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PROCESSO PENAL

Hipóteses práticas
(2017/2018)
(1)

I
Questionário
1. Como se explica a distinção entre fases preliminares e julgamento em
processo penal?
2. O que é o inquérito?
3. A quem compete?
4. O Juiz de instrução intervém no inquérito?
5. Qual é o conteúdo do inquérito?
6. Como termina?
7. Quando o Ministério Público arquiva um inquérito, este fica sempre logo
por ali?
8. O que é a instrução?
9. Tem sempre lugar?
10. A quem compete?
11. Qual é o seu conteúdo?
12. Como termina?
13. A fase de julgamento corresponde à fase de discussão e julgamento?
14. Como decorre uma audiência de julgamento?

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II
Faça um comentário crítico ao Acórdão Caso BOGUMIL c. PORTUGAL [PDF
no Moodle].

III
Notificado do despacho que designa dia para a audiência, o arguido Etelvino
não apresenta qualquer contestação (cfr. art. 315.º do CPP). No início da
audiência de julgamento, o advogado do assistente (que também deduzira
pedido de indemnização) alega que, por aplicação do artigo 574.º do Código de
Processo Civil, tanto para efeitos civis como para efeitos penais, se devem
considerar os factos como admitidos por acordo. Terá razão?

IV
Suponha que entra hoje em vigor a Lei n.º 345-A/2013, de 12 de Dezembro, que
estabelece, além do mais, que:
1) O art. 92.º, n.º 1 do CPP passa a ter a seguinte redacção: «Nos actos
processuais, tanto escritos como orais, utiliza-se a língua portuguesa, sob pena
de nulidade, salvo se se tratar de processo contra cidadão britânico, caso em que
se utiliza, também sob pena de nulidade, a língua inglesa». Suponha que corre
neste momento um processo no qual David Brown, cidadão britânico, foi
acusado de corrupção activa. Que consequências tem a nova lei nesse
processo?
2) Diminuiu para metade os prazos estabelecidos no artigo 215.º do CPP.
Que consequências tem esse facto na situação de Diogo Vaz, que, de
acordo com a antiga lei só teria de ser libertado dentro de 6 meses, muito
embora, de acordo com a nova lei, devesse ser libertado hoje?

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V
A revisão do Código de Processo Penal, introduzida pela Lei n.º 48/2007, de 29
de Agosto, introduziu, entre outras, as seguintes alterações:
1) O princípio da publicidade foi estendido à fase de inquérito (arts. 86.º
ss.);
2) A prisão preventiva, salvo em caso de criminalidade violenta ou
altamente organizada, passou a só poder ser decretada em caso de
existirem fortes indícios da prática de crime doloso a que corresponda
pena de prisão de máximo superior a 5 anos, e não 3 anos como era antes
(art. 202.º);
A que processos se aplicam estas alterações?

VI
Na sequência da apresentação de denúncia contra Carlos, em que lhe é
imputada a prática de um crime de furto qualificado (art. 204.º, n.º 1, do CP), o
M.P. instaura o competente inquérito no dia 2 de Julho de 2012. Obtida fundada
suspeita da prática deste crime, Carlos é interrogado na qualidade de arguido
pelo M.P. no dia 4 de Março de 2013 e confessa todos os factos que lhe foram
imputados. Responda às seguintes questões:
1. Se Carlos não comparecer na audiência de julgamento as suas
declarações podem ser lidas, nos termos do art. 357.º, n.º 1, al. b), do
CPP?
2. Suponha agora que o interrogatório de Carlos só tem lugar no dia 1 de
Abril de 2013. A sua resposta é a mesma?
3. Supondo que Carlos vem a ser absolvido pela 1.ª instância e condenado
pela Relação, na sequência de recurso interposto pelo M.P., a uma pena
de 2 anos de prisão, será este acórdão susceptível de recurso para o S.T.J.,
sabendo-se que este recurso deixou de ser admissível em virtude das
alterações introduzidas ao art. 400.º do CPP pela Lei n.º 20/2013, de 21
de Fevereiro?
(Acórdão do STJ nº 4/2009, D.R., I.ª Série-A, de 19/03/2009)

