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COM • REVISTA DE AUDIO, CINEMA EM CASA E NOVAS TECNOLOGIAS

Ainda nesta edição: Transrotor Phono II


NAD C388 • Trigon Trinity • MAS Tokyo/Duo
Accuphase DP-560 • T+A PA 2500 R
Furutech The Roxy-E

AUDIOSHOW 2018
CONVITE NO INTERIOR
DA REVISTA

HEGEL H190

GOLDENEAR TRITON

WILSON AUDIO ALEXIA 2

Três grandes
produtos
para ouvir no
Audioshow
00269 N.º269
ANO 29 • BIMESTRAL • 4.00 €
MARÇO/ABRIL 2018
WWW.AUDIOPT.COM
5 607853 027434
editorial/269
www.audiopt.com
REVISTA DE ÁUDIO E CINEMA EM CASA
N.° 269 | Ano 29 |
Março / Abril 2018 | 4.00m
DIRECÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE:
R. Prof. Alfredo de Sousa, 7, 5.º Esq.
1600-188 Lisboa
Telef. 213 190 650

Membro do Júri de Áudio e


Cinema em Casa da Associação
Europeia de Revistas de Áudio,
Está aí o Audioshow 2018
P
Imagem e Fotografia.
www.eisa-awards.eu ois é, o tempo voa e já estamos outra vez muito perto da data de mais um
Audioshow. E vai estar uma vez mais cheio de excelentes equipamentos,
grandes sons e, muito mais que isso tudo, de visitantes grandes entusias-
DIRECÇÃO tas dos sons de qualidade. Tendo em conta o que escrevo na reportagem sobre o
Jorge Gonçalves
CES 2018 (página 44), como se explica que o Audioshow continue a ter o suces-
TELEFONE so que tem e a garantir o apreço de tantos e tantos, incluindo muitos visitantes
213 190 650 estrangeiros (este ano até vamos ter um excursão organizada a partir do Brasil!)?
COLABORADORES Pois não é seguramente só um factor, muitos contam para tal, embora talvez se
Carlos Ribeiro, Vasco Félix, Holbein Menezes, possam elencar dois ou três como os mais relevantes, sem qualquer tentativa de
João Zeferino, António Bento, Rui Nicola,
Manuel Bernardes, Honorato Pimentel, definir uma ordem de prioritização entre eles.
Pedro Freitas, Daniel Santos, Leonel Marques Começa tudo seguramente pelo local do evento, e aí penso que ter encontra-
e Pedro Flores do o hotel Pestana Palace foi providencial – não é fácil descobrir em Lisboa um
Proibida a reprodução, mesmo que parcial, de qualquer artigo ou ilustração publicados na Audio sem o consentimento prévio, por escrito, dos seus editores.

REVISÃO espaço físico com a majestade e imponência deste verdadeiro palácio, nem com
Manuel Coelho tantos espaços disponíveis. Continuamos então com o modo como os nossos pro-
PAGINAÇÃO E ARTE FINAL fissionais se esforçam por obter o melhor som possível dentro do espaço em que
Cecília Matos, www.cecilia-designs.com estão instalados e decorá-lo com bom gosto. Nisto os portugueses são insuperá-
IMPRESSÃO veis, e posso atestá-lo pois já visitei uma boa quantidade de exposições espalha-
LISGRÁFICA das por todo o mundo. Mas claro que tudo isto não faria muito sentido se não
Rua Consiglieri Pedroso, nº90, tivéssemos a presença de tantos e tantos entusiastas apreciadores da boa músi-
Cª. de Sª. Leopoldina ca que colocam constantemente desafios aos expositores. De facto, como em tu-
2730-053 BARCARENA
do na vida, se a fasquia não for colocada suficientemente alta, a qualidade não
Audio e Cinema em Casa é uma publicação atinge níveis superlativos, ou seja, sabendo que em frente aos seus equipamen-
bimestral da editora Cadernos do Som, Lda, tos vão estar muitos ouvintes exigentes e conhecedores, claro que quem prepara
e é distribuída para venda ao público durante os sistemas de áudio se esforça o mais possível para atingir as suas elevadas ex-
a primeira semana do mês indicado na capa
como mês de publicação. pectativas. Significa isto que, ano após ano, todos pedem mais e melhor do Au-
dioshow, e tenho que reconhecer que as expectativas não têm saído defraudadas
CONSULTAS
Devido à especificidade da maioria das pois a qualidade média das apresentações tem subido paulatinamente, sendo di-
questões apresentadas e à objectividade fícil mencionar um espaço onde se possa dizer que o som não tinha qualidade
inerente às respostas, lamentamos informar suficiente.
os nossos leitores de que não nos é possível A conclusão a tirar é que, se bem que os tempos mudem e isso tenha fei-
responder a consultas.
to com que alguns dos shows organizados a nível mundial tenham perdido elã,
TIRAGEM 10 000 exemplares a qualidade acaba por se destacar e garantir que outros os substituam, tal como
PREÇO DE CAPA 4,00m aconteceu com o CES em relação ao áudio de qualidade, que morreu, sendo subs-
DEPÓSITO LEGAL N.° 27134/89 tituído por outro «rei», o High-End Show de Munique. Já tenho viagem marcada
REGISTO N.° 113788 ERC para ele porque seria um crime não estar presente, mas entretanto todas as ener-
DISTRIBUIÇÃO gias estão concentradas em fazer com que o Audioshow continue a brilhar em to-
VASP da a Europa como um dos melhores shows que se realizam neste continente. Os
Quinta do Grajal - Venda Seca maiores responsáveis por esse reconhecimento são os que o visitam, por isso aqui
2739-511 Agualva Cacém fica o meu convite/intimação para que não percam o Audioshow 2018 por coisa
Telef.: 214 337 000
nenhuma. Sons e equipamentos como os que lá vão estar especialmente para si
EDITOR / PROPRIEDADE estão muito poucas vezes juntos em qualquer parte do mundo. Aproveite o con-
Cadernos do Som Publicações, Lda. vite que íncluímos nesta edição da Audio & Cinema em Casa e passe um fim-de-
R. Prof. Alfredo de Sousa, 7, 5.º Esq
1600-188 Lisboa -semana único num local mágico. Lá nos encontraremos.
Cont. n.°: 502 122 110

Estatuto editorial disponível em:


www.audiopt.com/7/estatuto-editorial.html

4 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269

sumário /269

pág 16 pág 21 pág 29

pág 32 pág 40 pág 44

pág 54 pág 67 pág 73

6_NOVIDADES ANTEVISÃO 50 O Trigon Trinity: uma trindade audiófila


16 As grandes novidades do Audioshow (amplificador, leitor de CD’s e streamer)
TechDAS AirForce One Premium ■ Pro-Ject num só equipamento
Juke Box E ■ Rádios Revival da Roberts ■ 2018
54 Accuphase DP-560 – uma união para
Edição limitada do 80.º Aniversário da STAX a vida
■ Metronome Tecnologie Le Player 2S ■
SALA DE AUDIÇÃO
38 As variáveis 60 Há sempre um MAS: os novos
Gravações de qualidade profissional com a auscultadores “no-ouvido” Master Art
nova Canon Legria HF G26 ■ dCS Rossini of Sound e a ubiquidade da música
já reproduz ficheiros MQA ■ NAD C 328
AUDIÇÃO PRÉVIA no nosso tempo
e C 558 ■ Nova linha Monitor da Monitor 40 Wilson Audio Alexia 2, encantadoras
67 T+A PA 2500 R – precisão funcional
como Circe
Audio ■ PS Audio introduz gama Stellar e e sónica
BHK Signature ■ Auscultadores Focal Clear ■ 70 Furutech The Roxy – uma ligação
MÚSICA ERUDITA
Amplificador integrado Micromega M-One ■ de qualidade
58 Música erudita em Portugal e Brasil
Auriculares Bose QuietControl 30 ■ Projector
premiado LG 4K UHD em estreia no CES REPORTAGEM
TESTES
2018 ■ IOTAVX distribuída pela Ultimate 44 CES 2018 o adeus a Las Vegas por parte
21 GoldenEar Triton Reference do high-end?
Audio Elite na Península Ibérica ■ Jadis JA80
– as mensageiras do deus Tritão
MkII ■ IFi Audio Nano iDSD Black 62 AudioVideoShow de Varsóvia, válvulas,
27 Uma quimera do nosso tempo: o analógico e muito mais – 2.ª Parte
amplificador/DAC digital híbrido NAD
15_NOTICIAS BREVES C388
DISCOPATIA
29 Transrotor Phono II
73 A saga de War on Drugs
32 Hegel H190, a energia de Thor dentro
de uma luva de veludo

Audio & Cinema em Casa 5


novidades DESTAQUES
TechDAS AirForce One Premium
O AirForce One Premium é o novo gira-dis-
cos topo-de-gama da TechDAS. Resulta de
um conjunto de melhorias introduzidas
no AirForce One, nomeadamente ao nível
da suspensão a ar, que disponibiliza ago-
ra uma monitorização contínua do nível da
suspensão através de um LED multicor que
sinaliza quando é necessário reabastecer a
carga de ar. A bomba de ar recebeu igual-
mente um novo motor que desliga auto-
maticamente sempre que se atinge o ní-
vel de carga óptimo. O condensador de ar
tem também uma maior capacidade, o
prato pode ser opcionalmente em titânio
ou alumínio, a estética global foi refinada
e o veio central para o disco tem um for-
mato em cone para compensar a leitura
de discos com centragem não optimizada.

Representante: Imacustica
Tel.: 225 194 180 / 218 408 374
www.imacustica.pt

Storm Audio apresenta novo


processador AV no ISE O IS 3D.20 Elite é o mais recente proces-
sador AV da Storm Audio, tendo sido apre-
sentado ao público pela primeira vez no
último ISE em Amesterdão. Está equipado
com 16 saídas por XLR e quatro outras de
alta qualidade para áudio puro. Os forma-
tos surround descodificados incluem Auro-
-3D, Dolby Atmos e DTS:X. A partir de Fe-
vereiro está a ser igualmente fornecido
juntamente com cada processador um ou-
tro módulo que inclui um microfone USB
com suporte, adaptadores RJ45 para USB e
5 metros de cabo USB para monitorização
remota e análise em tempo real da res-
posta das colunas, nomeadamente através
Representante: B&W Group Spain da calibração Dirac Live. Toda a gama de
processadores da Storm Audio será equi-
Tel.: 963 912 666
pada com a capacidade de processamento
www.bowerswilkins.es nativo do formato de 9.1.6 canais.

Pro-Ject Juke Box E


O Juke Box e é a última proposta da Pro-
-Ject em termos de gira-discos e tem a
grande originalidade de formar uma pro-
posta «tudo-em-um» a que basta juntar
um par de colunas para se ter um sistema
de áudio completo. Dentro da caixa do gi-
ra-discos, o qual está equipado com uma
cabeça Ortofon OM5e, podemos encontrar
um receptor Bluetooth para emparelhar
com um equipamento móvel, um pré-am-
plificador com entrada externa de linha e
um amplificador de potência que debita Representante: Supportview
2 × 50 W sobre 4 Ohm. Um completo mos- Tel.: 218 686 101/2
trador e um controlo remoto completam
www.supportview.pt
esta interessante proposta.

6 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269

Rádios Revival da Roberts gados directamente à corrente ou alimen-


tados por uma bateria interna. O Revival
iStream2 acrescenta funcionalidades de
rádio inteligente do século XXI ao design
retro dos anos 50. Oferece conectivida-
de sem fios integrada e acesso ao Spotify
Connect, e suporta reprodução de música
via USB. O Revival RD70, agora com supor-
te para Bluetooth, pode ser utilizado co-
mo coluna, reproduzindo música a par-
tir de um smartphone. O Revival Uno tem
dois alarmes para dias de semana e fins-
-de-semana, e é também o rádio de mesa
de cabeceira ideal para aqueles que que-
rem adicionar um toque de estilo ao quar-
Combinando a estética dos anos 50 com Para começar, cada um dos seus compo- to. Ainda mais compacto do que o Revival
as mais recentes inovações técnicas, a sé- nentes, desde a antena até ao altifalante, Uno, o Mini é igualmente adequado para a
rie Revival da Roberts representa o melhor foi escolhido criteriosamente para garantir mesa de cabeceira e para a cozinha.
do estilo retro sem qualquer compromisso. a melhor qualidade de som possível. De-
Esta série inclui quatro rádios diferentes, pois, todos eles estão equipados com um
cada um com os seus pontos fortes: Revi- sintonizador FM/DAB/DAB+ e duas toma- Representante: Supportview
val iStream2, Revival RD70, Revival Uno e das de 3,5 mm, uma auxiliar de entrada e Tel.: 218 686 101/2
Revival Mini. No entanto, todos estes mo- uma de saída para auriculares. Finalmen-
www.supportview.pt
delos partilham alguns aspectos entre si. te, todos os rádios Revival podem ser li-

Edição limitada do 80.º Aniversário da STAX


A STAX, a marca de auscultadores electros- – O SRM-353XBK possui um acabamento
táticos mais conhecida e antiga no mun- em preto na frente e no topo, acabamento
do, lançou dois produtos para comemorar esse que não estava disponível até ao mo-
o 80º aniversario da marca. Os mode- mento no modelo standard. E também
los de edição limitada são os auscultado- exibem o logo STAX em dourado. Além
res SR-L300 Limited e o amplificador SR- disso, incluem ainda os mesmos ca-
M-353XBK. bos de interligação RCA em cobre
As características especiais destes equipa- OFC que são fornecidos com os
mentos são: modelos SRM-006tII e supe-
– Os SR-L300 vêm equipados com a es- riores.
trutura de eléctrodos “MLER” (Multi layer Esta edição especial de
electrode), um exclusivo da STAX e a mes- aniversário está limita-
ma que equipa o modelo SR-L700. As al- da a 800 exemplares.
mofadas são as mesmas que equipam os
SR-L500. E incluem o logótipo STAX em Representante: Exaudio
dourado, um elemento comemorativo da Tel.: 214 649 110
ocasião.
www.exaudio.net

Metronome Tecnologie Le Player 2S

O leitor de CD’s Metronome Electronique Le


Player 2 é já de si um excelente reprodu-
tor, equipado com uma gaveta de leitura
Philips GF8 modificada pela marca. Acei-
ta sinais digitais externos com resoluções
até 24 bit / 192 kHz, quer através de uma
ligação coaxial S/PDIF, quer recorrendo à
entrada USB assíncrona do tipo  B. A ver-
são 2S tem como grande novidade o facto Representante: Imacustica
de incluir circuitos digitais autónomos para
Tel.: 225 194 180 / 218 408 374
a reprodução de ficheiros DSD com resolu-
ções até DSD256, bem como tem um aca- www.imacustica.pt
bamento de nível premium para a caixa.

Audio & Cinema em Casa 7


novidades DESTAQUES

Gravações de qualidade profissional com a nova


Canon Legria HF G26
A Canon Europa anunciou recentemente o
lançamento da nova câmara de vídeo com
resolução Full HD, a Legria HF G26, a qual
vem dar reposta às necessidades criativas
dos entusiastas de vídeo. A nova câmara
compacta e portátil leva a gravação de fil-
mes para o próximo nível, graças à objecti-
va grande-angular de 28,8 mm com zoom
óptico de 20×, ao desempenho em baixa
luminosidade e ao diafragma circular de
oito lâminas, que cria efeitos bokeh circu-
lares perfeitos. Entusiastas e cineastas po-
dem criar filmagens Full  HD 50p extraor-
dinárias para todos os propósitos criativos
com esta simples, mas poderosa, Legria HF
G26.
O estabilizador de imagem inteligente graças ao Powered IS. Para suportar a ni- Representante: Canon Portugal, SA
(IS) compensa os movimentos da câma- tidez Full HD, a Legria HF G26 incorpora a
ra em cinco eixos, fundamental para fil- função Instant Autofocus para uma identi- Tel.: 214 704 000
magens estáveis e fluidas em movimen- ficação rápida e precisa da posição e dis- www.canon.pt
to mesmo na focal mais longa do zoom, tância do motivo.

dCS Rossini já reproduz ficheiros MQA

A dCS tem vindo a trabalhar em colabo-


ração directa com a MQA, desde há al-
guns tempos uma empresa independen-
te da Meridian, e os primeiros resultados
estão patentes no recente lançamento de
uma actualização para o Rossini Player e
o Rossini DAC, que permite a reprodução
de ficheiros codificados em MQA. A actua-
lização está disponível online e muito em Representante: Imacustica
breve deverão seguir-se implementações Tel.: 225 194 180 / 218 408 374
semelhantes para os Vivaldi One, Network
Bridge, Vivaldi DAC e Upsampler. www.imacustica.pt

NAD C 328 e C 558

O amplificador integrado C 328 concen- entrada phono MM, outra de linha e ainda
tra um vasto conjunto de potencialidades duas digitais – uma coaxial e outra óptica.
num design minimalista. As tecnologias Quase ao mesmo tempo que teve lugar
digitais estão presentes a nível da fonte o lançamento do C 328 a NAD apresen-
de alimentação comutada e da utilização tou o gira-discos C 558, com tracção por
dos módulos Hypex UcD de classe D no an- correia, comutação de velocidade para 33
dar de saída, os quais permitem que ele e 45 rpm e excelente isolamento de ruí-
possa debitar um máximo de 50 W por ca- do. Vem preequipado com um braço de 9 Representante: Esotérico
nal sobre 8 ohm. O suporte Bluetooth inte- polegadas e com a cabeça Ortofon OM10, Tel.: 219 839 550
grado possibilita a ligação sem fios a qual- bem como dispõe de origem de uma tam-
quer dispositivo móvel e existe ainda uma pa em acrílico. www.esoterico.pt

8 Audio & Cinema em Casa


novidades DESTAQUES

Nova linha A nova linha Monitor combina de uma ma-


neira inovadora o tweeter C-CAM de cú-
Monitor pula de alumínio e magnésio com re-
vestimento de cerâmica e os altifalantes
da Monitor utilizados na série Bronze, para dar ori-
gem a uma interessante proposta de pre-
Audio ço bem abordável. A linha Monitor é cons-
tituída por seis modelos diferentes, desde
as colunas de suporte/prateleira Monitor
50 e Monitor 100, aos modelos de chão
Monitor 200 e 300, ao canal central C150
e ao subwoofer MRW-10. Os acabamentos
podem ser em branco, negro ou mogno.

Representante: Delaudio
Tel.: 218 436 410
www.delaudio.pt

PS Audio introduz gama Stellar e BHK Signature

Conhecida desde há muito pelos seus con-


dicionadores de sector, a PS Audio nunca
deixou de investir na electrónica digital
e de amplificação e lançou recentemente
três amplificadores de potência; o mono-
bloco Stellar M700, o modelo estéreo BHK
Signature 250, e ainda outro monobloco,
o BHK Signature 300. O Stellar M700 es-
tá especificado para 350  W sobre 8  Ohm
e 700 W sobre 4 Ohm e alia um andar de
saída em classe  D ao circuito de entrada
Analog Cell, o qual utiliza MOSFET’s como
elementos activos. Já os BHK Signature são
o resultado de vários anos de trabalho do sobre 8  Ohm (passa de 250  W a 8  Ohm Representante: Imacustica
grande designer Bascom H. King e combi- para 500 W a 4 Ohm), enquanto o mono-
nam um andar de entrada a válvulas com bloco BHK 300, com uma topologia idênti- Tel.: 225 194 180 / 218 408 374
um secção de potência a MOSFET’s, dupli- ca, já consegue ir desde os 300 W a 8 Ohm www.imacustica.pt
cando o BHK 250 a sua potência de saída até aos 1000 W sobre 4 Ohm.

Auscultadores
Focal Clear Representante: Esotérico
Tel.: 219 839 550
Os Clear são a mais recente evolução da www.esoterico.pt
tecnologia de auscultadores de traseira
aberta da Focal. O elemento activo con-
siste numa cúpula de alumínio e magné-
sio com o formato “M”, desenvolvido pe-
la marca, e tem uma nova bobina em fio
de cobre. As almofadas para as orelhas são
em microfibra perfurada e possuem me-
mória para variações de formas até 20
mm. O valor de impedância (55 ohm) está
perfeitamente adequado para os leitores
digitais portáteis e são fornecidos três ca-
bos com terminações diferentes para uma
maior compatibilidade em termos de co-
nexão: XLR com 4 pinos, jack estéreo de
6,35 mm e jack estéreo de 3,5 mm.

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Amplificador integrado Micromega M-One

AirPlay, Bluetooth aptX, LAN-Network 24


bit  / 384  kHz assíncrono, SPDIF coaxial  /
óptica / AES 24 bit / 768 kHz USB assín-
crono, passando de DXD, DSD, DOP, e mui-
to mais. Tem uma entrada phono MM/
MC, entradas analógicas balanceadas e
não balanceadas e integra ainda um pro-
cessador DSP para correcção automática
da reprodução na sala (M.A.R.S.). A saí-
da de auscultadores incorpora a tecnolo-
gia Binaural, que melhora a performance,
ao fazer esquecer a habitual sensação de
excessiva proximidade da música em rela-
Representante: Imacustica O Micromega M-One é um amplificador in- ção aos ouvidos. Está disponível nas ver-
Tel.: 225 194 180 / 218 408 374 tegrado pleno de capacidades: aceita to- sões M-One 100 (100  W por canal sobre
do o tipo de conexões e tecnologias mais 8 Ohm) e M-One 150 (150 W por canal so-
www.imacustica.pt
recentes para a reprodução de música – bre 8 Ohm).

Auriculares Bose QuietControl 30


Com emparelhamento Bluetooth até 10 no módulo, os auscultadores são passíveis
metros e compatibilidade com NFC, os de ser usados em qualquer circunstância
QC30 adaptam-se facilmente ao seu smar- sem ter de recorrer ao seu dispositivo mó-
tphone, tablet ou portátil para uma liga- vel. A alça inclui também uma entrada mi-
ção sem fios. O sistema de microfone du- croUSB para carregar os QC30, os quais po-
plo afasta barulho indesejado durante dem funcionar por até 10 horas depois de
chamadas de voz, e melhora a interac- uma carga total de 3 horas.
ção com assistentes pessoais como a Si- Todos os detalhes dos QC30 foram desen-
ri. Com uma cómoda e transportável alça volvidos para permitir um controlo total e
de pescoço, e opções de volume, reprodu- activo sobre o que ouve, a começar pelos
ção/pausa, e receber/terminar chamadas seis microfones de precisão integrados pa-
ra medir, comparar e reagir continuamen-
te ao ruído. As pontas StayHear dos QC30
Representante: António Barbosa e Castro também proporcionam um bloqueio sua-
Tel.: 229 419 248 ve e passivo de ruído, e eliminam a pres-
são e o incómodo normalmente associado
www.abc.pt/bose
a pontas de auriculares tradicionais.

Projector premiado LG 4K UHD


em estreia no CES 2018
O HU80K foi o primeiro projector 4K UHD a
ser vencedor do prémio CES Best of Inno-
vation, pelo detalhe na reprodução e pe-
la completa experiência de cinema em ca-
sa num pacote compacto e de magnífico
design.
Tradicionalmente, os projectores que su-
portam imagens 4K tendem a ser pesa-
dos, caros e difíceis de instalar. Os enge-
nheiros e designers da LG abraçaram o
desafio de reduzir o tamanho sem sacrifi-
car a qualidade da imagem e conceberam
um dispositivo premium com metade do
tamanho dos seus concorrentes 4K, sem
compromissos na qualidade de imagem e imagem 4K e tamanho portátil, o que sig- Representante: LG Portugal
a um preço abordável. O LG HU80K garan- nifica que o ambiente de cinema em ca- Tel.: 808 785 454
te uma grande experiência cinematográ- sa pode ser criado em qualquer divisão, a
fica, graças à sua excelente qualidade de qualquer hora. www.lg.com/pt

Audio & Cinema em Casa 11


novidades DESTAQUES
IOTAVX distribuída pela Ultimate Audio Elite
na Península Ibérica
A IOTAVX é um fabricante britânico espe-
cializado em equipamentos AV e de cuja
gama de produtos se destacam o proces-
sador AVX1 e um amplificador AV de se-
te canais, o AVXP1. O AVX1 comuta vídeo
com resolução 4K, sendo compatível com
HDR, e descodifica todos os formatos ac-
tuais de 5.1 e 7.1 canais. A tecnologia EQ-
Flex possibilita uma rápida e eficiente cali-
bração do sistema AV e o módulo opcional
para Bluetooth permite a ligação directa a
um telemóvel ou tablet. Já o AVXP1 inte-
gra numa caixa compacta sete canais de
amplificação a funcionar em classe  AB e
que podem debitar até 150  W por canal
sobre uma carga de 8 Ohm. Com dois ca-
nais activados a potência passa a 250  W Representante: Ultimate Audio Elite
por canal a 4 Ohm e com todos os canais Tel.: 217 602 028 / 968 599 369
em carga podemos ter 7  × 110  W sobre
8 Ohm. www.ultimate-audio.eu

Jadis JA80 MkII


O JA80 é o amplificador mais icónico da Ja-
dis, tendo sido sujeito a diversas modifica-
ções ao longo dos seus quase 35 anos de
existência. A versão MkII possibilita ago-
ra a utilização de válvulas KT150 na saída,
para uma potência disponível que pode ir
até 90 W por monobloco. Todas as restan-
tes excelentes características são manti-
das, nomeadamente a cablagem ponto a
ponto e a utilização de solda de prata e co-
bre, bem como o facto de o chassis ser de
material não magnético para diminuir as
interferências.

Representante: Imacustica
Tel.: 225 194 180 / 218 408 374
www.imacustica.pt

IFi Audio Nano iDSD Black


Apresentado recentemente á imprensa, o
iDSD Black é um conversor D/A com ampli-
ficação para auscultadores com um eleva-
do nível de potência de saída e alimentado
por bateria, o que aumenta grandemente Representante: Smartaudio
a sua conveniência, já que uma carga com-
pleta dura algo com 10 horas em audição Tel.: 211 944 015
contínua. Lê quase todo o tipo de ficheiros www.smartaudio.pt
digitais, incluindo PCM até32 bit/384 kHz,
DSD até DSD256 e é ainda compatível com zados são de alta qualidade, incluindo-se
o MQA. A selecção entre dois tipos de fil- entre eles resistências MLF, condensadores
tros digitais permite optimizar a escuta ao Panasonic ECPU e condensadores de polí-
gosto do utilizador. Os componentes utili- mero de tântalo.

