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Empatia Eliane Falcone CONSIDERACOES INICIAIS Estudos que investigaram os efeitos sociais da empatia (Brems, Fromme e Johnson, 1992; Burleson, 1985; Davis e Oathout, 1987; Ickes e Simpson, 1997; Long e Andrews, 1990) suge- Tem que as pessoas empaticas despertam nos outros afeto e simpatia, so mais populares € ajudam a desenvolver habilidades de enfrenta- mento, bem como reduzem problemas emocio- nais e psicossomaticos nos amigos ¢ familiares. Além disso, a empatia € preditiva de ajustamento marital, contribuindo para a satisfagao no re- lacionamento conjugal (Davis e Oathout, 1987; Ickes e Simpson, 1997). Os individuos empaticos comportam-se de tal maneira que tornam as Telacdes mais agradaveis, reduzindo 0 conflito €orompimento (Davis, 1983). A habilidade de ler” e valorizar os pensamentos ¢ os sentimen- tos das outras pessoas € 0 que provavelmente torna esses individuos mais bem-sucedidos em suas relacdes i fi ssoais € profissionais (Ickes, 1997), pessoais e profissionais (Ic o ae manifestada pelo terapeuta € Beane a za mudanca do cliente tam- estudos au 0 objeto de uma variedade de interneace,2Pontam ser essa habilidade de ments recessitia para a eficdcia do trata- 1969; caatrett-Lennard, 1993; Carkhuff, investigaram oy © Myers, 1991). Pesquisas que Peutas de dee esPeetOs comuns entre tera- Fcaram que cent es abordagens tesricas veri- ‘SSeS profissionais compartilham a mesma opiniao no que diz respeito aos efeitos terapéuticos positivos da empatia (Reisman, 1986; Strupp, 1958; Sudland e Barker, 1962; Wogan e Norcross, 1983). O reconhecimento desses efeitos tem motivado a criagao de defi- nigdes mais detalhadas da empatia € de pro gramas de treinamento que visam a desenvol- ver essa habilidade no terapeuta (Carkhuff, 1969; Egan, 1994). Este capitulo pretende apresentar, com base em uma revisio da literatura, 0 conceito eas etapas da empatia que favorecem a comu nicacao interpessoal. Posteriormente, sero ci tados exemplos ilustrativos dos diversos tipos de declaracoes empaticas ¢ nao-empaticas que podem ser manifestadas pelos psicoterapeutas. Finalmente, serao feitos alguns comentarios sobre papel curativo da empatia e os seu limites na mudanca do cliente. © CONCEITO DE EMPATIA © termo “empatia” originou-se do voc pulo alemao “einfuhlung’”, 0 qual fol urilizado pela primeira vez por Robert Vischer, em 1873, pen ceu tratado de psicologia da estevies © percepcao formal. A psicologia da estética de Fischer incluia uma auroprojecao X objeto artistico. Mais tarde, Tite ‘hener (1909, ¢ mea em Wispé, 1992) criou 0 termo ‘empatia” como “einfuhlung”, pensando que nhecer 4 consciencia de outra uma versao de seria possivel CO 276 Cristiano Nabuco de Abreu, Miréia Roso & cols. pessoa através da imitacao interior ou do esfor- co da mente. Em outras palavras, a seriedade, a modéstia, a arrogancia, a cortesia e a digni- dade podiam ser nao somente percebidas, como também sentidas, pelo esforco da mente. Desde entdo, a empatia tem sido objeto de estudo da psicologia nas areas evolutiva, social, da per- sonalidade e clinica (Fisenberg e Strayer, 1992). No campo da psicoterapia, a obra mais relevante sobre a empatia foi a de Carl Rogers (1951, 1975), segundo 0 qual o termo “em- patia” significa “perceber o marco de referén- cia interior da outra pessoa com precisao e com ‘9s componentes emocionais que lhe pertencem, como se fosse essa pessoa, porém sem nunca perder a condicao de ‘como se”. Posteriormen- te, apos reconhecer que a empatia deveria es- tar baseada em uma acdo comportamental (Barkham, 1988), Rogers (1975, p. 4) apre- senta as etapas do processo empatico: (a) cap- tar 0 mundo perceptual da outra pessoa e fa- miliarizar-se com ele, sem julg4-la; (b) comu- nicar ao outro a prépria percepgao do mundo deste, observando elementos que 0 outro teme, € (c) verificar com 0 outro a correcio de tais percepcées e deixar-se guiar por suas respos- tas deste. Os estudos sobre empatia tém enfrenta- do problemas conceituais que dificultam as tentativas de avaliar e de treinar essa habili- dade. Um desses problemas refere-se as diver- géncias entre alguns pesquisadores, que se- guem duas perspectivas diferentes: a perspec- tiva cognitiva e a perspectiva afetiva. A pers- pectiva cognitiva enfatiza a capacidade de uma pessoa de se colocar no lugar de outra e de entender e predizer, de forma acurada, os seus sentimentos e pensamentos, podendo ou nao experimenté-los. A perspectiva afetiva consi- dera que a empatia compreende experimentar uma emogao congruente, porém nao necessa- riamente idéntica a da outra pessoa. Estudos recentes sugerem que a empatia engloba elementos cognitivos € afetivos. O componente cognitivo é caracterizado pela adogao de perspectiva, que corresponde, para alguns autores (Davis et al., 1987; Long e Andrews, 1990; Zillman, 1991), a uma dispo- sigao para se colocar no lugar da outra pessoa e de modificar o proprio comportamento como conseqiiéncia. Outros autores (Ick Eisenberg, Murphy e Shepard, 1997) 0 1997, ram a adogao de perspectiva como 