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VII
Em determinado processo, que corre termos contra Fernando Oliveira, pela
eventual prática de um crime de emissão de cheque sem provisão, e se encontra
em fase de julgamento, o juiz profere o seguinte despacho:
«Quando os presentes autos tiveram início, o crime de emissão de cheque sem
provisão era um crime público, nos termos do Decreto-Lei n.º 454/91. Hoje, em
virtude do disposto no art. 11.º-A do mesmo diploma, na redacção que lhe foi
dada pelo Decreto-Lei n.º 316/97, o procedimento criminal por este crime
depende de queixa. Acontece que, analisados os autos, conclui-se que não foi
apresentada queixa. Ora, o art. 2.º, n.º 4, do Código Penal, determina que, em
casos de sucessão de leis, deve aplicar-se ao agente o regime que,
concretamente, se mostrar mais favorável. Assim, sendo claramente mais
favorável o actual regime (que subordinou o exercício da acção penal à
existência de queixa) e concluindo-se que não foi exercido tal direito de queixa
nos seis meses posteriores à entrada em vigor da nova lei, impõe-se julgar
extinto o procedimento criminal contra o arguido, relativamente a estes factos,
por falta de legitimidade do Ministério Público em prosseguir a acção penal
(arts. 29.º, n.º 4 da Constituição da República Portuguesa)».
O juiz decidiu bem?
(«Assento» n.º 4/99, D.R., I.ª Série-A, de 30/03/99 e Acórdão do S.T.J. de 05/04/2001, C.J., 2001, t. II,
pp. 176 e segs.)

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VIII
O Ministério Público deduz acusação contra António, imputando-lhe a prática
de um crime de furto simples. Recebidos os autos pelo tribunal de julgamento,
o juiz profere despacho pelo qual considera inconstitucional, por violação do
art. 32.º, n.º 4, da Constituição, o art. 263.º do Código de Processo Penal (CPP),
na medida em que atribui ao Ministério Público a direcção do inquérito. Em

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consequência, declara juridicamente inexistentes todos os actos praticados no
processo. Em recurso, o Tribunal da Relação revoga a decisão baseado em que a
instrução, a que se refere aquela disposição constitucional, de acordo com o
CPP compete a um juiz. Quid Iuris?
(Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 7/87)

IX
Suponha que corre um inquérito por 4 crimes de fraude fiscal qualificada e
outros tantos de branqueamento de capitais imputados a Filipe, sendo que os
crimes teriam sido praticados todos em Lisboa, à excepção de dois crimes de
branqueamento de capitais, que teriam sido praticados no Porto.
Sendo necessária a realização de buscas domiciliárias e escutas telefónicas
durante o inquérito foram elas ordenadas pelo Tribunal Central de Instrução
Criminal.
Terminado o inquérito, foi acusado por 4 crimes de fraude fiscal e apenas 2
crimes de branqueamento alegadamente praticados em Lisboa, tendo o
Ministério Público arquivado o processo relativamente aos alegados crimes de
branqueamento praticado no Porto.
O Arguido requereu instrução junto do Tribunal de Instrução de Lisboa,
alegando que:
1) Segundo as regras de competência vigentes era esse o Tribunal
competente, desde o início do processo;
2) Ainda que assim não se entendesse, o Tribunal Central de Instrução
Criminal representava uma violação frontal do artigo 209º, nº 4, da
Constituição;
3) Ainda que assim não se entendesse, a competência para a instrução não
tinha de ser do mesmo tribunal do que a competência para actos
jurisdicionais durante o inquérito.
O Tribunal de Instrução Criminal declarou-se incompetente e remeteu os autos
ao Tribunal Central de Instrução Criminal.
Fez bem?
(Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 41/2016 e Acórdão do STJ n.º 2/2017)

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X
Eduardo é acusado pelo Ministério Público pela prática de um crime de
homicídio privilegiado (art. 133.º do C.P.). Inconformado, requer a abertura da
instrução. Terminada a instrução, o juiz entende que a matéria da acusação está,
mais do que indiciada, verdadeiramente provada pelo que profere, desde logo,
sentença condenatória, invocando razões de celeridade e economia processuais.
1) O juiz de instrução agiu bem ao condenar Eduardo? O que pode ou deve
fazer o arguido para impugnar a decisão proferida?
2) Suponha agora que Eduardo não requer a abertura da instrução. Qual o
tribunal materialmente competente para o julgamento?
3) E se o agente tiver sido detido em flagrante?

