Você está na página 1de 14
Comins C0 A ECOLOGIA PLURALISTA DA COMUNICACAO conectividade, mobilidade, ubiquidade Lucia Santaella PAULUS IMAGENS NA PONTA DOS DEDOS esde 0 surgimento da fotografia, tem sido impiessio- nante o ritmo evolutive dos modos de produgio da imagem tecnolégica. Novos suportes, meios de regis- “tro, reproducio, difusio, distribuigao e consequentes processos Jerceptivos sempre renovados nio cessam de nos surpreender. ‘Na sequéncia da foto para a cinematografia, desta para a imagem * felevisiva e videogréfica, entio, da holografia para as imagens nu- “inéricas, geradas computacionalmente, surgiram as imagens jue tenho chamado de voléteis, isto 6, infagens digitais prolife- intes, quase sempre triviais, que, capturadas por webcams, “cameras digitais e celulares, so teletransporcéveis, viajando elas redes de um ponto qualquer para qualquer outro ponto do Jobo. Pouguissimo tempo se passou e cis que estamos agora, ‘om 0s iPhoner, diante de imagens manipuléveis, manuseéveis 20 © toque da ponta de nossos dedos, imagens que se mexem, correm de Ié para cé, escorregam, dilatam-se, somem e reaparecem, verti- "calizam-se, horizontalizam-se nas pequeninas telas de celulares ™ inteligences, de dispositivos méveis mulkifuncionais que pare- = cem telefones, mas so, antes de cudo, também computadores. amnigco /NECOLOGIA PLURALISTA DA COMUNICACAO 186 1.0 CLIMAX PREVISTO PARA A IMAGEM TECNOLOGICA, aA Sa eee Até bem pouco tempo atrés, acreditava-se que o destino evo- lutivo da imagem tecnolégica culminaria em formas sofistica- das de realidade virtual (RV), cada vez mais rentes 4 mimese perfeita da tridimensionalidade do mundo visivel. Atgumentava-se que a RV introduziria uma cultura para além da representagio, uma cultura na qual as imagens nio mais se refetiriam ou fariam a mediacZo de uma realidade social dada. Ao contrétio, as imagens seriam de forma virtual (quer dizer, para todos os propésitos e intengdes) a realidade ela mesma. Em outras palavras, todo 0 sensorinm humano estaria engajado em um ambiente eletrOnico que se tornaria “virtualmente” indistinto das tealidades sociais e mareriais que as pessoas ha- bitam ou desejam habitar. Com a RV, a nogio de alguém que olha seria redundante, & medida que passéssemos a habitar mundos construfdos senso- rialmente, Mais ainda, as imagens materiais também se dissol- veriam com a remogio de qualquer interface material entre a visio ¢ a imagem. Tal simbiose corresponderia a plenitude tec- nolégica do poder ilusion{stico do cinema o qual, sob esse aspecto, seria um herdeiro da fotografia fixa, assim como esta foi herdeira da camera escura e do olho centralizado da tradicio perspectivista na produgéo de imagem (cf. Lister, 2001, p. 321). Se esse era o climax previsto para-a hist6ria das imagens tecnolégicas, crata-se de um climax que esté muito longe de ser monovalente, pois 0 caminho que as imagens esto comando é, antes de tudo, polimérfico e plural 2. IMAGENS NA HIPERMIDIA E METAMIDIA. =~ Ouera crenga, para a qual também nao faltaram adeptos, apostava que a teleologia da imagem a levaria para o hébitat das sincaxes hibridas da hipermidia. Esta significa a conjungio do hipertexto com a multimidia. O hipertexco, feuto do potencial IMAGENS NA PONTA DOS DEDOS “composto por fragmentos textuais conectados que vio por asso- _ciagdo compondo campos conceituais por meio de /inks aciona- © dos pelos usurios & medida que seguem pistas informacionais, ‘clicando em {cones de navegacao. A multim{dia, por sua vez, “constitui-se da mistura de sons, rufdos, imagens de todos os cipos, fixas e animadas, € textos. Desse modo, quando conjuge- curas so possiveis. Foi mencionado no capitulo 4 que Manovich (2008, pp. 48-50) _ sentido de que o computador mondo de seus saftuares representa “capacidades originais com uma série de propriedades. Quando ‘apenas justapde os contetidos tipicos de midias tradicionais, na inidia hibrida a estrutura convencional da linguagem das mfdias ‘precedentes é afetada para a constituicéo de uma nova linguagem. ‘Contanto que nao se entenda a hipetmidia como necessariamente ‘confinada em