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Transientes de tensão

Os transientes de tensão, também chamados de surtos ou picos de


tensão, cada vez mais, vêm causando danos aos equipamentos
eletroeletrônicos, que se encontram instalados em indústrias,
escritórios e residências. O objetivo deste artigo é mostrar o que é
um transiente de tensão, como se dá a sua propagação na rede de
energia elétrica e quais são suas causas. Além disso, vamos ver
porque os problemas com transientes vêm aumentando e porque há
maior incidência no Brasil, em relação a outros países.
Transiente de tensão

Inicialmente, vamos definir o transiente como sendo um pulso, ou


pulsos, de tensão/corrente extremamente elevados, que ocorrem em
um curtíssimo lapso de tempo e que, por indução ou condução, são
propagados pela rede de energia elétrica e também por outras redes,
como por exemplo: de telefonia, dados, e outras. Este curto lapso de
tempo tem uma duração típica da ordem de 0,001 segundos (10 - 3
s) e, muito raramente, de alguns milissegundos.

Para melhor compreensão esclarecemos que, este tempo é uma


pequena fração do ciclo de uma senóide da rede de distribuição de
energia elétrica alternada, quer seja ela de 50 Hz ou 60 Hz.
A figura 1 mostra a representação de transientes (em vermelho)
sobrepostos à tensão alternada senoidal (na cor azul) da rede de
energia elétrica de baixa voltagem (120 Vca ou 220 Vca).

As linhas pontilhadas significam que a amplitude é tão grande que


foi preciso compactar o eixo vertical expresso em volts (Vca) e
quilovolts (kVca). O termo que aqui empregamos para condução
significa o contato, mais conhecido por curto-circuito ou
simplesmente curto, entre dois condutores elétricos.

O termo usado para indução significa uma condução, sem haver o


contato elétrico. Este fenômeno é bem conhecido e demonstrado
pelas leis da Física, mais precisamente pelas leis do
Eletromagnetismo.

Ressaltamos que, graças ao estudo do fenômeno da indução elétrica,


foi possível a construção de transformadores, geradores, motores e
outros aparelhos elétricos.

Energia dos transientes

Em instalações elétricas abrigadas, isto é, dentro de qualquer


edificação, várias organizações, como por exemplo, o IEEE (The
Institute of Electrical and Electronic Engineers) e também o UL
(Underwriters Laboratories), reconhecem como habitual, a
existência de transientes com 6.000 volts e 3.000 ampères.

A energia contida em um transiente de tensão é capaz de destruir


todo e qualquer aparelho eletroeletrônico como: unidades de
comando microprocessadas, controles, sistemas de medição,
monitores, computadores e muitos outros, inclusive até motores
elétricos.

Causas dos transientes

A maioria dos transientes é causada por descargas atmosféricas ou


raios e relâmpagos. Entretanto, existem outras causas que também
podem provocar transientes, entre elas, as mais comuns são:

• Chaveamentos (ação de ligar e desligar) de equipamentos de alto


consumo de energia elétrica e que apresentam perfis altamente
capacitivos ou indutivos;

• Manobras por parte da concessionária, fornecedora de energia


elétrica;

• Incidentes na rede de distribuição de energia elétrica aérea ou


subterrânea.

Na rede aérea, os incidentes mais comuns são curtos causados por:

• Queda de árvores ou galhos nos fios;

• Abalroamento de postes por veículos;

• Veículos, geralmente caminhão ou carreta, com carga alta superior


ao permitido que, ao passarem por vias onde há cruzamento da rede
aérea, esbarram nos fios;

• Incidentes relativos a problemas em transformadores e em bancos


de capacitores.

Nas redes subterrâneas, geralmente, os problemas são devidos a


correntes excessivas ou a cabos adjacentes instalados em dutos, os
quais perdem a isolação e entram em curto. Um exemplo de
transiente em redes subterrâneas foi o caso recente ocorrido no final
de 2007 nos Estados Unidos, na cidade de São Francisco, Califórnia,
que é constituída na quase totalidade por escritórios ou empresas.

A explosão de um transformador em uma cabine subterrânea da


Pacific Gas & Electric Power, além de deixar aproximadamente 50
mil consumidores por mais de uma hora e meia sem energia elétrica,
provocou transientes de tensão que foram responsáveis por danos
em muitos equipamentos eletroeletrônicos das várias empresas que
se encontravam na região atingida.

