
Kraemer da UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí, que está disponível na internet e gentilmente fui
autorizado pela autora a utilizar parte de seu trabalho neste material. O artigo apresentado e premiado em 1º lugar
no dia 28/08/2004, está registrado nos anais da 52º Convenção dos Contabilistas do Estado do Rio de Janeiro, com
o tema Contabilidade não é despesa, é investimento.
“A contabilidade criativa é um tema atual na prática contábil. É utilizada para descobrir o processo mediante o
qual os contadores utilizam seu conhecimento sobre as normas contábeis para manipular as cifras refletidas na
contabilidade da empresa, sem deixar de cumprir os princípios de contabilidade. Desta maneira, conforme se
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 47
apliquem os critérios e outros aspectos da contabilidade, os resultados podem variar e ser mais favoráveis para as
organizações”. (KRAEMER – 2004).
Quando nos referimos à auditoria independente, é aquele que não depende da empresa,
pois isto colocaria sob suspeita o relatório apresentado.
A auditoria pode ser interna ou externa. Será interna quando contratada pela
administração da empresa para verificação de seus atos e será externa quando contratada por
pessoas de fora da administração como sócios, investidores, governo, enfim demais pessoas que
não sejam os administradores da empresa.
relatórios, pois significa que não é possível assegurar a fidelidade das informações prestadas nas
demonstrações contábeis.
b) Duplicatas Descontadas – É citada por praticamente todos os autores que tratam deste
assunto, seria campeã no ranking da reclassificação se existe esta competição. A duplicata
descontada é uma conta retificadora do ativo circulante e reduzindo o saldo da conta Duplicatas
a Receber. Na prática a duplicata descontada é uma duplicata que a empresa deveria receber em
data futura, negociada com uma instituição financeira que lhe adianta o valor descontando os
encargos financeiros, e fica com a garantia de receber a duplicata do cliente. O que ocorre é que
se o cliente não pagar a duplicata no prazo estipulado, este valor deve ser reembolsado pela
empresa, ou seja, esta situação é semelhante a do empréstimo bancário, então deve receber o
mesmo tratamento de empréstimo, sendo classificada como uma obrigação da empresa.
Para simplificar o raciocínio observe a seguinte situação das empresas abaixo:
Exemplo sem Reclassificação Exemplo com Reclassificação
AC – 10.000,00 PC – 2.000,00 AC – 15.000 PC – 7.000,00
Caixa 15.000,00 Fornecedor 2.000,00 Caixa 15.000,00 Fornecedor 2.000,00
Dupl.Desc. (5.000,00) Dupl. Desc. 5.000,00
*Observação: entrou R$ 5.000,00 em dinheiro *Observação: O tratamento dado é igual a
Assim, 10.000 / 2.000 = R$ 5,00 empréstimo, observe a situação agora: 15.000 / 7.000
Para cada R$ 1,00 de dívida do PC temos R$ 5,00 = R$ 2,14. Ou seja, para cada R$ 1,00 de dívida de
do AC para garantir o pagamento. curto praza a empresa possui R$ 2,14 de AC.
g) Capital Social a Integralizar – Deve deduzir o valor do Capital Social, por ser uma
obrigação dos sócios ainda não cumprida e só aparecerá no ativo quando integralizado.
g) Receitas e Despesas Financeiras – São classificadas como operacionais, mas verifica-se que
não faz parte do objetivo operacional da empresa receber e pagar juros por atraso em
pagamentos ou referente a operações financeiras. Salvo o caso da empresa ter em seu objeto
social esta atividade classificada como operacional.
Agora é sua Vez! Faça um Novo Balanço Patrimonial, reclassificando-o para Análise.
ATIVO PASSIVO
Circulante 960.000 Circulante 1.040.000
Disponível 60.000 Fornecedores 600.000
Dupl. a Receber 550.000 Financiamento 200.000
(-) Dupl. Descont. (100.000) Salários a Pagar 80.000
Estoques 300.000 I.R. e C.S.L. a Recolher 40.000
Desp.Exerc.Seguinte 150.000 Dividendos a Pagar 120.000
Realizável a Longo Prazo 200.000 Exigível a L. Prazo 60.000
Capital a Integralizar 200.000 Financiamentos 60.000
Permanente 3.620.000 Resultado E. Futuros 50.000
Investimentos 120.000 Adiantamento Clientes 30.000
Imobilizado 2.500.000 Arrendamento de Imóvel 20.000
Máquinas e Equipamentos 3.100.000 Patrim. Líquido 3.630.000
(-) Depreciação (600.000) Capital 2.800.000
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 53
Diz-se que é uma análise estática, pois limita-se aos números ao exercício que está sendo
analisado.
