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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE MINAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO,


ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

Reflexões a respeito da relação homem x natureza x tecnologia: Os riscos


que o homem cria e vivencia

Túllio Souza de Jesus

OURO PRETO

2014
TÚLLIO SOUZA DE JESUS

REFLEXÕES A RESPEITO DA RELAÇÃO HOMEM X NATUREZA


X TECNOLOGIA: OS RISCOS QUE O HOMEM CRIA E VIVENCIA

Monografia apresentada ao Curso de


Engenharia de Produção da Universidade
Federal de Ouro Preto como parte dos
requisitos para a obtenção de Grau em
Engenharia de Produção.

Professora Orientadora: Bruna de Fátima Pedrosa Guedes Flausinio

OURO PRETO
2014

ii
J585r Jesus, Túllio Souza de.
Reflexões a respeito das relações homem x natureza x tecnologia: Os
riscos que o homem cria e vivencia [manuscrito] / Túllio Souza de Jesus.
– 2014.
x, 58f. : il., color., graf., tab.

Orientador: Profª Bruna de Fátima Pedrosa Guedes Flausinio.

. Monografia (Graduação) – Universidade Federal de Ouro


Preto. Escola de Minas. Departamento de Engenharia de Produção,
Administração e Economia.
Área de concentração: Administração.

Administração de projetos. 2. Ciência. 3. Tecnologia. 4. Energia


nuclear – Acidentes. 5. Ética. I. Universidade Federal de Ouro Preto.
II. Título.

CDU: 658.5

Fonte de catalogação: bibem@sisbin.ufop.br


TÚLLIO SOUZA DE JESUS

REFLEXÕES A RESPEITO DA RELAÇÃO HOMEM X NATUREZA


X TECNOLOGIA: OS RISCOS QUE O HOMEM CRIA E VIVENCIA

Monografia julgada e aprovada em 04 de dezembro de 2014 como parte dos requisitos


necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção no curso de Engenharia de
Produção da Universidade Federal de Ouro Preto.

Banca Examinadora

________________________________________________
Prof. Msc.Bruna de Fátima Pedrosa Guedes Flausinio
Universidade Federal de Ouro Preto
Orientadora

__________________________________________________
Prof. Dr. Davi das Chagas Neves
Universidade Federal de Ouro Preto
Examinador

________________________________________________
Prof. Msc. Tays Torres Ribeiro Chagas
Universidade Federal de Ouro Preto
Examinadora

iii
Aos meus pais, acima de tudo.

v
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Aderbal e Maria Aparecida pelo apoio e reconhecimento de minhas
conquistas.

À minha orientadora, professora Msc. Bruna de Fátima Pedrosa Guedes Flausinio, pela
oportunidade de expandir meus conhecimentos além do conhecimento técnico na minha
formação como engenheiro.

Aos examinadores da banca, Prof. Dr. Davi das Chagas Neves e Prof. Msc. Tays Torres
Ribeiro Chagas pela oportunidade de expor meu trabalho.

Aos companheiros e amigos desses anos que contribuíram e acrescentaram em minha


formação ética e acadêmica, para que eu possa exercer minha profissão com dignidade e
um olhar crítico sob as novas perspectivas desse século.

Aos meus irmãos.

vi
RESUMO

Durante muitos anos o homem se relacionou de diversas maneiras com a natureza e a


ciência que norteia seus conceitos. Por muitos séculos a natureza era vista como uma
extensão do homem, mas em um determinado momento essa relação se desfez e o ser
humano passou a subjugá-la. Com a revolução industrial, o passo se acelerou para um
caminho sem volta para a destruição total do meio ambiente e da vida humana no futuro.
Diante dessa perspectiva, o movimento ambiental dos anos 1960 e as posteriores
conferências ambientais vieram a evidenciar a necessidade de repensar o agir humano no
planeta. Surge então a necessidade de uma ética de responsabilidade, proposta pelo filósofo
alemão Hans Jonas que é desenvolvida para tornar a sociedade presente responsável pela
existência da geração futura. Além disso, o desenvolvimento tecnológico do século XX,
prova que desenvolvemos uma sociedade de risco que vive sob a ameaça de perigos
devastadores e catastróficos. Para isso serão apresentados alguns acidentes nucleares
emblemáticos da história envolvendo emissões radioativas e conseqüências que
permanecerão por muitas décadas.

Palavras - chave: Ciência e tecnologia, ética, riscos, acidentes nucleares.

vii
ABSTRACT

For many years the man was related in various ways with nature and science that guides
their concepts. For many centuries nature was seen as an extension of man, but at a certain
moment that relationship fell apart and humans began to subdue it. With the industrial
revolution, the pace quickened to a path of no return for the total destruction of the
environment and human life in the future. Given this perspective, the environmental
movement of the 1960s and the subsequent environmental conferences came to show the
need to rethink human activity on the planet. There comes the need for an ethic of
responsibility, proposed by the German philosopher Hans Jonas that is designed to make
this society responsible for the existence of the future generation. In addition, the
technological development of the twentieth century proves that developed a risk society
that lives under the threat of devastating and catastrophic hazards. For this we introduce
some emblematic nuclear accidents in history involving radioactive emissions and
consequences that remain for many decades.

Key-words: Science and technology, ethics, risk, nuclear accidents.

viii
LISTA DE FIGURAS

Fig. 4.1 – Imagens do acidente de Goiânia com Césio 137........................................... 47


Fig. 4.2 - Edição da revista TIME destacando a controvérsia sobre a usina nuclear de
Three Mile Island, em 9 de abril de 1979...................................................................... 48
Fig. 4.3 – Annya Pesenko - vítima do acidente na usina nuclear de Chernobyl........... 50
Fig. 4.4 – Localização do desastre nuclear de Fukushima............................................ 52

ix
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO................................................................................... 11

1.1 Objetivos ................................................................................................................ 13


1.1.1 Objetivo geral ..................................................................................................13
1.1.2 Objetivos específicos........................................................................................ 13
1.2 Estrutura do trabalho............................................................................................... 13
CAPÍTULO 2 – A ORIGEM DA CIÊNCIA E AS PRIMEIRAS CONCEPÇÕES
CIENTÍFICAS DA RELAÇÃO HOMEM - NATUREZA ........................................... 15

2.1 As origens do saber científico e o papel da natureza ................................................ 16


2.1.1 Os filósofos pré-socráticos ............................................................................... 16
2.1.2 O Período Clássico ........................................................................................... 18
2.1.3 O período medieval .......................................................................................... 22
2.1.4 A Idade Moderna ............................................................................................. 24
2.1.5 A revolução industrial ...................................................................................... 28
2.1.6 O período contemporâneo ................................................................................ 29
CAPÍTULO 3 – A INDUSTRIALIZAÇÃO, A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE
MODERNA E A TOMADA DE CONSCIÊNCIA DOS RISCOS TECNOLÓGICOS
E AMBIENTAIS ............................................................................................................ 31

3.1 Uma nova visão de modernidade para a questão ambiental – o uso da


responsabilidade ........................................................................................................... 34
3.1.1 A necessidade de criação de uma nova ética ..................................................... 34
3.1.2 As bases do Princípio da Responsabilidade proposto por Hans Jonas ................ 36
CAPÍTULO 4 – A INVENÇÃO DO PODER RADIOATIVO: UM GRANDE RISCO
A SER ASSUMIDO ....................................................................................................... 40

4.1 O surgimento de uma nova sociedade de riscos ....................................................... 41


4.1.1 Globalização dos riscos .................................................................................... 42
4.1.2 Estimabilidade dos efeitos colaterais da sociedade de riscos ............................. 43
4.2 Os acidentes radioativos que mudaram a história .................................................... 44
4.2.2 Grandes acidentes provocados pela radioatividade e suas repercussões na
sociedade de riscos....................................................................................................46
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 56

x
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

Durante séculos a humanidade vem transformando sua forma de lidar com a


natureza. Ciente de que precisa e depende dos recursos naturais para sua sobrevivência, o
homem começou a usar a ciência e a tecnologia para compreender e usar os recursos
disponíveis. Aparentemente, essa relação pode ser aceitável, mas as sequelas deixadas
provam o contrário. Agora, mais do que nunca, é preciso reestabelecer o equilíbrio
perdido. É preciso encontrar a tão sonhada sustentabilidade na forma como o
desenvolvimento vem sendo conduzido.

As primeiras teorias a respeito da origem do universo vieram pautadas nos


elementos naturais. Os chamados primeiros filósofos fundaram o que ficou conhecido
como a Primeira Modernidade, através de suas hipóteses e constatações, muito embora a
ciência estivesse apenas dando os seus primeiros passos. O fato de sair do lugar comum, de
romper com a cultura tradicional, fez com que esses filósofos se tornassem verdadeiros
desmistificadores do mito. Como ilustrou Platão em o “mito da caverna”, houve a saída à
procura da verdade, sem sombras do que antes eram dúvidas e simples aceitação.

Sobre as sombras, eco-historiadores como Clive Ponting, que no livro Uma


História Verde do Mundo, no capitulo intitulado “À sombra do passado”, discute como se
formaram os pensamentos do homem e o seu domínio sobre a natureza, a partir da divisão
da história da humanidade em uma primeira e segunda modernidades. A primeira
modernidade, segundo o autor, diz respeito ao domínio do homem sobre a terra, através
das técnicas agrícolas. Já a segunda refere-se ao domínio do homem por meio da
industrialização. Sobre ambas, Ponting (1995) escreve com relação à somatização de tantos
meios de domínio do homem sobre a natureza e de como o mesmo poderia ter criado um
ciclo próprio, vivendo à sombra do passado, repetindo os mesmos erros. Isso reflete uma
importante questão – os riscos tecnocientíficos advindos da busca incessante da
humanidade por desenvolvimento e acúmulo de poder e riqueza.

O termo risco por si só já carrega uma conotação negativa. Ou seja, há chances de


que algo indesejável ocorra. De acordo com Wynter (1997), “risco é a probabilidade de
que ocorra um efeito adverso no indivíduo ou na população devido à exposição a uma
concentração ou dose específica de um agente perigoso”. E esse tema vem despertado a
atenção de muitos, uma vez que o risco é o resultado da ação do homem sobre ele mesmo.

11
Já se tem certeza de que os riscos tecnológicos podem ter consequências sociais,
ambientais, econômicas etc. Os seus efeitos respingam de uma forma ou de outra no
próprio homem.

Nesse cenário de relação homem x natureza x tecnologia surge o caminho do meio,


a via intermediária ou da prudência. O que é preciso fazer para reverter um futuro tão
sombrio? A resposta já é conhecida, muito embora seja ainda relativamente recente o que
se convencionou chamar de movimento ambiental, que teve início no século passado, na
década de 1960. Com ele, foram criados muitas leis e instrumentos em prol da preservação
ambiental. Criaram-se também princípios norteadores das ações humanas e suas
consequências futuras.

No entanto, a relação homem x natureza x tecnologia ainda está longe de um


equilíbrio de suas forças, sobretudo porque esta relação já se transformou em uma luta de
dois lados. Isso porque a modernidade moderna que reina nos dias atuais já fundiu o
homem e a tecnologia em um só. A natureza nunca esteve tão sozinha em toda a história.

Um fator que também requer destaque nessa questão é a dinâmica dessa relação ao
longo do tempo. Ora, o conhecimento das ciências e das técnicas acabou por colocar a
natureza em um plano abaixo do que estava o homem. Este, por sua vez, passou a subjugá-
la a seu bel prazer. Aos poucos foram sendo criadas formas e mais formas de modificar e
utilizar os recursos naturais em detrimento da instauração de uma nova modernidade, que
foi se liquefazendo. De acordo com Bauman (2003), o mundo vive uma modernidade
líquida, ou seja, uma modernidade imediata que é leve, líquida, fluida e infinitamente
dinâmica.

Assim, o presente trabalho é de grande relevância, na medida em que busca fazer


um breve tratado a respeito da relação homem x natureza x tecnologia, partindo da reflexão
sobre as mudanças ocorridas ao longo do tempo, sobretudo, quanto à ligação do homem
com o elemento natural. Além disso, contribui de forma direta na formação do Engenheiro
de Produção da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que opta por expandir seus
conhecimentos para aquém dos limites da tecnologia, considerando os impactos dela
provenientes. Isso contribui, indiretamente, na sua capacitação profissional que poderá
futuramente alavancar o desenvolvimento econômico, social e industrial do país, dentro de
uma postura mais sustentável.

12
1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

Este estudo tem o objetivo de analisar a posição do homem em relação à natureza,


por meio da origem das ciências e a utilização da técnica, e assim realizar uma reflexão a
respeito dos riscos gerados, sob a perspectiva do Princípio da Responsabilidade e estudo
dos acidentes nucleares ocorridos no mundo.

1.1.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos deste trabalho são:

 Fazer um levantamento bibliográfico das origens da ciência;


 Realizar um estudo sobre o desenvolvimento da relação homem x natureza x
tecnologia;
 Identificar a evolução das mudanças tecnológicas e o pensamento humano quanto à
utilização dos recursos naturais e a evolução dos riscos associados ao uso da técnica;
 Analisar o Princípio da Responsabilidade;
 Realizar um levantamento dos acidentes nucleares que marcaram significativamente a
história da humanidade.

