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Ivoneide Santos1
1
Ivoneide1948@hotmail.com
Membro do Grupo de Pesquisa Miragens da Liberdade. (UFS); Pós-graduada em História
pela Faculdade São Luis de França; Licenciada em História pela (UFS) e Licenciada em
Pedagogia pela Faculdade Vale do Acaraú.
2
DANTAS, Beatriz Góis: Vovô nagô, papai branco: usos e abusos da África no Brasil, p.13-
14 Rio de Janeiro, Graal, 1998.
3
LODY, Raul, Candomblé: religião e resistência cultural, p.8, Ática São Paulo,1987.
4
VASCONCELOS, Anílson Cardoso e DELFINO, Flávia dos santos: A história de um
terreiro de candomblé: axé ilé obá abacá ode bamirê, p.62 Aracaju/se 2007
2
monografia de Janaina Couvo Teixeira Maia5 -, busquei o documento original mais sem
sucesso. Já no jornal (Diário de Aracaju -23 de maio de 1969.), localizado no Instituto
Histórico Geográfico de Sergipe, tive um respaldo onde pude fazer um cruzamento das
informações contidas em ambos. (Revista Alvorada e o Jornal Diário de Aracaju). Outra fonte
foi o depoimento de Josepha Maria dos Santos (D. Nair mãe-de-santo; 90 anos de idade),
memória viva do evento em Aracaju/se (25 de maio de 1969) “Noite dos Combones”.
Portanto, optei em fazer uma reflexão sobre a participação de Zé D’Obakossô no
evento supracitado com o intuito de dar visibilidade ao evento afro-brasileiro realizado no
período em que, as posturas preconceituosas eram latentes. Percebe-se que o espaço reservado
aos cultos de matriz africana ultrapassou as fronteiras da “simples” função de cultuar os
deuses. Norteando os indivíduos a conviver religiosamente e socialmente, pois:
5
MAIA, Janaina Couvo Teixeira, Umbanda em Aracaju: Na encruzilhada da História e da
Etnografia /São Cristóvão/se 1998.
6
LODY, candomblé: religião, p.10.
7
AGUIAR, Janaina Couvo Teixeira Maia de: “Brincadeiras de Santo”: Uma contribuição á
história dos antigos cultos afro-brasileiros em Aracaju/se (1920-1960); p.15-16 2008
3
8
MAIA, Janaina Couvo Teixeira, Umbanda em Aracaju: Na encruzilhada da História e da
Etnografia /São Cristóvão/se; p. 50 1998.
9
AGUIAR, Janaina Couvo Teixeira Maia de: “Brincadeiras de Santo”: Uma contribuição á
história dos antigos cultos afro-brasileiros em Aracaju/se (1920-1960); p.40 2008
10
SOUZA FILHO, Florival José de: Candomblé na cidade de Aracaju: território, espaço
urbano e poder público. Aracaju/se p.94 2010.
4
área do candomblé. A exemplo do movimento ocorrido no ano de 1969 nesta cidade, que
ficou conhecido como a “Noite dos Combones”11. Segundo a publicação do Jornal Diário de
Aracaju,12 o evento foi realizado no dia 25 de maio, contudo, a mídia sergipana antecipava em
primeira página o evento no dia 23 de maio do mesmo mês. A manchete informava que o
evento tão aguardando pelo povo de santo ocorreria no domingo no Ginásio Charles Moritz, e
que ali estaria um público de cerca de 5 mil umbandistas.
11
Combono ou combone: auxiliar de médiuns de incorporação é o servidor dos orixás.
Acesso 19/09/2016. Sait:https://povodearuanda.wordpress.com/2007/07/21/de - umbanda/
12
Jornal Diário de Aracaju (23 de maio de 1969, Ano IV, nº 946. Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe).
5
13
Jornal Diário de Aracaju (23 de maio de 1969, Ano IV, nº 946. Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe).
14
AGUIAR, Janaina Couvo Teixeira Maia de: “Brincadeiras de Santo”: Uma contribuição á
história dos antigos cultos afro-brasileiros em Aracaju/se (1920-1960); p.35 2008
6
A noite dos combones evidenciou uma conquista dos afro-brasileiros buscando sua
afirmação indenitária em uma sociedade pautada na “cultura do preconceito”. Assim, para
pontuar a identidade afro-brasileira, o evento levou doze terreiros que se apresentaram no
Ginásio Charles Moritz; tendo a balourixá Nanã – terreiro São Jorge, situado na Rua Equador,
70 bairro América –, abrindo a festividade. Seus combones apresentaram uma obrigação que
é o Bori. E com o intuito de impressionar a plateia soltou um pombo branco sobre as cabeças
dos 4 mil espectadores. Este dado quantitativo diverge da notícia do Jornal Diário de Aracaju,
que noticiou cerca de cinco mil pessoas presente no Ginásio Charles Moritz.
