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Para tratar do problema complexo da desertificação, 5 com muitas e variadas causa e diversas
consequências, em geral inter-relacionadas, é preciso dispor de grande quantidade de dados e
informações consistentes, valiosas e úteis; de uma metodologia “adequada” de abordagem
interdisciplinar e enfoque sistêmico para analisar interações, inter-relações, estruturações (...) de
fatores; e ainda dispor de técnicas e métodos para calcular, no contexto sistêmico, conexões
socioculturais, econômicas e ambientais de causalidades e outras associações que contribuem ou
definem esse problema. Trata-se de um assunto ainda sem um adequado tratamento 6 metodológico
e operacional.
Apesar de tais limitações não é possível esperar dispor do todos os dados necessários e das
técnicas e padrões metodológicos de tratamentos e soluções generalizadas, até porque tais padrões
e soluções poderão não existir, serem irrelevantes e/ou apenas, ao final, constituírem-se simples
referências.
Nos casos em que seja necessário promover a prevenção e recuperação de áreas afetadas pela
desertificação; realizar o planejamento e gestão integrada de recursos água – solo – vegetação no
contexto da bacia hidrográfica; empreender o monitoramento e controle de áreas sujeitas à
desertificação; e incentivar a participação e a educação ambiental das comunidades afetadas pela
desertificação (…) poderão se utilizar as experiências e conhecimentos locais aliados às novas
informações e tecnologias disponíveis.
Isto implica realizar, previamente, diferentes atividades, entre outras as de compilar,
sintetizar, analisar consistências de dados e informações do saber das comunidades. Implica em
selecionar, testar e ajustar às condições locais procedimentos metodológicos.
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O conceito de degradação é complexo não apenas pela variedade e complexidade de componentes que ali
convergem, interagem (...), mas própria pela complexidade de elementos e interações de cada um dos
componentes. Pelos componentes, compreende as degradações do solo e dos recursos hídricos (aspecto
abiótico), da flora e fauna (aspecto biótico) e da qualidade de vida humana (aspecto econômico e
sociocultural). São aspectos diferentes que, em geral, demandam metodologias diferentes com uma exigência
comum de integração, sem superposições e apenas com aspectos relevantes e integráveis. Isto coloca em
destaque a necessidade de indicadores que sintetizem dados das diversas dimensões e possibilitem um
tratamento conjunto.
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No International Symposium and Workhop on Desertification: connectin sciene with community action,
realizado na Universidade de Arizona (USA), em 1977, foram apresentados trabalhos sobre indicadores e
metodologia para tratar e integrar dimensões da desertificação. Alguns deles eram muito específicos e de
valor local, outros muitos gerais ou abrangentes sem aplicação (MATALHO, JÚNIOR, 2001).
Comb at e à de s e rt if ic aç ão e m iti ga ç ão - co nv iv ên ci a co m a s ec a
as ações que regulam a dinâmica e afetam o fato objeto de estudo, de monitoramento e controle de
um processo, de informação-comunicação (…), possibilitando, entre outros efeitos, refletir acerca
de uma idéia, problema, solução (…) complexa. Incitar à reflexão é, também, um objetivo de um
indicador ambiental.
É fundamental se ter a representação sintética ou modelada da percepção de um atributo
relevante, da medição com consistência desse atributo, do registro sistemático e da síntese de dados
para simplificar a complexidade do que se representa, por exemplo, da erosão dos solos e dispor de
uma percepção integrada – sistêmica de partes indissociáveis (por vezes) e interativas (quase
sempre) do todo. Esse todo pode ser a unidade produtiva em seu meio físico e com as interações -
desdobramentos sociais, econômicos, urbanos e ambientais que cada caso requeira e seja possível
definir mediante uma matriz de indicadores. Pode ser um processo como o da desertificação.
No processo de observar e medir, de registrar e sintetizar (...), tem-se modernos e valiosos
procedimentos de obtenção e análise de informações primárias como as georeferenciadas ou
verificáveis (equiparáveis: validação – ajuste do que se registra em sensores como os de um satélite
com a feição natural representada) no local e de tecnologias da informação testadas às condições de
sua aplicação. O resultado é uma base de dados. Em função da qualidade, consistência, atualidade,
utilidade (...) dos elementos dessa base, determina-se a qualidade e efetividade do indicador que
dela se calcula.
