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Oficina
Língua Portuguesa I

Autora
Profª. Márcia Arouca

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Oficina de Língua Portuguesa I

Sumário
Classe de Palavras
Processo de Formação de Palavras
Concordância
Sintaxe de Pronomes
Estrutura Sintática do Período Simples
Pontuação
Crase
Regência Verbal
Tipos de Discurso
Variações Linguísticas
Funções da Linguagem
Figuras de Linguagem
Intertextualidade
Dicas de Leitura
Saiba Mais
Referência

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Introdução
Caro Estudante,

Seja bem-vindo!
Esta oficina tem o objetivo de proporcionar o entendimento a respeito da origem do portu-
guês e as razões pelas quais é considerada uma língua tão complexa. Quando nos referimos à
Língua Portuguesa, é muito comum ouvirmos as pessoas dizerem que trata-se de uma língua muito
difícil. Entretanto, convidamos você a conhecer um pouco da história da Língua Portuguesa, a com-
preender os motivos que a tornam tão complexa e ao mesmo tempo encantadora.

Um pouco de História

No início da colonização portuguesa no Brasil, o tupi (conhecido também como tupinambá,


uma língua do litoral brasileiro da família tupi-guarani) foi utilizado como língua oficial na
colônia, ao lado do português. No entanto, em 1757 o tupi foi proibido devido a uma Provisão
Real e o português fixou-se como o idioma do Brasil, herdando várias influências indígenas
e africanas, devido à escravidão. Com a independência, em 1822, o português falado no
Brasil sofreu novas influências vindas dos imigrantes europeus, que se instalaram no centro
sul do país. Tal fato explica as variações de pronúncia e algumas mudanças superficiais de
léxico que existem entre as diferentes regiões do Brasil, que variam de acordo com o fluxo
migratório que cada uma recebeu. Por meio da análise da história é possível compreender
um pouco melhor a origem da complexidade da Língua Portuguesa.

Diante disso, considerando as variáveis existentes, a Oficina de Língua Portuguesa tem


como intuito aproximá-lo de um novo mundo linguístico, o mundo
acadêmico. Resgataremos tudo o que você estudou até hoje para
adentrarmos, progressivamente, ao léxico acadêmico. Iniciaremos
nossos estudos, analisando um vídeo produzido pela equipe da
Anhanguera, a respeito das diferentes formas de utilização da
linguagem. Perceba como a partir do mesmo tema, matéria sobre
enchente, podemos desenvolver diferentes textos, utilizando

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diversas linguagens para atrair públicos distintos. Esta é uma habilidade imprescindível para a sua
nova jornada no universo acadêmico.

CLASSE DE PALAVRAS

As classes de palavras são caracterizadas pelas palavras que usamos diariamente, sendo
divididas em dez classes gramaticais, a saber: artigo, substantivo, adjetivo, numeral, pronome,
verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Esta classificação depende, fundamental-
mente, das funções que elas exercem em uma oração.

Vejamos:

“Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, questões de alta transcedência...”

A oração acima é formada por diferentes palavras, que se dividem em classes distintas, entre
elas:

• Numeral: quatro, cinco.


• Substantivo: cavalheiros, noite, questões, transcendência.
• Artigo: uma.
• Conjunção: ou.
• Verbo: debatiam.
• Preposição: de.
• Adjetivo: alta.

Observe que algumas classes podem sofrer modificações em sua forma para indicar flexões
de gênero, número e grau. O substantivo cavalheiros, por exemplo, aparece flexionado no gênero
masculino e número plural. As classes que sofrem estas flexões são chamadas de variáveis:
substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome e verbo. As demais: advérbio, preposição,
conjunção e interjeição são invariáveis, pois não sofrem modificações.

Definições

Substantivo é a palavra que usamos para nomear seres, coisas e ideias.

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Os substantivos classificam-se em:

• Próprio: Maria, João, Brasil, Deus.

• Comum: menino, gato, colégio, rua.

• Concreto: Marcos, pedra, Terra, terra.

• Abstrato: amizade, ciúme, pensamento, fé.

• Simples: computador, caneta, carro, espelho.

• Composto: guarda-sol, fidalgo, passatempo, pedra-sabão.

• Primitivo: dente, café, pedra, flor.

• Derivado: dentadura, cafezal, pedreira, floricultura.

• Coletivo: cardume, exército, enxame, manada.


Esta classificação não significa que cada substantivo tenha apenas uma particularidade.

Exemplo:
• cachorro (comum, concreto, simples e primitivo).

Definições

Artigo é a palavra que antecede o substantivo para designá-lo de forma determinada (a, as,
o, os) ou indeterminada (um, uns, uma, umas).

Classificam-se em:

• Definidos: a, as, o, os.

• Indefinidos: um, uns, uma, umas.

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Esta classificação não significa que cada substantivo tenha apenas uma particularidade.

Exemplo: médico (comum, concreto, simples e primitivo).


1. Por favor, chamem um médico!
2. Por favor, chamem o médico!

Observe que, no primeiro exemplo, o substantivo médico não estava determinado,


impossibilitando o reconhecimento do médico, tratando-se apenas de um profissional qualquer.
Entretanto, o segundo exemplo deixa clara a especificação de um profissional determinado.

Adjetivo é a palavra que modifica o substantivo, expressando uma qualidade, estado ou


característica.

Dividem-se em:

1. Explicativo: quando indica qualidade essencial ou inerente ao ser.

• Pedra dura, água molhada, fogo quente.

2. Restritivo: quando expressa qualidade acidental ao ser.

• Lindo dia, colégio organizado, bebida forte.

Numeral é a palavra que exprime uma quantidade exata de seres, ou um ser em determinada
ordem, ou ainda fração, ou múltiplos.

Classificam-se em:

1. Cardinais: indicam uma quantidade determinada.

• Um aluno, dois reais, cem dólares, duzentos gramas.

2. Ordinais: indicam ordem ou posição.

• Primeiro avião, milésimo gol, décimo terceiro colocado.

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3. Multiplicativos: indicam multiplicação.

• O triplo do preço, o quíntuplo da sala, o dobro de vezes.

4. Fracionários: indicam uma fração.

• Dois quintos da sala, meio copo d’agua, um quarto da turma.

Definições

Os Pronomes são palavras que representam o ser ou a ele se referem, indicando-os apenas
como pessoas do discurso (1ª pessoa - emissor, 2ª pessoa - receptor ou 3ª pessoa - referente).

Classificam-se em:

1. Pessoais: indicam as pessoas gramaticais.

• Retos - eu, tu, ele, nós, vós, eles.