Muitas empresas eram fornecedoras de serviços de Internet e outras


possuíam CPDs e, apesar de quase todas possuírem equipamentos
de proteção contra transientes, foram registrados inúmeros casos de
equipamentos danificados.

Principal causa

Na maioria das vezes, os transientes que causam os maiores danos


têm como causa principal as descargas atmosféricas ou, mais
simplesmente falando, os raios.

Quando cai um raio formam-se ondas de energia eletromagnética de


altíssima intensidade, chamadas de Gradientes de Tensão, conforme
é ilustrado na figura 2.
Estes gradientes de tensão se propagam em alta velocidade pelo ar e
ao encontrar qualquer condutor elétrico, como redes de energia
elétrica, fios, torres metálicas, etc, transferem a estes condutores ou
mesmo a outros elementos que possuam baixa resistividade e que se
encontram relativamente perto, grande parte desta energia que é
extremamente elevada. Quanto mais perto do ponto de impacto
maior será o valor do gradiente de tensão.

Entretanto, não é necessária uma distância muito próxima do


condutor elétrico ao ponto de impacto do raio, para que se produza
um transiente. Com isto, queremos dizer que um raio pode ocorrer a
uma distância razoável de um condutor elétrico e, assim mesmo,
causar na rede de energia elétrica que alimenta um determinado
domicílio, um transiente ou mesmo vários.

Descargas atmosféricas (Raios/ Relâmpagos)

Observações feitas durante muitos anos confirmam que: mais de


90% dos raios ocorrem sobre os continentes e menos de 10%
ocorrem sobre os oceanos. Portanto, a maior incidência das
descargas atmosféricas está realmente concentrada nas superfícies
terrestres.

Por meio de satélites meteorológicos e principalmente devido ao


avento dos sistemas Optical Transient Detector (OTD) e, também
Lightning Imaging Sensor (LIS), ambos da NASA, além de dados
coletados localmente, foram avaliados os dois hemisférios terrestres
para se determinar os locais de maior incidência de raios.

O resultado obtido pode ser visto na figura 3, onde quanto mais


escura for a cor maior é a incidência de descargas atmosféricas e por
meio desta podemos tirar as seguintes constatações:
• No Hemisfério Norte as principais áreas de ocorrência de raios são:
primeiramente a região centronorte da África, vindo depois o sul da
Ásia e uma parte do sul dos Estados Unidos;

• No Hemisfério Sul o Brasil vem em primeiro lugar (exceto região


Nordeste, onde há baixa incidência de raios), seguido da região
central da África, do norte da Argentina, África do Sul, Indonésia e o
norte da Austrália;

• Os países desenvolvidos não têm altas densidades de descargas


atmosféricas;

• Até há pouco tempo atrás, tinha-se o Brasil como um dos países


que tinha a maior incidência de descargas atmosféricas, porém, esta
situação mudou.

O ELAT (Laboratório de Eletricidade Atmosférica) do Inpe (Instituto


de Pesquisas Espaciais), uma instituição de renome mundial, provou
recentemente que:

• O Brasil é, no mundo, o país que tem a maior incidência de raios;

• São 60 milhões de raios que atingem o solo brasileiro por ano,


cerca de dois raios por segundo;
• Isto equivale a uma média de aproximadamente 7 raios por
quilômetro quadrado por ano;

• Para provar estas afirmações, o ELAT analisou dados de mais de


3.000 municípios nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste;

• Estes dados foram coletados em um período de aproximadamente


um ano e meio, entre 2005 e 2006;

• Na Região Sudeste, no Estado de São Paulo, é onde caem mais


raios, sendo o município de São Caetano o recordista, seguido dos
municípios de Suzano, Mauá, Santo André e outros;

• A cidade de São Paulo ocupa neste ranking o 21o lugar, no Brasil;

• Estes raios têm causando um elevado número de transientes que


são induzidos ou conduzidos nas redes elétricas que alimentam
locais como residências, escritórios, indústrias, etc.

Várias outras fontes e Instituições informam ainda que:

• Os raios têm correntes elétricas superiores a 200.000 ampères,


apresentam tensões superiores a 100.000 volts e possuem duração
inferior a dois segundos;

• Estudos recentes mostram que a ocorrência de raios tem


aumentado sobre grandes áreas urbanas em relação a outras áreas
em todo o mundo;

• Este efeito pode estar relacionado ao maior grau de poluição sobre


estas áreas e ao fenômeno conhecido como “ilha de calor”,
aquecimento provocado pela presença de muitos prédios ou
construções e pela ausência de áreas verdes;

• Verificou-se ainda que a quantidade de raios em todo o mundo tem


aumentado significativamente, sendo as causas prováveis o
aquecimento global, o efeito estufa e a poluição atmosférica.