12 Audio & Cinema em Casa


notícias BREVES

Nova série Spektor, da DALI


A DALI introduziu recentemente a novíssima gama Spektor
formada pelos modelos Spektor 1, Spektor 2, Spektor 6 e Spektor
Vokal, uma linha de colunas acessíveis e que vem preencher um
espaço existente no mercado e destinado a produtos com um
Ultimate Audio passa a representar a Raidho equilíbrio muito bem definido entre uma elevada performance
A Raidho é uma maraca de colunas altamente prestigiada. A sua em áudio e um preço acessível à maioria das bolsas.
origem provém do famoso fabricante de altifalantes dinamarquês Todos os altifalantes de graves e médios incorporam uma sus-
Dantas, o qual resolveu aqui há uns anos começar a produzir as pensão de baixas perdas, cones de fibra de madeira e bobinas de
suas próprias colunas de alta qualidade. A maior originalidade da voz de duas camadas. O tweeter tem uma cúpula de tecido ul-
marca assenta na utilização de altifalantes com o cone revesti- traleve, baseada num material que tem uma densidade de 0,056
do a pó de diamante, um processo de fabricação extraordinaria- mg por milímetro quadrado, metade da densidade dos materiais
mente difícil e oneroso. As actuais topo-de-gama da Raidho são equivalentes utilizados noutros altifalantes de agudos. Ao mes-
as XT-5, as quais possuem uma versão com um fabuloso acaba- mo tempo, a tecnologia de fabricação permite que o tweeter
mento em madeira natural e utilizam altifalantes com cones de funcione sem quebras até frequências bem mais baixas do que
Ceramix em combinação com o igualmente famoso tweeter de é normal, permitindo assim a utilização de um crossover o mais
fita da Raidho. simples possível. Para mais informação contactar: carlosmorei-
Mais informações em: www.ultimate-audio.eu ra@myhifihouse.com.

Ésistemas passa a distribuir QNAP lança o Cinema28


a Crestron em Portugal O Cinema28, lançado recentemente pela QNAP, é uma aplicação
A Ésistemas, empresa distribuidora de equipamentos AV, acaba multimédia e multizona que permite, através de uma única in-
de tornar pública uma das suas parcerias mais vantajosas, tendo terface, gerir a reprodução de conteúdos multimédia, fazer strea-
como parceiro de negócio a Crestron. ming e muito mais.
A trilhar um percurso coeso na área de inovação tecnológica des- A nova App Cinema28 integra as funcionalidades de streaming
de 1971, a Crestron é uma marca norte-americana que se dedica já existentes em aplicações da QNAP (incluindo a Photo Station,
ao desenvolvimento de soluções de automação que transformam a Video Station e a Music Station) numa única App, tornando as-
a vida das pessoas, facilitando diariamente as suas tarefas e me- sim possível gerir centralmente todos os ficheiros multimédia nos
lhorando a sua produtividade. seus NAS e dispositivos de armazenamento interligados. Onde
A procura incessante por soluções mais rápidas, inteligentes e que quer que estejam os dispositivos de reprodução (incluindo PC’s,
atendam às necessidades emergentes faz da Crestron uma mar- TV’s inteligentes e dispositivos móveis), os utilizadores podem
ca que apresenta aos clientes e instaladores propostas de gran- simplesmente arrastar e largar ficheiros ou listas de favoritos nos
de versatilidade e completa capacidade de integração das mais dispositivos para reprodução directa.
recentes tecnologias em ambientes domésticos ou profissionais. Mais informações em: https://www.qnap.com/solution/cinema
Contacto: www.esistemas.pt 28/pt-pt/

14 Audio & Cinema em Casa


mbl 101 E
na Ajasom
– um grande som
em toda
a sala
As mbl 101 E MkII são
umas colunas revolucio-
nárias em termos de pro-
duzirem uma radiação
omnidireccional do som,
e causam sensação sem-
pre que são demonstra-
das em qualquer parte do
mundo. A Ajasom trou-
xe até nós um par des-
tas interessantes colunas
e colocou-as em demons-
tração durante alguns
fins-de-semana na me-
lhor sala das suas novas
instalações de demons-
tração.
Tive o privilégio de poder assistir a uma dessas sessões, na qual
me demorei por quase duas horas a ouvir um sistema completo
da mbl, com electrónica da linha Noble, na forma do amplificador
integrado N51, do leitor de CD’s N31 e do amplificador de potên-
cia N21, a municiar as belas Radialstrahler, como a mbl designa a
tecnologia de dispersão radial das 101 E. Os comentários que ou-
via descreviam que quem se sentava naquela sala levava muito
tempo a sair dela (duas horas no caso do nosso colaborador Ma-
nuel Bernardes), e após a minha convivência com as 101 perce-
bi porquê: têm uma escala dinâmica, uma resolução, uma enor-
me grandeza musical, um à-vontade em termos de resolução de
transientes que nos deixam totalmente rendidos, quase embas-
bacados perante uma tal mestria na reprodução de todos os gé-
neros musicais. Se tudo correr bem vamos ter esta combinação
igualmente no Audioshow, pelo que é melhor os leitores interes-
sados começarem já a planear passarem algum tempo na sala da
Ajasom. Olhem que vai valer bem a pena.
Contacto: www.ajasom.net

www.myhifihouse.com
tel. 917 230 062 / 211 326 619
Av. 5 de Outubro 29 / Lisboa
antevisão

As
grandes
novidades
do Audioshow 2018
Jorge Gonçalves vai faltar neste Audioshow 2018, dando Alexia 2, às Raidho (agora sob uma nova
seguramente pano para mangas para distribuição), às mbl 101 E, às Magico M6

A
s estações, para além de parece- intermináveis conversas de corredor e e A3, às Monitor Audio Platinum e muitas
rem misturar-se umas com as ou- para correrias de sala em sala por parte dos mais de que irei tentar falar em seguida.
tras, passam a uma velocidade im- inúmeros entusiastas que não descansam Começando pelas que citei em pri-
pressionante, e é assim que já estamos sem ouvirem tudo o que podem e aferirem meiro lugar, as imponentes Gryphon Kon-
perto daquela que desde há alguns anos das reais potencialidades de cada sistema do irão abrilhantar uma das salas Lusitano
é o que podemos chamar a temporada e equipamento. E é exactamente para das Cavalariças. Graças à amplificação acti-
do Audioshow, ou seja, o meio do mês de isso que o Audioshow tem lugar, por isso va incorporada na torre de graves tornam-
Março. Depois da desilusão que foi o CES comecem a preparar as malas para mais -se relativamente mais fáceis de amplificar
de Las Vegas e antes do habitual sucesso um grande fim-de-semana passado no ou, se quisermos olhar para este tema de
que costuma ser o High-End Show de Mu- Pestana Palace. outra perspectiva, poderão seguramen-
nique, cumpre-nos a obrigação de mostrar E vou começar uma vez mais por fa- te atingir níveis de SPL elevados, embora
aos audiófilos nacionais e ao mundo o que lar nas colunas, onde vai ser difícil esco- sempre com enorme qualidade, suficien-
de melhor existe no Universo em termos lher quais serão as que mais satisfazem os tes para pôr toda a ampla sala a «tocar».
de equipamento de áudio e vídeo de al- gostos individuais, desde as Gryphon Ko- As A3 são as mais recentes colunas da
ta qualidade. E qualidade é coisa que não do, às Sonus faber Aida 2, às Wilson Audio Magico, transportando a elevada qualida-

1 2

16 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269

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1 As Gryphon Kodo vão ser uma das atrac-


ções do Audioshow.
2 As Wilson Audio Alexia 2 vão certamente
garantir as intermináveis filas na entrada da
sala Campolina.
3 A electrónica da PS Audio anda a dar cartas
por todo esse mundo. Aqui temos o conjunto
Stellar.
4 O Centaur II 500 é o mais recente amplifica-
dor da Constellation Audio e debita, como o
nome diz, nada menos de 500 W por canal
sobre 8 Ohm.
5 As mbl 101 E MKII encantam quem as ouve.
6 As Monitor Audio Platinum PL500-II poderão
fazer furor uma vez mais no Audioshow.
7 As Apertura Armonia são umas colunas que
combinam estética e performance de um
modo raro na sua gama de preços.
8 A nova linha 700 S2, da B&W, teve um
5 recepção extraordinária.

de da marca para níveis de preços bem gem espacial diferente de todas as outras
mais abordáveis, embora sem fazer con- e que se pode apreciar de qualquer ponto
cessões em áreas tais como a caixa de alu- de escuta. A electrónica pode assumir di-
mínio reforçada, tweeter de berílio, cones versas formas, mas a linha HD da Nagra é
de nanografeno e ímanes de neodímio. uma hipótese bem como o é a gama Nob-
São um modelo de chão com um crosso- le da própria mbl.
ver de três vias com pendentes de 24 dB/ As Monitor Audio Silver  2 têm sido
oitava. As opções em termos de electróni- muito aclamadas e as 500 são dos melho-
ca são muitas, mas o novo Audio Research res modelos da gama, fazendo uma exce-
VT80SE ou a combinação PS Audio Stellar lente companhia à electrónica da Roksan.
S300  / Gain Cell DAC são uma boa alter- Com sorte teremos talvez a possibilidade
nativa. A fazer furor seguramente, deve- de ouvir uma vez mais as incríveis Plati-
rão estar as mbl 101 E MKII, as colunas de num PL500 II, que tanto furor já causaram
radiação a 360 graus que criam uma ima- no Audioshow e tantas boas impressões 6

7 8

Audio & Cinema em Casa 17


antevisão Audioshow 2018

10

nas com um som muito para além do seu


tamanho e que costumam combinar muito
9 bem com a electrónica da Simaudio.
Em termos de imagem quase de cer-
deixaram em quem teve a fortuna de se to bem com a electrónica da Rega, seja teza que vamos ter a oportunidade de ver
sentar em frente a elas. na forma do amplificador integrado Brio algumas das últimas novidades apresenta-
E teremos igualmente de mencionar seja na do seu «irmão» Elicit. As propos- das no último CES por marcas tais como a
aqui sem qualquer dúvida as B&W 700 S2, tas da Horns e da Diesis têm um poder de LG, a Samsung, a Sony e outras, bem como
as mais recentes colunas da marca britâ- atracção inegável, começando pelo design não faltará o «pão para a boca» que são os
nica e que tanto entusiasmo têm causado invulgar mas nunca esquecendo a qualida- discos, nomeadamente os LP’s de grande
por esse mundo fora. Muito provavelmen- de sonora. Deverão ser combinadas com a qualidade das melhores editoras, presen-
te serão acolitadas pela electrónica da Ro- electrónica digital da Atoll. tes nos sítios do costume: Audio Team no
tel. Grandes, imensas em termos sónicos, A Canton tem investido bastante nas 3.º piso do bloco principal do hotel e Kleifri
são as Wilson Audio Alexia  2, a mais re- suas colunas nos últimos anos e a linha Records nas Cavalariças. Diversos exposito-
cente obra de Daryl Wilson, com supe- Reference K é um bom reflexo de toda es- res irai usar o gira-discos como fonte ana-
riores capacidades de amortecimento e sa dedicação. A electrónica da Cambridge lógica, estando presentes no Audioshow
estrutura de cablagem assente na que foi Audio poderá ser uma excelente compa- propostas a preços que vão desde duas a
desenvolvida para as WAMM Master Chro- nhia para estas belas colunas alemãs. As três centenas de euros até alguns milha-
nosonic. Melhor companhia que o ampli- elegantes Lyngdorf MH-2, já apresentadas res. E, já agora, preparem os olhos e ouvi-
ficador de potência Constellation Audio em 2017, vão este ano marcar presença dos para alguns bons sistemas de cinema
Centaur II 500 será difícil de encontrar. Mas integradas num sistema V de alto calibre em casa, destacando-se de entre eles a
seguramente que terão umas fortes rivais no qual pontua o impressionante proces- combinação do projector VPL-VW760ES, o
nas Sonus faber Aida  2, umas belíssimas sador AV MP-50, igualmente da Lyngdorf. topo-de-gama da Sony, com a linha de co-
colunas em termos sónicos e estéticos e E vai valer bem a pena ver e ouvir as no- lunas GoldenEar Triton. Pessoalmente, vou
que receberam muito recentemente um vas Klipsch Heritage, um design intempo- tentar passar um bom bocado com este úl-
jogo totalmente novo de unidades activas. ral com as mais recentes tecnologias. timo sistema.
A Tannoy relançou recentemente a As Manger são umas colunas de alto No que se refere a acessórios a pa-
sua linha Legacy que tanto sucesso te- gabarito com altifalantes pouco conven- nóplia vai ser uma vez mais bem ampla,
ve nos anos 70, na forma dos modelos cionais produzidos pela própria marca e as mas não deixo de destacar duas propos-
Eaton, Cheviot e Arden. É muito natural S1 concentram de maneira bem óbvia to- tas de alto nível em termos de auscultado-
que possamos escutar estas últimas nu- das essas qualidades. A combinação óbvia res: os STAX SR-007 MkII e os novíssimos
ma excelente sala a fazer jus às suas gran- é a electrónica da Perreaux, mas podere- auriculares topo-de-gama AKG N5005.
des qualidades. As Totem Tribe Power são mos igualmente ouvir as ATC com elec- Vai valer a pena olhar para esta área com
umas colunas pouco convencionais e mui- trónica da marca. A DALI deverá trazer até atenção. E em cabos e acessórios aí não
to elegantes e que costumam soar mui- ao Audioshow as Zensor 1 AX, umas colu- haveria páginas que chegassem para dis-
criminar as diversas propostas, mas as ca-
beças da Hana e os condicionadores da
Isotek merecem uma menção especial, is-

11 12

18 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269

13 14

to para além da verdadeira avalanche de


propostas da Furutech. E, uma vez mais 9 E, continuando a falar em colunas de formas
teremos em Portugal uma ampla repre- pouco convencionais, as cornetas da Horns ga-
sentação de quem é quem no mundo do nham certamente lugar de destaque nesta área.
áudio, tantos nomes que seria fastidiosos 10 A Micromega tem feito uma aposta muito forte
mencioná-los a todos mas convém ir com no seu amplificador M-One, com interessantes
o espírito bem aberto para este tipo de capacidades de streaming.
contactos pois eles são uma oportunidade 11 A linha Tribe, da Totem Acoustics, tem uma ampla
única para se aprender mais sobre o áudio quantidade de propostas para todos os gostos e
de qualidade. preços.
As fotos que se seguem ajudam a per- 12 O Lyngdorf MP-50 é um dos mais completos
ceber um pouco melhor a extrema varie- processadores AV disponíveis no mercado.
dade de produtos e soluções presentes no 13 A Tannoy relançou recentemente a sua linha 15
Audioshow, este ano com três novos es- Legacy e as Eaton vão seguramente fazer furor
paços de grande dimensão no 3.º piso do no Audioshow.
hotel Pestana Palace, o que aumenta de 14 A McIntosh terá uma sala apenas para a marca
modo evidente as possibilidades de assis- e onde brilharão as imponentes colunas XR
T2.1K e os potentes amplificadores monobloco
tirmos a demonstrações de grande calibre.
MC1.25KW.
Guarde já o seu convite, válido para os três
dias, para não perder pitada daquele que 15 Quem não gosta de olhar para umas colunas
com design de há uns tempos? E de ouvi-las,
é um dos melhores shows da Europa. Lá o
equipadas agora com as últimas tecnologias? Vá
esperamos. ouvir as Klipsch Heritage e as questões colocadas
estão imediatamente respondidas.
16 Os auriculares AKG N5005 são uma versão de
alta qualidade e merecem ser ouvidos.
17 As A3 são a proposta da Magico para uma linha
de preços até aqui não abordada pela marca,
embora sem concessões na qualidade.
18 Os altifalantes da Manger distinguem imedia- 16
tamente as suas colunas onde quer que elas
estejam.

17 18

Audio & Cinema em Casa 19


antevisão Audioshow 2018

19

21
20

19 E claro que os gira-discos serão seguramente


uma fonte a ser utilizada por muitos expositores.
O Air Force One, aqui na versão Premium, é dos
melhores gira-discos do mundo e justifica sempre
uma audição.
20 O Isotek Aquarius é uma excelente proposta em
termos de filtragem do sector.
21 A DALI deverá ter no Audioshow a sua linha
Zensor.
22 A LG introduziu uma nova gama de televisores
OLED no último CES e há fundadas esperanças 22
de ter no Audioshow alguns dos primeiros mode-
los disponíveis.
23 A Moon irá regressar ao Audioshow, depois do
sucesso da última presença.
24 O Pro-Ject Juke Box E é uma excelente solução
para os tempos modernos, permitindo, através da
mera adição de um par de colunas, escutar todo
o tipo de fontes, desde os LPs ao streaming por
Bluetooth.
25 Discos de qualidade não vão faltar no Audioshow. 23
26 O Gold Note IS-1000 junta num só equipamento
um amplo conjunto de capacidades: streaming,
prévio com entrada phono MM/MC, andar de
potência com 125 W por canal sobre 8 ohm
(duplicando a 4), entradas digitais, capacidades
de ligação em rede e streaming. Não está mal!

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25 26

20 Audio & Cinema em Casa


teste MAR - ABR 2018 / 269
teste

GoldenEar Triton
Reference
AS MENSAGEIRAS
DO DEUS TRITÃO
Jorge Gonçalves prémios. Falemos então para já em
alguns dos aspectos técnicos que

T
ritão era um deus grego, filho de Po- alicerçam as razões do sucesso da
seidon e Anfitrite, mensageiro dos T Ref, como lhe chama Sandy.
mares e que soprava uma concha
para acalmar ou levantar as ondas. Vere- Descrição técnica
mos mais adiante que estas belas colunas Embora creia que nunca tenha en-
também têm a capacidade de repousar o contrado Sandy Gross durante as
nosso espírito e acalmar os nossos senti- minhas permanentes deambula-
dos. Mas isso será depois, porque para já ções, o acesso a ele, como acontece
vou falar um pouco sobre a génese da Gol- com a grande maioria das grandes
denEar, uma empresa razoavelmente jo- mentes, foi do mais fácil que existe:
vem, que foi fundada em 2010 por San- abordei o serviço de apoio da mar-
dy Gross, em conjunto com a sua mulher ca para clarificar alguns aspectos do
e com Don Givogue. Embora possa não ser design das colunas e quase logo de
muito conhecido na Europa, Sandy é uma seguida recebi um e-mail de Sandy,
personalidade de relevo no mundo do áu- colocando-se à minha disposição
dio dos Estados Unidos, uma vez que foi para me fornecer toda a informa-
co-fundador da Polk Audio e da Definitive ção de que eu pudesse necessitar.
Technology, tendo mesmo assumido nes- E é assim que se pode ter acesso a
ta as posições de responsável pelo desen- informação privilegiada.
volvimento e conceito do produto, vendas Sendo umas torres estetica-
e marketing, e ainda CEO e presidente, es- mente muito bem conseguidas e
tas duas últimas as mesmas posições que elegantes, de tal modo que vis-
ocupa neste momento na GoldenEar. tas de frente quase que desapa-
O conceito fundamental por detrás recem, as Triton Reference não
do aparecimento da GoldenEar resume- deixam de alojar nada menos de
-se em poucas palavras: fabricar as me- dez altifalantes: três subwoofers
lhores colunas que é possível utilizando as elípticos de 6 polegadas por 10 polegadas, Os altifalantes de graves-médios de 6
tecnologias actuais e vendê-las a um pre- quatro radiadores infra-sónicos de 9,5 por polegadas têm um cesto de metal fundi-
ço acessível à maioria dos consumidores. 10,5 polegadas, dois altifalantes circulares do, uma bobina de voz de massa reduzi-
E o sucesso apareceu muito rapidamente, de médios de 6 polegadas e um tweeter da e um cone com uma ligação inovadora,
pois as GoldenEar, nomeadamente as Tri- de fita colocado no meio destes dois. To- igualmente através de um material mui-
ton Reference de que vou fala hoje, já acu- dos estes altifalantes foram desenhados to leve, à membrana de borracha butílica
mularam uma respeitável quantidade de especificamente para as Reference. de suporte, o que lhes confere uma mui-

Audio & Cinema em Casa 21


teste GoldenEar Triton Reference

to melhor resposta a transientes. Adicio-


nalmente, a estrutura magnética tem uma
configuração de campo concentrado. Por
outro lado, os altifalantes elípticos de 6×10
polegadas têm uma área de radiação 40%
maior que os da Triton One e uma estrutu-
ra magnética reforçada. O novo tweeter de
fita «dobrada» tem um conjunto de íma-
nes de neodímio 50% mais potente que a
anterior versão.
Diversos outros melhoramentos fo-
ram introduzidos nas Reference para se
transformarem numas colunas bem mais
evoluídas que as One, das quais derivam:
nova cablagem interna com os conduto-
res enrolados de uma maneira especial,
condensadores de filme plástico na sec-
ção de alta frequência do crossover balan-
ceado, amortecimento elevado através do
recurso a Dacron e lã natural de fibra lon-
ga, recurso a uma placa de aço de 2,5 mm
de epessura na zona da base para refor-
çar a estabilidade, novos spikes e copos de
apoio, e assim por diante.
Mas o aspecto mais inconvencional
das Triton (todas elas) é a utilização de um
processador DSP e amplificação activa pa-
ra as baixas frequências. O DSP tem uma
resolução de 56 bit e a ele segue-se um
amplificador Force Field de 1800 W, mais
que suficientes para alimentar os três alti-
falantes frontais de graves, acoplados aos
quatro radiadores elípticos localizados dois
a dois de cada lado da coluna. Um poten- tellation, por isso foi para aí que avancei o tweeter de fita reproduz um som mui-
ciómetro situado na traseira permite ajus- como sistema principal deste teste, com os to bonito, limpo, extenso e quase espacial,
tar o nível de graves em função da sala Kimber KS-3035 como cabos de coluna e e a dispersão está muito bem controlada,
onde as Reference forem colocadas. tendo o Accuphase DP85 como fonte de si- razão porque a imagem espacial fica am-
Visualmente as colunas seguem o já nal, pontualmente combinado com a fonte pla e luminosa, fazendo-nos esquecer to-
reconhecido estilo das Triton, com uma analógica formada pelo Basis Gold Debut talmente qual é a origem do som.
frente bastante estreita e uma profundi- com braço SME  V Gold e cabeça van den Ao mesmo tempo, a escala dinâmica
dade mais marcada que nas colunas con- Hul Colibri Grasshopper. destas colunas é igualmente grandiosa, al-
vencionais, e o acabamento manual em A definição do melhor posicionamento go bem evidente, por exemplo, no 2.º Con-
lacado de piano confere-lhes sem dúvida para as Reference foi muito fácil de conse- certo para Piano de Camille Saint-Saens. O
um ar bastante distinto. guir, ficando elas com uma pequena incli- primeiro andamento soou forte e intenso,
Em face do recurso ao amplificador nação para dentro e afastadas cerca de 80 quase semelhante ao som emitido por um
activo para os graves, as Reference têm a 90 cm das superfícies laterais. Do mes- órgão, rapidamente passando para uma
uma sensibilidade relativamente elevada mo modo, e uma vez que a minha sala secção de tom bem mais alegre e qua-
(93,25  dB/W/m) para uma impedância dedicada não tem problemas evidentes de se jazzístico. As Reference reproduziram o
nominal de 8 Ohm e uma resposta em fre- graves, não foi nada difícil ajustar o po- piano de maneira soberba, com uma sen-
quência especificada como indo dos 12 Hz tenciómetro de nível de graves, o qual fi- sação quase palpável do toque dos dedos
aos 35 kHz, sem definir a quebra de inten- cou numa posição ligeiramente acima de nas teclas, e a orquestra surge com uma
sidade sonora que ocorre nos extremos de metade, posição essa que me pareceu dar dimensão quase perfeita em termos espa-
frequência. O peso atinge o respeitável va- origem aos melhores resultados com algu- ciais e com um grave imponente, sempre
lor de 49 kg por coluna e a altura uns im- mas das faixas bem conhecidas que servi- muito controlado, ao mesmo tempo que a
ponentes 1,47 metros. ram de bitola de aferição. transparência era de altíssimo nível, mes-
E logo a primeira coisa que tenho que mo até ao nível dos instrumentos situados
Audições dizer é que a afirmação feita pela Golde- na parte mais afastada do palco. As cordas
As Triton Reference entraram na minha sa- nEar na documentação das Reference, e tinham um som ao mesmo tempo quente
la de audição no momento em que o He- que o Jorge Gaspar me tornou a referir e ligeiramente doce, e a fanfarra de me-
gel H190 estava em teste, por isso nada quando as veio trazer cá a casa, é que elas tais de sopro assumiu a grandiosidade ine-
melhor que aproveitar a ocasião para pôr desaparecem quando começam a tocar. Is- rente a uma caçada inglesa.
os dois a funcionar em conjunto, o que to literalmente pois, se quando vistas de Tão agradado fiquei com o comporta-
aconteceu por alguns dias com bastante frente as colunas apresentam quase como mento das Reference que tive imediata-
agrado. Mas claro que a electrónica resi- que uma linha vertical, quando reprodu- mente vontade de ver até que ponto elas
dente assenta no conjunto prévio/amplifi- zem a música quase que se desvanecem, se comportariam com todo este à-vontade
cador de potência Inspiration 1.0 da Cons- mesmo com os olhos abertos. De facto, perante um disco bem exigente em ter-

