Você está na página 1de 44

Conservação e Preservação do Acervo

Stefan Michalski
Cientista de Conservação Sénior, Instituto de Conservação Canadense

Introdução à preservação do acervo Estabelecer prioridades e avaliar os riscos


A literatura sobre conservação e preservação pode parecer Fundamentalmente, toda a preservação do património,
frequentemente ser dominada por uma enorme (e no final de incluindo o relativo ao acervo do museu, depende de duas fases
contas inalcançável) lista de coisas a fazer. Pode-se ficar tão da tomada de decisões:
ocupado a seguir este bom conselho que nunca há tempo para 1 . Selecção: o que pode e deve ser preservado relativamente
olhar para trás e verificar se foi realmente o melhor método para aos recursos disponíveis do museu?
alcançar o objectivo principal: preservar o acervo. Este capítulo 2 . Avaliação e gestão dos riscos: utilizar recursos humanos e
adopta um método recentemente desenvolvido, de considerar a outros para reduzir possíveis danos.
preservação e conservação do acervo como um todo, antes de se A fase de selecção é a preocupação principal de outros
focalizar nos detalhes. capítulos deste livro (particularmente em O Papel dos Museus e o
Ao mesmo tempo, a preservação do acervo continua um Código Profissional de Ética e Gestão do Acervo). Porém, é
negócio muito prático que necessita de aconselhamento prático importante reconhecer que a natureza, escolha e historial do
minucioso, em conjunto com este novo método de pensamento. acervo determinam em muito, as capacidades e os recursos que o
Por esse motivo, este capítulo também contém muitos exemplos museu necessita para preservar o seu acervo.
práticos e estudos de caso (baseados em casos reais ou em Nos museus pequenos e grandes, a maior parte do acervo
conjunto com estes) utilizando a experiência do autor na chegou muito antes do pessoal actual. A decisão para a aquisição
inspecção e aconselhamento de museus, maiores ou menores, em de novos objectos, é muitas vezes tomada sem a consulta dos
muitos países, incluindo o Egipto e o Kuwait. Não é possível peritos sobre determinada preservação especial, por isso, cada vez
abranger todos os detalhes sobre os procedimentos e normas de mais, as políticas de aquisição do museu exigem a avaliação da
preservação e conservação num capítulo introdutório tão breve, condição e da conservação antes da compra de bens adicionais ou
por isso sempre que existam referências úteis, estas serão de aceitar doações. Como a remoção dos bens do acervo
indicadas. (abatimento) é rara, e frequentemente dolosa na maioria dos

55
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

casos, o acervo do museu tem sempre tendência a aumentar. Por utilizados em outros campos, incluindo noutras áreas do museu
outro lado, também envelhece. para além da preservação do acervo. O capítulo sobre Segurança
Estes factos originam dois dos principais problemas da do Museu provê informação sobre a gestão de risco em relação
preservação do acervo. Existe uma pressão constante sobre a aos riscos globais para o museu e para as suas instalações. O
reserva para que se tenha cada vez menos instalações para reserva capítulo sobre Gestão de Pessoal provê informação sobre os riscos
e investigação do que as necessárias e daí o consequente excesso. de saúde e segurança em relação ao pessoal e aos visitantes. Em
Ao mesmo tempo, a conservação precisa de incluir várias todas as aplicações permanece o mesmo conceito básico, reduzir a
categorias de artefactos devido à idade do acervo. Muitos bens, possibilidade de perda.
tais como metais arqueológicos ou maquinaria histórica, podem A gestão de risco do acervo não se baseia no próximo ano ou
deteriorar-se muito mais rápido, a partir do momento em que nos próximos dez anos ou até mesmo na nossa própria vida.
foram “salvos” pelo museu, do que quando estavam lacrados no Baseia-se na vida dos nossos filhos e nos filhos deles e assim por
chão ou a serem utilizados na fábrica histórica. diante. A experiência na gestão de risco do acervo demonstrou
Apesar dos museus terem a tendência de assumir que o único que o ponto de referência prático para se pensar em risco é de
meio de resolver o desequilíbrio entre as necessidades do acervo e 1 0 0 anos. A principal competência na avaliação do risco é
os recursos disponíveis é a procura de novo pessoal, instalações e conseguir encontrar todos os vários motivos por que, daqui a 1 0 0
dinheiro, o museu e a sua comunidade devem de vez em quando, anos, o seu acervo estará em piores condições do que
fazer a si próprios três perguntas: Por que motivo preservar estas actualmente, e descrever cada um desses motivos em palavras
coisas em particular? Q uais as coisas novas que queremos correntes. As secções posteriores darão sugestões de como o fazer
coleccionar? Porquê? (Ver também o capítulo sobre Gestão do sistematicamente.
Acervo.)
Classificação dos riscos no acervo
Reduzir possíveis perdas e riscos nos próximos 100 anos ou mais Existem vários métodos para classificar e listar as causas potenciais
No seu uso quotidiano e como termo técnico, risco significa de perda e danos do acervo. No entanto, ao tentar compreender
apenas “possibilidade de perda” . No passado, os museus e planear a preservação, é necessário escolher um único ponto de
utilizaram a palavra risco, apenas para a possibilidade de perdas vista sobre estas causas para depois aplicá-lo constantemente.
raras e catastróficas, como incêndio, roubo, danos provocados Também é importante que a lista de causas seja completa, de
pela guerra ou desastres naturais principais. Neste capítulo, a forma que no nosso trabalho de preservação do acervo, não nos
“possibilidade de perda” inclui os danos ao acervo, graduais e esqueçamos de nada.
cumulativos, causados por agentes como humidade, insectos, luz e Este capítulo utiliza o ponto de vista do objecto para as causas,
poluição. A preservação do acervo é a redução de toda e desenvolvido pelo Instituto de Conservação Canadense (CCI), e
qualquer perda futura, ou seja, gestão de risco do acervo. originalmente divulgado no cartaz de informação Estrutura de
O s termos, risco e gestão de risco, são actualmente muito Preservação (disponível em papel e no site www.cci-icc.gc.ca).
56
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Por exemplo, as causas de quebra podem ser devidas a pessoal peritos especializados na gestão de risco (ver o glossário em
sem formação aquando da manipulação segura de artefactos ou www.sra.org) mas as definições no dicionário comum contêm a
um terramoto, mas em ambos os casos, a causa do próprio essência: Risco significa “possibilidade de perda”, perigo significa
objecto, o agente que age directamente no artefacto, é uma força “fonte de insegurança”. (A origem da palavra inglesa “hazard”
física directa. Existem Nove Agentes de Deterioração que (azar, perigo) é a palavra árabe az-zahr, nome dado aos dados
provocam danos ou perda para o acervo: 1 forças físicas directas, utilizados num jogo de sorte e azar. As palavras “perigo” e “sorte
2 ladrões, vândalos e pessoal distraído, 3 incêndio, 4 água, 5 e azar” estiveram sempre ligadas aos negócios humanos). A lista
pragas, 6 contaminantes, 7 radiação 8 temperatura incorrecta e 9 de todos os perigos possíveis é indefinida, tal como a lista de
humidade relativa incorrecta. Estes agentes são listados mais todos os riscos possíveis. No entanto, a lista dos Nove Agentes de
detalhadamente na Tabela 1 . Deterioração é, misericordiosamente, completa.
Esta classificação é válida para ajudar a pensar no âmago da Como exemplo de todas as condições (agente, perigo, risco)
gestão de risco do acervo. Por exemplo, as forças físicas (agente considere o risco da cor que enfraquece num têxtil em mostra. O
de deterioração) ao agirem num objecto cerâmico ou numa agente de deterioração é a luminosidade que incide sobre a
colecção inteira, podem causar deformação ou fractura ou perda superfície do artefacto. A intensidade deste agente pode ser
de superfície (riscos). O s riscos são basicamente os mesmos, se a medida por um fotómetro simples e relativamente barato. (As
força física for provocada por um terramoto que lança objectos unidades de intensidade da luz são lux - lumens por metro
ao chão (perigo) ou provocadas por um curador que move quadrado). O perigo, neste caso, poderá ser o sistema de
objectos abarrotados durante as preparações para a exposição iluminação impróprio ou o projectista da exposição que planeia a
(outro perigo). No entanto, se o artefacto estiver firmemente intensidade errada ou o preparador que colocou o têxtil muito
seguro por um apoio acolchoado, então está protegido de todos perto das lâmpadas ou o técnico de manutenção que utilizou as
estes perigos. Por outras palavras, o apoio acolchoado reduz o lâmpadas de substituição erradas ou a luz do dia que incidiu no
risco das forças físicas que podem ter muitas causas numa cadeia têxtil através de uma janela desprotegida (ou inadequadamente
de causas. Noutro exemplo, os ladrões, vândalos e os distraídos protegida) ou o arquitecto que projectou as clarabóias ou o
(pessoa que muda o artefacto para o local errado) agem todos da guarda que ao contrário das instruções recebidas, abre as cortinas
mesma forma: agarram o artefacto e levam-no para um local especialmente concebidas para controlar a luz na sala.
desconhecido. O s perigos, as últimas causas, podem variar desde
criminosos locais a investigadores distraídos, mas relativamente Apreservação do acervo envolve todo o pessoal do museu
aos procedimentos de gestão de risco, os benefícios de acesso A Tabela 1 também mostra as relações com outras actividades e
controlado e a inspecção de inventário frequente, utilizando boa áreas do museu envolvidas no controlo de determinados riscos.
documentação, estes serão os mesmos. Muitas actividades e especialistas do museu estão envolvidos,
A tabela 1 relaciona os agentes com os riscos e os perigos. A directa ou indirectamente, com a preservação do acervo. A
distinção entre risco e perigo está tecnicamente definida por curadoria, gestão do acervo, documentação, exposição, segurança
57
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Tabela 1. Os No v e Ag en t es d a Det er io r ação

Perigos
Riscos do Agente Algumas outras actividades e áreas
Agente da Deterioração (Fontes e Atractivos do Agente)
(Forma de perda ou dano e acervo vulnerável) envolvidas na gestão de cada risco
Lista parcial
Co n ser vação * .
Ter r am o t o s. Guer r a.
Forças físicas directas To d o o p esso al d o m useu n a
Man ip ulação d ef icien t e.
Qu eb r a, d ist o r ção , f ur o , en t alh es, ar r an h õ es, ab r asão , d et ecção , co n t r o lo e r esp o st a d e
p o r ex:, ch o q u e, vib r ação , Ar m azen am en t o em excesso .
To d o s o s ar t ef act o s. em er gên cia. Ed if ício s d e ser viço s
ab r asão e g r avid ad e Tr ân sit o d en t r o d e e f o r a d o
d e lim p eza.
m useu.
Pr even ção d e em er gên cia,
m useu e go ver n o .
Ladrões, vândalos, pessoal Cr im in o so s p r o f issio n ais e
1 Per d a t o t al, a m en o s q ue seja r ecup er ad o . To d o s o s
distraído am ad o r es. Segur an ça.
ar t ef act o s, m as esp ecialm en t e o s ar t ef act o s valio so s e
i.e. n ão au t o r ização d e Púb lico ger al. Gest ão d o acer vo .
p o r t át eis. Def o r m ação , esp ecialm en t e d e ar t ef act o s
acesso e r em o ção h u m an a. Pesso al d o m useu . Cur ad o r es e in vest igad o r es.
p o p u lar es o u sim b ó lico s.
1 in t en cio n al Ar t ef act o s p r ecio so s m uit o Po lícia lo cal.
2 Per d a o u d esap ar ecim en t o . To d o s o s ar t ef act o s.
2 n ão in t en cio n al visíveis.
In st alação d a exp o sição . Sist em as
Dest r uição t o t al sem r ecup er ação . Queim ad ur as. Dan o s Segur an ça (in cên d io ). To d o o
eléct r ico s e ilum in ação d ef eit uo sa.
p r o vo cad o s p elo f um o . p esso al d o m useu n a d et ecção .
Incêndio In cên d io p r em ed it ad o . Fum o
Dan o s co lat er ais p r o vo cad o s p ela água. To d o s o s Ser viço d e in cên d io lo cal.
d evid o a d escuid o .
ar t ef act o s. Co n ser vação * .
Ed if ício s ad jacen t es.
Mar cas o u f luxo s d e ef lo r escên cia em m at er iais
In un d açõ es. Tem p est ad es. Co n ser vação * .
p o r o so s.
Telh ad o s d ef eit uo so s. Ligaçõ es d e Pr even ção d e em er gên cia,
In ch aço d e m at er iais o r gân ico s.
água e esgo t o s in t er n o s m useu e go ver n o .
Co r r o são d e m et ais.
d ef eit uo so s. To d o o p esso al d o m useu n a
Água Disso lução d e co las.
Lig açõ es d e água e esgo t o s d et ecção e r esp o st a à
Divisão em cam ad as, co b er t ur a, d ef o r m ação d e
ext er n o s d ef eit uo so s. em er gên cia.
ar t ef act o s co m co m p o n en t es em cam ad as, So lt ur a,
Can alização d o s sist em as d e Ser viço s d e lim p eza d as
f r act ur a, co r r o são d e ar t ef act o s co m co m p o n en t es
sup r essão d e in cên d io . in st alaçõ es.
u n id o s. En co lh im en t o d e p an o s o u t elas em t ecid o .
Paisagem cir cun d an t e. Co n ser vação . *
1 co n sum o , p er f ur ação , co r t es, t ún eis. Excr et a q ue
Pragas Hab it at s d e veget ação p r ó xim o s Act ivid ad es n as in st alaçõ es.
d est r ó i, d eb ilit a, d esf igur a o u caut er iza m at er iais,
1 in sect o s d o p er ím et r o d o ed if ício . Ser viço s d e co m id a.
esp ecialm en t e p eles, p en as, co ur o , co lecçõ es d e
2 in sect o s n o civo s, aves, Hab it at s d e lixo . Plan o d a exp o sição .
in sect o s, t ecid o s, p ap el e m ad eir a.
o u t r o s an im ais En t r ad a d e m at er iais d e To d o o p esso al d o m useu .
2 co n sum o d e m at er iais o r gân ico s, d eslo cam en t o d e
3 f u n g o s, b act ér ias (ver co n st r ução . Co m p an h ias d e co n t r o lo d e
it en s m ais p eq uen o s. Sujid ad e d e f ezes e ur in a.
Hu m id ad e Relat iva En t r ad a d e ar t ef act o s. p r aga ext er n a.
Per f ur ação , sujid ad e d e m at er iais in o r gân ico s caso
In co r r ect a: h u m id ad e) En t r ad a d e p esso al, visit an t es. Bió lo go s ext er n o s p ar a
sejam um o b st áculo p ar a alcan çar o m at er ial o r gân ico .
Der r am am en t o d e co m id a. id en t if icação .

58
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

História de caso sobre o trabalho de equipa do museu: luz solar e guardas


Um a cu r ad o r a ad q u ir e u m t êxt il an t ig o d e u m a f am ília lo cal. Ela d esejo u -o d u r an t e an o s p ar a a co lecção d o m u seu . O t êxt il est eve g u ar d ad o n a
ar ca d o en xo val d o s b isavó s. Co n co r d ar am em d á-lo ao m u seu , em t r o ca d e p er m an ecer em m o st r a n u m lo cal p r o em in en t e. Ela est u d a a
p ar ed e o n d e q u er p ô -lo e n o t a q u e a cer t a alt ur a d o d ia, o so l in cid e n a p ar ed e . As ven ezian as d a jan ela t in h am sid o ab er t as p ela em p r eg ad a
d e lim p eza e o seg u r an ça m an t eve-as ab er t as p ar a ven t ilação . A cu r ad o r a p er g u n t a se p o d e f ech ar as ven ezian as m as eles r eclam am q u e ser á
d esco n f o r t ável en q u an t o t r ab alh am . Ela t in h a lid o n alg u m sít io q u e a luz p o d ia d an if icar o s t ecid o s, m as n ão t em a cer t eza.
O m u seu d ela é m u it o p eq u en o p ar a t er u m esp ecialist a, p o r isso co n t act a u m p er it o d o in st it u t o d e co n ser vação n acio n al. Dep o is d o
co n t act o , ele aco n selh a-a q u e r ealm en t e, alg u m as d as co r es d o t êxt il q u e ela d escr eve, p r o vavelm en t e en f r aq u ecer ão sig n if icat ivam en t e n o
esp aço d e d o is an o s, se est iver em exp o st o s a d u as h o r as d e lu z so lar d ir ect a p o r d ia, e at é m esm o a lu z d o d ia in d ir ect a n a sala p r o vavelm en t e
cau sar á o d esvan ecim en t o em d ez an o s. Ela d ecid e co n cen t r ar -se em p r im eir o lu gar , n o r isco m aio r , a lu z so lar d ir ect a. Or g an iza u m a r eu n ião
co m a em p r eg ad a d e lim p eza e o seg u r an ça n o seu escr it ó r io . Co n vid a-o s a in sp eccio n ar o m ar avilh o so t êxt il, exp lica a su a r elação h ist ó r ica
co m a co m u n id ad e e exp lica o d ilem a. Dep o is d e alg u m a d iscu ssão , o segu r an ça d iz q u e ag o r a co m p r een d e m elh o r o s m o t ivo s e q u e p o d e
f ech ar as ven ezian as d ur an t e as d uas h o r as em q u e o so l é u m p r o b lem a. Ele p o d e t r o car d e lo cal p ar a p er t o d e o u t r a jan ela ab er t a sem so l
d u r an t e aq u ela p ar t e d o d ia.
Du r an t e a co n ver sa, a em p r eg ad a d e lim p eza o b ser vo u q u e n o an o p assad o , q u an d o ch o veu (q u an d o a cu r ad o r a est ava d e f ér ias), ela
d esco b r iu ág u a su ja n aq uela p ar ed e, p r o ven ien t e d e u m a f u g a d o t elh ad o , m as ela lim p o u -a. Ela d isse q u e n ão sab ia a q u em f alar so b r e o
assu n t o . Talvez isso t am b ém p o ssa ser u m p r o b lem a? A cu r ad o r a ap er ceb e-se q u e ag o r a t em q ue d iscu t ir o caso co m o p r o ject ist a d a
exp o sição e co m o h o m em r esp o n sável p elo t elh ad o d o ed if ício , p ar a r eso lver o r isco d a ág u a. A em p r eg ad a d e lim p eza e o segu r an ça sen t em -
se m ais lig ad o s à co lecção d o m u seu e co m p r een d em q u e t am b ém t êm um p ap el f u n d am en t al a d esem p en h ar . Af in al d e co n t as, eles são o
p esso al q u e d iar iam en t e t o m a co n t a d a sala d e exp o sição e as su as o b ser vaçõ es são u m a valio sa p ar t e d a m o n it o r ização d o acer vo .
Exercício: Lem b r e-se d e q u alq u er exp er iên cia d e t r ab alh o d e eq u ip a, p o sit ivo o u n eg at ivo , o u caso n ão t en h a aco n t ecid o , im ag in e o n d e e
q u an d o n o seu m u seu , vo cê p u d esse est ar en vo lvid o n a p ar t ilh a d e t al co n h ecim en t o . Desen h e n u m a f o lh a d e p ap el, cír cu lo s q u e
r ep r esen t em p elo m en o s 3 o u m ais in d ivíd u o s d o seu m u seu e d em o n st r e at r avés d e set as q u e lig am o s cír cu lo s, q u ais o s co n h ecim en t o s o u
act ivid ad es q u e são p ar t ilh ad as. Se exist ir em b ar r eir as o r g an izacio n ais en t r e o s in d ivíd u o s, d esen h e lin h as m ais g r o ssas en t r e o s d o is, d e m o d o
a b lo q u ear as set as. O seu m u seu p ar ece-lh e est ar ligad o en t r e si?