4, "side. de de inferir precisamente os sentimee **ia pensamentos de outra pessoa, sem n° dade de se colocar no lugar dela. Alem ce as pessoas podem tomar conhecimentn °°: tado interno de alguém através de assumes © dedugées mentais (Higgins, 1981; karne’® 1982). Um individuo, por exemplo, ‘pode 2? tender a perspectiva de um indigente ao her car informagoes retidas na memoria sobre, efeitos da pobreza, bem como as emogies > sociadas a uma vida de miséria (Eisenberg s al., 1992). © componente afetivo da empatia carac. teriza-se por uma tendéncia a experiments, sentimentos de simpatia, de compaixao e de Preocupacao com o bem-estar da outra pessoa (avis et al., 1987). Essa tendéncia 6 conheci. da como comportamento prossocial (Mehabian ¢ Epstein, 1972; Thompson, 1992). A visio de que a empatia envolve elementos cognitivos ¢ afetivos favorece uma melhor compreensio sobre 0 comportamento empitico. Feschbach (1992) propoe um modelo cognitive-afetivo de integracao, no qual a empatia é postulada como uma funcao de trés fatores: (a) uma habilida. de cognitiva para discriminar chaves afetivas nos outros; (b) uma habilidade cognitiva mais madura, que envolve assumir o papel da outra pessoa € (c) uma disposi¢ao para responder emocionalmente ou uma habilidade afetiva de experienciar emocoes. Lennon e Eisenberg (1992) identificaram trés tipos de reacoes emocionais frente as emo- des ou as situagdes de outra pessoa (especial mente as negativas). A primeira, chamada de mal-estar pessoal, corresponde a uma experién- cia vicaria da emocao de outra pessoa que é vivenciada com um sentido de autopreocu- pacao. Esse tipo de resposta nao gera preocu- pacao pelo outro e nao medeia uma conduta altruista. A segunda, chamada de contagio emocional, refere-se a experiéncia vicaria de um afeto que reproduz a emogao do outro. A terceira, chamada de preocupacao genuina pelo outro ou de simpatia, corresponde a uma Preocupacao empatica ou simpatica. Nesse UP de resposta, a preocupagao encontra-se mals no outro do que no empatizador, nao havendo uma correspondéncia exata entre as emocdes da diade. Davis (1983) apresenta um modelo mul- tidimensional, em que a empatia possui trés facetas distintas. A primeira delas correspon- de a adocao de perspectiva, compreendida como uma tendéncia cognitiva de se colocar no lugar de outra pessoa e de ver as coisas a partir do ponto de referéncia dela. Essa faceta da empatia também é conhecida como empatia cognitiva. A preocupacao empitica, caracteri- zacia por uma tendéncia a experimentar senti- mentos de simpatia e compaixao pelos outros, compreende a segunda faceta da empatia € também € conhecida como empatia emocio- nal. Finalmente, 0 mal-estar pessoal, que ex- pressa uma tendéncia a experimentar senti mentos de desconforto e apreensao na presen- ¢a do sofrimento de outra pessoa, correspon- de a terceira faceta da empatia. O mal-estar pessoal também é considerado como empatia emocional, embora os sentimentos de descon- forto e apreensao sejam mais pessoais e egois- tas, nao constituindo, portanto, sentimentos pela vitima. Cada uma das trés facetas propostas por Davis parece variar entre as pessoas, ou seja, alguns individuos podem apresentar um nivel mais elevado de adogio de perspectiva, en- quanto outros podem manifestar um nivel mais elevado de preocupacao empitica ou de mal- estar pessoal. O papel relative de cada uma dessas facetas parece variar com a situagao, a idade e as caracteristicas pessoais de cada in- dividuo (Feschbach, 1997). Desse modo, a empatia parece englobar tanto um componente cognitivo quanto um componente afetivo. O primeiro, conhecido como adogao de perspectiva, caracteriza-se por uma capacidade de compreender a perspecti- va e os sentimentos dos outros, seja através de processos inferenciais, de representacoes ar- mazenadas na meméria ou de colocagao no lugar da outra pessoa. O segundo, menos ela- borado e sofisticado, € conhecido como com- portamento prossocial e caracteriza-se por sen- timentos de compaixao e simpatia pela outra pessoa, além de preocupagao com o seu bem- estar. O contagio emocional e 0 mal-estar pes Psicoterapias Cognitiva e Consteutivisto 277 soal nao correspondem a manifestagdes em- paticas. Essas reacdes sfio consideradas pré- empaticas e manifestam-se no inicio do de- senvolvimento, quando a crianga ainda nao Possui respostas cognitivas mais complexas (Thompson, 1992). A adocao de perspectiva e 0 comporta- mento prossocial nao sao suficientes para a manifestagio do comportamento empatico. Algumas pessoas podem ser capazes de com- preender o estado interno de alguém e de sen- tir verdadeiro interesse em ajudar, porém nao manifestam essa compreensao ou 0 fazem de forma ndo-empitica. A habilidade empatica também consiste em transmitir um reconheci- mento explicito e uma elaboragao dos senti- mentos e da perspectiva da outra pessoa, de tal maneira que ela se sinta compreendida e que isso a ajude a obter um maior entend mento sobre seus sentimentos (Barrett- Lennard, 1993; Egan, 1994). Burleson (1985) refere-se a essa habilidade como uma estraté gia