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no Além
Psicografado por
Nelson Moraes
Pelo espírito
Zílio
Índice
Capítulo 1 Na sepultura.............................................................. 3
Capítulo 2 Fora da sepultura ...................................................... 7
Capítulo 3 No vale dos drogados I ........................................... 11
Capítulo 4 No vale dos drogados II .......................................... 14
Capítulo 5 No vale dos drogados III......................................... 18
Capítulo 6 No vale dos drogados IV......................................... 21
Capítulo 7 Na colônia escola.................................................... 25
Capítulo 8 Novas revelações I .................................................. 28
Capítulo 9 Novas revelações II................................................. 31
Capítulo 10 Novas revelações III ............................................. 35
Capítulo 11 O resgate de Mirna I ............................................. 44
Capítulo 12 O resgate de Mirna II ............................................ 50
Capítulo 13 A missão ............................................................... 57
Nelson Moraes - Um Roqueiro no Além - Pelo Espírito Zílio 3
Capítulo 1
Na sepultura
A minha morte foi como um pesadelo; senti um profundo tor-
por e perdi os sentidos. Depois de algum tempo, recobrei a cons-
ciência; parecia estar bem, até que percebi que algumas pessoas
estavam colocando-me dentro de um caixão. Tentei reagir mas
não consegui mexer-me; gritei dizendo estar vivo, mas ninguém
me ouviu. Quando fecharam o caixão, dei murros na tampa ten-
tando abri-la, mas meu esforço era em vão; perdi os sentidos.
Não sei quanto tempo fiquei desacordado; quando dei por
mim novamente, senti que me colocaram em um veiculo e viaja-
mos por algum tempo. Os solavancos do carro enjoaram-me; co-
mecei a passar mal; não tinha espaço para vomitar e nem para me
mexer; sentia-me sufocado. Quando o carro parou escutei grita-
rem o meu nome seguido de muito pranto. Pelo movimento, per-
cebi que ali deveria ser o local do velório. Tiraram o caixão do
carro e, quando menos eu esperava, abriram a tampa. Senti um
grande alívio! Tentei levantar-me, mas não consegui. Muita gente
debruçou sobre mim para chorar.
O que eu poderia fazer?
Já havia tentado de tudo para sair dali. A única explicação
que eu encontrava para aquele fato, é que eu estava realmente
morto e o meu espírito preso a meu corpo e já começava a cheirar
mal. Diante da minha impotência, tive que aceitar aquela situação.
Observei cada pessoa que passavam por mim. Olhavam-me pie-
dosamente e lamentavam pela minha morte. Quase todos que pas-
saram por aquele desfile de lágrimas e de hipocrisia diziam a
mesma coisa:
- Que pena. Tão jovem!
Nelson Moraes - Um Roqueiro no Além - Pelo Espírito Zílio 4
Outros cochichavam:
- Foram as drogas que o destruíram.
- Depois de algum tempo, fecharam o caixão e puseram-me
novamente em um carro. Fiquei tonto, comecei a passar mal; por
alguns momentos, eu ia morrer de verdade. Mas acabei apenas
desmaiando. Quando voltei a mim, não sei quanto tempo depois,
escutei algumas pessoas conversando. Pelo que elas falavam, de-
duzi que estavam levando-me para o cemitério; quase me desespe-
rei. Senti um medo terrível, principalmente quando percebi que
estavam SEPULTANDO-ME. Não cheguei a entrar em pânico,
mas rezei todas as orações que eu havia aprendido e isso, de certa
forma, acalmou.
Lembrei-me da minha vida desde quando era criança. Revi
todo meu passado, era como se eu estivesse assistindo à projeção.
A partir daí, naquela solidão profunda, comecei a julgar minhas
atitudes. Fui um combatente! Lutei contra um sistema que eu não
aceitava e que me causava revolta. Entretanto, acabei vítima de
mim mesmo e não do sistema que eu condenava.
Sem perceber, havia optado pela fuga, a mesma fuga que me
havia fascinado em outros momentos da minha vida. O sofrimento
por que eu estava passando era característico dos suicidas. Era
assim mesmo que eu me sentia, um suicida. Levado pela revolta,
percorri o caminho das drogas até encontrar a morte. Embora o
mundo me aborrecesse, eu deveria ter continuado no bom comba-
te.
