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£ por isso que retomamos a descri¢éo heideggeriana do cfrcu- Jo hermentutico a fim de que 0 novo e fundamental significado ‘que adquire aqui a estrutura circular possa se tornar fecundo para nosso propésito. Heidegger escreve: “Embora possa ser tolerado, 0 circulo nao deve ser degradado a circulo vicioso. Ele esconde uma ~ possiblidade positiva do conhecimento mais origindrio, que, evi- dentemente, sé ser4 compreendida de modo adequado quando fi- [271] car claro que a tarefa primordial, constante e definitiva da interpre- {agdo continua sendo nao permitit que a posigéo prévia, a visio prévia e 2 concepcao prévia (Vorhabe, Vorsicht, Vorbegriff Ihe se- jam impostas por iptuigdes ou nogdes populares. Sua tarefa é, an- tes, assegurar 0 tema cientifico, elaborando esses conceitos a par- tir da coisa, ela mesma”. 0 que Heidegger diz aqui nao é em primeiro lugar uma exigén- cia & praxis da compreensio, mas descreve a forma de realizacio da prépria interpretacdo compreensiva. A reflexdo hermenéutica de Heidegger tem 0 seu porto alto nfo no fato de demonstrat que aqui prejaz um circulo, mas que este citculo tem um sentido onto- l6gico positive. A descricéo como tal seré evidente para qualquer intérprete que saiba o que faz™’. Toda interpretagio correta tem ‘que proteger-se da arbitrariedade de intuicdes repentinas e da es- ‘ieiteza dos habitos de pensar imperceptiveis, e voltar seu olhar para “as coisas elas mesmas" (que para os filélogos sdo textos com sentido, que tratam, por sua vez, de coisas). Esse deixar-se determi “har assim pela prOpria coisa, evidentemente, nao é para o intérpre- te uma decisio *heroica” tomada de uma vez por todas, mas verda- - deiramente “a tarefa primeira, constante e ciltima”, Pois o que im- porta é manter a vista atenta & coisa através de todos 0s desvios a [270] 2. Os tragos.fundamentais de uma teoria da experiéncia | hermenéutica 2.1. A elevacdo da historicidade da compreensdo a um princtpio hermeneutico 2.1.1. 0 cfrculo hermenéutico e o problema dos preconceitos a) A descoberta de Heidegger da estrutuira prévia da compre. ensao : Heidegger 56 se interessa pela problesiética da hermenéutic ca histérica e da critica histérica com a finalidade ontoldgica de desenvolver, a partir delas, a estrutura préyia da compreensio", Nés, a0 contrério, uma vez tendo liberado a ciéncia das inibigdes ntolégicas do conceito de objetividade, buscamos compreende -omo a hermenéutica pode fazer jus & historicidade da compreen.. so, A autocompreensio tradicional da hermenéutica repousay ‘Sobre seu caréter de ser uma disciplina técnica", Isso vale inclusi ve para a ampliacdo diltheyana da hermenéutica & dimensio de or- -ganon das ciéncias do esptrito. Pode até parecer duvidoso que exis. ‘ta uma th) disciplina técnica da compreensio; sobre isso voltare- i ‘mos mais aiante. Em todo caso, precisamos compreender quais as t consequéncias para a hermenéutica das cigncias do esplrito 680 provocadas pelo fato de Heidegger derivar fundamentalmente aes : trutura circular da compreensio a partir da temporalidade da i pre-sen¢a. Essas consequéncias nao precisam ser as de uma teotid ‘que se aplica & préxis. Muito menos a praxis precisa ser exercida de ‘maneira diferente, de acordo com sua arte. Pode ser que a conse ‘quencia disso seja a necessidade de corrigir a autocompree ‘Sdo que se exerce constantemente na compreensdo, livrandoa adaptagdes inadequadas. Esse processo iria beneficiar a arte compreender apenas de modo indieto. y 187. (C, por exemplo, a desrito de E lager, em De Kunst dr Interpretation, ps, =| uecancorda com so No entants, no podera estar de acord com formula de qs | orate da cincadaeratura somentecomeca “quan nds etvermos desocados = sua de um tor contempornso” Nessa sltualojmalseslareros,ndo cate po- reno sempre compreender, enor jamais posames extrac uma “equiparaio pessoal bu temporal” firme. CC, “Excuro 1, vol Il bem como minha disertaio ‘Vo Zrkel tes Verthens" vo I). Sobre lo, também a crea de STECMULLER, W. Der ge “naenteZrkel das Vestahans, Darmstadt 197A A oblego doc lic conta o cura do rculo hermeneutico"desconhere que agul no eld em questo una eigenen de Se strato clentfa, masse trata de uma netfra ge, conhecila no amo da retin | ‘ese SdieiernacherCorreto,ao contri, aplo de 0. Tvansformatonen de Plo- “ophie, vol. Ul, Prankfut, 1973, ol lp. 83, 89,216 ¢ outas} 185 HEIDEGGER, Sen und Zt». 