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CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
RECIFE
2010
SOLANGE ALVES DE OLIVEIRA
RECIFE
2010
Catalogação na fonte
Bibliotecária Maria Janeide Pereira da Silva, CRB4-1262
Ao Senhor Jesus, autor e consumador da minha fé, minha eterna gratidão por
tamanha benção concedida em minha vida, entre tantas outras.
Ao professor Artur Gomes de Morais, orientador deste trabalho, com o qual tive o
privilégio de, desde a graduação, dialogar e crescer a partir de suas valiosas
contribuições.
Aos meus pais (Antonia Luiza de Oliveira Alves e José Francisco Alves), por terem
me apoiado desde o início, apostando na realização desse sonho.
Ao meu querido Renato, pelo apoio e incentivo, sobretudo nas horas difíceis. Foi (e
tem sido) instrumento de Deus em minha vida.
Aos meus queridos avôs e avós (in memorian) por terem contribuído, decisivamente,
em meu processo educacional, acreditando, em meio às dificuldades, ser possível
realizar este objetivo, quando sua materialização ainda se mostrava distante.
Aos meus queridos amigos Rita e Alex Silva, pelas imensuráveis contribuições e
apoio ao longo de minha trajetória, inclusive no doutorado. Muito obrigada!
Às professoras que contribuíram no desenvolvimento da pesquisa, por me
proporcionarem esse diálogo com o cotidiano de suas salas de aula. A todas, muito
obrigada!
A Dilian Cordeiro, Tânia Rios, Juliana Lima, Miriam Barbosa, Ywanoska Gama, por
todo o apoio prestado durante e após a defesa.
1
Ao nos remetermos aos nomes das professoras que participaram da pesquisa, optamos por recorrer
a pseudônimos, após negociação com as mesmas.
RESUMO
Este estudo buscou analisar a existência (ou não) de uma progressão das atividades
de língua portuguesa, no interior do 1º ciclo, tendo como referência a prática
docente. Ancorado no contexto dos ciclos de aprendizagem da rede municipal de
ensino de Recife, ensejamos apreender, ainda, as escolhas “didáticas” e
“pedagógicas” (CHARTIER, 2000) que vinham respaldando a prática pedagógica
naquele ciclo. No conjunto dessas escolhas, priorizamos a análise do tratamento
dado à heterogeneidade das aprendizagens e do erro do aprendiz, por entendermos
ser esses aspectos importantes numa escolarização organizada em ciclos. A fim de
alcançarmos nossos objetivos, consideramos aspectos das teorias da Transposição
Didática (CHEVALLARD, 1991; CHERVEL, 1988) e da Fabricação do Cotidiano
Escolar (CERTEAU, 1994; 1985; FERREIRA, 2005; 2003). Nesse âmbito,
recorremos a algumas pesquisas que articularam a prática pedagógica de língua
portuguesa no contexto dos ciclos, tomando por base conceitos daquelas teorias
(OLIVEIRA, 2010; 2006; 2004; CRUZ, 2008; FRIGOTTO, 2004). Compondo, ainda,
nosso quadro teórico, articulamos nossos dados com alguns aspectos da
perspectiva teórica da Apropriação dos Saberes da Ação (CHARTIER, 1998;
ALBUQUERQUE, 2002). Acompanhamos, no período de junho a dezembro de 2007,
através de observações de aula e realização de entrevistas, a prática de nove
professoras, de três instituições, dos três anos do 1º ciclo, que atuavam na rede
municipal de ensino de Recife. Esse universo nos permitiu apreender certas
variações e especificidades conforme a escola e o ano-ciclo considerado, variáveis
que perpassaram nossas análises. Examinamos, a partir da análise de conteúdo
temática categorial (BARDIN, 1977; FRANCO, 2005), as práticas pedagógicas,
observando a progressão das atividades a partir de alguns eixos de ensino de língua
e as escolhas “didáticas” e “pedagógicas”. Apreendemos uma ausência de
progressão no interior do ciclo, observada a maior freqüência de leitura de textos
realizada pelos aprendizes dos terceiros anos. Tal como no eixo anterior, não
observamos progressão na atividade de compreensão escrita de textos, dado o
distanciamento das turmas de segundo e terceiro anos em relação aos primeiros. O
contrário se confirmou nas atividades de produção de textos pelo aprendiz em que a
discrepância foi observada entre as turmas de primeiro e segundo anos, marcadas
pela baixa freqüência dessa prática, em relação aos terceiros anos. De um modo
geral, como esperávamos, predominaram as atividades do sistema de notação
alfabética (SNA) entre as turmas de primeiro ano. Em contrapartida, em alguns dos
aspectos analisados, houve proximidade entre aquelas turmas e as de terceiro ano,
indicando, claramente, ausência de progressão no ciclo. Ao nos reportarmos aos
aspectos considerados no eixo de “análise lingüística”, pontuamos a prevalência
dessas atividades entre as turmas de terceiro ano. Como resultado geral, merece
destaque a prevalência das atividades de leitura em relação à escassa freqüência de
produção de textos, mesmo entre as turmas de terceiro ano. Além disso, chamou-
nos a atenção o dado de que a primeira era realizada, essencialmente, pela
professora, enquanto que a segunda era desenvolvida, solitariamente, pelos
aprendizes. Podemos afirmar que não encontramos, no universo observado, uma
efetiva clareza quanto à progressão das atividades de língua nos três primeiros anos
de escolarização do ensino fundamental. Ao nos reportarmos aos dados do segundo
capítulo, sublinhamos que, em relação às formas de agrupamento adotadas,
verificamos a proposição de atividades coletivas e individuais, ao contrastarmos com
a freqüência de agrupamentos em duplas e pequenos grupos. Inferimos que esse
baixo investimento deveu-se à ausência de uma prática de planejamento
sistemático, evidenciada pelos nossos dados. No concernente às modalidades de
cooperação, localizamos maior prática de interação entre as professoras e seus
alunos, ao compararmos com os alcances das trocas entre eles. Já no que diz
respeito às atividades diversificadas, ressaltamos a tímida freqüência dessas,
ajustadas aos diferentes níveis dos alunos, assim como foi rara a atribuição de uma
mesma “tarefa” com ajustes às diferentes demandas de aprendizagem. Como dado
geral a respeito do tratamento do erro dos educandos, enfatizamos que estes
estiveram expostos a muitos momentos de correção no coletivo da sala de aula, ao
compararmos com as intervenções individuais. Ora aquele procedimento objetivava
a “otimização do tempo”, ora funcionava como claro mecanismo de exclusão dos
alunos “mais lentos”. Entendemos que as práticas, por nós observadas, de maneira
geral, vinham tentando articular as inovações presentes no âmbito do ensino de
língua aos pressupostos defendidos na escolarização por ciclo, entretanto, nossos
resultados indicaram o quanto ainda precisamos avançar rumo a um currículo que,
em articulação com os “fazeres” do professor, minimize as discrepâncias, por nós
vistas, em relação ao ensino e ao aprendizado dos diferentes objetos do saber em
língua portuguesa, considerando as várias etapas do ciclo. Concluímos que não
basta garantir um ensino que não retenha os alunos ao final de cada ano do ciclo. É
necessário priorizar o atendimento dos diferentes ritmos de aprendizagem,
assegurando o avanço do educando no interior do ciclo.
This work’s purpose was to determine whether there was progression in Portuguese
learning activities of the first cycle, considering the teaching practice. Within the
context of the learning cycles in Recife’s public educational system, we also intend to
comprehend the “didactic” and “pedagogic” choices (CHARTIER, 2000) that underlie
the pedagogic praxis in that cycle. Among this set of choices, we gave priority to the
analysis of how learning heterogeneity and the apprentice’s error have been dealt
with, since we consider these to be the most relevant features in cycle-based
schooling. In order to achieve our objectives, we took under consideration some
aspects of the Didactic Transposition (CHEVALLARD, 1991; CHERVEL, 1998) and
the Manufacturing of Everyday Life in School (CERTEAU, 1994; 1985; FERREIRA,
2005; 2003) theories. In this field, we resorted to some researches that had
previously combined Portuguese teaching praxis in the cycles context, based on
concepts from the referred theories (OLIVEIRA, 2010; 2006; 2004; CRUZ, 2008;
FRIGOTTO, 2004). Also in the process of building our theoretical framework, we
combined our data with some aspects of the Appropriation of Action Knowledge
perspective (CHARTIER, 1998; ALBUQUERQUE, 2002). From June through
December 2007, we accompanied, by observing classes and making interviews, the
practice of nine teachers that worked in the three grades of the first cycle of three
different public institutions of Recife. This universe allowed us to understand certain
variations and features according to the school and the year-cycle analyzed, and
these variables appear throughout our analyses. Based on the thematic content
analysis by category (BARDIN, 1977; FRANCO, 2005), we examined the pedagogic
practices, observing the progression in the activities of some of the language
teaching axes and also the “didactic” and “pedagogic” choices. We perceived the
absence of progression within the cycle and high frequency of reading by third-year
apprentices. As seen on the previously referred axis, we did not notice progression in
written comprehension of texts either, considering the distance between second-/
third-year students and the first-year ones. We confirmed the opposite in the
apprentices’ writing activities: there was a discrepancy between the first and the
second year, which presented low frequency of writing practices, compared to the
third year. In general, as we expected, activities related to the alphabet notation
system (ANS) prevailed among first-year classes. On the other hand, in some of the
analyzed aspects, first- and third-year classes were close, which clearly points out to
the absence of cycle progression. Regarding the above mentioned aspects in the
“linguistic analysis” axis, we underline the predominance of such activities in third-
year classes. As an overall result, we highlight the prevalence of reading activities
over writing ones, even among classes of the third year. Furthermore, the fact that
the former was performed essentially by the teacher while the latter was developed
solely by the apprentices came to our attention. We can assert that we did not find,
within the observed sphere, a clear progression in language learning activities in the
first three years of fundamental schooling. In regard to the data on the second
chapter, we underline that, concerning the adopted forms of grouping, we detected
the preference for collective and individual activities over the work in couples and
small groups. Supported by our data, we came to the conclusion that such option is
due to the absence of systematic planning. Concerning the forms of cooperation, we
identified that interaction happens mostly between teachers and students, in relation
to interactions between students. When it comes to diversification of activities, we
stress that this happen on very few occasions, adjusted to the different levels of the
students, and also that it was not common to see the same “task” being attributed
with adjustments to different learning needs. By and large, with regard to the error,
students were exposed to too many moments of public correction in the classroom
compared to individual interventions. Sometimes this procedure intended to “optimize
time”, sometimes it clearly worked as a mechanism to exclude “slower” students. As
we understand it, the observed practices, in general, tried to combine the innovations
in language teaching to cycle schooling assumptions; however, our results indicate
how much we still need to advance to reach a curriculum that, combined with the
teachers’ “duties”, can minimize the discrepancies we saw in regard to teaching and
learning of Portuguese language contents considering the different stages of the
cycle. We concluded that it is not enough to guarantee an education that does not
hold back students at the end of each cycle. It is necessary to give priority to the
addressing of different learning paces, in order to assure the advance of the
apprentice within the cycle.
Cette étude a cherché à analyser l’existence (ou non) d’une progression des activités
de la langue portugaise, au sein de l’éducation primaire, en prenant comme
référence l’enseignement. Ancré dans le cadre du cycle d'apprentissage des écoles
municipales de Recife, nous désirons apprendre les choix “didactiques” et
“pédagogiques” (CHARTIER, 2000) qui ont appuyé la pratique d'enseignement dans
ce cycle. Parmi ces choix, nous priorisons l’analyse du traitement étant donné
l’hétérogénéité de l’apprentissage et l’erreur de l’apprenant, car nous pensons que
ce sont des aspects importants dans une scolarisation organisée en cycle.Pour que
nous puissions atteindre nos objectifs, nous considérons des aspects des théories
de Transposition Didactique (CHEVALLARD, 1991; CHERVEL,1998) et de la
Fabrication du Quotidien Scolaire (CERTEAU, 1994; 1985; FERREIRA, 2005; 2003).
Dans ce contexte, nous faisons appel à quelques recherches qui ont articulé la
pratique pédagogique de la langue portugaise dans le cadre des cycles, en se
basant sur des concepts de ces théories (OLIVEIRA, 2010; 2006; 2004; CRUZ,
2008; FRIGOTTO, 2004). Composant ainsi notre cadre théorique, nous articulons
nos données avec certains aspects de la perspective théorique de l’Appropriation
des Savoirs de l’Action (CHARTIER, 1998; ALBUQUERQUE, 2002). Nous avons
accompagné, pendant la période de juin à décembre 2007, par l’ observation de
classe et des entretiens, le travail de neuf professeurs, de trois écoles municipales
de Recife, de trois années du premier cycle. Cet univers nous a permis d’apprendre
certaines variations et spécifités en fonction de l’école et de l’année-cycle
considerée, des variables qui ont imprégné nos analyses. Nous examinons à partir
de l’analyse de contenu thématique catégoriel (BARDIN, 1977; FRANCO, 2005),les
pratiques pédagogiques, en notant la progression des activités à partir de certains
axes de l’enseignement de la langue et des choix “didactiques” et “pédagogiques”.
Nous appréhendons une absence de progression dans le cycle et percevons la
fréquence plus élevée de lecture de texte réalisée par les apprentis de la troisième
année. Et comme dans l’axe antérieur, nous n’avons pas observé de progression
dans l’activité de compréhension écrite de textes, compte tenu de l'éloignement des
groupes de deuxième et troisième années par rapport à la première. Le contraire
s’est confirmé lors des activités de production de textes par l’apprenti ou la
divergence a été observée entre les classes de première et deuxiéme année,
marquées par la faible fréquence de cette pratique par rapport à la troisième année.
En général, comme prévu, les activités du système d'évaluation par ordre
alphabétique (SNA) prédominent entre les classes de première année. En revanche
dans certains aspects que nous avons analysé, il y a eu une proximité entre ces
classes et celles de la troisième année indiquant clairement l'absence de progression
dans le cycle. En nous rapportant aux aspects considerés dans l’axe de l’ “analyse
lingüistique” nous insistons sur la prévalence de ces activités dans les classes de
troisième année. Comme résultat général, il est intéressant de souligner l’importance
des activités de lecture par rapport à la faible fréquence de production de textes
même parmi les classes de troisième année. En outre a attiré notre attention la
donnée que la premiére était réalisée essentiellement par l’enseignant, alors que la
deuxième était développée de forme solitaire par les apprentis. Nous pouvons dire
que nous n’avons pas trouvé, dans l’univers observé, une claireté effective quant à la
progression des activités lingüistiques dans les trois premières années de scolarité
de l’enseignement primaire.Quand nous nous référons aux données dans le
deuxième chapitre, nous soulignons que, en ce qui concerne les moyens de
groupement adopté, nous trouvons la proposition d'activités individuelles et
collectives, contrastant avec la fréquence des regroupements par paires et petits
groupes.Nous en déduisons que ce faible investissement se doit à l’absence d’une
pratique de planification systématique, mise en évidence dans les données. En ce
qui concerne les modalités de coopération, nous avons localisé um haut niveau
d’intéraction entre les enseignants et leurs élèves, si nous les comparons avec le
niveau d’échanges entre eux. En ce qui concerne les activités diversifiées, nous
soulignons leurs faible fréquence, ajustées aux différents niveaux des élèves, il a été
rare aussi d’accorder lê même “devoir”avec des adaptations pour les différentes
exigences de l’apprentissage. Comme une donnée générale sur le traitement général
de l'erreur de l'apprenant, nous indiquons qu’ils ont été exposés à plusieurs moments
de correction collective en classe, par rapport aux interventions individuelles. Ou bien
ce processus sert à “optimiser le temps”, ou bien il sert comme um mécanisme clair
d’exclusion des eleves “plus lents”. Nous comprenons que les pratiques que nous
avons observées, en général, essayent d’articuler les inovations présentes dans
l’enseignement de la langue avec les hypothèses défendues par la scolarisation par
cycle, cependant, nos résultats montrent à quel point nous avons encore besoin de
progresser vers un programme d'études qui, en collaboration avec les “devoirs”de
l'enseignant, minimise les divergences, que nous avonc observer, par rapport à
l'enseignement et l'apprentissage des différents objets de la connaissance de la
langue portugaise, en considérant les différentes étapes du cycle. Nous concluons
que ce n'est pas suffisant de garantir une éducation qui ne conserve pas les
étudiants à la fin de chaque année du cycle. Il est nécessaire de donner la priorité
aux soins des différents rythmes d'apprentissage, en assurant l’avancé de
l'apprenant dans le cycle.
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 22
2 MARCO TEÓRICO ............................................................................................... 30
2.1 Transposição Didática, Apropriação dos Saberes da Ação e Fabricação do
Cotidiano Escolar .................................................................................................. 30
2.1.1 O enfoque dado ao saber à luz da teoria da Transposição Didática ........ 30
2.1.2 Cotidiano escolar: pluralidade nos processos de apropriação dos saberes
e nas “fabricações” ................................................................................................ 35
2.1.3 Livros didáticos de alfabetização: um enfoque dado à transposição desse
material no âmbito da sala de aula ....................................................................... 41
2.2 Organização dos sistemas de ensino brasileiro e francês em tempos de
“ciclo”: o que apontam alguns documentos oficiais e a literatura na área? .... 43
2.2.1 A organização do ensino por série x ciclos no Brasil: características e
dilemas de um processo transitório .................................................................... 43
2.2.2 Proposições oficiais do ensino por ciclos no contexto francês:
semelhanças e diferenças com a realidade brasileira ........................................ 53
2.2.3 O tratamento dado à heterogeneidade das aprendizagens: rumo a uma
prática de cooperação na sala de aula? ............................................................... 63
2.3 Novas perspectivas teóricas no âmbito da alfabetização: implicações para
o ensino do Sistema de Notação Alfabética ........................................................ 69
2.3.1 “Representação” e “Notação”: como tais conceitos interagem na
compreensão do funcionamento de um sistema? .............................................. 69
2.3.2 Teoria da Psicogênese da Língua Escrita: o que muda para o ensino de
língua na alfabetização? ........................................................................................ 74
2.3.3 Desenvolvimento de habilidades fonológicas e a aquisição do sistema de
notação alfabética: pressupostos e possíveis articulações .............................. 85
2.3.4 Alfabetização e letramento: implicações para as práticas de leitura e
escrita ...................................................................................................................... 93
2.3.5 Alfabetizar letrando: eixos do ensino de língua que contribuiriam nesse
processo ............................................................................................................... 101
2.4 Organização do ensino por ciclos: o que muda nas práticas de leitura e
escrita na alfabetização? ..................................................................................... 104
3 METODOLOGIA ................................................................................................. 111
3.1 Objetivos ......................................................................................................... 111
3.1.1 Objetivo Geral .............................................................................................. 111
3.1.2 Objetivos Específicos ................................................................................. 111
3.2 Caracterização das escolas e perfis (formação acadêmica e atuação
profissional) das professoras pesquisadas....................................................... 112
3.2.1 Caracterização da escola A e perfis das mestras que integraram a
pesquisa ................................................................................................................ 113
3.2.2 Caracterização da escola B e perfis das mestras que integraram a
pesquisa ................................................................................................................ 118
3.2.3 Caracterização da escola C e perfis das mestras que integraram a
pesquisa ................................................................................................................ 121
3.2.4 Retomando algumas características das escolas e das professoras
acompanhadas ..................................................................................................... 125
3.3 Procedimentos e instrumentos metodológicos adotados na pesquisa .... 128
3.3.1 Entrevistas ................................................................................................... 128
3.3.2 Observações ................................................................................................ 130
3.4 Análise dos dados .......................................................................................... 133
4 RESULTADOS DE ANÁLISES I ......................................................................... 136
4.1 Práticas de ensino de língua: progressão das atividades ao longo do 1º
ciclo ....................................................................................................................... 136
4.1.1 O tratamento de dados relativos às atividades priorizadas nas práticas
pedagógicas ......................................................................................................... 136
4.1.2 Atividades de “Rotina Pedagógica” .......................................................... 137
4.1.3 Atividades de Leitura, Compreensão e Produção Textuais: diversidade e
progressão desses eixos no 1º ciclo .................................................................. 155
4.1.3.1 Atividades de Leitura de Textos e Enunciados, no 1º ciclo ........................ 155
4.1.3.2 Atividades de Compreensão Textual no 1º ciclo ........................................ 169
4.1.3.3 Atividades de Produção de Textos no 1º ciclo ........................................... 182
4.1.4 Atividades de Ensino do Sistema de Notação Alfabética (SNA) ............. 198
4.1.4.1 Atividades do Sistema de Notação Alfabética: leitura ............................... 200
4.1.4.2 Atividades do Sistema de Notação Alfabética: escrita ............................... 211
4.1.4.3 Atividades do Sistema de Notação Alfabética: cópia ................................ 216
4.1.4.4 Atividades do Sistema de Notação Alfabética: contagem ......................... 220
4.1.4.5 Atividades do Sistema de Notação Alfabética: partição ............................ 222
4.1.4.6 Atividades do Sistema de Notação Alfabética: nomeação, identificação e
produção ............................................................................................................... 227
4.1.4.7 Atividades do Sistema de Notação Alfabética: comparação ..................... 235
4.1.4.8 Atividades do Sistema de Notação Alfabética: exploração ........................ 241
4.1.4.9 Atividades de análise lingüística ................................................................ 248
4.1.5 Síntese das evidências relativas às práticas de ensino de língua:
progressão ao longo do 1º ciclo ......................................................................... 269
5 RESULTADOS DE ANÁLISES II ....................................................................... 281
5.1 Práticas de ensino de língua: escolhas “didáticas e pedagógicas” e o
tratamento dado à heterogeneidade das aprendizagens, ao longo do 1º
ciclo ...................................................................................................................... 281
5.1.1 Atividades de língua e formas de agrupamento dos alunos ................... 281
5.1.1.1 Atividades de língua portuguesa e formas de agrupamento dos alunos: leitura
de texto ................................................................................................................. 282
5.1.1.2 Atividades de língua e formas de agrupamento dos alunos: compreensão
textual .................................................................................................................... 288
5.1.1.3 Atividades de língua e formas de agrupamento dos alunos: produção
textual .................................................................................................................... 293
5.1.1.4 Atividades de língua e formas de agrupamento dos alunos: sistema de
notação alfabética ................................................................................................. 296
5.1.1.5 Atividades de língua e formas de agrupamento dos alunos: análise
lingüística ............................................................................................................... 299
5.1.2 Modalidades de “cooperação” (professora-alunos, aluno-aluno) nas
atividades de língua, no 1º ciclo ......................................................................... 301
5.1.2.1 Predominância de um trabalho cooperativo da professora para com o grupo-
classe ..................................................................................................................... 303
5.1.2.2 Explicação prévia das atividades pela professora ...................................... 322
5.1.2.3 Espaço dado pelas mestras aos alunos com avanço e/ou em dificuldades no
aprendizado............................................................................................................ 328
5.1.2.4 Disputas dos educandos por participar da aula.......................................... 330
5.1.2.5 Ajuda dos alunos avançados aos educandos em dificuldades, com apoio da
professora .............................................................................................................. 332
5.1.2.6 Transgressão do aluno com bom nível de aprendizagem para cooperar com
colega em dificuldade ............................................................................................. 336
5.1.2.7 Síntese das evidências sobre a ocorrência ou não de cooperação nas
atividades realizadas em sala de aula ................................................................... 338
5.1.3 A proposição de atividades diversificadas no 1º ciclo, na área de
língua ..................................................................................................................... 341
5.1.4 Tratamento do erro no 1º ciclo: de que modo procediam as professoras
frente ao erro do aprendiz, nas atividades de língua? ...................................... 368
5.1.4.1 Correção individual do erro do educando ................................................... 370
5.1.4.2 Correção do erro no grupo/coletivo da sala de aula ................................... 376
5.1.4.3. “Táticas didáticas” objetivando evitar o erro pelo aprendiz........................ 389
5.1.4.4 Devolução da pergunta ao aluno, individualmente e/ou no coletivo ........... 392
5.1.4.5 Ignora o erro do aprendiz e não realiza intervenção .................................. 398
5.1.4.6 Elabora uma seqüência (andaime) para assegurar o acerto ...................... 399
5.1.5 Síntese das evidências relativas às escolhas “didáticas” e “pedagógicas”
e o tratamento dado à heterogeneidade das aprendizagens, ao longo do 1º
ciclo ....................................................................................................................... 404
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... .412
REFERÊNCIAS................................................................................................... ...421
APÊNDICES .......................................................................................................... 432
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA E OBSERVAÇÃO...........................432
APÊNDICE B – TABELAS COM TODOS O EIXOS OBSERVADOS.....................435
24
1 INTRODUÇÃO
2
Conforme documento da PREFEITURA DA CIDADE DE RECIFE. Secretaria de Educação. Tempos
de Aprendizagem: identidade cidadã e organização da educação escolar em ciclos. Recife, 2003.
Encontramos os ciclos da Educação Infantil e os ciclos do Ensino Fundamental. Sendo estes últimos
compostos por quatro ciclos. O primeiro com três anos - que equivaliam à alfabetização, 1ª e 2ª séries
-, e os subseqüentes com dois anos.
3
Na ocasião da coleta de dados (2007), em uma das escolas pesquisadas, a atual diretora da escola
havia contribuído enquanto professora na pesquisa por nós desenvolvida no mestrado, em 2003. A
profissional chegou a declarar que, com a implantação da proposta dos ciclos, em 2001, houve uma
série de iniciativas por parte das instituições de ensino que ultrapassavam as prescrições
estabelecidas pela Rede Municipal de Ensino de Recife, porém, em 2007 enfatizou que observava
outra postura por parte dos mestres em geral, ou seja, parecia pairar uma “estabilização” nas formas
de ensino de modo a conjugarem práticas cujos pressupostos estavam ancorados no sistema
seriado, com alguns ajustes oriundos da discussão do sistema de ciclos.
26
progressão das atividades de língua no interior daquele ciclo? Como estava sendo
tratado, nas práticas observadas, o erro do aprendiz? Que “estratégias” e “táticas”
vinham sendo fabricadas com a vivência da proposta dos ciclos? 4
4
Os conceitos de “tática” e “estratégia” serão abordados posteriormente, com a análise da fabricação
do cotidiano escolar, a partir de Certeau (1994).
5
PREFEITURA DA CIDADE DE RECIFE. Secretaria de Educação. Proposta Pedagógica da Rede
Municipal de Recife: Construindo Competências. Recife: PCR, 2002.
27
6
Enfatizamos que a prova, ao contrário de indicar um instrumento possível de acompanhamento
contínuo da construção do conhecimento pelo educando, se traduzia numa alternativa pontual que
primava pela mensuração, conforme dados das práticas analisadas. Por essa razão, acreditamos que
essa lógica se aproximava do que outrora era defendido no sistema seriado de ensino.
28
No que diz respeito aos capítulos que seguem nesse estudo, traremos à
tona, inicialmente, a discussão das teorias da Transposição Didática
(CHEVALLARD, 1991) e da Fabricação do Cotidiano Escolar (CERTEAU, 1994;
1985; FERREIRA, 2003). Recorreremos, também, à perspectiva teórica da
Apropriação dos Saberes da Ação (CHARTIER, 2000; 1998; ALBUQUERQUE,
2002), por acreditarmos que tais correntes trazem contribuições e orientações
teórico-práticas concernentes ao modo como se produzem os saberes em suas
diferentes instâncias, bem como à maneira como se constituem e se organizam as
práticas de ensino (no nosso caso, na RMER), tendo como referência esses
saberes.
pedagógicos”, na França. Tal referência deve-se ao fato desse país ter optado,7
desde a década de 1990, pela organização do ensino em ciclos pedagógicos.
Portanto, consideramos pertinente explicitar alguns dos pressupostos que
caracterizaram tal proposição, de modo a apreendermos a mesma proposta em dois
contextos distintos.
7
Semelhantemente ao contexto de Recife, foi oficializado por meio de um decreto.
31
2 MARCO TEÓRICO
Ainda sobre esse processo de transformação dos saberes, bem como das
especificidades destes no contexto escolar, Astolfi e Develay destacam que
8
A escolarização organizada em ciclos marca uma nova maneira de conceber e vivenciar o tempo no
interior da escola. Admite-se que o aluno possui maior flexibilidade para construir as competências
esperadas nas diversas áreas. Entretanto, apesar de conviverem juntos: tempo escolar e tempo de
aprendizagem, ambos possuem suas especificidades e precisam ser analisados como tal.