sensivel de consolar. Através da expressao empatica, é possivel inferir a acuidade da per- cepedo do individuo que empatiza (Ickes, Marangoni e Garcia, 1997). Resumindo, 0 comportamento empatico pode ser entendido de acordo com 0 modelo cognitivo, em que o componente cognitivo esta relacionado ao processamento da informagao, © que inclui atencao, meméria, motivagio, ete. componente afetivo ¢ identificado pelas emo- Goes € pelos afetos decorrentes das interpreta- 6es; 0 componente comportamental refere-se is expressdes verbais e ndo-verbais de enten- dimento empitico. AS ETAPAS DA EMPATIA © comportamento empatico caracteriza- se pela habilidade em compreender precisa- mente os sentimentos e a perspectiva da outra pessoa e de transmitir entendimento de tal maneira que ela se sinta verdadeiramente com- preendida e acolhida. A forma mais elaborada € sofisticada de empatizar conduz a um maior entendimento na relacao, levando a intensifi- cacao do afeto ¢ ao alivio da angustia da outra pessoa, além de tornar o empatizador mais acei- Roso & cols. 278 Cristiano Nabuco de Abreu, toe coma auto-estima elevada (Barrett-Lennard, 1993; Burleson, 1985). Durante toda a interacéo, o empatizador expressa compreen- so e aceitacao, tanto de forma verbal quanto de forma nao-verbal, sendo que cada uma des- sas formas predominard conforme o momento da interacao. A habilidade empatica ocorre em duas etapas. Na primeira etapa, o individuo que empatiza esté envolvido em compreender os sentimentos e as perspectivas da outra pessoa e, de algum modo, experienciar 0 que estd acontecendo com ela naquele momento. A se- gunda etapa consiste em comunicar esse en- tendimento de forma sensivel (Barrett- Lennard, 1993; Greenberg e Elliott, 1997). A compreensao empatica inclui prestar atencao e ouvir sensivelmente, enquanto a expresso empatica inclui verbalizar sensivelmente. Cada uma dessas etapas serd especificada a seguir. Prestar atengéo Segundo Barrett-Lennard (1993), para que ocorra empatia, é necessério estar atento de um modo bastante especial. Nesse sentido, prestar atencao em alguém significa estar com esse alguém fisicamente e psicologicamente. A atengao empdtica é adotada por algumas pessoas com maior freqiiéncia ou sinceridade do que por outras, sendo que certas pessoas 0 fazem muito seletivamente. Em geral, os indi- viduos possuem a capacidade que se inclui nesse repertorio, seja ela expressa raramente ou freqiientemente (Barrett-Lennard, 1993). A atengao empatica é apreciada pela outra pessoa, que se sente mais encorajada a se abrir ea explorar as dimensées significativas de sua situagao-problema (Egan, 1994). Alguns com- Portamentos demonstram atengio empatica: 1. Fitar diretamente a outra pessoa, adotando uma postura que indique envolvimento e evitando ficar mui- to afastado. A orientacao corporal deve sugerir envolvimento, estar com 0 outro. Caso a atitude de fitar provoque algum tipo de constrangi- mento, Angulo. Adotar uma postura aberta, G0 € pernas cruzados pod, lizar menos envolvimento nibilidade. Inclinar-se em direcio ao ou a parte superior do corpo (in demais pode intimidar). inet dé um sentido de flexibilidage™® responsividade corporal que aun” ta.a comunicagao com 0 outro, Manter contato visual, evi viar o olhar com frequéncia 9 nao significa olhar fixamente' bom contato visual sugere intereg €m ouvir 0 que o outro tem a dizer Desviar 0 olhar com freqiiéncia ey’ gere relutéincia ou desconforto en estar com a pessoa. Adotar uma postura relaxada, o que significa nao ficar inquieto ou se engajar em expressées faciais dig traidas. Isso pode levar o outro » supor que 0 ouvinte esta pouco in. teressado. Estar atento as préprias reacdes corporais e emocionais provocadas pelo comportamento da outra pes. soa ~ observar sentimentos de rai. va, ansiedade, etc. — e os efeitos desses sentimentos no proprio cor- Po, procurando controlar essas ma- nifestagoes externas para se dar tempo de refletir. © ideal € posicionar-se em © dispg, tro, com clinar-se Além de demonstrar atencao, o empati- dor deve procurar identificar as mensagens nao-verbais da outra pessoa que expressam emocoes. As mensagens nao-verbais podem substituir, repetir, enfatizar ou contradizer a mensagem verbal (Matos, 1997). Estudos mos- tram que, quando as mensagens verbal e nao- verbal sao contraditérias, 0 crédito deve ser dado a mensagem nao-verbal. O rosto € 4 prin- cipal Area sinalizadora de emocoes, embora possa ser melhor controlado. Assim. 