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Os Maias
Eça de Queirós
Fonte: Colecção
Apontamentos
Europa-América
Índice
Capítulo I Pág.8
Comentário Pág.8
Capítulo II Pág.9
Comentário Pág.9
Capítulo III Pág.10
Comentário Pág.11
Capítulo IV Pág.12
Comentário Pág.13
Capítulo V Pág.14
Comentário Pág.14
Capítulo VI Pág.15
Comentário Pág.16
Capítulo VII Pág.17
Comentário Pág.18
Capítulo VIII Pág.19
Comentário Pág.20
Capítulo IX Pág.21
Comentário Pág.22
Capítulo X Pág.23
Comentário Pág.24
Capitulo XI Pág.26
Comentário Pág.27
Capítulo XII Pág.28
Comentário Pág.30
Capítulo XIII Pág.31
Comentário Pág.32
Capítulo XIV Pág.33
Comentário Pág.35
Capítulo XV Pág.36
Comentário Pág.38
Capítulo XVI Pág.39
Comentário Pág.40
Capitulo XVII Pág.41
Comentário Pág.44
Capítulo XVIII Pág.45
Pág.2
Comentário Pág.46
Pág.3
sucedido, lhe entregar o neto e se suicidar. – Morte de
Pedro
Pág.4
grande paixão e que vem a saber pelo Dâmaso ser a mulher
de Castro Gomes, um brasileiro de passagem por Lisboa.
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desconhecendo em absoluto o que se passava, aborda o
Ega para que ele se encarregue de entregar a Carlos ou a
sua irmã, Maria Eduarda, uma caixa que a mãe deles lhe
confiara à hora da morte, e que continha papéis
importantes.
Pág.7
«Os Maias» -Resumo Alargado
e Comentários
Capítulo I
Apresentação do Ramalhete, a casa de residência do
protagonista, Carlos da Maia, em Lisboa; apresentação
também de algumas personagens, como Afonso da Maia,
cujo retrato físico e moral se traça. Toma-se contacto com a
família Maia, e assiste-se em resumo à história da vida de
Afonso da Maia, com as suas ideias liberais contrapostas ao
conservadorismo da família e da mulher, e à historia da
educação de seu filho Pedro, até ao casamento deste com
Maria Monforte, onde está o ponto de partida para a
historia que Eça pretende apresentar.
Comentário
O capítulo tem duas partes distintas: a primeira gira a volta
do Ramalhete, a casa que Eça faz questão de descrever com
minúcia. É a propósito de Ramalhete que o leitor contacta
com o protagonista (Carlos da Maia) muito ao de leve, e
mais longamente com o seu avô, o velho Afonso da Maia. A
história deste até ao casamento do filho com Maria
Monforte, a negreira, ocupa toda a segunda parte.
Capítulo II
Casado com Maria Monforte contra a vontade do pai, Pedro
parte para a Itália com intenção de ali se fixar. A
volubilidade de Maria altera-lhe os planos e fá-lo voltar a
Paris primeiro, e regressar a Lisboa depois, fixando-se em
Arroios. Afonso esquiva o encontro com o filho e partindo
para Santa Olávia, a sua quinta no Douro. O casal recebe
entre os seus íntimos o italiano Tancredo e Maria adia a
inicialmente desejada reconciliação com o sogro, que
entretanto regressara a Lisboa. É Pedro quem acaba de
voltar para o pai, após ter sido abandonado por Maria, que
foge com um nobre italiano, levando consigo a filha que
tiveram, e deixando-lhe o filho Carlos Eduardo. Pedro
suicida-se, e o velho Afonso, acabrunhado e triste, recolhe
definitivamente a Santa Olávia.
Comentário
Essencialmente para a compreensão do romance, este
capítulo (a historia de Pedro da Maia e de Maria Monforte)
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constitui em si uma unidade independente. Com ele se
poderia fazer um conto que poderia emparceirar, por
exemplo, com No Moinho, também da autoria de Eça de
Queirós. De resto, o conteúdo do conto condiz com o
subtítulo do romance: «Episódios da vida romântica». A
figura dominante do capítulo é Maria Monforte. Sem
explicitamente a descrever Eça deixa-nos dela, através dos
seus comportamentos, um perfil psicológico tão preciso
quanto piedoso. Note-se como estamos longe, em Maria
Monforte, dos personagens cor-de-rosa de Júlio Dinis.
