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SEE-MG
Comum aos Cargos de Professor de
DZ157-2017
DADOS DA OBRA
Cargo: Comum aos Cargos de Professor de Educação Básica – PEB – Nível I – Grau A:
• Arte/Artes, Biologia/Ciências, Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, História, Língua Es-
trangeira Moderna – Inglês, Língua Portuguesa, Matemática, Química e Sociologia
• Língua Portuguesa
• Matemática
• Conhecimentos Pedagógicos
Autora
Ana Maria
Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza
Diagramação
Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes
Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Capa
Joel Ferreira dos Santos
Editoração Eletrônica
Marlene Moreno
APRESENTAÇÃO
CURSO ONLINE
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SUMÁRIO
Língua Portuguesa
Matemática
Conhecimentos Pedagógicos
I - Direitos Humanos............................................................................................................................................................................................... 01
II - Estatuto da Criança e Adolescente............................................................................................................................................................. 16
III - Diretrizes Nacionais para a educação em direitos humanos........................................................................................................... 54
IV - Programa Nacional Direitos Humanos.................................................................................................................................................... 56
V - Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos.........................................................................................................................137
VI - Direitos das Mulheres...................................................................................................................................................................................149
VII - A Educação Escolar Quilombola no Brasil...........................................................................................................................................170
VIII - A organização e Funcionamento da Educação Escolar Quilombola no Estado de Minas Gerais................................184
IX - A Educação das Relações Étnico-Raciais no Brasil............................................................................................................................188
X - A Educação das Relações Étnico-Raciais e a Década Internacional dos Povos Afrodescendentes.................................197
XI - Diretrizes para a Educação Básica nas escolas do campo em Minas Gerais...........................................................................201
XII - Diretrizes Operacionais Básicas para a Educação Básica nas escolas do campo.................................................................205
XIII - Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica........................................................208
XIV - Organização e o funcionamento do ensino nas Escolas Estaduais de Educação Básica de Minas Gerais...............212
XV - O Currículo na perspectiva da inclusão, da diversidade e do direito à aprendizagem.....................................................224
XVI - Projeto Político-Pedagógico e a estreita relação com o Plano de Ensino, o Plano de Aula e a gestão da sala de
aula...............................................................................................................................................................................................................................242
XVII - A organização do trabalho pedagógico e a interdisciplinaridade..........................................................................................255
XVIII - A avaliação da aprendizagem na perspectiva de um Currículo Inclusivo...........................................................................259
XIX - A política da Educação Integral e Integrada garantindo a formação humana e o desenvolvimento integral dos
estudantes.................................................................................................................................................................................................................263
XX - Educação Especial Inclusiva: possibilidades e desafios..................................................................................................................270
LÍNGUA PORTUGUESA
Normalmente, numa prova, o candidato é convidado a: - Contradição: Não raro, o texto apresenta ideias con-
trárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivo-
- Identificar – é reconhecer os elementos fundamen- cadas e, consequentemente, errando a questão.
tais de uma argumentação, de um processo, de uma época Observação - Muitos pensam que há a ótica do es-
(neste caso, procuram-se os verbos e os advérbios, os quais critor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa
definem o tempo). prova de concurso, o que deve ser levado em consideração
- Comparar – é descobrir as relações de semelhança é o que o autor diz e nada mais.
ou de diferenças entre as situações do texto.
- Comentar - é relacionar o conteúdo apresentado Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
com uma realidade, opinando a respeito. relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si.
- Resumir – é concentrar as ideias centrais e/ou secun- Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um
dárias em um só parágrafo. pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um prono-
- Parafrasear – é reescrever o texto com outras pala- me oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se
vras. vai dizer e o que já foi dito.
Condições básicas para interpretar OBSERVAÇÃO – São muitos os erros de coesão no dia
-a-dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e
Fazem-se necessários: do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do
- Conhecimento histórico–literário (escolas e gêneros verbo; aquele do seu antecedente. Não se pode esquecer
literários, estrutura do texto), leitura e prática; também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
- Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do semântico, por isso a necessidade de adequação ao ante-
texto) e semântico; cedente.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Os pronomes relativos são muito importantes na inter- No texto, o substantivo usado para ressaltar o universo
pretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de coe- reduzido no qual o menino detém sua atenção é
são. Assim sendo, deve-se levar em consideração que existe (A) fresta.
um pronome relativo adequado a cada circunstância, a saber: (B) marca.
- que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente, (C) alma.
mas depende das condições da frase. (D) solidão.
- qual (neutro) idem ao anterior. (E) penumbra.
- quem (pessoa)
- cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois 2-) (ANCINE – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE/2012)
o objeto possuído. O riso é tão universal como a seriedade; ele abarca a to-
- como (modo) talidade do universo, toda a sociedade, a história, a concepção
- onde (lugar) de mundo. É uma verdade que se diz sobre o mundo, que se
quando (tempo) estende a todas as coisas e à qual nada escapa. É, de alguma
quanto (montante) maneira, o aspecto festivo do mundo inteiro, em todos os seus
níveis, uma espécie de segunda revelação do mundo.
Exemplo: Mikhail Bakhtin. A cultura popular na Idade Média e o
Falou tudo QUANTO queria (correto) Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo:
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria Hucitec, 1987, p. 73 (com adaptações).
aparecer o demonstrativo O ). Na linha 1, o elemento “ele” tem como referente textual
“O riso”.
Dicas para melhorar a interpretação de textos ( ) CERTO ( ) ERRADO
- Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do 3-) (ANEEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE/2010)
assunto; Só agora, quase cinco meses depois do apagão que atingiu
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa pelo menos 1.800 cidades em 18 estados do país, surge uma ex-
a leitura; plicação oficial satisfatória para o corte abrupto e generalizado
- Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo de energia no final de 2009.
Segundo relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica
menos duas vezes;
(ANEEL), a responsabilidade recai sobre a empresa estatal Fur-
- Inferir;
nas, cujas linhas de transmissão cruzam os mais de 900 km que
- Voltar ao texto quantas vezes precisar;
separam Itaipu de São Paulo.
- Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do
Equipamentos obsoletos, falta de manutenção e de inves-
autor;
timentos e também erros operacionais conspiraram para pro-
- Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor duzir a mais séria falha do sistema de geração e distribuição
compreensão; de energia do país desde o traumático racionamento de 2001.
- Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada Folha de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adaptações).
questão; Considerando os sentidos e as estruturas linguísticas do
- O autor defende ideias e você deve percebê-las. texto acima apresentado, julgue os próximos itens.
A oração “que atingiu pelo menos 1.800 cidades em 18
Fonte: estados do país” tem, nesse contexto, valor restritivo.
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu- ( ) CERTO ( ) ERRADO
gues/como-interpretar-textos
4-) (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011)
QUESTÕES Um carteiro chega ao portão do hospício e grita:
— Carta para o 9.326!!!
1-) (SABESP/SP – ATENDENTE A CLIENTES 01 – FCC/2014 Um louco pega o envelope, abre-o e vê que a carta está em
- ADAPTADA) Atenção: Para responder à questão, considere branco, e um outro pergunta:
o texto abaixo. — Quem te mandou essa carta?
A marca da solidão — Minha irmã.
Deitado de bruços, sobre as pedras quentes do chão de — Mas por que não está escrito nada?
paralelepípedos, o menino espia. Tem os braços dobrados e a — Ah, porque nós brigamos e não estamos nos falando!
testa pousada sobre eles, seu rosto formando uma tenda de Internet: <www.humortadela.com.br/piada> (com adaptações).
penumbra na tarde quente.
Observa as ranhuras entre uma pedra e outra. Há, den- O efeito surpresa e de humor que se extrai do texto
tro de cada uma delas, um diminuto caminho de terra, com acima decorre
pedrinhas e tufos minúsculos de musgos, formando pequenas A) da identificação numérica atribuída ao louco.
plantas, ínfimos bonsais só visíveis aos olhos de quem é capaz B) da expressão utilizada pelo carteiro ao entregar a
de parar de viver para, apenas, ver. Quando se tem a marca da carta no hospício.
solidão na alma, o mundo cabe numa fresta. C) do fato de outro louco querer saber quem enviou a carta.
(SEIXAS, Heloísa. Contos mais que mínimos. Rio de Janei- D) da explicação dada pelo louco para a carta em branco.
ro: Tinta negra bazar, 2010. p. 47) E) do fato de a irmã do louco ter brigado com ele.
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Fonte: http://www.brasilescola.com/redacao/linguagem.
htm
TIPOLOGIA TEXTUAL
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Texto Dissertativo - a dissertação é um texto que ana- Todas as vezes que uma história é contada (é narrada),
lisa, interpreta, explica e avalia dados da realidade. Esse o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e
tipo textual requer reflexão, pois as opiniões sobre os fatos com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narra-
e a postura crítica em relação ao que se discute têm grande ção predomina a ação: o texto narrativo é um conjunto de
importância. O texto dissertativo é temático, pois trata de ações; assim sendo, a maioria dos verbos que compõem
análises e interpretações; o tempo explorado é o presente esse tipo de texto são os verbos de ação. O conjunto de
no seu valor atemporal; é constituído por uma introdução ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a história
onde o assunto a ser discutido é apresentado, seguido por que é contada nesse tipo de texto recebe o nome de en-
uma argumentação que caracteriza o ponto de vista do au- redo.
tor sobre o assunto em evidência. Nesse tipo de texto a As ações contidas no texto narrativo são praticadas
expressão das ideias, valores, crenças são claras, evidentes, pelas personagens, que são justamente as pessoas en-
pois é um tipo de texto que propõe a reflexão, o debate volvidas no episódio que está sendo contado. As persona-
de ideias. A linguagem explorada é a denotativa, embora o gens são identificadas (nomeadas) no texto narrativo pelos
uso da conotação possa marcar um estilo pessoal. A obje- substantivos próprios.
tividade é um fator importante, pois dá ao texto um valor Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mes-
universal, por isso geralmente o enunciador não aparece mo sem querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar)
porque o mais importante é o assunto em questão e não as ações do enredo foram realizadas pelas personagens.
quem fala dele. A ausência do emissor é importante para O lugar onde ocorre uma ação ou ações é chamado de
que a ideia defendida torne algo partilhado entre muitas espaço, representado no texto pelos advérbios de lugar.
pessoas, sendo admitido o emprego da 1ª pessoa do plural Além de contar onde, o narrador também pode es-
- nós, pois esse não descaracteriza o discurso dissertativo. clarecer “quando” ocorreram as ações da história. Esse
- expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa; elemento da narrativa é o tempo, representado no texto
- é um tipo de texto argumentativo. narrativo através dos tempos verbais, mas principalmente
- defesa de um argumento: apresentação de uma tese pelos advérbios de tempo. É o tempo que ordena as ações
que será defendida; desenvolvimento ou argumentação; no texto narrativo: é ele que indica ao leitor “como” o fato
fechamento; narrado aconteceu.
- predomínio da linguagem objetiva; A história contada, por isso, passa por uma introdução
- prevalece a denotação. (parte inicial da história, também chamada de prólogo),
pelo desenvolvimento do enredo (é a história propria-
Texto Argumentativo - esse texto tem a função de mente dita, o meio, o “miolo” da narrativa, também cha-
persuadir o leitor, convencendo-o de aceitar uma ideia im- mada de trama) e termina com a conclusão da história (é o
posta pelo texto. É o tipo textual mais presente em ma- final ou epílogo). Aquele que conta a história é o narrador,
nifestos e cartas abertas, e quando também mostra fatos que pode ser pessoal (narra em 1ª pessoa: Eu...) ou impes-
para embasar a argumentação, se torna um texto disserta- soal (narra em 3ª pessoa: Ele...).
tivo-argumentativo. Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por ver-
bos de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de
Texto Injuntivo/Instrucional - indica como realizar lugar e pelos substantivos que nomeiam as personagens,
uma ação. Também é utilizado para predizer acontecimen- que são os agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que
tos e comportamentos. Utiliza linguagem objetiva e sim- fazem as ações expressas pelos verbos, formando uma
ples. Os verbos são, na sua maioria, empregados no modo rede: a própria história contada.
imperativo, porém nota-se também o uso do infinitivo e Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que
o uso do futuro do presente do modo indicativo. Ex: Pre- conta a história.
visões do tempo, receitas culinárias, manuais, leis, bula de
remédio, convenções, regras e eventos. Elementos Estruturais (I):
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“Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o
teso do Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de copo de cerveja até a boca, depois cada um prova o seu gua-
contrabandista que fez cancha nos banhados do Ibirocaí. raná e morde o primeiro bocado do pão.
Esse gaúcho desabotinado levou a existência inteira a O homem toma a cerveja em pequenos goles, obser-
cruzar os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado da vando criteriosamente o menino mais velho e o menino mais
Lua, na escuridão das noites, na cerração das madrugadas...; novo absorvidos com o sanduíche e a bebida.
ainda que chovesse reiúnos acolherados ou que ventasse Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois me-
como por alma de padre, nunca errou vau, nunca perdeu ninos. E permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis,
atalho, nunca desandou cruzada!... sentados naquela mesa.
(...) (Wander Piroli)
Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento
dele. Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não no víamos Tipos de Discurso:
desde muito tempo. (...)
Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente
matança dos leitões e no tiramento dos assados com couro. para o personagem, sem a sua interferência. Exemplo:
(J. Simões Lopes Neto – Contrabandista)
Caso de Desquite
- Em 3ª pessoa:
__ Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na boca).
Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pes- Veja, doutor, este velho caducando. Bisavô, um neto casado.
soa. Exemplo: Agora com mania de mulher. Todo velho é sem-vergonha.
__ Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só
“Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a fanta- não me pise, fico uma jararaca.
siaram de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E saiu à __ Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão.
rua com ar menos carnavalesco deste mundo, morrendo de __ Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está
vergonha da malha de cetim, das asas e das antenas e, mais bom? Ela não contribuiu com nada, doutor. Só deu de mamar
ainda, da cara à mostra, sem máscara piedosa para disfarçar no primeiro mês.
o sentimento impreciso de ridículo.” __Você desempregado, quem é que fazia roça?
(Ilka Laurito. Sal do Lírico) __ Isso naquele tempo. O hominho aqui se espalhava. Fui
jogado na estrada, doutor. Desde onze anos estou no mundo
Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história sem ninguém por mim. O céu lá em cima, noite e dia o ho-
como sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo: minho aqui na carroça. Sempre o mais sacrificado, está bom?
__ Se ficar doente, Severino, quem é que o atende?
Festa __ O doutor já viu urubu comer defunto? Ninguém morre
só. Sempre tem um cristão que enterra o pobre.
Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha __ Na sua idade, sem os cuidados de uma mulher...
o crioulão de roupa limpa e remendada, acompanhado de __ Eu arranjo.
dois meninos de tênis branco, um mais velho e outro mais __ Só a troco de dinheiro elas querem você. Agora tem
novo, mas ambos com menos de dez anos. dois cavalos. A carroça e os dois cavalos, o que há de melhor.
Os três atravessam o salão, cuidadosamente, mas reso- Vai me deixar sem nada?
lutamente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há __ Você tinha amula e a potranca. A mula vendeu e a po-
seis mesas desertas. tranca, deixou morrer. Tenho culpa? Só quero paz, um prato
O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O de comida e roupa lavada.
homem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás __ Para onde foi a lavadeira?
e dois pãezinhos. __ Quem?
__ Duzentos e vinte. __ A mulata.
O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido. (...)
__Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz. (Dalton Trevisan – A guerra Conjugal)
__ Como?
__ Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem
gostoso. diz, sem lhe passar diretamente a palavra. Exemplo:
O homem olha para os meninos.
__ O preço é o mesmo – informa o rapaz. Frio
__ Está certo.
Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, O menino tinha só dez anos.
como se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida. Quase meia hora andando. No começo pensou num bon-
O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, de. Mas lembrou-se do embrulhinho branco e bem feito que
em seguida, num pratinho, os dois pães com meia almônde- trazia, afastou a idéia como se estivesse fazendo uma coisa er-
ga cada um. O homem e (mais do que ele) os meninos olham rada. (Nos bondes, àquela hora da noite, poderiam roubá-lo,
para dentro dos pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira. sem que percebesse; e depois?... Que é que diria a Paraná?)
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- se invertêssemos a sequência dos enunciados, não cor- A característica fundamental de um texto descritivo é
reríamos o risco de alterar nenhuma relação cronológica - po- essa inexistência de progressão temporal. Pode-se apre-
deríamos mesmo colocar o últímo período em primeiro lugar sentar, numa descrição, até mesmo ação ou movimento,
e ler o texto do fim para o começo: O mestre era mais severo desde que eles sejam sempre simultâneos, não indicando
com ele do que conosco. Entrava na escola depois do pai e progressão de uma situação anterior para outra posterior.
retirava-se antes... Tanto é que uma das marcas linguísticas da descrição é o
predomínio de verbos no presente ou no pretérito imper-
Evidentemente, quando se diz que a ordem dos enuncia- feito do indicativo: o primeiro expressa concomitância em
dos pode ser invertida, está-se pensando apenas na ordem relação ao momento da fala; o segundo, em relação a um
cronológica, pois, como veremos adiante, a ordem em que os marco temporal pretérito instalado no texto.
elementos são descritos produz determinados efeitos de sen- Para transformar uma descrição numa narração, basta-
tido. ria introduzir um enunciado que indicasse a passagem de
Quando alteramos a ordem dos enunciados, precisamos um estado anterior para um posterior. No caso do texto II
fazer certas modificações no texto, pois este contém anafó- inicial, para transformá-lo em narração, bastaria dizer: Re-
ricos (palavras que retomam o que foi dito antes, como ele, unia a isso grande medo do pai. Mais tarde, Iibertou-se
os, aquele, etc. ou catafóricos (palavras que anunciam o que desse medo...
vai ser dito, como este, etc.), que podem perder sua função e
assim não ser compreendidos. Se tomarmos uma descrição Características Linguísticas:
como As flores manifestavam todo o seu esplendor. O Sol
fazia-as brilhar, ao invertermos a ordem das frases, precisa- O enunciado narrativo, por ter a representação de um
mos fazer algumas alterações, para que o texto possa ser com- acontecimento, fazer-transformador, é marcado pela tem-
preendido: O Sol fazia as flores brilhar. Elas manifestavam poralidade, na relação situação inicial e situação final, en-
todo o seu esplendor. Como, na versão original, o pronome quanto que o enunciado descritivo, não tendo transforma-
oblíquo as é um anafórico que retoma flores, se alterarmos a ção, é atemporal.
ordem das frases ele perderá o sentido. Por isso, precisamos Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintá-
mudar a palavra flores para a primeira frase e retomá-la com o tico-semânticas encontradas no texto que vão facilitar a
anafórico elas na segunda. compreensão:
Por todas essas características, diz-se que o fragmento do - Predominância de verbos de estado, situação ou in-
conto de Machado é descritivo. Descrição é o tipo de texto dicadores de propriedades, atitudes, qualidades, usados
em que se expõem características de seres concretos (pessoas, principalmente no presente e no imperfeito do indicativo
objetos, situações, etc.) consideradas fora da relação de ante-
(ser, estar, haver, situar-se, existir, ficar).
rioridade e de posterioridade.
- Ênfase na adjetivação para melhor caracterizar o que
é descrito;
Características:
Exemplo:
- Ao fazer a descrição enumeramos características, com-
parações e inúmeros elementos sensoriais;
- As personagens podem ser caracterizadas física e psico- “Era alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço
logicamente, ou pelas ações; entalado num colarinho direito. O rosto aguçado no quei-
- A descrição pode ser considerada um dos elementos xo ia-se alargando até à calva, vasta e polida, um pouco
constitutivos da dissertação e da argumentação; amolgado no alto; tingia os cabelos que de uma orelha à
- É impossível separar narração de descrição; outra lhe faziam colar por trás da nuca - e aquele preto
- O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, mas lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à calva; mas não
sim a capacidade de observação que deve revelar aquele que tingia o bigode; tinha-o grisalho, farto, caído aos cantos
a realiza. da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas escuras.
- Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exemplo: Tinha uma covinha no queixo, e as orelhas grandes muito
“(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo despegadas do crânio.”
desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea (Eça de Queiroz - O Primo Basílio)
e fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que
parecem conformados expressamente para esposas da multi- - Emprego de figuras (metáforas, metonímias, compa-
dão (...)” (Raul Pompéia – O Ateneu) rações, sinestesias). Exemplo:
- Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, não
existe relação de anterioridade e posterioridade entre seus “Era o Sr. Lemos um velho de pequena estatura, não
enunciados. muito gordo, mas rolho e bojudo como um vaso chinês.
- Devem-se evitar os verbos e, se isso não for possível, Apesar de seu corpo rechonchudo, tinha certa vivacidade
que se usem então as formas nominais, o presente e o preté- buliçosa e saltitante que lhe dava petulância de rapaz e ca-
rio imperfeito do indicativo, dando-se sempre preferência aos sava perfeitamente com os olhinhos de azougue.”
verbos que indiquem estado ou fenômeno. (José de Alencar - Senhora)
- Todavia deve predominar o emprego das comparações,
dos adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido ao texto.
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- Uso de advérbios de localização espacial. Exemplo: “(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra es-
perança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par-de-
“Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha, e frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso, mandando
essa casa era assim: na frente, uma grade de ferro; depois você por lei, de sobregoverno.”
entrava tinha um jardinzinho; no final tinha uma escadinha que (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas)
devia ter uns cinco degraus; aí você entrava na sala da frente;
dali tinha um corredor comprido de onde saíam três portas; no Os efeitos de sentido criados pela disposição dos elemen-
final do corredor tinha a cozinha, depois tinha uma escadinha tos descritivos:
que ia dar no quintal e atrás ainda tinha um galpão, que era o
lugar da bagunça...” Como se disse anteriormente, do ponto de vista da pro-
(Entrevista gravada para o Projeto NURC/RJ) gressão temporal, a ordem dos enunciados na descrição é in-
diferente, uma vez que eles indicam propriedades ou caracte-
Recursos: rísticas que ocorrem simultaneamente. No entanto, ela não é
indiferente do ponto de vista dos efeitos de sentido: descrever
- Usar impressões cromáticas (cores) e sensações térmicas. de cima para baixo ou vice-versa, do detalhe para o todo ou do
Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor alegre do sol. todo para o detalhe cria efeitos de sentido distintos.
- Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exatas, Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio”, de
concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um céu se- Bocage:
reno, uma pureza de cristal.
- As sensações de movimento e cor embelezam o poder Magro, de olhos azuis, carão moreno,
da natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde transparen- bem servido de pés, meão de altura,
te que deslumbrava e enlouquecia qualquer um. triste de facha, o mesmo de figura,
- A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez do nariz alto no meio, e não pequeno.
texto. Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O pessoal,
muito crente. Incapaz de assistir num só terreno,
mais propenso ao furor do que à ternura;
A descrição pode ser apresentada sob duas formas: bebendo em níveas mãos por taça escura
de zelos infernais letal veneno.
Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a pas-
sagem são apresentadas como realmente são, concretamente. Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão, 1968, pág. 497.
Exemplo:
O poeta descreve-se das características físicas para as ca-
“Sua altura é 1,85m. Seu peso, 70kg. Aparência atlética, racterísticas morais. Se fizesse o inverso, o sentido não seria o
ombros largos, pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos mesmo, pois as características físicas perderiam qualquer rele-
negros e lisos”. vo.
O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a visualizar
Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Exemplo: uma cena. É como traçar com palavras o retrato de um objeto,
lugar, pessoa etc., apontando suas características exteriores, fa-
“A casa velha era enorme, toda em largura, com porta cen- cilmente identificáveis (descrição objetiva), ou suas característi-
tral que se alcançava por três degraus de pedra e quatro janelas cas psicológicas e até emocionais (descrição subjetiva).
de guilhotina para cada lado. Era feita de pau-a-pique barrea- Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjeti-
do, dentro de uma estrutura de cantos e apoios de madeira- vos, também denominado adjetivação. Para facilitar o apren-
de-lei. Telhado de quatro águas. Pintada de roxo-claro. Devia dizado desta técnica, sugere-se que o concursando, após es-
ser mais velha que Juiz de Fora, provavelmente sede de algu- crever seu texto, sublinhe todos os substantivos, acrescentando
ma fazenda que tivesse ficado, capricho da sorte, na linha de antes ou depois deste um adjetivo ou uma locução adjetiva.
passagem da variante do Caminho Novo que veio a ser a Rua
Principal, depois a Rua Direita – sobre a qual ela se punha um Descrição de objetos constituídos de uma só parte:
pouco de esguelha e fugindo ligeiramente do alinhamento (...).”
(Pedro Nava – Baú de Ossos) - Introdução: observações de caráter geral referentes à
procedência ou localização do objeto descrito.
Descrição Subjetiva: quando há maior participação da - Desenvolvimento: detalhes (lª parte) - formato (compa-
emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são ração com figuras geométricas e com objetos semelhantes);
transfigurados pela emoção de quem escreve, podendo opinar dimensões (largura, comprimento, altura, diâmetro etc.)
ou expressar seus sentimentos. Exemplo: - Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) - material, peso,
“Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar pulso ao cor/brilho, textura.
homem. Não só as condecorações gritavam-lhe no peito como - Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua
uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto
anúncio; os gestos, calmos, soberanos, calmos, eram de um rei...” como um todo.
(“O Ateneu”, Raul Pompéia)
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LÍNGUA PORTUGUESA
Descrição de objetos constituídos por várias partes: A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação.
- Introdução: observações de caráter geral referentes à É uma estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais
procedência ou localização do objeto descrito. predominam. Porque toda técnica descritiva implica con-
- Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários templação e apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o
das partes que compõem o objeto, associados à explicação de redator, ao descrever, precisa possuir certo grau de sensi-
como as partes se agrupam para formar o todo. bilidade. Assim como o pintor capta o mundo exterior ou
- Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um interior em suas telas, o autor de uma descrição focaliza
todo (externamente) - formato, dimensões, material, peso, tex- cenas ou imagens, conforme o permita sua sensibilidade.
tura, cor e brilho.
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto não-literária ou literária. Na descrição não-literária, há
em sua totalidade. maior preocupação com a exatidão dos detalhes e a pre-
cisão vocabular. Por ser objetiva, há predominância da de-
Descrição de ambientes: notação.
- Introdução: comentário de caráter geral.
- Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura glo- Textos descritivos não-literários: A descrição técnica
bal do ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, lumi- é um tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usan-
nosidade e aroma (se houver). do uma linguagem científica, precisa. Esse tipo de texto é
- Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a usado para descrever aparelhos, o seu funcionamento, as
objetos lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, peças que os compõem, para descrever experiências, pro-
esculturas ou quaisquer outros objetos. cessos, etc. Exemplo:
- Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira
no ambiente. Folheto de propaganda de carro
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LÍNGUA PORTUGUESA
Há três métodos pelos quais pode um homem chegar - Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona
a ser primeiro-ministro. O primeiro é saber, com prudência, a um fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início
como servir-se de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; no começo dos anos 80, com os conhecidos altos índices
o segundo, como trair ou solapar os predecessores; e o ter- de inflação que a década colecionou, agravou vários dos
ceiro, como clamar, com zelo furioso, contra a corrupção da históricos problemas sociais do país. Entre eles, a violência,
corte. Mas um príncipe discreto prefere nomear os que se va- principalmente a urbana, cuja escalada tem sido facilmente
lem do último desses métodos, pois os tais fanáticos sempre identificada pela população brasileira.”
se revelam os mais obsequiosos e subservientes à vontade - Proposição: o autor explicita seus objetivos.
e às paixões do amo. Tendo à sua disposição todos os car- - Convite: proposta ao leitor para que participe de algu-
gos, conservam-se no poder esses ministros subordinando a ma coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”?
maioria do senado, ou grande conselho, e, afinal, por via de Quer se sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre
um expediente chamado anistia (cuja natureza lhe expliquei), pelo cano! Faça parte desse time de vencedores desde a es-
garantem-se contra futuras prestações de contas e retiram- colha desse momento!
se da vida pública carregados com os despojos da nação. - Contestação: contestar uma idéia ou uma situação. Ex:
Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. “É importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo
São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 234-235. não é a solução no combate à insegurança.”
- Características: caracterização de espaços ou aspectos.
Esse texto explica os três métodos pelos quais um ho- - Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex:
mem chega a ser primeiro-ministro, aconselha o príncipe dis- “Em 1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com
creto a escolhê-lo entre os que clamam contra a corrupção televisores. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de
na corte e justifica esse conselho. Observe-se que: aparelhos receptores instalados do mundo). Ao todo, existem
- o texto é temático, pois analisa e interpreta a realida- no país 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas)
de com conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um e 2.624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais recebi-
homem particular e do que faz para chegar a ser primeiro- dos). (...)”
ministro, mas do homem em geral e de todos os métodos - Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato.
para atingir o poder); - Citação: opinião de alguém de destaque sobre o as-
- existe mudança de situação no texto (por exemplo, a sunto do texto. Ex: “A principal característica do déspota en-
mudança de atitude dos que clamam contra a corrupção da contra-se no fato de ser ele o autor único e exclusivo das
corte no momento em que se tornam primeiros-ministros); normas e das regras que definem a vida familiar, isto é, o
- a progressão temporal dos enunciados não tem impor- espaço privado. Seu poder, escreve Aristóteles, é arbitrário,
tância, pois o que importa é a relação de implicação (clamar pois decorre exclusivamente de sua vontade, de seu prazer e
contra a corrupção da corte implica ser corrupto depois da de suas necessidades.”
nomeação para primeiro-ministro). - Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos
que compõem o texto.
Características: - Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz
a pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo
- ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é pelo futebol não é uma prova de alienação?”
temático; - Suspense: alguma informação que faça aumentar a
- como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situa- curiosidade do leitor.
ção; - Comparação: social e geográfica.
- ao contrário do texto narrativo, nele as relações de - Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à dis-
anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm tância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo
maior importância - o que importa são suas relações lógicas: das massas, Holocausto: através das metáforas e das realida-
analogia, pertinência, causalidade, coexistência, correspon- des que marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verda-
dência, implicação, etc. deira doença do século...”
- a estética e a gramática são comuns a todos os tipos - Narração: narrar um fato.
de redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem
características próprias a cada tipo de texto. Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial, de
forma organizada e progressiva. É a parte maior e mais im-
São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvi- portante do texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas:
mento / Conclusão.
- Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova
Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresen- com este tipo de abordagem.
ta a ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvol- - Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a
vimento. Tipos: idéia principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a de-
finição.
- Divisão: quando há dois ou mais termos a serem dis- - Comparação: estabelecer analogias, confrontar si-
cutidos. Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: tuações distintas.
uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora - Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta
para dentro...” pontos favoráveis e desfavoráveis.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato Já que a Constituição dita seu valor ao social que todos
ou descrever uma cena. têm o direito de trabalho, cabe aos governantes desse país,
- Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados es- que almeja um futuro brilhante, deter, com urgência esse
tatísticos. processo de desníveis gritantes e criar soluções eficazes
- Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para para combater a crise generalizada (F), pois a uma nação
prováveis resultados. doente, miserável e desigual, não compete a tão sonhada
- Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve modernidade. (G)
apresentar questionamento e reflexão.
- Refutação: questiona-se praticamente tudo: concei- 1º Parágrafo – Introdução
tos, valores, juízos.
- Causa e Consequência: estruturar o texto através dos A. Tema: Desemprego no Brasil.
porquês de uma determinada situação. Contextualização: decorrência de um processo histó-
- Oposição: abordar um assunto de forma dialética. rico problemático.
- Exemplificação: dar exemplos.
2º ao 6º Parágrafo – Desenvolvimento
Conclusão: é uma avaliação final do assunto, um fe-
chamento integrado de tudo que se argumentou. Para ela B. Argumento 1: Exploram-se dados da realidade que
convergem todas as ideias anteriormente desenvolvidas. remetem a uma análise do tema em questão.
C. Argumento 2: Considerações a respeito de outro
- Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese. dado da realidade.
- Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um D. Argumento 3: Coloca-se sob suspeita a sinceridade
pensamento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão de quem propõe soluções.
de quem lê. E. Argumento 4: Uso do raciocínio lógico de oposição.
Exemplo: 7º Parágrafo: Conclusão
F. Uma possível solução é apresentada.
Direito de Trabalho G. O texto conclui que desigualdade não se casa com
modernidade.
Com a queda do feudalismo no século XV, nasce um
novo modelo econômico: o capitalismo, que até o século É bom lembrarmos que é praticamente impossível opi-
XX agia por meio da inclusão de trabalhadores e hoje pas- nar sobre o que não se conhece. A leitura de bons textos
sou a agir por meio da exclusão. (A)
é um dos recursos que permite uma segurança maior no
A tendência do mundo contemporâneo é tornar todo
momento de dissertar sobre algum assunto. Debater e pes-
o trabalho automático, devido à evolução tecnológica e a
quisar são atitudes que favorecem o senso crítico, essencial
necessidade de qualificação cada vez maior, o que provoca
no desenvolvimento de um texto dissertativo.
o desemprego. Outro fator que também leva ao desempre-
go de um sem número de trabalhadores é a contenção de
Ainda temos:
despesas, de gastos. (B)
Segundo a Constituição, “preocupada” com essa cri-
se social que provém dessa automatização e qualificação, Tema: compreende o assunto proposto para discus-
obriga que seja feita uma lei, em que será dada absoluta são, o assunto que vai ser abordado.
garantia aos trabalhadores, de que, mesmo que as empre- Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo
sas sejam automatizadas, não perderão eles seu mercado discutido.
de trabalho. (C) Argumentação: é um conjunto de procedimentos lin-
Não é uma utopia?! guísticos com os quais a pessoa que escreve sustenta suas
Um exemplo vivo são os bóias-frias que trabalham na opiniões, de forma a torná-las aceitáveis pelo leitor. É for-
colheita da cana de açúcar que devido ao avanço tecnoló- necer argumentos, ou seja, razões a favor ou contra uma
gico e a lei do governador Geraldo Alkmin, defendendo o determinada tese.
meio ambiente, proibindo a queima da cana de açúcar para Estes assuntos serão vistos com mais afinco posterior-
a colheita e substituindo-os então pelas máquinas, desem- mente.
prega milhares deles. (D)
Em troca os sindicatos dos trabalhadores rurais dão Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são:
cursos de cabeleleiro, marcenaria, eletricista, para não per-
derem o mercado de trabalho, aumentando, com isso, a - toda dissertação é uma demonstração, daí a necessi-
classe de trabalhos informais. dade de pleno domínio do assunto e habilidade de argu-
Como ficam então aqueles trabalhadores que passa- mentação;
ram à vida estudando, se especializando, para se diferen- - em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao
ciarem e ainda estão desempregados?, como vimos no úl- tema;
timo concurso da prefeitura do Rio de Janeiro para “gari”, - a coerência é tida como regra de ouro da dissertação;
havia até advogado na fila de inscrição. (E) - impõem-se sempre o raciocínio lógico;
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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue prove- Tese, ou proposição, é a ideia que defendemos, necessa-
niente do coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão riamente polêmica, pois a argumentação implica divergência
umbilical e na ligação entre os pulmões e o coração, todas de opinião.
as artérias contém sangue vermelho-vivo, recém oxigena- Argumento tem uma origem curiosa: vem do latim Ar-
do. Na artéria pulmonar, porém, corre sangue venoso, mais gumentum, que tem o tema ARGU, cujo sentido primeiro é
escuro e desoxigenado, que o coração remete para os pul- “fazer brilhar”, “iluminar”, a mesma raiz de “argênteo”, “ar-
mões para receber oxigênio e liberar gás carbônico”. gúcia”, “arguto”. Os argumentos de um texto são facilmente
localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê?
Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, Exemplo: o autor é contra a pena de morte (tese). Por que...
deve delimitar-se o tema que será desenvolvido e que po- (argumentos).
derá ser enfocado sob diversos aspectos. Se, por exemplo, Estratégias argumentativas são todos os recursos (ver-
o tema é a questão indígena, ela poderá ser desenvolvida a bais e não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte,
partir das seguintes ideias: para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi
-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc.
- A violência contra os povos indígenas é uma constan-
te na história do Brasil. A Estrutura de um Texto Argumentativo
- O surgimento de várias entidades de defesa das po-
pulações indígenas. A argumentação Formal
- A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio
brasileiro. A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra “Comu-
- A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena. nicação em Prosa Moderna”. O autor, na mencionada obra,
apresenta o seguinte plano-padrão para o que chama de ar-
Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver, gumentação formal:
deve fazer a estruturação do texto. Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e
limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.
Análise da proposição ou tese: definição do sentido da
A estrutura do texto dissertativo constitui-se de:
proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal
-entendidos.
Introdução: deve conter a ideia principal a ser desen-
Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados es-
volvida (geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura
tatísticos, testemunhos, etc.
do texto, por isso é fundamental. Deve ser clara e chamar
Conclusão.
a atenção para dois itens básicos: os objetivos do texto e o
plano do desenvolvimento. Contém a proposição do tema, Observe o texto a seguir, que contém os elementos refe-
seus limites, ângulo de análise e a hipótese ou a tese a ser ridos do plano-padrão da argumentação formal.
defendida.
Desenvolvimento: exposição de elementos que vão Gramática e desempenho Linguístico
fundamentar a ideia principal que pode vir especificada
através da argumentação, de pormenores, da ilustração, da Pretende-se demonstrar no presente artigo que o estu-
causa e da consequência, das definições, dos dados esta- do intencional da gramática não traz benefícios significativos
tísticos, da ordenação cronológica, da interrogação e da para o desempenho linguístico dos utentes de uma língua.
citação. No desenvolvimento são usados tantos parágrafos Por “estudo intencional da gramática” entende-se o estu-
quantos forem necessários para a completa exposição da do de definições, classificações e nomenclatura; a realização
ideia. E esses parágrafos podem ser estruturados das cinco de análises (fonológica, morfológica, sintática); a memoriza-
maneiras expostas acima. ção de regras (de concordância, regência e colocação) - para
Conclusão: é a retomada da ideia principal, que ago- citar algumas áreas. O “desempenho linguístico”, por outro
ra deve aparecer de forma muito mais convincente, uma lado, é expressão técnica definida como sendo o processo de
vez que já foi fundamentada durante o desenvolvimento atualização da competência na produção e interpretação de
da dissertação (um parágrafo). Deve, pois, conter de forma enunciados; dito de maneira mais simples, é o que se fala, é o
sintética, o objetivo proposto na instrução, a confirmação que se escreve em condições reais de comunicação.
da hipótese ou da tese, acrescida da argumentação básica A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem an-
empregada no desenvolvimento. tiga; na verdade, surgiu com os gregos, quando surgiram as
primeiras gramáticas. Definida como “arte”, “arte de escre-
Texto Argumentativo ver”, percebe-se que subjaz à definição a ideia da sua impor-
tância para a prática da língua. São da mesma época também
Texto Argumentativo é o texto em que defendemos as primeiras críticas, como se pode ler em Apolônio de Ro-
uma ideia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procuran- des, poeta Alexandrino do séc. II a.C.: “Raça de gramáticos,
do (por todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor roedores que ratais na musa de outrem, estúpidas lagartas
aceite-a, creia nela. Num texto argumentativo, distinguem- que sujais as grandes obras, ó flagelo dos poetas que mer-
se três componentes: a tese, os argumentos e as estraté- gulhais o espírito das crianças na escuridão, ide para o diabo,
gias argumentativas. percevejos que devorais os versos belos”.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Na atualidade, é grande o número de educadores, filó- Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse sig-
logos e linguistas de reconhecido saber que negam a rela- nificativa, deveriam os melhores escritores conhecer - teori-
ção entre o estudo intencional da gramática e a melhora do camente - a língua em profundidade. Isso, no entanto, não se
desempenho linguístico do usuário. Entre esses especialistas, confirma na realidade: Monteiro Lobato, quando estudante,
deve-se mencionar o nome do Prof. Celso Pedro Luft com sus foi reprovado em língua portuguesa (muito provavelmente
obra “Língua e liberdade: por uma nova concepção de língua por desconhecer teoria gramatical); Machado de Assis, ao fo-
materna e seu ensino” (L&PM, 1995). Com efeito, o velho pes- lhar uma gramática declarou que nada havia entendido; di-
quisar apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espí- ficilmente um Luis Fernando Veríssimo saberia o que é um
rito lúcido e de larga formação linguística, reúne numa mesma morfema; nem é de se crer que todos os nossos bons escri-
obra convincente fundamentação para seu combate veemen- tores seriam aprovados num teste de Português à maneira
te contra o ensino da gramática em sala de aula. Por oportuno, tradicional (e, no entanto eles são os senhores da língua!).
uma citação apenas: Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como
“Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez recuperar linguisticamente os alunos, como promover um
abandonem a superstição da teoria gramatical, desistindo de melhor desempenho linguístico mediante o ensino-estudo da
querer ensinar a língua por definições, classificações, análises teoria gramatical. O caminho é seguramente outro.
inconsistentes e precárias hauridas em gramáticas. Já seria um
grande benefício”. Gilberto Scarton
Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre,
acima referida suponha-se que se deva recuperar linguistica- Eis o esquema do texto em seus quatro estágios:
mente um jovem estudante universitário cujo texto apresente
preocupantes problemas de concordância, regência, coloca- Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se enuncia
ção, ortografia, pontuação, adequação vocabular, coesão, coe- claramente a tese a ser defendida.
rência, informatividade, entre outros. E, estimando-lhe melho- Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se defi-
ras, lhe fosse dada uma gramática que ele passaria a estudar: nem as expressões “estudo intencional da gramática” e “de-
que é fonética? Que é fonologia? Que é fonemas? Morfema? sempenho lingüístico”, citadas na tese.
Qual é coletivo de borboleta? O feminino de cupim? Como Terceiro Estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo
se chama quem nasce na Província de Entre-Douro-e-Minho? e oitavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos.
Que é oração subordinada adverbial concessiva reduzida de - Terceiro parágrafo: parágrafo introdutório à argumen-
gerúndio? E decorasse regras de ortografia, fizesse lista de tação.
homônimos, parônimos, de verbos irregulares... e estudasse - Quarto parágrafo: argumento de autoridade.
o plural de compostos, todas regras de concordância, regên- - Quinto parágrafo: argumento com base em ilustração
cias... os casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo hipotética.
de todo esse processo, se voltasse a examinar o desempenho - Sexto parágrafo: argumento com base em dados esta-
do jovem estudante na produção de um texto. A melhora seria, tísticos.
indubitavelmente, pouco significativa; uma pequena melhora, - Sétimo e oitavo parágrafo: argumento com base em fatos.
talvez, na gramática da frase, mas o problema de coesão, de Quarto Estágio: último parágrafo, em que se apresenta
coerência, de informatividade - quem sabe os mais graves - a conclusão.
haveriam de continuar. Quanto mais não seja porque a gramá-
tica tradicional não dá conta dos mecanismos que presidem à A Argumentação Informal
construção do texto.
Poder-se-á objetar que a ilustração de há pouco é ape- A nomenclatura também é de Othon Garcia, na obra já refe-
nas hipotética e que, por isso, um argumento de pouco va- rida. A argumentação informal apresenta os seguintes estágios:
lor. Contra argumentar-se-ia dizendo que situação como essa - Citação da tese adversária.
ocorre de fato na prática. Na verdade, todo o ensino de 1° e 2° - Argumentos da tese adversária.
graus é gramaticalista, descritivista, definitório, classificatório, - Introdução da tese a ser defendida.
nomenclaturista, prescritivista, teórico. O resultado? Aí estão - Argumentos da tese a ser defendida.
as estatísticas dos vestibulares. Valendo 40 pontos a prova de - Conclusão.
redação, os escores foram estes no vestibular 1996/1, na PU-
C-RS: nota zero: 10% dos candidatos, nota 01: 30%; nota 02: Observe o texto exemplar de Luís Alberto Thompson Flo-
40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. Ou seja, apenas 20% dos can- res Lenz, Promotor de Justiça.
didatos escreveram um texto que pode ser considerado bom.
Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lem- Considerações sobre justiça e equidade
brando que são os gramáticos, os linguistas - como especia-
listas das línguas - as pessoas que conhecem mais a fundo a Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico a acadê-
estrutura e o funcionamento dos códigos linguísticos. Que se mico nacional, a ideia de que o julgador, ao apreciar os caos
esperaria, de fato, se houvesse significativa influência do co- concretos que são apresentados perante os tribunais, deve
nhecimento teórico da língua sobre o desempenho? A respos- nortear o seu proceder mais por critérios de justiça e equi-
ta é óbvia: os gramáticos e os linguistas seriam sempre os me- dade e menos por razões de estrita legalidade, no intuito de
lhores escritores. Como na prática isso realmente não aconte- alcançar, sempre, o escopo da real pacificação dos conflitos
ce, fica provada uma vez mais a tese que se vem defendendo. submetidos à sua apreciação.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Semelhante entendimento tem sido sistematicamente Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios con-
reiterado, na atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados cretos de efetivação da Justiça social compete, fundamental-
simplesmente desprezarem ou desconsiderarem determina- mente, ao Legislativo e ao Executivo, eis que seus membros são
dos preceitos de lei, fulminando ditos dilemas legais sob a indicados diretamente pelo povo.
pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional. Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade, adequan-
Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pes- do o proceder daqueles aos ditames da Constituição e da Legislação.
soal aos insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns Luís Alberto Thompson Flores Lenz
dos quais reconhecidos como dos mais brilhantes do país,
não nos furtamos, todavia, de tecer breves considerações so- Eis o esquema do texto em seus cinco estágios;
bre os perigos da generalização desse entendimento.
Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se cita a tese
dos arts. 126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal adversária.
contra os princípios da legalidade e da separação de pode- Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se cita um
res, esteio no qual se assenta toda e qualquer ideia de de- argumento da tese adversária “... fulminando ditos dilemas legais
mocracia ou limitação de atribuições dos órgãos do Estado. sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional”.
Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o in- Terceiro Estágio: terceiro parágrafo, em que se introduz a
superável José Alberto dos Reis, o maior processualista por- tese a ser defendida.
tuguês, ao afirmar que: “O magistrado não pode sobrepor os Quarto Estágio: do quarto ao décimo quinto, em que se
seus próprios juízos de valor aos que estão encarnados na lei. apresentam os argumentos.
Não o pode fazer quando o caso se acha previsto legalmente, Quinto Estágio: os últimos dois parágrafos, em que se con-
não o pode fazer mesmo quando o caso é omisso”. clui o texto mediante afirmação que salienta o que ficou dito ao
Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de mor- longo da argumentação.
te qualquer espécie de legalidade ou garantia de soberania
popular proveniente dos parlamentos, até porque, na lúcida Texto Injuntivo/Instrucional
visão desse mesmo processualista, o juiz estaria, nessa situa-
No texto injuntivo-instrucional, o leitor recebe orientações
ção, se arvorando, de forma absolutamente espúria, na con-
precisas no sentido de efetuar uma transformação. É marcado
dição de legislador.
pela presença de tempos e modos verbais que apresentam um
A esta altura, adotando tal entendimento, estaria institu-
valor diretivo. Este tipo de texto distingue-se de uma sequencia
cionalizada a insegurança social, sendo que não haveria mais
narrativa pela ausência de um sujeito responsável pelas ações
qualquer garantia, na medida em que tudo estaria ao sabor
a praticar e pelo caráter diretivo dos tempos e modos verbais
dos humores e amores do juiz de plantão.
usado e uma sequência descritiva pela transformação desejada.
De nada adiantariam as eleições, eis que os representan- Nota: Uma frase injuntiva é uma frase que exprime uma or-
tes indicados pelo povo não poderiam se valer de sua maior dem, dada ao locutor, para executar (ou não executar) tal ou tal
atribuição, ou seja, a prerrogativa de editar as leis. ação. As formas verbais específicas destas frases estão no modo
Desapareceriam também os juízes de conveniência e injuntivo e o imperativo é uma das formas do injuntivo.
oportunidade política típicos dessas casas legislativas, na
medida em que sempre poderiam ser afastados por uma es- Textos Injuntivo-Instrucionais: Instruções de montagem,
fera revisora excepcional. receitas, horóscopos, provérbios, slogans... são textos que in-
A própria independência do parlamento sucumbiria inte- citam à ação, impõem regras; textos que fornecem instruções.
gralmente frente à possibilidade de inobservância e descon- São orientados para um comportamento futuro do destinatário.
sideração de suas deliberações.
Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nossa Texto Injuntivo - A necessidade de explicar e orientar por
civilização. escrito o modo de realizar determinados procedimentos, mani-
Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete pular instrumentos, desenvolver atividades lúdicas e desempe-
fiscalizar a constitucionalidade e legalidade dos atos dos de- nhar algumas funções profissionais, por exemplo, deu origem
mais poderes do Estado, praticamente aniquilaria as atribui- aos chamados textos injuntivos, nos quais prevalece a função
ções destes, ditando a eles, a todo momento, como proceder. apelativa da linguagem, criando-se uma relação direta com o
Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto receptor. É comum aos textos dessa natureza o uso dos verbos
dessa concepção. no imperativo (Abra o caderno de questões) ou no infinitivo
Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, (É preciso abrir o caderno de questões, verificar o número de
sem sombra de dúvidas, o desconhecimento do próprio alternativas...). Não apresenta caráter coercitivo, haja vista que
conceito de justiça, incorrendo inclusive numa contradictio apenas induz o interlocutor a proceder desta ou daquela for-
in adjecto. ma. Assim, torna-se possível substituir um determinado pro-
Isto porque, e como magistralmente o salientou o insu- cedimento em função de outro, como é o caso do que ocorre
perável Calamandrei, “a justiça que o juiz administra é, no com os ingredientes de uma receita culinária, por exemplo. São
sistema da legalidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, no exemplos dessa modalidade:
sentido mais apertado, mas menos incerto, da conformida- - A mensagem revelada pela maioria dos livros de autoajuda;
de com o direito constituído, independentemente da corres- - O discurso manifestado mediante um manual de instruções;
pondente com a justiça social”. - As instruções materializadas por meio de uma receita culinária.
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Soneto do amigo
Vinicius de Moraes
HISTÓRIA EM QUADRINHOS
As primeiras manifestações das Histórias em Quadrinhos surgiram no começo do século XX, na busca de novos meios de
comunicação e expressão gráfica e visual. Entre os primeiros autores das histórias em quadrinhos estão o suíço Rudolph Töpffer, o
alemão Wilhelm Bush, o francês Georges, e o brasileiro Ângelo Agostini. A origem dos balões presentes nas histórias em quadri-
nhos pode ser atribuída a personagens, observadas em ilustrações europeias desde o século XIV.
As histórias em quadrinhos começaram no Brasil no século XIX, adotando um estilo satírico conhecido como cartuns, charges
ou caricaturas e que depois se estabeleceria com as populares tiras. A publicação de revistas próprias de histórias em quadrinhos
no Brasil começou no início do século XX também. Atualmente, o estilo cômicos dos super-heróis americanos é o predominante,
mas vem perdendo espaço para uma expansão muito rápida dos quadrinhos japoneses (conhecidos como Mangá).
A leitura interpretativa de Histórias em Quadrinhos, assim como de charges, requer uma construção de sentidos que, para que
ocorra, é necessário mobilizar alguns processos de significação, como a percepção da atualidade, a representação do mundo, a
observação dos detalhes visuais e/ou linguísticos, a transformação de linguagem conotativa (sentido mais usual) em denotativa
(sentido amplificado pelo contexto, pelos aspetos socioculturais etc). Em suma, usa-se o conhecimento da realidade e de proces-
sos linguísticos para “inverter” ou “subverter” produzindo, assim, sentidos alternativos a partir de situações extremas. Exemplo:
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A carta é um dos instrumentos mais úteis em situações O Ofício deve conter as seguintes partes:
diversas. É um dos mais antigos meios de comunicação.
Em uma carta formal é preciso ter cuidado na coerência do - Tipo e número do expediente, seguido da sigla do
tratamento, por exemplo, se começamos a carta no trata- órgão que o expede. Exemplos:
mento em terceira pessoa devemos ir até o fim em terceira
pessoa, seguindo também os pronomes e formas verbais na Of. 123/2002-MME
terceira pessoa. Há vários tipos de cartas, o formato da carta Aviso 123/2002-SG
depende do seu conteúdo: Mem. 123/2002-MF
- Carta Pessoal é a carta que escrevemos para amigos,
parentes, namorado(a), o remetente é a própria pessoa que - Local e data. Devem vir por extenso com alinhamen-
assina a carta, estas cartas não têm um modelo pronto, são to à direita. Exemplo:
escritas de uma maneira particular.
- Carta Comercial se torna o meio mais efetivo e segu- Brasília, 20 de maio de 2013
ro de comunicação dentro de uma organização. A lingua- - Assunto. Resumo do teor do documento. Exemplos:
gem deve ser clara, simples, correta e objetiva.
Assunto: Produtividade do órgão em 2012.
A carta ao ser escrita deve ser primeiramente bem ana- Assunto: Necessidade de aquisição de novos computa-
lisada em termos de língua portuguesa, ou seja, deve-se dores.
observar a concordância, a pontuação e a maneira de escre-
ver com início, meio e então o fim, contendo também um - Destinatário. O nome e o cargo da pessoa a quem é
cabeçalho e se for uma carta formal, deve conter pronomes dirigida a comunicação. No caso do ofício, deve ser incluí-
de tratamento (Senhor, Senhora, V. Ex.ª etc.) e por fim a fina- do também o endereço.
lização da carta que deve conter somente um cumprimento
formal ou não (grato, beijos, abraços, adeus etc.). Depois de
- Texto. Nos casos em que não for de mero encami-
todos esses itens terem sido colocados na carta, a mesma
nhamento de documentos, o expediente deve conter a se-
deverá ser colocada em um envelope para ser enviado ao
guinte estrutura:
destinatário. Na parte de trás e superior do envelope deve-
se conter alguns dados muito importantes tais como: nome
Introdução: que se confunde com o parágrafo de
do destinatário, endereço (rua, bairro e cidade) e por fim o
abertura, na qual é apresentado o assunto que motiva a
CEP. Já o remetente (quem vai enviar a carta), também deve
inserir na carta os mesmos dados que o do destinatário, que comunicação. Evite o uso das formas: “Tenho a honra de”,
devem ser escritos na parte da frente do envelope. E por fim “Tenho o prazer de”, “Cumpreme informar que”, empregue
deve ser colocado no envelope um selo que serve para que a forma direta;
a carta seja levada à pessoa mencionada. Desenvolvimento: no qual o assunto é detalhado; se
o texto contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas
NÃO FICCIONAIS – ADMINISTRATIVOS devem ser tratadas em parágrafos distintos, o que confere
maior clareza à exposição;
REQUERIMENTOS Conclusão: em que é reafirmada ou simplesmente rea-
presentada a posição recomendada sobre o assunto.
É o instrumento por meio do qual o interessado requer
a uma autoridade administrativa um direito do qual se julga Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto
detentor. Estrutura: nos casos em que estes estejam organizados em itens ou
- Vocativo, cargo ou função (e nome do destinatário), títulos e subtítulos.
ou seja, da autoridade competente.
- Texto incluindo: Preâmbulo, contendo nome do reque-
rente (grafado em letras maiúsculas) e respectiva qualifica-
ção: nacionalidade, estado civil, profissão, documento de
identidade, idade (se maior de 60 anos, para fins de prefe-
rência na tramitação do processo, segundo a Lei 10.741/03),
e domicílio (caso o requerente seja servidor da Câmara dos
Deputados, precedendo à qualificação civil deve ser coloca-
do o número do registro funcional e a lotação); Exposição
do pedido, de preferência indicando os fundamentos legais
do requerimento e os elementos probatórios de natureza
fática.
- Fecho: “Nestes termos, Pede deferimento”.
- Local e data.
- Assinatura e, se for o caso de servidor, função ou cargo.
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Fonema é o menor elemento sonoro capaz de esta- Consoantes: são os fonemas em que a corrente de ar,
belecer uma distinção de significado entre palavras. Veja, emitida para sua produção, teve de forçar passagem na
nos exemplos, os fonemas que marcam a distinção entre boca, onde determinado movimento articulatório lhe criou
os pares de palavras: embaraço. Exemplos: gato, pena, lado.
bar – mar tela – vela sela – sala Encontro Vocálicos
Não confunda os fonemas com as letras. Fonema é um - Ditongos: é o encontro de uma vogal e uma semi-
elemento acústico e a letra é um sinal gráfico que repre- vogal (ou vice-versa) numa mesma sílaba. Exemplos: pai
senta o fonema. Nem sempre o número de fonemas de (vogal + semivogal = ditongo decrescente); ginásio (semi-
uma palavra corresponde ao número de letras que usamos vogal + vogal = ditongo crescente).
para escrevê-la. Na palavra chuva, por exemplo, temos
- Tritongos: é o encontro de uma semivogal com uma
quatro fonemas, isto é, quatro unidades sonoras [xuva] e
vogal e outra semivogal numa mesma sílaba. Exemplo: Pa-
cinco letras.
raguai.
Certos fonemas podem ser representados por diferen-
- Hiatos: é a sequência de duas vogais numa mesma
tes letras. É o caso do fonema /s/, que pode ser representa-
palavra mas que pertencem a sílabas diferentes, pois nunca
do por: s (pensar) – ss (passado) – x (trouxe) – ç (caçar) – sc
há mais de uma vogal numa sílaba. Exemplos: saída (sa-í-
(nascer) – xc (excelente) – c (cinto) – sç (desço)
da), juiz ( ju-iz)
Às vezes, a letra “x” pode representar mais de um fone-
ma, como na palavra táxi. Nesse caso, o “x” representa dois Encontro Consonantais
sons, pois lemos “táksi”. Portanto, a palavra táxi tem quatro
letras e cinco fonemas. Ocorre quando há um grupo de consoantes sem vogal
Em certas palavras, algumas letras não representam intermediária. Exemplos: flor, grade, digno.
nenhum fonema, como a letra h, por exemplo, em pala-
vras como hora, hoje, etc., ou como as letras m e n quando Dígrafos
são usadas apenas para indicar a nasalização de uma vogal,
como em canto, tinta, etc. Grupo de duas letras que representa apenas um fone-
ma. Exemplos: passo (ss = fonema /s/), nascimento (sc =
Classificação dos Fonemas fonema /s/), queijo (qu = fonema /k/)
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Observe de acordo com os exemplos que o número 05. Os vocabulários passarinho e querida possuem:
de letras e fonemas não precisam ter a mesma quantidade. a) 6 e 8 fonemas respectivamente;
- Chuva: tem 5 letras e 4 fonemas, já que o “ch” tem um b)10 e 7 fonemas respectivamente;
único som. c) 9 e 6 fonemas respectivamente;
- Hipopótamo: tem 10 letras e 9 fonemas, já que o “h” d) 8 e 6 fonemas respectivamente;
não tem som. e) 7 e 6 fonemas respectivamente.
- Galinha: tem 7 letras e 6 fonemas, já que o “nh” tem
um único som. 06. Quantos fonemas existem na palavra paralelepípedo:
- Pássaro: tem 7 letras e 6 fonemas, já que o “ss” só tem a) 7
um único som. b) 12
- Nascimento: 10 letras e 8 fonemas, já que não se pro- c) 11
nuncia o “s” e o “en” tem um único som. d) 14
- Exceção: 7 letras e 6 fonemas, já que não tem som o e) 15
“x”.
- Táxi: 4 letras e 5 fonemas, já que o “x” tem som de 07. Os vocábulos pequenino e drama apresentam, res-
“ks”. pectivamente:
- Guitarra: 8 letras e 6 fonemas, já que o “gu” tem um a) 4 e 2 fonemas
único som e o “rr” também tem um único som. b) 9 e 5 fonemas
- Queijo: 6 letras e 5 fonemas, já que o “qu” tem um c) 8 e 5 fonemas
único som. d) 7 e 7 fonemas
e) 8 e 4 fonemas
Repare que através do exemplo a mudança de apenas
uma letra ou fonema gera novas palavras: C a v a l o / C a v 08. O “I” não é semivogal em:
a d o / C a l a d o / C o l a d o / S o l a d o. a) Papai
b) Azuis
EXERCÍCIOS c) Médio
d) Rainha
01. A palavra que apresenta tantos fonemas quantas e) Herói
são as letras que a compõem é:
a) importância 09. Assinale a alternativa que apresenta apenas hiatos:
b) milhares a) muito, faísca, balaústre.
c) sequer b) guerreiro, gratuito, intuito.
d) técnica c) fluido, fortuito, Piauí.
e) adolescente d) tua, lua, nua.
e) n.d.a.
02. Em qual das palavras abaixo a letra x apresenta não
um, mas dois fonemas? 10. Em qual dos itens abaixo todas as palavras apresen-
a) exemplo tam ditongo crescente:
b) complexo a) Lei, Foice, Roubo
c) próximos b) Muito, Alemão, Viu
d) executivo c) Linguiça, História, Área
e) luxo d) Herói, Jeito, Quilo
e) Equestre, Tênue, Ribeirão
03. Qual palavra possui dois dígrafos?
a) fechar
b) sombra RESPOSTAS:
c) ninharia
d) correndo 01-D (Em d, a palavra possui 7 fonemas e 7 letras. Nas
e) pêssego demais alternativas, tem-se: a) 10 fonemas / 11 letras; b) 7
fonemas / 8 letras; c) 5 fonemas / 6 letras; e) 9 fonemas /
04. Indique a alternativa cuja sequência de vocábulos 11 letras).
apresenta, na mesma ordem, o seguinte: ditongo, hiato, 02-B (a palavra complexo, o x equivale ao fonema /ks/).
hiato, ditongo. 03-D (Em d, há o dígrafo “rr” e o dígrafo nasal “en”).
a) jamais / Deus / luar / daí 04-B (Observe os encontros: oi, u - i, u - í e eu).
b) joias / fluir / jesuíta / fogaréu 05-D / 06-D / 07-C / 08-D / 09-D / 10-C
c) ódio / saguão / leal / poeira
d) quais / fugiu / caiu / história
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Classificação da sílaba quanto a intensidade 4-Assinale o item em que todas as sílabas estão correta-
mente separadas:
-Tônica: é a sílaba pronunciada com maior intensidade. a) a-p-ti-dão;
- Átona: é a sílaba pronunciada com menor intensidade. b) so-li-tá-ri-o;
- Subtônica: é a sílaba de intensidade intermediária. Ocor- c) col-me-ia;
re, principalmente, nas palavras derivadas, correspondendo à d) ar-mis-tí-cio;
tônica da palavra primitiva. e) trans-a-tlân-ti-co.
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4-)
A) Ela interrompeu a reunião derrepente. =de repente
B) O governador poderá ter seu mandato caçado. =
cassado
D) Saiu com descrição da sala. = discrição
5-)
A) O mindingo não depositou na cardeneta de pou-
pansa. = mendigo/caderneta/poupança
C) O mindigo não depozitou na cardeneta de poupans-
sa. = mendigo/caderneta/poupança
D) O mendingo não depozitou na carderneta de pou-
Em norma-padrão da língua portuguesa, a frase da propa- pansa. =mendigo/depositou/caderneta/poupança
ganda, adaptada, assume a seguinte redação:
(A) 5INCO MINUTOS: às vezes, dura mais, mas não matem- 6-) A questão envolve colocação pronominal e orto-
na porisso. grafia. Comecemos pela mais fácil: ortografia! A palavra
(B) 5INCO MINUTOS: as vezes, dura mais, mas não matem- “por isso” é escrita separadamente. Assim, já descartamos
na por isso. duas alternativas (“A” e “E”). Quanto à colocação pronomi-
(C) 5INCO MINUTOS: às vezes, dura mais, mas não a ma- nal, temos a presença do advérbio “não”, que sabemos ser
tem por isso. um “ímã” para o pronome oblíquo, fazendo-nos aplicar a
(D) 5INCO MINUTOS: as vezes, dura mais, mas não lhe ma- regra da próclise (pronome antes do verbo). Então, a forma
tem por isso. correta é “mas não A matem” (por que A e não LHE? Porque
(E) 5INCO MINUTOS: às vezes, dura mais, mas não a ma- quem mata, mata algo ou alguém, objeto direto. O “lhe” é
tem porisso. usado para objeto indireto. Se não tivéssemos a conjunção
“mas” nem o advérbio “não”, a forma “matem-na” estaria
GABARITO correta, já que, após vírgula, o ideal é que utilizemos ênclise
– pronome oblíquo após o verbo).
01. B 02. D 03. C 04. C 05. B 06. C
HÍFEN
RESOLUÇÃO
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado
1-) O exercício quer a alternativa que apresenta correção para ligar os elementos de palavras compostas (couve-flor,
ortográfica. Na primeira lacuna utilizaremos “há”, já que está ex-presidente) e para unir pronomes átonos a verbos (ofe-
empregado no sentido de “existir”; na segunda, “consenso” receram-me; vê-lo-ei).
com “s”; na terceira, “acerca” significa “a respeito de”, o que se Serve igualmente para fazer a translineação de pala-
encaixa perfeitamente no contexto. “Há cerca” = tem cerca (de vras, isto é, no fim de uma linha, separar uma palavra em
arame, cerca viva, enfim...); “a cerca” = a cerca está destruída duas partes (ca-/sa; compa-/nheiro).
(arame, madeira...)
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Uso do hífen que continua depois da Reforma Or- Não se emprega o hífen:
tográfica:
1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo
1. Em palavras compostas por justaposição que formam termina em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou
uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas consoantes: antir-
para formam um novo significado: tio-avô, porto-alegrense, religioso, contrarregra, infrassom, microssistema, minissaia,
luso-brasileiro, tenente-coronel, segunda-feira, conta-gotas, microrradiografia, etc.
guarda-chuva, arco- -íris, primeiro-ministro, azul-escuro.
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre-
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se com
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbora- vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação, autoes-
menina, erva-doce, feijão-verde. trada, autoaprendizagem, hidroelétrico, plurianual, autoes-
cola, infraestrutura, etc.
3. Nos compostos com elementos além, aquém, recém
e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, recém-casa-
3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
do, aquém- -fiar, etc.
“dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o h inicial: desu-
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algu- mano, inábil, desabilitar, etc.
mas exceções continuam por já estarem consagradas pelo
uso: cor- -de-rosa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé- 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando o
de-meia, água-de- -colônia, queima-roupa, deus-dará. segundo elemento começar com “o”: cooperação, coobriga-
ção, coordenar, coocupante, coautor, coedição, coexistir, etc.
5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio-
Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram noção
históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, Al- de composição: pontapé, girassol, paraquedas, paraquedis-
sácia-Lorena, etc. ta, etc.
6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfei-
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su- to, benquerer, benquerido, etc.
per- quando associados com outro termo que é iniciado
por r: hiper-resistente, inter-racial, super-racional, etc. Questões sobre Hífen
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, 01.Assinale a alternativa em que o hífen, conforme o
ex- -presidente, vice-governador, vice-prefeito. novo Acordo, está sendo usado corretamente:
A) Ele fez sua auto-crítica ontem.
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: B) Ela é muito mal-educada.
pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. C) Ele tomou um belo ponta-pé.
D) Fui ao super-mercado, mas não entrei.
9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abra- E) Os raios infra-vermelhos ajudam em lesões.
ça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc.
02.Assinale a alternativa errada quanto ao emprego do
10. Nas formações em que o prefixo tem como segun- hífen:
do termo uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático, ele-
A) Pelo interfone ele comunicou bem-humorado que
tro-higrómetro, geo-história, neo-helênico, extra-humano,
faria uma superalimentação.
semi-hospitalar, super- -homem.
B) Nas circunvizinhanças há uma casa malassombrada.
C) Depois de comer a sobrecoxa, tomou um antiácido.
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudo prefixo
termina na mesma vogal do segundo elemento: micro-on- D) Nossos antepassados realizaram vários anteprojetos.
das, eletro-ótica, semi-interno, auto-observação, etc. E) O autodidata fez uma autoanálise.
Obs: O hífen é suprimido quando para formar outros 03.Assinale a alternativa incorreta quanto ao emprego
termos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar. do hífen, respeitando-se o novo Acordo.
A) O semi-analfabeto desenhou um semicírculo.
- Lembre-se: ao separar palavras na translineação (mu- B) O meia-direita fez um gol de sem-pulo na semifinal
dança de linha), caso a última palavra a ser escrita seja for- do campeonato.
mada por hífen, repita-o na próxima linha. Exemplo: escre- C) Era um sem-vergonha, pois andava seminu.
verei anti-inflamatório e, ao final, coube apenas “anti-”. Na D) O recém-chegado veio de além-mar.
linha debaixo escreverei: “-inflamatório” (hífen em ambas E) O vice-reitor está em estado pós-operatório.
as linhas).
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acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, acom-
artigos e pronomes. Ex.: à – às – àquelas – àqueles panhados ou não de “s”, haverá acento. Ex.: saída – faísca
– baú – país – Luís
trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi total-
mente abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado Observação importante:
em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros. Ex.: Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando
mülleriano (de Müller) hiato quando vierem depois de ditongo: Ex.:
Antes Agora
til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vo- bocaiúva bocaiuva
gais nasais. Ex.: coração – melão – órgão – ímã feiúra feiura
Sauípe Sauipe
Regras fundamentais: O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
abolido. Ex.:
Palavras oxítonas:
Antes Agora
Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”,
crêem creem
“o”, “em”, seguidas ou não do plural(s): Pará – café(s) – ci-
lêem leem
pó(s) – armazém(s)
Essa regra também é aplicada aos seguintes casos: vôo voo
Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, se- enjôo enjoo
guidos ou não de “s”. Ex.: pá – pé – dó – há
Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, se- - Agora memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos
guidas de lo, la, los, las. Ex. respeitá-lo – percebê-lo – com- que, no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais
pô-lo acento como antes: CRER, DAR, LER e VER.
Paroxítonas: Repare:
Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em: 1-) O menino crê em você
- i, is : táxi – lápis – júri Os meninos creem em você.
- us, um, uns : vírus – álbuns – fórum 2-) Elza lê bem!
- l, n, r, x, ps : automóvel – elétron - cadáver – tórax – Todas leem bem!
fórceps 3-) Espero que ele dê o recado à sala.
- ã, ãs, ão, ãos : ímã – ímãs – órfão – órgãos Esperamos que os garotos deem o recado!
4-) Rubens vê tudo!
-- Dica da Zê!: Memorize a palavra LINURXÃO. Para Eles veem tudo!
quê? Repare que essa palavra apresenta as terminações
das paroxítonas que são acentuadas: L, I N, U (aqui inclua * Cuidado! Há o verbo vir:
UM = fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim ficará mais fácil a memo- Ele vem à tarde!
rização! Eles vêm à tarde!
-ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quan-
não de “s”: água – pônei – mágoa – jóquei do seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z. Ra-ul, ru
-im, con-tri-bu-in-te, sa-ir, ju-iz
Regras especiais:
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se esti-
Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos
verem seguidas do dígrafo nh. Ex: ra-i-nha, ven-to-i-nha.
abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento
de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
palavras paroxítonas. Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
* Cuidado: Se os ditongos abertos estiverem em uma As formas verbais que possuíam o acento tônico na
palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu) ainda são raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de
acentuados. Ex.: herói, céu, dói, escarcéu. “e” ou “i” não serão mais acentuadas. Ex.:
Antes Depois
Antes Agora apazigúe (apaziguar) apazigue
assembléia assembleia averigúe (averiguar) averigue
idéia ideia argúi (arguir) argui
geléia geleia
jibóia jiboia
apóia (verbo apoiar) apoia
paranóico paranoico
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Acentuam-se os verbos pertencentes à terceira pessoa C) Em “erros derivam do mesmo recurso mental” as
do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo palavras grifadas são paroxítonas.
vir) D) Nas palavras “seguida”, “aquele” e “quando” as par-
tes destacadas são dígrafos.
A regra prevalece também para os verbos conter, obter, E) A divisão silábica está correta em “co-gni-ti-va”, “p-
reter, deter, abster. si-có-lo-ga” e “a-ci-o-na”.
ele contém – eles contêm
ele obtém – eles obtêm 05. Todas as palavras abaixo são hiatos, EXCETO:
ele retém – eles retêm A) saúde
ele convém – eles convêm B) cooperar
C) ruim
Não se acentuam mais as palavras homógrafas que D) creem
antes eram acentuadas para diferenciá-las de outras seme- E) pouco
lhantes (regra do acento diferencial). Apenas em algumas
exceções, como: 06. “O episódio aconteceu em plena via pública de
A forma verbal pôde (terceira pessoa do singular do Assis. Dez mulheres começaram a cantar músicas pela paz
pretérito perfeito do modo indicativo) ainda continua sen- mundial. A partir daquele momento outras pessoas que
do acentuada para diferenciar-se de pode (terceira pessoa passavam por ali decidiram integrar ao grupo. Rapidamen-
do singular do presente do indicativo). Ex: te, uma multidão aderiu à ideia. Assim começou a forma-
Ela pode fazer isso agora. ção do maior coral popular de Assis”. O vocábulo subli-
Elvis não pôde participar porque sua mão não deixou... nhado tem sua acentuação gráfica justificada pelo mesmo
motivo das palavras:
O mesmo ocorreu com o verbo pôr para diferenciar da A) eminência, ímpio, vácuo, espécie, sério
preposição por. B) aluá, cárie, pátio, aéreo, ínvio
- Quando, na frase, der para substituir o “por” por “co- C) chinês, varíola, rubéola, período, prêmio
locar”, estaremos trabalhando com um verbo, portanto: D) sábio, sábia, sabiá, curió, sério
“pôr”; nos outros casos, “por” preposição. Ex:
Faço isso por você. 07. Assinale a opção CORRETA em que todas as pala-
Posso pôr (colocar) meus livros aqui? vras estão acentuadas na mesma posição silábica.
A) Nazaré - além - até - está - também.
Questões sobre Acentuação Gráfica B) Água - início - além - oásis - religião.
C) Município - início - água - século - oásis
01. “Cadáver” é paroxítona, pois: D) Século - símbolo - água - histórias - missionário
A) Tem a última sílaba como tônica. E) Missionário - símbolo - histórias - século – município
B) Tem a penúltima sílaba como tônica.
C) Tem a antepenúltima sílaba como tônica. 08. Considerando as palavras: também / revólver / lâm-
D) Não tem sílaba tônica. pada / lápis. Assinale a única alternativa cuja justificativa de
acentuação gráfica não se refere a uma delas:
02. Assinale a alternativa correta. A) palavra paroxítona terminada em - is
A palavra faliu contém um: B) palavra proparoxítona terminada em - em
A) hiato C) palavra paroxítona terminada em - r
B) dígrafo D) palavra proparoxítona - todas devem ser acentuadas
C) ditongo decrescente
D) ditongo crescente 09. Assinale a alternativa incorreta:
A) Os vocábulos sábio, régua e decência são paroxíto-
03. Em “O resultado da experiência foi, literalmente, nos terminadas em ditongos crescentes.
aterrador.” a palavra destacada encontra-se acentuada pelo B) O vocábulo armazém é acentuado por ser um oxíto-
mesmo motivo que: no terminado em em.
A) túnel C) Os vocábulos baú e cafeína são hiatos.
B) voluntário D) O vocábulo véu é acentuado por ser um oxítono
C) até terminado em u.
D) insólito
E) rótulos GABARITO
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LÍNGUA PORTUGUESA
RESOLUÇÃO
V - MORFOLOGIA: ESTRUTURA E FORMAÇÃO
1-) Separando as sílabas: Ca – dá – ver: a penúltima síla- DE PALAVRAS; MORFEMAS, AFIXOS;
ba é a tônica (mais forte; nesse caso, acentuada). Penúltima
PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS;
sílaba tônica = paroxítona
CLASSES GRAMATICAIS: IDENTIFICAÇÃO,
2-) fa - liu - temos aqui duas vogais na mesma síla- CLASSIFICAÇÕES E EMPREGO.
ba, portanto: ditongo. É decrescente porque apresenta uma
vogal e uma semivogal. Na classificação, ambas são semivo-
gais, mas quando juntas, a que “aparecer” mais na pronúncia ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS
será considerada “vogal”.
Estudar a estrutura é conhecer os elementos formadores
3-) ex – pe - ri – ên - cia : paroxítona terminada em das palavras. Assim, compreendemos melhor o significado de
ditongo crescente (semivogal + vogal) cada uma delas. As palavras podem ser divididas em unidades
a-) Tú –nel: paroxítona terminada em L menores, a que damos o nome de elementos mórficos ou
b-) vo – lun - tá – rio : paroxítona terminada em ditongo morfemas.
c-) A - té – oxítona Vamos analisar a palavra “cachorrinhas”. Nessa palavra ob-
d-) in – só – li – to : proparoxítona servamos facilmente a existência de quatro elementos. São eles:
e-) ró – tu los – proparoxítona cachorr - este é o elemento base da palavra, ou seja,
aquele que contém o significado.
4-) inh - indica que a palavra é um diminutivo
a-) correta a - indica que a palavra é feminina
b-) inteRRuptor: não é encontro consonantal, mas sim s - indica que a palavra se encontra no plural
DÍGRAFO
c-) todas são, exceto MENTAL, que é oxítona Morfemas: unidades mínimas de caráter significativo.
d-) são dígrafos, exceto QUANDO, que “ouço” o som do Existem palavras que não comportam divisão em unidades
U, portanto não é caso de dígrafo menores, tais como: mar, sol, lua, etc. São elementos mórficos:
e-) cog – ni - ti – va / psi – có- lo- ga - Raiz, Radical, Tema: elementos básicos e significativos
- Afixos (Prefixos, Sufixos), Desinência, Vogal Temá-
5-) sa - ú - de / co - o - pe – rar / ru – im / tica: elementos modificadores da significação dos primeiros
cre - em / pou - co (ditongo) - Vogal de Ligação, Consoante de Ligação: elementos
de ligação ou eufônicos.
6-) e - pi - só - dio - paroxítona terminada em ditongo
a-) ok Raiz: É o elemento originário e irredutível em que se con-
b-) a – lu –á :oxítona, então descarte esse item centra a significação das palavras, consideradas do ângulo
c-) chi – nês : oxítona, idem histórico. É a raiz que encerra o sentido geral, comum às pala-
d-) sa – bi – á : idem vras da mesma família etimológica. Exemplo: Raiz noc [Latim
nocere = prejudicar] tem a significação geral de causar dano,
7-) e a ela se prendem, pela origem comum, as palavras nocivo,
a-) oxítona – TODAS nocividade, inocente, inocentar, inócuo, etc.
b-) paroxítona – paroxítona – oxítona – paroxítona – não
acentuada Uma raiz pode sofrer alterações: at-o; at-or; at-ivo; aç-ão;
c-) paroxítona – idem – idem – proparoxítona – paroxí- ac-ionar;
tona
d-) proparoxítona – idem – paroxítona – idem – idem Radical:
e-) paroxítona – proparoxítona – paroxítona – proparo-
xítona – paroxítona Observe o seguinte grupo de palavras: livr-o; livr-inho; li-
vr-eiro; livr-eco. Você reparou que há um elemento comum
8-) tam – bém: oxítona / re – vól – ver: paroxítona / lâm nesse grupo? Você reparou que o elemento livr serve de base
– pa – da: proparoxítona / lá – pis :paroxítona para o significado? Esse elemento é chamado de radical (ou
a-) é a regra do LÁPIS semantema). Elemento básico e significativo das palavras,
b-) todas as proparoxítonas são acentuadas, indepen- consideradas sob o aspecto gramatical e prático. É encontra-
dente de sua terminação do através do despojo dos elementos secundários (quando
c-) regra para REVÓLVER houver) da palavra. Exemplo: cert-o; cert-eza; in-cert-eza.
d-) relativa à palavra lâmpada
Afixos: são elementos secundários (geralmente sem
9-) As alternativas A, B e C contêm afirmativas corretas. vida autônoma) que se agregam a um radical ou tema para
Na D, há erro, pois véu é monossílabo acentuado por termi- formar palavras derivadas. Sabemos que o acréscimo do
nar em ditongo aberto. morfema “-mente”, por exemplo, cria uma nova palavra a
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LÍNGUA PORTUGUESA
partir de “certo”: certamente, advérbio de modo. De ma- Derivação: é o processo pelo qual se obtém uma palavra
neira semelhante, o acréscimo dos morfemas “a-” e “-ar” nova, chamada derivada, a partir de outra já existente, chama-
à forma “cert-” cria o verbo acertar. Observe que a- e -ar da primitiva. Exemplo: Mar (marítimo, marinheiro, marujo); ter-
são morfemas capazes de operar mudança de classe gra- ra (enterrar, terreiro, aterrar). Observamos que «mar» e «terra»
matical na palavra a que são anexados. não se formam de nenhuma outra palavra, mas, ao contrário,
Quando são colocados antes do radical, como aconte- possibilitam a formação de outras, por meio do acréscimo de
ce com “a-”, os afixos recebem o nome de prefixos. Quan- um sufixo ou prefixo. Logo, mar e terra são palavras primitivas,
do, como “-ar”, surgem depois do radical, os afixos são e as demais, derivadas.
chamados de sufixos. Exemplo: in-at-ivo; em-pobr-ecer;
inter-nacion-al. Tipos de Derivação
Desinências: são os elementos terminais indicativos - Derivação Prefixal ou Prefixação: resulta do acrésci-
das flexões das palavras. Existem dois tipos: mo de prefixo à palavra primitiva, que tem o seu significado
- Desinências Nominais: indicam as flexões de gêne- alterado: crer- descrer; ler- reler; capaz- incapaz.
ro (masculino e feminino) e de número (singular e plural) - Derivação Sufixal ou Sufixação: resulta de acréscimo
dos nomes. Exemplos: aluno-o / aluno-s; alun-a / aluna-s. de sufixo à palavra primitiva, que pode sofrer alteração de sig-
Só podemos falar em desinências nominais de gêne- nificado ou mudança de classe gramatical: alfabetização. No
ros e de números em palavras que admitem tais flexões, exemplo, o sufixo -ção transforma em substantivo o verbo
como nos exemplos acima. Em palavras como mesa, tribo, alfabetizar. Este, por sua vez, já é derivado do substantivo alfa-
telefonema, por exemplo, não temos desinência nominal beto pelo acréscimo do sufixo -izar.
de gênero. Já em pires, lápis, ônibus não temos desinência
nominal de número. A derivação sufixal pode ser:
Nominal, formando substantivos e adjetivos: papel – pa-
- Desinências Verbais: indicam as flexões de número pelaria; riso – risonho.
Verbal, formando verbos: atual - atualizar.
e pessoa e de modo e tempo dos verbos. A desinência
Adverbial, formando advérbios de modo: feliz – feliz-
“-o”, presente em “am-o”, é uma desinência número pes-
mente.
soal, pois indica que o verbo está na primeira pessoa do
singular; “-va”, de “ama-va”, é desinência modo-temporal:
- Derivação Parassintética ou Parassíntese: Ocorre
caracteriza uma forma verbal do pretérito imperfeito do in-
quando a palavra derivada resulta do acréscimo simultâneo de
dicativo, na 1ª conjugação.
prefixo e sufixo à palavra primitiva. Por meio da parassíntese
formam-se nomes (substantivos e adjetivos) e verbos. Consi-
Vogal Temática: é a vogal que se junta ao radical, pre- dere o adjetivo “triste”. Do radical “trist-” formamos o verbo
parando-o para receber as desinências. Nos verbos, distin- entristecer através da junção simultânea do prefixo “en-” e do
guem-se três vogais temáticas: sufixo “-ecer”. A presença de apenas um desses afixos não é
- Caracteriza os verbos da 1ª conjugação: buscar, bus- suficiente para formar uma nova palavra, pois em nossa língua
cavas, etc. não existem as palavras “entriste”, nem “tristecer”. Exemplos:
- Caracteriza os verbos da 2ª conjugação: romper, emudecer
rompemos, etc. mudo – palavra inicial
- Caracteriza os verbos da 3ª conjugação: proibir, proi- e – prefixo
birá, etc. mud – radical
ecer – sufixo
Tema: é o grupo formado pelo radical mais vogal te-
mática. Nos verbos citados acima, os temas são: busca-, desalmado
rompe-, proibi- alma – palavra inicial
des – prefixo
Vogais e Consoantes de Ligação: As vogais e con- alm – radical
soantes de ligação são morfemas que surgem por motivos ado – sufixo
eufônicos, ou seja, para facilitar ou mesmo possibilitar a
pronúncia de uma determinada palavra. Exemplos: pari- Não devemos confundir derivação parassintética, em que
siense (paris= radical, ense=sufixo, vogal de ligação=i); gas o acréscimo de sufixo e de prefixo é obrigatoriamente simul-
-ô-metro, alv-i-negro, tecn-o-cracia, pau-l-ada, cafe-t-eira, tâneo, com casos como os das palavras desvalorização e de-
cha-l-eira, inset-i-cida, pe-z-inho, pobr-e-tão, etc. sigualdade. Nessas palavras, os afixos são acoplados em se-
quência: desvalorização provém de desvalorizar, que provém
Formação das Palavras: existem dois processos bá- de valorizar, que por sua vez provém de valor.
sicos pelos quais se formam as palavras: a Derivação e a É impossível fazer o mesmo com palavras formadas por
Composição. A diferença entre ambos consiste basica- parassíntese: não se pode dizer que expropriar provém de
mente em que, no processo de derivação, partimos sempre “propriar” ou de “expróprio”, pois tais palavras não existem.
de um único radical, enquanto no processo de composição Logo, expropriar provém diretamente de próprio, pelo acrésci-
sempre haverá mais de um radical. mo concomitante de prefixo e sufixo.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Derivação Regressiva: ocorre derivação regressiva Composição: é o processo que forma palavras com-
quando uma palavra é formada não por acréscimo, mas postas, a partir da junção de dois ou mais radicais. Existem
por redução: comprar (verbo), compra (substantivo); beijar dois tipos:
(verbo), beijo (substantivo).
- Composição por Justaposição: ao juntarmos duas
Para descobrirmos se um substantivo deriva de um ver- ou mais palavras ou radicais, não ocorre alteração fonética:
bo ou se ocorre o contrário, podemos seguir a seguinte passatempo, quinta-feira, girassol, couve-flor. Em «giras-
orientação: sol» houve uma alteração na grafia (acréscimo de um «s»)
- Se o substantivo denota ação, será palavra derivada, justamente para manter inalterada a sonoridade da palavra.
e o verbo palavra primitiva.
- Se o nome denota algum objeto ou substância, veri- - Composição por Aglutinação: ao unirmos dois ou
fica-se o contrário. mais vocábulos ou radicais, ocorre supressão de um ou
mais de seus elementos fonéticos: embora (em boa hora);
Vamos observar os exemplos acima: compra e beijo in-
fidalgo (filho de algo - referindo-se a família nobre); hi-
dicam ações, logo, são palavras derivadas. O mesmo não
drelétrico (hidro + elétrico); planalto (plano alto). Ao agluti-
ocorre, porém, com a palavra âncora, que é um objeto.
narem-se, os componentes subordinam-se a um só acento
Neste caso, um substantivo primitivo que dá origem ao
tônico, o do último componente.
verbo ancorar.
- Redução: algumas palavras apresentam, ao lado de
Por derivação regressiva, formam-se basicamente sua forma plena, uma forma reduzida. Observe: auto - por
substantivos a partir de verbos. Por isso, recebem o nome automóvel; cine - por cinema; micro - por microcomputa-
de substantivos deverbais. Note que na linguagem popu- dor; Zé - por José. Como exemplo de redução ou simpli-
lar, são frequentes os exemplos de palavras formadas por ficação de palavras, podem ser citadas também as siglas,
derivação regressiva. o portuga (de português); o boteco muito frequentes na comunicação atual.
(de botequim); o comuna (de comunista); agito (de agitar);
amasso (de amassar); chego (de chegar) - Hibridismo: ocorre hibridismo na palavra em cuja
formação entram elementos de línguas diferentes: auto
O processo normal é criar um verbo a partir de um (grego) + móvel (latim).
substantivo. Na derivação regressiva, a língua procede em
sentido inverso: forma o substantivo a partir do verbo. - Onomatopeia: numerosas palavras devem sua ori-
gem a uma tendência constante da fala humana para imi-
- Derivação Imprópria: A derivação imprópria ocorre tar as vozes e os ruídos da natureza. As onomatopeias são
quando determinada palavra, sem sofrer qualquer acrésci- vocábulos que reproduzem aproximadamente os sons e as
mo ou supressão em sua forma, muda de classe gramatical. vozes dos seres: miau, zumzum, piar, tinir, urrar, chocalhar,
Neste processo: cocoricar, etc.
Os adjetivos passam a substantivos: Os bons serão
contemplados. Prefixos: os prefixos são morfemas que se colocam
Os particípios passam a substantivos ou adjetivos: antes dos radicais basicamente a fim de modificar-lhes o
Aquele garoto alcançou um feito passando no concurso. sentido; raramente esses morfemas produzem mudança
Os infinitivos passam a substantivos: O andar de Ro- de classe gramatical. Os prefixos ocorrentes em palavras
portuguesas se originam do latim e do grego, línguas em
berta era fascinante; O badalar dos sinos soou na cidade-
que funcionavam como preposições ou advérbios, logo,
zinha.
como vocábulos autônomos. Alguns prefixos foram pou-
Os substantivos passam a adjetivos: O funcionário fan-
co ou nada produtivos em português. Outros, por sua vez,
tasma foi despedido; O menino prodígio resolveu o pro-
tiveram grande vitalidade na formação de novas palavras:
blema. a- , contra- , des- , em- (ou en-) , es- , entre- re- , sub- ,
Os adjetivos passam a advérbios: Falei baixo para que super- , anti-.
ninguém escutasse.
Palavras invariáveis passam a substantivos: Não enten- Prefixos de Origem Grega
do o porquê disso tudo.