2 veru® deira emocao pode ser identificada pela Or. pela parte do corpo situada abaixo do pes (Argyle, 1988). nsagens nao-verbais que podem ser pela outra pessoa englobam o matporamento corporal (postura, movimen- comborporais), as expressoes faciais (sorrisos, * ho franzido, sobrancelhas arqueadas, labi- cempntraidos), a Felacao entre a voz € 0 com- omento (rom de voz, intensidade, inflexao, Pesaco entre as palavtas, énfases, pausas, si- Jancios e fluéncia), as respostas autonémicas a pervaveis (Fespitacao acelerada, rubor, pali- dez, dilatacao da pupila), as caracteristicas fi- Seas (altura, peso, compleicao) e a aparéncia geral (adornos ¢ vestuario). As mel manifestadas Ouvir sensivelmente Ouvir sensivelmente nao significa ser ca- paz de reproduzir 0 que alguém acabou de fa- lar, mas sim dar ao outro a oportunidade de ser ouvido em seus préprios termos, sem ser julgado. Significa estar em contato com e co- nhecer a realidade do outro, considerando que essa realidade nao é imutavel. O ouvir mais profundo nao vem da intencao deliberada de promover mudanca em alguém (Barrett- Lennard, 1988). O bom ouvinte é aquele que aprecia a outra pessoa tal como ela é, aceitan- do os seus sentimentos e as suas idéias, tais como eles s40. Como conseqiiéncia, a pessoa sente-se entendida, reconhecida, aceita e va- lorizada. O ouvir empatico significa suspender ‘0 proprio desejo e julgamento e, 20 menos por alguns minutos, existir para a outra pessoa (Nichols, 1995). O ouvir sensivel ou empatico provoca efei- tos positivos, tanto para quem ouve quanto para a outra pessoa. Conforme Barrett-Lenard (1988), tais efeitos incluem: cura e crescimen- to pessoal (ser ouvido reduz 0 medo e aumen- ta 0 autoconhecimento); enriquecimento do relacionamento (cada membro da diade tor- na-se aberto a ouvir); reducao de tensao e so- lugdo de problema (a capacidade de ouvir pro- fundamente a outra pessoa e de apreciar a sua realidade é crucial para promover mudanga) desenvolvimento do conhecimento (aumento do conhecimento da natureza humana). Convém salientar novamente que, quan- do uma pessoa € ouvida sensivelmente, ela se Psicoterapias Cognitiva e Construtivista 279 sente validada, valorizada, ¢ isso promove auto- aceitacao € auto-afirmacao (Nichols, 1995). Por isso, em terapia, costuma-se afirmar que 0 ou- vir empatico possui um efeito curativo (Bohart € Greenberg, 1997; Bohart e Tallman, 1997). Jordan (1997) afirma que 0 ouvir empatico aju- da a reduzir a vergonha psicolégica. Quando envergonhadas, as pessoas sentem dificuldade de acreditar que aqueles aspectos rejeitados por elas mesmas sejam aceitos pelos outros e, como consequéncia, sentem-se de fora, desconectadas. Para manter o relacionamento, elas sentem que devem ocultar essas partes repudiadas. Na tera~ pia, 0 cliente que é ouvido empaticamente, de- senvolve a coragem de se expor mais. Assim, a experiéncia de vergonha reduzida aumenta a abertura e a auto-revelagao. Quando alguém experimenta a presenca empatica de outro, tor- na-se mais empatico consigo mesmo, reduzin- do 0 autojulgamento severo, ¢ com os outros, facilitando o relacionamento. Os clientes po- dem aprender a auto-empatia com os seus terapeutas para reduzir a autocritica excessiva ¢ desafiar pensamentos disfuncionais (Safran e Segal, 1990). Além disso, eles também podem modelar-se no terapeuta e aprender a ouvir a si mesmos mais empaticamente na solugao de pro- blemas (Barrett-Lennard, 1997). Da mesma forma que ser ouvido promove auto-apreciacao, nao ser ouvido gera sentimen- tos de exclusao, desvalorizagao e inadequacao. Nas relacoes interpessoais, existem circunstén- cias nas quais 0 ouvir torna-se dificil. Isso ge- ralmente ocorre quando a outra pessoa é exces- sivamente detalhista, tornando a conversa can- sativa e desinteressante; é egoista, fazendocom que 0 assunto gire apenas em torno dela, ou quando 0 ouvinte esta sobrecarregado de pro- blemas que dificultam a sua atengao; interpre- ta erroneamente a fala da outra pessoa como algo pernicioso, ameacador ou enfurecedor; esta mais preocupada em controlar, instruir ou mu- dar a outra pessoa e preocupa-se em ensaiar 0 que vai dizer a seguir, em vez de prestar aten- do no discurso da outra pessoa (Nichols, 1995). Em situacoes de conflito, o ouvir sensivel também promove efeitos positives na intera- ao, A medida que reduz a querela € a proba bilidade de rompimento. Ouvir sensivelmen- te, demonstrar compreensao e aceitagao a uma 280 Cristiano Nabuco de Abreu, Miréia Roso & cols. Pessoa que esté furiosa, tem o poder de reduzir a sua raiva, tornando-a também mais dispont- vel para ouvir. Da mesma maneira, procurar compreender as raz6es do comportamento de alguém que provocou magoa e raiva pode re- duzir esses sentimentos e facilitar um didlogo de entendimento (Goleman, 1995; Nichols, 1995). ‘As emoges envolvidas nas interacdes em que hd conflito costumam ser contagiosas, es- calando através de uma série de acées e rea- Ges que podem levar a um desastre emocio- nal, tal como um rompimento definitive da relacdo (Nichols, 1995). Tais manifestacdes s40 explicadas pelos estudos sobre sincronia emo- cional (Levenson e Ruef, 1997). As mensagens nao-verbais refletem como a pessoa esta ex- pressando 0 contetido da fala (tom e entonacao da voz, expressao facial, gestos, etc.) e conta- giam a outra pessoa, como uma orquestracdo (Goleman, 1995). A crenga subjacente envol- vida na interacdo de conflito é a de que, ao aceitar 0 argumento do outro, a pessoa estara reconhecendo o seu erro e perdera a razao. Assim, ela insiste em manter os seus argumen- tos para ficar com a ultima palavra. Nesse tipo de interacao, ambas as partes ficam impedi- das de ouvir e sentem-se incompreendidas. Se, ao