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Osasco
2017
LAÍS FERNANDES ROCHA
2017
AS LINHAS INTERTEXTUAIS NO IMAGINÁRIO
CONTEMPORÂNEO DE NEIL GAIMAN:
UM PASSEIO PELAS DREAMLANDS DO AUTOR DE SANDMAN
BANCA EXAMINADORA
Este trabalho não ganharia corpo e vida se não fossem algumas pessoas
extremamente especiais que com ele se importaram. Alencar e Ana, meus pais:
muito obrigada por terem me criado com tanto zelo e amor. Obrigada por nunca
terem negado os livros que foram (e continuam sendo) tão importantes para a minha
formação, não só como estudante em Letras, mas fundamentalmente como ser
humano pensante e transformador do mundo em que vive. Não seria a mesma sem
Mônica, Píppi, Bella, Isabel e tantas outras heroínas de minha infância. Obrigada por
terem se desdobrado em milhões para que eu recebesse uma educação de
qualidade e pudesse chegar até aqui. Minhas linhas continuariam tortas se não
fossem por vocês. Obrigada por tudo o que vivemos e pelo o que ainda viveremos.
Enéas, meu irmão e melhor amigo: se não fosse por você, o objeto deste
estudo não seria tão conhecido. Obrigada por todas as maratonas de Cavaleiros do
Zodíaco e por todas as referências musicais. Obrigada por todas as brincadeiras,
risadas e, principalmente, por ter sido uma das maiores referências de personalidade
que eu tive. Não seria eu mesma sem você.
Caio, meu Guardador de Estrelas: obrigada por ter me enxergado quando
ninguém mais o faria. Obrigada por ter insistido que Neil Gaiman seria uma ótima
escolha para o meu TCC. Obrigada por todas as indicações de filmes, livros, séries
de TV, por todos os momentos e gestos que me fazem acordar todos os dias com a
plena certeza de que sou a mulher mais feliz de todos os universos existentes.
Obrigada simplesmente por existir (no mundo e aqui dentro do meu coração).
Obrigada a todas as mulheres das famílias Fernandes e Rocha. Obrigada a
todas as amigas, professoras, parentes e irmãs de luta: este trabalho também é para
vocês, belas criaturas, machucadas e esmagadas pelo patriarcado. Nossa batalha
só termina quando a última de nós cair; e isso nunca irá acontecer. Sigamos a
caminhada de peito aberto e cabeça erguida!
RESUMO
O presente trabalho tem por finalidade observar amplamente fatores que levam Neil
Gaiman a compor suas obras com base em histórias clássicas, conhecidas nas
culturas pop e folclórica. Para tanto, será usado o conceito de intertextualidade
estudado por Ingedore Villaça Koch, em suas obras O Texto e a Construção de
Sentidos (1997) e Ler e Compreender: Os Sentidos do Texto (2006, apud Vanda
Maria Elias) bem como os estudos acerca de arquétipos iniciados pelo psicanalista
sueco Carl Jung e de seu discípulo, o pesquisador norte-americano Joseph
Campbell, cuja obra aborda em profundidade a existência e importância dos mitos
dentro dos rituais ancestrais e modernos da sociedade, fator presente
consideravelmente na obra de Gaiman. A análise partirá, também, dos métodos que
o autor utiliza para resgatar estórias aclamadas, dentre elas os contos de fadas,
dando a elas novas roupagens, sem que se percam as essências dos originais (mas
com o toque soturno, corriqueiro na obra do autor). Os gêneros estudados serão
plurais, assim como a escrita de Gaiman, que parte dos quadrinhos e caminha por
romances, poesias e contos, as denominadas short stories. Cada capítulo será
dedicado estritamente a uma destas vertentes, sendo o primeiro uma investigação
acerca da série de quadrinhos Sandman (1988), o segundo, a influência de Jung e
Campbell nos livros Deuses Americanos (2001) e Mitologia Nórdica (2017) e, por
fim, no terceiro serão analisados contos e romances infantojuvenis e adultos que
resgatam os contos de fadas usados outrora como histórias morais, bem como
histórias infantis aclamadas pela crítica que servem de base para muitas vertentes
artísticas, como é o caso de As Aventuras de Alice no País das Maravilhas
(CARROLL, 1865).