e gestão, todos têm de contribuir bastante. assunto teórico: é essencial assegurar que os recursos limitados do
O trabalho de equipa e a partilha de responsabilidade são museu são utilizados de forma eficaz. Na experiência do autor, os
reconhecidos actualmente como elementos essenciais da gestão e museus pequenos trabalham em equipa e partilham a
actividade museológica moderna e aplicam-se essencialmente na responsabilidade, naturalmente. Estão mais habilitados para
meta de uma preservação do acervo eficaz. Isto não é apenas um observar todo o conjunto, incorporar novos conselhos sobre
59
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Cada uma destas fases do ciclo será explicada mais à frente neste
0 Partida capítulo.
Observar o óbvio
Novos Algumas coisas específicas, tal como a construção de uma sala
Novos Recursos Conhecimentos de reserva melhor, podem trazer benefícios muito tempo após
terem sido completados. O utro tipo de coisas, como monitorizar
1 Observar e avaliar a sala de insectos, tem que continuar indefinidamente (com o seu
todos os próprio ciclo). Mais subtilmente, o planeamento e projecto da
riscos nova sala e a decisão para disponibilizar tempo e recursos na
monitorização do insecto, deve fazer parte do ciclo de
preservação normal.
4 Implementar melhorias 2 Elaborar opções
para as melhorias
Quem assume o papel da liderança na preservação?
Tradicionalmente, os museus fragmentaram o ciclo de
preservação, especialmente os museus maiores. Muita da
reorganização dos museus dos últimos 2 0 anos, centralizou as
3 Planear as melhorias em responsabilidades de preservação do acervo sob o Departamento
coordenação com o plano ou unidade de Gestão do Acervo, podendo estar integrado ou
geral do museu não, o Departamento de Conservação.
Figura 1. Ciclo d e p r eser vação d o acer vo q ue d eve ser co o r d en ad o O Departamento de Segurança normalmente é independente
co m o u t r o s ciclo s d e p lan eam en t o d o m useu. da unidade de Gestão do Acervo, enquanto o planeamento
ocorre muitas vezes em cada Departamento separadamente,
preservação e coordenar as várias fases da preservação do que o apenas com o Escritório do Director apto a coordenar a política e
pessoal dos grandes museus. Nos grandes museus, a hierarquia, a tomada de decisões. No entanto, num museu muito pequeno,
especialização e competitividade desordena, muitas vezes, o estes são apenas papéis diferentes que uma ou duas pessoas
trabalho de equipa e a partilha de responsabilidade. Em tais partilham.
situações, só existirá uma perspectiva partilhada sobre a Num museu grande com um Departamento de Conservação
preservação, em parceria com outras funções do museu, se esta independente, o conservador principal é normalmente o
fizer parte da liderança entusiástica da administração de topo. responsável pela supervisão da condição e inspecção do risco do
acervo e pela elaboração de possíveis opções. Alternativamente,
Ciclo de preservação do acervo pode ser o gestor do acervo que conduz o ciclo de avaliação,
A preservação do acervo é um processo infinito. As actividades enquanto os museus pequenos contratam muitas vezes um
podem ser generalizadas como um ciclo que se repete (figura 1 ). conservador com experiência em inspecção. Nalguns países o

60
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

custo pode ser suportado através de apoio governamental, de cada artefacto ou de todos os artefactos. Também podem ser
enquanto alguns países têm agências governamentais de receitas recolhidas informações sobre a estimativa do trabalho de restauro
permanentes que provêem investigação e aconselhamento. Em necessário para cada artefacto estragado e até mesmo do trabalho
quaisquer destes casos o inspector ou os inspectores fazem um previamente executado.
relatório que descreve os riscos e normalmente faz Todos estes temas relacionados com as diferentes inspecções e
recomendações para melhorias. O relatório torna-se então parte o seu papel na vida do museu, é descrito detalhadamente no
da documentação de planeamento do museu. excelente livro de Susan Keene, (Keene, 2 0 0 2 ). A própria
Independentemente de quem lidera a inspecção e o organização da autora, o Instituto de Conservação Canadense,
planeamento do ciclo de preservação, o Director tem que está a desenvolver um sistema informático que conterá muitas
desempenhar um papel fundamental, à medida que contribui para questões detalhadas, com uma enciclopédia de avaliações de risco
todo o processo de planeamento do museu. especializadas em muitas respostas possíveis, mas esta ferramenta
só estará disponível no futuro.
Outros tipos de inspecção de conservação
Existem várias outras possíveis formas de inspecção além do Como é que a conservação e o restauro se encaixam?
modelo descrito neste capítulo, com uma variedade de nomes, Há cem anos atrás, o único trabalho dos responsáveis pela
por exemplo inspecção de conservação preventiva, inspecção de preservação dos artefactos do museu era o restauro, i.e., o
conservação ou inspecção ao acervo. conserto e reconstrução de objectos preciosos, um de cada vez.
Algumas organizações desenvolveram formas de inspecção Nos últimos cinquenta anos, esta profissão transformou-se em
especiais que permitem recolher informação uniformizada, de “conservador/ restaurador”. A conservação engloba tratamentos
vários museus duma região. As respostas fornecem uma descrição que limpam, estabilizam e fortalecem o artefacto. O s
das actividades de preservação dos museus e das suas instalações, conservadores também podem por vezes, restabelecer e
mas não provê qualquer análise sobre o que é mais importante reconstruir antigos danos, mas sem tentar enganar o espectador.
para a preservação do acervo. Normalmente deixam essa Porém, ainda continua a ser o tratamento de um artefacto de
responsabilidade para o perito que executa a inspecção e cada vez.
designam sempre um perito para interpretar as respostas. As O s conservadores reconhecem a necessidade de prevenir novos
organizações reconheceram este problema e elaboraram danos e descobriram que os métodos de prevenção podem ser
inspecções com directrizes de “boa prática”. Assim, o museu aplicados a colecções inteiras. Isto designa-se “conservação
pode comparar a sua própria situação com a “melhor prática” preventiva” quando comparado com tratamentos que
nacional ou local, relativa à preservação. actualmente são designados como “conservação provisória”. A
Um tipo mais tradicional de inspecção de conservação é a abordagem descrita neste capítulo, a gestão de risco, expande a
inspecção do acervo. Algumas destas foram informatizadas. O ideia de conservação preventiva, insistindo no método que
propósito de tais inspecções é a avaliação da gravidade dos danos compara a eficácia de cada categoria principal ou custo do item

61
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

de preservação, actual ou planeado. organização. Após aconselhar os museus sobre a preservação do


A conservação e até mesmo o restauro de alguns artefactos acervo durante muitos anos, chegou-se realmente à conclusão que
especiais, ainda são necessários em museus, especialmente em a maioria da preservação é alcançada por uma breve lista de
trabalhos de belas artes ou artes aplicadas, materiais arqueológicos recomendações a que nós podemos chamar “As estratégias
ou materiais históricos que o museu quer exibir. Para os grandes básicas de preservação” ou apenas “estratégias básicas”. Assim,
museus, é natural que exista um Departamento de Conservação antes de proceder aos refinamentos da gestão de risco, é útil
que executa todas estas funções e que também pode ter a conferir primeiro as coisas básicas. Estas são fornecidas no quadro
responsabilidade pelas ideias de preservação deste capítulo. Em intitulado “As estratégias básicas de preservação”. Geralmente,
museus de tamanho pequeno e médio, a conservação só está espera-se que um grande museu não tenha esquecido nenhuma
disponível através do contrato de um especialista independente, das coisas básicas, mas a lista aplica-se muitas vezes a museus mais
ou em muitos países, por uma entidade de conservação pequenos ou a museus maiores sem recursos.
patrocinada pelo estado.
Para uma definição detalhada do conservador/ restaurador pela Por que é que são tão básicos?
organização internacional que os representa, ver a página do O s itens básicos da lista podem reduzir vários riscos diferentes de
Comité para a Conservação do ICO M em www.icomcc.org. uma vez só, quase sempre a baixo custo ou podem reduzir um
Também contém notícias de todas as suas conferências, grupos de único risco catastrófico que poderá afectar todas as colecções e
trabalho e publicações. A outra agência internacional, que todos talvez o próprio museu. No caso dos primeiros dois (telhados,
os que trabalham na preservação do acervo devem conhecer, é a paredes, etc.) acontece a mesma coisa. Um telhado e paredes
ICCRO M, www.iccrom.org, uma organização intergovernamental seguras restringem todos os nove agentes de deterioração, nem
estabelecida em Roma em 1 9 5 9 . É a única instituição deste tipo sempre eficazmente, mas sempre numa grande extensão. Este
com mandato mundial para promover a conservação de todos os facto pode parecer tão óbvio como fácil, mas para muitos museus
tipos de património cultural, móvel e imóvel. Visa melhorar a que garantem um “telhado seguro” e “paredes seguras” não é
qualidade da prática de conservação provendo informação, assim tão fácil. Nos últimos anos houve muitos relatórios de
aconselhamento e formação e aumenta a consciencialização sobre alguns dos museus internacionais mais famosos que sofreram fugas
a importância de preservar o património cultural, particularmente de água extensas e perigosas para as colecções devido à falta da
mas não exclusivamente dos seus mais de 1 0 0 Estados Membros. sua manutenção ou renovação.
Além disso, muitos dos artefactos grandes ou os que não se
Passo 1: Confira os itens básicos podiam deslocar, foram deixados no exterior. Na figura 2 , foi
Lista dos itens básicos instalado um telhado simples em cima da parte mais importante e
Existe uma máxima famosa sobre gestão chamada a Lei de Pareto vulnerável do local arqueológico, perto do museu associado. Por
que diz que a maioria dos benefícios de uma organização (8 0 % ) é outro lado, talvez digam que o edifício moderno à volta do barco
alcançada por uma pequena fracção (2 0 % ) dos esforços da solar (figura 3 ) com as suas enormes janelas expostas ao sol do

62
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Estratégias básicas para a preservação do acervo


Est r at ég ias b ásicas q u e evit am t o d o s o s ag en t es o u a m aio r p ar t e d eles, d e um a vez só .
1 Telh ad o seg u r o . Seg u r o co n t r a a p r ecip it ação lo cal, co b r in d o t o d o s o s ar t ef act o s o r gân ico s (e d e p r ef er ên cia, a m aio r ia d o s ar t ef act o s in o r gân ico s.)
En q u an t o ist o é ó b vio at é m esm o p ar a as p esso as ext er n as ao s m useus, t am b ém se ap lica a o b ject o s gr an d es, co m o veículo s h ist ó r ico s o u m áq uin as
h ist ó r icas co m p in t u r as. Não se p o d e esp er ar q ue so b r evivam m uit o s an o s ap ó s est ar em exp o st o s à luz so lar e à t em p er at ur a.
2 Par ed es, jan elas e p o r t as seg u r as, q ue b lo q ueiem a t em p er at ur a lo cal, p r agas lo cais, lad r õ es e vân d alo s am ad o r es.
3 Or d em e lim p eza r azo ável n o ar m azen am en t o e n as exp o siçõ es. A p alavr a “r azo ável” é cr ucial. Não sign if ica gast ar a m aio r p ar t e d o seu t em p o em lim p eza
o b sessiva q u e p r o vê m u it o p o uco b en ef ício e p o d e ser at é m esm o co n t r ap r o d ucen t e. Sign if ica m an t er a o r d em suf icien t e p ar a q ue o s o b ject o s n ão se
esm ag u em u n s co n t r a o s o u t r o s, p ar a q ue a in sp ecção e a in vest igação sejam levad as a cab o f acilm en t e, p ar a q ue o s o b ject o s n ão est ejam n o ch ão e p ar a
q u e a r ecu p er ação d o o b ject o p o ssa ser r ealizad a f acilm en t e. Sign if ica lim p eza suf icien t e p ar a q ue n ão sur jam h ab it at s d e p r agas, p ar a q ue o s m et ais n ão
acu m u lem p ó co r r o sivo e p ar a q ue o s ar t ef act o s p o r o so s e d if íceis d e lim p ar , n ão p er m an eçam sujo s.
4 In ven t ár io d iár io d o acer vo , co m a lo calização d o s ar t ef act o s e f o t o gr af ias ad eq uad as p elo m en o s p ar a a id en t if icação d o o b ject o em caso d e r o ub o , e m ais
p o r m en o r izad as p ar a a id en t if icação d e n o vo s d an o s.
5 In sp ecção r eg u lar d o acer vo , em r eser va e em exp o sição . Ist o é esp ecialm en t e im p o r t an t e em m useus q ue li m it ar am o s r ecur so s p ar a o ut r as est r at égias d e
p r eser vação . O p er ío d o d e t em p o en t r e as in sp ecçõ es n ão d eve ser in f er io r ao t em p o q ue as p r agas d e in sect o s levam p ar a am ad ur ecer o s o vo s
(ap r o xim ad am en t e 3 sem an as p ar a a t r aça d as r o up as). Não in sp eccio n e só o s d an o s n o vo s, sin ais d e r isco s n o vo s, m as t am b ém sin ais d e r o ub o s.
6 Ut ilizar cap as, en velo p es o u en cap sulam en t o sem p r e q ue n ecessár io . Excep t o o n d e já exist ir em o ut r o s t ip o s d e caixas r ígid as, ist o in clui t o d o s o s o b ject o s
p eq u en o s e f r ág eis, t o d o s o s o b ject o s f acilm en t e d an if icad o s p ela água, t o d o s o s o b ject o s f acilm en t e exp o st o s à p o luição lo cal, t o d o s o s o b ject o s
f acilm en t e at acad o s p o r in sect o s. Est as p r o t ecçõ es d evem ser p elo m en o s à p r o va d e p ó , p r ef er ivelm en t e h er m ét icas, im p er m eab ilizad as e r esist en t es às
p r ag as. O p o liet ilen o o u p o liést er t r an sp ar en t e é o m ais segur o , co m o cap as d e q ualid ad e p ar a co m id a (p o r exem p lo “Zip -Lo c” TM). Exist e um a lit er at ur a
var iad a co m d et alh es d est es m ét o d o s p ar a t ecid o s, ar q uivo s, m o ed as, et c.
7 Mo ld u r as d e ap o io f o r t es e est áveis p ar a t o d o s o s o b ject o s p lan o s d elicad o s, p ar a ap o iar e b lo q uear m uit o s d o s agen t es p o r d et r ás d o s o b ject o s. Ist o in clui
m an u scr it o s, p in t u r as em t ela, p in t ur as em p ap el e car t ão , m ap as d e p ar ed e, t ecid o s est icad o s, im p r essõ es f o t o gr áf icas, (t an t o em r eser va co m o em
m o st r a). Par a q u alq u er o b ject o q ue t en h a sup er f ícies d ian t eir as vuln er áveis à p o luição , água o u van d alism o , p r o vid en cie p r o t ecção em vid r o .
8 O p esso al e vo lu n t ár io s t êm d e est ar em p en h ad o s n a p r eser vação , est ar em in f o r m ad o s e t er em f o r m ação ad eq uad a. Est r at égias b ásicas q ue f o cam um
ú n ico ag en t e d e r isco elevad o p ar a a m aio r p ar t e o u p ar a t o d o o acer vo .
9 Fech ad u r as em t o d as as p o r t as e jan elas. Devem ser p elo m en o s t ão segur as q uan t o as d e um a casa lo cal co m um e d e p r ef er ên cia m uit o m elh o r es.
10 Sist em a d e d et ecção d e r o u b o (p o r m eio s h um an o s o u elect r ó n ico s). Tem d e t er um t em p o d e r esp o st a m en o r q ue o t em p o q ue o am ad o r leva p ar a ab r ir
as f ech ad u r as o u jan elas. Caso n ão seja p o ssível, o s ar t ef act o s m ais valio so s d evem ser ar m azen ad o s em o ut r o lo cal m ais segur o , q uan d o o m useu est iver
d eso cu p ad o .
11 Sist em a au t o m át ico d e su p r essão d e in cên d io . I.e., jact o s asp er so r es (o u o ut r o s sist em as m o d er n o s). Ist o só p o d e ser co n sid er ad o in d isp en sável se t o d o s o s
m at er iais d o ed if ício e t o d as as co lecçõ es f o r em ab so lut am en t e n ão in f lam áveis, p o r exem p lo , co lecçõ es d e cer âm ica, em caixas d e m et al o u vid r o n um
ed if ício d e alven ar ia sem t r aves d e m ad eir a.
12 To d o s o s p r o b lem as d e h u m id ad e t êm d e ser r eso lvid o s d e f o r m a co n t ín ua e r áp id a. A h u m id ad e é um agen t e r áp id o e agr essiv o , q ue p r o vo ca m uit o s
r isco s, co m o m o d elação , co r r o são e d ist o r ção t o t al. Ao co n t r ár io d o f o go , in un d açõ es e in sect o s, a h um id ad e é t ão co m um q ue é t o ler ad a
f r eq u en t em en t e. As d u as f o n t es h ab it uais d e h um id ad e são as p eq uen as f ugas d e água e a co n d en sação d evid o a gr an d es m ud an ças d a t em p er at ur a
(co m o à n o it e). Mo va a co lecção p ar a lo n ge d a h um id ad e. Ar r an je a f uga d e água. Ven t ile co n t r a a co n d en sação .
13 Nen h u m a lu z in t en sa, n en h um a luz so lar d ir ect a, n en h um a luz eléct r ica f o r t e, em q ualq uer ar t ef act o co lo r id o , a m en o s q ue a p esso a est eja segur a q ue a
co lo r ação t em sen sib ilid ad e zer o à ilum in ação , p o r exem p lo , cer âm icas co zid as, vid r o esm alt ad o co zid o .