1.2 Estrutura do trabalho

O capítulo seguinte ao introdutório apresenta o surgimento da filosofia e sua


contribuição para a origem da ciência, indo de Tales de Mileto até a ética de Sócrates e
seus discípulos. Esse segundo capítulo contempla ainda os períodos clássico, medieval e a
idade moderna, fechando com a revolução industrial e a modernidade contemporânea.

O terceiro capítulo trata do período pós-industrialização que contempla as novas


perspectivas de um modo de produção acelerado que vem exaurindo os recursos naturais
de forma exacerbada e descontrolada. Sob esse ponto de vista, é abordado o princípio ético
de responsabilidade de Hans Jonas para com a preservação da vida humana no futuro
frente ao poderio progresso tecnológico que vem se desenvolvendo.

Para finalizar, o último, capítulo trabalha o conceito de risco e sociedade de risco,


em todo o seu contexto globalizado de uma sociedade suscetível ao colapso sob as

13
doutrinas do progresso tecnológico. Além disso, apresenta a importância dos acidentes
radioativos ocorridos nos últimos anos que marcaram a história da humanidade, bem como
a necessidade de se aprender com os erros do passado para evitar no futuro, novos
acontecimentos semelhantes.

14
CAPÍTULO 2 – A ORIGEM DA CIÊNCIA E AS PRIMEIRAS CONCEPÇÕES
CIENTÍFICAS DA RELAÇÃO HOMEM - NATUREZA

É sabido que a relação homem versus natureza não é uma ciência contemporânea,
ela vem se estabelecendo do estudo racional através de séculos da existência da vida
humana no planeta terra. Ainda que o homem tenha acordado tardiamente para o problema
no ritmo do desenvolvimento e crescimento econômico ditado pelo passar dos anos, é de
grande valia apresentar o modo como essa relação estabeleceu-se nas diversas passagens
da humanidade. O “Movimento ambiental”, nascido apenas no século passado, por volta
dos meados dos anos 1960 apresenta-se ao mundo como o divisor de comportamentos
entre os tecnocratas conservadores do progresso e os catastrofistas, que “anunciavam o
apocalipse para o dia seguinte caso o crescimento demográfico e econômico não fosse
imediatamente estagnado” (SACHS, 2002, p.51). Esse movimento veio aflorar o problema
da poluição ambiental e a busca por um novo tipo de desenvolvimento, pautado na
sustentabilidade, uma espécie de terceira via média entre o economismo arrogante e o
fundamentalismo ecológico.

Ainda que o assunto seja recente, o sonho do equilíbrio dessa relação parte de
épocas remotas, principalmente da essência de entender, em sua complexidade, o
significado de recurso natural e o controle sobre este. Ao analisar os períodos vividos pelo
ser humano, observam-se diferentes concepções, pois os processos produtivos foram se
modificando ditando a forma como o equilíbrio deixou de existir. Antes tudo era para
sobrevivência, sem excessos. Então surgem os excedentes, a produção em massa, o
crescimento populacional, industrialização, poluição e o pensamento sustentável.

Essa compreensão da natureza foi, ainda é e, certamente, será o ponto de partida


para a ciência, tanto que os primeiros filósofos, que ousaram desmistificar suas próprias
origens, buscaram nos elementos da natureza o fundamento de seus conhecimentos.
Obviamente, não se pretende aqui criar um debate a respeito das correntes evolucionistas e
criacionistas a respeito da origem da vida, haja vista que tal tema é de grande polêmica e
requer um estudo específico. Apenas pretende-se mostrar que a própria natureza serviu de
inspiração para o início de um desenvolvimento científico da raça humana.

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2.1 As origens do saber científico e o papel da natureza

Para compreendermos a relação que a natureza desempenha no conhecimento


científico, e posteriormente, sua relação com o desenvolvimento tecnológico é preciso
entender as origens da ciência e seu comportamento, evolução e transições ao longo dos
diversos períodos históricos vividos pelo ser humano, principalmente no tocante ao
comportamento dos filósofos e cientistas acerca de cada uma dessas épocas.

Para Morin (2005), o conhecimento científico não faz mais do que provar suas
virtudes de verificação e descoberta em relação a todos os modos de conhecimento,
conduzindo a uma grande aventura da descoberta do universo, da vida e do homem. No
início, os investigadores eram amadores, ao mesmo tempo filósofos e cientistas e a
atividade científica era sociologicamente marginal. Atualmente, a ciência tornou-se
poderosa e esta inserida no centro da sociedade e é alimentada e controlada pelos poderes
econômicos.

Apesar de a cultura oriental ter contribuído e muito com as origens da ciência, é


comum encontrar o mundo ocidental como berço do nascimento da ciência, principalmente
no tocante à civilização grega. Nesse sentido, serão apresentados, a seguir, os principais
aspectos do surgimento da filosofia grega e sua contribuição para o que se chamou mais
tarde de ciência, bem como sua relação com a natureza.

“Assim, a ciência é, intrínseca, histórica, sociológica e eticamente, complexa É essa


complexidade específica que é preciso reconhecer. A ciência tem necessidade não apenas
de um pensamento apto a considerar a complexidade do real, mas desse mesmo pensamento
para considerar sua própria complexidade e a complexidade das questões que ela levanta
para a humanidade” (MORIN, 2005, p. 8-9)

2.1.1 Os filósofos pré-socráticos

Os antecessores da filosofia antiga da ciência ocidental, os pré-socráticos1,


buscavam na natureza a explicação cósmica para a origem da própria existência. Foram
então denominados filósofos da natureza, pois não concebiam a separação entre homem e
natureza. Para Marcondes (2005), a tentativa dos primeiros filósofos era buscar uma
explicação do mundo natural (Physis), baseando-se essencialmente em causas naturais,
constituindo o naturalismo da escola. Estes observavam todas as transformações que

1
Pré-socráticos é o nome utilizado para designar os primeiros filósofos gregos. O famoso filósofo Sócrates é
tido como um “divisor de águas”, pois marca o fim da era dos filósofos da natureza.

16
ocorriam no meio e questionavam o porquê e como tudo acontecia. A chave da explicação
do mundo estaria então, para esses pensadores, no próprio mundo, abrindo-se, assim, ao
conhecimento, à possibilidade de explicação à ciência.

Nesse momento surge o dilema do criacionismo e evolucionismo, e qualquer idéia


contrária a busca das respostas na mitologia corrompia os padrões estabelecidos. Contudo,
ainda que a mitologia grega fosse muito presente na época, as teorias eram pautadas em
raciocínio, observação, comparação, experimentação e constatação. Marcondes (2005),
aponta que essa mudança do pensamento mítico, bem como a perda de seu poder
explicativo resultam de um longo período de transição e de transformação da própria
sociedade grega, o que possibilita o surgimento do pensamento filosófico científico no
século VI a.c. O homem sai de sua zona de conforto, onde tudo era explicado pelo mito, e
passa a se confrontar com o mundo da razão. “Deus” é retirado do centro de todas as coisas
e o homem ameaça tomar o seu lugar. Podemos considerar que este pensamento nasce
basicamente de uma insatisfação com o tipo de explicação do real que encontravam no
pensamento mítico.

Para entender os fenômenos, esses filósofos escolheram os elementos básicos da


natureza – a physis – como ponto de partida, a saber: água, fogo, terra e ar. Segundo Di
Mare (2002), Tales de Mileto (VI a.c.), considerado o pai da ciência e da filosofia
ocidental, afirmou que a causa de todas as coisas que existem é o elemento água. Ele
obteve suas constatações através de seus experimentos, onde na ausência da água as
plantas e os animais morriam, bem como levaria o ser humano a morte da mesma forma.
Porém, para Marcondes (2005) o mais importante na contribuição de Tales não é a escolha
da água, mas a própria idéia de elemento primordial que da unidade à natureza. A
importância dessa noção está exatamente na tentativa de uma explicação da realidade em
um sentido mais profundo, estabelecendo um principio basco que permeia a realidade, e ao
mesmo tempo seja um elemento natural. Tal princípio daria precisamente o caráter geral a
esste tipo de explicação, permitindo considerá-la como inaugurando a Ciência.

Os discípulos de Tales de Mileto e seus sucessores continuaram a adotar um


elemento da natureza como sendo a causa de todas as coisas existentes. Anaximandro, por
exemplo, defendeu a teoria do Apeíon, a terra, a “substância indefinida” que significa o
ilimitado, o indeterminado, o abstrato, como seu princípio universal para todas as coisas. Já

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Heráclito, era o fogo como a inquietude. Anaxímenes considerou o surgimento da vida a
partir do ar, a substância fundamental.

Embora suas teorias estejam fundamentadas em um passado muito distante, elas


não podem ser descartadas de uma comparação com o contemporâneo. A rigor, no cunho
científico, os quatro elementos observados, o ar por Anexímenes está poluído pelas
emissões de gás carbônico e aliado ao fogo ou calor, é comparável ao efeito estufa,
consequentemente ao aquecimento global. A água potável escassa para o uso humano, e o
Apeíon prestes ao colapso decorrente das ações do homem.

2.1.2 O Período Clássico

O período clássico da historia contempla um longo período entre aproximadamente


os séculos VIII a.c. até V d.c., ilustrados em um eixo central pelas suas civilizações mais
marcantes: a grega e a romana. Surge nesse período o pensamento de Sócrates, um marco
na constituição da tradição filosófica, inaugurando a filosofia clássica e rompendo com a
preocupação exclusiva centrada na formulação de doutrinas sobre a realidade natural,
presente nos filósofos pré-socráticos. A denominação “pré-socráticos” já infere a
importância da filosofia de Sócrates como um divisor de águas nesse período. É nesse
momento que a questão ético-política é inserida na discussão filosófica como urgente na
sociedade grega, superando a questão da natureza como temática central. Para Marcondes
(2005), toda essa transição deve ser relativizada, uma vez que essas mudanças não ocorrem
de um momento para outro, mas representam uma fase progressista em que muitos
elementos da tradição anterior, aristocrática, mitológica, religiosa, permanecem no
discurso filosófico, na literatura e em formulações ciêntificas, como nos diálogos de
Platão.

A filosofia antiga do Período Clássico estrutura boa parte do nosso conhecimento


científico, esse é o resultado do pensamento filosófico inaugurado pelos gregos. Seu
objetivo era bastante determinístico, conhecer e contemplar as verdades do universo. Seus
principais pensadores, Sócrates, Platão e Aristóteles fundadores da academia de Atenas, a
primeira instituição de ensino superior do mundo ocidental, influenciaram no início do
antropocentrismo, na mudança do conceito de natureza e sua separação ao homem.

O pensamento de Sócrates marca, portanto, o início da filosofia Clássica.


Conhecido pelos seus conceitos de método socrático, ironia socrática, e o fundador da

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ética, seus conhecimentos perduram até os dias de hoje. Segundo Marcondes (2005), a
concepção filosófica de Sócrates pode ser caracterizada como um método de análise
conceitual, ilustrado pela célebre questão socrática “o que é?”, através da qual se busca a
definição de uma determinada coisa, geralmente uma virtude ou qualidade moral. Segundo
o autor, a discussão parte da necessidade de se entender algo melhor, através de uma
tentativa de se encontrar uma definição, assim o método Socrático envolve o
questionamento do senso comum, das crenças e opiniões que temos, consideradas vagas,
imprecisas, parciais e incompletas. Nesse sentido, a reflexão filosófica vai mostrar que não
sabemos aquilo que pensamos saber.

Diante de seu método, Sócrates opera inicialmente através de um questionamento


de crenças habituais, interrogando o interlocutor, provocando-o a dar respostas e explicar o
conteúdo e o sentido de suas crenças. Logo em seguida, utilizando-se de ironia,
problematiza essas crenças, induzindo o interlocutor à contradição, fazendo-o perceber a
insuficiência de suas respostas até a se sentir perplexo e reconheça sua ignorância. Para
Marcondes (2005), é este o sentido da célebre fórmula socrática “só sei que nada sei”, a
idéia de que o reconhecimento da ignorância é o princípio da sabedoria, e a partir desse
momento, tem o caminho aberto para encontrar o verdadeiro conhecimento, afastando-se
do domínio da opinião.

É inegável que Sócrates é o “pai da ética”, ao dialogar com os sofistas2 refuta seu
relativismo moral em defender a identidade entre os interesses individuais e os
comunitários como único caminho para a felicidade, o que implica na valorização da
bondade e na busca do conhecimento. Marcondes (2005), a crítica de Sócrates aos sofistas
consiste em mostrar que o ensinamento sofístico limita-se a uma mera técnica ou
habilidade argumentativa que visa a convencer o oponente daquilo que diz, mas não leva
ao verdadeiro conhecimento. A conseqüência então era, devido à influência dos sofistas, as
decisões políticas estavam sendo tomadas não com base em um saber, mas na dos mais
hábeis em retórica. Os sofistas não ensinavam, portanto, o caminho para o conhecimento,
mas para a obtenção de uma “verdade consensual”, resultante da persuasão.

Desse modo, pode-se inferir que a ética defendida por Sócrates é tida como uma
força transformadora capaz de trazer felicidade a sociedade e ao indivíduo, o desejo de

2
Sofistas são mestres de retórica e oratória, muitas vezes mestres itinerantes, que percorriam cidades-estados
fornecendo seus ensinamentos, sua técnica, suas habilidades aos governantes e aos políticos em geral

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uma harmonia entre os diversos interesses individuais e coletivos. Há o surgimento de um
novo elemento, não natural, mais inerente ao homem, próprio da sua essência como ser – a
ética. É um marco de suma importância na transição do pensamento e da construção da
ciência como um todo e pode-se dizer que há um desprendimento do recurso natural, no
entanto, a preocupação é o bem moral, o bem estar, o fazer o que é certo. Tal valor moral
proposto por Sócrates é perfeitamente cabível a atualidade, uma vez que o jogo de
interesses políticos individuais do século XXI vem se tornando cada vez menos ético no
que diz respeito ao modo de uso dos recursos naturais ainda existentes no mundo.

