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A radiação solar em Portugal: sua importância como factor do clima

Autor(es): Morais, J. Custódio de


Publicado por: Museu Mineralógico e Geológico
URL http://hdl.handle.net/10316.2/37919
persistente:
Accessed : 21-Feb-2018 11:16:14

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PUBLICAÇÕES DO MUSEU MINERALÓGICO E GEOLÓGICO
DA

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

N.° 13

Memórias
e Notícias

COIMBRA
TIPOGRAFIA DA ATLÂNTIDA

1944
A Radiação Solar em Portugal

Sua importância como factor do clima

O estudo da radiação solar tem tomado nos últimos


anos grande impulso, pois é do Sol que provém pràtica-
mente toda a energia que se manifesta à superfície da
Terra, e o seu conhecimento é fundamental no estudo da
meteorologia.

O presente trabalho é uma síntese dos resultados publi­


cados nos Observatórios das 3 Universidades, especialmente
dos de Coimbra, aproveitando no fim os resultados dèste
estudo para verificar a importância dèste factor no clima de
alguns postos do continente português.

RADIAÇÃO SOLAR DIRECTA, SÔBRE UMA


SUPERFÍCIE NORMAL AOS RAIOS SOLARES

a) V ariação durante o ano

Em 1936 no Instituto Geofísico de Coimbra publicou-se


o resultado das observações da radiação solar feitas em 1916
com o pirheliómetro de compensação de Angstrom (1), com
uma pequena introdução mostrando que é nos primeiros
tempos da primavera que se encontram os valores máximos
4

da radiação, e notando que estes fenómenos são muito com­


plexos e irregulares.
Um ano de observações aí publicado é muito pouco para
tirar conclusões.
Actualmente está o Observador-chefe Dr. Sousa Brandão
encarregado dêstes estudos, e dèle obtivemos uma nova
série de 200 observações feitas de Julho de 1939 a Abril
de 1942.
Pondo de parte a variação da chamada «constante solar»,
a principal causa da variação da intensidade dos raios sola­
res está na massa de ar atravessada.
Nas observações publicadas, estas massas de ar veem,
em geral, indicadas, mas para estudar as variações da radia­
ção precisamos reduzir aquelas intensidades às mesmas mas­
sas de ar, para as tornar comparáveis.

A lei que regula o enfraquecimento da radiação é sensi­


velmente

l = I0 pm

em que l é a intensidade no instante da observação, I0 a


constante solar, (ou intensidade antes de entrar na atmos­
fera) m a massa de ar atravessada pelos raios solares,
tomando para unidade a massa atravessada na vertical, à
pressão de 760 mm., p uma constante chamada coeficiente
de transmissão.
Para compararmos as duas séries de observações temos
de as reduzir às mesmas massas de ar, obtendo o quadro
dos valores dos coeficientes de transmissão da série de 1916,
em que m foi calculado pela fórmula de Bemporad (2), e
as reduções aos mesmos valores de m pelo processo gráfico
de Hand (2), ampliado por nós.
Não estão feitas as reduções à distância média do sol,
atendendo a que se destinam os resultados só à comparação
das 2 séries.
Os valores correspondentes da série mais moderna mos-
5

tram valores dos coeficientes em média maiores, a que cor­


responde uma intensidade média também maior de 0,14
calorias por minuto e por centímetro quadrado.
No quadro da página seguinte expomos as médias das
duas séries de observações, dando o mesmo pêso a cada
observação.

Quadro dos coeficientes de transmissão

Série de 1916

Para o cálculo dêste quadro associámos os valores de m


e I à volta de valores inteiros de m, e calculámos as médias
correspondentes. Depois pelo cálculo algébrico calculámos
os valores de I para m inteiro.
6