36
9
Ainda nesta seção, explicitaremos os conceitos de “táticas” e “estratégias” à luz de Certeau (1985).
10
No espaço escolar também são fabricadas estratégias. Destacamos isso, para que não fiquemos
com a idéia de que a estratégia parte sempre de instâncias maiores como as secretarias de
educação.
38
das diversas atividades que se exercem na vida cotidiana, dos diversos campos:
profissionais, sociais, políticos e culturais (FERREIRA, 2003, p. 6).
Ainda segundo Ferreira (2005, p. 74), mesmo que o cotidiano não faça parte
de uma racionalidade discursiva, não se pode também dizer que ele é irracional. Ele
não se inclui no que se chama de pensamento elaborado e legitimado, mas, sim, é
fruto da ação.
Do mesmo modo, não há uma alternativa clara sobre o que pode ou não ser
“uma sala de alfabetização”. Mas, através das ações, apreendemos uma prática
pedagógica de um professor alfabetizador. No entanto, cada professor tem uma
prática singular que guarda certo distanciamento daquilo que seria “a posição da
escola”, “a posição da rede”. Dessa forma, o ambiente escolar é marcado por
diversas práticas que revelam esse contexto como sendo múltiplo e complexo
(FERREIRA, 2003, p. 10).
11
A professora atuava numa escola de imigrantes; os alunos tinham muitas dificuldades. Era
considerado um grupo-classe complicado. A pesquisa foi realizada em 1995/1996. Os aprendizes
estavam no que equivalia ao último ano da escola maternal, 5/6 anos.
12
Trabalhava com ateliês de grafismo, de escrita dirigida e de escrita livre. O primeiro estava ligado
às atividades de coordenação motora; no segundo, a professora perguntava o que o aluno queria
escrever e ensinava-o como cada letra era escrita, dando orientações de como escrever: da esquerda
para direita, de cima para baixo; já no terceiro, os alunos escreviam como quisessem.
42
13
Nomenclatura corrente na proposta da Rede Municipal de Ensino de Recife para designar esse
tempo que o aprendiz teria para consolidar a leitura e a escrita.
43
14
Nos ciclos de aprendizagem, os anos são divididos em ciclos plurianuais (de dois anos, três anos
ou mais). Há ênfase ao atendimento da heterogeneidade, da progressão das aprendizagens e uma
maior flexibilidade quanto ao atendimento dos alunos (MAINARDES, 2009b, p.58-59). Nesse modelo,
o objetivo de aprendizagem torna-se aspecto central (cf. ALAVARSE, 2009, p. 42-43). Propondo-se
uma ruptura com o sistema seriado, os ciclos de formação estão ancorados nos ciclos do
desenvolvimento humano: infância (6 a 8 anos de idade), pré-adolescência (9 a 11 anos) e
adolescência (12 a 14 anos). A promoção deveria ocorrer de acordo com os grupos de idade
(MAINARDES, 2009b, p. 62; ALAVARSE, 2009, p. 43; KRUG, 2009, p. 54-55).
46
De acordo com Souza Júnior (2007), a organização curricular por série foi
implementada a partir da reforma de João Luiz Alves, estabelecida pelo decreto nº.
16782 – A em 1925 e consolidada em 1931, com a reforma de Francisco Campo
pelo decreto nº. 19890. Outra mudança destacada por Faria Filho e Vidal (2000) se
deu nos anos 1920, com os escolanovistas modificando os espaços escolares, os
ideais pedagógicos, dentre outros aspectos. Com isso, as décadas de 1950 e 1960
foram marcadas por significativas mudanças de concepção dos espaços escolares
e, claro, o lugar que essa instituição passou a ocupar no contexto social brasileiro.
15
Fonte: MEC/Inep.
47
2002. No período anterior a esses anos, a taxa de reprovação era de 21,7%. Ainda
no que se refere às taxas de reprovação e abandono fornecidas por esse Instituto,
nos anos 2004 e 2005, encontramos, em nível nacional, 21,3% e 20,5%,
respectivamente. Esse índice é revelador do quanto ainda se precisa avançar,
sobretudo nas regiões norte e nordeste do país.
16
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
17
Fonte: MEC/Inep.
48
No concernente à proposta dos ciclos, Lüdke (2001) nos alerta para o fato
de que ela traz à tona a necessidade de se levar em conta a evolução natural do
aluno no que se refere à aprendizagem, objetivando seu sucesso na escola e que a
divisão arbitrária em séries constitui-se num esforço para “racionalizar a organização
escolar”. A autora assinala, ainda, que
Isto quer dizer que a flexibilidade curricular não pode ser confundida com a
ausência de seqüências didáticas claras, conteúdos estabelecidos em cada área de
conhecimento e uma avaliação da aprendizagem pautada em critérios (LEAL, 2003).
à flexibilidade curricular, não mais na díade retenção versus promoção escolar. Com
isso, passou-se a priorizar a revisão dos conteúdos, o atendimento à
heterogeneidade dos alunos, além dos critérios de avaliação.
Sobre esse assunto, Alavarse (2009) chama a atenção para o fato de que,
em algumas redes públicas, a implantação dos ciclos foi marcada muito mais pelo
caráter de redução da reprovação, optando-se pela progressão continuada instituída
entre algumas séries, sob a nomenclatura dos ciclos, porém, mantendo a
possibilidade de retenção ao término de cada ciclo. Entretanto, houve algumas
iniciativas que produziram, conforme sugere Mainardes (2007b), mudanças no
currículo, no ensino, na avaliação, nos ajustes entre os tempos escolares
(ALAVARSE, 2009, p. 35).
18
Para uma análise mais aprofundada dessa proposta, ver DALBEN, A. I. L. F. A prática pedagógica
e os ciclos de formação na escola plural. In: DALBEN, A. I. L. F. (org.) Singular ou plural? Eis a
questão! Belo Horizonte: GAME, FaE, UFMG, 2000; DALBEN, A. I. L. F. Os ciclos de formação como
alternativa para a inclusão escolar. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, v. 14, n.40, jan./abr.
2009.
55
21
Certificado oficial de conclusão dos estudos secundários. Trata-se de um exame a que alunos do
último ano do ensino secundário submetem-se. Sua obtenção dá acesso à universidade e certas
escolas superiores.
57
22
O 1º ciclo compreendia o primeiro, segundo e terceiro anos, equivalentes à alfabetização, 1ª e 2ª
séries no sistema seriado.
60
De que modo o tempo passou a ser administrado a partir dessa nova forma
de organização da escola? A portaria de 1º de agosto de 1990 estabeleceu os
horários das escolas maternais e elementares. “O horário passou a ser organizado
por grupos de disciplinas, sem que se levasse de fato à supressão de algumas delas
ou a desproporções excessivas, já que as competências características dos ciclos e
os programas fixavam as exigências precisas” (MENJE, 1991, p. 17-18). Os
profissionais envolvidos na escola poderiam concordar quanto ao emprego do tempo
ao longo do ano escolar, dos períodos intermediários, respeitando o calendário e
ajustando o ensino às necessidades dos alunos.
24
Comunicação pessoal com Anne-Marie Chartier em 01.09.2010.
25
Institut National de Recherche Pédagogique (INRP).
26
Centre National de Documentation Pédagogique (CNDP)
64
modo como vem sendo tratado o erro do aluno (PINTO, 2002). Que formas de
intervenção são possíveis de serem adotadas ensejando a superação dos erros
pelos aprendizes? Quais as diferentes implicações que os modelos de intervenção
acarretam às aprendizagens construídas? É nesse aspecto que nos deteremos a
partir de então.
Sobre esse assunto, Darsie (1996) aponta que a intervenção ante o erro do
aprendiz possibilita
Corroborando com a autora acima citada, Pinto (2002) enfatiza que o erro
dos alunos pode se constituir numa alavanca para o professor enfrentar as
diferenças entre eles na sala de aula e poder acompanhar, de forma efetiva, a
aprendizagem escolar (p. 48). A autora prossegue destacando que é preciso superar
essa concepção negativa rumo a uma perspectiva construtiva e produtiva. O erro
70
seria, na ótica de Pinto (2002), “um indicador privilegiado para dar uma ajuda
personalizada ao percurso escolar do aluno” (p.48).
decisivo para um bom diagnóstico, pois dá pistas para sua superação”. Entretanto,
ressalta a autora, “não deve haver uma relação mecânica entre o diagnóstico e a
remediação” (PINTO, 2002, p.68). A adoção dessa postura remete, essencialmente,
a um ensino diferenciado, defendido nos sistemas organizados por ciclos
(MAINARDES, 2009a; 2009b; 2007a; 2007b). De acordo com Pinto (2002),
compreender o erro como uma estratégia didática e um instrumento ao ensino
diferenciado, propicia ao professor a adoção de procedimentos didáticos eficazes e
muda a representação do aluno que erra, já que aquele profissional terá maior
clareza do confronto com a diversidade presente na sala de aula.
De acordo com Tolchinsky (2003), alguns objetos são criados para significar
algo, portanto, é necessário distinguir os objetos que são transformados em
representação por um intérprete dos que são criados propositalmente para serem
interpretados. O interesse da autora recai na segunda opção, já que as
representações externas que as crianças têm que adquirir foram propositalmente
criadas como tal.
escriturais. Nesse caso, sinais escriturais formam um sistema, pictoriais, não. Uma
vez que um elemento é reconhecido como pertencente a um sistema, seu
significado é estabelecido pelo próprio sistema (2003, p. 14).
27
Interessante destacar a permanência do uso do termo “representação” e não “notação”, nas
contribuições de Ferreiro, até 1989.
78
Em estudo mais recente, Ferreiro (2003, p. 140), ressalta que “se a escrita
fosse uma simples codificação, as unidades de análise do oral deveriam se
encontrar na escrita, mas não é o caso”. A autora segue realçando que “não há uma
correspondência unívoca entre letras e fonemas (nas diferentes escritas alfabéticas,
há poligrafias para um mesmo fonema e polifonia para um mesmo grafema)”.
28
Conforme aponta Chevallard (1991), a noosfera seria responsável pela intermediação entre os
sistemas educativos e a sociedade (pedagogos, professores, técnicos das secretarias de educação,
entre outros). Essa esfera, segundo o autor, é marcada por conflitos, negociações, amadurecimento
de soluções.
79
Em outras palavras, Morais (2005, p. 37) destaca que o sujeito que aprende
a escrita alfabética reelabora em sua mente uma série de decisões que a
humanidade tomou ao criar esse tipo de notação. Mesmo quando exposto a práticas
pedagógicas que pouco o auxiliam nessa empreitada, o sujeito que aprende, num
processo por vezes solitário, através de atividades de cópia, memorização dos
traçados das palavras, sílabas ou letras que lhes são apresentadas, realiza um
trabalho cognitivo interno de resolução de um enigma: desvendar como a escrita
alfabética funciona e, finalmente, um dia, começa a entender que as letras se
combinam e passa a escrever de um modo bem próximo do convencional.
80
processo ocorre nas outras fases de apropriação da escrita, porém, um novo olhar e
forma de conceber a escrita se evidenciam.
É oportuno destacar que nessa fase encontramos diversos níveis, além dos
citados, Ferreiro lista uma série de exemplos apreendidos através das pesquisas
realizadas. Em um deles, a criança repete sílabas ou junta letras principalmente no
final do texto escrito, “pula letras” com o objetivo de chegar ao final da palavra e, por
vezes, ao obter insucesso nesse período, retrocede e volta a realizar a leitura global
da palavra. Entretanto, nessa mesma fase, há crianças que iniciam o processo de
compreensão entre a totalidade e as partes que compõem as palavras. Nesses
casos, tentam regular a quantidade de letras e, até mesmo, antecipá-las
(FERREIRO, 1990, p. 56). Ainda nessa etapa, a autora ressalta que algumas
83
29
Para uma análise aprofundada desses níveis, consultar FERREIRO, Emília et al. Análisis de las
perturbaciones en el proceso de aprendizaje escolar de la lectura y la escritura. México,
Dirección General de Educación Especial (SEP-OEA), 1982 (fascículo 2, p.7-90).
85
Embora o autor aponte não ter sido uma prioridade dos programas
escolares franceses a prática de análise fonológica, já que se considerava ser essa
uma conseqüência natural do processo de alfabetização, destacamos que, em
documento mais recente elaborado pelo Ministério de Educação (MEN, 2002), é
possível apreender prescrições para o “treino da consciência fonológica” já na
educação infantil, enquanto no Brasil, o Ministério da Educação não defende, ainda,
nada parecido.
Freitas aborda, nesse trabalho, três níveis: o nível da sílaba, o das unidades
intra-silábicas e o nível dos fonemas. Do primeiro nível, as crianças demonstram se
apropriar com mais facilidade, nos fornecendo, portanto, um forte indicador da
presença dessa habilidade fonológica, desde cedo. Sobre essa apropriação
primeira, Gombert (1992 apud FREITAS, 2004) aponta que a sílaba é a unidade
natural da segmentação da fala, logo ela é mais acessível do que as unidades intra-
silábicas e os fonemas. No segundo nível, as palavras podem ser divididas em
unidades que são maiores que um fonema individual, mas menores que uma sílaba,
são as chamadas unidades intra-silábicas (Ataque e Rima).30 O terceiro,
compreende a capacidade de dividir palavras em fonemas, ou seja, nas menores
unidades de som que podem mudar o significado de uma palavra. A consciência
fonêmica emergiria quando a criança se dá conta de que as palavras são
constituídas de sons que podem ser objeto de diferentes operações: identificação,
segmentação, subtração, adição, transposição, etc. (MORAIS; ALBUQUERQUE,
2006), que envolvem, segundo esses autores, diferentes graus de dificuldade.
30
É interessante salientar que existe a Rima da palavra. Esta é definida como a igualdade entre os
sons desde a vogal ou ditongo tônico até o último fonema. Nesse caso, não existe apenas a rima da
sílaba, como também uma sílaba inteira, mais que uma sílaba, bem como mais de duas sílabas. Já
nas palavras oxítonas, a Rima é um elemento intra-silábico, reconhecido através da distinção Ataque
– Rima.
89
Ainda de acordo com Morais (no prelo), assim como constataram em outros
estudos, ao acompanhar crianças oriundas dos meios populares ao longo do ano, o
autor verificou, no caso do português, a importância de se investir na análise
contínua dos segmentos silábicos, na comparação de palavras quanto ao tamanho
e, conforme já anunciado, atestou que crianças brasileiras não têm facilidade em
segmentar palavras em fonemas (p.1). Estes, conforme Morais (no prelo) “são
abstrações que elaboramos sobre a linguagem oral, só podem ser identificados com
base nas relações distintivas que assumem quando comparamos palavras do léxico
de uma língua”. Do mesmo modo, destaca Goigoux (2003), essa capacidade de
manipular e refletir sobre as unidades fonêmicas da palavra se desenvolve mais
tardiamente após a descoberta de uma estrutura interna à sílaba. Essa última é a
unidade disponível mais cedo.
reflexão fonológica é relevante para a aquisição de uma escrita alfabética, mas não
é condição suficiente (MORAIS; LIMA, 1989, p. 54).
31
Na realidade, os dados destacados nesse texto são de uma das 12 crianças que fizeram parte da
pesquisa realizada por Leite (2006), sob orientação de Morais.
92
Por outro lado, existem estudos que não apóiam a idéia exposta
anteriormente. Segundo esses estudiosos, as crianças, antes de serem
alfabetizadas, não têm uma compreensão clara de como a fala é organizada em
unidades abstratas menores. Nesse caso, a consciência fonológica é vista como
conseqüência da escrita, surgindo somente a partir do ensino sistemático da escrita
(FREITAS, 2004, p.188). Entretanto, o argumento da concepção de que a
consciência fonológica se desenvolve a partir da aquisição da escrita, tende a estar
baseado somente na consciência fonêmica, não levando em consideração
habilidades metafonológicas no nível das sílabas e das unidades intra-silábicas.
32
Os autores enfatizaram esse aspecto, já que haviam realizado a mesma pesquisa com crianças de
classe média.
94
aprendiz como unidades isoláveis, resta-nos, então, de acordo com Morais (no
prelo), superar as limitações dessa visão simplista”.
Por outro lado, Morais (2004) afirma que parece não haver um interesse de
investimento pelos estudiosos da psicogênese em apreender as contribuições da
análise fonológica no processo de aquisição do sistema de escrita. O que parece
ocorrer é uma secundarização, ou mesmo um não reconhecimento do papel que a
análise fonológica exerce no processo de apreensão da escrita. Esse pressuposto
se evidencia na medida em que identificamos, nas contribuições de Ferreiro, a
seguinte premissa: saber qual letra serve para tal som estaria, apenas, no âmbito
gráfico, não seria um conhecimento de tipo conceitual. Entretanto, ao explicitar o que
denomina de alternâncias grafofônicas (aspecto já abordado na segunda seção)
verificamos, nitidamente, a implicação da reflexão fonológica na escrita da criança.
desde cedo, o aprendiz no mundo das práticas letradas, a fim de que domine os
conhecimentos e habilidades necessários à leitura e produção dos gêneros escritos.
Segundo Soares (1998), a palavra “letramento” foi usada pela primeira vez
em português por Kato (1986), dois anos depois por Tfouni (1988), autora que fez
uma distinção entre escrita, alfabetização e letramento. De acordo com Tfouni (2006,
p.9), “enquanto os sistemas de escrita são um produto cultural, a alfabetização e o
letramento são processos de aquisição de um sistema escrito”. Desse modo, a
alfabetização implicaria num processo de aprendizagem da leitura e da escrita por
meio da instrução formal, centrando-se no universo individual; enquanto o
letramento estaria ancorado em fenômenos sócio-históricos de aquisição da escrita.
Entre outros aspectos, buscaria investigar “sociedades quando adotam um sistema
de escritura de maneira restrita ou generalizada; além de procurar saber quais
práticas psicossociais substituem as práticas ‘letradas’ em sociedades ágrafas”
(TFOUNI, 2006, p. 10). Por essa razão, o letramento desliga-se do âmbito individual
do sujeito e centra-se na dimensão social.
Para que isso ocorra, conforme já anunciado nesse texto, seria importante
desenvolver dois caminhos com o aluno: um primeiro caminho consiste em ajudá-lo,
por meio da reflexão “sobre as características de diferentes textos que circulam ao
seu redor, sobre seus estilos, usos e finalidades”; um segundo caminho, implicaria
ajudar o aprendiz a apropriar-se do sistema de notação alfabética, interagindo com a
língua, em uma perspectiva reflexiva, analisando e refletindo sobre os pedaços
sonoros e escritos das palavras.
101
Além do que fora mencionado, as contribuições nessa área não têm sido
suficientes para pensar e organizar o ensino sem sobrepor os conceitos de
alfabetização e letramento. Ora as práticas privilegiam o aprendizado do sistema de
notação alfabética, acreditando ser esse um requisito para o contato com textos, ora
priorizam o acesso aos textos, e, com isso, comprometem amplamente o processo
102
outras decisões tiveram que ser tomadas, como a seleção das informações, a
revisão textual, o registro, entre outras.
2.4 Organização do ensino por ciclos: o que muda nas práticas de leitura e
escrita na alfabetização?
33
Em 1986-1988, a Rede Municipal de Ensino de Recife viveu a experiência dos Ciclos Básicos de
Alfabetização (CBA). A partir de 2001 estendeu a proposta a todo o ensino fundamental.
34
Acompanhamos três instituições, sendo três professoras de cada uma delas, dos três anos do 1º
ciclo. Os dados foram coletados em 2003.
35
O conceito de tática nesse estudo está ancorado em Certeau (1985).
108
36
OLIVEIRA, Solange Alves de. O ensino e avaliação do aprendizado do sistema de notação
alfabética numa escolarização organizada em ciclos. Dissertação (Mestrado em Educação).
Centro de Educação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004.
109
A autora concluiu enfatizando que não dava para conceber a proposta dos
ciclos sem uma reformulação curricular que contemplasse os objetos do saber
envolvidos nas diversas áreas do conhecimento, bem como a delimitação das
competências para cada etapa escolar. Sem essa clareza, destacou, parecia
impossível assegurar o avanço rumo à materialização de um princípio ancorado
nessa proposta: um ensino que favorecesse a aprendizagem de todos os
aprendizes.
Para isso, a autora acompanhou a prática de três professoras dos três anos
do 1º ciclo de uma escola que apresentava bons índices nos resultados relativos à
avaliação do aprendizado da leitura e da escrita de seus aprendizes. O objetivo foi
apreender, no interior do ciclo, o ensino e o aprendizado das crianças quanto aos
eixos de escrita alfabética, leitura, produção de textos.37 A análise das práticas
revelou que as professoras priorizaram esses eixos ao longo do ciclo, ajustando-os
às expectativas de cada ano-ciclo em que atuavam.
38
Não sabemos a concepção aderida pela equipe de gestão da escola quanto a ser ou não
alfabetizado.
39
Lembramos que o conceito de tática adotado nesse estudo está ancorado em Certeau (1994;
1985).
111
Ao tomar como exemplo o estudo desenvolvido por Cunha (2007), tal como
explicitamos na seção que explorou o tratamento dado à heterogeneidade das
aprendizagens, reiteramos o já dito anteriormente quanto à ausência de uma
articulação entre as concepções mais gerais a respeito, por exemplo, das formas de
agrupamento adotadas, do respeito ao desempenho alcançado pelo aluno nas
atividades e das formas de intervenção no curso das atividades propostas. Com o
objetivo de endossar essa prática, observamos, através de depoimento de uma das
professoras sujeito de sua pesquisa, a perda da finalidade da atividade proposta em
nome do “respeito ao educando”.
3 METODOLOGIA
3.1 Objetivos
3.1.2 Específicos
Com isso, trabalharíamos com 12 professoras, sendo seis de cada uma das
duas instituições pesquisadas, garantindo a compreensão de como esse movimento
de apropriação, fabricação das práticas de língua, na lógica dos ciclos, vinha
ocorrendo no interior de uma mesma escola, mas não foi possível, na ocasião da
coleta de dados, o alcance dessa homogeneidade nas variáveis.
40
Acompanhamos nove professoras de três instituições da rede municipal de ensino de Recife.
Foram três de cada instituição, dos três anos do ciclo I. Recorremos a codinomes substitutos
começados pelas letras: A, B e C, seguidos das letras: E, I e U. Chegamos aos seguintes nomes:
Escola A, 1º ano – Aécia; 2º ano – Aída; 3º ano – Áurea; Escola B, 1º ano – Bernadete; 2º ano –
Bianca; 3º ano – Buana; Escola C, 1º ano – Célia; 2º ano – Cinara; 3º ano – Custódia.
41
A mestra que atuava no 1º ano, ciclo I, contribuiu com a pesquisa realizada no curso de mestrado:
OLIVEIRA, Solange Alves de. O ensino e a avaliação do aprendizado do sistema de notação
alfabética numa escolarização organizada em ciclos. Recife, 2004. Dissertação (Mestrado em
Educação). Centro de Educação, Universidade Federal de Pernambuco, 2004.
42
Região Político Administrativa.
116
sala. No que se refere ao 2º ciclo, a instituição contava com três turmas de primeiro
ano (uma pela manhã e duas à tarde), com média de 30 alunos por classe e duas
turmas do segundo ano (uma pela manhã e uma à tarde), também com média de 30
alunos em cada uma. Na escola havia, ainda, Educação Infantil (grupo V,43 duas
turmas, manhã e tarde), uma turma de Educação Especial que funcionava no horário
da tarde com 10 alunos, três turmas de Educação de Jovens e Adultos (Módulo I, 20
alunos - primeiro ano; Módulo II, 32 alunos - segundo e terceiro anos - e Módulo III,
30 alunos - quarto e quinto anos).
43
Crianças com cinco anos de idade.
44
MAIS – Movimento das Aprendizagens Interativas. Projeto que selecionava estudantes de
Pedagogia para atuar como estagiários em escolas da Rede Municipal de Ensino de Recife.
Originalmente, eles deveriam receber orientação semanal para poder planejar atividades e analisar
suas ações, mas isto não acontecia. Era comum os estagiários assumirem a condução das turmas
quando os professores faltavam ou precisavam se ausentar da sala de aula.
45
Tanto o projeto “Mais” quanto o “Professor Alfabetizador” se constituíam enquanto alternativas
encontradas pela Prefeitura para trabalhar com os alunos que apresentavam dificuldades de
aprendizagem, sobretudo nas áreas de língua portuguesa e matemática. No caso do primeiro, este
atendimento era realizado por estagiários que costumavam atuar em duas ou três escolas durante a
semana. No segundo, um professor titular assumia o trabalho no turno oposto ao seu, no mesmo
formato do primeiro. Se no caso dos estagiários do MAIS não havia qualquer orientação para que
fizessem atividades qualificadas com os alunos, os resultados do ensino prestado pelo “professor
alfabetizador” pareciam indicar uma boa avaliação pelos diferentes profissionais e atores envolvidos
na escola.
117
46
Na realidade, tinham várias finalidades para esse espaço: local de recreação, distribuição do
“lanche” por turmas, organização de filas para acesso às salas do 1º andar, etc.
118
Anos de atuação no
Magistério 25 28 6
1º/1º = 1º ano do 1º ciclo; 2º/1º = 2º ano do 1º ciclo; 3º/1º = 3º ano do 1º ciclo; 2º/2º = 2º ano do 2º
ciclo; FUNESO: Fundação de Ensino Superior de Olinda; UFPE = Universidade Federal de
Pernambuco.
47
Estamos considerando o ano-ciclo, bem como o ciclo de atuação. Por exemplo: 1º ano do 1º ciclo
1º/1º; 2º ano do 2º ciclo 2º/2º.
48
Educação Infantil: crianças com cinco anos de idade.
120
49
Sem maiores detalhamentos, sabemos que esse último trabalho tinha vínculo com a igreja
evangélica Assembléia de Deus.
121
No que se refere aos recursos humanos, contava com uma dirigente, vice-
dirigente, duas coordenadoras pedagógicas, assistente de direção, secretária, 16
professores, uma professora readaptada em biblioteca, duas professoras itinerantes
de Educação Especial, duas auxiliares de secretaria, três estagiários atuando na
secretaria, quatro estagiários no laboratório de informática e três estagiários para
apoio na Educação Especial (presentes nas salas regulares), três merendeiras, seis
auxiliares de serviços gerais e quatro auxiliares de portaria.51 A seguir,
apresentaremos quadro com os perfis acadêmico e profissional das professoras.
50
Não tivemos acesso à forma como ocorria esse “suprimento individual”.
51
Tanto no caso específico da escola A, como na escola B, havia professores que atuavam nos
horários da manhã e da tarde.
122
52
Dessas, duas atuavam no horário da manhã (1º e 2º anos) e a do 3º ano, à tarde.
123
No que diz respeito ao ano-ciclo em que atuaram nos últimos quatro anos
(2004, 2005, 2006 e 2007), observamos uma variação. A mestra do primeiro ano
tinha assumido as turmas do Grupo V, 1º/1º, 2º/1º, 1º/1º; a do segundo ano tinha
lecionado no 1º/1º, 3º/1º, 2º/1º, 2º/1º e a do terceiro ano em turmas do 1º/2º, 2º/2º,
2º/1º, 3º/1º. Com exceção da docente do primeiro ano, as outras atuavam na rede
estadual de ensino: a do segundo ano ensinava língua portuguesa (ensino
fundamental II e ensino médio) e a do terceiro ano ministrava disciplinas
pedagógicas do curso normal médio, ambas no turno da noite. Nenhuma delas
exercia outra atividade profissional.
53
Na ocasião da pesquisa, a escola já contava com um prédio novo, espaço de novas salas de aula e
da biblioteca.
54
Local aonde costumavam realizar os eventos, festividades da escola, além das atividades
esportivas.
55
Tratava-se de uma sala reservada para dança. Os alunos tinham esse espaço disponível para
realizar os ensaios musicais.
125
56
Nesse momento, as professoras apresentavam aos pais os resultados dos filhos nas atividades
realizadas, quer dizer, o rendimento, as expectativas para o ano-ciclo, entre outros aspectos.