O nascimento da filosofia clássica é desenvolvido através do pensamento de


Sócrates a partir de seus dois discípulos, Platão e Aristóteles. Foram esses dois herdeiros
que transmitiram as ideias e propostas de Sócrates através de suas obras. Escreveram
relatos e testemunhos sobre sua vida, portanto, a principal fonte de conhecimento do
pensamento filosófico de Sócrates é Platão, nos diálogos chamados “socráticos”, em que
sua preocupação básica foi registrar e transmitir a filosofia de seu mestre. Em especial
destaque, o de seu julgamento e morte, uma vez que o episódio relata o confronto do
filósofo com o Estado.

Platão desenvolveu uma teoria dualista e encontrou na sua teoria das ideias um
modo de explicar a realidade. O mundo dos sentidos com o qual se chegaria a um
conhecimento aproximado, imperfeito. E o mundo das ideias, pelo qual podemos ter um
conhecimento seguro com o uso da razão. Assim, ele pretende analisar, avaliar, julgar as
manifestações culturais gregas e o processo decisório em Atenas e suas consequências,
tentando descobrir a sua significação, bem como a que motivações profundas do homem
elas correspondem. Para Platão, os homens nascem com 2 instintos naturais básicos, a
curiosidade e o medo.

Para Marcondes (2005), a obra de Platão se caracteriza como a síntese de uma


preocupação com a ciência (o conhecimento verdadeiro e legítimo), com a moral e a
política. Envolve assim um reconhecimento da função pedagógica e política da questão do
conhecimento. Sua conclusão é que o conhecimento (o saber) identifica-se com o bem.

É o autor da famosa alegoria da caverna, que trata da exemplificação de como


podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade.

20
“E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exatamente essa alegoria ao que dissemos
anteriormente. Devemos assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na prisão,
a luz do fogo que ilumina a caverna à ação do Sol. Quanto à subida e à contemplação do
que há no alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligível, e não te
enganarás sobre minha esperança, já que desejas conhecê-la. Deus sabe se há alguma
possibilidade de que ela seja fundada sobre a verdade. Em todo o caso, eis o que me
aparece, tal como me aparece; nos últimos limites do mundo inteligível, aparece-me a idéia
do Bem, que se percebe com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir a luz e o
senhor da luz, no mundo inteligível ela própria é a soberana que dispensa com sabedoria,
seja na vida privada, seja na vida pública”. (In Abel Jeannière. Platão. Rio de Janeiro, Jorge
Zahar, 1995).

Na passagem final do texto acima, Sócrates interpreta brevemente a alegoria para


Glauco, enfatizando o aspecto ético-político do saber filosófico, pois ao ver a luz pode
“comportar-se com sabedoria, seja na vida privada, seja na pública”. Esta fábula que traz à
tona a indagação proposta pelo movimento ambiental dos anos 1970. O prisioneiro pensa
em retornar a caverna e expor a verdade enganosa em que vivem os demais, está sujeito a
sérios riscos, como ser ignorado, tomado como louco ou mentiroso e acabar morto. Assim
fora para os primeiros ambientalistas que trataram do assunto do aquecimento global,
fortemente presente em nossa realidade atual. Para Marcondes (2005), é nesse sentido que
a obra de Platão pode ser entendida como uma longa reflexão sobre a decadência da
democracia ateniense, de seus valores, ideais, de seu modelo, o contexto político que afinal
condenou seu mestre Sócrates, “o mais sábio de todos os homens”, à morte.

Considerando o período clássico o alicerce mestre da filosofia, surge a necessidade


de se citar a figura enigmática de Aristóteles, seu fundador mais renomado. Aristóteles
representou um avanço importante para a história da ciência, além de fundar diversas das
disciplinas científicas, observou a natureza de um ponto de vista sistemático. As causas e
explicações de que todas as coisas tendiam naturalmente para um fim, e era esta a
concepção teológica da época, que explicava a natureza de todos os seres.

Segundo Aristóteles, o saber teórico caracteriza-se por ser contemplativo, o


definindo-se pela visão da verdade e por não ter objetivos práticos ou fins imediatos. É um
saber gratuito, ou seja, uma finalidade em si mesma, que satisfaz uma curiosidade natural
do homem: o desejo de conhecer. Para Marcondes (2005), essa gratuidade, aliada a seu
grau de abstração e generalidade, é o que caracteriza a superioridade da ciência em relação
à técnica. A técnica, enquanto saber aplicado, visa a um fim especifico, pretende obter

21
resultados, resolver um problema; por exemplo o médico que visa a cura do paciente.
Porém, esse objetivo ou fim pretendido condiciona o tipo de saber, limitando-o
direcionando-o. O saber teórico deve ser inteiramente livre e gratuito e, para isso, não deve
ter fins específicos. É só realmente no inicio do período moderno (sécs. XVI-XVII), com
pensadores como Renné Descartes, Galileu Galilei e Francis Bacon, que ciência e técnica
serão pensadas interagindo, a técnica sendo uma espécie de aplicação prática do
conhecimento científico. Na visão grega clássica, ciência e técnica eram vistas como
radicalmente diferentes.

O conceito de natureza e as relações humanas e da filosofia desenvolvido pelos


gregos ao longo de todo o período em que floresceu a sua civilização, caracteriza-a como
um elemento fundamental para a compreensão do mundo e, sobretudo para a compreensão
de sua sociedade. Antunes, (2002) ressalta que o fenômeno de degradação ambiental não
foi um tema muito abordado naquela época. Os recursos não eram escassos, e os sinais só
foram notados em razão do crescimento populacional e a necessidade de expansão
territorial.

Ou seja, pode-se concluir que, embora o elemento natural passasse a ser de


fundamental importância nesse processo de construção do saber, não se trata de uma fase
de alarme. Aqui, a natureza e o homem se complementam. A partir do momento em que o
homem começa a usar a natureza em função de sua cobiça, aí sim começa a haver a
deteriorização dos recursos. Mas, isso é um processo ao longo dos séculos, indo desde a
produção em excesso (além da sobrevivência – a idéia de riqueza), a retirado do homem do
campo, a divisão do trabalho, a industrialização, a tecnociência e etc., como será visto
adiante.

2.1.3 O período medieval

Dando um salto no tempo, chega-se a outro período que também trouxe


consequências marcantes para o desenvolvimento do saber científico. Trata-se do período
medieval, que é considerado como sendo o espaço de tempo entre os séculos V e XV. Foi
uma época marcada por revoluções, mudanças no campo da ciência e principalmente pelo
resgate ao teocentrismo. Durante muito tempo a Idade Medieval, ou apenas Idade Média,
foi conhecida como a “Idade das Trevas”. Um período de obscurantismo e idéias
retrógradas, marcado pelo atraso econômico e político do feudalismo, pelas guerras

22
religiosas e pela “Peste Negra”, além do fator mais importante acerca dos estudos sobre a
ciência, o monopólio restritivo da igreja nos campos da educação e cultura.

Marcondes (2005) divide o período medieval em duas fases totalmente distintas do ponto
de vista filosófico e cultural. A Primeira corresponde ao período que se segue à queda do
Império romano (séc. V) praticamente até os sécs. IX-X, quando a situação política e
econômica começa a se estabilizar. A fase final, (sécs. XI-XV) equivale ao
desenvolvimento da escolástica e a grande produção filosófica que se dá com a criação das
universidades, até a crise do pensamento escolástico e o surgimento do humanismo
renascentista (sécs. XV-XVI). Para efeito deste trabalho, exploraremos apenas a fase final
acerca da Escolástica e das contribuições dos mais importantes estudiosos para o campo
das ciências.

Em torno dos sécs. XI-XII assistimos ao surgimento da assim chamada


“Escolástica”, como ficou conhecida a filosofia medieval3 a partir de então. Para
Marcondes (2005) este termo designa, de modo genérico, todos aqueles que pertencem a
uma escola ou que se vinculam a uma determinada escola de pensamento e de ensino.
Consiste em um método de aprendizagem nascido nas escolas monásticas cristãs que
conciliava a fé cristã com um sistema de pensamento racional. Seus estudiosos priorizavam
a fé e seus pensamentos eram voltados para a salvação da alma, deixando os
questionamentos da natureza em segundo plano. Os poucos aventureiros que desejavam
investigar o mundo natural tinham suas opções limitadas pelo esquecimento do idioma
grego, já em decaimento.

Para Marcondes (2005), o século XIV é conhecido como o período de “dissolução


da síntese da escolástica”. A partir desse momento o modelo característico da escolástica, a
integração entre as verdades da razão, campo da filosofia e as verdades da fé e o campo da
teologia começam a enfrentar dificuldades. O séc. XV traz um pensamento inovador, o
humanismo renascentista, que por sua vez prenuncia o Período Moderno, com suas novas
teorias filosóficas e cientificas e profundas transformações no mundo europeu.

Surge o Heliocentrismo de Nicolau Copérnico, e o planeta Terra deixa de ser o


centro do universo assumindo a posição de planeta, considerado um ponto de partida da

3
A filosofia medieval corresponde ao longo período histórico que vai do final do helenismo (sécs. IV-V) até
o renascimento e o início do pensamento moderno (final do séc. XV e séc. XVI), aproximadamente dez
séculos, portanto.

23
astronomia moderna. Os estudos de Galileu Galilei permitiram uma fonte de conhecimento
para os estudos físicos, através dos primeiros estudos sistemáticos do movimento
uniformemente acelerado e do movimento do pendulo, lei dos corpos e o principio da
inércia, precursoras da mecânica Newtoniana.

“Antes de 1500, a visão de mundo dominante na Europa, assim como na maioria das outras
civilizações, era orgânica. As pessoas viviam em comunidades pequenas e coesas, e
vivenciavam a natureza em termos de relações orgânicas, caracterizada pela
interdependência dos fenômenos espirituais e materiais e pela subordinação das
necessidades individuais as da comunidade. (...) A natureza da ciência medieval era muito
diferente daquela ciência contemporânea, baseava-se na razão e na fé, e sua principal
finalidade era compreender o significado das coisas e não exercer a predição ou o controle.
Os cientistas medievais, (...) consideravam do mais alto significado as questões referentes a
Deus, à alma humana e à ética”. (CAPRA, 2003, p.49)

2.1.4 A Idade Moderna

Após quase um milênio de medievalismo marcado por guerras, adversidades e


catástrofes, os séculos conseguintes, em destaque especial para o XVII, trazem uma nova
perspectiva pelo saber através da técnica. O período das novas descobertas, ou como
conhecido por período das grandes navegações, marcou a passagem do feudalismo da
idade média para a idade moderna e a busca por novas rotas de comércio. E durante esse
processo, a ascensão do humanismo 4, um importante motor para o estímulo a pesquisa
científica e intelectual.

Para Marcondes (2005), o pensamento moderno talvez seja mais fácil de ser
compreendido por nós, pelo fato de estarmos mais próximos dele do que do antigo e do
medieval, e por sermos ainda hoje, de certo modo, herdeiros dessa tradição. O conceito de
modernidade está sempre relacionado para nós ao “novo”, aquilo que rompe com a
tradição. Trata-se, portanto, de um conceito associado quase sempre a um sentido positivo
de mudança, transformações e progresso.

Segundo o mesmo autor, a revolução científica tem seu ponto de partida na obra de
Nicolau Copérnico, Sobre a revolução dos orbes celestes (1543), em que defende
matematicamente o sistema heliocêntrico, rompendo com o sistema geocêntrico

4
O Humanismo nasceu praticamente ao final da idade média através da forma de pensar de classes mais
favorecidas a respeito da nova ordem social, econômica e política que havia se estabelecido. Valorizava a
antiguidade clássica e pregava o antropocentrismo. Esse movimento abriu caminho para o Renascimento.

24
estabelecido há praticamente vinte séculos. Desse modo, representa um dos fatores de
ruptura mais marcantes do inicio da modernidade.

Sob essa ótica moderna de ciência, Marcondes (2005) defende que este pode ser o
ponto de partida do “mecanicismo” como modelo físico de universo. Dessa forma o
mecanicismo vê a natureza como um mecanismo, constituído de elementos como as
engrenagens de um relógio e a função da ciência passa a ser descrever a natureza desses
elementos e as leis e princípios que explicam seu funcionamento. A revolução cientifica
pode ser considerada uma grande realização do espírito crítico humano, com sua
formulação de hipóteses ousadas e inovadoras e com sua busca de alternativas para a
explicação cientifica.

A busca pelo saber através da própria técnica marca a revolução do pensamento


científico do século XVII. E foi o filósofo e matemático francês René Descartes quem
contribuiu fortemente na oposição das relações entre Homem-Natureza. Descartes assume
então a missão de fundamentar a ciência, demonstrando de forma conclusiva que o homem
pode conhecer o real de modo verdadeiro e definitivo. Para Marcondes (2005), é relevante,
portanto, que Descartes, dedique toda a sua obra quase que exclusivamente à questão da
possibilidade do conhecimento e da fundamentação da ciência, defendendo as novas
teorias cientificas e o modelo de ciência que pressupõem.