• Oblíquos - me, mim, comigo, te, ti, contigo, se, si, consigo, nos, conosco,
vos, convosco, o, os, a, as, lhe, lhes.

2. Possessivos: indicam posse.

1ª Pessoa: meu, minha, meus, minhas, nosso, nossa, nossos.

2ª Pessoa: te, tua, teus, tuas, vosso, vossa, vossos.

3ª Pessoa: seu, sua, seus, suas.

Observação: Popularmente, os pronomes possessivos de 2ª e 3ª pessoas se


confundem no uso diário.

Exemplo: Marcelo, onde está seu carro?

(2ª Pessoa) (3ª Pessoa)

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3. Demostrativo: indicam posição.

1ª Pessoa: este, esta, isto.

2º Pessoa: esse, essa, isso.

3º Pessoa: aquele, aquela, aquilo.

4. Interrogativos: são os indefinidos em frase interrogativas.

• Quem? Que? Quando? Qual?

5. Indefinidos: referem-se, de modo impreciso, à 3ª pessoa.

• Algum, alguém, ninguém, muito, nada, sicrano.

6. Relativos: referem-se a termos anteriores, o chamado “antecedente”.

• Que, Quem, O(s) qual, A(s) qual, Onde, Cujo(s)/a(s).

Definições

Preposição é a palavra que serve de conectivo, ou seja, une termos em uma oração,
estabelecendo inúmeras relações entre o antecedente (1º termo) e o consequente (2º termo).

Classificam-se em:

1. Essenciais: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para,
perante, por, sem, sob, sobre, trás. (são seguidas de pronome oblíquo).

2. Acidentais: como, conforme, afora, consoante, segundo, senão...(essas


preposições são palavras de outras classes gramaticais que, acidentalmente,
funcionam como preposições.

Exemplo: A casa de Paulo fica a duas quadras daqui. (observe como a


preposição de estabelece uma relação de posse do termo antecedente como
o termo consequente).

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Locuções prepositivas: conjunto de duas ou mais palavras, que tem o valor de uma
preposição. Geralmente se formam por advérbio + preposição.

Exemplo: acerca de, a fim de, antes de, devido a, através de.

Definições

Conjunções são palavras que ligam orações ou palavras equivalentes. Classificam-se em:

• Coordenativas: ligam termos oracionais ou orações sintaticamente equivalentes, ou seja,


de igual valor ou função.

1. Aditivas: e, nem.
Exemplo: Leonardo estuda e Carlos trabalha.

2. Alternativas: ou, ora...ora, já...já, quer...quer, etc.


Exemplo: Ou você faz a tarefa, ou vai tirar nota baixa na escola.

3. Adversativas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, etc.


Exemplo: Acabou-se o tempo das ressurreições, mas continua o das
insurreições.

4. Conclusivas: logo, portanto, por isso, pois (depois do verbo).


Exemplo: Penso, logo existo.

5. Explicativas: que, porque, porquanto, pois (antes do verbo).


Exemplo: Não vá ao clube, pois poderá chover.

• Subordinativas: ligam uma oração a outra que nela desempenha uma função sintática, ou
seja, ligam uma oração principal a uma oração que lhe é subordinada.

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1. Integrante: que, se, como.


Exemplo: Ninguém percebeu que ele viera.

2. Temporais: quando, enquanto, desde que.


Exemplo: Quando você foi embora, meu mundo caiu.

3. Proporcionais: quanto mais...mais, à proporção que, à medida que.


Exemplo: Quanto mais se peca, mais se afasta de Deus.

4. Finais: a fim de que, porque (= para que), para que.


Exemplo: Chegou em casa, a fim de que a pegasse no flagra.

5. Causais: porque, visto que, uma vez que.


Exemplo: Beatriz foi aprovada, porque estudava muito.

6. Condicionais: se, caso, a menos que.


Exemplo: Se não chover amanhã, iremos ao clube.

7. Concessivas: embora, mesmo que, conquanto, se bem que.


Exemplo: Embora fosse prolixo, não ultrapassou o tempo previsto.

8. Conformativas: conforme, segundo, como.


Exemplo: Ela estava me esperando na porta, conforme combinamos.

9. Comparativas: como, tal...qual, menos...do que.


Exemplo: A garota lutou como um leão.

Definições

Interjeição são palavras invariáveis que transmitem estados emotivos.

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Exemplo:
• Salve! Salve! (saudação)
• Ah! Como a chuva é bonita. (admiração)
• Coragem! (animação)

Locuções interjetivas: expressão formada por mais de um vocábulo, com valor de interjeição.

Exemplos:
• Horas bolas!
• Nossa Senhora!

Advérbio é a palavra que modifica um verbo, um adjetivo, outro advérbio ou uma oração
inteira. Classificam-se em:

1. Advérbios de lugar: aqui, ali, lá, acolá, abaixo, acima, cá, perto, longe etc.
Exemplo: Meus pais residiam aqui.

2. Advérbios de tempo: logo, agora, amanhã, depois, sempre, antes,


raramente etc.
Exemplo: Amanhã, chegaremos a praia.

3. Advérbios de modo: bem, mal, melhor, pior, depressa, devagar,


apressadamente etc.
Exemplo: Por que ages assim?

4. Advérbios de intensidade: menos, muito, pouco, bastante, tão,


completamente etc.
Exemplo: Aqueles homens são muito fortes.

5. Advérbios de dúvida: provavelmente, talvez, quiçá, acaso etc.


Exemplo: Provavelmente, eles sairão de madrugada.

6. Advérbios de afirmação: realmente, sim, deveras, positivamente,


incontestavelmente etc.
Exemplo: Efetivamente não aceitaremos desculpas.

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7. Advérbios de negação: não, jamais etc.


Exemplo: Não fomos convidados, porém comparecemos no evento.

8. Advérbios de interrogação: onde, donde, aonde, como, quando.


Exemplo: Quando foi que você chegou?

Observação: Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não sofrem flexões. Observe o
exemplo:

• Você viu como a professora esta meia nervosa?

A palavra em questão (meia) está modificando um adjetivo (nervosa), ou seja, é um advérbio,


deveria estar sem variação para o feminino.

• Você viu como a professora está meio nervosa?

Definições

Verbo é a palavra que exprime ação, estado ou fenômeno meteorológico.

Flexiona-se em:
• Modo – indicativo, subjuntivo e imperativo.
• Pessoa – primeira, segunda e terceira.
• Número – plural e singular.
• Tempo – presente, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais que perfeito, futuro
do presente e futuro do pretérito.
• Voz – ativa, passiva e reflexiva.