2128, 166, Ct Scleemachar,Hermeneuh ed Kner, Abb er Heidelberger Aladenie 105, 2Ab), que declra expressmente sua sesto 0 evo del ato daar 12 orignal nota" detest tode qa era gue npn ra natures fumdamentos dat, de qe a £ obj" (kana p16 erga 354 355 (272) que se vé constantemente submetido o intérprete em virtude das ‘deias que the ocorrem. Quem quiser compreender um texto, real 7a sempre um projetar. Téo logo aparega um primeio sentido no texto, o intérprete prelineia um sentido do todo. Naturalmente que. © sentido somente se manifesta porque quem Ie o texto é a part. de determinadas expectativas e na perspectiva de um sentido de- terminado. A compreensio do que est4 posto no texto consiste pre. cisamente na elaboracao desse projeto prévio, que, obviamente, tem que ir sendo constantemente revisado com base no que se df. conforme se avanca na penetragio do senti lo. : Essa descrigdo 6, naturalmente, uma abreviagdo rudimentar, fato de toda revisio do projeto prévio estar na possibilidade de an: tecipar um novo projeto de sentido; que projetos rivais possam se colocar lado a lado na elaboracdo, até que se estabeleca uni- vocamente a unidade do sentido; que a interpretacdo comece com: Conceitos prévios que serdo substituidos por outros mais adequa- dos; justamente todo esse constante reprojetar que perfaz o movi. mento de sentido do compreender e do interpretar € 0 processo des: crito por Heidegger. Quem busca compreender estd exposto a erros. de opinides prévias que nao se confirmam nas préprias coisas. Ela borar os projetos corretos e adequados as coisas, que como projetos sto antecipagdes que s6 podem ser confirmadas “nas coisas", tal 6a tarefa constante da compreensio. Aqui nao existe outra “objetivida de" a nao ser a confirmagao que uma opiniéo prévia obtém através de sua elaboracdo, Pois o que é que caracteriza a arbitrariedade das opinides prévias inadequadas senio o fato de que no processo de sua execugao acabam sendo aniquiladas? A compreensio s6 alcanga ‘ua verdadeira possibilidade quando as opinides prévias com as quais injcia néo forem arbitrérias. Por isso, faz sentido que o intérprete no se dirija diretamente aos textos a partir da opiniao prévia que the é propria, mas examine expressamente essas opiniées quanto sua legitimagio, ou seja, quanto A sua origem e validez. c Essa exigéncia fundamental deve ser pensada como a radicali- zagio de um procedimento que na realidade exercemos sempre que compreendemos algo. Diante de qualquer texto, nossa tarefa é nid introduzir, direta e acrticamente, nossos préprios hdbitos extra: iguagem ~ ou, no caso de uma lingua estrangeira, o habi: 356 to que nos é familiar por meio de autores ou de nosso trato cotidia- ‘no com a linguagem, Ao contrario, reconhecemos que a nossa tare- fa éalcangar a compreensio do texto somente a partir do habito da Jinguagem da época e de seu autor, Naturalmente, o problema ésa ber como se pode satisfazer essa exigncia geral. Sobretudo no campo da teoria do significado, 0 carater inconsciente dos pré- prios habitos de linguagem opde-se a isso. Como é | possfvel conscien- - tizar-nos das diferencas existentes entre o uso costumeiro da lin- uagem e 0 uso do texto? [Em geral € preciso dizer que o que nos faz parar e perceber uma possivel diferenga do uso da linguagem é s6 a experiéncia do choque que um texto nos causa ~ seja porque ele nao faz nenhum sentido, seja porque seu sentido nao concorda com nossas expectativas. Bxiste uma pressuposicao geral de que alguém que fala a mesma Ii ‘dua que eu toma as palavras que emprega no sentido que me € fa liar; essa pressuposicio somente se torna questiondvel em casos ex: cepcionais. 0 mesmo ocorre no caso de uma lingua estrangeira que © supomos conhecer medianamente; e também na compreensao- de uum texto pressupomos esse uso mediano da lingua 0 que afirmamos a respeito da opiniao prévia nos habitos da linguagem vale também para as opinides prévias de conterido que constituem nossa pré-compreensio, com as quais lemos of textos. ‘Também aqui se coloca o problema de como escapar ao circu to fechado das proptias opinibes prévias. De modo algum podemos pressupor como daclo geral que o que nos é dito em um texto se er ‘aixe sem quebras nas préprias opinides e expectativas. Ao contré- rio, o que me é dito por alguém, numa conversa, por carta, num li- ‘yro ou de outro modo, encontra-se por principio sob a pressuposi- ‘ho de que o que 6 exposto é sua opinido e nao a minha, da qual eu devo tomar conhecimento sem precisar partilhéla. Todavia, essa ‘ressuposicao nao representa uma condicéo que facilite a compre- énséo; antes, representa uma nova dificuldade, na medida em que as opinides prévias que determinam minha compreensao podem - continuar completamente desapercebidas. Se elas motivam mal-en- tendidos, como seria possfvel percebé-las, por exemplo, frente a um texto, onde nao hé contraobjegées da parte do outro? Como se "pode proteger um texto previamente frente a mat-entendidos? 