CD-ROMs ou DVDs, ainda prefiro tecorter ao ter- “mo “hipermidia”, pois este inclui as estruturas hipertextuais. No meu entendimento, a linguagem que € prépria das redes € hipermidia, mas a distingio de Manovich € importante para que © diferences graus de complexidade sejam levados em conta. ‘© que cumpre colocar em foco, para continuarmos na linha do argumento que estou aqui desenvolvendo, sfo as condigBes da imagem em fungio das transformacdes mididticas que nio ces- sam de se operar. Com a expansio das redes planetérias de comnts 30 ‘A ECOLOGIA PLURALISTA DA COMUNICAGAO 188 comunicacao, tudo parecia indicar que a imagem estava fadada a coexistir ¢ conviver com os mais variados sistemas de signos, ver- bais, visuais e sonoros, que juntos se configuram em hipersinta- xes espaciais e cemporais. Enfim, uma confraternizagio verboau- diovisual de tal ordem no mundo das linguagens que, durante algum tempo, fez rettoceder para um segundo plano a tio falada hegemonia da imagem na vida moderna e contemporinea. Entretanco, nem bem havia cessado o furor de hipermfdia, quando o fervilhamento dos aparelhos méveis e das cameras di gitais, codos do tamanho da palma da nossa mao, trouxe de vol- ta A cena com forca total uma verso renovada do instanténeo fotogréfico ¢ do minivideo. Trata-se justamente das imagens que chamo de voléteis. 3, ENXAMES DE IMAGENS VOLATEIS Em outro trabalho (Santaella, 2007a, pp. 389-404), apre- sentei um diagnéstico das condigdes de existéncia comunica- cional ¢ cultural das imagens voléteis que, na sua natureza ndmade, ub(qua, trivial, instével e efémera, passem da palma de nossas mios, da ponta de nossos dedos'e dos nossos olhares apressados para a meméria dos computadores, de onde viajam de um ponto a outro do globo, atravessando quaisquer fronteiras num piscar de olhos. Embora ainda sejam indubitavelmente fotogeafias, as ima- gens voléteis apresentam caracteristicas distintas das forogra- fias tradicionais, inclusive das fotografias expandidas, aquelas que passam pelas metamorfoses permitidas pelo computador. Imagens voléteis sao, antes de tudo, imagens triviais que, mesmo quando posadas, perdem qualquer viés de sblenidade. Além de ttiviais, sio, via de tegra, estereotipadas, pois a simplicidade de seu uso exclui a necessidade de qualquer pericia, destreza ou habili- dade por parte do agente. Assim, qualquer um pode ser fordgrafo de fotos padronizadas. troduziram no mundo da imagem recaiu fundamentalmente no seu modo de produgio, um modo de produgéo que permite a [ém de interativo, é, sobretudo, manipulatério, fornecendo linigdo a assertiva de Sloterdijk (2009) de que habitamos agora © me capacidade de meméria, B/uetooth, Wi-Fi, receptor de GPS e © rédio. Conta ainda com suporte para Google Maps e iTunes, entre f outras funcionalidades. Enfim, um faz tudo em miniatura, como ‘manda o figurino da leveza e da mobilidade. Por que seré que 0 toque foi escolhido como o melhor modo © guia é que grande parte de nossa inteligéncia tétil se concentra | na ponta de nossos dedos, de modo que estes se constituem no re- surso biolégico mais simples, dindmico, intuitivo e sensorialmente IMAGENS NA PONTA DOS DEDOS comn§ co [AECOLOGIA PLURALISTA DA COMUNICAGAO 190 SS ficaz para a manipulagao da interface de imagens na tela. Con- tudo, antes da discussio dessa hipétese, vejamos com um pouco mais de detalhes como funciona 0 iPhone. Em vez de usar um mouse ou um teclado, 0 iPhone usa botdes vireuais e controles que aparecem na superficie da tela. Telas sensiveis a algum dispositivo como o stylus jé existiam. Na rea- lidade, existem muitos métodos diferentes para detectar o input de uma pessoa em uma tela sensfvel ao toque. A maioria deles usa sensores e circuitos para monitorar mudangas em um estado particular. Alguns deles, como o #Phone, monitora mudancas na corrente elétrica. A ideia bésica € muito simples: a0 toque do dedo ou de um stylus na tela, esta muda de estado por meio de monitoramento. A maior parte dos sistemas, entretanto, é eficaz para detectar a localizago exata de apenas um ponto de toque, de modo que o toque em varios pontos