BUSCAR NO SITE
ARTIGOS BLOG E LINKS DOCUMENTOS LIVROS O MUNDO NA FICÇÃO PASSAGENS EDIÇÕES ASSINE O ACERVO
ARTIGOS
instituições e métodos de trabalho para que esta pudesse se sair bem dos problemas da
veja as edições anteriores da revista
globalização da economia. O Tratado clarifi cou e tirou o tom dramático do prematuro e
indevido debate constitucional, que foi o principal assunto político dos europeus nos assine o acervo Política Externa
últimos anos da primeira década do século. O Tratado abre novas possibilidades para a
governança econômica da UE. A coordenação de políticas econômicas nacionais está
sendo testada nos difíceis eventos deste primeiro semestre de 2010.
ÍNDICES REMISSIVOS
provided the EU with institutions and working methods to tackle with the problems of Índice de Assuntos - vol. 01 n.1 ao vol. 21 n.2 (PDF)
globalization. The Treaty clarified and dedramatized the premature and unfit Índice Onomástico - vol. 01 n.1 ao vol. 21 n.2 (PDF)
constitutional debate that was the main political issues for the Europeans during the late
Índice Geográfico - vol. 01 n.1 ao vol. 21 n.2 (PDF)
years of the first decade of this century. The Treaty opens new possibilities for the
“economic governance of the UE”, the coordination national economic policies that is
being tested during the difficult events of the first semester of 2010. The EU and the
Treaty of Lisbon will show they are able to answer to these challenges and will do so MAIS POLÍTICA EXTERNA
acting in two concomitant scenarios: the economic and the politic.
Curtir Você e outras 18 mil pessoas curtiram isso.
http://politicaexterna.com.br/1164/os-novissimos-desafios-tratado-de-lisboa/ Página 1 de 10
Os novíssimos desafios do Tratado de Lisboa » Política Externa 19/08/17 14)41
grave situação de impasse na União Europeia, tanto mais evidente quanto é certo que,
com o alargamento a 27 membros, se tornou gritante a desadequação entre a estrutura
de decisão herdada da pequena Europa dos anos 50 e as atuais necessidades, do pós-
Guerra Fria e de uma economia globalizada. Mesmo assim, apesar da assinatura formal
do Tratado Reformador Europeu em Lisboa, a 13 de Dezembro de 2007, não terminou
então a atribulada saga que conduziria à sua entrada em vigor, após as necessárias
ratificações de todos os Estados-membros. A vitória do não no referendo irlandês, a 12 de
Junho de 2008, viria a adiar, mais uma vez, a efetivação do Tratado de Lisboa. No entanto,
o novo referendo realizado na Irlanda, a 2 de Outubro de 2009, permitiu desbloquear a
situação, através de um compromisso adotado no Conselho Europeu de Outubro de 2008
que permitiu retornar à consagração de um comissário por Estado-membro a partir da
entrada em vigor do novo Tratado de Lisboa, que teve lugar a 1 de Dezembro de 2009.
Para garantir que a União Europeia possa ter voz ativa na cena internacional — como potência
cívica e fator de equilíbrio e de paz, bem como para equilibrar a sua influência e peso
econômicos com a capacidade política — tornou-se indispensável criar um sistema de
instituições que permitisse, a um tempo, representar os cidadãos e os Estados e assegurar a
eficácia e a oportunidade das decisões relevantes para a defesa e salvaguarda dos valores e
interesses comuns. A eternização das indefinições, qualquer que seja o seu estado, apenas
poderá ter efeitos negativos não só para o velho Continente, mas também para a situação geo-
estratégica do Mundo, em virtude de prevalecerem os fatores de fragmentação sobre a coesão
e a defesa dos interesses vitais comuns. Daí que, mais importante do que o apego a aspectos
puramente formais ou do que a insistência em soluções aparentemente corretas, mas
insuscetíveis de obter sucesso perante a opinião pública, se tenha tornado necessária a criação
de condições concretas para que, com realismo, a reforma das instituições europeias se
pudesse traduzir em mais eficácia e maior influência global.
Perguntar-se-á se, afinal, seria evitável, no Tratado de Lisboa, o termos ficado aquém do
desejável. A vida política e a história das instituições fazem-se sempre de avanços e
recuos, e a verdade é que o essencial da ideia de «paz europeia» foi preservado no novo
Tratado. Procurando ir ao encontro da opinião dos cidadãos e compreender as
desconfianças em relação a passos demasiado rápidos, houve que dar sinais de
pragmatismo e de moderação. Assim, as alterações que agora são concretizadas
correspondem a mudanças semelhantes às que foram adotadas noutros momentos
cruciais na vida da União e até de alcance mais limitado do que aconteceu, por exemplo,
no Ato Único (1986), em Maastricht (1992), em Amesterdão (1997) ou até em Nice (2000).