22 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269

mos dinâmicos, tal com na faixa Drums, cisa, controlada, poderosa e com um for- da música. Mais um grande momento de
de um disco da Bis, com interpretações do te conteúdo dramático, sem nunca entrar audição. Todas as audições, as quais se es-
Kroumata Percussion Ensemble. Esta faixa no excessivo. Com as Reference a orques- tenderam por muitas e muitas horas di-
tem cerca de 15 minutos de duração e co- tra ocupa uma ampla região espacial que vididas pela boa quantidade de dias que
meça com uma variedade de batidas de quase parece não ter limites, fazendo- a Ultimate me concedeu para ter as Re-
percussão que vai de sons de frequência li- -nos vogar ao ritmo das sonoridades ins- ference em casa, permitiram-me concluir
geiramente mais elevada para outros bem trumentais, com um inebriante calor nos que fadiga auditiva é algo que será mui-
profundos, variando igualmente em nível violoncelos e texturas globais que fazem to difícil de ocorrer com elas. Aliás, um dos
sonoro de maneira quase aleatória desde lembrar uma orquestra de câmara. O saxo- meus comentários principais, que segura-
o pianíssimo ao audivelmente bem alto. E fone soprano é admiravelmente tridimen- mente traduz muito do que senti durante
a partir daqui passamos para uma percus- sional e vividamente limpo. Esta foi uma a minha convivência com estas colunas, é
são em uníssono com impulsos ainda mais excelente e revigorante manifestação da que as Trigon Reference têm uma grande
vigorosos, estando as Reference sempre mestria do maestro mas igualmente das facilidade em reproduzir música, quase
com pleno à-vontade, quer com o quase grandes qualidades das Reference. que convidando a ficarmos sentados
inaudível roçar das baquetas na orla dos Mal ficaria se não mencionasse aqui perante elas, apreciando a esplendorosa
tambores quer perante a avalanche quase a audição de um dos meus estilos favori- imagem espacial e a bonita música todo o
explosiva de energia patente quando to- tos de música, o jazz. E recordo então aqui tempo que quisermos.
dos arrancam em conjunto. Esta foi uma a audição da orquestra de Duke Ellington,
daquelas peças que resultou de manei- no disco Digital Duke, muito em especial Conclusão
ra perfeita nas Triton, com todas a varia- a faixa Mood Indigo, onde é demonstra- Como qualquer reprodutor de áudio, é evi-
ções e nuances de nível meticulosamente do um equilíbrio notável entre um naipe dente que as Trigon Reference não serão
reproduzidas e com uma localização ab- de grandes intérpretes, cada um a ten- perfeitas e terão eventualmente alguns
solutamente preci- tar ser o mais «educado» possível com os aspectos assim não tão positivos, mas te-
sa de cada detalhe restantes, de cada vez que executava um nho que reconhecer que não os descobri
de cada instrumen- solo. O piano de Roland Hanna define o rit- ou, pelo menos, não seriam assim tão evi-
to permitindo qua- mo, com o clarinete, de som relativamente dentes. São um grande produto que se ba-
se identificá-los um grave, a conferir uma certa suavidade. Nas te com outros bem acima do seu preço,
a um e definir os di- Reference o som foi reproduzido de ma- entrando sem qualquer complexo na zona
ferentes tamanhos. neira equilibrada e muito natural, cheio de do high-end a preço um pouco mais abor-
Como talvez já detalhe e com uma fase perto do final em dável, e combinaram muito bem com as
tenha escrito nesta que o piano de Hanna assume um ritmo e duas amplificações, Constellation e Hegel,
revista um número virtuosismo ilustrativos das razões porque que lhes disponibilizei. Encantam quem as
razoável de vezes, Ellington ganhou um renome tão grande ouve e têm um design que seguramente
Stokowski, talvez no mundo da música. lhes garante um elevado factor de aceita-
lado a lado com E continuei com um dos grandes clás- ção do outro género – hoje em dia há que
Ricardo Mutti, é um sicos dos blues – Muddy Waters em Folk ter cuidado com as palavras para não se
dos meus maestros Singer. Muddy é realmente alguém que ser acusado de actos discriminatórios em
favoritos. E um dos sabe cantar os blues, implorando, cantan- termos de sexo, por isso prefiro jogar pe-
seus grandes traba- do ou mesmo gritando, fez com que as Re- lo seguro. Experimente uma audição, pois
lhos ocorreu na gra- ference deixassem no ar vibrações a que só assim poderá aferir do meu julgamento,
vação da Sinfonia era muito difícil resistir, muito em espe- mas leve já consigo uma forte recomen-
n.º  6, com a suíte cial com a iluminação relativamente bai- dação.
para ballet A Idade xa. O trabalho na guitarra de Buddy Guy
do Ouro, de Chos- e Muddy foi apresentado de uma manei- Colunas GoldenEar Trigon Reference
takovich, conduzin- ra que não é fácil de esquecer, com as
Preço: 10.450 m
do aquele maestro Reference a desvendarem-me detalhes
a Orquestra Sinfóni- como as nuances tocadas por Muddy na Representante: Ultimate Audio Elite
ca de Chicago. A re- guitarra de um modo rápido e sem es- Telef. 217 602 028
gência de orquestra forço e, mais importante, apresentou-me
de Stokowski é pre- ali na minha frente o verdadeiro espírito http://ultimate-audio.eu

Audio & Cinema em Casa 23


MAR - ABR 2018 / 269
teste

Uma quimera do nosso tempo:


O amplificador/DAC
digital híbrido NAD C388
Quimera: 1. [Mitologia] Ser mito-
lógico geralmente representado tro tem um pequeno mostrador al- o SR 9, com todas as funções necessárias,
com um corpo híbrido entre leão, fanumérico com dígitos de cor azul, e uma App para ser usada com o módulo
cabra e serpente ou dragão. […] o qual exibe a fonte seleccionada, o MDC BluOS 2.
3. Conjunto heterogéneo que re- nível de volume (em dB negativos) A potência especificada é de 150 W ×
e indica se a equalização de graves 2, a 8 ou 4 Ohm (com a distorção THD a ser
sulta da combinação de elementos está ligada ou desligada. O mostra- menor que 0,003% entre 20 Hz e 20 kHz,
diferentes. 4. Esperança irrealizável. dor tem três níveis de brilho e pode para ambos os canais), a relação sinal/
= UTOPIA. ser completamente desligado; o nível ruído é menor que 95  dB (A-weighted,
«quimera», in Dicionário Priberam de decibéis é exibido com um tama- 500 mV na entrada, 1 W de saída a 8 Ω),
com um factor de damping maior que 150
da Língua Portuguesa [em linha]. nho maior por alguns segundos logo
após o C338 ser ligado ou ajustado e (referido a 8  Ω, 20  Hz e 6,5  kHtz), uma
desaparece logo a seguir, mas a fon- frequência de resposta de 20 Hz a 20 kHz
Leonel Garcia Marques te é sempre exibida. A NAD explica a inclu- (±0,03  dB ) e uma separação de canais
são de um equalizador para os graves com maior que 85  dB (1  kHz) ou maior que

N
o mundo do áudio de hoje, en- a expectativa de que o equipamento seja 70 dB (10 kHz).
tramos definitivamente no tempo muitas vezes usado com colunas pequenas O amplificador de potência funciona
das quimeras. Pratos de vinilo que que limitem a extensão de baixos. Daí a em classe D, com a topologia UcD (Univer-
têm conversores A/D e saída USB, leitores inclusão deste filtro EQ centrado em 80 Hz sal Class  D), uma tecnologia específica a
de CD’s que são streamers, streamers que com uns 7 dB extra de reforço. que a NAD chamou Hybrid Digital e que
são network players, network players que O C388 possui múltiplas entradas: duas se baseia na arquitectura dos módulos da
são leitores de CD’s, ou equipamentos que coaxiais e duas ópticas (digitais), duas RCA Hypex. Ser um classe D quer dizer que no
são tudo isso ao mesmo tempo, talvez tra- analógicas, uma de phono (MM), duas en- C388, o sinal de áudio (digital), ao entrar
duzindo a ubiquidade da música e a diver- tradas para IR in/out RS-232 serial ports no circuito, é codificado imediatamente
sidade de formas de a obter, as quimeras para controlo remoto, duas entradas pa- por PWM (modulação de largura de impul-
electrónicas vieram para ficar. ra um trigger de 12  V, uma entrada para so) numa série de impulsos, dispensando
Vem isto a propósito da última quime- antena BT e uma entrada USB para actua- assim a conversão para PCM ou PDM atra-
ra que se aninhou na minha sala, o am- lização. Todas as entradas digitais supor- vés um DAC tradicional, sendo submetido
plificador/DAC digital híbrido NAD C388. tam resoluções até 24 bit / 192 kHz, mas directamente à modulação de potência e
Mais do que um amplificador com um DAC não ficheiros DSD, nem sequer em DoP. Na sendo o sinal convertido em sons audíveis
incorporado, o NAD C388 é um DAC ampli- parte traseira, possui ainda uma ligação de apenas no final do circuito através da pas-
ficado, como veremos adiante. terra, entrada Schuko, botão de ligar/des- sagem por um filtro passa-baixo (elimi-
ligar e saídas para colunas e para subwoo- nando-se simultaneamente as frequências
Descrição fer. O C388 apresenta ainda dois espaços muito altas que contêm ruído digital). Es-
O C388 é um equipamento discreto e ele- para inclusão de módulos MDC para ac- tas são as operações que tornam o C388,
gante, de cor grafite sem brilho e de es- tualização. (Neste momento, existem três em essência, um DAC amplificado, curio-
tética contemporânea, com as dimensões módulos MDC que se podem acrescentar). samente sem a necessidade de incluir um
(L × A × P) 435 × 120 × 390 mm, e peso O equipamento em teste vinha equipado chip DAC dedicado. Os sinais gerados por
de 11,2 kg. No painel frontal encontram- com um desses módulos, o BluOS 2, o qual fontes analógicas (gira-discos, sinal do lei-
-se botões de Power/Standby, de fonte e acrescenta duas entradas USB, uma para tor de CD enviado por entrada RCA ana-
de equalização de graves (Bass EQ), junta- rede LAN Ethernet e mais uma para a an- lógica) são, por sua vez, digitalizados e
mente com um grande botão de volume tena de Bluetooth. enviados para posterior processamento
e uma saída para auscultadores. No cen- O C388 vem com um comando remoto, em DSP.

Audio & Cinema em Casa 27


teste NAD C388

Audição
A audição realizou-se sobretudo com as calor próprio das válvulas nos amplificado- bretudo em clareza e proximidade, com
minhas novas colunas B&W 705S2 e uma res de classe A, mas é um parceiro com- grande realismo e articulação, e sem ex-
fonte da Atoll SACD200, os auscultadores petente, sóbrio e, sobretudo, totalmente cessos de sentimentalismo. Óptima, por-
Hifiman 560, e através da Powerline (pela fiável, para qualquer par de boas colunas. tanto, a reprodução de Natalie Stutzmann
ligação LAN do módulo MDS BluOS 2 e res- Isto aconteceu tanto na reprodução de CD’s (contralto), de Roberta Mameli (soprano),
pectiva App) a um servidor WD My Cloud e SACD’s como para o streaming da música ou as vozes experientes e excelentes con-
EX4100 da Western Digital. armazenada no meu servidor através da tadoras de histórias de Carmen Gomes
Em geral o som do C388 apresenta- App BluOS, que instalei facilmente no meu (em blues), Cecile McLorin Salvant (em ja-
-se completamente musculado mas lim- Ipad e que funcionou muito bem. zz e em peças da Broadway) ou a voz acre
po, sereno mas dinâmico, com os baixos A grande música barroca vive dos con- da eterna diva da folk, Maddy Prior. A úl-
com suficiente articulação para evitar que trastes de timbres e das mudanças bruscas tima gravação de Anne Clark (que hoje se
se tornem intrusivos, e sem vestígios de de tempo. A Paixão e a Oferenda Musical, apelida St. Vincent), cheia da energia rock
projecção excessiva nos médios e agudos, para além da multiplicidade de timbres e a que nos acostumou, também foi presa
mesmo a níveis de volume consideráveis. contrastes, possuem a complexidade ine- fácil para o talento predador do C388, que
Mais concretamente, os baixos são cheios, rente às composições de Bach, a majes- captou a gravação com facilidade, sem
profundos e convenientemente contidos, tade da sua concepção musical. E essas deixar escapar nada do ritmo sincopado,
os médios são equilibrados e musicais e características calham maravilhosamente da acidez das guitarras ou da electrónica
os agudos são vivos, sem qualquer colora- com o C388. A reprodução destas obras foi extraterrestre de St. Vincent.
ção ou brilho, o que permite a ausência de pormenorizada, sem exageros, e correc-
fadiga durante horas seguidas de audição. ta, sem esforço. A prontidão da reprodu- Conclusões
O palco sonoro é bem definido, permitin- ção serviu também ao violino bachiano de O NAD C388 não tem o calor, a delicade-
do a discriminação dos instrumentos e dos Begelman, longe do romantismo mas per- za ou o veludo da grande amplificação
timbres sem qualquer esforço e tornando to do pensamento. a válvulas ou de outras propostas (bem
os solistas presentes e íntimos. Não terá o Com o C388 a voz humana emerge so- mais caras!) de amplificadores de clas-
se  A. O facto de não processar ficheiros
Playlist DSD, nem sequer em DoP, pode tornar-se
um inconveniente para alguns nos tem-
Stephen Cleobury, Academy Bach St. John Passion SACD KGS pos que correm. Mas a sua multifunciona-
of Ancient Music & The lidade, a claridade, a neutralidade, a pre-
Choir of the King’s College sença e a largueza do palco sonoro fazem
Nathalie Stutzmann Quella Flama (Scarlatti, Durante, CD Erato deste excelente amplificador da NAD uma
& Orfeu 55 Handel, etc., Arias) proposta difícil de igualar. Potente e pouco
«esquisito» com as colunas, preparado pa-
Boris Begelman Bach Violin Sonatas & Partitas CD DHM
ra interagir com um servidor local ou para
Maasaki Suzuki & Bach Bach Musikalisches Opfer SACD Bis fazer streaming dos serviços da NET (Qo-
College Japan buz, Tidal, etc.), não esquecendo o pre-
Roberta Mameli & Luca Anime Mia (Monteverdi, Caccini, CD Alpha ço atraente e a arquitectura actualizável,
Pianca Strozzi, etc., Mottetti Solo) o C388 é uma verdadeira quimera do nos-
so tempo, mas esta ao alcance de muitos
Anouar Braham Blue Maqams CD ECM de nós.
Carmen Gomes Sings the Sound Liaison FLAC 24 bit /
Blues 192 kHz download
Native DSD
Amplificador integrado NAD C338
Cecile McLorin Salvant Dreams and Daggers FLAC 24 bit /
192 kHz download Preço 699 m
Blue Coast Mountain Representante Esotérico
Maddy Prior Shortwinger CD Park Records Telef. 219 839 550
St. Vincent Mass Seduction CD Loma Vista www.esoterico.pt

28 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269
teste

Transrotor Phono II
João Zeferino -300+Benz Micro Glider foi ligado ao Trans- direcção, apresentou-se glamorosa na gra-
rotor Phono II e este ao prévio Accuphase vação da EMI. Uma gravação que se pau-

A
Transrotor é uma marca de refe- C-2120 via cabo Madrigal CZ-Gel. Do res- ta por uma atraente suavidade orquestral
rência no mundo dos gira-discos tante sistema fazia ainda parte o amplifi- e que, ao mesmo tempo, consegue ser
desde que foi criada nos anos  70 cador Accuphase P-4200 e as colunas Re- impressionante pelo impacto visceral que
por Jochim Raeke. Conhecido na Alema- vel Ultima Studio  II. A cablagem constou provoca no nosso corpo. O Transrotor Pho-
nha como o «Papa do analógico», desde ainda do Kimber Select KS-1121 entre pre no  II conseguiu preservar a clareza dos
sempre tem apresentado criações que se e power, com o Kimber Monocle XL nas co- timbres nos instrumentos individuais, as-
pautam por um misto de arrojo estético e lunas. Como termo de comparação servi- sim como a solidez dos graves. Nalgumas
perfeição acústica, com modelos que não -me do módulo de phono AD-30 que equi- passagens mais dinamicamente exigen-
poucas vezes estabeleceram ideias que pa o prévio Accuphase. tes foi impressionante o modo o chão tre-
vieram a servir de base para a criação de Carmina Burana, com Ricardo Mutti na meu e como uma torrente de energia se
produtos de outras marcas.
O Phono II é um prévio de phono ajus-
tável, capaz de receber sinal de células Discos utilizados nas audições:
MM e MC com níveis de saída de 2 a 7 mV,
no caso das células de íman móvel, e de Compositor/Obra/Album Intérpretes Editora
0,15 a 0,5 mV, para células de bobine mó- Carl Orff Coro e Orq. Philharmonia EMI
vel. Tanto o ganho como a capacitância e Carmina Burana Riccardo Muti
a resistência de entrada são ajustáveis via
um conjunto de DIP switches colocados di- Anton Bruckner Orquestra Filarmónica de Berlim D.G.
rectamente na placa de circuito, o que im- Sinfonia N.º 9 Herbert von Karajan
plica abrir a caixa para se ter acesso aos G. F. Handel Arleen Auger, Anne Sofie von Otter, ARCHIV
ajustes. É uma operação fácil de realizar, O Messias Michael Chance, Howard Crook, PRODUKTION
bastando desaparafusar o painel frontal e John Tomplinson
retirar a tampa para se ter acesso total ao The English Concert & Choir
interior. Trevor Pinnok
O chassis principal contém apenas o Wynton Marsalis Wynton Marsalis CBS
circuito de tratamento de sinal, estando a The Majesty of the Blues
fonte de alimentação num bloco separado
e que é ligado à unidade principal por um Michel Camilo Michel Camilo CBS
cabo específico fornecido, o que oferece a – Portrait
vantagem de manter o ruído de sector fisi- Ella Sings Brightly Voz: Ella Fitzgerald WAXTIME
camente longe dos circuitos de amplifica- with Nelson Arranjos e direcção de orquestra:
ção de sinal. Tanto a entrada como a saída Nelson Riddle
de sinal fazem-se através de fichas RCA
The Hits of Benny Goodman Benny Goodman EMI
colocadas no painel traseiro, o qual conta
ainda com a ficha de entrada da fonte de Keith Jarret Keith Jarret ECM RECORDS
alimentação e um ponto de terra. The Köln Concert
Audições Carol Kidd Carol Kidd LINN RECORDS
O gira-discos Michell GyroDec+Rega RB- All My Tomorrows

Audio & Cinema em Casa 29


teste Transrotor Phono II

despendeu das colunas em direcção aos claro e suave, surgindo sempre solto e grandes dimensões ou, naturalmente, or-
meus ouvidos. Não apenas pelo impac- sem quaisquer sinais de aspereza, sibilân- questras sinfónicas.
to das percussões, mas também pela pre- cias ou agressividade. Em combinação com
sença notável dos naipes de cordas graves, o conjunto braço/célula utilizado, foi pos- Conclusão
violoncelos e contrabaixos que resultaram sível perceber os delicados sons das esco- O Transrotor Phono  II é uma unidade de
especialmente eficazes, com imenso corpo vas que percutem os pratos da bateria com phono muito versátil, compatível com
e focada presença. um nível de clareza e detalhe muito assi- uma grande variedade de células MM e
Com a 9.ª Sinfonia de Bruckner, as di- nalável e bem integrado com as restantes MC e denota uma performance sonora que
versas camadas acústicas apresentam-se frequências do espectro sonoro. faz jus à fama da marca e que demons-
sem constrangimentos por entre os vários As vozes denotam um firme controlo tra o porquê de a reprodução analógica de
temas, contribuindo para um todo coeren- no extremo agudo, evitando muito bem música ter ainda tantos adeptos por todo o
te e onde não faltam detalhe, riqueza har- a tendência para a estridência que pode mundo. Uma sonoridade líquida, enérgica
mónica e musicalidade. Por comparação ocorrer nas notas mais altas e a volumes e opulenta que convida a longas sessões
com a minha unidade de phono residente, de audição mais elevados. Por outro lado, de audição. Com um preço muito compe-
pareceu-me que o Transrotor é mais foca- os metais soam abertos, francos e enérgi- titivo o Phono II é uma opção a não des-
do ao nível do detalhe, enquanto o Accu- cos, conferindo uma sonoridade especta- curar por todos os que procuram uma uni-
phase nos presenteia com uma sonoridade cular a conjuntos instrumentais de jazz de dade de phono neste segmento de preços.
mais grandiosa. Há que ter em atenção,
contudo, que o Transrotor é uma unidade Especificações técnicas:
de custo substancialmente mais baixo e
Ganho MC e MM 40-60 dB
que, por este preço, não seria justo pedir
mais. A gama média possui uma riqueza Resistência de entrada (MM) 47 kOhm
harmónica muito atraente, os graves são (MC) 100, 220, 470, 1000 Ohm (ajustável)
sempre sólidos e bem articulados. Mais Capacidade (MM) 47, 100, 220, 470 pF (ajustável)
importante é o facto de o Transrotor Pho-
no  II nos dar uma versão eminentemen- Entrada de sinal 2 × RCA
te musical e credível do evento musical o Saída de sinal 2 × RCA
que convida à audição de música por pe-
THD + N 0,035%
ríodos prolongados sempre com redobra-
do prazer. Atenuação crosstalk -60 dB
O palco sonoro apresenta-se expansi- Relação sinal/ruído 66 dBA @ 65 dB
vo e tridimensional, ainda que, em profun- 80 dBA @ 40 dB
didade, pudesse ser mais desenvolvido.
Apresenta, contudo, dimensões correctas, Resposta em frequência ±0,5 dB (RIAA)
nomeadamente na perspectiva profundi- Dimensões 176 × 75 × 170 mm (L×A×C)
dade/largura/altura, e parece ser sempre
Preço 750 m
capaz de acomodar o evento musical sem
revelar constrangimentos de monta, asse- Representante Diplofer
gurando a verosimilhança e naturalidade Telef. 213 214 150
da apresentação musical.
O registo agudo é bastante extenso, Web www.diplofer.pt/somimagem

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teste

Hegel H190, a
energia de Thor
dentro de uma
luva de veludo
Jorge Gonçalves
dheim, na Noruega. E essa topologia conti- Descrição técnica

N
ão há dúvida que a Hegel tem vin- nua a ser extremamente actual, tanto que Como em equipa que ganha não se mexe,
do a ganhar um reconhecimen- ainda é utilizada em todos os amplificado- a Hegel achou que a ampla aceitação que
to e uma importância crescentes res que a Hegel tem na sua linha de equi- o conceito estético subjacente aos seus
ao longo dos últimos três a quatro anos, pamentos. equipamentos mais recentes não justifica-
em especial desde que o amplificador in- O H190 de que vou falar hoje é o su- va que se mudasse muito no aspecto ex-
tegrado H160 ganhou o primeiro prémio cessor do premiado H160 e era ansiosa- terior do H190 em relação aos seus irmãos
EISA em 2015. De um modo paulatino, di- mente esperado, principalmente em face mais velhos, e é por isso que eles não di-
versos produtos marcantes têm vindo a dos desenvolvimentos feitos pela marca ferem muito uns do outros à primeira vis-
ser lançados pela marca, sob a égide do nos tempos mais recentes no domínio do ta quando olhados de frente: um mostra-
seu fundador Bent Holter, o qual come- streaming de ficheiros digitais de áudio. E dor central é ladeado por dois botões de
çou por desenvolver uma topologia origi- parece que valeu a pena esperar, pois os controlo, um para o volume e outro pa-
nal de amplificação a transístores que di- testes até agora publicados tecem amplas ra a selecção da entrada, e ainda por um
minuía de maneira sensível a distorção loas sobre os seus méritos. Vejamos en- jack de 6,35 mm para auscultadores. Na-
harmónica, quando desenvolveu a sua te- tão como se comportou ele aqui pelos nos- da mais se destaca na frente, embora te-
se de mestrado na Universidade de Tron- sos lados. nha de dizer desde já que o mostrador do

