Você está na página 1de 9

Poder Judiciário da União

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Órgão 2ª Turma Cível


Processo N. Apelação Cível 20070710101345APC
Apelante(s) BANCO DO BRASIL SA
Apelado(s) JOSÉ MARCONDES DE SOUZA
Relator Desembargador J.J. COSTA CARVALHO
Revisor Desembargador SÉRGIO ROCHA
Acórdão Nº 421.123

EMENTA

CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONSUMIDOR. COMPENSAÇÃO POR DANO


MORAL. FRAUDE CONTRATUAL BANCÁRIA. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. ACIDENTE DE CONSUMO. PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL. VALOR DA CONDENAÇÃO. MINORAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA.
1. O apontamento indevido em cadastro de proteção ao crédito guarda laço de
causalidade direto com a má-prestação do serviço bancário, quando o banco, ao
promover a abertura de conta com base em documentos falsos, acaba por contribuir
para que o estelionatário emita cártulas, cuja devolução por falta de provisão de
fundos implicou a imputação de dívida ao autor.
2. Caracterizado o dano moral pela inscrição indevida do nome do autor como
acidente de consumo, por falha na prestação do serviço (art. 14 e 17, ambos do
CDC), impõe-se a aplicação do prazo prescricional de 05 (cinco) anos previsto no
art. 27, do CDC.
3. Diante da função inibitória ou preventiva da compensação por danos morais, a
condenação deve repercutir de modo eficaz como meio de provocação para que as
instituições bancárias sejam mais cautelosas e diligentes na praxe da celebração
dos contratos.
4. O valor arbitrado deve refletir com equilíbrio e sobriedade duas grandezas, isto é:
provocar mudança de comportamento das instituições financeiras no cotidiano de
celebração de contratos sem, todavia, acarretar enriquecimento sem causa da
vítima.
5. Apelação conhecida a que se nega provimento.

Código de Verificação:
APELAÇÃO CÍVEL 2007 07 1 010134-5 APC

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª Turma Cível do Tribunal


de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, J.J. COSTA CARVALHO - Relator,
SÉRGIO ROCHA - Revisor, CARMELITA BRASIL - Vogal, sob a Presidência da
Senhora Desembargadora CARMELITA BRASIL, em proferir a seguinte decisão:
AFASTAR A PREJUDICIAL DE MÉRITO DE PRESCRIÇÃO; NEGAR PROVIMENTO;
UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 28 de abril de 2010

Certificado nº: 4435548F


06/05/2010 - 15:22
Desembargador J.J. COSTA CARVALHO
Relator

Código de Verificação: LO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5NLO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5N


GABINETE DO DESEMBARGADOR J.J. COSTA CARVALHO 2
APELAÇÃO CÍVEL 2007 07 1 010134-5 APC

RELATÓRIO

Cuida-se de apelação em sede de ação de obrigação de fazer


cumulada com indenização por dano material e moral, ajuizada por JOSÉ
MARCONDES DE SOUZA, em face do BANCO DO BRASIL S/A, na qual se pleiteia
a condenação do requerido ao pagamento de dano material no importe equivalente
ao dobro da quantia indevidamente cobrada e de dano moral na quantia de 400
(quatrocentos) salários mínimos, pelo fato de seu nome haver sido inscrito
indevidamente em cadastro de proteção ao crédito em decorrência da devolução de
seis cheques sem provisão de fundos (R$ 1.490,52) emitidos por estelionatário que,
de posse de seus documentos pessoais extraviados, abriu conta corrente junto à
instituição ré.
Desacolhendo o pleito referente aos danos materiais, o d. juiz a quo
(fls. 215-219) julgou parcialmente procedente o pedido formulado na inicial, para
declarar a inexistência da dívida por parte da autora e excluir os dados da
requerente dos cadastros restritos de crédito. Condenou o réu ao pagamento de R$
10.000,00 (dez mil reais) a título de dano moral.
Em razões de apelação (fls. 221-234), pugna o BANCO DO BRASIL
S/A pelo reconhecimento da prescrição trienal (art. 206, § 3º, do CC). No mérito,
articula que não ficou caracterizado o dano moral, diante da inexistência de
tratamento vexatório, e, se configurado, pela ausência de sua responsabilidade face
à culpa exclusiva de terceiro. Subsidiariamente, pleiteia a minoração do quantum
fixado a título de compensação por danos morais.
Preparo à fl. 235.
Nas contrarrazões (fls. 244-250), o apelado pugna pelo não
provimento do recurso.
É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador J.J. COSTA CARVALHO - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.