Mulher Diabo
Capítulo III
Anos mais tarde, o procurador Vilaça, indo a Santa Olávia
pela Páscoa, encontra Afonso da Maia remoçado. O neto é
o responsável pelo reviver do ancião, que realiza naquele
descendente o modelo de educação que não pudera dar ao
filho: com um preceptor inglês, Carlos desdenha o
eruditismo dos clássicos e as patranhas da cartilha, mas faz
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cultura física e leva uma vida espartana. Bem fora dos
hábitos molengões dos portugueses, a sua educação à
inglesa contrasta com a deseducação de Eusebiozinho, um
rebento da família Silveira, que tem a sua idade, mas a
quem uma educação de ricaço provinciano faz embiocado,
flácido e doente.
Comentário
O presente capítulo apresenta vários motivos de interesse:
antes de mais, temos nele a única incursão de Eça em Os
Maias pela vida da província: o serão em Santa Olávia é
quadro perfeito desse viver e dos seus tipos (abades,
delegados, manas Sequeira havia - e há - por toda a parte).
Depois, temos o tipo de educação que Afonso julga
perfeita, aplicando a Carlos, em contrate com aquela que
fora sujeito seu filho Pedro. Parece adivinhar-se que, se a
desgraça de Pedro se deveu àquele tipo de educação, o
futuro Carlos será forçosamente risonho. Eça não disfarça,
alias, as suas preferências. Veremos como, no fim, tudo sai
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ao contrário, e como a vida de Carlos só não parece vir dar
razão às abominadas ideias do abade, porque a
contraprova destas fora feita na experiencia de vida do
malogrado Pedro.
Capítulo IV
Matriculado em Medicina, Carlos leva em Coimbra uma vida
de estudante rico, que o torna querido dos fidalgos, ao
mesmo tempo que alinha com as ideias mais avançadas de
então. Terminando o curso, Carlos faz uma longa viagem
pela Europa. Aproveita para comprar os livros e os
instrumentos que hão-de ajudar no exercício da medicina.
Mas tem também aventuras amorosas várias.
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Chega, finalmente, a Lisboa e instala-se no Ramalhete onde
o avô o espera. Traz grandes ideias de trabalho útil -mas
tem dificuldade em decidir o que, em concreto, irá fazer.
Acaba por instalar um laboratório para a investigação, e
montar um consultório para o exercício da clínica. Mas em
breve se apercebe de que é tempo perdido o que se passa
no consultório à espera de clientes que o não procuram. Ali
o vai encontrar João da Ega, um antigo colega dos tempos
de Coimbra, que o acompanhará até ao fim do romance.
Comentário
Aparecem os primeiros traços negativos no carácter do
protagonista. O seu defeito fundamental é o diletantismo
que, na perspectiva de Eça, era o grande mal de que
enfermava a sociedade portuguesa. Bem elucidativo, o
ambiente da casa de Carlos em Coimbra, onde «as próprias
certezas revolucionarias adquiriam um sabor mais
requintado com a presença do criado de farda
desarrolhando a cerveja, ou servindo croquetes»
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agora vão permanecer, com destaque para João da Ega.
Note-se que não há entre eles um único que não seja
objecto de ironia de Eça.
Capítulo V
Carlos obtém o seu primeiro êxito clínico curando a mulher
do padeiro do bairro. O feito é badalado no círculo de
amigos que animam os serões do Ramalhete, divididos
entre o whist e o bilhar.
Comentário
O presente capítulo dá uma achega apreciável para o
conhecimento do ambiente doméstico de Carlos, através,
primeiro, da longa descrição do serão de Afonso com os
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amigos, e depois, da transcrição do diálogo de Carlos com
o seu criado de quarto, em que subtilmente se insinua o
interesse que nutre pela condessa de Gouvarinho.