A sexta apresentação considerada magnífica foi a de José Augusto dos Santos (Zé D’
Obacoussou), com honras de um Banirê. Retornando do Rio de Janeiro para se fazer presente
no evento de significativa importância histórica para a cidade de Aracaju, demostrou ao
público e as autoridades presente no evento sua importância religiosa e que a noitada do dia
25 de maio seria indispensável sua participação, acentuando uma “singela vaidade” de um
renomado pai-de-santo. Na época era diretor Espiritual do centro São Jorge – situado na
Avenida Rio de Janeiro, 1032. Segundo a Revista Alvorada, ele apresentou três santos com
suas vestes coloridas incorporados em suas Iaôs17 de confiança. Os santos eram: Iemanjá,
Omulú e Ogum. Todos bem aplaudidos.
15
Revista Alvorada (Ano: II, nº 23, maio de 1969.)
16
SOUZA FILHO, Florival José de: Candomblé na cidade de Aracaju: território, espaço
urbano e poder público. Aracaju/se p.61 2010.
17
Iaô-Médium feminino no primeiro grau de desenvolvimento do terreiro
https://povodearuanda.wordpress.com/2007/07/21/de-umbanda/
7
Outro terreiro que se destacou no evento segundo a revista, foi o terreiro Ogum
Marinho – Bairro Santos Dumont –, de Josepha Maria dos Santos (D. Nair), que em
depoimento relatou que:
Areias), fez uma apresentação lembrando os habitantes da Costa da África – “os pretos
velhos” – e a travessia do Atlântico para o Brasil. O documento (A Revista Alvorada) informa
que “foi ela e os filhos de fé vviamente aplaudidos por todos que assistiam os seus modos de
pé de dança da Nação místiças entre os africanos e os grêgos que foram deportados,
diretamente da África, nos porões dos navios negreiros, para ser vendidos ao Brasil”. O
Centro Santo Antônio dirigido pelo babalorixá Milton Franco Souza (situado na Rua
Cotinguiba, bairro Suíça), também narrou um acontecimento historiográfico, representando a
população nativa brasileira. Este foi trajado com “suas tangas e capacete de penas de emas”,
(digna de um nativo), demonstrando ao público a manifestação do caboco Rei Juremeiro.
Aqui é importante chamar Lody, que ressalta que o caboclo (indivíduo classificado como
mestiço), representa o herói com o ideal de proteger suas terras seja ela, a de origem, África
ou a qual reside (Brasil).21 Assim:
21
LODY, candomblé: religião,1987 p.14
22
Id., 1987 p.14
23
“A cidade de Laranjeiras/se é considerada como o foco inicial e o reduto mais forte da
tradição nagô é como a cidade que proliferam com vigor os cultos afro-brasileiros”. (Oliveira
Apud Dantas, 1998, p.31)
24
MAIA, Janaina Couvo. Umbanda em Aracaju: Na encruzilhada da História e da Etnografia
/São Cristóvão/se; 1998 p.43.
9
Ginásio Charles Mortiz foi digna de extensos aplausos ao fazer “referência a Exu,
despachando ele para deixar uma boa impressão a todos que estava presente na maravilhosa
demonstração do dia 25 de maio em homenagem a “Noite dos Combonés” Alabê”.25O Estado
de Alagoas também se fez presente, representado pelo babalourixá Dionísio José dos Santos
do terreiro Rei Baiano, situado na Rua São Luiz, no bairro Ponto Novo em Aracaju/se. A
fonte em estudo (Revista Alvorada) expõe que a atividade desenvolvida por Dionísio José dos
Santos era de origem da Nação jeje (práticas religiosas de matriz africana cultuada no
candomblé na cidade alagoana), homenageando o bairro Jacintinho ou Ponta Grossa na capital
de Alagoas. Porém a Revista Alvorada não detalhava que tipo de atividade foi desenvolvido
naquela noite. As apresentações dos terreiros não só deram visibilidade a religião afro-
brasileira como também expôs a população que o candomblé é uma religião que cultua
diversos deuses de diferentes nações africanas e desmistificando que o candomblé é
homogêneo em todo lugar. Exemplo é a prática religiosa de matriz africana (candomblé); de
origem Nagô que foi mais cultuada nos terreiros de Aracaju, onde, Segundo Aguiar (2008),
25
Alabê: no culto dos jejês,é o encarregado do instrumental do candomblé.
Sait:https://www.dicio.com.br/alabe/ Acesso em 20/09/2016.
26
AGUIAR, Janaina Couvo Teixeira Maia de: “Brincadeiras de Santo”: Uma contribuição á
história dos antigos cultos afro-brasileiros em Aracaju/se (1920-1960); p.16 2008
27
Id., 2008, p. 17.
10
também veio do Estado da Guanabara para “presentear” a população aracajuana com sua
apresentação de encerramento do evento demonstrando como era “feito a Umbanda no seu
Estado”. A apresentação foi considerada uma das mais favoritas daquela noite. A babalourixá
começou recitando a seguinte frase: “quero ver chover quero relampejar, mesmo assim o céu
é sempre azul filhos de umbanda afine o ponto que Oxóssi é o dono de Aracaju”.