Na verdade, fui um equivocado, apontei tudo que eu achava
que estava errado, mas não soube indicar o certo. Minhas inten-
ções eram boas, mas minhas atitudes eram contraditórias. Em vez
de atacar e ferir o sistema, eu deveria ter contribuído para trans-
formá-lo. Não corri atrás do ouro dos tolos, mas, na cama de meu
apartamento, fiquei com a boca aberta esperando a morte chegar.
Ela chegou antecipada! Veio convidada pela minha insensatez.
Nelson Moraes - Um Roqueiro no Além - Pelo Espírito Zílio 5
Capítulo 2
Fora da sepultura
Não sabia se havia passado alguns dias, alguns meses ou al-
guns anos. Perdi completamente a noção do tempo, até que ouvi
uma voz chamando-me:
- Olá, malandro! Foi bem de viagem?
Sabia que era comigo que falavam, mas não respondi. A voz
continuou chamando-me e rindo às gargalhadas. Lembrava-me a
voz de alguém conhecido, mas a escuridão era tanta que eu não
podia vê-lo.
- O que é malandro, vai ficar a vida toda dentro desse buraco?
Seu corpo já apodreceu! Vai esperar apodrecer o seu espírito?
Você está vivo, cara! A morte não existe! Olha para mim! Estou
numa "boa". Aqui tem tudo o que a gente gosta. Vamos. Sai desse
buraco.
Uma força estranha impeliu-me e eu sai dali. Demorou muito
para que eu pudesse recobrar a visão. Alguém me estendeu a mão
e segurou-me pelo braço...
Era um homem cuja fisionomia chegava a assustar-me; tentei
lembrar-me de onde eu o conhecia mas não consegui.
- Está assustado, "garotão"? Não tenha medo, eu domino esta
região! Você é meu convidado especial. Eu sou seu fã!
- Quem é você?
- Somos velhos amigos, não vai se lembrar, fazem apenas al-
guns séculos...
Suas gargalhadas assustavam-me. Ele continuou:
- Você deve ter pensado que o inferno não existe, mas o in-
ferno existe somente para os fracos; estamos no Paraíso. Eu go-
Nelson Moraes - Um Roqueiro no Além - Pelo Espírito Zílio 8
verno esta parte da cidade. Você vai adorar ficar aqui comigo e
com todos os que estão sob o meu comando. Venha! Vou ensinar
a você como se vive fora do corpo.
Constrangido e assustado, segui seus passos até sairmos do
cemitério. Na rua, entrei em pânico. Sai correndo sem saber para
onde; vaguei não sei quanto tempo; estava aflito; minhas roupas
estavam cheias de vermes, quanto mais eu sacudia mais caíam no
chão. Desesperado entrei em um motel. Precisava tomar um ba-
nho! Fui até a recepção, falei com a mulher que atendia na porta-
ria, mas ela não me ouviu; ia insistir novamente quando aproxi-
mou-se de mim uma outra mulher:
- Olá, querido! Não adianta falar com ela, não pode vê-lo, vo-
cê é um espírito desencarnado como eu. Em que posso ser útil?
- Preciso tomar um banho.
- Só um banho, amor?
- Sim. Tenho que me livrar destes vermes.
- Que vermes?
- Você não os vê? Olha aqui! Estão no meu corpo todo, já es-
tou ficando desesperado!
- Você não é o primeiro louco que vem aqui com essa histó-
ria. Isso é o que dá eu trabalhar perto do cemitério. Vamos até a
minha suíte que eu o faço esquecer os vermes. Vem meu bem,
vem!
- Eu quero apenas tomar um banho.
- Está bem! Eu o levo para tomar um banho. Venha.
Caminhamos em direção à tal suíte, passamos por algumas
em que, do lado de fora, alguns homens e mulheres se acotovela-
vam; pareciam estar enxergando através da janela fechada e da
parede; achei estranho. Antes de eu perguntar, a mulher começou
a falar:
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- Você deve estar chegando agora; não sabe nada dessas coi-
sas. Esses espíritos são os sexólatras; estão participando do con-
luio amoroso do casal que está na suíte. Se gostarem do desempe-
nho do homem ou da mulher, irão com eles para casa.