A contenda em pauta cuida de pretensão compensatória por danos
materiais e morais moldada em torno de apontamento supostamente indevido do
autor nos registros de proteção ao crédito, com base em dívida derivada da
devolução de vários cheques sem provisão de fundos, emitidos por estelionatário
que, de posse dos documentos pessoais extraviados do autor, abriu conta corrente
junto à instituição ré, tendo acesso, com isso, às cártulas.

Código de Verificação: LO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5NLO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5N


GABINETE DO DESEMBARGADOR J.J. COSTA CARVALHO 3
APELAÇÃO CÍVEL 2007 07 1 010134-5 APC

1. Da prejudicial de prescrição: aplicação do Código de Defesa


do Consumidor
Cumpre, em sede prefacial, examinar eventual transcurso do prazo
prescrional.
Como noticiado na peça de ingresso, o autor notificou o banco
quanto à suposta fraude em 17/10/2003, de modo que, ajuizada a ação apenas em
27/04/2007, já haveria se escoado a prescrição trienal inscrita no art. 206, § 3º, V, do
CC.
O juízo sentenciante afastou a aplicação do prazo prescricional
previsto no diploma civil, por entender que a hipótese cuida de acidente de
consumo, por falha na prestação do serviço, o que apontaria a aplicação do prazo
prescricional de 05 (cinco) anos previsto no art. 27, do CDC.
Em sintonia com a inteligência da sentença, entendo que o
apontamento indevido em cadastro de proteção ao crédito guarda laço de
causalidade direto com a má-prestação do serviço bancário, quando o banco, ao
promover a abertura de conta com base em documentos falsos, acabou por
contribuir para que o estelionatário emitisse cártulas, imputando ao autor dívidas
derivadas da devolução daquelas pela falta de provisão de fundos.
Dessa forma, caracterizado o dano moral pela inscrição indevida do
nome do autor face à má-prestação do serviço bancário (art. 14 e 17, ambos do
CDC), impõe-se a incidência do regramento consumerista inclusive no que interessa
ao prazo prescricional de cinco anos.
Por oportuno, vale mencionar precedente que cuidou de hipótese
análoga, in verbis:
CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. COMPRA
EFETUADA MEDIANTE A PRÁTICA DE FRAUDE. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA.
DANO MORAL. VALOR DA INDENIZAÇÃO.
1 - Trata-se de ação onde a autora pretende a declaração de nulidade de negócio
jurídico e reparação por danos morais em face da indevida restrição cadastral
decorrente de uso fraudulento de seus dados pessoais para realização de
compras.
2 - Na Instância Prima, o Magistrado a quo julgou procedente o pedido, declarando a
inexistência do negócio jurídico ensejador da negativação cadastral da autora, bem
como determinou que a ré promova a exclusão do nome da requerente dos
cadastros de inadimplentes, sob pena de multa diária. Condenou, ainda, a
recorrente a pagar a quantia de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), a título de danos
morais.
3 - Em suas razões recursais, a apelante aduziu culpa exclusiva de terceiros para
afastar sua responsabilidade pelos danos experimentados pela autora, pugnando,
ainda pela minoração do valor alvitrado para a indenização moral.
4 - Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor ao caso vertente eis que a
autora é vítima de acidente de consumo, consoante dispõe seu art. 17.
5 - No microssistema da lei consumerista, a responsabilidade por danos prescinde

Código de Verificação: LO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5NLO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5N


