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QUESTÕES DE TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

1. Defina contrato.
É o resultado do encontro de vontades dos contratantes, produzindo efeitos jurídicos
(criação, modificação ou extinção de direitos ou obrigações)

2. Quais são os elementos essenciais do contrato?


Por ser uma espécie de negócio jurídico, também é essencial ao contrato a capacidade do
agente, o objeto lícito, possível, determinado ou determinável e a forma prescrita ou não
defesa em lei (Art. 104). Por tratar-se de contrato ainda há o requisito específico do
consentimento recíproco ou acordo de vontades.

3. Indique os princípios sobre os quais se funda o direito contratual.


Autonomia da vontade (arts 421 e 425), supremacia da ordem pública, consensualismo,
relatividade dos contratos, obrigatoriedade dos contratos, revisão dos contratos e boa-fé
objetiva.

4. Em que consiste a autonomia da vontade?


A autonomia da vontade implica em que o consentimento é elemento fundamental da
existência do contrato. Sem o consentimento das partes, expresso ou tácito, inexiste a
relação jurídica no contrato. A autonomia da vontade também define a forma do contrato,
quando esta não está defesa por Lei.

5. Em que consiste a supremacia da ordem pública?


Consiste no fato de que não é permitido às partes contratar aquilo que contrarie o interesse
público, materializado pelas leis. A Supremacia da Ordem Pública limita ou define os
contornos externos, dentre os quais se pode operar a autonomia da vontade.

6. Em que consiste o consensualismo?


Um princípio pelo qual basta o acordo de vontades para que um contrato se aperfeiçoe.
Selado o acordo já existe o contrato, independentemente da entrega da coisa ou de ações
posteriores. O consensualismo é a regra e o formalismo a exceção. Isto porque, para alguns
tipos de contrato, o legislador definiu forma estrita para a validade do contrato.

7. Em que consiste a obrigatoriedade dos contratos (pacta sunt servanda)?


É um princípio antigo do direito que define que os pactos devem ser cumpridos. Não se é
obrigado a pactuar, mas uma vez pactuado, o pacto deve ser cumprido. O contrato torna-se
"lei" entre as partes. Modernamente esse princípio é relativizado pelo princípio da revisão
contratual.

8. Em que consiste a revisão contratual? E a exceção rebus sic stantibus?


É um princípio de moderação da obrigatoriedade dos contratos. No direito moderno não se
considera absoluto o contrato. Havendo desequilíbrios no contrato pode o juiz, querendo
princípios de ordem pública, boa-fé objetiva e equidade, reequilibrá-lo para que satisfaça
proporcionalmente a vontade real dos que o celebraram (Art. 478 e 480). A exceção rebus
sic standibus define que nos contratos comutativos e diferidos (onde a prestação não
ocorra no mesmo tempo da celebração), pode haver a revisão do contrato caso haja
situações supervenientes que modifiquem a situação do momento do contrato.

9. Em que consiste o princípio da relatividade dos efeitos do contrato?


Os contratos só devem produzir efeitos obrigatórios perante as partes, que manifestaram
sua vontade em contratar. Seu universo de efeitos obrigatórios deve ser limitado, ou seja,
relativo às partes. Terceiros podem sentir os efeitos do contrato se para eles lhes creditar
direitos, mas não deveres.

10. Em que consiste o princípio do equilíbrio do contrato?

11. Em que consiste o dirigismo contratual?


Em busca da igualdade material entre os contratantes, o Estado distingue determinadas
categorias na relação contratual para que, desta forma, essas categorias possam obter um
tratamento materialmente isonômico no ordenamento jurídico. Observa-se esse
tratamento aos consumidores, trabalhadores, dentre outros.

12. Em que consiste o princípio da boa-fé? E o da probidade?


A boa-fé pode ser objetiva ou subjetiva. A subjetiva diz respeito à intenção do agente, que
deve ser coerente com o objetivo do contrato e com o ordenamento. A boa-fé objetiva é
uma obrigação legal de agir conforme as expectativas mútuas em uma relação contratual. É
um princípio que procura a igualdade material na relação. Em outras palavras pela boa-fé
objetiva as partes se vinculam mais às expectativas reais das partes do que à forma ou ao
processualismo contratual. É um princípio a ser observado desde a formação até o
encerramento do contrato (em alguns casos até após ele). A probidade é a materialização
do aspecto objetivo da boa-fé.