Substantivos próprios tornam-se comuns: Aquele a-, an-: afastamento, privação, negação, insuficiência,
coordenador é um caxias! (chefe severo e exigente) carência: anônimo, amoral, ateu, afônico.
ana-: inversão, mudança, repetição: analogia, análise,
Os processos de derivação vistos anteriormente fazem anagrama, anacrônico.
parte da Morfologia porque implicam alterações na forma anfi-: em redor, em torno, de um e outro lado, duplici-
das palavras. No entanto, a derivação imprópria lida basica- dade: anfiteatro, anfíbio, anfibologia.
mente com seu significado, o que acaba caracterizando um anti-: oposição, ação contrária: antídoto, antipatia, an-
processo semântico. Por essa razão, entendemos o motivo tagonista, antítese.
pelo qual é denominada “imprópria”. apo-: afastamento, separação: apoteose, apóstolo,
apocalipse, apologia.
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LÍNGUA PORTUGUESA
arqui-, arce-: superioridade hierárquica, primazia, ex- co-, con-, com-: companhia, concomitância: colégio,
cesso: arquiduque, arquétipo, arcebispo, arquimilionário. cooperativa, condutor.
cata-: movimento de cima para baixo: cataplasma, ca- contra-: oposição: contrapeso, contrapor, contradizer.
tálogo, catarata. de-: movimento de cima para baixo, separação, nega-
di-: duplicidade: dissílabo, ditongo, dilema. ção: decapitar, decair, depor.
dia-: movimento através de, afastamento: diálogo, dia- de(s)-, di(s)-: negação, ação contrária, separação: des-
gonal, diafragma, diagrama. ventura, discórdia, discussão.
dis-: dificuldade, privação: dispneia, disenteria, dispep- e-, es-, ex-: movimento para fora: excêntrico, evasão,
sia, disfasia. exportação, expelir.
ec-, ex-, exo-, ecto-: movimento para fora: eclipse, en-, em-, in-: movimento para dentro, passagem para
êxodo, ectoderma, exorcismo. um estado ou forma, revestimento: imergir, enterrar, embe-
en-, em-, e-: posição interior, movimento para dentro: ber, injetar, importar.
encéfalo, embrião, elipse, entusiasmo. extra-: posição exterior, excesso: extradição, extraordi-
endo-: movimento para dentro: endovenoso, endocar- nário, extraviar.
po, endosmose. i-, in-, im-: sentido contrário, privação, negação: ilegal,
epi-: posição superior, movimento para: epiderme, epí- impossível, improdutivo.
logo, epidemia, epitáfio. inter-, entre-: posição intermediária: internacional, in-
eu-: excelência, perfeição, bondade: eufemismo, eufo- terplanetário.
ria, eucaristia, eufonia. intra-: posição interior: intramuscular, intravenoso, in-
hemi-: metade, meio: hemisfério, hemistíquio, hemi- traverbal.
plégico. intro-: movimento para dentro: introduzir, introvertido,
hiper-: posição superior, excesso: hipertensão, hipér- introspectivo.
bole, hipertrofia. justa-: posição ao lado: justapor, justalinear.
hipo-: posição inferior, escassez: hipocrisia, hipótese, ob-, o-: posição em frente, oposição: obstruir, ofuscar,
hipodérmico. ocupar, obstáculo.
meta-: mudança, sucessão: metamorfose, metáfora,
per-: movimento através: percorrer, perplexo, perfurar,
metacarpo.
perverter.
para-: proximidade, semelhança, intensidade: paralelo,
pos-: posterioridade: pospor, posterior, pós-graduado.
parasita, paradoxo, paradigma.
pre-: anterioridade: prefácio, prever, prefixo, preliminar.
peri-: movimento ou posição em torno de: periferia,
pro-: movimento para frente: progresso, promover,
peripécia, período, periscópio.
prosseguir, projeção.
pro-: posição em frente, anterioridade: prólogo, prog-
re-: repetição, reciprocidade: rever, reduzir, rebater, rea-
nóstico, profeta, programa.
pros-: adjunção, em adição a: prosélito, prosódia. tar.
proto-: início, começo, anterioridade: proto-história, retro-: movimento para trás: retrospectiva, retrocesso,
protótipo, protomártir. retroagir, retrógrado.
poli-: multiplicidade: polissílabo, polissíndeto, politeís- so-, sob-, sub-, su-: movimento de baixo para cima,
mo. inferioridade: soterrar, sobpor, subestimar.
sin-, sim-: simultaneidade, companhia: síntese, sinfo- super-, supra-, sobre-: posição superior, excesso: su-
nia, simpatia, sinopse. percílio, supérfluo.
tele-: distância, afastamento: televisão, telepatia, telé- soto-, sota-: posição inferior: soto-mestre, sota-voga,
grafo. soto-pôr.
trans-, tras-, tres-, tra-: movimento para além, movi-
Prefixos de Origem Latina mento através: transatlântico, tresnoitar, tradição.
ultra-: posição além do limite, excesso: ultrapassar, ul-
a-, ab-, abs-: afastamento, separação: aversão, abuso, trarromantismo, ultrassom, ultraleve, ultravioleta.
abstinência, abstração. vice-, vis-: em lugar de: vice-presidente, visconde, vi-
a-, ad-: aproximação, movimento para junto: adjun- ce-almirante.
to,advogado, advir, aposto.
ante-: anterioridade, procedência: antebraço, antessa- Sufixos: são elementos (isoladamente insignificativos)
la, anteontem, antever. que, acrescentados a um radical, formam nova palavra. Sua
ambi-: duplicidade: ambidestro, ambiente, ambiguida- principal característica é a mudança de classe gramatical
de, ambivalente. que geralmente opera. Dessa forma, podemos utilizar o sig-
ben(e)-, bem-: bem, excelência de fato ou ação: bene- nificado de um verbo num contexto em que se deve usar
fício, bendito. um substantivo, por exemplo. Como o sufixo é colocado
bis-, bi-: repetição, duas vezes: bisneto, bimestral, bi- depois do radical, a ele são incorporadas as desinências que
savô, biscoito. indicam as flexões das palavras variáveis. Existem dois gru-
circu(m)-: movimento em torno: circunferência, cir- pos de sufixos formadores de substantivos extremamente
cunscrito, circulação. importantes para o funcionamento da língua. São os que
cis-: posição aquém: cisalpino, cisplatino, cisandino. formam nomes de ação e os que formam nomes de agente.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Sufixos que formam nomes de ação: -ada – caminha- Sufixos Adverbiais: Na Língua Portuguesa, existe ape-
da; -ança – mudança; -ância – abundância; -ção – emoção; nas um único sufixo adverbial: É o sufixo “-mente”, derivado
-dão – solidão; -ença – presença; -ez(a) – sensatez, beleza; do substantivo feminino latino mens, mentis que pode sig-
-ismo – civismo; -mento – casamento; -são – compreensão; nificar “a mente, o espírito, o intento”.Este sufixo juntou-se
-tude – amplitude; -ura – formatura. a adjetivos, na forma feminina, para indicar circunstâncias,
especialmente a de modo. Exemplos: altiva-mente, bra-
Sufixos que formam nomes de agente: -ário(a) – se- va-mente, bondosa-mente, nervosa-mente, fraca-mente,
cretário; -eiro(a) – ferreiro; -ista – manobrista; -or – lutador; pia-mente. Já os advérbios que se derivam de adjetivos ter-
-nte – feirante. minados em –ês (burgues-mente, portugues-mente, etc.)
não seguem esta regra, pois esses adjetivos eram outrora
Sufixos que formam nomes de lugar, depositório: uniformes. Exemplos: cabrito montês / cabrita montês.
-aria – churrascaria; -ário – herbanário; -eiro – açucareiro;
-or – corredor; -tério – cemitério; -tório – dormitório. Sufixos Verbais: Os sufixos verbais agregam-se, via
de regra, ao radical de substantivos e adjetivos para for-
Sufixos que formam nomes indicadores de abundân- mar novos verbos. Em geral, os verbos novos da língua
cia, aglomeração, coleção: -aço – ricaço; -ada – papelada; formam-se pelo acréscimo da terminação-ar. Exemplos:
-agem – folhagem; -al – capinzal; -ame – gentame; -ario(a) esqui-ar; radiograf-ar; (a)doç-ar; nivel-ar; (a)fin-ar; tele-
- casario, infantaria; -edo – arvoredo; -eria – correria; -io – fon-ar; (a)portugues-ar.
mulherio; -ume – negrume.
Os verbos exprimem, entre outras ideias, a prática de
Sufixos que formam nomes técnicos usados na ciên- ação.
cia: -ar: cruzar, analisar, limpar
-ite - bronquite, hepatite (inflamação), amotite (fósseis). -ear: guerrear, golear
-oma - mioma, epitelioma, carcinoma (tumores). -entar: afugentar, amamentar
-ato, eto, Ito - sulfato, cloreto, sulfito (sais), granito (pe- -ficar: dignificar, liquidificar
dra). -izar: finalizar, organizar
-ina - cafeína, codeína (alcaloides, álcalis artificiais).
-ol - fenol, naftol (derivado de hidrocarboneto). Verbo Frequentativo: é aquele que traduz ação re-
-ema - morfema, fonema, semema, semantema (ciên- petida.
cia linguística). Verbo Factitivo: é aquele que envolve ideia de fazer
-io - sódio, potássio, selênio (corpos simples) ou causar.
Verbo Diminutivo: é aquele que exprime ação pou-
Sufixo que forma nomes de religião, doutrinas fi- co intensa.
losóficas, sistemas políticos: - ismo: budismo, kantismo,
comunismo. Exercícios
Sufixos Formadores de Adjetivos 01. Assinale a opção em que todas as palavras se for-
mam pelo mesmo processo:
- de substantivos: -aco – maníaco; -ado – barbado; a) ajoelhar / antebraço / assinatura
-áceo(a) - herbáceo, liláceas; -aico – prosaico; -al – anual; b) atraso / embarque / pesca
-ar – escolar; -ário - diário, ordinário; -ático – problemá- c) o jota / o sim / o tropeço
tico; -az – mordaz; -engo – mulherengo; -ento – cruen- d) entrega / estupidez / sobreviver
to; -eo – róseo; -esco – pitoresco; -este – agreste; -estre e) antepor / exportação / sanguessuga
– terrestre; -enho – ferrenho; -eno – terreno; -ício – ali-
mentício; -ico – geométrico; -il – febril; -ino – cristalino; 02. A palavra “aguardente” formou-se por:
-ivo – lucrativo; -onho – tristonho; -oso – bondoso; -udo a) hibridismo
– barrigudo. b) aglutinação
c) justaposição
- de verbos: d) parassíntese
-(a)(e)(i)nte: ação, qualidade, estado – semelhante, e) derivação regressiva
doente, seguinte.
-(á)(í)vel: possibilidade de praticar ou sofrer uma ação – 03. Que item contém somente palavras formadas por
louvável, perecível, punível. justaposição?
-io, -(t)ivo: ação referência, modo de ser – tardio, afir- a) desagradável – complemente
mativo, pensativo. b) vaga-lume - pé-de-cabra
-(d)iço, -(t)ício: possibilidade de praticar ou sofrer uma c) encruzilhada – estremeceu
ação, referência – movediço, quebradiço, factício. d) supersticiosa – valiosas
-(d)ouro,-(t)ório: ação, pertinência – casadouro, prepa- e) desatarraxou – estremeceu
ratório.
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LÍNGUA PORTUGUESA
04. “Sarampo” é: 10. Assinale a alternativa em que uma das palavras não
a) forma primitiva é formada por prefixação:
b) formado por derivação parassintética a) readquirir, predestinado, propor
c) formado por derivação regressiva b) irregular, amoral, demover
d) formado por derivação imprópria c) remeter, conter, antegozar
e) formado por onomatopéia d) irrestrito, antípoda, prever
e) dever, deter, antever
05. Numere as palavras da primeira coluna conforme
os processos de formação numerados à direita. Em seguida, Respostas: 1-B / 2-B / 3-B / 4-C / 5-E / 6-E / 7-D / 8-A
marque a alternativa que corresponde à sequência numérica / 9-D / 10-E /
encontrada:
( ) aguardente 1) justaposição CLASSES DE PALAVRAS
( ) casamento 2) aglutinação
( ) portuário 3) parassíntese Adjetivo
( ) pontapé 4) derivação sufixal
( ) os contras 5) derivação imprópria Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou
( ) submarino 6) derivação prefixal característica do ser e se relaciona com o substantivo.
( ) hipótese Ao analisarmos a palavra bondoso, por exemplo, per-
cebemos que, além de expressar uma qualidade, ela pode
a) 1, 4, 3, 2, 5, 6, 1 ser colocada ao lado de um substantivo: homem bondoso,
b) 4, 1, 4, 1, 5, 3, 6 moça bondosa, pessoa bondosa.
c) 1, 4, 4, 1, 5, 6, 6 Já com a palavra bondade, embora expresse uma qua-
d) 2, 3, 4, 1, 5, 3, 6 lidade, não acontece o mesmo; não faz sentido dizer: ho-
e) 2, 4, 4, 1, 5, 3, 6 mem bondade, moça bondade, pessoa bondade. Bondade,
portanto, não é adjetivo, mas substantivo.
06. Indique a palavra que foge ao processo de formação
de chapechape: Morfossintaxe do Adjetivo
a) zunzum
b) reco-reco O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
c) toque-toque dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
d) tlim-tlim como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito
e) vivido ou do objeto).
07. Em que alternativa a palavra sublinhada resulta de Adjetivo Pátrio (ou gentílico)
derivação imprópria?
a) Às sete horas da manhã começou o trabalho principal: Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser.
a votação. Observe alguns deles:
b) Pereirinha estava mesmo com a razão. Sigilo... Voto Estados e cidades brasileiros:
secreto... Bobagens, bobagens! Alagoas alagoano
c) Sem radical reforma da lei eleitoral, as eleições conti- Amapá amapaense
nuariam sendo uma farsa! Aracaju aracajuano ou aracajuense
d) Não chegaram a trocar um isto de prosa, e se enten- Amazonas amazonense ou baré
deram. Belo Horizonte belo-horizontino
e) Dr. Osmírio andaria desorientado, senão bufando de raiva. Brasília brasiliense
Cabo Frio cabo-friense
08. Assinale a série de palavras em que todas são forma- Campinas campineiro ou campinense
das por parassíntese:
a) acorrentar, esburacar, despedaçar, amanhecer Adjetivo Pátrio Composto
b) solução, passional, corrupção, visionário
c) enrijecer, deslealdade, tortura, vidente Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro
d) biografia, macróbio, bibliografia, asteróide elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, eru-
e) acromatismo, hidrogênio, litografar, idiotismo dita. Observe alguns exemplos:
África afro- / Cultura afro-americana
09. As palavras couve-flor, planalto e aguardente são Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto
formadas por: -inglesas
a) derivação América américo- / Companhia américo-africana
b) onomatopeia Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
c) hibridismo China sino- / Acordos sino-japoneses
d) composição Espanha hispano- / Mercado hispano-português
e) prefixação Europa euro- / Negociações euro-americanas
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LÍNGUA PORTUGUESA
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas a palavra rosa é originalmente um substantivo, porém, se esti-
Grécia greco- / Filmes greco-romanos ver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Caso
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas se ligue a outra palavra por hífen, formará um adjetivo com-
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa posto; como é um substantivo adjetivado, o adjetivo composto
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras inteiro ficará invariável. Por exemplo:
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros Camisas rosa-claro.
Ternos rosa-claro.
Flexão dos adjetivos Olhos verde-claros.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
O adjetivo varia em gênero, número e grau. Telhados marrom-café e paredes verde-claras.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois ele- O advérbio relaciona-se aos verbos da língua, no sentido de
mentos. caracterizar os processos expressos por ele. Contudo, ele não é
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de duas modificador exclusivo desta classe (verbos), pois também modi-
qualidades de um mesmo elemento. fica o adjetivo e até outro advérbio. Seguem alguns exemplos:
Para quem se diz distantemente alheio a esse assunto,
Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de Infe- você está até bem informado.
rioridade Temos o advérbio “distantemente” que modifica o adjeti-
Sou menos passivo (do) que tolerante. vo alheio, representando uma qualidade, característica.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Há locuções adverbiais que possuem advérbios corres- - Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso do
pondentes. Exemplo: Carlos saiu às pressas. = Carlos saiu artigo, outros não: São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia...
apressadamente.
Apenas os advérbios de intensidade, de lugar e de - Quando indicado no singular, o artigo definido pode in-
modo são flexionados, sendo que os demais são todos in- dicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem.
variáveis. A única flexão propriamente dita que existe na
categoria dos advérbios é a de grau: - No caso de nomes próprios personativos, denotando a
Superlativo: aumenta a intensidade. Exemplos: longe ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso do ar-
- longíssimo, pouco - pouquíssimo, inconstitucionalmente - tigo: O Pedro é o xodó da família.
inconstitucionalissimamente, etc.;
Diminutivo: diminui a intensidade. Exemplos: perto - - No caso de os nomes próprios personativos estarem no
pertinho, pouco - pouquinho, devagar - devagarinho. plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias, os Incas,
Os Astecas...
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Animação ou Estímulo: Vamos!, Força!, Coragem!, - Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imita-
Eia!, Ânimo!, Adiante!, Firme!, Toca! tivas, que exprimem ruídos e vozes. Ex.: Pum! Miau! Bum-
- Aplauso ou Aprovação: Bravo!, Bis!, Apoiado!, Viva!, ba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-quá!,
Boa! etc.
- Concordância: Claro!, Sim!, Pois não!, Tá!, Hã-hã! - Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
- Repulsa ou Desaprovação: Credo!, Irra!, Ih!, Livra!, a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, alegria,
Safa!, Fora!, Abaixo!, Francamente!, Xi!, Chega!, Basta!, Ora! tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do” oh!” exclamativo
- Desejo ou Intenção: Oh!, Pudera!, Tomara!, Oxalá! e não a fazemos depois do “ó” vocativo.
- Desculpa: Perdão! “Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac)
- Dor ou Tristeza: Ai!, Ui!, Ai de mim!, Que pena!, Ah!, Oh! a jornada negra!” (Olavo Bilac)
Oh!, Eh!
- Dúvida ou Incredulidade: Qual!, Qual o quê!, Hum!, - Na linguagem afetiva, certas interjeições, originadas
Epa!, Ora! de palavras de outras classes, podem aparecer flexionadas
- Espanto ou Admiração: Oh!, Ah!, Uai!, Puxa!, Céus!, no diminutivo ou no superlativo: Calminha! Adeusinho!
Quê!, Caramba!, Opa!, Virgem!, Vixe!, Nossa!, Hem?!, Hein?, Obrigadinho!
Cruz!, Putz!
- Impaciência ou Contrariedade: Hum!, Hem!, Irra!, Interjeições, leitura e produção de textos
Raios!, Diabo!, Puxa!, Pô!, Ora!
- Pedido de Auxílio: Socorro!, Aqui!, Piedade! Usadas com muita frequência na língua falada informal,
- Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!, Viva!, quando empregadas na língua escrita, as interjeições cos-
Adeus!, Olá!, Alô!, Ei!, Tchau!, Ô, Ó, Psiu!, Socorro!, Valha- tumam conferir-lhe certo tom inconfundível de coloquiali-
me, Deus! dade. Além disso, elas podem muitas vezes indicar traços
- Silêncio: Psiu!, Bico!, Silêncio! pessoais do falante - como a escassez de vocabulário, o
- Terror ou Medo: Credo!, Cruzes!, Uh!, Ui!, Oh! temperamento agressivo ou dócil, até mesmo a origem
geográfica. É nos textos narrativos - particularmente nos
diálogos - que comumente se faz uso das interjeições com
Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis, isto
o objetivo de caracterizar personagens e, também, graças à
é, não sofrem variação em gênero, número e grau como
sua natureza sintética, agilizar as falas. Natureza sintética e
os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto
conteúdo mais emocional do que racional fazem das inter-
e voz como os verbos. No entanto, em uso específico, al-
jeições presença constante nos textos publicitários.
gumas interjeições sofrem variação em grau. Deve-se ter
claro, neste caso, que não se trata de um processo natural
Fonte:
dessa classe de palavra, mas tão só uma variação que a
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf89.php
linguagem afetiva permite. Exemplos: oizinho, bravíssimo,
até loguinho. Numeral
Locução Interjetiva Numeral é a palavra que indica os seres em termos
numéricos, isto é, que atribui quantidade aos seres ou os
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma situa em determinada sequência.
expressão com sentido de interjeição. Por exemplo : Ora Os quatro últimos ingressos foram vendidos há pouco.
bolas! Quem me dera! Virgem Maria! Meu Deus! [quatro: numeral = atributo numérico de “ingresso”]
Ó de casa! Ai de mim! Valha-me Deus! Graças a Deus!
Alto lá! Muito bem! Eu quero café duplo, e você?
...[duplo: numeral = atributo numérico de “café”]
Observações:
- As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. A primeira pessoa da fila pode entrar, por favor!
Por exemplo: Ué! = Eu não esperava por essa!, Perdão! = ...[primeira: numeral = situa o ser “pessoa” na sequên-
Peço-lhe que me desculpe. cia de “fila”]
- Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é o Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que
seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes os números indicam em relação aos seres. Assim, quando
gramaticais podem aparecer como interjeições. a expressão é colocada em números (1, 1°, 1/3, etc.) não se
Viva! Basta! (Verbos) trata de numerais, mas sim de algarismos.
Fora! Francamente! (Advérbios) Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a
ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala-
- A interjeição pode ser considerada uma “palavra-fra- vras consideradas numerais porque denotam quantidade,
se” porque sozinha pode constituir uma mensagem. Ex.: proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década,
Socorro!, Ajudem-me!, Silêncio!, Fique quieto! dúzia, par, ambos(as), novena.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Cardinais: indicam contagem, medida. É o número básico: um, dois, cem mil, etc.
Ordinais: indicam a ordem ou lugar do ser numa série dada: primeiro, segundo, centésimo, etc.
Fracionários: indicam parte de um inteiro, ou seja, a divisão dos seres: meio, terço, dois quintos, etc.
Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi aumentada:
dobro, triplo, quíntuplo, etc.
Separando os números em centenas, de trás para frente, obtêm-se conjuntos numéricos, em forma de centenas e, no
início, também de dezenas ou unidades. Entre esses conjuntos usa-se vírgula; as unidades ligam-se pela conjunção “e”.
1.203.726 = um milhão, duzentos e três mil, setecentos e vinte e seis.
45.520 = quarenta e cinco mil, quinhentos e vinte.
Os numerais cardinais que variam em gênero são um/uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/duzentas
em diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatrocentas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam em número:
milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais são invariáveis.
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
primeiro segundo milésimo
primeira segunda milésima
primeiros segundos milésimos
primeiras segundas milésimas
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esforço e con-
seguiram o triplo de produção.
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses triplas do
medicamento.
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/duas terças
partes
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de sen-
tido. É o que ocorre em frases como:
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade!
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda divisão de futebol)
*Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até décimo
e a partir daí os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo:
Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
*Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
*Ambos/ambas são considerados numerais. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma e outra”, “as duas”) e são lar-
gamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Pedro e João parecem ter finalmente percebido a importância da solidariedade. Ambos agora participam das atividades
comunitárias de seu bairro.
Obs.: a forma “ambos os dois” é considerada enfática. Atualmente, seu uso indica afetação, artificialismo.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Causa = Ela faleceu de derrame cerebral. Em termos morfológicos, os pronomes são palavras variá-
Fim ou finalidade = Vou ao médico para começar o tra- veis em gênero (masculino ou feminino) e em número (singular
tamento. ou plural). Assim, espera-se que a referência através do prono-
Instrumento = Escreveu a lápis. me seja coerente em termos de gênero e número (fenômeno da
Posse = Não posso doar as roupas da mamãe. concordância) com o seu objeto, mesmo quando este se apre-
Autoria = Esse livro de Machado de Assis é muito bom. senta ausente no enunciado.
Companhia = Estarei com ele amanhã.
Matéria = Farei um cartão de papel reciclado. Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nossa
Meio = Nós vamos fazer um passeio de barco. escola neste ano.
Origem = Nós somos do Nordeste, e você? [nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância
Conteúdo = Quebrei dois frascos de perfume. adequada]
Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso. [neste: pronome que determina “ano” = concordância ade-
Preço = Essa roupa sai por R$ 50 à vista. quada]
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concordân-
Fonte: cia inadequada]
http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/ Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, de-
monstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
Pronome é a palavra que se usa em lugar do nome, ou São aqueles que substituem os substantivos, indicando
a ele se refere, ou que acompanha o nome, qualificando-o diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve as-
de alguma forma. sume os pronomes “eu” ou “nós”, usa os pronomes “tu”, “vós”,
“você” ou “vocês” para designar a quem se dirige e “ele”, “ela”,
A moça era mesmo bonita. Ela morava nos meus so- “eles” ou “elas” para fazer referência à pessoa ou às pessoas de
quem fala.
nhos!
Os pronomes pessoais variam de acordo com as funções
[substituição do nome]
que exercem nas orações, podendo ser do caso reto ou do caso
oblíquo.
A moça que morava nos meus sonhos era mesmo bo-
Pronome Reto
nita!
[referência ao nome]
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sentença,
exerce a função de sujeito ou predicativo do sujeito.
Essa moça morava nos meus sonhos!
Nós lhe ofertamos flores.
[qualificação do nome]
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gênero
Grande parte dos pronomes não possuem significados (apenas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a principal
fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa forma, o
de um contexto, o qual nos permite recuperar a referên- quadro dos pronomes retos é assim configurado:
cia exata daquilo que está sendo colocado por meio dos
pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos pro- - 1ª pessoa do singular: eu
nomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes - 2ª pessoa do singular: tu
têm por função principal apontar para as pessoas do dis- - 3ª pessoa do singular: ele, ela
curso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação - 1ª pessoa do plural: nós
no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, - 2ª pessoa do plural: vós
os pronomes apresentam uma forma específica para cada - 3ª pessoa do plural: eles, elas
pessoa do discurso.
Atenção: esses pronomes não costumam ser usados como
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. complementos verbais na língua-padrão. Frases como “Vi ele na
[minha/eu: pronomes de 1ª pessoa = aquele que fala] rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu até aqui”, comuns
na língua oral cotidiana, devem ser evitadas na língua formal
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? escrita ou falada. Na língua formal, devem ser usados os pro-
[tua/tu: pronomes de 2ª pessoa = aquele a quem se nomes oblíquos correspondentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na
fala] praça”, “Trouxeram-me até aqui”.
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. Obs.: frequentemente observamos a omissão do pronome
[dela/ela: pronomes de 3ª pessoa = aquele de quem reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias for-
se fala] mas verbais marcam, através de suas desinências, as pessoas do
verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos boa viagem. (Nós)
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LÍNGUA PORTUGUESA
Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma va- Pronome Oblíquo Tônico
riante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica
a função diversa que eles desempenham na oração: pronome Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos
reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o com- por preposições, em geral as preposições a, para, de e com.
plemento da oração. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com a de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica
acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou tôni- forte.
cos. O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim con-
figurado:
Pronome Oblíquo Átono - 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo
- 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não são - 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela
precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica fraca: Ele - 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
me deu um presente. - 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim configu- - 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas
rado:
- 1ª pessoa do singular (eu): me Observe que as únicas formas próprias do pronome tô-
- 2ª pessoa do singular (tu): te
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto.
- 1ª pessoa do plural (nós): nos
- As preposições essenciais introduzem sempre prono-
- 2ª pessoa do plural (vós): vos
mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
Observações:
língua formal, os pronomes costumam ser usados desta
O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se apre-
forma:
senta na forma contraída, ou seja, houve a união entre o pro-
nome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por acompanhar Não há mais nada entre mim e ti.
diretamente uma preposição, o pronome “lhe” exerce sempre a Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
função de objeto indireto na oração. Não há nenhuma acusação contra mim.
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos Não vá sem mim.
diretos como objetos indiretos.
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como ob- Atenção: Há construções em que a preposição, apesar
jetos diretos. de surgir anteposta a um pronome, serve para introduzir
Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem combinar- uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o
se com os pronomes o, os, a, as, dando origem a formas como verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um pro-
mo, mos , ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, lhas; no-lo, no-los, nome, deverá ser do caso reto.
no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Observe o uso dessas Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
formas nos exemplos que seguem: Não vá sem eu mandar.
- Trouxeste o pacote?
- Sim, entreguei-to ainda há pouco. - A combinação da preposição “com” e alguns prono-
- Não contaram a novidade a vocês? mes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
- Não, no-la contaram. conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos fre-
quentemente exercem a função de adjunto adverbial de
No português do Brasil, essas combinações não são usadas; companhia.
até mesmo na língua literária atual, seu emprego é muito raro. Ele carregava o documento consigo.
Atenção: Os pronomes o, os, a, as assumem formas es- - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
peciais depois de certas terminações verbais. Quando o verbo por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais
termina em -z, -s ou -r, o pronome assume a forma lo, los, la ou são reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios,
las, ao mesmo tempo que a terminação verbal é suprimida. Por todos, ambos ou algum numeral.
exemplo: Você terá de viajar com nós todos.
fiz + o = fi-lo Estávamos com vós outros quando chegaram as más
fazeis + o = fazei-lo notícias.
dizer + a = dizê-la Ele disse que iria com nós três.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Pronome Reflexivo
São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcionem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito da
oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação expressa pelo verbo.
O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular (eu): me, mim.
Eu não me vanglorio disso.
Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
A chamada segunda pessoa indireta manifesta-se quando utilizamos pronomes que, apesar de indicarem nosso inter-
locutor (portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pessoa. É o caso dos chamados pronomes de tratamento,
que podem ser observados no quadro seguinte:
Pronomes de Tratamento
Também são pronomes de tratamento o senhor, a senhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empregados no
tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tratamento familiar. Você e vocês são largamente empregados no português
do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito
à linguagem litúrgica, ultraformal ou literária.
Observações:
a) Vossa Excelência X Sua Excelência : os pronomes de tratamento que possuem “Vossa (s)” são empregados em relação
à pessoa com quem falamos: Espero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este encontro.
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LÍNGUA PORTUGUESA
*Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da 2 - Os pronomes possessivos nem sempre indicam posse.
pessoa. Podem ter outros empregos, como:
Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua Excelên- a) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
cia, o Senhor Presidente da República, agiu com propriedade. b) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40 anos.
c) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem lá
- Os pronomes de tratamento representam uma for- seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao
tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo, 3- Em frases onde se usam pronomes de tratamento, o
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado pronome possessivo fica na 3ª pessoa: Vossa Excelência trouxe
supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa. sua mensagem?
São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical Atenção: em situações de fala direta (tanto ao vivo quanto
(possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo por meio de correspondência, que é uma modalidade escrita
(coisa possuída). de fala), são particularmente importantes o este e o esse - o pri-
Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do meiro localiza os seres em relação ao emissor; o segundo, em
singular) relação ao destinatário. Trocá-los pode causar ambiguidade.
Dirijo-me a essa universidade com o objetivo de solicitar
NÚMERO PESSOA PRONOME informações sobre o concurso vestibular. (trata-se da universi-
singular primeira meu(s), minha(s) dade destinatária).
singular segunda teu(s), tua(s) Reafirmamos a disposição desta universidade em participar
singular terceira seu(s), sua(s) no próximo Encontro de Jovens. (trata-se da universidade que
plural primeira nosso(s), nossa(s) envia a mensagem).
plural segunda vosso(s), vossa(s) No tempo:
plural terceira seu(s), sua(s) Este ano está sendo bom para nós. O pronome este se re-
fere ao ano presente.
Note que: A forma do possessivo depende da pessoa Esse ano que passou foi razoável. O pronome esse se refere
gramatical a que se refere; o gênero e o número concor- a um passado próximo.
dam com o objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua con- Aquele ano foi terrível para todos. O pronome aquele está
tribuição naquele momento difícil. se referindo a um passado distante.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Também aparecem como pronomes demonstrativos: Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo. imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu-
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.) mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des-
Essa rua não é a que te indiquei. (Esta rua não é aquela conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
que te indiquei.) - Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o lu-
gar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase.
- mesmo(s), mesma(s): Estas são as mesmas pessoas São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, nin-
que o procuraram ontem. guém, outrem, quem, tudo.
Algo o incomoda?
- próprio(s), própria(s): Os próprios alunos resolveram Quem avisa amigo é.
o problema.
- Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser
- semelhante(s): Não compre semelhante livro. expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade
aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s).
- tal, tais: Tal era a solução para o problema. Cada povo tem seus costumes.
Certas pessoas exercem várias profissões.
Note que:
- Não raro os demonstrativos aparecem na frase, em Note que: Ora são pronomes indefinidos substantivos,
construções redundantes, com finalidade expressiva, para ora pronomes indefinidos adjetivos:
salientar algum termo anterior. Por exemplo: Manuela, essa algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
é que dera em cheio casando com o José Afonso. Desfrutar demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
das belezas brasileiras, isso é que é sorte! nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
- O pronome demonstrativo neutro ou pode represen- tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias.
tar um termo ou o conteúdo de uma oração inteira, caso Menos palavras e mais ações.
em que aparece, geralmente, como objeto direto, predi- Alguns se contentam pouco.
cativo ou aposto: O casamento seria um desastre. Todos o
pressentiam. Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va-
riáveis e invariáveis. Observe:
- Para evitar a repetição de um verbo anteriormente Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário,
expresso, é comum empregar-se, em tais casos, o verbo tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca,
fazer, chamado, então, verbo vicário (= que substitui, que vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer, alguns, ne-
faz as vezes de): Ninguém teve coragem de falar antes que nhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos,
ela o fizesse. algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas,
outras, quantas.
- Em frases como a seguinte, este se refere à pessoa Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em algo, cada.
primeiro lugar: O referido deputado e o Dr. Alcides eram
amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. [ou então: este São locuções pronominais indefinidas: cada qual,
solteiro, aquele casado] cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que),
seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (=
- O pronome demonstrativo tal pode ter conotação certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor? Cada um escolheu o vinho desejado.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Essas oposições de sentido são muito importantes na Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas dúvi-
construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas das? (Não se poderia usar “que” depois de sobre.)
vezes dependem a solidez e a consistência dos argumen- - O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e se
tos expostos. Observe nas frases seguintes a força que os refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou de ser
pronomes indefinidos destacados imprimem às afirmações poeta, que era a sua vocação natural.
de que fazem parte:
Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado - O pronome “cujo” não concorda com o seu antecedente,
prático. mas com o consequente. Equivale a do qual, da qual, dos quais,
Certas pessoas conseguem perceber sutilezas: não são das quais.
pessoas quaisquer. Este é o caderno cujas folhas estão rasgadas.
(antecedente) (consequente)
Pronomes Relativos
- “Quanto” é pronome relativo quando tem por anteceden-
São aqueles que representam nomes já mencionados te um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo:
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem Emprestei tantos quantos foram necessários.
as orações subordinadas adjetivas. (antecedente)
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de Ele fez tudo quanto havia falado.
um grupo racial sobre outros. (antecedente)
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre ou-
tros = oração subordinada adjetiva). - O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” precedido de preposição.
e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra É um professor a quem muito devemos.
“sistema” é antecedente do pronome relativo que. (preposição)
O antecedente do pronome relativo pode ser o prono-
- “Onde”, como pronome relativo, sempre possui antece-
me demonstrativo o, a, os, as.
dente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A casa onde
Não sei o que você está querendo dizer.
morava foi assaltada.
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem
expresso.
- Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou em
Quem casa, quer casa.
que.
Sinto saudades da época em que (quando) morávamos no
Observe:
exterior.
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os
quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, - Podem ser utilizadas como pronomes relativos as palavras:
quantas. - como (= pelo qual): Não me parece correto o modo como
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde. você agiu semana passada.
- quando (= em que): Bons eram os tempos quando podía-
Note que: mos jogar videogame.
- O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego,
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser subs- - Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
tituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu numa só frase.
antecedente for um substantivo. O futebol é um esporte.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) O povo gosta muito deste esporte.
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
qual)
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os - Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode ocor-
quais) rer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de gente que
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as conversava, (que) ria, (que) fumava.
quais)
Pronomes Interrogativos
- O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
pronomes relativos: por isso, são utilizados didaticamente São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas
para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, referem-
podem ter várias classificações) são pronomes relativos. -se à 3ª pessoa do discurso de modo impreciso. São pronomes
Todos eles são usados com referência à pessoa ou coisa interrogativos: que, quem, qual (e variações), quanto (e variações).
por motivo de clareza ou depois de determinadas preposi- Quem fez o almoço?/ Diga-me quem fez o almoço.
ções: Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, Qual das bonecas preferes? / Não sei qual das bonecas
o qual me deixou encantado. (O uso de “que”, neste caso, preferes.
geraria ambiguidade.) Quantos passageiros desembarcaram? / Pergunte quan-
tos passageiros desembarcaram.
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LÍNGUA PORTUGUESA
02. (AGENTE DE APOIO ADMINISTRATIVO – FCC – 07. (AGENTE DE APOIO OPERACIONAL – VUNESP –
2013- adap.). Fazendo-se as alterações necessárias, o tre- 2013).
cho grifado está corretamente substituído por um prono- Há pessoas que, mesmo sem condições, compram produ-
me em: tos______ não necessitam e______ tendo de pagar tudo______
A) ...sei tratar tipos como o senhor. − sei tratá-lo prazo.
B) ...erguendo os braços desalentado... − erguendo- Assinale a alternativa que preenche as lacunas, correta
lhes desalentado e respectivamente, considerando a norma culta da língua.
C) ...que tem de conhecer as leis do país? − que tem A) a que … acaba … à
de conhecê-lo? B) com que … acabam … à
D) ...não parecia ser um importante industrial... − não C) de que … acabam … a
parecia ser-lhe D) em que … acaba … a
E) incomodaram o general... − incomodaram-no E) dos quais … acaba … à
03.(AGENTE DE DEFENSORIA PÚBLICA – FCC – 2013- 08. (AGENTE DE APOIO SOCIOEDUCATIVO – VUNESP –
adap.). A substituição do elemento grifado pelo pronome 2013-adap.). Assinale a alternativa que substitui, correta e
correspondente, com os necessários ajustes, foi realizada respectivamente, as lacunas do trecho.
de modo INCORRETO em: ______alguns anos, num programa de televisão, uma jo-
A) mostrando o rio= mostrando-o. vem fazia referência______ violência______ o brasileiro estava
B) como escolher sítio= como escolhê-lo. sujeito de forma cômica.
C) transpor [...] as matas espessas= transpor-lhes. A) Fazem... a ... de que
D) Às estreitas veredas[...] nada acrescentariam = B) Faz ...a ... que
nada lhes acrescentariam. C) Fazem ...à ... com que
E) viu uma dessas marcas= viu uma delas. D) Faz ...à ... que
E) Faz ...à ... a que
04. (PAPILOSCOPISTA POLICIAL – VUNESP – 2013). As-
sinale a alternativa em que o pronome destacado está po- 09. (TRF 3ª REGIÃO- TÉCNICO JUDICIÁRIO - /2014)
sicionado de acordo com a norma-padrão da língua. As sereias então devoravam impiedosamente os tripu-
(A) Ela não lembrava-se do caminho de volta. lantes.
(B) A menina tinha distanciado-se muito da família. ... ele conseguiu impedir a tripulação de perder a ca-
(C) A garota disse que perdeu-se dos pais. beça...
(D) O pai alegrou-se ao encontrar a filha. ... e fez de tudo para convencer os tripulantes...
(E) Ninguém comprometeu-se a ajudar a criança.
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LÍNGUA PORTUGUESA
3-)
transpor [...] as matas espessas= transpô-las
4-)
(A) Ela não se lembrava do caminho de volta.
(B) A menina tinha se distanciado muito da família.
(C) A garota disse que se perdeu dos pais.
(E) Ninguém se comprometeu a ajudar a criança
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LÍNGUA PORTUGUESA
Nas orações de língua portuguesa, o substantivo em O substantivo beleza designa uma qualidade.
geral exerce funções diretamente relacionadas com o ver-
bo: atua como núcleo do sujeito, dos complementos ver- Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres que
bais (objeto direto ou indireto) e do agente da passiva. Pode dependem de outros para se manifestar ou existir.
ainda funcionar como núcleo do complemento nominal ou Pense bem: a beleza não existe por si só, não pode ser
do aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do ob- observada. Só podemos observar a beleza numa pessoa ou
jeto ou como núcleo do vocativo. Também encontramos coisa que seja bela. A beleza depende de outro ser para
substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e de se manifestar. Portanto, a palavra beleza é um substantivo
adjuntos adverbiais - quando essas funções são desempe- abstrato.
nhadas por grupos de palavras. Os substantivos abstratos designam estados, qualida-
des, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser
Classificação dos Substantivos abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida (estado),
rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sentimento).
1- Substantivos Comuns e Próprios
3 - Substantivos Coletivos
Observe a definição: s.f. 1: Povoação maior que vila,
com muitas casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, outra
(no Brasil, toda a sede de município é cidade). 2. O centro de abelha, mais outra abelha.
uma cidade (em oposição aos bairros). Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne-
cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substantivo cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha,
comum. mais outra abelha...
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de No segundo caso, utilizaram-se duas palavras no plural.
uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino, No terceiro caso, empregou-se um substantivo no sin-
homem, mulher, país, cachorro. gular (enxame) para designar um conjunto de seres da mes-
Estamos voando para Barcelona. ma espécie (abelhas).
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da es- Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, mes-
pécie cidade. Esse substantivo é próprio. Substantivo Pró- mo estando no singular, designa um conjunto de seres da
prio: é aquele que designa os seres de uma mesma espécie mesma espécie.
de forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
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Gênero dos Nomes de Cidades - Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-se
no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; caracol –
Com raras exceções, nomes de cidades são femininos. caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul e cônsules.
A histórica Ouro Preto.
A dinâmica São Paulo. - Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de
A acolhedora Porto Alegre. duas maneiras:
Uma Londres imensa e triste. - Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre. - Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
Gênero e Significação Obs.: a palavra réptil pode formar seu plural de duas ma-
neiras: répteis ou reptis (pouco usada).
Muitos substantivos têm uma significação no masculi-
- Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de
no e outra no feminino. Observe: o baliza (soldado que, que
duas maneiras:
à frente da tropa, indica os movimentos que se deve realizar
- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o acrés-
em conjunto; o que vai à frente de um bloco carnavalesco,
cimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
manejando um bastão), a baliza (marco, estaca; sinal que
- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam invariá-
marca um limite ou proibição de trânsito), o cabeça (chefe),
veis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
a cabeça (parte do corpo), o cisma (separação religiosa, dissi-
dência), a cisma (ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor
- Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural de
cinzenta), a cinza (resíduos de combustão), o capital (dinhei- três maneiras.
ro), a capital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma - substituindo o -ão por -ões: ação - ações
(cabeleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro), - substituindo o -ão por -ães: cão - cães
a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado na - substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
administração da crisma e de outros sacramentos), a crisma
(sacramento da confirmação), o cura (pároco), a cura (ato de - Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: o
curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta planície látex - os látex.
de vegetação), o guia (pessoa que guia outras), a guia (docu-
mento, pena grande das asas das aves), o grama (unidade de Plural dos Substantivos Compostos
peso), a grama (relva), o caixa (funcionário da caixa), a caixa
(recipiente, setor de pagamentos), o lente (professor), a lente -A formação do plural dos substantivos compostos de-
(vidro de aumento), o moral (ânimo), a moral (honestidade, pende da forma como são grafados, do tipo de palavras que
bons costumes, ética), o nascente (lado onde nasce o Sol), a formam o composto e da relação que estabelecem entre si.
nascente (a fonte), o maria-fumaça (trem como locomotiva Aqueles que são grafados sem hífen comportam-se como os
a vapor), maria-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala substantivos simples: aguardente/aguardentes, girassol/gi-
(poncho), a pala (parte anterior do boné ou quepe, antepa- rassóis, pontapé/pontapés, malmequer/malmequeres.
ro), o rádio (aparelho receptor), a rádio (estação emissora), o O plural dos substantivos compostos cujos elementos são
voga (remador), a voga (moda, popularidade). ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e discus-
sões. Algumas orientações são dadas a seguir:
Flexão de Número do Substantivo
- Flexionam-se os dois elementos, quando formados de:
Em português, há dois números gramaticais: o singular, substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-perfeitos
indica mais de um ser ou grupo de seres. A característica adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens
do plural é o “s” final. numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Flexiona-se somente o segundo elemento, quando Plural dos Nomes Próprios Personativos
formados de:
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas sem-
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e alto- pre que a terminação preste-se à flexão.
-falantes Os Napoleões também são derrotados.
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos As Raquéis e Esteres.
Plural dos Diminutivos Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bolsos,
esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final e
acrescenta-se o sufixo diminutivo. Obs.: distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
pãe(s) + zinhos = pãezinhos molho (ó) = feixe (molho de lenha).
animai(s) + zinhos = animaizinhos
botõe(s) + zinhos = botõezinhos Particularidades sobre o Número dos Substantivos
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
farói(s) + zinhos = faroizinhos - Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
tren(s) + zinhos = trenzinhos norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
colhere(s) + zinhas = colherezinhas - Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
flore(s) + zinhas = florezinhas as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
mão(s) + zinhas = mãozinhas - Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do sin-
papéi(s) + zinhos = papeizinhos gular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade, bom
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas nome) e honras (homenagem, títulos).
funi(s) + zinhos = funizinhos - Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas com
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos sentido de plural:
pai(s) + zinhos = paizinhos Aqui morreu muito negro.
pé(s) + zinhos = pezinhos Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
pé(s) + zitos = pezitos improvisadas.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir as Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura
variações de tamanho dos seres. Classifica-se em: dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce-
- Grau Normal - Indica um ser de tamanho considerado bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acento
normal. Por exemplo: casa tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, nutro, por
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico não cai
do ser. Classifica-se em: no radical, mas sim na terminação verbal: opinei, aprende-
Analítico = o substantivo é acompanhado de um adjeti- rão, nutriríamos.
vo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indica- Classificação dos Verbos
dor de aumento. Por exemplo: casarão.
- Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho Classificam-se em:
do ser. Pode ser: - Regulares: são aqueles que possuem as desinências
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo normais de sua conjugação e cuja flexão não provoca alte-
que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena. rações no radical: canto cantei cantarei cantava
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indica- cantasse.
dor de diminuição. Por exemplo: casinha. - Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca altera-
ções no radical ou nas desinências: faço fiz farei fi-
Verbo zesse.
- Defectivos: são aqueles que não apresentam conju-
Verbo é a classe de palavras que se flexiona em pes- gação completa. Classificam-se em impessoais, unipessoais
soa, número, tempo, modo e voz. Pode indicar, entre outros e pessoais:
processos: ação (correr); estado (ficar); fenômeno (chover); * Impessoais: são os verbos que não têm sujeito. Nor-
ocorrência (nascer); desejo (querer).
malmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os
O que caracteriza o verbo são as suas flexões, e não os
principais verbos impessoais são:
seus possíveis significados. Observe que palavras como cor-
** haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali-
rida, chuva e nascimento têm conteúdo muito próximo ao de
zar-se ou fazer (em orações temporais).
alguns verbos mencionados acima; não apresentam, porém,
Havia poucos ingressos à venda. (Havia = Existiam)
todas as possibilidades de flexão que esses verbos possuem.
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
Haverá reuniões aqui. (Haverá = Realizar-se-ão)
Estrutura das Formas Verbais
Deixei de fumar há muitos anos. (há = faz)
Do ponto de vista estrutural, uma forma verbal pode
apresentar os seguintes elementos: ** fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
Faz invernos rigorosos no Sul do Brasil.
- Radical: é a parte invariável, que expressa o significa- Era primavera quando a conheci.
do essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava; fal-am. Estava frio naquele dia.
(radical fal-) ** Todos os verbos que indicam fenômenos da natu-
- Tema: é o radical seguido da vogal temática que indica reza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar,
a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: fala-r amanhecer, escurecer, etc. Quando, porém, se constrói,
São três as conjugações: 1ª - Vogal Temática - A - (falar), “Amanheci mal- -humorado”, usa-se o verbo “ama-
2ª - Vogal Temática - E - (vender), 3ª - Vogal Temática - I - nhecer” em sentido figurado. Qualquer verbo impessoal,
(partir). empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal
- Desinência modo-temporal: é o elemento que desig- para ser pessoal.
na o tempo e o modo do verbo. Por exemplo: Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu)
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo.) Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo.) Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
- Desinência número-pessoal: é o elemento que desig-
na a pessoa do discurso ( 1ª, 2ª ou 3ª) e o número (singular ** São impessoais, ainda:
ou plural): 1. o verbo passar (seguido de preposição), indicando
falamos (indica a 1ª pessoa do plural.) tempo: Já passa das seis.
falavam (indica a 3ª pessoa do plural.) 2. os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição
de, indicando suficiência: Basta de tolices. Chega de blas-
Observação: o verbo pôr, assim como seus derivados fêmias.
(compor, repor, depor, etc.), pertencem à 2ª conjugação, pois 3. os verbos estar e ficar em orações tais como Está
a forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal, sem re-
de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas ferência a sujeito expresso anteriormente. Podemos, ainda,
formas do verbo: põe, pões, põem, etc. nesse caso, classificar o sujeito como hipotético, tornando-
se, tais verbos, então, pessoais.
66
LÍNGUA PORTUGUESA
4. o verbo deu + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uns trocados?
* Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural.
A fruta amadureceu.
As frutas amadureceram.
Obs.: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada: Teu irmão amadureceu bastante.
Entre os unipessoais estão os verbos que significam vozes de animais; eis alguns: bramar: tigre, bramir: crocodilo, cacarejar:
galinha, coaxar: sapo, cricrilar: grilo
Os principais verbos unipessoais são:
1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário, etc.):
Cumpre trabalharmos bastante. (Sujeito: trabalharmos bastante.)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover.)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova.)
2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que deixei de fumar. (Sujeito: que deixei de fumar.)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não vejo Cláudia. (Sujeito: que não vejo Cláudia)
Obs.: todos os sujeitos apontados são oracionais.
* Pessoais: não apresentam algumas flexões por motivos morfológicos ou eufônicos. Por exemplo:
- verbo falir. Este verbo teria como formas do presente do indicativo falo, fales, fale, idênticas às do verbo falar - o que prova-
velmente causaria problemas de interpretação em certos contextos.
- verbo computar. Este verbo teria como formas do presente do indicativo computo, computas, computa - formas de sonorida-
de considerada ofensiva por alguns ouvidos gramaticais. Essas razões muitas vezes não impedem o uso efetivo de formas verbais
repudiadas por alguns gramáticos: exemplo disso é o próprio verbo computar, que, com o desenvolvimento e a popularização da
informática, tem sido conjugado em todos os tempos, modos e pessoas.
- Abundantes: são aqueles que possuem mais de uma forma com o mesmo valor. Geralmente, esse fenômeno costuma ocorrer no
particípio, em que, além das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular). Observe:
- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Por exemplo: Ir, Pôr, Ser, Saber (vou, vais, ides,
fui, foste, pus, pôs, punha, sou, és, fui, foste, seja).
- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal, quando
acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
Vou espantar as moscas.
(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)
Obs.: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.
67
LÍNGUA PORTUGUESA
Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês
68
LÍNGUA PORTUGUESA
Presente Pret. Perf. Pret. Imper. Pret.Mais-Que-Perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam
Presente Pret. Perf. Pret. Imper. Preté.Mais-Que-Perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
Tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam
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LÍNGUA PORTUGUESA
70
LÍNGUA PORTUGUESA
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de adje-
tivo (adjetivo verbal). Por exemplo: Ela foi a aluna escolhida para representar a escola.
Tempos Verbais
Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos. Veja:
1. Tempos do Indicativo
- Pretérito-Mais-Que-Perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já tinha estudado as lições
quando os amigos chegaram. (forma composta) Ele já estudara as lições quando os amigos chegaram. (forma simples).
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele estu-
dará as lições amanhã.
- Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se eu tivesse
dinheiro, viajaria nas férias.
2. Tempos do Subjuntivo
- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse o jogo.
Obs.: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou desejo. Por exem-
plo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier à
loja, levará as encomendas.
Obs.: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se ele vier à loja,
levará as encomendas.
Presente do Indicativo
71
LÍNGUA PORTUGUESA
Pretérito mais-que-perfeito
Presente do Subjuntivo
Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2ª e 3ª conjugação).
72
LÍNGUA PORTUGUESA
Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de número
e pessoa correspondente.
Futuro do Subjuntivo
Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e
pessoa correspondente.
Modo Imperativo
Imperativo Afirmativo
Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:
Imperativo Negativo
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.
73
LÍNGUA PORTUGUESA
Observações:
- No modo imperativo não faz sentido usar na 3ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).
Infinitivo Pessoal
03. (ESCREVENTE TJ SP VUNESP 2013-adap.) Sem querer estereotipar, mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas
interações sociais terminam, 99% das vezes, diante da pergunta “débito ou crédito?”.
Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de
(A) considerar ao acaso, sem premeditação.
(B) aceitar uma ideia mesmo sem estar convencido dela.
(C) adotar como referência de qualidade.
(D) julgar de acordo com normas legais.
(E) classificar segundo ideias preconcebidas.
04. (ESCREVENTE TJ SP VUNESP 2013) Assinale a alternativa contendo a frase do texto na qual a expressão verbal des-
tacada exprime possibilidade.
(A) ... o cientista Theodor Nelson sonhava com um sistema capaz de disponibilizar um grande número de obras lite-
rárias...
(B) Funcionando como um imenso sistema de informação e arquivamento, o hipertexto deveria ser um enorme arquivo
virtual.
(C) Isso acarreta uma textualidade que funciona por associação, e não mais por sequências fixas previamente estabe-
lecidas.
(D) Desde o surgimento da ideia de hipertexto, esse conceito está ligado a uma nova concepção de textualidade...
(E) Criou, então, o “Xanadu”, um projeto para disponibilizar toda a literatura do mundo...
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LÍNGUA PORTUGUESA
05.(POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ACRE – ALUNO 10. (AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA PENITEN-
SOLDADO COMBATENTE – FUNCAB/2012) No trecho: “O CIÁRIA – VUNESP – 2013-adap.). Leia as frases a seguir.
crescimento econômico, se associado à ampliação do empre- I. Havia onze pessoas jogando pedras e pedaços de ma-
go, PODE melhorar o quadro aqui sumariamente descrito.”, se deira no animal.
passarmos o verbo destacado para o futuro do pretérito do II. Existiam muitos ferimentos no boi.
indicativo, teremos a forma: III. Havia muita gente assustando o boi numa avenida
A) puder. movimentada.
B) poderia. Substituindo-se o verbo Haver pelo verbo Existir e este
C) pôde. pelo verbo Haver, nas frases, têm-se, respectivamente:
D) poderá. A) Existia – Haviam – Existiam
E) pudesse. B) Existiam – Havia – Existiam
C) Existiam – Haviam – Existiam
06. (ESCREVENTE TJ SP VUNESP 2013) Assinale a alter- D) Existiam – Havia – Existia
nativa em que todos os verbos estão empregados de acordo E) Existia – Havia – Existia
com a norma- -padrão.
(A) Enviaram o texto, para que o revíssemos antes da im- GABARITO
pressão definitiva.
(B) Não haverá prova do crime se o réu se manter em 01. B 02. D 03. E 04. B 05. B
silêncio. 06. A 07. C 08. B 09. B 10. D
(C) Vão pagar horas-extras aos que se disporem a traba-
lhar no feriado. RESOLUÇÃO
(D) Ficarão surpresos quando o verem com a toga...
(E) Se você quer a promoção, é necessário que a requera 1-)
a seu superior. É comum que objetos sejam esquecidos em locais
públicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se
07. (PAPILOSCOPISTA POLICIAL VUNESP 2013-adap.) As-
as pessoas mantivessem a atenção voltada para seus
sinale a alternativa que substitui, corretamente e sem alterar
pertences, conservando-os junto ao corpo.
o sentido da frase, a expressão destacada em – Se a criança
se perder, quem encontrá-la verá na pulseira instruções para
2-)
que envie uma mensagem eletrônica ao grupo ou acione o
Analisemos:
código na internet.
a) No Brasil, a sociedade têm várias questões. = a so-
(A) Caso a criança se havia perdido…
ciedade tem (verbo no singular)
(B) Caso a criança perdeu…
b) O jovem têm um grande desafio pela frente. = o
(C) Caso a criança se perca…
(D) Caso a criança estivera perdida… jovem tem (verbo no singular)
(E) Caso a criança se perda… c) As pessoas tem muitos planos. = as pessoas têm
(verbo no plural)
08. (AGENTE DE APOIO OPERACIONAL – VUNESP – 2013- d) A mentira tem perna curta. = correta
adap.). Assinale a alternativa em que o verbo destacado está RESPOSTA: D
no tempo futuro.
A) Os consumidores são assediados pelo marketing … 3-)
B) … somente eles podem decidir se irão ou não comprar. Sem querer estereotipar, mas já estereotipando: trata-
C) É como se abrissem em nós uma “caixa de necessida- se de um ser cujas interações sociais terminam, 99% das
des”… vezes, diante da pergunta “débito ou crédito?”.
D) … de onde vem o produto…? Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de
E) Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pessoas… classificar segundo ideias preconcebidas.
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LÍNGUA PORTUGUESA
8-) A voz passiva pode ser formada por dois processos: ana-
A) Os consumidores são assediados pelo marketing = lítico e sintético.
presente 1- Voz Passiva Analítica
C) É como se abrissem em nós uma “caixa de necessi- Constrói-se da seguinte maneira: Verbo SER + particípio
dades”… = pretérito do Subjuntivo do verbo principal. Por exemplo:
D) … de onde vem o produto…? = presente A escola será pintada.
E) Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pessoas… = O trabalho é feito por ele.
pretérito perfeito
Obs.: o agente da passiva geralmente é acompanhado da
9-) preposição por, mas pode ocorrer a construção com a preposi-
Vamos aos itens: ção de. Por exemplo: A casa ficou cercada de soldados.
- Pode acontecer ainda que o agente da passiva não esteja
a) queres – Presente do Indicativo = eu quero, tu que-
explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
res - correta.
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar (SER), pois o
b) queria – Futuro do Pretérito do Indicativo = eu que-
particípio é invariável. Observe a transformação das frases seguintes:
reria, tu quererias, ele quereria - incorreta.
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do indicativo)
c) quisera – Pretérito mais-que-perfeito do Indicativo =
O trabalho foi feito por ele. (pretérito perfeito do indicativo)
eu quisera, ele quisera – correta.
d) queira – Presente do Subjuntivo = que eu queira,
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)
que tu queiras, que ele queira - correta O trabalho é feito por ele. (presente do indicativo)
e) quisesse – Pretérito Imperfeito do Subjuntivo = se eu
quisesse, se tu quisesses, se ele quisesse – correta. c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente)
RESPOSTA: B O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)
10-) - Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume o
I. Havia onze pessoas jogando pedras e pedaços de mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa. Obser-
madeira no animal. ve a transformação da frase seguinte:
II. Existiam muitos ferimentos no boi. O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
III. Havia muita gente assustando o boi numa avenida As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)
movimentada.
Haver – sentido de existir= invariável, impessoal; Obs.: é menos frequente a construção da voz passiva ana-
existir = variável. Portanto, temos: lítica com outros verbos que podem eventualmente funcionar
I – Existiam onze pessoas... como auxiliares. Por exemplo: A moça ficou marcada pela doença.
II – Havia muitos ferimentos...
III – Existia muita gente... 2- Voz Passiva Sintética
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LÍNGUA PORTUGUESA
Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva Questões sobre Vozes dos Verbos
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs- 01. (COLÉGIO PEDRO II/RJ – ASSISTENTE EM ADMINISTRA-
tancialmente o sentido da frase. ÇÃO – AOCP/2010) Em “Os dados foram divulgados ontem pelo
Gutenberg inventou a imprensa (Voz Ativa) Instituto Sou da Paz.”, a expressão destacada é
Sujeito da Ativa objeto Direto (A) adjunto adnominal.
(B) sujeito paciente.
A imprensa foi inventada por Gutenberg (Voz Pas- (C) objeto indireto.
siva) (D) complemento nominal.
Sujeito da Passiva Agente da Passiva (E) agente da passiva.
Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva, o 02. (FCC-COPERGÁS – AUXILIAR TÉCNICO ADMINISTRATI-
sujeito da ativa passará a agente da passiva e o verbo ativo VO - 2011) Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz. Trans-
assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo. pondo- -se a frase acima para a voz passiva, a forma verbal
Observe mais exemplos: resultante será:
- Os mestres têm constantemente aconselhado os alu- (A) era abatido.
nos. (B) fora abatido.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos (C) abatera-se.
mestres. (D) foi abatido.
(E) tinha abatido
- Eu o acompanharei.
Ele será acompanhado por mim. 03. (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
... valores e princípios que sejam percebidos pela sociedade
Obs.: quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, como tais.
Transpondo para a voz ativa a frase acima, o verbo passará
não haverá complemento agente na passiva. Por exemplo:
a ser, corretamente,
Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
(A) perceba.
(B) foi percebido.
Saiba que:
(C) tenham percebido.
- Aos verbos que não são ativos nem passivos ou refle-
(D) devam perceber.
xivos, são chamados neutros.
(E) estava percebendo.
O vinho é bom.
Aqui chove muito. 04. (TJ/RJ – TÉCNICO DE ATIVIDADE JUDICIÁRIA SEM ESPE-
CIALIDADE – FCC/2012) As ruas estavam ocupadas pela multidão...
- Há formas passivas com sentido ativo: A forma verbal resultante da transposição da frase acima
É chegada a hora. (= Chegou a hora.) para a voz ativa é:
Eu ainda não era nascido. (= Eu ainda não tinha nas- (A) ocupava-se.
cido.) (B) ocupavam.
És um homem lido e viajado. (= que leu e viajou) (C) ocupou.
(D) ocupa.
- Inversamente, usamos formas ativas com sentido (E) ocupava.
passivo:
Há coisas difíceis de entender. (= serem entendidas) 05. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012) A
Mandou-o lançar na prisão. (= ser lançado) frase que NÃO admite transposição para a voz passiva está em:
(A) Quando Rodolfo surgiu...
- Os verbos chamar-se, batizar-se, operar-se (no sentido (B) ... adquiriu as impressoras...
cirúrgico) e vacinar-se são considerados passivos, logo o (C) ... e sustentar, às vezes, família numerosa.
sujeito é paciente. (D) ... acolheu-o como patrono.
Chamo-me Luís. (E) ... que montou [...] a primeira grande folhetaria do Recife ...
Batizei-me na Igreja do Carmo.
Operou-se de hérnia. 06. (TRF - 4ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010) O
Vacinaram-se contra a gripe. engajamento moral e político não chegou a constituir um desloca-
mento da atenção intelectual de Said ...
Fonte: Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma ver-
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54. bal resultante é:
php a) se constituiu.
b) chegou a ser constituído.
c) teria chegado a constituir.
d) chega a se constituir.
e) chegaria a ser constituído.
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LÍNGUA PORTUGUESA
2-)
Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz. = Ele
foi abatido...
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LÍNGUA PORTUGUESA
Sujeito
VI - SINTAXE: FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO;
Para se descobrir qual o sujeito do verbo (ou da locução
PERÍODO SIMPLES - TERMOS DA ORAÇÃO:
verbal), deve-se perguntar a ele (ou a ela) o seguinte: Que(m)
IDENTIFICAÇÃO, CLASSIFICAÇÕES E é que ..........? A resposta será o sujeito. Por exemplo, analise-
EMPREGO. mos a primeira frase dentre as apresentadas acima:
Os funcionários foram convocados pelo diretor.
Os funcionários FORAM CONVOCADOS pelo diretor. - Quem ............ , ................. algo/alguém: Todo verbo que se
(aux.: SER; princ.: CONVOCAR) encaixar nessa frase será TRANSITIVO DIRETO. Por exemplo,
o verbo comer: Quem come, come algo; ou o verbo amar:
Os estudantes ESTÃO RESPONDENDO às questões. Quem ama, ama alguém.
(aux.: ESTAR; princ.: RESPONDER)
- Quem ............ , ................. + prep. + algo/alguém: Todo ver-
Os trabalhadores TÊM ENFRENTADO muitos proble- bo que se encaixar nessa frase será TRANSITIVO INDIRETO.
mas.(aux.: TER; princ.: ENFRENTAR) Por exemplo, o verbo gostar: Quem gosta, gosta de algo ou
de alguém. As preposições mais comuns são as seguintes: a,
O vereador HAVIA DENUNCIADO seus companheiros. de, em, por, para, sem e com.
(aux.: HAVER; princ.: DENUNCIAR)
- Quem ............ , ................. algo/alguém + prep. + algo/al-
Os alunos DEVEM ESTUDAR todos os dias. (aux.: DE- guém: Todo verbo que se encaixar nessa frase será TRANSITI-
VER; princ.: ESTUDAR) VO DIRETO E INDIRETO - também denominado de BITRAN-
SITIVO. Por exemplo, o verbo mostrar: Quem mostra, mostra
algo a alguém; ou o verbo informar: Quem informa, informa
alguém de algo ou Quem informa, informa algo a alguém.
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LÍNGUA PORTUGUESA
É importante salientar que um verbo só será TRAN- 03. Há complemento nominal em:
SITIVO se houver complemento (objeto direto ou objeto A)Você devia vir cá fora receber o beijo da madrugada.
indireto). A análise de um verbo depende, portanto, do B)... embora fosse quase certa a sua possibilidade de
ambiente sintático em que ele se encontra. Um verbo que ganhar a vida.
aparentemente seja transitivo direto pode ser, na realidade, C)Ela estava na janela do edifício.
intransitivo, caso não haja complemento. Por exemplo, ob- D)... sem saber ao certo se gostávamos dele.
serve a seguinte frase: E)Pouco depois começaram a brincar de bandido e
O pior cego é aquele que não quer ver. mocinho de cinema.
O verbo “ver” é, aparentemente, transitivo direto, uma
vez que se encaixa na frase Quem vê, vê algo. Ocorre, po- 04. (ESPM-SP) Em “esta lhe deu cem mil contos”, o ter-
rém, que não há o “algo”. O pior cego é aquele que não mo destacado é:
quer ver o quê? Não aparece na oração; não há, portanto, A) pronome possessivo
o objeto direto. Como não o há, o verbo não pode ser tran-
B) complemento nominal
sitivo direto, e sim intransitivo.
C) objeto indireto
Observe, agora, esta frase: Quem dá aos pobres, em-
D) adjunto adnominal
presta a Deus.
E) objeto direto
Os verbos “dar” e “emprestar” são, aparentemente,
transitivos diretos e indiretos, uma vez que se encaixam nas
frases Quem dá, dá algo a alguém e Quem empresta, em- 05. Assinale a alternativa correta e identifique o sujeito
presta algo a alguém. Ocorre, porém, que não há o “algo”. das seguintes orações em relação aos verbos destacados:
Quem dá o que aos pobres empresta o que a Deus? Não - Amanhã teremos uma palestra sobre qualidade de
aparece na oração; não há, portanto, o objeto direto. Como vida.
não o há, os verbos não podem ser transitivos diretos e - Neste ano, quero prestar serviço voluntário.
indiretos, e sim somente transitivos indiretos.
A)Tu – vós
FONTE: B)Nós – eu
http://www.gramaticaonline.com.br/texto/1231 C)Vós – nós
D) Ele - tu
Questões sobre Análise Sintática
06. Classifique o sujeito das orações destacadas no tex-
01. (AGENTE DE APOIO ADMINISTRATIVO – FCC – to seguinte e, a seguir, assinale a sequência correta.
2013). Os trabalhadores passaram mais tempo na escola... É notável, nos textos épicos, a participação do sobrena-
O segmento grifado acima possui a mesma função sin- tural. É frequente a mistura de assuntos relativos ao nacio-
tática que o destacado em: nalismo com o caráter maravilhoso. Nas epopeias, os deu-
A) ...o que reduz a média de ganho da categoria. ses tomam partido e interferem nas aventuras dos heróis,
B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa clas- ajudando-os ou atrapalhando- -os.
se. A)simples, composto
C) O crescimento da escolaridade também foi impul- B)indeterminado, composto
sionado... C)simples, simples
D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino mé- D) oculto, indeterminado
dio...
E) ...impulsionado pelo aumento do número de uni-
07. (ESPM-SP) “Surgiram fotógrafos e repórteres”.
versidades...
Identifique a alternativa que classifica corretamente a fun-
ção sintática e a classe morfológica dos termos destacados:
02.(AGENTE DE DEFENSORIA PÚBLICA – FCC – 2013).
A) objeto indireto – substantivo
Donos de uma capacidade de orientação nas brenhas selva-
gens [...], sabiam os paulistas como... B) objeto direto - substantivo
O segmento em destaque na frase acima exerce a mes- C) sujeito – adjetivo
ma função sintática que o elemento grifado em: D) objeto direto – adjetivo
A) Nas expedições breves serviam de balizas ou mos- E) sujeito - substantivo
tradores para a volta.
B) Às estreitas veredas e atalhos [...], nada acrescenta-
riam aqueles de considerável... GABARITO
C) Só a um olhar muito exercitado seria perceptível o
sinal. 01. C 02. D 03. B 04. C 05. B 06. C 07. E
D) Uma sequência de tais galhos, em qualquer flores-
ta, podia significar uma pista.
E) Alguns mapas e textos do século XVII apresentam-
nos a vila de São Paulo como centro...
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Frases Interrogativas: ocorrem quando uma per- O predicado é a parte da frase que contém “a infor-
gunta é feita pelo emissor da mensagem. São empregadas mação nova para o ouvinte”. Normalmente, ele se refere
quando se deseja obter alguma informação. A interrogação ao sujeito, constituindo a declaração do que se atribui ao
pode ser direta ou indireta. sujeito. É sempre muito importante analisar qual é o nú-
Você aceita um copo de suco? (Interrogação direta) cleo significativo da declaração: se o núcleo da declaração
Desejo saber se você aceita um copo de suco. (Interro- estiver no verbo, teremos um predicado verbal (ocorre nas
gação indireta) frases verbais); se o núcleo da declaração estiver em algum
nome, teremos um predicado nominal (ocorre nas frases
- Frases Imperativas: ocorrem quando o emissor da nominais que possuem verbo de ligação). Observe: O amor
mensagem dá uma ordem, um conselho ou faz um pedido, é eterno.
utilizando o verbo no modo imperativo. Podem ser afirma- O tema, o ser de quem se declara algo, o sujeito, é “O
tivas ou negativas. amor”. A declaração referente a “o amor”, ou seja, o predi-
Faça-o entrar no carro! (Afirmativa) cado, é «é eterno». É um predicado nominal, pois seu nú-
Não faça isso. (Negativa) cleo significativo é o nome «eterno». Já na frase: Os rapazes
Dê-me uma ajudinha com isso! (Afirmativa) jogam futebol. O sujeito é “Os rapazes”, que identificamos
por ser o termo que concorda em número e pessoa com o
- Frases Exclamativas: nesse tipo de frase o emissor verbo “jogam”. O predicado é “jogam futebol”, cujo núcleo
exterioriza um estado afetivo. Apresentam entoação ligei- significativo é o verbo “jogam”. Temos, assim, um predica-
ramente prolongada. Por Exemplo: do verbal.
Que prova difícil!
É uma delícia esse bolo! Oração
- Frases Declarativas: ocorrem quando o emissor Uma frase verbal pode ser também uma oração. Para
constata um fato. Esse tipo de frase informa ou declara al- isso é necessário:
guma coisa. Podem ser afirmativas ou negativas.
- que o enunciado tenha sentido completo;
Obrigaram o rapaz a sair. (Afirmativa)
- que o enunciado tenha verbo (ou locução verbal).
Ela não está em casa. (Negativa)
Por Exemplo: Camila terminou a leitura do livro.
- Frases Optativas: são usadas para exprimir um dese-
Obs.: Na oração as palavras estão relacionadas entre si,
jo. Por Exemplo:
como partes de um conjunto harmônico: elas são os ter-
Deus te acompanhe!
mos ou as unidades sintáticas da oração. Assim, cada ter-
Bons ventos o levem!
mo da oração desempenha uma função sintática.
De acordo com a construção, as frases classificam-se
em: Atenção: Nem toda frase é oração. Por Exemplo: Que
Frase Nominal: é a frase construída sem verbos. Exem- dia lindo!
plos: Esse enunciado é frase, pois tem sentido. Esse enun-
Fogo! ciado não é oração, pois não possui verbo. Assim, não pos-
Cuidado! suem estrutura sintática, portanto não são orações, frases
Belo serviço o seu! como:
Trabalho digno desse feirante. Socorro! - Com Licença! - Que rapaz ignorante!
A frase pode conter uma ou mais orações. Veja:
Frase Verbal: é a frase construída com verbo. Por Brinquei no parque. (uma oração)
Exemplo: Entrei na casa e sentei-me. (duas orações)
O sol ilumina a cidade e aquece os dias. Cheguei, vi, venci. (três orações)
Os casais saíram para jantar.
A bola rolou escada abaixo. Período
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01. A oração “Não se verificou, todavia, uma transplanta- 01. B 02. E 03. D 04. E 05. D
ção integral de gosto e de estilo” tem valor:
A) conclusivo RESOLUÇÃO
B) adversativo
C) concessivo 1-)
D) explicativo “Não se verificou, todavia, uma transplantação integral de
E) alternativo gosto e de estilo” = conjunção adversativa, portanto: oração
coordenada sindética adversativa
02. “Estudamos, logo deveremos passar nos exames”. A
oração em destaque é: 2-)
a) coordenada explicativa Estudamos, logo deveremos passar nos exames = a oração
b) coordenada adversativa em destaque não é introduzida por conjunção, então: coordena-
c) coordenada aditiva da assindética
d) coordenada conclusiva
e) coordenada assindética 3-)
Joyce e Mozart são ótimos, mas eles... = conjunção (e ideia)
03. (AGENTE EDUCACIONAL – VUNESP – 2013-adap.) Re- adversativa
leia o seguinte trecho: A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como quase
Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prá- prática. = conclusiva
tica. B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como quase
Sem que haja alteração de sentido, e de acordo com a toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida
norma- -padrão da língua portuguesa, ao se substituir o ter- prática. = conformativa
mo em destaque, o trecho estará corretamente reescrito em: C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase toda
A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como quase a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prá-
toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa tica. = conclusiva
vida prática. E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase toda a
B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como quase cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida práti-
toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa ca. = explicativa
vida prática. Dica: conjunção pois como explicativa = dá para eu substi-
C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase tuir por porque; como conclusiva: substituo por portanto.
toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa
vida prática. 4-)
D) Joyce e Mozart são ótimos, todavia eles, como quase fruto não só do novo acesso da população ao automóvel
toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa mas também da necessidade de maior número de viagens... es-
vida prática. tabelecem relação de adição de ideias, de fatos
E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase toda
a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida 5-)
prática. Não se desespere, que estaremos a seu lado sempre.
= conjunção explicativa (= porque) - coordenada sindética
04. (ANALISTA ADMINISTRATIVO – VUNESP – 2013-adap.) explicativa
Em – ...fruto não só do novo acesso da população ao automó-
vel mas também da necessidade de maior número de via- Subordinação
gens... –, os termos em destaque estabelecem relação de
A) explicação. Observe o exemplo abaixo de Vinícius de Moraes:
B) oposição.
C) alternância. “Eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto.”
D) conclusão. Oração Principal Oração Subordinada
E) adição.
Observe que na oração subordinada temos o verbo “existe”,
05. Analise a oração destacada: Não se desespere, que es- que está conjugado na terceira pessoa do singular do presente
taremos a seu lado sempre. do indicativo. As orações subordinadas que apresentam verbo
Marque a opção correta quanto à sua classificação: em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo do indicativo,
A) Coordenada sindética aditiva. subjuntivo e imperativo), são chamadas de orações desenvol-
B) Coordenada sindética alternativa. vidas ou explícitas. Podemos modificar o período acima. Veja:
C) Coordenada sindética conclusiva.
D) Coordenada sindética explicativa. Eu sinto existir em meu gesto o teu gesto.
Oração Principal Oração Subordinada
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LÍNGUA PORTUGUESA
A análise das orações continua sendo a mesma: “Eu Dessa forma, a oração correspondente a “isso” exercerá a
sinto” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração função de sujeito
subordinada “existir em meu gesto o teu gesto”. Note que Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração
a oração subordinada apresenta agora verbo no infinitivo. principal:
Além disso, a conjunção “que”, conectivo que unia as duas
orações, desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo 1- Verbos de ligação + predicativo, em construções do
surge numa das formas nominais (infinitivo - flexionado ou tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É
não -, gerúndio ou particípio) chamamos orações reduzi- claro - Está evidente - Está comprovado
das ou implícitas. É bom que você compareça à minha festa.
Obs.: as orações reduzidas não são introduzidas por
conjunções nem pronomes relativos. Podem ser, eventual- 2- Expressões na voz passiva, como: Sabe-se - Soube-se
mente, introduzidas por preposição. - Conta-se - Diz-se - Comenta-se - É sabido - Foi anunciado -
Ficou provado
1) ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
A oração subordinada substantiva tem valor de subs- 3- Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar - im-
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção inte- portar - ocorrer - acontecer
grante (que, se). Convém que não se atrase na entrevista.
Obs.: quando a oração subordinada substantiva é subje-
Suponho que você foi à biblioteca hoje. tiva, o verbo da oração principal está sempre na 3ª. pessoa do
Oração Subordinada Substantiva singular.
b) Objetiva Direta
Você sabe se o presidente já chegou?
Oração Subordinada Substantiva A oração subordinada substantiva objetiva direta exerce
função de objeto direto do verbo da oração principal.
Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também
Todos querem sua aprovação no concurso.
introduzem as orações subordinadas substantivas, bem
Objeto Direto
como os advérbios interrogativos (por que, quando, onde,
como). Veja os exemplos:
Todos querem que você seja aprovado. (= Todos querem
isso)
O garoto perguntou qual era o telefone da moça.
Oração Principal oração Subordinada Substantiva
Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta
Não sabemos por que a vizinha se mudou. As orações subordinadas substantivas objetivas diretas de-
Oração Subordinada Substantiva senvolvidas são iniciadas por:
85
LÍNGUA PORTUGUESA
Obs.: em alguns casos, a preposição pode estar elíptica na 2) ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS
oração.
Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora. valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As
Oração Subordinada Substantiva orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem
Objetiva Indireta a função de adjunto adnominal do antecedente. Observe
o exemplo:
d) Completiva Nominal
Esta foi uma redação bem-sucedida.
A oração subordinada substantiva completiva nominal
Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal)
completa um nome que pertence à oração principal e também
vem marcada por preposição.
Note que o substantivo redação foi caracterizado pelo
Sentimos orgulho de seu comportamento. adjetivo bem-sucedida. Nesse caso, é possível formarmos
Complemento Nominal outra construção, a qual exerce exatamente o mesmo pa-
pel. Veja:
Sentimos orgulho de que você se comportou. (= Senti-
mos orgulho disso.) Esta foi uma redação que fez sucesso.
Oração Subordinada Substantiva Oração Principal Oração Subordinada Adjetiva
Completiva Nominal
Perceba que a conexão entre a oração subordinada ad-
Lembre-se: as orações subordinadas substantivas objeti- jetiva e o termo da oração principal que ela modifica é feita
vas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto que pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou relacio-
orações subordinadas substantivas completivas nominais inte- nar) duas orações, o pronome relativo desempenha uma
gram o sentido de um nome. Para distinguir uma da outra, é ne- função sintática na oração subordinada: ocupa o papel que
cessário levar em conta o termo complementado. Essa é, aliás, seria exercido pelo termo que o antecede.
a diferença entre o objeto indireto e o complemento nominal: o Obs.: para que dois períodos se unam num período
primeiro complementa um verbo, o segundo, um nome.
composto, altera-se o modo verbal da segunda oração.
e) Predicativa
Atenção: Vale lembrar um recurso didático para re-
A oração subordinada substantiva predicativa exerce papel conhecer o pronome relativo “que”: ele sempre pode ser
de predicativo do sujeito do verbo da oração principal e vem substituído por: o qual - a qual - os quais - as quais
sempre depois do verbo ser. Refiro-me ao aluno que é estudioso.
Nosso desejo era sua desistência. Essa oração é equivalente a:
Predicativo do Sujeito Refiro-me ao aluno o qual estuda.
Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
Nosso desejo era que ele desistisse. (= Nosso desejo
era isso) Quando são introduzidas por um pronome relativo e
Oração Subordinada Substantiva apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
Predicativa orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvi-
das. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas
Obs.: em certos casos, usa-se a preposição expletiva “de” reduzidas, que não são introduzidas por pronome relativo
para realce. Veja o exemplo: A impressão é de que não fui bem (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o
na prova. verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
particípio).
f) Apositiva
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
A oração subordinada substantiva apositiva exerce função
de aposto de algum termo da oração principal.
No primeiro período, há uma oração subordinada ad-
Fernanda tinha um grande sonho: a chegada do dia de seu jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome re-
casamento. lativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito per-
Aposto feito do indicativo. No segundo, há uma oração subordina-
(Fernanda tinha um grande sonho: isso.) da adjetiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo
e seu verbo está no infinitivo.
Fernanda tinha um grande sonho: que o dia do seu casa-
mento chegasse.
Oração Subordinada
Substantiva Apositiva
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LÍNGUA PORTUGUESA
Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas No primeiro período, “naquele momento” é um adjun-
to adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “senti”.
Na relação que estabelecem com o termo que caracteri- No segundo período, esse papel é exercido pela oração
zam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de duas “Quando vi a estátua”, que é, portanto, uma oração su-
maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou especifi- bordinada adverbial temporal. Essa oração é desenvolvida,
cam o sentido do termo a que se referem, individualizando-o. pois é introduzida por uma conjunção subordinativa (quan-
Nessas orações não há marcação de pausa, sendo chamadas do) e apresenta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”,
subordinadas adjetivas restritivas. Existem também orações do pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la,
que realçam um detalhe ou amplificam dados sobre o antece- obtendo-se:
dente, que já se encontra suficientemente definido, as quais
denominam-se subordinadas adjetivas explicativas. Ao ver a estátua, senti uma das maiores emoções de
Exemplo 1: minha vida.
Jamais teria chegado aqui, não fosse a gentileza de um
homem que passava naquele momento. A oração em destaque é reduzida, pois apresenta uma
Oração Subordinada Adjetiva Restritiva das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é
introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma
Nesse período, observe que a oração em destaque res- preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).
tringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: trata-se
de um homem específico, único. A oração limita o universo Obs.: a classificação das orações subordinadas adver-
de homens, isto é, não se refere a todos os homens, mas sim biais é feita do mesmo modo que a classificação dos ad-
àquele que estava passando naquele momento. juntos adverbiais. Baseia-se na circunstância expressa pela
Exemplo 2: oração.
O homem, que se considera racional, muitas vezes age
animalescamente. Circunstâncias Expressas
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa
pelas Orações Subordinadas Adverbiais
Nesse período, a oração em destaque não tem sentido
a) Causa
restritivo em relação à palavra “homem”; na verdade, essa
oração apenas explicita uma ideia que já sabemos estar con-
A ideia de causa está diretamente ligada àquilo que
tida no conceito de “homem”.
provoca um determinado fato, ao motivo do que se declara
Saiba que:
na oração principal. “É aquilo ou aquele que determina um
A oração subordinada adjetiva explicativa é separada da
oração principal por uma pausa, que, na escrita, é represen- acontecimento”.
tada pela vírgula. É comum, por isso, que a pontuação seja Principal conjunção subordinativa causal: PORQUE
indicada como forma de diferenciar as orações explicativas Outras conjunções e locuções causais: como (sempre
das restritivas; de fato, as explicativas vêm sempre isoladas introduzido na oração anteposta à oração principal), pois,
por vírgulas; as restritivas, não. pois que, já que, uma vez que, visto que.
As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte.
3) ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS Como ninguém se interessou pelo projeto, não houve al-
ternativa a não ser cancelá-lo.
Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce Já que você não vai, eu também não vou.
a função de adjunto adverbial do verbo da oração principal.
Dessa forma, pode exprimir circunstância de tempo, modo, b) Consequência
fim, causa, condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida,
vem introduzida por uma das conjunções subordinativas As orações subordinadas adverbiais consecutivas ex-
(com exclusão das integrantes). Classifica-se de acordo com primem um fato que é consequência, que é efeito do que
a conjunção ou locução conjuntiva que a introduz. se declara na oração principal. São introduzidas pelas con-
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo. junções e locuções: que, de forma que, de sorte que, tanto
Oração Subordinada Adverbial que, etc., e pelas estruturas tão...que, tanto...que, tamanho...
Observe que a oração em destaque agrega uma circuns- que.
tância de tempo. É, portanto, chamada de oração subordi- Principal conjunção subordinativa consecutiva: QUE
nada adverbial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos (precedido de tal, tanto, tão, tamanho)
acessórios que indicam uma circunstância referente, via de É feio que dói. (É tão feio que, em consequência, causa
regra, a um verbo. A classificação do adjunto adverbial de- dor.)
pende da exata compreensão da circunstância que exprime. Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou con-
Observe os exemplos abaixo: cretizando-os.
Naquele momento, senti uma das maiores emoções de Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzi-
minha vida. da de Infinitivo)
Quando vi a estátua, senti uma das maiores emoções de
minha vida.
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LÍNGUA PORTUGUESA
c) Condição f) Conformidade
Condição é aquilo que se impõe como necessário para As orações subordinadas adverbiais conformativas indi-
a realização ou não de um fato. As orações subordinadas cam ideia de conformidade, ou seja, exprimem uma regra, um
adverbiais condicionais exprimem o que deve ou não ocor- modelo adotado para a execução do que se declara na oração
rer para que se realize ou deixe de se realizar o fato expres- principal.
so na oração principal. Principal conjunção subordinativa conformativa: CON-
Principal conjunção subordinativa condicional: SE FORME
Outras conjunções condicionais: caso, contanto que, Outras conjunções conformativas: como, consoante e se-
desde que, salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, gundo (todas com o mesmo valor de conforme).
sem que, uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). Fiz o bolo conforme ensina a receita.
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm di-
certamente o melhor time será campeão. reitos iguais.
Uma vez que todos aceitem a proposta, assinaremos o
contrato. g) Finalidade
Caso você se case, convide-me para a festa.
As orações subordinadas adverbiais finais indicam a inten-
d) Concessão ção, a finalidade daquilo que se declara na oração principal.
Principal conjunção subordinativa final: A FIM DE QUE
As orações subordinadas adverbiais concessivas in- Outras conjunções finais: que, porque (= para que) e a lo-
dicam concessão às ações do verbo da oração principal, cução conjuntiva para que.
isto é, admitem uma contradição ou um fato inesperado. A Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigos.
ideia de concessão está diretamente ligada ao contraste, à Felipe abriu a porta do carro para que sua namorada en-
quebra de expectativa. trasse.
Principal conjunção subordinativa concessiva: EMBORA
Utiliza-se também a conjunção: conquanto e as locu-
h) Proporção
ções ainda que, ainda quando, mesmo que, se bem que, pos-
to que, apesar de que.
As orações subordinadas adverbiais proporcionais expri-
Só irei se ele for.
mem ideia de proporção, ou seja, um fato simultâneo ao ex-
presso na oração principal.
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu”
ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita. Com- Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: À
pare agora com: PROPORÇÃO QUE
Irei mesmo que ele não vá. Outras locuções conjuntivas proporcionais: à medida que,
ao passo que. Há ainda as estruturas: quanto maior...(maior),
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: quanto maior...(menor), quanto menor...(maior), quanto menor...
irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A (menor), quanto mais...(mais), quanto mais...(menos), quanto
oração destacada é, portanto, subordinada adverbial con- menos...(mais), quanto menos...(menos).
cessiva. Observe outros exemplos: À proporção que estudávamos, acertávamos mais questões.
Embora fizesse calor, levei agasalho. Visito meus amigos à medida que eles me convidam.
Conquanto a economia tenha crescido, pelo menos me- Quanto maior for a altura, maior será o tombo.
tade da população continua à margem do mercado de con-
sumo. i) Tempo
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em-
bora não estudasse). (reduzida de infinitivo) As orações subordinadas adverbiais temporais acrescen-
e) Comparação tam uma ideia de tempo ao fato expresso na oração principal,
podendo exprimir noções de simultaneidade, anterioridade ou
As orações subordinadas adverbiais comparativas esta- posterioridade.
belecem uma comparação com a ação indicada pelo verbo Principal conjunção subordinativa temporal: QUANDO
da oração principal. Outras conjunções subordinativas temporais: enquanto,
Principal conjunção subordinativa comparativa: COMO mal e locuções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes
Ele dorme como um urso. que, antes que, depois que, sempre que, desde que, etc.
Quando você foi embora, chegaram outros convidados.
Saiba que: É comum a omissão do verbo nas orações Sempre que ele vem, ocorrem problemas.
subordinadas adverbiais comparativas. Por exemplo: Mal você saiu, ela chegou.
Agem como crianças. (agem) Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando terminou
Oração Subordinada Adverbial Comparativa a festa) (Oração Reduzida de Particípio)
No entanto, quando se comparam ações diferentes,
isso não ocorre. Por exemplo: Ela fala mais do que faz. Fonte:
(comparação do verbo falar e do verbo fazer). http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint29.php
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Metáfora Perífrase
É o emprego de uma palavra com o significado de ou- É a designação de um ser através de alguma de suas
tra em vista de uma relação de semelhanças entre ambas. É características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.
uma comparação subentendida. A Veneza Brasileira também é palco de grandes espetá-
Minha boca é um túmulo. culos. (Veneza Brasileira = Recife)
A Cidade Maravilhosa está tomada pela violência. (Ci-
Essa rua é um verdadeiro deserto.
dade Maravilhosa = Rio de Janeiro)
Comparação
Antítese
Consiste em atribuir características de um ser a outro, Consiste no uso de palavras de sentidos opostos.
em virtude de uma determinada semelhança. Nada com Deus é tudo.