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Observe os exemplos:

1) “Uma Câmara corrupta e violenta conspirava contra os interesses de Sua


Majestade e do povo”.

Conspirava: verbo conspirar, 1ª ou 3ª pessoa do singular, pretérito imperfeito


do indicativo.

2) “Provavelmente, se não chovesse, iríamos ao parque”.

Chovesse: verbo chover, 3ª pessoa do singular, pretérito imperfeito do


subjuntivo.

Iríamos: verbo ir, 1ª pessoa do plural, futuro do pretérito do indicativo.

Modo prático para reconhecimento:

1. Modos verbais

• O modo indicativo expressa uma certeza.


Exemplo: Amei, jogarei, falava, contribuía, ri.

• O modo subjuntivo expressa uma possibilidade, uma dúvida ou hipótese.


Exemplo: se ele perdesse, que eu ame, quando ele fizer.

• O modo imperativo exprime uma vontade, um desejo, uma ordem.


Exemplo: faça, coma, diga, liguem.

2. Vozes verbais

• Na voz ativa o sujeito pratica a ação verbal.


Exemplo: O garoto quebrou a vidraça.

• Observe que o sujeito (garoto) pratica a ação verbal.

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• Na voz passiva o sujeito sofre a ação verbal.
Exemplo: A vidraça foi quebrada pelo garoto.

• Na voz reflexiva o sujeito pratica e ao mesmo tempo sofre a ação.


Exemplo: O garoto se cortou.

• O sujeito pratica a ação de cortar que recai sobre si próprio.

PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Os principais processos de formação de palavras, dentro da Língua Portuguesa, se formam


de duas formas:

1. Composição: criação de uma nova palavra por meio da união de dois ou mais radicais.

• Composição por justaposição: os radicais se juntam, sem ocorrer alteração fonética (mu-
dança de som).

Exemplos:

aguarda + chuva = guarda-chuva

a segunda + feira = segunda-feira

agira + sol = girassol

apassa + tempo = passatempo

apombo + correio = Pombo-correio

• Composição por aglutinação: os radicais se juntam ocorrendo alteração fonética.

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Exemplos:

aágua + ardente = aguardente

aem + boa + hora = embora

aoutra + hora = outrora

Observe: O que diferencia justaposição de aglutinação é o fato de ocorrer ou não altera-


ção fonética.

2. Derivação: formação de palavras novas a partir de uma palavra primitiva.

• Prefixal: quando se acrescenta um prefixo a palavra primitiva.


Exemplo: infeliz, repor, coexistir, desleal.

• Sufixal: quando se acrescenta um sufixo a palavra primitiva.


Exemplo: felizmente, dormitório, lealdade, laranjal.

• Parassintética: quando acrescentamos um prefixo e um sufixo simultâneos à palavra pri-


mitiva.
Exemplo: esfriar, amadurecer, empobrecer, desalmado.

• Regressiva: supressão de elementos terminais da palavra. Ocorre, geralmente, de um


verbo para um substantivo ou vice-versa.
Exemplo: vender – a venda, combater – o combate, comunista – comuna, chinês – China.

• Imprópria: alteração de classe morfológica.


Exemplos:
O cantar dos pássaros me fazia sonhar. (neste caso, cantar não tem função de verbo, mas
de substantivo).
O não é uma palavra difícil de aceitar. (neste caso, o não tem a função de substantivo).

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aPodemos encontrar também outros processos de formação de palavras, a saber:

• Abreviação: forma reduzida de certas palavras.


Exemplo: cinema (cinematógrafo), pneu (pneumático), quilo (quilograma).

• Onomatopeia: palavras que procuram reproduzir sons ou ruídos.


Exemplo: tique-taque, reco-reco, miau, pingue-pongue.

• Sigla: apresenta um caso especial de abreviatura (mas não deve ser confundida com abre-
viação) formada geralmente, com as iniciais que as representem.
Exemplos:
ONU – Organização das Nações Unidas.
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil.

• Hibridismo: palavras constituídas por elementos de línguas diferentes.


Exemplos:
buro + cracia (francês + grego).
auto + móvel (grego + latim).
goiá + beira (tupi + português).

CONCORDÂNCIA

De acordo com Mattoso Câmara (1974) “dá-se em gramática o nome de concordância à cir-
cunstância de um adjetivo variar em gênero e número de acordo com o substantivo a que se refere
(concordância nominal) e à de um verbo variar em número e pessoa de acordo com o seu sujeito
(concordância verbal)”, ou seja, a concordância se faz por meio da acomodação das palavras vari-
áveis ao gênero, número, caso ou pessoa da palavra regente.

1. Concordância nominal: adjetivo concorda com o substantivo em gênero (masculino e


feminino) e número (singular e plural).
Exemplo: Alunos responsáveis.

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Observe que o substantivo está no masculino plural, consequentemente o adjetivo também.

Exemplo: Mulher simpática chama a atenção.

Neste caso, o substantivo está no feminino singular e o adjetivo também. Cabe ressaltar que,
em alguns casos, esta concordância pode se modificar. Vejamos alguns exemplos:

• Adjetivo colocado à frente de dois ou mais substantivos: neste caso, o adjetivo vai para
o plural ou concorda com o mais próximo.
Exemplos:
Professor e diretora responsáveis.
Lápis e caneta quebrada.

Observação: Se os substantivos forem de gêneros diferentes, opte pelo masculino plural.


Exemplo: A junção do amarelo e o azul escuros formam a cor verde.

• Adjetivo antes de dois ou mais substantivos: concorda com o termo mais próximo.
Exemplo: Vi destruídos meus sonhos e planos.

• Adjetivo composto: só o último termo flexiona-se.


Exemplo:
Olhos castanho-claros.
Senadores democrata-cristãos.
Exceção para surdo-mudo, pois ambos variam.

• Adjetivo para cores: se a palavra que indica cor for um adjetivo, deverá concordar com o
termo a qual se refere, porém, se a palavra que indicar cor for um substantivo, permanecerá invari-
ável.
Exemplo:
Tapetes verde-musgo, saias amarelo-ouro.
Olhos verdes, calças vermelhas.

aObserve que para os adjetivos compostos segue a mesma regra.

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2. Concordância verbal: o verbo deve concordar com o sujeito em número e pessoa.

• Sujeito simples: o verbo concorda com o sujeito simples em pessoa e número.


Exemplo: Os estudantes fizeram as avaliações.