126
57
1º = 1º ano; 2º = 2º ano; 3º = 3º ano.
58
1º/1º = 1º ano do 1º ciclo; 3º/1º = 3º ano do 1º ciclo.
59
Tratava-se de um projeto dirigido às crianças com dificuldades de aprendizagem das turmas de
terceiro ano do 1º ciclo e segundo ano do 2º ciclo.
60
Estamos considerando classes de alfabetização os anos do 1º ciclo.
127
3.3.1 Entrevistas
não possui roteiro fechado, pode ser visto como aberto, já que se
baseia na fala do entrevistado. Entretanto, os objetivos precisam
estar claros, assim como a informação que se pretende obter, a fim
de se buscar uma compreensão do material que está sendo colhido
e direcioná-la melhor (p.18-19).
61
Conferir anexo I: roteiro de entrevista.
132
62
No nosso caso, já tínhamos um vínculo com as mestras, visto que iniciamos as observações de
aula em junho e realizamos as entrevistas ao final do ano letivo.
133
Naquele ano, além do recesso ocorrido em julho (15 dias), houve uma greve
realizada pelos professores no mês de junho, o que desencadeou ajustes,
mudanças que se adequassem ao campo de pesquisa.64 A entrada nas salas de
aula teve início em junho e finalizou em dezembro daquele mesmo ano. Anterior ao
acesso às salas, as mestras nos apresentaram aos grupos-classe. Quanto a esse
aspecto, Vianna (2007, p. 41) destaca que “é importante que o observador se
apresente aos elementos do grupo e declare os objetivos de seu trabalho, sem
maiores disfarces, evitando que seja considerado um ‘estranho no ninho’”.
63
Na escola B, por exemplo, a professora do terceiro ano delimitou as observações para as segundas
e terças-feiras, momento em que enfocava língua portuguesa. Mas, de um modo geral, não havia,
pelo menos explicitamente, uma organização fixa das aulas de língua portuguesa. Esse fator, por
vezes, gerou dificuldades de articulação entre as observações das nove professoras, visto que
comumente havia “choques” de dias. De início, a professora do segundo ano, escola B, afirmou
trabalhar com língua portuguesa nas segundas-feiras, posteriormente, passou a combinar outros dias
da semana. Além disso, houve imprevistos nessa turma, visto que chegou a marcar a observação,
mas não trabalhou com língua portuguesa. Esses imprevistos ocorreram em outras turmas.
64
No início das observações na escola A, a professora do segundo ano apresentou certa
“resistência”, porém, em seguida, aceitou contribuir com a pesquisa. Entretanto, na quarta
observação, negou-se a continuar. Afirmou que ia se aposentar e que as observações estavam
atrapalhando suas aulas. De acordo com a coordenadora do turno da tarde, costumava ter esse tipo
de ação ante outras situações. Tal aspecto gerou dificuldades, já que a única professora titular da
escola, atuante no segundo ano, ia entrar de licença, se submeter a uma cirurgia, mas, mesmo
assim, contribuiu com a pesquisa. Além desse, houve outros casos de licença, a exemplo da
professora do primeiro ano, escola C.
134
A partir do que fora descrito anteriormente, fica clara a nossa opção por
fazer a análise dos dados obtidos através das entrevistas e observações de aula, a
fim de garantir maior expressividade nos resultados. Optamos por analisar os dados
de maneira articulada, recorrendo a extratos das entrevistas, sempre que
necessário.
65
Diferentemente de outras definições dadas à observação participante, André (2005) enfatiza que
esta modalidade de observação se caracteriza por um grau de interação com a situação estudada por
parte do pesquisador, afetando-a e sendo por ela afetado (p.28).
135
caminho pré-definido para orientá-lo, portanto, em geral, este “segue seu próprio
caminho, baseado em conhecimentos e guiado por sua competência, sensibilidade e
intuição” (FRANCO, 2005, p. 58).
Diferenças existentes entre as mestras que atuavam nos três anos do ciclo I
quanto às escolhas “didáticas” e “pedagógicas” empreendidas na sala de
aula, considerando a área de língua portuguesa;
4 RESULTADOS DE ANÁLISES I
66
No capítulo da metodologia, explicitamos os acordos estabelecidos com as mestras, esclarecendo,
assim, os intervalos entre as observações, em cada turma acompanhada.
139
67
Esta dimensão não pode ser confundida com as “atividades esporádicas” explicitadas por Leal
(2009), em que, visivelmente, há um planejamento que não requer, como outras formas de
organização do trabalho pedagógico, um vínculo com as atividades precedentes e subseqüentes.
140
Tabela 1: Freqüência Absoluta das Atividades de Rotina Pedagógica, no 1º ciclo, nas nove
turmas observadas68
Categorias 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T TG
1- Oração 7 8 7 22 5 1 1 7 8 8 8 24 53
3- Chamada na caderneta 8 8 4 20 3 0 7 10 1 1 4 6 36
5- Contagem de alunos 0 2 1 3 1 0 0 1 2 1 4 7 11
6- Escrita do cabeçalho 8 8 8 24 0 5 5 10 4 7 6 17 51
7- Lanche 8 8 8 24 8 8 8 24 8 8 8 24 72
8- Recreio 8 8 8 24 8 8 8 24 8 6 7 21 69
9- Roda de conversa 0 0 1 1 4 0 0 4 3 2 1 6 11
68
Salientamos que as tabelas referentes, em específico, aos dados entre os anos-ciclo se encontram
no apêndice B.
142
69
Enfatizamos que a análise seguirá uma ordem fixa quanto às instituições: A, B e C e aos anos-
ciclo: 1ºs, 2ºs e 3ºs, independentemente da freqüência encontrada, a fim de facilitar a discussão dos
dados.
70
Estamos julgando como variação significativa freqüências absolutas iguais ou superiores a (5),
considerando o número de observações por turma (8).
71
Tradicional, nesse caso, assume o significado de histórico, “práticas que permaneceram,
constituindo-se numa ‘tradição’” (grifo nosso).
143
escola A), ficou claro que a mesma funcionava, também, como um forte mecanismo
de controle do comportamento dos educandos, materializando-se numa visível
estratégia (CERTEAU, 1994; 1985). Ainda nos remetendo à escrita do cabeçalho da
escola, inferimos que a baixa freqüência dessa tarefa nas demais turmas de primeiro
ano estava atrelada à ausência de registros sistemáticos no quadro. Em geral,
houve, naquelas turmas, mais atividades na modalidade oral. Como pudemos
observar nos dados encontrados, à medida que o aluno avançava no ciclo, essa
atividade de escrita do cabeçalho da escola tornou-se mais presente.
destacou por ter uma prática já consolidada e uma articulação entre as mestras
quanto a algumas atividades de rotina, a exemplo do calendário (2/4/19). As
variações entre os anos-ciclo não foram marcantes, somente no interior das turmas.
Verificamos diferenças mais significativas quanto aos segundos anos (1/0/8).
72 Reconhecemos nossas limitações, dado o número de aulas observadas (oito por turma, sendo
nove salas), entretanto, não podíamos deixar de assinalar a ausência de trocas constantes, encontros
sistemáticos na escola ou entre as mestras do 1º ciclo, de anos-ciclo semelhantes, enfim,
sobressaíam, a nosso ver, os encaminhamentos individuais. Diante desse quadro, consideramos
importante apontar algumas singularidades entre as mestras da escola C, visto que presenciamos
algumas interações, trocas, quanto às escolhas didáticas e pedagógicas.
146
vínculo direto com a prática. Nesse sentido, ele optaria pelas sugestões que se
articulam diretamente ao seu fazer, se compararmos com as prescrições oficiais,
como explicitamos no exemplo anterior. Na realidade, essa opção estaria articulada,
segundo Chartier, ao segundo modelo descrito por ela, caracterizado,
essencialmente, não pelos saberes teóricos difundidos, sobretudo, pelos “didatas”,
pesquisadores da academia, mas, pelos saberes da ação. A autora destaca que a
troca de “receitas” originadas dos “encontros e acasos” são mais freqüentes já que,
além de permitirem uma discussão espontânea entre colegas, possibilitam ajustes
pessoais, encaminhamentos específicos, que atendem ao cotidiano em que se atua.
Por esse motivo, são mais adotadas do que as publicações teóricas. Vejamos agora
o que ocorreu em relação ao aspecto da contagem de alunos.
73
Constituía-se num “semicírculo” formado próximo ao quadro. Nesse momento, os educandos
relatavam as experiências vivenciadas no final de semana.
147
educandos. Situamos essa atividade no que Leal (2009) identifica como atividades
permanentes ligadas a objetivos atitudinais, as quais buscam desenvolver o senso
crítico, o respeito aos colegas, a responsabilidade dos aprendizes frente às diversas
situações experenciadas no cotidiano intra e extra-escolar. Em nossas observações,
contudo, esta não se configurou como atividade permanente.
74
Nessa atividade, os alunos teriam que, a partir do registro de uma palavra no quadro pela mestra,
focar a atenção nas letras sorteadas, a fim de seguir a seqüência das mesmas e, por fim, formar a
palavra.
148
leitura de texto realizada por ela, por exemplo. Já no caso da professora do terceiro
ano, escola B, o desenho, quando priorizado, costumava vir acompanhado da
produção de texto. Em uma das aulas (1ª observação), os alunos, numa situação de
elaboração de uma propaganda, foram orientados a desenhar e investir na pintura
do produto escolhido. Nesse contexto, o desenho assumia um papel relevante,
dadas as características do gênero textual enfocado. Já na turma da professora do
segundo ano, escola C, verificamos que o desenho apareceu tanto em situação de
produção de texto coletivo, no exemplo da escrita de um convite, como após leitura
de texto realizada por ela (1ª e 2ª observações). Nesse último caso, os alunos foram
solicitados a “desenhar a história lida”, e mais, acrescentar desenhos novos de
acordo com as inúmeras possibilidades de continuidade da “história”.75
77
O livro de língua adotado era “Porta Aberta”, de CARPANEDA, Isabella Pessoa de Melo e
BRAGANÇA, Angiolina Domanico, FTD, 2005.
78
Embora esse dado não apareça na tabela, foi priorizado tanto no roteiro de entrevista, como nas
observações de aula. Nesse caso, os números aparecem na ordem: uso do livro didático e de outros
materiais impressos.
150
didático de língua portuguesa, nessa turma, portanto, não se constituía num fator
impeditivo para um planejamento sistemático. Esse procedimento, adotado pela
professora, indicava a precisão do que o aluno necessitava aprender, assim como a
forma como ele se apropriava dos diferentes saberes priorizados no ensino de
língua. Nesse caso específico, não notamos disparidades entre o tempo escolar,
marcado nos programas escolares e nos livros didáticos em cumprimento a uma
exigência legal e o tempo de aprendizagem, vinculado a rupturas e conflitos do
conhecimento, exigindo uma permanente reorganização de informações, e que
caracteriza toda a complexidade de aprender. Não é seqüencial nem pode ser linear,
na medida em que é sempre necessário o aprendiz retomar as antigas concepções
para poder transformá-las (PAIS, 1999, p. 31). A prática da professora Buana nos
ajuda a reiterar a idéia de que a flexibilidade curricular não pode ser confundida com
a ausência de seqüências didáticas claras, conteúdos estabelecidos em cada área
de conhecimento. Desse modo, Lüdke (2001) assinala que é preciso desmistificar o
pressuposto de que trabalhar com os ciclos de aprendizagem implicaria em
abandonar o aluno ao seu ritmo, mas, ao contrário, significa promover um ensino
adaptado à diversidade dos aprendizes, considerando cada caso em particular. Esse
tema será retomado no próximo capítulo.
79
Nesse caso, estamos considerando as atividades de “registro e correção de tarefa de classe”,
assim como os primeiros, segundos e terceiros anos. Como já fora destacado, ao longo das análises,
seguiremos essa ordem: escolas A, B e C; 1ºs, 2ºs e 3ºs anos, independentemente da freqüência de
ocorrência.
151
turmas (8/15; 10/15; 7/14); ao compararmos com as de primeiro (12/11; 8/13; 7/9) e
segundos anos (10/14; 8/7; 9/14) universo em que as diferenças entre proposição e
correção de tarefa de classe não foram significativas.
80
As atividades, nessa turma, eram registradas com letras maiúsculas de imprensa. Nas três turmas
de primeiro ano pesquisadas, apenas a professora da escola A, enfocava a letra cursiva.
152
81
Esse tipo de intervenção ocorria graças à utilização, predominante, no caso dessa atividade, dos
livros de geografia e ciências.
82
Os aspectos abordados por essa professora, quanto ao eixo de ensino de língua “análise
lingüística”, serão tratados em seção posterior desse capítulo.
153
O ano passado foi um ano muito complicado assim pra minha turma,
porque, como você percebeu, eu não recebi livro de português,
né?84 Então, sinceramente, eu fiquei meio perdida no primeiro
semestre. Então o que é que eu fazia? Eu passava um texto pra
eles, né? Um, um texto escrito no quadro, e... eu fui percebendo
que, com o passar do tempo, aquilo tava se repetindo e eles ou
copiavam o texto ou copiavam a atividade. (...) Eu lembro que no
início do ano a gente fez muito essa questão de... de análise
fonológica. Eu tirava as palavras do texto, né? Pra eles separarem
em sílabas. É... a gente fez muito ‘ditado mudo’, né? Não sei se é
essa a palavra. A gente fez muito ‘ditado mudo’, também de
palavras que tinham nos textos que a gente trabalhava. É... e teve
83
As questões de localização são aquelas facilmente identificáveis no texto, diferentemente das
questões inferenciais.
84
No caso dessa professora, a entrevista foi realizada no início do ano letivo de 2008.
154
85
Naquele ano, a Secretaria Municipal de Ensino de Recife (SMER), estabeleceu quatro Conselhos
de Ciclos, ao longo do ano, nas escolas. Constituíram-se em momentos de interações, trocas acerca
das “metas” alcançadas no concernente ao aprendizado dos educandos, do planejamento, da
avaliação, entre outros assuntos.
155
86
Universidade Salgado de Oliveira – Recife/PE.
156
essa dimensão regulativa, já que o uso do livro didático não pode ser permeado por
um processo que engesse a prática docente mas, ao contrário, que ajude o
professor a fazer uso desse material em articulação com outros que considere
importantes.
87
A partir de Conselho de Ciclo realizado nessa instituição em 28.09.2007, verificamos, entre outras
coisas, a não-articulação das idéias dessa professora com as demais docentes. Parecia haver
consenso, entre as mestras e equipe gestora da escola, quanto ao descompromisso daquela
profissional com o aprendizado dos educandos, dadas as ausências freqüentes de sala de aula, a
ausência de discussão, diálogo com as outras mestras da instituição.
157
Categorias 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T TG
1- Leitura de texto
7 9 5 21 3 7 5 15 8 5 5 18 54
pela mestra
2- Leitura de texto
2 6 3 11 1 1 4 6 1 0 5 6 23
pelo aluno
3- Leitura de texto
coletiva (com
condução da
1 6 3 10 1 3 8 12 2 1 4 7 29
mestra)
4- Leitura de texto
coletiva (sem
condução da
0 0 0 0 1 0 3 4 0 1 0 1 5
mestra)
5- Leitura
silenciosa 1 6 0 7 1 0 2 3 0 2 2 4 14
6- Leitura livre 1 3 0 4 1 0 0 1 0 1 0 1 6
7- Leitura de
enunciados pela
3 7 7 17 1 1 6 8 2 5 5 12 37
mestra
8- Leitura de
enunciados pelo
3 1 3 7 0 0 2 2 0 1 2 3 12
aluno
9- Leitura coletiva
0 0 1 1 0 1 3 4 0 1 2 3 8
de enunciados
Total Geral 18 38 22 78 9 13 33 55 13 17 25 55 188
88
Analisaremos esse eixo na seção seguinte.
159
92
Focaremos o que as mestras priorizavam quanto ao ensino do sistema de notação alfabética em
seção posterior.
93
P = Professora; A = Aluno(a).
161
pessoas comentam que não se pode ter ambição” (ele não tinha nada, ele
reclamava da vida. Quem pode ter feito essa galinha colocar ovo de ouro?)
A – Deus.
P – Pois é. Ajudou esse homem.
A – Tia, o que é mercadoria?
P – Tem mercadoria já pronta como o pão. Outras não, como o feijão.
Ambicioso é a pessoa não se contentar com o que tem. Ele quebrou a cara,
não tinha tesouro dentro da galinha. Ele ficou sem a galinha, sem ouro...
dinheiro é bom? É. Pra gente comprar nossas coisas, mas não para sermos
ambiciosos.
A – Invejoso.
(...)
A – Tia, é tarefa, é?
P – Claro, ontem a gente não fez.
A – Tia, hoje é dez, é?
P – É, hoje é dez. (início do registro do cabeçalho – 09:00h)
P – Psiu, cala a boca gente.
Atividade de classe
1) Vamos lembrar:
a) Como é o nome da história?
P – Por que Carlos Eduardo não está fazendo? Cadê o caderno? Não está aqui
não, viu? Deve estar na sua bolsa. Às vezes esquece e leva para casa que não
é para levar (a mestra sempre ficava com os cadernos de classe).
Wesley – Tia, tá na hora do lanche, tia.
P – Eu sei, mas dá pra esperar um pouquinho só.
a) Como é o nome da história que você ouviu? (colocou dois ‘x’, significando duas
linhas para responder a questão).
b) Quais os personagens? (duas linhas).
P – Seu caderno deve estar aí. Por enquanto, porque a gente vai para o recreio,
olhem o primeiro: como é o nome da história que você ouviu? A resposta será:
‘A galinha dos ovos de ouro’ (comentário da professora após aluna dizer: ‘Os ovos
da galinha de ouro’). “Quem participa dessa história”?
A – A galinha.
162
Então muitas vezes os... alguns..., uma grande parte dos meus
alunos terminam (sic) o ano com um perfil de saída semelhante ao
do aluno dela, que é primeiro ano. Então eu acho fraco. Eu acho
fraco, porque eu acho que o segundo ano, eu acho que seria muito
bom e é o que eu desejo, que eles terminem o ano lendo e
escrevendo. Não vai ter uma fluência, mas eles já vão ter um pouco
de compreensão da leitura, de ler palavrinhas simples, frases,
pequenos textos, de conseguir produzir também pequenos textos,
palavras, e querer, assim, conseguir deixar neles aquele desejo de
querer mais, pra que quando chegue no terceiro ano do 1º ciclo, ele
aprimore ainda mais a leitura e a escrita (Professora Cinara, 2º
ano, Escola C).
(...)
P – Não façam nada agora, só quando eu ler. Vamos ouvir a leitura, tá certo?
Vamos acompanhar a leitura, tá certo?
A – Eu já li.
P – Foi? Então leia pra todo mundo (Quem realizou a leitura foi Robert. O aluno,
164
na ocasião, leu sem titubear). “Alguém mais”? (outro aluno se candidatou e foi lá
na frente. Leu muito bem). “Alguém mais”?
Alunos – Everton! Everton! (o aluno conseguia se sobressair em todas as atividades
propostas pela professora).
P – Ele não quer. Então vamos lá, eu leio e vocês repetem. O título do texto é
“Lila” (a professora foi lendo e os alunos repetindo).
(...)
(...)
Solange – Mas você, como é que você tentava conciliar essas atividades com
as atividades de leitura e as atividades de produção de texto? Se era possível,
claro! Você vai relatar aquilo que foi possível fazer na sua turma com relação a
essa articulação dessas atividades de escrita com leitura e produção.
Professora Aécia – Leitura e produção (silêncio).
Solange – É, como é que ocorria a leitura na tua sala? Quem fazia a leitura,
fazia a leitura de quê?
Professora Aécia – Eu lia.
Solange – Você lia, não é isso?
165
Professora Aécia – Eu lia, mas eu chamava eles também para ler comigo. Eu
pegava o livro e chamava de um em um assim pra ler, chamava eles pra ler. Aí eles
liam ali, fazia aquela leiturazinha de um por um.
Solange – Do texto?
Professora Aécia – É, um textinho pequeno, claro, né? Fazia coisa grande não,
pouca coisa. Aí eles liam e dali eles sentavam. Aí eu pedia pra eles fazerem o quê?
Pedia pra fazer a cópia do texto. Era só isso.
Solange – E produção de textos? Não ocorreu não? Não deu pra fazer com
eles não?
Professora Aécia – Não. Como eu disse a você, eu só fiz nesse finalzinho mesmo.
Solange – Só no finalzinho, né?
Professora Aécia – Nunca criei texto com eles não.
Solange – Então as atividades eram mais voltadas mesmo pra escrita
alfabética?
Professora Aécia – Pra escrita, era. Texto não fiz não.
(...)
(...) Geralmente eu mandava eles ler. Eles liam... eles liam o texto,
né? Eu mandava um parar, outro continuava. ‘Pára você, continua
você’. Mas eu sei que isso não... não... eles não captam bem,
quando a gente pára e continua outro. Então eles não captam bem.
Aí o que é que eu fazia? Além de fazer isso, mandar cada um ler um
pedaço, depois eu lia sozinha pra eles ouvirem, né? Eles sentirem o
sentido do texto, porque a gente sabe que eles ficam dispersos, né?
Então, às vezes o outro não sabe nem aonde é que tá, parou aonde,
né? Então eu fazia isso pra eles lerem e depois eu lia pra eles
entenderem... (Professora Buana, 3º ano, Escola B).
94
Gostaríamos de enfatizar que, para além dos aspectos que foram ressaltados quanto a essas
atividades, a leitura de enunciados parecia ocorrer, também, de maneira “intuitiva”, não-intencional,
ou seja, como um item que não estaria na pauta de análise, como objeto de leitura na sala de aula.
Diferentemente da leitura de textos que sinalizava para uma clara intencionalidade, sobretudo porque
o texto seria utilizado na/para a proposição de atividades subseqüentes.
169
95
Lembramos que os textos, em geral, pareciam ser extraídos de cartilhas. A interpretação textual
limitava-se, com isso, a questões de fácil localização de informações (título, principais personagens,
entre outras).
96
Essa atividade não ocorreu de maneira descontextualizada: a partir do debate acerca do orçamento
participativo “criança” (OP Criança), os educandos elencaram as prioridades de lazer em seu bairro,
assim como na escola. Decorrente desse debate e explicitação das prioridades, a mestra solicitou
dos mesmos a cópia das frases.
97
O texto tinha cinco frases: A sapa saiu. O sapo ficou só. A sapa voltou. O sapo pulou. E a saudade
acabou.
98
Texto informativo extraído do Livro didático de português Porta Aberta, intitulado: “As corujas”.
170
Tabela 3: Freqüência Absoluta das Atividades de Compreensão Textual, no 1º ciclo, nas nove
turmas observadas
Categorias 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T TG
4- Compreensão/interpretação escrita 1 7 5 13 0 1 2 3 0 2 4 6 22
Por outro lado, essa prática não ocorreu na mesma proporção que as
atividades de compreensão/interpretação escrita do texto, que apareceram apenas
em 22 ocasiões. Nesse caso em particular, as diferenças entre as instituições
pesquisadas foram mais visíveis (13/3/6). Ao confrontarmos esses dados entre os
anos do 1º ciclo, observamos a quase ausência dessa tarefa nas turmas de primeiro
ano (1/10/11). Houve exclusividade em torno do trabalho de compreensão oral do
texto, acompanhado de atividades voltadas ao sistema de notação alfabética nas
turmas de primeiro ano, coincidindo com dados apontados por Oliveira (2004). Essa
evidência se confirma quando localizamos, nos primeiros anos, 14 momentos
dedicados a essa atividade e apenas um em que a compreensão escrita foi
99
Lembramos que, ao longo das análises, as freqüências serão explicitadas na ordem das
instituições: A, B e C e dos anos-ciclo: 1º, 2º e 3º anos, independentemente do índice encontrado.
173
priorizada. É pertinente realçar, ainda, que essa tarefa foi identificada no primeiro
ano da escola A, momento em que houve somente um item de localização de
informação direcionado ao texto lido.100 O mesmo quadro não se evidenciou entre os
segundos (14/10) e terceiros anos (18/11) se nos remetemos na ordem à
compreensão oral e escrita de textos, dado que encontramos acréscimo na prática
de compreensão escrita. Embora tenhamos notado maior prática de compreensão
oral entre os terceiros anos, haja vista as especificidades das turmas das escolas A
e C, a compreensão escrita, por outro lado, não evidenciou discrepâncias entre
essas turmas. Destacamos, apenas, que o terceiro ano da escola B não focou o
ensino de língua na compreensão escrita, visto que verificamos essa atividade
somente em duas das oito aulas observadas. Por outro lado, a prática de leitura e
produção textuais apareceu acoplada à compreensão oral de textos.
(...)
P – Como é o nome da história?
Alunos – Lila.
P – Quem é Lila?
A – Uma boneca.
Alunos – Uma menina.
P – A que horas ela viu a lua?
Alunos – Meia noite.
P – O que ela disse?
Alunos – A lua caiu na água.
100
A partir da leitura do enunciado, os alunos teriam que pintar o quadrado em que aparecia a
resposta correta: “a lua caiu no chão” ou “a lua caiu na água”. O texto intitulava-se “Lila”, porém, não
encontramos a referência desse material.
174
P – Vocês vão contar pra mim quantas palavras começam com “L”. Vamos lá!
(os alunos iniciaram a contagem).
A – Cinco, seis, treze.
P – Tudo isso?
A – Quatro tia.
P – Ana achou quatro. Quem achou quatro? Gente, aí tem palavras repetidas.
Quantas vezes têm o nome LILA?
Alunos – Quatro.
P – A palavra “LUA” tem quantas vezes?
Alunos – Duas.
Alunos – Três.
Alunos – Seis.
P – Tem certeza? Todo mundo tem certeza? Vamos contar: 1, 2, 3, 4, 5, 6. Seis
vezes o nome “LUA”. Entenderam a historinha? O textozinho? Então
eu vou fechar. Terminou o tempo (a professora juntou os dois lados do quadro
branco, fechando a visão do quadro de giz). O primeiro, preste atenção. Ela
começou a registrar: 1) Copie o texto em seu caderno.
A – Faça o texto em seu caderno.
P – Quando terminar de fazer o primeiro, vira a folhinha para fazer o segundo.
Eu não gosto quando vocês me dão o lápis para fazer a ponta eu escrevendo
no quadro. 2º) Circule no texto todas as palavras que começa (sic) com a letra “l” ou
“L”.
A – Tia, explica de novo.
P – Você vai copiar, quando terminar, vira a folha para começar o segundo. 3º)
Circule as palavras que o nome termina igual a LILA: MALA - BOI - COLA - BOLA.
4º) Pinte o quadrado ( ) onde aparece a resposta certa
segundo vocês vão circular todas as palavras que comecem com “L”, todas.
Aqui vocês vão circular todas as palavrinhas que terminam igual à Lila. LILA
termina com que pedacinho?
Alguns alunos – LA.
A – MALA.
P – Psiu! Pare. Certo. As palavrinhas. O outro, vocês vão pintar o quadrado em
que a resposta está certa. “A lua caiu no chão ou a lua caiu na água”?
A – Eu já descobri tia.
(...)
(...)
Solange – E quanto às atividades de escrita mesmo, elas partiam também
desse texto?
Professora – Não, eu trago dos livros mesmo, normal, eu pesquiso em outros livros
pra eles interpretarem, mas sempre eu deixo uma pergunta pra eles fazerem:
escreva a sua opinião sobre o texto.
(...)
101
As perguntas de localização de informação desse texto foram: o que o macaco fez no circo? O
nome dele era Marreco, é? O que aconteceu com o Marreco? Escreva sua opinião sobre o circo.
Tratava-se de um texto cartilhado intitulado: “O circo chegou”.
177
P – Qual?
A – Faço porque faço, porque faço!
P – E interrogativa?
Alguns – Você pensa que ele ia?
P – Isso. E negativa? Tem? Não vou...
Alunos – ‘Não vou e pronto!’
P – Qual é a frase que mostra que o elefantinho era novo?
Alguns alunos – Um bebê elefante.
P – E a frase que é usada para demonstrar a teimosia do elefantinho com seu
pai?
Alguns – Faço porque faço, porque faço.
P – Por quê?