This paper aims to observe broadly the factors that lead Neil Gaiman to compose his
works based on classic stories, known in popular and folkloric cultures. To do so, it
will be used the concept of intertextuality studied by Ingedore Villaça Koch, in her
works The Text and Construction of Senses (1997) and Read and Understand: The
Senses of the Text (2006, apud Vanda Maria Elias), as well as the studies about the
Archetypes initiated by the Swedish psychoanalyst Carl Jung and his disciple, the
American researcher Joseph Campbell, whose work addresses in depth the
existence and importance of myths within the ancestral and modern rituals of society,
a factor often present in Gaiman's work. Will also be analyzed the methods that the
author uses to rescue acclaimed stories, giving them a new lease of life, without
losing the essences of the original text (but with the ordinary author’s dark touch).
The genres studied will be plural, as well as the writing of Gaiman, who starts from
comics and goes through novels, poems and short stories. Each chapter will be
devoted strictly to one of these literary genres, the first being an investigation of the
Sandman comic series (1988), the second, the influence of Jung and Campbell on
the books American Gods (2001) and Norse Mythology (2017), and then, in the third
part, it will be analyzed short stories and novels that rescue the fairy tales once used
as moral stories, and children's stories critically acclaimed that serve as the basis for
many artistic trends, such as The Adventures of Alice in Wonderland (CARROLL,
1865).
1 INTRODUÇÃO
(Não existe ninguém no mundo que conheça tantas histórias como Ole-Luk-
Oie, ou quem possa contá-las tão bem. À noite, enquanto as crianças estão
à mesa ou sentadas em suas cadeirinhas, ele sobe as escadas
calmamente, andando de meias, abre as portas sem fazer barulho e
derrama uma pequena quantidade de areia bem fina em seus olhos, o
suficiente para prevenir que eles fiquem abertos e o vejam. Então, fica atrás
delas e sopra de mansinho em seus pescoços, até suas cabeças
começarem a pesar. Mas Ole-Luk-Oie não quer machucá-las, pois gosta
muito de crianças e só quer que elas fiquem quietas para que ele possa
contar suas histórias – e elas só se calam quando estão dormindo. Ele se
veste bem; seu casaco é feito de seda. É impossível dizer a cor, pois muda
do verde ao vermelho, e do vermelho ao azul, enquanto ele se move.
Embaixo de cada braço ele carrega uma sombrinha; uma delas, com
imagens dentro, ele coloca sobre as crianças boazinhas e elas sonham as
mais lindas histórias a noite toda. Mas a outra sombrinha não tem imagens
e esta ele coloca sobre as crianças malvadas, para que eles durmam
agoniadas e acordem pela manhã sem terem sonhado coisa alguma.
(tradução minha))
O conto que apresenta Ole-Luk-Oie tem como subtítulo The Dream God (do
inglês, “O Deus do Sonho”), e introduz Hjalmar, um garoto que é visitado pela
personagem durante sete dias, nos quais Ole-Luk-Oie dedica seu tempo para
contar-lhe as mais belas histórias, enfeitando seu quarto com imagens de lindas
paisagens. Para que as crianças não percebam sua presença, a criatura usa areia
para adormecê-las, característica que perdura até a obra de Gaiman, uma vez que
Sandman possui uma algibeira com este mesmo conteúdo, que usa para colocar em
sono profundo aqueles que com ele têm contato. Outro ponto em que as obras se
unem intertextualmente em stricto sensu, dá-se quando Ole-Luk-Oie conta a Hjalmar
que ele, Deus do Sonho, é irmão da Morte, assim como a criação de Gaiman. A
Morte seria a outra versão de Ole-Luk-Oie, da mesma forma que o deus da morte,
Tânatos, era tido como irmão de Morpheu na mitologia grega.
Longe de possuir um visual colorido como o Ole-Luk-Oie apresentado no
conto de Andersen, Sandman veste-se com uma túnica escura e possui aparência
andrógina. Diferente de Ole-Luk-Oie, uma figura agradável e divertida para lidar com
as crianças, cuja personalidade foi pouco explorada por Andersen, Sandman é uma
personagem complexa, reclusa, orgulhosa, mal-humorada e encontra-se sempre
questionando seu propósito e sua finalidade no mundo dos mortais, em meio a
diversas crises existenciais. Gaiman trabalha a psicologia da personagem,
conferindo-lhe não apenas status de uma criatura que está acima das divindades
que rondam as diversas manifestações e celebrações sociais, mas também como
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um ser que anseia por compreensão e companhia, vindo a recorrer à ajuda de sua
irmã, Morte, muitas vezes. É notório que “Sonho (...) é, de vários modos, um herói
clássico, completo com defeitos trágicos – (...) seu romantismo, seu ego facilmente
ferido e sua autoconfiança. Através da série, ele se confronta com as consequências
de suas ações” (BISSETTE; GOLDEN; WAGNER, 2009, p. 63).