A relação de variáveis que segue (para fins ilustrativos), entre outras, é fundamental para
definir os indicadores de dimensões da desertificação e convivência com a seca, tais como:
hidrológica (a – e), climática (f), solo (caracterização e uso – manejo: g); biológica (h),
sociocultural (i - j) e econômica (k):
a) Qualidades da água superficial (QlASpi) e qualidade de água subterrânea QlAsbi),
expressas em termos físico, químico e biológico. Quais são esses termos? Exemplos deles
são: temperatura da água, que afeta processos biológicos; e turbidez como sinal de qualidade
alterada; variáveis químicas como: nitrogênio, fósforo, metais pesados e DDT – subprodutos
agrícolas; variáveis microbiológicas como coliformes.
b) Quantidade de água superficial (QdASpi) expressa pelo regime de caudais de rios e
quantidade da água subterrânea (QdASbi) expressa pelo regime de recarga e potencial de
exploração.
c) Caudal ecológico (CEi); estimativa do caudal necessário para a manutenção de ecossistemas e
da biota associada.
d) Eventos hidrológicos críticos (EHcii), tais como os de escassez hídrica (EHce), secas (EHcs),
inundações (EHci) etc., em termos de intensidade e freqüência de ocorrências desses evento.
e) Mudança de regime “natural” ou induzida de mananciais (MRmi) por causa de atividades
humanas, tais como: impermeabilização do solo, canalização, dragagem, represas, diques,
erosão e transposição de caudais de rios.
f) Regime climático (RCxi) definido pela interação de elementos climáticos como chuva (X1:
“normais”, freqüência, intensidade, duração, distribuição – concentração etc.), temperatura
Comb at e à de s e rt if ic aç ão e m iti ga ç ão - co nv iv ên ci a co m a s ec a
(X2: “normais”, variações sazonais etc.), evaporação (X3: “normais, variações sazonais etc.)
e mudanças climáticas.
Este grupo de variáveis compreende alguns fatores básicos para a delimitação e
caracterização do problema como, por exemplo, as variáveis evaporação = transpiração e
precipitação pluviométrica, a intensidade media (normal) de chuva e a distribuição ao longo
de um ano hidrológico; a média de chuva e o coeficiente de variação ou relação média e
desvio-padrão; a temperatura e a evaporação.
g) Solo (S): caracterização física (SFi), química (SQi), biológica (SBi), topográfica (...)
agronômica e de uso – manejo: pecuária, agrícola, vulnerável à degradação, degradados, em
processo de desertificação etc.
A caracterização do uso e manejo do solo compreende variáveis importantes no processo de
desertificação; são práticas não-conservacionistas de uso do solo – água – vegetação nativa
que favorecem a erosão e desertificação, observando-se estreitos e diretos efeitos
combinados que precisam de suficiente entendimento como parte básica da definição do
problema.
h) Proteção, conservação – manejo da biodiversidade (PCMbi): tipo / caracterização da biota
inicial, variação dos tipos de cobertura, de habitats e de populações.
i) Estado de desenvolvimento humano (IDHi): população, estruturação e dinâmica; variáveis dos
estados socioculturais: escolaridade; variáveis dos estados de bem-estar: moradia, segurança
alimentar, saneamento básico, saúde etc.; outras variáveis: exclusão social em suas diversas
formas.
j) Econômicas (Econi): PIB regional, investimento em infra-estruturas como estradas, pontes,
armazéns (...), emprego e renda.
k) Convivência (Convi) com a seca: permanência no local, resistência e migração associadas à
seca.
A simples relação de variáveis abióticas, bióticas, socioculturais e econômicas mostra
importantes associações (correlações, causalidades, concentrações – dispersões etc.) que podem
acenar para definir indicadores. Para o caso ilustrativo da relação de variáveis apresentada acima se
tem, também, como exemplo ilustrativo, o Quadro 2, com indicações qualitativas de
relacionamentos. Essas indicações podem ser expressas mediante valores calculados entre
correlações ( ) de variáveis e/ou entre associações de causalidade de variáveis ( r ) que
apresentem tais comportamentos. Em outros casos as indicações podem ser expressas em termos
descritivos em escalas e agrupamentos convenientes.
