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Resumo – Este trabalho apresenta medidas de eficiência energética voltadas para sistemas de
abastecimento de água, tendo como foco os sistemas de bombeamento. Em sistemas de
abastecimento de água, o conjunto moto-bomba é o responsável pela maior parte do consumo
energético, sendo, também, a maior oportunidade para ações de eficientização. Uma prática bastante
comum para regulagem de vazão é o uso de válvulas reguladoras de vazão a jusante da bomba. No
presente trabalho, compara-se o controle da vazão pelo uso de válvula reguladora e pela variação da
velocidade de rotação do motor que aciona a bomba. Os ensaios realizados mostram que o controle
da vazão com variação da velocidade de rotação é a opção que conduz à maior economia no
consumo de energia do sistema. Uma curva de vazão horária típica de um sistema de abastecimento
de água na Região Metropolitana de Porto Alegre foi utilizada como exemplo das variações de
vazão para realização dos ensaios. Os ensaios foram realizados no Laboratório de Eficiência
Energética e Hidráulica em Saneamento (LENHS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS).
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Pesquisas Hidráulicas. elisaalbertonmachado@gmail.com.
2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Pesquisas Hidráulicas. guilhermecastiglio@gmail.com
3
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Pesquisas Hidráulicas. endres@ufrgs.br
REFERENCIAL TEÓRICO
Perda de carga é a perda de energia que ocorre dentro de uma tubulação quando um fluido se
desloca no seu interior. Desta forma, medidas visando a redução da perda de carga podem
representar um potencial significativo de redução no consumo energético (MME 2011). Em
sistemas de abastecimento de água, geralmente são consideradas somente as perdas de carga
lineares, uma vez que as perdas de carga singulares são relativamente pequenas e podem ser
desprezadas quando, em média, existe um comprimento de 1000 diâmetros entre duas
singularidades (Streeter e Wylie 1982).
No entanto, algumas singularidades podem representar um valor de perda de carga que não
pode ser desprezado, como no caso das válvulas reguladoras de vazão. É bastante comum a
regulagem da vazão através de registros, pois é uma maneira simples de fazer a bomba operar em
qualquer dos pontos de sua curva característica compreendidos entre a vazão nula e aquela
correspondente ao registro totalmente aberto (Gomes et al 2009). O uso da válvula para regulagem
da vazão, pela forma como atua, traz o aumento da perda de carga inerente ao seu fechamento e,
consequentemente, aumento do consumo de energia elétrica no acionamento do conjunto motor-
bomba (ELETROBRÁS 2009).
A regulagem de vazão através de registros é utilizada quando é necessária a variação da vazão
ao longo do tempo. Por exemplo, sistemas com bombeamento direto na rede e sem reservatório ou
sistemas com distribuição em marcha e reservatório a jusante. Uma alternativa à regulagem de
vazão por válvulas é o uso de conversores de frequência para variação da rotação do motor de
acionamento da bomba (Tsutiya 2006). O conversor de frequência permite variar a velocidade do
motor em função da variação da frequência (Tonial 2014) da tensão de alimentação e sua aplicação
para modulação da carga proporciona economia de energia, visto que reduzindo a frequência reduz-
se a velocidade angular e, consequentemente, a potência demandada.
Os dois métodos citados de variação de vazão provocam alterações distintas no ponto de
trabalho do sistema. O fechamento do registro de vazão modifica a curva do sistema (Çengel et al
ANÁLISE EXPERIMENTAL
Apresentação do Laboratório
O Laboratório de Eficiência Energética e Hidráulica em Saneamento (LENHS) integra o
Laboratório de Obras Hidráulicas (LOH), localizado no Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O LENHS foi construído através de
cooperação Técnico-Financeira entre as Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás, a
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (FAURGS).
O LENHS-IPH conta com uma bancada fixa (Figura 2) onde estão instalados equipamentos
que podem ser utilizados no setor de saneamento, como medidores de vazão eletromagnéticos,
válvulas com acionamento elétrico e eletro-pneumático, medidores de vazão intrusivo tipo turbina,
medidores de nível, medidores de pressão, entre outros. Através da bancada fixa são realizadas
simulações de redes hidráulicas, análise da eficiência de equipamentos e dimensionamentos
econômicos e hidráulicos de redes de abastecimento de água. Os equipamentos de medição são
controlados por sistemas integrados de automação capazes de controlar a execução, coleta de dados
e a emissão de relatórios relativos às grandezas elétricas, mecânicas e hidráulicas envolvidas nos
ensaios em modelo experimental para simulação operacional de sistemas de abastecimento de água.
A interface de comunicação foi desenvolvida com a ferramenta E3 da empresa Elipse Software e
permite a monitoração de toda a planta do laboratório, de onde pode-se visualizar todos os
instrumentos eletrônicos de medição e operar todos os instrumentos de controle. Em seguida será
mostrada a tela de vista geral do sistema.
Demanda horária
140
120
100
Vazão [m³/h]
80
60
40
20
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
hora do dia [h]
Gráfico 1 - curva de vazão de consumo horária
A bancada fixa do laboratório não suporta vazões da magnitude de um sistema real de
abastecimento de água. Portanto, a variação diária de consumo foi tomada em porcentagem em
relação ao valor máximo. Dessa forma, a vazão máxima da curva real foi relacionada à vazão
máxima atingida pelo laboratório, assim como as outras vazões horárias. A Tabela 1 apresenta os
valores da curva real, as respectivas porcentagens e as vazões utilizadas no laboratório em relação
às horas do dia. Tendo estabelecida a curva de consumo teórica, foram realizados os ensaios
utilizando-se os dois métodos citados anteriormente para controle da vazão.