Causas remotas

Outras causas, embora remotas, liberam transientes de altíssima


energia. A primeira delas é o chamado EMP, que vem a ser a sigla de
Electromagnetic Pulse, ou seja, os pulsos eletromagnéticos que são
gerados quando da explosão de bombas nucleares na atmosfera.

Este efeito deu origem a artefatos bélicos que causam a destruição de


todos os equipamentos eletrônicos de um inimigo. Isto é feito
através de armas que geram ondas de choque de pulsos
eletromagnéticos de alta potência.

Outra forma pouco conhecida de transiente, também com baixíssima


probabilidade de ocorrência, é na queda de um meteoro de tamanho
razoável na superfície terrestre.

Transientes de tensão

Diante deste cenário, o leitor poderá perguntar se os equipamentos


eletroeletrônicos, principalmente os voltados para uso profissional,
não têm algum tipo de proteção contra transientes de tensão ?

Na verdade, poucos equipamentos de boa qualidade têm algum tipo


de proteção contra transientes, porém, são quase sempre limitados e
de eficiência pequena ou quase nula. Existe uma razão lógica ou
racional para que os fabricantes de equipamentos e componentes
não incluam, em seus produtos, sistemas com um grau mais elevado
de proteção? Claro! Podemos fazer as seguintes ponderações:

• Os países grandes consumidores de equipamentos


eletrônicos como Japão, EUA, Canadá e vários países da Europa,
estão localizados no Hemisfério Norte;

• No Hemisfério Norte podemos ver que apenas uma parte sul


dos Estados Unidos é que se
encontra em área de ocorrência de raios;

• Falando de outra forma: dos países do Hemisfério Norte, que são


os maiores consumidores de equipamentos eletrônicos, uma parte
do sul dos EUA é que tem incidência de raios e esta não é alta;

• Nos países desenvolvidos do Hemisfério Norte, nas grandes


cidades, geralmente as redes são subterrâneas, o que minimiza a
ocorrência de transientes induzidos;
• Incorporar em um equipamento um sistema de proteção altamente
eficaz como a proteção ativa em série, que adiante abordaremos,
eleva o custo do equipamento;

• Os sistemas ideais de proteção, que seriam os que usam a


tecnologia ativa em série, constituem uma novidade e ainda não têm
um pleno conhecimento e divulgação;

• Em um mercado altamente competitivo, para que elevar o custo de


um equipamento colocando uma melhor proteção contra
transientes, se os maiores compradores, que estão no Hemisfério
Norte, não têm necessidade pois na região em que se encontram a
incidência de descargas atmosféricas é relativamente pequena;

• Como o Brasil e outros países que apresentam alta incidência de


raios têm um consumo relativamente pequeno de equipamentos
eletrônicos, não se justifica fabricar modelos com protetores
específicos para estas condições.

O que proteger?

Pelos fatos acima citados, no Brasil, principalmente na Região


Sudeste, praticamente todos os equipamentos eletroeletrônicos
necessitam de proteção adicional que seja eficaz. Um bom protetor
contra transientes irá poupar dinheiro e evitar longos tempos de
interrupção devido ao reparo do equipamento ou a troca de
componentes.

Tipos de Proteção

Genericamente falando, existem dois tipos de proteção para um


determinado dispositivo: a proteção série e a proteção paralela ou
em paralelo.

A figura 4 nos mostra estes dois tipos de proteção que serão citados
ao longo do texto, daqui em diante.
Proteção série

A proteção série, que normalmente estamos acostumados a ver, é


feita por um fusível, mas outros dispositivos também podem ser
empregados, sendo o PTC, outro bastante comum.

O nome PTC vem do Inglês Positive Temperature Coefficient, ou


seja, é um dispositivo que apresenta um coeficiente de temperatura
positivo. Na prática, ele age como se fosse um resistor, onde a
resistência deste aumenta positivamente em uma proporção não
linear com elevação da temperatura.