Os gestos que eles faziam eram de verdadeiros alucinados; fi-
quei apavorado e sai correndo. A mulher ficou gritando:
- Onde você vai, meu bem? Vem cá!
Não olhei para trás; segui em frente, sem rumo e sem destino;
caminhei pelas calçadas; vaguei por muito tempo. Notei que al-
gumas pessoas que passavam por mim pareciam me ver, outras
não, então entendi que as que me viam eram espíritos como eu, as
outras eram pessoas encarnadas. Fiquei admirado de ver um nú-
mero tão grande de espíritos caminhando entre os encarnados.
Muitos pareciam saber para onde iam, outros vagavam como eu.
Estava meditando sobre a minha situação, quando ouvi uma músi-
ca que me era familiar; o som vinha de um automóvel estaciona-
do; aproximei-me...
Era um casal de jovens enamorados. Ela tinha pouco mais de
dezesseis anos, ele, uns dezenove ou mais; ouvi o diálogo:
- Eu adoro ouvir esse cara cantar!
Exclamou a jovem.
Ele era demais, pena que morreu, era um dos nossos! Vamos
homenageá-lo?
Vamos! – Respondeu a jovem.
O rapaz abriu um papelote de cocaína e os dois começaram a
"cheirar".
- Esta é pra você malucão!
Diante daquela cena, desequilibrei-me. Entrei em crise e co-
mecei a passar mal. Vomitei não sei por quanto tempo; continuei
caminhando; cambaleava de um lado pra outro. Eu queria morrer
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Capítulo 3
No vale dos drogados I
Não sei quanto tempo fiquei desacordado. Quando voltei à
consciência, alguns espíritos que ali estavam se aproximaram de
mim e agarraram-me pelos braços; um deles, segurando uma agu-
lha hipodérmica. com a agulha torta e enferrujada, começou a
falar:
- Calma! Nós guardamos um pouquinho pra você.
Quando ele ia aplicar a droga em meu braço, tentei reagir,
mas estava impotente.
Gritei desesperado:
- Deus, meu Pai, perdoa-me, livra-me deste inferno, eu lhe
suplico. Socorra-me por favor...
Uma Luz surgiu no meio das sombras! Vi um jovem como
que saindo daquela luz intensa. Levantou o braço e, no mesmo
momento, os espíritos que tentavam ferir-me, largaram-me e se
afastaram. O susto devolveu-me a lucidez; olhei para o jovem
que, sorrindo para mim, afirmou:
- Não tema. Venha, eu vou levar você para um lugar onde po-
derá recuperar-se em segurança. Venha! Dê-me sua mão.
Apoiado por ele, levantei-me e começamos a caminhar. Eu
estava cansado; mal conseguia andar; estava com medo. Para on-
de eu iria desta vez? Subimos e descemos por entre as pedras e
rochedos até que chegamos a um lugar parecido com aquele, po-
rém, menos sombrio.
- Quem é você? - Perguntei.
- Sou um amigo. O vale onde estava é para aqueles que ainda
estão presos ao vício. Enquanto não demonstrarem vontade de se
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Capítulo 4
No vale dos drogados II
- Obrigado! O que é o grupo dos conscientes?
- Somos os que já caminham em pé e lúcidos, pois como você
vê, ainda há muitos que se arrastam, assim como você e nós nos
arrastávamos até pouco tempo.
- Vocês sabem como funciona este lugar? Existe um tempo
certo que devemos ficar aqui?
- Nós não sabemos - respondeu Ronaldo.
- Vocês já viram alguém sair daqui?
- Eu já vi! - afirmou Rosa que se recuperava do pranto.
Então eu perguntei-lhe:
- Como se faz para sair daqui? É possível? Ou temos que es-
perar alguém vir nos buscar?
- Eu conversei com um espírito que veio junto com um grupo
chamado Samaritanos. Ele informou-me que somos livres, pode-
mos sair, basta subirmos pela encosta do vale e logo estaremos
entre os encarnados, mas disse não é aconselhável, pois estaría-
mos comprometendo nossa recuperação. Disse, ainda, que o mais
importante para nós é ficarmos até que se atinja a completa desin-
toxicação causada pelas drogas. Além do mais, devemos nos rea-
bilitar das conseqüências da morte prematura. Nesse dia, eles le-
varam muitos espíritos que já estavam prontos para iniciarem uma
nova fase do tratamento.