63
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Figura 2. Um a est r u t u r a sim p les d e um t elh ad o f o i co n st r uíd a p o r cim a d e


u m a p ar t e p ar t icu lar m en t e im p o r t an t e d o lo cal ar q ueo ló gico p er t o d o
m u seu . No t e o d eclive su b t il e a caleir a p ar a m an t er a ch uva lo n ge d a ár ea
p r o t eg id a e evit ar p r o b lem as d e h um id ad e n as p ar ed es. Po uco cust o ,
m u it a p r eser vação ef icaz. To d as as f o t o gr af ias d est e cap ít ulo são d o aut o r ,
St ef an Mich alski, In st it u t o d e Co n ser vação Can ad en se, excep t o a f igur a 9
e10, t ir ad as d u r an t e p r o ject o s ed u cat ivo s o u d e co n sult a p ar a a UNESCO o u
ICOM, n o Cair o , Asw an e n a Cid ad e d o Kuw ait , en t r e 1986 e 2002.

deserto, não bloqueiam eficazmente o calor da temperatura local


(a menos que o sistema de ar condicionado esteja a funcionar).
No fim da escala das medidas muito simples e baratas tais
como a utilização de capas de plástico apropriadas, protegendo
molduras e vidros, podem fazer uma grande diferença na
Figura 3. O Bar co So lar n o seu p r ó p r io ed if ício , ao lad o d a
protecção do acervo e na protecção contra a maioria dos vários gr an d e p ir âm id e.
perigos de roubo e incêndio. A figura 4 e o exemplo seguinte A n ecessid ad e d e jact o s asp er so r es p ar a co n t r o lar o p er igo
(figura 1 0 ) demonstram estes métodos de acção simples, mas d e in cên d io é ó b via, m as q uais o s r isco s d e h um id ad e e
t em p er at ur a in co r r ect a p ar a o o b ject o ? Co m o p o d em o s
muito eficazes. sab er ? Qual o m elh o r m ét o d o p ar a t er um co n t r o lo ef icaz?
64
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

simples inspecção de um museu pequeno poderia demorar três


dias, com uma pessoa experiente, uma inspecção detalhada de um
museu grande pode demorar vários meses e envolver várias
pessoas. Q uer a inspecção seja simples, procurando riscos de
prioridade elevada, quer seja detalhada procurando todos os
riscos, grandes e pequenos, o princípio guia é “sistemático e
inclusivo”. Na maior parte das vezes na preservação do acervo, o
pessoal focalizou-se em hábitos antigos, na tendência de processos
novos, em relatórios ad-hoc e em lidar com emergências, reais e
burocráticas.
Em resumo, é melhor uma inspecção simples do que nenhuma.
Rápido é melhor que nunca. O aspecto crucial é rever o seu
trabalho anterior, rever as suas actividades de preservação normais
e olhar para o seu museu e o seu acervo atentamente, para
procurar algo que possivelmente possa causar dano.

Figura 4. Man u scr it o em p ap ir o em m o st r a n um m useu p eq uen o . Oque é que procuro, exactamente?


In ser id o en t r e d u as cam ad as d e vid r o e t ap ad o . Um a f o r m a O inspector procura todos os possíveis riscos para o acervo. Esta é
t r ad icio n al e m u it o ef icaz r elat ivam en t e ao cust o d e a parte mais difícil de explicar, da avaliação de risco, e claro, é a
p r eser vação d o acer vo . Pr o vê um a vit r in a selad a q ue b lo q ueia a
ág u a, p r ag as, co n t am in an t es e h um id ad e in co r r ect a. Pr o vê parte mais importante para fazer uma investigação útil. É a parte
p r o t ecção d e m u it as, em b o r a n ão d e t o d as as f o r ças f ísicas. que mais beneficia a experiência, mas também é a parte que
Po d e-se lim p ar f acilm en t e sem d an if icar o ar t ef act o . qualquer um pode fazer. Necessita de bom senso, inteligência
razoável e boa perspectiva. Ajuda gostar do mundo material, ser
Passo 2: Avaliar os riscos o que alguns poderiam chamar de pessoa prática, mas também
Quando começar a fazer a pesquisa e quanto tempo levará? ajuda ser imaginativo, desde que a pessoa possa imaginar tudo o
Para identificar os riscos para o acervo, pode-se reagir à medida que possa estar errado. Também ajuda gostar da colecção, uma
que surgem as situações, como fez o curador no estudo de caso nº vez que isso normalmente desenvolve uma familiaridade especial e
1 . Pode-se começar pela lista dos básicos, como na secção prévia uma forte preocupação pela segurança da colecção.
e continuar a fazê-lo até ter terminado. Uma alternativa seria Existem duas fases desta procura: recolha dos factos e
iniciar imediatamente uma inspecção sistemática que tanto prognóstico dos riscos.
descobrirá os básicos como também os não tão básicos. Uma
65
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Recolha dos factos para prognosticar o risco procedimentos, atitudes, planeamento, assim como também
O inspector inicia pela recolha de muitos factos, completamente muitas fontes de dados externas necessárias para a avaliação do
motivado pelo próximo passo: prognosticar todos os potenciais risco (por exemplo, dados sobre inundações, terramotos,
riscos para as colecções. O s factos são recolhidos melhor num sensibilidade à luz, etc.).
padrão sistemático. Nas próximas secções encontra-se um modelo É mais fácil, mas não essencial, manter estas partes da
de realização e prova. Estes factos não têm que conter qualquer inspecção separadas, simplesmente porque a parte visível envolve
opinião ou especulação e é necessário entrar em acordo onde os caminhar à volta do museu, para inspeccionar coisas, tirar notas,
factos terminam e as opiniões começam. tirar fotografias, enquanto a parte invisível envolve falar com o
Depois, o inspector prognostica riscos específicos. Cada risco pessoal e analisar documentos pertinentes. Não é importante qual
específico é predito imaginando um cenário específico de possível a parte que é realizada primeiro, mas é útil conhecer de modo
perda ou dano, insinuado por cada facto investigado, ou geral a missão do museu, políticas de preservação e documentos
possivelmente insinuado por vários factos unidos. O conceito de planeamento antigos, antes de inspeccionar o museu. Também
fundamental é imaginar uma possível perda e encontrar os é muito útil ter cópias de uma planta do edifício para marcar os
melhores factos disponíveis para apoiar um prognóstico locais das observações.
quantificável.
Felizmente, muitos dos riscos sérios podem ser imaginados Inspecção de factos visíveis
através do bom senso e calculados com exactidão. O utros riscos, Pode considerar-se que o acervo está inserido numa sequência de
como o enfraquecimento devido à luminosidade, são mais uma recipientes, como caixas dentro de caixas. Cada uma delas
questão de conhecimento científico. Para as inspecções simples, acrescenta uma camada de protecção (figura 5 ).
não é necessário ser um perito para descobrir a maioria dos A inspecção de factos visíveis segue do exterior para o interior. O
grandes riscos. Só é necessário ser sistemático. inspector começa por observar o local, depois o edifício e todas
as suas características, e só depois entra no edifício e observa o
Fontes de factos: visíveis e invisíveis edifício pela perspectiva de cada sala. Para um padrão do autor
A pesquisa de avaliação de risco confia em duas fontes de factos e mais aprofundado em várias pesquisas, ver o Apêndice “Exemplo
reduz tempo e esforço se forem abordados separadamente. do plano de inspecção do museu, com observações e fotografias.”
1 . Factos visíveis. Esta é a parte da inspecção em que nós
olhamos com os nossos próprios olhos e fazemos observações. A Tirar fotografias
pessoa olha para o local, o edifício, as salas, o mobiliário e o As fotografias revelam muitos detalhes. Na experiência do autor,
acervo. as fotografias formam não só elementos poderosos de um
2 . Factos invisíveis. Esta é a parte da pesquisa que leva em relatório, como também formam um registo prático para o
consideração o historial do museu, actividades actuais do pessoal, inspector. Por vezes só ao olhar a fotografia, nos apercebemos de
66
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Local Normalmente, uma inspecção a um museu pequeno tirará entre


1 0 0 a 2 0 0 fotografias, um museu médio terá entre 3 0 0 a 4 0 0 .
(Uma máquina fotográfica digital pode fazê-lo facilmente, até
Edifício
mesmo para um museu pequeno que queira disponibilizar o seu
acervo na Internet, em tempo real).
Salas do Acervo As fotografias devem ser sempre tiradas sistematicamente de
acordo com um plano, e não à toa. É muito mais fácil para utilizá-
Guarnições las depois. Especialmente em museus com várias salas, tire-as
numa sucessão lógica. Pode ver um exemplo de sucessão de
Embalagem, apoios fotografias no Apêndice “Exemplo do plano de inspecção do
museu, com observações e fotografias” . No caso de também
utilizar as fotografias para registar a iluminação do museu,
Artefactos
aprenda a tirar fotografias com flash do edifício, salas e
exposições. Com pouca luz, pode ser necessário utilizar um tripé.

Inspecção de factos invisíveis


Antigamente, os inspectores paravam a sua inspecção após terem
Figura 5. Cam ad as em r ed o r d o acer vo . visitado o edifício e o acervo. Isto omitia muitas das informações
que determinam a preservação do acervo. A avaliação de risco
coisas que não reparámos quando estávamos em frente ao inclusiva necessita dos dados de plantas arquitectónicas, da
objecto: aquela sala tinha jactos aspersores de incêndio? Todos os documentação da política e planeamento, dos manuais de
manuscritos estavam protegidos por vidro, ou apenas alguns? Em iluminação e projectos de exposições, etc. Também necessit a dos
todos os casos as luzes estavam acesas? Um registo fotográfico factos não registados mas influentes, que só existem na memória
também preserva factos para comparar em inspecções futuras. do pessoal e até mesmo nos hábitos do museu.
No passado, fazer cem fotografias boas com filme era O pessoal deixa sempre a porta das traseiras aberta em dias
relativamente caro, mas com o aparecimento de máquinas quentes, mesmo que a política oficial o proíba? As luzes em todos
fotográficas digitais de 3 megapixéis ou mais, um inspector pode os mostruários da exposição estão acesas todas as noites em que
tirar muitas fotografias a baixo custo e pode inseri-las nos os funcionários da limpeza precisam de trabalhar? Alguma vez o
relatórios ou e-mails sempre que necessário. É especialmente útil telhado ou a canalização verteu? O nde? O curador leva os
para poder conferir a qualidade da fotografia imediatamente, e artefactos novos para a reserva sem primeiro os pôr em
tirá-la novamente caso fique com muita luz, desfocada, etc. quarentena e sem verificar se existem infestações de insectos que
67
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

se possam rapidamente propagar pelo museu? O pessoal come


nas áreas de reserva e dessa forma atrai roedores e pragas de
insecto? O pessoal fuma lá? E assim por diante.
Algumas das fontes importantes de informação sobre os riscos,
serão encontradas no exterior do museu. Q uais são os perigos
locais e regionais? O museu está localizado numa planície sujeita a
inundação ou em risco de desabamento de terras? Q ual a
probabilidade de terramotos? Q ual a frequência com que os
perigos naturais identificados ocorrem e qual a tendência actual?
(Alterações como a construção de novos edifícios de
desenvolvimento ou estradas que obstruem a drenagem natural
podem tornar-se a diferença principal e imediata ao risco de
inundação). Até que ponto as colecções são sensíveis à luz e a
níveis de humidade incorrectos?
No Apêndice existe uma lista básica que fornece fontes típicas
e perguntas úteis para factos invisíveis. Não se limite a esta lista: é
apenas um ponto de partida. É necessário descobrir factos para a
sua avaliação de risco que não estão nesta lista ou em qualquer
lista disponível. Pode-se confiar em dois princípios guias nesta
procura: imaginação e historial anterior.
Suposição, significa permitir-se supor qualquer risco específico que
pareça plausível. Por exemplo, observe o candeeiro de vidro sírio
exposto com uma lâmpada de iluminação (figura 6 ). Suponha que
a cor do design do candeeiro pode enfraquecer, se estiver aceso
durante todo o dia. Alguém o confirmou, todas as cores são
vulneráveis à luz, mas a outra pessoa riu-se e negou. Disse que a
coloração em vidro não é sensível à luz. O utra pessoa, mais
cuidadosa, disse que com os candeeiros de vidro colorido originais
Figura 6. Can d eeir o d e vid r o , co m d eco r ação co lo r id a, não havia problema, mas os candeeiros posteriores com pinturas
exp o st o e ilu m in ad o co m u m a lâm p ad a in t er n a.

68
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

coloridas eram um problema. Assim, face a este risco suposto baseados na opinião especializada (caso disponível), na opinião
plausível, dirige-se imediatamente para os seus requerimentos: pessoal e nas políticas internas. O s temas foram muitas vezes
Necessita de localizar factos sobre os candeeiros sírios, as várias fragmentados por vários departamentos. Estas realidades ainda
formas de pinturas coloridas e os efeitos da luz. Exercício: Q ual fazem parte das decisões práticas do museu, mas um relatório da
acha que deve ser a decisão sobre a iluminação caso não exista inspecção que avalia todos os riscos para o acervo providencia um
qualquer informação disponível sobre o projecto de pintura do ponto de partida muito útil para as discussões.
candeeiro? Actualmente existem apenas dois métodos testados de avaliação
O historial anterior da ocorrência de perigos no museu provê de risco inclusiva para o acervo do museu. Um, é o método de
factos valiosos. Por exemplo, a pergunta “ quais os riscos de aritmética detalhado, desenvolvido por Waller (2 0 0 3 ) num
manipulação deficiente de artefactos pelo museu” pode conduzir grande museu nacional, e aplicado com sucesso em muitos
a uma análise teórica difícil de controlar por um sistema museus médios e pequenos. O outro é um método que utiliza
complexo, ou também pode levá-lo a fazer uma pergunta simples escalas de ordem de grau simples desenvolvido pelo autor actual,
a todo o pessoal: alguém se lembra de qualquer história sobre os aplicado com sucesso, a um grande número de museus, de
artefactos terem sido derrubados, riscados ou danificados por tamanho pequeno e médio no Canadá, e ensinado em vários
motivo de qualquer movimentação, desde há cinco, vinte anos cursos de formação, como nos cursos de 2 0 0 3 e 2 0 0 5 co-
atrás? Assegure-se que explica que a intenção não é qualquer patrocinados pela ICCRO M e pela CCI. Apenas será apresentada
retribuição, mas sim a solução. O s nomes não são necessários, aqui a técnica de ordem de grau, mas uma boa inspecção eficaz
apenas as histórias. Descobrirá que a memória colectiva de todos pode ser sempre depois convertida numa avaliação aritmética,
os museus contém histórias de tais eventos secundários, nunca caso desejado. As escalas de ordem de grau são comuns na gestão
registadas antes. Recolha-as: as histórias são preciosas para de risco sempre que os não peritos fazem a avaliação.
compreender a sua preservação do acervo. Note que a história As escalas da tabela 3 consideram os seguintes quatro
anterior à colecta é uma forma lenta de “descoberta” institucional componentes da avaliação de risco:
(o ideal seria que todas estas ocorrências tivessem sido Com que rapidez?
investigadas correctamente e registadas na ocasião). Tal como Q ual a quantidade de danos para cada artefacto afectado?
com toda a descoberta, o propósito é activar uma resposta para Q uanto do acervo foi afectado?
melhorar a gestão de risco em relação às colecções. Q ual a importância dos artefactos afectados?
A magnitude do risco é a soma destes quatro componentes.
Avaliar os riscos para o acervo, com base nos factos As pontuações de cada uma das quatro escalas são somadas
Após fazer uma lista de todos os riscos possíveis e imaginários, (NÃO multiplicadas). Esta pontuação total é a Magnitude de
surge a pergunta: quais os riscos mais importantes e os menos Risco relativamente ao Risco Específico avaliado.
importantes? Tradicionalmente, os museus tomaram tais decisões
69
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

De um modo geral, este simples sistema sugere as seguintes Tabela 3 . Escalas simples para a avaliação do risco
categorias de prioridade baseadas na pontuação total: Co m q ue r ap id ez? (t axa o u p r o b ab ilid ad e d e d an o s)
9-10: Prioridade extrema. Possível perda total do acervo nos Riscos que ocorrem como eventos
Pts Riscos que se acumulam gradualmente
distintos
próximos anos ou menos. Estas pontuações surgem Oco r r e ap r o xim ad am en t e um a vez p o r Os d an o s o co r r em ap r o xim ad am en t e
3
normalmente aquando de incêndios muito grandes ou an o 1 vez p o r an o
Oco r r e ap r o xim ad am en t e um a vez a Os d an o s o co r r em ap r o xim ad am en t e
probabilidades de inundação, terramoto, bombardeamento 2
cad a 10 an o s 1 vez a cad a 10 an o s
e que felizmente, são raros. Oco r r e ap r o xim ad am en t e um a vez a Os d an o s o co r r em ap r o xim ad am en t e
1
6-8: Prioridade urgente. Possíveis danos ou perdas significativas cad a 100 an o s u m a vez a cad a 100 an o s
Oco r r e ap r o xim ad am en t e um a vez a Os d an o s o co r r em ap r o xim ad am en t e
numa porção significativa do acervo nos próximos anos. 0
cad a 1000 an o s u m a vez a cad a 1000 an o s
Estas pontuações surgem normalmente devido a problemas Qu an t id ad e d e d an o s p ar a cad a ar t ef act o af ect ad o ? (p er d a p r o p o r cio n al d e valo r )
de segurança ou elevadas taxas de deterioração significativa 3 Per d a t o t al o u q u ase t o t al d o ar t ef act o (100% )
de luz brilhante, raios UV ou humidade. 2 Dan o s sign if icat ivo s m as lim it ad o s ao ar t ef act o (10% )
1 Dan o s m o d er ad o s o u r ever síveis n o ar t ef act o (1% )
4-5: Prioridade moderada. Danos moderados para alguns
0 Po u co s d an o s o b ser váveis n o ar t ef act o (0.1% )
artefactos possíveis nos próximos anos, ou danos ou perdas
significativos possivelmente após várias décadas. Estas Qu an t o d o acer vo f o i af ect ad o ? (f r acção d o acer vo em r isco )

pontuações são comuns em museus onde a conservação 3 Tu d o o u a m aio r p ar t e d o acer vo (100% )


2 Um a f r acção g r an d e d o acer vo (10% )
preventiva não foi uma prioridade.
1 Um a f r acção p eq uen a d o acer vo (1% )
1-3: Manutenção do museu. Danos ou riscos moderados de perda 0 Um ar t ef act o (0.1% o u m en o s)
nas próximas décadas. Estas pontuações aplicam-se até
Qu al a im p o r t ân cia d o s ar t ef act o s af ect ad o s? (valo r d o s ar t ef act o s em r isco )
mesmo nas melhorias contínuas que os museus
3 Muit o m aio r q ue o valo r co m um (100 vezes o valo r co m u m )
conscienciosos têm que fazer após resolverem todos os
2 Maio r q ue o valo r co m u m (10 vezes o valo r co m u m )
assuntos de risco elevados. 1 Valo r n o r m al p ar a o acer vo
Mais abaixo, neste capítulo, existem exemplos de trabalhos de 0 Ab aixo d o valo r co m u m p ar a o acer vo (1/10 d o valo r co m u m )
avaliação de risco, utilizando estas escalas. Exemplo da pontuação máxima possível
Não é necessário utilizar estas escalas na avaliação de risco. Um Co m q u e r ap id ez? 3
Qu an t id ad e d e d an o s p ar a cad a ar t ef act o af ect ad o ? 3
inspector pode simplesmente utilizar termos como elevado, médio Qu an t o d o acer vo f o i af ect ad o ? 3
e reduzido, para riscos ou “ necessita de ser feito este ano” versus Qu al a im p o r t ân cia d o s ar t ef act o s af ect ad o s? 1
Mag n it u d e d e Risco (t o t al d as q u at r o p o n t u açõ es) 10
“pode esperar dez anos” . O que realmente interessa, é que no Notas: n ão é p o ssív el m ar car 11 p o n t o s. Se t o d o o acer vo est iv er em r isco , en t ão a
im p o r t ân cia d e cad a ar t ef act o n ão p o d e ser m ais q u e m éd ia, e se f o r 10% d o acer vo ,
final, o museu esteja apto para assumir uma posição, através de n ão p o d e ser m ais q u e 10 vezes o valo r co m u m .
algum método racional e compreensível na inspecção, para fazer Caso d esejad o , q u aisq u er u m a d as escalas p o d e ser p o n t u ad a co m valo r es in t er m éd io s,
p o r ex.: 2.5