• Sujeito coletivo: o verbo fica no singular. Se vier seguido de expressão no plural pode ir
para o plural.
Exemplos:
O enxame atacou aquele garoto.
O enxame de abelhas atacou (ou atacaram) aquele garoto.

• Nome próprio plural: o verbo concorda com o artigo, se não houver artigo o verbo fica no
singular.
Exemplos:
O amazonas nasce nos Andes.
Os Lusíadas exaltam a grandeza do povo português.
Santos é uma das maiores cidades de São Paulo.

• Pronome de tratamento: o verbo fica sempre na 3ª pessoa (ele).


Exemplo: Vossa Alteza engrandece este ambiente.

• Ser
Exemplos:
Os estudos são o que vocês precisam.
Duzentos reais é pouco.
Amanhã é dia 29 de janeiro.
É meio dia e meia.
São 12 horas e trinta minutos.

SINTAXE DOS PRONOMES

A sintaxe de colocação se preocupa com a adequada distribuição das palavras em uma fra-

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se, a fim de se conseguir uma estrutura sem ambiguidades, ou seja, duplo sentido.
Quando montamos uma oração, a ordem dos termos pode variar de acordo com o estilo
literário.
Chamamos de ordem direta a composição:

Sujeito + verbo + complementos verbais + adjuntos adverbiais

• Observe o exemplo:
Os alunos estudam disciplinas complexas todos os sábados.

Neste exemplo, temos:


• Os alunos – sujeito
• estudam – verbo
• disciplinas complexas – complemento verbal
• todos os sábados – adjunto adverbial

1. Colocação dos pronomes

Para entendermos a colocação dos pronomes, primeiramente, devemos conhecer os prono-


mes que podem ser trabalhados em relação aos verbos. São os pronomes oblíquos átonos (me, te,
se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes).

aOs pronomes átonos podem ocupar três posições:

1.1 Próclise: antes do verbo.


Exemplo: Não se sabia o motivo de tanta amargura.

aSituações em que ocorre Próclise:

a) Com palavras ou expressões negativas: não, nunca, jamais, nada, ninguém, nem, de
modo algum.
Exemplo: Não se mexa, senão ela pode te picar.

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b) Advérbios
Exemplo: Aqui se vive com sacrifício, mas em paz.

Observe se houver vírgula depois do advérbio, este (o advérbio) deixa de atrair o pronome.

Exemplo: Aqui, vive-se com sacrifício, mas em paz.

c) Em frases interrogativas.
Exemplo: Quando a viu pela ultima vez?

d) Em frases exclamativas ou que exprimem desejo.


Exemplo: Deus o abençoe!

e) Com verbo no gerúndio antecedido de preposição em.


Exemplo: Em se tratando dela, tudo é possível.

f) Com verbos proparoxítonos (que não estejam no futuro do indicativo).


Exemplo: Nós o censurávamos.

1.2 Mesóclise: no meio do verbo.


Exemplo: Dir-te-ia palavras dóceis.

aSituação em que ocorre Mesóclise:

a) Com verbos no futuro do presente e futuro do pretérito, sem que haja fator de próclise.
Exemplos:
Chegar-se-ia cedo para a festa.
Chegar-se-ão cedo para a festa.

1.3 Ênclise: depois do verbo.


Exemplo: O atacante esqueceu-se de como balançar a rede.

aCasos em que ocorre ênclise

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a) Com o verbo no início da frase.
Exemplo: Colocou-se a disposição da justiça.

b) Com verbos no gerúndio não precedido de preposição em.


Exemplo: Saiu deixando-nos por instantes.

c) Com o verbo no infinitivo impessoal.


Exemplo: Seria de bom tom contar-lhe tudo.

ESTRUTURA SINTÁTICA DO PERÍODO SIMPLES

Para entender a estrutura de uma frase devemos, primeiramente, distinguir as diferenças


entre expressões que, coloquialmente, são utilizadas de forma inadequada.

1. Frase: qualquer enunciado com sentido completo.


Exemplos:
a) Socorro!
b) Bom dia.
c) Rua!
d) Fogo!

2. Oração: frase ou parte de uma frase que se estrutura em torno de um verbo ou de uma
locução verbal. Geralmente, é composta de dois elementos básicos: o sujeito e o predicado.

Exemplos:
a) O aparecimento de “Grande Sertão: Veredas” causou enorme impacto.
b) “Minha terra tem palmeiras”.
c) “As palavras de Atanagildo vibraram no coração”.

Observe que em todos os exemplos temos um termo verbal, o que permite definí-las como
oração.

3. Período: é a frase que se estrutura em torno de uma ou mais orações. Pode ser:

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3.1 Simples: contendo apenas um núcleo verbal (chamada oração absoluta)
Exemplo: A equipe brasileira de futebol desembarcou em Londres.

3.2 Composto: contendo dois ou mais núcleos verbais. Dividem-se em:

a) Por coordenação: contém orações independentes, que podem ser separadas em perío-
dos simples, sem que haja perda de sentido. Este período se divide em:

aSindético: com conjunções interligando as orações.


Exemplo: Aquele garoto dança e canta como ninguém.

De acordo com o exemplo, temos:

• 1ª oração: Aquele garoto dança.


• 2ª oração: canta como ninguém.

Observe como utilizamos uma conjunção (e) entre as orações.

aAssindético: sem conjunções interligando as orações.


Exemplo: Vim, vi, venci.

De acordo com o exemplo:


• 1ª oração: Vim
• 2ª oração: vi
• 3ª oração: venci

Observe que entre as orações não há conjunções apenas vírgulas.

b) Por subordinação: contêm orações que exercem uma função sintática em relação a ou-
tras orações, estas orações são chamadas principais.

Classificam-se em:

aSubstantivas: Subjetiva, Objetiva direta, Objetiva indireta, Predicativa, Completiva Nomi-

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nal e Apositiva.
Todas as orações subordinadas substantivas podem ser trocadas por isso, disso ou nisso.

Observe esse exemplo:

É importante que faças os exercícios - É importante isso (subjetiva)

1ª oração: É importante

2ª oração: que faças os exercícios. (oração subordinada substantiva


subjetiva).

aAdjetivas, e podem ser: Explicativas e Restritivas.

aAdverbiais, e podem ser: Causais, Finais, Temporais, Condicionais, Concessivas, Com-


parativas, Conformativas, Consecutivas e Proporcionais.

PONTUAÇÃO

Segundo pontuações de Bechara, “entendemos pontuação um ‘sistema de reforço da escri-


ta’, constituído de sinais sintáticos, destinados a organizar as relações e a proporção das partes
do discurso e das pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as funções da
sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas” (Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portu-
guesa, p. 604).