GABINETE DO DESEMBARGADOR J.J. COSTA CARVALHO 4
APELAÇÃO CÍVEL 2007 07 1 010134-5 APC

de persecução de natureza subjetiva em relação ao causador do dano,


caracterizando-se somente pela comprovação do evento danoso, da conduta do
agente e do nexo entre o ato praticado e a lesão sofrida, ressalvadas as excludentes
legais.
6 - Destaque-se que a recorrente não trouxe aos autos a demonstração de que a
compra motivadora da negativação foi efetivamente realizada pela autora ou que
seus prepostos tenham tomado as cautelas necessárias a evitar a utilização
fraudulenta dos dados pessoais da recorrida, não carreando documentos que
corroborem com a alegação de culpa exclusiva de terceiros.
7 - Saliente-se que a alegação de que a referida compra decorreu de fraude,
por si só, não afasta sua responsabilidade da fornecedora de serviços, a quem
cabe empreender todas as cautelas inerentes as atividades desenvolvidas a
fim de evitar a utilização ilícita de documentos para realização de compras por
terceiros.
8 - Dessa forma, verifica-se que a prestação de serviço pela recorrente
mostrou-se defeituosa, impondo-se atribuir-lhe a obrigação de reparar os
danos causados, a teor da disciplina prevista no art. 14 do Código de Defesa
do Consumidor. Corroborando com esse entendimento, colaciono julgado do
Colendo STJ em caso análogo, verbis: "Agravo regimental. Recurso especial
não admitido. Linha telefônica.Cobrança indevida. Terceiro. Fraude.1. "A
inscrição indevida do nome do autor em cadastro negativo de crédito, a par de
dispensar a prova objetiva do dano moral, que se presume, é geradora de
responsabilidade civil (...), desinfluente a circunstância de que a abertura de
conta se deu com base em documentos furtados e para tanto utilizados por
terceiro". Não tomando a empresa as cautelas necessárias para instalar a linha
telefônica, devida a indenização decorrente da cobrança indevida contra
terceiro. 2. O controle desta Corte sobre o valor da indenização destina-se,
exatamente, a evitar abusos quando a indenização extrapola o limite do razoável,
em patamar absurdo, o que, sob todas as luzes, não ocorre neste caso (AgRgAg nº
314.567/RJ, Quarta Turma, Relator o Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de
18/3/02; REsp nº 259.743/MA, Terceira Turma, Relator o Ministro Castro Filho, DJ
de 6/5/02). 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 703.852/MS, Rel. Ministro
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em
06.04.2006, DJ 07.08.2006 p. 220)
(...) (20070111256324ACJ, Relator LEILA ARLANCH, Primeira Turma Recursal dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 26/08/2008, DJ
07/10/2008 p. 223) (g.n.)

Nesta feita, rejeito a prejudicial de prescrição.


2. Mérito
Superada a prejudicial, passo de pronto ao exame do mérito.
Havendo sido julgado parcialmente procedente o pedido inaugural,
apela o réu, sendo que o seu inconformismo assenta-se na não caracterização do
dano moral, quer pela ausência de tratamento vexatório, quer pela elisão da sua
responsabilidade face à ocorrência de culpa exclusiva de terceiro. Acaso

Código de Verificação: LO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5NLO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5N


GABINETE DO DESEMBARGADOR J.J. COSTA CARVALHO 5
APELAÇÃO CÍVEL 2007 07 1 010134-5 APC

configurado o dano, vindica a minoração do quantum arbitrado a título de dano


moral.
De início, não desafia maiores delongas o há muito superado
fundamento do apelante de que estaria descaracterizado o dano na hipótese ante a
não demonstração de tratamento vexatório pela agência bancária.
A esse respeito, não há dúvida de que, em matéria de dano moral
derivado de apontamento indevido em cadastro de proteção ao crédito, “a exigência
da prova do dano moral satisfaz-se com a demonstração da irregular inscrição no
cadastro de proteção ao crédito”
(20080110873836APC, Minha Relatoria, 2ª Turma Cível, julgado em 14/10/2009, DJ
09/11/2009 p. 116).
Melhor sorte não está reservada também à suposta ocorrência de
culpa exclusiva de terceiro (estelionatário), haja vista que o caso concreto é
demonstrativo de incidente reiterado no cotidiano bancário, a saber, fraudes
contratuais, nas quais estelionatário avença contratos (leasing, alienação fiduciária,
abertura de conta), dá garantia ou levanta importância pecuniária em nome de
terceiro, sendo o pacto ultimado sem o devido zelo por parte da instituição financeira
no que se refere à conferência da veracidade e da autenticidade dos documentos
apresentados, o que atrai sua responsabilidade civil por eventual dano derivado da
fraude cometida.
Nessa linha, não há dúvida de que “a omissão desse simples ato
configura negligência e impõe o dever de indenizar, à luz do contido nos artigos 186
e 927, do CCB/02” (20060410108184ACJ, Relator ALFEU MACHADO, Segunda
Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em
15/05/2007, DJ 12/06/2007 p. 134).
In casu, há de se destacar, inclusive, que a parte autora era titular de
conta poupança na instituição ré, de modo que esta possuía, mesmo que em outra
agência, depositados os documentos autênticos da parte. Assim, no momento da
abertura da conta corrente pelo estelionatário, poderia confrontar os documentos, o
que possibilitaria a pronta identificação da fraude, o que não ocorreu.
Sendo assim, caracterizado o dano, atendo-me aos lindes do caso
concreto, vejo que, na hipótese, fica ressaltada a função inibitória ou preventiva da
compensação por danos morais, pois uma condenação ínfima não repercutirá de
modo eficaz como meio de provocação para que as instituições bancárias sejam
mais cautelosas e diligentes na práxis relativa à celebração dos contratos.
Nessa esfera, no ensejo de estatuir parâmetros hábeis ao
arbitramento da compensação por dano moral, a jurisprudência elege como tais o
atendimento às finalidades compensatória e preventiva, às circunstâncias que
envolveram o fato, às condições pessoais, econômicas e financeiras dos envolvidos,
ao grau da ofensa moral, à repercussão da restrição e à preocupação de não
permitir que a compensação se transforme em fonte de renda indevida e que não
seja parcimoniosa a ponto de passar despercebida.
Dessa forma, registro que estão reunidos elementos que justificam a
quantia arbitrada no primeiro grau, pois essa ilustra com equilíbrio e sobriedade