70
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

alguma forma de avaliação e que, todo o museu e os seus vários Senso comum, boa gestão doméstica, mas existem complicações
sistemas, sejam sistematicamente inspeccionados. Muitos autores notaram que, as estratégias da tradicional “boa
gestão doméstica”, assemelha-se a uma boa preservação do
Passo 3: Plano de melhorias para a gestão de risco do acervo acervo. Por outras palavras, muita preservação é bom senso. Na
Cinco fases de redução de risco do acervo realidade, a “lista dos básicos” apresentada anteriormente, seria
O s muitos, talvez milhares, métodos que os museus utilizam para muito familiar a uma empregada doméstica, há cem anos atrás.
reduzir os riscos do acervo podem ser subdivididos em cinco Por outro lado, alguns hábitos de gestão doméstica podem
fases: evitar, bloquear, detectar, responder, recuperar. danificar o acervo do museu.
1 . Evite fontes e atractivos do agente. Por exemplo, desertos ou estradas poeirentas por perto, que
2 . Bloqueie todo o acesso e caminho para o agente (caso falhe o depositam uma camada de pó de minerais finos no acervo e
passo 1 ). depois a limpeza regular dos artefactos, parece ser uma boa ideia.
3 . Descubra o agente no museu (caso falhem os passos 1 e 2 ). Infelizmente, surgem dois problemas: desgaste e fragmentação.
4 . Resposta ao agente após presumir ou detectar a sua presença O desgaste ocorre quando se utiliza o mesmo pano do pó
(caso contrário, o passo 3 é inútil). vezes sem conta. A menos que seja cuidadosamente limpo de
5 . Recupere os efeitos do agente no acervo (conserve os pouco em pouco tempo, o pano enche-se de pó abrasivo e o
artefactos, reconsidere o que correu mal e planeie processo de limpar o pó torna-se um processo de lixar
melhorias). literalmente os artefactos. O autor viu uma colecção de mobiliário
As primeiras quatro fases são prevenção de danos. A última fase é dourado no Egipto, desprovido de quase todo o dourado,
conservação e restauro “provisório”, necessário apenas porque as simplesmente porque eram regularmente “ limpos” com o pano.
fases preventivas falharam. Claro que, muitos dos danos no acervo Existe uma variação do problema do pano: os espanadores de
do museu ocorreram há bastante tempo ou antes da sua entrada penas. As penas gastam-se rapidamente e as espinhas das penas
no museu. Nem sequer a melhor preservação do acervo eliminará tornam-se pontas afiadas que riscam as superfícies que espanam.
a necessidade de conservação “provisória”. As superfícies pintadas das casas-museus históricas pequenas,
Ao longo desta secção sobre o planeamento de melhorias, mostram frequentemente os múltiplos arranhões de gerações de
lembre-se que cada uma das cinco fases desempenha um papel espanadores de penas.
fundamental e que uma gestão de risco com sucesso equilibra A fragmentação ocorre nos objectos complexos. Especialmente
todas as cinco. Mais tarde, ao pensar realmente na sua própria em estilos de mobiliário que utilizam talha elaborada e embutida,
gestão de risco do acervo, lembre-se que cada uma das cinco fases comum nas artes decorativas islâmicas. O pano do pó ou o
é um método poderoso para estimular o pensamento sobre o que espanador de penas arrancam fragmentos parcialmente enrolados
poderá estar a falhar no seu museu. ou em camadas e espalham-nos para longe! Um funcionário da
limpeza do museu questionado pelo autor (há alguns anos atrás)
71
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

sobre este assunto defendeu-se furiosamente, e declarou que a os riscos seleccionados como significativos) o inspector de risco ao
família dele executava esta função há gerações. Era um erro de acervo elabora uma solução ou talvez várias opções para uma
diplomacia discutir o assunto com o jovem perito, estrangeiro e solução. Se possível, o inspector calcula o custo ou pelo menos,
na presença dos seus supervisores. Retroflectindo, é muito identifica o tipo e escala dos recursos necessários. Em termos
improvável que tenha mudado alguma coisa sobre a limpeza empresariais, isto permite ao museu ter um cálculo do custo-
naquele museu. Teria sido melhor informar o curador que, mais eficácia: qual o risco por cada opção de controlo e quanto custa
tarde, poderia abordar discretamente o funcionário. esse controlo? Na secção sobre Exemplos de avaliações de risco
Uma segunda complicação observada repetidamente pelo específicas e soluções individuais, existem exemplos individuais.
autor, em museus com problemas de pó, é os danos devido à A recomendação de soluções individuais tem um bom
água. A forma institucional mais comum de limpeza do chão, no resultado caso a inspecção tenha identificado alguns riscos de nível
interior e no exterior, observada pelo autor em todas as regiões elevado que têm soluções sem ligações. Em tais casos, uma
quentes do mundo de Leste a O este, parece ser esfregar com simples lógica empresarial sugere que o museu deve implementar
grandes quantidades de água, frequentemente lançada no chão em soluções para todos os riscos de nível elevado, em ordem de custo
poças, de manhã antes do museu abrir ou imediatamente depois crescente.
de fechar. Provavelmente, por um lado, o efeito refrescante e Encontrar soluções comuns para grupos de riscos também é
agradável e por outro lado, a prevalência de chãos de azulejo e possível, mas pode requerer a exploração de opções e soluções
paredes de pedra, sem componentes de madeira. Em parte, pode diferentes para cada um dos riscos de nível elevado. Por isso,
ser o ritual de limpeza com água que ocorre em muitas culturas deve-se procurar opções que englobem os vários riscos. Pode ser
onde a água é escassa. História e sociologia à parte, o verdadeiro mais viável em termos de custo-eficácia gastar um pouco mais
risco relacionado com a preservação, é o risco de danos numa opção que resolve vários riscos do que implementar a
provocados pela água, como demonstrado na figura 7 . Aqui, opção de custo mais baixo, a cada risco.
neste museu principal, ninguém com autoridade notou ou agiu O único dilema do planeamento surge quando muitos dos
significativamente para alterar a aparência dos artefactos, apesar riscos pequenos podem ser resolvidos a baixo custo e um risco
das pistas óbvias dadas pela folha de plástico que protege o olho. grande só pode ser resolvido a elevado custo. De facto, este não é
Não existe qualquer dano sob o plástico. E os pregos que seguram tanto um dilema como a armadilha da gestão do risco, ou da
o plástico estão a corroer muito rapidamente e a manchar a falácia em que muitos museus caíram e sofreram com o resultado.
madeira cada vez mais. O bviamente a protecção de vidro é a Resolver os riscos de nível reduzido que nós podemos suportar,
melhor para o sarcófago de madeira (figura 8 ). ou para os quais já nomeámos pessoal, faz-nos sentir que estamos
realmente a fazer o nosso melhor para preservar o acervo. E
Encontrar soluções individuais e mais tarde soluções comuns como referido no início deste capítulo, não é difícil gastar tempo
Para cada risco identificado ou/ e avaliado (ou pelo menos todos com hábitos relacionados com os riscos de nível reduzido.
72
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

devido ao possível risco de água e queimaduras no chão. (É


interessante notar que as fotografias antigas do museu do barco
solar (figura 3 ) de alguns sites da internet turísticos não mostram
qualquer jacto aspersor. Presumivelmente foram instalados depois,
mas não existiam no projecto original.)
Uma última nota para encontrar soluções: é um erro comum
começar a pensar em melhorias da gestão de risco só aquando da
construção ou compra de algo. Muitas das soluções para os riscos
e perigos surgem dentro do intangível, como a formação do
pessoal ou melhoria da comunicação. Por exemplo, um museu
grande descobriu que cada vez mais, existiam erros de
preservação em mostruários das novas exposições (iluminação,
apoios, materiais poluentes.) O departamento de conservação e o
Figura 7. Sar có f ag o d e m ad eir a n um a exp o sição ab er t a, n o an d ar d o departamento da exposição não se comunicaram regularmente
m u seu . As m an ch as d e ág u a d evem -se ao s m uit o s an o s d e água esp alh ad a durante o projecto da exposição. A conservação só era obrigada
n o ch ão d u r an t e a lim p eza d iár ia co m esf r egõ es m o lh ad o s, um
p r o ced im en t o co m u m em clim as q uen t es e p o eir en t o s. A p r o t ecção d e
pela política do museu a aprovar a exposição, nas fases finais da
p lást ico em cim a d o o lh o r ed u ziu o r isco d e van d alism o e t am b ém o instalação. Por essa altura, era muito tarde ou muito caro, fazer
p r o t eg eu d o s esg u ich o s d e ág u a. alterações. Resultou em hostilidade e numa relação de
disfuncionamento. As melhorias eram simples, sem custos: exigiu-
Vez após vez, vê-se museus que gastam meses de trabalho em se à conservação o envio de um representante para as reuniões do
acolchoamento especial para tecidos em reserva e não fazem nada comité do projecto de exposição, do princípio ao fim. Mais tarde,
para reduzir o risco dos 3 canos de água e de esgoto que cruzam o pessoal da conservação admitiu que não imaginavam que o
o tecto daquela mesma colecção. O u museus que constroem projecto de exposição era uma tarefa tão complexa e que as
armários de madeira bonitos que resolvem o risco da pouca soluções de iluminação que propuseram, como ópticas de fibra,
humidade em vez de planear e construir os armários para conter pudessem ser tão caras. (Para um recurso excelente sobre assuntos
um provável terramoto de grande intensidade numa região de de conservação e sobre o processo dos project os de exposição,
actividade sísmica elevada. O u museus que conservaram pinturas ver o CD-RO M intitulado Directrizes de Conservação da
a custos elevados que entretanto caíram ao chão após a instalação Exposição: incorporar a conservação no planeamento, projecto e
porque ninguém verificou se os ganchos eram fortes e finalmente, fabrico da exposição, pelos US National Parks (Raphael, c 2 0 0 0 ).
os inúmeros museus que negligenciaram a instalação de jactos
aspersores ou até mesmo a não instalação de jactos aspersores
73
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

integrado requer, entre outras coisas, a limpeza debaixo dos


armários, menos vegetação à volta das paredes, mais artefactos
novos em quarentena obrigatória, não autorização de comida nos
escritórios do curador, próximo da reserva, etc.
O controlo da humidade relativa integrado exige que o
projecto do armário e os sistemas mecânicos de construção e a
monitorização da conservação formem um sistema completo e
tenham custo-eficácia. Implementar uma abordagem integrada
depende da cooperação de muito pessoal do museu e dos seus
departamentos. O trabalho de equipa contínuo depende do
entendimento mútuo. As soluções integradas com sucesso iniciam-
se sempre com uma boa comunicação.

Encontrar soluções de preservação sustentáveis


Figura 8. Sar có f ago n u m r ecep t áculo d e m useu m o d er n o . En q uan t o se
t o r n a ó b vio q u e b lo q u eia a ág u a o r igin ad a p ela lim p eza d o ch ão , n ão é Finalmente, o conceito mais moderno em preservação de
ó b vio se p o d e o u n ão b lo q uear as f ugas d e água p r o ven ien t es d o t ect o , património é “sustentável”. No Reino Unido, iniciou-se há pouco
in sect o s, f u m o o u p o lu en t es. Exig e-se um a in sp ecção in t er n a o u p lan o d o
p r o ject o , e p r o vavelm en t e am b o s, p ar a f azer t ais avaliaçõ es.
tempo, um novo programa universitário sobre património
sustentável destinado a arquitectos, engenheiros e conservadores.
Encontrar soluções de preservação integradas (www.ucl.ac.uk/ sustainableheritage) No verdadeiro sentido,
A palavra integrada surgiu recentemente como outro ideal de sustentável significa que a organização não obtém mais do que
gestão de preservação. Pretende trazer uma actividade pode devolver. Existem duas tendências actualmente utilizadas na
independente e isolada do sistema principal. preservação de património: ambiental e financeira.
O objectivo não é só uma teoria principal, mas uma operação Q uando os pensadores da conservação do ambiente aplicarem
holística prática. É um termo relativo, já que alguns o aplicam à sustentabilidade ao património, significa que um edifício-museu
integração do controlo de praga nas actividades museológicas, histórico é um recurso, e por essa razão, qualquer plano para o
outros propõem-no para todas as actividades de preservação do demolir e substituir por um edifício novo, terá que levar em
museu. consideração que cada tijolo destruído e substituído por um novo,
O desafio é: Um método integrado é um método amplo, representa um enorme “tirar sem dar” do ambiente.
difuso e sistemático que se relaciona com muitas das actividades A um nível mais quotidiano, considere a iluminação do museu.
museológicas independentes. Por exemplo, o controlo de praga As lâmpadas fluorescentes são “ lâmpadas de economia de
energia” e ao utilizá-las na iluminação do museu, economiza-se
74
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

três vezes mais energia. Em primeiro lugar, economiza-se na Planear inserido no planeamento do museu e não só
lâmpada que consome muito menos electricidade do que as O ciclo de preservação do acervo só tem um significado,
lâmpadas incandescentes (inclusive lâmpadas de halogéneo de quando inserido na estrutura organizacional que o possa
quartzo, as preferidas pelos projectistas da exposição). Em implementar, como por exemplo, o seu museu. Noutros capítulos
segundo, economiza-se na electricidade do funcionamento do ar deste manual, o planeamento e a gestão do museu são tratados
condicionado, necessário quando o museu está repleto de como um todo. Existirão tempos e locais, identificados no
lâmpadas incandescentes quentes (significativo em muitos museus, processo de planeamento para os líderes do ciclo de preservação
especialmente em climas quentes). Terceiro, o tamanho do discutirem e planearem dentro do ciclo de planeamento principal
sistema de ar condicionado pode ser menor, e consequentemente do museu. O objectivo das reuniões de planeamento do museu
a energia consumida pelo seu funcionamento e pela sua não é simplesmente a advocacia das necessidades de preservação,
substituição, é menor. mas a colaboração criativa e imaginativa. Esteja atento aos outros
Infelizmente, muitas das lâmpadas fluorescentes compactas interesses do museu.
contêm uma quantidade significativa de electrónica complexa, e Lembre-se da história do caso do curador com a recente
esta resulta em lixo quando a lâmpada é substituída. O s modelos doação de um têxtil de um protector local importante. Além de
mais modernos de lâmpadas fluorescentes compactas têm a planear uma boa preservação da exposição (risco reduzido), o
electrónica separada da lâmpada (tal como acontece em todas as museu pode ainda considerar o aspecto relacionado com as
lâmpadas fluorescentes grandes). E para além disso, e como relações públicas. Se mantiver o doador e outros doadores felizes,
qualquer projectista de iluminação comprovará, a utilização de mais doações podem surgir. Também, as exposições e
lâmpadas fluorescentes com sucesso, em exposições do museu, departamentos educativos podem pedir para verem aspectos
não é fácil. sobre a conservação e preservação do têxtil, por exemplo, como é
A outra qualidade de sustentabilidade surge no campo da que o museu tratou o têxtil, como é que o têxtil foi fabricado
economia. O s pragmáticos utilizam esta palavra simplesmente localmente, que tinturas históricas foram utilizadas e tudo o
para dizer que as finanças locais do museu estarão equilibradas, relacionado com este círculo, e por que motivo é necessário
não só este ano, mas indefinidamente. Nas últimas duas décadas utilizar iluminação de baixa intensidade. Cada uma destas
muitos museus, a nível mundial, descobriram que não eram possibilidades é real, e cada uma delas ocorreu em museus com
sustentáveis nestas condições. Parte dos seus custos operacionais sucesso.
foi utilizada, muito para além dos seus recursos, na instalação de Alguns leitores deste capítulo ocuparão ou já ocupam, posições
sistemas mecânicos complexos para controlo da temperatura e da importantes em agências do património nacional ou até mesmo
humidade. Estes sistemas mecânicos caros foram estabelecidos por internacional. Está-se a pedir a estas agências para demonstrarem
“padrões de conservação” examinados mais cepticamente na os seus resultados e o seu custo-eficácia. Tudo começou pelo seu
secção Directrizes sobre a Temperatura e Humidade do Museu. próprio ciclo de preservação: avaliação (onde a inspecção de
75
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

factos intangíveis chama-se aconselhamento com grupos de


clientes), geração de opções, planeamento (coordenação com os
grupos de clientes, novamente) e só depois a implementação. O
próximo ciclo de avaliação avalia os resultados da implementação
do ciclo prévio e dos riscos novos ou não discutidos.
De facto, o autor baseou o ciclo de preservação num modelo
de um conferencista sobre o desenvolvimento do programa
governamental onde a ideia de que o processo era um ciclo
contínuo e não uma linha recta com um princípio e um fim, foi
considerado uma inovação! Historicamente, o modelo do projecto
da linha recta, com um fim, é compreensível. O s novos objectivos
tendem a ter uma breve Lista dos Básicos que podem ser atingidos
uma vez e completados. No entanto, para os objectivos antigos,
Figura 9. Man uscr it o s islâm ico s em exp o sição n um m useu
como a preservação do acervo num museu estabelecido, as p eq uen o , m o d er n o . Os exp o sit o r es p ar ecem t er sid o b em
melhorias não são óbvias, o custo-eficácia está longe do óbvio e os co n ceb id o s e a ilum in ação p ar ece ser d e b aixa in t en sid ad e, sem
resultados são frequentemente incertos. O ciclo deve ser repetido lâm p ad as d en t r o d o s exp o sit o r es. No t ext o , ap r esen t am -se
exem p lo s d e avaliaçõ es d e r isco p ar a o acer vo , m ais p r ecisas,
e devem ser introduzidos novos dados de avaliação. d est a sala.