Capítulo VI
Após uma tentativa infrutífera, Carlos conhece finalmente a
Vila Balzac, onde Ega se instalara deixando o Hotel
Universal; pretende-se que a Vila Balzac, longe de Lisboa, na
Penha de França, está ligada a uma aventura amorosa do
Ega. Entretanto, pela mão deste, Carlos conhece o inglês
Craft e com ele participa num jantar que o Ega dá em honra
do Cohen no Hotel Central. É quando se encontra no
peristilo do hotel, antes do jantar, que vê chegar e passar
por ele uma soberba mulher que vivamente o impressiona.
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Durante o jantar, Carlos trava conhecimento com o poeta
Tomás de Alencar, um amigo íntimo de seu pai, que tem a
delicadeza de nunca lhe mencionar os tristes factos do
passado; que Carlos, de resto já conhecia. Mas o encontro
com Alencar trouxe-lhe à memória a tragédia da sua
ascendência, que o Ega, involuntariamente lhe revelara em
Coimbra, numa noite de bebedeira.
Comentário
O presente capítulo é marcado pela entrada em cena de
vários personagens novos:
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Quanto ao mais, registe-se a descrição do jantar no Hotel
Central (o ambiente e a ementa), e o primeiro grande
afrontamento (que a ironia queirosiana torna grotesco)
entre a literatura romântica e a realista, personificadas,
respectivamente, em Alencar e Ega.
Capítulo VII
A partir do jantar no central, Craft e Dâmaso ficam a fazer
parte dos frequentadores do Ramalhete, embora com
apreciações diferentes quanto às suas pessoas, pelo menos
por parte de Carlos. Craft era francamente simpático tanto a
ele como o avô. Já o Dâmaso, tipo presumido, metediço,
subserviente, vazio, mesquinho, em quem se adivinhava um
mau carácter, só a custo conquistou um lugar naquela casa:
obteve-o quando publicamente defendeu Carlos, num
gesto que não teve nada de heróico, porquanto o atacante
era inquilino seu, com a renda em atraso, e raquítico, para
rematar.
Comentário
Grande parte deste capítulo (quase toda a primeira parte) é
dedicada a dissecar o carácter de Dâmaso e dá-nos um dos
mais impiedosos retratos saídos da pena de Eça. Ao
contrario do que acontece com quase todos os outros
personagens, cujo carácter vai emergindo da acção, o autor
não quis deixar de, logo de inicio, dar dó Dâmaso um
retrato completo, receando talvez que o desenvolvimento
ulterior o não retratasse com o asco desejável. Quanto ao
mais, o capítulo faz adivinhar um futuro romance de Carlos
com a Gouvarinho. Mas toda a circunstancia deixa antever
que, a haver romance, ele não passará de um devaneio. A
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sorte de Carlos, o autor vai deixando cada vez mais claro
que se encontra ligada à da mulher da vez mais claro que se
encontra ligada à da mulher do Hotel Central -e ainda se
não conheceram.
Capítulo VIII
Carlos parte para Sintra com o Cruges, como planeara. O
seu objectivo inconfessado é encontrar a misteriosa dama
do Hotel Central. Ia para se hospedar na Lawrence, onde
supunha que ela estivesse, mas, à ultima hora, num rebate
de brios, decide ir antes para o Nunes.
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Palma, um homem dos jornais, com quem ele já se travara
de razões.
Agora que sabia não estar ali a deusa dos seus sonhos,
Sintra deixara de ter interesse para ele. E resolve regressar a
Lisboa, trazendo, além do Cruges, o Alencar.
Comentário
Quase se diria que este capítulo é apenas um pretexto para
celebrar as belezas se Sintra - o que Eça faz magistralmente,
revelando-se um magnífico pintor de palavra -e para indicar
o papel que a histórica vila tinha para a burguesia lisboeta
do século XIX. Sintra era o cenário de fugas campestres ao
cosmopolitismo de Lisboa, de aventuras da alta roda e de
esquálidas escapadas com meretrizes, alugadas ao dia. É
num episódio destes que se dão mais umas pinceladas no
retrato do Eusebiozinho, cuja mesquinhez ainda funciona
aqui como contraponto do cavalheirismo de Carlos. Outro
personagem, o Palma, aparecer, entretanto, em cena -e o
que o desvairado Alencar diz a seu respeito não é
tranquilizador.