O meu coração está igual a um céu cinzento. Tudo sem Deus é nada.
O carro dele é rápido como um avião.
Prosopopeia Eufemismo
É uma figura de linguagem que atribui características Consiste em suavizar palavras ou expressões que são
humanas a seres inanimados. Também podemos chamá-la desagradáveis.
de PERSONIFICAÇÃO.
O céu está mostrando sua face mais bela. Ele foi repousar no céu, junto ao Pai. (repousar no céu
O cão mostrou grande sisudez. = morrer)
Os homens públicos envergonham o povo. (homens pú-
blicos = políticos)
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Hipérbole Anacoluto
É um exagero intencional com a finalidade de tornar mais Consiste numa mudança repentina da construção sin-
expressiva a ideia. tática da frase.
Ela chorou rios de lágrimas. Ele, nada podia assustá-lo.
Muitas pessoas morriam de medo da perna cabeluda. - Nota: o anacoluto ocorre com frequência na lingua-
gem falada, quando o falante interrompe a frase, abando-
Ironia nando o que havia dito para reconstruí-la novamente.
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Ao contrário da elipse, na zeugma ocorre a omissão Trata-se da inversão da ordem direta dos termos da
de um termo já expresso no discurso. Constatemos: Maria oração. Constatemos: Eufórico chegou o menino.
gosta de Matemática, eu de Português. Deduzimos que o predicativo do sujeito (pois se tra-
Observamos que houve a omissão do verbo gostar. ta de um predicado verbo-nominal) encontra-se no início
da oração, quando este deveria estar expresso no final, ou
Anáfora seja: O menino chegou eufórico.
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a) Homógrafos: são palavras iguais na escrita e diferen- Alunos de colégio fazem robôs com sucata eletrônica
tes na pronúncia:
rego (subst.) e rego (verbo); Você comprou um smartphone e acha que aquele seu ce-
colher (verbo) e colher (subst.); lular antigo é imprestável? Não se engane: o que é lixo para
alguns pode ser matéria-prima para outros. O CMID – Centro
jogo (subst.) e jogo (verbo);
Marista de Inclusão Digital –, que funciona junto ao Colégio
denúncia (subst.) e denuncia (verbo);
Marista de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, ensina os alunos
providência (subst.) e providencia (verbo).
do colégio a fazer robôs a partir de lixo eletrônico.
Os alunos da turma avançada de robótica, por exemplo,
b) Homófonos: são palavras iguais na pronúncia e di- constroem carros com sensores de movimento que respondem
ferentes na escrita: à aproximação das pessoas. A fonte de energia vem de baterias
acender (atear) e ascender (subir); de celular. “Tirando alguns sensores, que precisamos comprar,
concertar (harmonizar) e consertar (reparar); é tudo reciclagem”, comentou o instrutor de robótica do CMID,
cela (compartimento) e sela (arreio); Leandro Schneider. Esses alunos também aprendem a consertar
censo (recenseamento) e senso ( juízo); computadores antigos. “O nosso projeto só funciona por causa
paço (palácio) e passo (andar). do lixo eletrônico. Se tivéssemos que comprar tudo, não seria
viável”, completou.
c) Homógrafos e homófonos simultaneamente: São Em uma época em que celebridades do mundo digital fa-
palavras iguais na escrita e na pronúncia: zem campanha a favor do ensino de programação nas esco-
caminho (subst.) e caminho (verbo); las, é inspirador o relato de Dionatan Gabriel, aluno da turma
cedo (verbo) e cedo (adv.); avançada de robótica do CMID que, aos 16 anos, já sabe qual
livre (adj.) e livre (verbo). será sua profissão. “Quero ser programador. No início das aulas,
eu achava meio chato, mas depois fui me interessando”, disse.
(Giordano Tronco, www.techtudo.com.br, 07.07.2013.
Parônimos
Adaptado)
São palavras parecidas na escrita e na pronúncia: coro e
02. A palavra em destaque no trecho –“Tirando alguns
couro; cesta e sesta; eminente e iminente; osso e ouço; sede sensores, que precisamos comprar, é tudo reciclagem”... –
e cede; comprimento e cumprimento; tetânico e titânico; au- pode ser substituída, sem alteração do sentido da mensagem,
tuar e atuar; degradar e degredar; infligir e infringir; deferir pela seguinte expressão:
e diferir; suar e soar. A) Pelo menos
B) A contar de
Fonte: C) Em substituição a
http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-an- D) Com exceção de
tonimos,-homonimos-e-paronimos E) No que se refere a
Questões sobre Significação das Palavras 03. Assinale a alternativa que apresenta um antônimo
para o termo destacado em – …“No início das aulas, eu achava
01. Assinale a alternativa que preenche corretamente meio chato, mas depois fui me interessando”, disse.
as lacunas da frase abaixo: A) Estimulante.
Da mesma forma que os italianos e japoneses _________ B) Cansativo.
para o Brasil no século passado, hoje os brasileiros ________ C) Irritante.
para a Europa e para o Japão, à busca de uma vida melhor; D) Confuso.
E) Improdutivo.
internamente, __________ para o Sul, pelo mesmo motivo.
a) imigraram - emigram - migram
04. (AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA PENITENCIÁRIA –
b) migraram - imigram - emigram VUNESP – 2013). Analise as afirmações a seguir.
c) emigraram - migram - imigram. I. Em – Há sete anos, Fransley Lapavani Silva está preso
d) emigraram - imigram - migram. por homicídio. – o termo em destaque pode ser substituído,
e) imigraram - migram – emigram sem alteração do sentido do texto, por “faz”.
II. A frase – Todo preso deseja a libertação. – pode ser
reescrita da seguinte forma – Todo preso aspira à libertação.
III. No trecho – ... estou sendo olhado de forma diferente
aqui no presídio devido ao bom comportamento. – pode-se
substituir a expressão em destaque por “em razão do”, sem
alterar o sentido do texto.
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Vamos analisar a palavra cobra utilizada em diferentes 2-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO -
contextos: ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013 - ADAP-
1. A cobra picou o menino. (cobra = réptil peçonhento) TADO) Para responder à questão, considere a seguinte passa-
2. A sogra dele é uma cobra. (cobra = pessoa desagradá- gem: Sem querer estereotipar, mas já estereotipando: trata-se
vel, que adota condutas pouco apreciáveis) de um ser cujas interações sociais terminam, 99% das vezes,
3. O cara é cobra em Física! (cobra = pessoa que conhe- diante da pergunta “débito ou crédito?”.
ce muito sobre alguma coisa, “expert”) Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de
No item 1 aplica-se o termo cobra em seu sentido co- (A) considerar ao acaso, sem premeditação.
mum (ou literal); nos itens 2 e 3 o termo cobra é aplicado (B) aceitar uma ideia mesmo sem estar convencido dela.
em sentido figurado. (C) adotar como referência de qualidade.
Podemos então concluir que um mesmo significante (D) julgar de acordo com normas legais.
(parte concreta) pode ter vários significados (conceitos). (E) classificar segundo ideias preconcebidas.
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6-) (SABESP/SP – ATENDENTE A CLIENTES 01 – Na oração – ... parecem querer levar ao colapso. – (3.º
FCC/2014 - ADAPTADA) Atenção: Para responder à ques- parágrafo), o termo em destaque é sinônimo de
tão, considere o texto abaixo. (A) progresso.
(B) descaso.
A marca da solidão (C) vitória.
(D) tédio.
Deitado de bruços, sobre as pedras quentes do chão de (E) ruína.
paralelepípedos, o menino espia. Tem os braços dobrados e a
testa pousada sobre eles, seu rosto formando uma tenda de 8-) (BNDES – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – BN-
penumbra na tarde quente. DES/2012) Considere o emprego do verbo levar no trecho:
Observa as ranhuras entre uma pedra e outra. Há, den- “Uma competição não dura apenas alguns minutos. Leva
tro de cada uma delas, um diminuto caminho de terra, com anos”. A frase em que esse verbo está usado com o mesmo
pedrinhas e tufos minúsculos de musgos, formando peque- sentido é:
nas plantas, ínfimos bonsais só visíveis aos olhos de quem é (A) O menino leva o material adequado para a escola.
capaz de parar de viver para, apenas, ver. Quando se tem a (B) João levou uma surra da mãe.
marca da solidão na alma, o mundo cabe numa fresta. (C) A enchente leva todo o lixo rua abaixo.
(SEIXAS, Heloísa. Contos mais que mínimos. Rio de Ja- (D) O trabalho feito com empenho leva ao sucesso.
neiro: Tinta negra bazar, 2010. p. 47) (E) O atleta levou apenas dez segundos para terminar
a prova.
No primeiro parágrafo, a palavra utilizada em sentido
figurado é Resolução
(A) menino.
(B) chão. 1-)
(C) testa. Questão que pode ser resolvida usando a lógica ou as-
(D) penumbra. sociação de palavras! Veja: a ignição do carro lembra-nos
(E) tenda. fogo, combustão... Pedra, petrificado. Encontrou a respos-
ta?
7-) (UFTM/MG – AUXILIAR DE BIBLIOTECA – VU- RESPOSTA: “D”.
NESP/2013 - ADAPTADA) Leia o texto para responder à
questão. 2-)
Classificar conforme regras conhecidas, mas não con-
RIO DE JANEIRO – A Prefeitura do Rio está lançando a firmadas se verdadeiras.
Operação Lixo Zero, que vai multar quem emporcalhar a ci- RESPOSTA: “E”.
dade. Em primeira instância, a campanha é educativa. Equi-
pes da Companhia Municipal de Limpeza Urbana estão per- 3-)
correndo as ruas para flagrar maus cidadãos jogando coisas As palavras que nos dão a noção, ideia de tempo são:
onde não devem e alertá-los para o que os espera. Em breve, desde, quando e depois.
com guardas municipais, policiais militares e 600 fiscais em RESPOSTA: “D”.
ação, as multas começarão a chegar para quem tratar a via
pública como a casa da sogra. 4-)
Imagina-se que, quando essa lei começar para valer, os Ao participar de um concurso, não temos acesso a di-
recordistas de multas serão os cerca de 300 jovens golpistas cionários para que verifiquemos o significado das palavras,
que, nas últimas semanas, se habituaram a tomar as ruas, por isso, caso não saibamos o que significam, devemos
pichar monumentos, vandalizar prédios públicos, quebrar analisá-las dentro do contexto em que se encontram. No
orelhões, arrancar postes, apedrejar vitrines, depredar ban- exercício acima, a que se “encaixa” é “equiparada”.
cos, saquear lojas e, por uma estranha compulsão, destruir RESPOSTA: “E”.
lixeiras, jogar o lixo no asfalto e armar barricadas de fogo
com ele. 5-)
É verdade que, no seu “bullying” político, eles não estão Em todas as alternativas o verbo “abrir” está emprega-
nem aí para a cidade, que é de todos – e que, por algum do em seu sentido denotativo. No item C, conotativo (“abrir
motivo, parecem querer levar ao colapso. a mente” = aberto a mudanças, novas ideias).
Pois, já que a lei não permite prendê-los por vandalis- RESPOSTA: “C”.
mo, saque, formação de quadrilha, desacato à autoridade,
resistência à prisão e nem mesmo por ataque aos órgãos 6-)
públicos, talvez seja possível enquadrá-los por sujar a rua. Novamente, responderemos com frase do texto: seu
(Ruy Castro, Por sujar a rua. Folha de S.Paulo, 21.08.2013. rosto formando uma tenda.
Adaptado) RESPOSTA: “E”.
100
LÍNGUA PORTUGUESA
7-)
Pela leitura do texto, compreende-se que a intenção do ANOTAÇÕES
autor ao utilizar a expressão” levar ao colapso” refere-se à
queda, ao fim, à ruína da cidade.
RESPOSTA: “E”. ___________________________________________________
8-) ___________________________________________________
No enunciado, o verbo “levar” está empregado com o ___________________________________________________
sentido de “duração/tempo”
(A) O menino leva o material adequado para a escola. ___________________________________________________
= carrega
(B) João levou uma surra da mãe. = apanhou ___________________________________________________
(C) A enchente leva todo o lixo rua abaixo. = arrasta ___________________________________________________
(D) O trabalho feito com empenho leva ao sucesso. =
direciona ___________________________________________________
(E) O atleta levou apenas dez segundos para terminar a
prova = duração/tempo ___________________________________________________
___________________________________________________
RESPOSTA: “E”.
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ANOTAÇÕES
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102
MATEMÁTICA
Expressões Numéricas
I - NÚMEROS E OPERAÇÕES: CÁLCULO Nas expressões numéricas aparecem adições, subtra-
ARITMÉTICO ções, multiplicações e divisões. Todas as operações podem
acontecer em uma única expressão. Para resolver as ex-
pressões numéricas utilizamos alguns procedimentos:
Se em uma expressão numérica aparecer as quatro ope-
Números Naturais rações, devemos resolver a multiplicação ou a divisão pri-
Os números naturais são o modelo matemático neces- meiramente, na ordem em que elas aparecerem e somente
sário para efetuar uma contagem. depois a adição e a subtração, também na ordem em que
Começando por zero e acrescentando sempre uma uni- aparecerem e os parênteses são resolvidos primeiro.
dade, obtemos os elementos dos números naturais:
Exemplo 1
10 + 12 – 6 + 7
22 – 6 + 7
A construção dos Números Naturais 16 + 7
- Todo número natural dado tem um sucessor (número 23
que vem depois do número dado), considerando também
o zero. Exemplo 2
Exemplos: Seja m um número natural. 40 – 9 x 4 + 23
a) O sucessor de m é m+1. 40 – 36 + 23
b) O sucessor de 0 é 1. 4 + 23
c) O sucessor de 1 é 2. 27
d) O sucessor de 19 é 20.
Exemplo 3
- Se um número natural é sucessor de outro, então os 25-(50-30)+4x5
dois números juntos são chamados números consecutivos. 25-20+20=25
Exemplos:
a) 1 e 2 são números consecutivos. Números Inteiros
b) 5 e 6 são números consecutivos.
c) 50 e 51 são números consecutivos. Podemos dizer que este conjunto é composto pelos
números naturais, o conjunto dos opostos dos números
- Vários números formam uma coleção de números na- naturais e o zero. Este conjunto pode ser representado por:
turais consecutivos se o segundo é sucessor do primeiro,
o terceiro é sucessor do segundo, o quarto é sucessor do
terceiro e assim sucessivamente.
Exemplos:
a) 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 são consecutivos. Subconjuntos do conjunto :
b) 5, 6 e 7 são consecutivos.
c) 50, 51, 52 e 53 são consecutivos. 1)
Subconjuntos de
Vale lembrar que um asterisco, colocado junto à letra Números Racionais
que simboliza um conjunto, significa que o zero foi excluí-
do de tal conjunto. Chama-se de número racional a todo número que pode
ser expresso na forma , onde a e b são inteiros quaisquer,
com b≠0
1
MATEMÁTICA
1º) Decimais exatos: quando dividirmos a fração, o nú- Façamos x = 0,333... e multipliquemos ambos os mem-
mero decimal terá um número finito de algarismos após a bros por 10: 10x = 3,333
vírgula. Subtraindo, membro a membro, a primeira igualdade
da segunda:
10x – x = 3,333... – 0,333... → 9x = 3 → x = 3/9
3
Assim, a geratriz de 0,333... é a fração .
9
Exemplo 2
2
MATEMÁTICA
Intervalo:]-∞,b]
Conjunto:{x∈R|x≤b}
Intervalo:[a,+ ∞[
INTERVALOS LIMITADOS Conjunto:{x∈R|x≥a}
Intervalo fechado – Números reais maiores do que a ou
iguais a e menores do que b ou iguais a b. Semirreta direita, aberta, de origem a – números reais
maiores que a.
Intervalo:[a,b]
Conjunto: {x∈R|a≤x≤b}
Potenciação
Intervalo:]a,b[ Os números envolvidos em uma multiplicação são cha-
Conjunto:{x∈R|a<x<b} mados de fatores e o resultado da multiplicação é o pro-
duto, quando os fatores são todos iguais existe uma forma
Intervalo fechado à esquerda – números reais maiores diferente de fazer a representação dessa multiplicação que
que a ou iguais a a e menores do que b. é a potenciação.
Intervalo:{a,b[
Conjunto {x∈R|a≤x<b}
Intervalo:]a,b]
Conjunto:{x∈R|a<x≤b}
3
MATEMÁTICA
Radiciação
Radiciação é a operação inversa a potenciação
Técnica de Cálculo
5) Se o sinal do expoente for negativo, devemos pas- A determinação da raiz quadrada de um número torna-
sar o sinal para positivo e inverter o número que está na -se mais fácil quando o algarismo se encontra fatorado em
base. números primos. Veja:
Propriedades 64=2.2.2.2.2.2=26
1) (am . an = am+n) Em uma multiplicação de potências Como é raiz quadrada a cada dois números iguais “tira-
de mesma base, repete-se a base e adiciona-se (soma) os -se” um e multiplica.
expoentes.
Exemplos: 1 1
3.5 = (3.5) 2 = 3 2 .5 2 = 3. 5
1
54 . 53 = 54+3= 57 Observe:
(5.5.5.5) .( 5.5.5)= 5.5.5.5.5.5.5 = 57
De modo geral, se a ∈ R+ , b ∈ R+ , n ∈ N * , então:
n
a.b = n a .n b
4
MATEMÁTICA
O radical de índice inteiro e positivo de um produto Para fazer esse cálculo, devemos fatorar o 8 e o 20.
indicado é igual ao produto dos radicais de mesmo índice
dos fatores do radicando.
a na
n =
b nb Não dá para somar, as raízes devem ficar desse modo.
Operações
Operações
Multiplicação
2º Caso: Denominador composto por duas parcelas.
Exemplo
Exemplo
Adição e subtração
5
MATEMÁTICA
Subtração
II - ÁLGEBRA E FUNÇÕES:
PROPORCIONALIDADE, SEQUÊNCIAS E Exemplo 1
RACIOCÍNIO LÓGICO
Subtraindo –3x2 + 10x – 6 de 5x2 – 9x – 8.
(5x2 – 9x – 8) – (–3x2 + 10x – 6) → eliminar os parênteses
utilizando o jogo de sinal.
Polinômios – (–3x2) = +3x2
– (+10x) = –10x
Para polinômios podemos encontrar várias definições – (–6) = +6
diferentes como:
Polinômio é uma expressão algébrica com todos os 5x2 – 9x – 8 + 3x2 –10x +6 → reduzir os termos
termos semelhantes reduzidos. Polinômio é um ou mais semelhantes.
monômios separados por operações. 5x2 + 3x2 – 9x –10x – 8 + 6
As duas podem ser aceitas, pois se pegarmos um 8x2 – 19x – 2
polinômio encontraremos nele uma expressão algébrica e Portanto: (5x2 – 9x – 8) – (–3x2 + 10x – 6) = 8x2 – 19x – 2
monômios separados por operações.
Exemplo 2
- 3xy é monômio, mas também considerado polinômio,
assim podemos dividir os polinômios em monômios Se subtrairmos 2x³ – 5x² – x + 21 e 2x³ + x² – 2x + 5
(apenas um monômio), binômio (dois monômios) e teremos:
trinômio (três monômios). (2x³ – 5x² – x + 21) – (2x³ + x² – 2x + 5) → eliminando
- 3x + 5 é um polinômio e uma expressão algébrica. os parênteses através do jogo de sinais.
2x³ – 5x² – x + 21 – 2x³ – x² + 2x – 5 → redução de
Como os monômios, os polinômios também possuem termos semelhantes.
grau e é assim que eles são separados. Para identificar o 2x³ – 2x³ – 5x² – x² – x + 2x + 21 – 5
seu grau, basta observar o grau do maior monômio, esse 0x³ – 6x² + x + 16
será o grau do polinômio. – 6x² + x + 16
Com os polinômios podemos efetuar todas as Portanto: (2x³ – 5x² – x + 21) – (2x³ + x² – 2x + 5) = – 6x²
operações: adição, subtração, divisão, multiplicação, + x + 16
potenciação.
O procedimento utilizado na adição e subtração Exemplo 3
de polinômios envolve técnicas de redução de termos Considerando os polinômios A = 6x³ + 5x² – 8x + 15, B
semelhantes, jogo de sinal, operações envolvendo sinais = 2x³ – 6x² – 9x + 10 e C = x³ + 7x² + 9x + 20. Calcule:
iguais e sinais diferentes. Observe os exemplos a seguir: a) A + B + C
(6x³ + 5x² – 8x + 15) + (2x³ – 6x² – 9x + 10) + (x³ + 7x²
Adição + 9x + 20)
6x³ + 5x² – 8x + 15 + 2x³ – 6x² – 9x + 10 + x³ + 7x² +
Exemplo 1 9x + 20
Adicionar x2 – 3x – 1 com –3x2 + 8x – 6. 6x³ + 2x³ + x³ + 5x² – 6x² + 7x² – 8x – 9x + 9x + 15 +
(x2 – 3x – 1) + (–3x2 + 8x – 6) → eliminar o segundo 10 + 20
parênteses através do jogo de sinal. 9x³ + 6x² – 8x + 45
+(–3x2) = –3x2
+(+8x) = +8x A + B + C = 9x³ + 6x² – 8x + 45
+(–6) = –6
x2 – 3x – 1 –3x2 + 8x – 6 → reduzir os termos semelhantes. b) A – B – C
(6x³ + 5x² – 8x + 15) – (2x³ – 6x² – 9x + 10) – (x³ + 7x²
x2 – 3x2 – 3x + 8x – 1 – 6 + 9x + 20)
–2x2 + 5x – 7 6x³ + 5x² – 8x + 15 – 2x³ + 6x² + 9x – 10 – x³ – 7x² – 9x
Portanto: (x2 – 3x – 1) + (–3x2 + 8x – 6) = –2x2 + 5x – 7 – 20
6x³ – 2x³ – x³ + 5x² + 6x² – 7x² – 8x + 9x – 9x + 15 – 10
Exemplo 2 – 20
Adicionando 4x2 – 10x – 5 e 6x + 12, teremos: 6x³ – 3x³ + 11x² – 7x² – 17x + 9x + 15 – 30
(4x2 – 10x – 5) + (6x + 12) → eliminar os parênteses 3x³ + 4x² – 8x – 15
utilizando o jogo de sinal.
4x2 – 10x – 5 + 6x + 12 → reduzir os termos semelhantes. A – B – C = 3x³ + 4x² – 8x – 15
4x2 – 10x + 6x – 5 + 12
4x2 – 4x + 7 A multiplicação com polinômio (com dois ou mais
Portanto: (4x2 – 10x – 5) + (6x + 12) = 4x2 – 4x + 7 monômios) pode ser realizada de três formas:
6
MATEMÁTICA
7
MATEMÁTICA
2) Resposta “36x4”.
Solução:
Portanto, Área: (6x²)² = (6)² . (x)² = 36x4
Logo, a área é expressa por 36x4.
4. Escreve de forma reduzida o polinômio: 0,3x – 5xy + Então: 2,3x – 1,65xy + 0,8y é a forma reduzida do
1,8y + 2x – y + 3,4xy. polinômio dado.
8
MATEMÁTICA
7) Resposta “y5 + y4 – 2y3 + y² + y – 2”. Monômio: os números e letras estão ligados apenas
Solução: por produtos.
P + (2y5 – 3y4 + y² – 5y + 3) = (3y5 – 2y4 – 2y3 + 2y² – 4y Ex : 4x
+ 1). Daí:
P = (3y5 – 2y4 – 2y3 + 2y² – 4y + 1) – (2y5 – 3y4 + y² – 5y Polinômio: é a soma ou subtração de monômios.
+ 3) = Ex: 4x+2y
= 3y5 – 2y4 – 2y3 + 2y² – 4y + 1 – 2y5 + 3y4 – y² + 5y – 3 =
= 3y5 – 2y5 – 2y4 + 3y4 – 2y3 + 2y² – y² – 4y + 5y + 1 – 3 = Termos semelhantes: são aqueles que possuem par-
= y5 + y4 – 2y3 + y² + y – 2. tes literais iguais ( variáveis )
Ex: 2 x³ y² z e 3 x³ y² z » são termos semelhantes pois
Logo, o polinômio P procurado é y5 + y4 – 2y3 + y² + possuem a mesma parte literal.
y – 2.
Adição e Subtração de expressões algébricas
8)Resposta “5ax – 7x² – a²”. Para determinarmos a soma ou subtração de expres-
Solução:
sões algébricas, basta somar ou subtrair os termos seme-
2x(3a – 2x) + a(2x – a) – 3x(a + x) =
lhantes.
= 6ax – 4x² + 2ax – a² – 3ax – 3x² =
Assim: 2 x³ y² z + 3x³ y² z = 5x³ y² z ou 2 x³ y² z - 3x³
= 6ax + 2ax – 3ax – 4x² – 3x² – a² =
y² z = -x³ y² z
= 5ax – 7x² – a²
9
MATEMÁTICA
7ab2 e 20ab2 são dois termos, suas partes literais são ab2 (3a2b) . (- 5ab3) na multiplicação dos dois monômios,
e ab2, observamos que elas são idênticas, então podemos devemos multiplicar os coeficientes 3 . (-5) e na parte literal
dizer que são semelhantes. multiplicamos as que têm mesma base para que possamos
usar a propriedade am . an = am + n.
Adição e subtração de monômios
Só podemos efetuar a adição e subtração de 3 . ( - 5) . a2 . a . b . b3
monômios entre termos semelhantes. E quando os termos -15 a2 +1 b1 + 3
envolvidos na operação de adição ou subtração não forem -15 a3b4
semelhantes, deixamos apenas a operação indicada.
Veja: Divisão de monômios
Dado os termos 5xy2, 20xy2, como os dois termos são
semelhantes eu posso efetuar a adição e a subtração deles. Para dividirmos os monômios não é necessário que
5xy2 + 20xy2 devemos somar apenas os coeficientes e eles sejam semelhantes, basta dividirmos coeficiente
conservar a parte literal. com coeficiente e parte literal com parte literal. Sendo
25 xy2 que quando dividirmos as partes literais devemos usar a
5xy2 - 20xy2 devemos subtrair apenas os coeficientes e propriedade da potência que diz: am : an = am - n (bases iguais
conservar a parte literal. na divisão repetimos a base e diminuímos os expoentes),
- 15 xy2
sendo que a ≠ 0.
Veja alguns exemplos:
(-20x2y3) : (- 4xy3) na divisão dos dois monômios,
- x2 - 2x2 + x2 como os coeficientes são frações devemos
tirar o mmc de 6 e 9. devemos dividir os coeficientes -20 e - 4 e na parte literal
dividirmos as que têm mesma base para que possamos
3x2 - 4 x2 + 18 x2 usar a propriedade am : an = am – n.
18
17x2 -20 : (– 4) . x2 : x . y3 : y3
18 5 x2 – 1 y3 – 3
- 4x2 + 12y3 – 7y3 – 5x2 devemos primeiro unir os termos 5x1y0
semelhantes. 12y3 – 7y3 + 4x2 – 5x2 agora efetuamos a soma 5x
e a subtração.
-5y3 – x2 como os dois termos restantes não são Potenciação de monômios
semelhantes, devemos deixar apenas indicado à operação Na potenciação de monômios devemos novamente
dos monômios. utilizar uma propriedade da potenciação:
6 . (-2)2 – 8 . (-2) =
2. Qual o termo médio do desenvolvimento de (2x +
6 . 4 + 16 =
24 + 16 3y)8?
40
3. Desenvolvendo o binômio (2x - 3y)3n, obtemos um
Multiplicação de monômios polinômio de 16 termos. Qual o valor de n?
Para multiplicarmos monômios não é necessário que 4. Determine o termo independente de x no desenvol-
eles sejam semelhantes, basta multiplicarmos coeficiente vimento de (x + 1/x )6.
com coeficiente e parte literal com parte literal. Sendo
que quando multiplicamos as partes literais devemos usar 5. Calcule: (3x²+2x-1) + (-2x²+4x+2).
a propriedade da potência que diz: am . an = am + n (bases
iguais na multiplicação repetimos a base e somamos os 6. Efetue e simplifique o seguinte calculo algébrico:
expoentes). (2x+3).(4x+1).
10
MATEMÁTICA
11
MATEMÁTICA
Exemplo
FUNÇÕES
Com os conjuntos A={1, 4, 7} e B={1, 4, 6, 7, 8, 9, 12}
criamos a função f: A→B.definida por f(x) = x + 5 que tam-
Diagrama de Flechas bém pode ser representada por y = x + 5. A representação,
utilizando conjuntos, desta função, é:
Gráfico Cartesiano
12
MATEMÁTICA
Raiz da função
F(1)=1a+b
3=a+b
F(3)=3a+b
5=3a+b
Isolando a em I
a=3-b
Substituindo em II
13
MATEMÁTICA
3(3-b)+b=5 Raízes
9-3b+b=5
-2b=-4
b=2
Portanto,
a=3-b
a=3-2=1
Assim, f(x)=x+2
Discriminante(∆)
∆=b²-4ac
∆>0
A parábola y=ax²+bx+c intercepta o eixo x em dois
pontos distintos, (x1,0) e (x2,0), onde x1 e x2 são raízes da
equação ax²+bx+c=0
∆=0
Quando , a parábola y=ax²+bx+c é tangente ao
eixo x, no ponto
∆<0
14
MATEMÁTICA
Exemplo
Resolva a equação no universo dos números reais.
Solução
A Constante de Euler
É definida por :
e = exp(1)
O número e é um número irracional e positivo e em
função da definição da função exponencial, temos que:
Ln(e) = 1
Este número é denotado por e em homenagem ao ma-
temático suíço Leonhard Euler (1707-1783), um dos primei-
ros a estudar as propriedades desse número.
O valor deste número expresso com 10 dígitos deci-
mais, é:
e = 2,7182818284
Se x é um número real, a função exponencial exp(.)
pode ser escrita como a potência de base e com expoente
x, isto é:
Função exponencial ex = exp(x)
Equação Modular
Toda equação em que a variável aparece em módulo.
Sua solução é obtida aplicando-se a definição de módulo.
Exemplo
Função decrescente
Se temos uma função exponencial de-
crescente em todo o domínio da função.
15
MATEMÁTICA
Solução Exemplo
Faça o gráfico da função f(x)=|x²-5x+4|
Solução
Primeiramente, fazemos o gráfico da função sem o
módulo:f(x)=x²-5x+4
2x-4=x+2
X=6
2x-4=-x-2
3x=2
X=2/3
S={2/3, 6}
Inequação Modular
Para resolver uma inequação modular, empregamos
inicialmente a propriedade seguinte, obtendo as inequa-
ções equivalentes de resoluções conhecidas.
Exemplo
Resolva as inequações:
a)
b)
Solução
a) x≤-2 ou x≥2
S={x∈R| x≤-2 ou x≥2}
b) -3<2x+5<3
-3-5<2x<3-5 Considerando-se dois números N e a reais e positivos,
-8<2x<-2 com a ≠1, existe um número c tal que:
-4<x<-1
S={x∈R|-4<x<-1}
Exemplo
16
MATEMÁTICA
Consequências da Definição
Propriedades
Raciocínio Lógico Matemático
17
MATEMÁTICA
Humor Lógico
Orientação espacial e temporal verifica a capacidade de abstração no espaço e no tempo. Costuma ser cobrado em
questões sobre a disposições de dominós, dados, baralhos, amontoados de cubos com símbolos especificados em suas
faces, montagem de figuras com subfiguras, figuras fractais, dentre outras. Inclui também as famosas sequências de figuras
nas quais se pede a próxima. Serve para verificar a capacidade do candidato em resolver problemas com base em estímulos
visuais.
Raciocínio Verbal
O raciocínio é o conjunto de atividades mentais que consiste na associação de ideias de acordo com determinadas
regras. No caso do raciocínio verbal, trata-se da capacidade de raciocinar com conteúdos verbais, estabelecendo entre eles
princípios de classificação, ordenação, relação e significados. Ao contrário daquilo que se possa pensar, o raciocínio verbal
é uma capacidade intelectual que tende a ser pouco desenvolvida pela maioria das pessoas. No nível escolar, por exemplo,
disciplinas como as línguas centram-se em objetivos como a ortografia ou a gramática, mas não estimulam/incentivam à
aprendizagem dos métodos de expressão necessários para que os alunos possam fazer um uso mais completo da lingua-
gem.
Por outro lado, o auge dos computadores e das consolas de jogos de vídeo faz com que as crianças costumem jogar de
forma individual, isto é, sozinhas (ou com outras crianças que não se encontrem fisicamente com elas), pelo que não é feito
um uso intensivo da linguagem. Uma terceira causa que se pode aqui mencionar para explicar o fraco raciocínio verbal é o
fato de jantar em frente à televisão. Desta forma, perde-se o diálogo no seio da família e a arte de conversar.
Entre os exercícios recomendados pelos especialistas para desenvolver o raciocínio verbal, encontram-se as analogias
verbais, os exercícios para completar orações, a ordem de frases e os jogos onde se devem excluir certos conceitos de um
grupo. Outras propostas implicam que sigam/respeitem certas instruções, corrijam a palavra inadequada (o intruso) de uma
frase ou procurem/descubram antônimos e sinônimos de uma mesma palavra.
Lógica Sequencial
Lógica Sequencial
O Raciocínio é uma operação lógica, discursiva e mental. Neste, o intelecto humano utiliza uma ou mais proposições,
para concluir através de mecanismos de comparações e abstrações, quais são os dados que levam às respostas verdadeiras,
falsas ou prováveis. Foi pelo processo do raciocínio que ocorreu o desenvolvimento do método matemático, este considerado
instrumento puramente teórico e dedutivo, que prescinde de dados empíricos. Logo, resumidamente o raciocínio pode ser
considerado também um dos integrantes dos mecanismos dos processos cognitivos superiores da formação de conceitos
e da solução de problemas, sendo parte do pensamento.
Sequências Lógicas
As sequências podem ser formadas por números, letras, pessoas, figuras, etc. Existem várias formas de se estabelecer
uma sequência, o importante é que existam pelo menos três elementos que caracterize a lógica de sua formação, entretanto
algumas séries necessitam de mais elementos para definir sua lógica. Algumas sequências são bastante conhecidas e todo
aluno que estuda lógica deve conhecê-las, tais como as progressões aritméticas e geométricas, a série de Fibonacci, os
números primos e os quadrados perfeitos.
18
MATEMÁTICA
1 1 2 3 5 8 13
Números Primos: Naturais que possuem apenas dois
divisores naturais.
2 3 5 7 11 13 17
19
MATEMÁTICA
Se utilizarmos um compasso e traçarmos o quarto de As figuras a seguir possuem números que representam
circunferência inscrito em cada quadrado, encontraremos uma sequência lógica. Veja os exemplos:
uma espiral formada pela concordância de arcos cujos
raios são os elementos da sequência de Fibonacci. Exemplo 1
O Partenon que foi construído em Atenas pelo célebre A sequência numérica proposta envolve multiplicações
arquiteto grego Fidias. A fachada principal do edifício, hoje por 4.
em ruínas, era um retângulo que continha um quadrado 6 x 4 = 24
de lado igual à altura. Essa forma sempre foi considerada 24 x 4 = 96
satisfatória do ponto de vista estético por suas proporções 96 x 4 = 384
sendo chamada retângulo áureo ou retângulo de ouro. 384 x 4 = 1536
Exemplo 2
Logo:
20
MATEMÁTICA
Exemplo 3 QUESTÕES
Exemplo 4
(D) (E)
21
MATEMÁTICA
03. O próximo número dessa sequência lógica é: 1000, 07. As figuras da sequência dada são formadas por
990, 970, 940, 900, 850, ... partes iguais de um círculo.
(A) 800
(B) 790
(C) 780
(D) 770
04. Na sequência lógica de números representados nos Continuando essa sequência, obtém-se exatamente 16
hexágonos, da figura abaixo, observa-se a ausência de um círculos completos na:
deles que pode ser: (A) 36ª figura
(B) 48ª figura
(C) 72ª figura
(D) 80ª figura
(E) 96ª figura
(A) 76
(B) 10
(C) 20 Admitindo-se que a regra de formação das figuras
(D) 78 seguintes permaneça a mesma, pode-se afirmar que a
figura que ocuparia a 277ª posição dessa sequência é:
05. Uma criança brincando com uma caixa de palitos (A) (B)
de fósforo constrói uma sequência de quadrados conforme
indicado abaixo:
.............
1° 2° 3° (C) (D)
Quantos palitos ele utilizou para construir a 7ª figura?
(A) 20 palitos
(B) 25 palitos
(C) 28 palitos
(D) 22 palitos (E)
22
MATEMÁTICA
23
MATEMÁTICA
Segundo esse mesmo padrão, a figura que deve 20. Considere a sequência abaixo:
substituir o ponto de interrogação é:
BBB BXB XXB
XBX XBX XBX
BBB BXB BXX
(A) (B) O padrão que completa a sequência é:
(D) (E)
XXX XXX
XBX XBX
(E) XXX BXX
17. Observe que, na sucessão de figuras abaixo, os 21. Na série de Fibonacci, cada termo a partir do
números que foram colocados nos dois primeiros triângulos terceiro é igual à soma de seus dois termos precedentes.
obedecem a um mesmo critério Sabendo-se que os dois primeiros termos, por definição,
são 0 e 1, o sexto termo da série é:
(A) 2
(B) 3
(C) 4
(D) 5
(E) 6
(B) 24. A sentença “Salta está para Atlas assim como 25435
está para...” é melhor completada pelo seguinte número:
(C) (A) 53452;
(B) 23455;
(D) (C) 34552;
(D) 43525;
(E) 53542.
24
MATEMÁTICA
25. Repare que com um número de 5 algarismos, 28. Os nomes de quatro animais – MARÁ, PERU, TATU
respeitada a ordem dada, podem-se criar 4 números de e URSO – devem ser escritos nas linhas da tabela abaixo,
dois algarismos. Por exemplo: de 34.712, podem-se criar o de modo que cada uma das suas respectivas letras ocupe
34, o 47, o 71 e o 12. Procura-se um número de 5 algarismos um quadrinho e, na diagonal sombreada, possa ser lido o
formado pelos algarismos 4, 5, 6, 7 e 8, sem repetição. Veja nome de um novo animal.
abaixo alguns números desse tipo e, ao lado de cada um
deles, a quantidade de números de dois algarismos que
esse número tem em comum com o número procurado.
26. Considere que os símbolos ♦ e ♣ que aparecem Nas questões 29 e 30, observe que há uma relação
no quadro seguinte, substituem as operações que devem entre o primeiro e o segundo grupos de letras. A mesma
ser efetuadas em cada linha, a fim de se obter o resultado relação deverá existir entre o terceiro grupo e um dos cinco
correspondente, que se encontra na coluna da extrema grupos que aparecem nas alternativas, ou seja, aquele que
direita. substitui corretamente o ponto de interrogação. Considere
que a ordem alfabética adotada é a oficial e exclui as letras
36 ♦ 4 ♣ 5 = 14 K, W e Y.
48 ♦ 6 ♣ 9 = 17 29. CASA: LATA: LOBO: ?
54 ♦ 9 ♣ 7 = ? (A) SOCO
(B) TOCO
Para que o resultado da terceira linha seja o correto, o (C) TOMO
ponto de interrogação deverá ser substituído pelo número: (D) VOLO
(A) 16 (E) VOTO
(B) 15
(C) 14 30. ABCA: DEFD: HIJH: ?
(D) 13 (A) IJLI
(E) 12 (B) JLMJ
(C) LMNL
(D) FGHF
27. Segundo determinado critério, foi construída a (E) EFGE
sucessão seguinte, em que cada termo é composto de um
número seguido de uma letra: A1 – E2 – B3 – F4 – C5 – G6
– .... Considerando que no alfabeto usado são excluídas as 31. Os termos da sucessão seguinte foram obtidos
letras K, Y e W, então, de acordo com o critério estabelecido, considerando uma lei de formação (0, 1, 3, 4, 12, 123,...).
a letra que deverá anteceder o número 12 é: Segundo essa lei, o décimo terceiro termo dessa sequência
(A) J é um número:
(B) L (A) Menor que 200.
(C) M (B) Compreendido entre 200 e 400.
(D) N (C) Compreendido entre 500 e 700.
(E) O (D) Compreendido entre 700 e 1.000.
(E) Maior que 1.000.
25
MATEMÁTICA
Para responder às questões de números 32 e 33, você 39. Qual será o próximo símbolo da sequência abaixo?
deve observar que, em cada um dos dois primeiros pares
de palavras dadas, a palavra da direita foi obtida da palavra
da esquerda segundo determinado critério. Você deve
descobrir esse critério e usá-lo para encontrar a palavra
que deve ser colocada no lugar do ponto de interrogação.
(A) mana 40. Reposicione dois palitos e obtenha uma figura com
(B) toma cinco quadrados iguais.
(C) tona
(D) tora
(E) rato
26
MATEMÁTICA
44. As cartas de um baralho foram agrupadas em 50. Mude a posição de quatro palitos e obtenha cinco
pares, segundo uma relação lógica. Qual é a carta que está triângulos.
faltando, sabendo que K vale 13, Q vale 12, J vale 11 e A
vale 1?
Respostas
Em particular:
47. Mova três palitos nesta figura para obter cinco Na figura 15: 15 pontos de cada lado 30 pontos no
triângulos. total.
27
MATEMÁTICA
28
MATEMÁTICA
29
MATEMÁTICA
P E R U
33. Resposta “A”.
M A R A Na primeira sequência, a palavra “azar” é obtida pelas
letras “a” e “z” em sequência, mas em ordem invertida.
T A T U Já as letras “a” e “r” são as 2 primeiras letras da palavra
“arborizado”. A palavra “dias” foi obtida da mesma forma:
U R S O As letras “d” e “i” são obtidas em sequência, mas em ordem
invertida. As letras “a” e “s” são as 2 primeiras letras da
palavra “asteroides”. Com isso, para a palavras “articular”,
O nome do animal é PATO. Considerando a ordem do
considerando as letras “i” e “u”, que estão na ordem
alfabeto, tem-se: P = 15, A = 1, T = 19 e 0 = 14. Somando
invertida, e as 2 primeiras letras, obtém-se a palavra “luar”.
esses valores, obtém-se: 15 + 1 + 19 + 14 = 49.
30
MATEMÁTICA
6º 7m 6m 41.
12.345.679 × (2×9) = 222.222.222
7º 8m 7m 12.345.679 × (3×9) = 333.333.333
8º 9m 8m ... ...
9º 10m ---- 12.345.679 × (4×9) = 666.666.666
Portanto, para obter 999.999.999 devemos multiplicar
Portanto, depois de 9 dias ela chegará na saída do 12.345.679 por (9x9) = 81
poço.
36. 09 – 19 – 29 – 39 – 49 – 59 – 69 – 79 – 89 – 90 – 42.
91 – 92 – 93 – 94 – 95 – 96 – 97 – 98 – 99. Portanto, são
necessários 20 algarismos.
37.
= 16
= 09
43.
= 04
=01
Portanto, há 16 + 9 + 4 + 1 = 30 quadrados. 45. Quadrado perfeito em matemática, sobretudo na
aritmética e na teoria dos números, é um número inteiro
não negativo que pode ser expresso como o quadrado de
38. um outro número inteiro. Ex: 1, 4, 9...
No exercício 2 elevado a 2 = 4
31
MATEMÁTICA
47.
48.
49.
50.
Unidades de Comprimento
km hm dam m dm cm mm
quilômetro hectômetro decâmetro metro decímetro centímetro milímetro
1000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001m
Há, de fato, unidades quase sem uso prático, mas elas têm uma função. Servem para que o sistema tenha um padrão:
cada unidade vale sempre 10 vezes a unidade menor seguinte.
32
MATEMÁTICA
E há mais um detalhe: embora o decímetro não seja útil na prática, o decímetro cúbico é muito usado com o nome
popular de litro.
As unidades de área do sistema métrico correspondem às unidades de comprimento da tabela anterior.
São elas: quilômetro quadrado (km2), hectômetro quadrado (hm2), etc. As mais usadas, na prática, são o quilômetro
quadrado, o metro quadrado e o hectômetro quadrado, este muito importante nas atividades rurais com o nome de hec-
tare (ha): 1 hm2 = 1 ha.
No caso das unidades de área, o padrão muda: uma unidade é 100 vezes a menor seguinte e não 10 vezes, como nos
comprimentos. Entretanto, consideramos que o sistema continua decimal, porque 100 = 102.
Unidades de Área
km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
quilômetro hectômetro decâmetro metro decímetro centímetro milímetro
quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado
1000000m2 10000m2 100m2 1m2 0,01m2 0,0001m2 0,000001m2
Agora, vejamos as unidades de volume. De novo, temos a lista: quilômetro cúbico (km3), hectômetro cúbico (hm3), etc.
Na prática, são muitos usados o metro cúbico e o centímetro cúbico.
Nas unidades de volume, há um novo padrão: cada unidade vale 1000 vezes a unidade menor seguinte. Como 1000 =
103, o sistema continua sendo decimal.
Unidades de Volume
km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3
quilômetro hectômetro decâmetro metro decímetro centímetro milímetro
cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico
1000000000m3 1000000m3 1000m3 1m3 0,001m3 0,000001m3 0,000000001m3
A noção de capacidade relaciona-se com a de volume. Se o volume da água que enche um tanque é de 7 000 litros,
dizemos que essa é a capacidade do tanque. A unidade fundamental para medir capacidade é o litro (l); 1l equivale a 1 dm3.
Unidades de Capacidade
kl hl dal l dl cl ml
quilolitro hectolitro decalitro litro decilitro centímetro mililitro
1000l 100l 10l 1l 0,1l 0,01l 0,001l
O sistema métrico decimal inclui ainda unidades de medidas de massa. A unidade fundamental é o grama.
Unidades de Massa
kg hg dag g dg cg mg
quilograma hectograma decagrama grama decigrama centigrama miligrama
1000g 100g 10g 1g 0,1g 0,01g 0,001g
Dessas unidades, só têm uso prático o quilograma, o grama e o miligrama. No dia-a-dia, usa-se ainda a tonelada (t):
1t = 1000 kg.
Não Decimais
Desse grupo, o sistema hora – minuto – segundo, que mede intervalos de tempo, é o mais conhecido.
33
MATEMÁTICA
Para passar de uma unidade para a menor seguinte, 6. Quantos centilitros equivalem a 15 hl?
multiplica-se por 60.
7. Passe 5.200 gramas para quilogramas.
0,3h não indica 30 minutos nem 3 minutos; como 1
décimo de hora corresponde a 6 minutos, conclui-se que 8. Converta 2,5 metros em centímetros.
0,3h = 18min.
9. Quantos minutos equivalem a 5h05min?
Para medir ângulos, também temos um sistema não
decimal. Nesse caso, a unidade básica é o grau. Na astro- 10. Quantos minutos se passaram das 9h50min até as
nomia, na cartografia e na navegação são necessárias me- 10h35min?
didas inferiores a 1º. Temos, então:
Respostas
1 grau equivale a 60 minutos (1º = 60’)
1 minuto equivale a 60 segundos (1’ = 60”)
1) Resposta “D”.
Solução: Basta somarmos todos os valores menciona-
Os minutos e os segundos dos ângulos não são, é cla-
dos no enunciado do teste, ou seja:
ro, os mesmos do sistema hora – minuto – segundo. Há
uma coincidência de nomes, mas até os símbolos que os 13h 45min + 15 min + 1h 30 min = 15h 30min
indicam são diferentes:
1h32min24s é um intervalo de tempo ou um instante Logo, a questão correta é a letra D.
do dia.
1º 32’ 24” é a medida de um ângulo. 2) Resposta “0, 00348 dl”.
Solução: Como 1 cm3 equivale a 1 ml, é melhor dividir-
Por motivos óbvios, cálculos no sistema hora – minuto mos 348 mm3 por mil, para obtermos o seu equivalente em
– segundo são similares a cálculos no sistema grau – mi- centímetros cúbicos: 0,348 cm3.
nuto – segundo, embora esses sistemas correspondam a Logo 348 mm3 equivalem a 0, 348 ml, já que cm3 e ml se
grandezas distintas. equivalem.
Há ainda um sistema não-decimal, criado há algumas Neste ponto já convertemos de uma unidade de medi-
décadas, que vem se tornando conhecido. Ele é usado para da de volume, para uma unidade de medida de capacidade.
medir a informação armazenada em memória de compu- Falta-nos passarmos de mililitros para decilitros, quan-
tadores, disquetes, discos compacto, etc. As unidades de do então passaremos dois níveis à esquerda. Dividiremos
medida são bytes (b), kilobytes (kb), megabytes (Mb), etc. então por 10 duas vezes:
Apesar de se usarem os prefixos “kilo” e “mega”, essas uni-
dades não formam um sistema decimal.
Um kilobyte equivale a 210 bytes e 1 megabyte equivale Logo, 348 mm³ equivalem a 0, 00348 dl.
a 210 kilobytes.
3) Resposta “100 dal”.
Exercícios Solução: Sabemos que 1 m3 equivale a 1.000 l, portanto
para convertermos de litros a decalitros, passaremos um
1. Raquel saiu de casa às 13h 45min, caminhando
nível à esquerda.
até o curso de inglês que fica a 15 minutos de sua casa,
Dividiremos então 1.000 por 10 apenas uma vez:
e chegou na hora da aula cuja duração é de uma hora e
meia. A que horas terminará a aula de inglês?
a) 14h
b) 14h 30min
c) 15h 15min Isto equivale a passar a vírgula uma casa para a es-
d) 15h 30min querda.
e) 15h 45min Poderíamos também raciocinar da seguinte forma:
2. 348 mm3 equivalem a quantos decilitros? Como 1 m3 equivale a 1 kl, basta fazermos a conversão
de 1 kl para decalitros, quando então passaremos dois ní-
3. Quantos decalitros equivalem a 1 m3? veis à direita. Multiplicaremos então 1 por 10 duas vezes:
34
MATEMÁTICA
Portanto, 0, 000000000000000014 km3, ou a 1,4 x 10-17 km3 se expresso em notação científica equivalem a 14 mm3.
9) Resposta “305min”.
Solução:
(5 . 60) + 5 = 305 min.
35
MATEMÁTICA
36
MATEMÁTICA
Respostas Definições.
a) Segmentos congruentes.
1.5 h 36 min Dois segmentos são congruentes se têm a mesma
medida.
2.5 h 31 min 25 s
b) Ponto médio de um segmento.
3.Vamos considerar o horário de chegada à cidade B e Um ponto P é ponto médio do segmento AB se
o horário que o passageiro entrou no ônibus pertence ao segmento e divide AB em dois segmentos
congruentes.
19 h27 min15 seg
14 h32 min18 seg c) Mediatriz de um segmento.
É a reta perpendicular ao segmento no seu ponto
Para subtrair 18 de 15 não é possível então empresta- médio
mos 1 minuto dos 27
Ângulo
Que passa a ser 26 e no lugar de 15 seg usamos 15
+60(que é 1 min). Então
75 – 18 = 57 seg.
37
MATEMÁTICA
Retângulo
Área
Área é a medida de uma superfície.
A área do campo de futebol é a medida de sua
superfície (gramado).
Se pegarmos outro campo de futebol e colocarmos
em uma malha quadriculada, a sua área será equivalente
à quantidade de quadradinho. Se cada quadrado for uma
unidade de área: Pegamos um retângulo e colocamos em uma malha
quadriculada onde cada quadrado tem dimensões de 1 cm.
Se contarmos, veremos que há 24 quadrados de 1 cm de
dimensões no retângulo. Como sabemos que a área é a
medida da superfície de uma figuras podemos dizer que
24 quadrados de 1 cm de dimensões é a área do retângulo.
A = 6 . 4 A = 24 cm²
38
MATEMÁTICA
A= .
A= ²
Trapézio
A∆1 = B . h
2
Cálculo da área do ∆CFD:
A∆2 = b . h
2
39
MATEMÁTICA
AT = B . h + b . h
2 2
40
MATEMÁTICA
41
MATEMÁTICA
Substituindo na fórmula:
l² 3 5² 3
=
S ⇒=S = 6, 25 3 ⇒ =
S 10,8
4 4
3. Sabemos que 2 dm equivalem a 20 cm, temos:
h=10
Considerando AF=16cm e CB=9cm, determine: b=20
a) as dimensões do cartão;
b) o comprimento do vinco AC Substituindo na fórmula:
a)6
b)4
c)3
d)2
e) 3
42
MATEMÁTICA
8. Figuras Geométricas:
9.
10.
O conceito de cone
GEOMETRIA ESPACIAL Considere uma região plana limitada por uma curva
suave (sem quinas), fechada e um ponto P fora desse pla-
Sólidos Geométricos no. Chamamos de cone ao sólido formado pela reunião de
Para explicar o cálculo do volume de figuras geométri- todos os segmentos de reta que têm uma extremidade em
cas, podemos pedir que visualizem a seguinte figura: P e a outra num ponto qualquer da região.
Elementos do cone
- Base: A base do cone é a região plana contida no
interior da curva, inclusive a própria curva.
- Vértice: O vértice do cone é o ponto P.
- Eixo: Quando a base do cone é uma região que pos-
sui centro, o eixo é o segmento de reta que passa pelo
vértice P e pelo centro da base.
- Geratriz: Qualquer segmento que tenha uma extre-
a) A figura representa a planificação de um prisma reto; midade no vértice do cone e a outra na curva que envolve
b) O volume de um prisma reto é igual ao produto da a base.
área da base pela altura do sólido, isto é - Altura: Distância do vértice do cone ao plano da base.
- Superfície lateral: A superfície lateral do cone é a
V = Ab x a reunião de todos os segmentos de reta que tem uma extre-
midade em P e a outra na curva que envolve a base.
c) O cubo e o paralelepípedo retângulo são prismas; - Superfície do cone: A superfície do cone é a reunião
d) O volume do cilindro também se pode calcular da da superfície lateral com a base do cone que é o círculo.
mesma forma que o volume de um prisma reto. - Seção meridiana: A seção meridiana de um cone é
Os formulários seguintes, das figuras geométricas são uma região triangular obtida pela interseção do cone com
para calcular da mesma forma que as acima apresentadas: um plano que contem o eixo do mesmo.
43
MATEMÁTICA
Quando observamos a posição relativa do eixo em re- Um cone circular reto é um cone equilátero se a sua
lação à base, os cones podem ser classificados como retos seção meridiana é uma região triangular equilátera e neste
ou oblíquos. Um cone é dito reto quando o eixo é perpen- caso a medida da geratriz é igual à medida do diâmetro
dicular ao plano da base e é oblíquo quando não é um da base.
cone reto. Ao lado apresentamos um cone oblíquo.
A área da base do cone é dada por:
Observação: Para efeito de aplicações, os cones mais ABase=Pi R2
importantes são os cones retos. Em função das bases, os
cones recebem nomes especiais. Por exemplo, um cone é Pelo Teorema de Pitágoras temos:
dito circular se a base é um círculo e é dito elíptico se a (2R)2 = h2 + R2
base é uma região elíptica. h2 = 4R2 - R2 = 3R2
Assim:
h=R
V = (1/3) Pi R3
Como a área lateral pode ser obtida por:
Observações sobre um cone circular reto ALat = Pi R g = Pi R 2R = 2 Pi R2
1. Um cone circular reto é chamado cone de revolução então a área total será dada por:
por ser obtido pela rotação (revolução) de um triângulo ATotal = 3 Pi R2
retângulo em torno de um de seus catetos
2. A seção meridiana do cone circular reto é a interse- O conceito de esfera
ção do cone com um plano que contem o eixo do cone. No A esfera no espaço R³ é uma superfície muito impor-
caso acima, a seção meridiana é a região triangular limitada tante em função de suas aplicações a problemas da vida.
pelo triângulo isósceles VAB. Do ponto de vista matemático, a esfera no espaço R³ é con-
fundida com o sólido geométrico (disco esférico) envolvido
3. Em um cone circular reto, todas as geratrizes são pela mesma, razão pela quais muitas pessoas calculam o
congruentes entre si. Se g é a medida de cada geratriz en- volume da esfera. Na maioria dos livros elementares sobre
tão, pelo Teorema de Pitágoras, temos: g2 = h2 + R2 Geometria, a esfera é tratada como se fosse um sólido, he-
rança da Geometria Euclidiana.
4. A Área Lateral de um cone circular reto pode ser Embora não seja correto, muitas vezes necessitamos
obtida em função de g (medida da geratriz) e R (raio da falar palavras que sejam entendidas pela coletividade. De
base do cone):ALat = Pi R g um ponto de vista mais cuidadoso, a esfera no espaço R³
é um objeto matemático parametrizado por duas dimen-
5. A Área total de um cone circular reto pode ser ob- sões, o que significa que podemos obter medidas de área
tida em função de g (medida da geratriz) e R (raio da base e de comprimento, mas o volume tem medida nula. Há
do cone): outras esferas, cada uma definida no seu respectivo espa-
ATotal = Pi R g + Pi R2 ço n-dimensional. Um caso interessante é a esfera na reta
unidimensional:
So = {x em R: x²=1} = {+1,-1}
Por exemplo, a esfera
S1 = { (x,y) em R²: x² + y² = 1 }
é conhecida por nós como uma circunferência de raio
unitário centrada na origem do plano cartesiano.
44
MATEMÁTICA
A seguir apresentaremos elementos esféricos básicos e e a relação matemática que define o disco esférico é o
algumas fórmulas para cálculos de áreas na esfera e volu- conjunto que contém a casca reunido com o interior, isto é:
mes em um sólido esférico. x² + y² + z² < R²
Uma notação para a esfera com raio unitário centrada e a relação matemática que define o disco esférico é o
na origem de R³ é: conjunto que contém a casca reunido com o interior, isto é,
S² = { (x,y,z) em R³: x² + y² + z² = 1 } o conjunto de todos os pontos (x,y,z) em R³ tal que:
(x-xo)² + (y-yo)² + (z-zo)² < R²
Uma esfera de raio unitário centrada na origem de R4
é dada por: Da forma como está definida, a esfera centrada na ori-
S³ = { (w,x,y,z) em R4: w² + x² + y² + z² = 1 } gem pode ser construída no espaço euclidiano R³ de modo
que o centro da mesma venha a coincidir com a origem do
Você conseguiria imaginar espacialmente tal esfera? sistema cartesiano R³, logo podemos fazer passar os eixos
Do ponto de vista prático, a esfera pode ser pensada OX, OY e OZ, pelo ponto (0,0,0).
como a película fina que envolve um sólido esférico. Em
uma melancia esférica, a esfera poderia ser considerada a
película verde (casca) que envolve a fruta.
45
MATEMÁTICA
Seccionando a esfera x²+y²+z²=R² com o plano z=0, Consideremos uma “calota esférica” com altura h1 e
obteremos duas superfícies semelhantes: o hemisfério raio da base r1 e retiremos desta calota uma outra “calota
Norte (“boca para baixo”) que é o conjunto de todos os esférica” com altura h2 e raio da base r2, de tal modo que
pontos da esfera onde a cota z é não negativa e o hemis- os planos das bases de ambas sejam paralelos. A região só-
fério Sul (“boca para cima”) que é o conjunto de todos os lida determinada pela calota maior menos a calota menor
pontos da esfera onde a cota z não é positiva. recebe o nome de segmento esférico com bases paralelas.
Se seccionarmos a esfera x²+y²+z²=R² por um plano
vertical que passa em (0,0,0), por exemplo, o plano x=0, te-
remos uma circunferência maximal C da esfera que é uma
circunferência contida na esfera cuja medida do raio coin-
cide com a medida do raio da esfera, construída no plano
YZ e a equação desta circunferência será:
x=0, y² + z² = R2
sendo que esta circunferência intersecta o eixo OZ nos
pontos de coordenadas (0,0,R) e (0,0,-R). Existem infinitas No que segue, usaremos esfera tanto para o sólido
circunferências maximais em uma esfera. como para a superfície, “calota esférica” para o sólido en-
Se rodarmos esta circunferência maximal C em torno volvido pela calota esférica, a letra maiúscula R para en-
do eixo OZ, obteremos a esfera através da rotação e por tender o raio da esfera sobre a qual estamos realizando
este motivo, a esfera é uma superfície de revolução. os cálculos, V será o volume, A(lateral) será a área lateral e
Se tomarmos um arco contido na circunferência ma- A(total) será a área total.
ximal cujas extremidades são os pontos (0,0,R) e (0,p,q) tal
que p²+q²=R² e rodarmos este arco em torno do eixo OZ, Algumas fórmulas (relações) para objetos esféricos
obteremos uma superfície denominada calota esférica.
Objeto Relações e fórmulas
Volume = (4/3) Pi R³
Esfera
A(total) = 4 Pi R²
R² = h (2R-h)
Calota esférica (altura h, A(lateral) = 2 Pi R h
raio da base r) A(total) = Pi h (4R-h)
V=Pi.h²(3R-h)/3=Pi(3R²+h²)/6
Na prática, as pessoas usam o termo calota esférica R² = a² + [(r1² -r2²-h²)/2h)]²
para representar tanto a superfície como o sólido geomé- Segmento esférico (altura A(lateral) = 2 Pi R h
trico envolvido pela calota esférica. Para evitar confusões, h, raios das bases r1>r²) A(total) = Pi(2Rh+r1²+r2²)
usarei “calota esférica” com aspas para o sólido e sem as- Volume=Pi.h(3r1²+3r2²+h²)/6
pas para a superfície.
Estas fórmulas podem ser obtidas como aplicações do
A partir da rotação, construiremos duas calotas em
Cálculo Diferencial e Integral, mas nós nos limitaremos a
uma esfera, de modo que as extremidades dos arcos se-
apresentar um processo matemático para a obtenção da
jam (0,0,R) e (0,p,q) com p²+q²=R² no primeiro caso (calota
fórmula do cálculo do volume da “calota esférica” em fun-
Norte) e no segundo caso (calota Sul) as extremidades dos
ção da altura da mesma.
arcos (0,0,-R) e (0,r,-s) com r²+s²=R² e retirarmos estas duas
calotas da esfera, teremos uma superfície de revolução de-
nominada zona esférica.
Volume de uma calota no hemisfério Sul
Consideremos a esfera centrada no ponto (0,0,R) com
raio R.
46
MATEMÁTICA
47
MATEMÁTICA
Seção transversal
É a região poligonal obtida pela interseção do prisma
com um plano paralelo às bases, sendo que esta região
poligonal é congruente a cada uma das bases.
Prisma reto
48
MATEMÁTICA
Exercícios
49
MATEMÁTICA
Alat = 2 r. 2r = 4 r2
Atot = Alat + 2 Abase
Atot = 4 r2 + 2 r2 = 6 r2
V = Abase h = r2. 2r = 2 r3
Em linhas gerais a Estatística fornece métodos que au-
xiliam o processo de tomada de decisão através da análise
dos dados que possuímos.
Em Estatística, um resultado é significante, portanto,
tem significância estatística, se for improvável que tenha
ocorrido por acaso (que em estatística e probabilidade é
2) Solução: Cálculo da Área lateral Alat = 2 r h = 2 tratado pelo conceito de chance), caso uma determinada
2.3 = 12 cm2 hipótese nula seja verdadeira, mas não sendo improvável
Cálculo da Área total Atot = Alat + 2 Abase Atot = 12 + 2 caso a hipótese base seja falsa. A expressão teste de signifi-
22 = 12 + 8 = 20 cm2 cância foi cunhada por Ronald Fisher.
Cálculo do Volume V = Abase × h = r2 × h V = 22 × Mais concretamente, no teste de hipóteses com base
3 = × 4 × 3 = 12 cm33 em frequência estatística, a significância de um teste é a
3) Solução: probabilidade máxima de rejeitar acidentalmente uma hi-
hprisma = 12 pótese nula verdadeira (uma decisão conhecida como erro
Abase do prisma = Abase do cone = A de tipo I). O nível de significância de um resultado é tam-
Vprisma = 2 Vcone bém chamado de α e não deve ser confundido com o valor
A hprisma = 2(A h)/3 p (p-value).
12 = 2.h/3 Por exemplo, podemos escolher um nível de significân-
h =18 cm cia de, digamos, 5%, e calcular um valor crítico de um parâ-
metro (por exemplo a média) de modo que a probabilidade
4) Solução:
de ela exceder esse valor, dada a verdade da hipótese nulo,
V = Vcilindro - Vcone ser 5%. Se o valor estatístico calculado (ou seja, o nível de
V = Abase h - (1/3) Abase h 5% de significância anteriormente escolhido) exceder o va-
V = Pi R2 h - (1/3) Pi R2 h lor crítico, então é significante “ao nível de 5%”.
V = (2/3) Pi R2 h cm3 Se o nível de significância (ex: 5% anteriormente dado)
é menor, o valor é menos provavelmente um extremo em
relação ao valor crítico. Deste modo, um resultado que é
“significante ao nível de 1%” é mais significante do que um
resultado que é significante “ao nível de 5%”. No entanto,
um teste ao nível de 1% é mais susceptível de padecer do
V - TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO: erro de tipo II do que um teste de 5% e por isso terá menos
LEITURA E REPRESENTAÇÃO DA poder estatístico.
INFORMAÇÃO EM GRÁFICOS, TABELAS E Ao divisar um teste de hipóteses, o técnico deverá
PICTOGRAMAS tentar maximizar o poder de uma dada significância, mas
ultimamente tem de reconhecer que o melhor resultado
que se pode obter é um compromisso entre significância e
poder, em outras palavras, entre os erros de tipo I e tipo II.
A estatística é, hoje em dia, um instrumento útil e, em
É importante ressaltar que os valores p Fisherianos são
alguns casos, indispensável para tomadas de decisão em
filosoficamente diferentes dos erros de tipo I de Neyman-
diversos campos: científico, econômico, social, político…
-Pearson. Esta confusão é infelizmente propagada por mui-
Todavia, antes de chegarmos à parte de interpretação
para tomadas de decisão, há que proceder a um indispen- tos livros de estatística.
sável trabalho de recolha e organização de dados, sendo
a recolha feita através de recenseamentos (ou censos ou Divisão da Estatística:
levantamentos estatísticos) ou sondagens.
Existem indícios que há 300 mil anos a.C. já se faziam - Estatística Descritiva: Média (Aritmética, Geométri-
censos na China, Babilônia e no Egito. Censos estes que se ca, Harmônica, Ponderada) - Mediana - Moda - Variância
destinavam à taxação de impostos. - Desvio padrão - Coeficiente de variação.
50
MATEMÁTICA
- Inferência Estatística: Testes de hipóteses - Signi- tar artificialmente a pressão sangüínea e registrar o nível
ficância - Potência - Hipótese nula/Hipótese alternativa de colesterol. A análise dos dados em uma pesquisa ex-
- Erro de tipo I - Erro de tipo II - Teste T - Teste Z - Distri- perimental também calcula “correlações” entre variáveis,
buição t de Student - Normalização - Valor p - Análise de especificamente entre aquelas manipuladas e as que fo-
variância. ram afetadas pela manipulação. Entretanto, os dados ex-
- Estatística Não-Paramétrica: Teste Binomial - Teste perimentais podem demonstrar conclusivamente relações
Qui-quadrado (uma amostra, duas amostras independen- causais (causa e efeito) entre variáveis. Por exemplo, se o
tes, k amostras independentes) - Teste Kolmogorov-Smir- pesquisador descobrir que sempre que muda a variável A
nov (uma amostra, duas amostras independentes) - Teste então a variável B também muda, então ele poderá concluir
de McNemar - Teste dos Sinais - Teste de Wilcoxon - Teste que A “influencia” B. Dados de uma pesquisa correlacional
de Walsh - Teste Exata de Fisher - Teste Q de Cochran - Tes- podem ser apenas “interpretados” em termos causais com
te de Kruskal-Wallis - Teste de Friedman. base em outras teorias (não estatísticas) que o pesquisa-
- Análise da Sobrevivência: Função de sobrevivência - dor conheça, mas não podem ser conclusivamente provar
Kaplan-Meier - Teste log-rank - Taxa de falha - Proportional causalidade.
hazards models.
- Amostragem: Amostragem aleatória simples (com Variáveis dependentes e variáveis independentes:
reposição, sem reposição) - Amostragem estratificada - Variáveis independentes são aquelas que são manipuladas
Amostragem por conglomerados - Amostragem sistemá- enquanto que variáveis dependentes são apenas medidas
tica - estimador razão - estimador regressão. ou registradas. Esta distinção confunde muitas pessoas que
dizem que “todas variáveis dependem de alguma coisa”.
- Distribuição de Probabilidade: Normal - De Pareto
Entretanto, uma vez que se esteja acostumado a esta dis-
- De Poisson - De Bernoulli - Hipergeométrica - Binomial
tinção ela se torna indispensável. Os termos variável de-
- Binomial negativa - Gama - Beta - t de Student - F-Sne-
pendente e independente aplicam-se principalmente à
decor.
pesquisa experimental, onde algumas variáveis são mani-
- Correlação: Variável de confusão - Coeficiente de
puladas, e, neste sentido, são “independentes” dos padrões
correlação de Pearson - Coeficiente de correlação de pos-
de reação inicial, intenções e características dos sujeitos
tos de Spearman - Coeficiente de correlação tau de Ken-
da pesquisa (unidades experimentais).Espera-se que ou-
dall).
tras variáveis sejam “dependentes” da manipulação ou das
Regressão: Regressão linear - Regressão não-linear
condições experimentais. Ou seja, elas dependem “do que
- Regressão logística - Método dos mínimos quadrados os sujeitos farão” em resposta. Contrariando um pouco a
- Modelos Lineares Generalizados - Modelos para Dados natureza da distinção, esses termos também são usados
Longitudinais. em estudos em que não se manipulam variáveis indepen-
- Análise Multivariada: Distribuição normal multiva- dentes, literalmente falando, mas apenas se designam su-
riada - Componentes principais - Análise fatorial - Análise jeitos a “grupos experimentais” baseados em propriedades
discriminante - Análise de “Cluster” (Análise de agrupa- pré-existentes dos próprios sujeitos. Por exemplo, se em
mento) - Análise de Correspondência. uma pesquisa compara-se a contagem de células brancas
- Séries Temporais: Modelos para séries temporais - (White Cell Count em inglês, WCC) de homens e mulheres,
Tendência e sazonalidade - Modelos de suavização expo- sexo pode ser chamada de variável independente e WCC
nencial - ARIMA - Modelos sazonais. de variável dependente.
Panorama Geral: Níveis de Mensuração: As variáveis diferem em “quão
bem” elas podem ser medidas, isto é, em quanta informa-
Variáveis: São características que são medidas, contro- ção seu nível de mensuração pode prover. Há obviamente
ladas ou manipuladas em uma pesquisa. Diferem em mui- algum erro em cada medida, o que determina o “montante
tos aspectos, principalmente no papel que a elas é dado de informação” que se pode obter, mas basicamente o fator
em uma pesquisa e na forma como podem ser medidas. que determina a quantidade de informação que uma variá-
vel pode prover é o seu tipo de nível de mensuração. Sob
Pesquisa “Correlacional” X Pesquisa “Experimen- este prisma as variáveis são classificadas como nominais,
tal”: A maioria das pesquisas empíricas pertencem cla- ordinais e intervalares.
ramente a uma dessas duas categorias gerais: em uma - Variáveis nominais permitem apenas classificação
pesquisa correlacional (Levantamento) o pesquisador não qualitativa. Ou seja, elas podem ser medidas apenas em
influencia (ou tenta não influenciar) nenhuma variável, mas termos de quais itens pertencem a diferentes categorias,
apenas as mede e procura por relações (correlações) en- mas não se pode quantificar nem mesmo ordenar tais ca-
tre elas, como pressão sangüínea e nível de colesterol. Em tegorias. Por exemplo, pode-se dizer que 2 indivíduos são
uma pesquisa experimental (Experimento) o pesquisador diferentes em termos da variável A (sexo, por exemplo),
manipula algumas variáveis e então mede os efeitos des- mas não se pode dizer qual deles “tem mais” da qualidade
ta manipulação em outras variáveis; por exemplo, aumen- representada pela variável. Exemplos típicos de variáveis
nominais são sexo, raça, cidade, etc.
51
MATEMÁTICA
- Variáveis ordinais permitem ordenar os itens medidos - Magnitude é muito mais fácil de entender e medir
em termos de qual tem menos e qual tem mais da quali- do que a confiabilidade. Por exemplo, se cada homem em
dade representada pela variável, mas ainda não permitem nossa amostra tem um WCC maior do que o de qualquer
que se diga “o quanto mais”. Um exemplo típico de uma mulher da amostra, poderia-se dizer que a magnitude da
variável ordinal é o status sócio-econômico das famílias re- relação entre as duas variáveis (sexo e WCC) é muito alta
sidentes em uma localidade: sabe-se que média-alta é mais em nossa amostra. Em outras palavras, poderia-se prever
“alta” do que média, mas não se pode dizer, por exemplo, uma baseada na outra (ao menos na amostra em questão).
que é 18% mais alta. A própria distinção entre mensuração - Confiabilidade é um conceito muito menos intuitivo,
nominal, ordinal e intervalar representa um bom exemplo mas extremamente importante. Relaciona-se à “represen-
de uma variável ordinal: pode-se dizer que uma medida tatividade” do resultado encontrado em uma amostra es-
nominal provê menos informação do que uma medida or- pecífica de toda a população. Em outras palavras, diz quão
dinal, mas não se pode dizer “quanto menos” ou como esta provável será encontrar uma relação similar se o experi-
diferença se compara à diferença entre mensuração ordinal mento fosse feito com outras amostras retiradas da mesma
e intervalar. população, lembrando que o maior interesse está na po-
- Variáveis intervalares permitem não apenas ordenar pulação. O interesse na amostra reside na informação que
em postos os itens que estão sendo medidos, mas também ela pode prover sobre a população. Se o estudo atender
quantificar e comparar o tamanho das diferenças entre certos critérios específicos (que serão mencionados pos-
teriormente) então a confiabilidade de uma relação obser-
eles. Por exemplo, temperatura, medida em graus Celsius
vada entre variáveis na amostra pode ser estimada quan-
constitui uma variável intervalar. Pode-se dizer que a tem-
titativamente e representada usando uma medida padrão
peratura de 40C é maior do que 30C e que um aumento de
(chamada tecnicamente de nível-p ou nível de significância
20C para 40C é duas vezes maior do que um aumento de
estatística).
30C para 40C.
Significância Estatística (nível-p): A significância es-
Relações entre variáveis: Duas ou mais variáveis tatística de um resultado é uma medida estimada do grau
quaisquer estão relacionadas se em uma amostra de ob- em que este resultado é “verdadeiro” (no sentido de que
servações os valores dessas variáveis são distribuídos de seja realmente o que ocorre na população, ou seja no sen-
forma consistente. Em outras palavras, as variáveis estão tido de “representatividade da população”). Mais tecnica-
relacionadas se seus valores correspondem sistematica- mente, o valor do nível-p representa um índice decrescen-
mente uns aos outros para aquela amostra de observações. te da confiabilidade de um resultado. Quanto mais alto o
Por exemplo, sexo e WCC seriam relacionados se a maioria nível-p, menos se pode acreditar que a relação observada
dos homens tivesse alta WCC e a maioria das mulheres bai- entre as variáveis na amostra é um indicador confiável da
xa WCC, ou vice-versa; altura é relacionada ao peso porque relação entre as respectivas variáveis na população. Especi-
tipicamente indivíduos altos são mais pesados do que indi- ficamente, o nível-p representa a probabilidade de erro en-
víduos baixos; Q.I. está relacionado ao número de erros em volvida em aceitar o resultado observado como válido, isto
um teste se pessoas com Q.I.’s mais altos cometem menos é, como “representativo da população”. Por exemplo, um
erros. nível-p de 0,05 (1/20) indica que há 5% de probabilidade
de que a relação entre as variáveis, encontrada na amostra,
Importância das relações entre variáveis: Geral- seja um “acaso feliz”. Em outras palavras, assumindo que
mente o objetivo principal de toda pesquisa ou análise não haja relação entre aquelas variáveis na população, e o
científica é encontrar relações entre variáveis. A filosofia experimento de interesse seja repetido várias vezes, pode-
da ciência ensina que não há outro meio de representar ria-se esperar que em aproximadamente 20 realizações do
“significado” exceto em termos de relações entre quan- experimento haveria apenas uma em que a relação entre as
tidades ou qualidades, e ambos os casos envolvem rela- variáveis em questão seria igual ou mais forte do que a que
ções entre variáveis. Assim, o avanço da ciência sempre foi observada naquela amostra anterior. Em muitas áreas
tem que envolver a descoberta de novas relações entre de pesquisa, o nível-p de 0,05 é costumeiramente tratado
como um “limite aceitável” de erro.
variáveis. Em pesquisas correlacionais a medida destas
Como determinar que um resultado é “realmente”
relações é feita de forma bastante direta, bem como nas
significante: Não há meio de evitar arbitrariedade na de-
pesquisas experimentais. Por exemplo, o experimento já
cisão final de qual nível de significância será tratado como
mencionado de comparar WCC em homens e mulheres
realmente “significante”. Ou seja, a seleção de um nível de
pode ser descrito como procura de uma correlação en- significância acima do qual os resultados serão rejeitados
tre 2 variáveis: sexo e WCC. A Estatística nada mais faz como inválidos é arbitrária. Na prática, a decisão final de-
do que auxiliar na avaliação de relações entre variáveis. pende usualmente de: se o resultado foi previsto a priori ou
apenas a posteriori no curso de muitas análises e compara-
Aspectos básicos da relação entre variáveis: As duas ções efetuadas no conjunto de dados; no total de evidên-
propriedades formais mais elementares de qualquer rela- cias consistentes do conjunto de dados; e nas “tradições”
ção entre variáveis são a magnitude (“tamanho”) e a con- existentes na área particular de pesquisa. Tipicamente, em
fiabilidade da relação. muitas ciências resultados que atingem nível-p 0,05 são
52
MATEMÁTICA
considerados estatisticamente significantes, mas este nível Há interesse em duas variáveis (sexo: homem, mulher;
ainda envolve uma probabilidade de erro razoável (5%). Re- WCC: alta, baixa) e há apenas quatro sujeitos na amostra
sultados com um nível-p 0,01 são comumente considera- (2 homens e 2 mulheres). A probabilidade de se encontrar,
dos estatisticamente significantes, e com nível-p 0,005 ou puramente por acaso, uma relação de 100% entre as duas
nível-p 0,001 são freqüentemente chamados “altamente” variáveis pode ser tão alta quanto 1/8. Explicando, há uma
significantes. Estas classificações, porém, são convenções chance em oito de que os dois homens tenham alta WCC
arbitrárias e apenas informalmente baseadas em experiên- e que as duas mulheres tenham baixa WCC, ou vice-versa,
cia geral de pesquisa. Uma conseqüência óbvia é que um mesmo que tal relação não exista na população. Agora con-
resultado considerado significante a 0,05, por exemplo, sidere-se a probabilidade de obter tal resultado por acaso
pode não sê-lo a 0,01. se a amostra consistisse de 100 sujeitos: a probabilidade de
obter aquele resultado por acaso seria praticamente zero.
Significância estatística e o número de análises rea- Observando um exemplo mais geral. Imagine-se uma
lizadas: Desnecessário dizer quanto mais análises sejam população teórica em que a média de WCC em homens
realizadas em um conjunto de dados, mais os resultados e mulheres é exatamente a mesma. Supondo um experi-
mento em que se retiram pares de amostras (homens e
atingirão “por acaso” o nível de significância convenciona-
mulheres) de um certo tamanho da população e calcula-se
do. Por exemplo, ao calcular correlações entre dez variáveis
a diferença entre a média de WCC em cada par de amostras
(45 diferentes coeficientes de correlação), seria razoável es-
(supor ainda que o experimento será repetido várias vezes).
perar encontrar por acaso que cerca de dois (um em cada
Na maioria dos experimento os resultados das diferenças
20) coeficientes de correlação são significantes ao nível-p serão próximos de zero. Contudo, de vez em quando, um
0,05, mesmo que os valores das variáveis sejam totalmente par de amostra apresentará uma diferença entre homens
aleatórios, e aquelas variáveis não se correlacionem na po- e mulheres consideravelmente diferente de zero. Com que
pulação. Alguns métodos estatísticos que envolvem muitas freqüência isso acontece? Quanto menor a amostra em
comparações, e portanto uma boa chance para tais erros, cada experimento maior a probabilidade de obter esses
incluem alguma “correção” ou ajuste para o número total resultados errôneos, que, neste caso, indicariam a exis-
de comparações. Entretanto, muitos métodos estatísticos tência de uma relação entre sexo e WCC obtida de uma
(especialmente análises exploratórias simples de dados) população em que tal relação não existe. Observe-se mais
não oferecem nenhum remédio direto para este problema. um exemplo (“razão meninos para meninas”, Nisbett et al.,
Cabe então ao pesquisador avaliar cuidadosamente a con- 1987):
fiabilidade de descobertas não esperadas. Há dois hospitais: no primeiro nascem 120 bebês a
cada dia e no outro apenas 12. Em média a razão de me-
Força X Confiabilidade de uma relação entre va- ninos para meninas nascidos a cada dia em cada hospital
riáveis: Foi dito anteriormente que força (magnitude) e é de 50/50. Contudo, certo dia, em um dos hospitais nas-
confiabilidade são dois aspectos diferentes dos relaciona- ceram duas vezes mais meninas do que meninos. Em que
mentos entre variáveis. Contudo, eles não são totalmente hospital isso provavelmente aconteceu? A resposta é óbvia
independentes. Em geral, em uma amostra de um certo para um estatístico, mas não tão óbvia para os leigos: é
tamanho quanto maior a magnitude da relação entre variá- muito mais provável que tal fato tenha ocorrido no hospi-
veis, mais confiável a relação. tal menor. A razão para isso é que a probabilidade de um
Assumindo que não há relação entre as variáveis na desvio aleatório da média da população aumenta com a
população, o resultado mais provável deveria ser também diminuição do tamanho da amostra (e diminui com o au-
não encontrar relação entre as mesmas variáveis na amos- mento do tamanho da amostra).
tra da pesquisa. Assim, quanto mais forte a relação encon-
trada na amostra menos provável é a não existência da re- Por que pequenas relações podem ser provadas
como significantes apenas por grandes amostras: Os
lação correspondente na população. Então a magnitude e
exemplos dos parágrafos anteriores indicam que se um re-
a significância de uma relação aparentam estar fortemente
lacionamento entre as variáveis em questão (na população)
relacionadas, e seria possível calcular a significância a partir
é pequeno, então não há meio de identificar tal relação em
da magnitude e vice-versa. Entretanto, isso é válido ape-
um estudo a não ser que a amostra seja correspondente-
nas se o tamanho da amostra é mantido constante, por- mente grande. Mesmo que a amostra seja de fato “per-
que uma relação de certa força poderia ser tanto altamente feitamente representativa” da população o efeito não será
significante ou não significante de todo dependendo do estatisticamente significante se a amostra for pequena.
tamanho da amostra. Analogamente, se a relação em questão é muito grande na
Por que a significância de uma relação entre va- população então poderá ser constatada como altamente
riáveis depende do tamanho da amostra: Se há muito significante mesmo em um estudo baseado em uma pe-
poucas observações então há também poucas possibili- quena amostra. Mais um exemplo:
dades de combinação dos valores das variáveis, e então a Se uma moeda é ligeiramente viciada, de tal forma que
probabilidade de obter por acaso uma combinação desses quando lançada é ligeiramente mais provável que ocorram
valores que indique uma forte relação é relativamente alta. caras do que coroas (por exemplo uma proporção 60%
Considere-se o seguinte exemplo: para 40%). Então dez lançamentos não seriam suficientes
53
MATEMÁTICA
para convencer alguém de que a moeda é viciada, mesmo Em uma amostra o índice médio de WCC é igual a 100
que o resultado obtido (6 caras e 4 coroas) seja perfeita- em homens e 102 em mulheres. Assim, poderia-se dizer
mente representativo do viesamento da moeda. Entretan- que, em média, o desvio de cada valor da média de ambos
to, dez lançamentos não são suficientes para provar nada? (101) contém uma componente devida ao sexo do sujeito,
Não, se o efeito em questão for grande o bastante, os dez e o tamanho desta componente é 1. Este valor, em certo
lançamentos serão suficientes. Por exemplo, imagine-se sentido, representa uma medida da relação entre sexo e
que a moeda seja tão viciada que não importe como ve- WCC. Contudo, este valor é uma medida muito pobre, por-
nha a ser lançada o resultado será cara. Se tal moeda fos- que não diz quão relativamente grande é aquela compo-
se lançada dez vezes, e cada lançamento produzisse caras, nente em relação à “diferença global” dos valores de WCC.
muitas pessoas considerariam isso prova suficiente de que Há duas possibilidades extremas: S
há “algo errado” com a moeda. Em outras palavras, seria - Se todos os valore de WCC de homens são exata-
considerada prova convincente de que a população teórica mente iguais a 100 e os das mulheres iguais a 102 então
de um número infinito de lançamentos desta moeda teria todos os desvios da média conjunta na amostra seriam in-
mais caras do que coroas. Assim, se a relação é grande, teiramente causados pelo sexo. Poderia-se dizer que nesta
então poderá ser considerada significante mesmo em uma amostra sexo é perfeitamente correlacionado a WCC, ou
seja, 100% das diferenças observadas entre os sujeitos re-
pequena amostra.
lativas a suas WCC’s devem-se a seu sexo.