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H160, com LED’s azuis de grandes dimen-


sões, foi substituído por um mostrador al-
fanumérico OLED de tom mais suave e um
pouco mais prolixo em termos da informa-
ção que disponibiliza.
É nas traseiras que a versatilidade
bem mais alargada do H190 é colocada
em evidência, através de um bloco de
entradas digitais: uma coaxial, três óp-
ticas, uma USB tipo  B, para ligação a um
computador, e uma Ethernet. No meu en-
tender daria jeito ter uma entrada USB
tipo A, como a que equipa os computado-
res, para ligação directa de uma pen ou de
um disco externo, mas parece que a He-
gel não comunga das minhas opiniões, ou
não quis tornar excessivamente comple-
xa a interface do utilizador, que nesse ca-
so poderia implicar a necessidade de um
mostrador com capacidades gráficas bem
mais amplas do que o que equipa o H190.
Ao meio do painel frontal temos os quatro
terminais para ligação das colunas e, mais
para a esquerda, duas entradas analógicas
balanceadas (XLR) e duas single-ended
(RCA), uma das quais com a possibilidade
de bypass do controlo de volume, para in-
tegração do amplificador num sistema AV.
Para os que pretendam ampliar as capaci-
dades do H190 existem ainda duas saídas
pré-amplificadas, uma de nível fixo e ou-
tra variável.
Aberta a caixa, de estrutura simples
mas bem sólida, deparamos de imediato 24 bit; dois transceivers de áudio digital pré-amplificação e amplificação de potên-
com um imponente transformador toroi- até 24 bit / 192 kHz da AKM, com a refe- cia de cada um dos canais sejam completa-
dal com uma potência aparente que deve rência AK4118AEQ; conversor de frequên- mente independentes para cada um deles,
rondar os 500  VA, com sete saídas inde- cia de sobreamostragem para até 216 kHz o que garante uma capacidade de gestão
pendentes no secundário e um circuito de AK4127VF e conversor D/A AK4490. As dinâmica impressionante, que é bem evi-
limitação de corrente no arranque do lado funções de controlo estão por conta de dente quando se ouve o H190. Do mesmo
do primário, para controlar o pico de cor- um microcontrolador PIC16F1938. Um ou- modo, a tecnologia Dual Amp, desenvolvi-
rente que ocorre normalmente neste tipo tro microcontrolador PIC está instalado no da pela Hegel, separa completamente os
de transformadores no momento em que circuito impresso que alberga o mostra- blocos de amplificação de corrente e de
são ligados ao sector. dor, o qual está colocado no painel fron- amplificação de tensão e elimina a neces-
As entradas digitais ligam directa- tal e superintende aos circuitos de controlo sidade de utilização de realimentação de
mente a um circuito impresso com regu- deste, à selecção de entradas e ao contro- um dos blocos para o outro. Fixados ao im-
lador de tensão independente, no qual lo de volume. Na conversão dos sinais de ponente dissipador temos quatro pares de
se encontra igualmente um módulo de entrada digitais para o domínio analógico transístores complementares 2SA2121 e
recepção digital para Wi-Fi da Libre, desac- utiliza-se a tecnologia SynchroDAC, paten- 2SC5949 (dois pares por canal), alternada-
tivado, de acordo com a informação que teada pela Hegel, e que recorre, depois de mente em relação aos respectivos drivers.
recebi de Andres Ertzeid, responsável de ter sido efectuada a sobreamostragem dos Um disjuntor térmico protege os transísto-
marketing a nível europeu, o qual me con- sinais de entrada, a um clock de precisão res contra excessos de temperatura e está
fidenciou igualmente que, embora existis- para se poder obter um nível mínimo de ji- ainda implementada uma saída indepen-
se a intenção inicial de incluir capacidades tter e erros de conversão quase nulos, lo- dente para auscultadores.
Wi-Fi no H190, os testes que tiveram lugar go uma elevada resolução de conversão e Como é normal nos equipamentos da
na Hegel conduziram à conclusão que a uma baixa distorção. Hegel, não há a possibilidade de colocar a
performance de um sistema de áudio sem Um outro circuito impresso de gran- alimentação no estado de standby, pou-
fios ainda tem demasiadas limitações, ra- des dimensões alberga os circuitos de pré- pando-se assim energia, e mantém-se
zão porque se resolveu não implementar -amplificação e amplificação de potência, ainda a originalidade de colocar o inter-
para já essa capacidade no amplificador. destacando-se logo nele seis volumosos ruptor de alimentação na parte inferior da
Dispostos sobre esse circuito impresso te- condensadores electrolíticos de 10.000 µF, caixa, do lado esquerdo e perto do painel
mos os seguintes circuitos integrados prin- que definem uma capacidade de filtragem frontal. Juntamente com o H190 é forne-
cipais: controlador de streaming USB de de 30.000 µF por linha de alimentação. Os cido um sólido controlo remoto com caixa
áudio TE7022 com capacidade de proces- diversos enrolamentos de saída do trans- metálica e suficientemente versátil para
sar ficheiros com resoluções desde 16 a formador permitem que os circuitos de poder controlar diversos equipamentos da

Audio & Cinema em Casa 33


teste Hegel H190
Caso se queira ter acesso a serviços de
streaming como, por exemplo, o Tidal ou o
Qobuz, e ainda ouvir música armazenada
num dispositivo de armazenamento cen-
tral, como um NAS, então é conveniente
enveredar por outras situações que têm a
vantagem de obviar o recurso ao compu-
tador, trabalhando assentes num normal
telemóvel ou tablet. Aí temos de utilizar
a entrada Ethernet e necessitamos então
de um software servidor de média que fa-
ça a interface entre o tal dispositivo de ar-
mazenamento ou o serviço de streaming
e o H190, tomando conta dos diversos ní-
veis de reconhecimento e conversação
(que têm de seguir protocolos específi-
cos) necessários para que tudo se passe
sem que o utilizador tenha alguma vez a
ideia de que está a lidar com um comple-
xo sistema de ligação em rede com ende-
marca. Os acabamentos disponíveis para o gumas possibilidades de os ouvir através reços IP estáticos, dinâmicos ou lá o que
Hegel H190 são o preto mate e o branco. do H190, a mais simples das quais assen- seja. Na página de Internet do H190 a He-
ta em ter instalado num computador um gel tem disponível documentação que se
Streaming – funcionamento programa gratuito como, por exemplo, o baseia na utilização de um programa gra-
e comentários Foobar2000 ou ainda o Kinsky, da Linn, li- tuito para providenciar a tal interface, pe-
Não é normal tratar este tema de maneira gar o computador ao H190 através de um lo que vou basear as minhas explicações
separada nos meus textos, mas acho que cabo USB tipo  A/tipo  B e começar a ou- no BubbleUPNP, programa «recomenda-
é chegado o momento de o fazer, até por- vir música, até porque o reconhecimento do» pela Hegel, embora seja perfeitamen-
que, assim o espero, deste modo estou a do computador por parte do H190 e vi- te possível utilizar o Kinsky, da Linn, ou
dar uma contribuição para deixarmos de ce-versa é quase instantâneo no caso de ainda o MConnect (Mac) ou outros que te-
colocar esta área numa zona quase com se ter um sistema operativo dos mais re- nham versões para o sistema operativo do
uma aura de magia negra, fora da com- centes, como o Windows 10, no caso dos telefone ou tablet que será utilizado (An-
preensão dos leitores habituais da revista, PC’s. Os leitores mais ambiciosos podem droid ou iOS).
o que não é verdade, bem longe disso, co- optar por um software mais completo, Começo por salientar que a versão
mo poderão constatar quando chegarem quer em termos de possibilidades de lei- gratuita do BubbleUPNP avisa que só é
ao final deste bloco de informação. tura e «reconversão» dos ficheiros, quer possível reproduzir 30 minutos de mú-
Conforme mencionei acima, o H190 em termos gráficos, como é o caso do JRi- sica em cada sessão e construir listas de
possui uma entrada Ethernet e outra USB, ver, cuja licença custa perto de 50 dólares. reprodução com um máximo de 16 faixas,
através das quais é possível efectuar a re- A explicação que a Hegel me forneceu re- o que é bastante limitativo, pelo que o
produção de ficheiros digitais de áudio. Por lativamente à não existência de uma en- melhor é considerar investir os 3,99 euros
ser esta uma situação que me parece ge- trada USB directa para pen tem bastante que permitem comprar a licença de uti-
rar ainda muitas dúvidas junto dos consu- lógica: para implementar a leitura directa lização e acabar com todas a limitações,
midores, vou-me dedicar em muito maior de ficheiros digitais teriam que ter um sis- incluindo os irritantes banners de publici-
detalhe a explicar como utilizar a primeira tema operativo bem mais complexo que o dade. Apesar desta indicação, no meu caso
destas entradas. Começo por assumir que, que o H190 utiliza, bem como muito na- consegui efectuar quase todas as minhas
seja na sequência de terem efectuado o turalmente um mostrador mais comple- sessões de audição, com durações bem su-
ripping de alguns dos seus CD’s, de terem to, capaz de apresentar mais informação periores a meia hora, sem qualquer pro-
descarregado ficheiros da Internet ou de gráfica. Estas adições iriam tornar o equi- blema, por isso o meu conselho é que
beneficiarem da generosidade de amigos, pamento mais complexo, mais caro e não experimente por algum tempo e depois
a esmagadora maioria dos leitores des- teriam qualquer efeito benéfico na perfor- decida em definitivo sobre a necessidade
ta revista tem acesso a ficheiros de áudio mance, por isso a decisão foi de não ir por ou não da compra da licença. Em relação a
no formato digital. A partir daí existem al- esse caminho. esta aplicação, o que tenho a dizer é qua-

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se exclusivamente laudatório: consegue com o título Tidal Masters Guide, uma vez modo igualmente muito simples – basta
reunir num único dispositivo/programa mais disponibilizado no site da Hegel, na seleccionar como dispositivo de saída do
quase todos os serviços de streaming (Ti- página dedicada ao H190. Caso tenha um Jriver, em opções/áudio, aquele designa-
dal, Qobuz, Google Music, Amazon Cloud NAS, novamente aconselho uma visita do SPDIF Interface (TE7022 Audio w/SPDI)
Drive, para já) e dispositivos de leitura/ à página de Internet do H190, onde tem (WASAPI) e começar a ouvir música. Todos
reprodução, designados renderers, com informação completa e concisa sobre co- os formatos PCM podem ser reproduzidos,
qualidade máxima de CD, e não é compli- mo pode configurar este tipo de disposi- embora o JRiver efectue automaticamen-
cado de instalar, principalmente se se se- tivos. Embora utilizando como exemplo te a conversão das resoluções superiores
guir o completo guia disponibilizado pela um NAS da QNAP, a informação disponi- a 24 bit  / 96  kHz para este valor máxi-
Hegel no seu site. Não de somenos im- bilizada é muito concisa e bem organiza- mo, definido de base pela interface USB de
portância é o facto de o controlo de vo- da em sequências passo-a-passo, sendo entrada do H190. Já no caso da aplicação
lume do BubbleUPNP actuar directamente fácil de ser «traduzida» para outros tipos BubbleUPNP, em que o H190 reproduz os
no potenciómetro do H190, ou seja, a va- de NAS, até porque os sistemas operativos ficheiros que são transportados através da
riação de volume tem lugar directamente das marcas mais divulgadas são bastante entrada Ethernet, a resolução máxima é
sobre a amplitude do sinal analógico, não semelhantes. É realmente de louvar que, de 24 bit  / 192  Hz. É igualmente muito
implicando qualquer diminuição na resolu- embora disponibilizando apenas informa- fácil redireccionar o fluxo digital do Tidal
ção da música a ser reproduzida. Mais um ção sucinta no seu manual, a Hegel se dê para o JRiver para unificar todas as «fon-
ponto positivo para a interface desenvolvi- ao trabalho de organizar tão completos e tes» num só programa de reprodução. Os
da pela Hegel para a «comunicação» com didácticos guias de utilização de serviços, ajustes são muito simples de realizar e de
a aplicação em causa. normalmente algo intimidatórios para a resultados imediatos, pelo menos no ca-
A limitação maior tem a ver com o Ti- maioria dos consumidores que geralmente so do JRiver22, que é aquele com que tra-
dal e não com o BubbleUPNP: se tiver uma não têm conhecimentos alargados na área balho normalmente – já comprei a licença
licença de nível Master não pode reprodu- das tecnologias de informação. para a versão 23, mas esta ainda apresen-
zir ficheiros a 24/96 a partir do seu tele- No que se refere à ligação USB entre tava um grave problema da última vez que
móvel Android. Para que tal seja possível o H190 e um computador, tudo se passa trabalhei com ela: não importou a bibliote-
tem que utilizar um computador ou tablet, da maneira mais simples, como já disse ca da versão anterior e não tive paciência
uma vez que a Tidal só permite essa pos- atrás: de modo quase instantâneo o H190 para a refazer, uma vez que na 22 tudo es-
sibilidade na versão desktop da aplica- aparece na rede do computador com a de- tava perfeito. Quem quiser saber algo mais
ção que disponibiliza. A este propósito, e signação DigiHug USB Audio, um nome no sobre como configurar o Tidal para ser re-
embora seja possível encontrar informa- mínimo bem simpático – nos tempos que direccionado para o JRiver e deste para o
ção bem completa e interessante na In- correm, o que há mais por aí são «abra- H190 pode consultar, por exemplo, o se-
ternet, aconselho sinceramente que leia ços digitais». guinte link: https://blog.dsnyder.ws-e.
com atenção a informação contida no PDF Se utilizar o JRiver tudo se passa de com/index.php/2016/11/19/streaming-

Audio & Cinema em Casa 35


teste Hegel H190

-tidal-via-jriver-convolution/. No final, ca- se passou a dizer) só tiveram lugar depois Avishai, um intérprete franco-israelita que
da uma das possibilidades de escuta de de o H190 ter tocado por umas largas de- fundou com Cohen um outro grupo cha-
música digital tem as suas vantagens e in- zenas de horas, talvez 80 a 90, e no final mado Third World Love. Neste disco, a
convenientes: o BubbleUPNP permite con- do teste ele irá regressar à Ajasom com estes dois juntam-se Eric Revis, no contra-
trolar tudo sem fios a partir de qualquer bem mais de 200 horas de uso, o que só se baixo, e Nasheet Waits, na bateria. É um
parte da casa, mas a interface gráfica para pode considerar benéfico. Começo assim jazz moderno, cheio de introversão, madu-
telemóvel, principalmente no caso do Ti- por falar na experiência de audição de um ro e intenso, que nos prende por completo
dal, é muito limitada; o JRiver (ou o Kinsky, CD fenomenal, recomendado pelo músi- durante os 12 minutos e 12 segundos que
este também com uma versão gratuita pa- co residente cá da casa. Trata-se de So- dura esta faixa, muito graças à capacidade
ra telemóvel) é muito mais polivalente, mething’s Burnin’ de Peter Bernstein, em do H190 de nos fazer comungar cá do nos-
mas obriga a viagens permanentes entre conjunto com Brad Mehldau, John Webber so lado com a verve dos instrumentistas e
o posto de audição e o computador. Esta li- e Jimmy Cobb, músicos que atingem ní- a sua vontade de manifestar sentimentos
mitação pode ser obviada quase na tota- veis de qualidade interpretativa verdadei- através do modo como em cada momento
lidade se se instalar no telemóvel o JRiver ramente soberba, principalmente na faixa cada instrumento participa na peça musi-
Remote, embora tal implique um estipên- This Could Be the Start of Something Big. cal. E esse envolvimento, quase diria des-
dio extra de 11 euros. No fim de contas e Os solos de Brad e Peter são notáveis, uma prendimento do tempo, só equipamentos
como quase sempre, é tudo uma questão das melhores interpretações de jazz que já de grande nível no-lo fazem sentir, fazen-
de pesar bem vantagens e inconvenientes ouvi até hoje e a que tinha já sido «sub- do-nos esquecer que pelo meio da inter-
e decidir se os investimentos são justifica- metido» uma larga quantidade de vezes, pretação musical de primeira água que
dos ou não. por ser uma das faixas favoritas do meu estamos a ouvir existem equipamentos
Mas chega de cansar os meus leitores filho, um excelente intérprete de guitarra electrónicos.
com conversa sobre computadores, aplica- de jazz, e por já a ter reproduzido uma vez Ao longo das diversas audições e de-
ções e Internet. O que é mais importan- ou outra no meu sistema. Mas ouvir es- pendendo do momento e das conveniên-
te aqui é discorrer sobre a performance do ta faixa no Hegel foi qualquer coisa de di- cias, fui alternando entre o CD, o streaming
H190 e é a isso que me vou então dedicar ferente, pelo intenso ritmo transmitido e a partir do meu NAS ou o Tidal, neste últi-
de seguida. pela beleza dos timbres dos diversos ins- mo caso quase sempre na resolução mas-
trumentos, muito em especial a guitar- ter (24 bit / 96 kHz). Claro que a qualidade
Audições ra. Como estes homens tocam realmente máxima se traduzia numa melhoria nos
Quando chegou, o H190 tinha como com- bem e rápido e como é que é possível Pe- resultados auditivos, mas penso que não
panhia no meu sistema as GoldenEar Tri- ter retirar aquela sonoridade deslumbran- valerá a pena estar a esmiuçar caso a ca-
ton Reference, tendo efectuado uma parte te de uma Gibson ES-175: o timbre é algo so o formato absoluto, sob pena de estar a
da rodagem na companhia destas últimas, que embeleza qualquer música tocada pe- prestar menos atenção à performance mu-
as quais, no entanto estavam «menos ne- la cor e calor conferidos a cada nota. Como sical em si e mais ao modo como ele es-
cessitadas», uma vez que já tinham tido vêem, as coisas não começaram nada mal. tá arquivado.
quase 200 horas de funcionamento na Ul- E continuei no jazz, um dos meus gé- Tudo estava mais que pronto para as
timate Audio, enquanto o H190 saiu da neros preferidos, agora com Into the Si- audições enveredarem por outra das mi-
caixa novinho e a estrear. Mais tarde fiz lence, do trompetista Avishai Cohen, nhas áreas musicais preferidas, ou seja, a
uma dupla troca: as GoldenEar ficaram a desta vez um original da Tidal em 24 bit / música clássica. E comecei por uma peça
descansar um pouco e o H190 passou a ter 96 kHz. A faixa 3, a que dá nome ao dis- musical que, interpretada por uma violi-
como companheiras as Quad. Os cabos de co, é de uma grande beleza intimista, que nista de altíssimo gabarito como é Anne-
coluna utilizados foram sempre os Kimber nos toca emocionalmente de uma manei- -Sophie Mutter, acompanhada por uma
Select KS3035, a fonte de CD’s foi o Accu- ra profunda, mais ainda depois de saber- orquestra que dispensa elogios – a Filar-
phase DP85 e o cabo digital de ligação en- mos que esta obra é constituída por um mónica de Viena –, assume uma beleza
tre o meu computador HP e o H190 foi o conjunto de peças musicais que são re- quase intemporal. Trata-se do concerto pa-
Audioquest Carbon. O cabo de coluna utili- flexões subsequentes à morte do pai de ra violino n.º 25, em Ré maior, de Tchaiko-
zado foi o Kimber Select KS-3035 e, para a Avishay, que tinha ocorrido pouco tempo vsky que, tocado no Hegel, com este
ligação entre o Accuphase e a entrada di- antes das gravações. O trompete quase ligado às Quad ESL63, me deixou perfeita-
gital, recorri ao Cardas Clear Digital. que fala connosco, ao mesmo tempo que mente rendido. Desde os requebros quase
Como disse atrás, as primeiras audi- estabelece um diálogo de grande intensi- inebriantes de Anne-Sophie, aos crescen-
ções a sério (ou à séria, como de repente dade com o piano, tocado por Yonathan dos orquestrais, à sintonia da solista com o

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naipe de violinos, ao encanto do dedilhar equilíbrio notável quer de um para outro lei aqui por diversas vezes – Yellow Dog
do violino no último andamento, Allegro estilo de música quer, dentro de cada in- Blues – e que continua a ser um dos meus
assai vivace, tudo isto foi quase suficiente terpretação, entre os músicos ou os nai- favoritos em termos de interpretação e
para qualificar as qualidades do H190 em pes instrumentais. E ainda menciono aqui gravação, e isto ainda se torna mais sig-
termos de saber trazer a música até nós Belfast Child, aquela que considero uma nificativo quando se tem em conta que
com todas as suas qualidades intrínsecas das músicas mais bonitas deste grupo e a gravação original é de 1959! Ouvir lo-
e sem lhe acrescentar nada. Os graves são em que a entrada quase a capella de Jim go a primeira faixa, Michigan Water Blues,
completos, bonitos, sólidos, a gama mé- e a flauta ganham uma evidência plena deixa-nos boquiabertos pela maneira co-
dia tem uma tessitura que por vezes até de emoção, principalmente para quem co- mo o H190 consegue colocar ali na nos-
faz lembrar as válvulas, os agudos são ex- nhece um bocadinho a história da Irlanda sa frente os quatro intérpretes, nítidos em
tensos, claros e poderiam mesmo desig- e dos irlandeses. termos sónicos e posicionais e quase ini-
nar-se maviosos. Como já mencionei atrás o H190 é gualáveis do ponto de vista tímbrico, com
Continuando no tema da música clás- mesmo quase perfeito, perfeito – só não a interpretação ao piano de Don Ewell a
sica, impunha-se ouvir um piano, e veio- lê DSD, mas isso por uma razão muito sim- atingir níveis de virtuosismo notáveis. O
-me à memória Franz Liszt, o compositor ples, de acordo com a própria Hegel: se- disco foi ouvido do princípio ao fim, nova-
que me fez gostar de música clássica a ria necessário duplicar quase por inteiro mente com um destaque para última fai-
partir do momento em que, quando vim o circuito de processamento digital de si- xa, a qual lhe dá o nome e em que Nappy
para Lisboa estudar, na minha juventude, nal, bem como o filtro digital, novamente Trottier tem uma notável interpretação no
tive como vizinha uma pianista que tocava uma despesa que a Hegel considerou ex- trompete que soou sempre vivo e alto co-
obras deste compositor a todo o momento. cessiva em face dos resultados finais. Em- mo tem que ser, mas sem nunca causar
A obra que aqui destaco é a Consolation bora concordando quase na íntegra com as a mínima sensação de desconforto. E no-
N.º 3 em Ré bemol maior, interpretada por explicações da Hegel, não deixo de apre- tem que este LP já tem alguns anos e é
Lincoln Mayorga, e soou fluida e, ao mes- sentar aqui uma pequena sugestão: se uma reprodução fiel do original, sem re-
mo tempo, profunda e cheia de reflexão, porventura tiverem em mente transformar masterizações ou vinilo de 200 gramas.
desde as mais delicadas notas aos tran- um amplificador integrado, que é já em si Actualmente está disponível numa versão
sientes bem rápidos, com tempos de sus- um equipamento extremamente versátil e de 200 gramas, masterizada por Doug Sax
pensão quase de perder a respiração e com uma performance sónica de primei- a partir das fitas analógicas originais que
uma proporção volumétrica quase perfei- ra água, em algo que quase me atreveria deve ser igualmente algo de excepcional.
ta do piano entre as duas colunas. a considerar o mais próximo possível da Recomendo vivamente a sua compra!
A escrita já vai longa, mas não ficaria perfeição a este nível de preços, aqui têm
satisfeito se não mencionasse a audição a minha adenda para que consigam imple- Conclusão
de uma peça musical de estilo bem dife- mentar esse desiderato. É-me muito difícil criticar a performance
rente do das que mencionei até aqui. Tra- Já no final das audições, e aprovei- sónica do H190, uma vez que ele parece
ta-se de Don’t You (Forget about Me), uma tando a visita de um amigo e condómi- fazer quase tudo muito bem e algumas
canção dos Simple Minds que já não ou- no de há alguns anos, resolvi ensaiar a coisas de maneira quase excepcional: tem
via há algum tempo e que me veio à me- performance do H190 com discos analó- um controlo muito sólido sobre as colunas,
mória durante o visionamento de uma das gicos, utilizando como fonte o Basis Gold mas isto de um ponto de vista sempre po-
melhores séries de televisão dos últimos Debut com braço SME V Gold e cabeça sitivo: daquilo que ouvi, fiquei com a ideia
anos, The Handmaids Tale, talvez no se- van den Hul Colibri Grasshopper, ligado de que ele é quase imune ao tipo de co-
gundo episódio. A voz de Jim Kerr articula- ao prévio de phono incorporado no meu lunas (mais ou menos exigentes) com que
-se de uma maneira perfeita com a secção préamplificador de autoconstrução. E foi seja combinado. Encara a combinação co-
rítmica, que ganha uma estrutura quase aquilo que tenho que considerar uma ses- mo uma coisa natural, como se elas fos-
sinfónica e onde a bateria assume ape- são memorável, durante a qual ouvimos sem um parceiro para a dança, e depois
nas a preponderância que deve ter, aliás, alguns discos de géneros diversos mas o dançam os dois, melhor dizendo os três,
aqui se demonstrou uma vez mais a gran- que mais entusiasmou e fechou a sessão a um compasso perfeito e sem falharem
de neutralidade do H190, que mantém um com chave de ouro foi um LP de que já fa- um passo. O streaming de ficheiros digi-
tais está também muito bem resolvido e
o apoio prestado pela Hegel é de primei-
ra água. Uma vez mais, a qualidade paga-
-se, mas não terei qualquer dúvida em di-
zer que o preço pedido por este excelente
amplificador é mais que justificado. Quem
o puder comprar leva para casa algo mui-
to bem construído e que lhe proporcionará
muitas e muitas horas de prazer musical,
e essa é a finalidade principal de um equi-
pamento de áudio.