XI
Encerrado o inquérito que correu termos contra António, pela prática de um
crime de furto qualificado (art. 204.º, n.º 2, al. a), do Código Penal, o Ministério
Público deduziu acusação. Porém, considerando a modesta condição social e
económica do arguido, a juventude do mesmo, a confissão, ainda que parcial,
dos factos, logo propôs, naquela acusação, que a pena a aplicar, em concreto,
não fosse superior a cinco anos de prisão, e, do mesmo passo, e invocando o
disposto no art. 16.º, n.º 3, do Código de Processo Penal, requereu ainda que o
mesmo fosse julgado em tribunal singular. Recebidos os autos no tribunal de
julgamento, o juiz proferiu despacho pelo qual julgou inconstitucionais as
normas do art. 16.º, n.º 3 e n.º 4, do Código de Processo Penal, por violação dos
princípios constitucionais da independência do tribunal, da reserva da junção
jurisdicional, do juiz natural e da igualdade. Em consequência, considerou-se
incompetente para o conhecimento do processo, ordenando a remessa dos autos
ao tribunal colectivo. Quid Iuris?
(Acórdãos do Tribunal Constitucional n.º 455/89 e 281/91)

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XII
Surge a notícia de que Idalécio, homem de larga experiência, em Junho de 2011,
furtou do interior de um automóvel estacionado em Lisboa um computador
portátil e em Agosto do mesmo ano, furtou do interior de um automóvel
estacionado em Portimão uma câmara digital.
1) Qual o tribunal ou tribunais competentes para o conhecimento destes
crimes?
2) Suponha agora que os dois automóveis se encontravam estacionados em
Lisboa. A sua resposta é a mesma?

XIII
João envolve-se numa discussão com Luís, em Sintra, acabando por atingi-lo
com dois tiros, que lhe provocam morte imediata. Durante o inquérito João, que
se encontra em prisão preventiva, pede a Manuel, segurança de uma empresa
contratada, a prestar serviço nas instalações da Polícia Judiciária em Lisboa, que
destrua as provas do crime, o que este faz, dentro das referidas instalações (art.
367.º do Código Penal).
1) Qual o tribunal ou tribunais competentes para o conhecimento destes
crimes?
2) Suponha que, recebidos os autos para julgamento, o juiz constata não é
possível notificar o arguido do despacho que designa o dia para a
audiência de julgamento e que este se encontra ausente em parte incerta,
vindo a ser declarado contumaz. O que deve decidir o juiz?

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XIV
António, funcionário de um estabelecimento comercial, denuncia Bento, seu
colega de trabalho, junto de Carlos, agente da G.N.R., pelo furto de vários
equipamentos, no valor de € 7.500.

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a) Pode o Ministério Público dar início ao inquérito?
b) Suponha agora que o valor da coisa furtada é de € 2.500. A sua resposta é
a mesma?

XV
Tendo chegado ao conhecimento do Ministério Público várias “denúncias” de
professores e funcionários da escola que imputam a António, de 17 anos, a
prática reiterada de crimes de ofensa à integridade física pouco graves contra a
sua colega Beatriz de 15 anos (art. 143.º, n.º 1, do Código Penal), o Ministério
Público pergunta-se se poderá dar, sem mais, início ao processo penal.

XVI
António profere várias frases insultuosas dirigidas a Bento, na sua presença
(art. 181.º do Código Penal).
a) O que deve fazer Bento para que António venha a ser julgado pelos
factos que praticou?
(Acórdãos do S.T.J. n.º 1/2011)

b) Suponha agora que António agrediu Bento, dominado por


compreensível emoção violenta (arts. 146.º do Código Penal). Carlos, que
assistiu a tudo, dirige-se à esquadra mais próxima e relata o sucedido.
Pode o Ministério Público instaurar o competente inquérito?