397 (273) «(27 Xs! | prévigs, ignorando_a opiniia do.texto da r examinando-o mais de perto, reconhecemos. que também as opinides nado podem ser entendidas de maneira arbitréria. Da mesma forma que nao € possivel manter Por muito tempo uma compreenso incorreta de um hdbito da linguagem, sem que se destrua o sentido do todo, tampouco se podem manter, as cegas, as préprias opinides prévias sobre as. coisas, quando se busca compre- ender a opiniao de um outro, Quando se ouve alguém ou quando se empreende uma leitura, ndo é necessério que se esquecam todas as opinides prévias sobre seu contetido e todas as opinides pré- prias. O que se exige é simplesmente a abertura para a opiniao do ‘Outro ou para a opiniao do texto. Mas essa abertura implica sempre colocar a opiniao do outro em alguma relag3o com 0 conjunto das opinides préprias, ou que a gente se ponha em certa relagio com elas. Claro que as opinides Yepresentam uma infinidade de possibi- lidades mutéveis (em compara¢éo com a univocidade de uma lin- guagem ou de um vocabulério), mas dentro dessa multiplicidade do “opindvel”, isto é, daquilo em que um leitor pode encontrar sen- tido ou pode esperar encontrar, nem tudo é Possivel, e quem nado. ouve direito o que o outro realmente est4 dizendo acabara por nao conseguir integrar o mal-entendido em suas préprias e variadas ex. fee de sentido. Por isso; também aqui existe um trio, A farefa hermeneutica se converte por si mesma num questiona- ‘mento pautado na coisa em questdo,e jd se encontra sempre-code. ferminada por esta. Assim, o empreendimento hermenéutico ga._ {ha um solo firme sob seus pés-Aquele que quer compreender nao i, Rode se entregar.de.anteméo.ao_arbitria de suas préprias opinibes- ra mais obstinada ¢ Cofsequente possivel- até que este acabe por ndo.poder sex ignara: doe derrube.a suposta compreensio. Em principio, quem quer com. estar di {\ guma coisa. Por isso, uma ¢ deve, desde 0 principio, mostrare repli & alteridade Mas essa receptividade nao pressupe nem uma “neutralidade” com A) relacdo a coisa em tampouco um anulamento de sf mesina; impli apropriacio das apit ca antes uma destacada wpinides prévias e precon: \\ cellos pessoais. © que importa é dar-se conta das. préprios pressu: Dostos, a fim de que.o préprio texto possa apresentar'se em sua al. ‘teridade, podendo-assim-eonfrontar-sua-verdade-coii as opines _prévias pessoais. 358 Heidegger fez uma descricao fenomenolégica erfeita 0 oe brir a pré-estrutura da compreensdo no suposto “ler’ ay que’ ‘esta | = ‘Demonstra também por um exemplo que essa. descri¢éo Hai ul : tarea, Ser e tempo concretiza a proposito universal, que ele con verte em problema hermenéutico, na questdo do ser'™. Para expli tar a stuagio hermentutia da questo do se, segundo apoio prévia,a visio prévia e a concepcio prévia, Heidegger examina criti camente a questo que ele poe a metafisica, detendose em momen- tos essenciais e decisivos da histéria da metafisica, No fundo, com {sso nao faz sendo o que requer a consciéncia hist6ricehermeneuti- cam qualquer caso. Uma compreensio guiada por uma consciéncia metodolégica procurard nao simplesmente realizar suas mer bes, mas, antes, tornélas conscientes para poder controlélas € ie har assim uma compreensio correta a partir das ipl Cees a isso 0 que Heidegger quer dizer quando exige que se “assegure tema cientifico na elaboragio de posicao prévia, visio prévia e con cepcio prévia, a partir das coisas, elas mesmas. : uest4o portanto ndo esté em assegurarse frente & tradicéo que as sun yore part do ete, tana, corto, tatnes de manter afastado tudo que possa impedir alguém de sore déla a partir da prdpria coisa em questo. Sao os preconceitos né 0 percbids os que com seu dominio, nos tornam surdos para cot. ‘sa de que nos fala a tradicéo. f claro que a demonstragio heh cage viana de que o coneto de consctnla de Descartes 0 coneetode_ esprit de Hegel cntinsam send eos pela nica eda de substancia, que interpreta o ser como. ser atual ¢ ser preset trapassa em muito a autocompreensiio da. metafisica modema, ee rém nio de modo arbitrario e aleat6rio mas a partir de uma “post fo” prévia que realmente permite compreender essa tradica0 20 cadescobertoasprenisas onolgicas do coneto de subjtvt dade. Ao contrario disso, na critica kantiana a metafisica cea i ca" Heidegger descobre a ideia de uma metafisica da finitude za le deve credenciarse seu proprio projeto ontolégico. Desse modo, “assegura” o tema cientifico introduzindo-o e pondo-o em jogo na 188. Sein und Ze, p. 3128. 359 (275) compreensio da tradicéo, B assim que se mostra a concrecdo da sensores de nossa linguagem atual. 0 termo alemao Vorurteil (pre- ‘consciéncia histérica que estd em questio no compreender. conceito) - assim coino 0 termo frances préjugé mas de modo ain- da mais pregnante ~ parece ter sido restringido, pela Aufklarung e sua critica religigsa, a0 significado de “juizo ndo fundamenta- do”™. £ s6 a fundamentaco, a garantia do método (e nao 0 encon- tro com a coisa cam tal), que confere ao jutzo sua dignidade. Aos olhos do Aufklérung, a falta de fundamentacao nio deixa espaco a ‘outros modos de validade, pois significa que o jufzo nao tem um fundamento na coisa em questéo, que é um juizo *sem fundamen- to”. Essa é uma conclusao tipica do espirito do racionalismo. Sobre ele funda-se 0 descrédito dos preconceitos em geral ¢ a pretensio do conhecimento cientifico de exclutos totalmente. Na medida em que escolheu esse lema, a ciéncia moderna se- guiu o principio da divida cartesiana de néo aceitar por certo nada sobre o que exista alguma divida, junto com a