Alguns – Porque tem ‘o pai dizia’.
P – E tem o quê?
A – Travessão.
P – Qual é a frase que demonstra a teimosia com a mãe?
Alguns – Não vou, não vou e pronto.
P – Que frase mostra que o pai do elefantinho vai falar?
A – ‘O pai dizia’.
P – Tem o quê?
A – Travessão.
P – Dois pontos e travessão. A outra é de opinião. Qual a sua opinião sobre o
elefantinho malvado?
A – Ele desobedecia.
A – O pai.
A – A mãe.
P – Eu quero saber se vocês concordam com a teimosia dele.
Alunos – Não.
P – Como devemos nos comportar com os pais?
A – Com amor.
A – Carinho.
P – Como se demonstra o amor? Com res...
Alguns – peito.
180
(...)
102
MACHADO, Ana Maria. O elefantinho malcriado. Editora Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 2005.
181
Ainda que não tenha sido tão marcante a diferença, verificamos mais
ocasiões dedicadas a atividades de (re)conto de texto e/ou de história pela
professora (21) confrontadas com o (re)conto de texto e/ou de história pelos alunos
(15). Pensávamos que pela natureza da atividade, com seu caráter lúdico,
motivador, encontraríamos uma adoção maior por parte das professoras dos
primeiros anos. Os dados confirmaram essa hipótese tanto em relação ao (re)conto
pela mestra (13/5/3), como pelo aluno (7/6/2). É importante assinalar, no universo
dos primeiros anos, que, no que se refere ao reconto de texto e/ou história realizada
pela professora, houve destaque à escola C, já que em todas as aulas observadas,
a mestra dedicou espaço a essa tarefa.
da base alfabética de escrita. Julgamos que essa seqüência era fixa, não havendo
espaço, portanto, para a atividade de conto. No universo das oito aulas, em apenas
uma o aluno teve a oportunidade de realizar o reconto de um texto. A mesma
ausência foi observada na turma do segundo ano da escola C. O índice inferior
dessas tarefas ficou com as turmas de terceiro ano. Como já frisamos em outras
análises, apenas o terceiro ano, escola B, demonstrava uma boa autonomia nas
atividades propostas: leitura, produção textual, entre outras. Todavia, não
identificamos investimento nas atividades de (re)conto entre as outras turmas de
terceiro ano.
Mais uma vez parece se confirmar nossa hipótese de que essa tarefa
ficaria, predominantemente, a cargo das professoras de primeiro ano, além da
predominância de realização da tarefa pela professora, não pelo aluno. Novamente
verificamos uma proximidade nas proposições das mestras dos primeiros e
segundos anos, conforme observamos, também, no bloco de atividades de leitura.
Embora nas atividades de conto, em específico, tenhamos notado a particularidade
da professora do segundo ano da escola B, não poderíamos deixar de enfatizar a
presença equiparada desse tipo de atividade nessa etapa do 1º ciclo. O mesmo não
ocorreu com relação aos terceiros anos, como vimos.
A – Viva a Deus e ninguém mais, quando Deus não quer, ninguém nada faz.
P – Isso (a professora prosseguiu com a leitura). Disse que quem interferisse ia
colocar o nome no quadro para ficar sem recreio. Os alunos permaneceram
silenciosos.
A – Ela passou uma parte.
P – Não. Ah, foi. Ele já estava com medo de quê?
Alguns alunos – De morrer!
A professora disse que o pescador pescou 50 peixes. Vendeu 48 e ficou com um.
A – 48. Então ficou com dois.
P – Eu me equivoquei. Ele vendeu 49 e ficou com um. “Sua esposa preparou o
peixe. Na hora do almoço, a mulher se engasgou e saiu o anel. O marido disse:
viva a Deus e ninguém mais, quando Deus não quer, ninguém nada faz. O rei
se surpreendeu quando ele entregou o anel e teve que dizer: viva a Deus e
ninguém mais... “Vamos fazer a tarefa. Depois eu deixo passar o livro. Eu
contei essa história ontem, eles gostaram. Eu não poderia deixar de contar pra
vocês”. (...)
Tabela 4 - Freqüência Absoluta das Atividades de Produção de Textos, no 1º ciclo, nas nove
turmas observadas
Categorias 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T TG
1- Produção individual de texto
ou de final de história 0 2 2 4 1 1 6 8 1 0 5 6 18
2- Produção de texto com auxílio
do professor 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 2 2
Total Geral 0 3 4 7 1 12 9 22 1 3 11 15 44
(...)
A – O que é para fazer?
P – O que é a primeira coisa?
Alguns alunos – Pintar!
P – E depois?
Alguns – Contar uma história (os meninos começaram a descrever as imagens).
P – Pintar, recortar e escrever.
A – Tia, é para pintar tudinho?
P – Que pergunta Júlia!
A – Tia, já botei a data.
103
Assim como no eixo de leitura, no caso da produção textual, a proximidade entre as turmas de
primeiro e segundo anos quanto ao investimento nessa atividade foi mais notória se comparada às
turmas de terceiro ano.
188
P – Hoje é trinta de outubro. É para pintar tudo, ‘bebê’! (sempre utilizava essa
expressão, chamando a atenção dos alunos, individualmente ou no coletivo).
A – Hoje é trinta.
A – Trinta de dez é tia? (referindo-se ao mês). A professora respondeu: “ainda”! (...)
P – Bora ver agora, recortar.
A – Espera aí, tia.
A mestra colou no quadro as imagens em um papel ofício, mas não dava para
visualizar. “Cada um era para trazer sua tesoura, não era”?104
A – Eu ‘truxe’.
P – Eu ‘trou-xé’.
A – Eu ‘truxe’, tia.
08:25h – Já pintaram?
Alunos – Já, tia.
A – Pode cortar, tia?
P – Pode. Eu vou dar uma folha pra colar (...)
A – Olhe, vocês vão dividir essa folha em quatro partes (recortar).
P – Não, dividir em quatro partes com a mão. Bora, a primeira cena. Qual é?
A – O menino jogando bola com a menina.
P – A segunda cena?
Alguns alunos – Quando perdeu a bola.
P – E a terceira?
A – O homem pegou a bola.
P – Que homem é esse?
Alguns alunos – Pescador.
P – A quarta cena?
Alguns alunos – O pescador dá a bola.
P – Eu quero assim ó (foi explicando que queria quatro linhas largas abaixo de
cada imagem. Destacou que não queria linhas estreitas, mas largas). “Quem
quiser, pode colocar mais linhas”.
A – Eu só vou fazer quatro.
A – Eu também.
104
A aula tinha início às 07h30min e encerrava às 11h30min.
189
08:35h – Eu quero uma história, viu? Não quero frases: ‘A menina é assim’, ‘o
menino é assim’. Eu quero uma história. ‘Era uma vez uma menina...’, dê nome
à menina, ao menino. Vamos colando. De um em um! (a mestra ficou sentada,
próxima ao birô, disponibilizando a cola aos alunos).
“É para colar de acordo com o que está ali, senão fica errado a seqüência
(sic). Colou, Lucas? Se colou errado, vai ficar errado, viu? Preste atenção
como é. Eu não vou dar folha mais não. Agora faz as linhas bem bonitinho e
escreve. Faz as linhas direito e escreve”.
(...)
08:45h – Façam quatro ou cinco linhas (a mestra registrou no quadro). “Tragam
palito de picolé de casa, pra fazer as linhas. Eu já disse a vocês”.
A – Eu vi uma régua.
P – Olhe, eu mandei vocês com um gibi ontem, não foi? Olhem aqui: uma cena,
duas cena (sic). Três cena, quatro cena (sic). Aqui 1,2,3,4 cenas. Tá vendo? É
como um gibi, termina essa cena, vai para outra. Só que aqui tem mais folhas.
Aqui tem muitas folhas e aqui não. Os ‘câmeras lentas’ pense (sic) que tem
informática e biblioteca, viu! (referindo-se aos alunos que se estendiam na
conclusão da atividade).
A – O que é câmera lenta?
A – Os tartaruga, menina! (sic)
A – Mateus, Poliana, Lúcia (os alunos riram).
P – Pronto!
A – Tia, pode passar dos cinco? (referindo-se à quantidade de linhas).
P – Pode. (os educandos perguntaram, ainda, aonde colocavam o nome. Ela
respondeu que o nome, o título do livro era no verso da folha. “Tem que ter um
título, não é”? (alguns alunos pediram para ver a explicação do gibi de perto, mas a
professora disse que, se fosse explicar a trinta e dois alunos, a aula acabava).
A – Vou botar ‘João e Maria’.
P – Tá muito manjado: ‘Um domingo na praia...’ (sugestão da professora).
A – Vamos pra praia.
(...)
190
P – Não, vocês vão deixar eu falar ou vão ficar querendo adivinhar? Se for, eu
me sento e vocês continuam tentando adivinhar. Antes de eu falar o que vai
fazer aí, a gente precisa relembrar algumas coisas. Quando a gente ia construir
uma história, a gente fazia como? A gente fazia com a ajuda de todos, não era?
A – Coletivo.
P – Muito bem, Denílson. O que é um texto coletivo? A gente faz com a ajuda
191
de todos. Agora a gente subiu um degrau. A gente pode fazer coletivo? Pode.
Mas hoje vai fazer sozinho. Pra gente construir uma história, a gente precisa
de quê?
A – Do título, tia.
P – Deixa eu anotar. O que mais?
A – Da pessoa, tia?
P – Que pessoa? Como que chamamos? Per...
Alguns alunos – Personagens.
P – A gente precisa de um título, personagens, história, o que mais? A gente
pode fazer uma história, inventar. Eu vou dizer algo que talvez vocês não
ouviram. Toda história tem um começo.
A – E um final.
P – O que tem que ter no começo? Um lugar, uma época. A gente vai começar
com um lugar e a época, não é isso?
A – ‘Era uma vez’.
A1 – ‘Há muito tempo atrás’, pode ser?
P – Pode. ‘Num castelo muito distante’, certo? Agora a gente vai pensar uma
coisinha. Essa história que a gente vai começar vai ser no tempo de hoje ou
muito antigamente?
A – Há muito tempo atrás.
P – Quem são os personagens?
A – ‘A princesa, o príncipe’. Tia, deixe eu falar.
P – Cilas, se continuar vai lá para baixo.
A – Tia, ‘era uma vez’.
P – Calma, guarde isso. O que é que vocês estão pensando que vai acontecer?
A – Uma princesa.
P – Já tem: rei, rainha, príncipe, princesa, guarda, o que mais?
A – ‘Cavalo. Motorista de cavalo’.
P – Motorista de cavalo. Presta atenção. Se a história é muito antigamente, não
existia motorista. Agora a gente vai começar a história.
Rosana – Posso começar?
P – Calma. Vai ter uma hora que eu vou parar e vocês continuam. Bora,
Rosana?
A – ‘Era uma vez...’
192
P – Você não começou com ‘era uma vez’. ‘Há muito tempo atrás’.
Rosana – Tinha um reino muito pequeno.
P – Deixem espaço para o título! É embaixo do quadrado! ‘Há muito tempo
atrás, tinha um reino muito pequeno...’
A – Que vivia.
P – Não, ‘onde vivia um rei e uma rainha’.
A – Ela tava grávida esperando uma filhinha, uma princesinha.
A1 – Como é que você sabe? Se ela tava grávida, a filha tava aonde?
Alguns – Na barriga.
P – Como você sabe que ela é bonita? Ultrasonografia? Mas nesse tempo não
tinha ultrasonografia.
A – ‘Algum tempo depois, a princesinha nasceu’.
A1 – ‘Tinha cabelos longos’.
P – Criança novinha não tem cabelos longos.
A – Ela era loira.
P – Eu vou colocar preto, loiro, vermelho?
Alunos – Loiro!
A – A pele branca.
P – ‘A pele branca como a neve’.
A – ‘O tempo foi passando e a princesinha crescendo’, tia (Rosana e Amanda
participavam ativamente, enquanto os demais, copiavam).
A1 – Ela foi para o lago.
P – Fazer o quê?
Rosana – Não, um dia ela viu o príncipe.
P – Calma.
A – Ela foi para o jardim.
P – Um dia ela foi aguar as flores do jardim de onde?
Rosana – Do reino, do ‘palhacio’.
P – ‘Palhaço’ não.
Rosana – ‘Palácio’, tia.
P – ‘as plantas do jardim do palácio e o príncipe estava’, como é que fala?
Rosana e Amanda – ‘Caminhando sobre a rua’ (interessante que Rosana tinha uma
participação oral muito ativa, mas não gostava de registrar o texto no caderno.
Costumava não concluir a atividade).
193
105
Branca de Neve e os Sete Anões. Reprodução para a língua portuguesa pela gráfica Record
Editora. Rio de Janeiro: Guanabara, 1968. Tradução: BRANCO, Gilda Castelo. Coleção Sacy.
195
livre de... de história, coisa desse tipo. Mas é que eu acho que é tão
difícil pro menino que tá se alfabetizando, Solange! Ao mesmo
tempo em que ele tem, ele ter que elaborar, né? Aquela história, ele
criar aquela história na cabeça, ele escrever também, porque
quando ele tá se alfabetizando, o silábico-alfabético, é aquele que
tá, que ele já tem a consciência, diríamos assim, de como é que,
que é o sistema, ele tem uma preocupação muito grande, quando
ele tá escrevendo. Então ele criar a história e ele ter essa
preocupação no papel, eu acho que causa uma confusão mental,
sabe? Talvez eu esteja subestimando meus alunos, sabe? Não sei.
Mas eu acho que fazer, escrever a música é uma coisa bem legal,
aquela música que ele conhece de cor, não é? Como eu fiz algumas
vezes, com as músicas do projeto do Frevo, né? Pedindo que eles
escrevessem, não a música inteira, porque a música inteira...
geralmente são músicas grandes, essas músicas que a gente
trabalhou, músicas de Alceu Valença, de Capiba, músicas com
quatro estrofes imensas, né? Aí eu pedia que eles escrevessem
uma parte da música, ou uma estrofe da música, sendo mais clara
(...) (Professora Célia, 1º ano, Escola C).
Houve uma nítida diferença no investimento dessa atividade por parte das
professoras dos terceiros anos. Embora a mestra, no depoimento acima, admitisse a
dificuldade em abordar a produção textual, como afirmamos anteriormente, houve
cinco ocasiões dedicadas à produção individual. Por outro lado, a professora da
escola A, investiu, apenas, dois momentos. Já na escola B, como já anunciado ao
196
106
Nos três exemplos, consideramos os momentos dedicados a essa atividade em articulação com as
aulas observadas.
197
107
O termo “didatizar” empregado nesse estudo assume a concepção de Chevallard (1991) quanto ao
processo de transformação que torna um saber sábio num saber a ser ensinado (transposição
didática externa) e desse em um saber que é efetivamente ensinado (transposição didática interna).
108
Enfatizamos que as observações foram realizadas no segundo semestre, mais precisamente no
período de junho a dezembro de 2007.
198
109
Estamos considerando como escrita “espontânea” atividades como a do “ditado mudo”, cuja escrita
é norteada pelo desenho, a escrita “livre” em que a professora orienta o aluno a escrever um
determinado número de palavras, dentre outras.
201
110
Ao tratarmos de categorias que se desdobram em “atividades sem e com auxílio da mestra”,
antecipamos que a análise seguirá essa ordem independentemente da freqüência encontrada.
203
contos), a partir do registro escrito da mestra. No caso dessa última turma, houve
ausência total da prática de leitura de palavras.
111
Comentamos esse aspecto na seção que tratou de “rotina pedagógica”, no momento em que a
professora se remeteu à ausência do livro didático e as opções presentes, naquele contexto, para
superar a lacuna desse material.
112
Assim como nas seções anteriores, ao analisarmos a freqüência entre os anos-ciclo,
explicitaremos na ordem: 1º, 2º e 3º anos, independentemente do número encontrado.
204
113
As palavras estavam escritas uma abaixo da outra, em maiúscula de imprensa, tipo de letra
enfocado nessa turma.
205
(Os alunos, em sua maioria, ficaram mais próximos ao quadro. Cremos que o
objetivo era garantir melhor visualização).
Marília – L A D E I R A (realizou a partição oral da palavra em letras).
P – Palavra três. Posso pronunciar? VAMPIRA! (Larissa apontou a palavra
VAMPIRA).
P – Palavra quatro, JACARÉ.
A – GA.
P – GA? Tem gente dizendo que é essa: JACARÉ e tem gente dizendo que é
essa: JOSÉ. JACARÉ tem quantas sílabas?
Alunos – Três.
P – Começa com que sílaba?
Alguns – JA.
P – E a outra? A sílaba do meio? CA.
A – Mércia acertou.
P – Posso dizer a quinta? Palavra cinco. A palavra cinco é PIRATA. PIRATA é
essa? Ou é essa? POEIRA.
A – É PI, não é PO não!
P – É.
(...)
É... eu acho que de todo não foi perdido não, entendeu? Mas eu
acho que se eu tivesse é... assim... um suporte, né? Até pra não
ficar somente na... naquele
conto, naquela... e também os contos dos irmãos que eu usei, os
contos dos irmãos Grimm, e os originais, né? Não as adaptações.
Eles eram muito grandes. Então teve contos que no final eu, eu tava
cansada de ler e eles tavam cansados de ouvir, entendeu? Então
assim, se eu tivesse como diversificar, aí eu acredito que ia ser
melhor, né? Então uns que sabiam ler é... pouco ou somente
algumas palavras. Se eu tivesse um... sei lá, uma quantidade
interessante de livro (didático), eu poderia fazer leitura, mandar
trabalho pra casa, mas eu nunca podia fazer isso, né? Então assim,
114
É importante dizer que esse trabalho com reescrita de contos foi motivado a partir de um encontro
de literatura do qual a professora participou. No primeiro semestre, a ênfase, conforme depoimento
de entrevista realizada, se deu em cópia de textos diversos, interpretação escrita (questões de
localização) e atividades que focavam o sistema de escrita alfabética, a exemplo da partição escrita
de palavras em sílabas.
207
o ano não foi perdido, mas também não foi aonde eu queria chegar
(Professora Bianca, 2º ano, Escola B).
A partir do depoimento dessa professora (2º ano, escola B), ficou evidente a
dificuldade que teve em planejar seqüências didáticas, metodologias específicas, a
partir da adequação dos diferentes eixos de ensino de língua para o ano-ciclo em
que atuava, somando-se a essas prioridades, ajustar seu ensino às diferentes
demandas de aprendizagem de sua turma. Atribuiu uma importância significativa ao
livro didático, naquele ano ausente em sua turma, o que, na sua compreensão,
prejudicou os encaminhamentos em sala e, por conseqüência, o aprendizado dos
educandos. A mestra admitiu não ter conhecimento e experiência com aquela etapa
de escolarização, o que pode ter influenciado, diretamente, em suas escolhas
assistemáticas, objetivando, a partir da experiência em sala, praticar o que, na sua
ótica, daria certo, o que promoveria o avanço do aprendiz. Sobre esse assunto, a
pesquisa realizada por Oliveira (2004) revelou que não havia, naquele contexto,
conforme proposta curricular pedagógica em vigor, competências específicas de
língua portuguesa para cada ano-ciclo, o que causou, de acordo com depoimentos
de professoras do 1º ciclo, uma imprecisão nas práticas quanto ao que priorizar em
cada ano do ciclo. Como vimos, essa problemática parecia persistir no contexto em
que observamos as aulas, quatro anos depois. Na ausência do livro didático, no
caso dessa professora em particular, o quadro ficou ainda mais problemático.115
115
Destacamos que, na ocasião da coleta de dados em 2007, a proposta curricular pedagógica da
Rede Municipal de Ensino de Recife (SMER) não tinha sofrido mudanças em relação ao modelo
encontrado em 2003.
208
realização da tarefa, ela atribuiu uma pontuação a cada equipe, conforme escreviam
as palavras. Por fim, registrou-as no quadro. A última etapa dessa atividade
constituiu a reflexão acerca do número de sílabas, letras, sílaba inicial, entre outras
propriedades do sistema de escrita alfabética. A partir dessa seqüência didática,
recorremos, a seguir, a um trecho da aula observada, com o intuito de ilustrar como
a mestra encaminhou a atividade de descoberta de palavras. Vejamos o que
ocorreu:
10:56h – (Retomou-se a atividade. A aluna foi mostrar seu diário. A professora disse
que ela escrevesse e mostrasse tudo). “Um, dois, três, Vamos! CABO tem
quantas sílabas?”
Alunos – Duas.
P – Humberto está afiado. EMÍLIA.
Alunos – Três.
P – Poderia ser E-MI-LI-A, mas vamos colocar assim E-MÍ-LIA! ‘OLÁ’, bora!
Alunos – Duas.
P – Qual é a primeira? E a segunda? (nesse momento, alguns alunos
participavam, outros não).
A – Tia, vamos ensaiar.
P – A gente vai, calma. Tia tá apressada, não é? Ah, não leram não, não é?
Vamos ler, qual é a primeira letra? A-MO-LA-DA. João já contou? Quantas
têm? André, eu vou dizer a sua mãe o que está fazendo na escola. São cinco,
é? São cinco ou quatro? Vamos contar!
P – Qual é a primeira sílaba?
Alunos – A.
P – Isso, só uma letra. E a última?
Alunos – MO.
P – Não. Vamos contar. E quantas letras?
Alunos – Sete.
P – Essa é uma palavra grande?
Alunos – É.
P – Por quê?
Alguns alunos – Porque tem muitas letras.
P – Quantas vogais? E consoantes? Eu acho que essa palavra é mágica. Se eu
tampar o A e o DA? MO...
Alunos – MODA.
P – MOLA. Essa palavra é mágica. Encontramos MOLA dentro de AMOLADA.
(...)
(...)
P – Jailton, preste atenção. CAJÁ tem quantas sílabas?
Jailton – Três.
P – Três? Só responda o que sabe. Pronto, Girleide. Olha o que Larissa
observou.
Larissa – CAJÁ o C é na frente, JACA não.
P – Diga Larissa.
Larissa – São as mesmas palavras, só estão trocadas de lugares.
(...)
Como vimos, essa atividade foi localizada nos primeiros e terceiros anos,
não tendo ocorrido entre as turmas de segundo. Mais uma vez, realçamos que a
progressão das atividades de língua no interior do 1º ciclo estava vinculada não só
às expectativas quanto ao que se esperava alcançar em cada ano, considerando o
que estava prescrito em documentos oficiais,116 livros didáticos ou, até mesmo, às
crenças das professoras, conforme anos de experiências no magistério,117 mas,
também, às suas escolhas, que pareciam estar em conformidade com o perfil da
turma em que trabalhavam.
116
Enfatizamos que esse estudo não analisou a Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino de
Recife vigente (2003), no contexto da coleta, visto que a mesma não priorizava, em seu formato de
organização, a progressão das competências dos diferentes componentes curriculares por ano-ciclo,
concepção que ganhou centralidade na presente pesquisa. Contamos com as práticas pedagógicas,
orientadas por vários materiais impressos, a exemplo da própria proposta, assim como suas
concepções, a fim de nos aproximarmos do que estava regendo a lógica de progressão empregada
pelas docentes.
117
Para uma análise detalhada dos perfis profissional e acadêmico das mestras, consultar
metodologia.
213
1- Escrita de letra 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
9- Escrita de frase/escrita de
frase "espontânea" 1 4 3 8 3 1 2 6 1 4 1 6 20
interior do 1º ciclo. Ora este se aproxima do universo dos primeiros, ora dos terceiros
anos. Quanto ao número localizado entre as turmas de terceiro ano, enfatizamos o
já dito: as especificidades das turmas das escolas A e C, cujas práticas,
resguardadas as suas diferenças, focalizaram o ensino na escrita alfabética.
compõem as palavras (MORAIS, 2005; MORAIS; LEITE, 2005), foi pouco priorizada,
também, entre as turmas de primeiro ano.
Ao nos depararmos com esse quadro, postulamos, com base no que vimos
analisando até o momento, que, entre as turmas de primeiro ano, a atividade
priorizada foi a leitura e escrita de palavras. Do mesmo modo, considerando os
terceiros anos, a unidade privilegiada foi o texto, com diferentes enfoques (com
exceção do 3º ano da escola A). Com isso, conferimos, principalmente aos
segundos anos, tanto nos momentos de ditado de frases, quanto na própria
proposição de escrita de frases (incluindo a escrita de frase espontânea), maior
espaço nessa prática. Esse dado parece ganhar substância no momento em que
registramos nove ocasiões em que essa atividade foi proposta, entre aquelas
turmas. Dessas, apenas a professora do segundo ano da escola B, cuja prática
estava ancorada na reescrita de contos, quase não realizou esse tipo de tarefa, com
o registro de apenas um caso. Convém ressaltar, ainda, que não houve grande
discrepância entre a proposição de leitura de frases, com 22 ocasiões (conforme
tabela 5) e sua escrita, com 20 momentos (conforme tabela 6).
Por fim, ainda nos remetendo à seção que trata das atividades de escrita,
não observamos nenhum momento reservado, entre as práticas, à escrita de letras,
assim como à escrita de sílabas. Essas unidades, quando analisadas, foram
priorizadas no interior das palavras já escritas: seja nos poucos momentos de
reflexão fonológica ou, prioritariamente, nos contínuos exercícios de contagem de
letras e sílabas das palavras, partição escrita de palavras em sílabas e/ou em letras.
Atribuímos essa freqüência à vinculação que vem se estabelecendo na literatura
específica entre atividades que priorizam aquelas unidades lingüísticas e um ensino
desprovido de significação para os aprendizes. Nossa hipótese é a de que a
articulação da análise dessas unidades menores (letras, sílabas), no contexto das
palavras e frases, pode realçar, contrariamente à concepção acima exposta, a
intenção em desenvolver um ensino que promova uma aprendizagem significativa,
alicerçada numa perspectiva para o letramento. Nossos dados reiteram esse
pressuposto, na medida em que verificamos maior investimento na escrita de
palavras e frases.
numa perspectiva para o letramento, sim, (SOARES, 2003b; 1998; CRUZ, 2008),
mas, por outro, garantir o ensino sistemático das propriedades do sistema alfabético
de escrita (MORAIS, 2005).
1- Cópia de letra 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1
2- Cópia de sílaba 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
3- Cópia de palavra 3 0 0 3 3 0 0 3 0 1 1 2 8
4- Cópia de frase 0 2 3 5 3 0 2 5 1 1 0 2 12
5- Cópia de texto 2 6 3 11 0 7 1 8 0 1 1 2 21
Total Geral 6 8 6 20 6 7 3 16 1 3 2 6 42
118
Esse exemplo ilustra o quanto o trabalho com a heterogeneidade, por vezes, se limitou a
atividades pouco desafiadoras no que se refere ao avanço do aluno, no aprendizado dos diferentes
objetos do saber em língua portuguesa. Aprofundaremos esse aspecto no capítulo seguinte.
119
Conforme evidências já ressaltadas na presente análise.
220
palavras quanto ao número de letras, entre outras. Cabe ressaltar que, no caso
dessa turma, em uma das aulas, a cópia ocorreu num momento posterior à
produção coletiva de um texto. 120
120
Cabe enfatizar que, no segundo semestre, esse foi o único momento em que a professora realizou
a produção textual (e coletiva) na última aula observada, no final do ano letivo (10.12.2007).
Atribuímos, mais uma vez, a ausência dessa prática ao perfil de seus alunos e, conforme depoimento
em entrevista, à ausência de “um prepar-se” para esse trabalho.
221
121
Nessa turma, os alunos tinham uma prática consolidada de pesquisa ao dicionário. Julgamos que
essa destreza estava vinculada, essencialmente, ao uso contínuo desse material, por parte da
mestra.
122
Tratava-se de um aluno cujo desempenho, segundo professores e demais profissionais da escola,
estava comprometido, em decorrência de um acidente que tinha ocorrido com ele: uma queda de
barreira, que o atingiu no bairro em que morava. Não sabíamos o nível de comprometimento de seu
estado de saúde, mas destacamos que as atividades direcionadas a ele não o desafiavam a avançar
na escrita e na leitura das diferentes unidades enfocadas nas aulas de língua.