As definições acima permitem entender que a pontuação tem por finalidade assinalar as
pausas e as entonações na leitura, separar palavras, expressões e orações que precisam ser des-
tacadas - e fazer esclarecimentos a respeito de algo que se escreveu.

1. Vírgula: basicamente, podemos identificar o uso da vírgula nos seguintes casos:

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• Separar o aposto
Exemplo: Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro, é um dos mais consagrados es-
critores da poesia mundial.

• Separar o vocativo
Exemplo: Senhor professor, por que me persegues?

• Nas datas
Exemplo: Ribeirão Preto, 06 de setembro de 1973.

• Separar expressões explicativas


Exemplo: O uso das vírgulas não é algo complicado, isto é, necessita-se de compreensão.

• Advérbio deslocado
Exemplo: Naquela manhã de primavera, conheci a verdadeira razão de viver.

• Separar elementos de mesma função sintática:


Exemplo: Aquela luz era para mim meu refúgio, fortaleza, socorro e esperança.

Observação: Constitui erro grave colocar vírgulas entre sujeito e verbo, e verbos e seus
complementos.

Exemplos:
O professor, mandou chamar seus alunos.
Naquela província, todos amavam, o crepúsculo.

2. Ponto e vírgula

Utilizamos para diferenciar o uso de uma vírgula e para salientar uma pausa maior.

Exemplo: “D.Evarista fazia esforços para aderir a esta opinião do marido; mas, ainda des-
contando três quartas partes...”.

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3. Dois pontos

Anunciam uma citação, ou uma enumeração, ou um esclarecimento, ou uma síntese do que


se acabou de dizer.

Exemplos:
a) “Vilela não respondeu: tinha as feições decompostas...”.
b) O aluno foi para a excursão levando: dinheiro, uma sacola, cartão de crédito, e muita von-
tade.

4. Reticências

Usamos para interromper um pensamento.

Exemplo: “O alienista mal podia dissimular o assombro; confessou que esperava outra cou-
sa, o arrasamento do hospício, a prisão dele, o desterro, tudo, menos...”.

5. Aspas

Utilizamos para destacar termos estrangeiros, gírias; identificar termos de outro autor; real-
çar nomes de obras e autores.

Exemplos:
a) Meu livro favorito é: “Dom Casmurro”.
b) “A casa caiu” para aquela quadrilha.

6. Travessão

Utilizamos para substituir as vírgulas, para iniciar discurso direto e substituir os parênteses.

Exemplos:
a) - Onde você mora?
b) Um domingo – nunca esqueceu esse domingo – passeava pelo campo e encontrou-a.

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CRASE

Crase é a fusão ou contração de duas vogais idênticas. Representa-se graficamente a crase


pelo acento grave. ( ` ).

Para a sua utilização deve-se, primeiramente, entender o que significa esta fusão:

É necessário haver:
a) um termo que exija a preposição a.
b) outro termo que aceite o artigo a.

Exemplo: Fizeram referências à filha do governador.

Observe que o termo “referência” exige uma preposição (a) e o termo “filha” exige o artigo
(a). Desta forma fundimos as duas vogais. (a + a = à)

Para termos certeza de que o “a” aparece repetido, basta utilizarmos alguns artifícios:

• Substitua a palavra feminina por uma masculina correspondente. Se aparecer ao ou aos


diante de palavras masculinas, é porque ocorre a crase.

Exemplos:

Dirigiram-se à escola.

Dirigiram-se ao colégio.

Respondi às questões.

Respondi aos questionários.

• Substitua o a por para ou para a. Se aparecer para a, ocorre a crase:

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Exemplos:

Enviarei uma carta a você.

Enviarei uma carta para você.

Fui à França.

Fui para a França.


• Substitua o verbo ir pelo verbo voltar. Se aparecer a expressão voltar da, é porque ocorre
a crase.

Exemplos:

Iríamos a São Paulo.

Voltaríamos de São Paulo.

• Não ocorre a Crase

a) Antes de palavras masculinas.


Exemplo: Aquele homem não gostava de andar a cavalo.

b) Antes de pronomes.
Exemplo: O dinheiro pertencia a ela.

c) Antes de verbos no infinitivo.


Exemplo: O comércio abrirá a partir de sábado.

d) Com expressões repetidas.


Exemplo: Dia a dia o mundo ia desabando sobre minha cabeça.

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e) Quando o “a” vem antes de uma palavra no plural:
Exemplo: Queda da Bovespa causa temor a empresárias.

f) Antes de pronomes de tratamento, exceção feita a senhora, senhorita, dona e madame.


Exemplo:
Dirigiu-se a Vossa Excelência com muita cordialidade.
A correspondência é endereçada à madame.

• Crase facultativa

a) Antes de nomes próprios de pessoas femininos.


Exemplo: Refiro-me à (a) Marina.

b) Antes de pronomes possessivos femininos.


Exemplo: Dirija-se à (a) sua comarca.

c) Depois da preposição até:


Exemplo: Fui até à (a) lanchonete da escola.

• Casos particulares

a) Quando a palavra casa é empregada no sentido de lar e não vem determinada por ne-
nhum adjunto adnominal (especificador), não ocorre a crase.

Exemplos:
Cheguei a casa para averiguar os danos.
Voltei à casa de meus pais.

b) Quando a palavra terra for utilizada para designar chão firme, não ocorre crase.

Exemplos:
Os piratas chegaram a terra para buscar as riquezas.
Fui à terra de meus antepassados.

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Observações complementares:

a) Nas indicações do número de horas. Se a hora vier determinada, ocorre crase.


Exemplo: Chegaremos a São João às nove horas.

b) Se a hora não estiver determinada não ocorre a crase.


Exemplo: Chegaremos a São João daqui a uma hora.

c) Na expressão à moda de, mesmo que a palavra moda venha oculta:


Exemplo: Jantamos um bife à (moda) parmegiana.

d) A palavra distância só admite artigo quando estiver especificada.


Exemplos:
Fique a distância.
Minha casa fica à distância de 2 km daqui.

REGÊNCIA VERBAL

Trata-se das relações de dependências entre termos da oração (termos regentes e termos
regidos). Chamamos regentes aos termos que precisam de complementos e de regidos aos termos
que completam o sentido do primeiro (Objetos).