XVII
Idalécio foi acusado pela prática do crime de burla qualificada. Na audiência de
julgamento, o seu defensor propôs ao Ministério Público a celebração de um
acordo nos termos do qual o arguido confessaria em julgamento, de forma
integral e sem reservas, os factos que constam da acusação em troca da
determinação prévia de um limite máximo da pena a aplicar inferior ao previsto
no n.º 1 do artigo 218.º CP. O Ministério Público aceitou celebrar o referido
acordo, propondo a fixação do limite máximo da pena em 4 anos de prisão, caso
Idalécio confessasse os factos nos termos acima referidos. Idalécio e o seu

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defensor declararam aceitar a moldura penal proposta pelo Ministério Público,
tendo o acordo ficado registado em acta.
Em sede de determinação da medida da pena, e após Idalécio confessar de
forma integral e sem reservas, a prática dos factos de que era acusado, o
tribunal decidiu que “por acordo expresso pelos sujeitos processuais, consensualizou-
se a moldura penal até 4 anos de prisão para o crime de burla qualificada, que se
considerava adequada à infracção cometida, pelo que se condena o arguido a uma pena
de 3 anos e nove meses de prisão.”
O arguido decidiu recorrer da decisão, tendo o Ministério Publico junto do
Tribunal da Relação emitido parecer no sentido de que este acordo era
inadmissível. Quid Iuris?

(4)

XVIII
António apresenta queixa contra Bento, imputando-lhe a prática de um crime
de injúria. Reunidas as condições para o efeito, o Ministério Público determina a
abertura do competente inquérito. Ainda antes de serem realizadas quaisquer
diligência de provas Bento é convocado para prestar declarações na P.S.P. No
início do interrogatório é sugerido a Bento que conte a sua versão dos factos,
para que se apure se a mesma coincide ou não com a do queixoso. Bento
responde que não sabe porque está ali, uma vez que nunca insultou António e
solicita que lhe sejam comunicados os factos que lhe são imputados. O agente
da P.S.P. que realiza a diligência responde que não tem nada a comunicar,
porque Bento sabe muito bem o que está em causa. Bento decide então não
responder, mas o agente da P.S.P. insiste, alegando que ainda não foi
constituído arguido.
1. Deveria Bento ter sido constituído arguido? Em que momento?
2. Pode Bento recusar responder às perguntas que lhe foram feitas?
3. O agente da P.S.P. devia ter comunicado a Bento os factos que lhe são
imputados na queixa? Com que grau de concretização?

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(Acórdão do TC n.º 416/2003)
4. A P.S.P. é competente para proceder ao primeiro interrogatório de
Bento?
5. Se Bento lhe pedisse conselho em matéria de acompanhamento por
advogado o que lhe responderia?

XIX
Joana apresenta queixa contra Inês, imputando-lhe a prática de um crime de
abuso de confiança, previsto e punido pelo artigo 205.º, n.º 1, do Código Penal.
No entanto, no decurso do competente inquérito o Ministério Público apercebe-
se que não existe qualquer suspeita, muito menos fundada, de que Inês tenha
praticado um crime de abuso de confiança, pois não se encontram preenchidos
os elementos de cuja verificação depende a imputação desse crime. Assim, e
sem que Inês tenha sequer sido notificada de que contra ela corre processo-
crime, o Ministério Público profere despacho de arquivamento.
Tendo sido notificada do referido despacho de arquivamento, Joana, que
entretanto se havia constituído Assistente, inconformada, apresenta
Requerimento de Abertura da Instrução.
Reunidas as condições para o efeito, o Juiz de Instrução Criminal profere
despacho de abertura da Instrução e notifica Inês desse despacho.
Inês, completamente surpresa com o facto de ser Arguida num processo-crime
sem nunca ter sido ouvida, procura-o e pede-lhe aconselhamento jurídico, o que
lhe diria?