222
Categorias 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T TG
1- Contagem de letras em sílabas 0 0 3 3 0 0 0 0 0 1 0 1 4
2- Contagem de letras em palavras 4 2 3 9 5 1 0 6 3 2 1 6 21
3- Contagem de sílabas em palavras 3 2 6 11 6 1 0 7 6 5 2 13 31
4- Contagem de palavras em frases/textos 1 0 0 1 3 0 0 3 0 0 0 0 4
Total Geral 8 4 12 24 14 2 0 16 9 8 3 20 60
123
No caso das primeiras turmas (terceiros anos A e C), os alunos estavam se apropriando da escrita
alfabética, por outro lado, os alunos do terceiro ano da escola B, prosseguiam realizando leitura e
produzindo textos autonomamente.
124
Havia uma preparação de toda a escola para o reforço com os alunos. Alguns eram liberados
antes do término da aula, a fim de realizar um trabalho mais específico com os que mantinham
dificuldades, sobretudo, na área de língua: leitura e escrita.
224
125
Em se tratando da rede municipal de Recife, a proposta curricular vigente até então, não expunha
as competências por ano-ciclo, portanto, essa perspectiva de progressão, à qual nos referimos,
inexistia.
126
Ao nos reportarmos à “progressão homogênea”, estamos nos referindo às expectativas existentes
nos diversos materiais didáticos quanto à construção dos objetos de saber pelos educandos,
considerando, no nosso caso, cada ano-ciclo. Como vimos, essa não homogeneidade esteve
presente em nossos dados, a exemplo de duas turmas de terceiro ano, cuja prioridade, no caso do
ensino de língua, ainda estava centrada na apropriação da base alfabética de escrita.
227
em uma das aulas observadas, a leitura dos enunciados por um dos educandos,
antes mesmo do registro da mestra no quadro. Como se tratava sempre dos
mesmos itens, destacou o aluno, não era difícil “adivinhar”. Entre os enunciados,
constavam os que solicitavam a partição das palavras. Na ocasião, a professora
ficou surpresa, porém, para o aluno, tratava-se de algo normalíssimo, já que se
repetia sempre. Mais uma vez sublinhamos que não houve o que estamos
denominando de progressão homogênea, mas, sim, prioridades estabelecidas pelas
mestras, em função das especificidades de suas turmas, do perfil dos educandos.
Tabela 10: Freqüência Absoluta das Atividades do Sistema de Notação Alfabética: Nomeação,
Identificação e Produção, no 1º ciclo, nas nove turmas observadas
Categorias 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T TG
1- Nomeação de letras em posição
"X" 5 1 2 8 5 0 0 5 3 0 1 4 17
2- Nomeação de letras "X" em
posição "X" 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1
3- Identificação de letras em posição
"X" 2 0 0 2 2 0 0 2 1 0 0 1 5
4- Identificação de letra "X" em
posição "X" 2 0 2 4 0 0 0 0 0 0 0 0 4
5- Identificação de letras (iguais) em
palavras 2 0 0 2 4 0 0 4 0 0 0 0 6
6- Identificação de letras (iguais) em
sílabas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
7- Identificação de sílabas em
posição "X" com correspondência
escrita 4 0 0 4 3 0 0 3 3 0 0 3 10
8- Identificação de sílabas em
posição "X" sem correspondência
escrita 1 0 0 1 3 0 0 3 3 0 0 3 7
Total Geral 29 5 10 44 25 0 2 27 17 3 8 28 99
127
Trata-se da mesma situação didática citada no exemplo anterior de nomeação de letras.
232
apenas dois casos em que esse tipo de atividade foi localizada sem correspondência
escrita (1ºs anos das escolas B e C). Comparando os dados apreendidos entre as
escolas, referentes ao primeiro item, identificamos maior investimento por parte das
professoras da escola A (9/1/2). Já em relação aos anos-ciclo, não observamos
diferenças significativas (6/3/3). Do mesmo modo que em outras análises, nessa em
particular, destacamos que, no conjunto das turmas de terceiro ano, apenas a escola
A priorizou esse trabalho de identificação de aliteração/rima com correspondência
escrita. Mais uma vez atribuímos a natureza do trabalho com análise fonológica ao
perfil da turma da mestra.
Alunos – Não.
P – Como lemos o ‘D A’
Alunos – DA.
P – Então é essa terceira aqui, não é?
(...)
128
“História” do livro: Clássicos eternos das virtudes. O cavalo e a raposa. Wkids editora ilustrações.
235
129
Texto sobre o folclore, elaborado e adaptado pela professora, para fins didáticos.
130
Essa atividade se estendeu de modo que a mestra recorreu a outras palavras disponibilizadas na
sala e refletiu com os alunos acerca de outros aspectos: vogais, consoantes, comparação de palavras
quanto ao número de letras, contagem de sílabas, contagem de letras, identificação de letras
repetidas, dentre outros.
131
Nesse caso: 1º A, 1º B e 1º ano C.
236
132
A mestra enfatizou que costumava escrever e adaptar textos de curta extensão com a finalidade
de realizar a leitura e a análise das palavras com os alunos.
238
Total Geral 7 2 5 14 3 0 2 5 4 2 2 8 27
133
Palavras extraídas de músicas carnavalescas, já que Célia e mais duas professoras da escola C,
participavam, conjuntamente, de um projeto didático.
240
134
Essa situação ocorreu na primeira observação de aula da professora Bernadete, primeiro ano,
escola B.
241
alunos teriam que compará-las e escrever a palavra maior (rumba ,samba, elefante
e tromba). Vejamos o que ocorreu durante a correção desse item da atividade:
135
Destacamos que foram realizadas oito observações de aula em nove turmas do 1º ciclo, no
segundo semestre de 2007.
243
silábica. Mesmo assim, o enfoque dado não objetivava esse tipo de análise
específica. É interessante ver que a atividade de comparação de palavras quanto à
presença de letras iguais/diferentes ocorreu em articulação com a análise de rimas
em algumas palavras. Para isso, a professora sublinhou que havia casos de
palavras que rimavam e terminavam com as mesmas letras, assim como palavras
que rimavam e terminavam com letras diferentes. Recorreu ao poema explorado na
aula, para realizar esse tipo de análise: ‘doente’ e ‘contente’; ‘dois’ e ‘arroz’; ‘oito’ e
‘biscoito’; ‘dez’ e ‘pastéis’. Ao refletirem sobre as rimas, os alunos tentaram localizar
o único par de rimas no texto que terminava com as mesmas letras. Chegaram à
conclusão de que eram as palavras ‘oito’ e ‘biscoito’.136 Essa atividade se constituiu,
assim, num rico momento de reflexão acerca das relações grafofônicas das palavras
(MORAIS; LEITE, 2005). Portanto, um forte aliado dos educandos na empreitada de
entender o funcionamento de nosso sistema de escrita.
Tabela 12: Freqüência Absoluta das Atividades do Sistema de Notação Alfabética: Exploração,
no 1º ciclo, nas nove turmas observadas
SNA (Atividades de Exploração)
136
7ª Observação, professora Áurea, terceiro ano, escola A.
244
quase sempre, essa iniciativa não ocorreu em paralelo a uma prática de reflexão
coletiva. Pareceu-nos, com isso, ficar a cargo do aluno a apreensão dos diferentes
tipos de letras, assim como os contextos adequados para utilizá-las.
137
O livro didático adotado era “projeto Pitanguá”.
138
Tratava-se de uma aluna especial (com limitações físicas) que ainda estava se apropriando da
escrita. Notamos um acordo entre as professoras dessa escola, no que se refere ao trabalho com a
letra cursiva: esse enfoque parecia ocorrer, apenas, a partir do segundo ano, embora os alunos
conhecessem as diferenças entre os tipos de letras já no primeiro ano.
246
139
Cinara (segundo ano) juntamente com Célia e outra professora do primeiro ano da mesma escola,
estavam com um projeto didático relacionado ao frevo. Por esse motivo, utilizaram várias músicas
durante as aulas de língua, a fim de explorarem diversos eixos como leitura, produção textual e
análise de palavras.
247
A fim de ilustrarmos, tomamos por base uma das aulas do primeiro ano da
escola A. Nessa turma, acompanhamos a reflexão coletiva sobre a palavra
‘maremoto’, após leitura de “história” realizada pela professora. A análise esteve
centrada no número de sílabas, letras, vogais, consoantes e outros aspectos. Em
uma outra aula, a professora entregou uma palavra para cada educando, em
seguida, orientou-os a realizar a leitura, bem como a contagem das letras, vogais e
consoantes, por escrito. Encaminhamento semelhante ocorreu no primeiro ano da
escola B: após a leitura do conto de ‘Chapeuzinho Vermelho’, pela professora, ela
analisou, junto aos aprendizes, as duas palavras do título, contemplando a
contagem de vogais e consoantes. Chegou a enfocar, também, as vogais e
consoantes repetidas nas palavras. Reportando-nos a outra situação, vimos que, a
partir da escrita de palavras com o alfabeto móvel, a professora conferiu as palavras
ditadas, momento em que realizou com os aprendizes, considerando cada grupo, a
leitura das palavras, assegurando a análise de suas partes, incluindo as vogais e
consoantes.
(...)
A mestra registrou no quadro. ‘ÁLVARO, VITOR e BÁRBARA’ foram ajudantes.
Quem é ajudante hoje?”
Alguns alunos – DAFNNY.
P – Deixa eu colocar os três. Pode ser os três?
Alunos – Não.
P – DANILO, DAFNNY e DANIELA. Se a primeira letra é igual, o que faz?
Letícia – Vai para a segunda.
P – Eita, a segunda é igual. E agora?
Alguns alunos – A terceira.
P – Observem a letra ‘F’ e ‘N’. Qual letra vem primeiro?
Alguns alunos – ‘F’.
P – Então Dafnny. E agora vamos ver Danilo e Daniela. Depois do ‘N’ vem ‘I’
também. Olhem o ‘I’ e o ‘L’. Qual vem primeiro? ‘E’. Então é...?
Alguns – Daniela.
P – Primeiro vem quem?
140
Enfatizamos que na escola C, em particular, nas salas das professoras do primeiro e segundo
anos, estavam afixadas, na parede da sala, as letras do alfabeto com os nomes dos alunos em ordem
alfabética. No caso da primeira professora, ocorria a utilização cotidiana do alfabeto, já que tinha um
momento da aula em que recorria aos ajudantes do dia (sempre dois alunos), escolhidos a partir da
ordem alfabética.
249
Tabela 13: Freqüência Absoluta das Atividades de Exploração: Análise Lingüística, no 1º ciclo,
nas nove turmas observadas
1- Ortografia 0 5 4 9 1 0 1 2 3 3 5 11 22
2- Nomenclatura gramatical 0 3 2 5 0 2 4 6 0 1 1 2 13
3- Conhecimentos lingüísticos 0 0 1 1 1 7 4 12 0 1 0 1 14
3- Pontuação 0 0 1 1 2 0 8 10 0 1 1 2 13
Total Geral 0 8 8 16 4 9 17 30 3 6 7 16 62
disso, examinamos se, na esteira dessas atividades, houve articulação (ou não)
dessa prática com os aspectos da textualidade.
141
Lembramos que, ao longo da análise, estaremos considerando por ordem: escolas A, B e C;
primeiros, segundos e terceiros anos, independentemente da freqüência encontrada.
142
Primeiros, segundos e terceiros anos.
143
Além dos cartazes com o registro de letras e alguns padrões silábicos com os diferentes tipos de
letras, observamos, também, alguns textos adaptados para fins didáticos, criados pela professora (a
exemplo daquele que tratava do folclore), assim como alguns poemas. Esse poema de Vinícius de
Moraes era um deles.
252
logo deu a resposta. Não satisfeita, perguntou a eles que letra estava faltando.
Nesse momento, alguns responderam. A professora continuou intervindo no
exemplo de hipossegmentação nas palavras ‘de luz’ (escrita ‘deluz’). Bernadete
explicou que se tratava de duas palavras, por essa razão, tinham que segmentar.
Embora não tenha sido a tônica de sua prática, conforme as aulas por nós
acompanhadas, no decorrer da entrevista, essa mesma professora afirmou ser
possível enfocar as classes de palavras, nas aulas de língua, de maneira
253
significativa. E, mais, sem os alunos notarem que estavam sendo expostos a esse
tipo de atividade.
144
Em uma das questões, a mestra solicitou que os alunos passassem as palavras do singular para o
plural: ex. 1 flor, 2 ____; houve, ainda, uma questão em que eles teriam que passar as palavras
sublinhadas para o feminino. Ex. O gato bebeu o leite da tigela e, por fim, completar as frases dando
uma qualidade às coisas. Ex. O cabelo ____ da princesa encantou o principe (registro de palavra sem
acento agudo); Minha pipa ____ era novidade nos céus (6ª observação, 2º ano, escola B).
254
145
Os alunos receberam, já no final do ano, um kit com alguns livros de literatura, entretanto,
conforme algumas alunas, esses livros (3) seriam devolvidos ainda no final do ano.
146
Observamos algumas escritas ortograficamente inadequadas, presentes nas atividades, a
exemplo de: nebrina, nervoeiro.
147
Trata-se de um trecho referente à reescrita do conto: ‘Os doze caçadores do rei’, dos Irmãos
Grimm, realizada na primeira observação.
255
A – Princesa.
P – Isso. ‘Uma jovem princesa muito linda’. E aí? O que é que essa princesa
estava fazendo?
A – O príncipe deu um anel à princesa.
P – Vamos lá! Por que ele deu o anel? Quando uma pessoa pede outra em
casamento eles ficam...
Alguns alunos – Noivos.
P – Estava noiva de quem?
Alguns alunos – Do príncipe.
P – Mas como é que eu posso dizer? Eu já digo que ele sabia que o pai estava
doente? Como posso dizer?
A – ‘Um dia...’
P – Muito bem moça! ‘Um dia, ele recebeu a notícia de que seu pai estava
doente e perto de morrer’. Vamos recapitular a história. Coloquei ‘estava’ duas
vezes. Eu vou colocar tudo no lugar: ‘estava perto de morrer’. O que o príncipe
fez? Espera aí, eu tô com meu noivo, aí ele recebe a notícia de que tem que ir...
A – Ao palácio.
P – O príncipe decidiu voltar ao palácio pra quê?
A – Pra ver o pai dele.
P – Mas aí eu não posso colocar ‘o pai dele’. O que eu coloco?
A – Pra ver seu pai.
P – Ele deu o anel à princesa... a gente já colocou princesa. A gente pode
trocar por que palavra?
A – Ela.
P – Para que ela não esquecesse dele. E ele foi?
A – Embora.
P – Mas o que é que a gente pode colocar?
A – Viajar.
P – ‘E foi viajar’
(...)
Trecho da reescrita do conto: Os doze caçadores do rei, Irmãos Grimm.
256
148
Como exemplo, encontramos: “eu sou belo, eu sou bela” (referindo-se à foca); “eu sou mau, eu
sou má” (referindo-se ao lobo). Após a leitura, tinham que completar as frases. Exemplo: A foca
falou:________; O lobo falou: ________.
258
(...)
P – O tatu que era enfermeira. Tá certo? Era a enfermeira. Que é o tatu. Olha
aqui, o doutor era o peru. E aqui é o quê?
Alunos – Masculino.
P – Vocês vão ver isso algumas vezes, a ovelha, tem cavalo e a égua, o galo e
a galinha. Tem masculino e feminino. Cobra já não tem, peru, sapo. Tem sapa e
sapo?
A – Tem.
P – Tatu tanto faz ser feminino como masculino. Na língua portuguesa tem
muita coisa que vocês vão aprender ao longo do tempo (...).
149
Livro didático adotado: Projeto Pitanguá (equivalente à 4ª série).
259
utilizada pela professora ‘na língua portuguesa tem muita coisa que vocês vão
aprender ao longo do tempo’, parece indicar que essa prática não se constituía
numa prioridade em sua turma, nessa etapa de escolarização, como atestamos ao
longo das observações.
No universo das turmas de terceiro ano, vimos, conforme a tabela 13, que a
proposição de atividades, remetendo a algum nível de análise lingüística
considerada nessa seção, também não se constituiu numa prioridade na prática da
professora do terceiro ano da escola A; presenciamos tal tratamento em apenas três
ocasiões. Uma delas ocorreu a partir de uma seqüência de atividades, na quinta
observação. Naquele dia, após a leitura do conto ‘A bela adormecida’,150 a
professora realizou a compreensão oral do texto e seguiu com o registro de uma
atividade, com o objetivo de garantir a interpretação escrita do conto, limitando-se a
questões de localização explícita de informação. Em seguida, tinham que operar
com as palavras, de modo a parti-las em sílabas. Em seqüência, os alunos
realizariam a escrita do nome de alguns personagens. Já no decorrer da correção
coletiva, a professora chamou a atenção dos alunos para os artigos que
acompanhavam os nomes das personagens. Observemos o que ocorreu nesse
momento da aula:
(...)
P – Bora lá, bora lá. Vamos começar a responder? Não adianta copiar. Vou
começar a anotar o nome. Qual é o título da história que lemos hoje?
A – A bela adormecida.
P – ‘A’ maiúsculo, ‘B E’, ‘BE’, ‘L A’, ‘LA’ (a mestra soletrando). ‘A DOR ME CI
DA’, ‘A BELA ADORMECIDA’ (realizou a leitura apontando para as sílabas).
Michele – Ei tia, ‘A BELA ADORMECIDA’.
P – Não. Ela é a PRIN...?
A – ‘CESA’.
P – O que mais?
150
A bela adormecida. Turma da modelo. Coleção Classic Stars.
260
A – O PRÍNCIPE.
A – O REI.
A – A RAINHA.
A – A BRUXA.
P – E as?
Alguns alunos – ‘FADAS’.
P – AS ‘A S’ FADAS. Repare que eu coloquei sempre aqui na frente para
indicar O REI, A RAINHA, A PRINCESA, O PRÍNCIPE, A BRUXA, AS FADAS
(enfatizou, nesse momento, os artigos).
Mesmo corrigindo coletivamente, alguns educandos não paravam de conversar.
P – O que mais? Qual era o nome da princesa?
A – ‘A BELA ADORMECIDA’.
Sara – ‘AURORA’.
P – Olha Sara falando. Letra maiúscula porque é nome de pe...?
Alguns alunos – Pessoa.
A ordem das prioridades, ao tratarmos dos terceiros anos, foi enfocar tanto
a reflexão dos aspectos de coerência e coesão textuais, como a proposição de
nomenclatura gramatical no interior do texto ou, de sentenças. Tentava-se, a nosso
ver, superar o modelo ‘tradicional’, cuja prática estava descolada de unidades de
ensino como o texto. Essa mudança não assegurava, entretanto, a reflexão que
pudemos ver na prática da professora do segundo ano da escola B, a partir de
contos. Nela, aspectos ligados à textualidade e à normatividade apareceram de
maneira brilhante, sinalizando, em nossa compreensão, para um contexto rico de
análise lingüística, ao menos no eixo da oralidade. Não queremos defender, com
isso, a exclusividade da prática de análise lingüística no interior do texto, entretanto,
tanto uma opção quanto a outra precisam ser mais bem elaboradas, de modo a
superar a concepção de um ensino pautado nas classes gramaticais.
Uma hipótese que assumimos quanto à opção das mestras por situações
que promovessem a análise lingüística no interior do texto, está vinculada ao debate
do letramento. Sobretudo a partir da década de 1990, vem-se veiculando a
concepção de que é preciso alfabetizar numa perspectiva para o letramento
(TFOUNI, 2006; SOARES, 2008; 2003b; 1998; CRUZ, 2008).
261
‘cheio’, escrita com ‘ch’ e não ‘x’. Novamente, se evidenciou a ausência de reflexão
acerca das regularidades e irregularidades da ortografia de nossa língua como
instrumento de auxílio no avanço dos educandos, na grafia correta das palavras.
Ainda nos reportando àquela turma, numa outra aula, ocorreu um evento
interessante, envolvendo a reflexão ortográfica. Como observamos nas turmas, de
maneira geral, esse tipo de atividade ocorria posteriormente à leitura de algum texto
ou nas situações de ditado de palavras, frases. Na ocasião, a mestra leu a ‘história’
intitulada ‘Amigos para sempre’.151 Em seguida, realizou a compreensão oral e
escrita do texto.
acima era escrita com ‘x’ ou ‘ch’. Como pudemos observar, embora se prestassem,
nesses casos elencados, única e exclusivamente à análise de algumas palavras, os
textos pareciam se constituir em suportes privilegiados para a escrita e análise da
ortografia de algumas palavras.
pontuação a ser utilizada nas frases por eles listadas. Vejamos abaixo as
intervenções da mestra:
P – Muito bem Bruno. NA MINHA SALADA TEM: BANANA (os alunos adoraram e
se empolgaram. A cada nome de fruta lida, eles diziam ‘vírgula!’). “Muito bem,
quando a gente coloca ‘E’, não coloca vírgula. Vamos ver outra. ‘A MAMÃE
FALOU VOU COMPRAR BATATA AÇÚCAR SAL CARNE ARROZ FEIJÃO
FARINHA’. Bora ver? ‘A MÃE FALOU’...?
Alunos – Dois pontos.
P – E depois?
Alunos – Travessão.
P – Por quê?
Alunos – É a fala da mamãe.
Os alunos leram e disseram onde tinha que ter vírgula.
Era uma vez um menino chamado joão vitor ele estava com 25$ e estava
fazendo muito calor então resolvel comprar um sorvete de casquinha sabor
chocolate e morango e ele dise para o seu pai:
__ Pai eu vol ali na venda comprar um sorvete. e ele respondeu:
__ está bem mas volte logo. entam ele foi e voltou logo a sua mãe pediu para
que fose na loja e comprase geremom, limão, alface, pimentão, alho, cebola,
cebolinha, abacaxi e 1 R$ de laranjas e ele conprou depois de 50 minutos e coutol
sua mãe lhe agradecendo um pirulito depois ajudou seu pai na oficina linpando a
cugeira também seu pai adirado joão vitor ganhou uma biciceta e eles viveram
felizes para sempre.
O menino e o sorvete
x
Estava um dia lindo. O sol estava forte e fazia muito calor.
Felipe sai de casa pra comprar um sorvete de chocolate na casquinha. Como
o sol estava quente, Felipe foi esperto e logo chupou seu sorvete para que ele não
derretesse.
271
152
Em geral, esse item contemplava: nome da escola; cidade, data, mês e ano; nome da professora e
do(a) aluno(a), ano-ciclo e ciclo. Esse último item, cremos, objetivava, também, a familiarização com
a nomenclatura dos ciclos.
273
Entendemos, com isso, que, além das atividades de leitura ocorrerem com mais
freqüência que as de compreensão, estas últimas, quando aconteciam, centravam-
se na dimensão oral. Essa modalidade de exploração desse eixo percorreu todo o
ciclo.
Embora tenhamos observado uma liderança na prática de compreensão
escrita por parte da escola A, sublinhamos que, de um modo geral, essa ficou
limitada a questões fáceis de localização de informação explícita na superfície do
texto. Acrescentemos a esse dado a quase ausência de atividades que priorizassem
a compreensão escrita entre as turmas de primeiro ano. Concluímos, portanto, que,
além das professoras, sobretudo nessa etapa do ciclo, terem monopolizado as
situações de leitura, esses educandos não vinham sendo expostos a práticas de
compreensão escrita, corroborando com a desarticulação indicada por Brandão
(2006) quanto a esses eixos.
Nos segundos anos não houve variações significativas entre compreensão
oral e escrita de textos. Quanto às turmas de terceiro anos, identificamos uma
proximidade com os segundos, ao considerarmos as práticas de compreensão
escrita. Por outro lado, no que se refere à compreensão oral, os terceiros anos
lideraram. Para além das especificidades das turmas, essa freqüência nos leva a
crer que, enquanto nos primeiros anos a leitura objetivava a exploração oral do
texto, assim como de algumas das propriedades do sistema de notação alfabética,
nos segundos e terceiros, ao contrário, parecia haver maior dedicação à exploração
dos textos nas dimensões oral e escrita. Constatamos uma ausência de progressão
no trato com a compreensão escrita de textos entre os anos, com uma evidente
dicotomia dos segundos e terceiros anos em relação aos primeiros.
Em relação ao eixo de produção de textos, destacamos, de início, a baixa
freqüência com que essa prática ocorreu, se contrastada com leitura e compreensão
textuais. Conjugando-se a esse aspecto, cabe registrar que nos momentos em que
os educandos foram chamados a produzir um texto, o faziam, em geral, sozinhos.
Bastos (2009) também sinaliza para a ausência, bem como as limitantes condições
de produção de textos, presentes na escola brasileira, já que essa lógica se
estenderia ao ensino médio.
Assim como o texto funcionou, na maioria das vezes, apenas como uma
“trampolim” para a proposição de algumas questões (MARINHO; SILVA; MORAIS,
2009), com a produção textual pareceu ocorrer o mesmo, ou seja, não se refletia
276
sobre as características e funções dos gêneros textuais, mas, por outro lado, o
atendimento desses atributos era cobrado. Tal como apontam Leal e Melo (2006), a
atividade de produção de textos é marcada por um certo grau de complexidade e,
como tal, implica num “preparar-se para”, por parte dos professores. A respeito
desse assunto, uma das professoras, durante entrevista realizada, declarou,
explicitamente, não ter investido mais na atividade de produção de textos pela
complexidade que ela envolve, assim como pelo nível de seus alunos que, em sua
maioria, não tinham construído a base alfabética de escrita.
Embora tenhamos destacado o depoimento acima, observamos que, no
interior do 1º ciclo, a maior freqüência de produção de textos ficou com as turmas de
terceiro ano. Com isso, visualizamos uma ausência de progressão quanto a esse
eixo, visto que, sobretudo os segundos anos, se distanciaram (e muito) daquelas
turmas. Voltamos a enfatizar que defendemos a consolidação de competências
específicas para os anos do ciclo, entretanto, ao optar pela perspectiva do
alfabetizar letrando (SOARES, 2003a; 2003b; 1998; CRUZ, 2008), cremos que é
possível, sim, conjugá-las com as práticas sociais de leitura e escrita. Sendo assim,
nada impediria as professoras de investirem na prática de produção de textos desde
o primeiro ano, resguardadas suas especificidades.
Longe de ser uma prática planejada, situamos, no conjunto de nossos
dados, algumas limitações quanto ao modo de encaminhar a produção textual. Uma
delas se refere à ausência de clareza nos comandos dados, o que, inevitavelmente,
culminou com uma nítida heterogeneidade nas produções. Além disso, os
aprendizes estavam produzindo sem ter claro um interlocutor. Segundo Leal (2005)
é preciso estar atento a vários aspectos que marcam a atividade de produção de
textos, a exemplo da geração e seleção do conteúdo textual.
A progressão das atividades parecia sofrer variações nem sempre previstas,
ao longo do ano letivo. Assim, por exemplo, a mestra do terceiro da escola C insistiu
na produção de textos com seus alunos, embora considerasse todas as dificuldades
por eles vividas no concernente à apropriação do sistema de notação alfabética.
Mas no final do segundo semestre, ao perceber que não tinham avançado
significativamente, tentou propor e acelerar a construção da escrita alfabética,
pensando na promoção para o primeiro ano do 2º ciclo.
Ao considerarmos os dados, reconhecemos que houve um expressivo
investimento na prática de produção textual coletiva. Entretanto, constatamos uma
277
instituições, foi a que menos investiu nessa atividade. Por se tratar de um grupo de
profissionais que trabalhavam de maneira mais articulada, cremos que vinculavam
essa prática a uma concepção de ensino memorística, tradicional.
A atividade de cópia contou com vários encaminhamentos e finalidades. No
segundo ano da escola B, a mesma ocorria de forma articulada com a reescrita
coletiva. Como a participação dos alunos estava centrada na dimensão oral, eles
eram orientados, no final da escrita da mestra no quadro, a registrar o conto na
pauta. Por outro lado, a cópia apareceu como atividade diversificada no primeiro ano
da escola A. O objetivo era “ocupar” o aluno, com isso, se configurava, a nosso ver,
como uma tarefa pouco desafiadora.