- Então, pelo que vejo, só nos resta esperar pela nossa vez! –
afirmei conformado.
Rosa continuou falando:
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Capítulo 5
No vale dos drogados III
- Eu falei para o meu amigo que o racha não ia dar certo, nós
tínhamos acabado de nos drogar, ele não estava bem, mas uns
caras insistiram desafiando meu amigo, ele não agüentou e partiu
para cima. Depois eu não vi mais nada, até a hora que vocês che-
garam.
- Agora procure ficar calmo, outra hora nós voltamos a con-
versar. Se você acredita em Deus, reze, lhe fará bem.
Dali partimos na direção de outros enfermos. Não tínhamos a
noção de tempo, não havia dia ou noite, o lugar era sempre som-
brio. Observei que quase todos me conheciam, isto me fazia sentir
co-responsável pela situação em que estavam. Eu que acreditava
ser um filósofo e sonhava construir a cidade das estrelas, estava
agora em plena cidade das sombras. E o pior, de alguma forma eu
acabei ajudando a povoá-la, arrastando para cá muitos desses es-
píritos que se influenciaram com o mau exemplo do meu compor-
tamento equivocado.
Muitos dos espíritos que estavam naquele imenso vale de so-
frimento apresentavam problemas quase idênticos. A maior difi-
culdade de todos era aceitar e compreender a morte. Eram todos
suicidas involuntários, vítimas das drogas como eu.
Não demorou para que o nosso trabalho fosse notado pelos
espíritos Samaritanos. Logo depois que o iniciamos, recebíamos
constantemente orientação e recursos valiosos que facilitavam
nosso trabalho.
Todos os dias, Felipe, o mesmo que socorreu-me no outro va-
le, e alguns Samaritanos, vinham nos ministrar aulas. Com eles
aprendemos a lidar com as dificuldades que muitas vezes encon-
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Capítulo 6
No vale dos drogados IV
- Toda vez que nós ultrapassamos a barreira do bom senso e
agredimos a natureza em nós, ou fora de nós, ela nos responde à
altura da nossa agressão. Como a natureza física e a natureza eté-
rica estão estreitamente ligadas, acabamos transferindo para a
nossa natureza extra-física o resultado das nossas ações menos
felizes.
- Por que uns se recuperam mais rápido do que outros?
- O tratamento que se opera aqui não é um tratamento bioló-
gico, ele não se efetiva apenas na recuperação de células, é a re-
cuperação da mente que importa. Quanto mais tempo o espírito se
demora para se conscientizar do erro que praticou, mais demorada
será a sua recuperação.
- Por que depois da morte física não continuei atraído pelas
drogas? Pelo contrário, senti repugnância?
- Embora não se lembre, você tem valorosos amigos no mun-
do espiritual. Antes mesmo de você desencarnar, durante período
em que estava enfermo, eles o ajudaram muito; anulando certos
efeitos do seu perispírito, causados pelos abusos, os quais poderi-
am agravar ainda mais a sua situação.
- Eu não me drogava por prazer, eu buscava respostas à mi-
nha indignação. Nas "viagens" que eu realizava conseguia enxer-
gar o mundo que desejava. Mas agora compreendo, o mundo que
todos desejamos não está pronto esperando por nós; temos que
construí-lo onde estivermos.
- Zilio, para muitos, a equipe de vocês ajudou a construir um
mundo melhor aqui mesmo neste vale de sofrimento. O mundo
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Capítulo 7
Na colônia escola
- Não sei quanto tempo se passou. Felipe veio buscar-me.
Emocionado, despedi-me de todos. Miriam e Rosa abraçaram-me
numa sincera demonstração de carinho.
Partimos... Felipe segurou-me pela mão. Subimos pela encos-
ta do vale até uma planície onde um veículo nos esperava. Entra-
mos. Logo em seguida, o veículo começou a deslizar ou voar, não
sei ao certo, o que sei realmente é que chegamos a um lugar que
parecia uma cidade. Havia prédios, jardins, pessoas andando pelas
ruas e alamedas. Desembarcamos e começamos a caminhar. As
pessoas passavam por nós, cumprimentavam-nos como se nos
conhecessem. Curioso, perguntei:
- Estamos na Terra?