Código de Verificação: LO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5NLO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5N


GABINETE DO DESEMBARGADOR J.J. COSTA CARVALHO 6
APELAÇÃO CÍVEL 2007 07 1 010134-5 APC

duas grandezas, isto é, provocar mudança de comportamento das instituições


financeiras no cotidiano de celebração de contratos sem, todavia, acarretar
enriquecimento sem causa da vítima.
A esse propósito segue a jurisprudência desta Corte de Justiça e do
e. STJ, in verbis:
PROCESSO CIVIL E CIVIL. RECURSO. FALTA DE INTERESSE
RECURSAL. CONHECIMENTO PARCIAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA
CONCESSIONÁRIA. REJEIÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS.
LINHA TELEFÔNICA. CONTRATO FIRMADO POR TERCEIRO ESTRANHO
USANDO O NOME DA PARTE. FRAUDE MANIFESTA. INSCRIÇÃO INDEVIDA DO
NOME DO AUTOR NO CADASTRO DE MAUS PAGADORES - SERASA E SPC.
DANO MORAL CARACTERIZADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. CRITÉRIOS DE
FIXAÇÃO. RECURSO PRINCIPAL PARCIALMENTE CONHECIDO E IMPROVIDO.
RECURSO ADESIVO PROVIDO.
(...) Restando comprovado que o autor não é responsável pelo débito junto à
empresa ré, deve esta responder pelo dano moral causado a esta, em razão da
inclusão indevida do seu nome no cadastro de inadimplentes.
Para a fixação do quantum indenizatório devido a título de danos morais, a
jurisprudência pátria tem consagrado a dupla função: compensatória e
penalizante, observadas, ainda, a condição econômica das partes e a conduta
lesiva do ofensor. (20060110512504APC, Relator CARMELITA BRASIL, 2ª Turma
Cível, julgado em 07/02/2007, DJ 06/03/2007 p. 102) (g.n.)

DANO MORAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE


INADIMPLENTES. VALOR DA INDENIZAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS
DE MORA. HONORÁRIOS.
1 - Instituição financeira que, sem as cautelas exigidas, em decorrência de
fraude de terceiro, celebra financiamento de veículo em nome de quem não o
adquiriu, gerando débito que, depois, enseja a inscrição do nome da vítima em
cadastro de inadimplentes, fica obrigada a indenizar a título de dano moral.
2 - Montante de indenização por dano moral que se mostra elevado deve ser
reduzido.
(...) (20070110810816APC, Relator JAIR SOARES, 6ª Turma Cível, julgado em
19/11/2008, DJ 18/12/2008 p. 76) (g.n.)

Agravo no recurso especial. Processual civil e civil. Inscrição


indevida no SPC. Danos morais. Legitimidade passiva ad causam. Prova.
Indenização. Arbitramento. Honorários.
(...) Considera-se comprovado o dano moral decorrente de inscrição
indevida no SPC se demonstrada, nos autos, a existência desta. Decisão agravada
que arbitra o valor da indenização em conformidade com as condições sócio-
econômicas de ambas as partes e a repercussão do evento danoso na vida
privada e social da vítima. Assegurada, assim, a justa reparação pelos danos
sofridos pela vítima, sem, contudo, incorrer em seu enriquecimento sem

Código de Verificação: LO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5NLO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5N


GABINETE DO DESEMBARGADOR J.J. COSTA CARVALHO 7
APELAÇÃO CÍVEL 2007 07 1 010134-5 APC

causa. Hipótese em que a fixação dos honorários advocatícios deve considerar o an


debeatur e não o quantum debeatur.
(AgRg no REsp 299.655/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 17/05/2001, DJ 25/06/2001 p. 174) (g.n.)

