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JOGOS + SALA DE AULA ≠ BRINCADEIRA

Andreia Carvalho Maciel Barbosa (CPII-FFP/UERJ-UNIBAN)


Luana de Figueiredo (SEE-RJ)
Silvia de Castro de Barros (Licencianda FFP/UERJ)

Resumo:
Em muitas situações do cotidiano escolar, podemos observar a angústia e a
ansiedade demonstradas por alguns alunos devido ao receio da não compreensão de
conteúdos matemáticos propostos. Visando contribuir para minimizar a resistência que
alguns alunos apresentam em relação à Matemática e por ser uma atividade lúdica e quase
sempre motivar os alunos é que há alguns anos os jogos vêm sendo experimentados em
sala de aula. Além disso, os jogos, aliados ao trabalho da construção do conhecimento por
parte do professor, permitem ao aluno abandonar a utilização do que já está pronto e buscar
a construção do seu próprio conhecimento.
Neste trabalho apresentaremos o projeto Jogos no Ensino da Matemática cujos
objetivos são criar ou adaptar e confeccionar jogos matemáticos que auxiliem no ensino de
conteúdos do Ensino Fundamental e Médio, de forma a facilitar a assimilação.
Apresentaremos também as razões que nos levam a defender a utilização dessa
metodologia em sala de aula bem como os cuidados que necessitam ser tomados quando
dessa utilização e os critérios de escolha desses jogos.

Palavras-chave: Jogos; Metodologias de ensino; Processo ensino-aprendizagem.

JOGOS? POR QUÊ?


Neste trabalho apresentaremos as diferentes etapas desenvolvidas no projeto de
iniciação à docência sobre Jogos no Ensino da Matemática. Desenvolvemos em nosso
projeto, jogos para o Ensino Fundamental e Médio e os aplicamos com os alunos em
colégios do município de São Gonçalo e adjacências, para assim aperfeiçoá-los. Nossa
intenção é verificar sua real utilidade na construção do conhecimento por parte dos alunos,
observar como é a aceitação dessa metodologia até então desconhecida por eles, enfim,
analisar se eles atendem ao propósito para o qual são elaborados: ajudar na construção de
conhecimento ou auxiliar na sistematização de determinado conteúdo. Além disso,
propomos a utilização dos jogos como uma metodologia que auxilia de forma dinâmica o
ensino, favorece o desenvolvimento de habilidades, frutos da capacidade de pensar,
raciocinar e resolver situações problemas, levando o aluno a se apropriar dos conteúdos,
pois eles passam a construir o conhecimento matemático ao invés de decorar fórmulas ou
técnicas, o que facilita bastante o aprendizado.
Em muitas situações do cotidiano escolar, podemos observar a angústia e a
ansiedade demonstradas por alguns alunos devido ao receio da não compreensão de
conteúdos matemáticos propostos. Com o intuito de minimizar essa resistência, que alguns
alunos apresentam em relação à Matemática, é que acreditamos que a utilização do jogo
em sala de aula, aliado ao trabalho de construção de conhecimento por parte do professor,
desenvolve no aluno o hábito de explorar novas possibilidades e que os jogos, por serem
uma atividade lúdica e que quase sempre motiva os alunos, proporcionam um processo
mais natural de aprendizagem e fazem com que determinados conteúdos sejam fixados de
forma mais divertida e menos cansativa. Além disso, no ato de jogar aparecem algumas
formas de resolução de problemas que podem ser observadas analisando as situações
durante a utilização do jogo. Assim, analisando as jogadas, o aluno precisar seguir etapas
para que possa resolver os problemas, dentre elas: leitura atenta das regras do jogo para
compreender o que é permitido e possível; levantamento dos dados e formulação de
hipóteses; execução da estratégia escolhida a partir da hipótese inicial e, por fim,
verificação da eficiência da jogada para alcançar a vitória.
Atualmente, no âmbito da Educação Matemática tem-se dado relevância aos jogos e
seu papel no processo de ensino-aprendizagem, visto que outras pesquisas, bem como esta
em desenvolvimento, nos fornecem dados e materiais que nos permitem tomar
conhecimento de que ao “brincar”, os alunos apreendem a estrutura lógica do material e
desse modo aprendem, também, a estrutura matemática presente. Nessa perspectiva, o
aluno abandona a utilização do que já está pronto e busca suas próprias construções,
modificando inclusive sua relação com o professor. Antes o professor assumia a função de
transmissor de conhecimentos; já com a utilização dos jogos, aliada a uma metodologia
que busque a construção do conhecimento, transforma-se em um orientador ampliando
também o diálogo em sala de aula.
Notamos que o jogo quase sempre motiva o educando, mas somente sua utilização
não garante essa perspectiva empreendedora, construtivista.