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De notar que Eça tem neste capítulo algumas das suas
boutades de maior verve satírica. Um bom exemplo está no
episódio de Alencar apertando o atilho das ceroulas em
Seteais.
Capítulo IX
Dâmaso aparece no Ramalhete a chamar Carlos para assistir
a filha dos Castro Gomes, que adoecera enquanto os pais
partiram para Queluz.
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confirma o parecer de Carlos: a haver duelo, é o Cohen que
deve desafiar e a Ega resta deixar-se ferir ou morrer. Entre
os protestos do pobre Ega, Craft convida ambos a cear com
ele. Relutante a principio, Ega acaba por comer com apetite
e por se embriagar.
Comentário
O presente capítulo é marcado por três eventos principais, a
saber:
Capítulo X
Há três semanas que Carlos se encontra com a Gouvarinhoe
começa já a enjoar a nova relação. Até porque não lhe sai
do sentido a esplêndida mulher que em vão fora procurar a
Sintra. Durante um jantar no Ramalhete, em que o tema de
conversa eram as corridas de cavalos que se preparavam,
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concebe, para encontrar, um plano em que Dâmaso
convidaria o casal a visitar a quinta do Craft nos Olivais.
Dâmaso acede, mas chega o dia das corridas sem que ele
tenha trazido a resposta dos Castro Gomes.
Comentário
As corridas de cavalos, a sua descrição, ocupam a parte de
leão neste capítulo, e merecem uma referência especial.
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desprendido do protagonistas, para quem a relação com a
Gouvarinho se destinava apenas a pôr um luxo mais na sua
vida, sendo para tanto necessário que a não inflamassem
lampejos de paixão.
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Capitulo XI
Carlos realiza, finalmente, o sonho de se encontrar com a
Sr.ª Castro Gomes, que vem a saber chamar-se Maria
Eduarda. A casa denuncia o bom gosto de quem a habita.
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Num desses encontros, o criado anuncia a chegada de
Dâmaso, que Maria Eduarda prontamente manda entrar.
Carlos apercebe-se da frieza com que Dâmaso é tratado por
Maria Eduarda, e que lhe confirma quando ela lhe dissera
sobre a relação daquele com o casal.
Comentário
Se Eça tivesse dividido em partes o seu romance, este
capítulo encerraria seguramente uma delas. De facto, ele
culmina todo um longo processo em que, a pouco e pouco,
os acontecimentos se vão conjugando para aquilo que,
mais tarde ou mais cedo, fatalmente tinha de acontecer: o
encontro de Carlos com «aquela mulher».
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falecida) nunca se disse o nome, enquanto que o dele foi,
desde que nasceu, quase alardeado; e certas semelhanças
que, embevecidamente, Carlos encontra entre o carácter de
Maria Eduarda e o do avô, Afonso da Maia.
Capítulo XII
Ega regressa a Lisboa e fica instalado no Ramalhete. Tendo
viajado com os Gouvarinhos, quis saber do adivinhando
romance de Carlos com a condessa, e transmitir-lhe o
convite do casal para jantarem na segunda-feira.
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sua visita, o que provoca em Carlos a certeza de que os
sentimentos que nutre por Maria Eduarda são
correspondidos. A conversa é interrompida pelo criado que
anuncia a chegada do Sr. Dâmaso. Maria Eduarda recusa-se
simplesmente a recebê-lo.
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De tudo isto, Ega conhece apenas o que é possível ver no
exterior: ate ai, Carlos, que sempre o tivera como confessor
para as suas aventuras, não lhe dissera uma palavra sobre o
assunto. Finalmente, naquela noite, foi a confidência. E Ega
apercebe-se de que aquele caso é em tudo e por tudo
diferente dos anteriores.
Comentário
Estamos perante um capítulo rico nos dois aspectos: do
desenvolvimento da acção como do tratamento dos
elementos envolventes.