É importante conhecer os termos:

aRegentes – Verbos
aRegidos – Complementos = Objetos
aVTD – verbo transitivo direto
aVTI – verbo transitivo indireto
aVI – verbo intransitivo
aVTDI – verbo transitivo direto e indireto
aOD – objeto direto
aOI – objeto indireto

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Atente para a diferença entre complemento nominal e objeto indireto.

Lembre-se de que:
• Objeto indireto completa o sentido de um verbo.
• Complemento nominal completa o sentido de um nome (substantivo e adjetivo).

Veja o exemplo:
Enviei uma carta para minha amada.

Neste exemplo, temos:


• Regente: enviei (verbo)
• Regido: uma carta (objeto)

Observe que o verbo enviar necessita de um completo (regente), que neste caso é uma carta
(regido).

Observe o próximo exemplo:


Tenho medo de escuro.

Neste caso, “de escuro” completa o sentido do substantivo “medo”. Temos então:
• Regente: medo (substantivo)
• Regido: de escuro (complemento nominal)

No português, as relações entre verbos e seus complementos variam de acordo com cada
verbo, pois alguns complementos virão preposicionados, sendo fundamental conhecer a transitivi-
dade verbal. Observe os tipos de verbos:

a) Verbos transitivos diretos: são verbos que necessitam de complementos, e estes se


ligam diretamente a eles, ou seja, não há preposição.

Exemplos:
“O alferes eliminou o homem”.
Maria amava a arte como ninguém.

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Observe que os termos que completam os verbos não vêm regidos de preposição.

b) Verbos transitivos indiretos: são verbos que necessitam de complementos, e estes vêm
preposicionados.
Exemplos:
As garotas gostavam de suas férias.
O ministro foi ao palácio do planalto.

Observe que os termos que completam os verbos vêm regidos de preposição (de, a). Neste
exemplo há uma combinação de uma preposição mais um artigo (ao).

c) Verbos transitivos diretos e indiretos: são verbos que admitem duas construções, uma
transitiva direta, outra indireta.
Exemplos: Os funcionários receberam o pagamento de seus patrões.

Observe que este exemplo traz dois complementos: o pagamento (sem preposição) e de
seus patrões (com preposição).

d) Verbos intransitivos: estes verbos não necessitam de complementos.


Exemplo: Todo ser humano ama.

e) Caso estes verbos venham seguidos de expressão complementar, esta não será comple-
mento verbal, e sim, adjuntos adverbiais.
Exemplo: Cheguei a esta casa numa primavera.

Neste exemplo, “a esta casa numa primavera”: adjunto adverbial de lugar e tempo.

Regência de alguns verbos

• Assistir

a) No sentido de ver (VTI).


Exemplo: Assistimos ao espetáculo em pé.

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b) No sentido de cuidar (VTD).
Exemplo: Os médicos assistem os pacientes.

c) No sentido de morar (VI)


Exemplo: Meus sobrinhos assistem em São João.

• Aspirar

a) No sentido de respirar (VTD).


Exemplo: Nós aspiramos um ar puro.

b) No sentido de desejar (VTI).


Exemplo: Os estudantes aspiram a uma carreira de sucesso.

• Visar

a) No sentido de apontar (VTD)


Exemplo: Visei o centro do alvo.

b) No sentido de objetivar (VTI)


Exemplo: Com meus estudos, eu viso a um cargo melhor.

Há verbos que admitem mais de uma regência.

• Casar

Exemplos:
VTD – Minha prima não quer se casar antes dos trinta.
VTI – Não encontro uma pessoa para se casar com minha filha.

• Lembrar

Exemplos:
VTD – Lembrei o seu nome.

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VTI – Lembrei-me do seu nome.

• Chamar

Exemplos:
VTD – Minha mãe chamou a polícia.
VTI – Meus filhos chamavam por mim.

TIPOS DE DISCURSO

Discursos são as normas textuais que utilizamos para nos referir, no enunciado, às palavras
ou pensamentos do nosso interlocutor. Na prática se trata da fala em um texto.

Os discursos se dividem em três tipos:

1. Discursos direto: é a reprodução fiel e textual dos diálogos da personagem. Geralmente,


os discursos diretos aparecem antecedidos por travessão ou aspas.

Exemplos:
Que é que você tem?
Não tenho nada.
Nada? Parece que está dormindo!

2. Discurso indireto: neste discurso, o narrador exprime indiretamente a fala das persona-
gens. O narrador se coloca como um ouvinte e retrata as falas de maneira indireta. Como trata-se
de uma reprodução, há necessidade de mostrar o diálogo, sendo indispensável a presença de ver-
bos de elocução (verbos que usamos para introduzir diálogos – falar, responder, dizer etc).

Exemplo:
Leonardo disse que não sairia de casa.

Observe que, neste discurso, o narrador reproduz a fala da personagem por meio de um

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verbo de elocução (dizer). Se transportamos para o discurso direto, teremos:

- Não sairei dessa Casa! Disse Leonardo.

Neste discurso, o uso do verbo de elocução é facultativo.

3. Discurso indireto livre: este é uma mescla dos outros dois discursos. É considerado o
mais complicado, pois o narrador reproduz as falas como se ele próprio estivesse falando.

Exemplo:
Carolina já não sabia o que fazer. Estava desesperada, com a fome encarrapitada.
Que fome! Que faço? Mas parecia que uma luz existia…

Observe que o discurso indireto livre (trecho em negrito) reproduz a fala da personagem,
porém não se encontra pontuação, ou seja, travessão ou aspas, tampouco verbos declarativos.

uTransposição de discurso

Para se transpor o discurso direto para o indireto, deve-se observar as seguintes modifica-
ções junto aos verbos:

Presente Pretérito Imperfeito


O professor disse: O professor disse que iria.
- Eu vou.

Pretérito Perfeito Pretérito mais que perfeito


- Por que você não jantou ontem? Perguntou-lhe por que não jantara ontem.

Futuro do presente Futuro do pretérito


- Não iriei à casa de papai! Joana argumentou que não iria à casa de
Argumentou Joana. seu pai.

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Imperativo Pretérito do subjuntivo


Marina, áspera, gritou: Marina, áspera, gritou para que saísse de
- Saia da minha frente! sua frente.

Observe como na transposição de discurso os verbos de elocução não mudam de tempo,


somente os verbos dos discursos é que se modificam.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Não podemos confundir a fala com a escrita. Apesar de haver correlações, o ato de escrever
é muito diferente do ato de falar. E a grande diferença reside, essencialmente, no fato do interlo-
cutor estar presente na hora da fala e ausente no momento em que escrevemos. Quando falamos,
qualquer problema na interpretação ou compreensão pode ser imediatamente retomado e solucio-
nado por meio de uma interrupção de quem nos ouça; além do que, quando conversamos ou somos
ouvidos, outros componentes da “fala” formam um ambiente propício: gestos, expressões faciais,
tons de voz que completam, modificam, reforçam o que dizemos.