Quadro dos valores de I e de p, média das 2 séries


de observações de Coimbra

Como para o cálculo dêste quadro introduzimos uma


correcção proveniente da distância variável da Terra ao Sol,
os valores de p exprimem agora as condições de transpa­
rência da atmosfera. Vê-se nele : i) que os coeficientes cal­
culados pela dita fórmula aumentam com a massa de ar, o
que é geral nos outros observatórios.
2) que êles são maiores no inverno do que no verão,
isto é, há mais transparência da atmosfera no inverno.
Atribui-se êste facto à maior tensão do vapor de água
atmosférico no verão, e também, segundo Linke, às corren­
tes de convecção atmosférica (3) que são maiores no verão.
Para vêr a influência da tensão do vapor de água exis­
tente na atmosfera servimo-nos do gráfico de Kimball (4)
aproveitando as observações de 1916.
Obtivemos para m = 1,5 os valores de p no inverno
maiores do que no verão em cêrca de 4%.
Devemos notar que os valores de p calculados pelo
7

método de Kimball, tomando em conta os valores da tensão


do vapor, são menores do que os valores observados, o que
só significa que a atmosfera em Coimbra é muito pura, pois
é uma cidade com pequena indústria.
Concorre, como dissemos, para esta irregularidade o
pequeno número de observações.

Façamos agora o mesmo cálculo para as medidas feitas


no Porto (Serra do Pilar), reduzindo os valores de / e m
que andam à volta de m inteiro, pela média aritmética, e
calculando em seguida pela álgebra os valores de / e p para
m inteiro. Obtivemos o quadro 3, para o que demos ás
médias mensais o mesmo pêso, embora não resultem do
mesmo número de observações (5).

Quadro dos valores de I e de p para valores inteiros de m,


deduzidos das obs. da Serra do Pilar no ano de 1939 a 1942
8

Da comparação deste quadro com o anterior resulta que


a transparência da atmosfera ê nas duas cidades sensivel­
mente a mesma, pelo menos nas épocas em que são feitas
as observações, que excluem os dias de sol encoberto.
Os valores médios da intensidade e dos coeficientes de
transparência são:

Para comparação calculámos também os coeficientes de


transmissão para Madrid, deduzidos do período de Setembro
de 1910 a Agosto de 1924. Verifica-se que eles são sensi­
velmente iguais aos de Coimbra e Porto, estando em geral
abaixo dos nossos 0.02, mas tais diferenças estão abaixo
dos erros das observações.

b ) V ariação durante o dia

Com o fim de investigar esta variação, utilizámos das


observações de Coimbra aqueles dias em que houve obser­
vações de manhã e de tarde, mas não muito perto do meio
dia verdadeiro, para comparar as intensidades da radiação,
ou a turvação da atmosfera, na manhã e na tarde.
Aproveitámos para êste estudo o novo factor de turvação
de Linke (3), que exprime, na opinião deste autor, melhor
que qualquer outro as condições de transparência atmosfé­
rica.
Diz que êle é sensivelmente independente das massas de
ar, e que a uma variação no seu valor corresponde uma
variação nas condições atmosféricas.
9

Com este factor a comparação da turvação da atmosfera


é feita não com uma atmosfera pura e sêca (atmosfera de
Rayleigh) mas com uma que tem i cm. de água precipi­
tável. O seu valor é

em que I 0 é a constante solar, I a intensidade observada, e


I w =i é a intensidade numa atmosfera correspondente em
que a massa de água precipitável é I cm. c.
Para o cálculo dêste factor publicou o autor um gráfico
com as entradas: I (reduzida à distância média da Terra ao
Sol) e massa do ar m.
Com èste gráfico obtivemos os valores:

Na série moderna usámos 12 observações de inverno


e 14 de verão, e na série antiga 3o de Janeiro e 15 de
Junho.
Nota-se que a turvação é maior no verão do que no
inverno, e também que a turvação aumenta com a tensão
de vapor (pois as observações antigas indicam êste elemento
na hora da observação). Em geral há mais turvação de
manhã do que de tarde.
10

RADIAÇÃO GLOBAL SOBRE UMA SUPERFÍCIE


HORIZONTAL

a ) R adiação difusa

A radiação global abrange não só a radiação directa do


sol, mas também a radiação do céu, com ou sem nuvens.
Nos dias em que houve em Coimbra medida da radia­
ção directa para aferição dos valores registados nos instru­
mentos, fez-se também a medida da radiação difusa sobre
uma superfície horizontal, tirando à radiação global a com­
ponente vertical da radiação directa sobre a superfície hori­
zontal.
11