Naquele momento, em um mundo antropocêntrico, o homem passa a ser possuidor


da natureza e todos os conhecimentos úteis à vida. A natureza passou a ser vista como um
recurso, exposta de forma a ser utilizada por todos os meios, para um fim. Nesse momento
o homem se apoderou dos recursos naturais sem limitações ou regras para conservação.
Marcondes (2005) defende que para Descartes, a racionalidade pertence à natureza
humana, assim, o homem traz consigo a possibilidade do conhecimento. Este
conhecimento, que fora deturpado e contaminado pelos erros da tradição. É esse o sentido
do subjetivismo de Descartes, a busca no indivíduo, no sujeito pensante, da fonte do
conhecimento.

O pensamento de Descartes teve grandes consequências para a história do


pensamento ocidental, sua visão fragmentada e mecânica das estruturas vivas perpassou a
modernidade e continua impregnada no pensamento atual. Segundo Capra (2003),
Descartes tinha como objetivo principal, usar seu método para formar uma definição

25
racional completa dos fenômenos naturais, em um sistema regido por princípios mecânicos
e matemáticos.

Em sua famosa obra, O discurso do Método, Descartes aplica o cartesianismo como


fundamento do conhecimento científico. A ideia de fragmentação da relação que o homem
tem com a natureza no pensamento moderno e propunha-se nesse método a substituir a fé
pela razão da ciência. Uma ruptura na forma de pensamento que abre precedentes que são
notados ainda nos dias atuais.

“É verdade que não vemos em lugar algum demolirem todos os edifícios de uma cidade,
com o exclusivo propósito de reconstruí-los de outra maneira, e de tornar assim suas ruas
mais belas; mas vê-se na realidade que muitos derrubam suas casas para reconstruí-las,
sendo ainda por vezes obrigados a fazê-lo, quando elas correm o risco de cair por si
próprias, por seus alicerces não se encontrarem muito firmes. A exemplo disso, convenci-
me de que não seria razoável que um particular tencionasse reformar um Estado, mudando-
o em tudo desde os alicerces e derrubando-o para em seguida reerguê-lo; nem tampouco
reformar o corpo das ciências ou a ordem estabelecida nas escolas para ensiná-las; mas que,
a respeito de todas as opiniões que até então acolhera em meu crédito, o melhor a fazer
seria dispor-me, de uma vez para sempre, a retirar-lhes essa confiança, para substituí-las em
seguida ou por outras melhores, ou então pelas mesmas, após havê-las ajustado ao nível da
razão”. (O discurso do método, p. 8)

Descartes tinha seu método fundamentado quatro preceitos básicos: 1) o de nunca


aceitar algo como verdadeiro como tal sem que conhecesse claramente como tal; 2) repartir
cada uma das dificuldades que pudesse analisar em tantas parcelas quanto fossem possíveis
e necessárias para melhor solucioná-las; 3) conduzir por ordem os pensamentos, iniciando
pelos mais simples e fáceis, para elevar-se pouco a pouco, galgando degraus, até o
conhecimento mais composto e 4) efetuar relações metódicas tão completas e revisões
gerais nas quais tivesse a certeza de nada omitir.

Além de Descartes, um pensador contemporâneo, Francis Bacon (1561-1626) pode


ser considerado, um dos iniciadores do pensamento moderno. Defensor do método
experimental contra a ciência teórica e especulativa clássica, por sua rejeição da
escolástica, bem como por sua concepção de um pensamento critico e do progresso da
ciência e da técnica. Sua principal obra é o Novum organum (1920).

Marcondes (2005) classifica o “empirismo” como uma posição filosófica que toma
a experiência como guia e critério de validade de suas afirmações, sobretudo nos campos

26
da teoria do conhecimento e da filosofia da ciência. Assim, todo conhecimento resulta de
uma base empírica, percepções ou impressões sensíveis, desenvolvendo-se a partir desses
dados. Um dos melhores exemplos desse interesse pela técnica e pela ciência experimental
é Leonardo da Vinci (1452-1519). O grande pintor italiano foi também um inventor de
objetos mecânicos, desenhou modelos de máquinas e objetos voadores, alem de
demonstrar um interesse profundo por anatomia e biologia.

Assim como Descartes, a filosofia de Bacon caracteriza-se pelo rompimento


bastante explícito em relação à tradição anterior, da Escolástica. E assemelham-se na
preocupação fundamental com o conhecimento correto. Marcondes (2005) classifica a
contribuição de Bacon como um novo modelo para a nova ciência. O homem deve despir-
se de seus preconceitos, tornando-se “uma criança diante da natureza”, somente assim
alcançará o verdadeiro saber.

O novo modelo para a nova ciência de Bacon é embasado em observações que


permitem o conhecimento do funcionamento da natureza e estabelecem relações entre eles,
permitindo formular leis científicas. Para Marcondes (2005), o modelo que Bacon defende
em Novum organum é um modelo de ciência aplicada que interage com a técnica e nos
possibilita o controle da natureza para o benefício do homem. É um modo em que a ciência
pode progredir, e o conhecimento crescer de forma controlada e segura. “Saber é poder”,
diz Bacon, pois ao conhecer as leis que explicam o funcionamento da natureza, podemos
fazer previsões e tentar controlar os fenômenos de modo que nos seja proveitoso. Bacon é
um pensador que acredita no progresso e que o conhecimento se desenvolve na medida em
que adotamos o método correto e a experiência como guia. Marcondes (2005) reitera que
sua importância e influência derivam dessa defesa de modernidade, de um modelo de
ciência ativa, prática e permitindo assim o progresso de nosso conhecimento e
aperfeiçoamento da condição humana.

Com esse pensamento renovador, Francis Bacon, um dos maiores pensadores


àquele momento, compreendia na ciência, o domínio de controlar a natureza, extraindo
dela tudo que possa oferecer. Dessa forma o conhecimento é apenas um meio vigoroso de
conquistar o poder sobre a natureza. Enquanto o pensamento de Descartes é fundamentado
no exercício de domínio e controle da natureza, Bacon busca uma reconciliação do homem
com a natureza, procurando restabelecer o paraíso perdido, embora sejam visíveis os traços
de elementos platônicos em seu pensamento físico. Onde ele descreve a natureza como

27
algo exterior a sociedade humana, retratando uma separação entre natureza e sociedade,
sendo a relação entre ambos, mecânica, ou seja, o homem dominaria a natureza através das
artes mecânicas. Ele já realizava de certa forma uma conexão entre indústria e ciência, ou
seja, as artes mecânicas a serviço da produção, visando aumento da produtividade no
processo de trabalho.

“No início da modernidade, a crítica consistia na necessidade de examinar o próprio


processo de conhecimento para evitar os erros e ilusões das antigas filosofias e teorias
pseudocientíficas, combatendo os preconceitos, as superstições, o falso saber. Filósofos
como Descartes e Bacon preocupam-se, como mostramos, com as ilusões da consciência e
com a importância de se encontrar um método que as evitasse. Em Bacon temos o método
experimental, a observação da natureza. Em Descartes, o racionalismo subjetivista que
encontra os critérios de certeza na própria subjetividade”. (MARCONDES, 2005, p.227)

2.1.5 A revolução industrial

Em meados do século XVIII, a revolução industrial se iniciou na Inglaterra e tomou


conta da necessidade do uso dos recursos cada vez em maior escala. Surge a idéia de
natureza objetiva e exterior ao homem, a ciência centralizada. Assim a técnica retrata a
natureza apenas como um objeto a ser possuído e dominado. A revolução se alastrou por
toda a Europa e o progresso era sinônimo de sonho e vida nova. Pode-se dizer que, se antes
havia algum receio em afirmar categoricamente que o homem estava em processo de
separação do bem natural, a partir da revolução industrial isso começa a ficar bem claro.

A transformação ocorrida é percebida no aumento da produção e da produtividade,


que passa a ser o fator mais importante para que o método artesanal seja substituído por
máquinas mais rápidas que produzem mais e aumentam as margens de lucro. Surgem
inovações nos processos de produção têxtil, tais como fiação e tecelagem, além da
metalurgia. Há também uma revolução na questão energética, com o desenvolvimento de
máquinas-ferramentas e a substituição da madeira e outros biocombustíveis pelo carvão.

Destaca-se, ainda, a grande mobilidade urbana. Havia mais pessoas vivendo na


cidade do que no campo. No entanto a condição de vida dos trabalhadores como moradia e
trabalho era polêmica. Por exemplo, a presença de trabalho infantil, altos índices de
depressão e suicídios.

28
Apesar do desenvolvimento tecnológico, cabe a crítica ao tipo de produção
desenvolvida, à da produção em massa em benefício do enriquecimento individual, um
desenvolvimento tecnológico sem reflexão.

Nesse momento vivido no mundo surge a figura de Karl Marx, que direciona seu
pensamento na análise do trabalho, questão praticamente ausente da análise dos filósofos
desde a antiguidade. Para Marcondes (2005), o trabalho é uma relação invariante entre a
espécie humana e seu ambiente natural, um sistema de ação instrumental, surge na
evolução da espécie, mas condiciona nosso conhecimento da natureza ao interesse no
possível controle técnico dos processos naturais.

Desse modo, a sociedade moderna inserida nesse contexto da Revolução Industrial,


passou a ser caracterizada sob uma ótica de racionalidade técnica e instrumental. Para
Marcondes (2005), um dos aspectos centrais dessa dominação da racionalidade técnica é a
massificação do conhecimento, da arte e da cultura que produzem, diluindo assim sua força
expressiva, seu significado próprio, transformando tudo em objeto de consumo.

Nesse momento ainda não se falava de sustentabilidade, no entanto é importante


notar que tais pensamentos de Marx, nos fazem perceber a importância do consumo
consciente e de uma economia equilibrada, da justiça social e da manutenção da qualidade
do meio ambiente, sendo primordial na busca do elo entre natureza e sociedade. Esse tema
que fora discutido posteriormente, nos anos de 1970, através do Movimento Ambiental,
que surgem para discutir as então novas problemáticas das mudanças climáticas, riscos
ambientais e sociais resultantes do racionalismo técnico vivido no último século.

2.1.6 O período contemporâneo

Agora este período, que contempla do final do séc. XIX e o início do séc. XXI, logo
após a Revolução Industrial, foi um momento novo da evolução humana repleto de novas
descobertas científicas, igualmente revolucionárias, que provocaram, e ainda provocam
transformações profundas nas relações do campo científico, tecnológico e social. Para
Marcondes (2005), merece destaque a revolução da informática na questão da inteligência
artificial, a revolução biológica, a engenharia genética, a possibilidade de criar novas
espécies ou manipular as características de uma espécie. Além disso, é válido ressaltar a
invenção da fissão nuclear e, a partir então desse conhecimento, desenvolver-se a técnica
da manipulação nuclear, seja para fins bélicos, energéticos, da saúde, ou suas demais

29
utilizações. Essa manipulação nuclear que posteriormente será mais abordada no que diz
respeito aos assuntos da responsabilidade do uso dessa técnica, bem como seus riscos,
efeitos e acidentes ocorridos. O contexto da sociedade econômica e tecnologicamente
avançada do final do século XX exige novas análises e novas formas de pensar, e também
será trabalhada a seguir.

Diante de todos esses adventos tecnológicos, sob a doutrina da racionalidade da


técnica, vive-se uma sociedade capitalista que justifica e sustenta o modo como
produzimos, vivemos e nos relacionamos com as relações da natureza. Nessa nova fase do
processo de acumulação capitalista, a natureza descrita nesse capítulo, tão abordada desde
os pré-socráticos, adquire um conceito prático e utilitário, recurso natural, fonte de
matéria-prima para a industrialização e manufatura.

Pode-se afirmar que o movimento ambiental que surge no final da década de 1960 e
inícios de 1970 é o ponto de partida para um novo pensamento acerca dos problemas
sócio-ambientais decorrentes de séculos de desenvolvimento sem planejamento. Nesse
momento nasce o sentimento de reflexão do uso da técnica a serviço do homem no uso dos
recursos naturais e suas conseqüências globais. O momento em que o homem se vê em
conflito com sua evolução tecnológica, principalmente o conflito ético.

Consideração ética esta que esta inserida nos problemas mundiais como o
crescimento e urbanização desordenada das grandes metrópoles, desigualdades sociais,
consumo excessivo de recursos não-renováveis, redução da biodiversidade, alterações
climáticas e em todo o risco tecnológico, social e ambiental envolvido na manipulação de
energia nuclear.

30
CAPÍTULO 3 – A INDUSTRIALIZAÇÃO, A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA E A TOMADA DE CONSCIÊNCIA DOS RISCOS
TECNOLÓGICOS E AMBIENTAIS

Novos rumos foram tomados a partir da revolução industrial no fim do século XIX.
A própria retirada do homem do campo teve inúmeras implicações. A divisão em
diferentes esferas de homem, terra e dinheiro (capital) provavelmente foi decisiva para
impulsionar a submissão da natureza ao novo homem-máquina. Pode-se dizer que a
industrialização do final do século XIX deu à humanidade um ponta-pé inicial a um
período de pós-industrialização, ou de modernização5, visto que este certamente estabelece
um divisor de águas muito importante na história da humanidade. Ulrich Beck, em sua
obra Sociedade de risco (2010) caracteriza o termo “pós” como uma senha que aponta para
um além que não é capaz de se nomear. Esse além que se desencadeou durante todo o
século XX e ainda está presente nos dias atuais, mérito dos avanços tecnológicos e do agir
humano no planeta.