13. Indique os efeitos do contrato, negócio jurídico bilateral.


Os efeitos são a criação de obrigações e deveres recíprocos, vinculados entre sí. A prestação
de um implica em uma constrapestação da outra parte. Essas contraprestações não
precisam ser, necessariamente, economicamente equivalentes.

14. Indique as principais classificações dos contratos.


a) unilaterais (benéficos) e bilaterais (onerosos)
b) cumulativos e aleatórios
c) nominados (típicos) e inominados (atípicos)
d) reais, formais e consensuais
e) mistos e coligados
f) instantâneos; continuados ou de fato sucessivo; acessórios
g) principais e acessórios
h) tempo determinado; indeterminado (termo ou condição)
i) pessoais e impessoais
j) derivados ou sub-contratos
k) individuais e coletivos
l) adesão
m) estandardizados ou celebrados em massa
n) eletrônicos

15. Como se formam os contratos consensuais?


Formam-se unicamente pelo acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa
e da observância de determinada forma.

16. Como se formam os contratos reais?


Os contratos reais se aperfeiçoam ou se formam quando, além do consentimento, existe a
entrega (traditio) da coisa que lhe serve de objeto.

17. Como se formam os contratos formais?


Os contratos formais se aprefeiçoam com a presença de uma forma específica prevista em
lei, além do consentimento das partes.
18. Na proposta enviada por telegrama, carta, telex, fax, e-mail, ou outro meio
eletrônico de transmissão de dados, como se aperfeiçoa o contrato?
Com a emissão da resposta de aceitação.

19. Onde se considera celebrado o contrato?


No local onde foi aceita a proposta (art. 435).

20. Que vícios podem tornar o contrato nulo?


Os vícios de consentimento, provocados por coação absoluta, fraude, dolo, erro, estado de
perigo ou lesão.

21. Que vícios podem tornar o contrato anulável?


Os praticados por incapazes ou com vícios de consentimento relativos, que podem ser
convalidados.

22. Quais os efeitos dos contratos válidos?


O estabelecimento de obrigações entre as partes.

23. Que princípios norteiam a interpretação dos contratos?


O princípio da boa-fé e da conservação do contrato. Pela boa-fé, tanto objetiva quando
subjetiva, procura-se buscar a vontade real das partes e interpretar o contrato conforme
essa vontade, relativizando sua literalidade. No que tante à conservação do contrato, deve-
se eliminar das hipóteses de interpretação aquelas que sejam incompatíveis com o tipo de
contrato celebrado, no que tange aos seus efeitos desejados. Há, entretanto, esparsamente
no código, outros princípios que podem ser utilizados para interpretar os contratos.

24. O que são vícios redibitórios?


São defeitos ocultos, em coisa recebida em virtude de contrato comutativo, que a tornam
imprópria ao uso a que se destina ou lhe diminuam o valor, sendo que se esse defeito fosse
por ambos conhecido o negócio jurídico não se realizaria.

25. Quais os requisitos necessários para caracterizar o vício redibitório?


Que a coisa tenha sido recebida em virtude de contrato comutativo, doação onerosa ou
remuneratória. Que os defeitos sejam ocultos. Que os defeitos já existissem no momento
da celebração do contrato. Que os defeitos sejam desconhecidos pelo adiquirente. Que os
defeitos sejam graves.

26. Qual a consequência da existência de vícios redibitórios?


O adquirente pode rejeitar a coisa ou pedir abatimento no seu preço (art. 441 e 442). Pode
haver perdas e danos se houve má-fé do alienante (art. 443).