Amplificador integrado Hegel H190


Preço 3595 m
Representante Ajasom
Telef. 214 748 709
www.ajasom.net

Audio & Cinema em Casa 37


sala de audição

AS VARIÁVEIS
Gilbert Briggs

Holbein Menezes Ainda que a experiência da vida vivi- adentro pelos alto-falantes – o som musi-
da tenha-me indicado que umas tantas e cal –, tal som resulta da dinâmica dos com-

A
s variáveis são tantas neste mun- poucas providências possam vir a ser úteis ponentes como um todo. Nenhuma peça
do infinito da reprodução eletrôni- em alguns ambientes. Como por exemplo: do sistema, ela em si, é eletronicamente
ca do som musical que, confes- – quanto às caixas de som, ao contrário «melhor» que outra; pode ser mais cara,
so, fico pasmo em ler que um colega acha do que aprendi nos livros de Gilbert Briggs, mas custo não faz parte dessa inter-rela-
que achou, por final, a eternamente per- da Wharfedale, the big… nem sempre é ção de componentes. Não faz mesmo!
seguida «pedra filosofal»: Bryston ou coi- the best. Nos tempos atuais as caixas pe- Vejam: o próprio Universo é um caos
sa que tal. quenas têm mostrado adaptarem-se me- dialético em o qual astros se atraem e se
Uma sala doméstica destinada à re- lhor às salas… que também são reduzidas repelem ao mesmo tempo (lei da negação
produção do som musical eletrônico é co- em volume e cubagem (mais estas do que da negação); ao mesmo tempo, também,
mo as pirâmides do Egito: compostas de os «elefantes brancos» do tipo Dunlavys em que se interdependem reciprocamen-
pedras uma sobre outras, interdependen- Speakers); mas em que, pese a distância te. Porquanto é sintomático que sem a es-
tes de tal forma que, se uma pedra for re- do tempo, tem-se mostrado correta a in- trela Sol não haveria vida no planeta Terra;
tirada da pirâmide, o antigo monumento dicação do Briggs, de que (tradução livre): porque esta depende daquela, né?
rui *que nem* prédios construídos por es- «A posição das caixas de som na sala qua- Mas não é caos para os absolutistas,
telionatário de pontes e edificações que se sempre pode causar mais efeito no re- os que precisam acreditar que a parte é
desmoronaram feito castelos de areia; ou sultado final do que a técnica empregada superior ao todo; aqueles que carecem
construção com cartas de baralho. na construção delas (caixas)»; aceitar que um cabo de interconexão (*vi-
– lá no fim poderão ler um texto meu al- ge! «inter»?) sobrepõe-se ao conjunto do
go sofisticado – talvez metido a filosófi- sistema, e nessa circunstâncias… resol-
co, a parecer exibicionista, e o é: «espelho ve tudo! Ainda que o cabo interconecte
meu, espelho meu, haverá aqui gente tão duas grandezas relativas, como sói aconte-
culta quanto eu?» (ah! ah! ah!); para dizer cer entre a tomada fêmea da rede elétrica
de uma situação comum na nossa vida tão malposta e, por isso, suja, e a tomada ma-
comum; pelo menos daqueles que tiveram cho, inda que computer grade, que pre-
oportunidade de vivê-la; situação que cos- cede o transformador de força de prés e
tumo chamar de viva vivida. amplificadores (transformadores ao mais
Ora, se a interdependência dos fenô- das vezes confeccionados com fio esmal-
menos da Natureza é uma verdade cien- tado, ordinário).
tífica, e se as leis dialéticas da penetração Posto que o problema da insatisfação,
dos opostos e da negação da negação cor- responsável pela dança das marcas, ja-
respondem à dinâmica do funcionamento mais está no sistema mas no dono do sis-
e do desenvolvimento das coisas, nesse tema. (E me desculpem esses, pelo amor
caso um sistema eletrônico para a repro- de meu santo padim pade ciço!*)
dução do som musical não pode se consti- Ora, uma caixa não toca, não produz
tuir de elos isolados. som. Muito menos a marca da caixa!
Quer dizer, o problema não é se o am- Ora, num violino, quem produz o som
plificador tal ou o ledor qual, per se, um é são as cordas que vibram, mas a marca
melhor do que outro; porque o que deter- do violino importa! Porque está associada
mina o resultado final, que é irradiado sala ao modo de fabricar o violino. Modo que

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se dá o nome de formante. Nesse caso, a


marca de uma caixa de alto-falantes, seu
modo de fabricação cria formante.
§ Formante é o caráter do som; dois
alto-falantes da mesma marca possuem
formantes diferentes porque as variáveis
tempo e temperatura no momento da fa-
bricação nunca são iguais; nem podem ser.
E tempo e temperatura agem sobre a ma-
deira, sobre o verniz, sobre a cola, sobre
o temperamento do mestre da obra etc. §
Uma caixa de alto-falantes é um ins-
trumento e, como tal, possui formantes
próprios e peculiares; por isso o caráter
de cada caixa é único, nem o canal direi-
to é igual ao esquerdo, mesmo em sendo
«par casado»; e nem vice-versa.
De todos os elementos que compõem
uma caixa de alto-falantes, a importância
zero reside na marca, na griffe. Ainda que
financeiramente ocorra este ilogismo: a
griffe é que importa para os equipamen-
tófilos.
Ora, e se eu disser que o mais musical apenas duas dezenas; ou menos; e foi um comenta em seu extraordinário livro Um
dos alto-falantes que já ouvi – e ouvi-os às deus-nos-acuda de boom. Diálogo entre a Psicanálise e a Neuro-
centenas! – é a unidade KB6FR, fabricado A principal característica de uma BOA ciência: «Neste contexto, a percepção não
ali em Santo André pela fábrica KeyBass, caixa de alto-falantes é a sua portabili- coincide exatamente com o que está fora,
projeto e especificação do Paulo Ramos? dade; é poder ser posicionada com pou- sendo produto da interpretação que o cé-
É um full-range de apenas seis polegadas, co esforço no local mais próprio da sala rebro faz do que lhe é transmitido pelos
mas que grave produz, *sô! que maciez de de escuta. The big the best foi o maior er- órgãos sensoriais…»
médios, gente! que doçura de agudos, Se- ro cometido pelo «expert» Gilbert Briggs. Victor desenvolve mais a frente seu
nhores! No tempo dele até poderia ser, mas ho- enunciado, quando escreve: «Às vezes, a
E um par custa tão pouco… je em dia em que prevalecem os «aper- influência da expectativa em função do
Na gesso-filled os KB6FR substituí- tamentos», não é só um erro senão, e padrão…» Ora, esse «padrão» pode mui-
ram os Fostex 206-B como falantes princi- principalmente, uma impossibilidade. Não to bem ser formado pelo intenso desejo
pais, e os Fostex custaram-me 600 dólares podemos botar num volume de 18, 20, 30 de termos o máximo em matéria de re-
o par! metros cúbicos, CEM músicos de uma or- produção do som musical; desejo de ter
Antes, a minha imbecilidade já des- questra sinfônica. Satura. Overload. o máximo que é alimentado, nas pessoas
pendera 6000 reais por um par das cai- # # Atentem sobre o que a gente vê intelectualmente desenvolvidas, pelo me-
xas da griffe Martin Logan, modelo Clarity. ou ouve, segundo os Drs.  Francis Crick e canismo de afeto que se compõe de sen-
Misto eletrostático com bobina móvel. São James Watson (Prêmios Nobel): «não é o timentos contraditórios tais amor e ódio,
muito boas se… pois é, se alimentadas que está lá realmente; é o que o seu (nos- inveja e desapego, exibicionismo e mode-
por amplificadores de alto fator de amor- so) cérebro acredita estar lá». E o psica- ração etc.
tecimento; e os meus divinos 300B tinham nalista pátrio, Dr.  Victor Manoel Andrade, Porque, segundo A.  Damásio, «…  um
sentimento depende da justaposição de
uma imagem visual de uma face ou a
imagem auditiva de uma melodia». E em
geral, digo eu, o equipamentófilo é um
contumaz repetidor de passagens de dis-
cos, quase nunca ouve um disco inteiro
ou uma obra completa, mas, sim, procura
exibir aos circunstantes efeitos do tipo «a
baqueta bate doze vezes na borda do tam-
bor…», como escreveu certo reviewer da
Áudio e Vídeo tupiniquim.
Nesse sentido, o seletivo grupo dos
«hiendistas» não está interessado em o
que «está lá realmente», mas no que seus
cérebros acreditam «está lá». É mais satis-
fação íntima do que constatação material.

*(cearês) a significar: tal como.

E-mail: ho.menezes@uol.com.br

Audio & Cinema em Casa 39


audição prévia

Wilson Audio
Alexia 2,
encantadoras
como Circe
Jorge Gonçalves vindo a «crescer» em termos de aborda- ce, vou ter que me contentar com deixar-
gem na gama pois, depois das Sabrina e -vos aqui apenas uma análise inicial das

O
s meus já bem largos anos de en- das Yvette, calhou-me agora a boa fortuna suas espantosas capacidades, deixando
tusiasta e crítico de alta-fidelida- de conviver em minha casa por um alarga- para o próximo número a recensão exaus-
de conferiram-me o privilégio de do período de tempo com a versão 2 das tiva de tudo aquilo que pude apreciar du-
conviver com tantos equipamentos de áu- Alexia, o mais recente produto saído das rante um tão alargado e prazeroso período
dio que sinceramente já lhes perdi a con- mãos de Daryl Wilson, o merecido herdei- de convivência.
ta. No que se refere a colunas tenho que ro de Dave Wilson, fundador da marca e As Alexia originais, derivadas daque-
reconhecer que nos tempos mais recentes ainda, queira-se ou não, a sua alma ma- las que eram na altura o topo-de-gama da
pus os ouvidos «em cima» de algumas das ter. A convivência irá alargar-se por mais Wilson, as Alexandria XLF, foram um ver-
melhores que se fabricam, como os leito- de um mês mas, em face dos timings de dadeiro sucesso de vendas. Melhorar um
res mais atentos poderão constatar pelas fecho desta edição da revista, que tem de produto destes representa uma grande
páginas das últimas edições desta nossa estar nas mãos dos nossos leitores bem responsabilidade, sendo um dos primei-
revista. antes do Audioshow, e da análise cuidada ros critérios a ter em consideração, como a
Relativamente à Wilson Audio, tenho que um equipamento deste género mere- marca muito bem diz no seu site, não es-

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tragar o que está bem. Ao mesmo tempo, digo eu, deveria ter-se ter Convergent Sinergy de cúpula de seda, desenvolvido para as
em conta aquilo que eu defino como a «continuidade da espé- Master Chronosonic, e agora na versão Mark  V. O altifalante de
cie», ou seja, seguir o fio de rumo em termos sónicos definido médios, com cone de celulose e pasta de papel de 7 polegadas,
a partir das duas colunas mais recentes lançadas pela Wilson e é complementado com dois altifalantes de graves, um de 8 e
acima referenciadas, as Sabrina e as Yvette. Existe nestes dois outro de 10 polegadas, ambos com cone de polpa de papel. A
modelos de colunas uma assinatura sónica, embora em percenta- impedância nominal continua a ser de 4 Ohm, com um mínimo li-
gens relativamente diferentes, como é óbvio, e uma performan- geiramente mais elevado que nas Alexia anteriores – 2,54 Ohm.
ce que tem deixado toda a gente rendida por esse mundo fora, A sensibilidade é de 89 dB/W/m e a resposta em frequência vai
por isso fazia todo o sentido que esta nova personalidade sónica dos 19 Hz aos 32 kHz, ±3 dB. As medidas são: altura de 1,35 me-
desenvolvida pela Wilson estivesse presente, de forma refinada e tros, largura de 38,7 cm e profundidade de 58 cm. O peso atinge
amplificada nas novas Alexia. uns imponentes 117 kg por coluna, por isso qualquer movimen-
Seguiu-se então um exaustivo processo de investigação em tação deverá sempre ser feita por duas pessoas, embora as rodas
torno das Alexia, investigação essa que, como se diz facilitem muito a fase de afinação e o macaco fornecido
na gíria, não deixou pedra sobre pedra em termos com as colunas seja muito útil para permitir a coloca-
de escrutinar cada elemento construtivo e cada de- ção dos spikes por apenas uma pessoa. As cores dis-
talhe estrutural, os componentes do crossover e poníveis alargam-se por uma extensa panóplia, que
mesmo a sua implantação na placa de circuito im- vai do branco do deserto ao preto-obsidiana, pas-
presso, nada foi deixado ao acaso. Daí resultou sando pelo azul-cobalto e pelo violeta/roxo escu-
que as Alexia 2 fossem as mais recentes colunas ro que me calhou em sorte ter em casa e que eu
a beneficiarem dos materiais compósitos W e S, considero de longe a cor mais bonita.
bem como da terceira geração do material  X,
inicialmente desenvolvido para as X-1 Grand Audições
SLAMM. Nenhum outro material possui um Como já mencionei no início, este texto vai
conjunto tão vasto de qualidades aparente- apenas ser um conjunto de primeiras no-
mente antagónicas: elevadíssima rigidez, tas do meu contacto com as Alexia 2, pelo
forte monotonicidade, elevado módulo que tenho de pedir os meus leitores um
de elasticidade e amortecimento intrín- pouco de paciência até terem do vosso
seco. Por isso mesmo o material X é uti- lado uma descrição completa da minha
lizado de modo estratégico ao longo da análise auditiva. Além disso, as colunas
caixa de graves das Alexia e do módulo chegaram a minha casa sem terem pas-
do tweeter. E, como se esta combina- sado por qualquer rodagem, por isso só
ção de materiais não nos fizesse co- ao fim de algumas semanas de dieta
meçar a pensar já num dos foguetões musical me irá ser possível ter conclu-
de Elon Musk, há ainda que mencionar sões definitivas. No entanto, tendo em
que o material S, desenvolvido para as conta que já decorriam dez dias de audi-
Sasha W/P, é utilizado no painel frontal ções consecutivas no momento em que
das Alexia 2, fazendo com que a caixa escrevo este texto, sinto-me já bastan-
destas colunas não participe de modo te à vontade para deixar aqui várias in-
nenhum no processo musical em curso. dicações sobre o que me foi permitido
Em termos de cablagem, as Ale- apreciar.
xia  2 utilizam a estrutura desenvolvi- Tenho que deixar já aqui as minhas
da para a obra magna de Dave Wilson, palavras de apreciação para o traba-
as WAM Master Chronosonic, e que in- lho que o Luís Campos, da Imacustica,
clui conectores de passagem selados costuma pôr em prática quando da afi-
contra gás, para reduzir o número de nação das colunas da Wilson e da defini-
soldaduras necessárias e eliminar o ção do seu posicionamento absoluto na
recurso a uma câmara selada inde- sala. Já vi as fitas coladas no chão mui-
pendente para o módulo do crosso- tas vezes mas nunca assisti a uma ses-
ver, deixando assim um pouco mais são completa de afinação, e desta vez
de volume disponível para os módulos calhou-me a mim definir o posiciona-
de médios e graves, respectivamente mento exacto das colunas e a afinação
em 26,4% e 10,8%, mantendo cons- final da altura e inclinação do módulo
tantes as dimensões exteriores. Os re- de agudos, e reconheço que é um tra-
forços internos destes dois módulos balho para um profissional e que tem
foram igualmente redesenhados e a que ser executado com muita paciên-
sua redistribuição permitiu que se te- cia, pois leva um bom número de horas
nha apenas um pórtico de saída bas- até que consigamos chegar a bom por-
s-reflex para os graves, situado na to. No segundo artigo sobre as Alexia 2
traseira e bem no centro da estrutu- explicarei um pouco em pormenor os
ra, em vez dos dois da versão ante- diferentes passos deste procedimento,
rior das colunas. Na caixa/módulo de embora apenas em traços gerais, pois
agudos e médios temos uma peque- não me parece que seja do interesse
na ranhura horizontal, situada nova- de todos os leitores.
mente na traseira. Entradas em minha casa, as Alexia
No que se refere a altifalantes, passaram por um largo número de ho-
as Alexia 2 utilizam o mesmo twee- ras de queima até assumirem a posição

Audio & Cinema em Casa 41


audição prévia Wilson Audio Alexia 2
final que lhes competia. A electrónica utilizada foi o conjunto pré- quilo que criou o compositor, ou o intérprete, como é mais o caso
vio/amplificador de potência Constellation Audio Inspiration 1.0, quando se trata de jazz, em que a improvisação é o tema. Pois
com o Accuphase DP85 como fonte digital e o gira-discos Basis as Alexia 2 cometem o feito notável de se anteciparem à mi-
Gold com braço SME V Gold e cabeça van den Hul Colibri Gras- nha antecipação, colocando logo ali na frente aquilo que eu ain-
shopper, ligado ao meu prévio de phono, como fonte analógica. da estou a tentar construir mentalmente. Mas esta maneira de
Calibradas de modo muito aproximado para a posição final, apresentar a música, que é disso que se trata, não ocorre de um
isto porque tinha em vista uma segunda sessão de calibração de- modo ostensivo, assim como se estivéssemos na frente de al-
pois das audições estarem já bem avançadas, as Alexia  2 en- guém que gosta de se armar em superior e pretende saber tudo,
cantaram-me desde o primeiro momento pela maneira sublime antes pelo contrário, tem lugar de uma maneira natural, grati-
como pegam na música e nos atraem para a audição como se es- ficante, mesmo tonificante – estas colunas são umas parceiras
tivéssemos perante a flauta de encantamento de Circe, embora fenomenais que comungam connosco do prazer de escutar a
sem qualquer risco de sofrer os efeitos secundários que incidiram música, partilhando com o ouvinte toda a sua arte de cavalgar
sobre os marinheiros de Ulisses. Não há muitos equipamentos de todo o tipo de reprodução musical e todos os géneros de música.
áudio que sejam abençoadas com esta qualidade úni- Eu sei que não é fácil acreditar mas também não
ca de reprodução de música de um modo tão atrac- peço a ninguém que acredite piamente nas
tivo e quase balsâmico. Falarei um pouco mais em minhas palavras. Mas olhem que acreditarão
detalhe na próxima edição sobre a sua performan- seguramente naquilo que podem ouvir a par-
ce ao longo da gama de reprodução bem alarga- tir das Alexia, que são o inverso do tal fa-
da que elas ostentam, mas não posso deixar de moso detector de mentiras: enquanto este
mencionar desde já aqui a perfeita suavidade e serve, em princípio, para detectar quan-
incrível extensão dos agudos e a encantadora do se mente, estas monumentais colu-
definição dos graves. Aliás, convém também nas são como que o arauto da verdade
mencionar desde já que, embora inicialmen- musical, trazendo até nós todo o âma-
te não deixasse de ter algum receio que go da composição e do empenho com
a saída bass-reflex causasse alguns efei- que o intérprete ou intérpretes a exe-
tos menos desejáveis na minha sala, isso cutam. E se eles o fazem de modo
nunca aconteceu, antes pelo contrário: os desinteressado, aí estão as Ale-
graves fluíram com uma presença, uma xia 2 para o desvendarem a todo e
naturalidade e mesmo uma majestosi- qualquer que esteja na frente de-
dade que me encantaram desde o pri- las, como que dizendo de um mo-
meiro dia. Mas, se bem que num teste do muito natural: a música até que
se tenha de falar sempre do compor- é tão boa, merecia um músico al-
tamento de um equipamento perante go melhor ou então que este mú-
a música emitida pelos mais diversos sico, que até normalmente toca
instrumentos, as Alexia quase que nos tão bem, o fizesse melhor – não
impõem que não o façamos porque havia necessidade. O preço será
o que é mais importante quando es- apresentado já de seguida, vale o
tamos perante elas é a música e na- que vale no sentido em que osten-
da mais que a música. Ouvir grandes ta um valor numérico que conce-
músicos, como John Coltrane, Pat Me- de a apenas alguns poucos almejar
theney, Pablo Casals e uma enorme levar para sua casa um par des-
variedade de outros, ou algumas das tas preciosidades, mas aquilo que
grandes orquestras mundiais, nestas me interessa nesta minha recen-
colunas é uma experiência enrique- são é fazer uma avaliação o mais
cedora em termos musicais e emo- isenta possível da sua performan-
cionais. Alguns poderão considerá-lo ce e descrever de modo igualmen-
uma heresia, mas em meu entender te exacto tudo aquilo que senti ao
estas colunas da Wilson têm capaci- ouvi-las. Espero ter deixado ainda
dade atractiva suficiente para dei- sumo suficiente para os próximos
xar completamente rendidos mesmo capítulos desta longa viagem de
aqueles poucos que dizem que não audição musical. Entretanto convi-
gostam de ouvir música (sim, ain- do já todos aqueles que possam a
da há por aí alguns desses!). E, para deslocarem-se ao Audioshow para
além de desaparecerem de cena de apreciarem in loco e fazerem a sua
um modo desconcertante, as Alexia 2 própria avaliação. Nada substitui is-
têm uma velocidade de resposta tal so. Até lá, então.
que cada nota aparece no momento
certo, quase que antecipando a nos-
sa natural antecipação quando ouvi- Colunas Wilson Audio Alexia 2
mos música, ou seja, para mim ouvir
música passa não só por reconhecer Preço 77.800 m
a peça musical logo aos primeiros Representante Imacustica
acordes mas também por ir seguin-
Telef. Lisboa – 218 408 374;
do os diversos tons e flutuações da
Porto – 225 194 180
pauta musical, tentando o mais pos-
sível ir mentalmente ao encontro da- www.imacustica.pt

42 Audio & Cinema em Casa


reportagem

CES 2018 o adeus


a Las Vegas por
parte do high-end ? 2

Jorge Gonçalves

D
e ano para ano o CES tem visto di-
minuir quer o número de exposi-
tores quer o de visitantes das Ve-
netian Towers, o hotel de Las Vegas que
desde há algum tempo aloja a área de hi-
gh-end do CES. As razões apresentadas são
as mais variadas mas, quanto a mim, pa-
ra além dos custos exorbitantes inerentes
a transportar uma palete de equipamento
da garagem do hotel até ao piso da expo-
sição, qualquer que ele seja, há que reco- 4
nhecer que o pólo germinativo do conceito
do evento mudou completamente. Nos ve- conhecidas de maneira diferente, as novi- piso 29, o único ocupado este ano, dá para
lhos tempos, em que chegámos a ter dois dades não foram muitas. Decididamente o resumir que cinco gira-discos se estrearam
CES ao longo do ano, um no Inverno e ou- mundo move-se em direcções bem dife- no CES (dois da Technics, dois da Clea-
tro no Verão, o áudio e a televisão domi- rentes daquelas que estamos habituados raudio, um da Audio Technica e outro da
navam para aí 70 a 80% do espaço de ex- a considerar. Por tudo isto, e apesar de ter Master Dynamic), bem como ocorreu a an-
posição. Mas hoje, se formos ler as notícias solicitado (e obtido) um conjunto de foto- testreia da versão final do Pro-Ject Yellow
transmitidas por quase todos os que fo- grafias aos meus amigos da EISA, a repor- Submarine, as novas JBL L100, colunas ac-
ram a Las Vegas, elas incidem sobre temas tagem do CES 2018 vai ser bem reduzida. tivas da ELAC, e diversos outros modelos
bem diferentes, desde a realidade virtual Quem gosta mesmo de áudio vai ter que das marcas GoldenEar, Vendersteen, Klips-
à realidade aumentada e mesmo aos car- ler, para já, a segunda parte da minha re- ch, Jamo, Polk, Definitive Tech, VTL, Pio-
ros sem condutor, tudo aparece nos títu- portagem do AudioVideoShow de Varsóvia neer, Onkyo, Sony e Bluesound. Isto, claro,
los das reportagens. Sobre equipamentos e esperar mais algum tempo pela grande para além de uma tonelada de colunas
de áudio, e alguns foram lançados, quase revoada de novidades que vão estar pre- com Bluetooth e colunas para festas, uma
nem uma palavra, a não ser para mencio- sentes em Munique, esse sim, o grande categoria recente que certamente vai dar
nar as diversas versões de controlo vocal. show mundial do áudio de qualidade. que falar, pelo menos por parte dos vizi-
E mesmo na televisão pura, tirando alguns Apesar de tudo, e de termos apenas nhos de quem as comprar.
protótipos que utilizam as tecnologias já algo como 28 salas de demonstração no Passemos então às fotos do CES 2018.

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1 A LG resolveu transportar o conceito do túnel de módulos de LED’s de dimensão minúscula, 4 A Sony apostou no alargamento das suas
OLED, apresentado por duas vezes na IFA/ distribuídos de acordo com as cores fundamen- propostas na tecnologia OLED, abrangendo assim
Berlim, e espantou os visitantes do Convention tais – azul, verde e vermelho. Estes módulos são preços mais abordáveis, mas as grande surpresas
Center com o OLED Canyon, constituído por nada depois agrupados de maneira precisa, sendo foram o novo processador de vídeo X1 Ultimate
menos de 246 painéis de televisão. Faz sentido, possível construir assim televisores de qualquer e um incrível televisor LED 8K de 85 polegadas
até porque o Grand Canyon é mesmo ali ao lado dimensão. com uma intensidade luminosa máxima de
de Las Vegas. 3 A LG apostou em mais modelos OLED, nomea- 10.000 nit, quase dez vezes mais do que o
2 Lançamentos por parte da Samsung não damente nas séries C8, B8, E8, G8 e W8, para máximo que os televisores actuais conseguem
existiram por aí além na área da televisão, parece além do interessante ecrã OLED «enrolável» de fornecer.
que vão ter lugar durante Março, mas o protótipo 65 polegadas, que se fixa directamente à parede 5 O OLED é sem dúvida a grande coqueluche do
da televisão The Wall, a qual deverá ser lançada e pode ser configurado para vários formatos de momento, e a Panasonic não podia deixar de
no mercado lá para o final do ano em tamanhos imagem. Mas uma das grandes novidades foi mostrar que aposta igualmente nessa tecnologia.
de ecrã entre as 70 e as 80 polegadas, chamou a apresentação do original projector 4K com a No CES tínhamos como maiores novidades
fortemente as atenções. No televisor apresenta- referência HU80K, o qual recebeu um prémio de as duas novas linhas FX950 e FZ800, com
do, de 146 polegadas de diagonal, utiliza-se a inovação CES. importantes melhorias ao nível da reprodução de
tecnologia MicroLED, que consiste na utilização negros e suportando o HDR10+. As dimensões
de ecrã serão de 55 e 65 polegadas.