Figura 3 – As três relíquias, nas quais Sandman guarda seu poder: o elmo, o rubi e a algibeira
de areia.
Figura 4 – Os Perpétuos (da dir. para a esq.: Sonho, Morte, Desejo, Destruição, Destino e
Desespero).
18
Em seu livro de ensaios, The View from the Cheap Seats (2016), Neil Gaiman
afirma que “Sandman foi, de várias maneiras, um jeito de criar uma nova mitologia
(tradução minha)” (GAIMAN, 2016, p. 56) e que mitologias sempre o fascinaram, não
apenas a existência delas propriamente ditas ou o porquê da sociedade necessitá-
las, como também o porquê delas necessitarem dos seres humanos para
sobreviverem (apud GAIMAN, 2016, p. 57), fator que é um dos fios condutores do
romance Deuses Americanos (2001).
O escritor Moacyr Scliar (2009), em seu artigo, para o Jornal Zero Hora (RS),
Mito e Evidência, define “mito” como “uma narrativa fantasiosa que, no entanto,
cumpre uma função: serve para proporcionar uma explicação para coisas (...)
obscuras”. Logo, a Mitologia é a junção de uma série de mitos, os quais são
encontrados em todos os cantos do mundo, e que serviam como forma de explicar
os fenômenos decorrentes da natureza e colocar o ser humano em contato espiritual
com algo além da compreensão terrestre.
Os mitos sempre serviram, em primeiro lugar, para explicar o inexplicável: em
seu mais novo lançamento, Mitologia Nórdica, Gaiman (2017) esmiúça a mitologia
escandinava, referente ao norte da Europa, apresentando seus deuses mais
famosos como Odin, Thor, Balder e Loki. Em certa passagem do livro, quando Loki,
o deus da trapaça, está preso em uma caverna subterrânea por ter provocado a
morte de Balder, Gaiman escreve que ele ”gritou e se contorceu, forçando os
grilhões. A própria terra se moveu quando ele se debateu” (GAIMAN, 2017, p. 259).
Logo, tal fator originou os abalos sísmicos, os terremotos, e era encarado como
verdade absoluta em um período ancestral, no qual a Geografia não existia para
explicar os fatos pautada na ciência.
que os mitos também serviam como base espiritual para todas as ramificações da
sociedade, passando de pessoa para pessoa, e de geração para geração pelo
denominado “inconsciente coletivo” (o que outrora servia para explicar os fenômenos
da natureza, também passou aos poucos a interferir diretamente nela, em rituais que
serviam para garantir a fartura nas colheitas e uma vida repleta de abundância),
corroborado pelo ato de celebrar o divino e também pelo contar de histórias:
possuíam como base de suas ideologias de vida a figura feminina, exaltada por sua
fertilidade, sabedoria e magia (muitas mulheres eram chefes de suas tribos,
respeitadas como líderes e responsáveis por trabalhos pesados que, com o passar
do tempo, foi descentralizado e passado para as mãos dos homens). Na cultura
Celta, a Grande Mãe, era Cerridwen, também encontrada como Santa Brígida pelos
irlandeses, como Hécate, na Grécia, e Maria, Mãe de Jesus, na religião cristã. Em
todas as culturas, da africana à hindu, há o arquétipo da Deusa.
Em Sandman, a Grande Mãe aparece como as três feiticeiras gregas, As
Graças (ou Moiras), bruxas invocadas por Morpheu para dizerem o paradeiro de
suas relíquias roubadas. Elas se repartem em Donzela, Mãe e Anciã, mostrando as
três idades da mulher, e têm por finalidade tecer, medir e cortar o fio da vida de cada
pessoa. Estas mesmas personagens aparecem em O Oceano no Fim do Caminho
(GAIMAN, 2013), sob a perspectiva das Hempstock, uma tríade familiar formada por
Lettie Hempstock, a menina, Gennie Hempstock, a mulher e mãe de Lettie, e a
Velha Hempstock, no papel de anciã. Muito sábias e atenciosas com o protagonista
da história, as três personagens ecoam a ancestralidade a qual pertencem, mesmo
morando no período moderno, em uma fazenda do interior da Inglaterra.