- Se todos os valores de WCC estão em um intervalo de
Pode uma “relação inexistente” ser um resultado
0 a 1000, a mesma diferença (de 2) entre a WCC média de
significante: Quanto menor a relação entre as variáveis
homens e mulheres encontrada no estudo seria uma par-
maior o tamanho de amostra necessário para prová-la sig- te tão pequena na diferença global dos valores que muito
nificante. Por exemplo, imagine-se quantos lançamentos provavelmente seria considerada desprezível. Por exemplo,
seriam necessários para provar que uma moeda é viciada um sujeito a mais que fosse considerado poderia mudar,
se seu viesamento for de apenas 0,000001 %! Então, o ta- ou mesmo reverter, a direção da diferença. Portanto, toda
manho mínimo de amostra necessário cresce na mesma boa medida das relações entre variáveis tem que levar em
proporção em que a magnitude do efeito a ser demonstra- conta a diferenciação global dos valores individuais na
do decresce. Quando a magnitude do efeito aproxima-se amostra e avaliar a relação em termos (relativos) de quanto
de zero, o tamanho de amostra necessário para prová-lo desta diferenciação se deve à relação em questão.
aproxima-se do infinito. Isso quer dizer que, se quase não
há relação entre duas variáveis o tamanho da amostra pre- “Formato geral” de muitos testes estatísticos: Como
cisa quase ser igual ao tamanho da população, que teorica- o objetivo principal de muitos testes estatísticos é avaliar
mente é considerado infinitamente grande. A significância relações entre variáveis, muitos desses testes seguem o
estatística representa a probabilidade de que um resultado princípio exposto no item anterior. Tecnicamente, eles re-
similar seja obtido se toda a população fosse testada. As- presentam uma razão de alguma medida da diferenciação
sim, qualquer coisa que fosse encontrada após testar toda comum nas variáveis em análise (devido à sua relação) pela
a população seria, por definição, significante ao mais alto diferenciação global daquelas variáveis. Por exemplo, teria-
nível possível, e isso também inclui todos os resultados de -se uma razão da parte da diferenciação global dos valores
“relação inexistente”. de WCC que podem se dever ao sexo pela diferenciação
global dos valores de WCC. Esta razão é usualmente cha-
Como medir a magnitude (força) das relações en- mada de razão da variação explicada pela variação total.
tre variáveis: Há muitas medidas da magnitude do rela- Em estatística o termo variação explicada não implica ne-
cionamento entre variáveis que foram desenvolvidas por cessariamente que tal variação é “compreendida concei-
estatísticos: a escolha de uma medida específica em dadas tualmente”. O termo é usado apenas para denotar a va-
circunstâncias depende do número de variáveis envolvi- riação comum às variáveis em questão, ou seja, a parte da
variação de uma variável que é “explicada” pelos valores
das, níveis de mensuração usados, natureza das relações,
específicos da outra variável e vice-versa.
etc. Quase todas, porém, seguem um princípio geral: elas
procuram avaliar a relação comparando-a de alguma for-
Como é calculado o nível de significância estatís-
ma com a “máxima relação imaginável” entre aquelas va-
tico: Assuma-se que já tenha sido calculada uma medida
riáveis específicas. Tecnicamente, um modo comum de da relação entre duas variáveis (como explicado acima). A
realizar tais avaliações é observar quão diferenciados são próxima questão é “quão significante é esta relação”? Por
os valores das variáveis, e então calcular qual parte des- exemplo, 40% da variação global ser explicada pela relação
ta “diferença global disponível” seria detectada na ocasião entre duas variáveis é suficiente para considerar a relação
se aquela diferença fosse “comum” (fosse apenas devida à significante? “Depende”. Especificamente, a significância
relação entre as variáveis) nas duas (ou mais) variáveis em depende principalmente do tamanho da amostra. Como já
questão. Falando menos tecnicamente, compara-se “o que foi explicado, em amostras muito grandes mesmo relações
é comum naquelas variáveis” com “o que potencialmente muito pequenas entre variáveis serão significantes, en-
poderia haver em comum se as variáveis fossem perfeita- quanto que em amostras muito pequenas mesmo relações
mente relacionadas”. Outro exemplo: muito grandes não poderão ser consideradas confiáveis
54
MATEMÁTICA
(significantes). Assim, para determinar o nível de significân- tamanho da amostra é grande o bastante, os resultados
cia estatística torna-se necessária uma função que repre- de tais repetições são “normalmente distribuídos”, e assim,
sente o relacionamento entre “magnitude” e “significância” conhecendo a forma da curva normal pode-se calcular pre-
das relações entre duas variáveis, dependendo do tama- cisamente a probabilidade de obter “por acaso” resultados
nho da amostra. Tal função diria exatamente “quão prová- representando vários níveis de desvio da hipotética média
vel é obter uma relação de dada magnitude (ou maior) de populacional 0 (zero). Se tal probabilidade calculada é tão
uma amostra de dado tamanho, assumindo que não há tal pequena que satisfaz ao critério previamente aceito de sig-
relação entre aquelas variáveis na população”. Em outras nificância estatística, então pode-se concluir que o resul-
palavras, aquela função forneceria o nível de significância tado obtido produz uma melhor aproximação do que está
(nível-p), e isso permitiria conhecer a probabilidade de erro acontecendo na população do que a “hipótese nula”. Lem-
envolvida em rejeitar a idéia de que a relação em ques- brando ainda que a hipótese nula foi considerada apenas
tão não existe na população. Esta hipótese “alternativa” (de por “razões técnicas” como uma referência contra a qual o
que não há relação na população) é usualmente chamada resultado empírico (dos experimentos) foi avaliado.
de hipótese nula. Seria ideal se a função de probabilidade
fosse linear, e por exemplo, apenas tivesse diferentes incli- Todos os testes estatísticos são normalmente dis-
nações para diferentes tamanhos de amostra. Infelizmente, tribuídos: Não todos, mas muitos são ou baseados na
a função é mais complexa, e não é sempre exatamente a distribuição normal diretamente ou em distribuições a ela
mesma. Entretanto, em muitos casos, sua forma é conhe- relacionadas, e que podem ser derivadas da normal, como
cida e isso pode ser usado para determinar os níveis de as distribuições t, F ou Chi-quadrado (Qui-quadrado). Tipi-
significância para os resultados obtidos em amostras de camente, estes testes requerem que as variáveis analisadas
certo tamanho. Muitas daquelas funções são relacionadas sejam normalmente distribuídas na população, ou seja, que
a um tipo geral de função que é chamada de normal (ou elas atendam à “suposição de normalidade”. Muitas variá-
gaussiana). veis observadas realmente são normalmente distribuídas,
o que é outra razão por que a distribuição normal repre-
Por que a distribuição normal é importante: A “dis- senta uma “característica geral” da realidade empírica. O
tribuição normal” é importante porque em muitos casos problema pode surgir quando se tenta usar um teste ba-
ela se aproxima bem da função introduzida no item ante- seado na distribuição normal para analisar dados de variá-
rior. A distribuição de muitas estatísticas de teste é normal veis que não são normalmente distribuídas. Em tais casos
ou segue alguma forma que pode ser derivada da distribui- há duas opções. Primeiramente, pode-se usar algum teste
ção normal. Neste sentido, filosoficamente, a distribuição “não paramétrico” alternativo (ou teste “livre de distribui-
normal representa uma das elementares “verdades acerca ção”); mas isso é freqüentemente inconveniente porque
da natureza geral da realidade”, verificada empiricamente, tais testes são tipicamente menos poderosos e menos fle-
e seu status pode ser comparado a uma das leis funda- xíveis em termos dos tipos de conclusões que eles podem
mentais das ciências naturais. A forma exata da distribuição proporcionar. Alternativamente, em muitos casos ainda
normal (a característica “curva do sino”) é definida por uma se pode usar um teste baseado na distribuição normal se
função que tem apenas dois parâmetros: média e desvio apenas houver certeza de que o tamanho das amostras é
padrão. suficientemente grande. Esta última opção é baseada em
Uma propriedade característica da distribuição normal um princípio extremamente importante que é largamente
é que 68% de todas as suas observações caem dentro de responsável pela popularidade dos testes baseados na dis-
um intervalo de 1 desvio padrão da média, um intervalo de tribuição normal. Nominalmente, quanto mais o tamanho
2 desvios padrões inclui 95% dos valores, e 99% das obser- da amostra aumente, mais a forma da distribuição amos-
vações caem dentro de um intervalo de 3 desvios padrões tral (a distribuição de uma estatística da amostra) da média
da média. Em outras palavras, em uma distribuição normal aproxima-se da forma da normal, mesmo que a distribui-
as observações que tem um valor padronizado de menos ção da variável em questão não seja normal. Este princípio
do que -2 ou mais do que +2 tem uma freqüência relativa é chamado de Teorema Central do Limite.
de 5% ou menos (valor padronizado significa que um valor
é expresso em termos de sua diferença em relação à média, Como se conhece as consequências de violar a supo-
dividida pelo desvio padrão). sição de normalidade: Embora muitas das declarações fei-
Ilustração de como a distribuição normal é usada tas anteriormente possam ser provadas matematicamente,
em raciocínio estatístico (indução): Retomando o exem- algumas não têm provas teóricas e podem demonstradas
plo já discutido, onde pares de amostras de homens e mu- apenas empiricamente via experimentos Monte Carlo (si-
lheres foram retirados de uma população em que o valor mulações usando geração aleatória de números). Nestes
médio de WCC em homens e mulheres era exatamente o experimentos grandes números de amostras são geradas
mesmo. Embora o resultado mais provável para tais expe- por um computador seguindo especificações pré-designa-
rimentos (um par de amostras por experimento) é que a das e os resultados de tais amostras são analisados usando
diferença entre a WCC média em homens e mulheres em uma grande variedade de testes. Este é o modo empírico
cada par seja próxima de zero, de vez em quando um par de avaliar o tipo e magnitude dos erros ou viesamentos a
de amostras apresentará uma diferença substancialmente que se expõe o pesquisador quando certas suposições teó-
diferente de zero. Quão freqüentemente isso ocorre? Se o ricas dos testes usados não são verificadas nos dados sob
55
MATEMÁTICA
P1 . x + P2 . x + P3 . x + ... + Pn . x =
= P1 . x1 + P2 . x2 + P3 . x3 + ... + Pn . xn
(P1 + P2 + P3 + ... + Pn) . x =
= P1 . x1 + P2 . x2 + P3 . x3 + ... + Pn . xn e, portanto,
56
MATEMÁTICA
Observe que se P1 = P2 = P3 = ... = Pn = 1, então: 9. Determine a média salarial de uma empresa, cuja fo-
x1; x2 ; x3;...; xn que é a média aritmética simples. lha de pagamento é assim discriminada:
x=
n
Profissionais → Quantidade → Salário
Conclusão
Serventes → 20 profissionais → R$ 320,00
A média aritmética ponderada dos n elementos do Técnicos → 10 profissionais → R$ 840,00
conjunto numérico A é a soma dos produtos de cada Engenheiros → 5 profissionais → R$ 1.600,00
elemento multiplicado pelo respectivo peso, dividida pela
soma dos pesos. 10. Calcule a média ponderada entre 5, 10 e 15 para os
respectivos pesos 10, 5 e 20.
Exemplo
57
MATEMÁTICA
Exemplo
9) Resposta “ ≅ R$651, 43 ”
Solução: Estamos diante de um problema de média Digamos que uma categoria de operários tenha um
aritmética ponderada, onde as quantidades de profissio- aumento salarial de 20% após um mês, 12% após dois me-
nais serão os pesos. E com isso calcularemos a média pon- ses e 7% após três meses. Qual o percentual médio mensal
derada entre R$ 320,00 , R$ 840,00 e R$ 1 600,00 e seus de aumento desta categoria?
respectivos pesos 20 , 10 e 5. Portanto:
Sabemos que para acumularmos um aumento
320.20 + 840.10 + 1600.5 22.800
MP = = ≅ R$651, 43 de 20%, 12% e 7% sobre o valor de um salário, devemos
20 + 10 + 5 35 multiplicá-lo sucessivamente por 1,2, 1,12 e 1,07 que são
os fatores correspondentes a tais percentuais.
A partir dai podemos calcular a média geométrica
10) Resposta “11,42”. destes fatores:
Solução: 3
1,2.1,12.1,07 ⇒ 3 1, 43808 ⇒ 1,128741
5.10 + 10.5 + 15.20 50 + 50 + 300 400
MP = = = = 11, 42
10 + 5 + 20 35 35 Como sabemos, um fator de 1, 128741 corresponde
a 12, 8741% de aumento.
58
MATEMÁTICA
59
MATEMÁTICA
4. A média geométrica entre 3 números é 4. Quanto Se não dispusermos de uma calculadora científica esta
devo multiplicar um desses números para que a média solução ficaria meio inviável, pois como iríamos extrair tal
aumente 2 unidades ? raiz, isto sem contar na dificuldade em realizarmos as mul-
5. Qual é a média geométrica dos núme- tiplicações?
ros 2, 4, 8, 16 e 32? Repare que todos os números são potência de 2, po-
demos então escrever:
6. Dados dois números quaisquer, a média aritmética
simples e a média geométrica deles são respectivamente
5
2.4.8.16.32 ⇒ 5 2.2 2.2 3.2 4.2 5
20 e 20,5. Quais são estes dois números?
Como dentro do radical temos um produto de potên-
7. A média geométrica entre dois números é igual a 6. cias de mesma base, somando-se os expoentes temos:
Se a eles juntarmos o número 48, qual será a média geo-
métrica entre estes três números?
5
2.2 2.2 3.2 4.2 5 ⇒ 5 215
Observação: O termo média proporcional deve ser, Vamos isolar a na primeira equação:
apenas, utilizado para a média geométrica entre dois nú-
a+b
meros. = 20,5 ⇒ a + b = 20,5.2 ⇒ a = 41− b
2
3) Resposta “6”.
Solução: Aplicando a relação: g2 = a.h, teremos: Agora para que possamos solucionar a segunda equa-
ção, é necessário que fiquemos com apenas uma variável
g2 = 4.9 → g2 = 36 → g = 6 → MG. (4, 9) = 6. na mesma. Para conseguirmos isto iremos substituir a por
27 41 - b:
4) Resposta “ ”
( ) = 20
2
8 a.b = 20 ⇒ (41− b).b = 20 ⇒ 41b − b 2 2
60
MATEMÁTICA
O número b pode assumir, portanto os valores 16 e 25. Mediana: é o valor que tem tantos dados antes dele,
É de se esperar, portanto que quando b for igual a 16, como depois dele. Para se medir a mediana, os valores de-
que a seja igual a 25 e quando b for igual a 25, que a seja vem estar por ordem crescente ou decrescente. No caso do
igual a 16. Vamos conferir. número de dados ser ímpar, existe um e só um valor central
Sabemos que a = 41 - b, portanto atribuindo a b um de que é a mediana. Se o número de dados é par, toma-se a
seus possíveis valores, iremos encontrar o valor de a. média aritmética dos dois valores centrais para a mediana.
É uma medida de localização do centro da distribui-
Para b = 16 temos: ção dos dados, definida do seguinte modo: Ordenados os
elementos da amostra, a mediana é o valor (pertencente
a = 41 - b ⇒ 41 - 16 ⇒ a = 25 ou não à amostra) que a divide ao meio, isto é, 50% dos
elementos da amostra são menores ou iguais à mediana e
Para b = 25 temos: os outros 50% são maiores ou iguais à mediana.
Para a sua determinação utiliza-se a seguinte regra, de-
a = 41 - b ⇒ a = 41 - 25 ⇒ a = 16 pois de ordenada a amostra de n elementos: Se n é ímpar,
a mediana é o elemento médio. Se n é par, a mediana é a
Logo, os dois números são 16, 25. semi-soma dos dois elementos médios.
A mediana, m, é uma medida de localização do centro
7) Resposta “12”. da distribuição dos dados, definida do seguinte modo:
Solução: Se chamarmos de P o produto destes dois Ordenados os elementos da amostra, a mediana é o va-
números, a partir do que foi dito no enunciado podemos lor (pertencente ou não à amostra) que a divide ao meio, isto
montar a seguinte equação: é, 50% dos elementos da amostra são menores ou iguais à
mediana e os outros 50% são maiores ou iguais à mediana.
P =6 Para a sua determinação utiliza-se a seguinte regra, de-
pois de ordenada a amostra de n elementos:
Elevando ambos os membros desta equação ao qua- - Se n é ímpar, a mediana é o elemento médio.
drado, iremos obter o valor numérico do produto destes - Se n é par, a mediana é a semi-soma dos dois ele-
dois números: mentos médios.
2
P = 6 ⇒ ( P) = 6 2 ⇒ P = 36
Se se representarem os elementos da amostra orde-
nada com a seguinte notação: X1:n, X2:n, ..., Xn:n; então uma
Agora que sabemos que o produto de um número pelo expressão para o cálculo da mediana será:
outro é igual 36, resta-nos multiplicá-lo por 48 e extraímos
a raiz cúbica deste novo produto para encontrarmos a mé-
dia desejada:
9) Resposta “9”.
Solução: G = 4 3.3.9.81 = 9
Admitamos que uma das notas de 10 foi substituída
por uma de 18. Neste caso a mediana continuaria a ser
10) Resposta “6”.
igual a 11, enquanto que a média subiria para 11.75.
Solução: G = 5 1.1.1.32.243 = 6
61
MATEMÁTICA
Média e Mediana: Se se representarmos os elementos Assim, não se pode dizer em termos absolutos qual
da amostra ordenada com a seguinte notação: X1:n, X2:n, destas medidas de localização é preferível, dependendo do
..., Xn: “n” então uma expressão para o cálculo da mediana contexto em que estão a ser utilizadas.
será: Exemplo: Os salários dos 160 empregados de uma
determinada empresa, distribuem-se de acordo com a se-
Como medida de localização, a mediana é mais robus- guinte tabela de frequências:
ta do que a média, pois não é tão sensível aos dados. Salário (em euros) 75 100 145 200 400 1700
- Quando a distribuição é simétrica, a média e a me-
diana coincidem. Frequência absoluta 23 58 50 20 7 2
- A mediana não é tão sensível, como a média, às ob- Frequência acumulada 23 81 131 151 158 160
servações que são muito maiores ou muito menores do
que as restantes (outliers). Por outro lado a média reflete o Calcular a média e a mediana e comentar os resulta-
valor de todas as observações. dos obtidos.
A média ao contrário da mediana, é uma medida muito Resolução: = = (75.23+100.58+...+400.7+1700.2)/16
influenciada por valores “muito grandes” ou “muito peque- 0 = 156,10
nos”, mesmo que estes valores surjam em pequeno núme- Resolução: euros. m = semi-soma dos elementos de
ro na amostra. Estes valores são os responsáveis pela má ordem 80 e 81 = 100 euros.
utilização da média em muitas situações em que teria mais Comentário: O fato de termos obtido uma média de
significado utilizar a mediana. 156,10 e uma mediana de 100, é reflexo do fato de exis-
A partir do exposto, deduzimos que se a distribuição tirem alguns, embora poucos, salários muito altos, relati-
dos dados: vamente aos restantes. Repare-se que, numa perspectiva
- for aproximadamente simétrica, a média aproxima-se social, a mediana é uma característica mais importante do
da mediana. que a média. Na realidade 50% dos trabalhadores têm sa-
- for enviesada para a direita (alguns valores grandes lário menor ou igual a 100 €, embora a média de 156,10 €
como “outliers”), a média tende a ser maior que a mediana. não transmita essa ideia.
- for enviesada para a esquerda (alguns valores peque-
nos como “outliers”), a média tende a ser inferior à media- Vejamos de uma outra forma: Sabes, quando a dis-
na. tribuição dos dados é simétrica ou aproximadamente si-
métrica, as medidas de localização do centro da amostra
(média e mediana) coincidem ou são muito semelhantes.
O mesmo não se passa quando a distribuição dos dados
é assimétrica, fato que se prende com a pouca resistência
da média.
Representando as distribuições dos dados (esta obser-
vação é válida para as representações gráficas na forma de
diagramas de barras ou de histograma) na forma de uma
mancha, temos, de um modo geral:
62
MATEMÁTICA
Esta medida é especialmente útil para reduzir a infor- b) Um aluno com 61 kg pode ser considerado um pou-
mação de um conjunto de dados qualitativos, apresenta- co “forte”, pois naquela turma só 25% dos alunos é que
dos sob a forma de nomes ou categorias, para os quais não têm peso maior ou igual a 60.5 kg.
se pode calcular a média e por vezes a mediana (se não
forem susceptíveis de ordenação). Escalas – Tabelas – Gráficos
Diagramas de Barras
Qp =
52 56 62 54 52 51 60 61 56 55 56 54 57 67 61 49
63
MATEMÁTICA
64
MATEMÁTICA
Gráfico de Ogiva:
Apresenta uma distribuição de frequências acumula-
das, utiliza uma poligonal ascendente utilizando os pontos
extremos.
65
MATEMÁTICA
9! 9 ∙ 8 ∙ 7 ∙ 6 ∙ 5! _______
!!,! = = = 126 P5.4.3.2.1 A=120
5! 4! 5! ∙ 24
! 120.2(letras E e U)=240
2. (PREF. LAGOA DA CONFUSÃO/TO – ORIENTADOR 360.4=1440 (serão 4 tipos por ter 4 consoantes)
SOCIAL – IDECAN/2013) Renato é mais velho que Jorge de
forma que a razão entre o número de anagramas de seus RESPOSTA: “C”.
nomes representa a diferença entre suas idades. Se Jorge 5. (PM/SP – CABO – CETRO/2012) Assinale a alter-
nativa que apresenta o número de anagramas da palavra
tem 20 anos, a idade de Renato é
QUARTEL que começam com AR.
A) 24.
A) 80.
B) 25.
B) 120.
C) 26.
C) 240.
D) 27.
D) 720.
E) 28.
AR_ _ _ _ _
Anagramas de RENATO
5 ⋅ 4 ⋅ 3 ⋅ 2 ⋅ 1=120
______
6.5.4.3.2.1=720
RESPOSTA: “B”.
Anagramas de JORGE 6. (PM/SP – CABO – CETRO/2012) Uma lei de certo
_____ país determinou que as placas das viaturas de polícia de-
5.4.3.2.1=120 720 veriam ter 3 algarismos seguidos de 4 letras do alfabeto
Razão dos anagramas: = 6! grego (24 letras).
120
Sendo assim, o número de placas diferentes será igual
Se Jorge tem 20 anos, Renato tem 20+6=26 anos a
A) 175.760.000.
RESPOSTA: “C”. B) 183.617.280.
C) 331.776.000.
3. (PREF. NEPOMUCENO/MG – PORTEIRO – CON- D) 358.800.000.
SULPLAN/2013) Uma dona de casa troca a toalha de rosto
do banheiro diariamente e só volta a repeti-la depois que Algarismos possíveis: 0,1,2,3,4,5,6,7,8,9=10 algarismos
já tiver utilizado todas as toalhas. Sabe-se que a dona de _ _ _ _ _ _ _
casa dispõe de 8 toalhas diferentes. De quantas maneiras 10 ⋅ 10 ⋅ 10 ⋅ 24 ⋅ 24 ⋅ 24 ⋅ 24=331.776.000
ela pode ter utilizado as toalhas nos primeiros 5 dias de
um mês? RESPOSTA: “C”.
A) 4650.
B) 5180. 7. (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMI-
C) 5460. NISTRATIVO – FCC/2014) São lançados dois dados e mul-
D) 6720. tiplicados os números de pontos obtidos em cada um de-
E) 7260. les. A quantidade de produtos distintos que se pode obter
nesse processo é
66
MATEMÁTICA
67
MATEMÁTICA
3ª possibilidade:3 ventiladores e 3 lâmpadas A P3 deve ser feita, pois os processos tem que ficar jun-
!! tos, mas não falam em que ordem podendo ser de qual-
!!,! = =1 quer juiz antes.
!!!!
Portanto pode haver permutação entre eles.
!!
!!,! = !!!! = 4
RESPOSTA: “E”.
68
MATEMÁTICA
69
MATEMÁTICA
APENAS 8 se inscreveram em saúde e saneamento bá- 23. (METRÔ/SP – OFICIAL LOGISTICA –ALMOXARI-
sico. FADO I – FCC/2014) O diagrama indica a distribuição de
São 30 vereadores que se inscreveram nessas 3 comis- atletas da delegação de um país nos jogos universitários
sões, pois 13 dos 43 não se inscreveram. por medalha conquistada. Sabe-se que esse país conquis-
Portanto, 30-7-12-8=3 tou medalhas apenas em modalidades individuais. Sabe-se
Se inscreveram em educação e saneamento 3 verea- ainda que cada atleta da delegação desse país que ganhou
dores. uma ou mais medalhas não ganhou mais de uma meda-
lha do mesmo tipo (ouro, prata, bronze). De acordo com o
diagrama, por exemplo, 2 atletas da delegação desse país
ganharam, cada um, apenas uma medalha de ouro.
70
MATEMÁTICA
25. (PREF. CAMAÇARI/BA – TÉC. VIGILÂNCIA EM SAÚDE − 20 sócios simpatizam apenas com a pessoa A.
NM – AOCP/2014) Considere dois conjuntos A e B, sabendo − 40 sócios simpatizam apenas com a pessoa B.
que ! ∩ ! = {!}, ! ∪ ! = {!; !; !; !; !}!!!! − ! = {!; !},!! − 30 sócios simpatizam apenas com a pessoa C.
assinale a alternativa que apresenta o conjunto B. − 10 sócios simpatizam com as pessoas A, B e C.
A) {1;2;3}
B) {0;3} A quantidade de sócios que simpatizam com pelo
C) {0;1;2;3;5} menos duas destas pessoas é
D) {3;5} A) 20.
E) {0;3;5} B) 30.
C) 40.
A intersecção dos dois conjuntos, mostra que 3 é elemento D) 50.
de B. E) 60.
A-B são os elementos que tem em A e não em B.
Então de A ∪ B, tiramos que B={0;3;5}.
RESPOSTA: “E”.
RESPOSTA: “A”.
71
MATEMÁTICA
26+7+38+x=100
x=100-71
x=29%
RESPOSTA: “D”.
29. (METRÔ/SP – ENGENHEIRO SEGURANÇA DO TRA-
BALHO – FCC/2014) Uma pesquisa, com 200 pessoas, in-
vestigou como eram utilizadas as três linhas: A, B e C do
Metrô de uma cidade. Verificou-se que 92 pessoas utilizam
a linha A; 94 pessoas utilizam a linha B e 110 pessoas utili-
zam a linha C. Utilizam as linhas A e B um total de 38 pes- 16-x+x+15-x+3=24
soas, as linhas A e C um total de 42 pessoas e as linhas B e -x=24-34
C um total de 60 pessoas; 26 pessoas que não se utilizam X=10
dessas linhas. Desta maneira, conclui-se corretamente que
o número de entrevistados que utilizam as linhas A e B e RESPOSTA: “A”.
C é igual a
A) 50. 31. (TJ/RS – OFICIAL DE TRANSPORTE – CETRO/2013)
B) 26. Dados os conjuntos A = {x | x é vogal da palavra CARRO}
C) 56. e B = {x | x é letra da palavra CAMINHO}, é correto afirmar
D) 10. que A∩ B tem
E) 18. A) 1 elemento.
B) 2 elementos.
C) 3 elementos.
D) 4 elementos.
E) 5 elementos.
RESPOSTA: “B”.
72
MATEMÁTICA
RESPOSTA: “D”.
73
MATEMÁTICA
C)
D)
RESPOSTA: “E”.
RESPOSTA: “E”.
74
MATEMÁTICA
Lembrando que a “abertura” do sinal ⊃ , sempre vai 42. (INES – TÉCNICO EM CONTABILIDADE – MAGNUS
CONCURSOS/2014) Numa biblioteca são lidos apenas dois
estar para o conjunto maior.
livros, K e Z. 80% dos seus frequentadores leem o livro K e
Alternativa A-errada ,pois está falando que o conjunto
60% o livro Z. Sabendo-se que todo frequentador é leitor
A está dentro do B
de pelo menos um dos livros, a opção que corresponde
B-símbolo de união coloca todos os números
ao percentual de frequentadores que leem ambos, é re-
C-mesma coisa que a alternativa B
presentado:
D- A ⊃ B, mas A ⊂ C A) 26%
RESPOSTA: “E”. B) 40%
C) 34%
40. (CODESP – AUXILIAR DE ENFERMAGEM – CON- D) 78%
SULPLAN/2012) Sejam os conjuntos A = {2, 4, 6, 7, x, 11, E) 38%
12, 15, 18}, B = {4, 5, 7, 8, 9, 11, y, 14, 15, 16} e C = {4, 6, 9,
10, 11, 12, 13, z, 17}, cujos elementos estão dispostos em
ordem crescente. Se a interseção desses 3 conjuntos possui
5 elementos, então a soma de x, y e z é
A)29.
B)40.
C)34.
D)51.
E)36.
A∩B∩C={4,11}
Agora, precisamos descobrir os valores de x,y,z para sa-
ber quais são os outros 3 elementos da interseção
Como os números estão em ordem crescente: 80-x+x+60-x=100
X=9, para poder ser outro elemento da interseção. -x=100-140
Y=12 X=40%
Z=15
A∩B∩C={4,9,11,12,15} RESPOSTA: “B”.
Soma:x+y+z=9+12+15=36
RESPOSTA: “E”. 43. (INES – TÉCNICO EM CONTABILIDADE – MAGNUS
CONCURSOS/2014) Numa recepção, foram servidos os sal-
41. (ALMT – EDITOR GRÁFICO – FGV/2013) De um gru- gados pastel e casulo. Nessa, estavam presentes 10 pes-
po de 30 jogadores do futebol mato-grossense, 24 chutam soas, das quais 5 comeram pastel, 7 comeram casulo e 3
com a perna direita e 10 chutam com a perna esquerda. comeram as duas. Quantas pessoas não comeram nenhum
Desse grupo de 30 jogadores, a quantidade daqueles dos dois salgados?
que chutam somente com a perna esquerda é A) 0
A) 3. B) 5
B) 4. C) 1
C) 5. D) 3
D) 6. E) 2
E) 7.
2+3+4+x=10
X=10-9
10-x+x+24-x=30 X=1
-x=30-34
X=4 RESPOSTA: “C”.
Esqueda:10-x=10-4=6
RESPOSTA: “D”.
75
MATEMÁTICA
3X-X+X+4X-X+X/2=520
6,5X=520
X=80
RESPOSTA: “B”.
45. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁ- Um shopping recebeu nota 8 para “estacionamento” e
RIA DE CLASSE I – VUNESP/2013) Em uma seção de uma “preços” e nota 7 para os demais critérios. Logo, a média
empresa com 20 funcionários, a distribuição dos salários final atingida por esse shopping foi
mensais, segundo os cargos que ocupam, é a seguinte: A) 7,5.
B) 7,6.
C) 7,7.
D) 7,8.
E) 7,9.
8∙3+8∙2+7∙3+7∙2
= 7,5
10
!
Sabendo-se que o salário médio desses funcionários é RESPOSTA: “A”.
de R$ 1.490,00, pode-se concluir que o salário de cada um
dos dois gerentes é de
A) R$ 2.900,00. 47. (SEED/SP – ANALISTA ADMINISTRATIVO – VU-
B) R$ 4.200,00. NESP/2013) Em certo departamento, trabalham homens e
C) R$ 2.100,00. mulheres, sendo que nesse grupo há 10 homens a mais
D) R$ 1.900,00. que o número de mulheres. A média salarial desse depar-
E) R$ 3.400,00. tamento é de R$ 3.800,00. Entretanto, calculando separa-
damente, verifica-se que a média salarial dos homens é de
R$ 4.000,00, enquanto a média salarial das mulheres é de
R$ 3.500,00. O número de homens que trabalham nesse
departamento é igual a
76
MATEMÁTICA
x2+x3+x4=9000
!"!!"
= 3800 !!!!!! + !! + !! + !! + !! = 4000 + 12000 = 16000!
!!!!!"
Sendo x1 e x5 o menor e o maior salário respectiva-
!"!!" mente:
= 3800
!!!!"
!! + 9000 + !! = 16000
7600! + 38000 = !" + !" !!! + !! = 16000 − 9000 = 7000
! !
Então, a média aritmética:
Substituindo SH e SM:
7600x+38000=4000x+40000+3500x ! ! !! ! !"""
100x=2000 = = 3500
! !
X=20 !
Homens:x+10=20+10=30
RESPOSTA: “A”.
RESPOSTA: “C”.
77
MATEMÁTICA
78
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
I - Direitos Humanos............................................................................................................................................................................................... 01
II - Estatuto da Criança e Adolescente............................................................................................................................................................. 16
III - Diretrizes Nacionais para a educação em direitos humanos........................................................................................................... 54
IV - Programa Nacional Direitos Humanos.................................................................................................................................................... 56
V - Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos.........................................................................................................................137
VI - Direitos das Mulheres...................................................................................................................................................................................149
VII - A Educação Escolar Quilombola no Brasil...........................................................................................................................................170
VIII - A organização e Funcionamento da Educação Escolar Quilombola no Estado de Minas Gerais................................184
IX - A Educação das Relações Étnico-Raciais no Brasil............................................................................................................................188
X - A Educação das Relações Étnico-Raciais e a Década Internacional dos Povos Afrodescendentes.................................197
XI - Diretrizes para a Educação Básica nas escolas do campo em Minas Gerais...........................................................................201
XII - Diretrizes Operacionais Básicas para a Educação Básica nas escolas do campo.................................................................205
XIII - Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica........................................................208
XIV - Organização e o funcionamento do ensino nas Escolas Estaduais de Educação Básica de Minas Gerais...............212
XV - O Currículo na perspectiva da inclusão, da diversidade e do direito à aprendizagem.....................................................224
XVI - Projeto Político-Pedagógico e a estreita relação com o Plano de Ensino, o Plano de Aula e a gestão da sala de
aula...............................................................................................................................................................................................................................242
XVII - A organização do trabalho pedagógico e a interdisciplinaridade..........................................................................................255
XVIII - A avaliação da aprendizagem na perspectiva de um Currículo Inclusivo...........................................................................259
XIX - A política da Educação Integral e Integrada garantindo a formação humana e o desenvolvimento integral dos
estudantes.................................................................................................................................................................................................................263
XX - Educação Especial Inclusiva: possibilidades e desafios..................................................................................................................270
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
1
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 13 Como os direitos humanos e liberdades funda- Por fim, a Conferência de Viena confirmou a universa-
mentais são indivisíveis, a plena realização dos direitos civis lidade, a indivisibilidade, a interdependência e a inter-re-
e políticos sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e cul- lação dos direitos civis e dos direitos econômicos, sociais,
turais é impossível. O alcance de progresso duradouro na culturais e ambientais. Como característica dos direitos hu-
implementação dos direitos humanos depende de políticas manos, a universalidade obriga Estado e sociedade a res-
nacionais e internacionais saudáveis e eficazes de desenvol- peitarem esses direitos sem qualquer restrição, indepen-
vimento econômico e social; dentemente de nacionalidade, raça, sexo, credo ou con-
Diferente da Conferência de Teerã (1968), a Conferên- vicção política, religiosa e/ou filosófica. A indivisibilidade
cia Mundial sobre os Direitos Humanos de 1993, também implica na unidade de todos os direitos, o que na prática
conhecida como Conferência de Viena, apresenta um do- significa que a violação de qualquer direito gera violações
cumento final que propõe programas de proteção aos di- de numerosos outros e que qualquer contraposição entre
reitos humanos, haja vista que os processos de normatiza- direitos civis e políticos e direitos econômicos, sociais e cul-
turais é artificial. A interdependência, por sua vez, pressu-
ção foram considerados resolvidos no âmbito do direito
põe interatividade entre direitos: a não realização do direi-
internacional em instrumentos internacionais vigentes.
to à Educação pode comprometer o exercício dos direitos
Os avanços assumidos pelas Nações Unidas como não
à liberdade, à moradia e à alimentação adequada, entre
negociáveis e que fundamentam seus programas atuais fo-
outros.
ram: Podem-se ainda citar outras características dos direitos
a) a universalidade dos direitos humanos; humanos, apresentadas por Lima Junior (2000): a inviola-
b) a legitimidade do sistema internacional de proteção bilidade estabelece que os direitos humanos não podem ser
aos direitos humanos; desrespeitados, sob pena de responsabilidades civis, penais
c) o direito ao desenvolvimento; e administrativas; a irrenunciabilidade significa que direitos
d) o direito à autodeterminação; como a vida, a liberdade, a dignidade e a intimidade não
e) o estabelecimento da inter-relação entre democracia, podem ser objeto de renúncia por seus titulares; a imprescri-
desenvolvimento e direitos humanos. tibilidade refere-se ao fato de que o decurso do tempo não
Seguindo a recomendação da Declaração e Programa pode elidir os direitos humanos, como no caso de crimes de
de Ação de Viena, o Governo Federal brasileiro lançou em racismo ou tortura, por exemplo; a inalienabilidade signifi-
maio de 1996 o Programa Nacional de Direitos Humanos ca que a pessoa não pode transferir qualquer um dos seus
(PNDH), que visava sistematizar as demandas da socieda- direitos; e a efetividade impõe a materialização dos diretos
de brasileira com relação à proteção e promoção de di- humanos – que não precisam ser realizados para existirem.
reitos humanos e identificar alternativas para a solução de Sarmento (2013) complementa o conceito de direitos
problemas estruturais, subsidiando a formulação e imple- humanos ao dizer que são ações subjetivas para assegurar
mentação de políticas públicas orientadas para a garantia e a dignidade da pessoa nas dimensões de liberdade, igual-
promoção desses direitos. dade e solidariedade. Dessa forma, entende que os direitos
Em 15 de dezembro de 1998, a Organização das Na- humanos se interligam a questões políticas, já que falam
ções Unidas assinou a Resolução 53/198, relativa à aplica- em liberdade, igualdade e solidariedade.
ção da Primeira Década das Nações Unidas para a Erradi- Ainda no mesmo raciocínio, Dornelles (2006) aponta
cação da Pobreza (1997-2006), em que estabeleceu dois que Direitos Humanos é um movimento ideológico e que
objetivos: erradicar a pobreza absoluta e reduzir considera- esses direitos só se tornaram fundamentais – isto é, indis-
velmente a pobreza geral do mundo. Ainda que sejam di- pensáveis, imprescritíveis – a partir de sua normatização
ferentes quanto ao seu grau, os dois tipos de pobreza têm como força de lei. O direito inerente à pessoa humana tor-
nou-se direito fundamental de acordo com a evolução do
consequências igualmente danosas – precisando, portanto,
entendimento da sociedade ao longo dos tempos e através
de tratamento igual para serem erradicadas.
de suas constituições.
A Conferência de Viena, em seu informe final, reafir-
Esse marco conceitual contribui para atingir os Objeti-
mou que a existência da pobreza inibia o desfrute pleno e
vos do Milênio ao definir com maior precisão as obrigações
efetivo dos direitos humanos e constituía violação da dig- do Estado frente aos direitos humanos nas estratégias de
nidade da pessoa humana. A partir de tal visão, a Organi- programas e projetos de desenvolvimento. Para entender o
zação das Nações Unidas incorporou a Declaração sobre que significa o enfoque dos direitos humanos, entretanto,
os Objetivos do Milênio e passou a recomendar a adoção faz-se necessário compreender a diferença entre direitos e
do enfoque dos direitos humanos nos projetos de desen- necessidades. Um direito é algo que é inerente à pessoa e
volvimento – estabelecendo, na prática, que as atividades que lhe permite viver com dignidade. Uma necessidade é
de cooperação entre os países-membros devem priorizar a uma aspiração que pode ou não ser reconhecida pelo Es-
defesa dos direitos humanos. Nesse sentido, um dos princi- tado, por legítima que seja. Um direito pode ser reclamado
pias mecanismos é colocar como marco conceitual das es- perante a lei, pois há uma obrigação do Estado de provê-lo.
tratégias de desenvolvimento garantias de igual tratamen- Uma necessidade não tem respaldo jurídico, portanto não
to a toda população, de igualdade e de não discriminação, existem mecanismos legais que garantam a sua satisfação.
e de participação e outorga do poder a todos os setores, Os direitos estão associados ao “ser”, enquanto as necessi-
principalmente aos grupos vulneráveis. dades estão associadas ao “ter”.
2
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Na prática, o enfoque dos direitos humanos nas políti- de não ser legítimo ou ético – atenta contra a perspectiva
cas e estratégias de desenvolvimento implica a garantia de de direitos. Neste contexto, a inclusão social é processo
que o Estado adote políticas sociais e destine recursos que lento e demorado que não acompanha a vida das pessoas.
garantam a realização dos direitos humanos. Os critérios Existem as políticas macroeconômicas que o Brasil
básicos dessa estratégia são: os mecanismos de responsa- adota, muitas delas historicamente concentradoras de ren-
bilidade; a igualdade e a não discriminação; a participação da a bem-estar. Vez por outra, os brasileiros são surpreen-
e a outorga do poder aos setores marginalizados e excluí- didos por planos econômicos elaborados em obediência
dos. a mercados internacionais. Quanto maior a concentração
O primeiro passo para a outorga do poder aos setores de riqueza e de renda, entretanto, menor o crescimento e
excluídos é reconhecer que são titulares de direitos. Esse maior a desigualdade. Lustosa (2002, p. 28) afirma que “a
conceito muda a lógica na proposição de políticas públi- desigualdade da vida social resulta dos padrões dominan-
cas tanto pelo Estado quanto pelos movimentos sociais. Na tes de produção e consumo que operam segundo valores
verdade, não se buscará mais recursos para pessoas neces- de crescimento ilimitado estimulando a competitividade”.
sitadas, mas sim sujeitos detentores de direitos. Essa nova Apesar das contradições, o Brasil possui tradição no
perspectiva gera obrigações e exige condutas que respon- que se refere à defesa dos direitos humanos, notadamente
dam às demandas sociais. os direitos civis e políticos, defesa incrementada a partir
do golpe militar de 1964. Mais recentemente, grupos or-
DIREITOS HUMANOS: ganizados de brasileiros também vêm sendo despertados
CONTEXTUALIZAÇÃO E HISTÓRICO NO BRASIL a denunciar as violações aos direitos econômicos, sociais e
culturais.
A democracia é fator de coesão que pode ser avaliado Segundo Demo (1995), ainda existe parte da política
a partir da capacidade que um país tem de responder às perversa da mais-valia praticada no Brasil, onde o mercado
expectativas de seus cidadãos em termos de seus direitos, interno é diminuto e a quantidade de trabalhadores que
de suas necessidades socioeconômicas e de seu desenvol- forma a massa salarial é pequena. A distribuição de riqueza
vimento integral como seres humanos.
é desigual, já que uma parcela mínima detém a maioria dos
Esses direitos, para serem efetivados, precisam ser tra-
recursos financeiros.
duzidos na garantia da qualidade de vida – o que implica
A presença de riqueza não basta para caracterizar a si-
que a população beneficiada tenha acesso aos serviços de
tuação de bem-estar, porque o desafio propriamente dito é
saúde, à moradia, à educação, à terra, à água, à alimenta-
sua redistribuição. O que estranha demais aos organismos
ção e à segurança pública, entre outros.
da Organização das Nações Unidas (ONU) dedicados à
Mas tal acesso exige, por sua vez, a concretização das
condições para a vigência desses direitos, dado que a reali- promoção do desenvolvimento é precisamente esta gritan-
zação da pessoa não pode acontecer à margem da integra- te contradição: um país rico que cultiva pobreza extrema
ção social e na ausência de uma sociedade que permita aos com a maior sem-cerimônia.
seus membros desenvolverem-se plenamente. Apesar de ter ratificado a maioria dos instrumentos
O Brasil é um país continental, possui enormes riquezas globais e regionais de proteção dos direitos humanos, e
naturais e culturais, e, no entanto, conta com uma enorme apesar da extensa redistribuição realizada nos últimos
dívida com seu povo no que se refere ao respeito aos di- anos, o Brasil continua sendo um dos países com elevada
reitos humanos. desigualdade e grande contingente de pessoas pobres.
A Constituição Brasileira de 1988, considerada a “Cons- Diante dessa realidade, o direito de conquistar direitos
tituição Cidadã”, institucionalizou os direitos humanos no é legítimo e só poderá ser realizado na medida em que as
país, destacando a cidadania e a dignidade da pessoa hu- pessoas conheçam seus direitos e saibam exigir do Esta-
mana como princípios fundamentais do Estado Brasileiro. do. Um vínculo jurídico é necessário para que tais direitos
O que é preconizado, entretanto, não se concretiza plena- possam ser exigidos judicialmente. Para que possam ser
mente. efetivados, entretanto, é necessário algo mais: é necessário
No Brasil, lutar pelos direitos humanos significa lutar garantir o acesso ao espaço público.
por melhores condições de vida para uma grande maioria A efetivação dos Direitos Humanos passa, necessaria-
de brasileiros. A política de projetos sociais é uma possibi- mente, pela prática cotidiana em que a educação é um fato
lidade de tornar concreto o que se define como direito de social essencial. A Constituição Federal de 1988 dá sentido
cada pessoa: ser “igual ao igual”. O “igual” sujeito da exclu- diferente em relação à participação e ao controle social,
são exige, portanto, moradia, trabalho, educação, saúde e, uma vez que contempla, no plano jurídico, direitos que
principalmente, o direito a ter esperança. garantam aos cidadãos uma vida mais digna, baseada em
Em muitas localidades do Brasil, o Estado de Direito e princípios de igualdade de justiça social e de equidade.
o império da lei têm aplicabilidade limitada. Isto ocorre em Um direito de todas as pessoas que torna possível o
virtude de continuar imperando em muitos municípios o desenvolvimento de seu potencial, a Educação é a principal
clientelismo, em que relações pessoais imperam sobre ins- esperança para alterar o curso da humanidade. Às trans-
tituições e a troca de favores perpetua concentrações ex- formações necessárias têm que atrelar o reconhecimento
tremas e duradouras de poder em poucas famílias ou gru- do Estado de que os excluídos são titulares de direitos. A
pos. A conquista de avanços sociais está diretamente rela- adoção dessa condição certamente mudará a lógica dos
cionada a tais relações pessoais e tais trocas, o que – além processos de elaboração das políticas públicas.
3
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Porém, a adoção de leis ou a adesão a tratados não A Constituição Federal de 1988 reconhece a impor-
serão suficientes se não houver compromisso individual e tância da educação ao tornar explícito em seu Artigo 6º
coletivo de mudar os interesses antropocêntricos, tornan- que a Educação é um direito social. Por sua vez, o Art. 205
do-os mais universais, com maior empatia por todas as for- determina uma responsabilidade compartilhada entre o
mas de vida e, em relação aos homens, tornar a sociedade Estado e a família no sentido de garantir o pleno exercí-
mais igualitária. cio desse direito. O texto constitucional considera que a
A mudança no jogo de interesses terá reflexos positi- Educação deve ser “promovida e incentivada com a cola-
vos na sociedade. Nesse contexto, a Educação em Direi- boração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento
tos Humanos adota um [...] enfoque que supõe, necessa- da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
riamente, um processo de construção de cidadania ativa, qualificação para o trabalho”. O Artigo 206 disciplina que o
que implica a formação de cidadãos conscientes de seus ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
direitos e deveres. I – igualdade de condições para o acesso e permanência
Ainda tendo como referência a Constituição Federal, na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e
em seus Artigos 205 a 214, a Educação é considerada como divulgar o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo
direito fundamental, cabendo ao Estado em conjunto com de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de
a sociedade implementar ações de todos. instituições públicas e privadas de ensino; IV – gratuidade
Na década de 1980 o Brasil iniciou o processo de re- do ensino público em estabelecimentos oficiais; V – valo-
democratização política, e a luta da sociedade para acabar rização dos profissionais da educação escolar, garantidos,
com as violações de direitos humanos se intensificou. De- na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusi-
núncias contra os crimes que aconteceram durante a Dita- vamente por concurso público de provas e títulos, aos das
dura Militar, como tortura, assassinatos e sequestros, to- redes públicas; VI – gestão democrática do ensino público,
maram a pauta dos movimentos sociais, dando visibilidade na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade; VIII
para a sociedade brasileira, antes impossível em razão da – piso salarial profissional nacional para os profissionais da
repressão política. educação escolar pública, nos termos de lei federal.
Na década de1990, em decorrência de compromissos Os Artigos 208 e 214 da Constituição Federal de 1988
firmados internacionalmente, o Governo Federal se envol- detalham mecanismo que garantem esse direito à Educa-
veu diretamente no tema, colocando-se como um novo ção. O primeiro assegura o ensino gratuito, a progressiva
ator ao elaborar políticas públicas voltadas à Educação em universalização do ensino médio, o atendimento educacio-
Direitos Humanos. Nesse período, foram realizadas parce- nal especializado aos portadores de deficiência, preferen-
rias entre o Governo Federal e a sociedade civil, e ao longo cialmente na rede regular de ensino, e a educação infantil
dos anos novas temáticas foram incorporadas, acrescen- em creche e pré-escola às crianças até 5 (cinco) anos de
tando à pauta os direitos econômicos, sociais e culturais. idade.
O PNDH I de 1996 tinha o foco voltado para os direitos O segundo determina que o Plano Nacional de Edu-
civis e políticos, a saber: cação deverá ter a duração de dez anos e definir e arti-
1) Políticas Públicas para Proteção e Promoção dos Di- cular o Sistema Nacional de Educação, garantindo o “de-
reitos Humanos (incluindo a proteção do direito à vida, liber- senvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas
dade e igualdade perante a lei); e modalidades por meio de ações integradas dos poderes
2) Educação e Cidadania: Bases para uma Cultura dos públicos das diferentes esferas federativas que conduzam
Direitos Humanos; a: “I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do
3) Políticas Internacionais para Promoção dos Direitos atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino;
Humanos; e IV - formação para o trabalho; V - promoção humanísti-
4) Implementação e Monitoramento do Programa Na- ca, científica e tecnológica do país; VI - estabelecimento
cional de Direitos Humanos. de meta de aplicação de recursos públicos em educação
O PNDH I sofreu ampla revisão e esse processo teve por como proporção do produto interno bruto”.
objetivo incluir também os direitos econômicos, sociais e cul-
turais na pauta do governo, reforçando a indivisibilidade e a EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
interdependência dos direitos humanos. TRAJETÓRIA NO MUNDO
O PNDH II, de 2002, incorporou alguns temas destina-
dos à conscientização da sociedade brasileira com o fito A Educação é um instrumento imprescindível para que
de consolidar uma cultura de respeito aos direitos huma- o indivíduo possa reconhecer a si próprio como agente ati-
nos, tais como cultura, lazer, saúde, educação, previdência vo na modificação da mentalidade de seu grupo e ser pro-
social, trabalho, moradia, alimentação, um meio ambiente motor dos ideais humanos que sustentam o movimento a
saudável. favor da paz e dos direitos humanos.
O PNDH-3 é lançado em 2009 e é importante ferra- A incorporação das Diretrizes Nacionais para a Edu-
menta para consolidação dos direitos humanos como cação em Direitos Humanos nos projetos pedagógicos
política pública. O Brasil avançou na materialização das das instituições de ensino quebra a rigidez da educação
orientações que possibilitam a concretização e a promoção tradicional, levando em conta as experiências de vida dos
dos Direitos Humanos. Configura-se como amplo avanço participantes, fazendo com que eles despertem para seus
a interministerialidade de suas diretrizes, de seus objetivos direitos. Essa é uma das várias propostas da Educação em
estratégicos e de suas ações programáticas. Direitos Humanos.
4
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Mas que educação é essa? É um assunto? É uma maté- - A Resolução 314 (XI), de 24 de julho de 1950, do
ria? As respostas para essas perguntas serão os parâmetros Conselho Econômico e Social das Nações Unidas indicou
para a formação de uma consciência voltada para quem a UNESCO como fomentadora e facilitadora do ensino dos
quer mudar a realidade onde vive. A consciência universal direitos humanos nas escolas e centros educativos, nos
dos direitos humanos está cada vez mais forte. programas de educação de jovens e adultos e através dos
Estes direitos hoje tão proclamados são, no entanto, meios de comunicação;
sistematicamente violados em sociedades marcadas pela - A Convenção de Paris contra a discriminação no cam-
exclusão, pelos conflitos, pelas desigualdades estruturais, po do Ensino, de 14 de dezembro de 1960, adotada pela
em que se vivenciam situações de injustiça institucionaliza- Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para
da. Assim, a questão dos direitos humanos torna-se central a Educação, a Ciência e a Cultura, recomendou o respeito
e urgente. É imprescindível promover os direitos econômi- à diversidade pelos sistemas nacionais de educação. Reco-
cos, sociais e culturais dos diferentes povos, assim como mendou ainda que não permitissem qualquer discrimina-
dar atenção prioritária às necessidades dos grupos sociais ção em matéria de ensino, mas igualmente promovessem a
discriminados. igualdade de oportunidades e tratamento para todos;
Lutar pela consolidação dos direitos sociais, econômi- - A Resolução 958 D II (XXXVI), de 2 de julho de 1963,
cos e culturais significa reduzir a desigualdade na distribui- da Assembleia das Nações Unidas ampliou o espaço de
ção das oportunidades de desenvolvimento. A distribuição difusão, debate e inclusão em programas e projetos edu-
mais equitativa de rendimentos funcionaria como forte ca- cativos a universidades, institutos, associações culturais e
talisadora da redução acelerada da pobreza. sindicais e a outras organizações;
A Educação deve ser prioridade nesse processo, pois - A Resolução 2.445 (XIII), de 19 de dezembro de 1968,
possibilita a construção da cidadania e a formação de su- da Assembleia das Nações Unidas solicitou aos Estados
jeitos de direitos, cientes de seus deveres e conscientes de que tomassem medidas para introduzir ou estimular, pelo
sua responsabilidade na defesa e promoção dos direitos sistema educativo, a formação de professores e o estudo
humanos. da ONU e de organismos especializados como a UNESCO,
A Educação em Direitos Humanos tem seu início oficial
assim como os princípios da DUDH e de outras declara-
com a proclamação da Carta das Nações Unidas e com a
ções.
aprovação da DUDH, em 10 de dezembro de 1948. A partir
A “Recomendação sobre a educação para a compreen-
desse momento a declaração se tornou um instrumento
são, a cooperação e a paz internacional e a educação relati-
pedagógico de conscientização dos valores fundamentais
va aos direitos humanos e às liberdades fundamentais”, de
da democracia e dos direitos humanos.
1974, indica a realização de pesquisas sobre a inclusão dos
Os organismos internacionais e amplos setores da so-
direitos humanos nas universidades como matéria de ensi-
ciedade civil desenvolveram materiais educativos e pro-
no, notadamente nos cursos de direito. No mesmo docu-
moveram sua difusão. Particularmente, a Organização das
Nações Unidas tratou de incluir nas resoluções e pactos mento, é reforçado o papel dos organismos internacionais
que propunha às nações do mundo questões relativas à na promoção da paz e dos direitos humanos e na elimina-
Educação em Direitos Humanos. ção de todas as formas de discriminação.
Essas medidas terminaram por levar as nações que fa- Essa Recomendação definiu que os componentes e ob-
ziam parte da ONU a incluir nos seus programas e projetos jetivos dos programas de educação deveriam ter:
educativos temas que tratavam de Educação para paz, os a) a educação para a compreensão e a paz internacio-
direitos humanos, a democracia e a tolerância. Tais medi- nal;
das influenciaram as reformas educativas desses países, im- b) a educação para o desarmamento;
plementando a democratização da discussão sobre a im- c) a educação sobre os direitos humanos e as liberdades
portância de se tratar dos direitos humanos na Educação. fundamentais;
Tuvilla Rayo (2004) assevera que no período de 1948 d) a educação para a democracia e a tolerância;
a 1974 a Organização das Nações Unidas implementou e) a educação intercultural e multicultural; e
ações com vistas à produção e difusão de materiais edu- f) o ensino relativo aos problemas da humanidade.
cativos, concretizando dessa forma a oficialização de pro- A Declaração do Programa de Ação de Viena, em 1993,
gramas de Educação em Direitos Humanos. Desta forma, a em seus Artigos 78 a 82, recomenda que a Educação em
ONU elaborou documentos que incentivam a inserção da Direitos Humanos seja essencial nos programas de forma-
temática em diversos espaços educativos, a saber: ção e informação no sentido de promover ações estáveis
- A Resolução 217 D (III), em 10 de dezembro de 1948, e harmoniosas na sociedade. Esse documento enfatiza a
da Assembleia das Nações Unidas estabeleceu que a DUDH inclusão de temas pertinentes ao respeito aos direitos hu-
deveria ter uma difusão de caráter permanente, verdadei- manos e às liberdades fundamentais tais como: a paz, a
ramente universal e popular, com vistas à consolidação da democracia, o desenvolvimento e a justiça social.
paz mundial. Propôs ainda aos estados- membros a fideli- O Artigo 79 do Programa de Ação de Viena recomenda
dade ao Artigo 56 da Carta das Nações Unidas, de maneira que sejam incluídas matérias relativas aos direitos huma-
que a DUDH fosse distribuída, exposta, lida e comentada nos, ao direito humanitário, à democracia e ao Estado de
em todas as escolas e centros educativos; Direito nos currículos, planos e programas do sistema de
ensino formal e não formal.
5
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O Artigo 82 do programa faz duas recomendações. Na e do senso de dignidade; (c) à promoção do entendimento, da
primeira, enfatiza a necessidade de que organizações gover- tolerância, da igualdade de gênero e amizade entre todas as
namentais e não governamentais intensifiquem a Campanha nações, povos indígenas e grupos raciais, nacionais, étnicos,
Mundial de Informação Pública sobre Direitos Humanos das religiosos e linguísticos; (d) à possibilidade de todas as pessoas
Nações Unidas. participarem efetivamente de uma sociedade livre; (e) ao fo-
A segunda recomendação do Artigo 82 da Declaração mento às atividades das Nações Unidas para a manutenção
do Programa de Ação de Viena destaca a Educação em Di- da paz.
reitos Humanos e recomenda a instituição de uma década O Plano de Ação para a Década tem os seguintes ob-
para o tema. jetivos: a) avaliação das necessidades e formulação de
Os Governos devem iniciar a apoiar a Educação em Direi- estratégia; b) criação e fortalecimento de programas de
tos Humanos e efetivamente divulgar informações públicas educação no campo dos direitos humanos a nível interna-
nessa área. Os programas de consultoria e assistência técnica cional, regional, nacional regional e local; c) elaboração de
do sistema das Nações Unidas devem atender imediatamen- material didático; d) reforço dos meios de comunicação; e)
te às solicitações de atividades educacionais e de treinamen- difusão global da DUDH.
to dos Estados na área dos direitos humanos, assim como Esse documento referencial destaca a necessidade da
às solicitações de atividades educacionais especiais sobre as criação, instituição e fortalecimento de Programas de EDH
normas consagradas em instrumentos internacionais de di- nos planos internacional, nacional e local. A base para esse
reitos humanos e no direito humanitário e sua aplicação a plano de ação fundamenta-se na perspectiva da associa-
grupos especiais, como forças militares, pessoal encarregado ção entre os governos, dos governos às organizações não
de velar pelo cumprimento da lei, a polícia e os profissionais governamentais e vários outros setores da sociedade civil,
de saúde. Deve-se considerar a proclamação de uma década objetivando a formação de cidadãos e cidadãs capazes de
das Nações Unidas para a Educação em Direitos Humanos, conhecer, defender e promover os direitos humanos.
visando a promover, estimular e orientar essas atividades Em 2011 a ONU aprova a Resolução AG/66/137 – De-
educacionais. claração das Nações Unidas para a Educação e a Formação
Em 1995, as Nações Unidas proclamaram a Década das em Direitos Humanos. Essa resolução disciplina sobre ati-
Nações Unidas para a EDH atendendo ao período de 1º de ja- vidades educativas voltadas para a promoção dos direitos
neiro de 1995 a 31 de dezembro de 2004. O documento que humanos.
apresentou as diretrizes da década foi a Resolução 49/184,
aprovada na Assembleia Geral de 23 de dezembro de 1994. A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
A Oficina do Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Direitos Humanos, em novembro de 1997, organizou e No Brasil, a discussão sobre a Educação em Direitos
apresentou à comunidade internacional as “Diretrizes para Humanos se fortaleceu nos fins da década de 1980 por
elaboração de planos nacionais de ação para a educação na meio dos processos de redemocratização do país e das ex-
esfera dos direitos humanos”, como marco referencial das periências pioneiras que surgiram entre os profissionais li-
atividades da Década das Nações Unidas para educação na berais, universidades e organizações populares na luta por
esfera dos direitos humanos (1995-2004). esses direitos.
O Plano de Ação para a Década para a Educação em Na época algumas organizações ganharam credibili-
Direitos Humanos foi proclamado na Assembleia Geral no dade pelas suas experiências no campo da Educação em
dia 22 de dezembro de 1995 através da Resolução 50/177. Direitos Humanos no Brasil. Uma delas é a Rede Brasileira
Esse plano defende a necessidade de um plano de ação para de EDH, fundada em 1995, que tem como finalidade reunir
Educação em Direitos Humanos no sentido de cooperar na em atividades conjuntas pessoas e entidades que desen-
missão dos Governos em cumprir os acordos assumidos com volviam experiências nesta temática em diferentes partes
relação à Educação em Direitos Humanos no âmbito da polí- do Brasil. A criação da Rede teve como referência a Comis-
tica internacional de direitos humanos. são de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, a USP
Os instrumentos normativos presentes são os Parágrafos e a PUC-RIO.
33 e 34 da Declaração de Viena e os Parágrafos 78 a 82 do Uma de suas atividades foi a organização do Primeiro
seu Programa de Ação de Viena (1993), a Década das Nações Congresso Brasileiro de Educação em Direitos Humanos e
Unidas para a Educação em Direitos Humanos (1995-2004) Cidadania (maio de 1997, com 1.250 participantes) e do Se-
e o Programa Mundial Para Educação em Direitos Humanos minário de Educadores em Direitos Humanos, que contou
em sua primeira fase (2005–2009). (ONU, 1998). com a participação de representantes de cinco Estados do
O documento A/52/469/Supl. 1 de 20 de outubro de Brasil. Este último resultou na elaboração de um documen-
1997 define a Educação em Direitos Humanos como: a Edu- to, baseado na análise e discussão de pesquisas realizadas
cação em Direitos Humanos pode ser definida como esforços pelos integrantes da Rede em todo o Brasil.
de treinamento, disseminação e informação com vistas à cria- A Rede foi também responsável por atividades de pes-
ção de uma cultura universal de direitos humanos por meio da quisa, formação, elaboração e divulgação de materiais pe-
transferência de conhecimentos e habilidades, assim como da dagógicos sobre EDH. A Rede possibilitou o intercâmbio
formação de atitudes dirigidas: (a) ao fortalecimento do res- de experiências sobre EDH. Entre os trabalhos realizados
peito pelos direitos e liberdades fundamentais do ser huma- pela Rede estão a disponibilização e disseminação de do-
no; (b) ao pleno desenvolvimento da personalidade humana cumentos da ONU sobre direitos humanos.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
As Instituições de Ensino Superior (IES) e ONGs reconhe- A Década da ONU para EDH teve início em janeiro de
cidas nacionalmente e internacionalmente com trabalhos de 1995, e em julho de 2003 o Estado brasileiro tornou oficial
pesquisa, ensino e extensão em EDH são: a Educação em Direitos Humanos como política pública
- a UFPB, no Nordeste, com produção voltada para extensão com a constituição do Comitê Nacional de Educação em
e formação em nível de Pós-Graduação Lato sensu em Direitos Direitos Humanos (CNEDH). Esse Comitê reúne especialis-
Humanos. A ênfase maior do trabalho realizado pela UFPB era tas da área e teve como primeira missão elaborar o PNEDH,
voltada para Segurança Pública e formação de redes de defesa objetivando estimular o debate sobre os direitos humanos
dos direitos humanos através dos Conselhos de Direitos; e a formação para a cidadania no Brasil.
- a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PU- O Plano teve seu lançamento em dezembro de 2003
C-RIO), pelo Departamento de Direito com o oferecimento pela Secretaria de Direitos Humanos, e teve como parcei-
permanente da disciplina de direitos humanos; a definição de ros os Ministérios da Educação e da Justiça. É instrumento
linha de pesquisa Direitos Humanos, Ética e Cidadania, nos orientador e fomentador de ações educativas direcionadas
cursos de pós-graduação em Teoria do Estado e Direito Cons- às seguintes áreas temáticas: (a) Educação Básica, (b) En-
titucional; e realização de convênio com o Sistema Prisional sino Superior, (c) Educação Não-formal, (d) Educação dos
com vistas a orientação e assistência jurídica; realização de Profissionais dos Sistemas de Justiça e Segurança, (e) Edu-
seminários estaduais, nacionais e internacionais, além da pro- cação e Mídia. Cada uma dessas áreas está composta de
dução de livros, cartilhas, jornais e textos sobre direitos huma- programas e projetos a serem desenvolvidos tanto pelo
nos; celebração de convênios com instituições estrangeiras governo como pela sociedade, divididos em ações de cur-
como o Instituto Interamericano de Direitos Humanos, órgão to, médio e longo prazo. O PNEDH propõe-se a contribuir
da ONU responsável pela disseminação de informações sobre com a construção de uma cultura voltada para o respeito
direitos humanos nas Américas. aos direitos fundamentais da pessoa humana, envolvendo
- a Universidade de São Paulo (USP), pelo Núcleo de Estu- diferentes segmentos sociais, órgãos públicos e privados e
dos da Violência (NEV), que foi criado em 1987 com o objetivo esferas do governo.
de investigar as graves violações aos direitos humanos que O PNEDH (2006) tem como objetivos gerais:
aconteciam no período de transição política no Brasil. É um
a) destacar o papel estratégico da Educação em Direi-
centro de pesquisa que adota as seguintes linhas de pesquisa:
tos Humanos para o fortalecimento do Estado Democráti-
continuidade autoritária e construção da democracia; crimi-
co de Direito; b) enfatizar o papel dos direitos humanos na
nalidade violenta, estado de direito e violência social; pobreza,
construção de uma sociedade justa, equitativa e democrá-
marginalização, violência e realização dos direitos humanos;
tica; c) encorajar o desenvolvimento de ações de Educação
desigualdade racial no acesso à justiça penal; conflitos fatais
em Direitos Humanos pelo poder público e a sociedade
em embates com a Polícia Militar.
- A ONG NOVAMÉRICA, sediada no Rio de Janeiro, que civil por meio de ações conjuntas; d) contribuir para a efe-
desde o final da década de 1980 realiza trabalho de Educação tivação dos compromissos internacionais e nacionais com
em Direitos Humanos em parceria com entidades internacio- a Educação em Direitos Humanos; e) estimular a coopera-
nais como: OEA, UNESCO, IIDH. Dos trabalhos realizados, os ção nacional e internacional na implementação de ações
de maior relevância dessa ONG são sem dúvida: a) a difusão de Educação em Direitos Humanos; f) propor a transver-
da EDH em nível nacional; b) produção de materiais didáticos salidade da Educação em Direitos Humanos nas políticas
sobre EDH e Educação Ambiental; c) a pesquisa sobre mate- públicas, estimulando o desenvolvimento institucional e
riais de EDH produzidos na América Latina. interinstitucional das ações previstas no PNEDH nos mais
- Entre as instituições que realizavam trabalhos com en- diversos setores (educação, saúde, comunicação, cultu-
foque em direitos humanos, e que não são IES e nem ONGs, ra, segurança e justiça, esporte e lazer, dentre outros); g)
vale ressaltar o trabalho da Comissão de Justiça e Paz da Ar- avançar nas ações e propostas do Programa Nacional de
quidiocese de São Paulo. A entidade foi criada no período da Direitos Humanos (PNDH) no que se refere às questões da
luta pela redemocratização do Brasil, após o golpe de 1964. Educação em Direitos Humanos; h) orientar políticas edu-
O principal trabalho dessa comissão foi combater a tortura e cacionais direcionadas para a constituição de uma cultura
demais violações aos direitos humanos protagonizadas pelo de direitos humanos; i) estabelecer objetivos, diretrizes e
aparato estatal de segurança. linhas de ações para a elaboração de programas e projetos
- O Núcleo de Estudos para a Paz e os Direitos Huma- na área da Educação em Direitos Humanos; j) estimular a
nos (NEP), vinculado à Universidade de Brasília, iniciou suas reflexão, o estudo e a pesquisa voltados para a Educação
atividades em 1986 e tinha como objetivos: a) desenvolver em Direitos Humanos; k) incentivar a criação e o fortaleci-
pesquisa sobre paz e direitos humanos; b) manter programas mento de instituições e organizações nacionais, estaduais
de ensino, pesquisa e extensão no âmbito da universidade e municipais na perspectiva da Educação em Direitos Hu-
envolvendo a comunidade; c) divulgar os resultados de suas manos; l) balizar a elaboração, implementação, monitora-
pesquisas sobre a paz e os direitos humanos em eventos e mento, avaliação e atualização dos Planos de Educação em
publicações; e d) promover intercâmbios com centros que de- Direitos Humanos dos estados e municípios; m) incentivar
senvolvem atividades similares. A contribuição do NEP pode formas de acesso às ações de Educação em Direitos Huma-
ser exemplificada pelas pesquisas, pelo curso de extensão O nos a pessoas com deficiência.
direito achado na rua, que gerou publicações configuradas na
coleção “O Direito Achado na Rua”, e pela institucionalização
da disciplina Direitos Humanos e Cidadania na Graduação.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
As propostas do PNDH-3 são consequência também da Os processos educativos, ao tempo em que tornam
importante contribuição das Conferências Nacionais de Direi- possível às pessoas e aos grupos que deles participam se
tos Humanos, que desde 1996 são realizadas quase todos os afirmarem desde o lugar onde atuam, e a partir do qual
anos, e tiveram em 2008 sua 11ª edição. O documento final constroem sua visão de mundo, tornam possível, também,
dessa conferência serve de subsídio para a construção do sua inserção na sociedade como agentes de transforma-
Programa Nacional de Direitos Humanos 3. O Presidente da ção. Como bem afirma Freire (1980), “a educação para a
República assina o Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro de libertação é um ato de conhecimento e um método de
2009, que depois é atualizado pelo Decreto nº 7.177, de 12 de ação transformadora que os seres humanos devem exercer
maio de 2010. sobre a realidade”.
O PNDH-3 é estruturado em seis eixos orientadores, que A EDH concebe a formação de pessoas em direitos hu-
contêm diretrizes, orientações e ações concretas para promo- manos como um processo de empoderamento, que pode
ver a igualdade entre os cidadãos, sendo o eixo V sobre a ser concretizado na gestão de ações preventivas de viola-
Educação em Direitos Humanos. Os seis eixos são: (i) Intera- ções dos direitos humanos em diferentes espaços; de arti-
ção Democrática entre Estado e Sociedade Civil, (ii) Desenvol- culação política educacional, principalmente, pelos grupos
vimento e Direitos Humanos, (iii) Universalizar Direitos em um vulneráveis; de difusão de conhecimentos que possibilitem
Contexto de Desigualdades, (iv) Segurança Pública, Acesso à o exercício da cidadania e da democracia; e, na vivência
Justiça e Combate à Violência, (v) Educação e Cultura em Di- cotidiana de uma postura solidária com os outros.
reitos Humanos e (vi) Direito à Memória e à Verdade. A educação se revela como um elemento essencial
Em 2010, com a promulgação do PNDH-3 observa-se para a formação do cidadão enquanto sujeito de direitos.
que no Eixo V, que trata da Cultura de Direitos Humanos, a Isto é, aquela pessoa que se sente responsável pelo proje-
Diretriz 18, que aborda a Efetivação das diretrizes e dos prin- to de sociedade à qual pertence. Magendzo (2003) situa a
cípios da política nacional de Educação em Direitos Humanos, dignidade humana como valor fundante das relações hu-
para fortalecer a cultura de direitos sugere no Objetivo estra- manas e que para tanto deve ser entendida como elemento
tégico I a implementação do Plano Nacional de Educação em essencial para a democratização da sociedade. Para o au-
Direitos Humanos (PNEDH). tor, o respeito à dignidade humana deve permear as rela-
A da cidadania em suas dimensões é uma experiência de ções no tecido social, de forma que a vigência dos direitos
constituição de um projeto de sociedade em que o eixo nor- humanos se materialize na democracia social, econômica
teador é a EDH. A prática da promoção e defesa dos direitos e cultural.
humanos preserva na sociedade a convivência da diversidade. O momento atual é profícuo para a discussão e a pro-
teção dos direitos humanos. É um desafio que está pos-
CONCEITO DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS to para a sociedade, está além de conhecer, pois envolve
a tomada de consciência e o compromisso de lutar para
Falar sobre direitos humanos implica a necessidade de transformar essa realidade. Nesse sentido, citamos Candau
haver sintonia entre o discurso e a ação de todos os envol- (2001):
vidos no processo. O bem coletivo vem em primeiro lugar. O direito à vida, a uma vida digna e a ter razões para
Educar para os direitos humanos dignifica o homem, faz dele viver, está na raiz da Educação em Direitos Humanos, deve
protagonista de um projeto que tem como objetivo um mun- ser defendido e promovido para todas as pessoas, assim
do melhor, assegurando que o direito seja para todos. como para todos os grupos sociais e culturais. Esta é uma
Toda ação educativa com enfoque nos direitos humanos afirmação com dimensões planetárias, raízes antropológi-
deve conscientizar acerca da realidade, identificar as causas cas, éticas, políticas e transcendentais, que aponta à cons-
dos problemas, procurar modificar atitudes e valores, e tra- trução de uma alternativa para um futuro mais humano
balhar para mudar as situações de conflito e de violações dos para o nosso continente e a escala mundial.
direitos humanos, trazendo como marca a solidariedade e o A EDH deve ser orientada para o respeito às diferenças
compromisso com a vida. e ao compromisso com a transformação da realidade. Deve
É nesse processo que se constrói o conhecimento neces- sensibilizar o indivíduo a participar de um processo ativo
sário para a transformação da realidade. Tal processo deve na resolução dos problemas em um contexto de realidades
ser coletivo, integrado ao meio onde acontece, e em sintonia específicas e orientar a iniciativa, o sentido de responsa-
com as necessidades de quem dele participa. bilidade e o empenho de edificar um amanhã melhor. O
Uma escola verdadeiramente cidadã deve apresentar-se PNEDH conceitua a Educação em Direitos Humanos como:
à sociedade com projetos de transformação da realidade, que “um processo sistemático e multidimensional que orienta
é adversa à dignidade da pessoa humana; deve procurar in- a formação do sujeito de direitos, articulando as seguintes
teragir com a sociedade, que enfrenta várias transformações. dimensões:
Educar para os direitos humanos significa preparar os a) apreensão de conhecimentos historicamente cons-
indivíduos para que possam participar da formação de uma truídos sobre direitos humanos e a sua relação com os con-
sociedade mais democrática e mais justa. Essa preparação textos internacional, nacional e local;
pode priorizar o desenvolvimento da autonomia política e da b) afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que
participação ativa e responsável dos cidadãos em sua comu- expressem a cultura dos direitos humanos em todos os es-
nidade. paços da sociedade;
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
c) formação de uma consciência cidadã capaz de se Nesse diapasão é importante fazer referência a Mis-
fazer presente nos níveis cognitivo, social, ético e político; geld apud Poma (2002) que afirma que:
d) desenvolvimento de processos metodológicos par- Assumir os direitos humanos como um humanismo de
ticipativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e reconhecimento significa reconhecer a vulnerabilidade de
materiais didáticos contextualizados; todos os seres humanos como seres mortais e especialmente
e) fortalecimento de práticas individuais e sociais que aqueles mais expostos à dor e ao sofrimento. Desta maneira,
gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da os direitos humanos operam como a consciência ética da
proteção e da defesa dos direitos humanos, bem como da vulnerabilidade humana, sobretudo quando ela é levada a
reparação das violações”. limites inimagináveis de violência de uns contra os outros.
Urgate (2003) assevera que um dos componentes do Dali, os direitos humanos aportem a uma “unificação da
direito à educação é o direito à Educação em Direitos Hu- universalidade dos sofrimentos”.
manos e esta, por sua vez, consolida seu sentido pleno ao Poma (2002) coloca que a nossa vulnerabilidade e o re-
afirmar a dignidade da pessoa humana. conhecimento do outro são fortalecidos pelos direitos hu-
Esta é uma educação em sentido pleno, já que ajuda a
manos como forma de construir novo humanismo. Requer
alcançar o desenvolvimento pessoal na sua plenitude, que
para a sua efetivação não só boa vontade das pessoas, mas
é o fim primeiro o qual se orienta a educação. Nesse sen-
uma ação coletiva e deliberada da sociedade.
tido, a Educação em Direitos Humanos vem destacar o nú-
cleo da autêntica educação e através dela tomar parte do A solidariedade deve orientar as diversas formas de
direito à educação. De uma reflexão sobre a Educação em organização da sociedade. Nesse contexto, a cooperação,
Direitos Humanos, se pode afirmar que esta educação é um a reciprocidade e a colaboração são essenciais, e esse pro-
meio idôneo para afirmar a dignidade humana, contribuir cesso de reconhecimento pode ser entendido como soli-
para o desenvolvimento pleno, fomentar o respeito aos dariedade.
demais direitos humanos, estimular a participação social e A Educação em Direitos Humanos abarca práticas pe-
favorecer o respeito a um mesmo e a todos os demais. dagógicas, políticas e de militância na defesa dos direitos
Felisa Tibbitts (2002) relaciona a Educação em Direitos humanos. Portanto, existe na vida cotidiana a necessidade
Humanos às lutas para encontrar uma melhor maneira de de criar espaços discursivos e práticos sobre a participação
concretizar os princípios dos direitos humanos. A educação de todos em ação recíproca de responsabilidade na defesa
nesse processo favorece a promoção desses direitos e ca- dos direitos humanos. Levinas (2000) sustenta que cada um
talisa as transformações sociais necessárias para o respeito de nós é responsável pelo outro e pela responsabilidade
à dignidade da pessoa humana. dos outros.
Poma (2002) enfatiza a importância da EDH e chama A minha responsabilidade não cessa, ninguém pode
atenção para o primeiro artigo da Declaração Universal substituir-me. De fato, trata-se de afirmar a própria iden-
dos Direitos Humanos, que coloca a dignidade da pessoa tidade do eu humano a partir da responsabilidade, isto é,
humana em primeiro plano. Esse artigo afirma: “Todas as a partir da posição ou da deposição do eu soberano da
pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São consciência de si, deposição que é precisamente sua res-
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação ponsabilidade por outrem. A responsabilidade é o que ex-
umas às outras com espírito de fraternidade”. clusivamente me incumbe e que humanamente, não posso
Uma significação fundamental nesta nova consciência recusar. Este encargo é uma suprema dignidade do único.
do ser humano repousa na noção de dignidade. A dignida- O respeito aos direitos humanos implica reconhecer os
de da pessoa é aquela condição em virtude da qual cada deveres humanos e estes últimos, por sua vez, implicam um
ser humano pode exigir ser tratado como semelhante a to- agir consciente e coerente com o discurso e ser responsá-
dos os demais, seja qual for seu sexo, cor da pele, ideias,
vel pelo outro. O sentido último da Educação em Direitos
etc. A dignidade que tem cada ser humano é justamente
Humanos é a formação do sujeito de direito que tem como
o que nos serve para reconhecer a cada um como um ser
aspiração acabar com as estruturas de injustiças e de dis-
único e irrepetível. Diferentemente das coisas, que podem
ser substituídas, ou compradas, o ser humano não tem pre- criminação social.
ço, tem dignidade. O exercício de direitos e deveres implica conhecimento
A dignidade da pessoa humana confere valor imensu- da realidade, na vivência da responsabilidade com liber-
rável à vida humana. Flowers (1998) diz que a educação dade e com autonomia. A ética propõe um estilo de vida
tem papel essencial nesse contexto na medida em que esti- objetivando a realização plena do homem no âmbito da
mula o desenvolvimento humano e dá suporte à sociedade história em um projeto sociopolítico de comunidade. Ela
para: compreender o contexto social e político que a envol- dá o direcionamento à vida do homem, em seu comporta-
ve; reconhecer os próprios prejuízos; assumir a responsabi- mento pessoal e suas ações coletivas.
lidade de defender seus direitos e os direitos dos outros; e Como um fio condutor, a ética direciona as grandes
preparar para a mediação e a solução de conflitos. decisões humanas, gerenciando os conflitos de liberdade
Os direitos humanos são reconhecidos como conjunto e apontando para caminhos da construção pessoal e cole-
de direitos individuais e coletivos, que devem ser respei- tiva, assim como adverte contra as ameaças de destruição
tados, promovidos. Existem leis internacionais e nacionais do bem e da justiça e chama atenção para o respeito que
que, desde a promulgação da DUDH em 1948, garantem a devemos ter ao outro.
efetivação dos direitos humanos em vários países.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O respeito ao outro significa respeitar os valores repu- Educar para os direitos humanos implica em tomar a de-
blicanos e os valores democráticos. O segundo documento cisão e assumir o compromisso de exercer a cidadania de
da Rede Brasileira de EDH assim expressa seu entendimento maneira irrestrita, voluntária e cooperativa. Essa ação requer
sobre valores republicanos e valores democráticos: a constituição de alianças entre os membros da sociedade
Por valores republicanos entendem-se: civil, formando redes, e entre o estado e a sociedade civil, o
(a) O respeito às leis, legitimadas pela aprovação sobe- que fortalece a luta na defesa dos direitos humanos.
rana do povo e acima das vontades particulares; A Educação em Direitos Humanos se insere num para-
(b) O respeito ao bem público, acima do interesse pri- digma: por um lado a dignidade humana é central; por outro,
vado; e se descentraliza ao intensificar a interculturalidade da socie-
(c) O sentido da responsabilidade no exercício do po- dade. Ou seja, ao passo que os direitos humanos defendem a
der, inclusive o poder implícito na ação dos educadores, se- dignidade do indivíduo, ela também defende a dignidade da
jam professores, sejam gestores do ensino. [...] coletividade. Isso é transitar por uma sociedade democrática.
Por valores democráticos entendem-se: Nessa perspectiva, a sociedade civil, os movimentos so-
(a) O amor à igualdade e consequente horror aos pri- ciais e as instituições formais de construção do saber cons-
vilégios; troem suas articulações e intercâmbios, constituindo redes
(b) A aceitação da vontade da maioria legitimamente de ações solidárias e emancipatórias. Essas ações tornam
formada, decorrente de eleições ou de outro processo de- possível a fundação e/ou consolidação da cidadania e da de-
mocrático, porém com constante respeito aos direitos das mocracia, possibilitando a participação de todos os segmen-
minorias; e tos da sociedade onde existe convergência das forças sociais
(c) Em consequência dos tópicos acima, configura-se que congregam o movimento pelos direitos humanos.
como conclusivo o respeito integral aos Direitos Humanos. A Educação em Direitos Humanos deve ser orientada
[...] para a comunidade. Deve sensibilizar o indivíduo a partici-
Janine (2002) coloca que os valores democráticos e os par de um processo ativo na resolução dos problemas em
valores republicanos devem ser incorporados ao cotidiano um contexto de realidades específicas e orientar a iniciativa,
das pessoas em seu sentido mais íntimo (aquele que go- o sentido de responsabilidade e o empenho de edificar um
amanhã melhor. Por sua própria natureza, a Educação em Di-
verna a vida privada) e não só na esfera pública. Esta é uma
reitos Humanos pode contribuir poderosamente para reno-
tarefa difícil de ser executada, mas que pode ter na EDH um
var o processo educativo.
espaço de construção de uma responsabilidade coletiva.
Os efeitos esperados são:
Em alguns aspectos, encontrar situações em que não há
(1) envolvimento e compromisso das pessoas compro-
o respeito a esses valores. A frase célebre “os fins justificam
metidas na luta pela defesa e proteção dos direitos humanos,
os meios” nos parece orientar a práxis que tem levado a
que tornarão possível a continuidade das ações com novos
“[...] uma cultura de desencantamento, somada a uma ver- atores e instituições;
são minimalista da democracia (uma democracia reduzida (2) consolidação da EDH como uma política pública atra-
ao rito eleitoral e estranha à participação substantiva), ajuda vés da geração de programas e projetos educativos com vis-
a expropriar as pessoas da capacidade de decidir”. tas a promoção e defesa dos direitos, valores e normas dos
O Artigo 26 da DUDH diz que: “A educação tem por direitos humanos no sistema de educação formal; constru-
objetivo o pleno desenvolvimento da personalidade huma- ção de processo de interlocução entre os espaços formais de
na e o fortalecimento ao respeito aos direitos humanos e educação e os espaços não formais;
às liberdades fundamentais”. Corroborando essa afirmativa, (3) estabelecimento de ações solidárias pelos docentes,
Pacheco (2002) argumenta que o direito à educação deverá discentes e técnicos administrativos, através de atividades
ser convertido no pilar do cumprimento dos demais direitos educativas que tenham a EDH como eixo norteador.
e que a educação para os direitos humanos deve ser inseri- Desenvolver a EDH requer uma práxis crítica e reflexiva.
da nesse processo. Freire (1991) afirma que as principais consequências dessa
Tornar o direito à Educação em Direitos Humanos como proposta foram: desenvolvimento de uma identidade cole-
marco a ser conquistado é imperativo no mundo atual. Ain- tiva onde o sentimento de pertencimento ao grupo permite
da segundo Pacheco (2002), essa forma de educar transcen- convivência democrática e crítica, onde todos se respeitam;
de ao conhecimento do direito: implica em estar preparado melhoria na autoestima dos alunos e maior confiança nos
para exigi-lo, conhecer os mecanismos legais e institucio- relacionamentos e na tomada de decisões; desenvolvimen-
nais de sua exigibilidade, saber onde lutar por seus direitos to de habilidades na solução de conflitos; e aumento da ca-
e as consequências pessoais e sociais de não fazê-lo; tem pacidade de argumentar apresentando pensamento lógico
um caráter multiplicador da eficácia desses direitos a partir fundamentado em conhecimentos adquiridos durante os
da apreensão conceitual de princípios éticos; impõe o exer- processos educativos.
cício constante na proteção da vida e exige que os direitos Nesse contexto, o exercício da solidariedade – em que há
sejam efetivados para que todos tenham uma vida digna. o reconhecimento do outro como alguém que tem dignida-
A EDH concebe possibilidade de interação entre as di- de – e a ação de quem se reconhece como sujeito de direitos
ferentes áreas do conhecimento, podendo preparar as pes- deve acontecer simultaneamente. Quando acontecem pro-
soas para compreender e intervir na realidade. Ela deve ser cessos dessa natureza pode-se perceber que o compromis-
problematizadora, geradora de conhecimento e conteúdos so apenas individual não existe e o bem coletivo passa a ser
de acordo com as pautas e demandas da sociedade. vivenciado.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Rodino (2003) propõe um entendimento mútuo para a A escola deve estar comprometida com uma educação
assimilação de alguns conceitos sobre Educação em Direi- em que os alunos aprendam a estabelecer suas próprias
tos Humanos que são utilizados por vários atores no cam- metas, com consciência do que estão fazendo, ultrapassan-
po social, acadêmico e político. A autora considera que: do seus próprios limites, sem competição, assumindo uma
“A abordagem de um tema educativo como este apresen- postura ética. Devem buscar a satisfação de suas necessi-
ta algumas dificuldades desde o início. Na mão um, em dades diárias, fortalecendo sua autoestima e aprendendo
grande escala e a possibilidade de diferentes ângulos de a assumir responsabilidades por suas próprias opções e
abordagem e ênfase, embora os termos utilizados sejam ações.
os mesmos”. A EDH deve acontecer transversalmente, de forma a
Rodino (2003) afirma que a EDH significa que todas conceber a possibilidade de interação entre as diferentes
as pessoas, independentemente do que são ou represen- áreas do conhecimento e em todas as etapas educativas,
tam, tenham a possibilidade concreta de receber educação comprometendo de forma positiva o currículo e a própria
sistemática, ampla e de boa qualidade que lhes permita: organização da escola. Essa forma de ensinar estimula o
compreender seus direitos humanos e suas respectivas res- diálogo, podendo preparar o educando para compreender
ponsabilidades; respeitar e proteger os direitos humanos e intervir na realidade.
de outras pessoas; entender a inter-relação entre direitos Nesse sentido, a negociação de saberes, segundo Ma-
humanos, estado de direito e governo democrático, e exer- gendzo (2002), deve buscar consensos nas diferenças e
citar, em sua interação diária de valores, atitudes e condu- nos diversos espaços sociais. O desenvolvimento humano
tas consequentes com os direitos humanos e os princípios ocorre em uma realidade social. O conhecimento sobre os
democráticos. direitos humanos se arquiteta na medida em que os ho-
A implementação da EDH é um projeto complexo, e mens tomam consciência das diferentes “verdades” sobre
exige bastante desprendimento dos participantes, pois liberdade, justiça, igualdade, dignidade humana e princi-
realizar uma formação em Direito Humanos demanda po- palmente sobre situações em que os direitos humanos são
sicionamento definido quanto à divulgação da cultura do violados em suas vidas.
direito. Consideramos que qualquer discussão sobre educação
Para que esse compromisso tivesse a legitimidade que passa obrigatoriamente pela indagação dos direitos fun-
lhe é devida, foi necessária a criação de dispositivos nor- damentais do ser humano, que nasce com atributos e pre-
mativos como decretos, resoluções, que dão base legal ao dicados que lhe conferem esses direitos em condições de
projeto. Apesar de toda a positivação para dar validade a igualdade, respeito e dignidade. O direito à educação está
essa forma de educar, para sua real execução e efetividade inserido nos direitos fundamentais e, portanto, não pode
é imperiosa a adoção de Diretrizes Nacionais para a Educa- ser privilégio de alguns, mas deve ser assegurado a todos
ção em Direitos Humanos que deem orientações para sua os cidadãos do mundo como uma condição necessária
prática e funcionalidade. para o exercício da cidadania e uma existência digna.
O direito à educação não se resume ao acesso à escola,
PROPOSTA METODOLÓGICA PARA SE TRABALHAR pois ele não será vivenciado plenamente se a escola não
A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NA EDUCAÇÃO der ao indivíduo informações, conhecimentos e domínio
BÁSICA de técnicas imprescindíveis à compreensão do mundo que
o rodeia, desenvolvendo nele o senso crítico que o levará a
A Educação em Direitos Humanos deve ser entendida uma ação transformadora da sociedade.
como um caminho facilitador para a concretização de um O conjunto de atividades criadas, desenvolvidas e vi-
projeto pedagógico em que todos os membros da comu- venciadas nas escolas deve ser estimulado sob o ponto de
nidade escolar sejam sujeitos dessa ação. Essa educação vista da criatividade como uma potencialidade humana
deve permitir a percepção integral do contexto em que está possível de ser desenvolvida de modo a estimular práticas
inserida em suas várias dimensões, a saber: éticas, sociais, interdisciplinares mediante diversas estratégias, como ob-
econômicas, culturais e ambientais; (b) que o processo seja jetivo da aquisição do conhecimento e do desenvolvimen-
articulado de forma transversal; e (c) que o educando par- to do gosto pela pesquisa em relação ao estudo do meio
ticipe do processo em todos os momentos, seja na cons- ambiente.
trução e aplicação do conhecimento, no enfrentamento de A Educação em Direitos Humanos concebe uma escola
situações críticas, propondo soluções e tendo autonomia viva e dinâmica, com práticas educacionais que estimulem
para superá-las. a participação de toda a comunidade escolar no seu desti-
Tal educação deve afirmar valores e estimular ações no e que legitimem processos participativos. Assim como
que contribuam para a transformação da sociedade, tor- por acreditarmos ser necessário estar em sintonia com uma
nando-a mais humana, socialmente justa e, também, volta- educação dialógica como um meio para a construção da
da para a preservação da natureza. Como processo educa- cidadania, viabilizando um trabalho “com” os envolvidos e
tivo, a Educação em Direitos Humanos é um chamamento à não somente “sobre” eles.
responsabilidade que envolve a ciência e a ética. E um dos Para tanto, é necessário que o Projeto Político Pedagó-
instrumentos de que a sociedade dispõe no momento para gico das escolas contemple estratégias como:
recriar valores perdidos ou jamais alcançados. (1) incentivar o trabalho colaborativo, em que o diálo-
go indicará os caminhos para construção das relações;
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
(2) estimular a curiosidade e o espírito investigativo so- O comportamento humano configura ações que pro-
bre determinado problema ou contexto, de tal forma a pos- duzem consequências. Por conseguinte, educar para os di-
sibilitar ao aluno um encontro com a realidade e se for o reitos humanos significa preparar os indivíduos para que
caso, sua transformação; possam participar da formação de uma sociedade mais
(3) selecionar conteúdos que contribuam para o aper- democrática. Essa preparação, entretanto, deve priorizar o
feiçoamento da capacidade de observar, apreender e esta- desenvolvimento da autonomia e da participação ativa e
belecer relações entre as transformações que ocorrem e o responsável dos cidadãos em sua comunidade.
contexto em que está inserido; Os processos educativos, ao mesmo tempo em que
(4) tornar transdisciplinar a abordagem do conjunto de
tornam possível às pessoas e aos grupos que deles partici-
conteúdos de modo que o aluno enriqueça a visão de con-
pam se afirmarem desde o lugar onde atuam, e a partir do
junto das diversas inter-relações existentes sem descuidar da
dimensão histórica; qual constroem sua visão de mundo, tornam possível, tam-
(5) dar a esse ensino uma dimensão mais humana e so- bém, sua inserção na sociedade como agentes de transfor-
cial sem perder sua especificidade; mação. Como bem afirma Freire (1980, p. 25), a educação
(6) construir uma metodologia capaz de oferecer con- para a libertação “é um ato de conhecimento e um méto-
dições para se implementarem práticas educativas que pos- do de ação transformadora que os seres humanos devem
sam ser vivenciadas no cotidiano escolar dentro de uma exercer sobre a realidade”.
perspectiva de construção do conhecimento e que estimu-
lem a criatividade dos alunos. GESTÃO DEMOCRÁTICA
Os projetos curriculares podem trazer concepções ca-
pazes de contribuir para a leitura crítica do mundo. Torna-se Uma escola pautada na gestão democrática deve criar
importante, então, traçar objetivos compatíveis com a for- espaços para o desenvolvimento das ações educativas onde
mação com foco em temáticas da vida cotidiana, solidarie- mais do que “falar” ou “refletir” sobre os direitos humanos
dade, compaixão e justiça, por exemplo. eles sejam vivenciados na prática. Os procedimentos e as
Corroborando essa ideia, Rayo (2001) considera a edu- práticas devem garantir a participação da comunidade es-
cação imprescindível no processo de construção de uma so- colar. O diálogo deve permear a prática cotidiana na escola.
ciedade justa. Para tanto, recomenda a implementação da A gestão democrática é respaldada no Artigo 206 da
tríplice finalidade da educação para os direitos humanos e
Constituição Federal de 1988 que trata dos princípios pelos
para a paz, que é informação, formação e transformação.
quais o ensino será ministrado. Essa modalidade de ges-
Uma das tarefas da educação é a reconstrução cultural
da sociedade, devendo primeiro formar sobre os conheci- tão dever ser orientada pelos princípios: da liberdade de
mentos mundialmente construídos, reconhecendo-os como aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a
obra da humanidade. Isso inclui as limitações, preconceitos, arte e o saber; do pluralismo de ideias e de concepções
suas causas e os obstáculos, assim como fazer uma refle- pedagógicas; e da gestão democrática do ensino público,
xão sobre a participação dos agentes sociais nesse processo na forma da lei.
e quais os caminhos para a promoção das transformações Os processos administrativos devem refletir as práti-
emancipatórias necessária. cas democráticas adotadas na gestão, em que deve haver
A DNEDH propõe mudanças no processo educacional coerência entre a finalidade de formar para a cidadania e a
de maneira que “a inserção de conhecimentos relativos democracia e os meios adotados para a construção desses
à EDH” deve ser articulada: “I – pela transversalidade, por fins. Portanto, para formar cidadãos democráticos a escola
meio de temas relacionados aos Direitos Humanos e trata- deve estar organizada fundamentada no diálogo, na trans-
dos interdisciplinarmente; II – como um conteúdo específico parência, na coerência, fomentando na comunidade esco-
de uma das disciplinas já existentes no currículo escolar; III lar uma atitude de confiança e respeito.