As explosões das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, no final da segunda


guerra mundial abriram os olhos da humanidade para uma reflexão profunda do poderio
tecnológico que se atingira. Segundo Jonas (2006), o abuso do domínio do homem sobre a
natureza finalmente evoluiu a tal ponto que surge uma tecnologia com grande potencial
destruidor e devastador, capaz de impedir a sobrevivência planetária.

A lógica capitalista, instaurada como modelo econômico, sendo conflitante com a


questão ambiental, fez emergir uma contradição entre preservar os recursos naturais para a
sobrevivência da humanidade ou sobreviver a todo e qualquer custo a fim de preservar o
capital. Baseada na apropriação exacerbada dos recursos naturais, a lógica capitalista tem
utilizado práticas e comportamentos que expõem e submetem o meio ambiente e as
comunidades a situações de risco.

5
Modernização significa o salto tecnológico de racionalização e a transformação do trabalho e da
organização, englobando para alem disso muito mais: a mudança dos caracteres sociais e das biografias
padrão, dos estilos e formas de vida, das estruturas de poder e controle, das formas políticas de opressão e
participação, das concepções de realidade e das normas cognitivas.

31
Se por um lado as tecnologias produzidas pelos conhecimentos científicos
trouxeram resultados benéficos para melhoria das condições de vida, o caso da bomba
atômica e a manipulação genética evidenciam que os prejuízos também se tornam
irreversíveis. Trata-se de uma linha tênue sob a forma como o conhecimento científico é
conduzido que faz com que as escolhas possam ter resultados catastróficos e irreversíveis.

A reflexão sobre o desenvolvimento tecnológico contínuo e ilimitado serve de


pauta e é a chave para o pensamento desse capítulo.

Os riscos que se assumem ao trilhar o caminho do desenvolvimento tecnológico


emergem um desafio de saber fazer escolhas a fim de saber decidir e discernir o momento
e a maneira de experienciar o mundo, uma necessidade de um pensar racional para com as
gerações futuras. O processo de modernização torna-se reflexivo, convertendo-se a si
mesmo em tema e problema, pois se sobrepõem questões do “manejo” político e científico
– administração, descoberta, integração, prevenção, acobertamento – dos riscos de
tecnologias efetiva ou potencialmente empregáveis, tendo em vista horizontes de
relevância a serem especificadamente definidos (BECK, 2010).

A materialização dos riscos advindos com a modernização ocorreu tardiamente.


Apenas nos anos 1960 teve início o movimento ambientalista com a publicação da obra de
Rachel Carson, “Scilent Spring”, em 1962. O livro chamou a atenção para o fato de que
qualquer indústria química de inseticidas e outros derivados sintéticos, sobretudo o DDT
(diclorodifeniltricloroetano) podia lançar no meio ambiente o que bem entendessem, sem
testes cientificamente projetados.

Logo em seguida, foram produzidos outros trabalhos e pesquisas chamando a


atenção da sociedade como um todo para a necessidade de se estabelecer novos limites
para o desenvolvimento, até então, visto apenas como sinônimo de crescimento e acúmulo
de riqueza.

Em 1972 houve o primeiro evento de cunho internacional em prol de encontrar


novos caminhos para o desenvolvimento. Foi a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Humano e Ambiente, realizada em Estocolmo. Pela primeira vez,
diversos líderes de várias partes do mundo se reuniram para discutir a questão ambiental,
embora os países do terceiro mundo estivessem tomando rumos diferentes por acreditarem
no crescimento a qualquer custo. Um dos importantes feitos dessa Conferência de

32
Estocolmo foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento – PNUMAD. Posteriormente, ocorreram outras conferências como a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no
Rio de Janeiro, em junho de 1992, também conhecida pelo nome Rio 92, que foi
responsável pela formulação de importantes documentos, a saber: a Declaração do Rio de
Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a Convenção sobre
Diversidade Biológica, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do
Clima, a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, a Declaração de
princípios sobre florestas e a Agenda 21. Desde então, já ocorreram mais duas sequências
da Rio 92: a Rio + 10, realizada em Joanesburgo, em 2002 e a Rio + 20, novamente no Rio
de Janeiro, em 2012.

Em1973 houve a publicação do Relatório Meadows (Limites do Crescimento) pelo


chamado Clube de Roma, uma associação formada por representantes de grandes marcas
como IBM, Xerox e Olivetti. Neste documento, por meio de modelos matemáticos,
discutia-se a respeito do crescimento populacional e a pressão que esse exercia sobre os
recursos naturais e energéticos e o aumento da poluição no planeta. De caráter extremista,
esse relatório encontrou muita resistência em sua aceitação, mas muitos estudiosos
afirmam que é só uma questão de tempo para chegar ao limite da escassez. Curioso, que no
ano seguinte, houve a crise do petróleo (1973), o que muito contribuiu para que a
sociedade enxergasse o problema da possibilidade de esgotamento dos recursos
energéticos.

Ainda em 1973 foi criado o conceito de “ecodesenvolvimento” por Maurice Strong


e largamente difundido por Ignacy Sachs. Este último formulou as cinco dimensões de
sustentabilidade para o ecodesenvolvimento – sustentabilidade espacial (geográfica),
sustentabilidade ecológica, sustentabilidade cultural, sustentabilidade econômica e
sustentabilidade social. Posteriormente, esse conceito foi substituído pelo
“desenvolvimento sustentável” (SACHS, 2002).

Um dos grandes marcos do movimento ambientalista foi a disseminação do


conceito de desenvolvimento sustentável, através do Relatório Brundtland ou Relatório
Nosso Futuro Comum da Comissão das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano – CNUMAD, em 1987. De acordo com esse documento, o
desenvolvimento deveria se dar de forma a garantir que as gerações futuras também

33
pudessem usufruir dos recursos naturais. Em outras palavras, seguindo a proposta do
presente trabalho, o homem teria chegado em um ponto de inflexão. Tornar-se-ia
necessário adotar uma postura mais prudente com o uso da tecnologia para usufruir os
benefícios dos recursos naturais.

3.1 Uma nova visão de modernidade para a questão ambiental – o uso da


responsabilidade

Conforme mencionado anteriormente, o movimento ambiental, deflagrado no


século passado, trouxe importantes conquistas. Foram surgindo políticas públicas, órgãos
específicos, ONGs, leis e decretos etc. O movimento ambientalista consegue produzir um
conjunto de princípios em relação ao meio ambiente através de protocolos e declarações
originados dos diversos fóruns e conferências internacionais sobre o tema. para conduzir a
um futuro ambiental mais promissor. Entre tais feitos, cita-se o Princípio da
Responsabilidade. Ressalta-se que, este não é o único princípio nesse sentido. Há também
o importante Princípio da Precaução, proposto na Rio 92, que permite afastar o perigo de
dano ambiental em situações de incerteza quanto aos efeitos provocados por uma
atividade, através de uma atuação preventiva e não mais reparadora, sendo ainda um
valioso suporte jurídico aos instrumentos de gestão ambiental (PEDERSOLI, 2007). No
entanto, o presente trabalho irá priorizar o Princípio da Responsabilidade como forma de
estabelecer um vínculo entre o homem e os riscos por ele gerados.

3.1.1 A necessidade de criação de uma nova ética

A compreensão do Princípio da Responsabilidade se inicia com o prévio


conhecimento de seu idealizador – o filósofo alemão Hans Jonas (1903 – 1993). Hans
Jonas presenciou anos conturbados da humanidade, observou e refletiu sobre como o
desenvolvimento tecnológico contribuiu para um progresso crítico e catastrófico sem
precedentes. Seu espanto sobre o estado apocalíptico das coisas e o abuso proveniente da
técnica sobre a natureza fez com que tentasse resolver essa questão através da proposta de
um princípio ético de responsabilidade. Uma nova ética diferente das que a antecedem,
distante das teorias clássicas, incluindo os problemas da crise da modernidade que
alteraram a vida do ser humano no mundo (JONAS, 2005).

Propôs então uma ética voltada para uma responsabilização das gerações presente
para com as gerações futuras, visando às intervenções humanas sobre a natureza e a

34
sobrevivência do planeta. Ou seja, ele considerava que nossos descendentes não poderiam
ser ignorados, tampouco a qualidade do meio ambiente.

As bombas atômicas que foram lançadas em Nagasaki e Hiroshima, no Japão, ao


final da segunda guerra mundial foram, sem dúvida alguma, um choque para uma
sociedade que nunca anteriormente havia se deparado com poderios de tamanha magnitude
e a possibilidade de um apocalipse gradual proveniente dos riscos assumidos no progresso
técnico e seu uso inadequado. Nesse contexto então, Jonas insere a responsabilidade no
centro de uma nova ética, extensível ao horizonte espaço-temporal proporcional aos efeitos
das ações tecnológicas, capaz de impor limites à sua evolução acelerada e descontrolada.

Hans Jonas considerava que o poder alcançado pelo progresso técnico deu aos
homens um poder de ação que ultrapassa o que fora suposto, sendo assim não há mais
argumentos que possam neutralizar a relação ciência-técnica.

“(...) A diferença radical entre o papel que o conhecimento teria no sentido antigo e que tem
no sentido moderno. Dei-me conta de que o lugar da dignidade da contemplação do ser, tal
como desenvolveu Aristóteles, Platão e os Estóicos, havia surgido algo que está orientado a
um uso prático, isto é, o domínio da natureza: o conhecimento do ser já não segue a
compreensão da natureza e a contemplação da ordem intemporal das coisas, se não, pelo
contrário, trata de utilizar a natureza para algo que ela mesma jamais havia pensado”.
(JONAS, 2005, p.338).

Diante das diversas mudanças ambientais presenciadas e do início de uma


civilização tecnologicamente potencializada é necessário reavaliar as premissas das éticas
tradicionais que outrora, consideravam os efeitos positivos e negativos do agir humano
considerando apenas no espaço temporal de horizonte próximo. “Nenhuma ética anterior
tinha de levar em consideração a condição global da vida humana, o futuro distante e até
mesmo a existência da espécie” (JONAS, 1995, p. 40).

Para Vásquez (1980), ética é uma investigação e explicação de um determinado


tipo de experiência ou comportamento humano. Pode se manifestar a partir do agir
responsável e consciente e diz respeito à realidade humana que é construída historicamente
a partir das relações coletivas dos seres humanos em diversas esferas sociais. São
sociedades construídas com valores históricos e culturais que apresentam seus próprios
códigos de ética, como a ética médica, empresarial, ambiental, educacional, política ou do
trabalho. A ética se faz necessária, principalmente, em momentos de crise e diariamente é

35
abordada nos meios de comunicação e na política, evidenciando sua importância para
analisar a relações entre ciência, tecnologia e sociedade.

Segundo Jonas (2006), a modernidade contribuiu fortemente para que a técnica


exerça pleno domínio do homem pelo próprio homem e também seu pelo meio ambiente.
Na ética antropocêntrica tradicional, a natureza não era objeto de responsabilidade humana
e contemplava apenas os problemas de natureza próxima. Não tinha preocupação com a
valorização e preservação das plantas, animais, minerais e a água, nada disso pertencia à
esfera da responsabilidade humana e ética. Infere-se que o pensamento de Jonas nasce da
crítica da filosofia moral sobre a ação humana e sua insuficiência em imperativos éticos
diante do agir coletivo visando o futuro. A técnica necessita ser vista como um perigo que
se seja conduzida com fundamentos de uma ética com agir responsável (BATTESTIN,
2009).

Nesse sentido, as premissas clássicas de ética não fornecem bases ao homem


moderno para lidar com as novas consequências de suas ações, que em muitos casos, se
tornaram irreversíveis. Os riscos que se anteriormente eram consideradas exteriores à
vontade, produtos do acaso, ou catástrofes naturais, passam a ser assumidos como
consequências de intervenções humanas, fruto dos avanços tecnológicos conquistados ao
longo dos séculos XX e XXI.

A crise ambiental vivida atualmente e amplamente discutida corrobora com a


crítica às teorias clássicas de ética ambiental, que já se mostraram insuficientes para
resolver os dilemas propostos. Um dos mestres de Hans Jonas durante seus estudos sobre
filosofia, Martin Heidegger (1889-1976), ensinava que o mundo humano tinha se tornado
um universo técnico, no qual todos estão presos (HEIDEGGER, 1997). Trata-se assim, de
uma civilização que se consume e se consome em nível exclusivo do fazer e na qual
compreender torna-se obsoleto e sem sentido. A grandeza do poder tecnológico modificou,
em plenitude, a distância entre questões próximas e remotas, entre as esferas da prudência
e da sabedoria.

3.1.2 As bases do Princípio da Responsabilidade proposto por Hans Jonas

O Princípio da Responsabilidade é um princípio ético que vai além dos preceitos


éticos que perderam validade em virtude da mudança do agir humano em disposição da
nova técnica moderna. Por meio dele, Jonas propõe, através de seu imperativo de

36
responsabilidade, preservar a presença dos homens no futuro, obrigando as gerações
presentes se tornarem responsáveis pela mesma.