Ao considerarmos as atividades de contagem de unidades lingüísticas,
verificamos, ao contrário do que vimos até o momento, que a sílaba foi uma unidade
privilegiada, de modo que a contagem de sílabas em palavras contou com um
número expressivo entre as tarefas propostas. O mesmo ocorreu com a contagem
de letras em palavras. Por outro lado, a contagem de letras em sílabas foi pouco
explorada entre as turmas. É oportuno destacar que, embora houvesse uma
considerável freqüência de atividades de contagem de sílabas em palavras, pouco
se refletiu acerca das variações nas estruturas silábicas.
Quanto às atividades de partição de unidades lingüísticas, predominaram as
tarefas de partição oral quando confrontadas com as de partição escrita. Em geral,
os educandos realizaram a partição oral de palavras em sílabas. Nessa atividade,
embora não tenhamos encontrado variações significativas, houve proximidade entre
os primeiros e terceiros anos. Já em relação à partição oral de palavras em letras, a
liderança ficou com o primeiro ano da escola A. Foi menos explorada entre as
turmas a partição oral de frases em palavras. Em geral, essa atividade aparecia nas
situações de ditado de frases.
Considerando as atividades de nomeação, identificação e produção, de
unidades lingüísticas enfatizamos, de início, maior freqüência de atividades de
nomeação de letras em posição “x”. A professora do primeiro ano da escola A, por
exemplo, declarou a preocupação em propor atividades voltadas à nomeação das
letras do alfabeto. Segundo ela, muitas vezes o aluno reconhecia as letras, porém,
ao ser solicitado quanto à nomeação, não obtinha sucesso. Apesar da professora ter
reconhecido essa importância, afirmou não ter limitado seu ensino ao
reconhecimento dos nomes das letras, mas o articulava a outras atividades que
280
envolviam a escrita alfabética, tal como proposto por Leite (2006). Essas tarefas,
como esperávamos, foram priorizadas nas turmas de primeiro ano.
Ao contrário dos dados encontrados quanto às atividades de nomeação, a
identificação de letras em posição “x” e de letras “x” em posição “x” não foram
priorizadas pelas professoras. Do mesmo modo que a primeira, essas tarefas
estiveram centradas nos primeiros anos.
Tal como realçamos, não houve um grande investimento em atividades de
escrita de palavras com aliteração/rima, mas, em contrapartida, as professoras, ao
explorarem a identificação de aliteração/rimas, o fizeram, majoritariamente, com
correspondência escrita. Esse procedimento, em nossa compreensão, auxiliou os
educandos na reflexão das correspondências grafofônicas (MORAIS; LEITE, 2005).
Em se tratando dessa atividade, visualizamos maior investimento na escola A,
porém, entre os anos-ciclo, não houve variações significativas, predominando,
entretanto, os primeiros anos. Ao considerarmos os outros aspectos dessa seção,
observamos prevalência entre as turmas de primeiro ano.
Em contraste com os outros aspectos analisados, as atividades de
comparação de unidades lingüísticas ocorreram com menor freqüência. Do conjunto
analisado, identificamos maior preocupação com comparação da escrita do aprendiz
com escrita convencional, objetivando a auto-avaliação. Nesse contexto, uma
atividade que se prestou a essa opção pelas professoras foi o ditado.
Ao tratarmos das atividades de exploração, identificamos um número
expressivo de exploração dos diferentes tipos de letras nos três anos do 1º ciclo.
Enquanto as professoras do primeiro ano estavam preocupadas com a escrita
alfabética, as do terceiro enfocavam os diferentes tipos de letras considerando
aspectos normativos, a exemplo da letra maiúscula. Na turma do primeiro ano da
escola, observamos várias situações de exploração dos tipos de letras, porém, sem
reflexão.
No que se refere às atividades de análise lingüística, como pensávamos,
houve menor investimento entre as turmas de primeiro ano. No conjunto das
escolas, registramos uma maior freqüência na instituição B. As situações de
reescrita de contos, no caso do segundo ano e produção textual, no terceiro,
priorizaram essa reflexão no interior do texto, bem como de sentenças. Em se
tratando do ensino de nomenclaturas gramaticais, observamos que as escolas A e B
se sobressaíram, embora optando por encaminhamentos distintos. De qualquer
281
5 RESULTADOS DE ANÁLISES II
283
Tabela 14: Atividades de língua e formas de agrupamento dos alunos: leitura de textos, no 1º
ciclo, nas nove turmas acompanhadas
S N S N S N S N S N
Escola A 1º ano 1 7 0 8 0 8 0 8 7 1
2º ano 5 3 0 8 4 4 2 6 7 1
3º ano 2 6 0 8 1 8 2 6 4 4
Escola B 1º ano 0 8 0 8 2 6 0 8 3 5
2º ano 0 8 0 8 0 8 1 7 7 1
3º ano 5 3 0 8 6 2 0 8 4 4
Escola C 1º ano 1 7 0 8 0 8 0 0 8 0
2º ano 1 7 0 8 0 8 1 7 4 4
3º ano 4 4 0 8 0 8 3 5 5 3
Individual: leitura de texto realizada pelo aluno; Grupo: leitura de texto realizada em grupo;
Participação de todos: leitura de texto com a participação de todos os alunos; Participação
restrita: leitura de texto com participação de uma pequena parcela do grupo-classe; Mestra: leitura
de texto realizada pela mestra; S = Sim; N = Não.
(...)
Bora, cada um lendo seu textozinho. No seu lugar. Fazendo a leiturazinha
silenciosa. Todo mundo lendo baixinho (nesse momento, observamos a
predominância de um silêncio na sala de aula, todos liam).
A – Tia, terminei. O primeiro meu! (o aluno se orgulhava de ter feito uma leitura
rápida).
A1 – Terminei, tia.
(...)
Professora Bernadete – com o curso de... de Pró-Letramento153 também a gente tá
vendo isso. E eu acho que me ajudou mais. Essa coisa de fazer textos pequenos,
achei muito legal isso. Eu vou, no próximo ano eu vou começar assim, sabe? Textos
pequenininhos em que os alunos, eles se sentem é... como se eles tivessem se
apropriado do texto, mesmo sem eles saberem ler e escrever, mas eles se
apropriam. Tinha aquela música ali ‘o meu gatinho, quando acordou’.
Solange – Lembro.
Professora Bernadete – Eles adoram, porque criança gosta de bichinho, de
153
Brevemente, a professora declarou ter participado desse projeto do “Pró-letramento” através do
Centro de Estudos em Educação e Linguagem na UFPE (CEEL/UFPE). De acordo com ela, tanto o
curso que enfocava o Sistema de Notação Alfabética (SNA), quanto o do Pró-letramento, estavam
priorizando o debate de articulação da construção alfabética de escrita com os demais eixos de
língua, incluindo a leitura de textos.
288
gatinho, aí ele faz o gesto, tomando leitinho. E isso assim ele se apropria do texto,
entendeu? Eu acho que isso ajudou. Apesar de eu não ter todos os meus alunos
lendo e escrevendo com segurança, mas eu tenho uma boa parte deles.
(...)
(...)
P – Diga aí o texto, leiam. Qual é o tipo de letra?
Larissa – Fôrma.
P – Maiúscula ou minúscula?
A – Minúscula.
P – Então é letra de fôrma, é? Leiam. Eu vou fazer igual.
Alguns alunos foram lendo.
P – Não. Vocês já têm no caderno, podem acompanhar no caderno, senão a
gente vai perder tempo. Depois se quiserem, podem copiar (a professora foi
registrando o texto no quadro com imprensa maiúscula). “Tem ponto em algum
lugar? José Mateus, não vou perder minha garganta, sente aqui! A gente
conversou tanto ontem. Onde tiver ponto, me digam. Quando a gente tá lendo
que tem um ponto, a gente dá uma pausa” (os alunos continuaram ditando o
texto).
08:15h – A professora ia repetindo e perguntando: ‘do Brasil’, tem ponto?
Alunos – Tem.
P – Depois de que palavra?
Alunos – ‘Brasil’.
154
Conforme a professora, os textos denominados por ela de “didáticos” propiciavam esse trabalho
mais específico de leitura. Em geral, recorria a textos de longa extensão e os “adaptava” para a
turma.
289
Tabela 15: Atividades de língua e formas de agrupamento dos alunos: compreensão textual, no
1º ciclo, nas nove turmas acompanhadas
S N S N S N S N S N
Escola A 1º ano 1 7 0 8 1 7 5 3 0 8
2º ano 7 1 0 8 0 8 7 1 0 8
291
3º ano 4 4 0 8 0 8 4 4 0 8
Escola B 1º ano 2 6 0 8 1 7 3 5 0 8
2º ano 2 6 0 8 1 7 5 3 0 8
3º ano 1 7 0 8 2 6 4 4 0 8
Escola C 1º ano 0 8 0 8 0 8 1 7 0 8
2º ano 4 4 0 8 0 8 4 4 0 8
3º ano 3 5 0 8 0 8 5 3 0 8
Individual: compreensão textual realizada pelo aluno; Grupo: compreensão textual realizada em
grupo; Participação de todos: compreensão textual com a participação de todos os alunos;
Participação restrita: compreensão textual com participação de uma pequena parcela do grupo-
classe; Mestra: compreensão textual realizada pela mestra; S = Sim; N = Não.
participação de uma parcela da turma (7/1).155 Entendemos que essa era uma tática
utilizada pela professora, com o intuito de situar os alunos na atividade, bem como
evitar o erro nas questões. Somado a esses aspectos, ela propunha, geralmente,
questões de fácil localização no texto. Na segunda observação, após a leitura
realizada por ela, em seguida pelos alunos, do texto intitulado: “A torta de pêssego”,
a mestra seguiu explorando o texto, assim como alguns aspectos do sistema de
notação alfabética:
(...)
P – Quem são os personagens desse texto?
Alguns alunos – Cássio e Melissa.
P – O que Melissa faz?
Alguns alunos – Torta de pêssego.
P – Só. O que ela faz mais? Leia o texto!
A – Ela faz as tarefas de casa!
P – Melissa é o quê de Cássio?
Alguns alunos – Irmã.
P – A palavra ‘CÁSSIO’ tem quantos pedacinhos?
Alguns alunos – Dois.
P – PÊSSEGO?
Alguns alunos – Três.
P – FEIA.
Alguns alunos – Três, dois.
P – Presta atenção! ‘FEIA’!
Alguns alunos – dois.
P – IRMÃO?
Alunos – Dois.
155
Diferentemente das tabelas do primeiro capítulo, cujo objetivo foi registrar o número absoluto de
atividades ocorridas em cada aula observada, nesse segundo bloco, computamos a presença ou
ausência da atividade analisada. Nesse caso, em particular, tanto para a compreensão individual,
quanto a coletiva (participação restrita) de textos, houve coincidência nos número encontrados, nas
oito aulas observadas.
294
P – TAREFA?
Alunos – Três.
P – AMASSADA.
Alunos – Quatro.
P – Para saber os pedacinhos, nós contamos nos dedos também: ‘TA RE FA’,
‘ME LIS SA’ (a mestra leu destacando as sílabas).
P – Como ficou a ‘torta’?
Alguns alunos – ‘amassada’.
P – Vocês comem torta amassada?
Alunos – Não.
P – É mesmo? Ô bebê (sempre que se remetia aos alunos dessa maneira, já
entendiam que a professora estava irritada). “Quer dizer que tua mãe faz um bolo,
saiu meio queimado, tu não comes? Eu não tô lá pra ver”.
(...)
Tabela 16: Atividades de língua e formas de agrupamento dos alunos: produção textual, no 1º
ciclo, nas nove turmas acompanhadas.
S N S N S N S N S N
296
Escola A 1º ano 1 7 0 8 0 8 0 8 0 8
2º ano 2 6 0 8 0 8 0 8 0 8
3º ano 2 6 0 8 0 8 1 7 0 8
Escola B 1º ano 0 8 0 8 0 8 0 8 0 8
2º ano 1 7 0 8 0 8 7 1 0 8
3º ano 7 1 0 8 0 8 1 7 0 8
Escola C 1º ano 0 8 0 8 0 8 0 8 0 8
2º ano 0 8 0 8 0 8 1 7 0 8
3º ano 3 5 0 8 0 8 2 6 0 8
Individual: produção textual realizada pelo aluno; Grupo: produção textual realizada em grupo;
Participação de todos: produção textual com a participação de todos os alunos; Participação
restrita: produção de textos com participação de uma pequena parcela do grupo-classe; Mestra:
produção textual realizada pela mestra; S = Sim; N = Não.
com segmentação, né? Já não escrever mais agarradinho, saber o... escrever o
próprio nome, produzir algumas frases, eu acho que o segundo ano já tem
condições de fazer isso.
(...)
Tabela 17: Atividades de língua e formas de agrupamento dos alunos: Sistema de Notação
Alfabética, no 1º ciclo, nas nove turmas acompanhadas
S N S N S N S N S N
299
Escola A 1º ano 8 0 0 8 2 6 7 1 0 8
2º ano 8 0 0 8 0 8 3 5 3 5
3º ano 8 0 0 8 1 7 7 1 2 6
Escola B 1º ano 6 2 2 6 3 5 5 3 3 5
2º ano 2 6 0 8 0 8 2 6 2 6
3º ano 5 3 0 8 3 5 1 7 0 8
Escola C 1º ano 8 0 0 8 4 4 6 2 0 8
2º ano 6 2 0 8 2 6 6 2 0 8
3º ano 5 3 0 8 0 8 6 2 1 7
Individual: atividade de escrita alfabética realizada pelo aluno; Grupo: escrita alfabética realizada em
grupo; Participação de todos: escrita alfabética envolvendo todos os alunos; Participação restrita:
atividade de escrita alfabética envolvendo uma pequena parcela do grupo-classe; Mestra: atividade
de escrita alfabética realizada pela mestra; S = Sim; N = Não.
156
Primeiros anos das escolas A, B e C.
301
Tabela 18: Atividades de língua e formas de agrupamento dos alunos: Análise Lingüística, no
1º ciclo, nas nove turmas acompanhadas
S N S N S N S N S N
Escola A 1º ano 0 8 0 8 0 8 0 8 0 8
302
2º ano 0 8 0 8 0 8 0 8 0 8
3º ano 0 8 0 8 0 8 0 8 0 8
Escola B 1º ano 0 8 0 8 0 8 1 7 0 8
2º ano 2 6 0 8 1 7 4 4 0 8
3º ano 2 6 0 8 3 5 4 4 6 2
Escola C 1º ano 0 8 0 8 0 8 0 8 0 8
2º ano 0 8 0 8 0 8 1 7 0 8
3º ano 1 7 0 8 0 8 4 4 1 7
Individual: Atividade de análise lingüística (AL) realizada pelo aluno; Grupo: atividade de AL
realizada em grupo; Participação de todos: atividade de AL com a participação de todos os alunos;
Participação restrita: atividade de AL com participação de uma pequena parcela do grupo-classe;
Mestra: Atividade de AL realizada pela mestra; S = Sim; N = Não.
Tabela 19: Freqüência absoluta, a cada dia letivo observado, de modalidades de “cooperação”
(professora-alunos, aluno-aluno), no 1º ciclo, nas nove turmas acompanhadas
1ª A 2º A 3º A 1º B 2º B 3º B 1º C 2º C 3º C
157
Alunos que precisavam, em sua maioria, construir a base alfabética de escrita.
304
Categorias S N S N S N S N S N S N S N S N S N
1- Predominância de um
trabalho cooperativo da
professora p/ c/ o grupo
classe 7 1 1 7 7 1 8 0 3 5 8 0 8 0 3 5 3 5
2- Explicação prévia das
atividades pela professora 8 0 8 0 8 0 8 0 8 0 8 0 8 0 7 1 7 1
3- Espaço dado pela
mestra às contribuições
dos alunos mais
avançados 3 5 0 8 6 2 8 0 8 0 8 0 8 0 8 0 7 1
4- Espaço dado pela
mestra às contribuições
dos alunos em
dificuldades 0 8 0 8 6 2 7 1 8 0 8 0 8 0 8 0 8 0
5- Disputas dos
educandos por participar
da aula 0 8 2 6 0 8 2 6 0 8 0 8 5 3 0 8 0 8
6- Ajuda dos alunos
avançados aos educandos
em dificuldade, com apoio
da professora 1 7 0 8 3 5 2 6 1 7 2 6 2 6 4 4 1 7
7- Transgressão do aluno
com bom nível de
aprendizagem para
cooperar com colega em
dificuldade 2 6 1 7 0 8 2 6 1 7 0 8 2 6 3 5 0 8
158
O sentido atribuído à “estratégia” aqui se assemelha ao conceito de “tática” desenvolvido por
Certeau (1985).
308
P – ‘MENTO’ não, ‘eu MINTO’. Fica sentado que eu vou na banca. Não precisa
levantar. Everton, para o seu lugar, por favor.
A – A dez tia.
09:07h – Ainda, ainda. Agora eu vou corrigir. Só vou dar dez (10) pra quem
realmente fizer tudo certinho. Cadê? Faltou responder aqui. Eu mandei
escrever ‘LINDA’, ‘LANÇA’, você não colocou. ‘LAN’, pra escrever ‘LAN’.
(...)
porém, a mestra costumava dispensar ajuda para ele. Observamos mais uma
situação em que se evidenciou essa diferença: ela auxiliou esse aluno na tarefa
proposta, entretanto, agiu com indiferença em relação a outra aluna. A partir dessa
postura, inferimos que a proposição de atividades pouco desafiadoras,159 permitia,
por um lado, o investimento naqueles em que acreditava ter algum avanço e, por
outro, o controle, por meio da disciplina, por parte daqueles em que não tinha mais
esperança de avanço.
(...)
159
O aspecto da heterogeneidade será analisado na próxima seção do presente capítulo.
310
160
A “grande seção” é o último ano da educação infantil na França.
312
(...)
P – Pronto, quero ver o caderno para liberar só quem fez (remetendo-se à
liberação para o lanche).
A – A senhora não me ajuda.
P – Eu ajudei quem tava pertinho de mim! Não adianta só copiar, Sirleide. Você
tá esperando eu colocar no quadro (alguns alunos não se aproximavam da
professora no momento da tarefa para esclarecer as dúvidas. Sabiam que, em
algum momento, a mestra iria corrigir no quadro. Com isso, ficavam aguardando,
porém, não realizavam a tarefa).
(...)
314
professora. Poucos foram os alunos que não se engajaram nas tarefas propostas. É
curioso que, mesmo constatando autonomia na leitura das crianças, a mestra pouco
oportunizou, durante as aulas, a leitura de textos por elas. Mesmo nos momentos de
“leitura alternada”,161 costumava interromper constantemente, a fim de corrigir:
pronúncia, timbre de voz, entre outros aspectos. Do mesmo modo, durante um “teste
surpresa”,162 os alunos foram chamados a ler e interpretar um texto sozinhos. Além
desta tarefa, teriam que produzir um texto solitariamente (primeira observação).
161
Nessa modalidade de leitura, a professora designava o trecho do texto a ser lido por cada aluno.
162
Sem ser do conhecimento dos educandos, a mestra propôs uma seqüência de atividades
individuais que se constituíram, na realidade, em um “teste surpresa”.
163
Tradicional, nesse caso, se refere às alternativas de ensino centradas exclusivamente na
professora, assumindo um formato verticalizado (cf. PERRENOUD, 1994). Já a perspectiva
Construtivista, por outro, a construção do conhecimento mediante processos de interação entre os
sujeitos.
316
motivo, comprovamos que essa postura foi constante, ao longo das aulas
observadas. Vale ressaltar que, entre as turmas de terceiro anos acompanhadas,
esta conseguia manter um diferencial quanto à autonomia dos educandos nas
atividades propostas pela professora: leitura, produção textuais e análise lingüística.
Esse último eixo, como já dito, foi explorado, sobretudo, no interior do texto.
164
“Improvisar”, nesse caso, não se relaciona ao conceito de “improvisação” descrito por Leal (2009)
o qual implica em considerar, necessariamente, um processo de planejamento prévio.
318
(...)
P – De novo. Não é possível uma coisas dessas. Só vocês quatro.
A – Passe tarefa logo. Oxe, passe tarefa.
P – Você não está vendo que a gente tá organizando aqui, não? Tá não? Bote o
óculos para enxergar melhor (referia-se ao recolhimento e reorganização dos
cartazes referentes ao projeto articulado de frevo).
A – Tia Cinara, olha ela.
P – Vamos contar até três: um, dois, três, zíper (a palavra ‘zíper’ indicava que os
alunos tinham que silenciar).
A – Eu quero tarefa.
P – Calma, já, já você vai ter bastante tarefa.
165
Na realidade, a estagiária estava com a incumbência de auxiliar a mestra no atendimento às
crianças portadoras de necessidades educativas especiais; nessa turma, uma aluna. Entretanto, esta
e as demais estagiárias, acabavam assumindo tarefas outras, dadas as supostas necessidades das
turmas.
319
A – Passe logo.
P – Cala a boca. Mas não tem jeito de vocês calarem. Vocês só sabem estar
falando.
Uma das funcionárias pediu silêncio e contou os alunos, provavelmente para
organizar o lanche (08:17h).
P – Olha, vamos fazer silêncio agora (08:21h). “José Roberto, agora é a minha
vez de falar”.
A – Tia, ela tá dizendo: ‘fecha a matraca’, viu!
P – Tá certa, mesmo. É uma matraca triste. Catarina, cala a boca. Eu quero
silêncio. Cala a boca, vocês...
A – Nem todo mundo.
P – Todo mundo, sim.
A – O meu não está aí (referindo-se ao seu desenho).
P – Por quê? Todas as vezes que eu digo: vamos desenhar...
A – Vou não, não sei não.
P – Toda vez ele não desenhava, fazia um desenho que não tinha nada a ver.
Os alunos de tia Célia são menores do que vocês, a pintura estava mais bonita.
Vocês não fazem melhor por conta da preguiça, da anarquia. Cala a boca!
A – Calo não.
P – Já está sem recreio!
A – Eu! Tô nem aí.
P – Ah é? Vai sair depois do horário.
A – Eu... (o aluno ignorou, completamente, a observação da professora).
P – Amanhã só entra com a mãe (na ocasião, os alunos não paravam, agrediam
uns aos outros). “Cala a boca, meu Deus do céu!”
A – É ele, tia.
P – Só ele não. Somente ele não. Agora não, Gustavo. Ah, pensei que era
lanche. Eu não preparei, estamos atrasados ali no calendário. Já terminou o
mês de setembro.
A – Hoje é um.
A estagiária continuava organizando os cartazes da professora (08:27h).
Estagiária – Eles estão doidos que passe tarefa, não é Cinara? Tarefa logo.
P – Todo mundo hoje trouxe o livro? (continuou organizando os cartazes). “Pára
de bater na mesa. Eu estou perguntando se todo... quem trouxe esse livro?”
320
Alguns – Eu!
P – Porque agora...
A – Tia, eu não trouxe não.
A – Nem eu.
A mestra orientou aonde a estagiária deveria colocar os cartazes. “Eu mandei
sentar, Pablo”.
08:31h – Cinara continuava tirando os cartazes. Uma das alunas continuou lendo o
livro didático, alheia a tudo na sala.
(...)
Obs: Nessa aula, computamos uma hora e meia perdida nessa organização dos
cartazes!
166
Trataremos desse aspecto do erro em seção posterior deste capítulo.
321
(...)
P – Não é para ninguém falar. Escreve de qualquer jeito. Segunda palavra, cala
a boca (os alunos não paravam). “Escreva Ysla. Douglas, se você sentar direito,
é melhor. Eu não posso esperar só uma pessoa e atrapalhar os outros, não é?
A segunda palavra ‘CI NE MA’” (pronunciou sílaba por sílaba).
(...)
estabelecer na sala, por meio de atividades que se prestavam a esse objetivo, assim
como ao curto intervalo entre as tarefas. A inserção deles poderia ocorrer dentro de
uma dinâmica de participação efetiva: motivada ou, por outro lado, “forçada”.
(...)
P – Vocês disseram algumas palavras com SA.
A – PERERECA.
P – Vamos lá, PERERECA tem ‘SA’? Vamos tentar ler, quem sabe ler. Está
desinteressado! Que letra é essa?
Alunos – ‘S’.
P – Com ‘A’?
Alunos – ‘SA’.
P – ‘P A’ (‘pê’ e ‘a’) faz?
325
Alunos – ‘PA’.
P – E aí?
A – SACI.
P – Vamos lá, bora lá, qual é a palavra mesmo?
Alunos – SAPATO.
P – Então, SAPO, SACOLA e SAPATO.
08:29h – As alunas voltaram com mais alfabetos (a mestra havia solicitado que elas
solicitassem, na secretaria, alfabetos móveis).
P – Eu sabia. Deixa eu ver.
Alunos – É pra fazer, tia?
P – Por enquanto não. Leiam!
Alunos – ‘A, E, I, O, U’.
P – Que letras são essas?
Alunos – Vogais.
P – Nós já estudamos essas letras? São as vogais, e essa? (a professora
apontou para a letra ‘B’). “É ‘B’ junto do ‘A’” (as letras estavam escritas em
maiúscula de imprensa).
A – BALA.
P – Você está impressionado com o que viu (remetendo-se ao incidente de morte
que tinha sido expressado pelo aluno, no momento da “roda de conversa”).
Alunos – ‘BA’.
P – Não é palavra, é sílaba. Se eu juntar o ‘A’ com o ‘I’ fica como? E o ‘U’ com o
‘I’? E o ‘O’ com ‘I’? O ‘O’ a gente pode ler aberto ‘Ó’ ou fechado ‘Ô’. Nós
estudamos essa letrinha, não foi?
Alunos – P! PA, PE, PI, PO, PU. (Na ocasião, a mestra fez uso de cartazes de que
dispunha na sala).
P – A gente estudou essa letra. Não é hora de usar caderno.
Alunos – FA, FE, FI, FO, FU.
P – A gente estudou essa letra, não foi?
Alunos – CA, CO, CU.
P – E se eu colocar assim: CE, CI.
Alunos – CE, CI (todos leram).
P – Muito bem. A gente já estudou foi muito. E essa?
Alunos – MA, ME, MI, MO, MU.
326
P – E essa?
Alunos – LA, LE, LI, LO, LU.
P – E essa?
Alunos – RA, RE, RI, RO, RU.
A – É pra copiar?
P – Não, meu amor, quando for, eu digo. Preste atenção. Aqui é o silabário,
aqui são as letras, tinha mais, mas tudo bem. Kamila, vai trabalhar em pé, você
não gosta? Vocês vão formar a palavra ‘SACI’. Sim gente, a gente está
estudando, esqueci, o ‘S’, ó. Como é? (a aluna não demonstrava interesse em
participar da aula, mas a mestra insistia em sua inserção na realização das
atividades).
Alunos – ‘SA, SE, SI, SO, SU’.
Os alunos começaram a formar a palavra.
P – Vai formar ‘SACI’ também. Vem pra cá os cinco. Vem cá. Pablo, Leandro,
Ana. Vem, Jefferson (a professora posicionou os alunos em pé). “Vocês vão
formar ‘SACI’, os quatro juntos. Os quatro aqui”.
(...)
Obs.: a professora seguiu com a escrita de palavras em grupo.
Nesta, assim como nas demais aulas, a mestra priorizou a explicação das
tarefas aos alunos, dedicando-se, inteiramente, às intervenções individuais e
coletivas. Verificamos uma “mescla” no trato com o objeto escrita alfabética. Isto é,
embora recorresse aos padrões silábicos, enfocava, também, atividades de
identificação ou produção de rima, comparação de palavras quanto ao número de
letras, variações das estruturas silábicas, entre outros aspectos. Sobre essas últimas
atividades, (MORAIS, 2005) aponta para a relevância que elas assumem na
construção da escrita alfabética. O enfoque na leitura e escrita das palavras
demonstrava a preocupação da mestra em assegurar uma contínua análise das
relações grafofônicas, priorizando a reflexão de unidades menores que a palavra, as
sílabas e, no interior destas, as letras. Foi possível verificar, nitidamente, a
explicação atrelada ao acompanhamento e ao controle com a efetivação da tarefa.
Nesse caso, esse processo foi garantido, em momento posterior, por meio da
327
azul raposa
gavião galo
flores cachorro
(...)