27. Quais os prazos em que podem ser alegados os vícios redibitórios?


O prazo decadencial é de 30 dias para bens móveis e de um ano para os imóveis, contatos a
partir da tradição. Se a ciência do defeito se der mais tarde, conta-se da ciência. Esse prazo
para ciência é de 180 dias para bens móveis e de um ano para os imóveis. Se o adiquirente
já estava na posse do bem o prazo se conta pela metade (art. 445). Podem os contratantes,
entretanto, por convenção, estender esses prazos.

28. Qual é o prazo do empreiteiro de materiais e execução, em obras de


grande monta?
Cinco anos de garantia, contados a partir da entrega.

29. O que é evicção?


Perda da coisa objeto de contrato em razão de decisão judicial que acolhe reivindicação de
terceiros. O alienante é obrigado a indenizar o adquirente.

30. Quais são os intervenientes na evicção?

31. Quem responde pela evicção?


O alienante (art. 447).

32. O que é contrato preliminar, o que deve conter e quais seus efeitos?
É aquele que tem por objeto único a futura celebração de um contrato definitivo. Contém
todos os elementos do contrato a ser celebrado. O contrato preliminar obriga as partes a
pactuarem o definitivo se verificadas as condições previstas no contrato preliminar. Os
requisitos para sua validade são os mesmos do contrato definitivo.

33. O que é contrato com pessoa a declarar e quais os seus efeitos?


É o contrato pelo qual um dos contraentes pode reservar-se o direito de indicar outra
pessoa para, em seu lugar, adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes
(art. 469)

34. O que é a cláusula exceptio non adimpleti contractus? E a solve et repete?


A primeira é a exceção de contrato não cumprido. Essa exceção paralisa a ação do autor se
o réu alegar que não recebeu a contraprestação contratada no mesmo contrato que
fundamenta a ação. A segunda significa "pague, depois reclame"

35. Como podem extinguir-se os contratos?


Em via de regra pela execução ou pelo cumprimento. Pode-se extinguir sem o
cumprimento em situações específicas.

36. Quais as formas pelas quais podem extinguir-se os contratos, sem


cumprimento?
Por nulidade absoluta ou relativa. Na ocorrência de situação prevista em cláusula
resolutiva. No exercício do direito de arrependimento. Por resolução devido ao não
cumprimento de uma das partes. Por resilição unilateral, naqueles contratos que assim o
premitirem. Por resilição bilateral ou distrato, quando ambos acordam em encerrar o
contrato sem o seu cumprimento. Pela morte de um dos contratantes. Por rescisão em
contratos celebrados em estado de perigo ou condições iníquas.

37. O que é a cláusula rebus sic stantibus?


É cláusula que permite, em contrato onerosos e diferidos, que haja reequilíbrio do contrato
caso a situação atual e a encontrada no momento da celebração se alterem substancialmente.

LISTA DE EXERCÍCIOS DE TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

1 – João, engenheiro químico, foi contratado por uma indústria de tabaco para conceder um parecer
aos resultados de uma pesquisa que fora realizada em razão da inserção de um novo componente
nos cigarros. No contrato de prestação de serviços, havia uma cláusula de sigilo, vedando a difusão
de quaisquer informações obtidas em relação à pesquisa realizada. Dado o parecer, uma empresa de
televisão contatou João para que este desse uma entrevista, explicando os efeitos do novo
componente tabagista. João aceitou o convite e prestou seu depoimento em rede nacional. Você,
como advogado da indústria de tabaco, qual providência tomaria?
Resposta: quanto à João, houve violação à cláusula de sigilo, de forma que contra ele pode ser
movida ação de indenização por danos materiais e morais; no que tange à empresa de televisão,
pode-se aplicar o raciocínio da tutela externa do crédito, visto que persuadiu João a quebrar o
contrato; dessa forma, também poderá responder civilmente por todo o prejuízo causado à indústria
tabagista.

2 – Marta celebrou contrato de aluguel com Ana, por um período de 36 meses, registrando o pacto
no cartório de registro de imóveis. No curso do contrato de locação, Adão ofereceu o valor de 200
mil reais pela compra do imóvel de Marta. Com base nos fatos, responda:

a) Como Ana poderá assegurar o contrato de compra e venda, sem desrespeitar o contrato de
locação em curso?