Entre a variável “qualidade da água superficial” definida por condições físicas, químicas e
biológicas para usos – consumos múltiplos e “qualidade da água subterrânea” também definida por
condições físicas, químicas e biológicas, observa-se e se pode quantificar uma forte e direta relação
(neste documento básico e simples se omitem os ordenamentos escalares e as estimativas
estatísticas de cada caso).
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Entre a “quantidade de água superficial” definida pelo regime do caudal do rio sob
determinadas condições de espaço, tempo (…) e a “quantidade de água subterrânea”, definida pelo
regime de recarga e potencial de exploração, pode-se observar e quantificar – medir uma relação
moderada e indireta. Enquanto que entre a “quantidade de água subterrânea” e a “mudança no
regime natural dos mananciais” a relação poderá ser forte e inversa; isto, porque uma maior
atividade antrópica que leva à mudança no regime do caudal de água se traduz em menor poder de
recarga e vice-versa.
Ainda dentro de variáveis é possível estabelecer – quantificar relações como é o caso, por
exemplo, entre “saneamento básico” e “estado de saúde”; entre a valoração de bens e serviços
ambientais (a água, por exemplo) e o preço (como disposição a pagar) desses bens e serviços.
Quadro 2 Escala de inter-relacionamentos forte (f), moderado (m) e leve (l) entre variáveis
COORELAÇÕES ( ) REGRESSÕES CAUSA – EFEITOS ( r ) ENTRE VARIÁVEIS
QlASpi QdASpi CEi EHcii MRmi RCxi SF/Q/B PCMbi IDHi Econi Convi
QlASpi
QdASpi f
CEi f f
EHcii -f -f -f
MRmi - l /-m - l / m -f -f
RCxi m m m m m
SF/Q/B l l l l m -l
PCMbi f f l l -m -l f
IDHi f f m f -m -m f f
Econi f f f f -m -m f f f
Convi f f f f -m -f f f f f
Essa disposição, em determinado estado de “normais” de escassez da água, por sua vez,
poderá estar associada com a disposição para construir cisternas (construção de placas e cisterna
construída) para armazenar água, conforme se ilustra na Figura 16. Em outros termos, essa
disposição poderá se associar com a cobrança pelo uso da água.
Nos exemplos anteriores, ainda que simplistas, foram relacionadas muitas variáveis
carregadas de conteúdos valiosos, porém que precisam de simplificações para que tais conteúdos
sejam devidamente direcionados com certa facilidade e necessária objetividade.
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Figura 16 Construção de uma cisterna com placas e cisterna construída para captação de água
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Arenização; transformação de um solo muito arenoso com uma cobertura vegetal fraca, em uma área com
areia e sem nenhuma ou muito pouca vegetação; um exemplo dessa transformação se encontra no sudoeste
do Estado do Rio Grande do Sul, onde 10 municípios e 3,67 mil ha foram afetados até 1989. A transformação
é a “resultante tanto de variações climáticas quanto de atividades antrópicas”.
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árido e sub-úmido seco, mesmo que o processo seja similar, em causas e conseqüências, àqueles
que ocorrem em áreas mais úmidas”. Destaca o IBGE (op. cit.) que “os solos e as paisagens, dois
dos maiores patrimônios que um país tem, ainda não são como tal percebidos no Brasil. O processo
de degradação de terras (…), independentemente do clima das áreas afetadas, é dentre os
problemas ambientais do País, aquele que menos atenção tem recebido da sociedade, apesar das
graves conseqüências ambientais, sociais e econômicas que pode ocasionar”. Um fator importante
para conhecer a dimensão do problema e a necessidade de solução do mesmo é o indicador.