Considerando então a civilização atual como responsável pela futura, o mesmo


sentido é válido para analisar e entender que o Princípio da Responsabilidade de Jonas
(2006) não encara a destruição física da humanidade como catastrófica, e se chegou a esse
ponto é porque houve uma crise com o meio. Assim, ele trabalha a ideia de que o ser
humano ainda vive resquícios de uma civilização antropocêntrica, e que sua ética com
pressupostos, premissas e argumentos equivocados, não se aplica mais. Trata-se de uma
ética que protege a existência da civilização frente à incerteza da vida futura e permite
entender que somos capazes e livres para agir com responsabilidade. “Ser é necessário
existir, e para existir é necessário viver e ter deveres, porém, (...) somente uma ética
fundamentada na amplitude do ser pode ter significado” (JONAS, 2006, p.17).

Hoje, a ética tem a ver com atos que têm um alcance causal incomparável em direção ao
futuro, e que são acompanhados de um saber de previsão que, independentemente do seu
caráter incompleto, vai muito além, do que se conhecia antigamente. É preciso acrescentar
à simples ordem de grandeza das ações a longo termo, freqüentemente a sua
irreversibilidade. Tudo isso coloca a responsabilidade no centro da ética, inclusive os
horizontes de espaço e tempo que correspondem aos das ações (JONAS, 1995, p.17).

A preservação da vida não é reservada apenas aos humanos, mas recai sobre este
especialmente pelo fato de ser o mais desenvolvido da natureza, conferindo uma especial
responsabilidade. Desse modo, o impacto sofrido no meio ambiente e o cuidado com as
coisas extra-humanas, incluem que a natureza deve ter um significado próprio, “a natureza
como uma responsabilidade humana é seguramente o novum sobre o qual uma nova teoria
ética deve ser pensada” (JONAS, 2006, p.39).

Para que se possa vislumbrar um futuro com ética de responsabilidade e ações no


presente, Hans Jonas complementa e entrelaça em seu princípio, bases categóricas da sua
configuração ética, a saber: O Fim e o Valor, o Bem o Dever e o Ser e a Heurística do
Medo, que são descritas, sucintamente, a seguir.

a) O fim e o valor

Para Séve (1990), “O fim é aquilo em vista do qual existe uma coisa para cuja
produção ou conservação se realiza um processo ou se empreende uma ação”. É

37
fundamental para a teoria de Jonas (2005), que se atribua um fim a tecnologia, exemplifica
com um martelo, que fora criado para martelar, seu fim faz parte de seu conceito e como
em qualquer outro artefato e é a causa do seu devir. No entanto, sua finalidade não encerra
o seu juízo de valor, é preciso atribuir um ”valor de uso” as tecnologias empregadas.

É compreensível que as definições próprias de fim e valor sejam de tamanha


preocupação em uma sociedade tecnológica carente de uma ética responsável. É preciso
analisar a finalidade e o valor dos mais diversos inventos tecnológicos acerca do meio
ambiente, pois seu fim consiste na própria existência em sua continuidade no futuro.

b) O bem, o dever e o ser

Para Jonas (2006), o dever com a existência futura depende exclusivamente da


nossa responsabilidade. Em outras palavras, ele quis dizer que somos responsáveis pelo
futuro que ainda não existe, mas que está projetado pela continuidade do direito de ser e
estar presente no mundo. Nesse sentido compreende-se que o bem se torna um dever. “O
homem bom não é aquele que se tornou um homem bom, mas aquele que faz o bem em
virtude do bem” (JONAS, 2006, p.156).

c) A heurística do medo

Segundo Fonseca (2007), o termo “heurística” evoca a noção de descoberta de


poder, sendo traduzido também como a atitude de pôr boas questões sucatadas pelo receio,
pela possibilidade de vulnerabilizar algo ou alguém. A heurística do medo de Hans Jonas
aponta para um risco e um perigo futuro que consiste na capacidade humana de solucionar
os problemas imprevistos, servindo de critério para avaliação dos perigos apresentados
pela técnica. Jonas (2006) refere-se a um futuro no qual o medo que faz parte da
responsabilidade não é aquele que nos aconselha a não agir, mas aquele que nos convida a
agir. Trata-se de um medo que tem a ver com o objeto de responsabilidade, de assumir a
responsabilidade pelo futuro do homem.

A heurística do medo torna possível avaliar sobre a possibilidade de uma catástrofe


mundial. Torna-se uma forma de desacelerar o conhecimento científico e tecnológico, pois
quanto mais próximo do futuro for o temor, mais se faz necessária a heurística do medo
uma obrigação preliminar de uma ética da responsabilidade.

38
Considerando a possibilidade de riscos e danos irreversíveis para as gerações
futuras, Jonas oferece a precaução e cautela na avaliação das situações, um modo
conservador no agir humano para as invenções tecnológicas. É cabível retomar aqui o caso
da fissão nuclear, que certamente não fora desenvolvida com finalidade bélica, mas faz
parte de um trágico momento da história. “Ambos os lados na corrida armamentista são
confrontados com o dilema do constante crescimento do poder militar e cada vez menor o
da segurança nacional” (HARDIN, 1968).

Outro exemplo foi caso da obra de Rachel Carson e o desenvolvimento dos


pesticidas DDT. O inventor recebera um premio Nobel por seu invento e o combate de
pragas, mas sua potência, muito superior as dos demais, fez com que esse pesticida fosse
utilizado por demasia na Europa. A cega confiança na tecnologia do DDT impossibilitou
perceber que este penetrava nos tecidos gordurosos dos animais, e a cadeia alimentar o
traria de volta aos próprios homens, sob o risco de câncer e danos genéticos.

Diante dessa heurística de medo que cabe ao homem agir sob uma ética responsável
e sob a insegurança das consequências tecnológicas. Jonas (2006), afirma que a impotência
do nosso saber com respeito a prognósticos de longo prazo faz com que se deva dar mais
peso à ameaça do que à promessa. Portanto é necessário dar mais ouvidos a profecia da
desgraça do que à profecia da salvação. Diante desse cenário de incertezas e riscos, o
futuro da humanidade tem de ser incluído nas escolhas do presente. O dever para com o
que ainda não existe exige que não se arrisque uma não existência de gerações futuras em
virtude das ações do presente.

39
CAPÍTULO 4 – A INVENÇÃO DO PODER RADIOATIVO: UM GRANDE RISCO
A SER ASSUMIDO

O inusitado poderio tecnológico disposto ao homem é capaz de afetar


irreversivelmente a qualidade do meio ambiente e a presença de vida futura no planeta.
Isso levou à necessidade de revisão do conceito de responsabilidade em escala global, a
fim de propiciar uma ética que contempla horizontes espaço temporais mais distantes do
aqui e agora. Jonas (2005) ainda assume, na teoria, que mesmo as ações bem intencionadas
são cabíveis de fins catastróficos. Como exemplo disso, cita-se a questão da radioatividade,
uma força tão tamanha que é capaz de gerar eletricidade, mas também oferece riscos muito
grandes.

As explosões atômicas da segunda guerra mundial e o acidente radioativo de


Chernobyl em 1986 puseram fim ao distanciamento do risco e desmistificaram as
fronteiras reais e simbólicas, atrás das quais aqueles que não eram afetados podiam se
recolher. A violência do perigo suprime todas as zonas de proteção e sua dinâmica suprime
tais fronteiras. Sobrevivência e conhecimento do perigo se contradizem, torna a disputa em
torno de medições, valores aceitáveis e efeitos de longo prazo, algo candente para a própria
existência. É preciso questionar o que de fato poderia ter sido feito de diferente se
houvesse ocorrido uma contaminação do ar, da água, da fauna e dos seres humanos que
alcançasse também, segundo parâmetros oficiais, uma proporção acentuadamente perigosa
(BECK, 2010, p.8). Sendo assim é muitas vezes impossível prever os perigos potenciais
provenientes do progresso tecnológico. O conhecimento científico pode não ser suficiente
para que os desenvolvedores assumam a responsabilidade, que deveriam, para com seus
riscos.

É sob essa ótica que a ética proposta por Hans Jonas contribui de forma
inestimável, enfrenta a tecnologia e sua relação com as ciências sociais e naturais como
problema filosófico. Jonas inverte a perspectiva marginal da intervenção humana sobre a
natureza do campo técnico para o campo ético. Uma mudança de “coordenadas ao qual a
vida e o pensamento estão sujeitos na modernidade industrial” e “a crença na ciência e no

40
progresso – começa a cambalear, e surge um novo crepúsculo de oportunidades e riscos”
(BECK, 2010, p.18).

4.1 O surgimento de uma nova sociedade de riscos

De acordo com o sociólogo alemão Ulrich Beck (2010), os riscos não são uma
invenção moderna. Ele compara com os riscos assumidos por Cristovão Colombo (1451-
1506) em sua busca por novas terras e o desbravamento do novo continente. No entanto,
assume que estes, por sua vez, eram riscos pessoais e não situações de ameaça global,
como o desenvolvimento da fissão nuclear. Acerca daquela época, a etimologia de “risco”
era atribuída à ousadia e aventura, a curiosidade do novo, e não era cabível que pudesse
atingir o patamar da destruição da terra ou o comprometimento das gerações futuras.
Assim, o que hoje entra na categoria dos riscos não era necessariamente considerado como
tal no passado quando os homens tinham de afrontar perigos de frio, secas ou inundações
(VEYRET, 2007, p.13).

É esse o sentido de risco que Beck (2010) assume para a nova sociedade de risco.
Diante do progresso tecnológico atingido até a invenção da fissão nuclear e posteriormente
o desenvolvimento de bombas nucleares e geração de energia nuclear, a sociedade vive
uma relação de fragilidade com a tecnologia que oferta riscos catastróficos. Para Beck
(2010), os riscos e as ameaças são medidas de modo invariavelmente argumentativo. O que
prejudica a saúde e destrói a natureza é freqüentemente indiscernível à sensibilidade e aos
olhos nus. Além disso, muitos dos novos riscos (contaminações nucleares ou químicas,
substâncias tóxicas nos alimentos, enfermidades civilizacionais) escapam inteiramente à
capacidade perceptiva humana imediata e possivelmente não produzirão efeitos durante a
vida dos afetados de primeira ordem, mas nos seus descendentes.

Do risco exprime-se o componente futuro, que se baseia na extensão futura dos


danos atualmente previsíveis e em parte numa perda geral de confiança. Dessa forma,
riscos têm, fundamentalmente, uma forte relação com antecipação, com o não ocorrido,
mas iminente. Ou seja, o que já é real hoje (BECK, 2010, p.39). Na Sociedade do Risco, o
passado deixa de ter força determinante em relação ao presente. Em seu lugar, entra o
futuro, algo todavia inexistente, construído e fictício como “causa” da vivência e da
atuação presente.

41
4.1.1 Globalização dos riscos

Sob essas circunstâncias de riscos que o planeta está imerso e a crítica de que não
existem fronteiras para os riscos tecnológicos provenientes do domínio nuclear. Ao mesmo
tempo em que o poder de destruição de uma simples falha em uma usina de energia nuclear
ou o seu uso para guerras, é de ordem ilimitada e seus efeitos perdurarão por muitos anos
após. “É verdade, ao menos em parte que, os usos e os efeitos da ciência moderna fogem
ao controle e que certos riscos são tão ameaçadores quanto globalizados” (VEYRET, 2007,
p.25). O risco está presente em toda a parte e faz prevalecer um sentimento de insegurança
alimentado pelo próprio progresso da segurança e o desenvolvimento de ciências e de
técnicas cada vez mais sofisticadas.

Na proposta sociedade de risco, as situações de ameaça se agravam e se tornam


ainda potencializadas de acordo com seu feitio peculiar, a “tendência imanente à
globalização”. A produção industrial é acompanhada por um universalismo das ameaças,
independente dos lugares onde são produzidas. As cadeias alimentares interligam
praticamente todos na face da Terra. Incluído nessa globalização, “universalização”, segue
um padrão de distribuição dos riscos no qual se encontra um efeito bumerangue, que cedo
ou tarde, alcançam aqueles que os produziram ou que lucraram com diante deles. Os
anteriormente “efeitos colaterais latentes” rebatem também sobre os centros de sua
produção. Os autores da modernização acabam, inevitavelmente, “Entrando na ciranda dos
perigos” que os próprios desencadeiam e com os quais lucram (BECK, 2010, p.44).

Nessa civilização avançada, e moderna, acaba por surgir uma nova destinação
global de alcance mundial fundada na ameaça. Destinação diante da qual a possibilidade de
escolhas individuais dificilmente se sustenta, em razão de que, no mundo pós-
industrialização, os poluentes e venenos estão entrelaçados com a base natural e a
consumação elementar da vida. Existe uma suscetibilidade ao risco que interdita a escolha
frente à impotência e a “sensação de não haver amanhã” (BECK, 2010).

Em outras palavras, conforme descreve Rosa (2008), “a sociedade de riscos, como


sociedade que deseja aceitar esses riscos e os conflitos deles decorrentes, não inclui a
grande maioria da população que não desejou e nem escolheu aceitá-los” (ROSA, 2008, p.
112).

42
Frente à degradação industrialmente forçada das bases ecológicas da vida, a
consideração de seu conjunto retoma os conceitos de que a natureza não pode mais ser
concebida sem uma sociedade, e a sociedade não mais sem natureza. A natureza não será
mais subjugada como no final dos séculos XIX e XX. Implica agora em dizer que as
destruições da natureza, integrada à circulação universal da produção industrial, deixa de
ser mera destruição da natureza e passam a ser elemento constitutivo da dinâmica social,
econômica e social (BECK, 2010).