Sendo assim, creio que o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais)


mostra-se ajustado ao quadro apresentado de fraude bancária, tendo em conta a
reprobabilidade da reiteração desse ocorrido, considerando a estrutura de empresa
do jaez do Banco do Brasil S/A.
Mantida a condenação arbitrada na sentença, certo é que a quantia
deveria ser corrigida a partir da data da sentença (Súmula nº 362, do STJ) 1, e não
desde o ajuizamento da ação como fixado pela sentença. Contudo, a apelante não
impugnou esse ponto, o que obsta a alteração do dispositivo, pois, inalterada a
condenação, não foi devolvida essa matéria.
No que se refere aos juros de mora de 1%, tratando-se a espécie de
responsabilidade extracontratual, certo é que o termo inicial da sua incidência é a
data do evento danoso (Súmula nº 54, do STJ), o que indicaria a necessidade de
reforma da sentença nesse ponto.
Todavia, diante da inexistência de inconformismo da parte autora
quanto a esse ponto, obstada está essa alteração, sob pena de se incorrer em
reformatio in pejus, impondo-se a manutenção do termo inicial fixado em sentença,
isto é, desde a citação.
É esse o entendimento sufragado pelo e. STJ, in verbis:
Direito civil. Ação de indenização por danos morais decorrentes
da inscrição indevida do nome do autor em cadastros de inadimplência. Pedido
julgado procedente. Execução do julgado. Discussão a respeito do dies a quo para a
fixação dos juros. Hipótese de ato ilícito, e não de ilícito contratual.
- A indevida inscrição de um nome em cadastros de inadimplência
consubstancia ato ilícito, e não um inadimplemento contratual, ainda que a
obrigação cujo alegado descumprimento deu origem à inscrição tenha natureza
contratual.
- O ilícito contratual somente se configura quando há o
descumprimento, por uma das partes, de obrigação regulada no instrumento. A
inscrição nos órgãos de inadimplência não representa o exercício de um direito
contratual. Quando indevida, equipara-se a um ato de difamação.
- Tratando-se de ato ilícito, os juros devem incidir na forma da
Súmula 54/STJ, ou seja, a partir da prática do ato.
- Na hipótese dos autos, todavia, não há recurso do consumidor
visando à integral aplicação do disposto da Súmula 54/STJ, de modo que, para
evitar a ocorrência de reformatio in pejus, mantém-se o acórdão, que havia
1
A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide
desde a data do arbitramento.

Código de Verificação: LO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5NLO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5N


GABINETE DO DESEMBARGADOR J.J. COSTA CARVALHO 8
APELAÇÃO CÍVEL 2007 07 1 010134-5 APC

fixado o início do cômputo dos juros na data da citação para o processo de


conhecimento.
Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.
(REsp 660.459/RS, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES
DIREITO, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 24/04/2007, DJ 20/08/2007 p. 269) (g.n.)
Destaca-se, por fim, que, em razão da referida reforma importar
decaimento mínimo do pedido e do estabelecido na Súmula nº 326, do STJ,2
cumprirá ao ora apelante suportar o ônus sucumbencial, na forma estampada na
sentença recorrida.
Ante o exposto, com esteio nos fundamentos supra, CONHEÇO,
mas NEGO PROVIMENTO à apelação, mantendo-se indene a r. sentença.
É como voto.

O Senhor Desembargador SÉRGIO ROCHA - Revisor

Com o Relator

A Senhora Desembargadora CARMELITA BRASIL - Vogal

Com o Relator.

DECISÃO

AFASTAR A PREJUDICIAL DE MÉRITO DE PRESCRIÇÃO;


NEGAR PROVIMENTO; UNÂNIME.

2
Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante
inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.

Código de Verificação: LO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5NLO9T.2010.NA7Z.EI38.15L8.5B5N


GABINETE DO DESEMBARGADOR J.J. COSTA CARVALHO 9

Você também pode gostar