A seleção e aplicação criteriosa de indicadores para informar – comunicar, alertar – avaliar,
auxiliar à tomada de decisão (…) acerca de ações e estratégias de combate à desertificação e de
convivência com a seca, considerando as diversas dimensões e disciplinas que esses processos
compreendem e a necessidade de integrá-las, deve obedecer a certas condições, princípios e
fundamentos. A parte que segue sintetiza alguns deles:
a) Pertinência política e utilidade – aplicabilidade prática para os usuários, planejadores e
gestores, tomadores de decisão e administradores (...). Os valores numéricos de indicadores
devem ser relevantes do grau de medição que representam. Os indicadores devem, quanto
possível:
a.1) Representar, de forma confiável e como efeito da fiel interpretação - representação da
realidade (refletir o estado), as condições ou os estados do meio ambiente em termos de
pressões a que tem sido submetido, impactos provocados por essas pressões e
intervenções (…) e respostas, efeitos ou conseqüências que definem o estado a ser
fielmente representado por indicadores.
a.2) Simples, sem o exagero do simplismo e à despeito da complexidade que o indicador
representa, tanto no entendimento, lógico e intuitivo, por todos os usuários como na
interpretação–aplicação, capaz de simular e prever tendências.
a.3) Servir de referências para comparações (pressupondo-se que as situações, condições
etc., sejam comparáveis: semelhantes atributos, qualidade, processos etc.) como, por
exemplo, entre estados de ambientes distintos (locais diferentes) em um mesmo período e
entre períodos distintos de um mesmo local.
a.4) Ter uma base uma base de documentação acessível e completa e um conjunto de valores
de significados consistentes e práticos de fácil compreensão de todos os interessados.
a.5) Ser claro e objetivo; a ambigüidade e arbitrariedade – subjetividade devem ser excluídas
da medição com um indicador: ter uma finalidade específica.
b) As necessárias: exatidão: precisão, conforme o propósito ou aplicação do indicador;
consistência: solidez no sentido de estabilidade e segurança; coerência: lógica conexão e
necessária continuidade ao acompanhar a disponibilidade de dados consistidos e informações
coerentes, em que consistência e coerência tenham o necessário alcance histórico e regional;
e possibilidade de análise. Os indicadores devem:
b.1) Ter fundamentação teórica consistente, coerente, pertinente e atualizada em termos
científicos, técnicos, econômicos, sociocultural e ambiental.
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b.2) Ser aceito pela comunidade técnico-científica nacional e internacional pela sua validade
e aplicabilidade.
b.3) Podem reportar-se e combinar modelos (processos) econômicos de estados presentes
(diagnósticos), retrospectivos (históricos) e prospectivos (evoluções, tendências, cenários)
de atributos que possam ser utilizados em análises e tomadas de decisões estratégicas.
c) Mensurabilidade; os procedimentos e unidades de medida devem ser adequados e
consistentes. O indicador deve ser:
c.1) Medível; mensurável com unidades de medidas atualizadas aplicáveis ao caso. À
observação do fato relevante segue a medição acessível, disponível e que possa resultar
de uma relação custo / benefício favorável.
c.2) Ter validade institucional, social e econômica.
c.3) Possibilitar a sua avaliação, revisão e atualização em intervalos regulares ou quando
necessário, acompanhando o aprimoramento de sistemas de dados e informações e à
dinâmica – exigências da gestão ambiental.
c.4) A medição deve trazer um benefício social.
Os propósitos e usos freqüentes dos indicadores estão diretamente relacionados com a
complexidade de problemas e a grande quantidade de dados em diversas dimensões – disciplinas.
Os usos – aplicações dos indicadores, para o caso considerado neste documento, são:
a) Os descritivos de estados, pressões e respostas com a utilização de gráficos (Figuras 18 e
19), mapas (Figura 20) e ilustrações (tabelas, quadros, figuras, mapas etc.).
b) As indicações de alertas, tendências, projeções (...) com base na síntese e tratamento
estatístico ou outro dos dados de séries históricas como as de degradação ambiental, quedas
de produtividade e aumento de um fator ou causa da desertificação em um período.
c) Os indicadores são meios eficientes para informar – comunicar, alertar – prevenir, auxiliar à
tomada de decisões e o planejamento – gestão e, em especial, para refletir, treinar,
conscientizar e servir de base na educação ambiental.
d) Os indicadores para monitorar um processo como os de erosão na desertificação. Estes
indicadores compreendem – sintetizam importantes fontes de dados como as do sistema de
informação geográfica SIG (informações georeferenciadas) para acompanhar e avaliar
processos em escalas como os de uma bacia hidrográfica.
e) Indicadores para a gestão ambiental com várias fontes de dados como os de ecossistemas e
socioculturais
A construção de descritores e índices de degradação ambiental precisa de muitos dados; nem
sempre é possível dispor dados com a qualidade e quantidade necessárias, além de outras
dificuldades para se integrarem informações primárias de várias fontes, em geral, com
procedimentos de obtenção, propósitos de uso e escalas (níveis de detalhamento), períodos (...)
diferentes.