Tratou-se, contudo, de avançar em pontos, sobretudo ligados à eficiência no
funcionamento das instituições, de modo a responder adequadamente às novas
circunstâncias, especialmente no tocante à dimensão e às novas fronteiras da nova União
Europeia. Os textos fundamentais mantêm a natureza inequívoca de Tratados
internacionais, mas continuam a ser demasiado herméticos e teria sido bem melhor
adotar uma redação mais escorreita e clara, como a que constava do Tratado
Constitucional.
De qualquer modo, deixa agora de poder invocar-se a dúvida daqueles que acenavam com o
falso fantasma de uma «Constituição de Estado». Se é verdade que o texto saído da Convenção
para o Futuro da Europa, e depois alterado e consolidado pela Conferência Intergovernamental
sob a forma de Tratado Constitucional, não podia ser confundido com uma Constituição política
idêntica à dos Estados soberanos — uma vez que o método de aprovação, de ratificação e de
entrada em vigor deveria subordinarse de forma claríssima ao Direito dos Tratados —, o certo é
que se criou erroneamente essa ideia, que depois se procurou desmontar, mesmo com
sacrifício da simplificação e da clareza para os cidadãos.
http://politicaexterna.com.br/1164/os-novissimos-desafios-tratado-de-lisboa/ Página 2 de 10
Os novíssimos desafios do Tratado de Lisboa » Política Externa 19/08/17 14)41
Mas o que nos traz este «Tratado de Lisboa»? Antes do mais, adota a via da clarificação e
da desdramatização do debate constitucional, que se revelou prematuro e desajustado,
tal como ocorreu. O passo que se pretendeu dar revelou-se prematuro por razões
diversas, a principal das quais teve a ver com o mal-estar social e econômico sentido na
Europa, designadamente nas opiniões públicas dos países fundadores, que fizeram eco de
sentimentos contraditórios — ora num reflexo de proteccionismo (em especial
relativamente à Política Agrícola Comum), ora num desejo de maior audácia em matéria
de políticas sociais e de coesão. Se somarmos a estas dúvidas e perplexidades, o ceticismo
tradicional da opinião do Reino Unido e as reticências nacionais em alguns dos Estados de
recente adesão (como a Polônia e a República Checa), temos um caldo de cultura que
exige uma atitude de grande realismo.
E eis que, desaparecidos muitos dos velhos argumentos formais, aparecem novas justificações
bem semelhantes às da fábula do lobo e do cordeiro de Esopo. O ceticismo vem dizer-nos, com
Lampedusa, que mudou alguma coisa para que tudo ficado na mesma quanto ao Tratado
Constitucional, enquanto no terreno oposto vem afirmar-se que faltou audácia para dar novos
passos, no sentido da Europa mais social e mais federal. No entanto, de um ao outro dos
argumentos, fica a necessidade de preservar o essencial do projeto europeu como fator de paz
e de segurança, de desenvolvimento sustentável e de diversidade cultural. Daí que o Tratado de
Lisboa seja uma saída inteligente, sem sofismas nem simulações. Não há dúvidas: estamos
diante de um Tratado, inequivocamente (como, aliás, já estávamos anteriormente) subordinado
ao método europeu tradicional e de acordo com o princípio segundo o qual a soberania
prevalecente e originária é a dos Estados-membros. E a verdade é que esse princípio é hoje mais
claro do que alguma vez o foi.
A lógica é exatamente a mesma que se seguiu desde 1957 (e até antes, com a Comunidade
Europeia do Carvão e do Aço). Perante os fantasmas que a história europeia alberga, depois de
um século de barbárie e em face do peso dos egoísmos nacionais e tribais, havia que encontrar
um consenso fundamental que pudesse solucionar os problemas mais graves que bloqueavam
a decisão e tornavam a União incapaz de responder aos novos desafios.
http://politicaexterna.com.br/1164/os-novissimos-desafios-tratado-de-lisboa/ Página 3 de 10
Os novíssimos desafios do Tratado de Lisboa » Política Externa 19/08/17 14)41
da subsidiariedade, segundo o qual a resolução dos problemas europeus deve ocorrer o mais
próximo possível das pessoas e dos cidadãos. Nesse sentido, havia que encarar as dificuldades
frontalmente, procurando alijar a carga dos falsos argumentos e pretextos, relançando um
projeto europeu aberto, pluralista e cosmopolita com vontade e idealismo.