XX
Duarte apresenta denúncia contra Eduardo, imputando-lhe a prática de um
crime de falsificação de documentos (art. 256.º, n.º 1, do Código Penal), que lhe
causou um prejuízo no valor de € 10.000. Terminado o inquérito o Ministério
Publico profere despacho de arquivamento, por considerar não existirem
indícios suficientes da responsabilidade criminal de Eduardo. Inconformado,

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Duarte requer a sua constituição como assistente, deduzindo ainda
requerimento de abertura de instrução. O juiz de instrução rejeita a pretensão
de Duarte, por considerar que o bem jurídico tutelado pelo crime de falsificação
de documentos gira em torno da fé pública, da verdade da prova, da segurança,
da credibilidade do tráfego jurídico probatório, ou seja, à volta do interesse
público e nunca do prejuízo sofrido pelos particulares. Acrescenta ainda que a
qualidade de ofendido depende da titularidade dos interesses que a lei penal
quis especialmente proteger com a incriminação, não bastando, para o efeito, a
invocação da existência de prejuízos decorrentes da prática do crime.
Concorda com a decisão do juiz?
(Acórdãos do S.T.J. n.º 1/2003, n.º 8/2006 e 10/2010)

XXI
Luís apresenta queixa-crime conta Manuel, imputando-lhe a prática de um
crime de emissão de cheque sem provisão. Notificado durante o inquérito nos
termos e para os efeitos previstos no art. 75.º do C.P.P., Luís manifesta o desejo
de deduzir pedido cível contra Manuel, pois pretende ser ressarcido do valor do
constante do mesmo cheque, € 20.000,00, que Manuel lhe deve e ainda não
pagou.
1. Em que prazo deverá Luís deduzir pedido cível contra Manuel?
2. Suponha que Manuel, notificado do pedido cível deduzido por Luís, não
apresenta contestação. Qual a consequência?
3. No início da audiência de julgamento o juiz decide declarar extinto o
procedimento criminal, por prescrição. Deve o processo continuar para
conhecimento do pedido cível?
(Acórdão do S.T.J. n.º 3/2002, D.R., I.ª Série-A, de 5 de Março)

4. Neste último caso, pode o tribunal remeter as partes para os tribunais


civis, nos termos do art. 82.º, n.º 3, do C.P.P.?
(Ac. Rel. Porto de 27/1/2004, C.J., t. 1, pp. 203 e segs.)

5. Suponha agora que o juiz não declarou extinto o procedimento criminal.


Realizado o julgamento, o juiz decide absolver Manuel da prática do
crime, por considerar que não actuou dolosamente. Porém, no que

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respeita ao valor do cheque, não há dúvidas de que Manuel o deve a
Luís. Pode Manuel ser condenado no pagamento da quantia respectiva?
(Assento do S.T.J. n.º 7/99, D.R., I.ª Série-A, de 3 de Agosto)

Se Luís não deduzir pedido cível pode o tribunal, em qualquer caso, condenar
Manuel a reparar os prejuízos que lhe causou?

(5)

XXII
Na sequência da instauração de um processo por suspeitas de que António
poderá ter praticado os crimes de fraude fiscal e de branqueamento de capitais
este é notificado para prestar declarações na qualidade de arguido. O seu
defensor pretende consultar o processo para melhor preparar a sua inquirição.
1 – Pode fazê-lo? O que deve fazer para o efeito?
2 – Pode o M.P. evitar que o defensor de António consulte o processo? De que
modo e com que fundamentos?
3 – Suponha agora que, ultrapassados os prazos máximos de vigência do
segredo de justiça, o M.P. requer a prorrogação do prazo por mais 3 meses,
pretensão que o J.I.C. defere. Terminado este último prazo o M.P. conclui que é
necessário requerer nova prorrogação do prazo. Pode fazê-lo? Qual o limite
máximo de tempo pelo qual o acesso aos autos pode ser impedido?
(Acórdão do S.T.J. n.º 5/2010)

XXIII
Durante uma audiência de julgamento o defensor do arguido requer a
inquirição de uma testemunha não arrolada nem pela defesa, nem pela
acusação, ao abrigo do disposto no art. 340.º, do C.P.P., invocando que o seu
depoimento é fundamental para a descoberta da verdade, uma vez que assistiu
a todos os factos objecto do processo. O juiz profere o seguinte despacho:
«Indeferido».

