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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

Departamento de Engenharia Mecatrônica

Medição de Temperatura

PMR 2727 – Sensores: Tecnologias e Aplicações


– Nº USP:
Professor: Celso Massatoshi Furukawa
11.4. Termopares
Termopares são sensores de temperatura que consistem em dois materiais diferentes em contato térmico
(junção). Uma junção pode ser feita torcendo-se dois arames juntos ou pode ser feita através de soldagem, brasagem, etc.
dos materiais. A operação de um termopar é baseada na combinação de efeitos termoelétricos que produzem uma
pequena tensão de circuito aberto quando as duas junções do termopar são mantidas em temperaturas diferentes. A
geração dessa tensão é devida ao efeito Seebeck, que é produzido pela difusão de elétrons através da interface entre os
dois materiais. A magnitude da força de difusão é controlada pelas temperaturas das junções do termopar e, por isso, os
potenciais elétricos das junções fornecem a medida da temperatura. Adicionalmente ao efeito Seebeck, outros dois
efeitos termoelétricos ocorrem em termopares: os efeitos Peltier e Thompson, que afetam a acurácia da medição. Esses
dois efeitos podem ser minimizados ao se limitar severamente a corrente que passa através do circuito do termopar.
Conversões mais acuradas da tensão medida pelo termopar em temperatura podem ser obtidas através de tabelas de
calibração (para consulta) ou através de polinômios de alto grau que relacionem a temperatura com a tensão medida.

11.4.1. Princípios do Comportamento dos Termopares

O uso prático de termopares é baseado em seis princípios do comportamento termoelétrico:


1. Um circuito de termopar deve conter, ao menos, duas junções de dois materiais diferentes;
2. A tensão de saída do termopar depende apenas da diferença entre as temperaturas nas junções;
3. Se um terceiro metal for inserido em qualquer ramo do circuito do termopar, a tensão lida não é afetada, posto que as
duas novas junções são mantidas à mesma temperatura;
4. A inserção de um metal intermediário em qualquer junção não afeta a tensão lida, posto que as junções formadas pela
inserção do terceiro metal são mantidas à mesma temperatura;
5. Se a leitura de tensão de um circuito termopar com temperaturas de junção T1 e T2 for (vo) 1/2 = f(T1 -T2), e o mesmo
exposto a temperaturas T2 e T3 produz uma tensão de (vo)2/3 =f(T2 – T3), a leitura de tensão do mesmo circuito se
exposto às temperaturas T1 e T3 será de (vo)1/3 =(vo)1/2 + (vo)2/3 ;
6. Se um circuito termopar, fabricado com materiais A e C, gera uma leitura de tensão de (vo)A/C e um circuito similar
fabricado com materiais C e B, gera uma leitura (vo)C/B então um termopar fabricado com os materiais A e B irá gerar
uma leitura dada por (vo)A/B =(vo)A/C + (vo)C/B (se os três termopares forem expostos às mesmas temperaturas de junção
T1 e T2).
Esses seis princípios fornecem a base para projeto e aplicações de termopares em medições de temperatura.

11.4.2. Materiais Termoelétricos

O efeito termoelétrico ocorre toda vez que um circuito termopar é fabricado de dois metais diferentes quaisquer.
Por essa razão, um grande número de materiais é adequado para o uso em termopares. Na maioria das vezes, os materiais
são selecionados para fornecer estabilidade em longo prazo a altas temperaturas, garantir compatibilidade com a
instrumentação disponível, minimizar custos e maximizar sensibilidade na faixa de operação.
A estabilidade térmica em longo prazo é uma propriedade importante em uma instalação de termopares se a
temperatura for monitorada por longos períodos de tempo. O efeito negativo mais importante de instabilidades térmicas é
a mudança gradual e cumulativa na leitura de tensão do termopar durante longas exposições a temperaturas elevadas.
Esse efeito é devido, principalmente, a mudanças de composição causadas por oxidação.

11.4.3. Temperatura Referencial de Junção

Como os circuitos termopares respondem a diferenças de temperatura (T1 e T2), é essencial que a junção de
referência seja mantida a uma constante e acuradamente conhecida temperatura T2. Alguns métodos são comumente
utilizados para manter a temperatura de referência. Dentre eles, o mais simples imerge a junção de referência em uma
mistura de gelo e água em um recipiente térmico fechado para evitar perdas de calor e gradientes de temperatura. Esse
método pode manter a temperatura a 0,1°C do ponto de congelamento da água.