No gráfico n.° 1 resumimos os resultados destas medi­


das, tomando como abcissas as massas de ar, e ordenadas
as intensidades da radiação global no instante da obser­
vação.
Os números colocados nos vários meses indicam o
número de observações donde foram deduzidos, e estão
ligados aos pontos que representam a intensidade da radia­
ção difusa.
Os pontos isolados correspondem a observações únicas.
As observações com massas de ar perto de 3 vão resu­
midas na última vertical com 5 observações.
Vê-se no gráfico que a intensidade da radiação difusa
diminue um pouco com o aumento das massas de ar, e é
menor no inverno com o valor médio o.13, do que no verão
com o valor médio 0,17.
Esta variação depende mais da massa de ar do que da
temperatura, como verificámos eliminando o efeito das mas­
sas de ar.
As relações das intensidades da radiação difusa para a
global, deduzidas das curvas médias são:

Verão (Maio a Agosto)................. 0,12

Inverno (Janeiro a Dezembro) . o,18

para massas de ar inferiores a 3 (altura do sol maior que 20o),


e dias claros.
Kimball (2) dá para Washington valores que se aproxi­
mam dêstes.
b) R adiação global

Em Coimbra esta radiação é medida (8) com o solarí-


grafo de Gorczynski, (comparado várias vezes com o solarí-
metro do mesmo autor), e na sua falta com o actinógrafo de
Robitzch.
12

Os resultados das medidas feitas só em dias claros, isto


é, em que a curva do registrador é muito regular são:

Estes números exprimem a radiação total média, durante


o dia, expressa em cal. gram. min. cm. q.
Vê-se na tabela que o fenómeno é bastante irregular
de ano para ano, apresentando o máximo em Julho e o
mínimo em Janeiro, com um pequeno mínimo secundário
mi Junho.
Se tomarmos porém, não só os dias claros, mas todos
3s dias, o fenómeno é muito mais irregular, sendo os valo­
res médios dos 5 anos (38 a 42) os seguintes:

No gráfico n.° 2 representámos por traços cheios estes


valores da radiação global quere para os dias claros, quere
para todos os dias. Vê-se bem, no mesmo gráfico, que a
variação desta radiação acompanha a variação da percen­
tagem das horas do brilho do sol.
13

Na mesmo gráfico representamos com linhas pontuadas


a radiação global média sôbre uma superfície horizontal,
tirada dos quadros de Maurin (7) para a latitude de Coim-

bra, com os vários coeficientes de transparência I (sem


atmosfera) 0,9 0,8 0,7.
14

Vê-se que os valores dos dias claros mostram uma trans­


parência aproximadamente igual a o,85 até Maio, e dimi­
nuindo um pouco em Junho começa de novo a subir tendo
em Ou., No., e De. transparência acima de 0,9.
O facto da transparência do ar deduzida das observações
globais ser inferior à deduzida das directas explica-se facil­
mente, pois que as radiações directas são deduzidas entre
nós de observações com massas de ar em geral abaixo de 3,
e como os coef. de transparência aumentam com as massas
de ar e as massas de ar médias durante o dia são maiores
que 3, a radiação global é recebida em média com maior
coef. de transparência.
Nos gráficos de Kennedy (II) vê-se qual a massa de ar
média durante os vários meses, para a nossa latitude :

com o valor médio 3.61, acima dos valores habituais das


nossas observações.
No gráfico n.° 3 representamos os mesmos factos para o
Porto deduzidos das observações de 3 anos (1940-41-42)
para a radiação de todos os dias

Mostram êstes gráficos que a transparência no Porto é


um pouco menor do que em Coimbra, mas esta deferença
15

de transparência não está de harmonia com o resultado das


medidas directas, pois que então vimos que os coeficientes
de transparência eram sensivelmente iguais.
Uma das causas desta menor transparência no Porto
deve estar no maior número de dias com nevoeiro pois há
nesta cidade em média (9) 188 dias com nevoeiro, ao passo
que em Coimbra há só 64, e naturalmente nestes dias não
há observações de radiação directa.