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1 - Este despacho sofre de algum vício? Como deve ser invocado? Qual a
consequência?
2 - Suponha agora que o julgamento chega ao fim e que o arguido é condenado.
O seu defensor constata, porém, que da sentença não consta a enumeração dos
factos provados. Esta sentença sofre de algum vício? Como deve ser invocado?
Qual a consequência?

XXIV
Maria, finalista de Direito, ficou deveras surpreendida ao ter ido assistir a uma
audiência de julgamento e ter verificado que, depois dos cumprimentos entre
magistrados e advogados, a Juiz iniciou directamente a audiência pelas
declarações do Arguido...
Regressa a casa perguntando aos Pais, ambos advogados, como é possível que o
que está claramente estabelecido na lei seja sobranceiramente ignorado e se esta
omissão pode ter por consequência a anulação do julgamento.

XXV
António apresenta queixa contra Bento, imputando-lhe a prática de um crime
de furto simples. Como já passaram 2 anos sem que tenha sido proferida
decisão de encerramento do inquérito pelo Ministério Público, António
constitui-se assistente e deduz acusação, ao abrigo do art. 284.º do C.P.P.
Aproveitando a iniciativa de António, o Ministério Público adere à acusação do
assistente. Bento pretende saber:
1 – Se a circunstância de não ter sido ouvido no inquérito tem alguma
consequência.
(Acórdão do S.T.J. n.º 1/2006)

2 – Se o assistente poderia ter acusado previamente ao M.P e qual a


consequência daí resultante.
(Assento n.º 1/2000)

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(6)

XXVI
Eduardo, arguido em determinado processo, comparece na audiência de
julgamento e decide prestar declarações, confessando a prática de todos os
factos que lhe são imputados na acusação.
1 - Pode o tribunal não considerar os factos confessados como provados, por
suspeitar da veracidade da confissão e, em consequência, ordenar a produção
de toda a restante prova?
(Acórdão do S.T.J., de 9/10/91, B.M.J., n.º 410, p. 591 e segs. )

2 - Suponha agora que Eduardo não está presente na audiência de julgamento e


que o juiz decide que a sua presença não é essencial para a descoberta da
verdade material, pelo que determina que o julgamento se inicie na sua
ausência (art. 333.º, n.º 1, do C.P.P.). O M.P. requer que se proceda à leitura das
declarações prestadas pelo arguido em inquérito perante o J.I.C. Como deve
decidir o juiz? Se for possível a leitura, qual o valor probatório destas
declarações?

XXVII
Luís, assistente num processo que corre contra Manuel, pela eventual prática de
um crime de abuso de confiança, pretende juntar aos autos uma escritura
pública de compra e venda, da qual consta que Manuel declarou perante o
notário ter recebido o preço que lhe foi entregue pelo comprador, na qualidade
de procurador de Luís, para que fique provado no processo crime que Manuel
recebeu efectivamente a quantia respectiva. Tem razão?

XXVIII
António e Bento são revistados, quando chegam ao aeroporto das Lajes, em
cumprimento de mandado judicial, nada tendo sido encontrado na sua posse
directa que pudesse indiciar a prática de um crime. Contudo, como certos
objectos que detinham eram susceptíveis de indiciar que António e Bento