ao mesmo tempo produz um resultado erratico. ‘A diferenga do iPhone em relacio a outros sistemas é que o dedo sensibiliza uma tela que € capaz de detectar simultanea- mente e com preciso miiltiplos pontos de toque. Assim, a inter- face multitoque permite que sejam tocados vérios pontos da tela ‘a0 mesmo tempo. Por exemplo, pode-se dar um zoom em imagens ou paginas da web ao abrir-se 0 polegar e outro dedo sobre a tela. © movimento inverso, de aproximagio dos dedos, produziré 0 desaparecimento do zoom ¢ 0 retorno da imagem ao seu tamanho original. Tudo isso porque a tela é capaz de responder tanto aos pontos de toque quanto aos seus movimentos. ‘A forma da tela, de uma perspectiva horizontal para uma vertical, também pode ser modificada ao virar-se 0 aparelho, Um acelerémetro dentro do dispositivo faz com que o sistema operacional saiba modificar a orientacio da imagem na tela. Isso permite, por exemplo, escorregar 40 longo de longas listas de arquivos de misica em uma tela estreita ou assistir a videos em um formato maior de tela. Enfim, transformar um pequeno retingulo em superficie ilu- minada, colorida, multiforme, viva e animada pelo deslizamento IMAGENS NA PONTA DOS 000s da ponta dos dedos foi, de fato, um tiro na mosca de nossa inte- ligéncia sens6ria, seno vejamos. ‘ernet fixa, segunda metade dos anos 1990, fez-se acompanhar or uma crenga generalizada de que a navegacio nas redes implica “ipatividade, a inércia do corpo, enquanto a mente ativa viaja jue tal crenga esté alicercada no conhecimento precétio que se ‘em do sistema héptico humano e contra,ela propus que, por trés “da aparente imobilidade corporal do usudtio plugado no ciberes- -0, hé uma exuberiincia de estimulos sens6rios e instantineas * ‘Tomando como base a dinimica que é executada pelos siste- jas perceptivos, defendi a ideia de que as habilidades que sio das por inferéncias mentais ricamente tramadas, estio também “ alicercadas no desenvolvimento simulténeo dessas complexas “operacdes mentais com reagées sens6tio-perceptivas no menos | dos dedos sobre 0 mouse ¢ sobre o teclado que, na ocasifio, me ‘guiaram no delineamento do perfil sens6rio-perceptivo do leitor imersivo ou cibernauta. acre} ‘AECOLOGIA PLURAUISTA DA COMUNICAGRO 192 Ora, justamente o sistema héptico, concentrado na ponta dos dedos, que agora entra de forma resoluta em cena para acio- nar as imagens nos iPhones. Cumpre, portanto, compreendet esse mais novo regime de producao e de interagéo com imagens que se movimentam e se transmutam ao sabor da manipulagio de um agente. Para isso, antes de retomar, & luz da ecologia da ‘percepco de Gibson (ver Santaella, 2004b, pp. 131-150), algumas reflexes sobre 0 sentido do tato ¢ do papel nele desempenhado pela extremidade dos dedos, vale a pena esclarecer que as pontas dos dedos so to poderosas em termos hépticos porque fazem parte da danca manipulatéria ilimitadamente versétil da méo humana. Vejamos. 6. AS VIRTUDES DA MAO O livro de Tallis (2003) sobre a mao nos proporciona uma viagem fantéstica pelas multifacetadas virtudes dessa extremi- dade do nosso corpo, extremidade téo onipresente em tudo que fazemos que, como A Carta Roubada, de E. A. Poe, deixamos de noté-la, Para 0 autor, a mao é a ferramenta de todas as ferramen- tas, a tenente operativa do nosso cérebro. O que somos capazes de fazer com a mio é uma das raz5es-chave daquilo que diferen- cia 0 humano dos animais. Sem a mio, nfo havecia a hist6ria da humanidade. Para comesarmos a dar-nos conta das consequéncias que trouxe para a espécie, basta enumerar algumas de suas habi- lidades: agarrar, pegar, segurar, puxar, arrancar, colher, canget, picar, apertar, espremer, pressionar, acariciar, afagar, acenar, aplaudir, cucucar, espetar, tatear, esmagar, estrangular, esmur- rar, perfurar, esfregar, raspar, cocar, artanhat, epagar, apalpat, dedilhar, batucar, levantar, jogat, modelar, molcar, estalar... € @ lisea nao esta completa. Para colocar alguma ordem nas miiltiplas, multitalentosas € multi-habilidosas faculdades da mio, pode-se levantar as suas fangées. Estas so principalmente exploratérias, manipulativas € comunicativas. Na mao, combinam-se um érgéo de manipu- lacio, de conhecimento e de comunicaséo. Bla age, conhece se ‘conhecimento pels aco; seu conhecimento guia sua acio; e ela age ¢ adquite mais conhecimento pela comunicacio" (Tallis, [idem, p. 22). Vem dai seu perfeito ajustamento com 0 cérebro. A !apteende o sentido delas. Enfim, € nosso instrumento mor, a ut-ferramenta na origem de todas as outras ferramentas cuja origem se deve justamente a versatilidade criadora da mao. Sem desmerecer a crescente sofisticagao de um telerteceptor for e cognitive. O autor vai ainda mais longe ao afirmar que a Pinteligéncia humana se desenvolve em paralelo com o aumento da preciso manipulatéria e nao pela intensificacio da acuidade ‘sual. No momento em que essa precisio manipulatéria entra em cena, entra também a personagem responsdvel por essa suti- leza: a ponta dos dedos. Essa personagem nfo exerceria seu papel na auséncia de informagio senséria. AIINTELIGENCIA SENSORIO-MOTORA NA PONTA DOS DEDOS Segundo Gibson (1966), a percepgio niio é algo computado ‘olhos, os ouvidos, o nariz, a boca ea pele so modos de exploragio, investigacio e orientacdo, modos de atengio a tudo que € constante IMAGENS WA PONTA DOS DEDOS (om C0 ‘A ECOLOGIA PLURAUISTA DA COMUNICAGAO 194 na estimulagio mutével, capazes de isolar a informagao perti- ence. Esses so chamados sentidos exteroceptivos componentes dos seguintes sistemas: a. sistema bésico de orientagio; b, sistema auditivo; ¢. sistema olfativo-degustativo; d. sistema visual; e. sistema héptico. Embora 0 complexo visual seja sem diivida fundamental quando se fala de imagem, dada a importancia do sistema hépcico para as imagens que se movimentam nas telas sensiveis a0 toque, a apresentacio desse sistema merece atengio mais pormenorizada. © modo de atengio que caracteriza o sistema hdptico € tatear, apalpar; seus receptores sio mecanicos e provavelmente tam- bém térmicos, seus 6rgos anatdmicos so a pele, incluindo ex- tensGes e aberturas, as juntas, inserindo ligamentos, misculos, inclusive os tenddes. Esse sistema consiste num complexo de subsistemas. Ble nfo possui um érgio especifico de sentido, mas receptores nos tecidos que esto por toda parte do corpo. Os receptores nas juntas colaboram com eles. Assim, as mios € outros membros do corpo sio, efetivamente, érgios ativos de percepgio. Os inputs em combinagio e covariagio podem especificar impressionante diversidade de fatos sobre 0 mundo adjacente. O tato e a visio em combinagdo fornecem um input redundante de informacio com dupla garantia (Gibson, idem, pp. 51-54). Desse modo, o sistema h4ptico € um sistema que inclui o corpo inteiro, a maioria de suas partes, juntas, miisculos, em toda a sua superficie. Outro aspecto importante apresenta-se no fato de que as extremidades do corpo, mios, pés, boca, e mesmo a lingua, IMAGENS NA PONTA 005 DEDOS nas quais a sensibilidade cétil se concentra, especialmente ponta dos dedos das mos e dos pés, sio érgios sensérios, explo- rat6rios e, a0 mesmo tempo, 6rgios motores, performativos. Isso quer dizer que 0 equipamento para sentir, tocar, apalpar € anatomicamente 0 mesmo equipamento para se fazer coisas, agit no ambiente. Tal combinacio néo se encontra no sistema visual, nem no auditivo. Podemos explorar coisas com os olhos, ‘mas nio podemos alterar 0 ambiente com os olhos. Entretanto, podemos tanto explorar quanto alterar 0 ambiente com as mios. ser humano esté no s6 em contato com 0 meio ambiente, ‘mas, através da funcio explorat6riae manipuladoradasextremidades | do sistema héptico, também faz contato com partes do meio externo. ‘A habilidade das mios para tatear, alisar, apalpar, cogar, cutucar, | dedilhas, pegar, erguer etc. justifica tudo que o ser humsno é capaz de fazer com elas. O tato exploratério ativo permite tanto agarrar 0s objetos quanto caprar seu significado. Nao estamos acostumados pensar nas mios como 6rgios sens6rios, porque, na maior parte do tempo, manipulamos objetos e as usamos na sua fungao perfor- ‘mativa, muito mais do que na sua fungo explorat6ria. ‘A capacidade perceptiva da mao cende a passar