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O MÉTODO BRECHT

ou Tretiakov 14• Como o conceito de "montagem" de Eisenstein,


o efeito-V permitiu a Brecht organizar e coordenar um grande
número de diferentes traços de sua p rática teatral e estética.
Algumas vezes ele é evocado em termos do próprio efeito que
lhe dá o nome. Tornar algo estranho, fazer-nos olhar esse algo
com novos olhos, implica a existência p révia de uma familiari­
dade geral, de um hábito que nos impede de realmente olhar
para as coisas, uma forma de dormência perceptiva: esta é a ên­
fase mais freqüentemente dada pelos formalistas russos, ofere­
ce uma espécie de psicologização do Novum e uma defesa da
inovação em termos da novidade da experiência e do resgate
da percepção. Mas Brecht também, e muitas vezes, enumerou
as técnicas através das quais as coisas podiam de fato ser "estra­
nhadas" e, embora ele não se tenha limitado ao teatro (há ma­
ravilhosas páginas sobre Brueghel, por exemplo 15), na maioria
das vezes tais técnicas provêm da arte da encenação na qual
uma forma específica de atuação e de distanciamento é reco­
mendada - citar as falas, por exemplo, ou mostrar a persona­
gem que você está representando e seus traços de caráter ser
tentar "transformar-se" no papel. Estas técnicas estendem-se
para o domínio dos dados físicos do cenário, os "intertítulos",
e o uso da música. Mas seria importante também entender
tudo isto à maneira das meditações de Loyola ou da disciplina
espiritual de Grotowski como um meio simbólico ou um méto­
do de processar a realidade : as próprias "técnicas" têm um sig­
nificado simbólico próprio, elas não são apenas meios para se
atingir um fim.
Entretanto esse fim ainda proporciona uma terceira forma
de abordagem do efeito-V, ou melhor, talvez, uma terceira e

1 4 Ver a nota no Volume XXII, 934. Relações artísticas entre Berlim e Mos­
cou parecem ter sido particularmente vivas e desenvolvi das durante este pe­
ríodo, como foi enfatizado em Willett, Art in Weimar, assim como na mag­
nífica exposição Berlim-Moscou, Moscou-Berlim 1 900- 1 950 (o catálogo foi
editado por l. Antonova e J. Merkert [Munique : Prestei, 1 9 95]).
is XX, 270s; Willett, 1 5 7 - 1 5 9 .

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