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DESERTIFICAÇÃO
Susceptibilidade
Processo Processo
Natural Antrópico
Hidrológico run-off Q1 Z1 W1
- Qualidade - quantidade
Q2 Z2 W2
Solo:
- Propriedades físicas (...)
- Geomorfologia (...) Q3 Z3 Z3
- Erodibilidade-erosividade
Q1: Dinâmica populacional; Indicadores dos efeitos da
desertificação sobre população
Vegetação Nativa: Q2 Indicadores sobre educação
- Tipologia – cobertura (...) Q3 Indicadores sobre migração por causa da desertificação
- Risco fogo (...) Z1 Indicadores sobre emprego, nível de renda (...)
Z2: Valor da produção (agrícola ou por produto; pecuária ou por
produto) do município em relação ao valor da produção do
Estado
Evapotranspiração (Ev) Z3: Índice de aridez
Chuva (P) W1: Índice de erosão: erodibilidade, erosividade
W2: Índice da vegetação nativa: risco ao fogo, adensamento etc.
W3: Outros índices
ÍNDICE
Ev / P
VARIÁVEL
Observar, mediar, registrar
A → xi/1
B → xj/2 INDICADOR
Dados e informações: I1= f(a, b, c) ÍNDICE
C→ xj/3
- abióticos: clima, água e solo: Xij I2= f(a, q) J1=g(I1, I3)
- bióticos: flora, fauna, ambientes: Yij D→ yi / 1
I3= f(b, z) J2=g(I2, I5)
- sociocultural: Qij E→ yi / 3
I4= f(d, z) J3=g(I3, I6)
- econômicos: Zij F→ yi / 3
I5= f(f, g, w) ...
- político-institucionais: Wij G→ zj)
H→ wj ...
...
Da pesquisa, da ciência (...) para A política (...) para A gestão (...) para O bem-estar
Descrever, demonstrar incorporar fundamentar informar-comunicar
elementos de pressão sobre os recursos naturais. Tais elementos estão relacionados à atividade
ceramista e à condição do uso das fontes de energia pela população. Foram selecionados os
seguintes indicadores:
a) percentual da população que usa lenha e carvão como combustível doméstico;
b) consumo total estimado de lenha para uso doméstico;
c) quantidade de lenha usada na atividade ceramista;
d) quantidade de matéria-prima usada na atividade ceramista.
Em relação ao primeiro indicador, verificou-se que 75% dos domicílios das três comunidades
pesquisadas utilizam os recursos florestais (lenha ou carvão vegetal) como fonte de energia
doméstica parcial ou integralmente, apesar do uso do gás de cozinha ser comum na maioria dos
domicílios. A lenha que é utilizada como combustível doméstico no dia-a-dia é retirada nos
arredores das próprias comunidades. Em relação ao indicador consumo total estimado de lenha para
uso doméstico, utilizou-se como base para o cálculo do indicador o índice de consumo médio de
lenha de 2,67 estéreo (st)/ano por habitante (de interior rural)2. A partir da informação de que a
população total das três comunidades é de 1.606 habitantes, verificou-se que o consumo total
estimado de lenha para uso doméstico é de 4.288,02 estéreo/ano (st/ano)3.
O indicador percentual da população que usa lenha ou carvão e o indicador consumo total estimado
de lenha para uso doméstico corroboram com os resultados apresentados pelo Relatório Técnico do
Projeto de Indicadores de Desertificação no Seridó do Rio Grande do Norte (FGEB, 2002)
referentes à intensidade do desmatamento na escala municipal. Segundo esse relatório,
Parelhas é um dos municípios do Seridó que perdeu nos últimos 14 anos cerca de 40% de sua área
com cobertura original de vegetação densa e semi-densa, justamente os estratos com maior
potencial lenhoso e mais sujeitos à exploração para a produção de energéticos florestais.