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tinham enviado estupefacientes pelo correio, os agentes da G.N.R. que
procederam à revista dirigiram-se à estação dos correios onde encontraram
duas encomendas expedidas por António e Bento para pessoa residente na Ilha
Terceira. Os agentes da G.N.R. decidem então retirar da estação dos correios as
mesmas encomendas, que levaram ao aeroporto para serem passadas no RX das
bagagens, tendo-se então constatado que, com quase toda a certeza, continham
cada uma um sabonete de haxixe. Esta convicção ficou reforçada quando as
embalagens foram dadas a cheirar a cães treinados para identificar
estupefacientes pelo olfacto, tendo tal teste resultado positivo. Os agentes da
G.N.R. regressaram então aos correios e devolveram as mesmas encomendas
postais. No dia seguinte, quando as encomendas foram entregues ao seu
destinatário, foram apreendidas pelos agentes da G.N.R., levadas ao juiz de
instrução e abertas na sua presença. O juiz determinou então a sua apreensão.
Já durante a audiência de julgamento o defensor dos arguidos vem invocar que
aquela prova foi obtida por modo proibido, pelo que não pode ser valorada
pelo tribunal, como também não podem ser valoradas todas as provas obtidas
que dependam materialmente daquela apreensão. O Ministério Público
responde, invocando que não ocorreu qualquer violação das regras sobre a
obtenção da prova e ainda que, mesmo que tal tivesse ocorrido, qualquer
invalidade estaria sanada, não só porque não foi arguida em tempo, mas
também porque foi sanada com a apreensão posterior, ordenada pelo juiz.
Quem tem razão?
(Ac. da Rel. de Lisboa, de 23/06/04, C.J., t. 3, pp. 149 e segs.)

(7)

XXIX
António foi acusado por um crime de furto simples (art. 203º do Código Penal)
pelo Ministério Público. O assistente, Bento, não se conforma com esta
acusação, por da mesma não constar que o valor do objecto furtado é superior a
€ 8.000,00, pelo que requer a abertura da instrução, concluindo que o arguido
deve ser pronunciado pelo crime p.p. no art. 204º, nº 1, al. a), do Código Penal.

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Responda às seguintes questões:
1 – Pode o juiz de instrução pronunciar o arguido pelo furto qualificado?
2 – Nesse caso, pode o arguido impugnar o despacho de pronúncia? Com que
fundamento?
3 – Suponha agora que António também requereu a instrução, invocando a
prescrição do procedimento criminal, a utilização de um meio de obtenção de
prova ilícito e ainda a nulidade do inquérito, por não ter sido ouvido. O juiz, no
despacho de pronúncia, julga improcedentes todas estas questões. Pode
António recorrer deste despacho?
(Assento do STJ n.º 6/2000 e do TC n.º 216/99)

XXX
António foi acusado por um crime de furto simples (art. 203º do Código Penal),
tendo o assistente, Bento, deduzido também acusação, mas acrescentado que o
arguido fazia do furto modo de vida (art. 204º, nº 1, al. e), do Código Penal).
Não tendo havido instrução, o presidente, depois de compulsados os autos,
pretende:
1 - Rejeitar ambas as acusações, em virtude de entender que não resultam dos
autos indícios suficientes da prática de qualquer crime pelo arguido. Pode fazê-
lo?
(“Assento” nº 4/93 e Acórdão do TC n.º 101/01)

2 - Rejeitar a acusação do assistente. Pode fazê-lo?

XXXI
António foi acusado por um crime de furto simples (art. 203º do Código Penal).
Realizada a audiência de julgamento suscitam-se as seguintes questões:
1 - Poderá António ser condenado, com base nos mesmos factos, por um crime
de burla (art. 217º). Em que termos?
(Assento do STJ n.º 2/93, Acórdão do TC n.º 445/97, e Assento do STJ n.º 3/2000)

2 - Todas as testemunhas afirmam que o objecto furtado tem valor elevado.


Pode o tribunal dar como provado este facto e, em consequência, condenar

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António por furto qualificado (art. 204.º, n.º 1, al. a))? Em qualquer caso, o que
deve fazer o juiz?
3 - Todas as testemunhas afirmam que o objecto furtado estava no interior da
residência do ofendido, de onde António o retirou, tendo arrombado a porta
para se introduzir no seu interior. Pode o tribunal dar como provado este facto
e, em consequência, condenar António por furto qualificado (art. 204.º, n.º 2, al.
e))? Em qualquer caso, o que deve fazer o juiz?
4 - Algumas testemunhas, vizinhos de António, afirmam que este, para além do
furto do objecto que lhe foi imputado na acusação, duas horas depois, quando
estava a chegar a casa e depois de ter ido almoçar com uns amigos, se apropriou
de um telemóvel de Duarte, que estava no interior da sua viatura. Pode o
tribunal dar como provado este facto e, em consequência, condenar António
por furto qualificado (art. 204.º, n.º 1, al. b)), para além do furto simples? Em
qualquer caso, o que deve fazer o juiz?
(Acórdão do TC n.º 226/2008 e Ac. do STJ de 5.03.2008, Proc. 07P3259)