Ora, o que aconteceu em Lisboa, em 2007, é preciso reconhecê-lo, foi o regresso a uma
exigência antiga, que mergulha as suas raízes na iniciativa de paz e de desenvolvimento dos pais
fundadores e que só poderá ser confirmada com medidas e políticas concretas, de modo a que
a União Europeia se possa tornar uma potência civil e um fator de paz, de desenvolvimento
humano e de estabilidade. O novo Tratado de Lisboa pode, assim, trazer um suplemento de
alma que permita compreendermos (Estados e cidadãos) que a União é indispensável a fim de
se ultrapassar o mal-estar, a descrença e uma grave crise moral de indiferença e de
desconfiança. A Europa tem, por tudo isto, de assumir um papel ativo num mundo de perigos e
incertezas — o que, exige trabalho e imaginação, bem como uma forte determinação na
realização dos objetivos comuns.
Mas quais são os elementos novos que se destacam no novo Tratado? Enumeremo los de modo
sucinto: a) antes do mais, a atribuição expressa de personalidade jurídica à União Europeia; b) a
clarificação das competências próprias da União por referência aos Estados e aos poderes
partilhados entre estes e aquela; c) a consagração de uma presidência estável do Conselho
Europeu; d) a criação da figura do Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e Política
de Segurança, que presidirá ao Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros — tendo
assento no Conselho Europeu e na Comissão e, nesta, como vice-presidente; e) a consolidação e
o alargamento (apesar da timidez) das decisões adotadas por maioria qualificada — novos
domínios passarão da unanimidade à maioria qualificada; f) a clarificação da utilização das
minorias de bloqueio (evitando o prejuízo do interesse comum); g) o reforço da co-decisão,
adotada como regra; h) o importante alargamento do papel do Parlamento Europeu,
designadamente quanto à designação do Presidente da Comissão e quanto ao Orçamento da
União; i) a redução da dimensão do Parlamento Europeu, que passará a contar com 751
membros (em vez de 785), segundo uma proporcionalidade regressiva (apesar do ligeiro
entorse obtido pela Itália, que terá o mesmo número de deputados que o Reino Unido); e j) por
fim, a consagração do reforço dos poderes dos Parlamentos nacionais na concretização do
princípio da subsidiariedade.
Quanto à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (de 7 de Dezembro de 2000), com
as adaptações que lhe foram introduzidas em 12 de Dezembro de 2007, pelo Parlamento
Europeu em Estrasburgo, se não faz parte dos Tratados diretamente, é incluída como anexo
tendo «o mesmo valor jurídico que os Tratados». No entanto, «de forma alguma o disposto na
Carta pode alargar as competências da União, tal como definidas nos Tratados». O tema foi
controverso até ao fim, mas deve assinalar-se que na relação entre a União e os cidadãos
estamos perante um passo muito significativo no sentido da criação de uma União de Direito.
http://politicaexterna.com.br/1164/os-novissimos-desafios-tratado-de-lisboa/ Página 4 de 10
Os novíssimos desafios do Tratado de Lisboa » Política Externa 19/08/17 14)41
disposições da própria Carta (Título VII), tendo em conta as anotações que se reportam às fontes
dessas disposições. Trata-se, no fundo, de uma cautela relativamente às objeções colocadas
pelo Reino Unido (e depois pela Polônia) sobre os efeitos da aplicação da Carta que devem
referir-se, insista-se, às relações entre a União e os cidadãos. Mas, para evitar dúvidas, o Reino
Unido e a Polônia declaram que nenhuma disposição do Título IV da Carta cria direitos
suscetíveis de serem invocados perante os respectivos tribunais e que se lhes apliquem, exceto
na medida em que estes países tenham previsto tais direitos na respectiva legislação nacional.
Refira-se ainda que na sequência da atribuição de personalidade jurídica à União, esta pode
aderir à Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades
Fundamentais, decisão que não altera as competências da União definidas nos Tratados. Assim
se afirma que do Direito da União fazem parte, enquanto princípios gerais, os direitos
fundamentais, tal como o garante a Convenção Europeia e tal como resultam das tradições
constitucionais comuns aos Estados-membros.