Na fala também podem acontecer variações de pronúncia, vocabulário e gramática, pois


cada região determina a sua língua. Cabe salientar que as variações linguísticas não ocorrem so-
mente em regiões diferentes, pois numa determinada região existe também as variações dialetais
etárias, sociais, referentes ao sexo masculino e feminino e estilístico.

Veja outro exemplo:

RIO DE JANEIRO — Em 1973, fui trabalhar numa revista brasileira editada em Lisboa. Logo
no primeiro dia, tive uma amostra das deliciosas diferenças que nos separavam, a nós e aos
portugueses, em matéria de língua. Houve um problema no banheiro da redação e eu disse à
secretária: “Isabel, por favor, chame o bombeiro para consertar a descarga da privada.” Isabel
franziu a testa e só entendeu as quatro primeiras palavras. Pelo visto, eu estava lhe pedindo
que chamasse a Banda do Corpo de Bombeiros para dar um concerto particular que mar-
chasse dobrado na redação. Por sorte, um colega brasileiro, em Lisboa havia algum tempo

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e já escolado nos meandros da língua, traduziu o recado: “Isabel, chame o canalizador para
reparar o autoclismo da retrete.” E só então o belo rosto de Isabel se iluminou. (Ruy Castro,
Folha de S.Paulo).

Este exemplo mostra como a língua portuguesa não é uma entidade homogênea, monolí-
tica. É, na verdade, uma abstração, pois ela abarca toda uma série de variantes, que constituem
manifestações ou realizações concretas de si mesma. Esta abstração é um bom exemplo do que
chamamos variantes linguísticas. Empregamos vocábulos diferentes, em diversos lugares, para
designar a mesma realidade, não se tratando de um equívoco linguístico, pelo contrário, é manifes-
tação criativa do ser humano.

Podemos enumerar diversas variações linguísticas, vejamos algumas delas:

aPopular
aSertanejo
aRural
aFormal
aInformal
aRegional

Há certa dificuldade de entendimento ou de aceitação de formas alternativas. Entretanto, a


realidade nos ensina que há variantes linguísticas válidas e, em razão disso, a compreensão de
uma língua não deve-se pautar em “certo ou errado”, mas “adequado ou inadequado” dependendo
da situação.

FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Primeiramente, para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário o


estudo dos elementos da comunicação. São eles:

1. Emissor: envia uma mensagem.


2. Receptor: recebe a mensagem.
3. Mensagem: conteúdo transmitido pelo emissor.

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4. Código: conjunto de signos usado na transmissão e recepção da mensagem.
5. Referente: contexto relacionado a emissor e receptor.
6. Canal: meio pelo qual circula a mensagem.

Funções da linguagem

1. Função emotiva (ou expressiva)


Centralizada no emissor, revelando sua opinião, sua emoção. Quando há ênfase no emissor
(1ª pessoa do singular). Ela apresenta marcas subjetivas de quem fala.

Exemplo:
“Sentia um medo horrível e ao mesmo tempo desejava que um grito me anunciasse qualquer
acontecimento extraordinário”.

2. Função referencial (ou denotativa)


Centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer informações da realidade. Ob-
jetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular. Certamente a mais comum e mais
utilizada no dia a dia.

Exemplo:
“Seleção brasileira derrota japonesa”.

3. Função apelativa (ou conativa)


Centraliza-se no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do receptor, bus-
cando mobilizar a sua atenção. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de vocativo
e imperativo. Usada comumente nas propagandas, pois se dirigem diretamente ao consumidor.

Exemplos:
“Faz um 21.”
“Vem pra Caixa você também.”

4. Função fática
Centralizada no canal, tendo como objetivo manter a conexão entre os falantes. Linguagem

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das falas telefônicas, saudações.

Exemplos:
Alô!
“Um, dois, testando...”

5. Função poética
Centralizada na mensagem, valoriza a parte estética, ou seja, uso de palavras figuradas,
combinações em rimas e metáforas. Encontramos esta função em textos poéticos, na música, no
teatro, na pintura etc.

Exemplo:
“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
(Fernando Pessoa)

6. Função metalinguística
Centralizada no código, visa à tradução do código por meio do próprio código. Encontramos
esta função em produções de textos que se valem do próprio texto para se elaborar. Os dicionários
são metalinguísticos por excelência.

Exemplo:
Amor: substantivo masculino, sentimento que induz a aproximar.

Neste exemplo, observe que há explicação de uma palavra, por meio de outras palavras.

É importante ressaltar que um mesmo texto podem aparecer várias funções


da linguagem. Deve-se identificar qual a função que predomina no texto, para
então defini-lo.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Quando elaboramos um texto, utilizamos um estilo inconscientemente, ou seja, empregamos


palavras que mais se adaptam ao texto redigido. A principal maneira de valorizar um texto é utilizar
um recurso que enriqueça seu estilo e, para isso, se valem as figuras de palavras. Elas revelam
muito da sensibilidade de quem as produz, traduzindo particularidades estilísticas do autor. A pala-
vra empregada em sentido figurado, não denotativo, passa a pertencer a outro campo de significa-
ção, mais amplo e criativo.

Por esse motivo, quando um texto está bem redigido, não significa, necessariamente, que
esteja bem escrito, mas que a escolha das palavras foi adequada. As figuras de linguagem classifi-
cam-se em:

1. Figuras de palavras

a) Comparação: é a aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por co-
nectivos comparativos.

Exemplo:
“Meu pensamento é como um rio subterrâneo.”

b) Metáfora: é o emprego de um termo com significado diferente do habitual, com base


numa relação de semelhança entre o sentido próprio e o sentido figurado.

Exemplo:
“O amor é fogo...”.

c) Metonímia: é a substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas alguma
semelhança. É conhecida como a parte pelo todo, ou seja, utiliza-se uma palavra que submeta ao
todo.

Exemplo:
Por favor, devolva-me o Neruda!

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d) Catacrese: é uma metáfora desgastada, em que o uso desta expressão já faz parte do
vocabulário.

Exemplos:
manga da camisa.
céu da boca.

e) Sinestesia: é a fusão de sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.

Exemplo:
Olhe esse aroma.

Neste exemplo, observe que utiliza-se olhar em lugar de sentir.

f) Antonomásia: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com
facilidade.

