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federai d> R)p ^and^do Sul
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Universidade
Federal
do Rio Grande
do Sul
Reitor
Hélgio Trindade
Vice-Reitor
Sérgio Nicolaiewsky
Pró-Reitora de Extensão
Ana Maria de Mattos Guimarães
EDITORA DA UNIVERSIDADE
piretor
Sergius Gonzaga
CONSELHO EDITORIAL
Dina Celeste Araújo Barberena
Homero Dewes
Iríon Nolasco
Luiz Osvaldo Leite
Maria da Glória Bordini
Newton Braga Rosa
Renato Paulo Saul
Ricardo Schneiders da Silva
Rômulo Krafta
Zita Catarina Prates de Oliveira
Sergius Gonzaga, presidente
2-fDIÇfiO
O Editora
CDU 981.651
ISBN 85-7025-241-2
Introdução / 6
UM NOVO IMAGINÁRIO SOCIAL: A RUA E SUA IDENTIDADE
A redescoberta da rua / 8
Morfologias e tipologias urbanas /11
Rua, domínio do espaço público / A rua antiga / A rua nova / A rua de outrora / A rua dos
temposmodernos/ Os espectadores da rua.
As permanências do tempo colonial / Mudanças no final do século 19: a rua de moradia /
Mudanças no final doséculo 19:a ruade comércio / A ruano iníciodoséculo 20.
9
Buzinas, carros na contramão, engarrafamentos nas horas do "pique",
gente se acotovelando para pegar os bondes cheios passaram a ser elementos
constantes de uma rua mais moderna.
E que dizer então dos ditos serviços urbanos?
A rua de outrora passou a definir-se como anárquica, tortuosa, suja e es
cura em frente à rua dos novos tempos, com novos prédios, calçadas alinhadas,
iluminação.
Sarjetas entupidas, ou mesmo águas servidas escorrendo pelo valo do
meio da rua, e exalando miasmas deixaram aos poucos de serem mencionadas
nos jornais. Lx)nge fícaram os dias onde matadouros de porcos misturavam-se à
área urbana (O Século, 2/9/1883) ou em que os despejos fecais eram deposita
dos próximo à Praça da Harmonia, após serem transportados nos "tigres"
através da cidade. (O Século, 23/3/1984.) Os "tigres" eram, no caso, as cubas de
transporte dos detritos, que haviam recebido esta alcunha em face do verdadei
ro pavor com que os transeuntes se afastavam quando os viam aproximar-se!
O velho bonde a burro cedeu lugar ao bonde elétrico, que encurtou as
distâncias. (O Independente, 15/3/1908.) Prédios modernos e dotados de todas
as melhorias higiênicas assumiam lugar numa nova rua dotada de esgotos. E,
para dar um cunho feérico à nova rua que surgia, a luz elétrica veio dar uma
luminosidade especial às ruas da cidade. (O Independente, 24/9/1908.)
Portadora pois, de uma nova identidade, cartão de visitas de uma cidade,
a rua nova foi retratada pelo olhar de pintores, escritores, jornalistas, poetas e
fotógrafos.
Captando o instante, eternizando o gesto, resgatando a palavra, sociali
zando as imagens, estes registradores do fugaz tiveram na rua sua fonte de ins
piração, deixando um material precioso que nos permite chegar, de alguma
forma, até o passado.
Todo este processo, multifacetado e instigante, pode ser apreciado na ci
dade de Porto Alegre, no período da chamada Belle Époque, do final do século
até o término da Primeira Guerra Mundial.
10
Morfologias e Tipologias Urbanas
12
Do privado ao coletivo:
Rua, domínio do espaço público
Romance: Estiychnina
Autores: Souza, Totta e Azurenha
Editores: Carlos Pinto & C., sucessores
Páginas: 114 e 115
Data: 1897
15
Quem vem lá? Uma carroça, um forasteiro?
A rua antiga
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õ 1i-ânsíto, ruídos, multidão?
A rua nova
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O povoaguardandoo bonde elétricona Praça Senador Floréncio.
Praça da Alfândega, na década de 10.
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Anárquica, tortuosa, suja e escura
A raa de outrora
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Novos prédios, calçamento, iluminação:
A rua dos tempos modernos
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o flagrante do fotógrafo: bombeiros em ação no prédio Malakoff, primeiro grande sobrado de Porto Alegre,
sito na Praça Quinze de Novembro. Foto Lunara, aproximadamente de 1900.