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reportagem CES 2018

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6 Falando agora do áudio, a Nagra, uma vez mais DAVE, com prévio CPA 5000, dois monoblocos
com uma demonstração independente localizada SPM 6000 MKII e colunas Vienna Acoustics
no hotel Mirage, apostou na sua linha HD, com Liszt.
grande destaque para o novo prévio, com uma 9 A entrada de Andy Jones na equipa de
topologia duplo-mono e fonte de alimentação desenvolvimento da ELAC providenciou um forte
separada. impacte nas linhas de colunas de preço mais
7 A Constellation utilizou um sistema formado pelo acessível. E a grande novidade no CES eram as
prévio Pictor combinado com o amplificador de colunas activas sem fios de três vias Argo B51
potência Taurus e com o leitor de média Cygnus com um belíssimo acabamento em madeira
com compatibilidade Roon. As colunas eram as lacada.
Magico S3 Mk 2. 10 A Raidho apresentou as recentes XT-5 com seis
8 A Chord apresentou aquele que considera o DAC altifalantes de graves e médios com um cone
compacto mais avançado do mundo, o Qutest. fabricado a partir de uma sanduíche de alumínio
Na altura em que foi tirada a foto não estava e cerâmica revestida a titânio. O tweeter é o já
ligado, mas temos aqui uma bela combinação do habitual modelo de fita e o acabamento da caixa
transporte/upsampler BLU MKII e do conversor é do mais alto nível. 10

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11 A Technics apresentou a versão «mais finalizada»


do gira-discos SP-10R, que já tinha sido visto na
IFA 2017, bem como o novo SL-1000R, este de
preço algo mais elevado e a poder ser equipado
com três braços. 14
12 A JBL continua a sua reintrodução de modelos
dos velhos tempos e desta vez apresentou as
pequenas monitoras L100 Classic, aqui na foto
com a grelha azul e posando ao lado de algumas
das suas irmãs. O tweeter é de titânio, e a clássi-
ca grelha de espuma de náilon pode ter as cores
laranja, azul e cinzento.
13 Para além do gira-discos AT-LP7, com tracção
por correia, a Audio Technica lançou no CES a
sua cabeça topo-de-gama AT-ART 1000 com a
inovação de colocar as bobinas quase na ponta
do cantilever, mesmo por cima da agulha.
14 A Triangle Art tinha em exposição o «irmão» mais
pequeno do sumptuoso Mater Reference, o mo-
delo da direita na foto. A electrónica era também
da mesma marca, destacando-se o amplificador
de potência estéreo TA 260, com uma potência
de saída de 500 W por canal, com os primeiros
100 W a serem fornecidos em classe A.
15 Dois nomes que seguramente dirão muito aos
audiófilos da «velha guarda» juntaram-se numa
das salas de exposição. Tratava-se da SAE, com
um amplificador de potência capaz de debitar
1200 W, e da Eggleston Works, na forma das
colunas comemorativas do seu 20.º aniversário,
as Andra Viginti LE. 15

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reportagem CES 2018

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16 Mais um regresso ao passado: a Klipsch relançou 19 A Transparent tinha em exposição diversos 21 A Pro-Ject demonstrou o novo gira-discos activo
alguns dos modelos de colunas desenhados modelos da sua linha de condicionadores de Juke-Box, que tem tudo incluído – basta ligar um
originalmente por Paul Klipsch (temos aqui as sector, de que se destacava o modelo Opus. Tem par de colunas para se ter um sistema estéreo. E
Forte, da linha Ultimate Authentic) mas com quatro tomadas de saída, associadas duas a duas em termos de entradas admite mesmo o Blue-
novas tecnologias ao nível dos altifalantes e dos em termos de blocos de isolamento, e incorpora tooth, mais uma entrada e uma saída de linha. A
componentes do crossover. mesmo protecção específica para as ligações cabeça de origem é uma Ortofon OM5e.
17 O AMG Giro não é exactamente novo mas resulta Ethernet. 22 Desenhadas por um dos mais famosos designers
muito bem neste acabamento Blue&White, como 20 A Lumin fez o update do D1 para o D2, acres- mundiais, as colunas sem fios Master & Dynamic
a marca lhe chama, e soa ainda melhor com a centando-lhe uma fonte de alimentação interna, MA770 são fabricadas a partir de betão extrema-
cabeça DS Audio W2. conversores Wolfson duplos e suporte para DSD mente inerte. Cada coluna, a qual pode simular o
18 A Clearaudio apresentou dois novos gira-discos 128. Estava combinado com a amplificação D1/ funcionamento em estéreo (?), tem um amplifica-
na linha Concept, um modelo activo com am- A1, ligada às colunas Amadeus Philarmonia. dor interno de classe D com 100 W de potência
plificação interna para auscultadores, e o Wood e o Chromecast está integrado de origem.
Satisfy CT, aqui ilustrado.

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24

23 A Morel anunciou a série PowerSlim, uma nova


linha de colunas especificamente desenhada para
instalações. Apesar de serem muito finas, as co-
lunas incluem um altifalante de graves-médios de
6,5 polegadas e um tweeter de 1,1 polegadas, 25
ambos fabricados pela Morel.
24 Mais um novo gira-discos, neste caso o Music
Hall MMF-9.3 Wood. Tem tracção por correia,
duas velocidades e plinto de estrutura tripla, com
o motor e os controlos de velocidade totalmente
isolados ao serem montados numa base amorte-
cedora desacoplada do gira-discos.
25 Construir uma coluna como se fosse um Lego é
algo inovador e que a Soundots propõe através
das estruturas modulares XCEL Ai-1, que se
ligam umas às outras através de acopladores
ópticos. Um poderoso processador DSP externo
ajusta o som final em termos do número de
módulos utilizados e este verdadeiro «monstro»,
com o apropriado nome The Beast, ilustra até
que ponto podemos levar a nossas ambições.
26 Os veículos automóveis estão a ocupar um
espaço cada vez maior no CES e a proposta de
um SUV de condução autónoma por parte do
fabricante chinês BYTON é um mero exemplo
que constata esta realidade. A consola central é
um ecrã LCD de 125 cm por 25 cm e, como
seria de esperar, a tecnologia de controlo por voz
Amazon está integrada. 26

Audio & Cinema em Casa 49


teste

O Trigon Trinity: UMA TRINDADE AUDIÓFILA


(AMPLIFICADOR, LEITOR
DE CD’S E STREAMER)
Leonel Garcia Marques
NUM SÓ EQUIPAMENTO

A
pesar de introduzida há pou- Estes botões servem para tomar múltiplas a 22  kHz (-3  dB), um factor de distorção
co tempo no nosso país, a Trigon opções (por exemplo, escolher a fonte, a menor que 0,02%, uma separação de ca-
(marca que deriva da mais conhe- saída, o menu, etc.), opções essas que sur- nais melhor que 80 dB (1 kHz) e uma rela-
cida Restek) vem acumulando simpatias gem num mostrador colorido LED de 7 cm ção sinal/ruído melhor que 96 dBA.
e clientes a um ritmo apreciável. Para is- de diagonal, situado ao centro. Nesse LED O componente de streaming está con-
so tem contribuído a qualidade das suas aparece informação relativa ao comando forme as normas UPnP e é capaz de fazer
propostas, aliada a um design apelativo e do aparelho e as capas dos álbuns que es- streaming de rádio digital ou de serviços
à robustez da construção. E tudo isto sem tão a ser reproduzidos. Do lado esquer- com o Tidal ou o Qobuz. Os formatos de fi-
exageros de preços. Desta vez coube-me do do mostrador está uma entrada USB e cheiro áudio reproduzíveis são: WAV, FLAC,
em sorte, um «tudo-em-um», o Trinity, in- do direito uma saída para jack de 6,3 mm CDDA, AAC, WMA e muitos outros, com re-
cluindo amplificação integrada, leitura de para auscultadores. Mais à esquerda, es- soluções até 192 kHz / 24 bit.
CD’s e streaming de servidores locais ou da tá colocado um manípulo grande e redon- O Trinity vinha também com o controlo
Net. E posso adiantar, sem estragar nenhu- do rodeado por um círculo que se ilumina remoto Director, muito completo (embora
ma surpresa, que o Trinity não desiludiu. com várias cores em função do estado do requerendo alguma trabalho interpretati-
aparelho e do volume. Finalmente, e à di- vo) que pode ser usado com vários equi-
Descrição reita de tudo, aparece o logótipo da Trigon.
O Trinity que me visitou tinha a fronte em Na parte de trás, o Trinity apresenta
alumínio-prata espesso e o corpo em ne- as seguintes entradas: quatro SPDIF (duas
gro-antracite (com acabamento em Nex- Toslink e duas coaxiais), três RCA (analógi-
tel). Existem versões do mesmo equipa- cas), quatro USB, uma Ethernet, uma pa-
mento com a fonte em negro anodizado ra controlo remoto por tensão de 10  V. E
e o corpo em cinzento prateado ou negro. as seguintes saídas: um par para colunas,
O aspecto geral comunica qualidade de fa- uma balanceada para pré-amplificador
bricação e solidez mas sem esquecer a es- e outra RCA para pré-amplificador. Final-
tética. mente, apresenta uma entrada IEC Schuko
O Trinity possui o peso de aproximada- controlada por um interruptor de alimen-
mente de 7 kg e as dimensões de (L × A × tação.
P) 40 × 11 × 26,6 cm. O Trinity possui um dispositivo de sus-
Na fronte apresenta à esquerda, em pensão nos pés, que é concebido para ab-
baixo, o logótipo da Trinity e um pou- sorver choques e vibrações.
co mais para o centro um losango incrus- A área de amplificação fornece uma
tado que ostenta cinco botões pequenos potência de 2 × 85 W / 125 W a 8/4 Ohm,
(um no centro e os outros nos vértices). com uma frequência de resposta de 15 Hz

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pamentos da Trigon. Mas o controlo do equipamento pode ser feito também


pelos botões da fronte e/ou por uma interface de computador ou smartpho-
ne. Esta interface é extraordinariamente intuitiva e eficiente, muito mais do
que as várias Apps que já experimentei em equipamentos deste género. De
tal modo que, sem qualquer problema de maior, o coloquei a funcionar em
menos de um minuto, apenas introduzindo o seu IP na rede doméstica. Vin-
te valores na facilidade de utilização!

Audição
Ao Trinity basta juntar colunas, e por isso testei-o basicamente com as co-
lunas B&W 705SE. Mas também o ensaiei com os meus auscultadores Hi-
fiman HE560. Testei as suas capacidades de leitor de CD’s, de streaming a
partir do servidor NAS doméstico (um WD My Cloud Ex 4100 de 16 Tb) e do
serviço Qobuz. Mas também liguei um outro leitor de CD’s por S/PDIF e por
RCA. Posso começar por dizer que, em geral, a leitura em streaming é me-
lhor do que a reprodução de CD’s. Pelo que, se tiver um NAS ou DAS (quer
dizer uma unidade de armazenamento ligada à rede ou directamente ligada
ao equipamento) convém copiar os seus CD’s e utilizar antes as cópias. Por
exemplo, o meu leitor residente, um Atoll SACD 200SE ligado em RCA, possi-
bilitou um melhor desempenho. A saída de auscultadores também se reve-
lou bastante competente. Assim, o que se descreve a seguir é basicamente
um conjunto de impressões de audição em streaming com ligação Ether-
net através de um dispositivo Powerline, ligando ao Trinity apenas as 705SE
(mas aplica-se também em grande parte à audição por auscultadores).
O som do Trinity é bem modelado, com agudos transparentes mas neu-
tros, com baixos extensos mas sem vestígios de qualquer «ump-ump», com
boa dinâmica e boa velocidade de resposta, com um palco sonoro bem de-
finido mas talvez não muito profundo e com um bom contraste de timbres.
Esta ligeira falta de profundidade do palco sonoro acentua-se um pouco na
reprodução de passagens mais complexas, em que se nota também menos
facilidade na diferenciação dos timbres. Mas no geral, não lhe falta, musica-
lidade, energia e emoção. Mas passemos à música…
Franco Fagioli é um jovem contratenor que tem maravilhado as audiên-
cias com a cintilância dos seus agudos e a emoção que é capaz de empres-
tar a cada interpretação. As áreas de Handel são, por isso, para Fagioli, como
uma segunda natureza. O Trinity desenvencilhou-se muito bem na reprodu-
ção de Fagioli, não falhando na transparência nem na velocidade de respos-
ta, essencial para a boa reprodução deste extraordinário intérprete.
Amandine Beyer, numa gravação só de obras atribuídas a Bach mas de
atribuição duvidosa (entre elas a famosa sonata de Goldberg) exibiu, como
de costume, a sua mestria violinística. O Trinity reproduziu muito bem o som
do violino de Beyer, um som sublime mas com alguma acidez, às vezes qua-
se combativo, mas sempre esplêndido e musical.
A gravação dos Vox Luminis foi a que melhor ilustrou uma certa bidi-
mensionalidade do palco sonoro do Trinity. O que não é de estanhar, quan-
do se lida com os desafiantes e sonoramente complexos Magnificat de Bach
e Dixit Dominus de Handel.

Audio & Cinema em Casa 51


teste Trigon Trinity

Playing List
Franco Fagioli & Il Pommo D’Oro Handel Arias download Qobuz 96 kHz/24 bit
Amandine Beyer & Gli Incogniti BWV… or not download Qobuz 88,2 kHz/24 bit
Vox Luminis Bach: Magnificat & Handel: Dixit Dominus download Qobuz 96 kHz/24 bit
Archie Shepp & Horace Parlan Trouble in Mind download Qobuz 44,1 kHz/16 bit
Camille Bertault Pas de Géant Download Qobuz 44,1kHz/16 bit
Chet Baker The Thrill Is Gone download Qobuz 44,1 kHz/16 bit
Lhasa Live in Reykjavik download Qobuz 44,1 kHz/24 bit
Van Morrison Roll with the Punches download Qobuz 96 kHz/24 bit

Mas o Trinity excedeu-se nas vozes do detalhe e emoção, mostrar a beleza dos dade de utilização pode ser um factor de-
jazz – Chet Baker, Camille Bertault e Ar- médios que é capaz de atingir, assim como cisivo para muitos audiófilos que ainda se
chie Shepp (no sax-tenor). Chet Baker, de a facilidade que tem em desparecer, para não habituaram às Apps e a outras coi-
uma subtileza e de uma delicadeza infini- deixar a música fluir. sas electrónicas que parecem pouco fazer
tas, encontrou no Trinity o parceiro perfei- parte do universo audiófilo (mas fazem).
to, porque o Trinity soube não tirar nem Conclusão Mas, caro leitor, não escolha só o Trinity
acrescentar nada, com uma transparência As principais críticas que aponto à Trigon pela facilidade de utilização. Se o escolher,
e neutralidade de referência. Bravo. O te- são apenas de alguma ausência de infor- escolha-o pela sua musicalidade. O Trini-
nor de Shepp e a voz de Camille Bertault, mação técnica (por exemplo, foi-me im- ty merece.
na sua versão dos Giant Steps de Coltrane possível encontrar à referência do chip
em francês e noutros rebuçados de ouvido, DAC usado pelo Trinity) e, em especial,
permitiram ao Trinity mostrar a sua habi- a incapacidade de processamento de fi- Leitor de áudio digital Trigon Trinity
lidade em reproduzir os contrastes tímbri- cheiros DSD. Mas são aspectos facilmente
cos e a sua rapidez de resposta. colmatáveis e secundários para a grande Preço: 2990 m
A tristemente desaparecida Lhasa e parte dos audiófilos que ainda não se con- (3150 com comando Director)
o eterno Van Morrison com as suas vozes verteu ao formato DSD. Representante: Diplofer
cheias de grão, roucas, vívidas, vindas do O Trinity, na sua gama de preços, é
Telef.: 213 214 150
fundo da alma ou do que lá não cabe, fo- uma proposta excelente, de uma relação
ram a tela adequada para o Trinity mostrar qualidade/preço difícil de igualar. A facili- www.diplofer.pt/somimagem/

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teste

Accuphase DP-560
Uma união para
a vida
João Zeferino

N
os últimos anos, cada vez que se ções sérias de música se fazem no recato imateriais». Pela minha parte revejo-me
fala na compra de um leitor de do lar e não no rebuliço do trânsito ou no completamente nessa descrição, não me
CD’s, é inevitável que alguém co- meio do barulho dos transportes públicos. vejo a gastar dinheiro em ficheiros, uma
mente ser esse o último leitor da sua vi- Por outro lado, para o verdadeiro en- coisa imaterial que nunca poderá trans-
da. O decréscimo de venda de música em tusiasta do áudio, um sistema de som mitir um verdadeiro sentido de posse e,
formato CD e a anunciada morte do forma- não é apenas um meio para ouvir músi- por outro lado, a questão da portabilida-
to, do meu ponto de vista manifestamen- ca, mas antes algo muito mais pessoal e de é algo a que não sou sensível. Ouvir
te exagerada, tal como o foi o mesmo va- importante do que apenas um meio pa- música é para mim um acto de vontade,
ticínio relativamente ao LP, sugerem que o ra atingir um fim. É algo a que temos um para fazer no isolamento da sala de audi-
formato Compact Disc tenda a desapare- verdadeiro apego, quase sentimental. Co- ções e ao qual se dedica tempo, não po-
cer ou, eventualmente, venha a tornar-se mo afirma o meu colega da Audio & Ci- de ser algo de importância secundária que
um nicho de mercado, mas tal não suce- nema em Casa Leonel Garcia-Marques, «o se faz enquanto se dá atenção a qualquer
derá certamente nos anos mais próximos. audiófilo tem alguma coisa de colecciona- outra coisa.
Muito embora seja evidente o menor dor, e perguntem a qualquer coleccionador Há ainda a questão quase irracional,
interesse das gerações mais novas em su- se prefere coleccionar coisas materiais ou mas não menos fulcral, do ritual audiófilo.
portar formatos físicos, em favor da uti- O manuseio do CD ou do LP, desde a esco-
lização de ficheiros desmaterializados lha do disco que se quer ouvir até ao re-
de suporte, o que favorece uma tirar deste da embalagem e colocação no
utilização virada para a total leitor ou gira-discos, é um ritual
portabilidade, acredito que que está enrai-
haverá sempre um gran-
de número de audió-
filos/melómanos
para quem audi-

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zado nos audiófilos e que se muda ou es-


quece com facilidade quando se tem 20
anos, mas muito mais difícil de mudar aos
50, principalmente se não houver vonta-
de ou uma motivação muito forte para a
mudança.
Tomando os prós e contras, tenho ape-
nas a apontar como vantagem na utili-
zação de ficheiros o facto de existir um
grande número de ficheiros de alta-re-
solução e a facilidade com que é possí-
vel ir subindo na resolução à medida que
a tecnologia avança, enquanto que o CD, muito bom o DP-550 já tinha, a Accuphase ra/fecho, à direita. O interruptor mecâni-
e mesmo o SACD, são formatos parados dotou o novo DP-560 de novas funciona- co de ligação, o comutador SACD/CD e os
no tempo da sua concepção por força das lidades antes não disponíveis. No que se comutadores básicos de controlo de fun-
normas que originalmente os definiram. refere ao processamento digital do sinal, o cionamento do leitor completam o rama-
Não é ainda despicienda a questão de a DP-560 herda mesmo soluções desenvol- lhete.
maioria de nós ter uma colecção de CD’s vidas primeiramente para o conjunto de O mostrador alfanumérico dá informa-
de tamanho considerável e, pelo menos topo transporte  + DAC DP-950  + DC-950, ção acerca do número da faixa em leitura,
na parte que me toca, querer continuar a nomeadamente no que se refere aos bai- informação do tempo decorrido e em fal-
usufruir dessa colecção com a melhor qua- xíssimos valores de distorção harmónica ta para a faixa e para o disco, bem como a
lidade possível nos anos vindouros. total e nível de ruído, que podem compe- resolução do sinal aquando da reprodução
Toda esta dissertação para explicar tir com os valores exibidos pelo DAC de to- de ficheiros via entrada digital.
por que razão não acredito que o forma- po desse conjunto, o DC-950. Na traseira, o DP-560 conta com três
to CD desapareça, pelo menos nos anos O novo mecanismo de transporte é saídas digitais, coaxial, óptica e HS-Link,
mais próximos, muito embora possa vir a uma evolução significativa da drive SA- que no DP-560 implementa a mais recen-
tornar-se um nicho de mercado destina- CD/CD da Accuphase, com o módulo que te Ver. 2, que passa a transmitir o sinal de
do a audiófilos empedernidos e resisten- contém o laser a ser implementado sobre clock separadamente e garante suporte
tes a mudanças drásticas, como este vosso amortecedores de silicone para uma quase para sinais até 32 bit / 384 kHz em PCM e
escriba. Também por isso, haverá sem- total absorção de vibrações. Este novo me- DSD até 5,8224 MHz. As entradas digitais
pre lugar para leitores de CD’s de qualida- canismo de leitura é compatível com dis- são quatro, coaxial, óptica e HS-Link, a que
de superlativa, tal como nunca deixou de cos SACD e CD, mas agora também com se junta a entrada USB, como não podia
haver lugar para gira-discos e células de discos gravados num PC do tipo CD-R/-RW, deixar de ser. As saídas analógicas fazem-
leitura de topo, mesmo durante o período DVD-R/-RW, +R/+RW que contenham fi- -se através de duas fichas RCA ou em ver-
mais crítico da sua morte (prematuramen- cheiros de música nos formatos WAV, FLAC, são balanceada XLR.
te) anunciada. AIFF e .dsf. A tecnologia MDS+ (Multiple O interior do DP-560 é um regalo pa-
Delta-Sigma) utiliza um chip ESS Technolo- ra a vista, com cinco secções bem delimi-
Descrição gy’s 32 bit Hyperstream DAC ES9018S, que tadas e separadas, implementando um
Mas passemos à descrição da estrela des- contém oito conversores D/A, e faz uso de excelente nível de isolamento entre si. Te-
ta análise, o novo leitor de SACD de en- quatro destes conversores D/A em parale- mos assim ao centro a zona do mecanismo
trada na gama da Accuphase. Mesmo que lo por canal, assegurando uma conversão de leitura laser, a fonte de alimentação, o
não soubéssemos, seria fácil perceber es- de sinais PCM e DSD de enorme precisão. A circuito analógico, o circuito de processa-
tarmos perante um equipamento de con- ligação USB suporta sinais PCM até 32 bit / mento digital e o controlo lógico.
cepção e fabrico nipónico, tal a atenção 384 kHz e DSD de 1 bit / 11,2896 MHz.
dada ao pormenor, à qualidade e solidez Como é habitual na marca, o DP-560 Audições
da construção e à implementação de solu- possui um design clássico e intemporal, O Accuphase DP-560 substituiu, proviso-
ções técnicas de vanguarda. na habitual cor champanhe. A gaveta de riamente, o seu antecessor DP-550 no
O DP-560 é o sucessor do DP-550, o carregamento, de funcionamento suave e meu sistema, tendo sido acompanha-
modelo que faz parte do meu sistema re- totalmente silenciosa, encontra-se numa do pelo conjunto pre/power Accuphase
sidente há já algum tempo. Para além de posição central, ladeada pelo selector de C-2120/P-4200, e pelas colunas Revel Ul-
melhorar em termos sónicos o que de entrada, à esquerda, e o botão de abertu- tima Studio II. Na ligação do leitor DP-560
ao prévio esteve o cabo Kubala-Sosna Fas-
cination, com o Kimber Select KS-1121 a
estabelecer a ligação entre pré e power,
e o Kimber Monocle  XL nas colunas. Foi
ainda utilizado um servidor de música Liv
Zen 2TB para a audição de alguns ficheiros
FLAC com diferentes resoluções, ligado ao
DP-560 via cabo USB Audioquest Carbon.
Iniciei as audições com o Concerto pa-
ra Piano e Orquestra de Schumann, uma
gravação em SACD com Maria João Pires
e Sir John Eliot Gardiner à frente da Or-
questra Sinfónica de Londres, tendo sido
constatadas de imediato características de

Audio & Cinema em Casa 55


teste Accuphase DP-560
Discos utilizados nas audições:
absoluta claridade, abertura e transparên-
cia que me soaram familiares, já que são Compositor / Obra Intérpretes Editora
também particularidades muito fortes no
A. Bruckner Orquestra Filarmónica de Viena BMG RED SEAL
DP-550, mas que no DP-560 parecem sur-
Sinfonia n.º 9 Nikolaus Harnoncourt (SACD)
gir com uma nova vida, uma superior vita-
lidade e maior arrojo. Nota-se uma maior Sergei Prokofiev Alexander Toradze PHILIPS
capacidade para penetrar no âmago das Concerto p/ Piano e Orq. n.º 3 Orquestra do Kirov (CD)
gravações e expor com total minúcia to- Valery Gergiev
da a intricada complexidade de um contra- G. Mahler Elena Mosuc – Zlata Bulycheva LSO
ponto e das nuances tímbricas e dinâmicas Sinfonia n.º 2 Coro e Orquestra Sinfónica de (SACD)
próprias dos instrumentos em palco. Londres
A espacialidade com que dota a repro- Valery Gergiev
dução musical é um verdadeiro espanto.
Não só o palco sonoro é amplo e verdadei- Sergei Prokofiev Orquestra de Cleveland FLAC
ramente tridimensional, sendo particular- Romeo and Juliet Yoel Levi 16 bit/44,1 kHz
mente impressionante a nitidez com que
J. Brahms Barbara Hendricks – José van Dam DG
nos são revelados os detalhes que aconte-
Ein Deutsches Requiem Wiener Singverein (CD)
cem nas zonas mais recuadas, como pare-
Orquestra Filarmónica de Viena
ce ter uma aptidão especial para adequar
Herbert von Karajan
as dimensões do palco ao efectivo instru-
mental em causa, nunca dando a sensação P. I. Tchaikovsky Orquestra Filarmónica de Oslo CHANDOS
de gigantismo, excepto quando a música Sinfonia n.º 5 em Mi menor Mariss Jansons (CD)
assim o exige. Ouça-se a 2.ª Sinfonia de Op. 64
Mahler, numa gravação em SACD pela Or- R. Schumann Maria João Pires LSO
questra Sinfónica de Londres, para se per- Concerto para Piano e Orquestra Orquestra Sinfónica de Londres (SACD)
ceber o conceito de «palco sonoro» em em Lá menor, Op. 54 Sir John Eliot Gardiner
reprodução de áudio.
A liquidez e uma sonoridade sedosa, Patricia Barber Patricia Barber FLAC
que propicia audições relaxantes e sem Smash 24 bit /192.0 kHz
quaisquer vestígios de cansaço, fazem es- Todd Turkisher Todd Turkisher FLAC
quecer completamente as críticas muitas Drum Solo 24 bit /96.0 kHz
vezes feitas à reprodução digital de músi-
ca. Não fora a facilidade com que nos pre- Star Wars – Battle of the Heroes Cincinnati Pops Orquestra FLAC
senteia com os transitórios dinâmicos mais (Ep. III) Erich Kunzel 24 bit / 88,2 kHz
exacerbados ou o quase absoluto silêncio
a partir do qual se faz música, e podería- Pink Floyd Pink Floyd EMI
mos pensar estar perante uma fonte ana- Wish You Were Here (CD)
lógica do mais alto calibre.
The Alan Parsons Project Alan Parsons ARISTA RECORDS
Os registos graves exibem uma exce-
Eye in The Sky (CD)
lente articulação, soam rápidos e sober-