O facto é porém mais complexo pois a mesma explica­


ção não serve para Lisboa, onde parece haver também
menor transparência, quando o número de dias de nevoeiro,
é ainda menor.
16

Para ilucidação publicamos o quadro (das normais de 3o


anos) dos elementos que podem influir na radiação:

Uma das causas das anomalias da radiação deve estar


no pequeno número de anos de observações, pois Hand (10)
num artigo passando em revista o estudo da radiação solar
traça curvas médias de várias estações americanas, onde a
mais regular, de Madison, resulta de 26 anos de observa­
ções. Estas curvas são muito mais irregulares do que as
nossas, pois, emquanto as nossas representam só médias
mensais, aquelas representam médias semanais.
Nas nossas curvas, apesar de deduzidas de pequeno
número de anos nota-se :
1.° — que o máximo absoluto para os dias de céu claro
tem lugar em Julho e o mínimo em Janeiro, havendo outro
máximo em Maio.
2.0 — nas médias de todos os dias há uma máximo
único no mês de Julho, e mínimo em Janeiro.

E a variação de nebulosidade que introduz a grande


variação da radiação global, pois que em geral as nuvens
refletem para o espaço a radiação que nos interrompem.
Deve-se porém notar que nem sempre assim sucede,
pois que quando as nuvens são tipo Cu e Cb (8) os valo­
17

res da radiação elevam-se no registo, pois há reflexão para


baixo.
Porisso a curva da radiação dos dias claros não é a
envolvente da curva de todos os dias.
Durante o dia passa-se um fenómeno análogo ao que se
passa durante o ano, isto é, na segunda metade do dia a
intensidade da radiação é um pouco superior à da primeira
metade, como se vê no

Para compararmos as 3 estações portuguesas : Coimbra,


Porto e Lisboa, visto que em Coimbra se separam os dias
claros partimos destas medidas para calcularmos os coefi-
18

cientes de transparência, tanto mais que êles se aproximam


bastante dos deduzidos na radiação directa.
Os valores dêstes coef. deduzimo-los da comparação dos
quadros de Maurin com os valores obtidos em Coimbra.
Partindo dêstes coef. deduzimos, pelos mesmos quadros, os
valores da radiação global para as várias latitudes do Con­
tinente.

Quadro da radiação global para os dias claros e para as várias


latitudes de Portugal continental

Tem-se procurado uma relação algébrica simples entre


a radiação global para os dias claros, e a radiação global
para todos os dias, por intermédio das horas do brilho do
sol, pois esta grandeza determina-se há muitos anos em
vários postos.
Teremos assim maneira de calcular a radiação global
para estes postos, desde que pelo quadro anterior conheça­
mos a radiação global para os dias claros e a percentagem
de horas de insolação.
19

Usa-se para isso a fórmula de Angstrom

em que Q representa a intensidade da radiação global para


todos os dias, Q0 idem para os dias claros, a um coeficiente
a calcular experimentalmente, a percentagem de horas
de brilho do sol.
Nesta fórmula há dois termos ; o primeiro corresponde
aos dias sem sol (s = o), e o segundo é função de nebulo­
sidade.

Conhecendo em Coimbra Q, Q0 deduzimos os valores


de a para os vários meses, e supondo-os constantes em todo
o Pais podemos calcular para os vários postos a radiação Q
(para todos os dias) em função da radiação calculada no
quadro anterior.

Estes valores de a são cerca do duplo dos valores apre­


sentados em Estocolmo, Paris, Washington, isto é, entre
nós, num clima de transição para o clima mediterrâneo, tem
menos influência a nebulosidade, pois que o primeiro factor
na fórmula de Angstrom é maior do que nos climas mais
frios.
Aproveitando êstes valores de a calculámos para Lisboa
e Porto a radiação global. Comparando-os depois com os
valores desta radiação ai observados, nota-se que os valores
calculados são em geral superiores aos observados, facto já
20

atrás notado ao compararmos a radiação global de Coimbra


com a do Porto.