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Um registro do pacato cotidiano da cidade no infcio deste século. Na Rua da Praia com a Marechal Foríano (antiga
Rua de Bragança), em frente à tradicional "Casa Masson" e diante da não menos conhecida "Pharmacia Centrai", as
meninas perfiladas posam para o fotógrafo. Foto Ferrari & Irmãos.
VISITA A UM BORDEL
31
Ela foi o jardim dos poetas provincianos
- a velha Praça da Harmonia,
-rodeada de frades de pedra, alumiada
de lampiões a gás, debaixo das paineiras,
com estátuas de louça à beira das aléas
e bancos, sob a fronte amorosa das tílias...,
OÁlvaro, o Felipe, o Dionélio, o Eduardo,
o Wamosy, o De Souza... andaram por ali...
E quando o luar tecia, entre a poeira do esguicho
e a quietude da sombra, a renda dos reflexos,
eles liam Samain,
Rodenbach,
Verlaine...
Ao fundo, junto ao plinto e ao gradil da amurada
o Guaíba embalava, às vezes, um veleiro...
E a noite camarada e cheirosa de orvalho
acordava violões, nas esquinas, cantando...
Poema: Poemas de minha cidade
Autor: Athos Damasceno Ferreira
Editora: Livraria do Globo
Páfffta: 31
Romance: Estrychnina
Autores: Souza, Totta e Azurenha
Editores: Carlos Pinto & C., sucessores
Página: 175
Data: 1897
32
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BEIRAIS COMCACHORROS (CAIBROS) RNOOF ffíCM
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SOBRADO COMTELHADO DE DUAS cnopAnfl HFTRÍS ANDARES
Águas - beiral jAtransformado telhado de quatro
PARA AINTFtODUÇAO DACALHA AGUAS
BALCÃO DE MADEIRA
JANELAS COM GELOSIA
{GRADES DE MADEIRA)
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PORTA DE ACESSO
COM ESCADA INTERNA
CANW. DE ESCOAMENTO
DASÁGUAS PLUVIAIS
PAISAGENSURBANASNOFINALpOSÉCULOig .
COM PERMANÊNCIAS ARQUITETÔNICAS EURBANÍSTICAS ANTERIORES
UM NOVO IMAGINÁRIO SOCIAL - ARUA ESUA IDENTIDADE MUDANÇAS NO FINAL DO SÉCUL019 - ARUA DE MORADIA Coonl. Célli Feinz da Souza
PEITORIL DE FERRO
balaustraoa
CONDUTOR PLUVIAL
VASOS DELOUÇA DOPORTO Um novo tipo do residência, a casa com porão alto, ainda do
TELHADO DEDUtó ÁGUAS CASAS DE COMPOTEIRAS
EBEIRAL DO PERÍODO ANTERIOR fronte da rua, representava uma transição entre osvelhos so
CIMALHASSAUENTES
brados e ascasas térreas. (Reis Filho, p. 41.)
PARA ARREMATES
CALHA Com a decadência do trabalho escravo e com o Início da imi
gração européia, desenvolveu-se o trabalho remunerado e
vergas DASABERTURAS aperteiçoam-se técnicas construtivas. (Reis Rlho, p. 43.)
RETIUNEAS OU EMARCOPLENO
COM BANDEIRAS DE FERRO
(...) A partir da metade do século passado qualquer uma das
BALCÃO DE FERRO
cidade brasileiras passou a conhecer duas modalidades de re
PORÃO COMÓCULO sidência: a local, isto é, aquela ainda ligada a tradição constru
COMGRADE (RESPIRO)
tiva regional e à modesta economia; e a moderna alienígena,
própria da prosperidade recente. (Lemos, p.47.)
ESCADA DE ACESSO PILASTRAS (...) Adifusão da arquitetura neoclássica e mais tarde o ecle
tismo, (...) a constitui a pretensão dereproduzir no Brasii, com
detalhes, o ambiente europeu. (Reis Filho, p.136.)
ACASACOM PORÃOALTO
PASSEIO
JUNTO AS CASAS
SARJETAS
PRÉ[»0 DE USO EXaU^AMENTE As residências maiores eram enriquecidas com jardins dolado (...)