O jogo responde a uma das preocupações fundamentais do ensino moderno: dar


a possibilidade a cada aluno de progredir segundo seu próprio ritmo, valorizando
assim a motivação pessoal do escolar, o que permite concluir a importância de se
aplicar preferencialmente uma pedagogia de níveis a uma pedagogia orientada
para classes da mesma idade. (SÁ, 1990)

Vale lembrar que temos que ter cuidado com esse tipo de metodologia de ensino
para que não se perca a real intenção e o ato de jogar fique só na diversão, no passatempo
e que esta metodologia requer alguns cuidados como conhecer a turma na qual será
aplicada a fim de evitar a dispersão, o excesso de competitividade e a possível falta de
interesse, no caso da turma menos ativa, estar inserida no planejamento da aula e
vinculada a atividades exploratórias do conteúdo estudado.
Caberá ao professor aguçar sua sensibilidade para saber o melhor momento e a
forma como deve utilizá-los e não ser feita simplesmente como um apêndice ao final da
mesma ou momento para que os alunos brinquem sem que haja uma ação pedagógica. Por
isso, também é necessária atenção e preocupação quanto a número de participantes, faixa
etária e outros detalhes para que não se perca essa real intenção. Muitos jogos reproduzem
apenas um modelo de fixação de exercício de maneira diferente, mas na prática têm
ênfase na memorização de procedimentos. Os benefícios de o professor utilizar a
metodologia de jogos de maneira ampla começaram por auxiliar no diagnóstico de
dificuldades apresentadas por alguns alunos, antes despercebidas em virtude da pressão
do ensino tradicional.
Todas as habilidades presentes no ato de jogar desenvolvem o aluno, preparando-o
para desafios maiores. Ao jogar ele desenvolve linguagem, criatividade e raciocínio e, a
partir daí, estabelece hipóteses para no caso de sua “jogada” não dar certo. Analisando
todas as possibilidades ele desenvolve seu raciocínio lógico, que é na verdade um dos
objetivos do ensino da Matemática. Para que este objetivo seja alcançado, é necessário um
trabalho muito cuidadoso do educador. É necessário que este profissional estude e avalie
cada jogo antes de levá-lo para sala de aula, pois através do desenvolvimento do jogo ele
saberá se engloba o que ele quer informar. Cabe ao professor também aguçar sua
sensibilidade para saber o melhor momento e a forma como deve utilizá-los.

QUAIS ASPECTOS DEVEM SER CONSIDERADOS NA UTILIZAÇÃO DOS JOGOS?


Para melhor selecionarmos os jogos, os classificamos em dois grupos distintos: os
jogos de treinamento e os de estratégia. Os jogos de treinamento auxiliam a fixação de
conteúdos e são utilizados quando identificamos a necessidade de reforço de um conteúdo,
porém de forma mais prazerosa, sem cansar o educando. Por sua vez o jogo de estratégia
tem como objetivo desenvolver o raciocínio lógico. Este tipo de jogo normalmente
desperta maior interesse, pois associado ao fator sorte ele necessita de formulação de
hipóteses, argumentação e experimentação para alcançar determinado objetivo.
Ao escolher os jogos, alguns critérios devem ser observados, dentre eles:
- O jogo deve ser para dois ou mais jogadores, ou seja, não pode ser um jogo
“solitário” (caso queira um trabalho individual, o professor pode lançar desafios);
- O jogo deve ter regras pré-estabelecidas que não podem ser modificadas no
decorrer de uma rodada;
- O jogo não deve ser apenas mecânico e sem significado para os alunos;o jogo
deve permitir que cada jogador possa fazer a jogada dentro das regras. A sorte deve ter um
papel secundário ou mesmo em nada interferir.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de 5ª a 8ª série, apontam o uso de jogos
como um dos modos de fazer Matemática em sala de aula. Um aspecto relevante no uso de
jogos em sala de aula, é que o professor deve deixar um tempo, para o que chamamos de
jogo livre. E um passo importante é o registro do jogo, isso ajuda o aluno a se afastar do
“concreto” utilizando progressivamente a linguagem e o raciocínio.
É necessário que o professor fique atento, pois existem jogos para diferentes
finalidades, ou seja, há aqueles que constroem conceitos, outros são para o aluno se
familiarizar com a nomenclatura e os termos matemáticos e por último há jogos que
exploram a fixação e reprodução do conteúdo. Cabe, assim, ao professor identificar os
objetivos e conteúdos que deseja alcançar e priorizar na hora de selecionar os jogos a
serem utilizados.
Faz-se necessário ressaltar que os jogos devem ser trabalhados juntamente a
atividades relacionadas a eles, o que mostrará ao professor se os objetivos traçados por ele
quando da escolha dos conteúdos a serem fixados foram atingidos.