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- a vacuidade destas existências que de todos os males
atribuem a culpa ao país -e a quem Afonso da Maia lança o
repto de fazerem alguma coisa;
Capítulo XIII
Carlos prepara-se para ir aos Olivais, à quinta que Maria
Eduarda visitará no dia seguinte, quando Ega lhe dá conta
da bisbilhotice do Dâmaso. Esta é lhe confirmada quando
regressa dos Olivais, pelo poeta Alencar. Dâmaso apregoava
a Lisboa inteira a história entre Carlos e a aventureira que
lhe preferira os braços aos que Dâmaso lhe oferecia, só
porque ele era mais rico.
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Nem de propósito, do outro lado da rua passa o Dâmaso,
acompanhando o Gouvarinho e o Cohen, diante dos quais
Carlos o ameaça de lhe arrancar as orelhas caso ele persista
em continuar o falatório. Dâmaso tem, evidentemente, a
reacção de cobarde que era de esperar.
Comentário
Do ponto de vista da acção, o capítulo tem três partes
capitais:
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- a passagem ao amor carnal da relação de Carlos com
Maria Eduarda, relação que até aí se mantivera no domínio
do puramento platónico;
Capítulo XIV
No mesmo dia em que o avô parte para Santa Olávia, Carlos
instala Maria Eduarda na casa dos Olivais, e fica em Lisboa
só com o Ega, que depressa o abandona e se dirige a Sintra
onde os Cohens passam, o Verão.
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No encontro com Maria, esta é cruelmente recriminada por
Carlos. As suas lágrimas, as suas explicações e a dignidade
que assume acabam por o convencer de que ela não é a
mulher vulgar que vinha imaginando. A entrevista termina
com Carlos pedindo Maria Eduarda em casamento.
Comentário
O presente capítulo caracterizava-se por um inesperado
acelerar do desenvolvimento da acção, que até aqui se
vinha arrastando quase sonolenta. Eça esquece neste
capítulo praticamente tudo o que era moldura, e, tomado
de uma verdadeira febre narrativa, condesa nele a
instalação de Maria Eduarda nos Olivais, o relacionamento
inicial com Carlos, dois saltos qualitativos nesse
relacionamento com as pernoitas deste e o aluguer de uma
casa que as permitisse mais comodamente, a visita de Maria
Eduarda ao Ramalhete, o aparecimento de Castro Gomes, a
reacção de Carlos e a mudança nessa reacção.
Capítulo XV
No dia seguinte, após o almoço, Maria faz questão de
contar a Carlos toda a sua história. Nascera em Viena, mas
nada sabia do papá, a não ser que era nobre e belo. Tivera
uma irmã que morrera, e lembrava-se de, já mais crescida, a
mãe não tolerar que lhe fizessem perguntas sobre o
passado, e lembrava também o avô velhinho que lhe
contava histórias de navios.
Comentário
Este capítulo é, de longe, o mais longo de todo o romance.
Para tanto, contribuía a narrativa completa da sua vida que
Maria faz a Carlos -e que o desenvolvimento da acção
plenamente justifica -mas também a demora com que o
autor distingue a ida do Ega à redacção de A Tarde para
conseguir a publicação da carta de Dâmaso, e que, do
escrito ponto de vista da arquitectura do romance, se pode
considerar exagerada. Diga-se, no entanto, que com ela Eça
nos introduz nos bastidores onde actuam os actores
secundários do grande palco política. De facto, depois de
nos mostrar um Gouvarinho já sobejamente nosso
conhecido, finalmente alcandorado à posição de ministro,
travamos conhecimento com o pequeno político de
província a quem a capital sempre deslumbra. E ficamos a
conhecer também alguma coisa do que era o mundo dos
jornais: primeiro pela intromissão do jornal do Palma na
vida de Carlos, depois pela intromissão do Ega na redacção
de A Tarde. Note-se, aliás, que é a primeira vez, desde as
corridas de cavalos, que o autor se permite um desvio
narrativo do tema central do romance, para voltar a focar
aspectos da sociedade portuguesa do último quartel do
século XIX. Como sempre, o retrato não é lisonjeiro.