COMERCIAL SEPNW}k> LOCAL M introduzindo um elemento paisagístico na arquitetura residencial
TRABALHCVRÊSirKNãA (...) Ao mesmo tempo a arquitetura aproveitava o esquema de
porão alto, transferindo porém a entrada para a fachada lateral.
PASSEIOS E ALINHAMENTOS
(Reis Rlho, p.46.)
RIGOROSOS, REFORÇADOS
PELAS FAIXAS ACABAMENTO Surgiram depois os afastamentos em relação às vias públicas.
NOEMBASAMENTO OOS PRÉDIOS
(Reis Rlho, p.49.)
REDE DE ABASTEQMENTO
ILUMINAÇÃO: POSTES DE y^AE ESGOTO
MAIOR NUMERO
DE RUAS PAVIMENTADAS EFIOS FteEMPARTE VERGAS RETILÍNEAS
EM ESPECIAL NO CENTRO DAPAJSAffiMURBANA OU EM ARCO PLENO
CASASAFASTADAS LATERALMENTE
o Ecletismo - propondo uma conciliação entre os estilos - foi um PLATIBANDA/ s, DO LOTE. APARECEM NESTE PERtoDO
BALAUSTRADA j PALACETES (CASAS SITUADAS NOCENTRO
veiculo eficiente para a assimilação de inovações tecnológicas de DOLOTE) E JARDINS.
importância. (Reis Riho, p.169.)
FRONTÕES/
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Oque, para aEuropa significou um ranço passadista, para nós sig CIMALHAS
nificou a conquiste e o acesso a cultura intemacional. (Weimer, p. FIGURAS HUMANAS
258.)
VIDRAÇAS PASSAM I IGREJA COM
Para a arquitetura brasileira, a influência doPositivismo, represen A SER CONSTANTES
ERCOI CARACTERÍSTICAS COLONIAIS
tava o estímulo ao desenvolvimento tecnológico. (Reis Rlho, p.
179.) BALCÃODE FERRO
Arquitetos e engenheiros orgulhavam-se de imitar com perfeição
üé nos de^hesos estilos detodas as épocas que fossem valori
zados naEuropa. (Reis Riho, p.155.) PORÃO
Já nos primeiros anos doséculo com a crescente separação entre
os locais de residência e trabalho e com o aumento de concen
POTTÃO re FERRO
s tração de população nas cidades maiores, osvelhos sobrados co
merciais de ripo português, com residências e lojas, começam a
sersubstituídos por prédios dealguns andares com destinação ex
B
clusivamente comerciai. (Reis Riho, p.60.)
s
Rua,
espaço em transformação
Rua, caminho do progresso
Quem sabe onde ficava a Rua dos Nabos à Doze? E a dos Pecados Mor
tais, que, embora seu nome sugerisse hábitos pouco recomendáveis às famílias
de respeito, haja quem diga que o nome derivasse das sete humildes casinhas
iguais que lá haviam...
A Porto Alegre de outrora evocava nomes românticos, como a Rua das
Flores, outros pitorescos, como a Cova da Onça, ou ainda patéticos, como
Ajuda-me a Viver... Algumas celebravam antigas profissões como o Beco dos
Ferreiros e o Beco dos Marinheiros, ou uma atividade que ali se realizava, co
mo o Beco do Garapa, no qual se vendia excelente garapa extraída de um cana
vial no Caminho Novo. Certas velhas ruas tinham nomes ligados à sua confor
mação e aspecto, como a da Ladeira, a do Cotovelo e a do Arvoredo. Outras
carregavam títulos picarescos, como a do Arco da Velha e o Beco da Pulga.
E assim por diante, as ruas antigas davam um sentido à cidade, de uma
época em que todos se conheciam e em que os nomes eram um ponto de re
ferência explícita. Quem não sabia onde ficava a Rua da Olaria, se lá o Juca da
Olaria tinha o seu negócio. Ou a dos Pretos Forros, se para lá afluiam os ne
gros emancipados? Expressando vivências, discriminando espaços, muitos des
tes nomes de rua resistiram ao tempo, teimosamente, mesmo na época em que
foram sendo substituídos pelos de pessoas ilustres, geralmente políticos e mili
tares, empresários abastados, eméritos professores, piedosos religiosos. Se os
cidadãos mais antigos ainda insistem em chamar a João Alfredo de Rua da
Margem e a Marechal Floriano de Rua de Bragança, não há jovem que não
saiba onde fica a Rua da Praia, cujo nome relembra o tempo em que as águas
do Guaíba chegavam até ali.