- Não da forma como você imagina. estamos em uma cidade
espiritual, em um lugar próximo da crosta terrestre. Na verdade,
ela toda é uma colônia escola.
- Não entendi! Uma colônia escola?
- Sim! O que aqui se aprende transcende ao que aprendemos
nas academias da Terra.
Entramos em um prédio de dois andares. Caminhamos pelo
corredor térreo e paramos frente ao número dezesseis.
- Este é o apartamento onde vai ficar. – afirmou Felipe.
Era um quarto com uma cama, uma estante cheia de livros e
uma sala pequena com um sofá e duas poltronas, iguais as que
todos conhecemos na Terra. Ia perguntar sobre o banheiro, mas
calei-me, afinal agora era um espírito, com certeza não precisava
mais atender às necessidades fisiológicas. Felipe, dando a enten-
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Capítulo 8
Novas revelações I
No dia seguinte quando acordei, fui surpreendido pela luz do
sol penetrando pelas frestas da janela. Senti uma alegria imensa,
pois há muito eu não via os raios solares. Felipe estava sentado
aos pés da minha cama.
- Como está, meu amigo Zílio?
- Transbordando de felicidade! É como se eu tivesse renasci-
do esta manhã.
- Pelo que eu vejo, não teve dificuldades para retornar algu-
mas lembranças dos momentos vividos aqui entre nós.
- Não me recordei de tudo, mas o que é importante para mim,
está bem nítido em minha mente. Sei agora que você é um dos
amigos valorosos que eu tenho aqui. Deve ter saído daqui muito
bem preparado; por que fracassei?
- Enquanto estamos aqui no mundo espiritual, geralmente es-
tamos entre autênticos amigos; nossas qualidades pouco são testa-
das, porém, quando reencarnamos, nós nos submetemos a uma
convivência irrestrita, onde nossos valores são testados a cada
instante a as nossas fraquezas são estimuladas até o último grau
da nossa resistência. Nem sempre conseguimos resistir a todas e
isso demonstra o quanto ainda temos que caminhar rumo à perfei-
ção.
- Estou sentindo uma sensação de eternidade; é como se re-
almente eu tivesse nascido há milhares de anos atrás.
- É Zílio, somos alguns dos muitos que ainda não consegui-
ram voltar ao planeta de onde fomos exilados. Graças a Deus, não
recordamos totalmente dos detalhes; o nosso sofrimento seria ain-
da maior. Vez ou outra, temos uma vaga intuição e isso já é o bas-
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Capítulo 9
Novas revelações II
- Apesar desse fator negativo, você foi um dos poucos que
conseguiram marcar alguns pontos positivos com relação a nossa
proposta de trabalho.
- Vocês estão à frente dessa tarefa tão importante, não poderi-
am interferir quando aqueles que partiram daqui com essa missão
estivessem ameaçados com o fracasso?
- Interferir não. Influenciar sim! Entretanto, todos são livres
para aceitar ou não a nossa influência.
- Agora, mais do que nunca, entendo a sabedoria e a bondade
Divina! Deus nos criou livres e será no exercício dessa liberdade
que um dia alcançaremos a perfeição.
- Exatamente. À medida que o ser avança no bom uso dessa
liberdade, automaticamente aufere a si mesmo recursos ainda
mais amplos, alargando seus horizontes em direção à verdadeira
felicidade.
- Nesse caso, a lei da relatividade faz sentido.
- Realmente! Tudo é relativo ao nosso grau de evolução.
- Sabe Felipe, apesar de me sentir muito bem, estou preocu-
pado com estes hematomas que aparecem no meu corpo.
- Esses pontos escuros que realmente parecem hematomas,
são marcas apontando focos de energia em desequilíbrio. São
conseqüências do seu desencarne precoce. Representam as partes
do seu corpo físico onde o desligamento prematuro do perispírito
foram traumáticos.
- Quanto tempo ficarão essas energias em desequilíbrio?
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Capítulo 10
Novas revelações III
- Perdoa-me, fiz esta pergunta quase que no ímpeto de uma
revolta. Pensei ter encontrado uma contradição nas leis; afinal,
não seria livre se uma força pudesse se opor à minha vontade.
Mas agora, entendo definitivamente a lei da relatividade. Até a
nossa liberdade de ação é relativa ao grau de evolução que alcan-
çamos.