Assim, para baixas correntes, o PTC apresenta uma resistência


baixa, porém ao passar uma alta corrente, há uma geração de calor
que implica em uma elevação da temperatura e a resistência deste
dispositivo rapidamente aumenta e muito, provocando praticamente
a interrupção do circuito. Na verdade, ele funciona como se fosse um
fusível ou um disjuntor: para corrente baixa-baixa resistência, para
alta corrente-altíssima resistência.

Porém, ao contrário do fusível que precisa ser trocado e substituído


por outro ou do disjuntor, que precisa ser manualmente rearmado, o
PTC após passar o surto de corrente e a temperatura deste
dispositivo abaixar, volta à condição normal.

Um tipo comercial deste dispositivo com larga utilização é o


PolySwitch, que o seu fabricante (Raychem) classifica como sendo
um PTC a polímero (combinação de um mesmo elemento, na mesma
proporção, porém com pesos moleculares diferentes).
Em alguns equipamentos, como por exemplo fontes de alimentação
chaveadas, os PTCs são colocados em série com fusíveis e, neste
caso, a sua principal função é a da limitação da corrente de surto que
ocorre em qualquer equipamento quando este é energizado com
carga. A proteção série convencional nos moldes descritos é ineficaz
contra transientes. Com o advento da proteção série ativa, da qual
trataremos mais adiante, esta proteção veio a ser a que oferece o
mais alto grau de proteção contra transientes.

Proteção Paralela

Várias tecnologias estão disponíveis para a proteção paralela em


equipamentos contra transientes. As atualmente mais usadas são
aquelas em que se utilizam dispositivos com características
específicas de tempo de atuação, para limitar as sobretensões dos
transientes. Estes dispositivos podem ser os seguintes:
centelhadores; centelhadores a gás; diodos TVS e varistores.

Proteção paralela com varistor

Atualmente, a maioria dos equipamentos de proteção à venda no


mercado usam varistores, principalmente pelo baixo custo.

Os protetores que incorporam varistores, quando tecnicamente bem


projetados e corretamente instalados, eram até recentemente,
considerados como sendo os melhores dispositivos de proteção
contra transientes.

Entretanto, com o advento dos protetores que incorporam circuitos


eletrônicos que fazem uso da tecnologia da proteção série ativa, em
pouco tempo, os protetores que usam somente varistores estarão
obsoletos.

As principais deficiências dos protetores que utilizam varistores são


as seguintes:

• Demora no tempo de atuação, o que implica na não absorção total


dos transientes;

• Os varistores, após suportarem alguns transientes, vão se


deteriorando e perdendo as suas propriedades, devendo portanto,
serem substituídos após algum tempo de operação;
• Na quase totalidade dos protetore contra transientes que
empregam varistores, estes são soldados, o que dificulta e às vezes
impossibilita uma troca periódica;

• Quando atingidos por transientes de grande amplitude, os


varistores de óxido de zinco podem pegar fogo, explodir ou ainda se
fragmentarem;

• A temperatura do ambiente onde está instalado um protetor com


varistores, afeta as suas características de disparo;

• Os varistores têm vida útil em função de sua atuação, que


geralmente não pode ser estimada;

• Os protetores com varistores, geralmente, necessitam de um ponto


de aterramento de baixa resistividade, para a absorção dos
transientes;

• Os varistores têm que ser precedidos por fusíveis adequados e para


uma melhor atuação, têm que possuir um indutor série, entretanto
são poucos os fabricantes que o fazem;

• No caso de um transiente de grande magnitude, a área física de um


varistor ou mesmo da associação de vários varistores ligados em
paralelo, não é suficiente para absorvê-lo;

• A tensão de disparo de um varistor por melhor que este seja, não


tem uma tensão extremamente precisa de disparo.

Proteção série ativa

São constituídos por circuitos eletrônicos ativos que detectam em


tempo real qualquer tensão anormal, como é o caso da sobretensão
de um transiente. Caso ocorra um transiente de tensão,
instantaneamente são disparados SCRs ou TRIACs que colocam em
curto a Fase e o Neutro, em redes elétricas de 120 Vca e, Fase-Fase
em redes de 220 Vca.

O curto promove o rompimento de um fusível de ação rápida, que


fica em série com a carga, causando desta forma a interrupção
imediata do circuito.
Este tipo de circuito que se utiliza de semicondutores para fazer
rapidamente um curto é chamado de circuito Crow-Bar.