A rua, entretanto, reflete a transformação do espaço urbano e a reorde-
nação da vida. O aburguesamento da cidade e a consolidação de uma nova or
dem trazia em seu bojo exigências, valores, critérios. Impôs-se uma redefinição
do solo urbano e de sua ocupação pelos indivíduos.
Era preciso dar aos cidadãos o seu lugar na urbe e normalizar a vida. Có
digos de posturas municipais impuseram novas práticas, mais condizentes com
o status de ''cidade". O caminho da modernidade passava pela adequação a
padrões desejados.
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Objetos de planos urbanísticos, as ruas expressarão, pela sua diversidade
de aparências, a diferenciação social subjacente da nova ordem burguesa.
Ruelas, becos, linhas tortas? Velhos prédios, cortiços e porões infectos?
Bota ababco, e viva a linha reta, a rua ampla, deixando entrar a luz do dia! As
preocupações arquitetônicos com a estética e a funcionalidade do espaço urba
no juntavam-se aos cuidados morais e aos preceitos higiênicos. Como podia
uma família passar tranqüilamente pela cidade, se era a todo o momento obri
gada a deparar-se com cenas escandalosas que se davam nos inúmeros becos
que infestavam Porto Alegre? "Homens de baixa esfera, que vivemem comple
tos desacatos, (...) mulheres depravadas, entregues ao vício da embriaguez (...)"
(Gazetinha, 12/1/1896), eram alguns destes personagens dos tais antros de per
dição que se tornava urgente extinguir. Que dizer então dos cortiços e dos
porões, que abrigavam em promiscuidade obscura e infecta várias famílias e
indivíduos avulsos, verdadeiros focos de doenças e de imoralidade? Mora na
cidade quem puder preencher as condições de cidadão {Gazeta da Tarde,
12/4/1897) ou então vá povoar os arrabaldes, e de preferência perto das fá
bricas, onde possa encontrar trabalho digno. Na cidade propriamente dita, só
deveriam residir os que podiam sujeitar-se às regras da higiene e da moral.
{Gazeta da Tarde, 17/1/1898.)
Nessa medida, a cidade empreendeu a operosa tarefa de destruição dos
becos e cortiços, declarando guerra às tavernas, bordéis e casas de jogo, numa
cruzada moral, sanitária e urbanística, de destruição e reconstrução, em meio a
uma especulação imobiliária que refletiaa elevação do preço do solo urbano.
Companhias de loteamento se formaram, vendendo, nos arrabaldes, pe
quenos terrenos aos pobres que eram varridosdo centro.
No início do século. Porto alegre passou a viver "uma fase operosa, ofe
recendo aos habitantes o espetáculo do trabalho em todas as ruas". (O Inde
pendente, 1/7/1909.) Esta fúria de embelezamento, conforto, higiene e segu
rança, que, enfím, expressavam um ideal de civilização, custava dinheiro e os
impostos municipais foram elevados. As ruas precisavam de esgotos, luz, água,
calçamento, passeios públicos, jardins, policiamento. Ruas modernas, enfim.
Mas a modernidade desejada, reordenando o visual, trouxera consigo novos
hábitos que faziam os porto-alegrenses refletirem: afínal, era bem isso o que se
queria? E onde ficava o respeito, a moral, a educação dos velhos tempos? A ga-
tunagem aumentava, e por mais que se declarasse guerra aos bordéis, as casas
de tolerância renasciam. Sintomas do progresso? Por outro lado, as pessoas es
queciam seus velhos hábitos, como o de descobrir-se quando nas ruas, ou cer
rar as janelasda casaà passagem de um enterro. {Gazeta da Tarde, 23/9/1895.)
E as moças, andando sozinhas às ruas, e que se expunham aos gracejos dos
atrevidos?
Era bem verdade que as principais artérias da cidade ostentavam todas as
melhorias urbanas da civilizado e que as casas de comércio, os bancos e as
indústrias demonstravam a pujança dos negócios e os melhoramentos mate
riais banidos. Na Duque e na Independência, novos e vistosos palacetes abriga
vam o luxo das famílias burguesas.