contrario, a pessoa acredita que abrir mao da propria perspectiva para entender 0 outro nao significa perder a razao, ela permite que 0 interlocutor, ao se sentir ouvido e compreen- dido, disponha-se a ouvir e a compreender. Como afirma Nichols (1995, p. 112), “a qual- quer momento em que vocé demonstra dispo- sicdo para ouvir com um minimo de defensi- vidade, critica ou impaciéncia, vocé esta dan- doo presente do entendimento e adquirindo o direito de ter a recfproca”. Assim, a habilidade em ouvir depende do esforco em resistir ao im- pulso de reagir emocionalmente a posicao de alguém que manifesta uma perspectiva muito diferente. Do contrario, o impulso para tomar atitudes que reduzam ou evitem a emocao do. momento torna a pessoa pouco flexivel, au- mentando o conflito na interagao. Uma estratégia para poder ouvir e com- preender melhor a outra pessoa € buscar as mensagens centrais que estao sendo expressas em termos dos seus sentimentos, desejos ¢ Pectivas. De acordo com Egan (1994) 5 ‘uerney (1987), o8 comportamentos envewe dos no ouvir sensivel sao. . a) deixar de lado, por alguns instantes, as préprias perspectivas, desejos e sen. timentos e voltar-se inteiramente para as perspectivas, os desejos e os senti- mentos da outra pessoa; b) observar e ler os comportamentos nio- verbais que a outra pessoa esta mani- festando enquanto fala (tom de voz olhar, postura, gestos, etc.), através dos quais sejam identificadas as moses; ©) colocar-se no lugar da outra pessoa, buscando identificagado com os senti- Mentos, as percepcdes e os desejos dela; 4) elaborar mentalmente uma relagio existente entre o sentimento da outra pessoa, o contexto € o significado des- se contexto para ela. Verbalizar sensivelmente A funcao da verbalizago empatica é fa- zer com que a outra pessoa sinta-se compre- endida, além de ajudar a explorar as suas pre- ocupagées de forma mais completa. Embora as etapas anteriores (prestar atengao e ouvir) possam sinalizar compreensao, aceitagao e acolhimento, através da comunicagao nao-ver- bal (acenar com a cabeca, usar vocalizages breves tais como “sim”, “hum-hum”), a verbali- zagao empatica é a maneira mais eficiente de demonstrar compreensao. Burleson (1985) afirma que algumas pes- soas empregam estratégias altamente sensiveis de conforto verbal, as quais legitimam e ela- boram os sentimentos da outra pessoa, enquan- to outras utilizam estratégias menos sensive's, as quais tendem a desvalorizar a legitimidade @ 0 significado dos sentimentos do outro. sim, as estratégias de consolo mais sofisticada’ e sensiveis: a) promovem um maior grau de envolvi- Frento com a outra pessoa € com o seu voblema (tentam explicar os sentimen- fos e as perspectivas do outro); Sao mais neutras na avaliagao, descre- vem e explicam os sentimentos do ou- tro eas situagdes que produzem esses sentimentos; tendem a focalizar as causas proximas ao estado de angustia da outra pes- soa (reaces cognitivas e afetivas fren- te a certos eventos); d) aceitam e legitimam o sentimento do ‘outro, bem como o seu ponto de vista: e) contém uma explicagao cognitiva dos sentimentos experienciados pela ou- tra pessoa (individuos angustiados costumam carecer de um entendimen- to dos préprios afetos) e a explicacao desses estados afetivos pode ajudé-la a entender ou encontrar uma explica- cao para os préprios sentimentos, dis- tanciando-se mais dos mesmos. b) ° As estratégias de consolo menos sofisti- cadas ou nao-sensiveis: a) focalizam-se no evento em si; b) impdem o préprio ponto de vista; ©) desconsideram ou ignoram os sentimen- tos e a perspectiva da outra pessoa; d) tentam minimizar 0 problema e/ou esto mais centradas em dizer ao ou- tro 0 que fazer ou como sentir-se. Durante uma situagao interpessoal de aju- da, quando alguém esta contando um proble- ma, ndo é raro que o ouvinte procure aliviar 0 sofrimento da outra pessoa, dando um conse- lho ou uma sugestao. Entretanto, nesse mo- mento, a outra pessoa pode estar mais preocu- pada em ter os seus sentimentos € as suas pers- Pectivas legitimados. Um conselho ou uma sugestdo nao-solicitados provavelmente faréo com que o interlocutor sinta-se incompreen- dido. Outro recurso utilizado pelo ouvinte € 0 de tentar minimizar o problema, sugerindo que Psicoterc i terapias Cognitiva e Construtivista 281 O interlocutor “NA, ‘i do” ou que A as ficar tao preocupa- Spode Verbalizagae ae € tao grave”. Esse ‘svaloriza os tos e a perspectiva da pessoa-alve, Em ourns situagdes, 0 ouvinte comeca a contar wee periéncia pessoal semelhante aquela relatany pela outra pessoa pare toon nicl relatada lon J sugerir uma so- lucdo. Essa estratégia desvia o foco de atencao Para fora dos sentimentos e das penpesinas do interlocutor (Burleson, 1985; Guerney, 1987; Nichols, 1995). : As perguntas também devem ser evita- a doaratae Bh ceragio empitica, porque des- : \Gao da apreciacao dos sen- timentos e das perspectivas da outra pessoa, direcionando a conversacao para os pensamen- tos do ouvinte. Algumas perguntas podem ser pertinentes para esclarecer algo que jd foi dito; porém, quando formuladas