4.1.2 Estimabilidade dos efeitos colaterais da sociedade de riscos

Ulrich Beck entende que devido sua característica dominante, ao longo do decorrer
cientifico, a “incalculabilidade” dos efeitos colaterais da técnica científica se intensifica e o
conceito chave de “calculabilidade” é posto em questão atualmente. “As possibilidades de
estimabilidade dos efeitos colaterais saltam à vista somente quando se leva em conta que,
com a passagem para a modernidade reflexiva, o próprio conceito de “calculável-
incalculável” se altera: Calculabildade já não quer dizer apenas controlabilidade
racionalmente funcional e incontrolabilidade tampouco significa a impossibilidade de um
controle racionalmente funcional” (BECK, 2010, p.262).

Diante da intolerância dos efeitos colaterais, o avanço ciêncitifico-tecnológico deve


assegurar uma capacidade de aprendizado, pressupondo-se que os avanços que geram
irreversibilidade sejam evitados. Com a potencialização do risco, aumenta-se a pressão por
uma prática infalível, livre de erros e equívocos ou a aceitação do fracasso humano
coincidirá com o desencadeamento de catástrofes. “Precisamos, portanto, investigar se os
avanços práticos compreendem um “gigantismo do risco” que priva o homem de sua
humanidade, condenando-o daqui em diante e por toda a eternidade à infalibilidade”
(BECK, 2010, p.269).

Para Beck (2010), a energia nuclear é, nesse sentido, um jogo altamente perigoso
com a presumida “infalibilidade” do avanço tecnológico. Ela compromete pessoas tanto
pelo seu uso quanto por meio de vazões radioativas. Os resíduos nucleares são prova disso,
já que muito pouco ou quase nada se pode fazer para eliminá-los, a não ser o seu
isolamento e armazenamento controlado, a fim de que a radiação possa decair, o que pode
levar, inclusive, a centenas de anos. Outro risco é associado ao vazamento da radiação
decorrente de acidentes, por exemplo, que pode ocasionar efeitos biogenéticos nas

43
gerações futuras. Diante dessa questão tão alarmante, o presente trabalho aponta alguns
dos acidentes ocorridos nos últimos anos e suas conseqüências catastróficas.

“Quando o trem já partiu, é difícil tornar a pará-lo. Precisamos então


escolher variantes de desenvolvimento que não engessem o futuro e que
transformem o próprio processo de modernização num processo de
aprendizado, com o qual siga sempre sendo possível, por meio da
revogabilidade das decisões, reverter efeitos colaterais percebidos
ulteriormente” (BECK, 2010, p.270).

Para Veyret (2007), atualmente é praticamente impossível imaginar a vida sem os


recursos que a tecnologia aporta à sociedade. O crescimento populacional e das atividades
econômicas exigem que o progresso técnico acompanhe seu compasso acelerado. Porém, o
crescimento contínuo necessita atentar-se para as limitações impostas e aprender com os
erros e acidentes a fim de “vacinar” a sociedade de seus efeitos colaterais. Sem um
comportamento ético de responsabilidade com as gerações futuras, estamos fadados a uma
sociedade de risco de alta periculosidade com a sobrevivência humana.

4.2 Os acidentes radioativos que mudaram a história

Tem se identificado, em décadas recentes, alguns erros que resultaram em acidentes


de grande proporção, que provocaram fatalidades nas comunidades sociais, empresariais e
políticas. A velocidade de comunicação e a globalização têm acelerado em muito os efeitos
nefastos, e não há mais imunidade para qualquer atividade, independente de seu tipo ou
porte, que esteja inserida nesse cenário de caos e conseqüências devastadoras.

Quando se fala em acidente, a atividade mais comum que se recorda é a da


indústria, mas é claro que não somente a indústria apresenta acidentes. Existem também
outros acidentes de efeitos ambientais em outros ramos de atividades, como na saúde
hospitalar e transportes. Para Valle (2003), a sociedade moderna já aceita que os diversos
ramos das atividades geram empregos, impostos e melhorias em geral da economia e, sob
certo aspecto, são benéficos para o cenário atual de globalização. No entanto, acidentes
resultantes das atividades praticadas não possuem a mesma aceitação, visto que a técnica
moderna permite que haja, com elevado grau de competência, prevenção de acidentes,
assim como os efeitos colaterais dos quais surgirem, são capazes e devem ser enfrentados.

44
No tocante aos acidentes decorrentes da radiação nuclear, pode-se caracterizá-los
como sendo aqueles que compreendem todas as ocorrências acidentais que envolvem
radiações ionizantes capazes de afetar os organismos vivos e destruir a vida. Incluem os
acidentes nucleares que envolvem grande liberação de energia e de radioatividade, e os
acidentes radiológicos, decorrentes do uso impróprio ou inadequado de fontes radioativas
utilizadas na medicina e na pesquisa. Os efeitos provocados por esses tipos de acidentes,
por persistirem na maioria dos casos por longos períodos de tempo, requerem especial
atenção na destinação e guarda dos rejeitos radioativos que deles resultam. Suas interfaces
com a saúde e a vida requerem ações extremamente eficazes e rápidas, assegurando
proteção física contra a radioatividade de todos os envolvidos na ocorrência, inclusive nas
equipes de socorro.

O anteriormente desconhecido efeito negativo sobre a saúde humana provocado


pela radiação ionizante sacrificou vários dos pesquisadores que se dedicavam ao assunto.
A tardia percepção dos efeitos cancerígenos e das mutações genéticas puderam incentivar
os estudos e cuidados subseqüentes das aplicações de radiação ionizante, no sentido de
técnicas de proteção como blindagens com chumbo e encapsulamento de materiais
radioativos.

Os últimos 200 anos de progresso tecnológico nos permite inferir que “o homem é
capaz de imitar as ações da natureza, conseguindo reconstituir, de alguma forma, as
condições que prevaleciam antes de sua intervenção” (VALLE, 2003, p.61). Ele copia os
ciclos naturais, doma os fenômenos físicos e reações químicas em seu favorecimento para
geração de energia e desenvolvimento de novos materiais. Infelizmente, no caso das
substancias radioativas o homem não foi capaz de imitar a natureza. Ao liberar a energia
do átomo, não considerou os efeitos de longa duração da radioatividade e a impossibilidade
de reverter, em curto prazo, tais efeitos.

Para a natureza e seu ciclo, não diante da intervenção humana, a questão temporal
não é uma barreira nem muito menos um empecilho. Ela aguardou milhões e até bilhões de
anos para transformar átomos instáveis em outros mais estáveis. “Da mesma forma que na
lenda do “aprendiz de feiticeiro”, o homem aprendeu a “mágica” de liberar a energia do
átomo, mas não sabe agora como revertê-la” (VALLE, 2003, p.62).

45
O grande problema envolvido se dá no decaimento natural dos átomos, o de alguns
como, por exemplo, o do rádio e do urânio processa-se em períodos de ordem geológicas.
As substâncias radioativas, naturais ou criadas pelo homem têm seu efeito medido pela
chamada meia-vida, isto é, o período de tempo necessário para que o nível de intensidade
da radiação emitida caia para a metade. Para efeito de comparação, a meia-vida do urânio
238 é de 4,5 bilhões de anos e a do plutônio, elemento transurânico criado pelo homem, é
de 24 mil anos (VALLE, 2003). A meia-vida tem grande importância na busca de soluções
para os acidentes que envolvem essas substâncias, em função da definição dos tipos de
proteção, local de disposição e guarda, reprocessamento, além de cuidados com os rejeitos
radioativos.

4.2.2 Grandes acidentes provocados pela radioatividade e suas repercussões na


sociedade de riscos

Os primeiros acidentes ocorreram em grande parte como conseqüências das


aplicações militares da fissão6 do átomo, resultantes da chamada corrida armamentista,
agravados pelos despreparo nas medidas de proteção das populações civis. Logo após os
lançamentos das bombas atômicas da segunda guerra mundial, durante a década de 1950,
ocorreram vários acidentes que foram estrategicamente minimizados ou ocultados do
conhecimento público. Em 1954 um experimento de bomba de hidrogênio contaminou,
devido à inesperada direção dos ventos no local da explosão, várias ilhas habitadas no
oceano pacífico. Um acidente com um reator de plutônio, na Grã-Bretanha, em 1957,
contaminou uma vasta região agropastoril e teve varias vitimas fatais (VALLE, 2003).

Para o autor, vazamentos não previstos de materiais radioativos, condições-limites


no uso de materiais construídos inadequados, erros de operação, planos de emergência
ainda incipientes, falta de treinamento adequado e de experiência prévia por parte das
equipes envolvidas nesses acidentes são apenas algumas causas identificadas para sua
ocorrência. Para complementar o objetivo desse trabalho, destacam-se os casos mais
emblemáticos de acidentes radioativos ocorridos nos últimos anos: O Césio em Goiânia no

6
A fissão nuclear ocorre quando um núcleo pesado absorve um nêutron e, como resultado, ele se parte em
dois núcleos mais leves chamados de fragmentos ou produtos de fissão, sendo emitidos, simultaneamente,
dois ou mais nêutrons. Há liberação de enorme energia durante esse processo. A combinação entre a energia
liberada e a reprodução de novos nêutrons é o que torna possível a construção de um reator nuclear, no qual
as fissões em cadeia podem ser auto mantidas, ocorrendo, ao mesmo tempo, uma liberação contínua de
energia, que na matriz energética recebe o nome de energia nuclear.
Já a fusão nuclear é quase o inverso da fissão nuclear, em que núcleos leves podem colidir, e se fundir
formando núcleos mais pesados. Há também uma quantidade considerável de energia liberada nesse
processo. As bombas atômica podem ser fabricadas a partir de ambos os mecanismos.

46
Brasil, o acidente da usina de Three Mile Island nos Estados Unidos, da usina de
Chernobyl na Ucrânia e a Usina de Fukushima no Japão.

a) Césio em Goiânia – GO no Brasil

O maior acidente radiológico ocorrido no Brasil ocorreu na cidade de Goiânia,


Goiás em 1987. Trata-se de uma clínica médica desativada e em estado de abandono que
foi visitada por sucateiros, que resolveram retirar alguns equipamentos de uso médico.
Foram retirados por eles equipamentos utilizados em radioterapia, portanto contendo
materiais radioativos, em particular o césio-137, isótopo de meia-vida da ordem de 30
anos. Os equipamentos ali apanhados foram negociados como sucata e desmontados.

Algumas partes apresentavam, na escuridão, uma luminescência azulada bonita,


segundo os sucateiros que as recolheram. Essas peças entraram em contato com inúmeros
parentes e vizinhos dos mesmos. Em pouco tempo, houve quatro mortes provocadas por
doses maciças de radiação e amputações de membros de pessoas contaminadas. Houve
também contaminação das casas e locais por onde transitaram as peças e as pessoas
contaminadas, contaminação do local de guarda provisória, para onde foram removidas as
peças depois de identificada a extensão da tragédia. Ao todo, o acidente resultou na morte
de 60 pessoas e em cerca de 6 mil vítimas diretas e indiretas (GREENPEACE, 2007).

Todo o material que esteve em contato com a sucata radioativa teve de ser
removido, incluindo camadas de solo das áreas afetadas. Construiu-se, para receber esse
material que totaliza mais de 4 mil toneladas, um depósito especial no município de
Abadia de Goiás, administrado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, a
cerca de 25 quilômetros do local da tragédia (VALLE, 2003).

A atuação da CNEN, responsável pela segurança e fiscalização das atividades


nucleares no Brasil, foi muito criticada por se encontrar totalmente despreparada para
realizar a descontaminação do local. Além disso, muitas vítimas ainda lutam com o
descaso no tratamento das
sequelas (GREENPEACE,
2007).

47
Fig. 4.1 – Imagens do acidente de Goiânia com Césio 137

Fonte: GREENPEACE (2007)

b) Three Mile Island – Estados Unidos

Durante o ano de 1979, ocorreu o primeiro grave acidente com uma instalação para
uso pacífico da energia nuclear. Um dos reatores de Three Mile Island, nos Estados
Unidos, fundiu parte de seu núcleo em decorrência de uma combinação de falha técnica
com erro humano, obrigando à evacuação emergencial de milhares de moradores das
regiões vizinhas. Valle (2003) ressalta que embora esse acidente não tenha chegado a
provocar mortes, fixou-se na sociedade a imagem tão temida da catástrofe nuclear
provocada por uma falha técnica que poderia ter fugido completamente ao controle dos
operados da unidade acidentada.

Embora não tenha causado vítimas, o acidente de Three Mile Island despertou o
medo da população pelos riscos advindo daquele novo tipo de geração de energia. Muitos
protestos se espalharam pelos EUA e contribuíram para frear a construção de novas usinas
em todo o mundo, além de reforçar a questão da segurança de tais instalações. A seguir, a
Figura 4.2 mostra a reportagem de capa da revista Time a respeito do derretimento do
reator em Three Mile Island, em decorrência de falha humana.