O controle da subsidiariedade pelos Parlamentos nacionais foi uma das mais importantes
inovações do Tratado Constitucional, que o novo Tratado de Lisboa preservou. Consagra-se,
deste modo, o mecanismo de «alerta precoce» — que estipula o poder de qualquer Parlamento
nacional, nas oito semanas que se seguem à transmissão de uma proposta legislativa, enviar um
parecer fundamentado, expondo as razões pelas quais considera que a proposta não é
conforme com o princípio da subsidiariedade. Se o parecer fundamentado representar pelo
menos um terço dos votos atribuídos aos Parlamentos nacionais (cada um dispõe de dois votos,
repartidos em função do sistema parlamentar nacional, pelas duas Câmaras, no bicameralismo,
ou pela Câmara singular), o autor da proposta (normalmente, a Comissão) deverá realizar a
reapreciação do texto. Em consequência, o autor do projeto poderá decidir: mantê-lo, modificá-
lo ou retirá-lo. Se a proposta legislativa for posta em causa pela maioria simples dos votos
atribuídos aos Parlamentos nacionais e se a Comissão decidir manter o seu projeto, será
desencadeado um processo específico. A Comissão deverá justificar, em parecer fundamentado,
http://politicaexterna.com.br/1164/os-novissimos-desafios-tratado-de-lisboa/ Página 5 de 10
Os novíssimos desafios do Tratado de Lisboa » Política Externa 19/08/17 14)41
como respeitou o princípio da subsidiariedade, junto do órgão com competência legislativa. Este
parecer deverá ser acompanhado da indicação das razões invocadas pelos Parlamentos
nacionais. No caso do Conselho, 55% dos respectivos membros e, no tocante ao Parlamento
Europeu, uma maioria, deverão decidir levar por diante ou não o procedimento legislativo. A CIG
de 2007, por solicitação do Reino Unido, precisou que esta disposição não deveria em nenhum
caso impor novas obrigações aos Parlamentos nacionais. O mecanismo de «alerta precoce»
estava, como se disse, já consagrado no âmbito do controlo previsto no Tratado Constitucional;
contudo, ao «cartão amarelo» juntou-se o chamado «cartão laranja» no Tratado de Lisboa, para
o caso de a proposta ser contestada por uma maioria simples de Parlamentos nacionais. Sem se
prever o «cartão vermelho» (retirada obrigatória da proposta pela Comissão), houve uma
aproximação relativamente à iniciativa tomada durante a Convenção por um conjunto de
membros, encabeçados por Gisela Stuart. O prazo de oito semanas, agora consagrado, substitui
as seis semanas previstas no Tratado Constitucional.
O Tratado de Lisboa reforça, assim, a soberania originária dos Estados-membros e abre a porta
ao aperfeiçoamento no relacionamento entre o Parlamento Europeu e os Parlamentos
nacionais. Estabelece-se, deste modo, um sistema complexo de decisão constitucional em que o
Estado-nação surge como mediador entre as instituições supranacionais da “democracia
europeia” e as instâncias infra-estaduais. Assim, a subsidiariedade assume uma importância
acrescida como fator, a um tempo, de legitimação constitucional e de decisão política. Num
tempo em que a vida política e institucional contemporânea é marcada pela coexistência de
fatores centrífugos e centrípetos, na imagem tantas vezes usada por Celso Lafer, a nova
cidadania europeia baseia-se na confluência entre as legitimidades dos Estados e dos povos.
Essa dupla legitimidade centrada nos Estados e nos cidadãos, que deveria dar lugar à criação de
um Senado paritário, é, deste modo, clarificada, permitindo um «consentimento complexo» que
não deixa de fora os legítimos representantes dos cidadãos nos Parlamentos nacionais. Só
assim poderá limitar-se o risco de erosão das tradicionais competências dos Parlamentos
nacionais em benefício dos executivos europeu e nacionais. Com efeito, a ideia de uma «União
de direito» ou de uma «democracia supranacional» obriga à consagração de uma legitimidade
efetiva na qual se sintam representados Estados e cidadãos — em lugar da criação de «fatos
consumados» que atinjam a esfera dos cidadãos sem o seu consentimento adequado. E esta
questão é especialmente importante quando falamos de competências orçamentais ou
tributárias, para as quais o respeito do princípio do consentimento é uma pedra angular da
legitimidade democrática.
