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ACESSIBILIDADE: O DESAFIO EM BLUMENAU

José Erigutemberg Meneses de Lima*

A população total de Blumenau (SC), segundo dados do IBGE, para o ano de


2014, era de 334.002 habitantes, sendo o terceiro município mais populoso do estado.
Com esta população a cidade teria condição de oferecer estruturas físicas e realidades de
comunicação adequadas capazes de suprir as barreiras que impedem o direito de ir e vir
das pessoas com deficiência, pessoa com necessidades especiais ou que tenham
limitação física? Será que o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência (COMPED), cujo objetivo é cobrar a efetividade das políticas públicas
voltadas a este segmento da população, teria condições de assegurar o acesso a espaços
de uso público ou coletivo, ao livre trânsito nos logradouros, ao uso de mobiliários
públicos e utilização de prédios e equipamentos de uso comunitário às pessoas com
deficiência? E o município com recursos limitados poderia arcar com os elevados custos
da transformação da teia viária da cidade? E se houvesse o Brasil poderia oferecer
exemplo para nortear as práticas a serem adotadas?

Foram estas as questões principais que me levaram a concorrer ao cargo de


representante da Ordem dos Advogados do Brasil, Subseção de Blumenau (SC) no
COMPED, sendo o que se pretende discutir, no artigo.

Pois bem. Ao longo dos anos Blumenau vem se destacando pelo culto às
tradições tecnológicas e humanísticas voltadas em última instância à melhoria da
qualidade de vida de seu povo. E hoje, em pleno século XXI, pela capacidade de
empreendedorismo e cultura do povo merece a nosso ver ser reconhecida também como
a cidade do desenvolvimento social e do compromisso com o bem-estar da população
em geral. E, sobretudo da população excluída formada por pessoas com deficiência.
Não é mesmo?

Esse é o que se deseja, e que vai ser transformado em nossa missão durante a
vigência do mandato de confiança a mim conferido.
Preambularmente, para se questionar e exigir a adoção de políticas públicas o
primeiro passo é conhecer, mediante levantamento de informações econômico-sociais,
as pessoas com deficiência e a partir daí propor projetos que dotem a cidade de
estruturas físicas adequadas à inclusão. Por este prisma, e ainda de acordo com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vivem, em Santa Catarina,
aproximadamente dois milhões de pessoas com algum tipo de carência, inscritas em
quatro grandes grupos de deficiências: visual, motora, de cognição e auditiva. Os
principais tipos de deficiência existentes são a motora, visual, auditiva e intelectual. Em
números de 2010, disponibilizados pelo IBGE, o município de Blumenau conta 7.757
pessoas com deficiência visual. A deficiência motora acomete 5.880 pessoas, seguida
das deficiências auditiva e intelectual com pouco mais de 3 mil habitantes.

Como incluir esse contingente de pessoas é desafio hercúleo. Nem resta dúvida e
tampouco se desconhece as dificuldades do enfrentamento. Isto porque, em Blumenau
são muitos os obstáculos que permanecem e devem ser superados para garantir o fim de
barreiras físicas, de comunicação e de preconceito contra o portador de limitações.
Embora algumas leis federais, estaduais e municipais promovam a acessibilidade não há
efetividade dos comandos legislativos. A vontade do legislador é ignorada e os
destinatários permanecem sem condições de usufruir dos encantos e das oportunidades
que a cidade oferece aos residentes e visitantes. Como os deficientes visuais, auditivos e
motores podem se deslocar, mesmo no centro da cidade, sem correr riscos de cair em
buracos nas calçadas, de serem atropelados ao atravessar as ruas entulhadas de carros,
de acessar prédios públicos em busca de oportunidade de trabalho e de direitos? E até
mesmo de ingressar em seus prédios residenciais que não têm rampas de acesso e os
elevadores não são adequados. E isso tudo acontecendo, mesmo que seja dever do
município o fornecimento de infraestrutura urbana que possibilite a autonomia para
explorar e usufruir da cidade.