Gaiman é conhecido por desenvolver muito bem o perfil estrutural e
psicológico de suas personagens femininas, bem como dar-lhes importância dentro
de suas obras, e isso é um reflexo direto da importância do arquétipo da Deusa ao
longo de sua formação como escritor, vide a própria Morte, de Sandman,
personagem muitas vezes mais adorada pelos fãs da obra do que o próprio
protagonista, Morpheus.
Era muito mais velha que eu, com pelo menos uns onze anos. O cabelo
castanho-avermelhado era relativamente curto para uma garota, e o nariz,
arrebitado. Tinha sardas. Estava de saia vermelha – as meninas não
costumavam usar calças jeans naquela época, não por aquelas bandas.
Tinha um leve sotaque de Sussex e olhos azul-acinzentados e penetrantes.
(...) – Sou a mãe da Lettie – anunciou. – Você já deve ter conhecido a
minha mãe, no galpão de ordenha. Sou a sra. Hempstock, mas ela era a
sra. Hempstock antes de mim, então agora é a velha sra. Hempstock. Esta
é a Fazenda Hempstock. É a mais antiga das redondezas.
(...)
Era a velha sra. Hempstock, o avental suspenso nas mãos, e ali dentro
havia tantos narcisos que a claridade refletida neles transformava o rosto
dela em ouro, e a cozinha inteira parecia banhada por uma luminosidade
amarela. (GAIMAN, 2013, p. 30-31-43)
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But new mythologies wait for us, here in the final moments of the twentieth
century. They abound and proliferate: urban legends of men with hooks in
lovers’ lanes, hitchhikers with hairy hands and meat cleavers (…), serial
killers and barroom conversations, in the background our TV screens pour
disjointed images into our living rooms (…); we mythologize the way we
dress and the things we say; iconic figures – rock stars and politicians,
celebrities of every shape and size; the new mythologies of magic and
science and numbers and fame. (GAIMAN, 2016, p.57-58)
Ao final do livro, Shadow não permite que uma guerra aconteça entre os
deuses antigos e os novos. Desta forma, entende-se que uma mitologia não exclui a
outra, pelo contrário: as novas mitologias que surgem são frutos das arcaicas e
propagam, mesmo que em novas esferas, o que outrora serviu para edificar
culturalmente todas as nações mundiais.
Além disso, Shadow, que era cético no início da obra, torna-se crente em
manifestações sobrenaturais, tanto do bem quanto do mal. É explorada, então, a
transcendência da personagem que, antes sem rumo, encontra um propósito de
vida. Logo, têm-se o começo, o meio e o fim da denominada “Jornada Interior” de
Shadow, cuja peregrinação, fundamentalmente, foi em busca de respostas e
autoconhecimento (apud CAMPBELL, 1988, p. 39).
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Horror and fantasy (whether in comics form or otherwise) are often seen
simply as escapist literature. Sometimes they can be – a simple,
paradoxically unimaginative literature offering quick catharsis, a plastic
dream, an easy out. But they don’t have to be. When we are lucky the
fantastique offers a roadmap – a guide to the territory of the imagination, for
it is the function of imaginative literature to show us the world we know, but
from a different direction.
Too often myths are uninspected. We bring them out without looking at what
they represent, nor what they mean. Urban legends and the Weekly World
News present us with myths in the simplest sense: a world in which events
occur according to story logic – not as they do happen, but as they should
happen.
But retelling myths is important. The act of inspecting them is important. It is
not a matter of holding a myth up as a dead thing, desiccated and empty
(…), nor is it a matter of creating New Age self-help tomes (…). Instead we
have to understand that even lost and forgotten myths are compost, in which
stories grow. (GAIMAN, 2016, p. 58-59)
(Horror e fantasia (na forma de quadrinhos ou de outra forma) são
constantemente vistos como literatura escapista. Algumas vezes eles
podem ser – uma simples, paradoxal e pouco elaborada literatura
oferecendo catarses rápidas, sonhos vazios, uma válvula de escape. Mas
elas não têm de ser. Quando temos sorte, o fantástico nos oferece um mapa
– um guia para o território da imaginação, pois é função da literatura
imaginativa nos mostrar o mundo que conhecemos, porém de forma
diferente.