concepcéo do méto- do que corresponde a essa exigéncia. J4 em nossas consideragoes iniciais tinhamos apontado para a ildade de se harmonizar 0 conhecimento histérico, que contribui para a formagao de nossa ‘consciéncia histérica, com esse ideal, e da dificuldade de compre- endélo em sua verdadeira esséncia a partir do moderno conceito do método, Chegou o momento de tornar positivas aquelas consi- deragdes negativas. Nesse sentido, o conceito de preconceito nos oferece um primeiro ponto de partida. £ s6 0 reconhecimento do cardter essencialmente preconceitu. ‘080 de toda compfeensa que pode levar o problema hermenéutico sua real agudeza, Medido por essa clareza, torna-se evidente que o historicismo, apesar de toda sua critica ao racionalismo e & teoria do direito natural, encontra-se ele mesmo sobre o solo da Aufklitung moder. na, compartithando, inadvertidamente, de seus preconceitos. Ha com efeito também um preconceito da Aufklarung que suporta e determina sua essencia: € 0 preconceito contra os preconceitos em eral e, com isso, a despotenciacao da tradigio. Uma andlise da historia do conceito mostra que é somente na Aufkldrung que o conceito do preconceito recebeu o matiz negati- vo que agora possui. Em si mesmo, “preconceito” (Vorurtei) quer dizer um juizo (Urteil) que se forma antes do exame definitive de. todos os momentos determinantes segundo a coisa em questéo. No rocedimento da jurisprudéncia um preconceito™ é uma prédeci- séo juridica, antes de ser baixada uma sentenga definitiva. Para aquele que participa da disputa judicial, um preconceito desse tipo representa evidentemente uma reducdo de suas chances, Por isso, préjudice, em frances, tal como praeiudicium, significa tam: ‘bém simplesmente prejuizo, desvantagem, dano, Nao obstante, essa. negatividade é apenas secundaria, A consequéncia negativa repotisa justamente na validez positiva, no valor prejudicial de uma préde- cisio, tal qual o de qualquer precedente, “Preconceito” ndo significa pois, de modo algum, falso juizo, uma vez que s ito permite que ele possa ser valorizado po- sitiva ou nefiativamente. F claro que al est operands parentes. co com 0 praeiiidicium latino, fazendo com que junto a0 matiz ne. sativa palovraposen haver também um mailz SRN. Exist préjugés légitimes. Evidentemente isso passa muito distante dos © b)0 deserédito sofrido pelo preconceito através da ACfKl ring) Seguindo a teoria dos preconceitos desenvolvida na Aufhla. rung;podemos encontra io basicar € preciso dis. tinguir entre os preconcertos da estima humana e os preconceltos or precipitagao". Essa divisdo-tem-seu-fundamento-na-origem dos preconceitos, na perspectiva das pessoas que os nutrem. O que 190. STRAUSS Leo Die elon pmo. 163:° temo ‘yreonsty ae prs ma degen ope Sexo do aug avons ein xan oe pac conte Co conto enc nace der eae tocar ab Soe tinea Prasad entra et pecan: ann aro Cian Thomas sss ectones epoca (O594650 ee un tang der Vernal EIS Sb0. co aig em WALCH Palesopsches exon 118 2046 488 Vorure, que tadusinoe como preconcelo,sigilcaItersimentejuteo prélo (Wortrte, ai as eonotagesjridieas¢conceltai ue texto toma agi Orta, Prdjuic, praiudicium, Vorenschedung (Na. 360 361 (276) [277] ia pelos outros, por sua autoridade, ou a precipitacio que existe em nds mesmos. 0 fato de que a autoridade seja uma fonte de preconceitos coincide com o conhecido principio fundamental da Aufkldrung formulado por Kant: tem coragem de te servir de teu préprio entendimento™. Embora se estenda para além do papel que os preconceitos desempenham na compreensio dos textos, a divisa citada acima encontra sua aplicagdo preferen- cial no ambito da hermeneutica, Com efeito, a critica da Aufkldrung se dirige, em primeiro lugar, contra a tradicao religiosa do criti nismo, portanto, a Sagrada Escritura, Compreendendo a Escritura ‘como um documento histérico, a critica bfblica pée em divida sua pretensdo dogmética. 0 que distingue a radicalidade da Aufkla- ‘rung moderna frente a todos os outros movimentos da Aufkldrung € que ela deve se impor frente & Sagrada Escritura e sua interpreta- go dogmatica™. Por isso, the particularmente central o proble- ma hermenéutico. Ela procura compreender a tradigio correta- mente, isto é isenta de todo preconceito e racionalmente. Mas isso. ‘raz uma dificuldade muito especial, na medida em que o mero fato da fixagdo por escrito contém.em.si prOpria um mo tativo de particular importancia. Nao.é f a possibilidade de o escrito nao ser verdade. O lidade do que & demonstravel, & como uma peca ¢ Tormase necess: mos do preconceito cultivado a favor do escri bém aqui, como em qualquer afirmacao oral, entre op! de™. Seja como for, a tendéncia geral da Aufkldrung é nao deixar tum esforgo erftico especial para nos libertar- valer autoridade alguma e decidir tudo diante do tribunal da razio. 302. No nico do seu artigo Beantvortung der Frage: Was st Auilarung? 1784 ("Respoe ta pergunia:O que éeclaresimento(Aufdérung}. 