Mas estes melhoramentos, estes efeitos dos novos tempos nãoatingiam a
todos. Uma grande parte dos habitantes, que encarava a luz elétrica como um
dos melhoramentos do progresso, classificava-o como um serviço de luxo, só ao
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alcance dos abastados. (O Independente, 27/8/1911.) Em suma, nos caminhos da
modernidade, nem todas as mas eram iguais e a cidade reproduzia, na ocu
pação do espaço e na atuação da municipalidade, as distorções sociais. Colônia
Africana, Cidade Baixa, Santana, Navegantes, uns arrabaldes, outros nem tan
to, ostentavam em suas mas as mazelas da administração pública.
Todos pagavam impostos, mas os serviços de iluminação, coleta de lixo,
esgotos, armamentos eram desiguais.
Havia, contudo, um tipo de atividade que não era descurada: o do poli
ciamento. Aí sim, as zonas desfavorecidas, as ruas dos.humildes e os arrabaldes
compareciam diariamente nas crônicas policiais.
Da cidade alta à cidade baixa, do centro ao subúrbio, as ruas de Porto
Alegre refletiam a medida ou a desmedida das transformações urbanas.
SANDRA JATAHY PESAVENTO
40
Guerra aos becos, cortiços e tavemas:
pecado mora ao lado
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Será verdade que muita gente boa vai, às tardes, à Praça da Alfândega, só para apreciar as moças
subirem no bonde, no momento do avanço? Só sei que se eu fosse mulher
usava vestidos mais comoridos... O Indenendenie. 22/3/1906.
dega.Ajardinamento, bondes,
lel. Década de 10.
o, a chai
^avcgan
Está fícando inteiramente cosmopolita a população de Porto
Alegre.
Há meio século passado, sua quietude era admirável, poucos os
estrangeiros, simples os costumes.
Mulheres de mantilhas, velando-lhes o rosto e as vestes, moças e
velhas confundindo-se, escapando aos olhares dos curiosos, transita
vam a sós pelas ruas, num passo aligeirado: iam à missa da manhã ou a
algum serviço urgente.
Mudou tudo. Cresceu a cidade, dez vezes maior que a meio sécu
lo passado, dez vezes mais populosa.
E com a mudança, foram-se as emboscadas, onde, no tempo das
pitangas ali abundantes, realizava-se a propaganda efícaz do povoa
mento do solo, sem despesas em Paris e Milão.
Morreram os "tigres" que passavam à tardinha pelas ruas, mas
nasceram os culos que aparecem em dia claro.
Foram-se os palanquins, as cadeirinhas, mas possuímos carros,
bondes, automóveis, velocípedes, tranways, estradas de ferro.
Amanhã teremos ruas a asfalto, bondes elétricos, balões Santos
Dumont, jardins suspensos, espetáculos nas nuvens, telefones sem fíos,
fotografia telegráfíca, ressurreição dos mortos...
E Porto Alegre velho cederá lugar a um Porto Alegre novo, com
uma população esquisita, num requinte supimpa: moças à vol-d'oiseau,
vestidas de tecido circassiano, custoso, chique, provocante, numa li
berdade antiga.
Pelas portas das ruas, como na Roma antiga, fíguras do deus
Príapo, dourados, enormes, despertando a idéia sensual.
E os homens todos, velhos e moços num gasto de fosfureto de
cantaridinia, para honra e glória da civilização.
Viva o progresso!
Jornal: O Independente
Daía: 1/3/1900
51
Da cidade alta ã cidade baixa, do centro ao subúrbio
Nem todas as ruas são iguais
Rua da Independência
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Rua da Independência. Continuidade dacidade alta, a rua foi desde o início do século
sede de belas vivendas burguesas. Final da década de 10.
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Colônia Africana, área da cidade para a qual aflufam os negros no momento da abolição.