Exemplos:
Pelé foi o maior artilheiro do Brasil.
Pelé – Edson Arantes do Nascimento.

g) Alegoria: é o conjunto de metáforas.

Exemplo:
“A vida é uma opera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos
comprimários...”. (Machado de Assis)

2. Figuras de pensamento

a) Antítese: é a aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido.

Exemplo:
“Os jardins têm vida e morte.”

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b) Hipérbole: é a exagero de uma ideia com finalidade enfática.

Exemplo:
“Chorei rios de lágrimas.”

c) Paradoxo: é a aproximação de ideias contrárias.

Exemplo:
“O amor é fogo que arde sem se ver.”

d) Ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com
isso, efeito crítico ou humorístico.

Exemplo:
“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.”

e) Prosopopeia: consiste em atribuir características humanas a seres e coisas inanimados.


Também chamada de personificação.

Exemplo:
Cuidado, as paredes tem ouvidos.

f) Gradação: ocorre gradação quando há uma sequência de palavras que intensificam uma
mesma ideia.

Exemplo:
“Um coração chagado de desejos, latejando, batendo, restrugindo”.

g) Apostrofe: é um chamamento, corresponde ao vocativo na análise sintática.

Exemplo:
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!”

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3. Figura de sintaxe

a) Elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto.

Exemplo:
“Morremos dia a dia.”
- Elipse do pronome (nós)

b) Hipérbato: é a inversão de termos sintáticos dentro de uma oração.

Exemplo:
“Naquela manhã, brincavam as crianças no parque”.

c) Zeugma: consiste na omissão de um termo já aparente.

Exemplo:
“Rubião fez um gesto, Palha outro; mas quão diferentes.” (fez)

d) Silepse: consiste na concordância ideológica, ou seja, a concordância não se dá com a


palavra, mas sim, com a ideia. A silepse pode ser:

aDe gênero
Exemplo:
Vossa Excelência está preocupado.

a De número
Exemplo:
“Corria gente de todos lados, e gritavam”.

aDe pessoa
Exemplo:
“A gente somos inútil”.

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e) Pleonasmo: é a repetição da mesma ideia cuja finalidade é reforçar a mensagem.

Exemplo:
“Ó mar salgado...”.

f) Polissíndeto: é a repetição de conjunções.

Exemplo:
E ria, e dançava, e pulava, e não se cansava.

4. Figuras de harmonia

a) Aliteração: é a repetição da mesma consoante.

Exemplo:
“Da noite a tarde e a taciturna trova soluça...”

b) Assonância: é a repetição ordenada de sons vocálicos idênticos.

Exemplo:
“Sou Ana, da cama
da cana, fulana
sou Ana de Amsterdam”
(Chico Buarque)

c) Onomatopeia: ocorre quando uma palavra imita um ruído ou som.

Exemplos:
Tic-tac! – relógio.
Atchim! – espirro.
Miau! – miado.

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INTERTEXTUALIDADE

A intertextualidade pode ser definida como um “diálogo” entre textos. Esse diálogo presupõe
um amplo e complexo universo cultural, que implica a identificação e o reconhecimento de remis-
sões a obras ou a trechos mais ou menos conhecidos. A intertextualidade pode ter funções diferen-
tes, que dependem dos textos, contextos em que está inserida.

Na prática acontece quando há uma referência explícita ou implícita de um texto em outro.

Exemplo:
Texto Original

“Minha terra tem palmeiras


Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá”.
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”)

aAgora observe o texto de Carlos Drummond de Andrade:

“Meus olhos brasileiros se fecham saudosos


Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’,
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
Onde cata o sabiá!”.
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”).

O poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o texto primitivo, conservando suas ideias.
Não há mudança do sentido principal do texto, que é a saudade da terra natal.

Além de textos, a intertextualidade pode ocorrer em outras formas literárias, como na músi-
ca, pintura, filme, novela etc. Basta que uma obra faça alusão à outra.

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Entretanto, para compreender a presença deste mecanismo em um texto, é necessário que
a pessoa detenha uma experiência de mundo e um nível cultural significativo. (www.infoescola.com)

Dicas de Leitura

O Guardador de Rebanhos
O Guardador de Rebanhos é um poema constituído por 49 textos escritos pelo
heterônimo Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, em 1914. Fernando Pessoa atribuiu
sua gêneses a uma única noite de insônia de Caeiro.

A Metamorfose
A Metamorfose (Die Verwandlung, em alemão), é um conto escrito por Franz Kafka,
publicado pela primeira vez em 1915. No livro, o personagem Gregor Samsa, um
caixeiro viajante, possui preocupações que passam por: pensamentos práticos,
relacionados a sua metamorfose, bem como conflitos psicológicos e sentimentais.

Iracema
Iracema (ou Iracema, lenda do Ceará) é um romance da literatura romântica bra-
sileira, publicado em 1865, escrito por José de alencar. O romance conta, de forma
poética, o amor quase impossível entre um branco, Martim Soares Moreno, pela
índia Iracema, a virgem dos lábios de mel e de cabelos mais negros que a asa da
graúna. Explica, poeticamente, as origens da terra natal do autor, o Ceará.

O Alienista
Machado de Assis retrata por meio da obsessão científica do Dr. Simão Baca-
marte e de suas consequências para a vida de Itaguaí, a crítica a importação
insdiscriminada de teorias deterministas e positivistas em nosso país.

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O Crime do Padre Amaro
O Crime do Padre Amaro é uma das obras do escritor português Eça de Quei-
rós mais difundidas por todo o mundo. Trata-se de uma obra polêmica, que
causou protestos da Igreja Católica ao ser publicada, em 1875, em Portugal.
Trata do romance entre Amaro e a jovem Amélia, que surge num ambiente em
que o próprio papel da religião é alvo de grandes discussões e a moralidade de
cada um é posta à prova. Enquanto a trágica história de amor se desenvolve,
personagens secundários travam instigantes debates sobre o papel da fé.

Saiba Mais

Assista aos vídeos a seguir e amplie seu conhecimento.

Clique na imagem, acesse o link e descubra, sem preciosismos, as dificuldades linguísticas que
enfrentamos ao falar o nosso idioma. (Professor Pasquale).

Tire dúvidas como:


• Quando usar Porque, Por que, Porquê ou Por quê.
• O lobo é mau ou mal?

Referência
CÂMARA JR., J. Mattoso. Dicionário de filologia e gramática referente à língua portuguesa. 5.ed. refundida e aumentada. Rio de Janeiro: J.Ozon,1974.

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