5.1.2.3. Espaço dado pelas mestras aos alunos com avanço e/ou em dificuldades no
aprendizado
Com isso, ficou nítida a ausência de colaboração tanto por parte dos alunos
avançados quanto dos que expressavam dificuldades em operar com as atividades
propostas. Em se tratando da tarefa do ditado, essa assumia mais a posição de uma
atividade “privativa”, a ser realizada solitariamente. Inferimos que, por esse motivo,
os alunos, em sua maioria, costumavam esperar a correção coletiva, a fim de não
exporem suas dificuldades e passarem, assim, a impressão de que sabiam escrever.
331
Tudo isso parecia ocorrer com a permissão das professoras, dada a recorrência
desse mesmo procedimento em outras turmas, conforme anunciamos nessa seção
(CERTEAU, 1994; FERREIRA, 2003).
(...)
P – Lembrem-se de que não é a hora do frevo, mas de escutar. Boca de
forno... (os alunos colocaram as cadeiras próximas do birô (mesa em que a
professora apoiava seu material), a fim de escutarem melhor a música, já que o
gravador estava lá). “Tô esperando, Danilo. Lembra que agora não é a hora de
marcar o passo, mas...”
Mércia – Ouvir.
P – E cantar. Qual é a música que vamos ouvir?
Mércia – Voltei Recife.
P – E a outra?
168
Lembramos que essa foi a instituição em que percebemos, de um modo geral, uma articulação
entre as professoras nas atividades desenvolvidas. Em relação a esse “projeto do frevo”, a mestra do
primeiro ano da escola C contou com a participação de duas outras colegas: uma do primeiro e outra
do segundo ano do 1º ciclo. Essa última participou desse estudo.
333
A – Luís Bandeira.
P – Vocês só param com a ameaça de perder o recreio.
14:56h – Começou a música, enquanto isso, os alunos cantavam. “Eu quero ver o
quê?”
Alguns alunos – Vassouras.
P – O que é Vassouras?
A – Carnaval, bloco.
P – Quero sentir...?
Alunos – A embriaguez do frevo... (Célia parava e cantava junto aos alunos,
sobretudo nos trechos mais rápidos). ‘Cadê toureiro...’ (nesse momento, alguns
alunos encolhiam até os shorts, para facilitar na hora de dançar o frevo).
15:02h – Parou a música (interromperam para o lanche).
(...)
5.1.2.5 Ajuda dos alunos avançados aos educandos em dificuldades, com apoio da
professora
(...)
Eu vou dar um papelzinho com uma palavrinha, certo? Cada um vai receber
uma palavrinha diferente. Cada um vai ler a sua, não leiam alto não.
A – Eu sei ler na mente. Eu sei contar, orar, rezar na mente. Sei fazer um bocado de
coisa.
P – Quem não souber, eu vou ajudar. Depois eu vou dizer o que a gente vai
fazer (distribuiu as palavras às 08:09h). Já fizeram o cabeçalho?
A – Tia, já achei é COPO.
P – Calma.
A – Everton, o dela é BOLA.
335
5.1.2.6 Transgressão do aluno com bom nível de aprendizagem para cooperar com
colega em dificuldade
(...)
08:56h – Preste atenção. Eu vou tentar fazer de conta que eu estou cantando a
música, porque minha voz... eu vou lendo e a palavra que eu parar você
circula, a palavra que eu parar... Um, dois, três, já. ‘Eu tenho mais que tá nessa
fazendo mesura na ponta do pé’. Não venham me mostrar não. Cada um fique
olhando o seu papel. E ‘quando o frevo começa ninguém me segura’.
A – ‘SEGURA’!
P – Isso. A palavra ‘SEGURA’.
A – Achasse?
A – É depois de ‘ME’ (aluna orientando Felipe).
A – É a palavra toda?
P – Claro. ‘Vem ver como é, o frevo madruga lá em São José’. ‘JOSÉ’! Circula a
palavra ‘JOSÉ’ aí no texto. (...)
observação, uma das alunas ajudou o colega numa atividade de ditado sem que a
mestra percebesse. Ao contrário, o comando inicial daquela profissional era de que
“escrevessem do jeito que soubessem”. Como já havia uma expectativa, por parte
de alguns aprendizes, em corrigir coletivamente, ao final, o aluno respondeu sem
hesitar: “tudo errado, não é tia”? Parecia estar subentendido, entre eles, que a
reflexão no processo de escrita, naquele momento, não era priorizada, mas, sim, a
correção posterior. Esse pressuposto se confirmava com o encaminhamento que,
normalmente, era dado pela mestra: curto intervalo na pronúncia das palavras a
serem escritas. Como vimos, o mesmo procedimento foi verificado nas outras turmas
que recorriam a essa atividade, com exceção da professora do terceiro ano da
escola B. No exemplo dessa turma, o ditado compreendia a notação de um texto
fragmentado em partes, dado o estágio avançado em que a maioria dos alunos se
encontrava. A mestra costumava ler o texto junto aos aprendizes e, posteriormente,
realizava o ditado por parágrafo, intercalando com as correções.
Tabela 20: Atividades diversificadas, na área de língua, no 1º ciclo, nas nove turmas
acompanhadas
Categorias 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T TG
1.1 Desafiadoras 1 0 2 3 4 1 1 6 3 2 2 7 16
A partir dos dados obtidos na tabela 20, apontamos que, embora tenhamos
visto um número razoável de atividades diversificadas, entre as práticas
acompanhadas (22), admitimos que, no conjunto das 72 observações, a
preocupação em propor atividades diferenciadas com o intuito de alcançar o maior
número possível de alunos foi muito tímida. Em continuidade, registramos a
discrepância vista entre as atividades diversificadas desafiadoras e não desafiadoras
(16/6). Antecipamos, desde já, que essas atividades não atingiram a todos os alunos
das escolas pesquisadas, conforme a tabela 20 aponta.
169
Destacamos essa postura, embora reconheçamos o dilema vivido por duas das professoras de
terceiro ano por nós acompanhadas, dado que seus alunos apresentavam, ainda, sérias limitações
quanto ao processo de operar com o sistema de notação alfabética.
346
(...)
P – Quem foi que disse que terminou? Muito bem, agora coloque o número de
sílabas ao lado. Tentar ler as palavras, fazer um esforço, contar o número de
sílabas e escrever dentro do quadradinho. Cadê? Fez? Escreva o número de
sílabas dentro do quadradinho.
A – Tia, é assim?
P – Não, você está colocando o número de letras, é o número de sílabas.
Quantas partes têm? Quantos pedaços?
A – Duas.
P – Quem terminou, levante o braço (...) Larissa, escolha uma palavra dessa ou
duas e escreva uma frase, tá? (a aluna já estava numa hipótese alfabética de
escrita, portanto, se envolvia ativamente nas atividades. Por esse motivo,
acreditamos que a professora lançou mão dessa alternativa).
P – Kleiton, escolha uma dessas palavras e forme uma frase (do mesmo modo
que Larissa, ocorreu com esse aluno).
(...)
347
(...)
Agora, eu pedi a algumas pessoas para formar frases. Diga Larissa.
A – A PIPOCA É GOSTOSA.
P – Olhe a frase e corrija. Gente, quantas palavras? Tem gente que tá ‘voando’
(ou seja, desatento na aula). “Tem quantas palavras? Observem que tem
espaço. Vamos contar? Uma (letra A), duas ‘PIPOCA’, ‘É’ três e ‘GOSTOSA’,
quatro palavras. Diga Ingrid”.
A – O SACI É BONITO.
P – Vamos contar quantas palavras têm essa frase, viu João Mateus? Olhe o
espaço entre as palavras. Diga Tiago sua frase.
A – O SACI É PRETO.
P – Certo. Vamos contar as palavras. Tem quatro: O SACI É PRETO. Eita,
calma. Vão acabar com a minha garganta. Eu pedi para formar frases.
A – A BOLA É BONITA.
P – Vamos lá: A BOLA É BONITA.
A – Deixe eu formar tia.
P – Tudo bem. Quem não copiou, copie só a sua frase. Vocês só querem
formar frases assim: O MACACO É BONITO. Vamos mudar?
A – O MACACO PULA MUITO.
P – Quatro palavras. Espera aí...
A – RECIFE LINDO.
P – Que frase linda, eu também acho. Tem uma exclamação. Você olha para a
cidade e diz. Essa frase tem duas palavras. Alguém mais?
A – BERNADETE É LINDA.
P – Que bom. Vamos fazer assim: quem fez, copia a sua; quem não fez,
escolhe uma para copiar.
A – BERNADETE É A RAINHA.
348
170
Alunos com cinco anos de idade que estavam inseridos na educação infantil da Rede Municipal de
Recife.
351
É interessante que, tal como vimos no estudo realizado por Oliveira (2004),
quanto à presença de algumas táticas no interior das práticas observadas, a
exemplo do reforço escolar, passados três anos daquele estudo, pudemos verificar o
mesmo encaminhamento quanto ao uso daquele procedimento, no segundo
352
(...)
“Todos vão receber essa atividade mimeografada, mas nem todos vão receber
esse. Isso aqui é uma cruzadinha, vocês vão colocar as letras nos
quadradinhos. Vocês sabem, não é?”
A – Sei não.
P – Não? A gente nunca fez aqui na sala?
Alguns – Fez.
P – Quem receber esse papel, vai procurar as palavras da cruzadinha. Quem
não recebeu esse, não vai olhar pelo do colega, para copiar não. Vai pensar
nas letrinhas para colocar. Por exemplo, Raquel vai pegar esse papel para
procurar as palavras, mas Letícia não vai. E não pode olhar pelo do colega
não, viu? Pode voltar. Daniela, Dafnny, Erasmo vão sentar nessa mesa, tá?
Larissa vai sentar ali, naquela mesa? (14:45h).
14:48h – Espera aí que eu vou colocar no quadro o cabeçalho. A gente vai
tentar escrever com a letra cursiva que é essa letra agarradinha.171
A – Sei não tia.
171
Acreditamos que, por estar no final do ano letivo, a mestra propôs a escrita em letra cursiva, visto
que na escola havia um acordo estabelecido de que, no primeiro ano do 1º ciclo, a ênfase seria na
letra maiúscula de imprensa.
353
na maior parte, os alunos participavam oralmente das tarefas. Sobre esse assunto,
na entrevista, a professora explicou como costumava encaminhar as atividades, de
modo a garantir o atendimento às diferentes demandas de aprendizagem:
172
Refere-se aos profs. Artur Morais e Eliana Albuquerque, do CEEL-UFPE (Centro de Estudos em
Educação e Linguagem da Universidade Federal de Pernambuco).
173
Como já ressaltamos no presente estudo, as análises, independentemente da freqüência,
obedecerão à seqüência: escolas A, B e C; 1º, 2º e 3º anos.
355
174
A Secretaria Municipal de Ensino de Recife, naquele ano, já havia adotado o projeto Mais
(Movimento das Aprendizagens Interativas), cujo propósito era o acompanhamento e a intervenção
junto aos educandos que apresentavam dificuldades no aprendizado dos objetos do saber das áreas
de língua portuguesa e matemática. Nesse caso, um(a) estagiário(a) acompanhava tais alunos em
dias específicos da semana, durante o horário da aula. Nesse segundo ano, a mestra optava por
conduzir o reforço acreditando ser necessário, já que conhecia as dificuldades específicas de seus
educandos. Durante a entrevista, pôde dar o exemplo da atividade de escrita de palavras a partir do
alfabeto móvel. Nessa tarefa, afirmou a mestra, os alunos tinham a oportunidade de ajudar o colega,
além, claro, de sua intervenção junto à escrita deles. Assinalamos mais uma vez que, no exemplo
dessa turma, as intervenções assumiam, predominantemente, uma perspectiva corretiva, pouco
reflexiva.
356
(...)
P – Venha embora que eu ajudo. Gustavo, terminou? Adriely. As duas
mocinhas da ponta. Terminou? Mas aí, o que aconteceu quando o príncipe viu
a princesa? Aí você coloca: Quando, quando eles se viram, ‘ram’ (professora
orientando um dos alunos) “e aí? Depois? ‘pediu para’. O que mais”? (o aluno
não respondeu). “Então vá desenhar. ‘E ele já partiu para o beijo’, foi”?
(orientando outro aluno).
175
A mestra seguiu com as intervenções e registrou, coletivamente, um conto inventado por todos.
Num determinado estágio, deixou-os, sozinhos, dar continuidade.
357
P – Vá, bote aí. Ah, eu não vou dizer as letras não. ‘Ele, le’ (pronunciando) ‘pediu
ela em casamento’ e ela? Sabe sim, você sabe escrever e sabe ler. Eu só vou
ajudar quem não sabe. Agora você vai desenhar aqui Gustavo, a história. Com
outra aluna, a professora disse: “‘ele pediu ela em casamento e ela aceitou’,
ponto. E aí? Terminou? Agora você vai colocar o título da história. Você não
pode desenhar um carro nem um avião, porque não faz parte da história”. (o
retângulo era para os alunos desenharem. Abaixo, podiam escrever. Uma aluna que
estava sentada próxima a minha cadeira, copiava de acordo com o que estava no
quadro, ou seja, escrevia até a metade da pauta, já que o quadro estava dividido e
no material distribuído: papel ofício, não havia a pauta para auxiliá-la). (...)
É... eu procuro fazer atividades pelo menos que dê pra que todos acompanhem, né?
Mesmo obedecendo às diferenças de cada um, as dificuldades de cada um, mas,
por exemplo, a questão da leitura de histórias é uma coisa que eu consigo atingir a
todos. Aí a gente, eu faço leitura, interpretação. Aqueles que ainda estão com muita
dificuldade, mas aí, na interpretação, eu procuro puxar mais um pouquinho, os
outros colegas ajudam, não é? Então eu procuro mais dessa maneira. Aí eu vou pra
escrita por conta de ser assim, desde que eu cheguei aqui, eu tenho trabalhado com
o segundo ano do 1º ciclo, né? É uma continuidade, porque o 1º ciclo todinho é pra...
é pra criança se alfabetizar, ela tem três anos pra completar a alfabetização, só que,
infelizmente, devido a vários problemas sociais que envolvem, né? As crianças, a
359
gente não consegue dar uma continuidade assim pra que as crianças cheguem ao
final do segundo ano do 1º ciclo bem melhores do que a gente acredita, né? Porque
infelizmente eles têm muitas dificuldades. Por conta desses três anos serem que
formam o 1º ciclo, eles, no primeiro ano, eles, a criança não é, mesmo que
apresente grandes dificuldades, ela não é retida. Ela tem que prosseguir. Só que a
gente tem que fazer o quê? Detec..., diagnosticar essas dificuldades, pra trabalhar
em cima delas pra que façam, pra fazer eles avançar. Então fica um pouco difícil,
né? Porque as dificuldades variam muito, uns com poucas, outros com muitas. E fica
muito difícil devido ao quantitativo de alunos pra gente atendê-los assim,
individualmente, né? Então, o que é que eu procuro fazer? Mais atividades que
englobem todo mundo, gosto muito de explorar a questão de, do desenho a nível de
compreensão do que eles ouviram, do que eles viram, do que tão len..., conseguem,
a leitura que eles conseguem fazer, né? Ao modo deles. Na medida do possível vou
procurando atender um pouco individual, aqueles que têm mais dificuldades.
Por se tratar de uma turma diferenciada frente aos outros terceiros anos,
dada a autonomia que os educandos demonstravam na leitura e escrita textuais, só
registramos em uma das oito aulas acompanhadas na escola B, a presença de uma
atividade variada que, ao que tudo indicou, privilegiou alguns alunos: a leitura da
produção de um texto escrito por alunos selecionados, naquele momento, pela
mestra. O objetivo foi, a partir das produções individuais, realizar uma produção
coletiva do texto seguindo suas orientações prévias: descrever a cena de um menino
tomando sorvete, não inventar uma “história”.
assim como a escrita dos alunos, sem realizar intervenções na ortografia. Com isso,
sentiu um avanço por parte daqueles em que, a princípio, explorava mais a
oralidade, já que apresentavam dificuldades na escrita. A partir desse enfoque no
primeiro semestre, conseguiu focar seu ensino na escrita de textos, seguido de
correções quanto à ortografia, pontuação, como vimos na seção que tratou do
ensino de análise lingüística, no primeiro capítulo desse estudo. A mestra seguiu
enfatizando que eles passaram a ter uma maior segurança na escrita, a partir de
seus encaminhamentos adotados no primeiro semestre. Aos aprendizes que tinham
dificuldades na escrita, ela afirmou desenvolver um trabalho de reflexão das
unidades menores como as sílabas. Para isso, admitiu priorizar a reflexão fonológica
no momento em que grafavam as palavras, a fim de assegurar essa competência
posterior na escrita de textos.
Diferentemente dessa turma, havia uma nítida variação nos perfis das
turmas de terceiro ano das escolas A e C em relação à escola B. No caso da escola
A, em uma das aulas (terceira observação), a preocupação da mestra foi “tomar a
leitura” do texto proposto por ela com alguns alunos, assim como realizar um ditado
com dois daquele grupo que demonstrava nítidas dificuldades na escrita. O mesmo
procedimento se repetiu na quarta observação, momento em que interveio no
processo de leitura junto a alguns aprendizes.
(...)
P – Eu vou entregar (o texto a ser lido), não vai fazer nada, vai só escutar a
leitura e depois fazer.
A – Professor, pare de bater aí (referindo-se ao professor da sala ao lado).
P – Não façam nada agora, só quando eu ler. Vamos ouvir a leitura, tá certo?
P – Vamos acompanhar a leitura, tá certo?
A – Eu já li.
P – Foi? Então leia pra todo mundo (O aluno leu sem titubear). “Alguém mais?”
(outro aluno se candidatou e foi lá na frente. Leu muito bem). “Alguém mais?”
Alunos – Everton! Everton!
P – Ele não quer. Então vamos lá, eu leio e vocês repetem. O título do texto é
“Lila” (à medida que a mestra lia, os alunos repetiam).
(...)
P – Pronto, agora vocês vão receber essa folha. Já terminaram? Vocês vão
receber essa folha pra quê?
Alunos – Pra desenhar.
P – Sim, o quê?
Alguns alunos – A história de Ricardinho.
P – Não, vocês vão desenhar o que entenderam da história de Lila. Quem é
Lila?
Alguns alunos – Uma menina.
P – O que aconteceu com a lua para ela?
Alguns alunos – Caiu na água.
365
Embora não tenha sido contemplada com nenhum dos projetos ora
mencionados, a professora do segundo ano da escola C apontou a relevância, dos
mesmos, já para o ano-ciclo em que atuava, resguardadas algumas articulações
com a professora regente. Observemos o que destacou:
Eu acho que sim, desde que, assim, porque quem trabalha nesses
projetos... agora tem os professores alfabetizadores, né? Mas a
maioria são os estagiários. O que falta pra esses projetos ser melhor
é... (sic) ter uma integração maior com o professor da sala. Que tipo
de integração? Que seja, preparar atividades, saber como a gente tá
trabalhando, o que estamos trabalhando, o que é necessário fazer
pra que os alunos avancem e consigam acompanhar nossas aulas.
369
Então eu acho que talvez ajudasse. Sim! Também eu acho que isso
é importante em todos os anos do ciclo (Professora Cinara, 2º ano,
Escola C).
176
“Estratégia didática”, nesse caso, assume a mesma concepção que “alternativa didática”, ou seja,
intervenções encontradas pelas professoras, objetivando evitar o erro.
371
Tabela 21: Tratamento do erro, na área de língua, no 1º ciclo, nas nove turmas acompanhadas
Categorias 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T 1º 2º 3º T
1- Corrige o erro
individualmente 3 0 4 7 2 0 0 2 2 2 1 5
2- Corrige o erro no
coletivo/grupo 6 7 6 19 7 6 5 18 3 6 7 16
3- Cria "estratégias
didáticas" para evitar o erro 1 4 2 7 0 0 2 2 0 0 1 1
4- Devolve a pergunta ao
aluno individualmente 1 0 0 1 1 0 0 1 4 0 1 5
5- Devolve a pergunta ao
aluno no coletivo/grupo 4 4 5 13 6 2 2 10 2 2 6 10
6- Ignora o erro do aprendiz,
não intervém 2 3 1 6 2 0 0 2 1 1 4 6
7- Cria um andaime para
levar ao acerto 1 0 2 3 1 0 1 2 3 2 2 7
1º = 1º ano; 2º = 2º ano; 3º = 3º ano; T = Total.
5.1.4.1 Correção Individual do Erro do Educando
177
Ao considerarmos as modalidades de correção do erro individualmente e em grupo/coletivo,
respectivamente.
372
178
Em geral, observamos que a mestra chamou ao quadro os alunos que conseguiam se sobressair
nas atividades por ela propostas.
373
Agora eu vou corrigir. Só vou dar dez (10) pra quem realmente fizer tudo
certinho. Cadê? Faltou responder aqui. Eu mandei escrever LINDA, LANÇA,
você não colocou. ‘LAN’ pra escrever ‘LAN’.
A – ‘LÊ’.
P – ‘LÊ’? É ‘LAN’ (professora no ato da correção). ‘LAN’, pra ficar ‘LAN’, depois
do ‘L’ não, não. Antes do ‘N’, entre o ‘L’ e o ‘N’ tem uma letra (professora
corrigindo a escrita de outro aluno). “É LANÇA, não é LENÇA”.
A – É L A.
P – Ah, Wesley, sente no seu lugar. Falta separar as palavras, deixa eu ver a
outra que você errou: LINDA, ‘LIN’. Até as palavras que tu separasse (sic) ficou
errado.
(...)
P – ‘MEN’, ‘MEN’, cadê o ‘E’? Cadê gente, quem foi que fez?
P – Tu aqui errou o ditado todinho ‘AN’, CANTA, CANTIGA, ‘LAN’, olhe o ‘LAN’,
‘LIN’, é ‘LIN’, ‘MEN’, ‘AINDA’ (correção das palavras). “Preste atenção” (referindo-
se a Ana Karla. Na ocasião, corrigiu o ditado de Peterson. Disse que ele tinha
acertado, porém, escreveu a letra ‘C’ ao contrário). “Errou LANÇA Peterson, mas
errou pouco (acreditamos que essa última observação: “errou pouco”, visou a
motivar o aluno a participar das demais atividades, já que não costumava se integrar
e cumprir com as tarefas propostas). (...)
Aí eu vou, mando ele corrigir. Explico. Agora tem menino que não
aceita, não quer corrigir. Como Ruan mesmo. Quando ele errava, eu
dizia: ‘Ruan, tá errado. Vamos consertar. Não é assim’. Aí ele: ‘ah,
bota errado mesmo, deixa errado mesmo’. Aí fica difícil. E aqueles...
não queria consertar. A tarefa dele eu só colocava errado, porque ele
não aceitava corrigir, entendeu? Já outros não, outros já aceitavam.
Agora tem uns que tinham dificuldades mesmo, eu ficava ali lendo e
uns conseguiam, outros não. Aí, nisso eu passava pra um coleguinha
ajudar, já pra ver se melhorava o coleguinha ajudando. (...) Eu
perguntava se tava certo: ‘você acha que é essa letra mesmo?
374
Ai é um tormento, eu não digo a eles que ele errou (sic). Não, não.
Eu digo assim: ‘olha, a gente precisa rever isso aqui. Será que é com
essa letra? Será que é dessa maneira? E na correção que eu vou dar
a eles o trabalho de corrigir mesmo, como eu vou registrar isso, aí eu
coloco assim: um ‘cezinho’ e um cortezinho no ‘c’, entendeu? Ou
então, eu olho, se vê que tá tudo errado, às vezes eu nem devolvo,
entendeu? (...) (Professora Áurea, 3º ano, Escola A).
378
(...)
A professora escreveu anteriormente a palavra: ‘MAREMOTO’. “Preste atenção, a
gente contou quatro vogais, quatro consoantes. Ao todo, são oito letras. Então
agora nós vamos fazer, eu vou escrever aqui algumas palavras e vocês vão
colocar quantas vogais e quantas consoantes. No tracinho, vão registrar a
quantidade de letras. Todo mundo entendeu?” (na ocasião, a professora
aumentou o timbre de voz). “Eu vou escrever uma palavra aqui para ver se
entenderam mesmo. Vou botar o círculo, o quadrado e o tracinho”. (costumava
propor modelos de resolução das questões sugeridas, os quais antecediam a
realização das tarefas pelos aprendizes).
179
Primeiros, segundos e terceiros anos.
379
(...)
P – Primeira coisa, o nome ‘LOBO’ tem quantas sílabas?
A – ‘LOBO MAU’.
P – A palavra ‘LOBO’ tem duas sílabas, é, João?
A – Três.
P – Por quê? Diga Tiago.
A – Porque eu contei.
P – Ele contou, tá vendo? A gente abre a boca quantas vezes?
A – É três tia (sic).
380
P – Diga por quê. Pra gente saber quantas sílabas têm na palavra, olhe pra
mim, a gente conta quantas vezes a gente abre a boca. Olhe e preste atenção.
Vamos? ‘LO – BO’. Duas, não foi?
P – Qual é a primeira sílaba?
Alunos – LO.
P – Começa com que letra?
Alunos – ‘L’.
A – LO.
P – Tudo bem, antes das férias estudamos palavras com ‘LA, LE, LI, LO, LU’...
‘LO’ pode ter o som aberto ‘LÓ’ e o som fechado ‘LÔ’.
A – É um ‘S’ tia.
P – Essa é a primeira sílaba. E a segunda?
Alunos – LO.
A – BO.
P – Muito bem. A gente estudou o ‘B’? Através de que palavra?
A – BALÃO.
P – Muito bem. A gente estudou o ‘B’ e toda a família do ‘B’, não foi? Eu vou
escrever ‘BA’ ali? Se eu colocar o ‘BA’, vai ficar como?
A – BALA.
P – Começa com ‘LO’. Então fica?
A – LOBO.
A – ‘BO’ tia! ‘BO’.
P – Por que ‘BO’? Porque o som... se eu for separar essa palavra fica como?
Larissa, venha aqui no quadro. Tente separar, ‘LO’... muito bem! É para separar
com um tracinho, só pra gente ter idéia de que são duas sílabas. O desenho
vai ficar com vocês, vão apresentar, apresentar é mostrar o desenho. Quem
não fez, faz agora. Depois vai fazer a tarefa do caderno! (a aluna separou as
sílabas, em seguida, a professora apagou ‘LO – BO’).
A – Tia, é pra fazer esse nome, é?
P – É, mas que nome é esse?
A – LOBÓ (pronúncia).
P – Não precisa dizer LÓBÓ, é LÔBO (pronúncia correta).
(...)
381
É... olhe, a gente sabe, né? Que o erro ele deve ser encarado como
uma maneira de redirecionar, né? O seu trabalho, a sua explicação.
Você explica de um jeito, ele não compreendeu. Você tem que
explicar de outro, né? A gente sabe também que partindo dos erros,
acertos, tudo isso, mas tem momentos que a gente erra, né? Nisso,
eu acredito que sim. Mas geralmente o erro é... é encarado dessa
forma, você tem que encarar dessa forma, não é? Tentar mudar a
forma de... de explicação pra ver se ele consegue alcançar. Porque
essa coisa da palavra é tão difícil, né? A gente adulto, quando a
gente tá mesmo, quando a gente tá estudando, né? Às vezes a gente
interpreta de outra forma por causa de uma palavrinha, né? Então as
crianças que têm um nível vocabular diferente, né? Do que nós
adultos. Então a gente tem que ter todo esse cuidado. Aí a gente
tenta, né? Fazer e dar um outro encaminhamento (Professora
Bernadete, 1º ano, Escola B).
que isso ocorra é importante, entre outros aspectos, que o professor domine os
componentes que integram a tarefa, ou seja, “disponha de uma teoria das condutas
do aprendiz e de uma teoria das ações necessárias para realizar a tarefa” (WOOD;
MIDDLETON, 1975 apud GOIGOUX, 2002, p. 127). Goigoux (2002, p. 127)
acrescenta que é primordial “um conhecimento, por um lado, dos objetos lingüísticos
e das atividades de linguagem, e, de outra parte, dos processos de aprendizagem
da leitura e, enfim, das modalidades de condução eficazes das atividades infantis” .
Do mesmo modo que nos primeiros anos, verificamos uma visível opção
das professoras de segundo e terceiro anos quanto à correção no coletivo da turma,
com as seguintes proporções coletivo/individual: segundos anos (19/5), e terceiros
(18/6).