– de maneira mista, ou seja, combinando transversalidade e A democracia que pode ser vivenciada na escola deve
disciplinaridade”. traduzir os princípios explicitados: nas normas; nas rotinas;
O Artigo 6º das DNEDH indica alguns elementos que no estilo de administrar; na mediação dos conflitos.
devem ser considerados na construção da transversalidade
Como espaço para a convivência e para concretização
em processos educativos em Educação em Direitos Huma-
de projetos coletivos a serem desenvolvidos na escola na
nos, a saber: o Projeto Políticopedagógico; os Regimentos
Escolares; o modelo de gestão; os processos avaliativos; e na perspectiva da sustentabilidade, recomenda-se à escola
produção dos materiais didáticos. instituir equipes que tenham um grau de autonomia. Os
Através da EDH, transmite-se uma ética da atenção e do conselhos escolares possibilitam uma integração da comu-
cuidado com o “outro”, uma atitude, uma prática, para que nidade escolar com a comunidade do entorno da escola.
todas as gerações tenham mais atenção aos jovens em razão Os grêmios estudantis contribuem para o aprendizado do
do futuro que representam e às gerações mais velhas pelo fazer coletivo dos estudantes da escola, eles serão respon-
que elas representam enquanto construção história. Nesse sáveis por propor atividade culturais, reivindicar direitos a
contexto, a EDH contém valores da justiça para os outros e partir das demandas que a comunidade escolar lhes soli-
de solidariedade com os outros, de responsabilidade para cita.
com os outros, de acolhida aos outros e de respeito com
todas as pessoas. É mudar. O direito humano não é de um só
e sim de todos, como já mencionado.
12
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
2) identificar mecanismos que indicam processos que O modelo problematizador contempla três etapas, e
criem as condições que viabilizem os propósitos estabele- que são caracterizadas a seguir:
cidos; - momento do diagnóstico, nesse momento todos que
3) construir espaços de diálogo no sentido de que as estão envolvidos com o processo avaliativo identificam si-
decisões sejam tomadas coletivamente; concretizar ações tuações problemáticas que serão objeto de análise e pro-
que permitam os fins educacionais propostos; blematização. Procurando relacioná-los às questões globais
4) estabelecer a avaliação em todas as etapas do pro- críticas, suas causas e inter-relações em uma perspectiva
cesso educativo; sistêmica, em seu contexto social e histórico. Procurando,
5) promover o intercâmbio de experiências entre áreas, ainda, conexões com os aspectos essenciais relacionados
os participantes, os propositores, as comunidades benefi- ao desenvolvimento e ao meio ambiente e aos direitos hu-
ciadas; e manos, tais como população, saúde, paz, direitos humanos,
6) estabelecer meios para melhorar a qualidade da ati- fome, seca, degradação do solo etc. Nesse momento o alu-
vidade educativa, que tem os direitos humanos como tema no poderá vivenciar um processo de sensibilização, assim,
deve receber informações suficientes para poder conhecer
gerador.
todas as dimensões do problema.
Magendzo (2006) afirma que cabe ao educador em di-
PROPOSTA DE METODOLOGIA FUNDAMENTADA
reitos humanos adotar metodologias participativas para que
NO MODELO PROBLEMATIZADOR DE MAGENDZO
no debate seja possível.
Colocá-los em uma situação de alerta e de discussão
Para realização das atividades de EDH propõe-se um que os induza a concluir que o saber sobre os direitos huma-
processo de pesquisa onde vivenciamos a avaliação para o nos se alcança na medida em que se contrasta, se compara
empoderamento. Optamos pelo método do problematiza- e se critica. Portanto, é um conhecimento que os questiona
dor de Magendzo (2006). profundamente a eles em aspectos muito relevantes e fun-
O modelo problematizador caracteriza-se pela aborda- damentais em suas vidas.
gem crítica, levando o educando ou o defensor dos direitos - momento do desenvolvimento, a primeira fase deste
humanos à conscientização dos problemas ou dificuldades momento corresponde a delimitação do problema, seleção
que afetam sua comunidade, a partir da análise das dimen- e sistematização das informações pertinentes e necessárias
sões políticas e ideológicas. para sua solução, o que se dará em um processo de diá-
O desenvolvimento humano ocorre em uma realidade logo entre todos os participantes do processo. Depois de
social. O conhecimento sobre os direitos humanos se cons- identificadas as situações problemas, cabe aos implicados
trói na medida em que os homens tomam consciência das no processo definir quais interesses estão em jogo, quem
diferentes “verdades” sobre liberdade, justiça, igualdade, será beneficiado, quais direitos estão sendo violados e quais
dignidade humana e principalmente sobre situações em as repercussões sociais do que está sendo avaliado.
que os direitos humanos são violados em suas vidas. A busca por informações é essencial nesse processo,
O educando ou o defensor dos direitos humanos tem para tanto se faz necessário investigar fontes que possam
como característica própria explorar o meio em que vive e, fornecer subsídios importantes como autoridades, institui-
por meio dessa exploração, constrói sua realidade e adqui- ções, atores sociais, culturais e políticos e principalmente
re novos conhecimentos. Nesse sentido, é necessário que aqueles que de alguma forma estão relacionados à proble-
o educador em direitos humanos promova uma reflexão e mática.
análise dos problemas e estimule os que dela participam a Na última etapa desse momento, podem-se estabele-
procurar soluções tendo como fundamento o respeito aos cer categorias que posteriormente orientarão para elabora-
direitos humanos. ção de um documento, uma decisão a ser tomada. Cabe ao
coordenador do processo orientar os envolvidos no levanta-
O desenvolvimento com preservação ambiental em
mento de hipóteses das causas e consequências da situação
países com grandes desigualdades sociais é uma questão
problema.
política, ética e social complexa. Magendzo (2006) afir-
- momento em que se levantam alternativas de solu-
ma que a EDH tem que contemplar e assumir essa com-
ções, nessa proposta o objetivo será desenvolver um traba-
plexidade se quer ser significativa e relevante. O modelo lho cuja meta seja estimular a cooperação, e desenvolver um
problematizador propõe uma leitura da realidade a partir sentimento de solidariedade, fraternidade e respeito mútuo:
de sua complexidade, pois... incentiva os alunos a tomar que haja uma unidade de pensamento de todos os partici-
consciência de que as situações relacionadas com os direitos pantes, no objetivo da construção de um saber coletivo.
humanos do conflito, tal como referido acima, porque os di- Assim são elaboradas por todos propostas de soluções
ferentes interesses estão em jogo os que estão contestando para o problema investigado. Essas soluções podem ser clas-
as quotas de energia. Pense sobre as tensões que surgem, por sificadas em três categorias de soluções: ações (conduzem
exemplo, entre a liberdade e a igualdade entre os interesses os alunos a interagir direta e ativamente sobre o problema);
público e privado, entre o bem comum e bem individual, en- atitudinais (correspondem a uma tomada de consciência
tre a liberdade e a ordem, entre justiça e misericórdia, entre acerca do problema, um desejo de tomar partido, se com-
o desejável e viável, ou entre o desenvolvimento econômico prometer); e cognitivas (são aquelas em que o aluno oferece
e desenvolvimento sustentável…. soluções discursivas e intelectuais sobre o problema).
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Consideramos a participação a chave dos processos edu- Uma educação de qualidade deve proporcionar vivências
cativos, uma forma privilegiada de educar socializando emo- significativas no campo social e científico, que permitem ao
ções, valores, conhecimentos e comportamentos. Também aluno desenvolver seu potencial criador, mostrar a sua capaci-
entendemos ser importante a incorporação do conflito como dade de realização. Portanto, na implementação do processo
parte e aspecto do processo para estimular o debate e for- pedagógico é necessário difundir e intercambiar informações
talecer o reconhecimento das diferenças. O modelo adotado gerais e conhecimentos científicos, demonstrar e aprimorar
por Magendzo possibilita o desenvolvimento de um traba- seu comportamento social e contribuir para o fortalecimento
lho, que estimula a criatividade de quem participa, procura do vínculo entre a escola e a comunidade, cujo levantamento
relacionar a participação, a investigação e as ações educativas de problemas decorrentes das relações humanas e ambien-
como momentos de um mesmo processo. Tornando, portan- tais, leva à tomada de posição crítica em relação à qualidade
to, a ação educativa um ato de produção de conhecimento. de vida, contribuindo para a formação da cidadania.
Assim, podemos identificar pontos em comum entre a O Artigo 6º das Diretrizes Nacionais para Educação em
Educação em Direitos Humanos, a avaliação com enfoque nos Direitos Humanos orienta que a Educação em Direitos Huma-
direitos humanos e a avaliação do empoderamento: orientam nos, de modo transversal, deverá ser considerada na constru-
a tomada de decisões; colocam a participação como elemen- ção dos Projetos Político-Pedagógicos (PPP); dos Regimentos
to essencial; têm enfoque político; partem do contexto onde Escolares; dos Planos de Desenvolvimento Institucionais (PDI);
a ação social se desenvolve; destinam-se à solução do proble- dos Programas Pedagógicos de Curso (PPC) das Instituições
ma; e têm o diálogo como eixo integrador. de Educação Superior como importante instrumento para a
garantia da educação em direitos humanos como um direito
Considerações Finais humano.
No projeto educacional de uma escola ou universidade
A educação em direitos humanos é toda a aprendizagem pode-se vivenciar uma proposta democrática de educação
que desenvolve o conhecimento, as habilidades e os valores através do enriquecimento das relações em sala de aula tan-
dos direitos humanos. O reconhecimento pelo professor da to entre professor e aluno quanto na comunidade como um
importância de os direitos humanos serem trabalhados em todo, onde o diálogo e o respeito devam permear os pro-
cessos educativos, da diminuição do distanciamento entre os
sala de aula deverá estar em sintonia com o projeto político-
graus hierárquicos estabelecidos na escola (diretor/coorde-
pedagógico e com a gestão da escola.
nador/professor/alunos) e estimular maior envolvimento da
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Fe-
comunidade escolar e não só de professores na realização de
deral n° 9.394/1996) afirma o exercício da cidadania como
trabalhos e projetos na escola.
uma das finalidades da educação e destaca a escola como
Desenvolver projetos em educação em direitos humanos
“um espaço social privilegiado onde se definem a ação ins-
permite ao educador adotar uma perspectiva interdisciplinar
titucional pedagógica e a prática e vivência dos direitos hu- utilizando o conteúdo especifico de cada matéria e articulan-
manos”. do outras áreas do conhecimento de modo a analisarem-se
Um dos princípios presentes no Plano Nacional de Edu- os problemas sociais e ambientais tendo como base o pensa-
cação em Direitos Humanos para a educação básica propõe mento crítico e inovador.
que “a educação em direitos humanos deve ser um dos eixos É importante trabalhar com metodologias participativas
norteadores da educação básica e permear todo o currículo, que possibilitem organizar um ensino voltado para o desen-
não devendo ser reduzida à disciplina ou à área curricular es- volvimento de futuros cidadãos que reconheçam a impor-
pecífica”. tância da educação como fator essencial para a formação de
Nesse sentido, podem-se tecer algumas considerações uma sociedade mais justa e comprometida com as questões
e apresentar algumas propostas que indicam a existência de sociais e ambientais.
uma gama de possibilidades para a transformação da prática Ao final deste trabalho, a lição que fica é que uma escola
educacional e consolidação da educação em direitos huma- ideal que vive a Educação em diretos humanos é aquela que
nos como eixo norteador para uma educação de qualidade. em seu projeto pedagógico, além da apresentação de con-
Cada membro da comunidade escolar tem um potencial teúdos, propicia a prática de atitudes científicas e permite aos
criativo, e a educação em direitos humanos oportuniza aos professores e alunos comungarem os valores humanos mais
professores e alunos o desenvolvimento pleno desse poten- fundamentais como: a verdade, a responsabilidade, o respeito
cial. Portanto, é necessário dar maior alcance aos processos e o amor à vida.
pedagógicos onde se apresenta aos alunos uma maior varie- Consideramos que este texto não esgota a questão da
dade de experiências possíveis, oportunizando uma análise educação em diretos humanos, mas que pode servir de orien-
crítica da realidade. tação para a realização de experiências inovadoras na escola
Cabe à escola oferecer, a partir dos temas abordados, e na universidade.
condições aos alunos de refletir e de tomar decisões sobre
questões relacionadas à sua vida e ao ambiente que os cerca, Referência:
onde o racismo, o sexismo, a discriminação social, cultural, Brasil. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
religiosa e outras formas de discriminação presentes na socie- da República. Educação em Direitos Humanos: Diretrizes
dade sejam discutidos de forma crítica e denunciados como Nacionais – Brasília: Coordenação Geral de Educação em
contrários a uma cultura de respeito aos diretos humanos. SDH/PR, Direitos Humanos, Secretaria Nacional de Promo-
ção e Defesa dos Direitos Humanos, 2013.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
entrada, os serviços de assistência social em seu componen- de da integridade física, psíquica e moral da criança e do
te especializado, o Centro de Referência Especializado de adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão espaços e objetos pessoais.
conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na
faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirma- Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da crian-
ção de violência de qualquer natureza, formulando projeto ça e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tra-
terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se tamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei constrangedor.
nº 13.257, de 2016)
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
mas de assistência médica e odontológica para a prevenção tratamento cruel ou degradante, como formas de correção,
das enfermidades que ordinariamente afetam a população disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais,
infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, edu- pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis,
cadores e alunos. pelos agentes públicos executores de medidas socioeduca-
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos re- tivas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles,
comendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado tratá-los, educá-los ou protegê-los. (Incluído pela Lei nº
do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016) 13.010, de 2014)
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma trans- (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
versal, integral e intersetorial com as demais linhas de cui- I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou puni-
dado direcionadas à mulher e à criança. (Incluído pela Lei nº tiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou
13.257, de 2016)
o adolescente que resulte em: (Incluído pela Lei nº 13.010,
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função edu-
de 2014)
cativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o
a) sofrimento físico; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de
bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, pos-
2014)
teriormente, no sexto e no décimo segundo anos de vida,
b) lesão; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
com orientações sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma
13.257, de 2016)
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontoló- cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescen-
gicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. te que: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016). a) humilhe; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos b) ameace gravemente; ou (Incluído pela Lei nº 13.010,
seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro de 2014)
instrumento construído com a finalidade de facilitar a detec- c) ridicularize. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
ção, em consulta pediátrica de acompanhamento da criança,
de risco para o seu desenvolvimento psíquico. (Incluído pela Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada,
Lei nº 13.438, de 2017) (Vigência) os responsáveis, os agentes públicos executores de medi-
das socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de
Capítulo II cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento
cruel ou degradante como formas de correção, disciplina,
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberda- educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem
de, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas,
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos ci- que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
vis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes de proteção à família; Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
aspectos: II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços co- quiátrico; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
munitários, ressalvadas as restrições legais; III - encaminhamento a cursos ou programas de orien-
II - opinião e expressão; tação; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
III - crença e culto religioso; IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; especializado; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discri- V - advertência. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
minação; Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo se-
VI - participar da vida política, na forma da lei; rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. providências legais. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casa- Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali- nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se dei-
ficações, proibidas quaisquer designações discriminatórias xar descendentes.
relativas à filiação.
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é di-
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade reito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo
de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispu- ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qual-
ser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito quer restrição, observado o segredo de Justiça.
de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciá-
ria competente para a solução da divergência. Seção III
Da Família Substituta
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda Subseção I
e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no in- Disposições Gerais
teresse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
determinações judiciais. Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á me-
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, diante guarda, tutela ou adoção, independentemente da
têm direitos iguais e deveres e responsabilidades compar- situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos
tilhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser desta Lei.
resguardado o direito de transmissão familiar de suas cren- § 1º Sempre que possível, a criança ou o adolescente
ças e culturas, assegurados os direitos da criança estabele- será previamente ouvido por equipe interprofissional, res-
cidos nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) peitado seu estágio de desenvolvimento e grau de com-
preensão sobre as implicações da medida, e terá sua opi-
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não nião devidamente considerada.
constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do § 2º Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade,
poder familiar. será necessário seu consentimento, colhido em audiência.
§ 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize § 3º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o
a decretação da medida, a criança ou o adolescente será grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetivi-
mantido em sua família de origem, a qual deverá obriga- dade, a fim de evitar ou minorar as consequências decor-
toriamente ser incluída em serviços e programas oficiais rentes da medida.
de proteção, apoio e promoção. (Redação dada pela Lei nº § 4º Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção,
13.257, de 2016) tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a
§ 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não im- comprovada existência de risco de abuso ou outra situação
plicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese que justifique plenamente a excepcionalidade de solução
de condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclu- diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompi-
são, contra o próprio filho ou filha. (Incluído pela Lei nº mento definitivo dos vínculos fraternais.
12.962, de 2014) § 5º A colocação da criança ou adolescente em famí-
lia substituta será precedida de sua preparação gradativa e
Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter-
decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipó- preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis
tese de descumprimento injustificado dos deveres e obri- pela execução da política municipal de garantia do direito
gações a que alude o art. 22. à convivência familiar.
§ 6º Em se tratando de criança ou adolescente indígena
Seção II ou proveniente de comunidade remanescente de quilom-
Da Família Natural bo, é ainda obrigatório:
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identi-
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade dade social e cultural, os seus costumes e tradições, bem
formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e
ampliada aquela que se estende para além da unidade pela Constituição Federal;
pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no
próximos com os quais a criança ou adolescente convive e seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma
mantém vínculos de afinidade e afetividade. etnia;
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão federal responsável pela política indigenista, no caso de
ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, pe-
no próprio termo de nascimento, por testamento, median- rante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá
te escritura ou outro documento público, qualquer que seja acompanhar o caso.
a origem da filiação.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta § 3º A União apoiará a implementação de serviços de
a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade acolhimento em família acolhedora como política pública,
com a natureza da medida ou não ofereça ambiente fami- os quais deverão dispor de equipe que organize o acolhi-
liar adequado. mento temporário de crianças e de adolescentes em re-
Art. 30. A colocação em família substituta não admi- sidências de famílias selecionadas, capacitadas e acompa-
tirá transferência da criança ou adolescente a terceiros ou nhadas que não estejam no cadastro de adoção. (Incluído
a entidades governamentais ou não-governamentais, sem pela Lei nº 13.257, de 2016)
autorização judicial. § 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais,
distritais e municipais para a manutenção dos serviços de
Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repas-
constitui medida excepcional, somente admissível na mo- se de recursos para a própria família acolhedora. (Incluído
dalidade de adoção. pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tem-
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o po, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Minis-
encargo, mediante termo nos autos. tério Público.
Subseção III
Subseção II Da Tutela
Da Guarda
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.
material, moral e educacional à criança ou adolescente, Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a
conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar
inclusive aos pais. e implica necessariamente o dever de guarda.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato,
podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos pro- Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer
cedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por documento autêntico, conforme previsto no parágrafo úni-
estrangeiros. co do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a
casos de tutela e adoção, para atender a situações pecu- abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao
liares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, controle judicial do ato, observando o procedimento pre-
podendo ser deferido o direito de representação para a visto nos arts. 165 a 170 desta Lei.
prática de atos determinados. Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão ob-
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con- servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta
dição de dependente, para todos os fins e efeitos de direi- Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na
to, inclusive previdenciários. disposição de última vontade, se restar comprovado que
§ 4º Salvo expressa e fundamentada determinação em a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra
contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando pessoa em melhores condições de assumi-la.
a medida for aplicada em preparação para adoção, o de-
ferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no
não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, as- art. 24.
sim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto
de regulamentação específica, a pedido do interessado ou Subseção IV
do Ministério Público. Da Adoção
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assis- Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-
tência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, se-á segundo o disposto nesta Lei.
sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado § 1º A adoção é medida excepcional e irrevogável, à
do convívio familiar. qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recur-
§ 1º A inclusão da criança ou adolescente em progra- sos de manutenção da criança ou adolescente na família
mas de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhi- natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25
mento institucional, observado, em qualquer caso, o cará- desta Lei.
ter temporário e excepcional da medida, nos termos desta § 2º É vedada a adoção por procuração.
Lei. § 3º Em caso de conflito entre direitos e interesses do
§ 2º Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológi-
cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá cos, devem prevalecer os direitos e os interesses do ado-
receber a criança ou adolescente mediante guarda, obser- tando. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
vado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.
21
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, de- Art. 46. A adoção será precedida de estágio de con-
zoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guar- vivência com a criança ou adolescente, pelo prazo que a
da ou tutela dos adotantes. autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do
caso.
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adota- § 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado
do, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessó- se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do
rios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, adotante durante tempo suficiente para que seja possível
salvo os impedimentos matrimoniais. avaliar a conveniência da constituição do vínculo.
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho § 2º A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a
do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adota- dispensa da realização do estágio de convivência.
do e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos § 2º-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste
parentes. artigo pode ser prorrogado por até igual período, median-
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, te decisão fundamentada da autoridade judiciária. (Incluí-
seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descen- do pela Lei nº 13.509, de 2017)
dentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de § 3º Em caso de adoção por pessoa ou casal residente
vocação hereditária. ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência será
de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, e cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única
independentemente do estado civil. vez, mediante decisão fundamentada da autoridade judi-
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do ciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
adotando.
§ 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os ado- § 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo,
tantes sejam casados civilmente ou mantenham união es- deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe
tável, comprovada a estabilidade da família. mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos o deferimento da adoção à autoridade judiciária. (In-
mais velho do que o adotando. cluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 4º Os divorciados, os judicialmente separados e os § 4º O estágio de convivência será acompanhado pela
ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e
que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
que o estágio de convivência tenha sido iniciado na cons- responsáveis pela execução da política de garantia do di-
tância do período de convivência e que seja comprovada a reito à convivência familiar, que apresentarão relatório mi-
existência de vínculos de afinidade e afetividade com aque- nucioso acerca da conveniência do deferimento da medida.
le não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionali- § 5º O estágio de convivência será cumprido no terri-
dade da concessão. tório nacional, preferencialmente na comarca de residência
§ 5º Nos casos do § 4o deste artigo, desde que de- da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
monstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência
a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 do juízo da comarca de residência da criança. (Incluído pela
da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. Lei nº 13.509, de 2017)
§ 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que,
após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença
curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. judicial, que será inscrita no registro civil mediante manda-
do do qual não se fornecerá certidão.
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes
reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos como pais, bem como o nome de seus ascendentes.
legítimos. § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará
o registro original do adotado.
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e § 3º A pedido do adotante, o novo registro poderá ser
saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua
o pupilo ou o curatelado. residência.
§ 4º Nenhuma observação sobre a origem do ato po-
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais derá constar nas certidões do registro.
ou do representante legal do adotando. § 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do ado-
§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à tante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a
criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou modificação do prenome.
tenham sido destituídos do poder familiar. § 6º Caso a modificação de prenome seja requerida
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observa-
de idade, será também necessário o seu consentimento. do o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
22
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 7º A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito § 6º Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese residentes fora do País, que somente serão consultados na
prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadas-
retroativa à data do óbito. tros mencionados no § 5o deste artigo.
§ 8º O processo relativo à adoção assim como outros a § 7º As autoridades estaduais e federais em matéria de
ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-
seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para
garantida a sua conservação para consulta a qualquer tem- melhoria do sistema.
po. § 8º A autoridade judiciária providenciará, no prazo de
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adoles-
adoção em que o adotando for criança ou adolescente centes em condições de serem adotados que não tiveram
com deficiência ou com doença crônica. (Incluído pela Lei colocação familiar na comarca de origem, e das pessoas ou
nº 12.955, de 2014) casais que tiveram deferida sua habilitação à adoção nos
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de ado- cadastros estadual e nacional referidos no § 5o deste artigo,
ção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única sob pena de responsabilidade.
vez por igual período, mediante decisão fundamentada da § 9º Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela
autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) manutenção e correta alimentação dos cadastros, com pos-
terior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira.
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem § 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo de pretendentes habilitados residentes no País com perfil
no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, compatível e interesse manifesto pela adoção de criança ou
após completar 18 (dezoito) anos. adolescente inscrito nos cadastros existentes, será realiza-
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção po- do o encaminhamento da criança ou adolescente à adoção
derá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoi- internacional. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
to) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência § 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interes-
sado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre
jurídica e psicológica.
que possível e recomendável, será colocado sob guarda de
família cadastrada em programa de acolhimento familiar.
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação crite-
familiar dos pais naturais.
riosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Mi-
nistério Público.
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co-
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de
marca ou foro regional, um registro de crianças e adoles- candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamen-
centes em condições de serem adotados e outro de pes- te nos termos desta Lei quando:
soas interessadas na adoção. I - se tratar de pedido de adoção unilateral;
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia II - for formulada por parente com o qual a criança ou
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Minis- adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;
tério Público. III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guar-
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não da legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente,
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das desde que o lapso de tempo de convivência comprove a
hipóteses previstas no art. 29. fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja cons-
§ 3º A inscrição de postulantes à adoção será prece- tatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações
dida de um período de preparação psicossocial e jurídica, previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei.
orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res- candidato deverá comprovar, no curso do procedimento,
ponsáveis pela execução da política municipal de garantia que preenche os requisitos necessários à adoção, conforme
do direito à convivência familiar. previsto nesta Lei.
§ 4º Sempre que possível e recomendável, a prepara- § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas
ção referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com interessadas em adotar criança ou adolescente com defi-
crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou insti- ciência, com doença crônica ou com necessidades especí-
tucional em condições de serem adotados, a ser realizado ficas de saúde, além de grupo de irmãos. (Incluído pela Lei
sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica nº 13.509, de 2017)
da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos téc-
nicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na
execução da política municipal de garantia do direito à qual o pretendente possui residência habitual em país-par-
convivência familiar. te da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à
§ 5º Serão criados e implementados cadastros esta- Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Ado-
duais e nacional de crianças e adolescentes em condições ção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21
de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte
adoção. da Convenção. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
23
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 1º A adoção internacional de criança ou adolescen- VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade
te brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangei-
quando restar comprovado: (Redação dada pela Lei nº ra com a nacional, além do preenchimento por parte dos
12.010, de 2009) Vigência postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos
I - que a colocação em família adotiva é a solução ade- necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe
quada ao caso concreto; (Redação dada pela Lei nº 13.509, esta Lei como da legislação do país de acolhida, será expe-
de 2017) dido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de validade por, no máximo, 1 (um) ano;
colocação da criança ou adolescente em família adotiva VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado
brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o
inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encon-
com perfil compatível com a criança ou adolescente, após tra a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada
consulta aos cadastros mencionados nesta Lei; (Redação pela Autoridade Central Estadual.
dada pela Lei nº 13.509, de 2017) § 1º Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar,
III - que, em se tratando de adoção de adolescente, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção interna-
este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio cional sejam intermediados por organismos credenciados.
de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a § 2º Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o
medida, mediante parecer elaborado por equipe interpro- credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros en-
fissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 carregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção
desta Lei. internacional, com posterior comunicação às Autoridades
§ 2º Os brasileiros residentes no exterior terão prefe- Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de im-
rência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional prensa e em sítio próprio da internet.
de criança ou adolescente brasileiro. § 3º Somente será admissível o credenciamento de or-
§ 3º A adoção internacional pressupõe a intervenção ganismos que:
das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria I - sejam oriundos de países que ratificaram a Conven-
de adoção internacional. ção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Auto-
ridade Central do país onde estiverem sediados e no país de
Art. 52. A adoção internacional observará o procedi- acolhida do adotando para atuar em adoção internacional
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as se- no Brasil;
guintes adaptações: II - satisfizerem as condições de integridade moral, com-
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar petência profissional, experiência e responsabilidade exigi-
criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido das pelos países respectivos e pela Autoridade Central Fe-
de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em deral Brasileira;
matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua
entendido aquele onde está situada sua residência habi- formação e experiência para atuar na área de adoção inter-
tual; nacional;
II - se a Autoridade Central do país de acolhida con- IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento
siderar que os solicitantes estão habilitados e aptos para jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autori-
adotar, emitirá um relatório que contenha informações so- dade Central Federal Brasileira.
bre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos § 4º Os organismos credenciados deverão ainda:
solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condi-
médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua ções e dentro dos limites fixados pelas autoridades compe-
aptidão para assumir uma adoção internacional; tentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o e pela Autoridade Central Federal Brasileira;
relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifica-
Autoridade Central Federal Brasileira; das e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada
IV - o relatório será instruído com toda a documen- formação ou experiência para atuar na área de adoção inter-
tação necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado nacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Federal
por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, me-
da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova diante publicação de portaria do órgão federal competente;
de vigência; III - estar submetidos à supervisão das autoridades com-
V - os documentos em língua estrangeira serão devida- petentes do país onde estiverem sediados e no país de aco-
mente autenticados pela autoridade consular, observados lhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e
os tratados e convenções internacionais, e acompanhados situação financeira;
da respectiva tradução, por tradutor público juramentado; IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exi- cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem
gências e solicitar complementação sobre o estudo psicos- como relatório de acompanhamento das adoções interna-
social do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no cionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminhada
país de acolhida; ao Departamento de Polícia Federal;
24
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autorida- Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão
de Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Fe- ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Ado-
deral Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio lescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo
do relatório será mantido até a juntada de cópia autenticada Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente.
do registro civil, estabelecendo a cidadania do país de acolhida Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior
para o adotado; em país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de
VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os adoção tenha sido processado em conformidade com a le-
adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira gislação vigente no país de residência e atendido o dispos-
cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do to na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção, será
certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos. automaticamente recepcionada com o reingresso no Brasil.
§ 5º A não apresentação dos relatórios referidos no § 4o § 1º Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea
deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar a “c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença
suspensão de seu credenciamento.
ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.
§ 6º O credenciamento de organismo nacional ou estran-
§ 2º O pretendente brasileiro residente no exterior em
geiro encarregado de intermediar pedidos de adoção interna-
país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez rein-
cional terá validade de 2 (dois) anos.
§ 7º A renovação do credenciamento poderá ser concedi- gressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sen-
da mediante requerimento protocolado na Autoridade Central tença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça.
Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao término
do respectivo prazo de validade. Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil
§ 8º Antes de transitada em julgado a decisão que con- for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente
cedeu a adoção internacional, não será permitida a saída do do país de origem da criança ou do adolescente será co-
adotando do território nacional. nhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver proces-
§ 9º Transitada em julgado a decisão, a autoridade judi- sado o pedido de habilitação dos pais adotivos, que comu-
ciária determinará a expedição de alvará com autorização de nicará o fato à Autoridade Central Federal e determinará
viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando, as providências necessárias à expedição do Certificado de
obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente Naturalização Provisório.
adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços pe- § 1º A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério
culiares, assim como foto recente e a aposição da impressão Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela
digital do seu polegar direito, instruindo o documento com decisão se restar demonstrado que a adoção é manifesta-
cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em julga- mente contrária à ordem pública ou não atende ao interes-
do. se superior da criança ou do adolescente.
§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a § 2º Na hipótese de não reconhecimento da adoção,
qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá
crianças e adolescentes adotados. imediatamente requerer o que for de direito para resguar-
§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos cre- dar os interesses da criança ou do adolescente, comunican-
denciados, que sejam considerados abusivos pela Autorida- do-se as providências à Autoridade Central Estadual, que
de Central Federal Brasileira e que não estejam devidamente fará a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira
comprovados, é causa de seu descredenciamento. e à Autoridade Central do país de origem.
§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem
ser representados por mais de uma entidade credenciada para
Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil
atuar na cooperação em adoção internacional.
for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida
§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domicilia-
no país de origem porque a sua legislação a delega ao país
do fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, podendo
de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com deci-
ser renovada.
§ 14. É vedado o contato direto de representantes de são, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com diri- tenha aderido à Convenção referida, o processo de adoção
gentes de programas de acolhimento institucional ou familiar, seguirá as regras da adoção nacional.
assim como com crianças e adolescentes em condições de se-
rem adotados, sem a devida autorização judicial. Capítulo IV
§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá li- Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao
mitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos Lazer
sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo
fundamentado. Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à edu-
cação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e des- preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o
credenciamento, o repasse de recursos provenientes de or- trabalho, assegurando-se-lhes:
ganismos estrangeiros encarregados de intermediar pedidos I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
de adoção internacional a organismos nacionais ou a pessoas cia na escola;
físicas. II - direito de ser respeitado por seus educadores;
25
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da
recorrer às instâncias escolares superiores; União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e
IV - direito de organização e participação em entidades espaços para programações culturais, esportivas e de lazer
estudantis; voltadas para a infância e a juventude.
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência. Capítulo V
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Tra-
ciência do processo pedagógico, bem como participar da balho
definição das propostas educacionais.
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao ado- quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.
lescente: (Vide Constituição Federal)
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive
para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é re-
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratui- gulada por legislação especial, sem prejuízo do disposto
dade ao ensino médio; nesta Lei.
III - atendimento educacional especializado aos por-
tadores de deficiência, preferencialmente na rede regular Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técni-
de ensino; co-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças legislação de educação em vigor.
de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº
13.306, de 2016) Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- seguintes princípios:
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao en-
um;
sino regular;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
II - atividade compatível com o desenvolvimento do
condições do adolescente trabalhador;
adolescente;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de
III - horário especial para o exercício das atividades.
programas suplementares de material didático-escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde.
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
assegurada bolsa de aprendizagem.
público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo
poder público ou sua oferta irregular importa responsabili- Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze
dade da autoridade competente. anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previden-
§ 3º Compete ao poder público recensear os educan- ciários.
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar,
junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é asse-
gurado trabalho protegido.
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de ma-
tricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regi-
me familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino em entidade governamental ou não-governamental, é ve-
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: dado trabalho:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão esco- dia e as cinco horas do dia seguinte;
lar, esgotados os recursos escolares; II - perigoso, insalubre ou penoso;
III - elevados níveis de repetência. III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao
seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, expe- IV - realizado em horários e locais que não permitam a
riências e novas propostas relativas a calendário, seriação, frequência à escola.
currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à
inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino Art. 68. O programa social que tenha por base o traba-
fundamental obrigatório. lho educativo, sob responsabilidade de entidade governa-
mental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va- assegurar ao adolescente que dele participe condições de
lores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto capacitação para o exercício de atividade regular remune-
social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a rada.
liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.
26
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade la- responsáveis com o objetivo de promover a informação, a
boral em que as exigências pedagógicas relativas ao de- reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso
senvolvimento pessoal e social do educando prevalecem de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no
sobre o aspecto produtivo. processo educativo; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra- VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para
balho efetuado ou a participação na venda dos produtos a articulação de ações e a elaboração de planos de atua-
de seu trabalho não desfigura o caráter educativo. ção conjunta focados nas famílias em situação de violência,
com participação de profissionais de saúde, de assistência
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização social e de educação e de órgãos de promoção, proteção
e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspec- e defesa dos direitos da criança e do adolescente. (Incluído
tos, entre outros: pela Lei nº 13.010, de 2014)
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen- Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescen-
volvimento; tes com deficiência terão prioridade de atendimento nas
II - capacitação profissional adequada ao mercado de ações e políticas públicas de prevenção e proteção. (Incluí-
trabalho. do pela Lei nº 13.010, de 2014)
27
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diver- Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado-
sões e espetáculos públicos classificados como adequados à lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento con-
sua faixa etária. gênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos so- responsável.
mente poderão ingressar e permanecer nos locais de apre-
sentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou Seção III
responsável. Da Autorização para Viajar
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibi- Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da
rão, no horário recomendado para o público infanto juvenil, comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou res-
programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e ponsável, sem expressa autorização judicial.
informativas. § 1º A autorização não será exigida quando:
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado a) tratar-se de comarca contígua à da residência da
ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na
transmissão, apresentação ou exibição. mesma região metropolitana;
b) a criança estiver acompanhada:
Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcioná- 1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau,
rios de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas comprovado documentalmente o parentesco;
de programação em vídeo cuidarão para que não haja venda 2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai,
ou locação em desacordo com a classificação atribuída pelo mãe ou responsável.
órgão competente. § 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais
Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão ou responsável, conceder autorização válida por dois anos.
exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a
faixa etária a que se destinam. Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a auto-
rização é dispensável, se a criança ou adolescente:
Art. 78. As revistas e publicações contendo material im- I - estiver acompanhado de ambos os pais ou respon-
próprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser sável;
comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado ex-
de seu conteúdo. pressamente pelo outro através de documento com firma
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas reconhecida.
que contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam
protegidas com embalagem opaca. Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne-
nhuma criança ou adolescente nascido em território na-
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público cional poderá sair do País em companhia de estrangeiro
infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, residente ou domiciliado no exterior.
legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, taba-
co, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e PARTE ESPECIAL
sociais da pessoa e da família. TÍTULO I
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção § 3º Crianças e adolescentes somente poderão ser en-
deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em caminhados às instituições que executam programas de
que a criança ou o adolescente se encontram no momento acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio
em que a decisão é tomada; de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade ju-
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser diciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros:
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres I - sua identificação e a qualificação completa de seus
para com a criança e o adolescente; pais ou de seu responsável, se conhecidos;
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na II - o endereço de residência dos pais ou do responsá-
proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva- vel, com pontos de referência;
lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados
família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que em tê-los sob sua guarda;
promovam a sua integração em família adotiva; (Redação IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao
dada pela Lei nº 13.509, de 2017) convívio familiar.
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o ado- § 4º Imediatamente após o acolhimento da criança ou
lescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e ca- do adolescente, a entidade responsável pelo programa de
pacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano
ser informados dos seus direitos, dos motivos que deter- individual de atendimento, visando à reintegração familiar,
minaram a intervenção e da forma como esta se processa; ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado- em contrário de autoridade judiciária competente, caso em
lescente, em separado ou na companhia dos pais, de res- que também deverá contemplar sua colocação em família
ponsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.
pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar § 5º O plano individual será elaborado sob a responsa-
nos atos e na definição da medida de promoção dos direi- bilidade da equipe técnica do respectivo programa de aten-
tos e de proteção, sendo sua opinião devidamente consi- dimento e levará em consideração a opinião da criança ou
derada pela autoridade judiciária competente, observado o
do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
§ 6º Constarão do plano individual, dentre outros:
I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no
II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon-
art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre
sável; e
outras, as seguintes medidas:
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante
termo de responsabilidade; com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabeleci- esta vedada por expressa e fundamentada determinação ju-
mento oficial de ensino fundamental; dicial, as providências a serem tomadas para sua colocação
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co- em família substituta, sob direta supervisão da autoridade
munitários de proteção, apoio e promoção da família, da judiciária.
criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, § 7º O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no
de 2016) local mais próximo à residência dos pais ou do responsável
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; que identificada a necessidade, a família de origem será in-
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de au- cluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de
xílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato
VII - acolhimento institucional; com a criança ou com o adolescente acolhido.
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; § 8º Verificada a possibilidade de reintegração familiar,
IX - colocação em família substituta. o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
§ 1º O acolhimento institucional e o acolhimento fami- institucional fará imediata comunicação à autoridade judi-
liar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como ciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5
forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
esta possível, para colocação em família substituta, não im- § 9º Em sendo constatada a impossibilidade de reinte-
plicando privação de liberdade. gração da criança ou do adolescente à família de origem,
§ 2º Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais após seu encaminhamento a programas oficiais ou comu-
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das nitários de orientação, apoio e promoção social, será envia-
providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento do relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
da criança ou adolescente do convívio familiar é de com- conste a descrição pormenorizada das providências toma-
petência exclusiva da autoridade judiciária e importará na das e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da
deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem entidade ou responsáveis pela execução da política muni-
tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten- cipal de garantia do direito à convivência familiar, para a
cioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou
exercício do contraditório e da ampla defesa. guarda.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a su-
99 e 100. pervisão da autoridade competente, a realização dos se-
guintes encargos, entre outros:
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos I - promover socialmente o adolescente e sua família,
II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficien- fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário,
tes da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência
hipótese de remissão, nos termos do art. 127. social;
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada II - supervisionar a frequência e o aproveitamento es-
sempre que houver prova da materialidade e indícios su- colar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
ficientes da autoria. III - diligenciar no sentido da profissionalização do
adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;
Seção II IV - apresentar relatório do caso.
Da Advertência
Seção VI
Art. 115. A advertência consistirá em admoestação ver-
bal, que será reduzida a termo e assinada. Do Regime de Semiliberdade
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescen- I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
te, à falta dos pais ou responsável. desacompanhado dos pais ou responsável, em:
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a a) estádio, ginásio e campo desportivo;
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as b) bailes ou promoções dançantes;
regras de conexão, continência e prevenção. c) boate ou congêneres;
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à d) casa que explore comercialmente diversões eletrô-
autoridade competente da residência dos pais ou respon- nicas;
sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televi-
criança ou adolescente. são.
§ 3º Em caso de infração cometida através de trans- II - a participação de criança e adolescente em:
missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais a) espetáculos públicos e seus ensaios;
de uma comarca, será competente, para aplicação da pe- b) certames de beleza.
nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado. a) os princípios desta Lei;
b) as peculiaridades locais;
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é com- c) a existência de instalações adequadas;
petente para: d) o tipo de frequência habitual ao local;
I - conhecer de representações promovidas pelo Minis- e) a adequação do ambiente a eventual participação
tério Público, para apuração de ato infracional atribuído a ou frequência de crianças e adolescentes;
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; f) a natureza do espetáculo.
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou § 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar-
extinção do processo; tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; determinações de caráter geral.
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses
individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao ado- Seção III
lescente, observado o disposto no art. 209; Dos Serviços Auxiliares
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades
em entidades de atendimento, aplicando as medidas ca- Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de
bíveis; sua proposta orçamentária, prever recursos para manuten-
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de ção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a
infrações contra norma de proteção à criança ou ado- Justiça da Infância e da Juventude.
lescente;
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre ou-
Tutelar, aplicando as medidas cabíveis. tras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado- local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou
lescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver tra-
Justiça da Infância e da Juventude para o fim de: balhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento,
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do
perda ou modificação da tutela ou guarda; ponto de vista técnico.
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o ca- Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servi-
samento; dores públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis
d) conhecer de pedidos baseados em discordância pa- pela realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer
terna ou materna, em relação ao exercício do poder fami- outras espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei
liar; ou por determinação judicial, a autoridade judiciária po-
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, derá proceder à nomeação de perito, nos termos do art.
quando faltarem os pais; 156 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
f) designar curador especial em casos de apresentação Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
de queixa ou representação, ou de outros procedimentos
judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança Capítulo III
ou adolescente; Dos Procedimentos
g) conhecer de ações de alimentos; Seção I
h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri- Disposições Gerais
mento dos registros de nascimento e óbito.
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli-
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na le-
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: gislação processual pertinente.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 1º É assegurada, sob pena de responsabilidade, prio- Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
ridade absoluta na tramitação dos processos e procedi- dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
mentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas
atos e diligências judiciais a eles referentes. e documentos.
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos § 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos
seus procedimentos são contados em dias corridos, excluí- os meios para sua realização. (Incluído pela Lei nº 12.962,
do o dia do começo e incluído o dia do vencimento, veda- de 2014)
do o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério § 2º O requerido privado de liberdade deverá ser citado
Público. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) pessoalmente. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
§ 3º Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor- houver procurado o citando em seu domicílio ou residên-
responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, cia sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de oculta-
a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar ção, informar qualquer pessoa da família ou, em sua falta,
de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério qualquer vizinho do dia útil em que voltará a fim de efetuar
Público. a citação, na hora que designar, nos termos do art. 252 e
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica seguintes da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Códi-
para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de go de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
sua família de origem e em outros procedimentos necessa- § 4º Na hipótese de os genitores encontrarem-se em
riamente contenciosos. local incerto ou não sabido, serão citados por edital no
prazo de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. envio de ofícios para a localização. (Incluído pela Lei
nº 13.509, de 2017)
Seção II
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de
constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão
de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja
do poder familiar terá início por provocação do Ministério
nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresentação de res-
Público ou de quem tenha legítimo interesse.
posta, contando-se o prazo a partir da intimação do des-
pacho de nomeação.
Art. 156. A petição inicial indicará:
Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de
I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momen-
do requerente e do requerido, dispensada a qualificação to da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado de-
em se tratando de pedido formulado por representante do fensor. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
Ministério Público;
III - a exposição sumária do fato e o pedido; Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re-
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde quisitará de qualquer repartição ou órgão público a apre-
logo, o rol de testemunhas e documentos. sentação de documento que interesse à causa, de ofício ou
a requerimento das partes ou do Ministério Público.
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspen- Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido
são do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o concluído o estudo social ou a perícia realizada por equipe
julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou ado- interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judiciária
lescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de res- dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco)
ponsabilidade. dias, salvo quando este for o requerente, e decidirá em
§ 1º Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária igual prazo. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
determinará, concomitantemente ao despacho de citação § 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimen-
e independentemente de requerimento do interessado, a to das partes ou do Ministério Público, determinará a oi-
realização de estudo social ou perícia por equipe interpro- tiva de testemunhas que comprovem a presença de uma
fissional ou multidisciplinar para comprovar a presença de das causas de suspensão ou destituição do poder familiar
uma das causas de suspensão ou destituição do poder fa- previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de
miliar, ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e janeiro de 2002 (Código Civil), ou no art. 24 desta Lei. (Re-
observada a Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017. (Incluído dação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
pela Lei nº 13.509, de 2017) § 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
§ 2º Em sendo os pais oriundos de comunidades in- 2017)
dígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe § 3º Se o pedido importar em modificação de guarda,
interprofissional ou multidisciplinar referida no § 1o des- será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da
te artigo, de representantes do órgão federal responsável criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desen-
pela política indigenista, observado o disposto no § 6o do volvimento e grau de compreensão sobre as implicações
art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) da medida.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles II - indicação de eventual parentesco do requerente e
forem identificados e estiverem em local conhecido, ressal- de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adoles-
vados os casos de não comparecimento perante a Justiça cente, especificando se tem ou não parente vivo;
quando devidamente citados. (Redação dada pela Lei nº III - qualificação completa da criança ou adolescente e
13.509, de 2017) de seus pais, se conhecidos;
§ 5º Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
a autoridade judicial requisitará sua apresentação para a anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
oitiva. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judi- Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco se-ão também os requisitos específicos.
dias, salvo quando este for o requerente, designando, des-
de logo, audiência de instrução e julgamento. Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido des-
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de tituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem
2017) aderido expressamente ao pedido de colocação em famí-
lia substituta, este poderá ser formulado diretamente em
§ 2º Na audiência, presentes as partes e o Ministério cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes,
Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oral- dispensada a assistência de advogado.
mente o parecer técnico, salvo quando apresentado por § 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: (Re-
escrito, manifestando-se sucessivamente o requerente, o dação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
requerido e o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) I - na presença do Ministério Público, ouvirá as par-
minutos cada um, prorrogável por mais 10 (dez) minutos. tes, devidamente assistidas por advogado ou por defensor
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) público, para verificar sua concordância com a adoção, no
§ 3º A decisão será proferida na audiência, podendo prazo máximo de 10 (dez) dias, contado da data do proto-
a autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data
colo da petição ou da entrega da criança em juízo, toman-
para sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluí-
do por termo as declarações; e (Incluído pela Lei nº 13.509,
do pela Lei nº 13.509, de 2017)
de 2017)
§ 4º Quando o procedimento de destituição de poder
II - declarará a extinção do poder familiar. (Incluído
familiar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá
pela Lei nº 13.509, de 2017)
necessidade de nomeação de curador especial em favor
§ 2º O consentimento dos titulares do poder familiar
da criança ou adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
será precedido de orientações e esclarecimentos prestados
2017)
pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Ju-
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do proce- ventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevoga-
dimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, bilidade da medida.
no caso de notória inviabilidade de manutenção do po- § 3º São garantidos a livre manifestação de vontade
der familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou o dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das
adolescente com vistas à colocação em família substituta. informações. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) § 4º O consentimento prestado por escrito não terá va-
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou lidade se não for ratificado na audiência a que se refere o §
a suspensão do poder familiar será averbada à margem do 1o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
registro de nascimento da criança ou do adolescente. § 5º O consentimento é retratável até a data da rea-
lização da audiência especificada no § 1o deste artigo, e
Seção III os pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10
Da Destituição da Tutela (dez) dias, contado da data de prolação da sentença de ex-
tinção do poder familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509,
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o pro- de 2017)
cedimento para a remoção de tutor previsto na lei proces- § 6º O consentimento somente terá valor se for dado
sual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior. após o nascimento da criança.
§ 7º A família natural e a família substituta receberão a
Seção IV devida orientação por intermédio de equipe técnica inter-
Da Colocação em Família Substituta profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis
Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos pela execução da política municipal de garantia do direito
de colocação em família substituta: à convivência familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509,
I - qualificação completa do requerente e de seu even- de 2017)
tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência des-
te;
40
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque- II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
rimento das partes ou do Ministério Público, determinará III - requisitar os exames ou perícias necessários à com-
a realização de estudo social ou, se possível, perícia por provação da materialidade e autoria da infração.
equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a la-
guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o vratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocor-
estágio de convivência. rência circunstanciada.
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda pro-
visória ou do estágio de convivência, a criança ou o ado- Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou respon-
lescente será entregue ao interessado, mediante termo de sável, o adolescente será prontamente liberado pela autori-
responsabilidade. dade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade
de sua apresentação ao representante do Ministério Públi-
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe- co, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil
ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adoles- imediato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e
cente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob
prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em internação para garantia de sua segurança pessoal ou manu-
igual prazo. tenção da ordem pública.
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli-
a perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressu- cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representan-
posto lógico da medida principal de colocação em família te do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de
substituta, será observado o procedimento contraditório apreensão ou boletim de ocorrência.
previsto nas Seções II e III deste Capítulo. § 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au-
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de
poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento, atendimento, que fará a apresentação ao representante do
observado o disposto no art. 35. Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de aten-
dimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial.
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á
À falta de repartição policial especializada, o adolescente
o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art.
aguardará a apresentação em dependência separada da des-
47.
tinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese, exce-
Parágrafo único. A colocação de criança ou adoles-
der o prazo referido no parágrafo anterior.
cente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de
acolhimento familiar será comunicada pela autoridade ju- Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade po-
diciária à entidade por este responsável no prazo máximo licial encaminhará imediatamente ao representante do Mi-
de 5 (cinco) dias. nistério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de
ocorrência.
Seção V
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Ado- Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver in-
lescente dícios de participação de adolescente na prática de ato in-
fracional, a autoridade policial encaminhará ao representante
Art. 171. O adolescente apreendido por força de or- do Ministério Público relatório das investigações e demais
dem judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade documentos.
judiciária.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de infracional não poderá ser conduzido ou transportado em
ato infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade compartimento fechado de veículo policial, em condições
policial competente. atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
Parágrafo único. Havendo repartição policial especiali- integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
zada para atendimento de adolescente e em se tratando de
ato infracional praticado em coautoria com maior, prevale- Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante
cerá a atribuição da repartição especializada, que, após as do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de
providências necessárias e conforme o caso, encaminhará apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devi-
o adulto à repartição policial própria. damente autuados pelo cartório judicial e com informação
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional co- informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais
metido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a ou responsável, vítima e testemunhas.
autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o repre-
parágrafo único, e 107, deverá: sentante do Ministério Público notificará os pais ou respon-
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e sável para apresentação do adolescente, podendo requisitar
o adolescente; o concurso das polícias civil e militar.
41
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au-
anterior, o representante do Ministério Público poderá: toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabeleci-
I - promover o arquivamento dos autos; mento prisional.
II - conceder a remissão; § 1º Inexistindo na comarca entidade com as caracterís-
III - representar à autoridade judiciária para aplicação ticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser imedia-
de medida sócio-educativa. tamente transferido para a localidade mais próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles-
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con- cente aguardará sua remoção em repartição policial, desde
cedida a remissão pelo representante do Ministério Públi- que em seção isolada dos adultos e com instalações apro-
co, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo priadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco
dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária dias, sob pena de responsabilidade.
para homologação. Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou res-
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a au- ponsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mes-
toridade judiciária determinará, conforme o caso, o cum- mos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
primento da medida. § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a re-
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa missão, ouvirá o representante do Ministério Público, profe-
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante des- rindo decisão.
pacho fundamentado, e este oferecerá representação, de- § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medi-
signará outro membro do Ministério Público para apresen- da de internação ou colocação em regime de semiliberdade,
tá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só a autoridade judiciária, verificando que o adolescente não
então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar. possui advogado constituído, nomeará defensor, designan-
do, desde logo, audiência em continuação, podendo deter-
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do minar a realização de diligências e estudo do caso.
Ministério Público não promover o arquivamento ou con- § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado,
no prazo de três dias contado da audiência de apresentação,
ceder a remissão, oferecerá representação à autoridade
oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
judiciária, propondo a instauração de procedimento para
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemu-
aplicação da medida sócio-educativa que se afigurar a mais
nhas arroladas na representação e na defesa prévia, cumpri-
adequada.
das as diligências e juntado o relatório da equipe interpro-
§ 1º A representação será oferecida por petição, que
fissional, será dada a palavra ao representante do Ministério
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato
Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte
infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, po-
minutos para cada um, prorrogável por mais dez, a critério
dendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada
da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.
pela autoridade judiciária.
§ 2º A representação independe de prova pré-consti- Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não
tuída da autoria e materialidade. comparecer, injustificadamente à audiência de apresenta-
ção, a autoridade judiciária designará nova data, determi-
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con- nando sua condução coercitiva.
clusão do procedimento, estando o adolescente internado
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias. Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus-
pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judi- do procedimento, antes da sentença.
ciária designará audiência de apresentação do adolescente,
decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer
da internação, observado o disposto no art. 108 e pará- medida, desde que reconheça na sentença:
grafo. I - estar provada a inexistência do fato;
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão II - não haver prova da existência do fato;
cientificados do teor da representação, e notificados a III - não constituir o fato ato infracional;
comparecer à audiência, acompanhados de advogado. IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido
§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a para o ato infracional.
autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente. Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade adolescente internado, será imediatamente colocado em li-
judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter- berdade.
minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen-
tação. Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada internação ou regime de semiliberdade será feita:
a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais I - ao adolescente e ao seu defensor;
ou responsável. II - quando não for encontrado o adolescente, a seus
pais ou responsável, sem prejuízo do defensor.
42
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o
unicamente na pessoa do defensor. acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Pú-
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, de- blico e ao delegado de polícia responsável pela operação,
verá este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. com o objetivo de garantir o sigilo das investigações. (In-
cluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Seção V-A
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a
sua identidade para, por meio da internet, colher indícios
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investiga- de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts.
ção de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança e de 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts.
Adolescente” 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). (Incluído pela
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na inter- Lei nº 13.441, de 2017)
net com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar
240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. de observar a estrita finalidade da investigação responderá
154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, pelos excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às 2017)
seguintes regras: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
I – será precedida de autorização judicial devidamente Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público
circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limi- poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante
tes da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Minis- procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial,
tério Público; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) as informações necessárias à efetividade da identidade fic-
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú- tícia criada. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
blico ou representação de delegado de polícia e conterá a Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata
demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas esta Seção será numerado e tombado em livro específico.
dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investiga- (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
das e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais
que permitam a identificação dessas pessoas; (Incluído Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos ele-
pela Lei nº 13.441, de 2017) trônicos praticados durante a operação deverão ser regis-
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, trados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e
sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total ao Ministério Público, juntamente com relatório circunstan-
não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demons- ciado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
trada sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judi- Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados
cial. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público pode- apensados ao processo criminal juntamente com o inqué-
rão requisitar relatórios parciais da operação de infiltração rito policial, assegurando-se a preservação da identidade
antes do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º do agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) dos adolescentes envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.441,
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º des- de 2017)
te artigo, consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de
2017) Seção VI
I – dados de conexão: informações referentes a hora, Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
data, início, término, duração, endereço de Protocolo de Atendimento
Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; (In-
cluído pela Lei nº 13.441, de 2017) Art. 191. O procedimento de apuração de irregulari-
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e dades em entidade governamental e não-governamental
endereço de assinante ou de usuário registrado ou auten- terá início mediante portaria da autoridade judiciária ou re-
ticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação presentação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar,
de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no onde conste, necessariamente, resumo dos fatos.
momento da conexão. Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a au-
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não toridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar
será admitida se a prova puder ser obtida por outros meios. liminarmente o afastamento provisório do dirigente da en-
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) tidade, mediante decisão fundamentada.
Art. 190-B. As informações da operação de infiltração Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no
serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo jun-
autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído tar documentos e indicar as provas a produzir.
pela Lei nº 13.441, de 2017)
43
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da parti- III - os recursos terão preferência de julgamento e dis-
cipação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a au- pensarão revisor;
toridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, IV - Revogado
decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério V - Revogado
Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, VI - Revogado
designando, conforme o caso, audiência de instrução e jul- VII - antes de determinar a remessa dos autos à supe-
gamento. rior instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligên- caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho
cias, ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no
determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a prazo de cinco dias;
seguir vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escri-
dias, decidindo em igual prazo. vão remeterá os autos ou o instrumento à superior instân-
cia dentro de vinte e quatro horas, independentemente de
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será novo pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos
inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a autos dependerá de pedido expresso da parte interessada
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem ou do Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de da intimação.
crianças ou adolescentes adotáveis.
§ 1º A ordem cronológica das habilitações somente Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no
poderá deixar de ser observada pela autoridade judiciária art. 149 caberá recurso de apelação.
nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quan-
do comprovado ser essa a melhor solução no interesse do Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz
adotando. efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será re-
§ 2º A habilitação à adoção deverá ser renovada no cebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tra-
mínimo trienalmente mediante avaliação por equipe inter-
tar de adoção internacional ou se houver perigo de dano
profissional. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
irreparável ou de difícil reparação ao adotando
§ 3º Quando o adotante candidatar-se a uma nova ado-
ção, será dispensável a renovação da habilitação, bastando
Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qual-
a avaliação por equipe interprofissional. (Incluído pela Lei
quer dos genitores do poder familiar fica sujeita a apela-
nº 13.509, de 2017)
ção, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.
§ 4º Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado,
à adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do
Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção
perfil escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedi-
da. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) e de destituição de poder familiar, em face da relevância
§ 5º A desistência do pretendente em relação à guar- das questões, serão processados com prioridade absoluta,
da para fins de adoção ou a devolução da criança ou do devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado
adolescente depois do trânsito em julgado da sentença de que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribui-
adoção importará na sua exclusão dos cadastros de ado- ção, e serão colocados em mesa para julgamento sem revi-
ção (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) são e com parecer urgente do Ministério Público.
Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habili- Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em
tação à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogá- mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta)
vel por igual período, mediante decisão fundamentada da dias, contado da sua conclusão.
autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Parágrafo único. O Ministério Público será intimado
da data do julgamento e poderá na sessão, se entender
Capítulo IV necessário, apresentar oralmente seu parecer.
Dos Recursos
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a ins-
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infân- tauração de procedimento para apuração de responsabili-
cia e da Juventude, inclusive os relativos à execução das dades se constatar o descumprimento das providências e
medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da do prazo previstos nos artigos anteriores.
Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo
Civil), com as seguintes adaptações: Capítulo V
I - os recursos serão interpostos independentemente Do Ministério Público
de preparo;
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de de- Art. 200. As funções do Ministério Público previstas
claração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa nesta Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei or-
será sempre de 10 (dez) dias; gânica.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 201. Compete ao Ministério Público: § 2º As atribuições constantes deste artigo não ex-
I - conceder a remissão como forma de exclusão do cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do
processo; Ministério Público.
II - promover e acompanhar os procedimentos relati- § 3º O representante do Ministério Público, no exercí-
vos às infrações atribuídas a adolescentes; cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e encontre criança ou adolescente.
os procedimentos de suspensão e destituição do poder fa- § 4º O representante do Ministério Público será res-
miliar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guar- ponsável pelo uso indevido das informações e documentos
diães, bem como oficiar em todos os demais procedimen- que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.
tos da competência da Justiça da Infância e da Juventude; § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci-
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos inte- so VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério
ressados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e Público:
a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer a) reduzir a termo as declarações do reclamante, ins-
administradores de bens de crianças e adolescentes nas hi- taurando o competente procedimento, sob sua presidên-
póteses do art. 98; cia;
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para b) entender-se diretamente com a pessoa ou autorida-
a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos de reclamada, em dia, local e horário previamente notifica-
relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos dos ou acertados;
no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal; c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser-
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para viços públicos e de relevância pública afetos à criança e
instruí-los: ao adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita
a) expedir notificações para colher depoimentos ou es- adequação.
clarecimentos e, em caso de não comparecimento injusti-
ficado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não
civil ou militar;
for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na
b) requisitar informações, exames, perícias e documen-
defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hi-
tos de autoridades municipais, estaduais e federais, da ad-
pótese em que terá vista dos autos depois das partes, po-
ministração direta ou indireta, bem como promover inspe-
dendo juntar documentos e requerer diligências, usando
ções e diligências investigatórias;
os recursos cabíveis.
c) requisitar informações e documentos a particulares
e instituições privadas;
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qual-
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves-
quer caso, será feita pessoalmente.
tigatórias e determinar a instauração de inquérito policial,
para apuração de ilícitos ou infrações às normas de prote-
ção à infância e à juventude; Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício
legais assegurados às crianças e adolescentes, promoven- pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
do as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e Art. 205. As manifestações processuais do representan-
habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, te do Ministério Público deverão ser fundamentadas.
na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis
afetos à criança e ao adolescente; Capítulo VI
X - representar ao juízo visando à aplicação de penali- Do Advogado
dade por infrações cometidas contra as normas de prote-
ção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res-
responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível; ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de
atendimento e os programas de que trata esta Lei, ado- que trata esta Lei, através de advogado, o qual será inti-
tando de pronto as medidas administrativas ou judiciais mado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação
necessárias à remoção de irregularidades porventura ve- oficial, respeitado o segredo de justiça.
rificadas; Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária in-
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração tegral e gratuita àqueles que dela necessitarem.
dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de as-
sistência social, públicos ou privados, para o desempenho Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prá-
de suas atribuições. tica de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações processado sem defensor.
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no-
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo,
esta Lei. constituir outro de sua preferência.
46
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adia- Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coleti-
mento de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear vos ou difusos, consideram-se legitimados concorrentemente:
substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito I - o Ministério Público;
do ato. II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando os territórios;
se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver III - as associações legalmente constituídas há pelo menos
sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa
autoridade judiciária. dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada
a autorização da assembleia, se houver prévia autorização es-
Capítulo VII tatutária.
Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Di- § 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Minis-
fusos e Coletivos térios Públicos da União e dos estados na defesa dos interes-
ses e direitos de que cuida esta Lei.
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por as-
de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à sociação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado
criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento poderá assumir a titularidade ativa.
ou oferta irregular:
I - do ensino obrigatório; Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar
II - de atendimento educacional especializado aos por- dos interessados compromisso de ajustamento de sua condu-
tadores de deficiência; ta às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo
III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças extrajudicial.
de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº
13.306, de 2016) Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações per-
do educando; tinentes.
§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as nor-
V - de programas suplementares de oferta de material
mas do Código de Processo Civil.
didático-escolar, transporte e assistência à saúde do edu-
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública
cando do ensino fundamental;
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
VI - de serviço de assistência social visando à proteção
poder público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta
à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem
Lei, caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da
como ao amparo às crianças e adolescentes que dele ne-
lei do mandado de segurança.
cessitem;
VII - de acesso às ações e serviços de saúde; Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento
VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles- de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
centes privados de liberdade. específica da obrigação ou determinará providências que as-
IX - de ações, serviços e programas de orientação, segurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
apoio e promoção social de famílias e destinados ao ple- § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e haven-
no exercício do direito à convivência familiar por crianças do justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito
e adolescentes. ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação
X - de programas de atendimento para a execução das prévia, citando o réu.
medidas socioeducativas e aplicação de medidas de pro- § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou
teção. na sentença, impor multa diária ao réu, independentemen-
§ 1º As hipóteses previstas neste artigo não excluem te de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com
da proteção judicial outros interesses individuais, difusos a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do
ou coletivos, próprios da infância e da adolescência, prote- preceito.
gidos pela Constituição e pela Lei. § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em
§ 2º A investigação do desaparecimento de crianças julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida desde
ou adolescentes será realizada imediatamente após noti- o dia em que se houver configurado o descumprimento.
ficação aos órgãos competentes, que deverão comunicar
o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e compa- Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido
nhias de transporte interestaduais e internacionais, forne- pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do
cendo-lhes todos os dados necessários à identificação do respectivo município.
desaparecido. § 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsi-
to em julgado da decisão serão exigidas através de execução
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão pro- promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facul-
postas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a tada igual iniciativa aos demais legitimados.
ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para § 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro
processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Fe- ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em
deral e a competência originária dos tribunais superiores. conta com correção monetária.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção
recursos, para evitar dano irreparável à parte. de arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Mi-
nistério público, poderão as associações legitimadas apre-
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser sentar razões escritas ou documentos, que serão juntados
condenação ao poder público, o juiz determinará a remes- aos autos do inquérito ou anexados às peças de informa-
sa de peças à autoridade competente, para apuração da ção.
responsabilidade civil e administrativa do agente a que se § 4º A promoção de arquivamento será submetida a
atribua a ação ou omissão. exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério
Público, conforme dispuser o seu regimento.
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julga- § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
do da sentença condenatória sem que a associação autora promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Públi- órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
co, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber,
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar as disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformi-
dade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de Título VII
1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer que a Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
pretensão é manifestamente infundada. Capítulo I
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as- Dos Crimes
sociação autora e os diretores responsáveis pela proposi- Seção I
tura da ação serão solidariamente condenados ao décuplo Disposições Gerais
das custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas e
danos. Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados
contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem
Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não
prejuízo do disposto na legislação penal.
haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários
periciais e quaisquer outras despesas.
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as
normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao pro-
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
cesso, as pertinentes ao Código de Processo Penal.
deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestan-
do-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pú-
ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
blica incondicionada
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e
tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ense- Seção II
jar a propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministé- Dos Crimes em Espécie
rio Público para as providências cabíveis.
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o diri-
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado gente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante
poderá requerer às autoridades competentes as certidões de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma
e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de for-
no prazo de quinze dias. necer à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da
alta médica, declaração de nascimento, onde constem as
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato:
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pes- Pena - detenção de seis meses a dois anos.
soa, organismo público ou particular, certidões, informa- Parágrafo único. Se o crime é culposo:
ções, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
poderá ser inferior a dez dias úteis.
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
as diligências, se convencer da inexistência de fundamento estabelecimento de atenção à saúde de gestante de iden-
para a propositura da ação cível, promoverá o arquivamen- tificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião
to dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, do parto, bem como deixar de proceder aos exames referi-
fazendo-o fundamentadamente. dos no art. 10 desta Lei:
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informa- Pena - detenção de seis meses a dois anos.
ção arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer Parágrafo único. Se o crime é culposo:
em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
do Ministério Público.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber- Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autorida- pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
de judiciária competente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Pena - detenção de seis meses a dois anos. § 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a parti-
procede à apreensão sem observância das formalidades cipação de criança ou adolescente nas cenas referidas no
legais. caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela comete o crime:
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co- I – no exercício de cargo ou função pública ou a pre-
municação à autoridade judiciária competente e à família texto de exercê-la;
do apreendido ou à pessoa por ele indicada: II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabi-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. tação ou de hospitalidade; ou
III – prevalecendo-se de relações de parentesco con-
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au- sanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção,
toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangi- de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de
mento: quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela,
Pena - detenção de seis meses a dois anos. ou com seu consentimento.
Art. 233. Revogado Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo
ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado- Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
apreensão:
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
por meio de sistema de informática ou telemático, fotogra-
fia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo ex-
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado
plícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberda-
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
de:
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. I – assegura os meios ou serviços para o armazena-
mento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade caput deste artigo;
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
do Ministério Público no exercício de função prevista nesta computadores às fotografias, cenas ou imagens de que tra-
Lei: ta o caput deste artigo.
Pena - detenção de seis meses a dois anos. § 2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o des-
te artigo são puníveis quando o responsável legal pela pres-
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de tação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo.
judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qual-
quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pu- contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolven-
pilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: do criança ou adolescente:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem ofere- § 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se
ce ou efetiva a paga ou recompensa. de pequena quantidade o material a que se refere o caput
deste artigo.
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des- § 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem
tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior a finalidade de comunicar às autoridades competentes a
com inobservância das formalidades legais ou com o fito ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A
de obter lucro: e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por:
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. I – agente público no exercício de suas funções;
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave II – membro de entidade, legalmente constituída, que
ameaça ou fraude: inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento,
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena o processamento e o encaminhamento de notícia dos cri-
correspondente à violência. mes referidos neste parágrafo;
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
III – representante legal e funcionários responsáveis de Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
de computadores, até o recebimento do material relativo à exploração sexual:
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da
ao Poder Judiciário. perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
§ 3º As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente
manter sob sigilo o material ilícito referido. da unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em
que foi cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adoles- de boa-fé. (Redação dada pela Lei nº 13.440, de 2017)
cente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio § 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge-
de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, rente ou o responsável pelo local em que se verifique a
vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. no caput deste artigo.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem § 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cas-
vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou sação da licença de localização e de funcionamento do es-
divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o tabelecimento.
material produzido na forma do caput deste artigo.
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de me-
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, nor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal
por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de ou induzindo-o a praticá-la:
com ela praticar ato libidinoso: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. § 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
I – facilita ou induz o acesso à criança de material con- quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo
tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de da internet.
com ela praticar ato libidinoso; § 2º As penas previstas no caput deste artigo são au-
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo mentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográ- induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de
fica ou sexualmente explícita. 25 de julho de 1990. Capítulo II
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, Das Infrações Administrativas
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” com-
preende qualquer situação que envolva criança ou adoles- Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
cente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, estabelecimento de atenção à saúde e de ensino funda-
ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adoles- mental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade
cente para fins primordialmente sexuais competente os casos de que tenha conhecimento, en-
volvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente criança ou adolescente:
ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
arma, munição ou explosivo: cando-se o dobro em caso de reincidência.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.
Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de en-
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, tidade de atendimento o exercício dos direitos constantes
ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
produtos cujos componentes possam causar dependência cando-se o dobro em caso de reincidência.
física ou psíquica: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de
2015) Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autoriza-
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, ção devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato
se o fato não constitui crime mais grave. (Redação ou documento de procedimento policial, administrativo ou
dada pela Lei nº 13.106, de 2015) judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua
ato infracional:
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fo- cando-se o dobro em caso de reincidência.
gos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo § 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou par-
seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qual- cialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido
quer dano físico em caso de utilização indevida: em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga res-
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. peito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma
a permitir sua identificação, direta ou indiretamente.
50
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espe-
ou emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista táculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua
neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a classificação:
apreensão da publicação ou a suspensão da programação Pena - multa de vinte a cem salários de referência; dupli-
da emissora até por dois dias, bem como da publicação do cada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá
periódico até por dois números. determinar a suspensão da programação da emissora por
até dois dias.
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária
de seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de re- Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congêne-
gularizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca re classificado pelo órgão competente como inadequado às
para a prestação de serviço doméstico, mesmo que auto- crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
rizado pelos pais ou responsável: (Vide Lei nº 13.431, de Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
2017) (Vigência) reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até
cando-se o dobro em caso de reincidência, independen- quinze dias.
temente das despesas de retorno do adolescente, se for o
caso. Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de
programação em vídeo, em desacordo com a classificação
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os de- atribuída pelo órgão competente:
veres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciá- caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
ria ou Conselho Tutelar: minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
cando-se o dobro em caso de reincidência. Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e
79 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, dupli-
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacom-
cando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
panhado dos pais ou responsável, ou sem autorização es-
apreensão da revista ou publicação.
crita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão,
motel ou congênere:
Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento
Pena – multa.
ou o empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de
acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha- sobre sua participação no espetáculo:
mento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
fechado e terá sua licença cassada.
Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de provi-
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual- denciar a instalação e operacionalização dos cadastros pre-
quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 vistos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:
e 85 desta Lei: Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- (três mil reais).
cando-se o dobro em caso de reincidência. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autorida-
de que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetá- adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas
culo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes
entrada do local de exibição, informação destacada sobre a em regime de acolhimento institucional ou familiar.
natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especi-
ficada no certificado de classificação: Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar
cando-se o dobro em caso de reincidência. imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso
de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer em entregar seu filho para adoção:
representações ou espetáculos, sem indicar os limites de Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
idade a que não se recomendem: (três mil reais).
Pena - multa de três a vinte salários de referência, du- Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário
plicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente, de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do
à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publi- direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comuni-
cidade. cação referida no caput deste artigo.
51
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
52
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obriga-
podem ser efetuadas em espécie ou em bens. ções previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal
Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem do Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público.
ser depositadas em conta específica, em instituição financeira
pública, vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
260. Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais di-
vulgarão amplamente à comunidade:
Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração I - o calendário de suas reuniões;
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles- II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir atendimento à criança e ao adolescente;
recibo em favor do doador, assinado por pessoa competente III - os requisitos para a apresentação de projetos a se-
e pelo presidente do Conselho correspondente, especificando: rem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da
I - número de ordem; Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e municipais;
endereço do emitente; IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-ca-
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do lendário e o valor dos recursos previstos para implementa-
doador; ção das ações, por projeto;
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e V - o total dos recursos recebidos e a respectiva desti-
V - ano-calendário a que se refere a doação. nação, por projeto atendido, inclusive com cadastramento
§ 1º O comprovante de que trata o caput deste artigo na base de dados do Sistema de Informações sobre a In-
pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os valores fância e a Adolescência; e
doados mês a mês. VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficia-
§ 2º No caso de doação em bens, o comprovante deve dos com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do
conter a identificação dos bens, mediante descrição em cam- Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais.
po próprio ou em relação anexa ao comprovante, informando
também se houve avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço
Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada
dos avaliadores.
Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incenti-
vos fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador
Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos
deverá:
arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante docu-
mentação hábil; ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos, atuar de ofício, a requerimento ou representação de qual-
quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de quer cidadão.
pessoa jurídica; e
III - considerar como valor dos bens doados: Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presi-
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última de- dência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria da
claração do imposto de renda, desde que não exceda o valor Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
de mercado; arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fun-
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. dos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, dis-
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não trital, estaduais e municipais, com a indicação dos respec-
será considerado na determinação do valor dos bens doados, tivos números de inscrição no CNPJ e das contas bancárias
exceto se o leilão for determinado por autoridade judiciária. específicas mantidas em instituições financeiras públicas,
destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-
D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil
de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedução pe- expedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto
rante a Receita Federal do Brasil. nos arts. 260 a 260-K.
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles- Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos
cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem: da criança e do adolescente, os registros, inscrições e alte-
I - manter conta bancária específica destinada exclusiva- rações a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91
mente a gerir os recursos do Fundo; desta Lei serão efetuados perante a autoridade judiciária
II - manter controle das doações recebidas; e da comarca a que pertencer a entidade.
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar
do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os aos estados e municípios, e os estados aos municípios, os
seguintes dados por doador: recursos referentes aos programas e atividades previstos
a) nome, CNPJ ou CPF; nesta Lei, tão logo estejam criados os conselhos dos direi-
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie tos da criança e do adolescente nos seus respectivos níveis.
ou em bens.
53
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute- Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua
lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela publicação.
autoridade judiciária. Parágrafo único. Durante o período de vacância deve-
rão ser promovidas atividades e campanhas de divulgação
Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro e esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei.
de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes
alterações: Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e
1) Art. 121 ............................................................ 6.697, de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de demais disposições em contrário.
um terço, se o crime resulta de inobservância de regra téc-
nica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as 102º da República.
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada Fonte
de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compi-
de catorze anos. lado.htm
2) Art. 129 ...............................................................
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qual-
quer das hipóteses do art. 121, § 4º.
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do III - DIRETRIZES NACIONAIS PARA A
art. 121. EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
3) Art. 136.................................................................
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é pra-
ticado contra pessoa menor de catorze anos.
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 30 DE MAIO DE 2012
4) Art. 213 ..................................................................
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze
Estabelece Diretrizes Nacionais para a Educação em Di-
anos:
reitos Humanos.
Pena - reclusão de quatro a dez anos.
5) Art. 214...................................................................
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze
uso de suas atribuições legais e tendo em vista o disposto
anos:
nas Leis nos 9.131, de 24 de novembro de 1995, e 9.394,
Pena - reclusão de três a nove anos
de 20 de dezembro de 1996, com fundamento no Parecer
CNE/CP nº 8/2012, homologado por Despacho do Senhor
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU de 30
de 1973, fica acrescido do seguinte item: de maio de 2012,
“Art. 102 ....................................................................
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. “ CONSIDERANDO o que dispõe a Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948; a Declaração das Nações
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da Unidas sobre a Educação e Formação em Direitos Huma-
União, da administração direta ou indireta, inclusive fun- nos (Resolução A/66/137/2011); a Constituição Federal de
dações instituídas e mantidas pelo poder público federal 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
promoverão edição popular do texto integral deste Estatu- nº 9.394/1996); o Programa Mundial de Educação em Di-
to, que será posto à disposição das escolas e das entidades reitos Humanos (PMEDH 2005/2014), o Programa Nacional
de atendimento e de defesa dos direitos da criança e do de Direitos Humanos (PNDH-3/Decreto nº 7.037/2009); o
adolescente. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNE-
DH/2006); e as diretrizes nacionais emanadas pelo Conse-
Art. 265-A. O poder público fará periodicamente am- lho Nacional de Educação, bem como outros documentos
pla divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos nacionais e internacionais que visem assegurar o direito à
meios de comunicação social. (Redação dada pela Lei nº educação a todos(as),
13.257, de 2016)
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput RESOLVE
será veiculada em linguagem clara, compreensível e ade-
quada a crianças e adolescentes, especialmente às crianças Art. 1º A presente Resolução estabelece as Diretrizes
com idade inferior a 6 (seis) anos. (Incluído dada pela Lei nº Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (EDH) a
13.257, de 2016) serem observadas pelos sistemas de ensino e suas institui-
ções.
54
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 2º A Educação em Direitos Humanos, um dos ei- § 2º Os Conselhos de Educação definirão estratégias
xos fundamentais do direito à educação, refere-se ao uso de acompanhamento das ações de Educação em Direitos
de concepções e práticas educativas fundadas nos Direitos Humanos.
Humanos e em seus processos de promoção, proteção, de-
fesa e aplicação na vida cotidiana e cidadã de sujeitos de Art. 6º A Educação em Direitos Humanos, de modo
direitos e de responsabilidades individuais e coletivas. transversal, deverá ser considerada na construção dos Pro-
§ 1º Os Direitos Humanos, internacionalmente reconhe- jetos Político-Pedagógicos (PPP); dos Regimentos Escola-
cidos como um conjunto de direitos civis, políticos, sociais, res; dos Planos de Desenvolvimento Institucionais (PDI);
econômicos, culturais e ambientais, sejam eles individuais, dos Programas Pedagógicos de Curso (PPC) das Institui-
coletivos, transindividuais ou difusos, referem-se à necessi- ções de Educação Superior; dos materiais didáticos e pe-
dade de igualdade e de defesa da dignidade humana. dagógicos; do modelo de ensino, pesquisa e extensão; de
§ 2º Aos sistemas de ensino e suas instituições cabe a gestão, bem como dos diferentes processos de avaliação.
efetivação da Educação em Direitos Humanos, implicando
a adoção sistemática dessas diretrizes por todos(as) os(as) Art. 7º A inserção dos conhecimentos concernentes à
envolvidos(as) nos processos educacionais. Educação em Direitos Humanos na organização dos currí-
culos da Educação Básica e da Educação Superior poderá
Art. 3º A Educação em Direitos Humanos, com a fina- ocorrer das seguintes formas:
lidade de promover a educação para a mudança e a trans- I - pela transversalidade, por meio de temas relaciona-
formação social, fundamenta-se nos seguintes princípios: dos aos Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente;
I - dignidade humana; II - como um conteúdo específico de uma das discipli-
II - igualdade de direitos; nas já existentes no currículo escolar;
III - reconhecimento e valorização das diferenças e das III - de maneira mista, ou seja, combinando transversa-
diversidades; lidade e disciplinaridade.
IV - laicidade do Estado; Parágrafo único. Outras formas de inserção da Educa-
V - democracia na educação; ção em Direitos Humanos poderão ainda ser admitidas na
VI - transversalidade, vivência e globalidade; e organização curricular das instituições educativas desde
VII - sustentabilidade socioambiental. que observadas as especificidades dos níveis e modalida-
des da Educação Nacional.
Art. 4º A Educação em Direitos Humanos como proces-
so sistemático e multidimensional, orientador da formação Art. 8º A Educação em Direitos Humanos deverá orien-
integral dos sujeitos de direitos, articula-se às seguintes tar a formação inicial e continuada de todos(as) os(as) pro-
dimensões: fissionais da educação, sendo componente curricular obri-
I - apreensão de conhecimentos historicamente cons- gatório nos cursos destinados a esses profissionais.
truídos sobre direitos humanos e a sua relação com os con-
textos internacional, nacional e local; Art. 9º A Educação em Direitos Humanos deverá es-
II - afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que tar presente na formação inicial e continuada de todos(as)
expressem a cultura dos direitos humanos em todos os es- os(as) profissionais das diferentes áreas do conhecimento.
paços da sociedade;
III - formação de uma consciência cidadã capaz de se Art. 10. Os sistemas de ensino e as instituições de pes-
fazer presente em níveis cognitivo, social, cultural e político; quisa deverão fomentar e divulgar estudos e experiências
IV - desenvolvimento de processos metodológicos bem sucedidas realizados na área dos Direitos Humanos e
participativos e de construção coletiva, utilizando lingua- da Educação em Direitos Humanos.
gens e materiais didáticos contextualizados; e
V - fortalecimento de práticas individuais e sociais que Art. 11. Os sistemas de ensino deverão criar políticas
gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da de produção de materiais didáticos e paradidáticos, tendo
proteção e da defesa dos direitos humanos, bem como da como princípios orientadores os Direitos Humanos e, por
reparação das diferentes formas de violação de direitos. extensão, a Educação em Direitos Humanos.
Art. 5º A Educação em Direitos Humanos tem como Art. 12. As Instituições de Educação Superior estimu-
objetivo central a formação para a vida e para a convivên- larão ações de extensão voltadas para a promoção de Di-
cia, no exercício cotidiano dos Direitos Humanos como for- reitos Humanos, em diálogo com os segmentos sociais em
ma de vida e de organização social, política, econômica e situação de exclusão social e violação de direitos, assim
cultural nos níveis regionais, nacionais e planetário. como com os movimentos sociais e a gestão pública.
§ 1º Este objetivo deverá orientar os sistemas de en-
sino e suas instituições no que se refere ao planejamento Art. 13. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
e ao desenvolvimento de ações de Educação em Direitos publicação.
Humanos adequadas às necessidades, às características
biopsicossociais e culturais dos diferentes sujeitos e seus
contextos.
55
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
do Estado e diversas entidades de direitos humanos foram munidade internacional. A criação de mecanismos judiciais
convocados pelo então Ministro da Justiça, Maurício Cor- internacionais de proteção dos direitos humanos, como a
rêa, com a finalidade de elaborar uma Agenda Nacional de Corte Interamericana e a Corte Europeia de Direitos Huma-
Direitos Humanos. nos, ou quase judiciais como a Comissão Interamericana
Em 7 de setembro último, o Presidente Fernando Hen- de Direitos Humanos ou Comitê de Direitos Humanos das
rique Cardoso reiterou que os direitos humanos são parte Nações Unidas, deixam claro esta mudança na antiga for-
essencial de seu programa de Governo. Para o Presidente, mulação do conceito de soberania. É certo, porém, que a
no limiar do século XXI, a “luta pela liberdade e pela de- obrigação primária de assegurar os direitos humanos con-
mocracia tem um nome específico: chama-se direitos hu- tinua a ser responsabilidade interna dos Estados.
manos”. Determinou, então, ao Ministério da Justiça a ela-
boração de um Programa Nacional de Direitos Humanos, A natureza do Programa Nacional de Direitos Hu-
conforme previsto na Declaração e Programa de Ação de manos -
Viena, adotada consensualmente na Conferência Mundial
dos Direitos Humanos, em 25 de junho de 1993, na qual o O Programa Nacional de Direitos Humanos, como
Brasil teve uma destacada participação. qualquer plano de ação que se pretenda exequível, deve
O Governo brasileiro, embora considere que a norma- explicitar objetivos definidos e precisos. Assim, sem abdicar
tização constitucional e a adesão a tratados internacionais de uma compreensão integral e indissociável dos direitos
de direitos humanos sejam passos essenciais e decisivos humanos, o Programa atribui maior ênfase aos direitos ci-
na promoção destes direitos, está consciente de que a sua vis, ou seja, os que ferem mais diretamente a integridade
efetivação, no dia a dia de cada um, depende da atuação física e o espaço de cidadania de cada um.
constante do Estado e da Sociedade. Com este objetivo se O fato de os direitos humanos em todas as suas três
elaborou o Programa Nacional de Direitos Humanos que gerações - a dos direitos civis e políticos, a dos direitos
ora se submete a toda a Nação. sociais, econômicos e culturais, e a dos direitos coletivos
- serem indivisíveis não implica que, na definição de po-
Atualidade dos Direitos Humanos - líticas específicas - dos direitos civis - o Governo deixe de
contemplar de forma específica cada uma dessas outras
A adoção pela Assembleia Geral das Nações Unidas dimensões. O Programa, apesar de inserir-se dentro dos
da Declaração Universal de Direitos Humanos, em 1948, princípios definidos pelo Pacto Internacional de Direitos
constitui o principal marco no desenvolvimento da ideia Civis e Políticos, contempla um largo elenco de medidas
contemporânea de direitos humanos. Os direitos inscritos na área de direitos civis que terão consequências decisivas
nesta Declaração constituem um conjunto indissociável e para a efetiva proteção dos direitos sociais, econômicos e
interdependente de direitos individuais e coletivos, civis, culturais, como, por exemplo, a implementação das con-
políticos, econômicos, sociais e culturais, sem os quais a venções internacionais dos direitos das crianças, das mu-
dignidade da pessoa humana não se realiza por comple- lheres e dos trabalhadores.
to. A Declaração transformou-se, nesta última metade de Numa sociedade ainda injusta como é a do Brasil, com
século, numa fonte de inspiração para a elaboração de di- graves desigualdades de renda, promover os direitos hu-
versas cartas constitucionais e tratados internacionais vol- manos tornar-se-á mais factível se o equacionamento dos
tados à proteção dos direitos humanos. Este documento, problemas estruturais - como aqueles provocados pelo de-
chave do nosso tempo, tornou-se um autêntico paradigma semprego, fome, dificuldades do acesso à terra, à saúde, à
ético a partir do qual se pode medir e contestar a legitimi- educação, concentração de renda - for objeto de políticas
dade de regimes e Governos. Os direitos ali inscritos consti- governamentais. Mas, para que a população possa assumir
tuem hoje um dos mais importantes instrumentos de nossa que os direitos humanos são direitos de todos, e as enti-
civilização visando a assegurar um convívio social digno, dades da sociedade civil possam lutar por esses direitos e
justo e pacífico. organizar-se para atuar em parceria com o Estado, é fun-
Os direitos humanos não são, porém, apenas um con- damental que seus direitos civis elementares sejam garan-
junto de princípios morais que devem informar a organi- tidos e, especialmente, que a Justiça seja uma instituição
zação da sociedade e a criação do direito. Enumerados em garantidora e acessível para qualquer um.
diversos tratados internacionais e constituições, asseguram Serão abordados, no Programa, os entraves à cidada-
direitos aos indivíduos e coletividades e estabelecem obri- nia plena, que levam à violação sistemática dos direitos,
gações jurídicas concretas aos Estados. Compõem-se de visando a proteger o direito à vida e à integridade física; o
uma série de normas jurídicas claras e precisas, voltadas a direito à liberdade; o direito à igualdade perante à lei.
proteger os interesses mais fundamentais da pessoa huma- O Programa contempla, igualmente, iniciativas que for-
na. São normas cogentes ou programáticas que obrigam talecem a atuação das organizações da sociedade civil, para
os Estados no plano interno e externo. a criação e consolidação de uma cultura de direitos huma-
Com o estabelecimento das Nações Unidas, em 1945, nos. Nada melhor para atingir esse objetivo do que atribuir
e a adoção de diversos tratados internacionais voltados à a essas organizações uma responsabilidade clara na pro-
proteção da pessoa humana, os direitos humanos deixaram moção dos direitos humanos, especialmente nas iniciativas
de ser uma questão afeta exclusivamente aos Estados na- voltadas para a educação e a formação da cidadania.
cionais, passando a ser matéria de interesse de toda a co-
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Na elaboração do Programa foram realizados entre no- - Apoiar programas para prevenir a violência contra
vembro de 1995 e março de 1996 seis seminários regionais grupos em situação mais vulnerável, caso de crianças e
- São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belém, Porto Alegre e adolescentes, idosos, mulheres, negros, indígenas, migran-
Natal, com 334 participantes, pertencentes a 210 entidades. tes, trabalhadores sem-terra e homossexuais.