O tempo de atuação, também conhecido como tempo de resposta,


isto é, o tempo decorrido desde que a tensão suba acima de um
patamar pré-estabelecido até a interrupção total do circuito pela
queima do fusível de um equipamento que usa a tecnologia da
Proteção Série Ativa, é geralmente sempre inferior a 1,0
nanossegundo (10 - 9 s).

As vantagens da Proteção Ativa, em relação aos demais tipos de


protetores, são as seguintes:

• Tempo de atuação extremamente rápido, superiores a todos os


outros dispositivos atualmente existentes;

• Tensão de disparo mais precisa, aliado a uma menor faixa de


tolerância;

• Exceto em alguns casos, não apresentam deterioração nem perdem


as suas propriedades características;

• A temperatura ambiente não tem uma influência preponderante;

• Podem dispensar a necessidade de um ponto de aterramento de


baixa resistividade para a absorção dos transientes;

• Custo próximo ao dos protetores convencionais que empregam


varistores.

A figura 5 (a e b) exibe o diagrama de blocos de um aparelho que


utiliza a tecnologia da proteção ativa e uma estatística de danos
causados nos últimos anos.
Sistemas de Proteção Exóticos

Existem ainda, sistemas de proteção contra transientes originários


de descargas atmosféricas que são chamados de exóticos. Estes,
geralmente, são usados em instalações civis e militares que lidam
com produtos ou equipamentos altamente sensíveis.

Tais sistemas utilizam equipamento específico que, através de


antenas especiais detectam descargas atmosféricas a longas
distâncias e por meio de softwares proprietários, permitem
visualizar o posicionamento, direcionamento, severidade das
descargas, número de descargas, etc.

Quando as descargas atmosféricas estão próximas a ponto de


constituir risco ou perigo, desligam-se as entradas de energia da
rede elétrica comercial, passando todos os equipamentos, sistemas
ou mesmo toda a instalação, a funcionar com baterias ou grupos
motor-gerador.

Entretanto, em condições normais, onde a rede de energia elétrica


comercial fica ligada, ainda assim, é necessário ter-se protetores
ativos, pois poderão ocorrer transientes elétricos de naturezas
diferentes de descargas atmosféricas, como as que anteriormente
abordamos: abalroamento de postes, cargas altas, energização de
cargas, etc.

Mitos

Finalizando, vamos desmistificar ou confirmar uma série de mitos


que predominam no meio técnico, bem como, na população em
geral.

Mito. Um bom sistema de pára-raios, aliado a um aterramento com


baixa resistividade, impede o surgimento de transientes de tensão
advindos de raios.

Falso. Não é verdade, pois sob determinadas condições um sistema


como o acima descrito pode propiciar, e até favorecer, o surgimento
de transientes.

Mito. Equipamentos do tipo No-Break, corretamente projetados,


podem bloquear transientes de tensão. Em parte é verdade, pois os
transientes de tensão destruiriam a parte do circuito de entrada
deste equipamento e, portanto, o surto de tensão não se propagaria.
Portanto, o circuito inversor não seria afetado. O equipamento
alimentado por este No-Break continuaria funcionando até o limite
de autonomia das baterias e aí pararia de vez. O melhor seria usar
um protetor eficaz na entrada do No-Break, o qual protegeria o
equipamento e também o No-Break.

Mito. Protetores combinados, compostos por centelhadores a gases


raros ou radioativos, varistores e TVS em cascata, com indutores em
série, fornecem proteção adequada contra transientes de tensão.

Falso. Como anteriormente explicado, a velocidade de atuação ou


de resposta destes dispositivos, mesmo que combinados, é muito
lenta, o que permite a propagação de transientes antes da atuação
destes dispositivos.

Mito. Os equipamentos contra transientes de tensão que empregam


a tecnologia de Proteção Ativa são, atualmente, os que oferecem a
mais alta eficiência.

Verdadeiro. Pela velocidade de atuação e pelo melhor controle do


ponto de disparo, os equipamentos de proteção que usam esta
tecnologia, quando corretamente projetados, construídos e
instalados, são, na atualidade, imbatíveis.

Mito. Em uma área que não haja incidência de descargas


atmosféricas os protetores contra transientes não são necessários.

Falso. Pois como já foi visto neste artigo, embora com menor
freqüência quando comparados com os transientes provocados por
descargas atmosféricas, existem outros fatores imprevisíveis que
podem e provocam transientes (queda de árvores e galhos nos fios
da rede elétrica aérea, curtos acidentais, manobras na rede elétrica,
etc.).