para buscar novas informacoes, elas se tornam inadequadas. Durante a verbalizacao empitica, 0 foco de atencao est inteiramente voltado para 0 sentimento e a perspectiva da outra pessoa frente a situacao-problema, sem que se faga qualquer julgamento, aceitando e legitiman- do os seus sentimentos (Egan, 1994, p. 112). Esses podem ser legitimados de forma indire- ta, quando o empatizador nao especifica o sen- timento (por exemplo, “Eu posso imaginar como vocé esté se sentindo”, “As coisas nao esto indo nada bem para vocé, nao é mes- mo?”), ou de forma direta, quando 0 empati- zador especifica o sentiment (por exemplo, “Eu percebo que isso esté deixando vocé triste”, “Voce deve estar se sentindo indignado”). A pessoa sente-se profundamente compreendida quando o empatizador consegue relacionar 0 sentimento, o contexto e a perspectiva desta. (por exemplo, “Vocé se sente triste porque mu- dar significa deixar todos os seus amigos”). ‘Antes de manifestar compreensao sobre a experiéncia da outra pessoa, deve-se evitar de- des que sejam socialmente indesejaveis, como, por exemplo, dizer que ela esta “com in- veja” ou esta “furiosa”. As pessoas sao inclina- das a nao reconhecer nelas mesmas atitudes ou sentimentos socialmente indesejaveis (Guerney, 1987). Assim, a empatia basica acontece quan- clarag 282 Cristiano Nabuco de Abreu, Miréia Rose & cols. do oempatizador percebe os sentimentos da ou tra pessoa ¢ relaciona esses sentimentos com a perspectiva e 0 contexto desta, comunicando 0 seu entendimento a seguir. A empatia acurada ‘ocorre quando as percepcoes do empatizador esto corretas, isto é, quando elas refletem 0 mundo tal como a outra pessoa vé. Nesse mo- mento, ela responde: “I: isso mesmo!”, ou “Voce acertou em cheio!” (gan, 1994, p. 115). ‘Apos declarar 0 seu entendimento acerca dos sentimentos e dos pensamentos de uma pes- soa, o empatizador pode constatar que nao foi acurado. Em geral, isso acontece quando a ou- tra pessoa diz de forma clara que nao é exata- mente aquilo que ela queria dizer, para de falar e olha em volta, ou tenta completar a fala do empatizador. Nesse momento, ¢ importante se- guir o rastro e aprender com os préprios erros. Um exemplo de verbalizacdo empatica dirigida a uma pessoa que est triste por nao ter conseguido passar em um concurso publ co pode ser: “E muito duro estudar tanto para uum concurso e nao passar. Eu sei o quanto vocé investiu em seus estudos e deve estar sentin- do-se magoado ¢ injustigado por nao ver os seus esforcos reconhecidos, nao é mesmo?” Nesse caso, os sentimentos e a perspectiva da pessoa sao identificados, validados e relacio- nados. Um exemplo de verbalizacao nao- empatica pode ser: “Nao ha razao para ficar deprimido. Vocé poderd fazer outros concur- 505”, Nesse tipo de verbalizagao, 0 sentimento da outra pessoa sao desvalori- adequado ea perspectiva zados. O individuo é considerado ini por “exagerar” em seu sentimento e por “super- valorizar” a importancia do concurso. Em situagdes em que had conflito, quanto maior é a divergéncia de opinides, mais im- portante é reconhecer 0 que a outra pessoa diz, antes de apresentar o proprio ponto de vista. Quando a outra pessoa sente-se magoada, tor- na-se fundamental demonstrar compreensao e aceitacdo de seus sentimentos € perspecti- vas, sem apresentar qualquer justificativa, an- tes de se certificar de que ela se sentiu realmen- te compreendida e validada. Nichols (1995, p. 114-115) fornece exem- plos de declaracées empaticas em situagoes de conflito, tais como: “Deixe-me ver se eu en- tendi o que vocé esta dizendo. Vocé sente que é sempre voce quem toma nos encontrarmos € que ine far wok saber se eu realmente quero ex ‘ Hstou certo?”, ou “F " vem sentindo que eu estou furienn ean at que, por essa razio, deixci de ser aferung 6 de admirar que vocé esteja chateada wi deve estar se sentinds magoada Ws by tempo”. Declaracoes desse tipo tendem 4 duzir a ansiedade da outra pessoa, tornandn. mais disponivel para ouvir € para autaveris lizar. ae Nem sempre a comunicacio empiricy ocorre através da verbalizagin. Alguinas ye. zes, 0 entendimento € comunicade sem haver necessidade de palavras. Para ilustrar essa fir macao, Egan (1994) cita 0 olhar de cumplic dade de urna esposa que vé 0 marido prese em uma conversacao com uma pessoa com a qual ele nao quer estar. Esse simples olhar pode expressar palavras que reconhecem 08 sent mentos do marido, bem como o desejo de que ele seja retirado diplomaticamente daquela si tuacao. Esse tipo de comunicagao € mais co mum em relacionamentos mais intimos, como as relagées conjugais ¢ as relacoes de amiza- de, e envolvem outras variaveis, além da ca- pacidade pessoal de inferir os pensamentos ¢ 05 sentimentos dos outros. Iniciativa pap EH ty Were AT CORY veg 10, todo € DECLARAGOES TERAPEUTICAS EMPATICAS E NAO-EMPATICAS No contexto de interagao terapeuta-pa ciente, existem varias formas de verbalizar empaticamente. Com base em informacoes extraidas da literatura (Bohart e Tallman. 