56 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269

bos na reprodução do timbre, permitindo


identificar sem qualquer esforço os diver-
sos instrumentos graves de uma orques-
tra, sendo esta uma área onde se nota
uma melhoria significativa do DP-560 fa-
ce ao modelo que o antecedeu.
A ligação com os registos médios faz-
-se sem quaisquer descontinuidades apa-
rentes, o que contribui para a coesão e
unicidade do todo. O Concerto para Piano
e Orquestra n.º 3 de Prokofiev, soou parti-
cularmente expressivo, com uma fabulosa
reprodução do piano, ainda que sem des-
curar o importantíssimo acompanhamento
orquestral, permitindo seguir com facilida-
de as linhas melódicas distintas das mãos
direita e esquerda, e sempre com o empe-
nhamento rítmico que a obra exige para
uma reprodução convincente.
Nos registos agudos, a Accuphase não
podia deixar de impor a sua assinatura
sónica, dotando o DP-560 de uma tonali-
dade harmonicamente rica e ligeiramente
densa que é quase como um ligeiro arre-
dondar das arestas no extremo do espec-
Especificações técnicas tro mas que, pelo menos aparentemente,
Formatos Super Audio CD (SACD), CD não conduz a qualquer perda de resolu-
Disco DSD – DVD-R/-RW/+R/+RW (DSF file format) ção ou detalhe. É antes uma apresentação
Disco dado – CD-R/-RW, DVD-R/-RW/+R/+RW inerentemente bela e que nos atrai de um
(Formatos suportados: WAV, FLAC, DSF, DSDIFF) modo quase irresistível. Vozes, límpidas,
de dicção perfeita e articulação inteligí-
Saídas digitais HS-LINK (tipo: RJ-45) – cabo HS-Link dedicado
vel, cordas sedosas e encorpadas, metais
Coaxial Format: IEC 60958
enérgicos e cintilantes, e uma focagem
Optical Format: JEITA CP-1212
que permite individualizar os diversos in-
Entradas digitais HS-Link (tipo: RJ-45) – cabo HS-Link dedicado) tervenientes em palco, sempre com uma
Coaxial Format: IEC 60958 notável noção do todo, fazem do Accupha-
Optical Format: JEITA CP-1212 se DP-560 um verdadeiro deleite para os
USB 2.0 Hi-Speed (480 Mbps) ouvidos e uma fonte digital que nos convi-
Frequência HS- Link (Ver. 2) 32 kHz a 192 kHz, 352,8 kHz, 384 kHz da a longas horas de escuta contínua.
de amostragem (16 a 32 bit, 2 canais PCM)
Conclusão
2,8224 MHz, 5,6448 MHz (1 bit 2 canais DSD)
O Accuphase DP-560 é uma verdadeira
Óptica 32 kHz a 96 kHz, (16 a 24 bit, 2 canais PCM)
central de processamento de sinais digi-
USB 32 kHz a 384 kHz (16 a 32 bit, 2 canais PCM)
tais. Para além das funções de leitura de
2,8224 MHz, 5,6448 MHz, (1 bit, 2 canais DSD),
discos físicos nos formatos CD e SACD, e
11,2896 MHz (ASIO)
agora também de discos CD-R/-RW, DV-
Conversão D/A 4 MDS+ D-R/-RW/+R/+RW com ficheiros de mú-
Resposta em frequência 0,5 a 50.000 Hz +0, –3.0 dB sica nos formatos AIFF, WAV, FLAC e .dsf,
para a qual conta com um mecanismo de
Distorção harmónica total 0,0006% (20 a 20.000 Hz) transporte patentedo de altíssima qualida-
Relação sinal/ruído 119 dB de, que garante uma operação totalmen-
te silenciosa, dispõe também de entradas
Gama dinâmica 116 dB
digitais HS-Link  V2, coaxial, óptica e USB,
Separação entre canais 117 dB (20 a 20.000 Hz) de modo a poder processar sinais digitais
Tensão de saída 2,5 V 50 Ohm, balanceada XLR de fontes externas, como servidores de
e impedância 2,5 V 50 Ohm, RCA música, streamers e outros.
A reprodução musical do Accuphase
Nível de saída 0 dB a –80,0 dB, passos de 1 dB é algo que nos deixa rendidos, tal a ve-
Dimensões 465 × 151 × 393 mm (L×A×C) rosimilhança, limpidez e espacialidade
que coloca ao serviço da música. Um lei-
Peso 18,8 kg (25,0 kg embalado)
tor digital que pela sua qualidade de cons-
Preço 11.400,00 m trução, nível tecnológico e desempenho
Representante Ultimate Audioelite sónico desafia a obsolescência e que, pa-
ra muitos audiófilos, pode muito bem vir a
Telef. 217 602 028/968 599 369 ser o último leitor de CD’s que compram na
Web http://ultimate-audio.eu/ vida. Muito recomendado.

Audio & Cinema em Casa 57


música erudita

Música
erudita em
«musicalidade» da ambiência; exemplo: A Isso quanto à quantidade, e para meu
Cor do Tempo; e Pedro Macedo Camacho, gosto; porque Bela Bartók só compôs seis
com a tentativa de compor um requiem e os considero extraordinários, nem mes-

PORTUGAL
[Requiem de Inês de Castro]. mo superados – mais uma vez para meu
Heitor Villa-Lobos é, internaciona- gosto – pelos de Chostakovich e… ouso
lmente, conhecido pela série de nove dizer, pelos dois de Leos Janácek.

e BRASIL
peças nomeadas como Bachianas Brasile- [Os leitores já notaram que minha
iras: Nº 1 = para orquestra de violoncelos; preferência em música erudita é para
Nº 2 = para orquestra, com uma tocata fi- quartetos de cordas; tenho-os muitos, até
nal apelidada de O Trenzinho do Caipira; de Wagner e Bruckner, inclusive de um
Nº 3 = um diálogo entre piano e orquestra; cearense [Ceará é minha terra natal, e pa-
Este Século XXI tem sido parco Nº 4 = para solo de piano ou orquestra; Nº ra onde voltei após 60 anos no Sul Mar-
com compositores musicais 5 = para soprano e orquestra de violonce- avilha] repito, até do cearense Alberto
eruditos; em contraposição los; Nº 6 = camerística, para flauta e fag- Nepomuceno [1864-1920], que de arata-
ote; Nº 7 e Nº 8 = para orquestra; e Nº ca [quem é cearense é conhecido como
ao Século XX, que foi pródigo. 9 = para coro sem acompanhamento ou arataca], de arataca tem pouco… Escreveu
orquestra de cordas. três quartetos de cordas e um trio; tenho
Embora apreciado por suas Bachianas, em minha discoteca os quartetos interpre-

N
o Século XX tivemos: Bela Bartok para mim Villa-Lobos só passa à categoria tados pelo conjunto brasileiro Quarteto Au-
– 1881-1945; Alban Berg – 1885- de notável como compositor de música er- reus, e gravado em DDD, no Estúdio Cia.
1935; Leonard Bernstein – 1918- udita com os seus DEZASSETE quartetos de do Gato.]
1990; Benjamin Britten – 1913-1976; Aar- cordas; uma das mais extensas musicogra- Na minha avaliação, Nepomuce-
on Copland – 1900-1990; George Gershwin fias para quatro instrumentos de cordas no compôs música europeia, ao estilo de
– 1898-1937; Paul Hiindemith – 1895- em todos os tempos, talvez só superada Brahms, com forte acento alemão e algu-
1963; Arthhur Honegger – 1892-1955; Zol- por Mozart, que compôs 23. [Beethoven, ma influência francesa; só mostrou sua
tan Kodaly – 1882-1967; Darius Milhaud – 16, e Dmitry Chostakovich com 15 quar- brasilidade na obra para orquestra, Série
1892-1974; Carl Orff – 1895-1982; Francis tetos]. Brasileira, composta de quatro movimen-
Poulennc – 1899-1963; Serge Prokofiev –
1891-1953; Dmitry Chostakocich – 1906-
1975; Igor Stravinsky – 1882-1971; Heitor
Villa-Lobos – 1887-1959; e William Walton
– 1902-1983. Obs.: considerei talentosos
(a) os compositores que têm no mínimo
três obras em catálogos de discos e (b) os
que tivessem mais de 20 anos na entrada
do Século XX.
Ainda que do Brasil os catálogos reg-
istrem Heitor Villa-Lobos, de Portugal
não foram mencionadas as «promes-
sas» Daniel Martinho e sua música, algo
«concreta», com que pretende exprimir a

58 Audio & Cinema em Casa


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uma ou duas peças que caem no esquec-


imento. Aliás, é tal «esquecimento» – que
em brasileiro chulo dizemos «não empla-
cou» – que dá significância à diferença en-
tre «música erudita» e «música clássica»:
«música erudita» é a música composta
seguindo as regras greco-romanas de
composição, e «música clássica» é toda
música que ultrapassa o seu tempo: ex-
emplos: Uma Casa Portuguesa, em Portu-
gal, e Feitiço da Vila no Brasil, são clássicos
mas não são eruditos.
E por que nos últimos anos não têm
surgido nem «gênios» nem «talentos»?
É uma resposta mui difícil de dar-se.
tos: I – Alvorada na Serra; II – Intermezzo; Então ouso [e peço antecipadas descul- uma troca continua de ações e reações en-
III – Sesta na Rede; e IV – Batuque. pas aos que não concordarem]: primeiro tre homens e ambiente, entre indivíduo e
§ «Batuque» [diz o Dicionário de músi- porque o Mundo Intelectual mudou radi- sociedade. O homem é um produto da so-
ca de Henrique Autran Dourado] é «Mani- calmente; hoje não se têm mais «sábios», ciedade e a sociedade é um produto do
festação popular de origem africana (Congo têm-se «cientIstas»; não mais nos aplica- homem.»
e Angola) trazida para o Brasil pelos es- mos ao estudo e à meditação, baixamos De que maneira, pois, podem surgir
cravos do século XVIII, mistura dançarinos, «aplicativos»; o ensino escolar deixou de «gênios» e «talentos» musicais se o Homo
percussionistas e espectadores.» Daí a ex- ser experimental para tornar-se literário sapiens abandonou os livros em troca dos
pressão brasileira: «Vou para o batuque.» [os professores tornaram-se «magister celulares [aí em Portugal: «telemóveis»] e,
Ou seja, vai para uma «festa popular». dixit»]; ninguém mais cisma [«to be or not em música, prefere o ácido som dos in-
Essa «pobreza» de música erudita por- to be»], aceita-se a informação das tele- strumentos de metal às doces vozes dos
tuguesa e brasileira – de resto, dois povos visões que funcionam 24 horas por dia, 7 instrumentos de madeira; uma vez que a
tão musicais – não decorre de fatores es- dias por semana, 30 dias por mês etc., ou música deixou de ser de «câmara» [em
pecificamente portugueses e brasileiros; é seja, «o tempo todo»! E resistir, quem há- recintos de alvenaria e madeira] para se
mundial. Nos últimos 60 anos – de 1950 de? tornar «espetáculo» em anfiteatros de
até 2010 – não surgiram em qualquer Talvez Karl Marx analisasse «esse concreto e ferro?
país do Mundo talentos musicais eruditos fenômeno» à luz da dialética hegeliana; Duvidam? Então ouçam o Blu-ray da
dignos da palavra «gênio» ou «talento». porque sustentou: «A doutrina materialis- NONA de Dvořák [Novo Mundo],com o
Porque «talentosos» foram Leon- ta, segundo a qual os homens são produ- maestro Andris Nelsons cujo «espetacu-
ard Bernstein, Benjamin Britten, Carl Orff, to do ambiente e da educação, mudam lar» desempenho a crítica salientou como
Dmitry Chostakovich, Heitor Villa-Lobos com o mudar de ambiente e da educação, «… a triumphant showcase»…
etc., cujas obras habitam as «Bibliotecas esquece que o ambiente vem mudando [Quer dizer, o clima pastoral da NONA
Musicais» dos melhores teatros de concer- justamente pelos homens e que o próprio de Dvorák transformado em showcase; is-
to e ópera da Terra; e não quem produz educador deve ser educado, ou seja, há so diz tudo.]

Audio & Cinema em Casa 59


teste

Há sempre um MAS:
OS NOVOS AUSCULTADORES
“NO-OUVIDO” MASTER ART
OF SOUND E A UBIQUIDADE
DA MÚSICA NO NOSSO TEMPO

Descrição
A embalagem é muito bonita, com uma
fotografia de Tóquio à noite e os Tokyo
não destoam. Discretos e elegantes, de cor
preta, com riscas cromadas nos fones, os
Tokyo apresentam cabos, encerados (não
entrançáveis), também pretos, alardean-
do qualidade de fabrico. As cápsulas têm
Leonel Garcia Marques dois drivers dinâmicos (de 6 mm e 9 mm)
e são de pequenas dimensões, facilmen-

P
ara citar os Monty Python, uma pes- te encaixáveis nos ouvidos e confortáveis.
soa não deve passar logo de conta- Os Tokyo têm impedância de 16 Ohm, fre-
bilista para domador de leões sem quência de resposta de 8-23.000 Hz e sen-
um passo intermédio, como trabalhar em sibilidade de 95 dB a 1 mW. O cabo é des-
seguros, por exemplo. Do mesmo modo tacável, inclui um comando de volume e
diria que passar logo de engenheiro de um microfone (para eventual utilização
som para designer de auscultadores «de com um telemóvel) e pode ser trocado por
rua», sem alguns passos intermédios, é um acessório especial (o Duo) que trans-
também muito arriscado. É que, se ser en- forma os auscultadores de cabo em aus-
genheiro de som será difícil, ser designer cultadores wireless (sem fios) Bluetooth
de auscultadores «de rua» deve ser mui- com APT-X. O Duo oferece transmissão de
to mais. Senão vejamos, depois de uma áudio em alta definição, segundo os fabri-
fase em que a tribo audiófila não esta- cantes, minimizando as interferências de
va interessada em conveniência e a tri- superfícies metálicas ou das partes gal-
bo «sempre em movimento» não estava vanizadas dos auscultadores. O Duo tam-
interessada em nada que os tolhesse e bém inclui um comando semelhante ao do
pouco mais, agora uns auscultadores «de Tokyo (com fios) mas que apresenta uma
rua» querem-se de alta definição, peque- ligação micro-USB, para carregamento da
nos, práticos, bonitos (fazem parte do no- sua minúscula bateria a partir de compu-
vo look) e, já agora, baratos. Se a concep- tadores, e um indicador a LED de nível de
ção de tais auscultadores nos pode parecer carregamento. O Duo tem uma autono-
penosa, não se nota, pelo menos pelo nú- mia de 5 h em uso contínuo. Para funcio-
mero de propostas a todos os níveis de ga- nar com um emissor Bluetooth (como um
mas e respectivos preços. telemóvel ou um DAP), o Duo tem de ser
Vem este arrazoado a propósito de emparelhado com esse equipamento nos
uma nova proposta, os Master Art of Sou- moldes habituais das normas Bluetooth. O
nd Tokyo e o seu complemento Duo, com Duo é compatível com os Tokyo mas tam-
um slogan elucidativo: for the elegance of bém com outros modelos da MAS, como os
your life. New York (um modelo «sobre-o-ouvido»).

60 Audio & Cinema em Casa


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Playlist
Joey DeFrancesco Project Freedom download Blue Coast Records DSD 5,6 MHz
Cyrille Aimee Let’s Get Lost download Blue Coast Records DSD 5,6 MHz
Rachel Podger & Brecon Baroque Grandissima Gravita download Native DSD 11,2 MHz
Bart Schneeman, Johanette Zomer & Tulipa Consort Just Bach download Native DSD 11,2 MHz
Red Hot Chili Peppers Blood Sugar Sex Magik download Qobuz FLAC 24 bit / 96 kHz

Audição Os Red Hot fizeram-se ouvir. E está tu- brepostos ou em gravações acústicas com
Testei os Tokyo em conjunto com o meu do dito. Na voz desafiadora em tom de poucos instrumentos. E, além disso, quem
DAP Pioneer XDP-100R e com o Mojo, o lenga-lenga de Anthony Kiedis, transpa- vai ouvir o Magnificat de Bach no Metro?
amplificador portátil da Chord. receu todo o escárnio do mundo, embora Felizmente, os Tokyo aproximam-se mais
Os Tokyo apresentaram uma gama for- o baixo de Flea perdesse alguma coisa da deste último caso do que do primeiro, e foi
te e proeminente de médios, uns baixos sua omnipresença propulsionadora. assim que reproduziram com grande mé-
consistentes e uma moderada quantida- O violino de Rachel Podger, o oboé rito o jazz e o rock com que os alimen-
de de agudos. Por isso, em comparação de Bart Schneeman e a voz do sopra- tei, bem como a música clássica, com bas-
com muitas propostas do mesmo nível, os no Johanette Zomer emergiram de forma tante competência e neutralidade. Alguns
Tokyo soam mais frios mas mais neutrais. personalizada, embora nestas gravações leitores talvez prefiram a vivacidade e o
Os Tokyo também soam menos brilhantes superexigentes nos agudos se notasse al- calor que se encontra em alguns rivais (o
do que outras propostas nesta gama de guma falta de refinamento nas notas mais que não é o meu caso, mas gostos não se
preços e acima, mas talvez também ofe- altas. discutem). No entanto, os Tokyo serão re-
reçam uma audição menos entusiasman- lativamente consensuais pelo menos num
te. Aspecto a sublinhar: a ligação com o Conclusão aspecto – têm a capacidade de agradar a
Duo manteve o nível de qualidade pratica- Os auscultadores Tokyo são uma proposta gregos (com cabo) e a troianos (wireless).
mente constante, algo que me surpreen- de preço acessível, coisa que nunca A este preço, há sempre algum com-
deu agradvelmente por ser grande adepto podemos esquecer na sua avaliação. promisso sónico mas os Tokyo não
das soluções Bluetooth. Nesta gama de preços habitualmente comprometem de modo evidente o que é
Passando ao teste propriamente dito. O existem dois tipos de «custos» audiófi- verdadeiramente importante, a música, e
dinamismo do quarteto de jazz de órgão los a pagar. Ou é o exagero dos graves e por isso merecem ser tidos em consideração
e guitarra de Joey DeFrancesco soou bas- agudos, com minimização dos médios, e em comparação com outras alternativas.
tante bem, sem excesso de brilho e sem que leva a um brilho artificial no som e
agressividade artificial. Um desempenho ao cansaço na audição, ou é a bidimensio- Auscultadores MAS Tokyo
convincente dos Tokyo. nalidade do som, com pouca presença e
Preços:
A voz insinuante de Cyrille Aimee, espessura e um palco sonoro relativamen-
cheia de grão, innuendos e swing, tam- te reduzido. O segundo custo é, de longe, MAS Tokyo 72,47 euros
bém soou natural e próxima, sem muita preferível, porque funciona razoavelmen- Cabo Bluetooth DUO 72,75 euros
transparência, com alguma doçura (sem te em gravações sem grande complexida-
sinal de excesso). de de linhas melódicas e de timbres so- Contactos: www.amazon.com

Audio & Cinema em Casa 61


reportagem

AudioVideoShow
de Varsóvia,
1

válvulas, 2.ª Parte


Jorge Gonçalves

A
profusão de produtos e pontos de exposição distribuídos pe-

analógico
los três espaços ocupados pelo show de Varsóvia fez com que
não conseguisse apresentar na edição anterior desta revista
todas as fotos que tinha seleccionado como ilustrativas daquilo que
por lá estava presente, e eis então aqui o complemento da primeira
parte dessa reportagem. As páginas que se seguem abordam diver-
sos tipos de produtos, sem uma separação absoluta em grupos mas
em que a amplificação a válvulas e alguns gira-discos assumem posi-
e muito mais
ção de destaque. Continua ainda a abordagem dos equipamentos fa-
bricados localmente, desde colunas a electrónica, algo que este even-
to acolhe em grande profusão e sucesso, pois é uma situação que se
repete quase desde a primeira edição. Espero que apreciem.
1 Colunas SoulSonic Hologram X. Sendo de caixa
aberta, têm uma área de radiação muito vasta e
atingem uma sensibilidade de 95 dB/W/m e uma
resposta em frequência de 25 Hz a 25 kHz. A
electrónica era da MSB.
2 Amplificador integrado Fezz Audio Titania. Possui
três entradas de linha e debita 45 W por canal a
partir de duas válvulas KT88 em classe AB1.
3 Gira-discos Vertere RG-1 Reference Groove. O
2 chassis é de material acrílico, pintado com mate-
riais seleccionados para garantir um acabamento
perfeito, o prato e subprato são trabalhados num
torno de precisão, com tolerâncias quase nulas
para encaixarem sem qualquer folga, e a fonte de
alimentação externa garante a velocidade de rota-
ção perfeita para o motor síncrono de 48 pólos.
4 Não há foto que consiga fazer justiça a esta im-
ponente coluna (media mais de 2 metros) MAAT
Modern, da Sigma Acoustics. Implementa um
conceito de três vias, com nove altifalantes por
canal, 102 dB de rendimento e uma impedância,
quase totalmente resistiva, de 8 Ohm. Soavam
tão impressionantes quanto o seu tamanho,
3 4 ligadas a electrónica da FM Acoustics.

62 Audio & Cinema em Casa


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5 7

6
5 As Focal Utopia Evo soavam magnificamente com
a electrónica da Naim. Aliás, a Focal tinha pelo
menos quatro pontos de exposição e demonstra-
ção espalhados pelo show.
6 A electrónica da Gato Audio não precisava de le-
nha para soar bem. Em demonstração tínhamos o
prévio PRD-3S, com DCA interno e capacidades
Bluetooth, complementado por dois monoblocos
PWR-222, com uma potência de 250 W sobre
8 Ohm, ligados às colunas monitoras FM-15.
7 Continuando no tema das lareiras, que em Var-
sóvia fazia frio, as colunas Bluetooth JBL Pulse 3
tinham uma apresentação muito original.
8 Gira-discos JR Audio. É o resultado de uma
parceria sueco-polaca e utiliza o braço Impossible,
o qual tem uma estrutura do tipo pantógrafo,
9 que tenta modificar a sua geometria de modo a
que a cabeça defina um ângulo constante em
relação ao sulco, independentemente da posição
da agulha na superfície do disco. O motor e a sua
fonte de alimentação são colocados externamente
em relação ao chassis e o desacoplamento tem
lugar através de pés Vibrapod. O acabamento é
belíssimo.
9 Lado a lado com a sala das Avantgarde, as
Trenner&Friedl Taliesin soavam como eu nunca
as ouvi, acolitadas pela electrónica da Hegel –
amplificador de potência H30, prévio P30, leitor
de CD’s Mohican e conversor D/A HD30.
10 Sistema da Holophony Audio: colunas de três
vias No.1, DAC a válvulas da Audio-Akustyka,
streamer Livebit No.2 e amplificador integrado a
válvulas Leben CS300F. Foi considerado um dos
bons sons do show, embora eu pessoalmente
10 tenha preferido outros.

Audio & Cinema em Casa 63


reportagem AudioVideoShow de Varsóvia

11

13

12

11 Mais um gira-discos bem especial. Trata-se do


J. Sikora Standard Line, que utiliza o conceito
de massa elevada (80 kg de peso, 18 só para
o prato), conseguida através da combinação de
cinco elementos diferentes, para minimizar as
ressonâncias e obter a máxima rigidez. Os dois
motores de corrente contínua são da Papst e
estão montados em posições diametralmente
opostas.
12 A KR Audio continua muito activa nos países do
Leste da Europa. Aqui temos o amplificador de
potência VA830. Utiliza quatro válvulas 300B da
KR na saída, sendo o restante circuito electrónico 14
a transístores, com MOSFET’s como drivers.
Debita 40 W por canal sobre 8 Ohm.
13 Este era para mim um dos grandes sons do show
e que mereceu pelo menos duas visitas da minha
parte. As colunas eram as Franco Serblin Ktema
e a electrónica da Jadis – amplificadores de
potência monobloco JA200 MKII, equipados com
uma enorme quantidade de válvulas KT150, e 16
prévio JP80MC. Na frente analógica pontuava um
imponente gira-discos Gabriel DaVinciAudio Labs,
na versão Aston Martin.
14 Sistema Mark Levinson/JBL. A grande novidade
era o leitor de média Nº 519, mas o gira-discos 15
515 não deixou de chamar as atenções, bem
como o mesmo aconteceu com a versão rejuve-
nescida das reputadas colunas JBL 4367.
15 A nova linha de referência da Marantz, amplifi-
cador PM-10 e leitor de CD’s SA-10, estava a
funcionar com as colunas Q Acoustics Concept
500.
16 Conversor D/A Mytek Manhattan DAC II. Utiliza
conversores Sabre da mais elevada performance,
duas fontes de alimentação com transformadores
independentes, pode receber uma placa para
o serviço Roon e, também opcionalmente, uma
placa para pré-amplificação de gira-discos.
17 Colunas Tonsil Calipso 40 (à direita), uma novida-
de do fabricante polaco. Os altifalantes de graves
e médios-graves utilizam um novo cesto metálico
de alumínio injectado e uma suspensão de borra-
cha especialmente seleccionada. O tweeter tem
uma cúpula de titânio e um circuito magnético de
neodímio.
18 As Magico S3 MkII soaram bastante bem com
electrónica da Constellation. 17 18

64 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269

19 20

23

19 As Monitor Audio Silver 300 estavam em demons-


21 22 tração com electrónica da linha CX, da Cambridge
Audio: amplificador CXA 80, streamer CXN e leitor de
CD’s CXC.
20 Outro bom som, resultado da combinação das Wilson
Benesch Resolution com electrónica da Electrocom-
paniet: amplificadores monobloco Nemo, leitor de
CD’s EMC 1 MkIV e conversor ECD 2.
21 Colunas Tonsil Calipso 40 (à direita), uma novidade do
fabricante polaco. Os altifalantes de graves e médios-
-graves utilizam um novo cesto metálico de alumínio
injectado e uma suspensão de borracha especialmen-
te seleccionada. O tweeter tem uma cúpula de titânio
e um circuito magnético de neodímio.
22 Paradigm Persona 9H. Trata-se de uma coluna híbri-
da, com quatro subwoofers activos de 8,5 polegadas
e com o software DSP Anthem Room Correction
integrado para corrigir a resposta dentro da sala.
23 Todos os anos este incrível amplificador Opera, dese-
nhado por Andrea Pivetta, está em exposição num hall
central do show. Pode debitar nada menos de 60 kW
por canal e seguramente necessitará de uma ligação
directa à subestação de distribuição de energia
eléctrica, uma vez que pode absorver um máximo de
800 A da rede.
24 Foi interessante rever as Definitive Technology, ligadas
a electrónica da NuPrime. O modelo aqui patente é
o BP9000, de topologia bipolar e compatível com
Dolby Atmos.
25 A nova linha de referência da Marantz, amplificador
PM-10 e leitor de CD’s SA-10, estava a funcionar
24 25 com as colunas Q Acoustics Concept 500.