Exemplos de avaliações de risco específicas e soluções individuais É necessário fazer a medição com um fotómetro, mais a
Figura 9 . Manuscritos islâmicos (livros em expositores horizontais, informação sobre o tempo de exposição, mais alguma informação
folhas soltas em expositores de parede) em mostruários de sobre os colorantes nos artefactos. Se, por exemplo, a intensidade
exposição iluminada por lâmpadas eléctricas. da luz nos manuscritos é de 1 0 0 lux e o curador aconselha que as
Sala de exposição completa de manuscritos islâmicos, expostos luzes só sejam ligadas pelos seguranças quando os visitantes
como mostrado. Lâmpadas eléctricas modernas. Moderno, sólido, entrarem, (em média, 3 horas por dia, a maior parte dos dias por
expositores. Impressão global da preservação do acervo: ano), dá uma dose anual de luminosidade de 1 0 0 lx vezes 1 0 0 0
excelente. Talvez existam riscos significativos para o acervo ou horas = 1 0 0 ,0 0 0 horas-lux por ano. As unidades maiores
talvez não. Só uma avaliação cuidadosa pode determiná-lo. podem ser expressas em milhões de unidades de horas-lux (Mlx h)
Avaliação de risco de desvanecimento devido à luminosidade na (como por exemplo no Apêndice 4 deste capítulo). Sendo assim,
figura 9 . as 1 0 0 ,0 0 0 horas-lux do anterior exemplo podem ser expressas
em 0 .1 Mlx h. Se o colorante mais fraco dos manuscritos

76
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

pertencer à categoria de sensibilidade elevada (tinta vegetal, por Considere a possibilidade de que a iluminação eléctrica não é
exemplo) observa-se na tabela que se existir um filtro de raios UV de 1 0 0 lux, mas de 2 ,5 0 0 lux, (comum aos projectores
na lâmpada, aproximadamente 1 Mlxh causará então um modernos e típica da luz do dia indirecta numa sala com a janela
enfraquecimento notável. Demorará aproximadamente 1 0 anos. E aberta. Assuma que as exposições estão iluminadas 1 2 horas por
se o enfraquecimento total demorar aproximadamente 3 0 vezes dia e não 3 . A taxa de enfraquecimento aumentaria 1 0 0 vezes.
mais, então demorará 3 0 0 anos para o enfraquecimento total. Todos os anteriores totais saltariam 2 pontos, para 5 . 5 para os
corantes de sensibilidade média, e 7 para os corantes de
Assim, em termos de escala: sensibilidade elevada, um risco de prioridade urgente. Na
Com que rapidez? 0 .5 realidade, se a exposição já tiver dez anos, na altura em que a
(entre 0 e 1 ) avaliação for feita, quaisquer corantes de sensibilidade elevada já
Q ual a quantidade de danos? 2 teriam enfraquecido substancialmente. Na experiência do autor, o
(esta é um a avaliação da curadoria, norm alm ente 1 - 2 ) pessoal acha que tais resultados são incríveis, impossíveis, mas eu
Q uanto do acervo? 2 vi muitos exemplos de exposições de museus, com cerca de 1 0
(por exem plo, um m useu pequeno) anos, onde certos corantes foram completamente destruídos
Q ual a importância dos artefactos? 1 naquele curto período, embora os artefactos tivessem cem anos.
(por exem plo) O facto é que, as pessoas comuns, estudantes e proprietários não
Magnitude total do risco 5 .5 deixam manuscritos e tecidos preciosos sob uma claridade diurna
intensa, dia após dia, ano após ano. Ironicamente, só os museus,
Se escolher utilizar uma estimativa baseada no inicio do com mandato de preservação, fazem isso.
enfraquecimento, então a pontuação “Com que rapidez?” eleva- As opções para reduzir os riscos de desvanecimento pela
se para 2 , mas a pontuação “qual a quantidade de danos?” reduz luminosidade são relativamente poucas e previsíveis.
para 0 . O resultado é semelhante a um total de 5 . Q ualquer 1 Perigos de iluminação eléctrica. Reduzir o tamanho e número
estimativa será correcta para propósitos de avaliação. Se tiver a das lâmpadas. Custo: de baixo (lâmpadas com amperagem
noção de que os corantes são todos os pigmentos minerais, mais baixa) a moderado (novas instalações de lâmpadas).
excluindo o corante vermelho da raiz da planta ruiva, com 2 Perigo da luz do dia. Bloquear as janelas. Custo: de baixo
sensibilidade média à luz, então demora 3 0 Mlxh, quase 1 0 0 0 0 (pintura dos vidros, cortinas) a elevado (venezianas especiais,
anos para o enfraquecimento total! Nestes exemplos extremos é cortinas, remodelação do espaço). Com manuscritos muito
preferível utilizar a categoria de poucos danos notáveis importantes e a claridade da luz do dia inevitável em museus
(pontuação 0 ) que ocorrem em 3 0 0 anos (pontuação 0 .5 ) para com janelas, utilize reproduções fotográficas para exposição.
obter um total de 3 .5 para o anterior exemplo. Este é um risco Custo: preço de uma fotografia.
relativamente pequeno, não nulo, mas pequeno. Avaliação de risco de água na figura 9 :
77
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

O inspector tem de olhar para o tecto, talvez sobre as persianas aberta criam definitivamente uma situação de risco elevado,
e verificar os canos. Verifique também o andar de cima, existe (infelizmente comum em museus modernos que têm exposições
uma casa de banho? Lavatório? Por exemplo, suponha que o abertas). Na figura 9 , porém, todos os manuscritos estão em
inspector identifica uma casa de banho no andar de cima, mais 3 expositores bem elaborados, com tampas em vidro, firmemente
outros canos que atravessam a sala. Como ponto de partida, é lacradas. A inspecção aprofundada dos pormenores demonstra
precaução mas razoável calcular que cada um destes itens pode que seriam muito bons em caso de derramamento de água,
romper-se uma vez em cada 3 0 anos. Esta é a sua validade especialmente os horizontais que se inclinam. Muitos expositores
esperada em termos industriais. Sendo assim, 4 fugas em 3 0 anos, de museus, novos e dispendiosos, são inúteis em caso de
dá uma média de uma fuga em cada 1 0 anos. Calcule que cada derramamento de água, ou até piores do que não ter nada, uma
fuga abrange 1 / 1 0 da área da sala. Assim a avaliação de risco vez que conduzem a água até ao artefacto, através dos orifícios
torna-se: das lâmpadas. Expositores como os da figura 8 , são muito difíceis
Com que rapidez? 2 de avaliar na questão de perigo de água. O autor calcula que
(um caso a cada 1 0 anos) talvez apenas 1 dos 3 0 livros dos expositores da figura 9 ficariam
Q ual a quantidade de danos? 2 ,5 molhados, se todos os expositores fossem borrifados com água.
(podem -se perder m uitos quadros e pinturas com tintas à base de Além disso, todos os manuscritos simples expostos verticalmente
água) estão encapados em capas de plástico com as extremidades
Q uanto do acervo? 1 lacradas. Aproximadamente 1 em cada 1 0 das capas de plástico
(em cada caso, 1 / 1 0 da sala m olha-se) parece ter aberturas que permitiriam que a água entrasse por
Q ual a importâncias dos artefactos? 1 cima. (As capas de plástico podem até ser melhores: eu calculo
(com o o exem plo prévio) que apenas 1 das 1 0 0 dessas bolsas da figura 9 escoariam a água,
Magnitude total de risco 6 .5 se o quadro se enchesse de água). Por isso, em livros abertos em
expositores, o risco baixa de 1 ,5 para 5 pontos e para os
Esta magnitude de risco está no nível de “prioridade urgente”, manuscritos encapados dentro dos expositores, baixa mais 1
embora absolutamente nada possa acontecer durante 1 0 ou até ponto, para 4 , prioridade moderada.
mesmo 3 0 anos. Esta é a natureza de perda “provável”. O As opções para reduzir o risco de água são:
inspector não pode garantir fugas, mas como aconselhador, o 1 . Reencaminhar a canalização. Custo: moderado a elevado.
inspector tem que advertir baseado em probabilidades. Mas 2 . Estabelecer um horário de manutenção especial para a
mesmo assim, quando se observa o exemplo, a estimativa parece canalização sobre a área de exposição.
errada. 3 . Inspeccionar cuidadosamente e melhorar os fechos dos
Está errado. A avaliação acima assume uma exposição aberta. expositores e os selos de encapsulamento, especialmente sob os
O s tubos e a canalização por cima das instalações da exposição
78
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

canos para os tornar mais capazes para bloquear a água ainda mente. Aqui, considera-se o efeito das capas nas duas avaliações
melhor do que o estimado. Custo: baixo. de risco mais difíceis: manipulação física e insectos.
Se um museu pensar em projectar e comprar muitos Não existe qualquer dúvida que os conservadores do acervo
expositores ou muitos armários para reserva, e existir perigo de reconhecem as vantagens destas capas, feitas de polietileno
água inevitável proveniente de cima, como um depósito de relativamente pesado, na protecção da manipulação física e
reserva de água no telhado do museu, faz sentido projectar e insectos. O s curadores gostam da vantagem de uma identificação
testar protótipos resistentes à infiltração de água. segura e de manter os fragmentos juntos. O s cartões de
Exercício: Veja a figura 8 . Como poderá determinar qual o identificação colocados dentro do capa, tornam-no mais forte e
risco de entrada de água proveniente de cima? tornam os pedaços pequenos mais visíveis. O acervo de história
Exercício: Vá e olhe para uma das suas salas de exposição. natural, acervo arqueológico e o acervo histórico, todos têm este
Tente avaliar o risco de desvanecimento pela luminosidade e o material. Nós sabemos que isto é uma boa ideia, mas podem os
risco de água proveniente de cima. Comece por imaginar o benefícios ser avaliados verdadeiramente?
futuro, os próximos 1 0 0 anos. Descreva o cenário a si próprio, e No caso de manipulação física, a melhor informação de
tente avaliá-lo com as escalas. Concentre-se: é mais fácil começar avaliação surge dos curadores e gestores do acervo ou dos
com um tipo específico de artefacto, uma parte específica da sala. próprios utilizadores, especialmente em museus pequenos onde
Pratique a generalização depois. todos estes são uma única pessoa. Neste exemplo em particular, o
curador que pôs as suas colecções de insígnias e distintivos em
Figuras 10 e 11. capas, estava convencido que a taxa de danos era muito mais
Duas caixas diferentes com pequenos distintivos em tecido baixa. A questão para ambos os curadores, especialmente para
As figuras 1 0 e 1 1 são de dois pequenos museus do exército aquele que não tem a colecção em capas, seria: quais os danos
diferentes, no Canadá. Como muitos museus, os museus militares estimados que ocorreram nos objectos, devido ao manuseamento,
coleccionam fardas, panos e grandes quantidades de coisas muito nos últimos1 0 anos, ou desde que estão no museu? Esta
pequenas que só têm valor quando inseridas em grupo ou grupos. estimativa incluiria o efeito de com que frequência estes objectos
Ao observar as figuras 1 0 e 1 1 , pode-se ver até agora que as foram procurados pelos utilizadores. Talvez o museu tenha
capas individuais de plástico com “fecho hermético” são um meio antecipado um grande aumento de utilizadores, 1 0 vezes mais
muito bom a nível de custo-eficácia para reduzir o risco de água. utilizadores por ano aumentariam o risco de manipulação 1 0
Também é um modo para reduzir o risco de manchas devido à vezes. Estas não são certamente avaliações fáceis, mas são
poluição. Também poderiam ser pequenas peças de roupa, necessárias antes de o museu estabelecer a prioridade. Se já existir
sapatos, chapéus, com linhas metálicas, de colecções islâmicas ou uma avaliação de risco mais fácil, como a avaliação de manchas
etnográficas. O s benefícios da água e dos poluentes podem ser de prata ou risco de danos de água ou risco de perda de
calculados, talvez não precisamente, mas com cenários óbvios em etiquetas, para justificar as capas, então a avaliação para a
79
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Figura 10. Qu ad r o d e d ist in t ivo s e in sígn ias m ilit ar es em t ecid o , Figura 11. Quad r o d e d ist in t ivo s e in sígn ias m ilit ar es em t ecid o ,
sem id en t if icação o u sep ar ação , n um p eq uen o m useu can ad en se. cad a um n um a cap a d e p o liet ilen o in d ivid ual co m "f ech o
h er m ét ico ", a m aio r ia co m car t õ es d e id en t if icação d en t r o , n um
p eq uen o m useu can ad en se.
protecção de força física é informativa, mas não essencial.
humano, e possivelmente a humidade relativa está algures entre os
Figura 3. Barco solar, risco de humidade relativa incorrecto? 4 0 % rh e os 6 0 % rh na maior parte do tempo, e fora destes
O edifício-museu do barco solar da figura 3 não é obviamente valores noutras alturas. Isto não é irreverência, esta é a realidade
típico da arquitectura histórica local. É o oposto de paredes dos museus do mundo inteiro.
pesadas e janelas pequenas. É o que é tecnicamente conhecido Exercício: Como poderá determinar a história da humidade e
como um edifício de construção pobre e pesada, e tem uma área da temperatura de modo confiável?
de janelas típicas do desejo de luminosidade do norte europeu. É Agora o Exercício mais difícil. Se realmente determinar a
história da humidade e da temperatura, então e depois? Como
verdade que se chama barco solar, mas também é verdade que os
calcularia o risco?
faraós (os seus conselheiros técnicos) conservaram-no até há 5 0 Há muitos anos atrás, existiu a proposta, talvez quando o
anos atrás, num subterrâneo, numa estrutura bem selada. É controlo da temperatura parecia tudo menos perfeito, de colocar
aparentemente um edifício com controlo da temperatura, mas uma grande quantidade de gel de sílica ao redor do barco que
quase sempre isso significa temperatura controlada para conforto agiria como um bom controlador da humidade (chamado de

80
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

“pára-choques”. (Ver Thomson 1 9 8 6 , ASHRAE 2 0 0 4 e outras durante 5 0 anos. Sorte? Penso que não. Eu acho que a melhor
fontes). Será que era necessário? ciência disponível sugere que este tipo de artefacto de madeira
A maioria dos leitores terá aprendido que aqueles artefactos de tem uma sensibilidade muito baixa de variação à humidade. E
madeira mostram algum grau de sensibilidade a variações de acho que os últimos 5 0 anos provaram isso. Por isso, os futuros
humidade. Alguns aprenderam que era muito sensível, outros gestores do acervo podem tirar vantagem do conhecimento
nem tanto assim. As melhores avaliações de risco disponíveis adquirido pelo passado. Duas clarificações: 1 , Se existirem
actualmente para esta questão podem ser encontradas numa fracturas pequenas e distorção observadas no barco, eu suspeito
extensa tabela disponível pelo autor. (A resposta: de pequeno a que seja a taxa rh de avaliação a longo prazo que esteja errada e
nenhum risco de fractura para até uns 4 0 % de variação numa não todas as variações. Disseram-me que os testes em câmaras
estrutura como o barco solar, porque cada pedaço de madeira funerárias semelhantes deram 6 0 % rh estável. E 2 , note que não
pode expandir-se e contrair-se sem pressão. Afinal de contas, isto existe qualquer vantagem (além de evitar o constrangimento) um
foi projectado como um barco que fica molhado e seca sem museu ter exagerado na perfeição do seu controlo da
rachar. Só era necessário deixá-lo solto.) O risco incerto surgiria temperatura, no passado. O que quer que tenha acontecido no
se qualquer peça tivesse sido “reposta” por uma resina). Na passado, pertence ao passado. A única coisa que importa
tabela de ASHRAE do Apêndice 3 , inclui-se uma simplificada mas actualmente são os dados para uma predição futura. Com
infelizmente, vaga estimativa de risco. A resposta mais rápida e variações de humidade em madeira, couro, pintura, tecidos, cola,
precisa é: as variações de humidade não causam risco significativo papel, pergaminho (e outros materiais orgânicos) quanto maior
de fractura ou de disposição em camadas, no futuro, a não ser for o conhecimento sobre os riscos no passado, menos serão os
que excedam todas as variações significativas do passado. Esta riscos avaliados no futuro.
“pior variação de rh” anterior é designada de “variação da Exercício: O que proporia como plano lógico para calcular a
impermeabilização do acervo” (tempo de resposta suficiente dos “flutuação da impermeabilidade de rh” dos artefactos de madeira
objectos, que no caso do barco excede 1 cm de densidade em no seu museu?
todo o lado, em pelo menos um dia, e provavelmente durante Exercício: O s riscos das outras 3 formas de rh incorrecto NÃO
muitos dias para a maioria dos elementos. Assim, o principal seguem o mesmo conceito da “flutuação da impermeabilidade de
ponto de referência para a avaliação de risco não é a ciência do rh.” O s danos acumulados em cada evento, como a humidade,
artefacto, mas o historial do agente. Com o barco solar, isto é não levam em consideração os anteriores eventos semelhantes.
uma faca de dois gumes. Foi tirado de uma humidade muito Explique.
estável de uma estrutura selada e fechada e colocado num edifício
moderno de risco, exposto ao sol do deserto. Por outras palavras, Figuras 12 e 13. Os leões de Tutankhamun
o risco, caso exista, já foi eliminado, a menos que o desempenho As figuras 1 2 e 1 3 são apresentadas como um conto admonitório
do edifício se deteriore radicalmente. E o barco permaneceu bem sobre a evidência histórica. Ao contrário do barco solar, o
81
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Figura 12. Um a d as cab eças d e leão n o acer vo d o Tut an kh am un . Figura 13. A m esm a cab eça d e leão d a f igur a 12, n um a f o t o gr af ia t ir ad a
Fo t o g r af ad o em 1986. Fr act u r a e d elap id ação d a cam ad a d e gesso p elo ar q ueó lo go n o d ia em q ue o t úm ulo f o i ab er t o . Em b o r a a f o t o gr af ia
d o u r ad a, d evid o ao en co lh im en t o d o s co m p o n en t es d e m ad eir a q ue est ão n ão seja m uit o clar a, cad a um a d as f r act ur as o u d elap id açõ es d e 1986 já
p o r b aixo . A q u est ão é, q u an d o o co r r er am est es d an o s? Quais o s r isco s d e exist e, m as n um gr au m ais b aixo .
h u m id ad e in co r r ect a e t em p er at u r a in co r r ect a p ar a est e o b ject o ?

artefacto da figura 1 2 evidencia sinais claros de danos provocados das suas implicações para a gestão do risco do futuro controlo de
pela humidade relativa incorrecta em 1 9 8 6 . Possivelmente, as humidade.
variações de rh, possibilitaram uma taxa de rh incorrecta a longo
prazo. Existe uma tendência nos museus para utilizar tal evidência Exercício: Q uais os tipos de artefactos importantes que existem no
como prova de que os sistemas de controlo de temperatura seu museu com semelhantes evidências de acumulação gradual de
actuais dos edifícios, são inadequados. Pode ser verdade que os danos provocados por rh incorrecto ou por qualquer outro
sistemas do edifício eram inadequados, mas esta evidência em agente? Vá e inspeccione-os, cuidadosamente. É capaz de deduzir
particular, é fraca. Note na figura 1 3 que na hora da escavação, o quando ocorreram os danos, no passado? Q uais os métodos que
artefacto evidenciava muitos dos mesmos danos, nos mesmos três poderia estabelecer que possam permitir ao museu provar que no
locais. O acesso a amostras com mais definição do que a espaço de um 1 ano ou 1 0 anos, podem ocorrer novos danos?
fotografia original e a outras fotografias disponíveis entre as duas
datas, permitiriam uma interpretação mais precisa da evidência e