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Capítulo XVI
Com Maria já instalada na Rua de S. Francisco terminara aí o
jantar, e Ega insista com Carlos para irem ao sarau de
beneficência que se realizava na Trindade em favor das
vítimas das cheias.
Comentário
Eça prossegue o seu trabalho demolidor da crítica da
sociedade portuguesa. Neste capítulo -quiçá o mais denso
e dramático no contexto da acção -a maior parte do tempo
passa-a ele a descrever com toda a minúcia um sarau de
beneficência, acrescentando mais um quadro à galeria de
Pág.40
instantâneos que alinhou em Os Maias sobre o nosso viver
colectivo.
Capitulo XVII
O criado acordou Ega à hora pedida por este. Mas, passada
a noite, o caso pareceu a Ega não revestir a urgência com
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que se lhe apresentara na véspera. Foi a casa do Vilaça e
não o encontrou, o que lhe deu pretexto para adiar. Só
depois de almoço consegui enfim conversar com o
procurador a quem contou tudo e entregou a caixa. O
procurador via as coisas mais pelo lado prático do dinheiro
e farejava golpe para se apoderarem da avultada herança
dos Maias. Rendeu-se finalmente: a caixa continha, entre
outras coisas, uma declaração solene em que Maria
Monforte da Maia (assim assinava) declarava que Maria
Eduarda era filha de Pedro da Maia.
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engendra um plano de revelação gradual da brutal verdade
a Maria Eduarda. Uma vez, porém, em casa desta, a paixão
domina-o e possui-a, uma primeira vez, já consciente do
parentesco.
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revela-lhe parte da verdade, pede-lhe que parta para Paris,
entrega-lhe o dinheiro e a carta onde se revelava o terrível
segredo, pedindo-lhe, no entanto, que o dispense de
assistir a essa leitura.
Maria parte para Paris num vagão que Vilaça reservara para
ela. Ega espera-a em Santa Apolónia e pode testemunhar a
dignidade com que assume a tragédia que a atingiu. Ega
segue no mesmo comboio para o norte. Despedem-se no
Entroncamento, onde Ega a vê pela ultima vez.
Comentário
O presente capítulo, em nossa opinião o mais dramático de
todo o romance, é indubitavelmente um dos mais densos
de acção. Pode dizer-se que esta atingiu o clímax no
capítulo anterior, quando se torna clara a enormidade da
situação vivida entre Carlos e Maria Eduarda. Era a
dimensão ontológica do facto -que só adquire o estatuto
de tragédia ao alcançar a dimensão psicológica mediante a
tomada de conhecimento pelos interessados: a essa dá-se
neste capítulo.
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O romance podia perfeitamente acabar aqui, e essa teria
sido, em nossa opinião, a solução estética mais perfeita. De
facto, e como se verá, o capítulo final soa bastante a
«moralidade» (o epimythion das fábulas gregas) - uma
moralidade queirosiana, de uma fábula queirosiana no
Portugal do século XIX.
Capítulo XVIII
Carlos parte com Ega para uma longa viagem através do
mundo. Ega regressa a Lisboa, e Carlos fica a viver em Paris
a vida de um príncipe da Renascença, regressando a
Portugal e só por duas semanas, apenas ao fim de dez anos
de ausência. É o reencontro de Carlos com todos os velhos
conhecidos e a verificação dos caminhos que cada uma fora
percorrendo. A visita ao Ramalhete é lúgubre e, durante ela,
o Ega comente com Carlos a grande noticia que este
trouxera: Maria Eduarda ia casar com um fidalgo francês,
um vizinho, membro provavelmente da nobreza rural. Esse
casamento era para Carlos o enterro definitivo daquela
atribuída fase da sua vida. Ambos concordam então em que
lhe falharam na vida. Ambos dizem que nada os faria
apressar o passo.
Pág.45
Comentário
Estamos claramente no epílogo. Da acção, nada que
interesse, a não ser o desfecho para as vidas de Carlos e
Maria Eduarda -que ainda desta vez sai favorecida.
Quanto ao mais:
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