Note-se que a foi deduzido de 5 anos, e os valores


de Q observados em Lisboa e Porto são deduzidos de 3
anos (1940-1-2).

Como aplicação da fórmula empírica de Angstrom, e


dada a importância climática dos valores da radiação glo­
bal, calculámos para vários postos o seu valor, partindo,
como já dissemos, da percentagem da insolação.
Para ver a importância deste elemento na agricultura
escolhemos, dos postos dos Anais do Observatório Central
Meteorológico, 4 situados em regiões de culturas caracterís-
ticas.
Viana como região do vinho verde.
Régua como região do vinho do porto.
Évora como região do trigo.
Faro como região da amendoeira e figueira, marítima.
21

Radiação global diária

Neste quadro os valores de Coimbra são os observados


em 5 anos (média); os de Lisboa e Porto são os calculados
dos mesmos 5 anos de insolação, e os outros são deduzidos
só de 3 anos de observações (1940-41-42), não são por isso
facilmente comparáveis.
Publicamos porisso o quadro da insolação nos 3 anos:

Insolação (1940-41-42) %

Nota-se que :
Viana tem muito menos radiação global que o Porto,
devido à sua maior latitude e menor insolação.
22

Porto tem no verão menos radiação do que a Régua,


apesar da mesma latitude, o que é devido à continentalidade
desta, (maior insolação):
Régua logo em Junho tem mais insolação que Coimbra,
(apesar da sua latitude mais alta) mas não iguala a de Lis­
boa, pois aqui há menor latitude e quási sempre mais inso­
lação.
Évora apesar da mesma latitude tem no verão um pouco
mais de insolação que Lisboa e se esta figura quási com
a mesma radiação é porque a sua insolação de 5 anos (que
foi utilizada no cálculo da radição) é superior à dos 3 anos
que utilizámos para Évora.

RADIAÇÃO ABSORVIDA PELA ATMOSFERA


E PELA TERRA, SEGUNDO SIMPSON

Uma grande parte da radiação solar que chega à terra


é imediatamente reflectida pelas nuvens, e aquela que atinge
o solo é em parte irradiada para a atmosfera e desta para
o espaço.
Maurin (7) resume o método de Simpson para se avaliar
aproximadamente a quantidade de energia solar absorvida
pela atmosfera e a terra, como diferença entra a que chega
à parte superior da atmosfera, e a que é depois emitida
para o espaço.

Para calcular a energia recebida do sol utiliza a fórmula

em que S é a energia que atinge o limite superior da


atmosfera, e a é a albedo, isto é, a fracção da energia da
radiação solar que é enviada para o espaço. São valores
crescentes com a percentagem da nebulosidade, um pouco
23

maiores que esta para valores menores que o.3o, decres­


cendo em seguida para 0.60 quando a nebulosidade atinge
o valor 0.80.
Para calcular a radiação emitida para o espaço supõe
que a terra irradia como um corpo negro, e obtem os coefi­
cientes R1 e R2 que permitem calcular respectivamente a
energia irradiada para o espaço respectivamente com o céu
claro e com nuvens, pela fórmula

em que C indica a nebulosidade.


O quadro seguinte mostra para os vários postos os valo­
res da energia absorvida, expressa por

em calorias por cm. q. por dia.

Note-se que êstes valores são deduzidos dos valores nor­


mais (de 3o anos) de nebulosidade para Porto, Moncorvo,
Coimbra e Lisboa, e dos valores de 3 anos (40-41-42) para
os outros postos.
24

Nos gráficos seguintes vê-se como as curvas de s (grá­


fico n . ° 4) e da temperatura (n.° 5) seguem quási paralelas
(embora esta venha atrazada, nas nossas me'dias, um mês)
visto que é desta energia absorvida que resulta a tempera-
25

tura do ambiente, pondo de parte a empregada na evapora­


ção, a absorvida pela vegetação, etc.
Se somarmos as calorias dêste quadro para os meses de
verão, nota-se que o calor recebido na Régua só é excedido
26

pelo recebido em Faro, com menor latitude, como mostra o


quadro, e o calor recebido nas costas do Minho anda por
metade daquele.