Resposta: poderá celebrar com João um contrato preliminar de compra e venda, postergando o
registro do imóvel para a data do termo do contrato de locação.

b) Estando assegurado o contrato de compra e venda, o que acontecerá se Marta desistir de


transferir o imóvel para Adão, resolvendo renovar o contrato de locação com Ana?

Resposta: o pré-contrato faz gerar o direito ao contrato definitivo, conforme o art. 463. Dessa
forma, Adão poderá solicitar a outorga da escritura definitiva de compra e venda. Não sendo
cumprido, poderá ainda solicitar a adjudicação do bem imóvel, nos termos do art. 1418.

3 – André celebra um contrato com Bruno nos seguintes termos: “André pagará 2 mil reais a cada
mil grãos de café colhidos por Bruno”. No dia estipulado, Bruno anuncia que não foi possível
realizar a colheita dos mil grãos. Com base nos fatos, responda:

a) Qual a modalidade do contrato em que as partes assumem o risco sobre a quantidade da


prestação?

Resposta: trata-se de contrato aleatório, da modalidade emptio rei speratae (art. 459).

b) No caso em tela, se André tivesse assumido expressamente o risco pela quantidade, quais os
efeitos jurídicos seriam gerados?

Resposta: André deveria pagar os dois mil reais, mesmo sem a contraprestação.

c) E se, tendo André assumido o risco, Bruno deixasse de realizar a colheita, ao argumento de que
estava em viagem de férias?

Resposta: nesse caso, tendo havido culpa do devedor, o credor ficará isento de sua obrigação, não
havendo que pagar os dois mil reais acordados (art. 459, parte final).

4 – A escola Ernesto Fagundes celebra um contrato de prestação de serviços com uma empresa
promotora de eventos. Em uma das cláusulas contratuais, a empresa se comprometeu a realizar o
show da banda “Os imundos” na festa de encerramento de ano da escola.

a) É possível, conforme o Código Civil, essa figura contratual?

Resposta: sim, trata-se de promessa de fato de terceiro, com previsão nos artigos 439 e 440.
b) Qual a consequência para a promotora de eventos caso a banda se negue a realizar o show?

Resposta: segundo o artigo 439 do CC, aquele que se comprometeu por fato de terceiro responderá
por perdas e danos caso este não execute.

5 – Rita adquiriu de Antonio uma motocicleta, sem ter, antes feito uma revisão. Ao utilizá-la,
percebeu que o ponteiro do combustível estava quebrado e comunicou o fato a Antonio, buscando a
rescisão do contrato. Este, orientado por seu advogado, disse que nada poderia fazer, visto que Rita
tinha condições de perceber o vício.

a) Agiu bem o advogado de Antonio?

Resposta: sim; por se tratar de vício aparente, não incidirá as regras do vício redibitório (art. 441).

b) Se o vício tivesse sido no motor que apresentasse superaquecimento nos aclives, Rita estaria
melhor amparada pelo direito?

Resposta: sim; sendo vício oculto, existe a garantia dos vícios redibitórios ínsita a todos os contratos
comutativos.

6 – Beatriz comprou um veículo alienado em hasta pública. Posteriormente, teve seu veículo
apreendido por ato administrativo oriundo da delegacia, em razão de o veículo ser de procedência
criminosa. Você, como advogado de Beatriz, qual providência tomaria?

Resposta: caberá alegação de evicção, nos termos do artigo 447, podendo Beatriz pleitear a rescisão
do contrato, sem prejuízo das perdas e danos. Conforme maioria doutrinária, responderá o
executado do processo onde houve a hasta pública e, subsidiariamente, o exequente.

7 – O hospital privado “Rainha da Sucata” alugou um imóvel de Emanuel pelo prazo de 36 meses.
Antes do termo contratual, instalou-se uma pista de pouso de aviões de caça nas redondezas do
hospital, de forma a prejudicar o ambiente hospitalar. Poderá o hospital solicitar a extinção do
contrato antes do prazo final? Explique.

Resposta: sim, poderá o hospital solicitar a resolução por inexecução involuntária, visto que a
locação se tornara imprestável, sem culpa do locador.

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