Mito. Antigamente os equipamentos eletroeletrônicos eram menos


afetados por transientes.

Verdadeiro. Se o leitor leu com atenção este artigo, constatou que


o crescente aumento de transientes de tensão, ocasionados por
descargas atmosféricas, é um fenômeno mundial estatisticamente
comprovado. Soma-se ao exposto que, atualmente os equipamentos
eletrônicos têm componentes com circuitos integrados de alta
densidade, facilmente danificáveis por um pequeno transiente de
tensão.

Mito. O custo de se adquirir protetores contra transientes é menor


que o custo de reparo.

Verdadeiro. Mesmo em se tratando de um equipamento de custo


relativamente baixo, se considerarmos todos os aspectos envolvidos
como tempo de paralisação, custos de transporte ou deslocamento,
reparo, etc, a melhor solução é prevenir do que remediar.

Mito. Sistema de proteção contra transiente de tensão com 100% de


eficiência.

Falso. Esqueça! Tal sistema é praticamente impossível de se


construir e, mesmo que fosse levado a cabo, o alto custo envolvido,
inviabilizaria a sua aplicação

Conclusões
Portanto, constatamos que:

• O número de danos em equipamentos eletroeletrônicos vem


aumentando;

• A principal causa deste fenômeno são os transientes de tensão;

• Transientes de tensão na sua maioria são causados por descargas


atmosféricas;

• Outras causas, como as que aqui já foram descritas, também


podem gerar transientes;

• O Brasil tem a maior incidência mundial de descargas


atmosféricas;

• A tecnologia da Proteção Ativa é a que melhor protege os aparelhos


eletroeletrônicos;

• Os prejuízos decorrentes da não utilização de protetores


adequados, são consideráveis.

Porém, exitem mais fatos e dados reais: as seguradoras na Europa


são extremamente rigorosas na coleta e avaliação dos dados relativos
aos reembolsos dos bens que estão colocados no seguro, que incluem
equipamentos eletroeletrônicos, instalações, e outros.

Estes dados registram, dentre vários outros, os danos causados por


transientes de tensão. Em particular uma instituição, a
GDV (Gesamtverband der Deutschen Versicherungswirtschaft) e V.
(Associação das Seguradoras Alemães) realizou pesquisa com as dez
maiores companhias de seguro de toda a Europa e emitiu um
relatório. Dos muitos dados deste relatório, apresentamos na figura
5 um gráfico relativo a danos.

Outra Instituição de Seguros, também da Alemanha, a


Württemberigsche Versicherung AG, desde a década de 90 vem
registrando a causa de danos. Os dados que dispomos desta
instituição, relativos ao ano de 2.001, onde foram registrados na
Alemanha 7.370 casos, podem ser vistos na figura 6.
Apesar de não possuirmos dados oficiais relativos a outros países, no
caso dos EUA, empresas de consultoria estimam que naquele país
aproximadamente US$ 26 bilhões em prejuízos anuais sejam
decorrentes de problemas causados por transientes de tensão.

Este alto valor, ao contrário dos anteriormente apresentados, não se


refere somente ao dano em aparelhos, equipamentos, ou instalações,
causados pelos transientes de tensão.

Refere-se também aos prejuízos indiretos, como por exemplo, os


causados pela queda da produção, tempo perdido, perda de dados,
produtos não entregues no prazo, problemas de software e muitos
outros. A maioria dos pareceres destas firmas de consultoria,
responsáveis pela apuração de tais fatos, recomenda que, para evitar
prejuízos, prioritariamente devem ser minimizados os riscos de
danos causados por transientes de tensão, qualquer que seja o tipo
de atividade da empresa.

Esta recomendação não só é aplicável quando a empresa se encontra


fisicamente instalada em solo americano, mas também para
instalações outras ou filiais que podem estar localizadas em qualquer
outro ponto do mundo.

Finalizando, afirmamos que os pareceres e conclusões das citadas


empresas de consultoria e de seguro são também os nossos, pois os
fatos e dados por estas apresentados, corroboram com tudo o que foi
dito neste artigo.

Devemos ainda alertar que se o equipamento utilizado para a


minimização dos danos provocados por transientes de tensão não
for realmente eficaz, a sua utilização será praticamente inócua.

*Originalmente publicado na revista Mecatrônica Atual - N° 37

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