OS JOGOS DESENVOLVIDOS
Em nosso trabalho mostraremos os jogos elaborados e confeccionados por nós,
todos com foco na construção do conhecimento matemático. Os nossos jogos são: Medidas
na Memória, uma adaptação do jogo da memória que aborda o conteúdo de unidades de
medidas e onde trabalhamos com as unidades de medidas mais utilizadas em nosso
cotidiano e suas transformações; Operações Ocultas, jogo que trabalha as quatro operações
matemáticas básicas, explorando o cálculo mental e o raciocínio lógico formando
expressões numéricas de diferentes níveis de dificuldades; Frações em Ação, cujo
conteúdo abordado é frações (termos, simplificação e equivalência); Hora Maluca
(adaptação do Jogo do Mico Preto) cujo objetivo é desenvolver a habilidade de ler as horas
nos diferentes tipos de relógio (analógico e digital) fazendo as associações nos diversos
momentos do dia; Zig-Zag que explora o cálculo mental e raciocínio lógico formando
expressões numéricas, entre outros.
Além dos jogos, também apresentaremos os resultados obtidos com alunos e
licenciandos em oficinas apresentadas anteriormente em eventos, como por exemplo: em
nossas oficinas podemos notar que enquanto há grupos em que a motivação é muito
grande, em outros os alunos não se mostram interessados em jogar.
Através de nosso trabalho acreditamos contribuir para divulgar novos instrumentos
de ensino propondo situações de aprendizagem que melhorem esse processo e que
discutam o ensino de Matemática através de jogos. O que nos faz crer que nossos objetivos
com este projeto de iniciação a docência estão sendo alcançados e compreendidos é que
aspectos que envolvem os alunos como reduzir a descrença na auto capacidade de
realização, diminuir a dependência, desenvolver a autonomia, desenvolver a organização
espacial, aumentar a atenção, a concentração e o interesse pelo ensino da Matemática,
desenvolver antecipação e estratégia, ampliar o raciocínio lógico e desenvolver a
criatividade são cada vez mais discutidos e considerados pelos professores que utilizam ou
têm vontade de utilizar essa metodologia.
Temos também como meta fundamental a formação continuada de licenciandos e
professores de Matemática para o uso de jogos em suas aulas, pois notamos que sua visão
de como explorar os jogos precisa ser aperfeiçoada para que eles possam ter um resultado
positivo, ou seja, para que os aspectos que envolvem os alunos sejam verdadeiramente
atingidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORIN, Júlia. Jogos e Resolução de Problemas: uma estratégia para as aulas de


matemática. IME-USP: São Paulo, 2.002.
BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática para o Ensino
Fundamental. MEC, 1997.
BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática para o Ensino Médio.
MEC, 1998.
FIORENTINI, D.; MIORIM, M. A. Uma reflexão sobre o uso de materiais concretos e
jogos no ensino da Matemática. Boletim da SBEM-SP, n. 7, 1990.
GRANDO, Regina Célia. O conhecimento matemático e o uso de jogos na sala de aula.
Campinas, São Paulo, 2000.
SÁ, Roberto. O jogo em sala de aula. ARTIMED: Sá Paulo, 1990.
ZASLAVSKY, Claudia. Jogos e Atividades Matemáticas do Mundo Inteiro. ARTMED:
São Paulo, 2000.

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