despercebida também porque nosso estado de alerta para com o input visual If domina sobre o héptico, Entretanto, mesmo sendo certo que as acées manipulatérias so acompanhadas pelo sistema visual, grande quantidade de informagGes sobre os objetos € obtida apenas pelo sistema haptico. Isso se dé porque, dentre todos os sentidos do corpo, a mao desempenha uma fungio especialissi- ma. f 0 Ginico érgio que € sens6rio, exploratério e, 20 mesmo tempo, motor, performativo, Sente o ambiente e é capaz de agir | sobre ele. O equipamento para sentir, tocar, apalpar ¢ anatomi camente 0 mesmo equipamento para se fazer coisas, manipular, fazer contato, agir no ambiente. Pesquisas sobre 0 toque discriminativo na sua relagéo com a cognigio (ver Vallbo, 1995, p. 237), concluem que o toque dis- criminativo na mio humana tem um papel remarcével se com- parado com outras submodalidades somato-sens6rias e mesmo 195 Mig co [AECOLOGIA PLURAUSTA DA COMUNICACAO 196 se comparado com o sentido do tato em outras regives da pele. Os sistemas sens6rios para 0 toque discriminative tém uma fingssima capacidade para extrair a informacio detalhada que € essencial a muitas fungdes cognitivas. De fato, € tal a concen- tracdo da sensibilidade cétil na ponta dos dedos, especialmente do indicador, que, na realidade, € a sensibilidade do corpo inteiro que se desloca para essa extremidade. Quando as pontas dos dedos cocam 0 teclads € 0 mouse do computador, sistemas musculares muito sutis es:o em aco. A classificagio gibsoniana dos sistemas que envolvem miisculos, classificaio baseada na acfo propositada e que € muito justa~ mente 0 tipo de aco que rege 0 toque do mouse, informa-nos que opera nesse toque, em primeiro lugar, a aco do sistema postural, visando ao equilibrio do corpo nao apenas em relacio A sua orientagio com o chao no ambiente fisico em que o ciber- nauta se encontra, mas também em relagio aos objetos que se movimentam na tela. Esté operando ainda o sistema investiga- tivo de orientacao, com seus ajustamentos de cabeca, olhos ¢ mios. Mesmo estando com 0 corpo parado, o sistema de loco- mocio também esté em operacio, buscando as posigdes mais favoraveis & percepco dos ambientes do ciberespago. Por isso mesmo, busca-se a aproximagao da informacao visual através do z00m, desvia-se de uma informagio para outra etc. Para isso, 0 sistema performativo deve estar acionado, como, de fato, esté, pois € um sistema que depende inteiramente das mios. Além disso, cumpre ressaltar que hé dois componentes esti- muladores do sistema nervoso, os que vém de fora e indepen- dem do observador e os que dependem de seus movimentos. Como resultado da agéo continua da ponta do dedo no mouse, 08 estimulos que, em situacio normal, independeriam do observa- dor, passam a também depender por completo de sua acio. E isso muito justamente que recebe o nome de interacdo, Uma inceracdo cuja base est localizada nfo apenas na exploracéo sens6rio-motora dos ambientes informacionais, mas na compreen- sio e avaliacdo semidtica do contetido conceitual desse ambiente. IMAGENS NA PONTA DOS DEDOS §8 IMAGENS AO SABOR DO TOQUE © Quando a ponta dos dedos clica e movimenta 0 mome, visando ovocar mudancas em uma tela, um complexo proceso mental visomotor é acionado. Em primeico lugar, esse process depende ida atencdo ou estado de alerta. Depende também de uma coor- snagio visomotora aprimorada do infonaura, tio aptimorada a nto de habilitar as reagdes motoras a lidar inscancaneamente mm mudangas visuais dindmicas. Depende ainda de aprender-se ‘concrolar objetos representados na tela, movimentando 0 mouse bre um suporte que est em outro plano. Depende por fim da ‘Ao passat para a manipulacio de imagens em telas sensfveis ao que, muito mais do que ao clique, 4 movimentacéo do mouse e Friotoces no plano do toque dos dedos com mudancas visuais di- amicas no plano da tela torna-se desnecesséria, pois agora os {ntima e natural, to bioadaprével que nao é de se espantar que “uma crianga de 2 anos jé esteja por intuicéo habilitada para ‘manuseé-la, brincar com ela ¢, sem davida, compreendé-la. coms C0.

Você também pode gostar