Abarcava a área compreendida pelo atual bairro Rio Branco, entre as ruas
Castro Alves, Casemiro de Abreu, Vasco da Gama, Cabral e Liberdade.
na pai artén
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Romance: Estrychnina
Autores: Souza, Totta e Azurenha
Editores: Carlos Pinto & C., sucessores
Páginas: 170 e 176
Data: 1897
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HUA, ESPAÇO EM TRANSFORMAÇÃO
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vb&o de Btendimentode sele mil pró-
dkM dentro do perímetro Imttado pe-
Eee víes Ramiro Berceloe, Proiásio Ai-
tres. Joio ANredo, PeniaieAo Teles e
peto Litoral,
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CONSTRUUAA
LftHASDOSBONDES ELÉTRICOS
A sociedade
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A performance de cada um
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Um lugar de passagem, de encontro e de troca:
A raa é do povo
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Jornal O Independente
Data: 6/10/1895
74
Na contramão da vida:
Os deserdados na rua
BANCOOAPnOVlNC»
BANCO OACnOVlNCIA
THEATnO OE VAREDAOES
BENEFICÊNCIA POinUOUESA
SANTA CASADEMISEnCÓRDIA
THEATnOSAOPEOnO
ASSEUSEÉIA PdOVMCIAL
PALÁCIO DO GOVERNO
BENEFICÊNCIA POHTUQUESA
ESTAÇAOTELEOfUnCA
cúnw fy(ETnoPOLrTANA
ESCOÍA NORMAL
BENEncêNCtA BRASILEIRA
CADCA ECONÔMICA
ARSENAL DE GUERRA
PRAÇAMARTMSUMA
CADEMOVX. 1888
OASÔMETRO
VELÓOnOMOOAVÁRZEA
THEATROSÁOPEDRO
ASOCIEDADE DAS RUAS LOCALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES POR VOLTA DE 1920 Coord. Célia Ferraz de Souza
ONEMAAPOUO
COlÊOIOMajTAR
ESCOLA DE MEDICINA
CERVEJARIA CAMPANI
obsebvatOrio ASTBONÒMICO COMPANHIA FABRIL IS PREOOS
CALÇADOSCOMPANHIAPROORESSO
OBSEBVATÚRmMETEOROLOOICO
INSTITUTO ELETUOTECNICO
CmSMAAPOaO
instituto tEcnco profissional
ESCOLA DE ENGENHARIA
ESCOLA DE DIREITO
GINASIOJULIODECASTILHOS
BaUOTECA PUBLICA
THEATBOSto PEDRO
PAUCIO DAJUSTIÇA
hidráulica MUNICIPAL
cscoiA D€ oiRErro
PALACO PIRATINI
ASSEMBLÈAESTADUAL
COLÉGIOPAULA SOARES
CAIXA ECONÔMICA
DELEOACM FISCAL
JARDIMZOOLÓGICO
QUARTEL OABRMAOA
ARSENALDEOUERRA
CAPITANIA 00 PORTO
CASA PEcorreção
CO
As várias faces da rua
81
menos compreendia o público, que acorria em massa aos tais eventos, com as
suas roupas domingueiras.
Mas a rua podia ser também cenário de revolta, de luta, de agitação so
cial, de quebra-quebra.
As ruas da cidade foram, nesse sentido, palco de enfrentamento dos
operários em greve contra a Brigada, palco de passeatas, comícios, debates,
discursos inflamados. Assim foi por ocasião da primeiragrandegreve geralque
ocorreu em Porto Alegre em outubro de 1906, durante a qual foi fundada a
Federação Operária do Rio Grande do Sul, com orientação anarco-sindicalista,
ou a grande greve geral de julho de 1917. Piquetes de operários cruzavam as
ruas com praças da polícia administrativa e da Brigada Militar, que patrulha
vam a cidade. Nesta greve de 1917, referia o Correio do Povo que as ruas onde
se situava o alto comércio da capital, onde nos dias normais era intenso o mo
vimento, se encontravam paralisadas (3/8/1917).
A rua podia ainda revestir-se de luto e prantear a morte de figuras ilus
tres. Do centro da cidade à colina do cemitério, as ruas de Porto Alegre se en
cheram de gente para ver passar o enterro de líderes políticos renomados, co
mo Júlio de Castilhos, em 1903, ou Pinheiro Machado, 1915.
E a rua podia ser ainda o espaço privilegiado da comunicação, por onde
circulavam as notícias, de boca em boca ou nas portas das livrarias, onde a inte
lectualidade da época se encontrava para trocar idéias, defender posições.
Eram os velhos tempos da Livraria Americana, da tradicional Livraria do Glo
bo ou, mais modernamente, da Livraria Lima.
A multidão se agrupava também à frentedo Correio doPovo, a esperar as
notícias, enquanto que os jornaleiros corriam céleres as ruas para vender um
pedaço do mundo aos passantes.