82
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Gestão de risco de pragas integrado (GPI) inofensivos e insectos que morrem e depois se tornam o atractivo
Introdução perigoso. Depois da limpeza total destes itens pelo insectos, eles
O material nesta secção baseia-se no trabalho de Tom Strang do procuram mais…no seu edifício mais perto. O s animais daninhos
Instituto de Conservação Canadense. O s seus artigos (Strang, e os insectos em geral são também atraídos por lixo,
2 0 0 1 ) e os de outros (Pinniger, 2 0 0 1 ) publicados recentemente especialmente lixo de comida. O lixo deve ser mantido pelo
nesta área devem ser consultados, aquando do planeamento do menos 2 0 m, longe do edifício do museu, e frequentemente
programa completo de GPI do museu, especialmente se os danos esvaziado.
provocados pelos insectos, são um problema historicamente Repetindo, o princípio fundamental da primeira fase da GPI:
conhecido. Aqui, todos os conceitos fundamentais são providos o remova todo o habitat possível da área circundante. Isto aplica-se
bastante, para um museu compreender a alteração de confiança a todas as camadas das estruturas da figura 5 . Uma das grandes
no veneno para a confiança no GPI, e iniciar os seus métodos vantagens do tipo de expositores da figura 1 5 , quando
imediatamente. Como notado na secção prévia sobre os métodos comparado com os da figura 7 , é que se pode pedir aos
integrados, a indústria de controlo de pragas adoptou o conceito funcionários de limpeza que limpem o pó (flocos de pele humana,
e a expressão muito antes dos museus. A GPI não só é útil por si cabelos, etc.) debaixo dos expositores, i.e., o habitat.
só, como é útil como modelo de gestão de risco para todos os Evite também tudo o que se aplicar directamente a fontes. O s
outros agentes de deterioração nos museus. insectos entram frequentemente no museu através de artefactos
novos, ou através de materiais de construção, e frequentemente
Evite fontes e atractivos através de materiais para mostras em exposições abertas. Por isso,
As pragas foram o agente que iniciou a adição da palavra “o que outro princípio geral da GPI: quarentena e depois inspeccionar
atrai” para esta expressão do controlo. As pragas não podem ser todos os materiais que entram, especialmente, o mesmo tipo de
evitadas no ambiente externo, mas ao contrário dos poluentes, e material que compõe a sua mais importante ou a maioria comum
tal como os ladrões, as pragas seguem tudo o que as atrai. E “algo das colecções… madeira para insectos de madeira, lã para insectos
que atrai” e um caminho básico são um habitat agradável para as de lã, etc.
pragas.
Alguns podem tornar-se específicos: os piores atractivos são os Bloquear os caminhos
que imitam as colecções vulneráveis. Pele, penas e lã em As várias áreas das estruturas da figura 5 , paredes seguras,
colecções são especialmente vulneráveis a certos insectos, e esses telhado, portas, janelas, da “lista dos básicos”, falam todos com a
insectos são atraídos ao edifício do museu por, claro, pele, penas, GPI. Tal como as capas plásticas da figura 1 1 , que contêm os seus
pêlo e qualquer coisa com o mesmo material (queratinas) ou preciosos artigos militares de lã. Num nível menos óbvio, a GPI
material semelhante (quitinas) como insectos mortos. Assim, o refere-se a um “perímetro sanitário” â volta do edifício, que pode
habitat inclui as árvores e arbustos que atraem pássaros ser aplicado metodicamente à volta de cada camada das estruturas
83
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Figura 14. Ar m azen am en t o d o acer vo n um m useu d e t am an h o m éd io . A


Figura 15. Sala d e exp o sição d e um m useu gr an d e, h á 20 an o s at r ás, co m
m et icu lo sid ad e g er al é b o a, n ão p ar ece exist ir q ualq uer f o n t e d e água
exp o sit o r es t r ad icio n ais d e m useu, co m q uase 100 an o s. Os f un cio n ár io s d e
p r o ven ien t e d e cim a, e t o d o s m en o s algun s d o s r ecip ien t es d e co zin h a
lim p eza lim p am o p ó co m um esp an ad o r d e p en as, t o d as as m an h ãs. A luz
em b r o n ze g r an d es, est ão ar m azen ad o s sem est ar em em p ilh ad o s, un s
d o d ia en t r a n a sala. Se algum a co isa est iver em r isco aq ui d ep en d e d e
em cim a d o s o u t r o s. Co m o aco n t ece em m uit o s m useus, exist e um
co m o o acer vo est á exp o st o . Ao co n t r ár io d o caso d a f igur a 7, p o d e -se
esp aço d e t r ab alh o n a ár ea d e ar m azen am en t o d o acer vo q ue d en un cia
lim p ar f acilm en t e d eb aixo d est es exp o sit o r es, e f azer a in sp ecção a
m u it o s p er ig o s, co m o a p assag em co n st an t e d e p esso al, co m id a,
r esist ên cia a in sect o s.
b eb id as, e p ó co n sid er ável (n est e exem p lo as cer âm icas ar q ueo ló gicas
est ão a ser cat alo g ad as e lim p as). Não se t em a cer t eza d e q uais são as
m esas d e t r ab alh o e q u ais as m esas p ar a o s ar t ef act o s d o m useu. Q ualquer museu com acervos especialmente vulneráveis, como
tecidos de lã, deve considerar a utilização de telas em qualquer
da figura 5 . janela aberta que conduza a esse acervo, e em qualquer abertura
Conceptualmente, isto sobrepõe-se com a remoção do habitat, de ventilação para os sistemas mecânicos.
mas traduz a ideia principal da faixa estreita do habitat que age Provavelmente, um dos factores de sorte para os museus em
como um caminho para os buracos e rachas da clausura. As telas climas secos e quentes, dado a falta de telas em janelas, foi a falta
de rede são um detalhe importante, como em qualquer abertura simultânea de vegetação e habitat à volta do edifício. É uma
com mais de 1 mm. As telas de rede contra insectos nas janelas, grande ironia e uma reversão infeliz que os museus modernos
comuns em algumas partes do mundo, não existem em muitas desses países se esforcem heroicamente para providenciar
outras. ambientes agradáveis, jardins com água, restaurantes, tudo para
atrair pragas para o seu oásis e para as suas colecções! Estes
84
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

museus devem pelo menos, levar em consideração o conceito de isole-a imediatamente e suavemente. Dispersar os insectos adultos
perímetro sanitário, i.e., a distância de 1 m de relva e arbustos pelo acervo, não os isolando, não é útil. Para começar, embrulhe-
sem pedras à volta de todo o edifício e ter um cuidado especial os em plástico e isole-os bem. Consulte a literatura e os peritos
com a remoção de lixo. (peritos genuínos, não os pulverizadores de veneno) para mais
informações. Existem vários métodos novos para matar insectos
Detecção (sem veneno) que os museus precisam de conhecer. Um dos
O s insectos adultos entram no acervo, encontram o seu habitat e grupos é designado de “atmosferas controladas” ou “anoxia” e
depositam os ovos. A larva e ou a fase da crisálida destrói os consiste numa bolsa cheia de ar sem oxigénio. O s outros métodos
artefactos, torna-se adulta e propaga-se pelo acervo. são chamados de “térmico” e qualquer um deles utiliza
Normalmente, este ciclo demora algumas semanas, por isso é vital temperaturas muito altas ou muito baixas (Strang, 2 0 0 1 ). O s
descobrir qualquer infestação antes do ciclo voltar a repetir-se. Se métodos com temperaturas altas podem utilizar técnicas a um
se repetir duas, três vezes antes de o descobrir, as perdas custo extremamente baixo, tal como colocar os artefactos
aumentarão exponencialmente. Um dos métodos mais úteis que infestados em polietileno preto ao sol durante um dia. Este
apareceu na GPI do museu nas últimas duas décadas é a utilização método “solar” está actualmente bem descrito na literatura sobre
sistemática de “armadilhas pegajosas” para insectos. Embora seja preservação do acervo (Brokerhof, 2 0 0 2 ).
vendido para as casas como meio de matar insectos, a sua
utilização em museus não é para matar mas sim para detectar. Gestão de risco sustentável de iluminação, poluição, temperatura e
Estas armadilhas pegajosas são colocadas ao longo do acervo, humidade, integrada
especialmente ao longo dos caminhos do insecto (extremidades Agestão de risco substitui os padrões rigorosos para o meio
escuras de paredes, etc.) e depois inspeccionadas em intervalos ambiente do museu
regulares, talvez uma vez por mês. É importante identificar as O s exemplos de trabalho da secção sobre Exemplos de avaliações
espécies de insecto, uma vez que muitos são inofensivos para o de risco específicos e soluções individuais apresentam uma
acervo (ver referências sobre fontes de identificação). Por isso, é abordagem sobre a avaliação de risco e a redução de risco em
importante manter registos do que encontra e onde, e finalmente, temas como a iluminação e o controlo de humidade. Como
é importante estar atento a quaisquer “pontos negros” no seu referido no início deste capítulo, a maior parte do
edifício e dar uma resposta. aconselhamento e directrizes sobre a preservação utilizam uma
abordagem muito mais simples, baseado na “melhor prática” ou
Resposta “padrões”. Isto é especialmente verdade nos últimos quatro
Em resumo, mate as pragas. Mais precisamente, encontre a agentes da tabela 1 , iluminação, poluição, temperatura incorrecta
infestação detectada pelas armadilhas pegajosas ou pela inspecção e humidade incorrecta, conhecidas colectivamente como o “meio
rotineira das colecções, ou na quarentena do material adquirido e
85
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

ambiente do museu”. As regras simples são muito mais fáceis de Várias complicações surgiram. O s espectadores mais velhos
especificar, mas o custo pode tornar-se muito alto e os benefícios não conseguem ver os detalhes com uma iluminação de 5 0 lux
arbitrários. (nível de iluminação normalmente recomendado para tecidos
Durante os anos setenta, os museus mundiais adoptaram sensíveis à luz, cores com base de água e manuscritos, e até
padrões rigorosos simples para o “ meio ambiente do museu”. mesmo os espectadores jovens não conseguem ver bem superfícies
Estes padrões baseavam-se em estimativas extremamente complexas ou escuras àquele nível de iluminação. Muitos
cautelosas de alguns riscos e simplificação excessiva ou omissão artefactos não são muito sensíveis à luz e são mantido na
completa, de outros riscos. Os objectivos eram escuridão sem qualquer razão. Por outro lado, muitos outros são
desnecessariamente difíceis e caros em algumas situações e tão sensíveis à luz que uma iluminação ininterrupta tão baixa de
contraproducentes em outras situações. Embora os museus 5 0 lux causará desvanecimento após muitos anos de exposição
estejam a substituir estes objectivos rigorosos gradualmente por permanente. O autor revisou toda a literatura sobre a visibilidade,
directrizes mais flexíveis, os objectivos rigorosos ainda dominam assim como todos os dados úteis sobre o desvanecimento têxtil e
muito do aconselhamento divulgado. Dominam completamente os desenvolveu uma directriz de iluminação geral. (Michalski, 1 9 9 7 )
acordos de empréstimo entre museus, um facto importante para Nos últimos dez anos, a gestão de risco desenvolveu directrizes
os grandes museus que querem exposições por empréstimo. de iluminação de outros autores. Todos começam com a mesma
O texto dominante durante o último quarto de século nesta abordagem de avaliação de risco, i.e., quanto tempo demora até
área foi O Meio A m biente do Museu por Garry Thomson um desvanecimento notável? Autores diferentes provêem
(1 9 7 8 , 2 ª edição 1 9 8 6 ). Providencia ainda uma avaliação estratégias diferentes para simplificar a decisão para várias
excelente sobre muitos assuntos, embora algum do seu material colecções. Eventualmente, porém, todas as directrizes de
esteja actualmente desactualizado. iluminação baseadas num tempo aceitável para causar
desvanecimento notável, necessitam de dados sobre a
Directrizes sobre a iluminação do museu sensibilidade à luz do acervo. O melhor resumo destes dados
Durante várias décadas, o padrão de iluminação dos museus surgiu numa directriz internacional recentemente publicada sobre
especificava que os tecidos e trabalhos em papel deviam ser a iluminação do museu (CIE 2 0 0 4 ) e é apresentado de forma
iluminados só a 5 0 lux e as pinturas e outras superfícies pintadas a breve no Apêndice Sensibilidade de materiais coloridos à
1 5 0 lux. (Lux é a unidade internacional de intensidade de iluminação.
iluminação SI). Para comparação, a luz solar directa pode atingir Alternativamente, pode decidir manter a directriz rigorosa
até 1 0 0 ,0 0 0 lux, a luz do dia indirecta 1 0 ,0 0 0 lux, os tradicional, ou seja, iluminar todos os artefactos a um nível muito
projectores de iluminação 2 0 0 0 lux, a iluminação de escritório baixo, desde 5 0 lux a 1 5 0 lux e aceitar as complicações listadas
directa na secretária normalmente atinge 7 5 0 lux e uma vela anteriormente.
segurada na mão atinge 1 lux de intensidade).
86
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Directrizes sobre a temperatura e humidade do museu As especificações de ASHRAE (Apêndice 3 ) utilizam o


Durante várias décadas, o aconselhamento padrão sobre conceito de gestão de risco. Existe uma lista sobre os vários graus
humidade e temperatura era simples e rigoroso: pretendia-se de controlo de variação, AA, A, B, C, D e os riscos de cada grau
alcançar 2 1 ° C com 5 0 % RH e muito pouca variação permitida. estão listados na coluna da direita da tabela. Existe também uma
Este padrão desenvolveu-se aquando da preocupação com lista sobre o risco de materiais de arquivo quimicamente instáveis
pinturas e mobiliário na Europa e era realmente benéfico para sempre que existe uma temperatura próxima dos 2 1 C. Também
estas colecções. Infelizmente, não era benéfico para o arquivo tenha em atenção que ao projectar um espaço de exposição
moderno e materiais em papel que necessitavam de condições temporário para receber exposições emprestadas, o espaço deve
frescas e secas para uma maior duração (Michalski, 2 0 0 0 ). Não ser projectado para satisfazer as exigências de temperatura dos
era benéfico para metais corroídos que necessitavam de condições emprestadores que normalmente são muito rigorosas.
secas. Era desnecessariamente restrito a muitas colecções, como Na experiência do autor sobre o clima do deserto ou climas
pinturas, artefactos de madeira e pergaminho apenas em risco próximos do deserto, os períodos de humidade contínua que
sério em caso de humidade ou seca extrema, e pedra, cerâmica, atingem as regiões marítimas e tropicais são incomuns. As salas
vidro estável e metais puros apenas em risco sério em caso de subterrâneas são incomuns na arquitectura tradicional, para que a
humidade. Finalmente, e como afirmado no tema sobre humidade contínua dos andares subterrâneos do armazenamento
sustentabilidade, era um padrão caro para implementar ao nível não surja frequentemente. O s perigos mais comuns são a
de edifício. temperatura média muito elevada e as variações extremas da
Em 1 9 9 9 , um comité de cientistas de conservação e temperatura e humidade relativa entre o dia e a noite.
engenheiros mecânicos da América do Norte acordou linhas de O s riscos de temperatura elevada não são na verdade grandes
orientação mais precisas. Foram publicadas primeiro em 1 9 9 9 , para os materiais tradicionais. São um problema sério para
num novo capítulo do manual do engenheiro dos EUA para fotografias, papel dos últimos 1 5 0 anos, plásticos, material
museus, bibliotecas e arquivos e revistas em 2 0 0 3 (ASHRAE, audiovisual e meios de comunicação digitais. O risco é a
2 0 0 3 ). O capítulo também contém uma excelente revisão sobre decadência muito rápida, a menos que seja utilizado equipamento
os tipos de risco para o acervo do museu, baseado nos subtipos de refrigeração. Assim, a preservação de materiais de arquivo
de temperatura incorrecta e humidade incorrecta devido aos modernos requer tecnologia de construção moderna.
agentes da Tabela 1 . As temperaturas e humidades indicadas são Felizmente, os metais, cerâmica, vidro, madeira, couro,
providas no capítulo de ASHRAE no Apêndice 3 . No entanto, pergaminho, retalhos de papel, pinturas a óleo, resinas naturais e
quem tomar as decisões relativamente às considerações sobre as cola animal têm um risco relativamente baixo, de temperaturas do
especificações do projecto para um edifício, deve levar em conta ar ocasionais até 4 0 °C. Estes materiais tradicionais, tais como o
todo o capítulo, tanto para si próprio como para os engenheiros pergaminho, papiro e retalhos de papel, raramente são vistos em
consultores. museus e arquivos por terem sofrido perda devido ao calor seco.
87
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Q uando vistos em condições pobres, os agentes responsáveis museus pequenos em climas quentes é o equipamento de ar
quase sempre são forças húmidas, físicas (manipulação condicionado, como o da figura 1 6 . Funciona invariavelmente
inadequada), insectos, poluentes, raios UV e luz. (Isto não é para mal, e o triste facto é que frequentemente o ar condicionado
justificar a exposição ao ar livre ao sol do deserto. O bviamente, expõe a primeira exposição do acervo do museu a uma humidade
isto destrói estes materiais no espaço de alguns anos, devido aos relativa elevada (e a outra fonte de fugas de água). Mantenha
raios UV muito intensos e a temperaturas de superfície de 1 0 0 ° C sempre os artefactos sensíveis à água ou à humidade afastados do
ou mais de luz solar directa). ar condicionado. Se planear instalar um ar condicionado novo,
verifique o rh antes da instalação durante algumas semanas ou se
possível meses, e depois verifique-o cuidadosamente após a
instalação e operacionalidade do ar condicionado.
As variações de humidade causam um risco moderadamente
elevado, e são dados alguns exemplos de avaliação de risco na
secção Exemplos de avaliações de risco específicas e soluções
individuais 6 . O conceito “ à prova de rh” introduzido naquela
secção é crítico para uma estimativa de risco de variação de rh.
Por exemplo, se um ar condicionado introduzir novas e maiores
variações de rh, pode exceder a protecção do rh do seu acervo.
Em qualquer situação onde a humidade relativa está em
questão, a percepção humana é geralmente incerta (com
Figura 16. Mu seu t íp ico p eq u en o e sist em as d e ar co n d icio n ad o
excepção da humidade extrema). A humidade relativa deve ser
m o d er n o s o m n ip r esen t es. Fr eq uen t em en t e, est es t an t o causam medida (Fase da detecção) para fazer uma avaliação de risco
m u it o s d an o s ao s ar t ef act o s co m o causam co n f o r t o ao s visit an t es e precisa.
p esso al. Pr o vo cam f r eq u en t em en t e um RH elevad o e um a f o n t e d e
g o t eir as d e ág u a (co n d en sação ), q ue n ão exist ia an t es.
Directrizes sobre os poluentes do museu
Nas regiões marítimas, i.e., próximas do mar ou do oceano, a O s poluentes atmosféricos são o gás, contaminantes líquidos ou
humidade contínua pode tornar-se um problema. Em edifícios de sólidos levados pelo ar, conhecidos por causar danos a objectos.
estilo europeu modernos com armazenamento subterrâneo, e uma A maior parte de nós está familiarizado com fontes externas como
taxa de água elevada devido à proximidade do rio, então a a poluição urbana, areia do deserto, maresia, mas os museus
sustentação de humidade também pode ser um problema. Na também têm que levar em consideração as fontes internas, como
experiência do autor, a única causa mais comum de humidade em materiais de construção e materiais de embalagem que emitem
gases.
88
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