Com frequência, os mitos não são bem observados. Trazemo-los à tona
sem procurar entender o que representam, nem o que significam. Lendas
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Mais uma vez, Gaiman cria uma personagem feminina de destaque, que vai de
encontro às convenções dos contos de fadas. Se observadas amplamente, a maioria
das meninas ou mulheres fica em segundo plano quando algum evento ruim
acontece, sendo salvas apenas por homens (vide os casos da própria Branca de
Neve, salva pelo príncipe; ou de Chapeuzinho Vermelho, salva pelo lenhador). O
autor propõe e defende, em entrevistas, que “gosta de histórias em que mulheres
salvam a elas mesmas (tradução minha)” (apud GAIMAN, 2015), logo o viés
feminista de suas obras, principalmente infantojuvenis, tem o poder de influenciar
garotas a possuírem voz (fator que nos séculos passados era totalmente negado às
mulheres e acabava sendo reforçado pela literatura dos contos de fadas).
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A cantiga acima aparece no capítulo “Um Chá Maluco”, no qual Alice vai ao
encontro do Chapeleiro para tomarem chá. Gaiman faz o mesmo, mas no primeiro
capítulo de Coraline. Antes de adormecer, ela sonha com “pequenas formas
escuras, com olhos vermelhos e dentes afiados e amarelos” (GAIMAN, 2003, p. 11,
tradução minha), as quais cantam para ela:
We are small but we are many
We are many we are small
We were here before you rose
We will be here when you fall
(GAIMAN, 2003, p.12)
(Somos pequenos, mas somos muitos
Somos muitos, mas somos pequenos
Estávamos aqui antes de você nascer
Estaremos aqui quando você morrer
(tradução minha))
Apesar de uma canção soturna, e não tão elaborada como os versos de Carroll
(apud CASTILHO, 2010, p. 18), Gaiman esforça-se para manter a tradição das
cantigas que, assim como as estórias passadas oralmente, possuem poder dentro
do folclore mundial e da obra que inspira este livro.
Todas as personagens aqui citadas possuem uma linha em comum, que se
costura ao longo de todas as obras: são indivíduos em busca de identidade, esta
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camuflada nas aventuras às quais se dispõem a trilhar, para que assim despertem e
aceitem a novidade dentro delas mesmas, o que Campbell (1990) denominou de “A
Jornada do Herói”. É de extrema importância que o jovem espelhe-se em leituras do
tipo, uma vez que a adolescência é um período crucial de transição para a vida
adulta e influências literárias positivas têm o poder de formar o caráter de diversas
pessoas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
porque nos contam como podem ser combatidos”. E não seriam todas as vidas um
eterno conto de fadas?
36
REFERÊNCIAS
Livros:
CAMPBELL, Hayley. A Arte de Neil Gaiman. 1. ed. São Paulo: Mythos, 2014.
GAIMAN, Neil. A Bela e a Adormecida. 1. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.
CARROLL, Lewis. Aventuras de Alice no País das Maravilhas & Através
do Espelho e o que Alice encontrou lá. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
GAIMAN, Neil. Coraline. 2. ed. New York: HarperCollins, 2003.
GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 27. ed. São Paulo:
FGV, 2011.
GAIMAN, Neil. Deuses Americanos. 1. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016.
ELIAS, Vanda Maria; KOCH, Ingedore Villaça. Ler e Compreender: os
sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2013.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil. 1. ed. São Paulo: Moderna,
2000.
GAIMAN, Neil. Mitologia Nórdica. 1. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.
JUNG, Carl. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. 2. ed. Rio de
Janeiro: Vozes, 2000.
GAIMAN, Neil. O Oceano no Fim do Caminho. 1. ed. Rio de Janeiro:
Intrínseca, 2014.
CAMPBELL, Joseph; MOYERS, Bill. O Poder do Mito. 22. ed. São Paulo:
Palas Athena, 2004.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 9. ed. São
Paulo: Contexto, 2007.
BISSETE, Stephen R.; GOLDEN, Christopher; WAGNER, Hank. Príncipe de
histórias: os vários mundos de Neil Gaiman. 1. ed. São Paulo: Geração, 2011.
GAIMAN, Neil. Sandman: edição definitiva. 1. ed. São Paulo: Panini, 2011.
ANDERSEN, Hans Christian Andersen. The Complete Hans Christian
Andersen Fairy Tales. 1. ed. New York: Gramercy, 1996.
GAIMAN, Neil. The View from the Cheap Seats: Selected Nonfiction. 1. ed.
New York: HarperCollins, 2016.
Artigos:
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