Bons tempos, dizem os antigos, em que havia tantos jornais, a debaterem
entre si as suas idéias, a fazerem circular as notícias, a darem a sua versão dos
fatos. A Federação, O Mercantil, A Reforma, A Gazetinha, O Conservador, O In
dependente, O Século, Jornal do Comércio. Correio do Povo, Estado do Rio
Grande, Rio-Grandense, Gazeta da Tarde, A Luta, O Exemplo e tantos outros -
parece mesmo incrível! Foram os jornais que povoaram as ruas de Porto Ale
gre nos anos que medeiam entre o final do século e a Primeira Guerra, num
desfile de idéias e tendências...
82
«I » T«Wi«M
A rua em revotta
Baderna, greve e protesto
•
° A leitura de cada um:
O que anda nas cabeças, anda ncis bocas?
ãm
(O o pessoa
A redaçâi
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ALivraria doOlobo, tradicional estabelecimento de Porto Alegre,
que operava comoeditora e comércio de livros. Em frenteà Globo, na Rua da Praia,
os intelectuais e políticos das primeiras décadas do século 20 faziam seu local de encontro.
Paixão de livreiro, uma livraria
era o local de encontros, trocas de
idéias, tradição na vida da cidade.
Onde está a Livraria do Globo que,
além de vender livros, era uma
trincheira intelectual dos gaúchos?
E a Livraria Americana em que
um livreiro-melômano-tradutor,
Herbert Caro, servia de credencial?
E a Livraria Lima, onde o atendedor
discutia Lima Barreto e Machado de
Assis com estudantes de Letras?
Ao passar uma dona escultural,
às vezes, cessava toda a discussão
de idéias e começava a paquera...
Lá pelas tantas foram sumindo
do mapa aqueles oásis culturais
e a Rua da Praia ficou mais árida.
Quem hoje quiser parar numa
porta de livraria,será derrubado
pelaslevasincessantes de povo.
Latas de margarina, jogos de cama e
mesa, camisetas grifadas importam
muito mais que os fantasmas dos livros!
E pensar que antes os bate-papos e os
flertes iam decidindo devagar
os magnos destinos da humanidade!...
De quando em vez algum de nós comprava
um livro para agradar o dono da firma e
ao mesmo tempo se dar ares de intelectual!
Poana: Portas de Livraria
Auton IsaacStarosta
93
RUA, TEATRO DA VIDA OS PERCURSOS ELOCALIZAÇÕES DOS ACONTECIMENTOS CoonL Cílli Ferraz de Souza
DE 4 A 4 - A SEMANA SANTA -
2 - CORerO NA RUADE BRAGANÇA PROCISSÃO 00 ENTERRO
O Algayer, que tafnt>éni é velho, me
-=S'rífí-U"''-S'"l PROCISSÃO 00 ENTERRO
observou que náo fiz referencia à 3-A PRIMEIRA FORMATURA • •[ rii 1
:í''í 'i 11 rs. & Opréslito saía da Matriz (..) ora Im-
ornamentado da Rua de Bragança, (dú Tiro 4- Escola deSoldados) T íLirj"JLT ir l ponente a cerimônia do seimâo, em
li[I'0TTl ii < uma tribuna armada ali na Praça da
quando ctlel a Rua da Praia, nos Foi no dia 21 de ebill de 1909. Saímos ii ' Allãndega. por ocasião desse dosti-
DE 1 A t - COKÍO SE FESTEJAVA dias de lesta. Tem razão. Quem or da sede à Rua Benjamin Constam es- =rv
T] V]|T]; '• a ! le, no qual havia duas figuras obri-
Mi:)MO HÁ UM QUARTO DE SÉCU namentava a Rua de Bragança era o quina com Séo Pedro e depois de <i :• -r rj. i. t . gadas(...): uma era o Judas, um su-
LO - PARTE I seu "Justirto aHalaie". e que vMa percorrer toda a Rua da Floresta pu- -i-ik-L -h = - - j e i t o vestido do encarnado, que vi
em eterna rivalidade com o coronel xada pela banda do 25° de Inlaniana. .ílj ;r -•r—r • I 1 / nha tocando cometa o o outro era
Um dia. os Venezanos desembar
Carvalho (da loja dos Opetãtios} foi dado o toque de alio, na esquina si ::~r
•• 1 . „... .; I / um grande estandarte roxo(..) (Ma-
cavam os seus Sócios a porta do
que ornamentava a parte de baixo. da Rua Barres Cassai. Velo a reco-. - • I zoron, p.53.)