- É isso mesmo. Agora devo ir. Amanhã virei buscá-lo para
que conheça parte da nossa colônia.
Helena partiu. Deitei-me e mergulhei em profundas medita-
ções...
Devo ter adormecido. Acordei novamente com os raios sola-
res invadindo meu quarto. Helena não demorou a chegar.
- Bom dia! Está pronto?
- Sim! Pronto e ansioso!
- Então, vamos.
Saímos... Na rua era grande o movimento. Os espíritos que
passavam por nós cumprimentavam-nos, olhando-me com olhares
de curiosidade, pareciam conhecer-me.
- Por que me olham assim?
- Muitos deles o conhecem na Terra; afinal, você foi famoso.
- Pensei tratar-se de velhos amigos daqui da Colônia.
- A população desta colônia é constantemente renovada; to-
dos os dias saem daqui centenas de espíritos para novas encarna-
ções, da mesma forma que muitos chegam ao fim de cada experi-
ência terrena.
Nelson Moraes - Um Roqueiro no Além - Pelo Espírito Zílio 36
- Será que vou agüentar uma vida regrada? ceder a essas im-
posições não significa realmente fraqueza? Não seria melhor fazer
o que eu sempre queria como sempre fiz e agüentar as conseqüên-
cias?
Naquele momento eu já estava tremendo, meu sistema nervo-
so havia se desequilibrado totalmente. Ouvi uma voz conhecida:
- É isso malandro, reage, não se deixe dominar. Basta pedir,
eu dou um jeito para sair daí agora mesmo, aqui você vai ser feliz
de verdade, poderá fazer o que quiser e na hora que bem entender.
Seus amigos estão saudosos. Venha. Venha...
Senti um estranho prazer dominando-me. Estava quase acei-
tando o convite quando Felipe entrou no quarto:
- Zílio, Zílio! Acalme-se, olhe para mim, sou eu, Felipe.
Ainda ofegante, estendi minhas mãos ao Felipe e comecei a
chorar:
- Felipe, por favor, ajuda-me. Não vou resistir.
- Vai sim. Tenha fé em Deus e em si mesmo, estes são mo-
mentos importantes para você se fortalecer.
- Como se chama aquele homem que foi buscar-me na sepul-
tura e vez ou outra surge na minha mente?
- Aquele é o nosso irmão Augusto, o único do nosso grupo
que ainda não acordou.
- Por que ele goza de tanta liberdade?
- Sua liberdade está com os dias contados, a cada passo ele se
projeta para um abismo de sofrimentos onde os meses parecerão
anos e os anos parecerão séculos e os séculos, uma eternidade.
- Nada pode ser feito para ajudá-lo?
- Tudo já foi feito em seu favor. Helena, por duas vezes, mer-
gulhou em encarnações dolorosas tentando salvá-lo, mas ele se
Nelson Moraes - Um Roqueiro no Além - Pelo Espírito Zílio 42
Capítulo 11
O resgate de Mirna I
Passaram-se alguns meses da chegada à Colônia; sentia-me
fortalecido. Experimentei momento difíceis, mas, com o apoio de
Helena e Felipe, consegui superá-los. Percorri as ruas e edifícios,
conheci espíritos maravilhosos que periodicamente visitavam a
Colônia, trazendo alento das esferas superiores. Cada vez mais se
fortalecia em mim o desejo de ascender para um plano melhor;
estava obstinado; essa era agora a minha meta. Certa manhã, He-
lena veio convocar-me ao trabalho. Vibrei de alegria!
- Calma Zílio, o trabalho que nos aguarda é bastante delicado;
eu não vou participar diretamente. Denius irá acompanhá-lo. Pre-
cisamos resgatar alguém muito importante para nós e que está sob
o domínio de espíritos infelizes.
- Quem é Denius?
- Denius é um colaborador da nossa Colônia que presta seus
serviços em um posto avançado próximo às zonas inferiores; ele
tem acesso livre no Vale dos prazeres.
- Quem é esse espírito importante para nós?
- É Mirna. Faz parte do nosso grupo, devemos isso a ela.
- Acredita que eu possa realmente ajudar?
- Você é o mais indicado. A afeição que sente por você pode-
rá ser útil para trazê-la de volta. Lá você colherá valiosos recursos
para o próximo trabalho que deverá realizar.