1997; Burleson, 1985; Greenberg € Fliot 1997; Linehan, 1997), sera apresentado a se guir um sistema de classificacao de verbaliza Ges terapéuticas, que pode ser itil para avaliar e treinar essa habilidade em terapeutas € PTO” fissionais de ajuda. Verbalizacoes empaticas entos € na nos sentim : : aceitando¢ Estao centrada julgar, perspectiva do cliente, se™ legitimando esses sentimentos e perspectivas, Procuram dar uma explicacao cognitiva dos sentimentos experienciados pelo cliente, aju- dando-o a atingir uma comp ra sobre si mesmo. As respostas empaticas sio baixas em in- feréncia ¢ focalizam-se no ponto de referéncia do cliente (no que esta explicito ou implicito), Responder empaticamente requer ouvir o que estd sendo dito ou expresso e focalizar-se no que isso significa — implicita ou explicitamen. te — para o cliente, reensdo mais cla- Variedades de verbalizacées empsticas 1) Oterapeuta transmite um entendimen- to acurado dos sentimentos, dos pensamentos, dos desejos, das suposicées e dos comportamen. tos do cliente, tentando chegar a um entendi- mento compartilhado. Esse entendimento ba. seia-se na experiéncia explicita sentida pelo cliente e/ou do que esta implicado, mas nao si- tuado. O terapeuta procura verificar se 0 que ele disse faz sentido para o cliente, possibilitan- do e aceitando a discordancia do mesmo (en- tendimento empitico ou reflexao acurada), Exemplo 1 C: Ha momentos em que eu fico tao cansada em assumir tantos compromissos que cu pen- so em sair um pouco dessa pressao de ter que cumprir tudo. Mas me incomoda o fato de querer me livrar... de nao assumir as minhas responsabilidades. T: Parece que vocé pensa: “Na medida em que eu quero me aliviar de tantos compromissos, press6es € obrigacées, isso significa que sou irresponsavel”. Seria algo assim? Exemplo 2 Eu estou triste hoje ~ eu quero dizer que estou solitdria. Eu tenho comido muito e nao sei se estou preenchendo um vazio. T: Hum-hum, sentindo-se vazia. 2) O terapeuta transmite entendimento, usando metéfora, linguagem expressiva, ima- Pricoterapias Cog iva ¢ Construtivisto 283 gem evocativa ou falando cago empatica). Exemplo 1 C: Sim, isso nao ¢ facil. Fa solidao que esté aqui ¢ eu acho que © que estou procurando é Consolo, que alguém me diga que nao tem pro- blema, uma certeza e a, eu suponho. T: Sim, alguém bem, Claudia’. Exemplo 2 C: Gomo vocé sabe, meu ambiente tem sido realmente muito bom, como ter um grupo de apoio, eu estou gostando disso, mas ainda me Lo, T: Quando vocé conta com vocé mesma, hé um sentimento real de estar sozinha. 3) O terapeuta transmite entendimento, selecionando aquilo que é mais pungente, nao claro, idiossincratico ou implicito, naquilo que 0 cliente diz para promover descoberta de algo Novo ou para ver algo de uma nova maneira (exploragao empitica). Exemplo 1 C: Eu percebo que estou tomando conta de todo mundo, talvez. eu esteja esperando algu- ma coisa de volta. T: Entao, vocé sente como se estivesse dando € dando ¢ coisas desse tipo. Entao, pensa: “E quanto a mim?” Exemplo 2 C: Embora eu me sinta contente, porque real mente tenho amigos agora com quem eu logo vou conversar, mas depois, quando estou so- zinha, vem a solidao. T: Hé algo sobre estar sozinha agora que é muito dificil. 4) O terapeuta transmite entendimento, complementando a frase do cliente, quando ele 284 — Cristiano Nabuco de Abreu, Miréia Roso & cols. esté fazendo um esforco para explicar 0 que est querendo dizer (complementacao comu- nicativa). Exemplo 1 : Quando ela me deixou, eu me senti como se tivesse levado um... um... ‘T: Um soco no estémago. C: Isso mesmo! Verbalizagées néo-empaticas Tendem a se centrar no evento, no pré- prio ponto de vista, em novas informagées ou em teorias, desviando arbitrariamente o foco de atencdo dos sentimentos e da perspectiva do cliente. Variedades de verbalizacées néo-empéticas 1) O terapeuta focaliza-se no evento, ex- provocada pela mudanca do com do namorado.) T: Voce lembra de ter se sentido rejeitada seus familiares quando era pequena? (Deg. do foco de atengao para especular uma pose vel causa para a cliente sentir-se reeitada “sen azo concreta”.) TT; Rssa sensagao de nao ser gostada tem ocor. rido na interagao com outras pessoas ou so. mente com o seu namorado? Portament, 2) O terapeuta impée o préprio ponto de vista. Exemplo 1 C: Ontem, o professor de estatistica nao deu aula e cu aproveitei o tempo para estudar. $6 que alguns colegas comegaram a falar alto e rir e eu nao consegui prestar atenc&o no que estava lendo. Entdo, fechei o livro e fiquei de mau-humor o resto do dia. T: As pessoas sao assim mesmo. Elas sé perce- bem que incomodam quando a gente reclama. 