Dedicando em sete das oito aulas observadas em sua turma essa prioridade
à correção coletiva, a professora do segundo ano da escola A, na segunda
observação, solicitou, após uma cadeia de atividades, a escrita do nome de alguns
estabelecimentos comerciais existentes no bairro em que os educandos moravam.
Ao observar a incoerência na escrita de algumas palavras, afirmou:
(...)
P – Júlia, tá certo? Bote aí. Grande! (referindo-se à aluna). “‘AÇOUGUE’.
Qual é o que tá certo? Você colocou ‘AÇOGUE’, é ‘AÇOUGUE’. Porque a gente
escreve como a gente fala. Eu falo ‘PASSO’, aí coloco: ‘PAÇO’, ‘PASO’. Qual é
o que tá certo?”
A – O de baixo.
A – Nenhum.
P – ‘PASSO’! É dois ‘S’, bora! (sic). (Na ocasião, iniciou um ditado de palavras).
(...)
Num determinado momento da correção do ditado, ocorreu o seguinte:
P – Próximo.
Alunos – ‘TRAVESSA’.
A – É tudo com ‘SS’!
383
P – Claro.
A – Eu botei com ‘Ç’. Mas tá certo?
P – Não. A palavra é com ‘Ç’ ou ‘S’?
Alunos – ‘S’.
A – Mas o som...
P – Ah, o som!
A – Eu errei um bocado.
A – Eu errei quatro e acertei três.
P – Olhe, ela botou ‘Ç’, é com quê?
Alguns alunos – ‘S’.
P – Um ‘S’?
Alguns alunos – dois ‘S’.
P – Mauro disse que é a mesma coisa. É o som! Quando eu digo: ‘TRAVEÇA’,
‘TRAVESSA’ tem o mesmo som. Como é ‘VASSOURA’?
A – ‘V A S S O U R A’.
P – Um ‘S’ ou dois?
Alunos – Dois.
P – ‘VANESSA’? Como é?
Duas alunas – ‘V A N E S S A’.
P – Isso.
(...)
(...)
P – Não. Vamos imaginar uma coisa. Quais são os personagens que aparecem
nessa história?
Alguns alunos – O príncipe, a princesa...
P – Quem mais?
A – O rei.
A – Tia, as doze caçadoras?
P – Doze?
A – Onze.
P – Isso. Se os irmãos Grim chegassem aqui e perguntassem como você
colocaria o nome do rei?
A – Jacó.
P – Jacó? E a princesa?
A – Isabel.
P – E o leão?
Alguns alunos – Simba.
P – O rei?
Alguns alunos – Lucas.
P – Desses personagens, quem vocês acham que é o mais importante?
Alguns alunos – O leão!!!!
P – O leão ajuda, mas é o mais importante?
A – A princesa.
P – Por quê?
A – Porque ela começa a história.
P – O que mais?
A – Porque ela teve o plano de doze caçadores.
P – Isso. Até porque como é o título da história?
Alguns alunos – ‘Os doze caçadores do rei’.
(...)
escrita do título realizado por uma das alunas, afirmando a necessidade do ‘espaço
entre as palavras’, assim como do uso da letra maiúscula.
(...)
P – ‘Para ler mais’. Vou ler agora, vamos ler mais. Quer parar com isso. Antes
de ler o texto, você conhece algum bicho que anda com a casa nas costas?
A – Caracol.
P – Só caracol?
A – Barata.
P – Vou repetir: você conhece algum bicho que anda com a casa nas costas?
A – Abelha.
P – Que abelha, menino!
A – Caranguejo.
P – Caranguejo? Ali não é casa.
A – Tartaruga.
P – Tartaruga, caracol. ‘O caramujo e o besouro amigo. Oi caramujo, cadê a
sua casa’?
A – Está ali embaixo.
(...)
180
Livro didático adotado: Projeto Pitanguá, 1ª série, editora Moderna (Obra coletiva concebida,
desenvolvida e produzida pela editora Moderna).
387
181
Foi uma alternativa encontrada para assegurar a inserção dos educandos nas atividades
seguintes.
388
(...) Quantas sílabas tem a palavra ‘PES-CA-DOR’? Três vezes eu abro a boca,
três sílabas. Quantas letras? Uma, duas... oito letras. E ‘ANEL’?
A – Duas.
P – Isso. Quantas letras?
A – Quatro.
P – Agora o palavrão. Primeiro eu falo a palavra ‘BOQUIABERTO’, depois eu
abro a boca. ‘BO-QUI-A-BER-TO’.
A – Cinco.
P – Cinco vezes, não é? E quantas letras?
Dois alunos – Onze (a professora garantiu a contagem das letras dessa palavra, no
grande grupo).
P – ‘MER-CA-DOR’.
Alguns alunos – Três.
P – Três vezes eu abro a boca para falar ‘MERCADOR’. Emanuel entrou.
Quantas letras?
Alunos – Oito!
P – E a palavra ‘REI’? Quantas vezes eu abro a boca?
Alunos – Uma.
Alunos – Duas.
P – Por que você acha que são duas vezes? Falamos “REI” e não “RE-I”.
Wesley, calma. Já, já eu dou o livro a você. Tácio, ‘REI! Um só. E quantas
letras?
Alunos – Três.
(...)
389
182
Essa postura atenta, assumida pela turma, parecia ter sido construída há mais tempo. Conforme
observamos, nos momentos em que outras professoras (estagiárias) conduziam as atividades (nas
esporádicas ausências da mestra), os educandos mudavam, drasticamente, seus comportamentos,
mantendo-se, por vezes, alheios às atividades. Essa “parceria” dos aprendizes junto à mestra, já
tinha sido estendida aos pais, cuja avaliação do trabalho desempenhado por ela era extremamente
positiva.
183
É importante registrar que, entre as nove docentes acompanhadas, ela foi a única a fazer uso
desse material, sistematicamente.
184
Reafirmamos a importância do domínio do objeto de conhecimento explorado, pela professora.
Essa competência definirá, a nosso ver, as intervenções e encaminhamentos adotados. Em se
tratando da pontuação, esse nível se evidenciou bastante limitado.
391
No que diz respeito aos dados localizados entre as escolas, vimos que a
instituição A investiu um pouco mais em situações que buscavam evitar o erro do
aluno (7/2/2). Já em relação aos anos-ciclo, essa preocupação ficou a cargo das
professoras dos segundos e terceiros anos (1/5/5). Atribuímos esse quadro
encontrado nesses anos do ciclo, à concepção de que é preciso errar menos, a fim
de ser promovido com êxito. Entendemos que, no primeiro ano, essa expectativa
não era tão visível, dada uma suposta permissão para “errar” no início do ciclo.
Sobre esse assunto, a professora do primeiro ano da escola B, ao declarar sua
postura diante do erro do aprendiz, afirmou:
(...) É... olhe, a gente sabe, né? Que o erro ele deve ser encarado
como uma maneira de redirecionar, né? O seu trabalho, a sua
explicação. Você explica de um jeito, ele não compreendeu. Você
tem que explicar de outro, né? A gente sabe também que partindo
dos erros, acertos, tudo isso, mas tem momentos que a gente erra,
né? Nisso, eu acredito que sim. Mas geralmente o erro é, é encarado
dessa forma, você tem que encarar dessa forma, não é? Tentar
mudar a forma de, de explicação pra ver se ele consegue alcançar.
Porque essa coisa da palavra é tão difícil, né? A gente adulto,
quando a gente tá mesmo, quando a gente tá estudando, né? Às
vezes a gente interpreta de outra forma por causa de uma
palavrinha, né? Então as crianças que têm um nível vocabular
diferente, né? Do que nós adultos. Então a gente tem que ter todo
esse cuidado. Aí a gente tenta, né? Fazer e dar um outro
encaminhamento (...) (Professora Bernadete, 1º ano, Escola B).
de frases. Naquele contexto, ela teve o cuidado em ditar pausadamente, sem contar
o que declarou durante o ditado: “... se a gente pára, dá um espaço para não
escrever tudo agarrado. ‘Flávia comprou remédio na farmácia’”. De modo
semelhante, procedeu no ditado de palavras realizado na segunda observação.
Naquela ocasião, pronunciou artificialmente as palavras, com a visível finalidade de
evitar o erro (‘disco’, pronunciou ‘discó’).
185
De acordo com a professora, só podiam realizar ditado de textos, indicando a autonomia esperada
para um terceiro ano do 1º ciclo. Costumava conduzir o ditado com, no máximo, três parágrafos. A
correção ocorria não no término, mas entre os parágrafos.
393
(...)
P – Qual é o lugar que tem todas essas coisas? É um hospital, Mércia?
Alguns – Escola.
P – Não necessariamente tem tudo (os alunos iam dizendo as figuras). “Agora eu
vou chamar alguns alunos para procurar e escrever os nomes aqui, certo?
Taylane, escolha um desenho. O que é isso?”
A – LÁPIS.
P – Isso aqui é um LÁPIS? Como é que vocês sabem?
Alunos – Tem ‘S’.
A – ‘L’ de Larissa.
P – Muito bem.
395
(...)
P – Nesse texto que a gente acabou de ler e que vocês acabaram de escrever,
quais são as letras que se repetem mais?
A – CÁSSIO.
A – PÊSSEGO.
A – TORTA.
P – CÁSSIO, PÊSSEGO e TORTA são letras? Quais são as letras que aparecem
mais?
Alguns – ‘SS’.
P – ‘SS’! Vocês vão passar um traço. Embaixo do ‘SS’ da palavra que tem ‘SS’.
A – É só ‘SS’ ou é a palavra toda?
P – Todinha.
(...)
186
Livro utilizado: ALVES, Edna Regina Gallucci et alii. O clic na alfabetização. Curitiba. Arco-íris,
1994.
398
(...)
P – Qual é o produto?
Alguns alunos – Palito de fósforo.
P – Esse ‘DI’ está certo?
Alunos – Não, ‘DE’.
P – E aqui? Aqui tem ‘POTO’. Como é?
Alguns alunos – ‘F O C O’.
A – Não, tem ‘S’.
P – Tem gente que chama ‘FOSCO’, ‘FOSCO’, mas é ‘FÓSFORO’. Como é?
‘FÓSFORO’. Vamos chegar em casa falando correto e bonito. ‘Mamãe, guarde a
caixa de fósforo’. Vamos para o outro. Pára de barulho! Monique, você vai
perder o lugar, viu? Você ganhou a cadeira aqui (próxima ao quadro), porque
queria fazer a tarefa. Olhe, se continuar, segunda só entra com a mãe. Qual é a
marca do fósforo?
399
Alguns – OLHO.
P – Tem outros, não é? Escreva ‘OLHÓ’. Eu não pedi para ninguém dizer. Ela
faz só.
A – Ela não sabe.
P – Mas aprende agora. Vocês não sabem que depois a gente conversa sobre a
palavra? Veja a letra final, ‘OLHÓ’. Ela acertou duas letrinhas, não foi? Vamos
corrigir. Como é?
Alguns alunos – ‘O L H O’.
P – Quem sabe uma palavrinha que termine com o mesmo som?
A – ALHO.
P – O som de OLHO, o som final é ‘LHO’ (pronunciou ‘LHÓ’), “aí disseram:
MILHO, ALHO, FILHO, MOLHO” (a mestra registrou). “Agora, olha o SONHO que
Adalberto falou. SONHO é igual a esse?
10:55h – Hora de aula é hora de banheiro e água? Olhe ali: SONHO, NHO;
MOLHO, LHO (pronunciou ‘LHÓ’), o ‘LHO’ fica ‘LHO’ e o ‘NHO’, ‘NHO’. Olha aqui
COELHO.
(...)
187
Personagem que aparecia no texto proposto para a interpretação textual.
401
(...)
P – Como se escreve SIGNIFICADO?
A – ‘C I’.
A – ‘S I’.
P – Vamos ver se é com ‘CI’ ou ‘SI’.
Adalberto – Tia, qual é a diferença entre ‘TA’ e ‘DA’?
P – O som. O ‘CI’ e ‘SI’ depende da palavra. Olha, aqui é o grupo dos que
pensam e aqui os que copiam, é? (Referindo-se aos seus alunos). Vamos ver
‘SIGUI’ (pronúncia), “como se escreve ‘GUI’? Leia Adalberto: ‘CIQUINIFICA’,
olha, aí tá ‘QUI’. A mestra registrou no quadro: ‘CIQUINIFICA’,
‘SIQUINIFICADO’”
P – O que tá errado?
A – É com ‘S’.
P – Certo. Esse grupo vai procurar com ‘C’ e esse com ‘S’. Quem quiser, tem
aqui um, quer procurar? Na segunda-feira tragam, viu!
A – Achei o ‘SI’.
402
P – Agora vá pulando até achar o ‘G’. Quando chegar no ‘G’, vão para o ‘H’
para achar. Se não for de um jeito, é de outro. Onde é o ‘SI’? O ‘SI’ é aqui.
Passou o ‘G’. Se você não achou, é porque não tem essa palavra aqui.
11:26h – Continuaram procurando.
P – Já que vocês não acharam com ‘C’, procurem com ‘S’ agora. Achou ‘SI’,
agora ‘SIG’, não pode pular para o ‘I’ não. O que vem primeiro o ‘G’ ou o ‘I’?
A – Tia, SIGNIFICADO não tem ‘U’ não.
P – Vamos corrigir então (Félix registrou a palavra no quadro). “Pode circular
essa palavrinha. De lápis. Olhe, esse ‘GUI’ aqui ó, não é ‘GUI’. Olhe aqui,
dicionário serve para ler, para encontrar o significado das palavras”.
A professora reescreveu: ‘RU’ com ‘M’ fica ‘RUM’ ‘BA’. “Quem sabe o que é
RUMBA?
A – Eu.
P – O que é?
403
A – Não sei.
P – É um ritmo. Assim como tem o samba. Aqui, ‘E’ e ‘LE’, ‘E LE FAN TE’, ‘SAM
BA’, ‘T R O M’, ‘T R O’ faz ‘TRO’ e ‘M’ som nasal, ‘TROMBA’. Qual é a palavra
maior? É ‘RUMBA, ELEFANTE, SAMBA ou TROMBA’? Qual é a maior?
A – ELEFANTE.
P – Por quê?
A – Porque ele é gordo.
P – Porque a palavra ELEFANTE é maior?
A1 – Porque tem mais letras.
P – Isso. Tem quantas letras?
A – Oito.
P – E TROMBA?
A – Seis.
(...)
P – Palavra quatro, JACARÉ.
A – ‘GA’.
P – ‘GA’? Tem gente dizendo que é essa? JACARÉ e tem gente dizendo que é
essa JOSÉ. JACARÉ tem quantas sílabas?
Alunos – Três.
P – Começa com que sílaba?
Alguns – ‘JA’’.
P – E a outra? A sílaba do meio? ‘CA’.
A – Mércia acertou.
(...)
405
188
Por vezes, tivemos a clareza de, na articulação dos eixos de análise, no segundo capítulo,
trazermos dados já declarados no primeiro. Entretanto, a intenção foi não mais analisar a progressão
das atividades por elas mesmas, mas na relação com aspectos que remetiam às decisões de ordem
“pedagógica”.
407
uma alta freqüência de leitura de texto realizada pela professora, tal como
enfatizamos no primeiro capítulo desse estudo. Resguardadas as especificidades de
cada turma, esse encaminhamento foi priorizado em todos os anos-ciclo.
de atividade em sete das oito aulas por nós acompanhadas. É interessante notar
que na escola C, instituição a qual se distinguiu das demais pela dinâmica de
articulação entre as mestras, somente a do terceiro ano reservou, em três das oito
aulas, espaço para a produção textual individual. Curiosamente, sublinhamos que,
naquela turma, os educandos, em sua maioria, não estavam alfabetizados.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
189
Nomenclatura corrente no documento produzido pela Secretaria Municipal de Ensino de Recife
(PCR, 2002).
415
A “opção” por esperar para copiar as respostas corretas, mostra o quanto os alunos
excluídos buscavam uma tática de sobrevivência. Esse dado, conforme Pinto (2002),
não contribuiria para um conhecimento dos percursos cognitivos dos alunos, bem
como para um planejamento de seqüências didáticas que viabilizassem um avanço
significativo em seu aprendizado.
Uma experiência que observamos e que merece ser retomada, foi a prática
do “reforço” desenvolvido na escola C. Por reconhecerem as dificuldades
enfrentadas pelos aprendizes, o grupo de professoras dessa escola resolveu adotar
um reforço realizado sempre no segundo semestre. As mestras inseriam os alunos
em grupos que consideravam próximos quanto às aprendizagens construídas e,
através de uma organização semanal, desenvolviam um trabalho diferenciado com
esses alunos, uma hora antes do término da aula. Essa alternativa que foi adotada
pelos sujeitos da escola, não se constituía, portanto, numa medida oficial. Em
consonância com o que ressaltamos, ao longo do estudo, as professoras dessa
escola se destacaram por desenvolverem atividades com certo grau de articulação.
Considerando o conjunto das instituições, foi possível, nessa escola, vislumbrar
avanços no ensino e na aprendizagem dos alunos, a partir de alguns aspectos (em
comum) que norteavam as práticas dessas mestras.
vinha sendo, essencialmente, uma prática de reescrita oral para a escrita de textos,
desconsiderando, em nossa compreensão, as especificidades dessas modalidades.
Pensamos que a escolarização por ciclos pode contribuir para o avanço das
práticas docentes, na medida em que impõe mudanças, reflexões que remetem
tanto aos conteúdos escolares quanto às formas de organização do trabalho
realizado em sala de aula. Nesse âmbito, se inserem, fundamentalmente, as
questões vinculadas ao tratamento da heterogeneidade e do erro do aluno. Esses
aspectos remetem, sem dúvida, a um bom planejamento de ensino, que garanta
boas intervenções didático-pedagógicas, de modo a concretizar os objetivos a serem
alcançados (LEAL, 2009).
progressão dos saberes no ciclo. Por que enfatizamos isso? Ao defendermos uma
mudança nos currículos, não entendemos que esse processo deva ocorrer
ignorando-se as especificidades da prática do professor.
REFERÊNCIAS
BAILEY, K. D. Methods of social reseach. 4. ed. New York: The Free Press, 1994.
______. Los sistemas de escritura en el desarollo del nino. México: Siglo XXI,
1979.
FRIGOTTO, E. A leitura e a escrita nos ciclos de formação: existe algum avanço? In:
REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 28., 2005, Caxambu. Anais... Caxambu: ANPED,
2005.
WELLS, G. Story reading and the development of symbolic skills. In: WELLS, G.
(Org.). Language, learning and education. [S.l]: University of Bristol, 1982. p. 187-
201.
433
APÊNDICES
6. O que você costuma registrar? Como você registra? Quando registra? Você acha
que o tipo de registro realizado está ajudando na organização de seu trabalho e na
condução das atividades em sala de aula? O registro feito tem ajudado no processo
de aprendizagem dos alunos? Há diferenças em relação às formas de registro no 1º,
2º e 3º anos do 1º ciclo? Quais? As formas de registrar permitem ajudar na
(re)orientação do ensino e, conseqüentemente, no atendimento à diversidade?
7. Existe algum “material didático” que lhe ajuda na organização e condução das
aulas de língua portuguesa? Qual(is)? De que modo esses materiais interferem na
organização de seu trabalho em sala de aula? Você usa o livro didático? Com que
freqüência? Para quê? O que acha do LD adotado? Você participou da escolha?
9. Você atuou com outras turmas de 1º ciclo? Havia algo diferente na maneira de
ensinar e de avaliar?
12. Como se dá a passagem dos alunos de um ano para outro? Você concorda com
a posição da rede? Por quê?
Quais os critérios adotados, na seleção dos alunos, para esse trabalho diferenciado
no interior da escola que você trabalha? Você tem autonomia pra selecionar? Como
se dá o processo?
14. Como você avalia esses seis anos de implantação dos ciclos na Prefeitura de
Recife? Mudou algo? Positiva ou negativamente? Existem diferenças em relação à
organização por série? Quais? Você acha que a criação do regime de ciclos mudou
algo na forma de ensinar? E na forma de avaliar? Por que sim? Por que não?
15. O que você sugeriria, consideraria importante, para a avaliação funcionar bem
num sistema de ciclos?
17. Qual(is) a(s) finalidade(s) do conselho de ciclo? Como você se organiza para
essa reunião na sua escola?
18. Além do conselho de ciclo, existe espaço em sua escola pra outras reuniões? Se
há, com que freqüência ocorrem? O que costumam discutir? Você considera esses
momentos importantes para discutir aspectos relacionados ao ensino, à avaliação,
além de outras questões da prática pedagógica?
19. No contexto da escola em que você trabalha, existe oportunidade de troca com
as colegas? (concepções, materiais, etc).
1- Oração 7 5 8 20 8 1 8 17 7 1 8 16 53
2- Escuta de música ou
canto 8 7 8 23 1 0 8 9 8 1 8 17 49
3- Chamada na
caderneta 8 3 1 12 8 0 1 9 4 7 4 15 36
4- Calendário
(checagem de data, 0 3 6 9 1 0 8 9 1 1 5 7 25
437
mês, ano)
5- Contagem de alunos 0 1 2 3 2 0 1 3 1 0 4 5 11
6- Escrita do
cabeçalho 8 0 4 12 8 5 7 20 8 5 6 19 51
7- Lanche 8 8 8 24 8 8 8 24 8 8 8 24 72
8- Recreio 8 8 8 24 8 8 6 22 8 8 7 23 69
9- Roda de conversa 0 4 3 7 0 0 2 2 1 0 1 2 11
10- Brincadeira, jogo,
desenho, pintura 9 7 5 21 8 8 4 20 7 5 8 20 61
11- Registro de tarefa
para casa 6 1 1 8 3 3 2 8 5 1 5 11 27
12- Correção de tarefa
de casa 2 0 3 5 0 0 0 0 1 3 1 5 10
Categorias 1ºA 1ºB 1ºC T 2ºA 2ºB 2ºC T 3ºA 3ºB 3ºC T TG
1- Leitura de texto pela
mestra 7 3 8 18 9 7 5 21 5 5 5 15 54
5- Leitura silenciosa 1 1 0 2 6 0 2 8 0 2 2 4 14
438
6- Leitura livre 1 1 0 2 3 0 1 4 0 0 0 0 6
7- Leitura de enunciados
pela mestra 3 1 2 6 7 1 5 13 7 6 5 18 37
8- Leitura de enunciados
pelo aluno 3 0 0 3 1 0 1 2 3 2 2 7 12
9- Leitura coletiva de
enunciados 0 0 0 0 0 1 1 2 1 3 2 6 8
Categorias 1ºA 1ºB 1ºC T 2ºA 2ºB 2ºC T 3ºA 3ºB 3ºC T TG
1- (re)conto de texto "história"
pela professora 2 3 8 13 0 5 0 5 1 1 1 3 21
2- (re)conto de texto "história"
pelo aluno 2 3 2 7 1 5 0 6 1 1 0 2 15
5- Reflexão coletiva de
significado de palavra 2 3 2 7 0 6 5 11 3 5 6 14 32
Categorias 1ºA 1ºB 1ºC T 2ºA 2ºB 2ºC T 3ºA 3ºB 3ºC T TG
1- Produção individual de
texto, final de história 0 1 1 2 2 1 0 3 2 6 5 13 18
2- Produção de texto com
auxílio do professor 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 1 2
Total Geral 0 1 1 2 3 12 3 18 4 9 11 24 44
3. Leitura de sílabas 2 2 1 5 0 0 1 1 0 0 0 0 6
440
4- Leitura de palavras
sem auxílio 5 4 6 15 1 0 6 7 4 2 4 10 32
5- Leitura de palavras
com auxílio 3 3 5 11 2 0 1 3 5 0 0 5 19
6- Leitura/descoberta de
palavras 0 3 0 3 0 0 0 0 1 0 1 2 5
7- Leitura de frases sem
auxílio 1 4 6 11 0 1 4 5 0 3 1 4 20
8- Leitura de frases com
auxílio 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 1 1 2
Total Geral 11 18 18 47 3 1 13 17 10 5 8 23 87
Categorias 1ºA 1ºB 1ºC T 2ºA 2ºB 2ºC T 3ºA 3ºB 3ºC T TG
1- Escrita de letra 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
2- Escrita de sílaba (inicial,
medial e final) de palavra 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
3- Escrita de palavra com
auxílio da professora 2 2 5 9 1 0 1 2 0 0 6 6 17
441
4- Escrita de palavras
(letra/sílaba/palavra dada) 7 2 2 11 4 0 1 5 1 0 1 2 18
5- Escrita de palavra como
souber (espontânea) 4 5 4 13 6 1 2 9 3 0 4 7 29
6- Escrita de palavra com o
uso do alfabeto móvel 0 2 3 5 0 0 0 0 0 0 0 0 5
7- Escrita de palavra com
aliteração 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Categorias 1ºA 1ºB 1ºC Total 2ºA 2ºB 2ºC Total 3ºA 3ºB 3ºC Total TG
1- Cópia de letra 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1
2- Cópia de sílaba 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
3- Cópia de palavra 3 3 0 6 0 0 1 1 0 0 1 1 8
442
4- Cópia de frase 0 3 1 4 2 0 1 3 3 2 0 5 12
5- Cópia de texto 2 0 0 2 6 7 1 14 3 1 1 5 21
Total Geral 6 6 1 13 8 7 3 18 6 3 2 11 42
Categorias 1ºA 1ºB 1ºC T 2ºA 2ºB 2ºC T 3ºA 3ºB 3ºC T TG
1- Contagem de letras em
sílabas 0 0 0 0 0 0 1 1 3 0 0 3 4
2- Contagem de letras em
palavras 4 5 3 12 2 1 2 5 3 0 1 4 21
3- Contagem de sílabas em
palavras 3 6 6 15 2 1 5 8 6 0 2 8 31
4- Contagem de palavras em
frases/textos 1 3 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 4
Total Geral 8 14 9 31 4 2 8 14 12 0 3 15 60
Categorias 1ºA 1ºB 1ºC T 2ºA 2ºB 2ºC T 3ºA 3ºB 3ºC T TG
1- Partição oral de sílabas
em letras 2 2 6 10 0 0 3 3 1 0 5 6 19
2- Partição oral de palavras
em letras 6 1 3 10 3 0 4 7 5 0 4 9 26
3- Partição oral de palavras
em sílabas 4 4 3 11 5 0 3 8 8 1 3 12 31
443
Categorias 1ºA 1ºB 1ºC T 2ºA 2ºB 2ºC T 3ºA 3ºB 3ºC T TG
1- Nomeação de letras em
posição" X" 5 5 3 13 1 0 0 1 2 0 1 3 17
2- Nomeação de letras" X"
em posição "X" 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 1
3- Identificação de letras
em posição "X" 2 2 1 5 0 0 0 0 0 0 0 0 5
444
Total Geral 29 25 17 71 5 0 3 8 10 2 8 20 99
Categorias 1ºA 1ºB 1ºC T 2ºA 2ºB 2ºC T 3ºA 3ºB 3ºC T TG
1- Comparação de sílabas
quanto ao número de letras 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 3 3
445
2- Comparação de
palavras quanto ao número
de letras 2 3 0 5 0 0 0 0 1 0 0 1 6
3- Comparação de
palavras quanto ao número
de sílabas 3 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 3
4- Comparação de
palavras (letras
iguais/diferentes) 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 1
5- Comparação de
palavras (sílabas
iguais/diferentes) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
6- Comparação com
escrita convencional (auto-
avaliação) 2 0 4 6 2 0 2 4 0 2 2 4 14
Total Geral 7 3 4 14 2 0 2 4 5 2 2 9 27
Tabela 13: Freqüência Absoluta de Atividades de análise lingüística, nas nove turmas
observadas
Categorias 1ºA 1ºB 1ºC Total 2ºA 2ºB 2ºC Total 3ºA 3ºB 3ºC Total TG
446
1- Ortografia 0 1 3 4 5 0 3 8 4 1 5 10 22
2- Nomenclatura gramatical 0 0 0 0 3 2 1 6 2 4 1 7 13
3- Conhecimentos lingüísticos 0 1 0 1 0 7 1 8 1 4 0 5 14
3- Pontuação 0 2 0 2 0 0 1 1 1 8 1 10 13
Total Geral 0 4 3 7 8 9 6 23 8 17 7 32 62