Audio & Cinema em Casa 65


reportagem AudioVideoShow de Varsóvia

27

26

28

29

26 As Rockport Cygnus apresentaram mais um dos


grandes sons do AudioVideoShow, ligadas a
electrónica McIntosh.
27 Amplificador monobloco McIntosh MC2301.
Debita 300 W a partir de oito válvulas KT88,
numa topologia Quad Balanced, exclusiva da
marca.
30 28 Mais uma marca de colunas e electrónica local,
a Taga Harmony.
29 Colunas Zeta Zero Orbital 360. São do tipo
omnidireccional, empregam um altifalante de
membrana de fita e estão disponíveis em quatro
tamanhos, correspondentes ao nível máximo de
potência admissível, e numa enorme variedade
de cores. Uma opção especial permite ajustar o
diagrama de radiação ao gosto do ouvinte.
30 Quase tudo na Tri-Art é de madeira, incluindo as
caixas dos equipamentos electrónicos. As colunas
são as B-series 5 Open, de radiação directa para
o ar, e garantem uma frequência de resposta que
vai dos 27 Hz aos 150 kHz. A elevada sensibili-
dade de 97 dB coloca poucas exigências no lado
do amplificador.
31 A Unison Research fez uma original apresentação
no AudioVideoShow, recorrendo a um teclista
31 profissional.

66 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269
teste

T+A PA 2500 R
Precisão
funcional
e sónica
João Zeferino

O
amplificador integrado PA 2500 R estágio de amplificação de alta tensão e lores de corrente substanciais a partir de
da alemã T+A é o modelo de topo estágio de amplificação de corrente, estão um módulo de menores dimensões e mui-
da gama «R», uma gama de pro- separadas fisicamente da fonte de alimen- to mais eficiente do que as anteriores fon-
dutos situada abaixo da série de topo HV, tação e do andar de saída. Tal como nos tes de alimentação lineares. Esta fonte de
da qual herda um conjunto de soluções modelos da série de topo HV, a topologia alimentação foi inicialmente desenvolvida
técnicas desenvolvidas pela T+A a um pre- do circuito do PA 2500  R é baseada num para o PA 2000 R, que utiliza um módulo,
ço bastante mais acessível. amplificador diferencial em cascata, com enquanto no mais potente PA 2500 R são
Na gama «R» estão disponíveis dois a utilização de transístores J-FET rigorosa- utilizados dois módulos.
modelos de amplificadores integrados, mente escolhidos, sem recurso a quais- O PA 2500 R possui um controlo de to-
o PA 2000  R com 100/200/300 Watt a quer op-amps, o que, combinado com uma nalidade com ajuste independente para
8/4/2 Ohm e este PA 2500  R, os quais selecção de componentes de alta qualida- cada canal e uma função loudness progra-
partilham essencialmente o mesmo cir- de, elimina a necessidade de utilização de mável em função da sensibilidade das co-
cuito base, sendo o modelo de topo uma feeback global, resultando numa excelen- lunas a que for ligado. Conta também com
versão com maior potência de saída com te linearidade e elevada gama dinâmica. uma entrada bypass, para poder ser fa-
140/280/560 Watt a 8/4/2 Ohm. O andar de saída conta com transístores cilmente integrado num sistema de cine-
O circuito do PA 2500  R funciona em MOSFET como excitadores e transístores ma em casa, e pode ser equipado com um
classe  A/B e é do tipo duplo-mono, com bipolares no andar de potência. módulo phono para células MM ou MC.
isolamento mecânico entre ambos os O PA 2500 R utiliza uma nova e sofis- O painel frontal do PA 2500 R é domi-
canais. As placas de circuito, que incluem ticada fonte de alimentação comutada de nado por um mostrador VFD (Vacuum Fluo-
as entradas, comando de volume (imple- alta tensão, desenvolvida pela T+A e que rescent Display) no qual são apresentadas
mentado sobre um conjunto de resistên- apresenta um conjunto de vantagens, no- todas as informações relativas ao funcio-
cias de precisão com controlo por relés), meadamente o facto de permitir gerar va- namento do amplificador, bem como o

Audio & Cinema em Casa 67


teste T+A PA 2500 R
acesso às diversas opções programáveis
via menu. À esquerda deste encontram-se
os comutadores de acesso directo às diver-
sas entradas, a saída para auscultadores e
o interruptor de ligação. À direita o botão
de controlo de volume e três outros comu-
tadores para acesso ao menu, acesso ao
controlo de tonalidade e flat.
Na traseira estão disponíveis três en-
tradas estéreo balanceadas via fichas XLR
e quatro via fichas RCA. São disponibiliza-
das saídas pré-amplificadas também via
fichas XLR e RCA. Estão ainda disponíveis
fichas de rede R2Link e LAN para ligação
em rede e de outros equipamentos T+A e
controlo remoto via App para iOS ou An-
droid. Os terminais de coluna, em núme-
ro de oito, aceitam fichas banana, cabo nu
ou forquilhas.

Audições
O T+A PA 2500 R foi ligado ao leitor Accu-
phase DP-550, via cabo balanceado Kim- Discos utilizados nas audições:
ber KS1121, e às colunas residentes Re-
vel Ultima Studio II com cablagem Kimber COMPOSITOR / OBRA INTÉRPRETES EDITORA
Monocle XL. G. Mahler Limburger Domsingknaben DENON
Bastam algumas audições para se Sinfonia N.º 3 Frankfurter Kantorei
perceber que a sonoridade do T+A prima Orquestra Sinfónica da Rádio
por uma assinalável neutralidade, que se de Frankfurt
adapta aos diversos estilos musicais e que Eliahu Inbal
é capaz de restituir o ambiente próprio de
cada gravação para nos revelar a intenção D. Chostakovich Cristina Ortiz DECCA
quer dos autores/compositores quer dos Concerto para Piano e Orquestra Royal Philharmonic
intérpretes. Possui uma sonoridade muito Orquestra N.º 2 em Fá Vladimir Ashkenazy
aberta, dinâmica e cheia de ritmo, ainda maior, op. 102
que não seja um amplificador hiperdeta- Richard Strauss Jessy Norman PHILIPS
lhado; e ainda bem que não o é, sendo Quatro Últimas Canções Orquestra Gewandhaus Leipzig
preferível algum recato à ostentação e fo- Kurt Masur
go-de-artifício de outros amplificadores
L. v. Beethoven The Monteverdi Choir ARCHIV
que enfatizam os registos agudos de mo-
Cantata Meeresstille und Orquestra Revolucionária e Romântica
do a transmitir uma falsa sensação de de-
glückliche Fahrt, para coro John Eliot Gardiner
talhe e de excitação imediata, mas que, a
e orquestra, op. 112
longo prazo, acaba por se tornar cansativa.
Possui uma gama média muito clara J. Sibelius Viktoria Mullova DECCA
e agradavelmente encorpada, contribuin- Concerto para violino e orq. Orquestra Sinfónica de Boston
do para a presença e o recorte das vozes, em Ré menor, op. 47 Seiji Ozawa
quer solistas quer em coro. Os registos António Vivaldi Flauta – Timothy Hutchins CHANDOS
graves apresentam uma relação adequa- Conc. p/ Flauta de Bisel em I Musici de Montreal
da entre a sua extensão e articulação, sem Sol maior RV444 Yuri Turovsky
se fazerem notar de forma excessiva nas
notas mais baixas mas também sem re- Scorpions Scorpions EMI
velar limitações evidentes. Globalmente a Gold Ballads
sonoridade prima pelo rigor e neutralida- Barclay James Harvest Barclay James Harvest POLYDOR
de, sem que nos apercebamos que algo – Hymn
extramusical está ser adicionado ou retira- – Poor Man’s Moody Blues
do pelo amplificador. – Mockingbird
Em termos de resposta dinâmica o PA
Patrícia Kaas Patricia Kaas COLUMBIA
2500 R é um amplificador ágil e cheio de
Scène de Vie
força, nunca tendo vacilado nas transi-
ções dinâmicas mais exigentes, mantendo Pink Floyd Pink Floyd EMI
sempre uma boa separação instrumental The Wall
nos momentos mais intensos e uma boa
Linda Ronstadt Linda Ronstadt ASYLUM
definição no ataque e decaimento dos
Canciones de Mi Padre
sons de percussão, isto apesar da exigên-
cia colocada pelas colunas Revel Ultima René Aubri René Aubri AS DE COEUR
Studio 2, umas colunas de um escalão de Les Voyageurs PRODUCTIONS

68 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269

Especificações técnicas: preços bastante acima do patamar em que


se insere o T+A.
Pré-amplificador: Nunca soando frio ou analítico, an-
Resposta em frequência 0,5 Hz – 300 kHz (+0 / -3 dB) tes neutro e verdadeiro, o T+A demons-
trou sempre uma sonoridade muito limpa,
Relação sinal/ruído 105 dB/109 dB
suave e envolvente, características que se
(não pond./ pond. A)
mantiveram mesmo em audições mais
Distorção < 0,001% prolongadas e a volumes de som realistas
Intermodulação < 0,001% e que são reveladoras da consistência do
seu desempenho.
Separação entre canais > 90 dB O palco sonoro gerado pelo T+A é bas-
Sensibilidade de entrada) 4 × 250 mV eff … 4 V eff / 20 kOhm (RCA tante amplo, ainda que não ao nível regis-
tado pela minha amplificação Accuphase
3 × 500 mV eff … 8 V eff / 5 kOhm (XLR)
residente, principalmente na separação
Saídas: dos diferentes planos em profundidade,
Auscultadores 50 Ohm uma faculdade que contribui muito para a
sensação de palpabilidade e que faz a di-
Saída pré-amplificada Nom 1 V eff, máx 9,5 V eff , 75 Ohm (RCA) ferença entre bons amplificadores e am-
Nom 1,45 V eff, máx 19,6 V eff , 75 Ohm (XLR) plificadores excelentes. Contudo, há que
Amplificador de potência: colocar as coisas na perspectiva correcta
e não esquecer que os Accuphase custam
Potência de saída (RMS) 140/280/560 Watt @ 8/4/2 Ohm
mais do dobro do T+A.
Distorção < 0,03% O principal trunfo do T+A PA 2500  R
Slew rate 60 V / µS reside, na minha opinião, num equilíbrio
muito apurado de virtudes. Apresenta-
Capacidade da fonte de 120.000 µF -nos a música que reproduz sem ocultar
alimentação ou enfatizar pormenores e assegura uma
Consumo standby/nominal/máx 0,5/800/2000 Watt reprodução consistente e coesa, tanto tim-
bricamente como em termos dinâmicos. É
Dimensões 16,5 cm × 46 cm × 40,5 cm (A×L×C)
uma apresentação rigorosa, isenta de es-
Peso 14,5 kg palhafatos artificiais e muito honesta, não
Preço: 7750 m tentando ir além das suas (grandes) capa-
cidades, antes reproduzindo todo um es-
Representante Ultimate Audioelite pectro de música de forma totalmente
Telef. 217 602 028/968 599 369 competente e musicalmente convincente.
Web http://ultimate-audio.eu/ Conclusão
O T+A PA 2500 R é um amplificador inte-
grado de elevados pergaminhos, capaz de
uma performance de nível high-end a um
preço realista. Não se intimida se chamado
a conduzir colunas de um escalão muito
acima do seu, provando ter a energia
necessária para assumir o controlo
mesmo das situações de maior exigência.
Funcionalmente é um equipamento muito
completo, excelentemente construído, to-
talmente programável e de fácil utilização.
Um amplificador integrado versátil e com
uma performance musical brilhante a me-
recer a mais elevada recomendação.

Audio & Cinema em Casa 69


teste

Furutech The Roxy-e


UMA LIGAÇÃO
DE QUALIDADE

João Zeferino
Outros escusam-se no facto de um ca- muove», que é como quem diz: e, no en-

O
s cabos são um dos elementos bo de corrente ser o último metro de uma tanto, a diferença ouve-se! Ouve-se não
mais mal-amados e incompreen- rede constituída por centenas ou milha- apenas substituindo os vulgares cabos de
didos do conjunto de componen- res de metros de fio condutor de qualida- corrente por cabos de qualidade superior,
tes que constituem o sistema de som. de duvidosa, e em relação à qual a única como se ouve também comparando cabos
Capazes de dividir opiniões e extremar po- certeza (eventualmente) será a de ter sido de corrente de diferentes marcas e dife-
sições entre os audiófilos quanto à sua ale- pensada conforme as normas. Neste cená- rentes escalões de preço.
gada influência, existem neste meio aque- rio é comum questionar-se de que servirá No meu sistema convivem cabos de
les que procuram exaustivamente o cabo investir no último metro do cabo que for- corrente de diversas proveniências, desde
que melhor se adequa às características nece a energia aos nossos equipamentos, um Van den Hul The Mainsstream Hybrid,
sónicas de determinado sistema e, por ou- quando até lá existe apenas um imenso até um Supra LoRad 2.5, passando por ca-
tro lado, aqueles que vêem o cabo como desconhecido? bos patenteados, de autoria e construção
um simples acessório, fundamental na sua Os mais cépticos e objectivos limitam- do António Flórido. O leitor Accuphase DP-
função de transportar um sinal eléctrico -se a olhar para as grandezas mensuráveis 550 tem estado ligado a um cabo já anti-
entre dois pontos, mas sem lhes atribuir de um cabo e julgar a partir daí. Para es- go, que tinha disponível mas cuja origem
nenhuma atenção em especial. tes, qualquer cabo bem construído com não consigo identificar, sendo contudo
Quando o tema se foca em cabos de um bom isolamento, fichas de qualidade uma melhoria considerável face ao vulgar
corrente, a discussão, que já era acalorada, que assegurem uma ligação sólida e sem cabo preto que é fornecido de origem com
parece ganhar novos motivos para extre- folgas, e fio condutor de qualidade que as- a maioria dos equipamentos. E foi precisa-
mar ainda mais as opiniões. Quem não ou- segure uma baixa impedância, é condição mente esse cabo que decidi substituir pelo
viu já por diversas vezes o argumento de suficiente para exercer sem falhas a tare- Furutech The Roxy-E, objecto do presen-
que para transportar uma corrente eléctri- fa de ligar os equipamentos à rede eléctri- te artigo. O restante sistema era constituí-
ca, pelo menos com as características de ca. Os mais crentes juram a pés juntos que do pela amplificação residente Accuphase
utilização no meio doméstico, com uma um cabo de corrente de qualidade super- C-2120 / P-4200 e pelas colunas Revel Ul-
tensão de 230 V / 50 Hz e para os compri- lativa e elevado custo pode literalmente tima Studio II. Na ligação do leitor digital
mentos de cabo em causa, qualquer cabo transformar o som do componente a que ao prévio esteve o cabo Kubala-Sosna Fas-
fabricado de acordo com as normas ser- for ligado. Em que ficamos? Serão os cépti- cination, com o Kimber Select KS-1121 a
ve perfeitamente para o efeito, sendo uma cos todos surdos ou serão os crentes ape- estabelecer a ligação entre pre e power e
pura perda de dinheiro e simples banha da nas espíritos influenciáveis pela verborreia o Kimber Monocle XL nas colunas.
cobra a utilização de cabos ditos «audió- publicitária? O Furutech The Roxy-E faz uso de co-
filos»? Contudo, e citando Galileu, «e pur si nectores Furutech IEC FI-C15 e Shucko

70 Audio & Cinema em Casa


MAR - ABR 2018 / 269

FI-E11(G) de contactos dourados, que in-


cluem a tecnologia patenteada Furutech
Floating Field Damper TM. Os conduto-
res incluem dois núcleos com 37 fios com
0,26 mm de cobre OFC com revestimento
de prata, e um núcleo com 37 fios de co-
bre Alpha-OFC. O isolamento é em polieti-
leno de cores vermelha, amarela e verde,
e o diâmetro exterior de cada núcleo é de
3,5 mm. O cabo The Roxy-E possui um en-
chimento de algodão e o exterior é termi-
nado em PVC com uma manga de náilon e
possui um diâmetro de 10,0 mm.
Iniciei as audições com o álbum Dee-
dee Bridgewater – Live at Yoshi’s. A dife-
rença proporcionada pela inclusão do cabo
da Furutech é quase inacreditável e se-
ria uma boa demonstração para todos os
que crêem que os cabos de corrente são
todos iguais. Nem sempre diferente signi-
fica melhor, mas neste caso a qualidade
global subiu uns pontos. O que o The Ro-
xy-E consegue fazer com esta obra é ab-
solutamente fantástico. O som surge mais
envolvente, focado e com uma transpa-
rência assinalável, retirando os vestígios tecimento. Com outros géneros musicais, registos e capacidade para criar um palco
de véu electrónico que antes se pressen- como música sinfónica, em particular a sonoro credível, assumindo-se com uma
tia entre nós e música, e ganhando o pal- 4.ª  Sinfonia de Brahms, gostei particular- excelente opção a ter em conta na escolha
co sonoro uma tridimensionalmente antes mente da dinâmica expressiva que os The de um cabo de corrente de alta qualidade
apenas sugerida. Roxy-E permitem que se desenvolva. que ajude a realizar o potencial dos equi-
Uma das vantagens que se torna evi- A inclusão do Furutech The Roxy-E per- pamentos a que for ligado.
dente é a maior quantidade de detalhes e mite que a música surja mais incisiva e
o rigor com que são apresentados, princi- rigorosa e não se deixa intimidar por gé- Furutech The Roxy-E
palmente nas passagens mais fortemente neros musicais complexos. Seja com o ja-
Preço: 260 m
ritmadas à base de percussões, que evi- zz da Dee Dee Bridgewater, o rock dos Dire
denciam uma precisão tímbrica e temporal Straits ou a música sinfónica de Brahms, Representante Ajasom
notável, mantendo contudo uma assina- interpreta de uma forma brilhante o pro- Telef. 214 748 709
lável musicalidade e um natural fluir do grama musical pretendido, com uma ex-
discurso musical que nos envolve no acon- celente definição, notável extensão de www.ajasom.net

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MAR - ABR 2018 / 269
discopatia

A SAGA DE WAR ON DRUGS


honorato_pim@netcabo.pt ca de afectos, como o nosso presidente, de discos anteriores e privilegia a canção
e não renega os seus amados. Ou talvez pura e dura. Saúde-se a felicidade da op-

A
Fama é uma deusa pérfida. Há seja um caso de a deeper understanding! ção e a sua magnífica concretização.
que desfrutar dos seus favores en- Um halo psicadélico de reverberação
quanto a ingrata não vira as cos- Lost in the Dream (2014) reveste diafanamente os temas pop, glo-
tas ao afamado e bafeja um novo favorito. Segredo mal guardado, War on Drugs é um rioso FM que evoca a música de patriar-
Em 2014 os War on Drugs viram Lost in projecto iniciado em Filadélfia em 2005 cas (alguns deles canastrões) do género, a
the Dream aclamado por público e crítica pelos músicos Adam Granduciel e Kurt Vi- crítica evocando nomes como Bruce Sprin-
como álbum do ano. A mesma Mojo que le, com este último a abandonar o gru- gsteen, Tom Petty, Rod Stewart (Burning)
apenas cedera o galardão perante o discu- po após o bem-recebido álbum de estreia ou Fleetwood Mac como referências va-
tível Morning Phase, de Beck, relega o no- Wagonwheel Blues (2008) para abraçar porosas. O bom gosto de Granduciel logra
vo álbum da banda para um humilhante uma celebrada carreira a solo. contornar, com sabedoria, a armadilha do
49.º lugar no ranking de 2017. Em 2011 e após várias mudanças de pastiche.
E, no entanto, A Deeper Understan- pessoal, Granduciel edita Slave Ambient Temas longos mas jamais enfadonhos
ding, em nada deve ao seu ilustre anteces- (2011), o qual consagra o grupo junto da ou auto-indulgentes albergam clímaxes
sor, apenas sofrendo do estigma da falta crítica e inicia um pequeno culto. em crescendo, uma pop de autor polida e
de novidade, esse sádico critério que man- Culto que se tornaria viral com a edi- servida por apontamentos enquadrantes
tém os media reféns do hype e sedentos ção, em 2014, de Lost in the Dream, acla- de teclas e sax a complementar o magis-
da next new thing. mado junto da comunidade musical e pela tério intemporal da guitarra eléctrica.
Discopatia é meridional, uma rubri- crítica da maioria dos magazines como Ál- Um contínuo sonoro homogéneo e sem
bum do Ano.
Lost in the Dream demoraria dois anos
a gravar, com o recurso a oito estúdios di-
ferentes através dos Estados Unidos. Foi
uma altura de reclusão para Granduciel,
em ressaca de desgosto amoroso subli-
mada numa obsessão perfeccionista pelo
estúdio e pelo detalhe, a produção imacu-
lada e a regravação maníaca em busca do
Santo Graal sónico.
O resultado final é um triunfo, soando a
espontâneo e imediato, pese a sua demo-
rada génese. Lost in the Dream abandona
algumas das grandes tiradas instrumentais

Audio & Cinema em Casa 73


discopatia
quebras (fasquia bem alta para composi-
ção e interpretação) só após repetidas e
prazenteiras audições permite a individua-
lização dos magníficos temas, como o sin-
gle Red Eyes.
Canções de clássico recorte rock são
desconstruídas e logo retomadas após fil-
tragem por sintetizadores e truques de es-
túdio, rock perfumado por aromas prog
sem as indulgências perniciosas deste gé-
nero.
Lost in the Dream é um album feel-
good, que apetece ouvir repetidas vezes
bem alto, na auto-estrada, sem comple-
xos elitistas de ser excessivamente FM ou
demasiado rock para a inteligentzia, a sua
impecável produção um feliz update con-
temporâneo do som West Coast dos anos 70.

A Deeper Understanding
(2017)
Lost in the Dream consagrou os War on Apesar de ser este o homem forte da As canções focam-se nos leitmoti-
Drugs como uma das maiores bandas do banda – cantor, compositor, instrumentis- vs da solidão e sofrimento próprios, em-
presente circuito do rock’n roll, o que lhes ta, produtor, engenheiro de som – nunca bora creia que muitas das letras, longe de
valeu um contrato com uma major, a len- até agora fora tamanho o envolvimen- memoráveis, serão pouco mais que ade-
dária Atlantic, e uma incessante tournée to dos outros músicos num álbum, o que reços necessários ao serviço da canção e
mundial de dois anos com a experiência haverá contribuído sobremaneira para ser ganchos para a voz de Granduciel, gravada
inédita das lotações esgotadas e milhares este o disco mais coeso da banda e, nas à frente, numa produção cristalina e Hi-Fi
de espectadores. palavras de Granduciel, o seu álbum mais (esqueci-me de perguntar aos meus cole-
E uma inusitada expectativa pelo no- focado. gas de redacção se este termo ainda é vá-
vo álbum. Mais uma vez a nostalgia do rock de lido).
O que poucos antecipariam é que a matriz clássica é envolta num filtro de re- A Deeper Understanding é uma gigan-
grandeza majestática de Lost in the Dream verberação, judiciosamente utilizado para tesca tapeçaria sonora, de megapropor-
viesse a ser suplantada por um disco o não soterrar a beleza primordial dos te- ções mas não intimidatório, com os pés
qual, à boleia de um generoso budget e mas debaixo do arsenal de recursos tec- assentes na terra e a cabeça nas estrelas
de intermináveis recursos de estúdio, se nológicos. (o sonhador e longo Thinking of a Place,
constitui como a maior obra da banda, ca- Sob uma camada sónica fortemen- de 11’), pejado de irresistíveis baladas ro-
nalizando a enormidade do seu som sem te texturada e esculpida, inscrevem-se ri- ck’n roll (Strangest Thing, de ressonâncias
indulgências novo-riquistas ou onanis- ffs insidiosos e repetitivos o que aqui e ali mini-épicas, Knocked Down – a face politi-
tas, antes com uma meticulosa atenção evocará, com surpresa, o prog (Up All Ni- camente correcta dos Scorpions, o medita-
aos pequenos detalhes que conferem um ght, In Chains), tentação advinda da exten- tivo e reflexivo Clean Living, o gentil finale
inesperado encanto à gravação. são dos temas – à excepção dos 4 minutos You Don’t Have to Go) em convívio com os
A Deeper Understanding equilibra-se de Knocked Down não há qualquer canção imparáveis climas uptempo de Holding On
entre uma produção de novo imaculada, com menos de 5’30” e em algumas con- e Nothing to Find).
profusão de gadgets e grandes canções, tam-se mais de 12 instrumentos.
tão crescentes e densas quanto tocantes, No imponente edifício musical onde
prenhes de pequenos motivos instrumen- habita um Granduciel perfeccionista e ob-
tais insidiosos, inspirados solos de guitarra cecado pela escultura sonora, brilham pe-
e a voz desarmante e vulnerável de Adam quenas luzinhas encantatórias que guiam
Granduciel. o ouvinte por entre o intrincado e mágico
labirinto de sons.
O triunfo do álbum reside na consegui-
da coabitação de tantos estímulos no seio
de um inquebrantável contínuo sonoro.
Camadas de teclados vagamente sin-
tetizados articulam-se com guitarras
eléctricas filtradas em fog sónico, num re-
sultado que, com incorrecção, poderíamos
filiar na influência clara de Dylan ou Sprin-
gsteen, perfumada com aromas de Kraf-
twerk e psicadelismo.
Ao longo de mais de uma década
a tocar junta, a banda destilou essas in-
fluências num discurso próprio, onde elas
ecoam sem perda de uma trabalhada e
conseguida identidade.

74 Audio & Cinema em Casa

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