Isto é, a partir da época em que o calor recebido pelo


ambiente é igual ao emitido, (s = R), e que nas curvas vai
indicado pela linha 0 — o, é a região da Régua a que recebe
mais quantidade de calor, se exceptuarmos Faro, bastante
a Sul.
Este elemento é muito mais importante, que a tempera­
tura, mas, atentas as dificuldades das medidas de vários ele­
mentos que a compõem, Maurin considera a radiação global
como a quantidade de energia que melhor parece definir os
fenómenos térmicos à superfície da Terra.

EXPRESSÕES DA TEMPERATURA E DA
RADIAÇÃO GLOBAL EM COIMBRA PELAS
SÉRIES DE FOURIER

Temos sempre crença na simplicidade dos fenómenos


naturais, ou por outra, procuramos sempre a maneira de
interpretar esses fenómenos por expressões matemàtica-
mente simples.
Noutros tempos explicavam-se os movimentos dos plane­
27

tas pela teoria dos epiciclos, hoje, procuram-se expressões


matematicamente simples, análogas à teoria dos epiciclos,
como as séries de Fourier, para exprimir, embora não para
explicar, vários fenómenos meteorológicos.
Para verificarmos até que ponto se podem exprimir estes
ekmentos pelas séries de Fourier fizemos o cálculo dos seus
coeficientes, e das diferenças (Δ) entre os valores observados
e os valores calculados (Δ = obs.— calc.).
Para a temperatura calculamos aquêles coeficientes a
partir dos valores normais de 75 anos (12) e a partir dos 5
anos em que houve medidas de radiação.
Para a radiação global fizemos o cálculo para todos os
dias, e também para os dias claros.

Os coeficientes da fórmula dum elemento

em que a0 é o seu valor médio, x o tempo expresso em arco


contado a partir do meio de Janeiro (1 mês—3o°), são

A temperatura normal dum dia dado será

com um erro médio inferior a o°,2 como se vê na tabela


seguinte das diferenças Δ.
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A temperatura média deduzida dos 5 anos em que houve


observações de radiação mostra já uma média dos desvios
maior do que o dobro dos outros.

Na radiação global para os dias claros a média dos des­


vios atinge o valor de 10 calorias por dia, e este valor mais
do que duplica para a radiação de todos os dias, tudo cal­
culado a partir dos 5 anos de observações de 1938 a 42.

J. C ustódio de M orais
BIBLIOGRAFIA

(1) A radiação solar em Coimbra Inst. Geof. de Coimbra — 1936.


A. Ferraz de Carvalho.
(2) Monthly Weather Review — Dec. 1937. Neste número I. Hand
apresenta um resumo dos métodos empregados nos estudos da
radiação solar, e dos resultados obtidos nos Estados Unidos,
acentuando a importância deste estudo na meteorologia, na ocea­
nografia, na agricultura, na biologia, na medicina e na engenharia,
afirmando mesmo que, quando um dia se esgotarem as reservas
de petróleos e carvões de terra, o homem se verá obrigado a uti­
lizar directamente a energia solar, o que já se está fazendo em
pequena escala.
(3) Handbuch der Geophysik Bde viii Lf 2 pág. 249. Berlim — 1943.
(4) Mont. We. Rev. — 1927, pág. 167; id — 1937, pág. 430.
(5) Boletins Mensais e Resumo Anual. Obs. da S. a do Pilar.— 1938
a 1942. Porto.
(6) Mon. We. Rev. Abril de 1927; idem, Dezembro de 1917.
(7) Maurin. Etude pratique des rayonements. Paris—1937.
(8) Estudos actinómetricos. Instituto Geofísico de Coimbra. Estão
publicados os resultados das medidas dos anos de 1938-39-40.
(9) O clima de Portugal. Obs. do Inf. D. Luiz. Lisboa— 1942.
(1o) Mon. We. Rev. Dez. — 1937.
(11) Mon We. Rev. Nov.— 1940.
(12) Clima de Coimbra. Normais etc. Inst. Geof. — 1942.

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