Foram realizadas consultas, por telefone e fax, a um largo - Aperfeiçoar a legislação sobre venda, posse, uso e
espectro de centros de direitos humanos e personalidades. porte de armas e munições pelos cidadãos, condicionan-
Foi realizada uma exposição no Encontro do Movimen- do-os a rigorosa comprovação de necessidade, aptidão e
to Nacional dos Direitos Humanos, em Brasília, no mês de capacidade de manuseio.
fevereiro de 1996. Finalmente, o projeto do Programa foi - Propor projeto de lei regulando o uso de armas e
apresentado e debatido na I Conferência Nacional de Direi- munições por policiais nos horários de folga e aumentando
tos Humanos, promovida pela Comissão de Direitos Huma- o controle nos horários de serviço.
nos da Câmara de Deputados, com o apoio do Fórum das - Apoiar a criação de sistemas integrados de controle
Comissões Legislativas de Direitos Humanos, Comissão de de armamentos e munições pelos Governos estaduais, em
Direitos Humanos da OAB Federal, Movimento Nacional de parceria com o Governo federal.
Direitos Humanos, CNBB, FENAJ, INESC, SERPAJ e CIMI, em - Implementar programas de desarmamento, com
abril de 1996. O Programa foi encaminhado, ainda, a várias ações coordenadas para apreender armas e munições de
entidades internacionais. Neste processo de elaboração, foi uso proibido ou possuídas ilegalmente.
colocada em prática a parceria entre o Estado e as organiza- - Estimular o aperfeiçoamento dos critérios para sele-
ções da sociedade civil. Na execução concreta do Programa, ção, admissão, capacitação, treinamento e reciclagem de
a mesma parceria será intensificada. Além das organizações policiais.
de direitos humanos, universidades, centros de pesquisa, - Incluir nos cursos das academias de polícia matéria
empresas, sindicatos, associações empresariais, fundações, específica sobre direitos humanos.
enfim, toda a sociedade brasileira deverá ter um papel ativo - Implementar a formação de grupo de consultoria
para que este Programa se efetive como realidade. para educação em direitos humanos, conforme o Protocolo
O Programa Nacional de Direitos Humanos abre uma
de Intenções firmado entre o Ministério da Justiça e a Anis-
nova dinâmica. Governo e sociedade civil respeitam a mes-
tia Internacional para ministrar cursos de direitos humanos
ma gramática e articulam esforços comuns. O Programa
para as polícias estaduais.
passa, desta forma, a ser um marco referencial para as ações
- Estruturar a Divisão de Direitos Humanos, criada re-
governamentais e para a construção, por toda a sociedade,
centemente no organograma da Polícia Federal.
da convivência sem violência que a democracia exige.
- Estimular a criação e o fortalecimento das correge-
dorias de polícia, com vistas a limitar abusos e erros em
PROPOSTAS DE AÇÕES GOVERNAMENTAIS
operações policiais e emitir diretrizes claras a todos os in-
tegrantes das forças policiais com relação à proteção dos
Políticas públicas para proteção e promoção dos direi-
tos humanos no Brasil: direitos humanos.
Apoiar a formulação e implementação de políticas pú- - Propor o afastamento nas atividades de policiamento
blicas e privadas e de ações sociais para redução das gran- de policiais acusados de violência contra os cidadãos, com
des desigualdades econômicas, sociais e culturais ainda imediata instauração de sindicância, sem prejuízo do devi-
existentes no país, visando a plena realização do direito ao do processo criminal.
desenvolvimento. - Incentivar a criação de Ouvidorias de Polícia, com re-
Criar um Cadastro Federal de Inadimplentes Sociais, presentantes da sociedade civil e autonomia de investiga-
que relacione os estados e municípios que não cumpram ção e fiscalização.
obrigações mínimas de proteção e promoção dos direitos - Estimular a implementação de programas de seguro
humanos, com vistas a evitar o repasse de recursos, subsí- de vida e de saúde para policiais
dios ou favorecimento a esses inadimplentes. - Apoiar a criação de um sistema de proteção especial
Proteção do direito à vida à família dos policiais ameaçados em razão de suas ativi-
dades.
Segurança das pessoas - Estimular programas de cooperação e entrosamento
entre policiais civis e militares e entre estes e o Ministério
Curto prazo Público.
- Apoiar, com envio de pedido de urgência o projeto de
- Promover a elaboração do mapa da violência urba- lei nº 73 que estabelece o novo Código de Trânsito.
na, com base em dados e indicadores de desenvolvimento - Promover programas de caráter preventivo que con-
urbano e qualidade de vida, a partir de quatro grandes ci- tribuam para diminuir a incidência de acidentes de trânsito.
dades;
- Elaborar um mapa da violência rural a partir de uma
região do país, visando a identificar áreas de conflitos e pos-
sibilitar análise mais aprofundada da atuação do Estado.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Investir na formação e capacitação de profissionais e - Regulamentar o artigo 7°, inciso XX, da Consti-
encarregados da implementação da política de direitos da tuição Federal, que prevê a proteção do mercado de traba-
criança e do adolescente nos Governos estaduais e munici- lho da mulher através de incentivos específicos.
pais e nas organizações não governamentais, - Revogar as normas discriminatórias ainda existentes
- Implantar sistema nacional e sistemas estaduais de na legislação infraconstitucional, incluindo particularmente
informação e monitoramento da situação da criança e do as normas do Código Civil Brasileiro que tratam do pátrio
adolescente, focalizando principalmente: (a) criação e fun- poder, chefia da sociedade conjugal, direito da anulação do
cionamento de Conselhos de Direitos da Criança e do Ado- casamento pelo homem quando a mulher não é virgem,
lescente e Conselhos Tutelares; (b) localização e identifica- privilégio do homem na fixação do domicílio familiar.
ção de crianças e adolescentes desaparecidos; (c) violação - Reformular as normas de combate à violência e dis-
de direitos de crianças e adolescentes, que contemple o criminação contra as mulheres, em particular, apoio ao pro-
número de denúncias, número de processos, local da ocor- jeto do Governo que trata o estupro como crime contra a
rência, faixa etária e cor das crianças e adolescentes envol- pessoa e não mais como crime contra os costumes.
vidos, número de casos; (d) prostituição Infanto-juvenil; (e) - Incentivar a inclusão da perspectiva de gênero na
mortes violentas de crianças e adolescentes. educação e treinamento de funcionários públicos, civis e
militares e nas diretrizes curriculares para o ensino funda-
Longo Prazo mental e médio, com o objetivo de promover mudanças na
mentalidade e atitude e o reconhecimento da igualdade
- Incentivar o reordenamento das instituições privativas de direitos das mulheres, não apenas na esfera dos direitos
de liberdade para menores infratores, reduzindo o núme- civis e políticos, mas também na esfera dos direitos econô-
ro de adolescentes autores de ato infracional por unidade micos, sociais e culturais.
de atendimento, com prioridade na implementação das - Incentivar a geração de estatísticas que evidenciem
demais medidas socioeducativas previstas no Estatuto da salários, jornadas de trabalho, ambientes de trabalho,
Criança e do Adolescente. doenças profissionais e direitos trabalhistas da mulher.
- Apoiar a criação, pelo Poder Judiciário, Ministério Pú-
blico e pelos Governos estaduais, de varas, promotorias e Longo prazo
delegacias especializadas em infrações penais envolvendo
menores, como previsto no Estatuto da Criança e do Ado- - Definir políticas e programas governamentais, nas
lescente. esferas federal, estadual e municipal, para implementação
das leis que asseguram a igualdade de direitos das mu-
Mulheres. lheres e dos homens em todos os níveis, incluindo saúde,
educação e treinamento profissional, trabalho, segurança
Curto prazo social, propriedade e crédito rural, cultura, política e justiça.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Incentivar ações que contribuam para a preservação - Reorganizar a FUNAI para compatibilizar a sua organi-
da memória e fomento à produção cultural da comunidade zação com a função de defender os direitos das sociedades
negra no Brasil. indígenas.
- Formular políticas compensatórias que promovam - Apoiar junto às comunidades indígenas o desenvol-
social e economicamente a comunidade negra. vimento de projetos auto-sustentáveis do ponto de vista
econômico, ambiental e cultural.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Desenvolver programa e campanha visando à regu- - Formular políticas de atenção às pessoas portadoras
larização da situação dos estrangeiros atualmente no país. de deficiência, para a implementação de uma estratégia
- Adotar medidas para impedir e punir a violência e nacional de integração das ações governamentais e não-
discriminação contra estrangeiros no Brasil e migrantes governamentais, com vistas ao efetivo cumprimento do
brasileiros no exterior. Decreto nº 914, de 06 de setembro de 1993
- Propor projeto de lei estabelecendo o estatuto dos - Propor normas relativas ao acesso do portador de de-
refugiados. ficiência ao mercado de trabalho e no serviço público, nos
termos do art. 37, VIII da Constituição Federal.
Médio prazo - Adotar medidas que possibilitem o acesso das pes-
soas portadores de deficiências às informações veiculadas
- Estabelecer política de proteção aos direitos huma- pelos meios de comunicação.
nos das comunidades estrangeiras no Brasil
- Estabelecer política de proteção aos direitos huma- Médio prazo
nos das comunidades brasileiras no exterior
- Formular programa de educação para pessoas porta-
Longo prazo doras de deficiência.
- Implementar o programa de remoção de barreiras fí-
- Reformular a Lei dos Estrangeiros, através da aprecia- sicas que impedem ou dificultam a locomoção das pessoas
ção pelo Congresso do projeto de lei 1813/91, que regula a portadoras de deficiência, ampliando o acesso às cidades
situação jurídica do estrangeiro no Brasil. históricas, turísticas, estâncias hidrominerais e grandes cen-
tros urbanos, como vistos no projeto “Cidade para todos”.
Terceira Idade
Longo prazo
Curto prazo
- Conceber sistemas de informações com a definição
- Estabelecer prioridade obrigatória de atendimento às de bases de dados relativamente a pessoas portadores de
pessoas idosas em todas as repartições públicas e estabe- deficiência, à legislação, ajudas técnicas, bibliografia e ca-
lecimentos bancários do país. pacitação na área de reabilitação e atendimento.
- Facilitar o acesso das pessoas idosas a cinemas, tea-
tros, shows de música e outras formas de lazer público. Educação e Cidadania. Bases para uma cultura de
- Apoiar as formas regionais denominadas ações go- Direitos Humanos.
vernamentais integradas, para o desenvolvimento da Polí-
tica Nacional do Idoso. Produção e Distribuição de Informações e Conheci-
mento
Médio Prazo
Curto prazo
- Criar e fortalecer conselhos e organizações de repre-
sentação dos idosos, incentivando sua participação nos - Criar e fortalecer programas de educação para o res-
programas e projetos governamentais de seu interesse. peito aos direitos humanos nas escolas de primeiro, segun-
- Incentivar o equipamento de estabelecimentos públi- do e terceiro grau, através do sistema de “temas transver-
cos e meios de transporte de forma a facilitar a locomoção sais” nas disciplinas curriculares, atualmente adotado pelo
dos idosos. Ministério da Educação e do Desporto, e através da criação
de uma disciplina sobre direitos humanos.
Longo prazo - Apoiar a criação e desenvolvimento de programas
de ensino e de pesquisa que tenham como tema central a
- Generalizar a concessão de passe livre e precedência educação em direitos humanos.
de acesso aos idosos em todos os sistemas de transporte - Incentivar campanha nacional permanente que am-
público urbano. plie a compreensão da sociedade brasileira sobre o valor
- Criar, fortalecer e descentralizar programas de assis- da vida humana e a importância do respeito aos direitos
tência aos idosos, de forma a contribuir para sua integra- humanos.
ção à família e à sociedade e incentivar o seu atendimento - Incentivar, em parceria com a sociedade civil, a cria-
no seu próprio ambiente. ção de prêmios, bolsas e outras distinções regionais para
entidades e personalidades que tenham se destacado pe-
riodicamente na luta pelos direitos humanos.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Estimular os partidos políticos e os tribunais eleitorais - Ratificar a Convenção 169 sobre Povos Indígenas e
a reservarem parte do seu espaço específico à promoção Tribais em Países Independentes, aprovada pela OIT em
dos direitos humanos. 1989.
- Atribuir, anualmente, o Prêmio Nacional de Direitos - Ratificar a Convenção Internacional para Proteção
Humanos. dos Direitos dos Migrantes e de suas Famílias, aprovada
pela ONU em 1990.
Médio prazo - Ratificar a Convenção Interamericana de Desapare-
cimento Forçado de Pessoas, assinada em Belém/PA em
- Incentivar a criação de canais de acesso direto da po- 9/06/94;
pulação a informações e meios de proteção aos direitos - Adotar legislação interna que permita o cumprimen-
humanos, como linhas telefônicas especiais. to pelo Brasil dos compromissos assumidos internacional-
mente, como Estado parte, em convenções e tratados de
Conscientização e Mobilização pelos Direitos Hu- direitos humanos.
manos - Dar continuidade à política de adesão a tratados in-
ternacionais para proteção e promoção dos direitos huma-
Curto prazo nos, através da sua ratificação e implementação.
65
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Implementar a Convenção Internacional sobre a Eli- - Elaborar um Manual dos Direitos Humanos, a ser dis-
minação de Todas as Formas de Discriminação Racial. tribuído nos Estados e Municípios, para informar, educar
- Implementar as Convenções 29, 105 e 111 da OIT, que e treinar os integrantes de organizações governamentais
tratam do trabalho forçado e da discriminação nos locais e não governamentais responsáveis pela implementação
de trabalho. do Programa Nacional de Direitos Humanos, e para deixar
- Dar cumprimento à obrigação de submeter relatórios claro os compromissos assumidos pelo Brasil na área de
periódicos sobre a implementação de convenções e trata- direitos humanos tanto no Programa Nacional quanto no
dos de direitos humanos, dos quais o Brasil seja parte. plano internacional.
- Desenvolver campanha publicitária no âmbito nacio-
Médio prazo nal, através dos vários meios de comunicação social, com
o objetivo de esclarecer e sensibilizar o País para a impor-
- Dar publicidade e divulgação aos textos dos tratados tância dos direitos humanos e do Programa Nacional de
e convenções internacionais de direitos humanos de que o
Direitos Humanos.
Brasil seja parte.
- Atribuir ao Ministério da Justiça, através de órgão a
ser designado, a responsabilidade pela coordenação da
Apoio a organizações e operações de defesa dos di-
reitos humanos implementação e atualização do Programa Nacional de Di-
reitos Humanos, inclusive sugestões e queixas sobre o seu
Curto prazo cumprimento. Atribuir a entidades equivalentes a respon-
sabilidade pela coordenação da implementação do Progra-
- Promover o intercâmbio internacional de experiências ma nos estados e municípios.
em matéria de proteção e promoção dos direitos humanos. - Promover estudos visando à criação de um sistema
- Promover o intercâmbio internacional de experiên- de concessão de incentivos por parte do Governo federal
cias na área da educação e treinamento de forças policiais aos Governos estaduais que implementarem medidas fa-
visando melhor prepará-las para limitar a incidência e o voráveis aos direitos humanos previstas no Programa Na-
impacto de violações dos direitos humanos no combate à cional de Direitos Humanos.
criminalidade e à violência.
- Criar e fortalecer programas internacionais de apoio Monitoramento
a projetos nacionais que visem a proteção e promoção dos
direitos humanos, em particular da reforma e melhoria dos - Atribuir ao Ministério da Justiça a responsabilidade
sistemas judiciários e policiais. de apresentar ao Presidente da República relatórios qua-
- Apoiar a elaboração do protocolo facultativo adicio- drimestrais sobre a implementação do Programa Nacional
nal à Convenção contra tortura e outros tratamentos, ou de Direitos Humanos, face à situação dos direitos humanos
penas cruéis, desumanas ou degradantes. no Brasil.
- Destinar aos Governos estaduais a responsabilidade
Médio prazo de elaborar e apresentar ao Ministério da Justiça relatórios
quadrimestrais e anuais sobre a implementação do Progra-
- Fortalecer a cooperação com organismos internacio- ma Nacional de Direitos Humanos e a situação dos direitos
nais de proteção aos direitos humanos, em particular a Co- humanos no respectivo Estado.
missão de Direitos Humanos da ONU, a Comissão Intera-
mericana de Direitos Humanos, a Corte Interamericana de
PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS-
Direitos Humanos e o Instituto Interamericano de Direitos
2 VERSÃO
Humanos.
- Apoiar a elaboração da Declaração sobre os Direitos
Introdução
das sociedades Indígenas, da ONU.
- Incentivar a ratificação dos instrumentos internacio-
nais de proteção e promoção dos direitos humanos pelos Decorridos mais de cinco anos do lançamento do Pro-
países com os quais o Brasil possui relações diplomáticas. grama Nacional de Direitos Humanos - PNDH, pode-se
- Desenvolver no País o Plano de Ação da Década para afirmar com segurança que o Brasil avançou significativa-
a Educação em Direitos Humanos, aprovado pela Organiza- mente na questão da promoção e proteção dos direitos
ção das Nações Unidas em 1994 para o período 1995-2004. humanos. Graças ao PNDH, foi possível sistematizar de-
mandas de toda a sociedade brasileira com relação aos
Implementação e Monitoramento do Programa Na- direitos humanos e identificar alternativas para a solução
cional de Direitos Humanos de problemas estruturais, subsidiando a formulação e im-
plementação de políticas públicas e fomentando a criação
Implementação de programas e órgãos estaduais concebidos sob a ótica
da promoção e garantia dos direitos humanos.
- Criar um serviço civil constituído por jovens formados
como agentes da cidadania, que possam atuar na proteção
dos direitos humanos em todos os estados do país.
66
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A criação da Secretaria de Estado dos Direitos Huma- ministrativas e legislativas para prevenir a ocorrência de
nos, no âmbito do Ministério da Justiça, possibilitou o en- novas violações. A aceitação da jurisdição compulsória
gajamento efetivo do Governo Federal em ações voltadas da Corte Interamericana de Direitos Humanos representa,
para a proteção e promoção de direitos humanos. As metas ademais, garantia adicional a todos os brasileiros de pro-
do PNDH foram, em sua maioria, sendo incorporadas aos teção dos direitos consagrados na Convenção Americana
instrumentos de planejamento e orçamento do Governo sobre Direitos Humanos, quando as instâncias nacionais se
Federal, convertendo-se em programas e ações específicas mostrarem incapazes de assegurar a realização da justiça.
com recursos financeiros assegurados nas Leis Orçamentá- No plano interno, os resultados da elaboração e imple-
rias Anuais, conforme determina o Plano Plurianual (PPA). mentação do PNDH podem ser medidos pela ampliação do
espaço público de debate sobre questões afetas à proteção
Entre as principais medidas legislativas que resultaram e promoção dos direitos humanos, tais como o combate
de proposições do PNDH figuram o reconhecimento das à exploração sexual de crianças e adolescentes, a reforma
mortes de pessoas desaparecidas em razão de participação dos mecanismos de reinserção social do adolescente em
política (Lei nº 9.140/95), pela qual o Estado brasileiro reco- conflito com a lei, a manutenção da idade de imputabili-
nheceu a responsabilidade por essas mortes e concedeu in- dade penal, o combate a todas formas de discriminação, a
denização aos familiares das vítimas; a transferência da jus- adoção de políticas de ação afirmativa e de promoção da
tiça militar para a justiça comum dos crimes dolosos contra igualdade e o combate à prática da tortura. Os esforços
a vida praticados por policiais militares (Lei 9.299/96), que empreendidos no campo da promoção e proteção dos di-
permitiu o indiciamento e julgamento de policiais militares reitos humanos se pautaram na importância estratégica da
em casos de múltiplas e graves violações como os do Ca- coordenação entre os três níveis de governo e os poderes
randiru, Corumbiara e Eldorado dos Carajás; a tipificação Executivo, Legislativo e Judiciário, assim como da parceria
do crime de tortura (Lei 9.455/97), que constituiu marco re- entre órgãos governamentais e entidades da sociedade ci-
ferencial para o combate a essa prática criminosa no Brasil; vil.
e a construção da proposta de reforma do Poder Judiciário, Ao adotar, em 13 de maio de 1996, o Programa Nacio-
na qual se inclui, entre outras medidas destinadas a agilizar nal de Direitos Humanos, o Brasil se tornou um dos primei-
o processamento dos responsáveis por violações, a chama- ros países do mundo a cumprir recomendação específica
da ‘federalização’ dos crimes de direitos humanos. da Conferência Mundial de Direitos Humanos (Viena, 1993),
O PNDH contribuiu ainda para ampliar a participação atribuindo ineditamente aos direitos humanos o status de
do Brasil nos sistemas global (da Organização das Nações política pública governamental. Sem abdicar de uma com-
Unidas - ONU) e regional (da Organização dos Estados preensão integral e indissociável dos direitos humanos, o
Americanos - OEA) de promoção e proteção dos direitos programa original conferiu maior ênfase à garantia de pro-
humanos, por meio da continuidade da política de adesão teção dos direitos civis. O processo de revisão do PNDH
a pactos e convenções internacionais de direitos humanos constitui um novo marco na promoção e proteção dos di-
e de plena inserção do País no sistema interamericano. O reitos humanos no País, ao elevar os direitos econômicos,
aumento da cooperação com órgãos internacionais de sal- sociais e culturais ao mesmo patamar de importância dos
vaguarda se evidenciou no número de relatores especiais direitos civis e políticos, atendendo a reivindicação formu-
das Nações Unidas que realizaram visitas ao Brasil nos úl- lada pela sociedade civil por ocasião da IV Conferência Na-
timos anos. Essas visitas resultaram na elaboração de rela- cional de Direitos Humanos, realizada em 13 e 14 de maio
tórios contendo conclusões e recomendações de grande de 1999 na Câmara dos Deputados, em Brasília.
utilidade para o aprimoramento de diagnósticos e a identi-
ficação de medidas concretas para a superação de proble- A atualização do Programa Nacional oferece ao gover-
mas relacionados aos direitos humanos no Brasil. no e à sociedade brasileira a oportunidade de fazer um ba-
Já visitaram o País os relatores da ONU sobre os temas lanço dos progressos alcançados desde 1996, das propos-
da venda de crianças, prostituição e pornografia infantis; da tas de ação que se tornaram programas governamentais e
violência contra a mulher; do racismo, discriminação racial, dos problemas identificados na implementação do PNDH.
xenofobia e intolerância correlata; dos direitos humanos A inclusão dos direitos econômicos, sociais e culturais, de
e resíduos tóxicos; e, mais recentemente, sobre a tortura. forma consentânea com a noção de indivisibilidade e in-
Dando seguimento à cooperação com os mecanismos te- terdependência de todos os direitos humanos expressa na
máticos das Nações Unidas, o Governo brasileiro estendeu Declaração e Programa de Ação de Viena (1993), orientou-
convite aos relatores especiais sobre execuções extrajudi- se pelos parâmetros definidos na Constituição Federal de
ciais, sumárias e arbitrárias e sobre o direito à alimentação 1988, inspirando-se também no Pacto Internacional sobre
para que visitem o País no transcurso de 2002. Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 e no Pro-
Da mesma forma, a cooperação com os órgãos de su- tocolo de São Salvador em Matéria de Direitos Econômicos,
pervisão da OEA tem ensejado a busca de soluções amisto- Sociais e Culturais, ratificados pelo Brasil em 1992 e 1996,
sas para casos de violação em exame pela Comissão Intera- respectivamente.
mericana de Direitos Humanos, possibilitando a concessão O PNDH II incorpora ações específicas no campo da
de reparações e indenizações às vítimas dessas violações garantia do direito à educação, à saúde, à previdência e
ou a seus familiares, bem como a adoção de medidas ad- assistência social, ao trabalho, à moradia, a um meio am-
biente saudável, à alimentação, à cultura e ao lazer, assim
67
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
como propostas voltadas para a educação e sensibilização 2. Apoiar, na esfera estadual e municipal, a criação de
de toda a sociedade brasileira com vistas à construção e conselhos de direitos dotados de autonomia e com com-
consolidação de uma cultura de respeito aos direitos hu- posição paritária de representantes do governo e da socie-
manos. Atendendo a anseios da sociedade civil, foram es- dade civil.
tabelecidas novas formas de acompanhamento e monito- 3. Apoiar a formulação de programas estaduais e mu-
ramento das ações contempladas no Programa Nacional, nicipais de direitos humanos e a realização de conferências
baseadas na relação estratégica entre a implementação do e seminários voltados para a proteção e promoção de di-
programa e a elaboração dos orçamentos em nível federal, reitos humanos.
estadual e municipal. O PNDH II deixa de circunscrever as 4. Apoiar a atuação da Comissão de Direitos Huma-
ações propostas a objetivos de curto, médio e longo prazo, nos da Câmara dos Deputados, a criação de comissões de
e passa a ser implementado por meio de planos de ação direitos humanos nas assembléias legislativas estaduais e
anuais, os quais definirão as medidas a serem adotadas, câmaras municipais e o trabalho das comissões parlamen-
os recursos orçamentários destinados a financiá-las e os tares de inquérito constituídas para a investigação de cri-
órgãos responsáveis por sua execução. mes contra os direitos humanos.
O PNDH II será implementado, a partir de 2002, com 5. Estimular a criação de bancos de dados com indica-
os recursos orçamentários previstos no atual Plano Pluria- dores ?????z??¾sociais e econômicos sobre a situação dos
nual (PPA 2000-2003) e na lei orçamentária anual. Embora direitos humanos nos estados brasileiros, a fim de orientar
a revisão do Programa Nacional esteja sendo apresentada a definição de políticas públicas destinadas à redução da
à sociedade brasileira a pouco mais de um ano da posse do violência e à inclusão social.
novo governo, os compromissos expressos no texto quan- 6. Apoiar, em todas as unidades federativas, a adoção
to à promoção e proteção dos direitos humanos transcen- de mecanismos que estimulem a participação dos cidadãos
dem a atual administração e se projetam no tempo, inde- na elaboração dos orçamentos públicos.
pendentemente da orientação política das futuras gestões. 7. Estimular a criação de mecanismos que confiram
Nesse sentido, o PNDH II deverá influenciar a discussão, no maior transparência à destinação e ao uso dos recursos pú-
transcurso de 2003, do Plano Plurianual 2004-2007. O Pro- blicos, aprimorando os mecanismos de controle social das
grama Nacional servirá também de parâmetro e orientação ações governamentais e de combate à corrupção.
para a definição dos programas sociais a serem desenvol-
vidos no País até 2007, ano em que se procederia a nova 8. Ampliar, em todas as unidades federativas, as ini-
revisão do PNDH. ciativas voltadas para programas de transferência direta
As propostas de atualização foram discutidas em semi- de renda, a exemplo dos programas de renda mínima, e
nários regionais, com ampla participação de órgãos gover- fomentar o envolvimento de organizações locais em seu
namentais e de entidades da sociedade civil e, posterior- processo de implementação.
mente, registradas e consolidadas pelo Núcleo de Estudos 9. Realizar estudos para que o instrumento de ação di-
da Violência da Universidade de São Paulo - NEV/USP. Após reta de inconstitucionalidade possa ser invocado no caso
esforço de sistematização e aglutinação, o PNDH atualiza- de adoção, por autoridades municipais, estaduais e fede-
do engloba um total de 500 propostas, consideradas todas rais, de políticas públicas contrárias aos direitos humanos.
as categorias de direitos, enquanto o programa original 10. Garantir o acesso gratuito e universal ao registro
previa 227 ações. civil de nascimento e ao assento de óbito.
A etapa seguinte, de editoração e complementação de 11. Apoiar a aprovação do Projeto de Lei nº 4715/1994,
propostas, foi desenvolvida pela Secretaria de Estado dos que transforma o Conselho de Defesa dos Direitos da Pes-
Direitos Humanos, do Ministério da Justiça, com a inestimá- soa Humana - CDDPH em Conselho Nacional dos Direitos
vel colaboração de todos os Ministérios e órgãos da área Humanos - CNDH, ampliando sua competência e a partici-
social e sob a coordenação da Casa Civil da Presidência da pação de representantes da sociedade civil.
República. Finalizado o projeto de atualização do PNDH, a
Secretaria de Estado dos Direitos Humanos realizou, no pe- Garantia do Direito à Vida
ríodo de 19 de dezembro de 2001 a 10 de janeiro de 2002,
consulta pública através da internet, dela resultando, após 12. Apoiar a execução do Plano Nacional de Segurança
correções e ajustes finais, o texto do PNDH II que ora se Pública - PNSP.
encaminha à publicação no Diário Oficial da União. 13. Apoiar programas e ações que tenham como ob-
jetivo prevenir a violência contra grupos vulneráveis e em
Propostas Gerais situação de risco.
14. Apoiar a implementação de ações voltadas para o
1. Apoiar a formulação, a implementação e a avaliação controle de armas e o desarmamento, tais como a coor-
de políticas e ações sociais para a redução das desigual- denação centralizada do controle de armas, o Cadastro
dades econômicas, sociais e culturais existentes no país, Nacional de Armas Apreendidas - CNAA e o Sistema Na-
visando à plena realização do direito ao desenvolvimento e cional de Armas - SINARM, assim como campanhas de de-
conferindo prioridade às necessidades dos grupos social- sarmamento e ações de recolhimento/apreensão de armas
mente vulneráveis. ilegais.
68
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
15. Propor a edição de norma federal regulamentando 29. Apoiar ações destinadas a reduzir a contratação
a aquisição de armas de fogo e munição por policiais, guar- ilegal de profissionais de polícia e guardas municipais por
das municipais e agentes de segurança privada. empresas de segurança privada.
16. Apoiar a edição de norma federal que regule o uso de 30. Incentivar ações educativas e preventivas destina-
armas de fogo e munição por policiais, guardas municipais das a reduzir o número de acidentes e mortes no trânsito.
e agentes de segurança privada, especialmente em grandes 31. Incentivar a implantação da polícia ou segurança
eventos, manifestações públicas e conflitos, assim como a comunitária e de ações de articulação e cooperação entre
proibição da exportação de armas de fogo para países limí- a comunidade e autoridades públicas com vistas ao de-
trofes. senvolvimento de estratégias locais de segurança pública,
17. Promover, em parceria com entidades não-governa- visando a garantir a proteção da integridade física das pes-
mentais, a elaboração de mapas de violência urbana e rural, soas e dos bens da comunidade e o combate à impunidade.
identificando as regiões que apresentem maior incidência de 32. Apoiar a criação e o funcionamento de centros de
violência e criminalidade e incorporando dados e indicadores apoio a vítimas de crime nas áreas com maiores índices de
de desenvolvimento, qualidade de vida e risco de violência
violência, com vistas a disponibilizar assistência social, jurí-
contra grupos vulneráveis.
dica e psicológica às vítimas de violência e a seus familiares
18. Estimular o aperfeiçoamento dos critérios para se-
e dependentes.
leção e capacitação de policiais e implantar, nas Academias
de polícia, programas de educação e formação em direitos 33. Apoiar a realização de estudos e pesquisas de viti-
humanos, em parceria com entidades não-governamentais. mização, com referência específica a indicadores de gênero
19. Incluir no currículo dos cursos de formação de poli- e raça, visando a subsidiar a formulação, implementação e
ciais módulos específicos sobre gênero e raça, gerenciamen- avaliação de programas de proteção dos direitos humanos.
to de crises, técnicas de investigação, técnicas não-letais de 34. Estimular a avaliação de programas e ações na área
intervenção policial e mediação de conflitos. de segurança pública e a identificação de experiências ino-
20. Propor a criação de programas de atendimento psi- vadoras e bem sucedidas que possam ser reproduzidas nos
cossocial para o policial e sua família, a obrigatoriedade de estados e municípios.
avaliações periódicas da saúde física e mental dos profissio- 35. Implantar e fortalecer sistemas de informação nas
nais de polícia e a implementação de programas de seguro áreas de segurança e justiça, como o INFOSEG, de forma a
de vida e de saúde, de aquisição da casa própria e de estímu- permitir o acesso à informação e a integração de dados so-
lo à educação formal e à profissionalização. bre identidade criminal, mandados de prisão e situação da
21. Apoiar estudos e programas para a redução da letali- população carcerária em todas as unidades da Federação.
dade em ações envolvendo policiais. 36. Criar bancos de dados sobre a organização e o fun-
22. Apoiar o funcionamento e a modernização de corre- cionamento das polícias e sobre o fluxo das ocorrências no
gedorias estaduais independentes e desvinculadas dos co- sistema de justiça criminal.
mandos policiais, com vistas a limitar abusos e erros em ope- 37. Apoiar a implementação de programas de preven-
rações policiais e a emitir diretrizes claras aos integrantes das ção da violência doméstica.
forças policiais com relação à proteção dos direitos humanos.
23. Fortalecer o Fórum Nacional de Ouvidores de Polícia Garantia do Direito à Justiça
- FNOP, órgão de caráter consultivo vinculado à Secretaria de
Estado dos Direitos Humanos, e incentivar a criação e o for- 38. Adotar, no âmbito da União e dos estados, medidas
talecimento de ouvidorias de polícia dotadas de autonomia legislativas e administrativas para a resolução de casos de
e poderes para receber, acompanhar e investigar denúncias. violação de direitos humanos, particularmente aqueles em
24. Apoiar medidas destinadas a garantir o afastamen-
exame pelos órgãos internacionais de supervisão, garan-
to das atividades de policiamento de policiais envolvidos em
tindo a apuração dos fatos, o julgamento dos responsáveis
ocorrências letais e na prática de tortura, submetendo-os à
e a reparação dos danos causados às vítimas.
avaliação e tratamento psicológico e a imediata instauração
de processo administrativo, sem prejuízo do devido processo 39. Apoiar a Proposta de Emenda à Constituição nº
criminal. 29/2000, sobre a reforma do Poder Judiciário, com vistas
25. Fortalecer a Divisão de Direitos Humanos do Depar- a: a) assegurar a todos, no âmbito judicial e administrativo,
tamento de Polícia Federal. a razoável duração dos processos e os meios que garan-
26. Criar a Ouvidoria da Polícia Federal - OPF. tam a celeridade de sua tramitação; b) conferir o status de
27. Apoiar programas estaduais voltados para a integra- emenda constitucional aos tratados e convenções interna-
ção entre as polícias civil e militar, em especial aqueles com cionais sobre direitos humanos aprovados pelo Congresso
ênfase na unificação dos comandos policiais. Nacional; c) garantir o incidente de deslocamento, da Jus-
28. Reforçar a fiscalização e a regulamentação das ativi- tiça Estadual para a Justiça Federal, da competência pro-
dades das empresas de segurança privada, com participação cessual nas hipóteses de graves crimes contra os direitos
da Polícia Civil no controle funcional e da Polícia Militar no humanos, suscitadas pelo Procurador Geral da República
controle operacional das ações previstas, bem como deter- perante o Superior Tribunal de Justiça; d) adotar a súmula
minar o imediato recadastramento de todas as empresas de vinculante, dispondo sobre a validade, a interpretação e a
segurança em funcionamento no País, proibindo o funciona- eficácia das normas legais e seu efeito vinculante em rela-
mento daquelas em situação irregular. ção aos demais órgãos do Poder Judiciário; e) estabelecer
69
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
o controle externo do Poder Judiciário, com a criação do 56. Apoiar a instalação e manutenção, pelos estados,
Conselho Nacional de Justiça, encarregado do controle da de juizados especiais civis e criminais.
atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e 57. Incentivar projetos voltados para a criação de ser-
do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes; f) criar viços de juizados itinerantes, com a participação de juízes,
o Conselho Nacional do Ministério Público e do Conselho promotores e defensores públicos, especialmente nas re-
Superior da Justiça do Trabalho. giões mais distantes dos centros urbanos, para ampliar o
40. Apoiar a criação de promotorias de direitos huma- acesso à justiça.
nos no âmbito do Ministério Público. 58. Estimular a criação de centros integrados de cida-
41. Propor legislação visando a fortalecer a atuação do dania próximos às comunidades carentes e periferias, que
Ministério Público no combate ao crime organizado. contenham os órgãos administrativos para atendimento ao
42. Fortalecer as corregedorias do Ministério Público e cidadão, delegacias de polícias e varas de juizado especial
do Poder Judiciário, como forma de aumentar a fiscalização com representantes do Ministério Público e da Defensoria
e o monitoramento das atividades dos promotores e juízes. Pública.
43. Regulamentar o artigo 129, inciso VII, da Consti- 59. Implementar a Campanha Nacional de Combate
tuição Federal, que trata do controle externo da atividade à Tortura por meio da veiculação de filmes publicitários,
policial pelo Ministério Público. da sensibilização da opinião pública e da capacitação dos
44. Apoiar a atuação da Procuradoria Federal dos Direi- operadores do direito.
tos do Cidadão no âmbito da União e dos estados. 60. Fortalecer a Comissão Especial de Combate à Tor-
45. Propor medidas destinadas a incentivar a agilização tura, criada por meio da Resolução nº 2, de 5 de junho de
dos procedimentos judiciais, a fim de reduzir o número de 2001, no âmbito do Conselho de Defesa dos Direitos da
detidos à espera de julgamento. Pessoa Humana - CDDPH.
46. Fortalecer a Ouvidoria Geral da República, a fim de 61. Elaborar e implementar o Plano Nacional de Com-
ampliar a participação da população no monitoramento e bate à Tortura, levando em conta as diretrizes fixadas na
fiscalização das atividades dos órgãos e agentes do poder Portaria nº 1.000 do Ministério da Justiça, de 30 de outubro
público. de 2001, e as recomendações do Relator Especial das Na-
ções Unidas para a Tortura, elaboradas com base em visita
47. Criar e fortalecer ouvidorias nos órgãos públicos da realizada ao Brasil em agosto/setembro de 2000.
União e dos estados para o atendimento de denúncias de 62. Fomentar um pacto nacional com as entidades
violação de direitos fundamentais, com ampla divulgação responsáveis pela aplicação da Lei nº 9.455, de 7 de abril
de 1997, que tipifica o crime de tortura, e manter sistema
de sua finalidade nos meios de comunicação.
de recepção, tratamento e encaminhamento de denúncias
48. Criar e fortalecer a atuação de ouvidorias gerais nos
para prevenção e apuração de casos - SOS Tortura.
Estados.
63. Apoiar a criação e o funcionamento, nos estados,
49. Apoiar a expansão dos serviços de prestação da
de programas de proteção de vítimas e testemunhas de
justiça, para que estes se façam presentes em todas as re-
crimes, expostas a grave e real ameaça em virtude de co-
giões do país.
laboração ou declarações prestadas em investigação ou
50. Apoiar medidas legislativas destinadas a transfe-
processo penal, assim como estruturar o serviço de prote-
rir, da Justiça Militar para a Comum, a competência para
ção ao depoente especial, instituído pela Lei nº 9.807/99 e
processar e julgar todos os crimes cometidos por policiais regulamentado pelo Decreto 3.518/00.
militares no exercício de suas funções. 64. Estudar a possibilidade de revisão da legislação so-
51. Incentivar a prática de plantões permanentes no Ju- bre abuso e desacato à autoridade.
diciário, Ministério Público, Defensoria Pública e Delegacias 65. Apoiar a aplicação da Lei Complementar nº 88/96,
de Polícia. relativa ao rito sumário, assim como outras proposições le-
52. Fortalecer os Institutos Médico-Legais ou de Crimi- gislativas que objetivem dinamizar os processos de expro-
nalística, adotando medidas que assegurem a sua excelên- priação para fins de reforma agrária, assegurando-se, para
cia técnica e progressiva autonomia. prevenir atos de violência, maior cautela na concessão de
53. Apoiar o fortalecimento da Defensoria Pública da liminares.
União e das Defensorias Públicas Estaduais, assim como a 66. Assegurar o cumprimento da Lei nº 9.416, que tor-
criação de Defensorias Públicas junto a todas as comarcas na obrigatória a presença do juiz ou de representante do
do país. Ministério Público no local, por ocasião do cumprimento
54. Estimular a criação de serviços de orientação jurí- de mandado de manutenção ou reintegração de posse de
dica gratuita, a exemplo dos balcões de direito e dos ser- terras, quando houver pluralidade de réus, para prevenir
viços de disque-denúncia, assim como o desenvolvimento conflitos violentos no campo, ouvido também o órgão ad-
de programas de formação de agentes comunitários de ministrativo da reforma agrária.
justiça. 67. Promover a discussão, em âmbito nacional, sobre
55. Estimular a criação e o fortalecimento de órgãos de a necessidade de se repensar as formas de punição ao ci-
defesa do consumidor, em nível estadual e municipal, assim dadão infrator, incentivando o Poder Judiciário a utilizar as
como apoiar as atividades das organizações da sociedade penas alternativas previstas nas leis vigentes com a finali-
civil atuantes na defesa do consumidor. dade de minimizar a crise do sistema penitenciário.
70
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
68. Estimular a aplicação de penas alternativas à prisão 81. Desenvolver programas de atenção integral à saú-
para os crimes não violentos. de da população carcerária.
69. Apoiar o funcionamento da Central Nacional - CE- 82. Estimular a aplicação dos dispositivos da Lei de Exe-
NAPA e das centrais estaduais de penas alternativas, esti- cuções Penais referentes a regimes semiabertos de prisão.
mulando a disseminação de informações e a reprodução 83. Fortalecer o programa nacional de capacitação do
dessas iniciativas, assim como a criação do Conselho Na- servidor prisional, com vistas a assegurar a formação pro-
cional de Penas e Medidas Alternativas. fissional do corpo técnico, da direção e dos agentes peni-
70. Adotar medidas para assegurar a obrigatoriedade tenciários.
de apresentação da pessoa presa ao juiz no momento da 84. Propor a normatização dos procedimentos de re-
homologação da prisão em flagrante e do pedido de prisão vista aos visitantes de estabelecimentos prisionais, com o
preventiva, como forma de garantir a sua integridade física. objetivo de evitar constrangimentos desnecessários aos
71. Ampliar a representação da sociedade civil no Con- familiares dos presos.
selho Nacional de Política Criminal e Penitenciária - CNPCP. 85. Promover programas de educação, treinamento
72. Realizar periodicamente o Censo Penitenciário, de profissional e trabalho para facilitar a recuperação do pre-
modo a possibilitar um planejamento adequado da oferta so, visando a sua futura reinserção na sociedade.
de vagas, das ações gerenciais e de outras medidas desti- 86. Realizar levantamento epidemiológico da popula-
nadas a assegurar a melhoria do sistema. ção carcerária brasileira.
73. Dar continuidade ao processo de articulação do 87. Apoiar a realização de Mutirões da Execução Penal
INFOSEG com o Sistema de Informática Penitenciária - IN- com vistas à concessão de progressão de regime e soltura
FOPEN, de forma a acompanhar a passagem do detento dos presos que já cumpriram integralmente suas penas.
por todas as etapas do sistema de justiça penal, desde a 88. Apoiar programas que tenham como objetivo a re-
detenção provisória até o relaxamento da prisão, seja pelo integração social do egresso do sistema penitenciário e a
cumprimento da pena, seja pela progressão de regime. redução das taxas de reincidência penitenciária.
74. Apoiar programas que tenham como objetivo a 89. Proporcionar incentivos fiscais, creditícios e outros
transferência de pessoas submetidas à detenção provisó- às empresas que empreguem egressos do sistema peni-
ria de carceragens de delegacias de Polícia para centros tenciário.
de detenção provisória, núcleos de custódia e/ou cadeias 90. Apoiar a desativação de estabelecimentos peniten-
públicas, ou, no caso de proferida sentença condenatória, ciários que contrariem as normas mínimas penitenciárias
diretamente para estabelecimentos prisionais. internacionais, a exemplo da Casa de Detenção de São Pau-
75. Implementar políticas visando a garantir os direitos lo - Carandiru.
econômicos, sociais e culturais das pessoas submetidas à
detenção. Garantia do Direito à Liberdade
76. Apoiar programas de emergência para corrigir as
condições inadequadas dos estabelecimentos prisionais Opinião e Expressão
existentes, assim como para a construção de novos estabe-
lecimentos, federais e estaduais, com a utilização de recur- 91. Promover debate com todos os setores vinculados
sos do Fundo Penitenciário Nacional - FUNPEN. ao tema da liberdade de expressão e da classificação indi-
77. Estabelecer níveis hierárquicos de segurança para cativa de espetáculos e diversões públicas, buscando uma
estabelecimentos prisionais de modo a abrigar criminosos ação integrada e voltada para o interesse público nesse as-
reincidentes, perigosos e organizados em estabelecimen- sunto.
tos mais seguros. 92. Estabelecer diálogo com os produtores e distribui-
78. Incrementar a descentralização dos estabeleci- dores de programação visando à cooperação e sensibiliza-
mentos penais, promovendo a sua interiorização, com a ção desses segmentos para o cumprimento da legislação
construção de presídios de pequeno porte que facilitem a em vigor e construção de uma cultura de direitos humanos.
execução da pena nas proximidades do domicílio dos fami- 93. Apoiar o funcionamento da Coordenação Geral de
liares dos presos. Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação, da Secretaria
79. Integrar Juizado, Ministério Público, Defensoria Pú- Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, de modo a do-
blica e Assistência Social na região de inserção dos estabe- tá-la de capacidade operativa compatível com sua missão
lecimentos prisionais. institucional.
80. Incentivar a implantação e o funcionamento, em 94. Criar um sistema de avaliação permanente sobre os
todas as regiões, dos conselhos comunitários previstos na critérios de classificação indicativa e faixa etária.
Lei de Execuções Penais, para monitorar e fiscalizar as con- 95. Promover o mapeamento dos programas radiofô-
dições carcerárias e o cumprimento de penas privativas de nicos e televisivos que estimulem a apologia do crime, a
liberdade e penas alternativas, bem como promover a par- violência, a tortura, o racismo e outras formas de discrimi-
ticipação de organizações da sociedade civil em programas nação, a ação de grupos de extermínio e a pena de morte,
de assistência aos presos e na fiscalização das condições e com vistas a identificar responsáveis e a adotar as medidas
do tratamento a que são submetidos nos estabelecimentos legais pertinentes.
prisionais.
71
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
96. Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, 110. Apoiar a regulamentação da parceria civil regis-
do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de trada entre pessoas do mesmo sexo e a regulamentação
garantir o controle democrático das concessões de rádio da lei de redesignação de sexo e mudança de registro civil
e televisão, regulamentar e monitorar o uso dos meios de para transexuais.
comunicação social e coibir incentivos a práticas de viola- 111. Propor o aperfeiçoamento da legislação penal no
ção dos direitos humanos. que se refere à discriminação e à violência motivadas por
97. Garantir a possibilidade de fiscalização da progra- orientação sexual.
mação das emissoras de rádio e televisão, com vistas a as- 112. Excluir o termo ‘pederastia’ do Código Penal Mi-
segurar o controle social sobre os meios de comunicação e litar.
a penalizar, na forma da lei, as empresas de telecomunica- 113. Incluir nos censos demográficos e pesquisas ofi-
ção que veicularem programação ou publicidade atentató- ciais dados relativos à orientação sexual.
ria aos direitos humanos.
98. Coibir a propaganda de ideias neonazistas e outras Garantia do Direito à Igualdade
ideologias que pregam a violência, particularmente contra
grupos minoritários. 114. Apoiar o funcionamento e a implementação das
99. Propor legislação visando a coibir o uso da Internet resoluções do Conselho Nacional de Combate à Discrimi-
para incentivar práticas de violação dos direitos humanos. nação - CNCD, no âmbito do Ministério da Justiça.
100. Garantir a imparcialidade, o contraditório e o di- 115. Estimular a divulgação e a aplicação da legislação
reito de resposta na veiculação de informações, de modo antidiscriminatória, assim como a revogação de normas
a assegurar a todos os cidadãos o direito de informar e ser discriminatórias na legislação infraconstitucional.
informado. 116. Estimular a criação de canais de acesso direto e
101. Apoiar formas de democratização da informação, regular da população a informações e documentos gover-
a exemplo das rádios e televisões comunitárias. namentais, especialmente a dados sobre a tramitação de
102. Coibir a utilização de recursos públicos, inclusi- investigações e processos legais relativos a casos de viola-
ção de direitos humanos.
ve de bancos oficiais, fundações, empresas públicas e de
117. Apoiar a adoção, pelo poder público e pela inicia-
economia mista, para patrocinar eventos e programas que
tiva privada, de políticas de ação afirmativa como forma de
estimulem a prática de violência.
combater a desigualdade.
103. Contemplar, nos meios de comunicação, elemen-
118. Promover estudos para alteração da Lei de Licita-
tos destinados a elevar a autoestima dos afrodescendentes,
ções Públicas de modo a possibilitar que, uma vez esgota-
povos indígenas e outros grupos historicamente vitimiza-
dos todos os procedimentos licitatórios, configurando-se
dos pelo racismo e outras formas de discriminação.
empate, o critério de desempate - hoje definido por sorteio
- seja substituído pelo critério de adoção, por parte d?os li-
Crença e Culto citantes, de políticas de ação afirmativa em favor de grupos
discriminados.
104. Garantir o direito à liberdade de crença e culto a 119. Apoiar a inclusão nos currículos escolares de infor-
todos os cidadãos brasileiros, independentemente de sua mações sobre o problema da discriminação na sociedade
orientação religiosa. brasileira e sobre o direito de todos os grupos e indivíduos
105. Prevenir e combater a intolerância religiosa, inclu- a um tratamento igualitário perante a lei.
sive no que diz respeito a religiões minoritárias e a cultos
afro-brasileiros. Crianças e Adolescentes
106. Implementar os dispositivos da Declaração Sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e Discri- 120. Fortalecer o papel do Conselho Nacional dos Di-
minação Fundadas em Religião ou Crença, adotada pela reitos da Criança e do Adolescente - CONANDA na formu-
Assembléia Geral das Nações Unidas em 25 de novembro lação e no acompanhamento de políticas públicas para a
de 1981. infância e adolescência.
107. Proibir a veiculação de propaganda e mensagens 121. Incentivar a criação e o funcionamento, nos esta-
racistas e/ou xenofóbicas que difamem as religiões e inci- dos e municípios, dos Conselhos dos Direitos da Criança e
tem ao ódio contra valores espirituais e/ou culturais. do Adolescente, Conselhos Tutelares e Fundos dos Direitos
108. Incentivar o diálogo entre movimentos religiosos da Criança e do Adolescente.
sob o prisma da construção de uma sociedade pluralista, 122. Promover campanhas de esclarecimento sobre os
com base no reconhecimento e no respeito às diferenças Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente, infor-
de crença e culto. mando sobre as vantagens de aplicação para pessoas físi-
cas e jurídicas, assim como criar mecanismos de incentivo à
Orientação Sexual captação de recursos, garantindo formas de controle social
de sua aplicação.
109. Propor emenda à Constituição Federal para incluir 123. Apoiar a produção e publicação de estudos e pes-
a garantia do direito à livre orientação sexual e a proibição quisas que contribuam para a divulgação e aplicação do
da discriminação por orientação sexual. Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA.
72
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
124. Assegurar a implantação e o funcionamento ade- 137. Propor a alteração da legislação no tocante à tipi-
quado dos órgãos que compõem o Sistema de Garantia ficação de crime de exploração sexual infanto-juvenil, com
de Direitos de Crianças e Adolescentes, estimulando a cria- penalização para o explorador e o usuário.
ção de Núcleos de Defensorias Públicas Especializadas no 138. Criar informativo, destinado a turistas estrangei-
Atendimento a Crianças e Adolescentes (com os direitos ros, cobrindo aspectos relacionados aos crimes sexuais e
violados), de Delegacias de Investigação de Crimes Pratica- suas implicações pessoais, sociais e judiciais.
dos Contra Crianças e Adolescentes e de Varas Privativas de 139. Promover a discussão do papel dos meios de co-
Crimes Contra Crianças e Adolescentes. municação em situações de violação de direitos de crianças
125. Promover a discussão do papel do Poder Judiciá- e adolescentes.
rio, do Ministério Público, da Defensoria Pública e do Poder 140. Ampliar o Programa de Erradicação do Trabalho
Legislativo, ao lado do Poder Executivo, bem como da inte- Infantil - PETI de modo a focalizar as crianças de áreas ur-
gração de suas ações, na implementação do ECA. banas em situação de risco, especialmente aquelas utiliza-
126. Investir na formação e capacitação de profissio- das em atividades ilegais como a exploração sexual infan-
nais encarregados da promoção e proteção dos direitos de to-juvenil e o tráfico de drogas.
crianças e adolescentes no âmbito de instituições públicas 141. Apoiar iniciativas de geração de renda para as fa-
e de organizações não-governamentais. mílias de crianças atendidas pelo PETI.
127. Capacitar os professores do ensino fundamental 142. Promover e divulgar experiências de ações socioe-
e médio para promover a discussão de temas específicos, ducativas junto às famílias de crianças atendidas pelo PETI.
tais como: a educação sexual, o consumo de drogas, a ética 143. Apoiar e fortalecer o Fórum Nacional de Preven-
e a cidadania. ção e Erradicação do Trabalho Infantil.
128. Apoiar campanhas voltadas para a paternidade 144. Implantar e implementar as diretrizes da Política
responsável. Nacional de Combate ao Trabalho Infantil e de Proteção do
129. Promover, em parceria com governos estaduais e Adolescente Trabalhador.
municipais e com entidades da sociedade civil, campanhas 145. Ampliar programas de aprendizagem profissional
educativas relacionadas às situações de violação de direitos para adolescentes em organizações públicas e privadas,
respeitando as regras estabelecidas pelo ECA.
vivenciadas pela criança e o adolescente, tais como: a vio-
146. Dar continuidade à implantação e implementa-
lência doméstica, a exploração sexual, a exploração no tra-
ção, no âmbito federal e de forma articulada com estados
balho e o uso de drogas, visando à criação de padrões cul-
e municípios, do Sistema de Informação para a Infância e
turais favoráveis aos direitos da criança e do adolescente.
a Adolescência - SIPIA, no que se refere aos Módulos: I -
130. Viabilizar programas e serviços de atendimento e
monitoramento da situação de proteção da criança e do
de proteção para crianças e adolescentes vítimas de vio-
adolescente, sob a ótica da violação e ressarcimento de di-
lência, assim como de assistência e orientação para seus reitos; II - monitoramento do fluxo de atendimento ao ado-
familiares. lescente em conflito com a lei; III - monitoramento da co-
131. Propor alterações na legislação penal com o ob- locação familiar e das adoções nacionais e internacionais;
jetivo de limitar a incidência da violência doméstica contra e IV - acompanhamento da implantação dos Conselhos de
crianças e adolescentes. Direitos, Conselhos Tutelares e Fundos para a Infância e a
132. Incentivar programas de orientação familiar com Adolescência.
vistas a capacitar as famílias para a resolução de conflitos 147. Apoiar a criação de serviços de identificação, lo-
de forma não violenta, bem como para o cumprimento de calização, resgate e proteção de crianças e adolescentes
suas responsabilidades para com as crianças e adolescen- desaparecidos.
tes. 148. Promover iniciativas e campanhas de esclareci-
133. Garantir a expansão de programas de prevenção mento que tenham como objetivo assegurar a inimputabi-
da violência voltados para as necessidades específicas de lidade penal até os 18 anos de idade.
crianças e adolescentes. 149. Priorizar as medidas socioeducativas em meio
134. Fortalecer os programas que ofereçam benefícios aberto para o atendimento dos adolescentes em conflito
a adolescentes em situação de vulnerabilidade, e que pos- com a lei.
sibilitem o seu envolvimento em atividades comunitárias 150. Incentivar o reordenamento das instituições pri-
voltadas para a promoção da cidadania, saúde e meio am- vativas de liberdade para adolescentes em conflito com a
biente. lei, reduzindo o número de internos por unidade de aten-
135. Apoiar a implantação e implementação do Plano dimento e conferindo prioridade à implementação das de-
Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Ju- mais medidas socioeducativas previstas no ECA, em conso-
venil nos estados e municípios. nância com as resoluções do CONANDA.
136. Dar continuidade à Campanha Nacional de Com- 151. Incentivar o desenvolvimento, monitoramento e
bate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil, estimulando o avaliação de programas socioeducativos para o atendi-
lançamento de campanhas estaduais e municipais que vi- mento de adolescentes autores de ato infracional, com a
sem a modificar concepções, práticas e atitudes que estig- participação de seus familiares.
matizam a criança e o adolescente em situação de violência 152. Fortalecer a atuação do Poder Judiciário e do Mi-
sexual, utilizando como marco conceitual o ECA e as nor- nistério Público na fiscalização e aplicação das medidas so-
mas internacionais pertinentes. cioeducativas a adolescentes em conflito com a lei.
73
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
153. Promover a integração operacional de órgãos do 166. Apoiar a regulamentação do Artigo 7º, inciso XX
Poder Judiciário, Ministério Público, Defensorias Públicas da Constituição Federal, que prevê a proteção do mercado
e Secretarias de Segurança Pública com as delegacias es- de trabalho da mulher.
pecializadas em investigação de atos infracionais pratica- 167. Incentivar a geração de estatísticas sobre salários,
dos por adolescentes e às entidades de atendimento, bem jornadas de trabalho, ambientes de trabalho, doenças pro-
como ações de sensibilização dos profissionais indicados fissionais e direitos trabalhistas da mulher.
para esses órgãos quanto à aplicação do ECA. 168. Assegurar o cumprimento dos dispositivos exis-
154. Assegurar atendimento sistemático e proteção in- tentes na Lei nº 9.029/95, que garante proteção às mulhe-
tegral à criança e ao adolescente testemunha, sobretudo res contra a discriminação em razão de gravidez.
quando se tratar de denúncia envolvendo o narcotráfico e 169. Apoiar a implementação e o fortalecimento do
grupos de extermínio. Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher -
PAISM.
155. Estender a assistência jurídica às crianças que se 170. Apoiar programas voltados para a sensibilização
encontram em abrigos públicos ou privados, com vistas em questões de gênero e violência doméstica e sexual pra-
ao restabelecimento de seus vínculos familiares, quando ticada contra mulheres na formação dos futuros profissio-
possível, ou a sua colocação em família substituta, como nais da área de saúde, dos operadores do direito e dos po-
medida subsidiária. liciais civis e militares, com ênfase na proteção dos direitos
156. Instituir uma política nacional de estímulo à ado- de mulheres afrodescendentes.
ção de crianças e adolescentes privados da convivência fa- 171. Apoiar a alteração dos dispositivos do Código
miliar. Penal referentes ao estupro, atentado violento ao pudor,
157. Promover a implementação da Convenção da Haia posse sexual mediante fraude, atentado ao pudor median-
sobre a Proteção das Crianças e a Cooperação em Matéria te fraude e o alargamento dos permissivos para a prática
de Adoção Internacional, por meio do fortalecimento da do aborto legal, em conformidade com os compromissos
Autoridade Central Brasileira, instituída pelo Decreto n.º assumidos pelo Estado brasileiro no marco da Plataforma
3.174/99 e dos órgãos que a integram.
de Ação de Pequim.
158. Apoiar proposta legislativa destinada a regula-
172. Adotar medidas com vistas a impedir a utilização
mentar o funcionamento da Autoridade Central Brasileira
da tese da “legítima defesa da honra” como fator atenuan-
e do Conselho das Autoridades Centrais, órgãos responsá-
te em casos de homicídio de mulheres, conforme entendi-
veis pela cooperação em matéria de adoção internacional.
mento já firmado pelo Supremo Tribunal Federal.
159. Promover ações e iniciativas com vistas a reforçar
173. Fortalecer o Programa Nacional de Combate à
o caráter excepcional das adoções internacionais.
Violência Contra a Mulher.
160. Promover a implementação da Convenção da
174. Apoiar a criação e o funcionamento de delegacias
Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional
de Crianças, no que se refere à estruturação da Autoridade especializadas no atendimento à mulher - DEAMs.
Central designada pelo Decreto nº 3951/01. 175. Incentivar a pesquisa e divulgação de informações
161. Apoiar medidas destinadas a assegurar a localiza- sobre a violência e discriminação contra a mulher e sobre
ção de crianças e adolescentes deslocados e retidos ilicita- formas de proteção e promoção dos direitos da mulher.
mente, garantindo o regresso a seu local de origem.
176. Apoiar a implantação, nos estados e municípios,
Mulheres de serviços de disque-denúncia para casos de violência
contra a mulher.
162. Apoiar as atividades do Conselho Nacional dos 177. Apoiar programas voltados para a defesa dos di-
Direitos da Mulher - CNDM, assim como dos conselhos es- reitos de profissionais do sexo.
taduais e municipais dos direitos da mulher. 178. Apoiar programas de proteção e assistência a víti-
163. Estimular a formulação, no âmbito federal, esta- mas e testemunhas da violência de gênero, contemplando
dual e municipal, de programas governamentais destina- serviços de atendimento jurídico, social, psicológico, médi-
dos a assegurar a igualdade de direitos em todos os níveis, co e de capacitação profissional, assim como a ampliação e
incluindo saúde, educação e treinamento profissional, tra- o fortalecimento da rede de casas-abrigo em todo o país.
balho, segurança social, propriedade e crédito rural, cultu- 179. Estimular a articulação entre os diferentes serviços
ra, política e justiça. de apoio a mulheres vítimas de violência doméstica e se-
164. Incentivar a capacitação dos professores do ensi- xual no âmbito federal, estadual e municipal, enfatizando
no fundamental e médio para a aplicação dos Parâmetros a ampliação dos equipamentos sociais de atendimento à
Curriculares Nacionais - PCNs no que se refere às questões mulher vitimizada pela violência.
de promoção da igualdade de gênero e de combate à dis- 180. Apoiar as políticas dos governos estaduais e mu-
criminação contra a mulher. nicipais para a prevenção da violência doméstica e sexual
165. Incentivar a criação de cursos voltados para a ca- contra as mulheres.
pacitação política de lideranças locais de mulheres, com
vistas ao preenchimento da quota estabelecida para a can-
didatura de mulheres a cargos eletivos.
74
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
75
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
207. Apoiar o processo de revisão dos livros didáticos 222. Implementar políticas de proteção e gestão das
de modo a resgatar a história e a contribuição dos afrodes- terras indígenas, com a implantação de sistemas de vigilân-
cendentes para a construção da identidade nacional. cia permanente dessas terras e de seu entorno, a promoção
208. Promover um ensino fundado na tolerância, na de parcerias com a Polícia Federal, o IBAMA e as Secretarias
paz e no respeito à diferença, que contemple a diversidade Estaduais de Meio Ambiente, e a capacitação de servidores
cultural do país, incluindo o ensino sobre cultura e história e membros das comunidades indígenas.
dos afrodescendentes. 223. Viabilizar programas e ações na área de etno-de-
209. Apoiar o fortalecimento da Fundação Cultural Pal- senvolvimento voltados para a ocupação sustentável de
mares - FCP, assegurando os meios para o desempenho de espaços estratégicos no interior das terras indígenas, tais
suas atividades. como áreas desocupadas por invasores e/ou áreas de in-
gresso de madeireiros e garimpeiros.
Povos Indígenas 224. Implantar banco de dados que permita colher e
sistematizar informações sobre conflitos fundiários e vio-
210. Formular e implementar políticas de proteção e
lência em terras indígenas, a ser integrado aos mapas de
promoção dos direitos dos povos indígenas, em substitui-
conflitos fundiários e de violência.
ção a políticas integracionistas e assistencialistas.
225. Apoiar a edição de publicações com dados relati-
211. Apoiar o processo de reestruturação da Fundação
Nacional do Índio - FUNAI, de forma que a instituição pos- vos à discriminação e à violência contra os povos indígenas.
sa garantir os direitos constitucionais dos povos indígenas. 226. Apoiar e assessorar as comunidades indígenas na
212. Dotar a FUNAI de recursos humanos e financeiros elaboração de projetos e na execução de ações de etno-
suficientes para o cumprimento de sua missão institucional desenvolvimento de caráter sustentável.
de defesa dos direitos dos povos indígenas. 227. Apoiar a criação e o desenvolvimento dos meca-
213. Apoiar a revisão do Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), nismos de gestão dos programas multissetoriais gerencia-
com vistas à rápida aprovação do projeto de lei do Estatuto dos pela FUNAI, no âmbito dos Planos Plurianuais e dos
das Sociedades Indígenas, bem como a promover a ratifi- orçamentos federais.
cação da Convenção nº 169 da OIT, sobre Povos Indígenas 228. Apoiar a criação de serviços específicos de assis-
e Tribais em Países Independentes. tência jurídica para indivíduos e comunidades indígenas.
214. Assegurar a efetiva participação dos povos indí- 229. Garantir o direito constitucional dos povos in-
genas, de suas organizações e do órgão indigenista federal dígenas ao uso exclusivo da biodiversidade existente em
no processo de formulação e implementação de políticas suas terras, implementando ações que venham a coibir a
públicas de proteção e promoção dos direitos indígenas. biopirataria dos recursos e conhecimentos tradicionais dos
215. Assegurar o direito dos povos indígenas às terras indígenas.
que tradicionalmente ocupam, às reservadas e às de do- 230. Desenvolver políticas de proteção do patrimônio
mínio. cultural e biológico e dos conhecimentos tradicionais dos
216. Demarcar e regularizar as terras indígenas tradi- povos indígenas, em especial as ações que tenham como
cionalmente ocupadas, as reservadas e as de domínio que objetivo a catalogação, o registro de patentes e a divulga-
ainda não foram demarcadas e regularizadas. ção desse patrimônio.
217. Divulgar medidas sobre a regularização de terras
indígenas, especialmente para os municípios brasileiros lo- Gays, Lésbicas, Travestis, Transexuais e Bissexuais
calizados nessas regiões, de modo a aumentar o grau de - GLTTB
confiança e estabilidade nas relações entre os povos indí-
genas e a sociedade envolvente.
231. Promover a coleta e a divulgação de informações
218. Garantir aos povos indígenas assistência na área
estatísticas sobre a situação sócio demográfica dos GLTTB,
da saúde, com a implementação de programas de saúde
assim como pesquisas que tenham como objeto as situa-
diferenciados, considerando as especificidades dessa po-
ções de violência e discriminação praticadas em razão de
pulação e priorizando ações na área de medicina preventi-
va e segurança alimentar. orientação sexual.
219. Assegurar aos povos indígenas uma educação es- 232. Implementar programas de prevenção e combate
colar diferenciada, respeitando o seu universo sociocultu- à violência contra os GLTTB, incluindo campanhas de escla-
ral, e viabilizar apoio aos estudantes indígenas do ensino recimento e divulgação de informações relativas à legisla-
fundamental, de segundo grau e de nível universitário. ção que garante seus direitos.
220. Promover a criação de linhas de crédito e a con- 233. Apoiar programas de capacitação de profissionais
cessão de bolsas de estudo específicas para estudantes in- de educação, policiais, juízes e operadores do direto em
dígenas universitários. geral para promover a compreensão e a consciência ética
221. Implementar políticas de comunicação e divulga- sobre as diferenças individuais e a eliminação dos estereó-
ção de informações sobre os povos indígenas, especial- tipos depreciativos com relação aos GLTTB.
mente nas escolas públicas e privadas do ensino médio 234. Inserir, nos programas de formação de agentes de
e fundamental, com vistas à promoção da igualdade e ao segurança pública e operadores do direito, o tema da livre
combate à discriminação. orientação sexual.
76
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
235. Apoiar a criação de instâncias especializadas de 252. Apoiar projetos educativos que levem em conside-
atendimento a casos de discriminação e violência contra ração as necessidades especiais das crianças e adolescen-
GLTTB no Poder Judiciário, no Ministério Público e no siste- tes ciganos, bem como estimular a revisão de documentos,
ma de segurança pública. dicionários e livros escolares que contenham estereótipos
236. Estimular a formulação, implementação e avalia- depreciativos com respeito aos ciganos.
ção de políticas públicas para a promoção social e econô- 253. Apoiar a realização de estudos para a criação de
mica da comunidade GLTTB. cooperativas de trabalho para ciganos.
237. Incentivar ações que contribuam para a preserva- 254. Estimular e apoiar as municipalidades nas quais se
ção da memória e fomento à produção cultural da comuni- identifica a presença de comunidades ciganas com vistas
dade GLTTB no Brasil. ao estabelecimento de áreas de acampamento dotadas de
238. Incentivar programas de orientação familiar e infraestrutura e condições necessárias.
escolar para a resolução de conflitos relacionados à livre 255. Sensibilizar as comunidades ciganas para a neces-
orientação sexual, com o objetivo de prevenir atitudes hos- sidade de realizar o registro de nascimento dos filhos, as-
tis e violentas. sim como apoiar medidas destinadas a garantir o direito ao
239. Estimular a inclusão, em programas de direitos registro de nascimento gratuito para as crianças ciganas.
humanos estaduais e municipais, da defesa da livre orien-
tação sexual e da cidadania dos GLTTB. Pessoas Portadoras de Deficiência
240. Promover campanha junto aos profissionais da
saúde e do direito para o esclarecimento de conceitos cien- 256. Apoiar as atividades do Conselho Nacional dos Di-
tíficos e éticos relacionados à comunidade GLTTB. reitos da Pessoa Portadora de Deficiência - CONADE, bem
como dos conselhos estaduais e municipais.
241. Promover a sensibilização dos profissionais de co- 257. Instituir medidas que propiciem a remoção de
municação para a questão dos direitos dos GLTTB. barreiras arquitetônicas, ambientais, de transporte e de
comunicação para garantir o acesso da pessoa portadora
Estrangeiros, Refugiados e Migrantes de deficiência aos serviços e áreas públicas e aos edifícios
comerciais.
242. Apoiar, no âmbito do Ministério da Justiça, o fun- 258. Formular plano nacional de ações integradas na
cionamento do Comitê Nacional para Refugiados - CONA- área da deficiência, objetivando a definição de estraté-
RE. gias de integração das ações governamentais e não-go-
243. Implementar a Convenção da ONU relativa ao Es- vernamentais, com vistas ao cumprimento do Decreto nº
tatuto dos Refugiados, de 1951, e o Protocolo Adicional de 3298/99.
1966. 259. Adotar medidas que possibilitem o acesso das
244. Promover a capacitação das autoridades nacionais pessoas portadoras de deficiência às informações veicula-
diretamente envolvidas na execução da política nacional das em todos os meios de comunicação.
para refugiados. 260. Estender a estados e municípios o Sistema Nacio-
245. Desenvolver programa e campanha visando à re- nal de Informações sobre Deficiência - SICORDE.
gularização da situação dos estrangeiros atualmente no 261. Apoiar programas de tratamentos alternativos à
país, atendendo a critérios de reciprocidade de tratamento. internação de pessoas portadoras de deficiência mental e
246. Adotar medidas para impedir e punir a violência portadores de condutas típicas - autismo.
e discriminação contra estrangeiros no Brasil e brasileiros 262. Apoiar programas de educação profissional para
no exterior. pessoas portadoras de deficiência.
247. Promover estudos e pesquisas relativos à prote- 263. Apoiar o treinamento de policiais para lidar com
ção, promoção e difusão dos direitos dos refugiados, in- portadores de deficiência mental, auditiva e condutas típi-
cluindo as soluções duráveis (reassentamento, integração cas - autismo.
local e repatriação), com especial atenção para a situação
das mulheres e crianças refugiadas. 264. Adotar medidas legais e práticas para garantir o
248. Estabelecer políticas de promoção e proteção dos direito dos portadores de deficiência ao reingresso no mer-
direitos das comunidades brasileiras no exterior e das co- cado de trabalho, mediante adequada reabilitação profis-
munidades estrangeiras no Brasil. sional.
249. Propor a elaboração de uma nova lei de imigração 265. Ampliar a participação de representantes dos por-
e naturalização, regulando a situação jurídica dos estran- tadores de deficiência na discussão de planos diretores das
geiros no Brasil. cidades.
266. Desenvolver ações que assegurem a inclusão do
Ciganos quesito acessibilidade, de acordo com as especificações da
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, nos pro-
250. Promover e proteger os direitos humanos e liber- jetos de moradia financiados por programas habitacionais.
dades fundamentais dos ciganos. 267. Adotar políticas e programas para garantir o aces-
251. Apoiar a realização de estudos e pesquisas sobre a so e a locomoção das pessoas portadoras de deficiência,
história, cultura e tradições da comunidade cigana. segundo as normas da ABNT.
77
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
268. Garantir a qualidade dos produtos para portado- 283. Promover um ensino fundado na tolerância, na
res de deficiência adquiridos e distribuídos pelo Poder Pú- paz e no respeito às diferenças, que contemple a diversi-
blico - órteses e próteses. dade cultural do país.
269. Apoiar a inclusão de referências à acessibilidade 284. Ampliar programas voltados para a redução da
para pessoas portadoras de deficiência nas campanhas violência nas escolas, a exemplo do programa ‘Paz nas Es-
promovidas pelo Governo Federal e pelos governos esta- colas’, especialmente em áreas urbanas que apresentem
duais e municipais. aguda situação de carência e exclusão.
270. Promover a capacitação de agentes públicos, pro- 285. Incentivar a associação estudantil em todos os
fissionais de saúde, lideranças comunitárias e membros de níveis e a criação de conselhos escolares compostos por
conselhos sobre questões relativas às pessoas portadoras familiares, entidades, organizações não-governamentais e
de deficiência. associações, para a fiscalização, avaliação e elaboração de
programas e currículos escolares.
Idosos 286. Propor medidas destinadas a democratizar o pro-
cesso de escolha dos dirigentes de escolas públicas, esta-
271. Criar, fortalecer e descentralizar programas de as- duais e municipais, com a participação das comunidades
sistência ao?s idosos, de forma a contribuir para sua inte- escolares e locais.
gração à família e à sociedade e a incentivar o atendimento
no seu próprio ambiente. 287. Incrementar a qualidade do ensino, com interven-
272. Adotar medidas para estimular o atendimento ções em segmentos determinantes do sucesso escolar.
prioritário às pessoas idosas nas instituições públicas e pri- 288. Consolidar um sistema de avaliação dos resulta-
vadas. dos do ensino público e privado em todo o país.
273. Apoiar a formação de conselhos de defesa dos 289. Assegurar o financiamento e a otimização do uso
direitos dos idosos e a implementação de programas de dos recursos públicos destinados à educação.
proteção, com a participação de organizações não-gover- 290. Realizar periodicamente censos educacionais em
namentais. parceria com as secretarias de educação dos estados e do
274. Desenvolver programas de habitação adequados Distrito Federal, com o objetivo de produzir dados estatís-
às necessidades das pessoas idosas, principalmente em
tico-educacionais para subsidiar o planejamento e a gestão
áreas carentes.
da educação nas esferas governamentais.
275. Adotar medidas para assegurar a responsabiliza-
291. Apoiar a popularização do uso do microcomputa-
ção de familiares pelo abandono de pessoas idosas.
dor e da internet, através da massificação dessa tecnologia
276. Promover a remoção de barreiras arquitetônicas,
e da realização de cursos de treinamento em comunidades
ambientais, de transporte e de comunicação para facilitar o
carentes e em espaços públicos, especialmente nas escolas,
acesso e a locomoção da pessoa idosa aos serviços e áreas
bibliotecas e espaços comunitários.
públicas e aos edifícios comerciais.
292. Garantir a universalização, a obrigatoriedade e a
277. Estimular a adoção de medidas para que o do-
cumento de identidade seja aceito como comprovante qualidade do ensino fundamental, estimulando a adoção
de idade para a concessão do passe livre nos sistemas de da jornada escolar ampliada, a valorização do magistério
transporte público. e a participação da comunidade na gestão das escolas, e
278. Apoiar a criação e o fortalecimento de programas garantindo apoio ao transporte escolar.
descentralizados de assistência aos idosos, com ênfase na 293. Promover a equidade nas condições de acesso,
integração social da pessoa idosa e permanência junto à permanência e êxito escolar do aluno no ensino fundamen-
família. tal, por meio da ampliação de programas de transferência
279. Estimular o combate à violência e à discriminação direta de renda vinculada à educação (bolsa-escola) e de
contra a pessoa idosa, inclusive por meio de ações de sen- aceleração da aprendizagem.
sibilização e capacitação que contribuam para prevenir a 294. Garantir o suprimento de livros gratuitos e de
violação de seus direitos. qualidade às escolas públicas do ensino fundamental.
280. Incentivar a criação, nos estados e municípios, de 295. Suprir parcialmente as necessidades nutricionais
serviços telefônicos de informação, orientação e recepção dos alunos das escolas públicas e das escolas mantidas por
de denúncias (disque-idoso). entidades filantrópicas por meio do oferecimento de, no
mínimo, uma refeição diária adequada, estimulando bons
Garantia do Direito à Educação hábitos alimentares e procurando diminuir a evasão e a re-
petência.
281. Contribuir para a formulação de diretrizes e nor- 296. Promover a expansão do acesso ao ensino médio
mas para a educação infantil de modo a garantir padrões com equidade e adequar a oferta atual, de forma ordenada
básicos de atendimento em creches e pré-escolas. e atendendo a padrões básicos mínimos.
282. Contribuir para o planejamento, desenvolvimento 297. Adotar uma concepção para o ensino médio que
e avaliação de práticas educativas, além da construção de corresponda às determinações da Lei de Diretrizes e Bases
propostas educativas que respondam às necessidades das da Educação - LDB, assim como à demanda e às necessi-
crianças e de seus familiares nas diferentes regiões do país. dades do país.
78
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
298. Implementar a reforma curricular e assegurar a Garantia do Direito à Saúde, à Previdência e à As-
formação continuada de docentes e gestores de escolas sistência Social
de ensino médio.
299. Equipar progressivamente as escolas de ensino 315. Assegurar o princípio da universalização do aces-
médio com bibliotecas, laboratórios de informática e ciên- so à saúde, fortalecendo o Sistema Único de Saúde - SUS,
cias e kit tecnológico para recepção da TV Escola. assegurando sua autonomia e democratização, bem como
300. Estimular a melhoria dos processos de gestão dos a sua consolidação em todos os estados e municípios bra-
sistemas educacionais nos estados e municípios. sileiros.
301. Promover a articulação e a complementaridade 316. Promover a humanização e a qualidade do atendi-
entre a educação profissional e o ensino médio. mento do SUS, bem como a integralidade e a equidade de
302. Criar cursos que garantam perspectiva de trabalho atenção à saúde da população.
para os jovens, que facilitem seu acesso ao mercado e que 317. Ampliar o acesso da população aos serviços bási-
cos de saúde, tendo como eixo central de atuação as equi-
atendam também aos profissionais já inseridos no mercado
pes de saúde da família.
de trabalho.
318. Garantir o processo de transformação do modelo
303. Estimular a educação continuada e permanen-
de atenção à saúde a partir do fortalecimento da atenção
te como forma de atualizar os conhecimentos de jovens
básica, valendo-se, para tanto, da expansão e consolidação
e adultos, com base em competências requeridas para o do Programa de Saúde da Família - PSF.
exercício profissional. 319. Apoiar o fortalecimento de programas voltados
304. Apoiar a criação de mecanismos permanentes para a assistência integral à saúde da mulher.
para fomentar a articulação entre escolas, trabalhadores e 320. Divulgar o conceito de direitos reprodutivos, com
empresários, com vistas à definição e revisão das compe- base nas plataformas do Cairo e de Pequim, desenvolvendo
tências necessárias às diferentes áreas profissionais. campanhas de pré-natal e parto humanizado, bem como
305. Identificar oportunidades, estimular iniciativas, implementando comitês de prevenção da mortalidade ma-
gerar alternativas e apoiar negociações que encaminhem o terna e da gravidez na adolescência.
melhor atendimento educacional às pessoas com necessi- 321. Implementar, em todos os municípios brasileiros,
dades educativas especiais, de forma a garantir a sua inte- o Programa de Humanização do Parto e Nascimento, que
gração escolar e social. visa a assegurar a realização de, pelo menos, seis consultas
306. Garantir a ampliação da oferta do ensino superior de pré-natal e de todos os exames, bem como a definição
de modo a atender a demanda gerada pela expansão do do serviço de saúde onde será realizado o parto.
ensino médio no país. 322. Considerar o aborto como tema de saúde pública,
307. Estabelecer políticas e mecanismos que possibi- com a garantia do acesso aos serviços de saúde para os
litem a oferta de cursos de graduação por meio de meto- casos previstos em lei.
dologias alternativas tais como a educação à distância e a 323. Desenvolver programas educativos sobre plane-
capacitação em serviço. jamento familiar, promovendo o acesso aos métodos anti-
308. Apoiar a criação, nas universidades, de cursos de concepcionais no âmbito do SUS.
extensão voltados para a proteção e promoção de direitos 324. Ampliar e fortalecer programas voltados para a
humanos. assistência domiciliar terapêutica.
309. Propor a criação de ouvidorias nas universidades. 325. Reduzir a morbimortalidade de crianças de zero
310. Propor medidas destinadas à garantia e promoção a cinco anos de idade, por meio de programas de atenção
da autonomia universitária. integral à saúde da criança e de incentivo ao aleitamento
materno.
311. Reduzir o índice de analfabetismo da população
326. Ampliar e fortalecer programas de combate à
brasileira, elevando a média do tempo de estudos e am-
mortalidade materna e infantil.
pliando programas de alfabetização para jovens e adultos.
327. Criar o sistema de vigilância epidemiológica de
312. Estabelecer mecanismos de promoção da equida-
acidentes e violência e implementar programas de preven-
de de acesso ao ensino superior, levando em consideração ção à violência pública e doméstica, esclarecendo seus ris-
a necessidade de que o contingente de alunos universitá- cos para a saúde e as implicações judiciais da mesma.
rios reflita a diversidade racial e cultural da sociedade bra- 328. Assegurar a assistência adequada e oportuna às
sileira. vítimas de acidentes e violência.
313. Assegurar aos quilombolas e povos indígenas uma 329. Estimular e fortalecer a participação social no SUS,
educação escolar diferenciada, respeitando o seu universo inclusive na identificação de prioridades na área da saúde.
sociocultural e linguístico. 330. Promover o treinamento e a capacitação sistemá-
314. Implantar a educação nos presídios seguindo as tica de agentes comunitários de saúde.
diretrizes da LDB. 331. Apoiar programas que tenham como objetivo pre-
venir e reduzir os riscos, acidentes e doenças relacionadas
ao ambiente e ao processo de trabalho.
332. Apoiar programas voltados para a proteção da
saúde de profissionais do sexo.
79
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
80
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
81
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
399. Adotar medidas destinadas a coibir práticas de Tratava-se de revisar o programa, assimilando deman-
violência contra movimentos sociais que lutam pelo acesso das crescentes da sociedade e incorporando elementos
à terra. dos tratados internacionais mais recentes, seja do sistema
400. Apoiar a aprovação de projeto de lei que propõe ONU, seja da OEA. Cumpriu-se agenda intensa com essa
que a concessão de medida liminar de reintegração de finalidade, em todo o País, culminando com a realização da
posse seja condicionada à comprovação da função social 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos, que reu-
da propriedade, tornando obrigatória a intervenção do Mi- niu em Brasília cerca de 1.200 delegados e 800 convidados
nistério Público em todas as fases processuais de litígios ou observadores.
envolvendo a posse da terra urbana e rural.
401. Promover ações integradas entre o INCRA, as se- O PNDH-3 incorpora, portanto, resoluções da 11ª Con-
cretarias de justiça, as secretarias de segurança pública, ferência Nacional de Direitos Humanos e propostas apro-
os Ministérios Públicos e o Poder Judiciário, para evitar a vadas nas mais de 50 conferências nacionais temáticas,
promovidas desde 2003 – segurança alimentar, educação,
realização de despejos forçados de trabalhadores rurais,
saúde, habitação, igualdade racial, direitos da mulher, ju-
conforme a Resolução n.º 1993/77 da Comissão de Direitos
ventude, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência,
Humanos das Nações Unidas, garantindo o prévio reassen-
idosos, meio ambiente etc –, refletindo um amplo debate
tamento das famílias desalojadas.
democrático sobre as políticas públicas dessa área.
402. Priorizar a regularização fundiária de áreas ocupa- No início de nosso governo, conferimos status de
das, implantando um padrão mínimo de urbanização, de ministério à Secretaria Especial dos Direitos Humanos e
equipamentos e serviços públicos nos empreendimentos criamos a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
habitacionais e na regularização de áreas ocupadas. Igualdade Racial e a Secretaria Especial de Políticas para
as Mulheres, também com força de ministério, destinadas,
Fonte as três, a articular esforços com todas as demais áreas da
Disponível em http://dhnet.org.br/ administração. Cuidou-se, assim, que a proteção aos Di-
reitos Humanos fosse concebida como ação integrada de
PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS governo e, mais ainda, como verdadeira política de Estado,
VERSÃO - 3 com prosseguimento sem sobressaltos quando houver al-
ternância de partidos no poder, fato que é natural e até
Apresentação indispensável na vida democrática.
No âmbito da política econômica e nos exercícios orça-
Ao assinar o decreto presidencial que institui o terceiro mentários, foi feito grande esforço para assegurar aos bra-
Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3, rea- sileiros o mais elementar entre todos os Direitos Humanos,
firmo que o Brasil fez uma opção definitiva pelo fortaleci- que é a alimentação garantida a todas as famílias pobres.
mento da democracia. Não apenas democracia política e Hoje, a fome ainda não está erradicada, mas já podemos
institucional, grande anseio popular que a Constituição de saudar a retirada de 19 milhões de pessoas da extrema po-
1988 já materializou, mas democracia também no que diz breza e anunciar que foi alcançada antecipadamente uma
respeito à igualdade econômica e social. das Metas do Milênio fixadas pela ONU – reduzir pela me-
O PNDH-3 representa um verdadeiro roteiro para se- tade a extrema pobreza até 2015. Também buscamos ga-
guirmos consolidando os alicerces desse edifício demo- rantir às pessoas trabalho e renda, criando mais de 11 mi-
crático: diálogo permanente entre Estado e sociedade civil; lhões de empregos formais, o que possibilitou a 26 milhões
transparência em todas as esferas de governo; primazia de brasileiros alçarem a condição de classe média.