http://politicaexterna.com.br/1164/os-novissimos-desafios-tratado-de-lisboa/ Página 6 de 10
Os novíssimos desafios do Tratado de Lisboa » Política Externa 19/08/17 14)41
Perante a crise econômica e financeira global e diante das ameaças sofridas pelo Euro,
designadamente perante a fragilidade de algumas economias europeias, estará a União
Europeia habilitada a responder aos novos desafios da reconstrução econômica e da inovação,
da competitividade, da qualificação, do emprego, da inovação e da coesão? O Tratado de Lisboa
pode fornecer os instrumentos fundamentais, mas falta a coordenação econômica, o “governo
econômico da União”, para que o Euro possa afirmar-se não apenas através da ação
estabilizadora do Banco Central Europeu, mas também através de políticas econômicas e da
articulação de políticas de desenvolvimento, bem como da criação de rendimentos sustentáveis
e do incentivo à inovação, ao conhecimento e à aprendizagem. Usando a dualidade nomia /
anomia, de que Bobbio fala, e Celso Lafer tem glosado, devemos dizer que a construção
europeia tem ingredientes democráticos e de reconhecimento dos direitos humanos que devem
ser aprofundados, mas que coexistem com os elementos anômicos, dos egoísmos nacionais e
da incapacidade da coordenação racionalizadora. Bobbio fala do “descompasso entre a norma e
a realidade social”. A crise atual agrava esse “descompasso”, pelo que é indispensável haver
vontade organizadora que ligue a liberdade e a justiça, a autonomia e a coesão, a confiança e a
eficiência.
A terminar, cabe perguntar se o Tratado de Lisboa pode ajudar a União Europeia no atual
momento, em que o Euro é afectado pela crise financeira internacional e pelas
repercussões desta na confiança nos mercados. A resposta exige a compreensão da
ligação necessária entre a norma e a realidade social e econômica. Se é certo que os
http://politicaexterna.com.br/1164/os-novissimos-desafios-tratado-de-lisboa/ Página 7 de 10
Os novíssimos desafios do Tratado de Lisboa » Política Externa 19/08/17 14)41
tratados só por si não permitem dar resposta à premência dos problemas, é verdade que
a clarificação das competências comuns e das legitimidades favorece o reforço da união
política e da criação de instituições aptas a gerar uma vontade da União. No fundo o
princípio da subsidiariedade favorece a legitimidade dos Estados e a legitimidade da
União, desde que se demonstre que o nível adequado de decisão é um ou outro. Longe de
apontar para um Super Estado, o que o tratado de Lisboa consagra é uma democracia
supranacional complexa, que obriga a que haja “união política” e “união econômica”. A
“união política” exige que haja uma voz respeitada e actuante na cena internacional,
enquanto a “união econômica” pressupõe um “governo econômico” e a coordenação de
políticas econômicas, que completem as estratégias de estabilidade monetária.
Para contrariar a crise que afeta o Euro há, deste modo, que agir em dois tabuleiros, em
simultâneo, o político e o econômico. O político, para que haja vontade e capacidade de ter
protagonismo na balança do mundo. Os europeus precisam politicamente uns dos outros e da
União Europeia, sob pena de se tornarem medíocres e menos relevantes. O tabuleiro
econômico é também fundamental, para que haja criação e criatividade, para que ponhamos
em prática instrumentos materiais e imateriais, para além da estabilidade monetária, que tem
de ser posta ao serviço de uma economia real e das pessoas. Há, assim, virtualidade no Tratado
de Lisboa, que devem ser aproveitadas e desenvolvidas – a começar pelo “governo econômico”,
que, por sua vez, não existirá sem “vontade política”, coordenada e partilhada. De fato, a
resposta à crise financeira e econômica ou é política ou não funciona. E se falamos no primado
da subsidiariedade, referimo-nos a uma rede, mas também a exemplos concretos (desde o local
ao global) que têm de ser aprofundados. A cidadania europeia tem de sustentar mais Europa
política e mais Europa econômica (e não meramente monetária). As políticas de investimentos
deixaram de se poder resumir a cada Estado, tem de haver, cada vez mais, iniciativas trans-
estaduais, para fazer circular a riqueza e favorecer o desenvolvimento humano. Eis por que
razão o Tratado de Lisboa, como instrumento clarificador quanto à defesa de interesses e
valores comuns pode ajudar e ser um fator mobilizador das vontades necessárias… Assim haja
empenhamento e compromisso.
Bibliografia
Andresen Leitão, Nicolau (org.), 20 Anos de Integração Europeia (1986 – 2006), Edições Cosmos, 2007.
Azevedo, Eduarda, A Convenção sobre o Futuro da Europa, reflexões e testemunhos, G.P.P.S.D., 2004.