198, A Auftareng antiga cu eto fla flosotagregae cus manifestagto mais exons danga essencial, pois os preconceitos verdadeiros tém que ser justi ficados, em tiltima andlise, pelo conhecimento racional, embora essa tarefa jamais possa ser plenamente realizada. B dessa maneira que os critérios da Aufkldérung moderna con- tinuam determinando a autocompreensio do historicismo. f claro ‘que nao o fazem sem mediacao, mas através de uma ruptura pecu- levada a efeito pelo romantismo. Isso ganha uma cunhagem muito clara no esquema basico da filosofia da histéria que o romantismo tem em-comunicomazink ielarineg uf come-peene nal paiement pela reagio rofintica contra a Aufklarut, o.esquema da supera- stém sua validez através 195. Ch.asexplanagtesobreo Mratad elégicopoltico de Spinoza, p, 184s. do orignal. _ 196. Ta como se encontra, por exemple MEIER, CF Baiirige zu der Lehre von den Vorurtetien des menschlichenGeschlechts, 1786, 363 (278) go é mais que a outra face da “ignorai i ciéncia mitica jé & sempre um saber, ¢ na medida em que sabe de jpoderes divinos, ela ultrapassa o simples temor ante o poder (se é © que se pode supor tal coisa num estégio origindrio), ¢ ultra- passa também uma vida coletiva presa a rituais mégicos (como en- ‘ontramos, por exemplo, no Oriente Antigo). A consciéncia mitica sabe de si propria ¢ nesse saber ja nao se encontra simplesmente “fora de si mesma™. da premissa do progressivo “desencantamento” do mundo. Deve . representar a lei progressiva da hist6ria do proprio espirito e, ex. tamente porque o romantismo valoriza negativamente esse desen. | = volvimento, recorre ao prOprio esquema como evidente. O roman. tismo compartitha 0 preconceito da Aufkidrung e se limita a inver-- ter sua valorizacdo, na medida em que faz valer 0 velho como ve. Iho: a medievalidade “gética”, a sociedade estatal cristé da Buropa, a construgio estamental da sociedade, mas também a simpli dda vida campesina e a proximidade da natureza, # Arremetendo contra a crenca na perfeicio da Aufkicrung, que sonha com a plenitude da liberagao de toda “supersticao” e de todo preconceito do passado, os tempos primitivos, o mundo miti- co, a vida ainda néo rompida nem dilacerada pela consciéncia zuma “sociedade natural”, o mundo da cavalaria crist, alcancam agora um feitigo romantico e inclusive preferencial com respeitd & verdade™. A inversdo da premissa da Aufkldrung tem como conse. quancia a tendéncia paradoxal da restauracio, isto é a tendéncia de restabelecer 0 antigo porque é antigo, a voltar conscientemente a0 inconsciente etc. e culmina no reconhecimento de uma sabedo- ria superior nos tempos origindrios do mito. E é justamente essa, inversio romantica do critério de valor da Aufkldrung que consé- gue perpetuar a premissa deste, a oposicao abstrata entre mitoe razio. Toda critica da Aufklttrung continuard agora 0 caminho dessa reconverséo romantica do mesmo. A crenca na perfectibilida de da razio se converte na crenca na perfeigdo da consciéncia “mi tica’ e se reflete em um estado originério paradistaco anterior & queda no pecado de pensar, Na realidade, a premissa da misteriosa obscuridade, onde se encontra uma consciéncia coletiva mitica anterior a todo pensa- ‘mento, é tio dogmatica e abstrata quanto um estado perfeito de es- clarecimento total ou de saber absoluto, A sabedoria origindria Relacionado a isso encontrase também 0 fato de que a opost ‘qo entre um auténtico pensamento mitico e um pensamento poé- ~ fico pseudomitico é uma ilusio romantica, montada sobre um pre: conceito da Aufklérung: 0 de que o fazer poético, pelo fato de ser ‘uma criagdo da live capacidade de imaginar, ndo participa mais da ‘vinculacdo religiosa do mythos. fa antiga polémica entre poetas e filésofos, que entra agora no seu estégio moderno de fé na cigncia. ‘Agora jé ndo se diz que os poetas mentem muito, pois eles nfo tém nada de verdadeiro para dizer, jd que s6 produzem um efeito estéti- coe pretendem estimular a atividade da fantasia e o sentimento vi- tal do ouvinte ou do leitor através das criagdes de sua fantasia. Outro caso de inversdo do reflexo romantico reside no concei- to de “sociedade natural”, que, segundo Landerdorf (217), foi in- troduzido por H. Leo™. Em Karl Marx aparece como uma espécie de reliquia do direito natural que limita a validez de sua teoria so- cial e econdmica da luta de classes". Esse conceito nao remontard a descrigo de Rousseau da sociedade da divisio do trabalho e da introducio da propiedade?™ Em todo caso, no livo Ill da Rept blica®, Platao jé desmascara o carater ilus6r tado-na sua descriio irbnfca de um estado natural 199. Acreito que Hovkeinere Adorno tenham toga 2 rao em sua anilise da Dilek der Aurktirang embora continue consierando que aplcara Ulssesconceitessocil gles femme burguts representa um dele de refexo hstriea, quando nao, nelusve, ome conf Ho de Homero com 14. Voss, coro Goethe i citeou. 200, LEO, H, Studien und Skizaen 2u einer Naturlhre des Staats, 1833. 