Há saldos evidentes em todas as demais áreas vincu-
dos Direitos Humanos nas políticas internas e nas relações
ladas aos Direitos Humanos. Na 8ª Conferência Nacional
internacionais; caráter laico do Estado; fortalecimento do
dos Direitos da Criança e do Adolescente, 1200 delegados
pacto federativo; universalidade, indivisibilidade e interde-
adultos e 600 adolescentes debateram, pela primeira vez, a
pendência dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, elaboração de um plano decenal para esse segmento. Ava-
culturais e ambientais; opção clara pelo desenvolvimento liaram também a implantação do chamado Sistema Nacio-
sustentável; respeito à diversidade; combate às desigualda- nal do Atendimento Socioeducativo, a nova lei de adoção e
des; erradicação da fome e da extrema pobreza. o Plano Nacional de Garantia do Direito à Convivência Fa-
As políticas públicas em Direitos Humanos que o go- miliar e Comunitária. O Brasil organizou, em 2008, o maior
verno federal desenvolve se distribuem por todas as áreas congresso mundial sobre o combate à exploração sexual
da administração e um ponto forte nesta terceira edição de crianças, com 3500 participantes de 170 países. E temos
do PNDH é o fato inédito de ele ser proposto por 31 mi- obtido marcos positivos no combate ao trabalho infantil.
nistérios. A cada ano, crescem e são aperfeiçoados os progra-
Em janeiro de 2008, no Rio de Janeiro, durante cerimô- mas de proteção aos defensores dos Direitos Humanos, às
nia de homenagem aos mortos do Holocausto e de Ausch- vítimas e testemunhas ameaçadas e aos adolescentes sob
witz, convoquei uma ampla jornada de discussões, debates risco de morte. O combate à tortura e o enfrentamento das
e seminários para atualizar o PNDH que o Brasil já possuía modalidades recentes de trabalho escravo, assim como o
desde 1996, com uma importante ampliação em 2002. empenho para erradicar o sub-registro civil de nascimento
também se ampliaram de modo palpável nos últimos anos.
82
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Destaco ainda a parceria entre a SEDH e o MEC para prio- Todos esses avanços são robustos e animadores, mas
rizar no próximo decênio o Plano Nacional de Educação em não podem esconder os problemas ainda presentes. Ques-
Direitos Humanos, eixo mais estratégico para transformar o tões muito sérias continuam desafiando os poderes públi-
Brasil num país onde, de fato, todos assimilem os sentimentos cos, nos três níveis federados, bem como a sociedade civil
de solidariedade e respeito à pessoa humana. organizada. Refiro-me à violência que ainda mostra índices
No que se refere às pessoas com deficiência, o Brasil é um alarmantes nas grandes cidades; à prostituição infantil; gru-
dos países mais inclusivos das Américas, tanto pela legislação pos de extermínio; persistência do trabalho escravo e do
avançada como pelo conjunto das políticas públicas dirigi- trabalho infantil; superpopulação e condições degradantes
das a essa população. A conquista mais recente nesse cam- denunciadas nos presídios; práticas de tortura; cultura eli-
po foi a ratificação da Convenção da ONU sobre os Direitos tista revelada na resistência aos direitos dos quilombolas
das Pessoas com Deficiência, com a particularidade de ter sido e indígenas, bem como nos ataques sofridos pelas ações
incorporada à nossa legislação com equivalência de emenda afirmativas; criminalização de movimentos sociais em algu-
constitucional. O Estatuto que o Legislativo vem discutindo,
mas unidades da Federação.
em fase avançada de tramitação, já poderá assimilar todos os
Não haverá paz no Brasil e no mundo enquanto per-
preceitos e exigências desse novo tratado internacional ado-
sistirem injustiças, exclusões, preconceitos e opressão de
tado pelo Brasil.
Outro importante avanço está consignado na aprovação qualquer tipo. A equidade e o respeito à diversidade são
do Estatuto do Idoso, consolidando diferentes normas de pro- elementos basilares para que se alcance uma convivência
teção a esses milhões de brasileiros, que, nos últimos anos, social solidária e para que os Direitos Humanos não sejam
assumem crescente participação nos debates de políticas pú- letra morta da lei
blicas e demonstram seu imenso potencial de engajamento Este PNDH-3 será um roteiro consistente e seguro
em todas as dimensões da vida produtiva e cultural da Nação. para seguir consolidando a marcha histórica que resgata
Tenho reiterado que um momento muito importante de nosso País de seu passado escravista, subalterno, elitista
nosso mandato foi a realização da 1ª Conferência Nacional e excludente, no rumo da construção de uma sociedade
de Gays, Lésbicas, Bissexuais, travestis e transexuais, em 2008, crescentemente assentada nos grandes ideais humanos da
marco histórico na caminhada para construirmos um país liberdade, da igualdade e da fraternidade.
sem qualquer tipo de intolerância homofóbica. A Lei Maria
da Penha tornou-se um marco histórico no enfrentamento Prefácio
da violência contra a mulher. Mesmo enfrentando resistências
extremadas, vão se consolidando as ações afirmativas de in- Toda pessoa tem direitos inerentes à sua natureza hu-
clusão da população afrodescendente e de reconhecimento mana, sendo respeitada sua dignidade e garantida a opor-
dos direitos de quilombolas. O encerramento das controvér- tunidade de desenvolver seu potencial de forma livre, au-
sias sobre a Raposa Serra do Sol sinaliza a decisão do Estado tônoma e plena.
Brasileiro de assegurar aos povos indígenas o direito a suas Os princípios históricos dos Direitos Humanos são
terras ancestrais. orientados pela afirmação do respeito ao outro e pela
Reconhecendo o direito à moradia digna como um direito busca permanente da paz. Paz que, em qualquer contexto,
humano, em 2005 foi criado o Fundo Nacional apresentação de sempre tem seus fundamentos na justiça, na igualdade e
Habitação de Interesse Social (FNHIS), que conta anualmente na liberdade.
com cerca de um bilhão de reais para projetos de urbanização Os brasileiros – especialmente os setores populares or-
ou construção de moradias destinadas à população de baixa ganizados – encontraram na agenda dos Direitos Humanos
renda. As ações de regularização de favelas e áreas similares um conteúdo fundamental de suas lutas em diferentes ce-
já atingiram 387 municípios e mais de 1,7 milhão de famílias
nários. Antes, na resistência à ditadura. Hoje, para exigir a
estão com o processo de regularização fundiária iniciado. Lan-
efetivação de relações sociais igualitárias e justas.
çamos em 2009 o programa Minha Casa, Minha Vida, visando
É sob o impulso dinâmico desses movimentos que os
a construir um milhão de moradias nos próximos anos.
Nas regiões de indicadores sociais mais problemáticos, o Direitos Humanos se fortalecem, erguendo como bandei-
programa “Territórios da Cidadania” aglutina 1800 municípios ra a democratização permanente do Estado e da própria
para unificar distintas ações de combate à pobreza, ao mesmo sociedade. É deles, também, que o Estado vem colhendo
tempo em que fortalece a agricultura familiar e projetos de crescentemente demandas e exigências para incorporá-las
reforma agrária. a sua ação programática nas diferentes políticas públicas.
No tocante à questão dos mortos e desaparecidos políti- O reconhecimento e a incorporação dos Direitos Hu-
cos do período ditatorial, o PNDH-3 dá um importante passo manos no ordenamento social, político e jurídico brasilei-
no sentido de criar uma Comissão Nacional da Verdade, com ro resultam de um processo de conquistas históricas, que
a tarefa de promover esclarecimento público das violações de se materializaram na Constituição de 1988. Desde então,
Direitos Humanos por agentes do Estado na repressão aos avanços institucionais vão se acumulando e começa a nas-
opositores. Só conhecendo inteiramente tudo o que se pas- cer um Brasil melhor, ao mesmo tempo em que o cotidiano
sou naquela fase lamentável de nossa vida republicana o Bra- nacional ainda é atravessado por violações rotineiras des-
sil construirá dispositivos seguros e um amplo compromisso ses mesmos direitos.
consensual – entre todos os brasileiros – para que tais viola-
ções não se repitam nunca mais.
83
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, lançada Entre seus avanços mais robustos, destaca-se a transver-
em 10 de dezembro de 1948, fundou os alicerces de uma salidade e interministerialidade de suas diretrizes, de seus
nova convivência humana, tentando sepultar o ódio e os objetivos estratégicos e de suas ações programáticas, na
horrores do nazismo, do holocausto, do gigantesco mor- perspectiva da universalidade, indivisibilidade e interde-
ticínio que custou 50 milhões de vidas humanas em seis pendência dos direitos.
anos de guerra. Os diversos pactos, tratados e convenções O debate público, em escala nacional, para elabora-
internacionais que a ela sucederam construíram, passo a ção do PNDH-3 coincidiu com os 60 anos da Declaração
passo, um arcabouço mundial para proteção dos Direitos Universal dos Direitos Humanos e com a realização da 11ª
Humanos. Conferência Nacional dos Direitos Humanos (11ª CNDH).
Em 1993, a comunidade internacional atualizou a com- Convocada por decreto presidencial em abril de 2008, a 11ª
preensão sobre os elementos básicos desses instrumentos Conferência contou com um Grupo de Trabalho Nacional
na Conferência de Viena, da ONU, fortalecendo os postula- instituído pela Portaria nº 344 da SEDH/PR, cuja tarefa era
dos da universalidade, indivisibilidade e interdependência. coordenar as atividades preparatórias, formular propostas
Universalidade estabelece que a condição de existir como e orientar as conferências estaduais e distrital. Sua compo-
ser humano é requisito único para a titularidade desses di- sição incluiu representantes de entidades nacionais e mo-
reitos. Indivisibilidade indica que os direitos econômicos, vimentos de Direitos Humanos, bem como membros dos
sociais e culturais são condição para a observância dos di- Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, do Ministério
reitos civis e políticos, e vice-versa. O conjunto dos Direitos Público e da Defensoria Pública.
Humanos perfaz uma unidade indivisível, interdependente
e inter-relacionada. Sempre que um direito é violado, rom- A Executiva Nacional da Conferência foi integrada pela
pe-se a unidade e todos os demais direitos são compro- Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
metidos. da República, pela Comissão de Direitos Humanos e Mino-
rias da Câmara dos Deputados e pelo Fórum de Entidades
A Conferência de Viena também firmou acordo sobre Nacionais de Direitos Humanos. Essa composição triparti-
a importância de que os Direitos Humanos passassem a te garantiu interação entre diferentes segmentos atuantes
ser conteúdo programático da ação dos Estados nacionais. na luta pela afirmação dos Direitos Humanos no país, num
Por isso, recomendou que os países formulassem e imple- difícil, mas responsável exercício de diálogo democrático
mentassem Programas e Planos Nacionais de Direitos Hu- onde não faltaram tensões, divergências e disputas.
manos. Com o lema “Democracia, Desenvolvimento e Direitos
Redemocratizado, o Estado brasileiro ratificou os prin- Humanos: superando as desigualdades”, a 11ª Conferência
cipais instrumentos internacionais de Direitos Humanos, teve como objetivo principal constituir um espaço de par-
tornando-os parte do ordenamento nacional. Isso significa ticipação democrática para revisar e atualizar o PNDH, com
que, em termos jurídico-políticos, eles se constituem em o desafio de tratar de forma integrada as múltiplas dimen-
exigência de respeito a suas determinações pelo país. sões dos Direitos Humanos. Para tanto, optou-se pela me-
A Carta Constitucional inclui entre os fundamentos todologia de guiar as discussões em torno de eixos orien-
do Estado brasileiro a cidadania e a dignidade da pessoa tadores, o que gerou um claro diferencial em relação aos
humana, estabelecendo como objetivo primordial a cons- programas anteriores, organizados em temas específicos.
trução de uma sociedade livre, justa e solidária, além de Pautados pela transversalidade temática, pela metodo-
comprometer-se com o desenvolvimento nacional, a erra- logia integradora e pela articulação entre os poderes pú-
dicação da pobreza, redução das desigualdades sociais e blicos e as organizações da sociedade civil, os 26 estados
regionais e a promoção do bem-estar de todos, sem pre- e o Distrito Federal convocaram e realizaram oficialmente
conceitos ou discriminação de qualquer tipo. E obriga o suas conferências, garantindo força institucional ao debate.
país a reger suas relações internacionais pela prevalência Realizaram-se 137 encontros prévios às etapas esta-
dos Direitos Humanos. duais e distrital, denominados Conferências Livres,
As diretrizes nacionais que orientam a atuação do po- Regionais, Territoriais, Municipais ou Pré-Conferên-
der público no âmbito dos Direitos Humanos foram desen- cias. Participaram ativamente do processo cerca de 14
volvidas a partir de 1996, ano de lançamento do primeiro mil pessoas, reunindo membros dos poderes públicos e
Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH I. Pas- representantes dos movimentos de mulheres, defensores
sados mais de dez anos do fim da ditadura, as demandas dos direitos da criança e do adolescente, pessoas com de-
sociais da época se cristalizaram com maior ênfase na ga- ficiência, negros e quilombolas, militantes da diversidade
rantia dos direitos civis e políticos. O Programa foi revisado sexual, pessoas idosas, ambientalistas, sem-terra, sem-teto,
e atualizado em 2002, sendo ampliado com a incorporação indígenas, comunidades de terreiro, ciganos, populações
dos direitos econômicos, sociais e culturais, o que resultou ribeirinhas, entre outros. A iniciativa, compartilhada entre
na publicação do segundo Programa Nacional de Direitos sociedade civil e poderes republicanos, mostrou-se capaz
Humanos – PNDH II. de gerar as bases para formulação de uma Política Nacional
A terceira versão do Programa Nacional de Direitos de Direitos Humanos como verdadeira política de Estado.
Humanos – PNDH-3 representa mais um passo largo nesse O PNDH-3 está estruturado em seis eixos orientadores,
processo histórico de consolidação das orientações para subdivididos em 25 diretrizes, 82 objetivos estratégicos e
concretizar a promoção dos Direitos Humanos no Brasil. 521 ações programáticas, que incorporam ou refletem os
84
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
7 eixos, 36 diretrizes e 700 resoluções aprovadas na 11ª substantiva e portadora de forte legitimidade democrática.
Conferência Nacional de Direitos Humanos, realizada em O PNDH-3 propõe a integração e o aprimoramento dos
Brasília entre 15 e 18 de dezembro de 2008, como coroa- fóruns de participação existentes, bem como a criação de
mento do processo desenvolvido no âmbito local, regional novos espaços e mecanismos institucionais de interação e
e estadual. O Programa também inclui, como alicerce de acompanhamento.
sua construção, propostas aprovadas em cerca de 50 con- A estratégia relativa ao tema Desenvolvimento e Direi-
ferências nacionais temáticas realizadas desde 2003 sobre tos Humanos é centrada na inclusão social e em garantir o
igualdade racial, direitos da mulher, segurança alimentar, exercício amplo da cidadania, garantindo espaços consis-
cidades, meio ambiente, saúde, educação, juventude, cul- tentes às estratégias de desenvolvimento local e territorial,
tura etc. agricultura familiar, pequenos empreendimentos, coopera-
No âmbito da SEDH/PR, cumpre destacar a realização tivismo e economia solidária. O direito humano ao meio
de duas Conferências Nacionais das Pessoas com Deficiên- ambiente e às cidades sustentáveis, bem como o fomento
cia; duas Conferências Nacionais dos Direitos da Pessoa a pesquisas de tecnologias socialmente inclusivas consti-
Idosa; quatro Conferências Nacionais dos Direitos da Crian- tuem pilares para um modelo de crescimento sustentável,
ça e do Adolescente; do 3º Congresso Mundial de Enfren- capaz de assegurar os direitos fundamentais das gerações
tamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes; presentes e futuras.
da 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, O tema Universalizar Direitos em um Contexto de Desi-
Travestis e Transexuais. gualdades complementa os anteriores e dialoga com as in-
Merecem destaque, também, as diretrizes aprovadas tervenções desenvolvidas no Brasil para reduzir a pobreza e
na 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública, do Mi- garantir geração de renda aos segmentos sociais mais po-
nistério da Justiça, que formulou uma nova perspectiva de bres, contribuindo de maneira decisiva para a erradicação
fortalecimento da segurança pública, entendida como di- da fome e da miséria. As conquistas recentes das políticas
reito humano fundamental, rompendo com o passado de sociais ainda requerem eliminação de barreiras estruturais
identificação entre ação policial e violação de direitos. para sua efetivação plena. O PNDH-3 reconhece essa reali-
Os compromissos de promoção e proteção dos Di- dade e propõe diretrizes indispensáveis para a construção
reitos Humanos expressos no PNDH-3 estendem-se para de instrumentos capazes de assegurar a observância dos
além da atual administração e devem ser levados em con- Direitos Humanos e para garantir sua universalização.
sideração independentemente da orientação política das
futuras gestões. A agenda de promoção e proteção dos As arraigadas estruturas de poder e subordinação pre-
Direitos Humanos deve transformar-se numa agenda do sentes na sociedade e na hierarquia das instituições po-
Estado brasileiro, tendo como fundamentos os compromis- liciais têm sido historicamente marcadas pela violência,
sos internacionais assumidos pelo país. gerando um círculo vicioso de insegurança, ineficiência,
A observância do pacto federativo – que sinaliza as arbitrariedades, torturas e impunidade. O eixo Segurança
responsabilidades dos três Poderes, do Ministério Público Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência aborda, em
e da Defensoria Pública, bem como os compromissos das suas diretrizes e objetivos estratégicos, metas para a dimi-
três esferas administrativas do Estado – é uma exigência nuição da violência, redução da discriminação e da violên-
central para que os objetivos do PNDH-3 sejam alcançados cia sexual, erradicação do tráfico de pessoas e da tortura.
e efetivados como política de Estado. A responsabilidade Propõe reformular o sistema de Justiça e Segurança Públi-
do Estado brasileiro frente aos tratados internacionais deve ca, avançando propostas de garantia do acesso universal à
ser assumida pelos três poderes, nos diferentes níveis da Justiça, com disponibilização de informações à população,
federação, cabendo ao Executivo Federal a atribuição de fortalecimento dos modelos alternativos de solução de
responder pelo seu cumprimento. Justificam-se, assim, no conflitos e modernização da gestão do sistema judiciário.
PNDH-3, as recomendações feitas aos outros entes federa- O eixo prioritário e estratégico da Educação e Cultura
dos e demais poderes republicanos. em Direitos Humanos se traduz em uma experiência indi-
vidual e coletiva que atua na formação de uma consciência
O PNDH-3 é estruturado nos seguintes eixos orien- centrada no respeito ao outro, na tolerância, na solidarie-
tadores: Interação Democrática entre Estado e Sociedade dade e no compromisso contra todas as formas de discri-
Civil; Desenvolvimento e Direitos Humanos; Universalizar minação, opressão e violência. É esse o caminho para for-
Direitos em um Contexto de Desigualdades; Segurança Pú- mar pessoas capazes de construir novos valores, fundados
blica, Acesso à Justiça e Combate à Violência; Educação e no respeito integral à dignidade humana, bem como no
Cultura em Direitos Humanos; Direito à Memória e à Ver- reconhecimento das diferenças como elemento de cons-
dade. trução da justiça. O desenvolvimento de processos educa-
Compreendendo que todos os agentes públicos e to- tivos permanentes visa a consolidar uma nova cultura dos
dos os cidadãos são responsáveis pela efetivação dos Di- Direitos Humanos e da paz.
reitos Humanos no país, o tema da Interação Democrática O capítulo que trata do Direito à Memória e à Verdade
entre Estado e Sociedade Civil abre o Programa. O compro- encerra os temas transversais do PNDH-3. A memória his-
misso compartilhado e a participação social na construção tórica é componente fundamental na construção da iden-
e monitoramento das distintas políticas públicas são essen- tidade social e cultural de um povo e na formulação de
ciais para que a consolidação dos Direitos Humanos seja pactos que assegurem a não-repetição de violações de Di-
85
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
reitos Humanos, rotineiras em todas as ditaduras, de qual- te a etapa de elaboração da Constituição Cidadã de 1988,
quer lugar do planeta. Nesse sentido, afirmar a importância esses segmentos atuaram de forma especialmente articu-
da memória e da verdade como princípios históricos dos lada, afirmando-se como um dos pilares da democracia e
Direitos Humanos é o conteúdo central da proposta. Jogar influenciando diretamente os rumos do país.
luz sobre a repressão política do ciclo ditatorial, refletir com Nos anos que se seguiram, os movimentos passaram a
maturidade sobre as violações de Direitos Humanos e pro- se consolidar por meio de redes com abrangência regional
mover as necessárias reparações ocorridas durante aquele ou nacional, firmando-se como sujeitos na formulação e
período são imperativos de um país que vem comprovan- monitoramento das políticas públicas. Nos anos 1990 de-
do sua opção definitiva pela democracia. sempenharam papel fundamental na resistência a todas as
O PNDH-3 apresenta as bases de uma Política de Es- ofensivas orientadas pelo neoliberalismo no sentido da fle-
tado para os Direitos Humanos. Estabelece diretrizes, obje- xibilização dos direitos sociais, privatizações, dogmatismo
tivos estratégicos e ações programáticas a serem trilhados do mercado e enfraquecimento do Estado. Nesse mesmo
nos próximos anos. A definição operacional de sua imple- período, multiplicaram-se pelo país experiências de gestão
mentação, com estabelecimento de prazos, será garantida estadual e municipal em que lideranças desses movimentos,
por meio de Planos de Ação a serem construídos a cada em larga escala, passaram a desempenhar funções de ges-
dois anos, sendo fixados os recursos orçamentários, as me- tores públicos.
didas concretas e os órgãos responsáveis por sua execução. Com as eleições de 2002, alguns dos setores mais orga-
nizados da sociedade trouxeram para dentro do mandato
O texto final deste Programa é fruto de um longo e presidencial reivindicações históricas acumuladas, passando
meticuloso processo de diálogo entre poderes públicos e a influenciar diretamente a atuação do governo e vivendo de
sociedade civil. Representada por diversas organizações e perto suas contradições internas.
movimentos sociais, esta teve participação novamente de- Nesse novo cenário, o diálogo entre Estado e sociedade
cisiva em todas as etapas de sua construção. A base inicial civil assumiu especial relevo, com o entendimento e a pre-
do documento foi constituída pelas resoluções aprovadas servação do distinto papel de cada um dos segmentos no
na 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos, que processo de gestão – ou seja, a interação é desenhada por
compuseram um primeiro esqueleto do terceiro PNDH. acordos e dissensos, debates de ideias e pela deliberação
Conteúdos angulares das 50 conferências nacionais já men- em torno de propostas. Esses requisitos são imprescindíveis
cionadas foram incorporados ao texto. O portal da SEDH/ ao pleno exercício da democracia, cabendo à sociedade civil
PR expôs durante meses uma redação inicial, para suscitar exigir, pressionar, cobrar, criticar, propor e fiscalizar as ações
aperfeiçoamentos e novas sugestões. Seguiram-se outros do Estado.
meses de delicada negociação interna entre diferentes Essa concepção de interação democrática construída
áreas de governo até se chegar ao documento definitivo. entre os diversos órgãos do Estado e a sociedade civil trouxe
Merece destaque o fato inédito e promissor de que 31 consigo resultados práticos em termos de políticas públicas
ministérios assinam a exposição de motivos requerendo e avanços na interlocução de setores do poder público com
ao Presidente da República a publicação do decreto que toda a diversidade social, cultural, étnica e regional que ca-
estabelece este terceiro Programa Nacional de Direitos Hu- racteriza os movimentos sociais em nosso país. Avançou-se
manos. fundamentalmente na compreensão de que os Direitos Hu-
O desafio agora é concretizá-lo. manos constituem condição para a prevalência da dignida-
de humana, e que devem ser promovidos e protegidos por
Interação democrática entre Estado e Sociedade Ci- meio de esforço conjunto do Estado e da sociedade civil.
vil
Programa Nacional de Direitos Humanos - 3 Uma das
Desde a metade dos anos 1970, começam a ressurgir finalidades básicas do Programa Nacional de Direitos Huma-
no Brasil iniciativas de rearticulação dos movimentos so- nos (PNDH-3) é dar continuidade à integração e ao aprimo-
ciais, a despeito da repressão política e da ausência de ca- ramento dos mecanismos de participação existentes, bem
nais democráticos de participação. Fortes protestos e a luta como criar novos meios de construção e monitoramento das
pela democracia marcaram esse período. Paralelamente, políticas públicas sobre Direitos Humanos no Brasil.
surgiram iniciativas populares nos bairros reivindicando di- No âmbito institucional, o PNDH-3 amplia as conquistas
reitos básicos como saúde, transporte, moradia e controle na área dos direitos e garantias fundamentais, pois interna-
do custo de vida. Num primeiro momento, eram iniciativas liza a diretriz segundo a qual a primazia dos Direitos Hu-
atomizadas, buscando conquistas parciais, mas que ao lon- manos constitui princípio transversal a ser considerado em
go dos anos foram se caracterizando como movimentos todas as políticas públicas.
sociais organizados. As diretrizes deste capítulo discorrem sobre a importân-
Com o avanço da democratização do país, os movi- cia de fortalecer a garantia e os instrumentos de participa-
mentos sociais multiplicaram-se, alguns deles instituciona- ção social, o caráter transversal dos Direitos Humanos e a
lizaram-se e passaram a ter expressão política. Os movi- construção de mecanismos de avaliação e monitoramento
mentos populares e sindicatos foram, no caso brasileiro, os de sua efetivação. Isso inclui a construção de um Sistema de
principais promotores da mudança e da ruptura política em Indicadores de Direitos Humanos e a articulação das políti-
diversas épocas e contextos históricos. Com efeito, duran- cas e instrumentos de monitoramento existentes.
86
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O Poder Executivo tem papel protagonista de coorde- Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
nação e implementação do PNDH, mas faz-se necessária dência da República
a definição de responsabilidades compartilhadas entre a Recomendação: Recomenda-se ao Poder Legislativo a
União, estados e municípios na execução de políticas pú- aprovação de projeto de lei para instituir o Conselho Nacio-
blicas e a criação de espaços de participação e controle nal dos Direitos Humanos, garantindo recursos humanos,
social no Poder Judiciário, no Legislativo, no Ministério Pú- materiais e orçamentários para o seu pleno funcionamento.
blico e nas Defensorias, dentro de um sistema de respeito,
proteção e efetivação dos Direitos Humanos. O conjunto b) Fomentar a criação e o fortalecimento dos conselhos
dos órgãos do Estado, – não apenas o Executivo Federal de Direitos Humanos em todos os estados e municípios e
– deve estar comprometido com a implementação e moni- no Distrito Federal, bem como a criação de programas es-
toramento do PNDH-3. taduais de Direitos Humanos.
Aperfeiçoar a interlocução entre Estado e sociedade ci- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
vil depende da implementação de medidas que garantam à da Presidência da República
sociedade maior participação no acompanhamento e mo- Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
nitoramento das políticas públicas em Direitos Humanos, dência da República
num diálogo plural e transversal entre os vários atores so- Recomendação: Recomenda-se que os poderes públi-
ciais e deles com o Estado. Ampliar o controle externo dos cos de todos os estados, municípios e do Distrito Federal
órgãos públicos, por meio de ouvidorias; monitorar os com- envidem esforços para criação, reestruturação e fortaleci-
promissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro; mento dos Conselhos de Direitos Humanos, em estreita
realizar conferências periódicas sobre a temática; fortalecer colaboração com a sociedade civil.
e apoiar a criação de conselhos nacional, distrital, estaduais
e municipais de Direitos Humanos, garantindo-lhes eficiên- c) Criar mecanismos que permitam uma ação coorde-
cia, autonomia e independência são algumas das formas nada entre os diversos conselhos de direitos, nas três es-
de assegurar o aperfeiçoamento das políticas públicas por feras da federação, visando à criação de agenda comum
meio de diálogo, de mecanismos de controle e das ações para a implementação de políticas públicas de Direitos Hu-
contínuas da sociedade civil. Fortalecer as informações em
manos.
Direitos Humanos com produção e seleção de indicadores
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
para mensurar demandas, monitorar, avaliar, reformular e
nos da Presidência da República, Secretaria-
propor ações efetivas garante e consolida o controle social
Geral da Presidência da República
e a transparência das ações governamentais.
Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
dência da República 25
A adoção de tais medidas fortalecerá a democracia
participativa, na qual o Estado atua como instância repu-
d) Criar base de dados dos conselhos nacionais, esta-
blicana da promoção e defesa dos Direitos Humanos e a
sociedade civil como agente ativo – propositivo e reativo duais, distrital e municipais, garantindo seu acesso ao pú-
– de sua implementação. blico em geral.
Responsáveis: Secretaria-Geral da Presidência da Repú-
Diretriz 1: blica; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presi-
Interação democrática entre Estado e sociedade civil dência da República
como instrumento de fortalecimento da democracia par- Parceiros: Secretaria de Relações Institucionais da Pre-
ticipativa. sidência da República; Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
Objetivo estratégico I: tica (IBGE)
Garantia da participação e do controle social das polí-
ticas públicas em Direitos Humanos, em um diálogo plural e) Apoiar fóruns, redes e ações da sociedade civil que
e transversal entre os vários atores sociais. fazem acompanhamento, controle social e monitoramento
das políticas públicas de Direitos Humanos.
Ações programáticas: Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
a) Apoiar, junto ao Poder Legislativo, a instituição do nos da Presidência da República, Secretaria Geral da Presi-
Conselho Nacional dos Direitos Humanos, dotado de re- dência da República
cursos humanos, materiais e orçamentários para o seu ple- Parceiros: Ministério das Relações Exteriores; Ministério
no funcionamento, e efetuar seu credenciamento junto ao do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os f) Estimular o debate sobre a regulamentação e efeti-
Direitos Humanos como “Instituição Nacional Brasileira”, vidade dos instrumentos de participação social e consulta
como primeiro passo rumo à adoção plena dos “Princípios popular, tais como lei de iniciativa popular, referendo, veto
de Paris”. popular e plebiscito.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
nos da Presidência da República; Ministério das Relações nos da Presidência da República; Secretaria Geral da Presi-
Exteriores dência da República
87
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
88
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos b) Integrar os sistemas nacionais de informações
da Presidência da República para elaboração de quadro geral sobre a implementação
Parceiros: Ministério das Relações Exteriores; Instituto de políticas públicas e violações aos Direitos Humanos.
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); Instituto Brasileiro Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
de Geografia e Estatística (IBGE) da Presidência da República
Recomendação: Recomenda-se fornecer os dados e in- Parceiros: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
formações do Observatório às instituições dedicadas, no (IPEA); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
âmbito regional e internacional, na elaboração e difusão de
estudos sobre a situação dos Direitos Humanos, como por c) Articular a criação de base de dados com temas
exemplo, o Observatório sobre Democracia do Mercosul3, relacionados aos Direitos Humanos.
sediado em Montevidéu e o Centro Mercosul de Promoção Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
do Direito4 do Mercosul. da Presidência da República
Parceiros: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
b) Estimular e reconhecer pessoas e entidades com (IPEA); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
destaque na luta pelos Direitos Humanos na sociedade Ministério da Saúde/DATASUS; Instituto Nacional de Pes-
brasileira e internacional, com a concessão de premiação, quisas Espaciais (INPE)
bolsas e outros incentivos, na forma da legislação aplicável.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- d) Utilizar indicadores em Direitos Humanos para
nos da Presidência da República; Ministério das Relações mensurar demandas, monitorar avaliar, reformular e propor
Exteriores ações efetivas.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
c) Criar selo nacional “Direitos Humanos”, a ser con- nos da Presidência da República; Secretaria Especial de
cedido às entidades públicas e privadas que comprovem Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
atuação destacada na defesa e promoção dos direitos fun- Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualda-
de Racial da Presidência da República; Ministério da Saúde;
damentais.
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
Ministério da Justiça; Ministério das Cidades; Ministério do
nos da Presidência da República; Ministério da Justiça
Meio Ambiente; Ministério da Cultura; Ministério do Turis-
3 – Criado pelo Conselho do Mercado Comum (CMC)
mo; Ministério do Esporte; Ministério do Desenvolvimento
durante a 32ª Reunião de Cúpula do Mercosul em 2007,
Agrário
associado ao Centro Mercosul de Promoção de Estado de
Direito (Cemped).
e) Propor estudos visando a criação de linha de fi-
4 – Criado com a finalidade de analisar e reforçar o de-
nanciamento para a implementação de institutos de pes-
senvolvimento do Estado, a governabilidade democrática e
quisa e produção de estatísticas em Direitos Humanos nos
todos os aspectos vinculados aos processos de integração estados.
regional, com especial ênfase no MERCOSUL. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República
Diretriz 3: Parceiros: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-
Integração e ampliação dos sistemas de informação soal de Nível Superior (Capes); Conselho Nacional de De-
em Direitos Humanos e construção de mecanismos de ava- senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Instituto
liação e monitoramento de sua efetivação. Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
89
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) combina a ri-
nos da Presidência da República; Ministério das Relações queza per capita dada pelo PIB aos aspectos de educação
Exteriores e expectativa de vida, permitindo, pela primeira vez, uma
5 – Ferramenta fundamental para reduzir a seletividade avaliação de aspectos sociais não mensurados pelos pa-
do tratamento acordado aos direitos humanos no marco drões econométricos.
das Nações Unidas, especialmente às questões relaciona- No caso do Brasil, por muitos anos o crescimento eco-
das à situação dos direitos humanos em países específicos, nômico não levou à distribuição justa de renda e riqueza,
e está empenhado em engajar-se neste exercício de modo mantendo-se elevados índices de desigualdade. As ações
construtivo e transparente. de Estado voltadas para a conquista da igualdade socioe-
conômica requerem ainda políticas permanentes, de longa
Desenvolvimento e Direitos Humanos duração, para que se verifique a plena proteção e promo-
ção dos Direitos Humanos. É necessário que o modelo de
O tema Desenvolvimento tem sido amplamente deba- desenvolvimento econômico tenha a preocupação de aper-
tido, por ser um conceito complexo e multidisciplinar. Não feiçoar os mecanismos de distribuição de renda e de opor-
existe modelo único nem preestabelecido de desenvolvi- tunidades para todos os brasileiros, bem como incorpore
mento, porém pressupõe-se que ele deva garantir a livre os valores de preservação ambiental. Os debates sobre as
determinação dos povos, o reconhecimento de soberania mudanças climáticas e o aquecimento global, gerados pela
sobre seus recursos e riquezas naturais, respeito pleno a preocupação com a maneira com que os países vêm ex-
sua identidade cultural e a busca de equidade na distribui- plorando os recursos naturais e direcionando o progresso
ção das riquezas. civilizatório, está na agenda do dia. Esta discussão coloca
Durante muitos anos, o crescimento econômico, medi- em questão os investimentos em infraestrutura e modelos
do pela variação anual do Produto Interno Bruto (PIB), foi de desenvolvimento econômico na área rural baseados, em
usado como indicador relevante para medir o avanço de grande parte, no agronegócio, sem a preocupação com a
um país. Acreditava-se que, uma vez garantido o aumento potencial violação dos direitos de pequenos e médios agri-
de bens e serviços, sua distribuição ocorreria de forma a cultores e das populações tradicionais.
satisfazer as necessidades de todas as pessoas. Constatou- O desenvolvimento pode ser garantido se as pessoas
se, porém, que, embora importante, o crescimento do PIB forem protagonistas do processo, pressupondo a garantia
não é suficiente para causar, automaticamente, melhoria do de acesso de todos os indivíduos aos direitos econômicos,
bem-estar para todas as camadas sociais. Por isso, o con- sociais, culturais e ambientais, e incorporando a preocu-
ceito de desenvolvimento foi adotado por ser mais abran- pação com a preservação e a sustentabilidade como eixos
gente e refletir, de fato, melhorias nas condições de vida estruturantes de uma proposta renovada de progresso. Es-
dos indivíduos. ses direitos têm como foco a distribuição da riqueza, dos
A teoria predominante de desenvolvimento econômico bens e serviços.
o define como um processo que faz aumentar as possibili- Todo esse debate traz desafios para a conceituação
dades de acesso das pessoas a bens e serviços, propiciadas sobre os Direitos Humanos no sentido de incorporar o de-
ao se expandir a capacidade e o âmbito das atividades eco- senvolvimento como exigência fundamental. E vice-versa, a
nômicas. O desenvolvimento seria medida qualitativa do perspectiva dos Direitos Humanos contribui para redimen-
progresso da economia de um país, refletindo transições sionar o desenvolvimento: motiva a passar da consideração
de estágios mais baixos para estágios mais altos, por meio de problemas individuais a questões de interesse comum,
da adoção de novas tecnologias que permitem e favore- de bem-estar coletivo, o que alude novamente ao Estado e
cem essa transição. Cresce nos últimos anos a assimilação chama à corresponsabilidade social e à solidariedade.
das ideias desenvolvidas por Amartya Sem, que aborda o Ressaltamos que a noção de desenvolvimento está
desenvolvimento como liberdade e seus resultados centra- sendo amadurecida como parte de um debate em curso na
dos no bem estar social e, por conseguinte, nos direitos do sociedade e no atual governo, incorporando a relação en-
ser humano. tre os direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais,
São essenciais para o desenvolvimento as liberdades e buscando garantia do acesso ao trabalho, à saúde, à edu-
os direitos básicos como alimentação, saúde e educação. cação, à alimentação, à vida cultural, à moradia adequada,
As privações das liberdades não são apenas resultantes à previdência, à assistência social e a um meio ambiente
da escassez de recursos. E sim das desigualdades ineren- sustentável.
tes aos mecanismos de distribuição, ausência de serviços A inclusão do tema Desenvolvimento e Direitos Hu-
públicos e de assistência do Estado para a expansão das manos na 11ª Conferência Nacional reforçou as estratégias
escolhas individuais. Este conceito de desenvolvimento re- governamentais em sua proposta de desenvolvimento.
conhece seu caráter pluralista e a tese de que a expansão Assim, este capítulo do PNDH-3 propõe instrumentos de
das liberdades não representa somente um fim, mas tam- avanço e reforça propostas para políticas públicas de redu-
bém o meio para seu alcance pleno. Em consequência, a ção das desigualdades sociais concretizadas por meio de
sociedade deve pactuar os direitos, as políticas sociais e ações de transferência de renda, incentivo à economia so-
os direitos coletivos de acesso e uso dos recursos. A partir lidária e ao cooperativismo, à expansão da reforma agrária,
daí, a medição de um índice de desenvolvimento humano ao fomento da aquicultura, da pesca e do extrativismo e da
veio substituir a medição de aumento do PIB, uma vez que promoção do turismo sustentável.
90
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O Programa inova ao incorporar o meio ambiente sau- c) Apoiar projetos de desenvolvimento sustentável lo-
dável e as cidades sustentáveis como Direitos Humanos, cal para redução das desigualdades inter e intrarregionais
propõe a inclusão do item “direitos ambientais” nos relató- e o aumento da autonomia e sustentabilidade de espaços
rios de monitoramento sobre Direitos Humanos e do item sub-regionais. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direi-
“Direitos Humanos” nos relatórios ambientais, assim como tos Humanos da Presidência da República; Ministério do
fomenta pesquisas de tecnologias socialmente inclusivas. Desenvolvimento Agrário
Nos projetos e empreendimentos com grande impacto Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social e
socioambiental, o PNDH-3 garante a participação efetiva Combate à Fome; Ministério do Trabalho e Emprego; Mi-
das populações atingidas, assim como prevê ações mitiga- nistério do Meio Ambiente; Ministério da Integração Na-
tórias e compensatórias. Considera fundamental fiscalizar cional; Ministério da Cultura; Ministério da Pesca e Aquicul-
o respeito aos Direitos Humanos nos projetos implementa- tura; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
dos pelas empresas transnacionais, bem como seus impac- Exterior
tos na manipulação das políticas de desenvolvimento. Nes-
se sentido, avalia como importante mensurar o impacto da d) Avançar na implantação da reforma agrária, como
biotecnologia aplicada aos alimentos, da nanotecnologia, forma de inclusão social e acesso aos direitos básicos, de
dos poluentes orgânicos persistentes, metais pesados e forma articulada com as políticas de saúde, educação, meio
outros poluentes inorgânicos em relação aos Direitos Hu- ambiente e fomento à produção alimentar.
manos. Responsável: Ministério do Desenvolvimento Agrário
Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social e
Alcançar o desenvolvimento com Direitos Humanos é Combate à Fome; Instituto Nacional de Colonização e Re-
capacitar as pessoas e as comunidades a exercerem a cida- forma Agrária (INCRA); Ministério da Saúde; Ministério da
dania, com direitos e responsabilidades. É incorporar, nos Educação; Ministério do Meio Ambiente; Empresa Brasileira
projetos, a própria população brasileira, por meio de par- de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
ticipação ativa nas decisões que afetam diretamente suas
vidas. É assegurar a transparência dos grandes projetos de e) Incentivar as políticas públicas de economia solidá-
desenvolvimento econômico e mecanismos de compensa- ria, de cooperativismo e associativismo e de fomento a pe-
ção para a garantia dos Direitos Humanos das populações quenas e micro empresas.
diretamente atingidas. Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Mi-
Por fim, este Programa reforça o papel da equidade no nistério do Desenvolvimento Agrário; Ministério das Cida-
Plano Plurianual (PPA), como instrumento de garantia de des; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
priorização orçamentária de programas sociais. Fome
Parceiros: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Diretriz 4: Comércio Exterior; Ministério da Pesca e Aquicultura; Mi-
Efetivação de um modelo de desenvolvimento susten- nistério do Meio Ambiente; Ministério da Cultura
tável, com inclusão social e econômica, ambientalmente
equilibrado e tecnologicamente responsável, cultural e re- f) Fortalecer políticas públicas de apoio ao extrativismo
gionalmente diverso, participativo e não discriminatório. e ao manejo florestal comunitário ambientalmente susten-
táveis.
Objetivo estratégico I: Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministé-
Implementação de políticas públicas de desenvolvi- rio do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Desenvolvi-
mento com inclusão social. mento, Indústria e Comércio Exterior
Parceiro: Instituto Nacional de Metrologia, Normaliza-
Ações programáticas: ção e Qualidade Industrial (Inmetro)
a) Ampliar e fortalecer as políticas de desenvolvimento
social e de combate à fome, visando à inclusão e à pro- g) Fomentar o debate sobre a expansão de plantios de
moção da cidadania, garantindo a segurança alimentar e monoculturas, tais como eucalipto, cana-de-açúcar, soja, e
nutricional, renda mínima e assistência integral às famílias. sobre o manejo florestal, a grande pecuária, mineração, tu-
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e rismo e pesca, que geram impacto no meio ambiente e na
Combate à Fome cultura dos povos e comunidades tradicionais.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
b) Expandir políticas públicas de geração e transferên- da Presidência da República
cia de renda para erradicação da extrema pobreza e redu- Parceiros: Ministério do Meio Ambiente; Ministério do
ção da pobreza. Desenvolvimento Agrário; Fundação Nacional do Índio (Fu-
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e nai); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Combate à Fome Naturais Renováveis (IBAMA); Ministério da Agricultura, Pe-
Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Mi- cuária e Abastecimento; Ministério da Ciência e Tecnologia;
nistério do Trabalho e Emprego; Ministério do Planejamen- Ministério de Minas e Energia; Ministério do Turismo; Mi-
to, Orçamento e Gestão; Ministério da Fazenda nistério da Pesca e Aquicultura
91
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
h) Erradicar o trabalho infantil, bem como todas as for- Responsáveis: Ministério da Pesca e Aquicultura; Mi-
mas de violência e exploração sexual de crianças e ado- nistério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvi-
lescentes nas cadeias produtivas com base em códigos de mento Social e Combate à Fome
conduta e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Parceiros: Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Meio Ambiente
nos da Presidência da República; Ministério do Turismo m) Promover o turismo sustentável com geração de
Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social e trabalho e renda, respeito à cultura local e participação e
Combate à Fome; Ministério da Educação; Ministério da inclusão dos povos e das comunidades nos benefícios ad-
Justiça; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér- vindos da atividade turística.
cio Exterior; Secretaria-Geral da Presidência da República/ Responsáveis: Ministério do Turismo; Ministério do De-
Secretaria Nacional de Juventude; Secretaria Especial de senvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
Políticas para as Mulheres da Presidência da República Parceiros: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito Presidência da República; Ministério do
Federal e municípios ações de combate da exploração se- Meio Ambiente; Ministério da Cultura; Ministério do
xual de mulheres no turismo sexual. Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secretaria-
Geral da Presidência da República/Secretaria Nacional de
i) Garantir que os grandes empreendimentos e os pro- Juventude; Instituto Nacional de Metrologia, Normalização
jetos de infraestrutura resguardem os direitos dos povos e Qualidade Industrial (Inmetro)
indígenas e comunidades quilombolas e tradicionais, con-
forme previsto na Constituição Federal e nos tratados e Objetivo estratégico II:
convenções internacionais. Fortalecimento de modelos de agricultura familiar e
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério dos agroecológica.
Transportes; Ministério da Integração Nacional; Ministé-
rio de Minas e Energia; Secretaria Especial de Políticas de Ações programáticas:
Promoção da Igualdade Racial da Presidência da Repúbli- a) Garantir que nos projetos de reforma agrária e agri-
ca; Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Desenvol- cultura familiar sejam incentivados os modelos de produ-
vimento Social e Combate à Fome; Ministério da Pesca e ção agroecológica e a inserção produtiva nos mercados
Aquicultura; Secretaria Especial de Portos formais.
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário;
j) Integrar políticas de geração de emprego e renda e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Ex-
políticas sociais para o combate à pobreza rural dos agri- terior
cultores familiares, assentados da reforma agrária, quilom- Parceiros: Ministério do Meio Ambiente; Ministério da
bolas, indígenas, famílias de pescadores e comunidades Ciência e Tecnologia; Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-
tradicionais. pecuária (Embrapa); Instituto Nacional de Metrologia, Nor-
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e malização e Qualidade Industrial (Inmetro)
Combate à Fome; Ministério da Integração Nacional; Mi-
nistério do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Traba- b) Fortalecer a agricultura familiar camponesa e a pes-
lho e Emprego; Ministério da Justiça, Secretaria Especial de ca artesanal, com ampliação do crédito, do seguro, da as-
Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência sistência técnica, extensão rural e da infraestrutura para a
da República; Ministério da Cultura; Ministério da Pesca e comercialização.
Aquicultura Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário;
Parceiros: Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério Ministério da Pesca e Aquicultura
do Meio Ambiente; Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope- Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social e
cuária (Embrapa) Combate à Fome; Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão; Ministério da Fazenda; Ministério do Desenvolvi-
k) Integrar políticas sociais e de geração de emprego mento, Indústria e Comércio Exterior
e renda para o combate à pobreza urbana, em especial de
catadores de materiais recicláveis e população em situação c) Garantir pesquisa e programas voltados à agricul-
de rua. Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; tura familiar e pesca artesanal, com base nos princípios da
Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Desenvolvi- agroecologia.
mento Social e Combate à Fome; Ministério das Cidades Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário;
Parceiros: Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Agricultura,
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Pecuária e Abastecimento; Ministério da Pesca e Aquicul-
tura; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
l) Fortalecer políticas públicas de fomento à aquicul- Exterior
tura e à pesca sustentáveis, com foco nos povos e comu- Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social e
nidades tradicionais de baixa renda, contribuindo com a Combate à Fome; Ministério da Ciência e Tecnologia; Em-
segurança alimentar e a inclusão social, mediante a criação presa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Ins-
de geração de trabalho e renda alternativos e inserção no tituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
mercado de trabalho. Industrial (Inmetro)
92
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
d) Fortalecer a legislação e a fiscalização para evitar a e) Desenvolver e divulgar pesquisas públicas para diag-
contaminação dos alimentos, os danos à saúde e ao meio nosticar os impactos da biotecnologia e da nanotecnologia
ambiente causados pelos agrotóxicos. em temas de Direitos Humanos.
Responsáveis: Ministério da Agricultura, Pecuária e Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Abastecimento; Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministé-
da Saúde; Ministério do Desenvolvimento Agrário rio do Meio Ambiente; Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento; Ministério de Ciência e Tecnologia
e) Promover o debate com as instituições de ensino su- Parceiros: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
perior e a sociedade civil para a implementação de cursos Comércio Exterior; Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
e realização de pesquisas tecnológicas voltados à temática
socioambiental, agroecologia e produção orgânica, respei- f) Produzir, sistematizar e divulgar pesquisas econômicas
tando as especificidades de cada região. e metodologias de cálculo de custos socioambientais de pro-
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério do jetos de infraestrutura, de energia e de mineração que sirvam
Desenvolvimento Agrário como parâmetro para o controle dos impactos de grandes
projetos.
Objetivo estratégico III: Responsáveis: Ministério de Ciência e Tecnologia; Mi-
Fomento à pesquisa e à implementação de políticas nistério das Minas e Energia; Ministério do Meio Ambiente;
para o desenvolvimento de tecnologias socialmente inclu- Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da Repú-
sivas, emancipatórias e ambientalmente sustentáveis. blica; Ministério da Integração Nacional
Parceiros: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
Ações programáticas: de Nível Superior (Capes); Conselho Nacional de Desenvolvi-
a) Adotar tecnologias sociais de baixo custo e fácil apli- mento Científico e Tecnológico (CNPq); Instituto de Pesquisa
cabilidade nas políticas e ações públicas para a geração de Econômica Aplicada (Ipea); Financiadora de Estudos e Proje-
renda e para a solução de problemas socioambientais e de tos (Finep)
saúde pública.
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Mi- Objetivo estratégico IV:
nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Mi- Garantia do direito a cidades inclusivas e sustentáveis.
nistério do Meio Ambiente; Ministério do Desenvolvimento
Agrário; Ministério da Saúde Ações programáticas:
Parceiro: Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério a) Apoiar ações que tenham como princípio o direito a
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior cidades inclusivas e acessíveis como elemento fundamental
da implementação de políticas urbanas.
b) Garantir a aplicação do princípio da precaução na Responsáveis: Ministério das Cidades; Secretaria Especial
proteção da agrobiodiversidade e da saúde, realizando dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministé-
pesquisas que avaliem os impactos dos transgênicos no rio do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
meio ambiente e na saúde. Parceiros: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Meio dência da República; Secretaria Especial de Políticas para as
Ambiente; Ministério de Ciência e Tecnologia Mulheres da Presidência da República; Instituto Nacional de
c) Fomentar tecnologias alternativas para substituir o Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro)
uso de substâncias danosas à saúde e ao meio ambiente,
como poluentes orgânicos persistentes, metais pesados e b) Fortalecer espaços institucionais democráticos, parti-
outros poluentes inorgânicos. cipativos e de apoio aos municípios para a implementação de
Responsáveis: Ministério de Ciência e Tecnologia; Mi- planos diretores que atendam os preceitos da política urbana
nistério do Meio Ambiente; Ministério da Saúde; Ministé- estabelecidos no Estatuto da Cidade.
rio da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério do Responsável: Ministério das Cidades
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Recomendação: Recomenda-se ao Poder Judiciário a
Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Fi- aplicação do conceito constitucional da função
nanciadora de Estudos e Projetos (Finep)
c) Fomentar políticas públicas de apoio aos estados, Dis-
d) Fomentar tecnologias de gerenciamento de resíduos trito Federal e municípios em ações sustentáveis de urbani-
sólidos e emissões atmosféricas para minimizar impactos zação e regularização fundiária dos assentamentos de popu-
na saúde e no meio ambiente. lação de baixa renda, comunidades pesqueiras e de provisão
Responsáveis: Ministério de Ciência e Tecnologia; Mi- habitacional de interesse social, materializando a função so-
nistério do Meio Ambiente; Ministério da Saúde; Ministério cial da propriedade.
das Cidades Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Meio
Parceiros: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes- Ambiente; Ministério da Pesca e Aquicultura
soal de Nível Superior (Capes); Financiadora de Estudos e Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Secre-
Projetos (Finep) taria de Relações Institucionais da Presidência da República
93
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
94
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
f) Definir mecanismos para a garantia dos Direitos Hu- d) Regulamentar a taxação do imposto sobre grandes
manos das populações diretamente atingidas e vizinhas fortunas previsto na Constituição Federal.
aos empreendimentos de impactos sociais e ambientais. Responsáveis: Ministério da Fazenda; Secretaria Espe-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos cial dos Direitos Humanos da Presidência da República
da Presidência da República Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social e
Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secretaria de Relações Institucionais da
Combate à Fome; Casa Civil da Presidência da República; Presidência da República Recomendação: Recomenda-se
Secretaria-Geral da Presidência da República; Ministério de ao Poder Legislativo que legisle sobre o imposto sobre
Minas e Energia; Ministério dos Transportes; Secretaria Es- grandes fortunas.
pecial de Portos
e) Ampliar a adesão de empresas ao compromisso de
g) Apoiar a incorporação dos sindicatos de trabalhado- responsabilidade social e Direitos Humanos.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
res e centrais sindicais nos processos de licenciamento am-
da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimen-
biental de empresas, de forma a garantir o direito à saúde
to, Indústria e Comércio Exterior
do trabalhador.
Parceiros: Ministério do Turismo; Ministério do Desen-
Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério
volvimento Social e Combate à Fome;
do Trabalho e Emprego; Ministério da Saúde h) Promover
e fortalecer ações de proteção às populações mais pobres Objetivo estratégico III:
da convivência com áreas contaminadas, resguardando-as Fortalecimento dos direitos econômicos por meio de
contra essa ameaça e assegurando-lhes seus direitos fun- políticas públicas de defesa da concorrência e de proteção
damentais. do consumidor.
Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério
das Cidades; Ministério do Desenvolvimento Social e Com- Ações programáticas:
bate à Fome; Ministério da Saúde a) Garantir o acesso universal a serviços públicos es-
senciais de qualidade.
Objetivo estratégico II: Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Edu-
Afirmação dos princípios da dignidade humana e da cação; Ministério de Minas e Energia; Ministério do Desen-
equidade como fundamentos do processo de desenvolvi- volvimento Social e Combate à Fome; Ministério das Cida-
mento nacional. des
Recomendação: Recomenda-se aos estados e municí-
Ações programáticas: pios a ampliação da garantia ao acesso universal a serviços
a) Reforçar o papel do Plano Plurianual (PPA) como públicos essenciais de qualidade.
instrumento de consolidação dos Direitos Humanos e de b) Fortalecer o sistema brasileiro de defesa da concor-
enfrentamento da concentração de renda e riqueza e de rência para coibir condutas anticompetitivas e concentra-
promoção da inclusão da população de baixa renda. doras de renda.
Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Fa-
e Gestão zenda
Recomendação: Recomenda-se aos Poderes Judiciário c) Garantir o direito à informação do consumidor, for-
e Legislativo estimular o debate para revisão dos proce- talecendo as ações de acompanhamento de mercado, in-
dimentos adotados na etapa legislativa do processo orça- clusive a rotulagem dos transgênicos.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do De-
mentário, possibilitando maior envolvimento da sociedade
senvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Ministério da
nas discussões sobre as prioridades de uso dos recursos
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
públicos.
Parceiros: Ministério das Comunicações; Agências re-
guladoras
b) Reforçar os critérios da equidade e da prevalência Recomendação: Recomenda-se aos estados, por meio
dos Direitos Humanos como prioritários na avaliação da dos Procons, garantir o direito à informação
programação orçamentária de ação ou autorização de gas-
tos. Universalizar Direitos em um Contexto de Desigual-
Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento dades
e Gestão
A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma
c) Instituir um código de conduta em Direitos Humanos em seu preâmbulo que o “reconhecimento da dignidade
para ser considerado no âmbito do poder público como inerente a todos os membros da família humana e de seus
critério para a contratação e financiamento de empresas. direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade,
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da justiça e da paz no mundo”. No entanto, nas vicissitudes
da Presidência da República do cumprimento da Declaração pelos Estados signatários,
Parceiro: Casa Civil da Presidência da República identificou-se a necessidade de reconhecer as diversidades
e diferenças para concretizar o princípio da igualdade.
95
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
No Brasil, ao longo das últimas décadas, os Direitos Definem-se, neste capítulo, medidas e políticas que
Humanos passaram a ocupar uma posição de destaque no devem ser efetivadas para reconhecer e proteger os indi-
ordenamento jurídico. O país avançou decisivamente na víduos como iguais na diferença, ou seja, valorizar a diver-
proteção e promoção do direito à diferença. Porém, o peso sidade presente na população brasileira para estabelecer
negativo do passado continua a projetar no presente uma acesso igualitário aos direitos fundamentais. Trata-se de
situação de profunda iniquidade social. reforçar os programas de governo e as resoluções pactua-
O acesso aos direitos fundamentais continua enfrentan- das nas diversas conferências nacionais temáticas, sempre
do barreiras estruturais, resquícios de um processo históri- sob o foco dos Direitos Humanos, com a preocupação de
co, várias vezes secular, – marcado pelo genocídio indígena, assegurar o respeito às diferenças e o combate às desigual-
pela escravidão e por períodos ditatoriais – que continua a dades, para o efetivo acesso aos direitos pelos cidadãos.
ecoar em atitudes, leis e realidades sociais. Por fim, em respeito à primazia constitucional de pro-
O PNDH-3 assimila os grandes avanços conquistados teção e promoção das crianças e dos adolescentes, o capí-
ao longo destes últimos anos, tanto nas políticas de erra- tulo aponta em suas diretrizes para o respeito e a garantia
dicação da miséria e da fome, quanto na preocupação com das gerações futuras. Como sujeitos de direitos, a infância,
a moradia e saúde pública, e aponta para a continuidade a adolescência e a juventude são frequentemente subesti-
e ampliação do acesso a tais políticas, fundamentais para madas em sua participação política e em sua capacidade
garantir o respeito à dignidade humana. decisória. Preconiza-se o dever de assegurar-lhes, desde
Os objetivos estratégicos direcionados à promoção da cedo, o direito de opinião e participação.
cidadania plena preconizam a universalidade, indivisibilida- Marcadas pelas diferenças e por sua fragilidade tem-
de e interdependência dos Direitos Humanos, condições poral, as crianças, os adolescentes e os jovens estão su-
para sua efetivação integral e igualitária. O acesso aos direi- jeitos a discriminações e violências. As ações programáti-
tos de registro civil, alimentação adequada, terra e moradia, cas promovem a garantia de espaços e investimentos que
trabalho decente, educação, participação política, cultura, assegurem proteção contra qualquer forma de violência e
lazer, esporte e saúde devem considerar a pessoa humana discriminação, bem como a promoção da articulação entre
em suas múltiplas dimensões de ator social e sujeito da ci-
família, sociedade e Estado para fortalecer a rede social de
dadania.
proteção que garante a efetividade de seus direitos.
À luz da história dos movimentos sociais e programas
de governo, o PNDH-3 se orienta pela transversalidade, para
Diretriz 7:
que a implementação dos direitos civis e políticos transitem
Garantia dos Direitos Humanos de forma universal, in-
por meio das diversas dimensões dos direitos econômicos,
divisível e interdependente, assegurando a cidadania plena.
sociais, culturais e ambientais. Caso contrário, grupos so-
ciais afetados pela pobreza, pelo racismo estrutural e pela
Objetivo estratégico I:
discriminação dificilmente terão acesso a tais direitos.
As ações programáticas formuladas visam a enfrentar o Universalização do registro civil de nascimento e am-
desafio de eliminar as desigualdades, levando em conta as pliação do acesso à documentação básica.
dimensões de gênero e raça nas políticas públicas, desde
o planejamento, até a concretização e avaliação. Há, neste Ações programáticas:
sentido, propostas de criação de indicadores que possam a) Ampliar e reestruturar a rede de atendimento para
mensurar a implementação progressiva dos direitos. a emissão do registro civil de nascimento visando a sua
Às desigualdades soma-se a persistência da discrimina- universalização.
ção, que muitas vezes se manifesta sob a forma de violência - Interligar maternidades e unidades de saúde aos car-
contra sujeitos que são histórica e estruturalmente vulnera- tórios, por meio de sistema manual ou informatizado, para
bilizados. emissão de registro civil de nascimento logo após o parto,
O combate à discriminação mostra-se necessário, mas garantindo ao recém-nascido a certidão de nascimento an-
insuficiente enquanto medida isolada. Os pactos e conven- tes da alta médica.
ções que integram o sistema internacional de proteção dos - Fortalecer a Declaração de Nascido Vivo (DNV), emi-
Direitos Humanos apontam para a necessidade de combi- tida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como mecanismo
nar essas medidas com políticas compensatórias que acele- de acesso ao registro civil de nascimento, contemplando a
ram a construção da igualdade, como instrumentos capazes diversidade na emissão pelos estabelecimentos de saúde,
de estimular a inclusão de grupos socialmente vulneráveis. pelas parteiras.
Além disso, as ações afirmativas constituem medidas espe- - Realizar orientação sobre a importância do registro
ciais e temporárias que buscam remediar um passado dis- civil de nascimento para a cidadania por meio da rede de
criminatório. No rol de movimentos e grupos sociais que atendimento (saúde, educação e assistência social) e pelo
demandam políticas de inclusão social encontram-se as sistema de Justiça e de segurança pública.
crianças, os adolescentes, as mulheres, as pessoas idosas, - Aperfeiçoar as normas e o serviço público notarial e
as lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, pessoas de registro, em articulação com o Conselho Nacional de
com deficiência, povos indígenas, populações negras e qui- Justiça, para garantia da gratuidade e da cobertura do ser-
lombolas, ciganos, ribeirinhos, varzanteiros, pescadores, en- viço de registro civil em âmbito nacional.
tre outros.
96
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do De- - Desenvolver estudo sobre a política nacional de do-
senvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da cumentação civil básica.
Previdência Social; Ministério da Justiça; Ministério do Pla- Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do De-
nejamento, Orçamento e Gestão; Secretaria Especial dos senvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério do
Direitos Humanos da Presidência da República Planejamento, Orçamento e Gestão; Ministério da Fazenda;
Parceiro: Ministério da Educação Ministério da Justiça; Ministério do Trabalho e Emprego;
Ministério da Previdência Social; Secretaria Especial dos Di-
b) Promover a mobilização nacional com intuito de re- reitos Humanos da Presidência da República
duzir o número de pessoas sem registro civil de nascimento Parceiro: Ministério do Desenvolvimento Agrário
e documentação básica. Recomendação: Recomenda-se articular os entes federa-
- Instituir comitês gestores estaduais, distrital e munici- dos, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Associação Na-
pais com o objetivo de articular as instituições públicas e as cional de Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN Brasil), a
entidades da sociedade civil para a implantação de ações Associação Nacional de Notários (ANOREG Brasil) e entidades
que visem à ampliação do acesso à documentação básica. da sociedade civil para participarem na organização de bases
- Realizar campanhas para orientação e conscientiza- normativas e gerenciais para garantia da universalização do
ção da população e dos agentes responsáveis pela articu- acesso ao registro civil de nascimento e à documentação bá-
lação e pela garantia do acesso aos serviços de emissão sica
de registro civil de nascimento e de documentação básica.
- Realizar mutirões para emissão de registro civil de d) Incluir no questionário do censo demográfico pergun-
nascimento e documentação básica, com foco nas regiões tas para identificar a ausência de documentos civis na popu-
lação.
de difícil acesso e no atendimento às populações específi-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
cas como os povos indígenas, quilombolas, ciganos, pes-
Presidência da República
soas em situação de rua e institucionalizadas e às trabalha-
Parceiros: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
doras rurais.
(IBGE); Ministério do Desenvolvimento Agrário
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do De-
senvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da De-
Objetivo estratégico II:
fesa; Ministério da Fazenda; Ministério do Trabalho e Em-
Acesso à alimentação adequada por meio de políticas es-
prego; Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos
truturantes.
Humanos da Presidência da República
Parceiros: Ministério da Educação; Ministério do De- Ações programáticas:
senvolvimento Agrário; Ministério da Cultura Recomen- a) Ampliar o acesso aos alimentos por meio de programas
dação: Recomenda-se articulação dos entes federados, o e ações de geração e transferência de renda, com ênfase na
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Associação Nacional participação das mulheres como potenciais beneficiárias.
de Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN Brasil), Na- Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e
cional de Notários (ANOREG Brasil), e entidades da socie- Combate à Fome; Secretaria Especial de
dade civil. Políticas para as Mulheres da Presidência da República
Parceiro: Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)
c) Criar bases normativas e gerenciais para garantia da Recomendação: Recomenda-se aos estados e ao Distrito
universalização do acesso ao registro civil de nascimento e Federal a promoção de ações para a efetivação da Lei de Se-
à documentação básica. gurança Alimentar (Lei 11.346/2006).
- Implantar sistema nacional de registro civil para in-
terligação das informações de estimativas de nascimentos, b) Vincular programas de transferência de renda à garantia
de nascidos vivos e do registro civil de nascimento, a fim da segurança alimentar da criança, por meio de acompanha-
de viabilizar a busca ativa dos nascidos não registrados e mento de saúde e nutrição, estímulo de hábitos alimentares
aperfeiçoar os indicadores para subsidiar políticas públicas. saudáveis com o objetivo de erradicar a desnutrição infantil.
- Desenvolver estudo e revisão da legislação para ga- Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e
rantir o acesso do cidadão ao registro civil de nascimento Combate à Fome; Ministério da Educação; Ministério da Saúde
em todo o território nacional. Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Com-
- Realizar estudo de sustentabilidade do serviço nota- panhia Nacional de Abastecimento (CONAB)
rial e de registro no País.
- Desenvolver a padronização do registro civil (certi- c) Fortalecer a agricultura familiar e camponesa no de-
dão de nascimento, de casamento e de óbito) em território senvolvimento de ações específicas que promovam a ge-
nacional. ração de renda no campo e o aumento da produção de
- Garantir a emissão gratuita de Registro Geral (RG) e alimentos agroecológicos para o autoconsumo e para o
Cadastro de Pessoa Física (CPF) aos reconhecidamente po- mercado local.
bres. Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário;
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
97
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
g) Realizar pesquisas científicas que promovam ganhos e) Assegurar às comunidades quilombolas a posse dos
de produtividade na agricultura familiar e assegurar esto- seus territórios, acelerando a identificação, o reconheci-
ques reguladores. mento, a demarcação e a titulação desses territórios, res-
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e peitando e preservando os sítios de alto valor simbólico e
Combate à Fome; Ministério do Desenvolvimento Agrário; histórico.
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro-
Parceiros: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária moção da Igualdade Racial da Presidência da
(Embrapa); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal República; Ministério da Cultura; Ministério do Desen-
de Nível Superior (Capes); Conselho Nacional de Desenvol- volvimento Agrário
vimento Científico e Tecnológico (CNPq) Parceiro: Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA) Recomendações:
98
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Recomenda-se ao Supremo Tribunal Federal que a k) Garantir as condições para a realização de acampa-
ADIN interposta contra o Decreto seja julgada improce- mentos ciganos em todo o território nacional, visando à
dente. preservação de suas tradições, práticas e patrimônio cul-
- Recomenda-se ao Poder Judiciário celeridade nos jul- tural.
gamentos das demarcações, em consonância com o Decre- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
to nº 4.887/2003, o art. 68 do ADCT e a Convenção 169 OIT. nos da Presidência da República; Ministério das Cidades
- Recomenda-se ao Poder Judiciário se manifestar a fa- Parceiros: Secretaria de Relações Institucionais da Pre-
vor da constitucionalidade do Decreto nº 4.887/2003. sidência da República; Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República
f) Garantir o acesso à terra às populações ribeirinhas, Recomendação: Recomenda-se aos municípios e Dis-
varzanteiras e pescadoras, assegurando acesso aos recur- trito Federal que em seus planos diretores contemplem
sos naturais que tradicionalmente utilizam para sua repro- áreas para os acampamentos ciganos.
dução física, cultural e econômica.
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Objetivo estratégico IV:
Ministério do Meio Ambiente Ampliação do acesso universal a um sistema de saúde
Parceiro: Ministério da Pesca e Aquicultura de qualidade.
g) Garantir que nos programas habitacionais do Go- Ações programáticas:
verno sejam priorizadas as populações de baixa renda, a a) Expandir e consolidar programas de serviços básicos
população em situação de rua e grupos sociais em situação de saúde e de atendimento domiciliar para a população
de vulnerabilidade no espaço urbano e rural, considerando de baixa renda, com enfoque na prevenção e diagnóstico
os princípios da moradia digna, do desenho universal e os prévio de doenças e deficiências, com apoio diferenciado
critérios de acessibilidade nos projetos. às pessoas idosas, indígenas, negros e comunidades qui-
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do lombolas, pessoas com deficiência, pessoas em situação de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome Parceiros: Casa
rua, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, crian-
Civil da Presidência da República; Secretaria Especial de Po-
ças e adolescentes, mulheres, pescadores artesanais e po-
líticas para as Mulheres da Presidência da República
pulação de baixa renda.
Recomendação: Recomenda-se a facilitação do acesso
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
a subsídios e créditos habitacionais para famílias de baixa
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidên-
renda, priorizando o cadastro de mulheres a partir dos da-
cia da República; Secretaria Especial de Políticas para as
dos do Cadastro Único.
Mulheres da Presidência da República; Ministério da Pesca
e Aquicultura
h) Promover a destinação das glebas e edifícios vazios
ou subutilizados pertencentes à União, para a população Recomendação: Recomendam-se aos estados, Distrito
de baixa renda, reduzindo o déficit habitacional. Federal e municípios a ampla divulgação e implementação
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do da Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde.
Planejamento, Orçamento e Gestão
Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito b) Criar programas de pesquisa e divulgação sobre tra-
Federal e municípios o planejamento de ações de combate tamentos alternativos à medicina tradicional no sistema de
ao déficit habitacional. saúde.
Responsável: Ministério da Saúde
i) Estabelecer que a garantia da qualidade de abrigos e Parceiros: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-
albergues, bem como seu caráter inclusivo e de resgate da soal de Nível Superior (Capes); Conselho Nacional de De-
cidadania à população em situação de rua, estejam entre senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
os critérios de concessão de recursos para novas constru- c) Reformular o marco regulatório dos planos de saú-
ções e manutenção dos existentes. de, de modo a diminuir os custos para a pessoa idosa e
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do fortalecer o pacto intergeracional, estimulando a adoção
Desenvolvimento Social e Combate à Fome de medidas de capitalização para gastos futuros pelos pla-
nos de saúde.
j) Apoiar o monitoramento de políticas de habitação de Responsável: Ministério da Saúde
interesse social pelos conselhos municipais de habitação, Parceiros: Ministério da Justiça; Agência Nacional de
garantindo às cooperativas e associações habitacionais Saúde Suplementar
acesso às informações.
Responsável: Ministério das Cidades d) Reconhecer as parteiras como agentes comunitárias
Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi- de saúde.
dência da República Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
Recomendação: Recomenda-se aos conselhos esta- de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
duais e municipais que monitorem os projetos habitacio-
nais implantados nos estados, Distrito Federal e municípios.
99
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
e) Aperfeiçoar o programa de saúde para adolescentes l) Ampliar a oferta de medicamentos de uso contínuo,
especificamente quanto à saúde de gênero, à educação se- especiais e excepcionais para a pessoa idosa.
xual e reprodutiva e à saúde mental. Responsável: Ministério da Saúde
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial m) Realizar campanhas de diagnóstico precoce e
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; tratamento adequado às pessoas que vivem com HIV/
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da AIDS para evitar o estágio grave da doença e prevenir
República sua expansão e disseminação. Responsável: Ministério da
Saúde
f) Criar campanhas e material técnico, instrucional e Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito
educativo sobre planejamento reprodutivo, que respeite Federal e municípios a ampliação de casas de apoio para
os direitos sexuais e direitos reprodutivos, contemplando pessoas que vivem com HIV/AIDS e residências acolhedo-
a elaboração de materiais específicos para a população jo- ras, que admitam a proximidade com sua família.
vem e adolescente e pessoas com deficiência.
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial n) Proporcionar às pessoas que vivem com HIV/AIDS
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; programas e atenção no âmbito da saúde sexual e repro-
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da dutiva.
República Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
Parceiro: Secretaria-Geral da Presidência da República/ de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
Secretaria Nacional de Juventude
o) Capacitar os agentes comunitários de saúde que
g) Estimular programas de atenção integral à saúde das realizam a triagem e a captação nas hemorredes para pra-
mulheres, considerando suas especificidades étnico-raciais, ticarem abordagens sem preconceito e sem discriminação.
geracionais, regionais, de orientação sexual, de pessoa com Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
deficiência, priorizando as moradoras do campo, da flores- dos Direitos Humanos da Presidência da República
ta e em situação de rua.
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
p) Garantir o acompanhamento multiprofissional a
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
pessoas transexuais que fazem parte do processo transe-
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
xualizador no Sistema Único de Saúde, e de suas famílias.
Racial da Presidência da República; Ministério do Desenvol-
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
vimento Social e Combate à Fome
dos Direitos Humanos da Presidência da República
h) Ampliar e disseminar políticas de saúde pré e neona-
q) Apoiar o acesso a programas de saúde preventiva e
tal, com inclusão de campanhas educacionais de esclareci-
mento, visando à prevenção do surgimento ou do agrava- de proteção à saúde para profissionais do sexo.
mento de deficiências. Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da r) Apoiar a implementação de espaços essenciais para
República higiene pessoal e centros de referência para a população
Parceiro: Secretaria Especial de Políticas de Promoção em situação de rua.
da Igualdade Racial da Presidência da República Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
nos da Presidência da República; Ministério do Desenvolvi-
i) Expandir a assistência pré-natal e pós-natal por meio mento Social e Combate à Fome
de programas de visitas domiciliares para acompanhamen- Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito
to das crianças na primeira infância. Federal e municípios a criação de comitês de acompanha-
Responsável: Ministério da Saúde mento da implementação das políticas públicas voltadas à
população em situação de rua.
j) Apoiar e financiar a realização de pesquisas e inter-
venções sobre a mortalidade materna, contemplando o re- s) Investir na Política de Reforma Psiquiátrica fomen-
corte étnico-racial e regional. tando programas de tratamentos substitutivos à interna-
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial ção, que garantam às pessoas com transtorno mental, a
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República possibilidade de escolha autônoma de tratamento, com
convivência familiar e acesso aos recursos psiquiátricos e
k) Assegurar o acesso a laqueaduras e vasectomias ou farmacológicos.
reversão desses procedimentos no sistema público de saú- Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
de, com garantia de acesso a informações sobre as esco- dos Direitos Humanos da Presidência da República; Minis-
lhas individuais. tério da Cultura
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
100
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
101
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Parceiro: Secretaria-Geral da Presidência da República / j) Elaborar diagnósticos, com base em ações judiciais
Secretaria Nacional de Juventude que envolvam atos de assédio moral, sexual e psicológico,
Recomendação: Recomenda-se a ampliação de cursos com apuração de denúncias de desrespeito aos direitos das
técnicos, tecnológicos e profissionalizantes por meio de incu- trabalhadoras e trabalhadores, visando a orientar ações de
badoras de cooperativas, nos estados e municípios, respeitan- combate à discriminação e abuso nas relações de trabalho.
do a diversidade cultural e regional. Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da 69
e) Integrar as ações de qualificação profissional às ativi- Igualdade Racial da Presidência da República; Secre-
dades produtivas executadas com recursos públicos, como taria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência
forma de garantir a inserção no mercado de trabalho. da República; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
7 – Alguns Estados solicitaram substituir a palavra DECEN- Presidência da República
TE por DIGNO, mas optamos em mantê-la pois é a expressão Recomendação: Recomenda-se ao Ministério Público
utilizada pela OIT e assumida pelo movimento sindical, apesar do Trabalho o levantamento, nos estados, Distrito Federal e
da palavra DECENTE em português não ter a mesma força municípios, de empresas com denúncias de assédio moral
que a palavra DIGNO. e sexual e de outras violações aos Direitos Humanos.
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministé-
rio do Desenvolvimento Social e Combate à Fome k) Garantir a igualdade de direitos das trabalhadoras
e trabalhadores domésticos com os dos demais trabalha-
f) Criar programas de formação e qualificação profissio- dores.
nal para pescadores artesanais, industriais e aquicultores fa- Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Se-
miliares. cretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidên-
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministé- cia da República; Ministério da Previdência Social
rio da Pesca e Aquicultura
l) Promover incentivos a empresas para que empre-
guem os egressos do sistema penitenciário.
g) Combater as desigualdades salariais baseadas em dife- Responsáveis: Ministério da Fazenda; Ministério do Tra-
renças de gênero, raça, etnia e das pessoas com deficiências. balho e Emprego; Ministério da Justiça
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secreta-
ria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República m) Criar cadastro nacional e relatório periódico de em-
Parceiros: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres pregabilidade de egressos do sistema penitenciário.
da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas Responsável: Ministério da Justiça
de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República
n) Garantir os direitos trabalhistas e previdenciários de
h) Acompanhar a implementação do Programa Nacional profissionais do sexo por meio da regulamentação de sua
de Ações Afirmativas, instituído pelo Decreto no 4228/2002, profissão.
no âmbito da administração pública federal, direta e indireta, Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Se-
com vistas à realização de metas percentuais da ocupação de cretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidên-
cargos comissionados pelas mulheres, populações negras e cia da República.
pessoas com deficiências.
Responsáveis: Ministério do Planejamento, Orçamento e Objetivo estratégico VII:
Gestão Combate e prevenção ao trabalho escravo.
Parceiros: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para Ações programáticas:
as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Especial a) Promover a efetivação do Plano Nacional para Erra-
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência dicação do Trabalho Escravo.
da República; Ministério do Trabalho e Emprego Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Se-
Recomendação: Recomenda-se a fiscalização pelo Minis- cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
tério Público do Trabalho (MPT) do cumprimento de cotas de República
contratação de pessoas com deficiência nas empresas, princi- Parceiro: Comissão Nacional de Erradicação do Traba-
palmente nas que são contratadas pelo poder público. lho Escravo (Conatrae)
Recomendação: Recomenda-se o envolvimento do
i) Realizar campanhas envolvendo a sociedade civil or- Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Federal,
ganizada sobre paternidade responsável, bem como ampliar Justiça do Trabalho e Justiça Federal, entre outros.
a licença-paternidade como forma de contribuir para a cor-
responsabilidade e para o combate ao preconceito quanto à b) Apoiar a coordenação e implementação de planos
inserção das mulheres no mercado de trabalho. estaduais, distrital e municipais para erradicação do traba-
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas para as Mu- lho escravo.
lheres da Presidência da República; Ministério do Trabalho e Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Emprego da Presidência da República
102
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Parceiros: Secretaria de Relações Institucionais da Presi- h) Atualizar e divulgar semestralmente o cadastro de em-
dência da República; Comissão Nacional de Erradicação do pregadores que utilizaram mão de obra escrava.
Trabalho Escravo (Conatrae) Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre-
Recomendação: Recomendam-se aos estados e municí- taria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repú-
pios a garantia de orçamento em seus planos plurianuais e blica
elaboração de planos para a erradicação do trabalho escravo. Parceiro: Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho
Escravo (Conatrae)
c) Monitorar e articular o trabalho das comissões esta-
duais, distrital e municipais para a erradicação do trabalho Objetivo estratégico VIII:
escravo. Promoção do direito à cultura, lazer e esporte como ele-
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre- mentos formadores de cidadania.
taria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repú-
blica
Parceiros: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
Ações programáticas:
dência da República; Comissão Nacional de Erradicação do
a) Ampliar programas de cultura que tenham por finali-
Trabalho Escravo (Conatrae)
dade planejar e implementar políticas públicas para a prote-
d) Apoiar a alteração da Constituição Federal para prever ção e promoção da diversidade cultural brasileira, em forma-
a expropriação dos imóveis rurais e urbanos nos quais forem tos acessíveis.
encontrados trabalhadores reduzidos à condição análoga a Responsável: Ministério da Cultura; Ministério do Esporte
de escravos.
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre- b) Elaborar programas e ações de cultura que conside-
taria de Relações Institucionais da Presidência da República; rem os formatos acessíveis, as demandas e as características
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da específicas das diferentes faixas etárias e dos grupos sociais.
República Responsável: Ministério da Cultura
Parceiro: Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho
Escravo (Conatrae) c) Fomentar políticas públicas de esporte e lazer, consi-
Recomendação: Recomenda-se ao Poder Legislativo a derando as diversidades locais, de forma a atender a todas as
aprovação da PEC nº 438/2001, que altera o artigo 243 da faixas etárias e os grupos sociais.
Constituição Federal. Responsável: Ministério do Esporte
e) Identificar periodicamente as atividades produtivas d) Elaborar inventário das línguas faladas no Brasil.
em que há ocorrência de trabalho escravo adulto e infantil. Responsável: Ministério da Cultura
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre-
taria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repú- e) Ampliar e desconcentrar os polos culturais e pontos
blica de cultura para garantir o acesso das populações de regiões
Parceiro: Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho periféricas e de baixa renda.
Escravo (Conatrae) Responsável: Ministério da Cultura
f) Propor marco legal e ações repressivas para erradicar a f) Fomentar políticas públicas de formação em esporte e
intermediação ilegal de mão de obra.
lazer, com foco na intersetorialidade, na ação comunitária na
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre-
intergeracionalidade e na diversidade cultural.
taria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repú-
Responsável: Ministério do Esporte
blica; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igual-
dade Racial
Parceiros: Secretaria de Relações Institucionais da Presi- g) Ampliar o desenvolvimento de programas de produ-
dência da República; Comissão Nacional de Erradicação do ção audiovisual, musical e artesanal dos povos indígenas.
Trabalho Escravo (Conatrae) Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério da Justiça
g) Promover a destinação de recursos do Fundo de Am- h) Assegurar o direito das pessoas com deficiência e em
paro ao Trabalhador (FAT)8 para capacitação técnica e pro- sofrimento mental de participarem da vida cultural em igual-
fissionalizante de trabalhadores rurais e de povos e comu- dade de oportunidade com as demais, e de desenvolver e
nidades tradicionais, como medida preventiva ao trabalho utilizar o seu potencial criativo, artístico e intelectual.
escravo, assim como para implementação de política de rein- Responsáveis: Ministério do Esporte; Ministério da Cultu-
serção social dos libertados da condição de trabalho escravo. ra; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre- da República
taria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repú-
blica i) Fortalecer e ampliar programas que contemplem a
Parceiro: Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho participação dos idosos nas atividades de esporte e lazer.
Escravo (Conatrae)
103
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
104
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
d) Criar sistema nacional de coleta de dados e monitora- e) Desenvolver mecanismos que viabilizem a partici-
mento junto aos municípios, estados e Distrito Federal acerca pação de crianças e adolescentes no processo das confe-
do cumprimento das obrigações da Convenção dos Direitos rências dos direitos, nos conselhos de direitos, bem como
da Criança, da ONU. nas escolas, nos tribunais e nos procedimentos judiciais e
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos administrativos que os afetem.
da Presidência da República Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito Fe- da Presidência da República
deral e municípios a produção periódica de informes relati- Parceiro: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
vos a estes compromissos do Adolescente (CONANDA)
e) Assegurar a opinião das crianças e dos adolescentes f) Estimular a informação às crianças e aos adolescen-
que estiverem capacitados a formular seus próprios juízos, tes sobre seus direitos, por meio de esforços conjuntos na
conforme o disposto no artigo 12 da Convenção sobre os escola, na mídia impressa, na televisão, no rádio e na in-
Direitos da Criança, na formulação das políticas públicas vol- ternet.
tadas para estes segmentos, garantindo sua participação nas Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
conferências dos direitos de crianças e adolescentes. nos da Presidência da República; Ministério da Educação
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República Parceiro: Conselho Nacional dos Objetivo estratégico III:
Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) Proteger e defender os direitos de crianças e adoles-
centes com maior vulnerabilidade.
Objetivo estratégico II:
Consolidar o Sistema de Garantia de Direitos de Crianças Ações programáticas:
e Adolescentes, com o fortalecimento do papel dos Conse- a) Promover ações educativas para erradicação da vio-
lhos Tutelares e de Direitos. lência na família, na escola, nas instituições e na comunida-
de em geral, implementando as recomendações expressas
Ações programáticas:
no Relatório Mundial de Violência contra a Criança, das
a) Apoiar a universalizalização dos Conselhos Tutelares
Nações Unidas.
e de Direitos em todos os municípios e no Distrito Federal,
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
e instituir parâmetros nacionais que orientem o seu funcio-
da Presidência da República
namento.
Parceiro: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República do Adolescente (CONANDA)
Recomendação: Recomenda-se ao Distrito Federal e aos
municípios que implantem Conselhos Tutelares e de Direitos b) Desenvolver programas nas redes de assistência so-
e apoiem sua estruturação e qualificação. cial, de educação e de saúde para o fortalecimento do pa-
pel das famílias em relação ao desenvolvimento infantil e à
b) Implantar escolas de conselhos nos estados e no Dis- disciplina não violenta.
trito Federal, com vistas a apoiar a estruturação e qualificação Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
da ação dos Conselhos Tutelares e de Direitos. nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
da Presidência da República Ministério da Saúde
Parceiro: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA) c) Propor marco legal para a abolição das práticas de
castigos físicos e corporais contra crianças e adolescentes.
c) Apoiar a capacitação dos operadores do sistema de Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
garantia dos direitos para a proteção dos direitos e promo- nos da Presidência da República; Ministério da Justiça
ção do modo de vida das crianças e adolescentes indígenas, Parceiro: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
afrodescendentes e comunidades tradicionais, contemplan- do Adolescente (CONANDA)
do ainda as especificidades da população infanto-juvenil Recomendação: Recomenda-se ao Poder Legislativo
com deficiência. priorização de projeto de lei para a tipificação penal dos
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos castigos físicos e corporais contra crianças e adolescentes.
da Presidência da República; Ministério d) Fomentar a criação
de instâncias especializadas e regionalizadas do sistema de d) Implantar sistema nacional de registro de ocorrência
justiça, de segurança e defensorias públicas para atendimen- de violência escolar, incluindo as práticas de violência gra-
to de crianças e adolescentes vítimas e autores de violência. tuita e reiterada entre estudantes (bullying11), adotando
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos formulário unificado de registro a ser utilizado por todas
da Presidência da República; Ministério da Justiça as escolas.
Recomendação: Recomenda-se ao sistema de justiça, es- Responsável: Ministério da Educação
tados e Distrito Federal a implementação de órgãos especia- Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
lizados e regionalizados para atendimento. dência da República
105
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Recomendação: Recomenda-se ao Legislativo elaborar Parceiro: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
leis específicas nos estados e municípios que introduzam Adolescente (CONANDA)
a obrigatoriedade de programas de prevenção à violência Recomendação: Recomenda-se ao Judiciário que pro-
nas escolas, com destaque para as práticas de bullying. mova ações para identificar e regularizar a situação de crian-
ças e adolescentes que vivem em famílias sem vínculo legal
e) Apoiar iniciativas comunitárias de mobilização de formalizado.
crianças e adolescentes em estratégias preventivas, com
vistas a minimizar sua vulnerabilidade em contextos de k) Criar serviços e aprimorar metodologias para identifi-
violência. cação e localização de crianças e adolescentes desaparecidos.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
nos da Presidência da República; Ministério da Justiça; Mi- da Presidência da República
nistério do Esporte; Ministério do Turismo Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito Fe-
deral, municípios e Conselhos dos Direitos implantarem ser-
f) Extinguir os grandes abrigos e eliminar a longa per- viços de identificação de crianças e adolescentes desapareci-
manência de crianças e adolescentes em abrigamento, dos em Delegacias de Polícia.
adequando os serviços de acolhimento aos parâmetros
aprovados pelo Conanda e Conselho Nacional de Assistên- l) Exigir em todos os projetos financiados pelo Gover-
cia Social. no Federal a adoção de estratégias de não discriminação de
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e crianças e adolescentes em razão de classe, raça, etnia, cren-
Combate à Fome ça, gênero, orientação sexual, identidade de gênero, deficiên-
Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito cia, prática de ato infracional e origem.
Federal, municípios e Conselhos dos Direitos 79 reorienta- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
rem os serviços de acolhimento aos parâmetros aprovados da Presidência da República
pelo Conanda e CNAS.
m) Reforçar e centralizar os mecanismos de coleta e aná-
lise sistemática de dados desagregados da infância e ado-
g) Fortalecer as políticas de apoio às famílias para a re-
lescência, especialmente sobre os grupos em situação de
dução dos índices de abandono e institucionalização, com
vulnerabilidade, historicamente vulnerabilizados, vítimas de
prioridade aos grupos familiares de crianças com deficiên-
discriminação, de abuso e de negligência.
cias.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
da Presidência da República
nos da Presidência da República; Ministério do Desenvolvi-
mento Social e Combate à Fome n) Estruturar uma rede de canais de denúncias (Disques)
de violência contra crianças e adolescentes, integrada aos
h) Ampliar a oferta de programas de famílias acolhedo- Conselhos Tutelares.
ras para crianças e adolescentes em situação de violência, Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
com o objetivo de garantir que esta seja a única opção para da Presidência da República
crianças retiradas do convívio com sua família de origem na
primeira infância. o) Estabelecer instrumentos para combater a discrimina-
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e ção religiosa sofrida por crianças e adolescentes. Responsá-
Combate à Fome veis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
Recomendação: Recomenda-se aos municípios e Con- da República
selhos dos Direitos implementarem estes programas, bem
como ao Judiciário a priorização desta forma de acolhi- Objetivo estratégico IV:
mento em relação ao abrigamento institucional. Enfrentamento da violência sexual contra crianças e ado-
lescentes.
i) Estruturar programas de moradia coletivas para ado-
lescentes e jovens egressos de abrigos institucionais. Ações programáticas:
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e a) Revisar o Plano Nacional de Enfrentamento à Vio-
Combate à Fome lência Sexual contra Crianças e Adolescentes, em consonân-
Recomendação: Recomenda-se aos municípios e Con- cia com as recomendações do III Congresso Mundial sobre o
selhos dos Direitos implementarem estes programas no tema.
âmbito de sua atuação. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República
j) Fomentar a adoção legal, por meio de campanhas Parceiros: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
educativas, em consonância com o ECA e com acordos in- dência da República; Ministério das Comunicações; Ministé-
ternacionais. rio da Ciência e Tecnologia
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- Recomendações: Recomenda-se aos municípios estru-
nos da Presidência da República; Ministério das Relações turar redes no enfrentamento da violência sexual contra
Exteriores crianças e adolescentes, incluindo as regiões de fronteira.