As directrizes tradicionais sobre as especificações dos poluentes manchar ou a deteriorar-se em muito mais doses. No caso de
do museu seguiram duas linhas de argumentação: os níveis desvanecimento devido à luminosidade, por exemplo, demora
naturais não parecem ser muito prejudiciais, e em caso de dúvida, cerca de 3 0 a 5 0 mais doses antes de ter perdido toda a
escolha os melhores sistemas de filtragem disponíveis. Thomson coloração. Enquanto os dados apresentados na forma “pouco
(1 9 8 6 ) propôs o ponto de referência dos níveis de poluição efeito observável” é útil para fixar objectivos, deve ser utilizado
ocorrida naturalmente, uma vez que observou que o acervo em cuidadosamente aquando da pesquisa de risco geral, porque
arquivo longe de áreas urbanas podia sobreviver sem danos define o início, em vez do fim, do risco cumulativo. Felizmente, as
durante séculos, enquanto o acervo em locais urbanos escalas de avaliação de risco podem lidar com esta diferença,
frequentemente sofriam danos no espaço de décadas. como explicado anteriormente em alguns dos exemplos.
Isto era uma abordagem útil para poluentes que ocorrem Aplicar as directrizes sobre os poluentes, torna-se muito
naturalmente num nível significativo, como dióxido de enxofre e complexo, muito rapidamente. Ao contrário da iluminação que é
ozono, mas não era útil para poluentes que ocorrem naturalmente um agente sem subcategorias e com só um tipo de risco, o
em níveis extremamente baixos. Para tais poluentes, havia enfraquecimento, o poluente consiste em dúzias de partículas e
simplesmente uma tendência para escolher a “melhor tecnologia gases, cada uma com diversas fontes, diferentes formas de risco,
disponível” em determinados sistemas mecânicos. Na prática, diferentes taxas de danos e diferentes colecções que são atacadas.
muito poucos museus optaram realmente por melhores sistemas Felizmente, existe uma lista dos problemas de poluição básicos
disponíveis. que surgem porque ou o poluente tem uma grande propagação
Recentemente, Tétreault introduziu no Instituto de relativa aos seus danos, como pó pesado, ou porque certas
Conservação Canadense uma abordagem com directrizes sobre combinações particulares de poluente e materiais do artefacto
poluentes na gestão de risco, baseado no conceito de “efeito conduzem a uma reacção química muito rápida. O s museus
adverso observável” (EAO ). Inventou os termos relacionados, passaram por estas situações vezes sem conta (Lista da tabela 4 ).
Nenhum Nível de Efeito Adverso O bservável (N NEAO ) e Dose Note que os métodos de redução de risco existem em apenas
Mínima de Efeito Adverso O bservável (DMEAO ). Estes termos duas abordagens, uma para poluentes externos e outra para
estavam incorporados nas directrizes sobre os poluentes no poluentes internos. As fontes externas são principalmente
manual dos engenheiros de ASHRAE, (ASHRAE 2 0 0 4 ) e é controladas pela Fase do Bloqueio e as fontes internas são
explicado em pormenor num manual inclusivo sobre poluição de principalmente controladas pela Fase da Prevenção. Considere o
Tétreault (2 0 0 3 ). No entanto, quaisquer que sejam os termos problema de colorantes em manuscritos. A pesquisa mostrou que
formais pode-se reconhecer o mesmo conceito de risco utilizado os níveis de poluente nos piores níveis observados em situações
nas directrizes de iluminação, quer seja por perda notável ou urbanas podem enfraquecer completamente o colorante mais
observável. Mais precisamente, é uma perda “pouco notável” ou sensível num ano, se o colorante estiver exposto ao ar poluído.
“pouco observável”. O artefacto continuará a enfraquecer ou a
89
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Tabela 4. Os p r o b lem as d e p o lu ição b ásico s (ab r evi ação d a t ab ela d e m at er iais h ip er sen síveis d e Tét r eau lt (2003) e o u t r as f o n t es)

Poluentes Material sensível Risco Perigos, Fontes Métodos de redução do risco

Fontes externas (principais)

Par t ícu las, Sujid ad e.


Guar d e o s ar t ef act o s em exp o sit o r es
esp ecialm en t e, To d o s o s ar t ef act o s, Co r r o são aceler ad a d e m et ais Ar eias, p ó . Po luição ur b an a,
h er m ét ico s, p aco t es, ar m ár io s.
silicat o s (ar eia) esp ecialm en t e p o r o so s co m b r ilh an t es. esp ecialm en t e t r áf ego .
Red uza a en t r ad a d e ar ext er n o ao
car b o n o (f u m o ) su p er f ície co m p lexa. Dan o s sub seq uen t es à lim p eza.
ed if ício , esp ecialm en t e d ur an t e o s
Ozo n o p ico s d e t r áf ego o u p ico s d e
Alg u n s co r an t es em aguar elas, t em p est ad es d e p ó .
Dió xid o d e azo t o Po luição ur b an a
ilu m in at u r as (ín d igo , car m esim , Desvan ecim en t o d a co r In st ale f ilt r o s n o s sist em as d o ed if ício .
Dió xid o d e en xo f r e esp ecialm en t e t r áf ego
f u csin a b ásico , cur cum in a.)

Fontes internas (principais)


Co m p o st o s d e b o r r ach a.
Su lf u r et o d e Man ch as d a p r at a, (e lim p eza Lã q uan d o exp o st a a r aio s
Pr at a Evit e t o d as as f o n t es list ad as d en t r o
h id r o g én io sub seq uen t e ab r asiva.) UV.
Hum an o s. d o s exp o sit o r es.
Evit e t o d as as f o n t es list ad as em salas
Mad eir a e p r o d ut o s d e f ib r a
e m o b iliár io .
d e m ad eir a.
Ácid o s Car b o xilico s Ch u m b o . Man ch as d o ch um b o . Sele o u cu b r a q ualq uer f o n t e
Óleo e p in t ur as alq uid icas.
Car b o n at o s, co m o co n ch as. Ef lo r escên cia d as co n ch as. ut ilizad a n a co n st r ução .
Pin t ur as à b ase d e água
en q uan t o f r escas.

Porém, sabe-se que as tintas à base de água e os manuscritos vidro fechada ou um livro firmemente fechado pode reduzir a
sobreviveram muito bem durante muitos séculos, até mesmo em entrada do poluente do factor 1 0 0 a 1 0 0 0 . Por outras palavras,
algumas cidades com uma poluição historicamente pesada. o pior perigo de poluição urbano que traz um risco de perda
Porquê? Devido à protecção provida por um livro fechado, uma completa de cor no espaço de um ano, é reduzido para perda
armação de vidro lacrada, quadro de madeira fechada, uma bolsa completa em talvez 3 0 0 anos. Assim, na escala de avaliação de
de couro fechada ou até mesmo um envelope. O s modelos risco, para o mesmo perigo de poluição urbano, o risco baixa 2 -3
científicos mostram que comparado ao ar livre, uma armação de pontos na escala “com que rapidez?” se utilizar uma armação de

90
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

vidro fechada. Além disso, pode-se ajustar todas estas estimativas Gestão integrada de todos os quatro agentes
pelos benefícios de edifícios fechados que demonstraram ter Estes quatro agentes, poluentes, luz/ raios UV, temperatura
baixas concentrações antes de três a dez vezes abaixo dos níveis ao incorrecta, e humidade incorrecta, têm muitas características em
ar livre. O ponto importante em todas estas estimat ivas, porém, é comum, cada uma delas sugerindo caminhos para a integração.
sem dúvida a redução de risco mais importante, mais previsível e A Todos os quatro são agentes de deterioração “científicos” do
mais custo-eficácia, a armação de vidro simples. A seguir, conhecimento moderno. O s cinco agentes anteriores (# 1 a
veremos como as clausuras podem tornar-se o problema e não a # 5 ) são antigos na sua compreensão.
solução. B Todos os quatro podem ser medidos de forma precisa através
Um número considerável de literatura sobre conservação de instrumentos científicos ou metros. Na realidade, ao
aborda questões sobre materiais de exposição seguros e perigosos, contrário dos cinco agentes anteriores antigos, a sua
e como os testar, revistos no texto de Tétreault (2 0 0 3 ) e na sua intensidade não é facilmente calculada excepto através de
mais breve publicação sobre revestimentos (1 9 9 9 ). Uma nova instrumentos.
base de dados excelente na internet, fornecida pelo Centro para a C Todos os quatro estão fortemente associados com a engenharia
Conservação do Q uebec, Canadá, descreve as utilizações e e projecto do edifício e das exposições e métodos de
perigos de muitos materiais usados em exposições e armazenamento.
armazenamento do museu. D Todos menos a luz/ raios UV chegam ao artefacto por
(http:/ / preservart.ccq.mcc.gouv.qc.ca) deslocação do ar.
Na experiência do autor ao inspeccionar museus em países E Todos menos a temperatura incorrecta podem ser bloqueados
árabes, o único e mais comum problema de poluentes não são os por materiais finos, baratos e até mesmo materiais delicados.
gases urbanos, mas as partículas: areia e pó, aumentados Implicações de A e B. O facto de estes agentes serem
frequentemente pelo carbono dos motores a gasóleo dos científicos, e puderem ser medidos, foi uma dupla faca de dois
autocarros e camiões. gumes na integração do museu. Por um lado, os conservadores e
O senso comum diz-nos que um expositor fechado, um armário cientistas modernos conheciam bem os agentes científicos,
fechado, um envelope fechado, quadro ou outros, reduz o risco sabendo como os medir e integrando-os num único conceito
deste perigo. Nas figuras 8 e 1 5 , os artefactos em expositores prático: “o meio ambiente do museu.” O s museus recolheram
estão bem protegidos do pó e de qualquer fonte. No entanto, os muitos dados ambientais e até mesmo os curadores estavam
projectistas das exposições dos museus preferem frequentemente familiarizados com fotómetros e termohigrógrafo. Por outro lado,
a exposição aberta ou o museu simplesmente não tem os recursos os conservadores e os seus cientistas tenderam a perder a
para incluir objectos grandes. A limpeza diária do museu conduz a perspectiva do risco mais comum, não científico, como a
outros problemas referidos anteriormente na secção sobre gestão manipulação incorrecta, pragas, água e até sujidade.
doméstica e ilustrado na figura 7 . O museu deve ter acesso a um fotómetro, medidor de raios
UV, higrómetro e termómetro. Muitos países descobriram a
91
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

vantagem de utilizar uma agência regional ou nacional central que


empresta estes instrumentos como um equipamento para museus
mais pequenos e que não têm recursos para comprar ou calibrar.
A medida para o poluente é mais complexa. Alguns dos poluentes
mais importantes dos recintos fechados do museu que utilizam
dosímetros de cor simples podem ser medidos. O s poluentes
externos são normalmente medidos através de outras agências e as
informações podem ser obtidas através delas. Uma excelente
revisão das possibilidades de medida de poluentes encontra-se em
Tétreault (2 0 0 3 ).
Implicações de C e D: O controlo integrado da temperatura e
iluminação do museu requer um entendimento mútuo entre os
projectistas de todos os sistemas do edifício e de toda a exposição
e sistemas de armazenamento. Figura 17. Tr ab alh o d e eq uip a e f o r m ação . Co n ser vad o r es e cien t ist as d e
co n ser vação jo ven s d ur an t e um exer cício d e f o r m ação n o m useu.
Implicações de E: Muitas soluções para a redução do risco em Ap r en d em a ut ilizar o s f o t ó m et r o s e o s h igr ó m et r o s e algun s d o s
contaminantes, raios UV, luz e humidade incorrecta requerem elem en t o s b ásico s p ar a a in sp ecção ao acer vo . O exp o sit o r à sua f r en t e
pouco mais do que um saco opaco de material limpo. co n t ém um m o n t e d e m o ed as d e b r o n ze, f un d id as n um a m assa co r r o íd a
co m ar eia e exp o st o p ar a m o st r ar co m o est e t eso ur o f o i en co n t r ad o p elo s
Consequentemente uma das estratégias básicas listadas ar q ueó lo go s.
anteriormente na Lista de Estratégias Básicas.
preservação. A preservação eficaz a longo prazo depende da
Conclusões: Continue gestão de risco, dos métodos integrados, do trabalho de equipa e
A intenção deste capítulo é ensinar a atitude e a capacidade que da sustentabilidade. O s responsáveis pela preservação do acervo
podem conduzir a uma preservação do acervo eficaz. Não pôde têm que compreender este conceito e gradualmente convencer
disponibilizar toda a informação necessária, apenas utilizar outros no museu, antes de eles próprios os puderem alcançar.
exemplos úteis. As profissões de conservador/ restaurador e de A figura 1 7 é o local apropriado para terminar este capítulo.
cientista de conservação, porém, está bem servido por um Mostra um grupo de conservadores e cientistas de conservação
conjunto de literatura técnica, facilmente localizado através de jovens no Egipto, num exercício de formação, há cinco anos atrás.
publicações, e cada vez mais, bem servido pela internet (ver as Eles estão a aprender a utilizar os monitores ambientais, tais como
referências no fim do capítulo). os fotómetros e as normas básicas para inspeccionar o edifício da
O que surpreendeu várias vezes o autor, no mundo exposição relativamente a um determinado agente. É a ponte
museológico, é que apesar da boa vontade por parte do pessoal, é entre o seu trabalho normal que não envolveu qualquer inspecção
comum a fragmentação notável e inconsistência das estratégias de e a possível tarefa futura para alguns deles, de conduzir uma
92
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

inspecção complexa de todos os riscos ao acervo. O expositor que Diplomaticamente, a maioria dos museus aprecia um relatório
estão a observar, enquanto discutem e partilham ideias, contém com algumas observações positivas!
um tesouro de moedas, colocado no expositor pelo projectista Local
para exemplificar como os arqueólogos o descobriram. É uma Caminhe: À volta de todo o local, 1 0 m a 5 0 m afastado do
argamassa de bronze corroído e sujidade, mostrando a cor verde edifício
pálida clássica da contaminação e corrosão activa do bronze, num Fotografias: perspectivas gerais (ângulo amplo) do local, à frente
expositor de um apoio só. Exercício: Q uais são os riscos? Q ual a do edifício, do lado esquerdo, atrás, do lado direito.
sua importância? Como pode descobrir? O que aconselharia ao O bservações a recolher:
museu? Precisamos do relatório para a semana… Tipo de edifícios perto ou integrados? (fonte de incêndio, água,
ladrões, vândalos)
Declive da terra perto, altura/ distância dos rios e drenagem
perto? (água)
Apêndices Q uais os sistemas de abastecimento de água pública, drenagem e
Apêndice 1: esgoto que consegue ver? Parecem estar em boas condições?
Os factos visíveis: sugestão para a inspecção, conjunto de (água)
observações básicas e conjunto de fotografias Bocas-de-incêndio disponíveis perto? (incêndio)
Comentários gerais: Embora a sequência de fotografias ajude a Iluminação de vigilância nocturna? (ladrões, vândalos)
organizar as fotografias, é essencial registar o número da fotografia Perímetro do edifício
com qualquer nota sobre as observações e identificar nas Caminhe: À volta do perímetro do edifício, observe as paredes e
observações qual a sala, porta, colecção, etc. o telhado (Se necessário, aceda depois a uma perspectiva do
Embora o último propósito da inspecção de avaliação de risco telhado)
seja descobrir os riscos da colecção, lembre-se que a pesquisa é só Fotografias: perspectivas gerais (ângulo amplo) de frente, lado
uma primeira fase de recolha de factos utilizados para calcular direito, atrás, lado esquerdo do edifício.
riscos significativos ao acervo. Claro que, durante uma inspecção O bservações a recolher:
observa-se e entende-se muitos dos riscos, e isto ajudará a Materiais de parede, aberturas, qualidade de construção?
recolher as observações mais úteis, mas faça observações mesmo Rachas?
se a porta ou a parede ou a embalagem esteja “em boas Aberturas? (impede todos os agentes de deterioração)
condições”. Em qualquer inspecção sistemática, como esta ou a Aberturas na parede? Têm telas? (impede pragas, ladrões)
de Waller (2 0 0 3 ) faz-se estimativas sobre todos os agentes e todo Iluminação nocturna? Boa perspectiva? (ladrões, vândalos)
o acervo, de forma que o relatório descreva ambos os aspectos Perímetro próximo do edifício sem vegetação. Lixo armazenado
bons e maus da actual gestão de risco do acervo. perto? (pragas)

93
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Construção do telhado? Inclinado ou direito? Tipo de sistema de Salas do pessoal da manutenção, instalações sanitárias: pias,
drenagem? Condição? Sinais de estragos? (água) canalização, drenos de descarga (água)
Q ualquer outro perigo óbvio relacionado com o perímetro do Salas de preparação de comida e salas de serviço: como o
edifício? anterior, mais lixo, limpeza (pragas)
Portas e janelas Corredores, elevadores: facilidade de acesso, obstruções,
Caminhe: À volta do perímetro do edifício, observe portas e limpeza (forças físicas em trânsito, pragas)
janelas (Se necessário, aceda depois a uma perspectiva interior de Salas do acervo
cada porta e janela) Caminhe: Por cada sala com acervo. Primeiro, as salas de
Fotografias: Identifique cada tipo diferente de portas. Faça pelo exposição, na sequência do visitante e depois o armazenamento.
menos uma fotografia de cada tipo. Q ualquer porta com Em cada sala, caminhe à volta do perímetro, várias vezes,
problemas especiais, faça uma fotografia. Tire fotos ampliadas das observando cuidadosamente, antes de tirar fotografias ou notas.
fechaduras, aberturas, qualquer problema de más condições (tire- Passe por todas as salas antes de inspeccionar os acessórios ou o
as sempre em sequência com a fotografia geral da porta/ janela.) acervo.
O bservações a recolher: Fotografias: De grande plano angular de cada uma das 4
Materiais da porta, fechaduras, dobradiças, aberturas, selos, direcções, cada uma tirada tão longe quanto possível. Primeiro da
qualidade de construção, (capacidade para impedir todos os parede com a porta e a partir daí siga os movimentos do ponteiro
agentes) do relógio. Se as fotografias da parede não mostram todo o tecto
Materiais da janela, fechaduras, aberturas, selos, telas, qualidade e o pavimento, tire fotos do tecto e do chão. Para cada
de construção (capacidade para impedir todos os agentes) observação anterior significativa, sempre que um determinado
Telas, cortinas, persianas? (ladrões, vândalos, luz, raios UV) risco é identificado, tire uma foto ampliada.
Em que ocasião abrem? Porquê? (pergunte ao pessoal) O bservações a recolher:
Q ualquer outro perigo óbvio relacionado com portas e janelas? Q ual o tipo de chão (i.e., altura do chão)? (risco de inundação
Salas sem acervo (água)
Caminhe: Por todos as salas e corredores sem qualquer acervo Q uais os sistemas de incêndio visíveis (jactos aspersores, portátil,
Fotografias: perspectiva de ângulo amplo de cada sala, uma de detectores)?
frente para a porta, outra defronte. Foto ampliada de qualquer Sistemas mecânicos especiais? (poluente, temperatura, rh,
observação pertinente. controlo, água)
O bservações a recolher: Canalização visível no tecto, nas paredes, próximo do chão?
Passagens: tipo e altura das rampas de acesso (risco de artefactos (água)
derrubados) Drenos do chão, colocação, válvula de segurança, condição?
Salas de quarentena: utilização, acesso (pragas) (água, drenagem e reserva)