- Eu a reconhecerei quando estiver diante dela? Ela participou
desta última encarnação?
Nelson Moraes - Um Roqueiro no Além - Pelo Espírito Zílio 45
Capítulo 12
O resgate de Mirna II
- Esse irmão foi um político que traiu a fé pública. Usou o
poder que o estado lhe conferiu para atender à própria ganância.
Os recursos que administrava, destinavam-se a suprir os hospitais
públicos no atendimento à saúde. Mergulhado agora em remorso
profundo, sua mente é povoada pelos gritos desesperados das ví-
timas das suas atitudes criminosas.
Agora compreendia as afirmações de Jesus contidas no evan-
gelho: “Aqueles que têm sede de justiça serão saciados.” Nin-
guém fica impune à própria consciência. Cedo ou tarde, ela agirá
sobre os erros praticados. Era grande o número de espíritos que
vagavam naquele lugar, vítimas da zoantropia. Fiquei feliz quan-
do Denius chamou-me para nos retirarmos dali.
- Vamos senhor Zílio, já começa a anoitecer; temos que ir ao
encontro de Mirna.
Saímos por um outro lado; alcançamos uma grande avenida.
O colorido extravagante predominava nas fachadas das casas;
mulheres se exibiam nas calçadas com os corpos expostos. As
edificações que compunham aquela estranha cidade tinham for-
mas burlescas; em nada se assemelhavam às edificações tradicio-
nais, como as da Terra, ou mesmo da Colônia onde eu estava a-
brigado. Curioso, perguntei ao Denius:
- De que forma são construídos esses prédios?
- Todas as edificações aqui são o reflexo das mentes que pre-
dominam neste lugar; é a materialização do pensamento e da von-
tade predominante. É o paraíso com que sonhavam.
- Como que o espírito, após a desencarnação, vem parar aqui?
Nelson Moraes - Um Roqueiro no Além - Pelo Espírito Zílio 51
Capítulo 13
A missão
Acordei pela manhã, abri a janela e respirei fundo. O ar pare-
cia alimentar meu corpo; será que estava conseguindo subtrair
energia do éter? Estava questionando essa possibilidade, quando
Felipe entrou. Sorrindo, cumprimentou-me:
- Bom dia!
- Bom dia! Em um lugar como este, onde estou rodeado de
amigos como você, todos os dias são bons. Como está Mirna?
- Depois que chegou eu não tornei a vê-la. Sob os cuidados de
Diógenes, deve estar muito bem.
- Com certeza! Felipe, diga-me uma coisa, quem é Mirna?
- Zílio, os espíritos comprometidos com os acontecimentos da
velha Lemúria são muitos; a maioria está dispersa, cada qual bus-
cando os caminhos da própria evolução. Você, Mirna, Helena,
Diógenes, eu e outros ainda encarnados, quase sempre nos manti-
vemos juntos. Somos um grupo de apoio mútuo.
- Por isso você foi socorrer-me no Vale dos drogados?
- Sim. Na verdade eu não atuo naquela área; minhas princi-
pais atribuições estão vinculadas aos colaboradores encarnados.
- Há quanto tempo Mirna estava presa a Mohara?
- Há várias encarnações ela vem sucumbindo às tentações da
luxúria. Tornou-se um espírito bom, mas facilmente é dominada
por mentes doentias; sua fraqueza a manteve escrava de Mohara
por muitos anos. Talvez agora, amadurecida pelo sofrimento im-
posto pela própria fraqueza, tenha adquirido a força necessária
para enfrentar novas experiências com maior segurança. Helena
Nelson Moraes - Um Roqueiro no Além - Pelo Espírito Zílio 58
A partir daquela noite, iniciei o meu trabalho. Não foi uma ta-
refa fácil, mas consegui chegar ao final, graças à valorosa ajuda
de Eduardo. Espero que, ao relatar minhas experiências após a
morte física, ela venham ajudar a muitos que, como eu, optaram
pelos caminhos equivocados das drogas e do suicídio.
Agora, sinto-me feliz! Estou vivendo novamente! Nas ilusões
da vida... encontrei a morte! Na realidade da morte... descobri a
vida!
Zílio.
Amigo(a) Leitor(a),