O exemplar da Revista em análise não detalhou como foi o desenvolvimento da
apresentação da mãe-de-santo Judite. Segundo as fontes aqui elencadas (Jornal Diário de
Aracaju e Revista Alvorada), utilizadas no andamento desta pesquisa, (reafirmando) desta
Couvo evento que ficou conhecido como a “Noite dos Combonés” de “Seita Religiosa”.
Evento Folclórico e não como um ato religioso de matriz africana denotando assim, um
distanciamento da “categoria” religiosa diante da religião oficial e evangélica. Esses atributos
não desmotivaram a comunidade afro-brasileira de Aracaju no tocante continuidade da
resistência religiosa, e sim, fomentou a luta em busca da evolução religiosa de matriz africana
nesta capital. Já a cobertura da noite dos combones, a Revista Alvorada contou com a direção
de José Wallace Silva e sua “comitiva da diretoria da Federação do templo Espiritualista e
Confraternizações de Umbanda São Lazaro do Estado de sergipano”
A historiografia mostra que o candomblé, ou seja, as religiões afro-brasileiras
contribuíram/contribui para a preservação dos ancestrais do povo brasileiro, buscando
identificar-se e ser identificada em busca por seu espaço na sociedade. Pois:
28
MANDARINO, Ana Cristina de Souza (Não) deu na primeira página: macumba, loucura e
criminalidade – São Cristóvão: Editora UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira; P.103
2007.
11
governo. ”(informação verbal)” (Aguiar 2003 Apud Mandarino)29. Apesar das repressões ao
candomblé os líderes religiosos buscaram “renovar” as atividades desenvolvidas nos terreiros.
Assim, surge o candomblé de feitoria que se desenvolveu na capital sergipana (e Estado) onde
a mãe-de-santo Nanã começa a prática deste culto. Que segundo Aguiar (2003),
Nanã então começou a iniciar todo mundo, raspa todo mundo e com essa
folia de raspar esse povo todo, começa a desestruturar o Nagô e o Toré.
Muita gente que era do Nagô passa a assumir a cassa de Nanã, e ela passam
a ser uma raiz em Aracaju. Neste período, estava em implantação e
desenvolvimento o regime do Estado Novo - auge da repressão – então o
Candomblé em Sergipe vai crescer e se desenvolver junto a repressão e com
o próprio modelo político que estava passando Sergipe e o Brasil. (Aguiar
2003 Apud Mandarino).30
Evidenciamos que a noite dos combones, contou com o desempenho de José Wallace
Silva, que além de fazer a matéria sobre a noite do dia 25 de maio também apresentou uma
atividade representando o terreiro de Nanã. Portanto:
29
Id., 2007, p.110.
31
Id. 2007, p. 148
32
Id. 2007.
12
33
Id. 2007, p. 150.
34
LODY, candomblé: religião, 1987 p.12
13
“Havia vinculo diretamente com outros terreiros, convite para festa, e muitas
vezes para ajudar. Havia também o interesse de reproduzir o que os outros
tinham de novidade. Assim, como um sentimento de competição e inveja,
seja nos trajes, quantidade de comida, presença de autoridades famosa”
(Maria Luiza Santos –irmã de Zé D’Obacossou- Apud. Vasconcelos,
Anílson e Delfino, Flávia ).35
Conclui-se que a noite do dia 25 de maio; que ficou conhecida como a “Noite dos
Combones” serviu para romper com as fronteiras religiosas na capital sergipana no período
em que as autoridades da época “consentiam” a prática dos cultos afro-brasileiros de matriz
africana precisamente o Candomblé na cidade de Aracaju/se. Os líderes religiosos: Zé D’
Obacosssou, Nanã, Marizete dentre outros que se apresentaram no evento supracitado
hasteando sua “bandeira” religiosa que serviria como um veículo de difusão de ideias
pautadas na preservação e divulgação do Candomblé aracajuano.
Referências e fontes:
AGUIAR, Janaina Couvo Teixeira Maia de. “Brincadeiras de Santo”: Uma contribuição à
história dos antigos cultos afro-brasileiros em Aracaju/se (1920-1960). São Cristóvão: UFS,
2008.
Alabê: no culto dos jejês, é o encarregado do instrumental do candomblé. Disponível em:
<Sait:https://www.dicio.com.br/alabe/>. Acesso em: 20. Set. 2016.
DANTAS, Beatriz Góis: Vovô nagô, papai branco: usos e abusos da África no Brasil. Rio
de Janeiro: Graal, 1998.
35
VASCONCELOS, Anílson Cardoso e DELFINO, Flávia dos santos: A história de um
terreiro de candomblé: axé ilé obá abacá ode bamirê, p. 65 Aracaju/se 2007
14
LODY, Raul, Candomblé: religião e resistência cultural. São Paulo: Ática, 1987.
SOUZA FILHO, Florival José de. Candomblé na cidade de Aracaju: território, espaço
urbano e poder público. Aracaju: UFS, 2010.