201 Cf as eflexdes que G von Lakicsdedicou cert vez essa importante questo, em Geschichte und Klassenbewusstein, 1923, ‘202, ROUSSEAU. Discours surgi a les fondements de nda parm ies hommes. 208. Cf.aobradoautor, PatounddleDichier p12 [agorao vol. V das Obras Completas, p-167211), 197, Num pequen etudo sobre os “Cilassche Sonette" de Inmnerminn, Alte Sch {en Isp. 196147, egora no vl. 1X das Obras Complela, ve oportunidae de alsa ut exemple desse proces. 198, {0 a esse respeito, meus trabalhos “Mythos und Verountt”. Kleine Seri, 4854, novo. Vif das Obras Completa “Mythos und Wissenschaft no vol VI as (bras Completas] 364 365, (279) Dessas inversdes de valores do romantismo se origina a atitu- de da ciéncia hist6rica do século XIX. Essa ndo mede mais o passa- do com os padrées do presente, tidos por absolutos; outorga aos. tempos passados um valor préprio e em certos aspectos 6 capaz, in clusive, de reconhecer sua superioridade. As grandes produgdes do romantismo, o redespertar dos tempos primitivos, o acolher a voz dos povos em suas cangées, a colecao de contos e sagas, 0 cult vo de costumes antigos, a descoberta das linguas como concep- des de mundo, o estudo da “religido e da sabedoria dos hindus”, [280] tudo isso desencadeou uma investigacéo histérica que foi conver. tendo, pouco a pouco, passo a passo, esse redespertar intuitivo ‘um conhecimento histérico distanciado. O engate da escola histé- rica no romantismo confirma, assim, que a propria repetigio ro- mantica do origindrio apoia-se na Au/kldrung. A ciéncia hist6rica do século XIX 6 0 seu mais soberbo fruto, e se entende a si mesma como a consumacao da Aufkidrung, como o iiltimo passo para o espirito se libertar dos grilhdes dogmaticos, 0 passo rumo a0 co: nhecimento objetivo do mundo histérico, capaz de igualarse em dignidade com 0 conhecimento da natureza da ciéncia moderna, 0 fato de que a atitude restauradora do romantismo pode unirse ao interesse basico da Aufkilirung na realfdade das ciénciag hist6ricas do espirito expressa tio somente que sua base comum é a. ‘mesma ruptura com a continuidade de sentido da tradico. Se, para aAufiddrung, toda tradigao que se revela como impossivel ou absur- da ante a razio 36 pode ser compreendida historicamente, isto & re. {trocedendo as formas de representagéo do pasado, a consciéncia mo representa uma radicalizacio stérica que surge com o romat Aufkldrung. Pois para a consciéncia histérica 0 caso de uma tri: dicéo contréria a razdo deixa de ser excepcional para converterse ‘numa situago comum, Crése to pouco num sentido universalmen- te acessivel a razo que todo o passado e todo 0 pensamento dos contemporaneos acabam s6 podendo ser compreendidos ainda “historicos”. Assim, na medida em que se desenvolve como. ciéncia histérica e sateliza a tudo no empuxo do historicismo, a crt ca romantica 4 Aufklarung desemboca, ela prépria, numa Aufkld — rung. O descrédito fundamental de todo preconceito, que o pathos empirico da nova ciéncia da natureza vincula com a Aufklétrung, tor. nase, na Aufkidrung histérica, universal e radical. 366 B justamente nesse ponto que deverd engatar criticamente a tentativa de uma hetmengutica historica. A superacio de todo pre- conceito, essa exigéncia global da Aufkldrung, iré mostrarse ela propria como um preconceito cuja revisdo liberard o caminho para uuma compreensdo adequada da finitude, que domina nao apenas 0 nosso carter humano mas também nossa consciéncia hist6rica Serd verdade que acharse imerso em tradigdes significa em primeiro plano estar submetido a preconceitos e limitado em sua propria liberdade? O certo n&o serd, antes, que toda existéncia hu- mana, mesmo a mais live, est limitada e condicionada de muitas maneiras? E se isso for correto entao a idea de uma razao absoluta nfo representa nenhuma possibilidade para a humanidade histori- ca, Para nés a razdo somente existe como real e historica, isto sig- nifica simplesmente: a razdo nao é dona de si mesma, pois esté sempre referida a0 dado no qual exerce sta aco. Isso nio se aplica 6 ao sentido como Kant, sob a influéncia da critica cética de Hume, limitou as pretensdes do racionalismo a0 momento apriérico no conhecimento da natureza. Pode ser ‘aplica- do com maior decisio a consciéncia histérica e possibilidade de conhecimento histérico. 0 fato de que, aqui, o homem tenha a ver consigo mesmo ¢ com suas préprias criagdes (Vico) representa uma solucdo apenas aparente do problema que 0 conhecimento hist6rico nos coloca. O homem é estranho a si mesmo e ao seu des- tino hist6rico de uma maneira muito diferente daquela pela qual a natureza Ihe € estranha, a qual néo sabe nada dele, Aqui, o problema epistemolégico deve ser colocado de modo totalmente diferente, Jé mostramos acima que Dilthey chegou a ‘compreender isso, mas ndo conseguiti superar os liames que 0 fixa- ‘vam & teoria do conhecimento tradicional. Seu ponto de partida, a interiorizagao (Innesein) das “vivéncias", nio pode construir a ponte para as realidades histéricas, porque as grandes realidades hist6ricas, sociedade e Estado, determinam de antemao