3) O terapeuta nao se baseia no que o plorando os dados a respeito, sem considerar cliente est4 experienciando, mas sim em teori- ou valorizar os sentimentos e as perspectivas gs que norteiam a sua abordagem ou em sua do cliente, ou faz perguntas para buscar novas propria perspectiva ou experiéncia. informacées, desviando 0 foco de atengao da apreciacao dos sentimentos e das perspectivas do cliente. Exemplo 1 Exemplo 1 Ontem, quando encontrei minha amiga a caminho da sala de aula, ela me cumprimen- tou muito rapidamente. Fiquei chateada com 0 fato de ela ndo me dar atencao. T: Ela estava sozinha ou acompanhada? cemplo 2 C: Meu namorado costumava me telefonar todos os dias. Ultimamente, ele telefona umas trés vezes por semana. Ku sei que ele anda sobrecarregado com os estudos. Mas, mesmo assim, estou achando que cle nao gosta mais de mim. (O foco de atengao esta na angustia C: Eu tive um atrito com 0 meu professor hoje. Eu achava que tinha a resposta certa, mas meu professor nao me ouviu. Aj, eu fiquei triste. Quando eu contei o fato para minha mae, ela me repreendeu, dizendo que eu nao devia aborrecer os mais velhos, que cu devia respeita-los. Fiquei chateada. Pensci que ela pudesse me entender. (O foco de atencao da cliente est na anguistia provocada pela mae.) T: Vocé ficou com raiva de seu professor por- que ele lembrou sua mae. (Desvio do foco de atengao para uma explicagao causal.) T: Eu penso que vocé se sentiu incompre- endida por sua mae, do mesmo modo que se sentiu incompreendida por seu professor (en- tendimento empatico) 4) O terapeuta dé uma sugestao ou um conselho sobre como o cliente poderia fazer para se sentir melhor ou superar determinado problema. Exemplo 1 C: Ontem, na aula de estatistica, tive uma dti- vida, mas nao tive coragem de perguntar. Achei que o professor pensaria que eu sou burra, T: Vocé j pensou na possibilidade de pergun- tara ele particularmente, depois que acabar a aula? OS LIMITES DA EMPATIA. Embora exista uma concordancia entre 0s pesquisadores sobre o valor da empatia do terapeuta como um poderoso agente de mu- danca, algumas divergéncias sao encontradas quanto ao fato de esta ser suficiente para o sucesso do tratamento. Bohart e Greenberg (1997) propdem que, através da manifestagao de empatia, o tera- peuta ajuda o cliente a sair de uma posigao de avaliacao negativa, rejeicdo ou desaprovacao da prépria experiéncia para uma posicao de aceitacao. Assim, a empatia constitui um in- grediente central na tentativa de entender como a terapia funciona. Quando 0 terapeuta mergulha no mundo do cliente para tentar en- tender como este 0 vé, colocando isso em pa- lavras e checando os seus entendimentos, essa atitude parece ser curativa. Por outro lado, Goldstein e Myers (1991) consideram que os niveis elevados de demons- tragao de empatia na relagao terapéutica po- dem ser vistos como uma condico necessaria, porém nao suficiente para a mudanga do clien- te. Beck e colaboradores (1982) consideram a empatia do terapeuta como fundamental para a alianga terapéutica, pois propicia a utiliza- cao de outras intervengoes para atingir um efei- to no tratamento. Ao tratar pacientes seriamente suicidas, Linehan (1997) aponta um conflito entre fo- calizar o tratamento na mudanca do cliente e focalizar o tratamento na empatia. A focaliza- Psicoterapias Cognitiva e Construtivista 285 a0 na mudanca costuma precipitar o ndo-cum- Primento, o retraimento e até mesmo o aban- dono do tratamento. A focalizacao na empatia costuma ser experimentada pelos pacientes como invalidante, por nao atendé-los na sua necessidade imediata de sair da incessante dor Presente. Como uma tentativa de solucionar esse conflito, Linehan desenvolveu uma estra- tégia de tratamento que integra seis tipos de validacdo, a qual é fortemente relacionada a empatia, com estratégias de mudanga que in- cluem varios procedimentos cognitivos e com- portamentais. Muitos estudos sao necessarios para es- clarecer 0 papel da empatia do terapeuta na mudanga do cliente. Dada a complexidade dos transtornos psicoldgicos existentes, a varieda- de do nivel de gravidade desses transtornos e as diferengas pessoais de cada cliente, é pro- vavel que cada caso solicite maior focalizagao na empatia ou na mudanga. CONSIDERAGOES FINAIS. 0 objetivo deste capitulo foi apresentar um estudo sistematizado da empatia, com os seus componentes cognitivos, afetivos e com- portamentais, além de fornecer informacées sobre os varios tipos de declaragées empaticas que ocorrem na interacao terapeuta-paciente. Espera-se que tenha contribuido, através das descrigdes e dos exemplos, para demonstrar como um terapeuta pode comportar-se de maneira empatica com o seu cliente. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ARGYLE, M. Bodily communication. 2. ed. New York: Methuen & Co., 1988. BARKHAM, M. Empathy in counselling and psychotherapy: present status and future directions. Counselling Psychology Quarterly, v.1, p.407-428, 1988. BARRETT-LENNARD, G.T, Listening. Person Centered Review, v.3, p.410-425, 1988, Z - The phases and focus of empathy. The British Psychological Society, p.3-13, 1993. 286 Cristiano Nabuco de Abreu, Miréia Roso & cols. _ The recovery of empathy-toward others ‘and self. In: BOHART, A.C.; GREENBERG, L.S. (ds.). Empathy reconsidered: new directions in psy- chotherapy. Washington, D.C.: American Psycholo- gical Association, 1997. BECK, A.T. etal. Terapia cognitiva da depressdo. Rio de Janeiro: Zahat, 1982. BOHART, A.C.; GREENBERG, L.S. Empathy and psychotherapy: an introductory overview. 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