Sua Vez!
Exemplo de Cálculo da Análise Vertical:
2005 ∆V 2006 ∆V
Ativo
Ativo Circulante 642,00 19,03% 708,00
Caixa 84,00 2,49% 98,00
Contas a Receber 165,00 4,89% 188,00
Estoques 393,00 11,65% 422,00
Ativo Não Circulante 2.731,00 80,97% 2.880,00
Instalações e Equipam. 2.731,00 80,97% 2.880,00
TOTAL DO ATIVO 3.373,00 100% 3.588,00 100%
Passivo
Passivo Circulante 543,00 540,00
Fornecedores 312,00 344,00
Títulos a Pagar 231,00 196,00
Passivo Não Circulante 531,00 457,00
Dívidas de Longo Prazo 531,00 457,00
Patrimônio Líquido 2.299,00 2.591,00
Capital Social e Reservas 500,00 550,00
Lucros Acumulados 1.799,00 2.041,00
TOTAL DO PASSIVO 3.373,00 100% 3.588,00 100%
Na DRE, usamos como base de comparação a Receita Operacional Líquida, pois vendas
cancelas, descontos incondicionais, impostos sobre a venda não podemos considerar como receitas
da empresa, apesar de compor a receita operacional bruta. São valores que não servem de parâmetro
para comparação para as contas operacionais.
2005 ∆V 2006 ∆V
Receita Operacional Bruta 2.220,00 113,15% 2.311,00
Deduções da Receita (-) 258,00 13,15% 276,00
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 54
Diz-se que é uma análise dinâmica, pois mostra ao longo do tempo a evolução da conta.
Exemplo de Cálculo da Análise Horizontal. Observe que o primeiro exercício (dos exercícios
anteriores), será a base do cálculo, ou o valor que servirá de parâmetro para verificarmos o
desempenho dos exercícios mais recentes. Outra forma de mostrar
2005 ∆H 2006 ∆H ∆H
Ativo
Ativo Circulante 642,00 100% 708,00 110,28% 10,28%
Caixa 84,00 100% 98,00 116,67% 16,67%
Contas a Receber 165,00 100% 188,00 113,94% 13,94%
Estoques 393,00 100% 422,00 107,38% 7,38%
Ativo Não Circulante 2.731,00 100% 2.880,00 105,46% 5,46%
Instalações e Equipam. 2.731,00 100% 2.880,00 105,46% 5,46%
TOTAL DO ATIVO 3.373,00 100% 3.588,00 106,37% 6,37%
Passivo
Passivo Circulante 543,00 100% 540,00 99,45% - 0,55%
Fornecedores 312,00 100% 344,00 110,26% 10,26%
Títulos a Pagar 231,00 100% 196,00 84,85% -15,15%
Passivo Não Circulante 531,00 100% 457,00
Dívidas de Longo Prazo 531,00 100% 457,00
Patrimônio Líquido 2.299,00 100% 2.591,00
Capital Social e Reservas 500,00 100% 550,00
Lucros Acumulados 1.799,00 100% 2.041,00
TOTAL DO PASSIVO 3.373,00 100% 3.588,00
2005 ∆H 2006 ∆H ∆H
Receita Operacional Bruta 2.220,00 113,15% 2.311,00 104,10% 4,10%
Deduções da Receita (-) 258,00 13,15% 276,00 106,98% 6,98%
Receita Operacional Líquida 1.962,00 100% 2035,00 103,72% 3,72%
Custo da Mercadoria Vendida (-) 1.285,00 63,49% 1.344,00
Lucro Operacional Bruto 677,00 34,51% 691,00
Análise das Demonstrações Contábeis I – Prof. Ciro Bächtold 55
Passivo
Passivo Circulante 17.740,00 15.420,00 18.350,00
Fornecedores 8.620,00 7.500,00 9.210,00
Contas a Pagar 5.520,00 4.920,00 6.640,00
Empréstimos 3.600,00 3.000,00 2.500,00
Passivo Não Circulante 3.600,00 5.000,00 4.100,00
Emprestímos L. Prazo 3.600,00 5.000,00 4.100,00
Patrimônio Líquido 17.480,00 16.970,00 19.330,00
Cap. Social e Reservas 4.000,00 4.000,00 4.000,00
Lucros Acumulados 8.970,00 13.480,00 12.970,00
Lucro/Prej. Exercício 4.510,00 (510,00) 2.360,00
TOTAL DO PASSIVO 38.820,00 37.390,00 41.780,00
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