A Figura 3 mostra a tela de vista geral do sistema, que é um esquema da bancada fixa. O
reservatório à direita é o reservatório inferior, e o reservatório à esquerda é o elevado. À esquerda
do primeiro reservatório, ficam as três bombas. A tubulação em cor cinza indica a malha de
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Gráfico 2 indica o consumo de energia para o ensaio 1(válvula reguladora) e para o ensaio
2 (variação da rotação) de acordo com a vazão. Observa-se que o ensaio 2 apresenta menor
consumo de energia em relação ao ensaio 1, com exceção do ponto de vazão máxima, onde os
consumos de energia se igualam. Para entrega da vazão máxima, é necessário que o registro esteja
totalmente aberto e a bomba esteja trabalhando com máxima rotação, configurando as mesmas
condições nos dois ensaios.
Energia Consumida
8
7 ensaio 1 -
6 rotação 100%
E [Kwh]
5 ensaio 2 -
4 rotação variável
3
2
1
0
0 100 200
300 400 500 600
Vazão [L/min]
Gráfico 2 - consumo de energia para o ensaio 1(válvula reguladora) e para o ensaio 2 (variação da rotação)
O Gráfico 3 abaixo apresenta a energia consumida em relação à hora do dia em cada ensaio.
Novamente, pode-se perceber que o ensaio 2 tem menor consumo de energia. Apresentando o
consumo de energia em relação ao horário, observa-se mais uma vantagem da proposta contida no
ensaio 2: menor consumo de energia durante o horário de ponta do consumo de energia elétrica.
Energia consumida
8
7
6
E [kWh]
5
4
3 ensaio 1 - rotação
2 100%
1 ensaio 2 - rotação
variável
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
hora do dia [h]
Gráfico 3 - energia consumida em relação à hora do dia em cada ensaio
Potência Mecânica
2000 ensaio 2 - rotação
variável
1500 Potência Hidráulica
ensaio 1 - rotação
1000 100%
500 Potência Hidráulica
ensaio 2 - rotação
0 variável
0 400 200600
Vazão [L/min]
Gráfico 4 - comparações das potências ativas do motor e das potências hidráulicas da bomba nos ensaios 1 e 2
Quanto aos rendimentos, os resultados também apresentaram-se conforme o esperado. O
Gráfico 5 mostra os rendimentos do motor e da bomba para cada ensaio. O ensaio 1 apresentou
rendimentos mais altos para ambos motor e bomba. Porém, mesmo com rendimentos mais altos, o
consumo energético foi superior, conforme visto anteriormente no Gráfico 2.
Rendimentos
85
80 bomba -
ensaio 1
Rendimento [%]
75
70 bomba -
65 ensaio 2
60 motor -
55 ensaio 1
50 motor -
45 ensaio 2
40
200 300 400 500 600
Vazão [L/min]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sistemas de saneamento no Brasil encontram-se aquém do necessário em termos de
atendimento à população. Em decorrência disso, ações de eficiência energética são colocadas em
segundo plano por serem ainda consideradas medidas qualitativas, que só devem ser implantadas
depois de atingidas as quantidades necessárias. Existe aí um pensamento ultrapassado, pois sabe-se
que as ações de eficiência energética, quando implantadas no início de um projeto, podem ampliar
seu alcance. A regularização da vazão com o uso de válvulas ainda é uma realidade na maioria dos
sistemas de bombeamento, mesmo sabendo-se que existem outros métodos mais eficientes, como
foi mostrado nesse trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAHIA, S. R. et al.(1998). Eficiência energética nos sistemas de saneamento. IBAM/DUMA Rio
de Janeiro- RJ.
ÇENGEL, Y. A et al. (2007). Mecânica dos Fluidos: fundamentos e aplicações. Mc Graw Hill São
Paulo-SP.
CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S.A. et al (2009). Bombas: guia básico. PROCEL
Indústria Edição Seriada. IEL/NC Brasília-DF.
GOMES, H. P. et al. (2009). Sistemas de Bombeamento Eficiência Energética. Editora
Universitária UFPB João Pessoa- PB.
MAGNIN, G. et al. (2004). Gestão energética municipal – 2 ed., rev. e atual. Por Maia, J. P. e
Maia, A. C. B.. ELETROBRÁS / IBAM Rio de Janeiro- RJ.
MINISTÉRIO DAS CIDADES (2013). Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento:
Diagnóstico dos Serviços de água e esgoto. Brasília- DF.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. (2011). Plano Nacional de Eficiência Energética.
Premissas e Diretrizes Básicas.
STREETER, V. L.; WYLIE, E.B. (1982). Mecânica dos Fluidos. McGraw-Hill do Brasil São
Paulo- SP
TONIAL, F. (2014). Eficiência Energética de Estações de Bombeamento: Estudo de Caso do
Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre- RS.
TSUTIYA, M. T. (2006). Abastecimento de Água. Departamento de Engenharia Hidráulica e
Sanitária da Escola Politécnica de São Paulo. São Paulo-SP.