Constantinesco, V. ; Jacqué, J.P.; Kovar, R. ; e Simon, D., Traité Instituant la CEE – Commentaire article par article,
Economica, Paris, 1992.
Cruz Vilaça, J.L. ; Piçarra, N., Y a-t-il des Limites Materielles à la Révision des Traités Instituant les Communautés
Européennes ?, Cahiers de Droit Européen, 1993.
Diez-Picazo, L.M., Reflexiones sobre la Idea de Constitución Europea, Revista de Instituciones Europeas, 1993.
Duarte, M.L., A Teoria dos Poderes Implícitos e a Delimitação de Competências entre a União Europeia e os
Estados-membros, Lisboa, 1997.
Goucha Soares, A., Repartição de Competências e Preempção no Direito Comunitário, Cosmos, Lisboa, 1996.
Lourenço, E., A Europa Desencantada – Para uma Mitologia Europeia, Gradiva, Lisboa, 2001.
http://politicaexterna.com.br/1164/os-novissimos-desafios-tratado-de-lisboa/ Página 8 de 10
Os novíssimos desafios do Tratado de Lisboa » Política Externa 19/08/17 14)41
Mancini, F., The Making of a Constitution for Europe, Common Market Law Review, 1989.
Moura Pinheiro, Paula (ed.), Portugal no Futuro da Europa, Parlamento Europeu, 2006.
Moura Ramos, R.M., Das Comunidades à União Europeia, Estudos de Direito Comunitário, Coimbra Editora,
Coimbra, 1994.
Oliveira Martins, G., Que Constituição para a União Europeia, Gradiva, 2003.
Oliveira Martins, G. (coord. científica), Europa, Portugal e a Constituição Europeia (VI Curso Livre de História
Contemporânea), Edições Colibri, Fundação Mário Soares, I. H.C. da Universidade Nova de Lisboa, 2006.
Pescatore, P., L’Executif Communautaire: Justification du quadripartisme institué par les Traités de Paris et de
Rome, Cahiers de Droit Européen, 1978.
Pescatore, P., L’Ordre Juridique des Communautés Européennes, Études des Sources de Droit Communautaire,
Presses Universitaires de Liège, Liège, 1975.
Pitta e Cunha, P., Integração europeia. Estudos de Economia, Política e Direito Comunitário, Imprensa Nacional –
Casa da Moeda, Lisboa, 1993.
Porto, M.L., A União Monetária e os Processos de Convergência, in “A União Europeia na Encruzilhada”, Coimbra,
1966.
Quadros, F. de, Direito das Comunidades Europeias e Direito Internacional Público, Contributo para o estudo da
natureza jurídica do Direito Comunitário Europeu, Almedina, Lisboa, 1984.
Quadros, F., O Princípio da Subsidiariedade no Tratado da União Europeia: contributo para a revisão do Tratado,
in “Em torno da Revisão do Tratado da União Europeia”, Coimbra, 1997.
Sá, L., A Crise das Fronteiras, Estado, Administração Pública e União Europeia, Lisboa, 1997.
Sousa Franco, A; Oliveira Martins, G., A Constituição Econômica Portuguesa – Ensaio Interpretativo, Almedina,
Coimbra, 1993.
Salema d’Oliveira Martins, M., O Princípio da Subsidiariedade em Perspectiva Jurídico Política, Coimbra Editora,
Coimbra, 2003.
Telò, M. (dir.), Démocratie et Construction Européenne, Éditions de l’Université de Bruxelles, Bruxelas, 1995.
Vasconcelos, A. (org.), Portugal no Centro da Europa – Propostas para uma Reforma do Tratado da União
Europeia, Quetzal, Lisboa, 1995.
Weiler, J.H.H., The Community System. The Dual Character of Supranacionalism, Yearbook of European Law,
1981.
Wincott, D., Is the Treaty of Maastricht an Adequate Constitution for the European Union?, Public Administration,
1994.
http://politicaexterna.com.br/1164/os-novissimos-desafios-tratado-de-lisboa/ Página 9 de 10
Os novíssimos desafios do Tratado de Lisboa » Política Externa 19/08/17 14)41
VOLTAR TOPO
0 COMENTÁRIOS
Adicionar um comentário...
Política Externa ® 2017 - HMG Editora - Todos os direitos reservados. All rights reserved. web by Citrus7
http://politicaexterna.com.br/1164/os-novissimos-desafios-tratado-de-lisboa/ Página 10 de 10