2 PAREYN & RIEGLHAUPT apud FGEB, 2002:14.
3 Estéreo: medida unitária que engloba a altura, a profundidade e a largura da madeira retirada
Em relação ao indicador quantidade de lenha usada na atividade ceramista verificou-se que há uma
necessidade crescente e continuada de grandes volumes para a produção dos artefatos cerâmicos.
As cinco cerâmicas pesquisadas consomem juntas 20.160 m3/ano de lenha para produzir uma
média de 33.576 telhas/ano. A retirada indiscriminada da lenha da vegetação nativa para atender a
demanda energética do setor ceramista local, que funciona efetivamente há mais de dez anos,
provocou a escassez da mata nativa. A cobertura vegetal atual de Parelhas apresenta uma
“desproteção muito forte” e o estoque lenhoso existente será incapaz de regenerar-se nos próximos
20 anos (FGEB, 2002) o que inclui Parelhas na categoria de municípios “em condições de extremo
comprometimento da sustentabilidade ambiental e econômica” (FGEB, 2002:11).
Em relação ao indicador quantidade de matéria-prima usada na atividade ceramista local, verificou-
se que são extraídas por mês 2.568 toneladas de argila. Esse volume é retirado de várzeas dos rios,
lagoas, riachos e açudes. Não havendo planejamento da lavra e nenhuma preocupação com a
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recuperação da área explorada, a matéria-prima foi ficando escassa, e, hoje, a indústria ceramista
importa grande parte desse insumo que é básico para seu funcionamento.
Esse nível de dependência econômica dos recursos naturais, retirados de um ecossistema com
baixíssima capacidade de recuperação e mediante a utilização de práticas totalmente inadequadas
de manejo, está conduzindo a região pesquisada a uma grave situação de desertificação.
Indicadores de estado
Identificados os principais elementos de pressão sobre os recursos naturais, foram selecionados os
seguintes indicadores de clima:
a) precipitação;
b) insolação e;
c) evapotranspiração.
Tendo em vista a não existência de dados climáticos para o âmbito local, apresentam-se os
indicadores com base nas informações sobre a região do Seridó e o município de Parelhas, de
forma a determinar a situação de suscetibilidade da área em estudo à desertificação.
De acordo com o PAN-Brasil (MMA, 2004), a região semi-árida caracteriza-se como área
suscetível à desertificação, apresentando evapotranspiração elevada e ocorrência de períodos de
seca. As comunidades rurais de Cachoeira, Juazeiro e Santo Antônio da Cobra, situam-se na região
semi-árida, apresentando o índice de aridez de 0,4, precipitação pluviométrica anual média da
ordem de 400 e 600 mm, curto período chuvoso de 3 a 5 meses (janeiro a maio) e uma estação seca
de 7 a 9 meses de duração. A temperatura média das máximas é de 33ºC e a das mínimas de 22ºC.
As baixas latitudes condicionam a região à forte incidência solar sobre a superfície do solo, quase
3.000 horas de luz solar/ano (DUQUE, 2004). Para descrever o estado do meio ambiente e detectar
os atuais níveis de qualidade de vida das famílias das três comunidades rurais foram tomados como
base os resultados da pesquisa nos quais os seguintes indicadores socioeconômicos foram
selecionados:
a) renda da atividade principal /renda total por família;
b) densidade demográfica;
c) percentual de residências que possuem esgoto/total de residências;
d) percentual de residências com água encanada/total de residências e;
e) número de pessoas com ensino fundamental incompleto/total de pessoas.