Club Caixeiros. quando vindo lá do
No colégio comentava-se: "Defronte mendaçâo do comando: 'Vamos en- • . •
alto da Caridade, surgiu o corso do
a casa do Atgayer armaram um co Irar na cidada. Agora toda a elegância . \ :-
Esmeralda, que também realizava o
reto muito bonito e lã toca a banda 6 pouca", (Maziron, p.32) i; i ' ,.
baile naquele dia. Ao chegar na es da Flonsia Aurora..."(Uazeron, I
^ sMV"
\. 5-FESTA DO MENINO DEUS
quine da Rua Dr. Flores, um grupo •./ / \\-- v. VMuíIos Ignoram que ]á oxlsliu, nos
de torcedores exaltados entendeu
P-20.)
: / \\. 'v- dias do tosta uma Imha do nave
que o Esmeralda devia esperar que
os Vanezianos tivessem terminado
/ 1) : gaçâo para o Menino Deus! Os na-
seu desembarque. Pode' Néo pode!
j u .1' nvios partiam da Praça da Allãndega
Passai Não passa! (Mazeron, p.23.| i l ) . - r i j Nosso sentido, onconltoi o seguinte
*, /' "^4-'i. \ anúncio, publicado cm 1874. 'Para
'-Á.\ 7'mais comodidade
'i\ das tamíllas que quiserem trânsito
o lácilassistir ás
i-.i. / -''-PP''
- V'\
\P \ 'ásias
fásias do
do Menino
Menlr Deus, o vapor
A -'' íi \\--^'^Py
\XP'^py '®'á "199®" viagens para aquele por-
partindo do
VA 'A 'í- \\\ 'i:.- -Vil, -to, Párlindo ir
do irapicho da Allânde-
(Mazeron
(Mazeron, p.6i.)
5, Dse
6 - A PRIMEIRA FESTA OA BAN
DEIRA
(...) notícia que o Correio do Povo
y «t* DLCCrf DE CA*IAS^^ 7^ publicou, em sua edição de vmtc de
P'- 'PP. • L..JL.^UU:á' F "^novembro de 1910 "(..) O próslito,
acompanhado pela banda do Imús-
^:s^cia da Escolado Guerra o pia do 1"
batalhão da Brigada Militar, pcrcor-
|reua Rua dos Andradas, conduzin
do lanternas venezianas o dando vi-
'^vas ao marechal Hermes da Fonse-
^ca, ao Brasil, ao Tiro Brasileiro. (...)
De um coreto levantado à Praça
Senador Florênclo, o nosso compa-
. nhoiro (...) saudou a bandeira brasi-
loira.
JORNAIS
O Independente
O Século
A Gazetínha
A Federação
Correio do Povo
A Gazeta da Tarde
LIVROS
Fontesdas pranchas
FERRAZ DE SOUZA, Célia; MÚLLER, Dóris. Porto Alegre: análise desua
1978 Relatório da pesquisa. Porto Alegre, Fac. ArquiteturaAJFRGS,
LEMOS, Carlos. História da casabrasileira. São Paulo, Contexto, 1989.
MAZERON, Gaston Hasslocher. Reminiscências de Porto Alege. Porto Ale
gre, Selbach, 1940.
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Perspectiva, 1970.
WEIMER, Gttnter et alii. Afase historicista da arquitetura no Rio Grande do
Sul. In: FABRIS, Ana Tereza (org.). Ecletismo na arquitetura brasileira. São
Paulo, Nobel/EDUSP, 1987.
95
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A rua de outrora
cedeu lugar à rua dos novos tempos,
com novos prédios, calçadas alinhadas.
Iluminação e esgotos.
Captando o instonte^ eternizando o gesto,
resgatando a palayrajsjiciõlizando as imagens,
-«í I
os pintojreSi eseríter^, jornalistas, I /•
.1? . yj'
poetas Bfdlpg^^ tiveram na rua
®a sua fonte dd|ti#jytaçaq, deixaodo j '^
llEaiir"^ «
H da Universídâcia
late do Í6òGa|nde do