11.4.4. Procedimentos de Fabricação e Instalação

A instalação adequada de um termopar envolve fabricação da junção, escolha dos arames (diâmetro e isolação)
e a fixação do termopar no fluido ou na superfície do componente no ponto onde a temperatura deve ser medida. O
procedimento recomendado para a formação de uma junção do termopar consiste em unir os dois arames por soldagem,
brasagem, etc. para formar uma pequena esfera de material em volta da junção. O diâmetro do arame a ser usado
depende da resposta dinâmica desejada para o termopar e do grau de hostilidade do ambiente em que o termopar deve
operar. Quando as oscilações de temperatura são rápidas, o diâmetro deve ser pequeno e qualquer proteção deve ser
eliminada para diminuir o atraso térmico. Por outro lado, termopares são muito usados em longos períodos de operação
em altas temperaturas, em atmosferas redutoras ou oxidantes. Nesses casos, proteções ou arames e junções com grandes
diâmetros (para que parte da junção possa ser sacrificada) podem ser usados para estender o período estável de operação.
O material a ser usado para fornecer isolamento para os arames é determinado pela temperatura máxima a que o
termopar será exposto. Para temperaturas extremamente altas (~2300°C), tubos de cerâmica (Beryllia) são muito usados.
11.6. Resposta Dinâmica de Sensores de Temperatura
T -t / β
Para entradas Tm na forma de funções-degrau, resultados da relação /Tm= (1 – e ) - onde T é a
temperatura da junção, Tm é a temperatura do meio, t é o tempo de exposição do sensor e β é a constante de tempo do
sensor – indicam que um sensor de temperatura requer um tempo considerável antes que ele comece a se aproximar da
temperatura do meio ao redor (Tm). O tempo de resposta pode ser diminuído através de uma redução de β, que pode ser
obtido através do projeto de sensores com pequenas massas, grandes superfícies e pequenos valores de calor específico.
Já para entradas na forma de funções-rampa, a resposta inicial do sensor é lenta; no entanto, depois de um
pequeno intervalo de tempo, a curva de resposta do sensor apresenta a mesma inclinação da curva de temperatura do
meio, só que com um atraso igual a β. Para minimizar o tempo de resposta dinâmica, deve-se, então, reduzir o valor de β.

11.7. Fontes de Erro em Medições de Temperatura


Muitos erros diferentes surgem em medições de temperatura com sensores como os termopares. Um tipo de erro
que é exclusivo dos sensores de temperatura são os erros de inserção. São o resultado do aquecimento ou resfriamento da
junção, o que provoca diferenças entre as temperaturas de junção T e a do meio Tm. Os erros de inserção são classificados
como erros de condução, de regeneração e de radiação.
Os erros de condução podem ser ilustrados considerando a medição da temperatura de superfície de um material
sólido. Os arames do termopar passam através de um fluido (ar, normalmente) com temperatura Tf. Assumindo que Tf é
menor que a temperatura do sólido e sabendo que a transferência de calor pelo sensor e seus arames são normalmente
muito maiores que a perda de calor por convecção do sólido com o fluido, conclui-se que ocorrem gradientes de
temperatura no sólido, ocasionando o fluxo de calor na direção do sensor, fazendo com que o sensor forneça um valor
diferente da temperatura real da superfície do sólido.
Um segundo tipo de erro ocorre em meios com fluxo de gás em alta velocidade. A medição sofre um erro de
regeneração produzido pela estagnação do fluxo quando o sensor de temperatura é inserido no fluxo.

11.9. Métodos por Radiação (Pirometria)


Empregando os princípios da radiação, métodos foram desenvolvidos para medir a temperatura de superfícies
sem que haja contato do sensor com a superfície. Esses métodos eliminaram os problemas de estabilidade e isolamento
inerentes às medições, por contato, de altas temperaturas.

11.9.1. Princípios de Radiação

As ondas eletromagnéticas e partículas emitidas da superfície de um corpo são denominadas radiação. A


radiação emitida de uma superfície aquecida tem muitos comprimentos de onda diferentes. O espectro eletromagnético
cobre uma grande faixa de comprimentos de onda, porém a radiação térmica relaciona-se apenas com o espectro da luz.
Pode-se obter o valor da energia de radiação de um comprimento de onda através da temperatura absoluta. A energia
total emitida por uma superfície é dada, portanto, pela soma das energias de radiação de cada comprimento de onda.

11.9.2. O Pirômetro Óptico

O pirômetro óptico é usado para medir temperaturas em uma faixa de 700°C até 4000°C. A energia de radiação
emitida pelo corpo é coletada e focada por uma lente objetiva na lâmpada do pirômetro. A energia radiante é, então,
passada por um filtro e transmitida a uma outra lente objetiva e então a uma lente ocular. A imagem vista pelo pirômetro
é o do filamento da lâmpada em um fundo de intensidade devida ao corpo observado. Deve-se ajustar a corrente para
fazer com que o brilho da lâmpada seja equiparado ao do fundo de modo que os dois se confundam, fazendo o filamento
sumir. Através da medição da corrente necessária para fazer o filamento desaparecer, obtém-se a temperatura do corpo.

11.9.3. Pirômetros Infravermelhos

Em baixas temperaturas, as emissões de radiação se concentram nas regiões infravermelhas do espectro. Os


pirômetros infravermelhos coletam a radiação infravermelha da região de uma superfície através de uma lente. A
radiação é, então, refletida e focada em um sensor de temperatura (um termopar, por exemplo) por um espelho côncavo.
A partir da magnitude de radiação absorvida pelo sensor, pode-se ter o valor da temperatura da superfície emissora.

11.9.4. Instrumentos Fóton-Detectores

Os instrumentos equipados com fóton-detectores diferem daqueles com detectores de temperatura por terem um
tempo de resposta muito menor e pelo fato de o fóton-detector ter que ser mantido a temperaturas muito baixas, sendo
necessária uma fonte de nitrogênio líquido. Um fóton-detector é um sensor que responde através da geração de tensão
proporcional à densidade de fluxo de fótons que afetam o sensor. Os fótons emitidos por uma área pequena são coletados
e focados em uma área fóton-detectora por uma lente. Essa técnica permite a determinação da distribuição de
temperaturas em extensas regiões de um corpo, sendo possível obter fotografias com a distribuição de temperaturas.

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