toda “vi- vencia”, A autorreflexdo e a autobiografia - pontos de partida de Dilthey ~ néo sto fatos primérios e nao bastam como base para 0 problema hermenéutico, porque por elas a hist6ria ¢ reprivatizada. Na verdade, no é a histéria que nos perteiice mas somos nés que 367 (281) [282] pertencemos a ela. Muito antes de nos compreendermos na refle- xxao sobre o passado, j4 nos compreendemos naturalmente na fami lia, na sociedade e no Estado em que vivemos. A lente da subjetivi dade é um espelho deformante. A autorreflexio do individuo nao passa de uma luz ténue na corrente cerrada da vida histérica, Por isso, os preconceitos de um indivtduo, muito mais que seus jut. 205, constituem a realidade historica de seu ser. 2.1.2. Os preconceitos como condigio da compreensao a) A reabilitacao de autoridade e tradigio. __Bste € 0 ponto de partida do problema hermenéutico, Foi por isso que examinamos 0 descrédito do conceito do preconceito na Aufkiérung, O que se apresenta sob a ideia de uma autoconstru- fo absoluta da razo como um preconceito restritivo na verdade faz parte da prdpria realidade hist6rica, Se quisermos fazer justiga, a0 modo de ser finito e histrico do homem, é necessério levar a’ cabo uma reabilitagdo radical do conceito do preconceito e rex conhecer que astm provonedine eames. Cam ita a questig - central de uma hermenéutica verdadejramente histdrica, a questio -epistemol6gica fundamental, pode ser formulada assim: qual 6a ‘base que fundamenta a legitimidade de preconceitos? Em que se. diferenciam os preconceitos legitimos de todos os inumerdveis preconceltos cuja superacéo representa a inquestiondvel tarefa de critica? ‘Vamos nos aproximar desse problema procurando desenvolver positivamente a teoria acima apresentada dos preconceitos que Auifkldrung desenvolveu a partir de um propésito erftco. Quanto a divisfo dos preconceitos em preconceitos de autoridade p precipitacto, sabemos que sua base constitui a pressuposigio fun damental da Aufkidrung, a saber, um uso metodolégico e discipl nado da razio € suficiente para nos proteger de qualquer erro. Esta é a ideia cartesiana do método. A precipitagio é a verdadei fonte de equivocos que induz ao erro no uso da prépria raeio. autoridade, a0 contrério, é culpada de que néo fagamos uso da pr pria razdo. A distingto se baseia, portanto, numa oposiglo excl = dente entre autoridade e razdo. Importa combatermos a falsa@ peévia aceitacio do antigo, das autoridades. A Aufklrung conside- 13, por exemplo, que 0 grande feito reformador de Lutero consi 368, em ter debilitado profundamente *o preconceito da estima huma- na, sobretudo a estima filosdfica (referindo-se a Aristételes) e a es- tima ao papado romano...” Assim, a reforma fomenta o flores mento da hermenéutica que deve ensinar a usar corretamente a 40 na compreensio da tradigao. Nem a autoridade do magistério papal nem o apelo a tradi¢ao podem tornar supérflua a atividade fiermenéutica, cuja tarefa € defender o sentido razodvel do texto contra toda e qualquer imposi¢ao. As consequéncias de uma tal hermenéutica nao precisam ser ‘uma critica religiosa t€o radical como a que encontramos, por cexemplo, em Spinoza, Ao contrério, a possibilidade de uma verda- de sobrenatural pode muito bem subsistir, Nesse sentido e sobretu- do no Ambito da filosofia popular alema, a Aufkddrung restringit muitas vezes as pretensdes da razdo, reconhecendo a autoridade da Biblia e da Igreja, E verdade que Walch, por exemplo, distingue entre as duas classes de preconceitos - autoridade e precipitacto; mas ele consideraas como dois extremos, entre os quais é necessé- tio encontrar 0 correto caminho do meio: a mediacto entre a razio ea autoridade biblica. E 0 que atesta o fato de ele conceber o pre- ~ conceito da precipitagdo como preconceito a favor do novo, como lum tomar partido de antemdo, que leva a descartar precipitada- ~ mente as verdades sem outro motivo que o de serem antigas eo de serem atestadas por autoridades™®. Desse modo, enfrenta os ‘vrepensadores ingleses (como Collins e outros) e defende a fé his- | t6rica contra a norma da razao. Aqui o preconceito de precipitagio 6 seinterpretado, evidentemente, num sentido conservador. 'No entanto, nio hd duivida de que a verdadeira consequéncia Neduftitrang € outra, ou seja, a submisséo de toda autoridade & 10} Assim, 0 preconceito da precipitacdo deve ser entendidorao modo de Descartes, sit séja, como fonte.de toda.erro na uso dara Concorda com isso 0 fato de que a velha divisio-retornicom ‘um sentido alterado, an6s a vtdria da Au/t quando a her- mengutica se liberta de todo vinculo dogmati i ‘plo, que vemos Schlefermacher divis tendidos: a sujeigéo_e a precipitacao® ‘Ao lado dos preconceitos 204, WALCH. Phlosophische Lexicon (1726, 1018, _ 05, WALCH.p. 1006, tob o verbete Frathei u gedenten, Cf, acima p. 276 (riinl). ‘206. SCHLEIERMACHER. Werke, 1,7, p. 31, 369 ‘se encontra prdximo ao circulo de ideias particulares’. ‘com 0 problema da autoridade. Assim, as consequéncias