Observou-se que a renda da atividade principal representa 35,3% em relação à renda total por
família. Esse indicador mostra a predominância da indústria cerâmica em relação às principais
atividades geradoras de renda monetária nas comunidades e também à condição ocupacional não
agrária. Nas Comunidades de Cachoeira e Juazeiro, a ocupação principal é a ceramista,
respectivamente, 41,87% e 48,91%, entretanto, na comunidade de Santo Antônio da Cobra há um
diferencial que merece ser destacado – a renda principal das famílias é proveniente do benefício da
aposentadoria rural (50%), seguida da atividade ceramista (16%). Presente nas três comunidades,
Comb at e à de s e rt if ic aç ão e m iti ga ç ão - co nv iv ên ci a co m a s ec a
pobreza e 8,3% das famílias vivem com . do salário mínimo (R$ 65,00 em fevereiro de 2005), ou
seja, abaixo da linha de indigência4. Esses indicadores expressam uma realidade de pobreza na área
em estudo, apesar da existência de oportunidade de emprego e renda, mesmo que de forma indireta
(trabalhos eventuais). Segundo os entrevistados, a inexistência das cerâmicas traria impactos
maiores para a população tais como: a delinqüência, a prostituição, o uso de drogas, especialmente
entre os jovens. Os valores apresentados – pobreza e indigência – têm um significado maior no
contexto analisado quando se observa que há uma estreita relação entre a pobreza e o avanço dos
processos de desertificação. A pobreza é identificada como fator que, naturalmente, limita
investimentos e tende a sobre-utilizar os recursos naturais. Na área estudada, esses elementos são
potencializados pelas características físico-ambientais e pela ocorrência de secas que levam a
perdas significativas e recorrentes de produção e de renda.
Indicadores de resposta
Foram também identificados os elementos de resposta da sociedade aos indicadores de impacto, ou
seja, as medidas concretas tomadas frente ao problema da desertificação, os esforços da sociedade
(políticos e tomadores de decisão) para minimizar a problemática evidenciada. São os seguintes os
indicadores de resposta identificados:
a) % da população que recebe assistência técnica;
b) estudos técnico-científicos sobre a temática da desertificação voltados para a região;
c) políticas públicas de combate à desertificação e;
d) organizações sociais comunitárias.
Observou-se que 73,3% dos entrevistados recebem, ou a comunidade recebe algum tipo de
assistência técnica. Constatou-se que o Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR) é o
principal agente a atuar no espaço das comunidades (40,5%), seguido do Serviço de Apoio aos
Projetos Alternativos Comunitários (SEAPAC), 21,6%, e da Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural (EMATER), 17,6%. Os demais agentes identificados foram: o Instituto de 4 Em
fevereiro de 2005 o valor do salário mínimo era de R$ 260,00 (duzentos e sessenta reais), portanto,
a metade desse salário correspondia a R$ 130,00 (cento e trinta reais) e ¼ a R$ 65,00 (sessenta e
cinco reais).
Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA) 5,4%; o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), 2,7%; o NUDES e a Secretaria de Estado dos Recursos
Hídricos, 1,4%. Evidenciou-se que a temática da desertificação vem sendo objeto de preocupação
por parte dos especialistas regionais há mais de duas décadas.
Alguns trabalhos foram publicados e várias iniciativas tomadas no sentido de se discutir e
direcionar ações para o combate à desertificação no âmbito local5. O processo de elaboração do
PAN-Brasil, em 2004, pela sua forma participativa, propiciou, no estado a ampliação do debate em
relação à problemática. Algumas ações de combate à desertificação foram observadas, com
destaque para a criação do NUDES em 2004, constituído pelas comunidades de Santo Antônio da
Cobra, Juazeiro e Cachoeira. Esta área piloto foi estabelecida pelo governo estadual em parceria
com órgãos federais e a sociedade civil, para ações de prevenção e controle da desertificação.
Comb at e à de s e rt if ic aç ão e m iti ga ç ão - co nv iv ên ci a co m a s ec a
referência dos trabalhos publicados é citada no documento “Diretrizes para política de controle da
desertificação no Rio Grande do Norte”(IDEMA, 2004).
níveis de pobreza da população local e a relação de dependência das famílias com o setor produtivo
ceramista; h) esse nível de dependência econômica dos recursos naturais retirados de um
ecossistema com baixa capacidade de recuperação e mediante a utilização de práticas inadequadas
de manejo, vem conduzindo a região pesquisada para uma grave situação de desertificação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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aspectos ambientais de atividades produtivas. Fortaleza, 1999.
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ZUCCA, C. e ENNE, G. Desertification indicators for the European Mediterranean Region: state of
the art and possible methodological approaches. Rome: Ministero dell’Ambiente/ANPA, 2000.
FGEB. FUNDAÇÃO GRUPO ESQUEL BRASIL. Relatório técnico do projeto indicadores de
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FIERN/SENAI. Perfil Industrial da Cerâmica Vermelha no Estado do Rio Grande do Norte. Natal,
2001.
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