(8)

XXXII
António e Bento, agentes da P.S.P., que actuavam à paisana, perguntam a
Carlos se este tem disponível algum haxixe para venda. Carlos responde
negativamente, mas António e Bento insistem, dizendo que também pode ser
heroína. Carlos afirma então que conhece alguém que lhes pode arranjar a
droga. Dirigem-se então os três a casa de Eduardo, que confirma que lhes pode
vender a heroína. Para a obter, Eduardo dirige-se a casa de Francisco, onde a
adquire. Encontram-se todos em casa de Carlos, onde Eduardo entrega a droga
a António e Bento. António e Bento detêm, de imediato, Eduardo.
António e Bento actuaram correctamente? Pode o seu depoimento ser utilizado
no processo entretanto instaurado a Eduardo, pela prática de um crime de
tráfico de estupefacientes?
(Acórdão do T.E.D.H, caso Teixeira de Castro v. Portugal)

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XXXIII
Gonçalo e Hugo, agentes da P.J., detêm João, pela prática, em flagrante delito,
de um crime de furto qualificado. João mostra-se colaborante com aqueles
agentes da P.J., dizendo-lhes que tinha combinado, para o mesmo dia, uma
aquisição de notas falsas a Luís, nas bombas de gasolina junto ao estádio do
L.S.B. Combinaram então que todos se dirigiam, como acordado entre João e
Luís, para aquele local. Aí chegados, o Luís dirige-se ao João e, quando se
encontrava a poucos metros de distância deste, é detido pelos agentes da P.S.P.
Realizada uma revista a Luís, foram encontradas na sua posse 500 notas falsas
de € 50.
1 - A revista de Luís é legal?
2 - Gonçalo e Hugo actuaram correctamente? Pode o seu depoimento ser
utilizado no processo entretanto instaurado a Luís, pela prática de um crime de
passagem de moeda falsa, na forma tentada?
(Ac. do S.T.J., de 06/05/04, C.J., t. 2, pp. 188 e segs.)

XXXIV
Durante um inquérito que tem por objecto a investigação do homicídio de
António, são descobertas provas que indiciam que o mesmo terá sido cometido
por Bento. O Ministério Público emite um mandado de detenção de Bento, para
que este seja presente ao juiz de instrução, a fim de lhe ser aplicada uma
medida de coacção. No interrogatório o juiz apenas formula ao arguido
perguntas gerais e abstractas, sem concretização das circunstâncias de tempo,
modo e lugar em que ocorreram os factos que integram a prática do crime
objecto do inquérito. Por outro lado, não dá a conhecer ao arguido os elementos
de prova que sustentam aquela imputação, sem proceder a uma apreciação, em
concreto, da existência de inconveniente grave naquela concretização e na
comunicação dos específicos elementos probatórios em causa. Terminado o
interrogatório, o juiz profere o seguinte despacho: «Tendo em conta a gravidade
do crime imputado ao arguido, deve presumir-se a existência, em concreto, de

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perigo de fuga, pelo que determino que o arguido aguarde os termos
subsequentes do processo em prisão preventiva».
1 - Foram cumpridas neste interrogatório as formalidades previstas na lei? O
que deve fazer o arguido e quais as consequências de a sua alegação vir a ser
considerada procedente?
(Acórdãos do T.C. n.º 121/97 e 416/03, Ac. Tribunal Relação Porto, de 24/01/2001)

2 - Concorda com este despacho? O que pode fazer o arguido para o impugnar?
3 – Se o M.P. requerer que o arguido preste uma caução, pode o J.I.C.
determinar que fique em prisão preventiva?
4 - Suponha agora que o crime imputado ao arguido é um crime de homicídio
negligente (art. 137º do Código Penal). As suas respostas são as mesmas?

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