Alguns irão ponderar: falta verba, o orçamento não suporta elevação de despesa.
A cobertura de uma ponta da área social não pode deixar desguarnecida outra ponta. O
cobertor é curto. Diante de argumentos deste jaez, lembremos que todos os municípios
brasileiros, praticamente, vivenciam a mesma realidade de problemas urbanos, redução
de receitas e contingenciamento de despesas. Há, porém alguns, entre os quais destaco o
município de Uberlândia em Minas Gerais que com esforço e criatividade vem
conseguindo driblar a crise. E o município, considere-se, conta com população quase
duas vezes superior à de Blumenau e dotou a malha urbana de condições para que
pessoas com deficiência circulem livremente e em segurança. E o início se deu com a
luta da sociedade organizada em torno do ideal de modificar a postura preconceituosa
das pessoas, ensiná-las a conviver com as diferenças e melhorar a qualidade legislativa,
transformando em leis a ideia de que cada projeto novo de rua, prédio ou loteamento só
seria aprovado se tivesse plano facilitador da mobilidade dos deficientes. Nessa esteira,
o arcabouço legislativo municipal, seja Plano Diretor, Código de Posturas, leis de
Parcelamento do Solo Urbano, leis de Uso e Ocupação do Solo bem como Código de
Obras e Edificações, devem servir de instrumentos à política urbana, que contemple
pessoas com deficiência física.

Claro que não se consegue transformar o meio em que se vive com inércia
cívica, com falatórios desabonadores e criticas a seus governantes sem participar ou
oferecer contribuições que busquem transformar o meio urbano cidade, no presente
caso, Blumenau, em exemplo de acessibilidade para pessoas com deficiência. Nem o
COMED, tampouco os representantes da sociedade civil, tem a vara de condão
transformadora. Nem poderes para obrigar a implantação de projetos. O órgão colegiado
de natureza deliberativa e consultiva, integrante da estrutura administrativa municipal,
dentre outras competências estatuídas na Lei complementar Lei Complementar nº 942,
de 03 de novembro de 2014, exerce a função de zelar pela efetiva implementação da
política para inclusão da pessoa com deficiência a contemplar a discussão sobre
propostas de projetos e de ações, bem como sugerir o encaminhamento de projetos de
lei que visem assegurar e ampliar os direitos das pessoas com deficiência.

A lei limita a atuação do órgão e dos representantes. Todavia, embora contida


pela lei, nossa luta compreenderá a participação nas reuniões e nelas propor, cobrar
verbas orçamentárias, fiscalizar a infraestrutura da cidade. Urge que se universalize o
uso de calçadas padronizadas, de rampas para cadeirantes, de semáforo para cegos, de
ônibus adaptados, de piso tátil de alerta, e direcional. Isto é básico. É fundamental. Mas
não se pode esquecer de que qualquer programa de acessibilidade deve ir além e muito
além da infraestrutura física. Por isso vamos propor o exercício de cidadania nas escolas
municipais, espaço onde desde cedo alunos e professores devem aprendem a conviver
com as diferenças. A escola deve afastar o preconceito e o desrespeito aos direitos das
pessoas com deficiência. Talvez este seja o obstáculo mais difícil de ultrapassar, porque
a falta de conscientização da população chega a ser pior do que a falta de estrutura.

Muitas foram as indagações ramificadas no texto. E as respostas merecidas,


quaisquer que se dê, nunca hão de ser suficientes. Mas, em conclusão, inscrevamos em
pedra: na vigência do mandato tudo faremos para fazer a sociedade e os poderes
municipais entenderem que por maior que seja o custo para adaptar a cidade às pessoas
com deficiências, o preço nunca chegará nem perto do tamanho dos benefícios
oferecidos a toda população blumenauense.

José Erigutemberg Meneses de Lima, advogado, economista, representante da Ordem


dos Advogados do Brasil - Subseção de Blumenau/SC no COMPED.

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