vadicais. (284) ‘constantes que procedem das sujeigdes a que estamos submetidos, ele coloca 03 juizos momentaneos equivocados, devidos & precipita. «@o. Mas para quem trata da metodologia cientifica s6 interessam re- almente 0s primeiros, Schleiermacher nem suspeita que entre os preconceitos que atingem a quem se encontra sujeito a autoridades, pode haver também 0s que contenham alguma verdade, o que sem: pre esteve implicito no préprio conceito de autoridade. Sua modifi. cagio da divisio tradicional dos preconceitos testemunha a consu- magio da Aufkldrung. A sujeicio s6 se refere ainda a uma barreira individual da compreensdo: “a preferéncia unilateral por aquilo que endo referido ao oposto de razao e liberdade, a saber, a0 conceito ida obediéncia cega. Conhecemos esse significado a partir da termi- ‘\Vnologia da critica as ditaduras modernas. ‘Todavia, a esséncia da autoridade nao é va. erdade, aau- toridade é, em primeiro lugar, uma atfibuigdo a pessoas. Mas a au- toridade das pessoas nao tem seu fundamento ultimo num ato de ‘submisséo.e de ahdicagio da razio, mas.numato de reconhecimen” to-e.de-conhecimento: reconhecese que o-outro. ead aanaiani ‘em-juizo-e viséo.e que, por consequéncia, seu julzo precede, ou seja, tem primazia.em relacéo a0 nosso préprio juizo. Isso implica que, se alguém tem pretensoes Saorate ‘esta nao deve ser-lhe ‘outorgada; antes, autoridade-é ¢-deve-ser-alcangada Ela repousa ~. sobre-o-reconhecimento é, portanto, sobre uma ag8o da prépria ra; zo. que, tornando-se conscis te de Sus prooras ines, atu ao-outro.uma_visao mais acertada. A compreensdo correta desse sentido de autoridade nio tem nada a ver com a obediéncia cega a um comando, Nereatidade, autoridade nao tem a ver com obedién- cia, mas com conhecimento. Nao resta diividas de que a autorida- - deimplica necessarlamente poder dar ordens e encontrar obedién- cia. Mas isso provém unicamente da autoridade que alguém tem. A propria autoridade andnima e impessoal do superior que deriva “das ordens nao procede, em dltima instancia, dessas ordens, mas tomnaas possiveis. Seu verdadeiro fuindanientoe ium ato da iberdade ¢ da razio, que concede autoridade ao superior ~ -hasicamente porque esl oss fs ma. ‘ampla-ou-6-mais -experto, ou seja, porque sabe melhor™. B assim que o reconhecimento da autoridade est4 sempre liga- “doa ideia de que o quea autoridade diz,ndo ¢ uma arbitrariedade _ inracional masalgo.a ineipio.pode ser compreendido. ‘que consiste.a’esséncia da autoridade que exige 0 educador, 0 Na verdade, no conceito da sujeicao oculta-se a questio essen cial. A ideia de que 0s preconceitos que me detetminam surgem da ‘minha sujeicao jé esta decidida a partir do ponto de ve: solucdo.c-esclarecimento e s6 vale para 0s preconceitos ndojustift cados. Se existem também preconceitos justificados que possam ser |}produtivos para 0 conhecimento, entéo voltamos a confrontarnos da Aufkldrung, ainda presentes na fé que Schleiermacher deposi- tava na metodologia, nao se sustentam————— A reivindicagao feita pela Auftilérung da oposicdo entre fé na autoridade e uso da prdpria razdo tem sua razdo de ser. Enquanto a validea da autoridade ocupar o lugar do juizo préprio, a autoridade serduiafont ‘Mas isso ndo exeluto fato de que ela pode ser também uma fonte de verdade,.o que a Aufkiérung igno- ‘owen an pura ¢ simples dfamacto yeeralizada contra a aioe dade. Para nos ceértificarmps disso podemos nos reportar a umm dos. res precursores da Aufkldruriy europeia, Descartes. Apesar de toda a radicalidade-de seu -pensamento.metodolégico, sabese que Descartes excluiu as coisas da moral das pretenses de uma fecons truco completa de todas as ver que ele nao tenba desenvolvido realmente sua moral definitiva'e ue, pelo que se pode observar em suas cartas a Elisabete, seus pritr cipios nao trazen nenhiina Hovidade sobre 1s eae LN asec re I erg perpen Smet eeeaaerre tetra etal aaa pee trcareat comico mre tas fe reay eee ees eee cunt sD epee serenccneteces Decne cane feta oeee notre eaee aoe eaeocemmane, eaten ruin a eee Serer cee amma els ea ere tae arena Pipe ebep itemise gece (aceasta claro que no podemos esperar que a ciéncia modertia e ‘seus progressos vo-fundamentar uma nova moral. De fato, a difa- magio de toda futoridade nao € o tinico preconceito consolidado, pela Aufkldruny- Bla-tevou.tambén a tka grave deIOETGIOD préprio conceito. de autoridade. Sobre a base de um esclarecedor conceito de razao e liberdade, 0 conceito de autoridade acabou 370 am (285) superior, 0 especialista, f claro que os preconceitos que eles incul- cam encontram-se legitimados pela pessoa. Sua validez requer pre- disposicdo para com a pessoa que os representa. Mas é exatamente assim que se convertem em preconceltos objetivos, pois operam a ‘mesma predisposig&o para com uma coisa, que pode se estabelecer Por outros caminhos, por exemplo, por bons motivas validados. pela razio. Nesse sentido a esséncia da autoridade pertence ao con.

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