48
Fig. 4.2 - Edição da revista TIME destacando a controvérsia sobre a usina nuclear de Three
Mile Island, em 9 de abril de 1979

Fonte: http://ciencia.hsw.uol.com.br/corrida-nuclear4.htm

c) Usina de Chernobyl na Ucrânia

Aconteceu em Chernobyl, na Ucrânia, antiga parte da União Soviética, o maior


acidente nuclear já registrado na história. O acidente aconteceu no dia 26 de abril de 1986,
em decorrência de um experimento irresponsável de seus operadores, que, desprezando
todas as regras de segurança, resolveram testar por quanto tempo o reator poderia operar
sem produzir potencia e, para esse fim, desligaram os sistemas de segurança que poderiam
ter impedido a catástrofe. O reator de l000 MW, de projeto já então reconhecidamente
obsoleto, sem vaso de contenção, não respondeu ao teste e fugiu inteiramente ao controle
dos operadores. Em poucos segundos sua temperatura interna atingiu valores que
resultaram em duas explosões, destruindo o próprio gerador e o edifício que o abrigava.
Seguiram-se vários incêndios que consumiram, durante vários dias, centenas de toneladas
de grafite contaminado por urânio e plutônio radioativos. Valle (2003) ressalta que o
acidente foi causado, principalmente, pela inabilidade dos operadores responsáveis em
interpretar corretamente as informações concebidas durante uma fase de operação instável
do sistema. Ao desconsiderar diversos procedimentos de segurança obrigatórios, esses
operadores provocaram a fusão do núcleo do reator.

A catástrofe foi ocultada, a princípio, pelas autoridades do país, e o acidente só veio


a ser detectado a centenas de quilômetros de distância, na Suécia, quando foi registrado um
expressivo e brusco aumento dos níveis de radioatividade na atmosfera. Quando finalmente
as autoridades responsáveis locais reconheceram e divulgaram o ocorrido, milhares de
moradores de vastas áreas da Rússia, Ucrânia e Bielo-Rússia – cerca de 150 mil
quilômetros quadrados – já estavam inexoravelmente contaminados pelo iodo-131,

49
estrôncio-90 e césio-137. Isótopos radioativos emitidos pelo reator em chamas (VALLE,
2003, p.64). Estima-se que nas regiões afetadas diretamente pelo acidente há uma
população da ordem de 7 a 9 milhões de habitantes. Entretanto a radiação emitida se fez
sentir a milhares de quilômetros do local e pôde ser medida até no Japão. Para Valle
(2003), os números do acidente são polêmicos e discrepantes, pois oficialmente registra-se
31 mortes, a maioria bombeiros que combatiam o fogo. Entretanto, os fatos mostram que o
índice de câncer da tireóide nas crianças dessas regiões decuplicou desde então, além das
malformações fetais e danos genéticos. Cálculos baseados na variação da expectativa de
vida nas regiões afetadas permitem estimar em 32 mil o número de mortes atribuíveis ao
acidente, nos dez anos que se seguiram à terrível explosão. Uma área de 30 quilômetros de
raio ao redor do local do acidente foi evacuada, incluindo a cidade de Pripryat, hoje
abandonada. Cerca de 60 povoações tiveram de ser abandonadas, cerca de 400 mil
habitantes foram deslocados e perderam as terras e o sustento.

Suas consequências do acidente nuclear em Chernobyl foram sentidas ao redor do


globo e persistem até hoje. Isso porque há uma contínua contaminação radioativa e os
impactos na saúde das vítimas persistirão por várias décadas. Um estudo encomendado
pelo Greenpeace, realizado em 2006 para coincidir com o 20º Aniversário de Chernobyl,
estima que o número de mortes em longo prazo no mundo provocadas pelo acidente de
Chernobyl pode chegar a 100.00 pessoas (GREENPEACE, 2006).

Fig. 4.3 – Annya Pesenko - vítima do acidente na usina nuclear de Chernobyl

Fonte: GREENPEACE (2006)

50
d) Usina de Fukushima no Japão

Após aproximadamente 25 anos do acidente que envolveu a usina nuclear de


Chernobyl conforme apresentado anteriormente, outro acidente envolvendo uma usina
nuclear acorreu em 11 de março de 2011 na cidade de Fukushima, no Japão. Novamente a
humanidade se depara com outro acidente envolvendo riscos nucleares, trazendo à tona o
alerta do grau de periculosidade envolvido nessa tecnologia. Foi considerado pela mídia
como o pior acidente nuclear desde a explosão do reator em Chernobyl em 1986.

A tragédia em Fukushima se iniciou no dia 11 de março com um forte terremoto de


9 graus na escala Richter. Este terremoto foi o suficiente para provocar um tsunami que
arrasou a costa nordeste do Japão e atingiu a usina nuclear instalada na cidade de
Fukushima. Isso provocou falha nos sistema de arrefecimento de água dos reatores, os
quais aqueceram e fundiram parcialmente 3 reatores ocasionando explosões e múltiplos
incêndios, liberando quantidades significativas de material radioativo (VEJA, 2014).

Além do desastre de material nuclear exposto no ar água e solo, o acidente


envolvendo o terremoto e o tsunami é de ordem catastrófica para o Japão. Morreram mais
de 15 mil pessoas e milhares de pessoas desaparecidas, estradas e ferrovias foram
destruídas e houve muita dificuldade com recursos básicos como alimentação e moradia
(VEJA, 2014).

No que se refere a acidentes nucleares, o mais importante é ressaltar as


consequências graves de longa duração que apresentam ao meio ambiente e as populações
próximas. Chernobyl ainda é hoje uma cidade-fantasma na Ucrânia. A exposição de
material nuclear libera substâncias radioativas no ar e no solo, contaminando plantas, rios,
animais e seres humanos e os níveis de radioatividade podem permanecer altos por décadas
(PIRES, 2011).

Na usina nuclear de Fukushima, hoje trabalham 6 mil pessoas, incumbidas da


limpeza e descontaminação, até aonde a radiação permite. Os prédios dos reatores foram
rapidamente pintados, para fixar a poeira radioativa nas fachadas. Chapas grossas de aço
cobrem o chão para impedir que a radiação se propague para cima segundo uma
reportagem da revista Carta Capital. O mesmo artigo relembra que este trabalho de
descontaminação será árduo e levará décadas, “A radiação nos recipientes danificados
contendo combustível de urânio é tão elevada, que até mesmo os robôs param de funcionar

51
nas suas proximidades” (CARTA CAPITAL, 2014). Cerca de 146 mil pessoas foram
retiradas da região em torno do reator, e ninguém poderá viver lá por décadas.

Além disso, o acidente nuclear aumentou relativamente o risco de câncer nas zonas
mais afetadas, segundo um relatório da Organização Mundial de Saúde – OMS, divulgado
em 2013. O estudo considera que, em um raio de 20 Km ao redor da central acidentada, o
risco de câncer de tireóide entre as mulheres e as crianças chega a 1,25%, acima do índice
comum, de 0,75%. Além disso, a OMS recomenda que é necessário realizar o
acompanhamento ao longo dos anos das populações mais expostas (CARTA CAPITAL,
2013).

Fig. 4.4 – Localização do desastre nuclear de Fukushima

Fonte: http://www.greenpeace.org

Dessa maneira, o acidente em questão tem grande importância nesse trabalho para
ilustrar os riscos provindos da utilização da energia nuclear. Ressalta suscetibilidade de
imprevistos e intempéries devastadoras da natureza, fatos que por mais que possam ser
previstos, com certa precisão, ainda são incapazes de serem contidos, e estamos à mercê de
suas consequências.

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Ainda com efeito sobre esse acidente, fica clara a dificuldade do manejo das
técnicas nucleares com relação aos seus efeitos no longo prazo. As consequências
negativas associadas aos acidentes nucleares são duradouras, em muitos casos longe de
solução ainda em nossa geração. Evidencia-se a necessidade de responsabilidade acerca do
uso dessas técnicas a fim de garantir qualidade de vida e ambiental nos próximos séculos,
especialmente próximo a áreas com atividades radioativas.

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

De certo que a ciência atual, não é um instrumento novo, tampouco a maneira


tecnocrata com a qual nos relacionamos com o meio ambiente e os recursos naturais. Este
foi um processo que se desenvolveu durante anos, inclusive os termos ciência, tecnologia,
natureza, meio ambiente, recurso natural e etc. sofreram diversas mudanças ao longo da
evolução do pensamento humano acerca das filosofias naturais, das ciências racionais, dos
métodos experimentais e assim por diante.

As transições que ocorreram no espaço de tempo entre os séc. IV a. C até


atualmente no séc. XXI nos fazem uma leitura bastante completa no desenvolvimento que
se desencadeou nos ramos da Ciência e Sociedade. Em um primeiro momento, ainda que
perdurado muitos séculos, de uma filosofia pautada principalmente nas observações dos
fenômenos naturais, e a busca de uma filosofia, de uma teoria que pudesse explicar as
relações entre o homem e a natureza.

Durante muitos anos a filosofia científica foi se desenvolvendo, e o período


moderno marca a transição mais importante no que diz respeito ao tema deste trabalho.
Houve uma separação entre homem e natureza, impulsionadas, especialmente, pelos
pensamentos de Descartes e Bacon. A partir daí então, se desenvolveram muitas técnicas
que se valiam do uso da natureza em benefício do homem. Aliado aos novos pensamentos
sobre a expansão territorial das grandes navegações e o crescimento das grandes potências,
especialmente a Inglaterra, culminou posteriormente na Revolução Industrial.

A revolução industrial, por sua vez veio a finalmente dar um ponta-pé inicial na no
pensamento tecnocrata que perdura até os dias de hoje. A invenção das máquinas a vapor e
a produção em larga escala, o êxodo exacerbado para os centros urbanos, a mão de obra
proletária versus a burguesia marcaram essa época. O pensamento de Karl Marx, acerca

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desse momento da história, foi muito válido e serviu como base para o movimento
ambiental que veio aflorar apenas na década de 1960.

Houve dessa maneira, o surgimento de uma sociedade moderna pós revolução


industrial do século XIX. O início de uma sociedade que desvinculou, de forma definitiva,
a relação do homem com a natureza. A lógica capitalista como modelo econômico utiliza-
se de práticas e comportamento que expõem e submetem o meio ambiente e a sociedade a
situações de risco. Portanto, faz emergir a necessidade de preservar os recursos naturais
para a sobrevivência da humanidade, bem como uma o surgimento de novas premissas
pautadas no princípio ético de responsabilidade com as gerações futuras.

Surge durante os anos 1960, o chamado Movimento Ambiental, e durante os anos


que se seguiram, foram produzidos diversos trabalhos, conferências, conceitos, princípios e
relatórios que chamaram a atenção da sociedade para a necessidade de se estabelecer novos
limites para o desenvolvimento. Um desses princípios que chama atenção e foi
amplamente trabalhado é o Princípio de Responsabilidade, proposto por Hans Jonas, que
busca estabelecer um vínculo entre o homem e os riscos por ele gerados.

O século XX sem dúvida é o tema central desse trabalho, e todo o caminho


percorrido pela ciência e a filosofia, bem como seus valores, é apenas um meio de se
entender o que aconteceu nos últimos cem anos de história. Ocorreu desenvolvimento da
tecnologia nuclear, primeiramente exposta como um risco de larga abrangência e
catastrófica durante a segunda guerra mundial, com as explosões das bombas atômicas e
posteriormente o início de sua utilização na geração de energia. É sob esse cenário de risco
que surge a necessidade de uma reflexão mais profunda de um mundo humano que atingiu
um nível de desenvolvimento que carece de responsabilidade do agir humano, em especial
para a manutenção da permanência da nossa espécie. Essa permanência que pode ser
evitada caso o agir humano não seja conduzido por imperativo ético que conceda essa
oportunidade de refletir sobre o patamar tecnológico atingido.

Existe, portanto, uma sociedade de risco que fora desenvolvida durante o século
XX, resultado da evolução desenvolvimento das relações entre a ciência, tecnologia e
sociedade acerca dessa evolução da humanidade pós revolução industrial. O inusitado
poderio tecnológico atingido pelo homem já é capaz de afetar irreversivelmente a
qualidade do meio ambiente e a presença de vida futura no planeta.

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Os acidentes radioativos emblemáticos e abordados nesse trabalho elucidam o
tamanho do risco que se assume ao utilizar-se dessa tecnologia poderosa que desmitifica a
fronteira real e simbólica atrás das quais aqueles que não eram afetados podiam se
recolher. A lição mais importante aprendida acerca dos acidentes nucleares é o
desconhecimento da imensidão dos seus riscos. De fato, seu efeito não é instantâneo nem
visível como os demais riscos usuais, que afetam a integridade física humana.

É impossível prever os perigos potenciais do progresso tecnológico, no entanto é


possível aprender a partir dos erros do passado para que possamos nos blindar, de certa
forma, do seu uso inadequado e seus riscos latentes. A humanidade está pagando, e,
aparentemente, ainda vai pagar um preço muito alto para aprender a lidar com toda a
tecnologia que desenvolveu durante os últimos 200 anos de progresso. O meio ambiente
vem sofrendo, com certo grau de preocupação, um desequilíbrio atenuado percebido nas
mudanças climáticas, em especial para o agravamento do aquecimento global.

O trabalho também permitiu realizar uma reflexão sobre como a sociedade de riscos
vem se comportando perante os erros do passado. Há uma linha tênue entre o aprendizado
e o viver “à sombra do passado”, conforme sugere o autor Clive Ponting. A repetição do
erro com relação aos acidentes nucleares prova que ainda há um grande caminho a se
trilhar em relação à uma postura de responsabilidade perante as atividades humanas.

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