94
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Sistemas de iluminação eléctricos, tipos de lâmpadas, média dos Colecções, apoios e embalagem
níveis de lux, máximo? Caminhe: Até agora na inspecção, as colecções terão sido
Q uais as portas e janelas, utilizadas nesta sala para a inspecção observadas várias vezes enquanto se inspeccionava as salas e os
ao edifício? (capacidade para impedir todos os agentes) acessórios. É tempo para reflectir sobre como inspeccionar as
Q uais os materiais da parede, aberturas, qualidade de colecções, apoios e a embalagem. O propósito desta inspecção da
construção? (capacidade para impedir todos os agentes) colecção não é obter uma perspectiva detalhada de cada
Q ualquer outro perigo óbvio relacionado com a sala? artefacto. Isso é um dos objectivos de uma boa catalogação. O
Acessórios propósito é descobrir o padrão actual dos riscos. Algumas
Caminhe: Em cada sala, identifique os vários tipos de acessórios observações podem aplicar-se a todas as colecções, outras podem
(armários, expositores, estantes, barreiras para os visitantes). Faça aplicar-se a um artefacto especial, mas só se for muito importante.
uma nota do total de cada tipo e quantos existem em cada sala. Fotografias: As fotografias serão associadas agora com cada
Não é necessário segregar acessórios semelhantes, excepto se a observação.
diferença tiver significado para o risco. O bservações a recolher:
Fotografias: Pelo menos uma fotografia geral de cada tipo de Tipo de apoios, materiais, qualidade, em quanto da colecção?
acessório, e algumas fotos ampliadas da construção, fechaduras, (forças físicas, contaminantes)
aberturas, qualquer exemplo de danos ou outros relacionados Tipo de embalagem, materiais, apoios, em quanto da colecção?
com o risco. (capacidade para impedir muitos agentes, fonte de
O bservações a recolher: contaminantes)
Materiais de construção, vitrificação? (capacidade para impedir Finalmente, muito importante: Q ue partes das colecções se
os agentes, fonte de contaminantes) encontram nas sequências do edifício, sala, acessório, apoio e
Q ualidade e condição, aberturas? (capacidade para impedir os embalagem (ou sequência parcial ou no chão ou no exterior, etc.?
agentes) Isto conduzirá à identificação e avaliação do risco e a
Características de segurança, fechaduras? recomendações para melhorias, em conjunto com os factos
Possibilidade de derrame de água? invisíveis do Apêndice 2 . Tenha em conta que este padrão de
Estabilidade contra tombos, desmoronamento? (forças físicas, inspecção recolhe factos sistematicamente, tanto positivos como
vandalismo) negativos que conduzem depois à avaliação do risco reduzido e
Instalações de iluminação, tipo de lâmpadas, níveis de lux, filtros elevado. Ao invés, pode-se escolher, como fazem muitos
de raios UV, qualidade e condição? (raios UV, iluminação, inspectores experientes, recolher apenas as observações que
temperatura incorrecta e rh, incêndio) conduzem a avaliações significativas dos riscos. É melhor revelar as
Q ualquer característica de controlo especial da humidade, observações positivas da inspecção sem uma estimativa de risco
poluente? (por ex., o lixo é removido diariamente para uma distância de
Q ualquer outro perigo óbvio relacionado com o acessório? 3 0 m do edifício) mesmo que exista um risco significativo
95
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

relacionado noutra parte do relatório (num teste de 2 semanas,


foram recolhidos grandes números de insectos em armadilhas
pegajosas nas salas do acervo e estes mostraram um aumento
significativo na parede mais próxima da área de serviço de
comida. Felizmente nenhum era traça, mas existe uma elevada
probabilidade de infestação de traças em colecções têxteis ao ar
livre, no espaço de alguns anos).

Apêndice 2:
Lista básica de factos invisíveis necessários e suas fontes
Entrevistas ao pessoal
Q uais os danos ao acervo que ocorreram no passado?
Q uais as circunstâncias?
Para os membros do pessoal da conservação ou não, quais os
seus papéis formais e responsabilidades na preservação do acervo?
Q uais as suas opiniões e conhecimento das realidades práticas?
Documentos
Q uais as políticas e procedimentos do museu, especialmente as
relacionadas com o acervo?
Q uais os relatórios que existem de riscos anteriores, eventos,
relatórios de planeamento?
Construção dos edifícios, instalações, exposições?
Dados externos
Perigos externos, probabilidades?
Respostas a todas as perguntas necessárias para completar as
várias estimativas do risco?

96
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Apêndice 3. Esp ecif icaçõ es d a t em p er at u r a e h u m id ad e r elat ivas


Co m p ilad o p o r Mich alski, S. In st it u t o d e Co n ser vação Can ad en se p ar a ut ilizar n o m an ual d e ASHRAE, p r im eir a p ub licação 1999 e d ep o is em 2004 (ASHRAE 2004).

VARIAÇÕES MÁXIMAS E MÍNIMAS EM ESPAÇOS


CONTROLADOS

* Var iaçõ es BENEFÍCIOS/RISCOS DO ACERVO


TIPO DE COLECÇÃO TOTAL OU MÉDIA ANUAL
lig eir as e
Classe d e Aju st es sazo n ais n o
m ín im as
co n t r o lo t o t al d o sist em a
em
esp aço s
AA
RH: sem alt er ação Sem r isco d e d an o s m ecân ico s p ar a a m aio r ia d o s ar t ef act o s e p in t u r as. Alg u n s m et ais e
Pr ecisão d o ± 5% RH
acim a d e 5° C; m in er ais p o d em d eg r ad ar -se caso 50% RH exced er o RH cr ít ico .
co n t r o lo , sem ± 2° C
ab aixo d e 5° C Qu im icam en t e in st ável em o b ject o s sem u so , n o esp aço d e d écad as.
alt er ação sazo n al
A Mais d e 10% RH,
Pr ecisão d o ± 5% RH m en o s d e 10% RH
co n t r o lo , alg u m a ± 2° C m ais d e 5° C; m en o s Risco p eq u en o d e d an o s m ecân ico s em ar t ef act o s d e vu ln er ab ilid ad e elevad a, sem r isco
50% RH d im in u ição o u d e 10° C m ecân ico p ar a a m aio r ia d o s ar t ef act o s, p in t u r as, f o t o g r af ias e livr o s.
(o u m éd ia h ist ó r ica alt er açõ es RH: sem alt er ação Qu im icam en t e in st ável em o b ject o s sem u so , n o esp aço d e d écad as.
an u al p ar a acer vo ± 10% RH
sazo n ais, n ão acim a d e 5° C;
p er m an en t e) ± 2° C
am b o s m en o s d e 10° C
Mais d e 10% ,
MUSEUS GERAIS, T: valo r en t r e 15° C e B m en o s d e 10% RH
BIBLIOTECAS DE GALERIAS DE ARTE 25° C Risco m o d er ad o d e d an o s m ecân ico s em ar t ef act o s d e vu ln er ab ilid ad e elevad a, r isco r ed u zid o
Pr ecisão d o m ais d e 10° C, m as
E ARQUIVOS: t o d as as salas d e p ar a a m aio r ia d as p in t u r as, m aio r ia d as f o t o g r af ias, alg u n s ar t ef act o s, alg u n s livr o s e sem r isco
co n t r o lo , alg u m a ± 10% RH n ão acim a d e 30° C
leit u r a e d e r ecu p er ação , salas d e (No t e q u e as salas p ar a m u it o s ar t ef act o s e m u it o s livr o s.
d im in u ição e ± 5° C b aixan d o o
ar m azen am en t o d e acer vo esco lh id as p ar a as Qu im icam en t e in st ável em o b ject o s sem u so , n o esp aço d e d écad as, excep t o se exist ir u m a
t em p er at u r a d e n ecessár io p ar a
q u im icam en t e est ável, exp o siçõ es r o t ação d e 30° C, m as p er ío d o s d e f r io n o in ver n o , d u p licam a d u r ação d e vid a.
Ver ão . r evés m an t er o co n t r o lo
esp ecialm en t e d e em p r est ad as d evem d e RH
m ecan icam en t e m éd io a est ar ap t as p ar a o t o t al
vu ln er ab ilid ad e elevad a. esp ecif icad o em Elevad o r isco d e d an o s m ecân ico s em ar t ef act o s d e vu ln er ab ilid ad e elevad a, r isco m o d er ad o
C Co m u m a m éd ia d e 25% RH a
q u alq u er aco r d o d e p ar a a m aio r ia d as p in t u r as, m aio r ia d as f o t o g r af ias, alg u n s ar t ef act o s, alg u n s livr o s e r isco
Pr evin e t o d o s o s 75% RH p o r an o
em p r ést im o , r ed u zid o p ar a m u it o s ar t ef act o s e m u it o s livr o s.
r isco s elevad o s T r ar am en t e a m ais d e 30° C,
n o r m alm en t e 50% RH, Qu im icam en t e in st ável em o b ject o s sem u so , n o esp aço d e d écad as, excep t o se exist ir u m a
ext r em o s. n o r m alm en t e ab aixo d e 25° C
21° C, m as p o r vezes, r o t ação d e 30° C, m as p er ío d o s d e f r io n o in ver n o , d u p licam a d u r ação d e vid a.
55% RH o u 60% RH).
Elevad o r isco d e d an o s m ecân ico s sú b it o s o u cu m u lat ivo s p ar a a m aio r ia d o s ar t ef act o s e
p in t u r as d evid o a f r act u r as p o r b aixa h u m id ad e, m as t am b ém d elam in ação e d ef o r m açõ es
D co m h u m id ad e elevad a, q u e d ever ão ser evit ad o s esp ecialm en t e em f o lh ead o s, p in t u r as, p ap el
Pr evin e a Seg u r o ab aixo d e 75% RH e f o t o g r af ias.
h u m id ad e. Evit a o au m en t o d e d ef o r m ação e co r r o são r áp id a.
Qu im icam en t e in st ável em o b ject o s sem u so , n o esp aço d e d écad as, excep t o se exist ir u m a
r o t ação d e 30° C, m as p er ío d o s d e f r io n o in ver n o , d u p licam a d u r ação d e vid a.

Ob ject o s q u im icam en t e in st áveis u t ilizáveis d u r an t e m ilén io s. Var iaçõ es d e RH co m m en o s d e


Ar m azen am en t o f r io : -
± 10% RH ± 2° C u m m ês n ão af ect am a m aio r p ar t e d o s r eg ist o s em b alad o s co r r ect am en t e a est as
BIBLIOTECAS DE ARQUIVOS 20° C 40% RH
t em p er at u r as. (o in t er valo d o ar m azen am en t o t o r n a-se o d et er m in an t e d a d u r ação d e vid a).
Ar m azen am en t o d e acer vo
q u im icam en t e in st ável (m esm o se f o r alcan çad o ap en as d u r an t e o r et r o cesso
Ar m azen am en t o f r io : Ob ject o s q u im icam en t e in st áveis u t ilizáveis d u r an t e u m sécu lo o u m ais. Est es livr o s e
d o in ver n o , est a é u m a van t ag em líq u id a p ar a est es
10° C 30% RH a 50% RH d o cu m en t o s t en d em a t er u m a vu ln er ab ilid ad e m ecân ica b aixa a var iaçõ es.
acer vo s, co n t an t o q u e h u m id ad e n ão est eja in co r r id a)
RH sem exced er u m p o u co d o valo r cr ít ico ,
ACERVO DE METAL ESPECIAL Sala seca 0-30% RH
n o r m alm en t e 30% RH,
* Var iaçõ es lig eir as sig n if icam q u alq u er var iação ab aixo d o aju st e sazo n al. No en t an t o , co m o r ef er id o n o t ext o so b “Tem p o d e Resp o st a”, alg u m as var iaçõ es são m u it o lig eir as p ar a af ect ar alg u n s ar t ef act o s o u ar t ef act o s
in clu so s.

97
Como Gerir um Museu: Manual Prático
Conservação e Preservação do Acervo

Apêndice 4. Sen sib ilid ad e d e m at er iais co lo r id o s à lu z


Ver são ab r eviad a d a t ab ela co m p ilad a em 1999 p o r Mich alski, S. n o In st it ut o d e Co n ser vação Can ad en se e p ub licad o em CIE. (2004).
Par a u m a list a d e co r an t es m ais d et alh ad a em cad a cat ego r ia, ver a t ab ela d o CIE. Par a t in t as t êxt eis, ver a t ab ela d e Mich alski (1997.)

Sensibilidade elevada à luz Sensibilidade média à luz Sensibilidade reduzida à luz Sem sensibilidade à luz f

A m aio r ia d o s ext r act o s d e p lan t as,


Palet as d e ar t ist as classif icad as
co n seq u en t em en t e t in t as b r ilh an t es A m aio r ia m as n ão t o d o s o s
co m o “p er m an en t e” (um a m ist ur a
m ais h ist ó r icas e p ig m en t o s d e laca em Algun s ext r act o s d e p lan t as p igm en t o s m in er ais.
d e p in t ur as p er m an en t es E d e
t o d as as m ed iag : am ar elo s, lar an jas, h ist ó r ico s, p ar t icular m en t e o A p alet a “f r esca”, um a co in cid ên cia
sen sib ilid ad e r ed uzid a à luz, p o r
ver d es, p ú r p u r as, m u it o s d o s alizar in (ver m elh o m ais vivo ) co m a n ecessid ad e p ar a est ab ilid ad e
exem p lo ASTM D4303 Cat ego r ia I;
ver m elh o s, azu is. co m o a t in t ur a em lã o u em álcali.
Win so r e New t o n AA).
Ext r act o s d e in sect o , co m o lac co m o o p igm en t o d e laca em As co r es d o ver d ad eir o vid r o
Co r es est r ut ur ais em in sect o s (se
(am ar elo ), co ch o n ilh a (car m in e) em t o d as as m ed iag . Var ia ao esm alt ad o , cer âm ica (n ão co n f un d ir
n ão exist ir em r aio s UV).
t o d as as m ed iag . lo n go d a gam a d e m éd io e co m p in t ur as em esm alt e).
Algun s ext r act o s d e p lan t as
A m aio r p ar t e d as co r es sin t ét icas p o d e alcan çar a cat ego r ia Muit as im agen s m o n o cr o m át icas em
h ist ó r ico s, esp ecialm en t e ín d igo
an t er io r es co m o as an ilin as, t o d as as b aixa, d ep en d en d o d a p ap el, co m o t in t as d e car b o n o , m as a
em lã.
m ed iag . co n cen t r ação , sub st r at o e m at iz d o p ap el e a m at iz
Im p r essõ es d e p r at a/gelat in a a
Mu it o s co lo r an t es sin t ét ico s b ar at o s em agr essivid ad e. acr escen t ad a à t in t a d e car b o n o t em
p r et o e b r an co , em p ap el n ão RC,
t o d as as m ed ia.g A co r d a m aio r ia d as p eles e f r eq uen t em en t e sen sib ilid ad e
e ap en as se n ão exist ir q uaisq uer
Mu it o s t ip o s d e can et as d e f elt r o p en as. elevad a, e o p r ó p r io p ap el d eve ser ,
r aio s UV.
in clu in d o as p r et as. A m aio r ia d as im p r essõ es a p o r p r ecaução , co n sid er ad o d e
Muit o s p igm en t o s d e elevad a
A m aio r ia d as t in t u r as u t ilizad as p ar a co r es d e f o t o gr af ias co m sen sib ilid ad e r ed uzid a.
q ualid ad e m o d er n o s
t in g ir p ap el n est e século . “cr o m o ” n o n o m e, p o r ex., Muit o s p igm en t o s d e elevad a
d esen vo lv id o s p ar a ut ilização
A m aio r ia d as im p r essõ es a co r es d e Cib ach r o m e. q ualid ad e m o d er n o s d esen vo lvid o s
ext er io r , aut o m ó veis. Cin ab r in o
f o t o g r af ias co m “co r ” n o n o m e, p o r ex., p ar a ut ilização ext er io r , aut o m ó veis
(en egr ece d evid o à luz)
Ko d aco lo r
Cat eg o r ias d e Blu e Wo o l 1 2 3 4 5 6 7 8 Acim a d e 8
a
Mlx h p ar a
d esvan ecim en t o b n o t ó r io 0.22 0.6 1.5 3.5 8 20 50 120
Pr esen ça d e r aio s UV
Pr o váv el Mlx h a p ar a
d esvan ecim en t o b n o t ó r io 0.3 1 3 10 30 100 300 1000
Sem r aio s UVd
No t as exp licat ivas p ar a a t ab ela:
As "cat eg o r ias d e Blu e Wo o l ” são o p ad r ão in t er n acio n al (ISO) d e cat eg o r ias p ar a esp ecif icar a sen sib ilid ad e à lu z, b asead o em 8 t in t u r as azu is em lã, u t ilizad o co m o am o st r a d e r ef er ên cia n a m aio r ia d o s t est es d e
r esist ên cia à lu z.
a. Mlx h é a u n id ad e o u d o se d e exp o sição à lu z. Ho r as Meg alu x. É in t en sid ad e d a lu z (lu x) m u lt ip licad a p elo t em p o d e exp o sição (h o r as).
b . O d esvan ecim en t o n o t ó r io é d ef in id o aq u i co m o Escala Cin zen t a 4 (GS4), o p asso u t ilizad o n a m aio r ia d o s t est es à r esist ên cia à lu z co m o n o t ó r io . É ap r o xim ad am en t e ig u al a u m a d if er en ça d e co r d e 1.6 u n id ad es d e
CIELAB. Exist em cer ca d e t r in t a p asso s n a t r an sição d e u m a co r b r ilh an t e p ar a q u ase b r an co .
c. Rico em r aio s UV r eco r r e a u m esp ect r o sem elh an t e à lu z d o d ia at r avés d o vid r o . Est e é o esp ect r o g er alm en t e u t ilizad o p ar a o s d ad o s d e r esist ên cia à lu z d o s q u ais d er iva est a t ab ela. Est as exp o siçõ es são as m elh o r es
aju st ad as ao s d ad o s q u e var iam ap r o xim ad am en t e u m p asso d a Blu e Wo o l.
d . As exp o siçõ es calcu lad as p ar a a f o n t e d e ilu m in ação d e b lo q u eio d e r aio s UV d er ivam d e u m est u d o em 400 t in t as e ao s p r ó p r io s p ad r õ es d a Blu e Wo o l. Co m o t al, é ap en as p r o vável em co r an t es o r g ân ico s. Est as
est im at ivas d em o n st r am b en ef ício s secu n d ár io s d e f ilt r ação d e r aio s UV p ar a co r an t es d e sen sib ilid ad e r ed u zid a, m as co m g r an d es m elh o r ias em co r an t es d e sen sib ilid ad e elevad a. Par a est im at ivas co n ser vad o r as, u t ilize
a escala d e r ico em r aio s UV.
f . "Sem sen sib ilid ad e" à lu z n ão sig n if ica u m a vid a d e co lo r ação g ar an t id a. Mu it o s co r an t es d est e g r u p o são sen síveis à p o lu ição . Mu it as d as m ed ia o r g ân icas g r ed ar ão /am ar elar ão se exist ir em r aio s UV.
g . A p in t u r a m éd ia p ar t icu lar ap en as ap r esen t a p eq u en as d if er en ças n a t axa d e d esvan ecim en t o , é o co r an t e q u e im p o r t a n o d esvan ecim en t o , q u er seja em ó leo o u t em p er a, o u co r à b ase d e ág u a o u acr ílico . No
en t an t o , as m ed ia f azem g r an d es d if er en ças n as t axas d e d esco lo r ação d e p o lu en t es co m o o o zo n o e su lf u r et o d e h id r o g én io .

98

Você também pode gostar