106
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
b) Ampliar o acesso e qualificar os programas especia- Parceiros: Secretaria de Relações Institucionais da Pre-
lizados em saúde, educação e assistência social, no atendi- sidência da República; Ministério das Comunicações; Mi-
mento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual nistério da Ciência e Tecnologia Recomendações:
e de suas famílias - Recomenda-se ao Ministério Público definir compe-
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Edu- tências de sua atuação na investigação de crimes na in-
cação; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à ternet.
Fome; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presi- - Recomenda-se aos estados e municípios implantar
dência da República programas educativos na rede escolar e de cultura, para
Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi- navegação segura na internet de crianças, adolescentes,
dência da República famílias e educadores.
Recomendação: Recomenda-se aos municípios imple-
mentar serviços e programas especializados no atendi- Objetivo estratégico V:
mento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual Garantir o atendimento especializado a crianças e ado-
e suas famílias, bem como a seus agressores. lescentes em sofrimento psíquico e dependência química.
107
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
108
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Recomendação: Recomenda-se aos estados e Distrito c) Elaborar programas de combate ao racismo institu-
Federal a desativação das unidades de privação de liber- cional e estrutural, implementando normas administrativas e
dade inadequadas e a construção de novas unidades em legislação nacional e internacional.
consonância com parâmetros do Sinase. Responsável: Secretaria Especial de Políticas de Promo-
ção da Igualdade Racial da Presidência da República
j) Desenvolver campanhas de informação sobre o ado-
lescente em conflito com a lei, defendendo a não redução d) Realizar levantamento de informações para produ-
da maioridade penal. ção de relatórios periódicos de acompanhamento das po-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos líticas contra a discriminação racial, contendo, entre outras,
da Presidência da República informações sobre inclusão no sistema de ensino (básico e
Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi- superior), inclusão no mercado de trabalho, assistência inte-
dência da República grada à saúde, número de violações registradas e apuradas,
Recomendação: Recomenda-se ao Legislativo a rejei- recorrências de violações, e dados populacionais e de renda.
ção dos projetos de lei favoráveis à redução da maioridade Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro-
penal ou que retirem direitos já assegurados aos adoles- moção da Igualdade Racial da Presidência da República;
centes em conflito com a lei. Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República
k) Estabelecer parâmetros nacionais para a apuração Parceiros: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
administrativa de possíveis violações dos direitos e casos (Ipea); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
de tortura em adolescentes privados de liberdade, por
meio de um sistema independente e de tramitação ágil. e) Analisar periodicamente os indicadores que apontam
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos desigualdades visando à formulação e implementação de
da Presidência da República políticas públicas e afirmativas que valorizem a promoção
Parceiro: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e da igualdade racial.
do Adolescente (CONANDA) Recomendações: Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro-
moção da Igualdade Racial da Presidência da República;
- Recomenda-se aos gestores estaduais do sistema so-
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
cioeducativo a participação nesta formulação, bem como
República; Ministério da Educação; Ministério do Trabalho e
sua adesão na implementação destas medidas.
Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
- Recomenda-se aos estados e ao Distrito Federal
à Fome; Ministério da Saúde
implantar corregedorias no sistema socioeducativo, com
Parceiros: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
vistas à investigação e à punição dos agentes do Estado
(IPEA); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
agressores de crianças e adolescentes.
f) Fortalecer a integração das políticas públicas em to-
Diretriz 9: das as comunidades remanescentes de quilombos localiza-
Combate às desigualdades estruturais. das no território brasileiro.
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promo-
Objetivo estratégico I: ção da Igualdade Racial da Presidência da República; Minis-
Igualdade e proteção dos direitos das populações ne- tério da Cultura
gras, historicamente afetadas pela discriminação e outras Parceiro: Fundação Cultural Palmares (FCP)
formas de intolerância.
c) Aplicar os saberes dos povos indígenas e das comu-
Ações programáticas: nidades tradicionais na elaboração de políticas públicas, res-
a) Apoiar, junto ao Poder Legislativo, a aprovação do peitando a Convenção 169 da OIT. Responsável: Ministério
Estatuto da Igualdade Racial. da Justiça
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro- Parceiro: Fundação Nacional do índio (Funai)
moção da Igualdade Racial da Presidência da
República; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da d) Apoiar projetos de lei para a revisão do Estatuto do
Presidência da República Índio com base no texto constitucional de 1988 e na Con-
venção 169 da OIT.
b) Promover ações articuladas entre as políticas de Responsável: Ministério da Justiça
educação, cultura, saúde e geração de emprego e renda, vi- Parceiro: Fundação Nacional do índio (Funai)
sando a incidir diretamente na qualidade de vida da popu-
lação negra e no combate à violência racial. Responsáveis: e) Elaborar relatório periódico de acompanhamento das
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade políticas indigenistas que contemple dados sobre os proces-
Racial da Presidência da República; Ministério da Educação; sos de demarcações das terras indígenas, dados sobre in-
Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desen- trusões e conflitos territoriais, inclusão no sistema de ensino
volvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde (básico e superior), assistência integrada à saúde, número de
Parceiros: Ministério da Cultura; Secretaria de Relações violações registradas e apuradas, recorrências de violações e
Institucionais da Presidência da República dados populacionais.
109
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
110
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
b) Incentivar e promover a realização de atividades de va- d) Desenvolver ações que contribuam para o protagonis-
lorização da cultura das comunidades tradicionais, entre elas mo da pessoa idosa na escola, possibilitando sua participação
ribeirinhos, extrativistas, quebradeiras-de-coco, pescadores ativa na construção de uma nova percepção intergeracional.
artesanais, seringueiros, geraizeiros, varzanteiros, pantanei- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
ros, comunidades de fundo de pasto, caiçaras, faxinalenses. da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério do De- Parceiros: Ministério da Educação; Conselho Nacional
senvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério do Es- dos Direitos do Idoso (CNDI)
porte
Parceiros: Ministério da Pesca e Aquicultura; Ministério e) Potencializar ações com ênfase no diálogo intergera-
do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Meio Ambiente; cional, valorizando o conhecimento acumulado das pessoas
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidên- idosas.
cia da República Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República
c) Fomentar a formação e capacitação em Direitos Hu- Parceiro: Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI)
manos, como forma de resgatar a autoestima e a dignidade f) Desenvolver ações intersetoriais para capacitação con-
das comunidades tradicionais, rurais e urbanas. tinuada de cuidadores de pessoas idosas.
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promo- Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Cultura
ção da Igualdade Racial da Presidência da República; Minis- Parceiros: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
tério da Justiça; Ministério da Cultura Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento So-
Parceiros: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da cial e Combate à Fome; Conselho Nacional dos Direitos do
Presidência da República; Comitê Nacional de Educação em Idoso (CNDI); Ministério do Esporte
Direitos Humanos
g) Desenvolver política de humanização do atendimento
d) Apoiar políticas de acesso a direitos para a população ao idoso, principalmente em instituições de longa perma-
cigana, valorizando seus conhecimentos e cultura.
nência.
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Combate à Fome
da Presidência da República; Ministério da Cultura
Parceiros: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social e Com-
Presidência da República; Ministério da Cultura
bate à Fome; Ministério da Saúde; Conselho Nacional dos Di-
e) Apoiar e valorizar a associação das mulheres quebra-
reitos do Idoso (CNDI); Ministério do Esporte
deiras de coco, protegendo e promovendo a continuidade
de seu trabalho extrativista.
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e h) Elaborar programas de capacitação para os operado-
Combate à Fome res dos direitos da pessoa idosa.
Parceiros: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da Re- da Presidência da República.
pública Parceiros: Ministério da Saúde, Ministério da Educação;
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
f) Realizar relatórios periódicos de acompanhamento das Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI)
políticas direcionadas às populações e comunidades tradi-
cionais, que contenham, entre outras, informações sobre po- i) Realizar relatório periódico de acompanhamento das
pulação estimada, assistência integrada à saúde, número de políticas para as pessoas idosas que contenha, entre outras,
violações registradas e apuradas, recorrências de violações, as seguintes informações: número de Centros Integrados de
lideranças ameaçadas, dados sobre acesso à moradia, terra e Atenção e Prevenção à Violência; participação dos centros no
território e conflitos existentes. financiamento público; número de profissionais capacitados
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; nos centros; pessoas idosas atendidas pelos centros; inclu-
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade são nos sistema de atendimento; proporção dos casos com
Racial da Presidência da República; Secretaria Especial dos resoluções atendidas; taxa de reincidência nos centros; pes-
Direitos Humanos da Presidência da República soas idosas seguradas e aposentadas; famílias providas por
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos pessoas idosas; pessoas idosas em abrigos; pessoas idosas
da Presidência da República; Ministério da Cultura em situação de rua; principal fonte de renda; pessoas idosas
Parceiro: Conselho Nacional dos Direitos do Idoso atendidas, internadas e mortas por violências e maus-tratos.
(CNDI) Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério
c) Fomentar programas de voluntariado de pessoas ido- da Previdência Social; Ministério da Justiça; Ministério do De-
sas, visando valorizar e reconhecer sua contribuição para o senvolvimento Social e Combate à Fome
desenvolvimento e bem-estar da comunidade. Parceiros: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos (IPEA); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
da Presidência da República Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI)
Parceiro: Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI)
111
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
112
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
e) Desenvolver meios para garantir o uso do nome so- b) Promover campanhas de divulgação sobre a diversi-
cial de travestis e transexuais. dade religiosa para disseminar uma cultura da paz e de res-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos peito às diferentes crenças.
da Presidência da República Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi- da Presidência da República; Ministério da
dência da República Cultura; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito Igualdade Racial da Presidência da República
Federal e municípios a promoção de ações que visam a ga- Parceiro: Fundação Cultural Palmares (FCP)
rantir o uso do nome social de travestis e transexuais.
c) Desenvolver mecanismos para impedir a ostentação
f) Acrescentar um campo para informações sobre a de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da
identidade de gênero dos pacientes nos prontuários do União.
sistema de saúde. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsável: Ministério da Saúde da Presidência da República
Recomendação: Recomenda-se o respeito à laicidade
g) Fomentar a criação de redes de proteção dos Direi- pelos Poderes Judiciário e Legislativo, e Ministério Público,
tos Humanos do segmento LGBT, principalmente a partir bem como dos órgãos estatais, estaduais, municipais e dis-
do apoio à implementação de Centros de Referência em tritais.
Direitos Humanos de Prevenção e Combate à Homofo-
bia16 e de núcleos de pesquisa e promoção da cidadania d) Estabelecer o ensino da diversidade e história das reli-
do segmento LGBT em universidades públicas. giões, inclusive as derivadas de matriz africana, na rede públi-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos ca de ensino, com ênfase no reconhecimento das diferenças
da Presidência da República culturais, promoção da tolerância e na afirmação da laicidade
Parceiro: Comitê Nacional de Educação em Direitos do Estado.
Humanos Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Espe-
cial dos Direitos Humanos da Presidência da República
h) Realizar relatório periódico de acompanhamento
Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Vio-
das políticas contra discriminação à população LGBT, que
lência
contenha, entre outras, informações sobre inclusão no
mercado de trabalho, assistência à saúde integral, número
Por muito tempo, alguns segmentos da militância dos
de violações registradas e apuradas, recorrências de viola-
Direitos Humanos mantiveram-se distantes do debate so-
ções, dados populacionais, de renda e conjugais.
bre as políticas públicas de segurança no Brasil. No processo
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
de consolidação da democracia, por diferentes razões, mo-
da Presidência da República vimentos sociais e entidades manifestaram dificuldade no
Parceiros: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada tratamento do tema. Na base dessa dificuldade estavam a
(IPEA); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); memória dos enfrentamentos com o aparato repressivo ao
Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Ministério do longo de duas décadas de regime ditatorial, a postura violen-
Trabalho e Emprego ta vigente, muitas vezes, em órgãos de segurança pública, a
percepção do crime e da violência como meros subprodutos
Objetivo estratégico VI: de uma ordem social injusta, a ser transformada em seus pró-
Respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e ga- prios fundamentos.
rantia da laicidade do Estado. Distanciamento análogo ocorreu na Universidade, que,
com poucas exceções, não se debruçou sobre o modelo de
Ações programáticas: polícia legado ou sobre os desafios da segurança pública. As
a) Instituir mecanismos que assegurem o livre exercício polícias brasileiras, nos termos de sua tradição institucional,
das diversas práticas religiosas, assegurando a proteção do pouco aproveitaram da reflexão teórica e dos aportes ofere-
seu espaço físico e coibindo manifestações de intolerância cidos pela criminologia moderna e demais ciências sociais,
religiosa. já disponíveis há algumas décadas às polícias e aos gestores
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Cul- de países desenvolvidos. A cultura arraigada de rejeitar as
tura; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidên- evidências acumuladas pela pesquisa e pela experiência de
cia da República reforma das polícias no mundo era a mesma que expressava
Parceiro: Fundação Cultural Palmares (FCP) nostalgia de um passado de ausência de garantias individuais
Recomendação: Recomenda-se aos estados e ao Dis- e que identificava na ideia dos Direitos Humanos não a mais
trito Federal a criação de Conselhos para a diversidade re- generosa entre as promessas construídas pela modernidade,
ligiosa e espaços de debate e convivência ecumênica para mas uma verdadeira ameaça.
fomentar o diálogo entre estudiosos e praticantes de dife- Estavam postas as condições históricas, políticas e cul-
rentes religiões. turais para que houvesse um fosso aparentemente intransponí-
vel entre os temas da segurança pública e os Direitos Humanos.
113
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Nos últimos anos, contudo, esse processo de estranha- Com ênfase na erradicação da tortura e na redução da
mento mútuo passou a ser questionado. De um lado, articula- letalidade policial e carcerária, confere atenção especial ao
ções na sociedade civil assumiram o desafio de repensar a se- estabelecimento de procedimentos operacionais padroni-
gurança pública a partir de diálogos com especialistas na área, zados, que previnam as ocorrências de abuso de autorida-
policiais e gestores. De outro, começaram a ser implantadas de e de violência institucional, e confiram maior segurança
as primeiras políticas públicas buscando caminhos alternativos a policiais e agentes penitenciários. Reafirma a necessidade
de redução do crime e da violência a partir de projetos centra- de criação de ouvidorias independentes em âmbito federal
dos na prevenção e influenciados pela cultura de paz. e, inspirado em tendências mais modernas de policiamen-
A proposição do Sistema Único de Segurança Pública to, estimula as iniciativas orientadas por resultados, o de-
(SUSP); a modernização de parte das nossas estruturas poli- senvolvimento do policiamento comunitário e voltado para
ciais e a aprovação de novos regimentos e leis orgânicas das a solução de problemas, elencando medidas que promo-
polícias; a consciência crescente de que políticas de seguran- vam a valorização dos trabalhadores em segurança pública.
ça pública são realidades mais amplas e complexas do que as Contempla, ainda, a criação de sistema federal que integre
iniciativas possíveis às chamadas “forças da segurança”; o sur- os atuais sistemas de proteção a vítimas e testemunhas,
gimento de nova geração de policiais, disposta a repensar prá- defensores de Direitos Humanos e crianças e adolescentes
ticas e dogmas, e, sobretudo, a cobrança da opinião pública e ameaçados de morte.
a maior fiscalização sobre o Estado, resultante do processo de Também como diretriz, o programa propõe profunda
democratização, têm tornado possível a construção de uma reforma da Lei de Execução Penal, que introduza garantias
agenda de reformas na área. fundamentais e novos regramentos para superar as prá-
O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidada- ticas abusivas hoje comuns. E trata as penas privativas de
nia (Pronasci) e os investimentos já realizados pelo governo liberdade como última alternativa, propondo a redução da
federal na montagem de uma Rede Nacional de Altos Estudos demanda por encarceramento e estimulando novas formas
em Segurança Pública (Renaesp), que têm beneficiado milha- de tratamento dos conflitos, como as sugeridas pelo meca-
res de policiais em cada Estado, simbolizam, ao lado do pro- nismo da Justiça Restaurativa.
cesso de debates da 1ª Conferência Nacional de Segurança Reafirma-se a centralidade do direito universal de
Pública, acúmulos históricos significativos, que apontam para acesso à Justiça, com a possibilidade de acesso aos tribu-
novas e mais importantes mudanças. nais por toda a população, com o fortalecimento das de-
As propostas elencadas neste eixo orientador do Progra- fensorias públicas e a modernização da gestão judicial, de
ma Nacional de Direitos Humanos se articulam com tal pro- modo a garantir respostas judiciais mais céleres e eficazes.
cesso histórico de transformação e exigem muito mais do que Destacam-se, ainda, o direito de acesso à Justiça em maté-
já foi alcançado. Para tanto, parte-se do pressuposto de que ria de conflitos agrários e urbanos, e o necessário estímulo
a realidade brasileira segue sendo gravemente marcada pela aos meios de soluções pacíficas de controvérsias.
violência e por severos impasses estruturais na área da segu- O programa apresenta neste eixo, fundamentalmente,
rança pública. propostas para que o Poder Público se aperfeiçoe no de-
Problemas antigos, como a ausência de diagnósticos, de senvolvimento de políticas públicas de prevenção ao cri-
planejamento e de definição formal de metas; a desvaloriza- me e à violência, reforçando a noção de acesso universal
ção profissional dos policiais e dos agentes penitenciários; o à Justiça como direito fundamental, e sustentando que a
desperdício de recursos e a consagração de privilégios den- democracia, os processos de participação e transparência,
tro das instituições; as práticas de abuso de autoridade e de aliados ao uso de ferramentas científicas e à profissionali-
violência policial contra grupos vulneráveis e a corrupção dos zação das instituições e trabalhadores da segurança, assi-
agentes públicos da segurança demandam reformas tão ur- nalam os roteiros mais promissores para que o Brasil possa
gentes quanto profundas. avançar no caminho da paz pública.
As propostas sistematizadas no Programa Nacional de Di-
reitos Humanos 3, agregam, nesse contexto, as contribuições Diretriz 11:
oferecidas pelo processo da 11ª Conferência Nacional dos Democratização e modernização do sistema de segu-
Direitos Humanos e avançam também sobre temas que não rança pública
foram objeto de debate, trazendo para o programa parte do
acúmulo crítico que tem sido proposto ao país pelos especia- Objetivo estratégico I:
listas e pesquisadores na área. Modernização do marco normativo do sistema de se-
Em linhas gerais, o programa aponta para a necessidade gurança pública.
de ampla reforma no modelo de polícia e propõe o aprofun-
damento do debate sobre a implantação do ciclo completo de Ações programáticas:
policiamento às corporações estaduais. Prioriza transparência a) Propor alteração do texto constitucional de modo a
e participação popular, instando ao aperfeiçoamento das esta- considerar as polícias militares não mais como forças auxi-
tísticas e à publicação de dados, assim como à reformulação liares do Exército, mantendo-as apenas como força reserva.
do Conselho Nacional de Segurança Pública (Conasp). Con- Responsável: Ministério da Justiça
templa a prevenção da violência e da criminalidade como di- Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
retriz, ampliando o controle sobre armas de fogo e indicando dência da República
a necessidade de profissionalização da investigação criminal.
114
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
115
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
d) Realizar pesquisas para qualificação dos estudos so- f) Promover e apoiar a educação continuada dos pro-
bre técnicas de investigação criminal. Responsável: Ministé- fissionais da perícia oficial, em todas as áreas, para a forma-
rio da Justiça ção técnica e em Direitos Humanos.
Recomendação geral: Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
Recomenda-se aos estados e ao Distrito Federal a qua- dos Direitos Humanos da Presidência da República
lificação específica dos policiais civis em caso de transferên- Parceiros: Ministério da Educação; Comitê Nacional de
cia para delegacias especializadas, bem como a oferta per- Educação em Direitos Humanos
manente de cursos sobre preservação e análise de local de Recomendação: Recomenda-se aos estados e ao Dis-
crime, entrevistas, interrogatórios e análise de informações. trito Federal a realização de convênios com universidades
e centros de treinamento e a instituição de programas de
Objetivo estratégico III: educação continuada para os peritos oficiais, alicerçada
Produção de prova pericial com celeridade e procedi- nos Direitos Humanos e nos procedimentos adotados pe-
mento padronizado. los organismos internacionais.
Recomendações gerais:
Ações programáticas: - Recomenda-se aos estados e ao Distrito Federal a
a) Propor regulamentação da perícia oficial. ampliação das unidades de perícias para o interior, garan-
Responsável: Ministério da Justiça tindo o atendimento universal da perícia oficial, principal-
Parceiro: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da mente para exames de corpo de delito e de local de crime.
Presidência da República - Recomenda-se aos estados e ao Distrito Federal a
adoção de medidas que assegurem a preservação do local
b) Propor projeto de lei para proporcionar autonomia do crime para a produção de prova pericial.
administrativa, financeira, orçamentária e funcional dos ór- - Recomendam-se aos estados e ao Distrito Federal a
gãos periciais federais. elaboração de estudos de reengenharia e gestão das uni-
Responsável: Ministério da Justiça Recomendações: dades periciais, a garantia de recursos materiais e humanos
- Recomenda-se aos estados e ao Distrito Federal a ela- para a pronta realização dos laudos periciais e garantia da
boração de leis que garantam dotação orçamentária espe- continuidade e não prejuízo dos serviços e a formulação
cífica e autonomia administrativa financeira e funcional aos de regulamentos e código de ética para a atividade dos
órgãos periciais. peritos oficiais.
- Recomenda-se aos estados e ao Distrito Federal a
criação de planos de carreira e a consequente estruturação Objetivo estratégico IV:
das carreiras periciais, bem como a exigência de dedicação Fortalecimento dos instrumentos de prevenção à vio-
exclusiva dos profissionais da perícia oficial. lência.
e) Fomentar parcerias com universidades para pesquisa c) Fortalecer mecanismos que possibilitem a efetiva fis-
e desenvolvimento de novas metodologias a serem implan- calização de empresas de segurança privada e a investiga-
tadas nas unidades periciais. ção e responsabilização de policiais que delas participem
Responsável: Ministério da Justiça de forma direta ou indireta.
Parceiros: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien- Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
tífico e Tecnológico (CNPq); Secretaria Especial dos Direitos dos Direitos Humanos da Presidência da República
Humanos da Presidência da República
116
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
d) Desenvolver normas de conduta e fiscalização dos República; Secretaria Especial de Políticas para as Mu-
serviços de segurança privados que atuam na área rural. lheres da Presidência da República; Secretaria
Responsável: Ministério da Justiça Recomendação: Recomenda-se ao Poder Judiciário a
Recomendação: Recomenda-se aos estados e ao Dis- criação de varas especializadas para atendimento a casos
trito Federal a capacitação dos profissionais do sistema de de discriminação e violência contra populações historica-
segurança pública em temas relativos à violência no cam- mente discriminadas.
po.
c) Desenvolver e implantar sistema nacional integrado
e) Elaborar diretrizes para atividades de policiamento das redes de saúde, de assistência social e educação para
comunitário e policiamento orientado para a solução de a notificação de violência.
problemas, bem como catalogar e divulgar boas práticas Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Hu-
dessas atividades. manos da Presidência da República; Ministério da Saúde;
Responsável: Ministério da Justiça Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
Ministério da Educação; Secretaria Especial de Políticas de
f) Elaborar diretrizes para atuação conjunta entre os ór- Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República
gãos de trânsito e os de segurança pública para reduzir a Parceiros: Secretaria de Relações Institucionais da Pre-
violência no trânsito. sidência da República; Secretaria Especial de Políticas para
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Ci- as Mulheres da Presidência da República
dades Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distri-
Parceiro: Comitê Nacional de Mobilização pela Saúde, to Federal e municípios auxiliar no desenvolvimento e na
Segurança e Paz no Trânsito. implantação do sistema nacional integrado das redes de
saúde, de assistência social e educação para a notificação
g) Realizar debate sobre o atual modelo de repressão e de violência.
estimular a discussão sobre modelos alternativos de trata-
mento do uso e tráfico de drogas, considerando o paradig-
d) Promover campanhas educativas e pesquisas vol-
ma da redução de danos.
tadas à prevenção da violência contra pessoas com defi-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
ciência, idosos, mulheres, indígenas, negros, crianças, ado-
dos Direitos Humanos da Presidência da
lescentes, lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e
República; Gabinete de Segurança Institucional; Minis-
pessoas em situação de rua.
tério da Saúde
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
Parceiro: Ministério da Educação
nos da Presidência da República; Ministério do Desenvol-
Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito
vimento Social e Combate à Fome; Secretaria Especial de
Federal e municípios a criação e o fortalecimento dos con-
selhos que tratam da temática de drogas lícitas e ilícitas, Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência
com a participação paritária da sociedade civil, conforme da República; Secretaria Especial de Políticas para as Mu-
previsto nos pressupostos da Política Nacional sobre Dro- lheres da Presidência da República; Ministério da Justiça;
gas, bem como a inclusão de membros da Defensoria pú- Ministério do Turismo; Ministério do Esporte Parceiros: Mi-
blica estadual e do Ministério Público em seus quadros. nistério da Educação; Ministério da Saúde; Secretaria-Ge-
ral da Presidência da República Recomendações:
Objetivo estratégico V: - Recomenda-se aos estados, Distrito Federal e muni-
Redução da violência motivada por diferenças de gê- cípios a criação de serviços de recebimento e encaminha-
nero, raça ou etnia, idade, orientação sexual e situação de mento de denúncias de violência praticadas contra esses
vulnerabilidade. grupos.
- Recomenda-se aos estados e ao Distrito Federal a
Ações programáticas: criação de unidades policiais especializadas no atendi-
a) Fortalecer a atuação da Polícia Federal no combate e mento de populações historicamente vulneráveis e em si-
na apuração de crimes contra Direitos Humanos. tuação de vulnerabilidade, e de crimes contra os Direitos
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Humanos.
dos Direitos Humanos da Presidência da República
e) Fortalecer unidade especializada em conflitos indí-
b) Garantir aos grupos em situação de vulnerabilidade genas na Polícia Federal e garantir sua atuação conjunta
o conhecimento sobre serviços de atendimento, atividades com a Funai, em especial nos processos conflituosos de
desenvolvidas pelos órgãos e instituições de segurança e demarcação.
mecanismos de denúncia, bem como a forma de acioná Responsável: Ministério da Justiça
-los. Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Pre-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial sidência da República
dos Direitos Humanos da Presidência da Especial de Polí-
ticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da
República 117
117
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
f) Fomentar cursos de qualificação e capacitação so- k) Estabelecer política de prevenção de violência contra
bre aspectos da cultura tradicional dos povos indígenas e a população em situação de rua, incluindo ações de capaci-
sobre legislação indigenista para todas as corporações po- tação de policiais em Direitos Humanos.
liciais, principalmente para as polícias militares e civis espe- Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
cialmente nos estados e municípios em que as aldeias in- dos Direitos Humanos da Presidência da República
dígenas localizadas nas proximidades dos centros urbanos. Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social e
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Combate à Fome; Secretaria de Relações Institucionais da
dos Direitos Humanos da Presidência da República Presidência da República; Comitê Nacional de Educação
Parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social e em Direitos Humanos Recomendações:
Combate à Fome; Fundação Nacional do Índio (Funai) - Recomenda-se aos estados, ao Distrito Federal e aos
municípios a elaboração de programas voltados à seguran-
g) Fortalecer mecanismos para combater a violência ça da população em situação de rua.
contra a população indígena, em especial para as mulheres - Recomenda-se aos municípios o estabelecimento de
indígenas vítimas de casos de violência psicológica, sexual mecanismos que possibilitem supervisionar, identificar e
e assédio moral. receber denúncias sobre casos que envolvam conflitos en-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saú- tre guardas civis e população em situação de rua.
de; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Pre-
sidência da República l) Promover a articulação institucional, em conjunto
Parceiro: Fundação Nacional do Índio (Funai) com a sociedade civil, para implementar o Plano de Ação
Recomendação: Recomenda-se aos estados e ao Dis- para o Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa.
trito Federal o desenvolvimento de programas para orien- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
tação jurídica, de saúde mental e assistência social à popu- nos da Presidência da República; Ministério da Justiça;
lação indígena, em parceria com o Poder Executivo Federal. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
Ministério da Saúde
h) Apoiar a implementação do Pacto Nacional de En-
frentamento à Violência contra as Mulheres18 de forma m) Fomentar a implantação do serviço de recebimento
articulada com os planos estaduais de segurança públi- e encaminhamento de denúncias de violência contra a pes-
ca e em conformidade com a Lei Maria da Penha (Lei nº soa idosa em todas as unidades da federação.
11.340/2006). Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial da Presidência da República
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Hu- dência da República
manos da Presidência da República Recomendação: Recomenda-se aos estados e secre-
Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi- tarias estaduais e municipais responsáveis pela área de
dência da República Recomendações: Direitos Humanos a criação do serviço de recebimento e
- Recomenda-se aos municípios a implementação de encaminhamento de denúncias de violência contra a pes-
serviços de rede de atendimento para enfrentamento da soa idosa.
violência contra mulheres.
- Recomenda-se aos estados e ao Distrito Federal que n) Capacitar profissionais de educação e saúde para
o atendimento de mulheres vítimas de violência seja feito identificar e notificar crimes e casos de violência contra a
preferencialmente por policiais de sexo feminino. pessoa idosa e contra a pessoa com deficiência.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
i) Avaliar o cumprimento da Lei Maria da Penha com nos da Presidência da República; Ministério da Saúde; Mi-
base nos dados sobre tipos de violência, agressor e vítima. nistério da Educação
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República dência da República
Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito
j) Fortalecer ações estratégicas de prevenção à violên- Federal e municípios a capacitação de profissionais de edu-
cia contra jovens negros. cação e saúde para identificar e noticiar casos de violência
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro- e tortura contra a pessoa idosa, a pessoa com deficiência e
moção da Igualdade Racial da Presidência da República; portadores de transtorno mental.
Ministério da Justiça
Parceiros: Ministério do Turismo; Ministério da Educa- o) Implementar ações de promoção da cidadania e Di-
ção; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da reitos Humanos das lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e
Presidência da República; Secretaria-Geral da Presidência travestis (LGBT) com foco na prevenção à violência, garan-
da República tindo redes integradas de atenção.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Vedar a decretação de prisão preventiva em casos que - Recomenda-se aos municípios a capacitação de
envolvam crimes com pena máxima inferior agentes comunitários, capazes de orientar juridicamente a
- Estabelecer o prazo máximo de 81 dias para prisão população quanto às demandas mais usuais de sua comu-
provisória. nidade.
Responsável: Ministério da Justiça - Recomenda-se ao Poder Judiciário que ofereça perio-
Recomendação: Recomenda-se aos estados e ao Distri- dicamente, em linguagem acessível, cursos e palestras ao
to Federal eliminar carceragens em Delegacias de Polícia e público de baixa renda sobre matérias mais recorrentes no
outras unidades policiais. âmbito do Judiciário.
- Recomenda-se ao Ministério Público, Poder Judiciá-
Objetivo estratégico III: rio e Defensorias Públicas a realização de ações conjuntas,
Tratamento adequado de pessoas com transtornos coordenadas e focadas na conscientização e prevenção das
mentais. lides judiciais.
125
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
c) Capacitar lideranças comunitárias sobre instrumen- c) Apoiar a capacitação periódica e constante dos opera-
tos e técnicas de mediação comunitária, incentivando a re- dores do Direito e servidores da Justiça na aplicação dos Direi-
solução de conflitos nas próprias comunidades. tos Humanos na lógica centrada na composição de interesses.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos
dos Direitos Humanos da Presidência da República Direitos Humanos da Presidência da República
Parceiro: Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
dência da República d) Dialogar com o Poder Judiciário para assegurar o efeti-
Recomendação: Recomenda-se aos estados, ao Distri- vo acesso das pessoas com deficiência à justiça, em igualdade
to Federal e aos municípios o incentivo ações e técnicas de de condições com as demais pessoas.
mediação popular de resolução de conflitos. Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos
Direitos Humanos da Presidência da República
d) Incentivar projetos pilotos de Justiça Restaurativa, Recomendação: Recomenda-se ao Poder Judiciário asse-
como forma de analisar seu impacto e sua aplicabilidade gurar o efetivo acesso das pessoas com deficiência à justiça,
no sistema jurídico brasileiro. em igualdade de condições com as demais pessoas.
Responsável: Ministério da Justiça
e) Apoiar os movimentos sociais e a Defensoria Pública
e) Estimular e ampliar experiências voltadas para a so- na obtenção da gratuidade das perícias para as demandas
lução de conflitos por meio da mediação comunitária e dos judiciais individuais e coletivas, e relacionadas a violações de
Centros de Referência em Direitos Humanos, especialmen- Direitos Humanos.
te em áreas de baixo índice de desenvolvimento humano Responsável: Ministério da Justiça
(IDH) e com dificuldades de acesso a serviços públicos. Recomendação: Recomenda-se ao Poder Judiciário isen-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- tar os movimentos sociais e a Defensoria Pública do pagamen-
nos da Presidência da República; Ministério da Justiça to dos honorários periciais, em casos relacionados a violações
Recomendação geral: de Direitos Humanos.
Recomenda-se ao Poder Judiciário a implementação Recomendações gerais:
de estrutura física adequada em todas as suas unidades e a - Recomenda-se ao Poder Judiciário o fortalecimento de
contratação e capacitação de servidores, assistentes sociais iniciativas de juizados itinerantes, especialmente nas regiões
e psicólogos, para atendimento às populações historica- mais afastadas dos centros urbanos.
mente vulneráveis ou em situação de vulnerabilidade. - Recomenda-se ao Poder Judiciário, Ministério Público e
Defensoria Pública assegurar que seus membros fixem resi-
Objetivo estratégico IV: dência no município em que atuam.
Garantia de acesso universal ao sistema judiciário.
Objetivo estratégico V:
Ações programáticas: Modernização da gestão e agilização do funcionamento
a) Propor a ampliação da atuação da Defensoria Públi- do sistema de justiça.
ca da União.
Responsável: Ministério da Justiça Ações programáticas:
Recomendação: Recomenda-se aos estados e ao Dis- a) Propor legislação de revisão e modernização dos servi-
trito Federal que as Defensorias Públicas sejam dotadas de ços notariais e de registro. Responsável: Ministério da Justiça
recursos orçamentários, materiais e humanos suficientes Recomendações:
para o exercício de suas atribuições em todas as comarcas - Recomenda-se ao Poder Judiciário a ampliação do aces-
e que sejam criados e fortalecidos núcleos especializados so e maior agilidade na prestação jurisdicional, mediante infor-
de Direitos Humanos em sua estrutura. matização e desenvolvimento de programas de qualificação
de seus servidores.
b) Fomentar parcerias entre municípios e entidades - Recomenda-se ao Poder Judiciário expandir iniciativas de
de proteção aos Direitos Humanos para atendimento da processos eletrônicos, incentivando convênios de cooperação,
população com dificuldade de acesso ao sistema de justi- para que informações entre órgãos públicos sejam repassadas
ça, com base no mapeamento das principais demandas da por meios eletrônicos.
população local e no estabelecimento de estratégias para - Recomenda-se ao Poder Judiciário, por meio dos Tribu-
atendimento e ações educativas e informativas. nais de Justiça, garantir que tabeliães e oficiais de registros de
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial cartórios de notas e registros encaminhem relatórios anuais
dos Direitos Humanos da Presidência da República para as Corregedorias-Gerais da Justiça dos estados, com da-
Parceiro: Comitê Nacional de Educação em Direitos dos sobre os recursos que entraram em cada estabelecimento
Humanos a título de compensação pelos serviços prestados ao público
Recomendação: Recomenda-se ao Poder Judiciário a (emolumentos).
promoção de cursos regulares de formação dos servidores - Recomenda-se às Defensorias Públicas o desenvolvimen-
da Justiça em Direitos Humanos, com recortes de gênero to de sistemas informatizados para a modernização da gestão.
e raça, que contemplem as demandas específicas dos seg- - Recomenda-se às Defensorias Públicas a adoção de me-
mentos sociais em situação de vulnerabilidade ou histori- canismos de agendamento, pessoal ou eletrônico, para aten-
camente vulnerabilizados dimento aos cidadãos.
126
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
b) Desenvolver sistema integrado de informações do A educação em Direitos Humanos, como canal estraté-
Poder Executivo e Judiciário e disponibilizar seu acesso à gico capaz de produzir uma sociedade igualitária, extrapola
sociedade. o direito à educação permanente e de qualidade. Trata-se
Responsável: Ministério da Justiça de mecanismo que articula, entre outros elementos: a) a
apreensão de conhecimentos historicamente construídos
Objetivo estratégico VI: sobre Direitos Humanos e a sua relação com os contextos
Acesso à Justiça no campo e na cidade. internacional, nacional e local; b) a afirmação de valores,
atitudes e práticas sociais que expressem a cultura dos Di-
Ações programáticas: reitos Humanos em todos os espaços da sociedade; c) a
a) Assegurar a criação de um marco legal para a pre- formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer pre-
venção e mediação de conflitos fundiários urbanos, garan- sente nos níveis cognitivo, social, ético e político; d) o de-
tindo o devido processo legal e a função social da proprie- senvolvimento de processos metodológicos participativos
dade. e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Ci- didáticos contextualizados; e) o fortalecimento de políticas
dades que gerem ações e instrumentos em favor da promoção,
Recomendações: da proteção e da defesa dos Direitos Humanos, bem como
- Recomenda-se ao Poder Judiciário estabelecer crité- da reparação das violações.
rio objetivo e unificado sobre terra produtiva. O PNDH-3 dialoga com o Plano Nacional de Educação
- Recomenda-se ao Poder Judiciário ampliar a fiscaliza- em Direitos Humanos (PNEDH) como referência para a po-
ção dos serviços notariais e registros imobiliários. lítica nacional de Educação e Cultura em Direitos Humanos,
estabelecendo os alicerces a serem adotados nos âmbitos
b) Propor projeto de lei voltado a regulamentar o cum- nacional, estadual, distrital e municipal.
primento de mandados de reintegração de posse ou cor- O PNEDH, refletido neste programa, se desdobra em 5
relatos, garantindo a observância do respeito aos Direitos grandes áreas:
Humanos.
Na educação básica, a ênfase do PNDH-3 é possibi-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Ci-
litar, desde a infância, a formação de sujeitos de direito,
dades; Ministério do Desenvolvimento Agrário
priorizando as populações historicamente vulnerabilizadas.
A troca de experiências de crianças de diferentes raças e
c) Promover o diálogo com o Poder Judiciário para a
etnias, imigrantes, com deficiência física ou mental forta-
elaboração de procedimento para o enfrentamento de ca-
lece, desde cedo, um sentimento de convivência pacífica.
sos de conflitos fundiários coletivos urbanos e rurais.
Conhecer o diferente, desde a mais tenra idade, é perder o
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério da
medo do desconhecido, formar opinião respeitosa e com-
Justiça; Ministério do Desenvolvimento Agrário
bater o preconceito, às vezes arraigado na própria família.
Recomendação: Recomenda-se ao Poder Judiciário
normatização administrativa para agilização dos processos
referentes a conflitos fundiários urbanos e rurais. No Programa, essa concepção se traduz em propostas
de mudanças curriculares, incluindo a educação transversal
d) Propor projeto de lei para institucionalizar a utili- e permanente nos temas ligados aos Direitos Humanos e,
zação da mediação como ato inicial das demandas de mais especificamente, o estudo da temática de gênero e
conflitos agrários e urbanos, priorizando a realização de orientação sexual, das culturas indígena e afro-brasileira
audiência coletiva com os envolvidos, com a presença do entre as disciplinas do ensino fundamental e médio.
Ministério Público, do poder público local, órgãos públicos No ensino superior as metas previstas visam a incluir
especializados e Polícia Militar, como medida preliminar à os Direitos Humanos, por meio de diferentes modalidades
avaliação da concessão da medida liminar, sem prejuízo de como disciplinas, linhas de pesquisa, áreas de concentra-
outros meios institucionais para solução de conflitos. ção, transversalização incluída nos projetos acadêmicos
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; dos diferentes cursos de graduação e pós-graduação, bem
Ministério da Justiça como em programas e projetos de extensão.
A educação não formal em Direitos Humanos é orien-
Educação e Cultura em Direitos Humanos tada pelos princípios da emancipação e da autonomia,
configurando-se como processo de sensibilização e forma-
A educação e a cultura em Direitos Humanos visam à ção da consciência crítica. Desta forma, de lideranças co-
formação de nova mentalidade coletiva para o exercício da munitárias e nos programas de qualificação profissional, al-
solidariedade, do respeito às diversidades e da tolerância. fabetização de jovens e adultos, entre outros. Volta-se, es-
Como processo sistemático e multidimensional que orienta pecialmente, para o estabelecimento de diálogo e parcerias
a formação do sujeito de direitos, seu objetivo é combater permanentes como o vasto leque brasileiro de movimentos
o preconceito, a discriminação e a violência, promovendo a populares, sindicatos, igrejas, ONGs, clubes, entidades em-
adoção de novos valores de liberdade, justiça e igualdade. presariais e toda sorte de agrupamentos da sociedade civil
que desenvolvem atividades formativas em seu cotidiano.
127
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A formação e a educação continuada em Direitos Hu- e) Incentivar a criação e investir no fortalecimento dos
manos, com recortes de gênero, relações etnicorraciais e de Comitês de Educação em Direitos Humanos em todos os
orientação sexual, em todo o serviço público, especialmen- estados e no Distrito Federal, como órgãos consultivos e
te entre os agentes do sistema de Justiça e segurança públi- propositivos da política de educação em Direitos Humanos.
ca, são fundamentais para consolidar o Estado Democrático Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
e a proteção do direito à vida e à dignidade, garantindo nos da Presidência da República; Ministério da Justiça
tratamento igual a todas as pessoas e o funcionamento de Parceiro: Ministério da Educação
sistemas de Justiça que promovam os Direitos Humanos. Recomendação: Recomenda-se aos estados e ao Distri-
Por fim, aborda-se o papel estratégico dos meios de co- to Federal a criação de órgãos responsáveis pela efetivação
municação de massa, no sentido de construir ou descons- das políticas públicas de Educação em Direitos Humanos.
truir um ambiente nacional e uma cultura social de respeito
e proteção aos Direitos Humanos. Daí a importância pri- Objetivo Estratégico II:
mordial de introduzir mudanças que assegurem ampla de-
mocratização desses meios, bem como de atuar permanen- Ampliação de mecanismos e produção de materiais
temente junto a todos os profissionais e empresas do setor pedagógicos e didáticos para Educação em Direitos Hu-
(seminários, debates, reportagens, pesquisas, conferências, manos.
etc), buscando sensibilizar e conquistar seu compromisso
ético com a afirmação histórica dos Direitos Humanos. Ações Programáticas:
a) Incentivar a criação de um programa nacional de for-
Diretriz 18: mação em Educação em Direitos Humanos.
Efetivação das diretrizes e dos princípios da política na- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
cional de educação em Direitos Humanos para fortalecer nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
uma cultura de direitos. Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para
as Mulheres da Presidência da República
Recomendação: Recomenda-se que o programa nacio-
Objetivo estratégico I:
nal de formação em Educação em Direitos Humanos seja
Implementação do Plano Nacional de Educação em Di-
elaborado conjuntamente entre as Secretarias Municipais,
reitos Humanos
Estaduais e Distrital de Educação, as instituições formado-
ras, as instituições de ensino superior, os Comitês de Edu-
Ações programáticas:
cação em Direitos Humanos e movimentos e ONGs que
a) Desenvolver ações programáticas e promover articu-
atuam na temática.
lação que viabilizem a implantação e a implementação do
PNEDH. b) Estimular a temática dos Direitos Humanos nos edi-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos tais de avaliação e seleção de obras didáticas do sistema
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis- de ensino.
tério da Justiça Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
b) Implantar mecanismos e instrumentos de monito- Parceiros: Ministério da Cultura; Secretaria Especial de
ramento, avaliação e atualização do PNEDH, em processos Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Se-
articulados de mobilização nacional. cretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Ra-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos cial da Presidência da República
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis- Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito
tério da Justiça Federal e municípios que fomentem a produção de mate-
riais na área de Educação em Direitos Humanos, preservan-
c) Fomentar e apoiar a elaboração de planos estaduais do a adequação da obra e suas estratégias didático-peda-
e municipais de educação em Direitos Humanos. gógicas à faixa etária e interesses de estudantes a que se
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos destinam.
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis-
tério da Justiça c) Estabelecer critérios e indicadores de avaliação de
Recomendação: Recomenda-se aos estados e ao Distri- publicações na temática de Direitos Humanos para o mo-
to Federal a elaboração de seus Planos Estaduais de Educa- nitoramento da escolha de livros didáticos no sistema de
ção em Direitos Humanos (PEEDH’s), tendo como diretriz o ensino.
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
nos da Presidência da República; Ministério da Educação
d) Apoiar técnica e financeiramente iniciativas em edu-
cação em Direitos Humanos, que estejam em consonância d) Atribuir premiação anual de educação em Direitos
com o PNEDH. Humanos, como forma de incentivar a prática de ações e
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos projetos de educação e cultura em Direitos Humanos.
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
tério da Justiça nos da Presidência da República; Ministério da Educação
128
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
e) Garantir a continuidade da “Mostra Cinema e Direi- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
tos Humanos na América do Sul” e da “Semana Direitos nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
Humanos” como atividades culturais para difusão dos Di- Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presi-
reitos Humanos. dência da República
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Parceiros: Secretaria Especial de Políticas de Promoção
da Presidência da República da Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério
da Cultura
f) Consolidar a revista “Direitos Humanos” como ins-
trumento de Educação e Cultura em Direitos Humanos, ga- b) Promover a inserção da educação em Direitos Hu-
rantindo o caráter representativo e plural em seu Conselho manos nos processos de formação inicial e continuada de
Editorial. todos os profissionais da educação, que atuam nas redes
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos de ensino e nas unidades responsáveis por execução de
da Presidência da República
medidas socioeducativas.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
g) Produzir recursos pedagógicos e didáticos especia-
nos da Presidência da República; Ministério da Educação
lizados e adquirir materiais e equipamentos em formato
acessível para a educação em Direitos Humanos, para to-
dos os níveis de ensino. c) Incluir, nos programas educativos, o direito ao meio
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- ambiente como direito humano.
nos da Presidência da República; Ministério da Educação Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Secretaria
Recomendação: Recomenda-se aos sistemas de ensino Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repúbli-
que, ao produzir ou adotar materiais educativos, observem ca; Ministério da Educação
as condições estabelecidas por programas de caráter na-
cional, em especial o Programa Nacional do Livro Didático d) Incluir conteúdos, recursos, metodologias e formas
(PNLD), o Programa Nacional do Livro Didático para o En- de avaliação da educação em Direitos Humanos nos siste-
sino Médio (PNLEM) e o Programa Nacional Biblioteca da mas de ensino da educação básica.
Escola (PNBE). Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
nos da Presidência da República; Ministério da Educação
h) Publicar materiais pedagógicos e didáticos para a Recomendações:
educação em Direitos Humanos em formato acessível para - Recomenda-se aos estados, Distrito Federal e muni-
as pessoas com deficiência, bem como promover o uso da cípios que os sistemas de ensino sejam orientados por dis-
Língua Brasileira de Sinais (Libras) em eventos ou divulga- positivos legais de promoção e valorização de uma cultura
ção em mídia. em e para os Direitos Humanos, dinamizando os projetos
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- pedagógicos.
nos da Presidência da República; Ministério da Educação. - Recomenda-se aos estados, Distrito Federal e municí-
pios que suas abordagens curriculares respeitem as especi-
i) Fomentar o acesso de estudantes, professores e de- ficidades exigidas pelas características regionais e locais da
mais profissionais da educação às Tecnologias da Informa- sociedade, da cultura e da comunidade escolar.
ção e Comunicação.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- e) Desenvolver ações nacionais de elaboração de es-
nos da Presidência da República; Ministério da Educação
tratégias de mediação de conflitos e de Justiça Restaura-
tiva nas escolas, instituições formadoras e instituições de
Diretriz 19:
ensino superior, inclusive promovendo a capacitação de
Fortalecimento dos princípios da democracia e dos Di-
docentes para a identificação de violência e abusos contra
reitos Humanos nos sistemas de educação básica, nas ins-
tituições de ensino superior e nas instituições formadoras. crianças e adolescentes, seu encaminhamento adequado e
a reconstrução das relações no âmbito escolar.
Objetivo Estratégico I: Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
Inclusão da temática de Educação e Cultura em Direi- nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
tos Humanos nas es- 155 colas de educação básica e em Ministério da Justiça
instituições formadoras. Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito
Federal e municípios a capacitação dos profissionais de en-
Ações Programáticas: sino para identificar sinais de violência doméstica e abusos
a) Estabelecer diretrizes curriculares para todos os ní- em crianças e adolescentes.
veis e modalidades de ensino da educação básica para a
inclusão da temática de educação e cultura em Direitos f) Publicar relatório periódico de acompanhamento da
Humanos, promovendo o reconhecimento e o respeito das inclusão da temática dos Direitos Humanos na educação
diversidades de gênero, orientação sexual, identidade de formal que contenha, pelo menos as seguintes informa-
gênero, geracional, étnico-racial, religiosa, com educação ções:
igualitária, não discriminatória e democrática.
129
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Número de estados e municípios que possuem Pla- - Número de grupos de pesquisa em Direitos Huma-
nos de Educação em Direitos Humanos; nos;
- Existência de normas que incorporam a temática de - Número de cursos com a transversalização dos Direi-
Direitos Humanos nos currículos escolares; tos Humanos nos projetos políticos pedagógicos;
- Documentos que atestem a existência de Comitês de - Número de disciplinas em Direitos Humanos;
Educação em Direitos Humanos; - Número de teses e dissertações defendidas;
- Documentos que atestem a existência de órgãos go- - Número de associações e instituições dedicadas ao
vernamentais especializados em Educação em Direitos Hu- tema e com as quais os docentes e pesquisadores tenham
manos. vínculo;
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Número de núcleos e comissões que atuam em Di-
da Presidência da República reitos Humanos;
Parceiro: Ministério da Educação - Número de educadores com ações no tema Direitos
Humanos;
g) Desenvolver e estimular ações de enfrentamento ao - Número de projetos de extensão em Direitos Huma-
bullying e ao cyberbulling21. nos;
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- - Existência de ouvidoria.
nos da Presidência da República; Ministério da Educação - Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Es-
Parceiro: Ministério da Justiça pecial dos Direitos Humanos da Presidência da República
h) Implementar e acompanhar a aplicação das leis d) Fomentar a realização de estudos, pesquisas e a im-
que dispõem sobre a inclusão da história e cultura afrobra- plementação de projetos de extensão sobre o período do
sileira e dos povos indígenas em todos os níveis e modali- regime 1964-1985, bem como apoiar a produção de mate-
dades da educação básica. rial didático, a organização de acervos históricos e a criação
de centros de referências.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
nos da Presidência da República; Ministério da Educação
Ministério da Justiça
Parceiros: Fundação Nacional do Índio (Funai); Funda-
Parceiro: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-
ção Cultural Palmares (FCP) 157
tífico e Tecnológico (CNPq)
Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito
Federal e municípios o estímulo aos fóruns de educação
e) Incentivar a realização de estudos, pesquisas e pro-
étnico-racial como espaço deliberativo de discussão para
dução bibliográfica sobre a história e a presença das popu-
introdução de conteúdos da cultura afro-brasileira e dos
lações tradicionais.
povos indígenas e como espaço fiscalizador da aplicação Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
das leis. nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Objetivo Estratégico II: Racial da Presidência da República; Ministério da Justiça
Inclusão da temática da Educação em Direitos Huma- Parceiros: Conselho Nacional de Desenvolvimento
nos nos cursos das Instituições de Ensino Superior (IES). Científico e Tecnológico (CNPq); Ministério da Cultura; Fun-
dação Cultural Palmares (FCP)
Ações Programáticas:
a) Propor a inclusão da temática da Educação em Di- Objetivo Estratégico III:
reitos Humanos nas diretrizes curriculares nacionais dos Incentivo à transdisciplinaridade e transversalidade nas
cursos de graduação. atividades acadêmicas em Direitos Humanos.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
nos da Presidência da República; Ministério da Educação Ações Programáticas:
a) Incentivar o desenvolvimento de cursos de gradua-
b) Incentivar a elaboração de metodologias pedagó- ção, de formação continuada e programas de pós-gradua-
gicas de caráter transdisciplinar e interdisciplinar para a ção em Direitos Humanos.
educação em Direitos Humanos nas Instituições de Ensino Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
Superior. nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
nos da Presidência da República; Ministério da Educação Racial da Presidência da República; Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República Re-
c) Realizar relatórios sobre a inclusão da temática dos comendação: Recomenda-se às universidades a criação de
Direitos Humanos no ensino superior, contendo, entre ou- cursos de pós-graduação, extensão e especialização e de
tras, as seguintes informações: linhas de pesquisa voltadas para a proteção e promoção
- Número de cursos de pós-graduação com áreas de dos Direitos Humanos. 159
concentração em Direitos Humanos;
130
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
b) Fomentar núcleos de pesquisa de educação em Di- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
reitos Humanos em instituições de ensino superior e esco- nos da Presidência da República; Secretaria Especial de Po-
las públicas e privadas, estruturando-as com equipamentos líticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da
e materiais didáticos. República; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- da Presidência da República; Ministério da Cultura; Minis-
nos da Presidência da República; Ministério da Educação; tério da Justiça
Ministério da Ciência e Tecnologia Parceiro: Secretaria-Geral da Presidência da República
Parceiro: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-
tífico e Tecnológico (CNPq) c) Apoiar e promover a capacitação de agentes multi-
plicadores para atuarem em projetos de educação em Di-
c) Fomentar e apoiar, no Conselho Nacional de De- reitos Humanos.
senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e na Coor- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior da Presidência da República
(Capes), a criação da área “Direitos Humanos” como campo
de conhecimento transdisciplinar e recomendar às agên- d) Apoiar e desenvolver programas de formação em
cias de fomento que abram linhas de financiamento para comunicação e Direitos Humanos para comunicadores co-
atividades de ensino, pesquisa e extensão em Direitos Hu- munitários.
manos. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- nos da Presidência da República; Ministério das Comunica-
nos da Presidência da República; Ministério da Educação; ções; Ministério da Cultura
Ministério da Fazenda
Parceiros: Secretaria Especial de Políticas de Promoção e) Desenvolver iniciativas que levem a incorporar a te-
da Igualdade Racial da Presidência da República; Secreta- mática da educação em Direitos Humanos nos programas
ria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da de inclusão digital e de educação à distância.
República; Ministério da Ciência e Tecnologia
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
nos da Presidência da República; Ministério da
d) Implementar programas e ações de fomento à ex-
Educação; Ministério das Comunicações; Ministério de
tensão, para promoção e defesa dos Direitos Humanos e o
Ciência e Tecnologia
desenvolvimento da Cultura e Educação em Direitos Hu-
manos.
Diretriz 21:
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
Promoção da Educação em Direitos Humanos no ser-
nos da Presidência da República; Ministério da Educação
viço público.
Diretriz 20:
Reconhecimento da educação não formal como espa- Objetivo Estratégico I:
ço de defesa e promoção dos Direitos Humanos. Formação e capacitação continuada dos servidores
públicos em Direitos Humanos, em todas as esferas de go-
Objetivo Estratégico I: verno.
Inclusão da temática da Educação em Direitos Huma-
nos na educação não formal. Ações programáticas:
a) Apoiar e desenvolver atividades de formação e capa-
Ações programáticas: citação continuadas interdisciplinares em Direitos Huma-
a) Fomentar a inclusão da temática de Direitos Huma- nos para servidores públicos.
nos na educação não formal, nos programas de qualifica- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
ção profissional, alfabetização de jovens e adultos, exten- nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
são rural, educação social comunitária e de cultura popular. Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Ministério do
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- Planejamento, Orçamento e Gestão; Ministério das Rela-
nos da Presidência da República; Ministério do Desenvolvi- ções Exteriores Recomendações:
mento Agrário; Secretaria Especial de Políticas de Promo- - Recomenda-se aos estados, Distrito Federal e muni-
ção da Igualdade Racial da Presidência da República; Mi- cípios a realização continuada de cursos de formação em
nistério da Cultura; Secretaria Especial de Políticas para as Direitos Humanos
Mulheres da Presidência da República - Recomenda-se às comissões de Direitos Humanos do
Parceiro: Ministério do Desenvolvimento Social e Com- Poder Legislativo oferecer formação continuada na temáti-
bate à Fome ca dos Direitos Humanos
- Recomenda-se aos Tribunais de Justiça promover a
b) Apoiar iniciativas de educação popular em Direitos formação e capacitação continuada dos operadores do sis-
Humanos desenvolvidas por organizações comunitárias, tema de Justiça nos níveis federal, estadual e distrital
movimentos sociais, organizações não-governamentais e
outros agentes organizados da sociedade civil.
131
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
b) Incentivar a inserção da temática dos Direitos Huma- Recomendação: Recomenda-se aos estados, ao Distrito
nos nos programas das escolas de formação de servidores federal e aos municípios a instituição de programas de forma-
vinculados aos órgãos públicos federais. ção qualificada e permanente dos profissionais do sistema de
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- segurança pública em Direitos Humanos.
nos da Presidência da República; Secretaria Especial de Po-
líticas para as Mulheres da Presidência da República; Secre- f) Apoiar a capacitação de policiais em direitos das crian-
taria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial ças, em aspectos básicos do desenvolvimento infantil e em
da Presidência da República maneiras de lidar com grupos em situação de vulnerabilidade,
Parceiro: Ministério da Fazenda/Escola de Administra- como crianças e adolescentes em situação de rua, vítimas de
ção Fazendária exploração sexual e em conflito com a lei.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos
c) Publicar materiais didático-pedagógicos sobre Direi- Direitos Humanos da Presidência da República
tos Humanos e função pública, desdobrando temas e as- Recomendação: Recomenda-se aos estados, Distrito Fe-
pectos adequados ao diálogo com as várias áreas de atua- deral e municípios implementar ações de capacitação e de su-
ção dos servidores públicos. pervisão dos policiais nesses grupos vulneráveis de crianças e
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- adolescentes.
nos da Presidência da República; Ministério do Planeja-
mento, Orçamento e Gestão Diretriz 22:
Parceiros: Secretaria Especial de Políticas para as Mu- Garantia do direito à comunicação democrática e ao aces-
lheres da Presidência da República; Escola 163 so à informação para a consolidação de uma cultura em Direi-
Nacional de Administração Pública (ENAP) tos Humanos.
132
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
133
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Em julho de 2008, o Ministério da Justiça e a Comissão Tramita também, no âmbito do Supremo Tribunal Fe-
de Anistia promoveram audiência pública sobre “Limites e deral, uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fun-
Possibilidades para a Responsabilização Jurídica dos Agen- damental (ADPF), proposta pelo Conselho Federal da Or-
tes Violadores de Direitos Humanos durante o Estado de dem dos Advogados do Brasil, que solicita à mais alta corte
Exceção no Brasil”, que discutiu a interpretação da Lei de brasileira um posicionamento formal para saber se, em
Anistia de 1979 no que se refere à controvérsia jurídica e 1979, houve ou não anistia dos agentes públicos respon-
política envolvendo a prescrição ou imprescritibilidade dos sáveis pela prática de tortura, homicídio, desaparecimento
crimes de tortura. forçado, abuso de autoridade, lesões corporais e estupro
A Comissão de Anistia já realizou 700 sessões de julga- contra opositores políticos, considerando, sobretudo, os
mento e promoveu, desde 2008, 30 caravanas, possibilitan- compromissos internacionais assumidos pelo Brasil e a in-
do a participação da sociedade nas discussões, e contribuin- suscetibilidade de graça ou anistia do crime de tortura.
do para a divulgação do tema no país. Até 1º de novembro
de 2009, já haviam sido apreciados pós essa Comissão mais Em abril de 2009, o Ministério da Defesa, no contex-
de 52 mil pedidos de concessão de anistia, dos quais quase to da decisão transitada em julgado da referida ação judi-
35 mil foram deferidos e cerca de 17 mil, indeferidos. Outros cial de 1982, criou Grupo de Trabalho para realizar buscas
12 mil pedidos aguardavam julgamento, sendo que podem de restos mortais na região do Araguaia, sendo que, por
ainda ser apresentadas novas solicitações. Em julho de 2009, ordem expressa do Presidente da República, foi instituído
em Belo Horizonte, o ministro da Justiça realizou audiência um Comitê Interinstitucional de Supervisão, com represen-
pública de apresentação do projeto Memorial da Anistia Po- tação dos familiares de mortos e desaparecidos políticos,
lítica do Brasil, envolvendo a remodelação e construção de para o acompanhamento e orientação dos trabalhos. Após
um novo edifício junto ao antigo “Coleginho” da Universida- três meses de buscas intensas, sem que tenham sido en-
de Federal de Minas Gerais (UFMG), onde estará disponível contrados restos mortais, os trabalhos foram temporaria-
para pesquisas todo o acervo da Comissão de Anistia. mente suspensos devido às chuvas na região, prevendo-se
No âmbito da sociedade civil, foram levadas ao Poder sua retomada ao final do primeiro trimestre de 2010.
Judiciário importantes ações que provocaram debate sobre Em maio de 2009, o Presidente da República coordenou
a interpretação das leis e apuração de responsabilidades. Em o ato de lançamento do projeto Memórias Reveladas, sob
1982, um grupo de familiares entrou com ação na Justiça responsabilidade da Casa Civil, que interliga digitalmente o
Federal para a abertura de arquivos e localização dos restos acervo recolhido ao Arquivo Nacional após dezembro de
mortais dos mortos e desaparecidos políticos no episódio 2005, com vários outros arquivos federais sobre a repres-
conhecido como “Guerrilha do Araguaia”. Em 2003 foi pro- são política e com arquivos estaduais de 15 unidades da fe-
ferida sentença condenando a União, que entrou com re- deração, superando 5 milhões de páginas de documentos
curso e criou uma Comissão Interministerial pelo Decreto nº (www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br).
4.850, de 2 de outubro de 2003, com a finalidade de obter Cabe, agora, completar esse processo mediante reco-
informações que levassem à localização dos restos mortais lhimento ao Arquivo Nacional de todo e qualquer docu-
de participantes da “Guerrilha do Araguaia”. Os trabalhos da mento indevidamente retido ou ocultado, nos termos da
Comissão Interministerial se encerraram em março de 2007, Portaria Interministerial assinada na mesma data daquele
com a divulgação de seu relatório final. lançamento. Cabe também sensibilizar o Legislativo pela
aprovação, com os aperfeiçoamentos cabíveis, do Projeto
Em agosto de 1995, o Centro de Estudos para a Justiça de Lei 5.228/2009, assinado pelo Presidente da República,
e o Direito Internacional (CEJIL) e a Human Rights Watch/ que introduz avanços democratizantes nas normas regula-
América (HRWA), em nome de um grupo de familiares, apre- doras do direito de acesso à informação.
sentaram petição à Comissão Interamericana de Direitos Importância superior nesse resgate da história nacional
Humanos (CIDH), denunciando o desaparecimento de inte- está no imperativo de localizar os restos mortais de pelo
grantes da “Guerrilha do Araguaia”. Em 31 de outubro de menos 140 brasileiros e brasileiras que foram mortos pelo
2008, a CIDH expediu o Relatório de Mérito nº 91/08, onde aparelho de repressão do regime ditatorial. A 172 partir
fez uma série de recomendações ao Estado brasileiro. Em de junho de 2009, a Secretaria de Comunicação Social da
26 de março de 2009, a CIDH submeteu o caso à Corte In- Presidência da República (Secom/PR) planejou, concebeu
teramericana de Direitos Humanos, requerendo declaração e veiculou uma abrangente campanha publicitária de te-
de responsabilidade do Estado brasileiro sobre violações de levisão, internet, rádio, jornais e revistas de todo o Brasil
direitos humanos ocorridas durante as operações de repres- buscando sensibilizar os cidadãos sobre essa questão. As
são àquele movimento. mensagens solicitavam que informações sobre a locali-
Em 2005 e 2008, duas famílias iniciaram, na Justiça Ci- zação de restos mortais ou sobre qualquer documento e
vil, ações declaratórias para o reconhecimento das torturas arquivos envolvendo assuntos da repressão política entre
sofridas por seus membros, indicando o responsável pelas 1964 e 1985, sejam encaminhados ao Memórias Reveladas.
sevícias. Ainda em 2008, o Ministério Público Federal em São Seu propósito é assegurar às famílias o exercício do direito
Paulo propôs uma Ação Civil Pública contra dois oficiais do sagrado de prantear seus entes queridos e promover os
exército acusados de determinarem prisão ilegal, tortura, ritos funerais, sem os quais desaparece a certeza da morte
homicídio e desaparecimento forçado de dezenas de cida- e se perpetua uma angústia que equivale a nova forma de
dãos. tortura.
134
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
As violações sistemáticas dos Direitos Humanos pelo - Arquivo Nacional, vinculado à Casa Civil da Presidência
Estado durante o regime ditatorial são desconhecidas pela da República;
maioria da população, em especial pelos jovens. A radio- - Comissão de Anistia, vinculada ao Ministério da Justiça;
grafia dos atingidos pela repressão política ainda está lon- - Comissão Especial criada pela Lei nº 9.140/95, vincula-
ge de ser concluída, mas calcula-se que pelo menos 50 da à Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidên-
mil pessoas foram presas somente nos primeiros meses cia da República;
de 1964; cerca de 20 mil brasileiros foram submetidos a - Comitê Interinstitucional de Supervisão instituído pelo
torturas e cerca de quatrocentos cidadãos foram mortos Decreto Presidencial de 17 de julho de 2009;
ou estão desaparecidos. Ocorreram milhares de prisões - Grupo de Trabalho instituído pela Portaria nº 567/MD,
políticas não registradas, 130 banimentos, 4.862 cassações de 29 de abril de 2009, do Ministro de Estado da Defesa;
de mandatos políticos, uma cifra incalculável de exílios e No exercício de suas atribuições, a COMISSÃO NACIO-
refugiados políticos. NAL DA VERDADE poderá realizar as seguintes atividades:
- requisitar documentos públicos, com a colaboração
As ações programáticas deste eixo orientador têm das respectivas autoridades, bem como requerer ao Judiciá-
como finalidade assegurar o processamento democrático rio o acesso a documentos privados;
e republicano de todo esse período da história brasileira, - colaborar com todas as instâncias do Poder Público
para que se viabilize o desejável sentimento de reconcilia- para a apuração de violações de Direitos Humanos, observa-
ção nacional. E para se construir consenso amplo no sen- das as disposições da Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979;
tido de que as violações sistemáticas de Direitos Humanos - promover, com base em seus informes, a reconstrução
registradas entre 1964 e 1985, bem como no período do da história dos casos de violação de Direitos Humanos, bem
Estado Novo, não voltem a ocorrer em nosso país, nunca como a assistência às vítimas de tais violações;
mais. - promover, com base no acesso às informações, os
meios e recursos necessários para a localização e identifica-
Diretriz 23: ção de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos;
Reconhecimento da memória e da verdade como Di- identificar e tornar públicas as estruturas utilizadas para a
reito Humano da cidadania e dever do Estado. prática de violações de Direitos Humanos, suas ramificações
nos diversos aparelhos de Estado e em outras instâncias da
Objetivo Estratégico I: sociedade; torturas, mortes e desaparecimentos, devendo-
Promover a apuração e o esclarecimento público das se discriminá-los e encaminhá-los aos órgãos competen-
violações de Direitos Humanos praticadas no contexto da tes; registrar e divulgar seus procedimentos oficiais, a fim
repressão política ocorrida no Brasil no período fixado pelo de garantir o esclarecimento circunstanciado de apresentar
artigo 8º do ADCT da Constituição Federal, a fim de efeti- recomendações para promover a efetiva reconciliação na-
var o direito à memória e à verdade histórica e promover a cional e prevenir no sentido da não repetição de violações
reconciliação nacional. de Direitos Humanos.
A COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE deverá apresen-
Ações Programáticas: tar, anualmente, um relatório circunstanciado que exponha
a) Designar Grupo de Trabalho composto por represen- as atividades realizadas e as respectivas conclusões com
tantes da Casa Civil, do Ministério da Justiça, do Ministério base em informações colhidas ou recebidas em decorrência
da Defesa e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da do exercício de suas atribuições.
Presidência da República, para elaborar, até abril de 2010,
Projeto de Lei que institua COMISSÃO NACIONAL DA VER- Diretriz 24:
DADE, composta de forma plural e suprapartidária, com Preservação da memória histórica e a construção públi-
mandato e prazo definidos, para examinar as violações de ca da verdade.
Direitos Humanos praticadas no contexto da repressão po-
lítica no período mencionado, observado o seguinte: Objetivo Estratégico I:
O Grupo de Trabalho será formado por representantes Incentivar iniciativas de preservação da memória his-
da Casa Civil da Presidência da República, que o presidirá, tórica e de construção pública da verdade sobre períodos
do Ministério da Justiça, do Ministério da Defesa, da Se- autoritários.
cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República, do presidente da Comissão Especial sobre Mor- Ações programáticas:
tos e Desaparecidos Políticos, criada pela Lei 9.140/95 e de a) Disponibilizar linhas de financiamento para a criação
representante da sociedade civil, indicado por esta Comis- de centros de memória sobre a repressão política, em todos
são Especial; os estados, com projetos de valorização da história cultural
Com o objetivo de promover o maior intercâmbio de e de socialização do conhecimento por diversos meios de
informações e a proteção mais eficiente dos Direitos Hu- difusão.
manos, a COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE estabele- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
cerá coordenação com as atividades desenvolvidas pelos nos da Presidência da República; Ministério da Justiça; Mi-
seguintes órgãos: nistério da Cultura; Ministério da Educação
135
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Objetivo Estratégico I:
Suprimir do ordenamento jurídico brasileiro eventuais
normas remanescentes de períodos de exceção que afron-
tem os compromissos internacionais e os preceitos consti-
tucionais sobre Direitos Humanos.
136
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
137
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O Estado brasileiro consolidou espaços de participação O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
da sociedade civil organizada na formulação de propos- (PNEDH), lançado em 2003, está apoiado em documentos
tas e diretrizes de políticas públicas, por meio de inúmeras internacionais e nacionais, demarcando a inserção do Esta-
conferências temáticas. Um aspecto relevante foi a institu- do brasileiro na história da afirmação dos direitos humanos
cionalização de mecanismos de controle social da política e na Década da Educação em Direitos Humanos, prevista
pública, pela implementação de diversos conselhos e ou- no Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos
tras instâncias. (PMEDH) e seu Plano de Ação. São objetivos balizadores do
Entretanto, apesar desses avanços no plano normativo, PMEDH conforme estabelecido no artigo 2°: a) fortalecer o
o contexto nacional tem-se caracterizado por desigualda- respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais;
des e pela exclusão econômica, social, étnico-racial, cultu- b) promover o pleno desenvolvimento da personalidade e
ral e ambiental, decorrente de um modelo de Estado em dignidade humana; c) fomentar o entendimento, a tolerân-
que muitas políticas públicas deixam em segundo plano os cia, a igualdade de gênero e a amizade entre as nações, os
direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. povos indígenas e grupos raciais, nacionais, étnicos, reli-
giosos e linguísticos; d) estimular a participação efetiva das
Ainda há muito para ser conquistado em termos de pessoas em uma sociedade livre e democrática governada
respeito à dignidade da pessoa humana, sem distinção pelo Estado de Direito; e) construir, promover e manter a
de raça, nacionalidade, etnia, gênero, classe social, região, paz.
cultura, religião, orientação sexual, identidade de gênero, Assim, a mobilização global para a educação em di-
geração e deficiência. Da mesma forma, há muito a ser fei- reitos humanos está imbricada no conceito de educação
to para efetivar o direito à qualidade de vida, à saúde, à para uma cultura democrática, na compreensão dos con-
educação, à moradia, ao lazer, ao meio ambiente saudável, textos nacional e internacional, nos valores da tolerância,
ao saneamento básico, à segurança pública, ao trabalho e da solidariedade, da justiça social e na sustentabilidade, na
às diversidades cultural e religiosa, entre outras. inclusão e na pluralidade.
Uma concepção contemporânea de direitos humanos A elaboração e implementação de planos e programas
incorpora os conceitos de cidadania democrática, cidada- nacionais e a criação de comitês estaduais de educação em
nia ativa e cidadania planetária, por sua vez inspiradas em direitos humanos se constituem, portanto, em uma ação
valores humanistas e embasadas nos princípios da liberda- global e estratégica do governo brasileiro para efetivar a
de, da igualdade, da equidade e da diversidade, afirmando Década da Educação em Direitos Humanos 1995-2004. Da
sua universalidade, indivisibilidade e interdependência. mesma forma, no âmbito regional do MERCOSUL, Países
O processo de construção da concepção de uma cida- Associados e Chancelarias, foi criado um Grupo de Traba-
dania planetária e do exercício da cidadania ativa requer, lho para implementar ações de direitos humanos na es-
necessariamente, a formação de cidadãos(ãs) conscientes fera da educação e da cultura. Os Planos Nacionais e os
de seus direitos e deveres, protagonistas da materialidade Comitês Estaduais de Educação em Direitos Humanos são
das normas e pactos que os(as) protegem, reconhecendo dois importantes mecanismos apontados para o processo
o princípio normativo da dignidade humana, englobando de implementação e monitoramento, de modo a efetivar a
a solidariedade internacional e o compromisso com outros centralidade da educação em direitos humanos enquanto
povos e nações. Além disso, propõe a formação de cada política pública.
cidadão(ã) como sujeito de direitos, capaz de exercitar o A educação em direitos humanos é compreendida
controle democrático das ações do Estado. como um processo sistemático e multidimensional que
A democracia, entendida como regime alicerçado na orienta a formação do sujeito de direitos, articulando as
soberania popular, na justiça social e no respeito integral seguintes dimensões:
aos direitos humanos, é fundamental para o reconheci-
mento, a ampliação e a concretização dos direitos. Para a) apreensão de conhecimentos historicamente construí-
o exercício da cidadania democrática, a educação, como dos sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos
direito de todos e dever do Estado e da família, requer a internacional, nacional e local; b) afirmação de valores, ati-
formação dos(as) cidadãos(ãs). tudes e práticas sociais que expressem a cultura dos direitos
A Constituição Federal Brasileira e a Lei de Diretri- humanos em todos os espaços da sociedade;
zes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei Federal n° c) formação de uma consciência cidadã capaz de se fa-
9.394/1996) afirmam o exercício da cidadania como uma zer presente em níveis cognitivo, social, ético e político;
das finalidades da educação, ao estabelecer uma práti- d) desenvolvimento de processos metodológicos parti-
ca educativa “inspirada nos princípios de liberdade e nos cipativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e
ideais de solidariedade humana, com a finalidade do pleno materiais didáticos contextualizados; e) fortalecimento de
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercí- práticas individuais e sociais que gerem ações e instrumen-
cio da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. tos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direi-
tos humanos, bem como da reparação das violações.
138
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Sendo a educação um meio privilegiado na promoção d) contribuir para a efetivação dos compromissos inter-
dos direitos humanos, cabe priorizar a formação de agentes nacionais e nacionais com a educação em direitos humanos;
públicos e sociais para atuar no campo formal e não-formal, e) estimular a cooperação nacional e internacional na
abrangendo os sistemas de educação, saúde, comunicação implementação de ações de educação em direitos huma-
e informação, justiça e segurança, mídia, entre outros. nos;
Desse modo, a educação é compreendida como um f) propor a transversalidade da educação em direitos
direito em si mesmo e um meio indispensável para o aces- humanos nas políticas públicas, estimulando o desenvol-
so a outros direitos. A educação ganha, portanto, mais im- vimento institucional e interinstitucional das ações previs-
portância quando direcionada ao pleno desenvolvimento tas no PNEDH nos mais diversos setores (educação, saúde,
humano e às suas potencialidades, valorizando o respeito comunicação, cultura, segurança e justiça, esporte e lazer,
aos grupos socialmente excluídos. Essa concepção de edu- dentre outros);
cação busca efetivar a cidadania plena para a construção de g) avançar nas ações e propostas do Programa Nacional
conhecimentos, o desenvolvimento de valores, atitudes e de Direitos Humanos (PNDH) no que se refere às questões
comportamentos, além da defesa socioambiental e da jus- da educação em direitos humanos;
tiça social. h) orientar políticas educacionais direcionadas para a
Nos termos já firmados no Programa Mundial de Edu- constituição de uma cultura de direitos humanos;
cação em Direitos Humanos, a educação contribui também i) estabelecer objetivos, diretrizes e linhas de ações para
para: a elaboração de programas e projetos na área da educação
em direitos humanos;
a) criar uma cultura universal dos direitos humanos; j) estimular a reflexão, o estudo e a pesquisa voltados
b) exercitar o respeito, a tolerância, a promoção e a va- para a educação em direitos humanos;
lorização das diversidades (étnico-racial, religiosa, cultural, k) incentivar a criação e o fortalecimento de instituições
geracional, territorial, físico-individual, de gênero, de orien- e organizações nacionais, estaduais e municipais na pers-
tação sexual, de nacionalidade, de opção política, dentre ou- pectiva da educação em direitos humanos;
tras) e a solidariedade entre povos e nações; l) balizar a elaboração, implementação, monitoramento,
c) assegurar a todas as pessoas o acesso à participação avaliação e atualização dos Planos de Educação em Direitos
efetiva em uma sociedade livre. Humanos dos estados e municípios;
m) incentivar formas de acesso às ações de educação
A educação em direitos humanos, ao longo de todo o em direitos humanos a pessoas com deficiência.
processo de redemocratização e de fortalecimento do regi-
me democrático, tem buscado contribuir para dar sustenta- Linhas gerais de ação
ção às ações de promoção, proteção e defesa dos direitos
humanos, e de reparação das violações. A consciência sobre Desenvolvimento normativo e institucional
os direitos individuais, coletivos e difusos tem sido possível a) Consolidar o aperfeiçoamento da legislação aplicável
devido ao conjunto de ações de educação desenvolvidas, à educação em direitos humanos;
nessa perspectiva, pelos atores sociais e pelos(as) agentes b) propor diretrizes normativas para a educação em di-
institucionais que incorporaram a promoção dos direitos reitos humanos;
humanos como princípio e diretriz. c) apresentar aos órgãos de fomento à pesquisa e pós-
A implementação do Plano Nacional de Educação em graduação proposta de reconhecimento dos direitos huma-
Direitos Humanos visa, sobretudo, difundir a cultura de di- nos como área de conhecimento interdisciplinar, tendo, en-
reitos humanos no país. Essa ação prevê a disseminação de tre outras, a educação em direitos humanos como subárea;
valores solidários, cooperativos e de justiça social, uma vez d) propor a criação de unidades específicas e progra-
que o processo de democratização requer o fortalecimento mas interinstitucionais para coordenar e desenvolver ações
da sociedade civil, a fim de que seja capaz de identificar de educação em direitos humanos nos diversos órgãos da
anseios e demandas, transformando-as em conquistas que administração pública;
só serão efetivadas, de fato, na medida em que forem in- e) institucionalizar a categoria educação em direitos
corporadas pelo Estado brasileiro como políticas públicas humanos no Prêmio Direitos Humanos do governo federal;
universais. f) sugerir a inclusão da temática dos direitos humanos
nos concursos para todos os cargos públicos em âmbito fe-
OBJETIVOS GERAIS deral, distrital, estadual e municipal;
g) incluir a temática da educação em direitos humanos
São objetivos gerais do PNEDH: nas conferências nacionais, estaduais e municipais de direi-
a) destacar o papel estratégico da educação em direitos tos humanos e das demais políticas públicas;
humanos para o fortalecimento do Estado Democrático de h) fortalecer o Comitê Nacional de Educação em Direi-
Direito; tos Humanos;
b) enfatizar o papel dos direitos humanos na constru- i) propor e/ou apoiar a criação e a estruturação dos
ção de uma sociedade justa, equitativa e democrática; Comitês Estaduais, Municipais e do Distrito Federal de Edu-
c) encorajar o desenvolvimento de ações de educação cação em Direitos Humanos.
em direitos humanos pelo poder público e a sociedade civil
por meio de ações conjuntas;
139
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
140
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Não é apenas na escola que se produz e reproduz o co- e) a educação em direitos humanos deve ser um dos ei-
nhecimento, mas é nela que esse saber aparece sistemati- xos fundamentais da educação básica e permear o currículo,
zado e codificado. Ela é um espaço social privilegiado onde a formação inicial e continuada dos profissionais da edu-
se definem a ação institucional pedagógica e a prática e cação, o projeto político pedagógico da escola, os materiais
vivência dos direitos humanos. Nas sociedades contempo- didático-pedagógicos, o modelo de gestão e a avaliação;
râneas, a escola é local de estruturação de concepções de f) a prática escolar deve ser orientada para a educação
mundo e de consciência social, de circulação e de conso- em direitos humanos, assegurando o seu caráter transversal
lidação de valores, de promoção da diversidade cultural, e a relação dialógica entre os diversos atores sociais.
da formação para a cidadania, de constituição de sujeitos
sociais e de desenvolvimento de práticas pedagógicas. Ações programáticas
141
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
13. incentivar a elaboração de programas e projetos 27. promover pesquisas, em âmbito nacional, envol-
pedagógicos, em articulação com a rede de assistência e vendo as secretarias estaduais e municipais de educação,
proteção social, tendo em vista prevenir e enfrentar as di- os conselhos estaduais, a UNDIME e o CONSED sobre ex-
versas formas de violência; periências de educação em direitos humanos na educação
14. apoiar expressões culturais cidadãs presentes nas básica.
artes e nos esportes, originadas nas diversas formações ét-
nicas de nossa sociedade; EDUCAÇÃO SUPERIOR
15. favorecer a valorização das expressões culturais
regionais e locais pelos projetos políticopedagógicos das Concepção e princípios
escolas;
16. dar apoio ao desenvolvimento de políticas públicas A Constituição Federal de 1988 definiu a autonomia
destinadas a promover e garantir a educação em direitos universitária (didática, científica, administrativa, financeira e
humanos às comunidades quilombolas e aos povos indí- patrimonial) como marco fundamental pautado no princí-
genas, bem como às populações das áreas rurais e ribei- pio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
rinhas, assegurando condições de ensino e aprendizagem O artigo terceiro da Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
adequadas e específicas aos educadores e educandos; cação Nacional propõe, como finalidade para a educação
17. incentivar a organização estudantil por meio de superior, a participação no processo de desenvolvimento
grêmios, associações, observatórios, grupos de trabalhos a partir da criação e difusão cultural, incentivo à pesqui-
entre outros, como forma de aprendizagem dos princípios sa, colaboração na formação contínua de profissionais e
dos direitos humanos, da ética, da convivência e da partici- divulgação dos conhecimentos culturais, científicos e téc-
pação democrática na escola e na sociedade; nicos produzidos por meio do ensino e das publicações,
18. estimular o fortalecimento dos Conselhos Escolares mantendo uma relação de serviço e reciprocidade com a
como potenciais agentes promotores da educação em di- sociedade.
reitos humanos no âmbito da escola; A partir desses marcos legais, as universidades brasilei-
19. apoiar a elaboração de programas e projetos de
ras, especialmente as públicas, em seu papel de instituições
educação em direitos humanos nas unidades de atendi-
sociais irradiadoras de conhecimentos e práticas novas, as-
mento e internação de adolescentes que cumprem medi-
sumiram o compromisso com a formação crítica, a criação
das socioeducativas, para estes e suas famílias;
de um pensamento autônomo, a descoberta do novo e a
20. promover e garantir a elaboração e a implementa-
mudança histórica.
ção de programas educativos que assegurem, no sistema
A conquista do Estado Democrático delineou, para as
penitenciário, processos de formação na perspectiva crítica
Instituições de Ensino Superior (IES), a urgência em parti-
dos direitos humanos, com a inclusão de atividades profis-
cipar da construção de uma cultura de promoção, prote-
sionalizantes, artísticas, esportivas e de lazer para a popu-
lação prisional; ção, defesa e reparação dos direitos humanos, por meio
21. dar apoio técnico e financeiro às experiências de de ações interdisciplinares, com formas diferentes de re-
formação de estudantes como agentes promotores de di- lacionar as múltiplas áreas do conhecimento humano com
reitos humanos em uma perspectiva crítica; seus saberes e práticas. Nesse contexto, inúmeras iniciati-
22. fomentar a criação de uma área específica de direi- vas foram realizadas no Brasil, introduzindo a temática dos
tos humanos, com funcionamento integrado, nas bibliote- direitos humanos nas atividades do ensino de graduação e
cas públicas; pós-graduação, pesquisa e extensão, além de iniciativas de
23. propor a edição de textos de referência e biblio- caráter cultural.
grafia comentada, revistas, gibis, filmes e outros materiais Tal dimensão torna-se ainda mais necessária se consi-
multimídia em educação em direitos humanos; derarmos o atual contexto de desigualdade e exclusão so-
24. incentivar estudos e pesquisas sobre as violações cial, mudanças ambientais e agravamento da violência, que
dos direitos humanos no sistema de ensino e outros temas coloca em risco permanente a vigência dos direitos huma-
relevantes para desenvolver uma cultura de paz e cidada- nos. As instituições de ensino superior precisam responder
nia; a esse cenário, contribuindo não só com a sua capacidade
25. propor ações fundamentadas em princípios de crítica, mas também com uma postura democratizante e
convivência, para que se construa uma escola livre de pre- emancipadora que sirva de parâmetro para toda a socie-
conceitos, violência, abuso sexual, intimidação e punição dade.
corporal, incluindo procedimentos para a resolução de As atribuições constitucionais da universidade nas
conflitos e modos de lidar com a violência e perseguições áreas de ensino, pesquisa e extensão delineiam sua missão
ou intimidações, por meio de processos participativos e de ordem educacional, social e institucional. A produção
democráticos; do conhecimento é o motor do desenvolvimento científico
26. apoiar ações de educação em direitos humanos re- e tecnológico e de um compromisso com o futuro da so-
lacionadas ao esporte e lazer, com o objetivo de elevar os ciedade brasileira, tendo em vista a promoção do desen-
índices de participação da população, o compromisso com volvimento, da justiça social, da democracia, da cidadania
a qualidade e a universalização do acesso às práticas do e da paz.
acervo popular e erudito da cultura corporal;
142
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O Programa Mundial de Educação em Direitos Huma- g) o compromisso com a construção de uma cultura de
nos (ONU, 2005), ao propor a construção de uma cultura respeito aos direitos humanos na relação com os movimen-
universal de direitos humanos por meio do conhecimento, tos e entidades sociais, além de grupos em situação de exclu-
de habilidades e atitudes, aponta para as instituições de são ou discriminação;
ensino superior a nobre tarefa de formação de cidadãos(ãs) h) a participação das IES na formação de agentes sociais
hábeis para participar de uma sociedade livre, democrá- de educação em direitos humanos e na avaliação do proces-
tica e tolerante com as diferenças étnico-racial, religiosa, so de implementação do PNEDH.
cultural, territorial, físico-individual, geracional, de gênero,
de orientação sexual, de opção política, de nacionalidade, Ações programáticas
dentre outras.
No ensino, a educação em direitos humanos pode ser 1. Propor a temática da educação em direitos humanos
incluída por meio de diferentes modalidades, tais como, para subsidiar as diretrizes curriculares das áreas de conhe-
disciplinas obrigatórias e optativas, linhas de pesquisa e cimento das IES;
áreas de concentração, transversalização no projeto políti- 2. divulgar o PNEDH junto à sociedade brasileira, en-
co-pedagógico, entre outros. volvendo a participação efetiva das IES;
Na pesquisa, as demandas de estudos na área dos di- 3. fomentar e apoiar, por meio de editais públicos, pro-
reitos humanos requerem uma política de incentivo que gramas, projetos e ações das IES voltados para a educação
institua esse tema como área de conhecimento de caráter em direitos humanos;
interdisciplinar e transdisciplinar. 4. solicitar às agências de fomento a criação de linhas
Na extensão universitária, a inclusão dos direitos hu- de apoio à pesquisa, ao ensino e à extensão na área de
manos no Plano Nacional de Extensão Universitária en- educação em direitos humanos;
fatizou o compromisso das universidades públicas com a 5. promover pesquisas em nível nacional e estadual
promoção dos direitos humanos. A inserção desse tema com o envolvimento de universidades públicas, comunitá-
em programas e projetos de extensão pode envolver ati- rias e privadas, levantando as ações de ensino, pesquisa e
vidades de capacitação, assessoria e realização de eventos, extensão em direitos humanos, de modo a estruturar um
entre outras, articuladas com as áreas de ensino e pesquisa,
cadastro atualizado e interativo.
contemplando temas diversos.
6. incentivar a elaboração de metodologias pedagógi-
A contribuição da educação superior na área da edu-
cas de caráter transdisciplinar e interdisciplinar para a edu-
cação em direitos humanos implica a consideração dos se-
cação em direitos humanos nas IES;
guintes princípios:
7. estabelecer políticas e parâmetros para a formação
continuada de professores em educação em direitos huma-
a) a universidade, como criadora e disseminadora de co-
nhecimento, é instituição social com vocação republicana, nos, nos vários níveis e modalidades de ensino;
diferenciada e autônoma, comprometida com a democracia 8. contribuir para a difusão de uma cultura de direitos
e a cidadania; humanos, com atenção para a educação básica e a edu-
b) os preceitos da igualdade, da liberdade e da justiça cação não-formal nas suas diferentes modalidades, bem
devem guiar as ações universitárias, de modo a garantir a como formar agentes públicos nessa perspectiva, envol-
democratização da informação, o acesso por parte de grupos vendo discentes e docentes da graduação e da pós-gra-
sociais vulneráveis ou excluídos e o compromisso cívico-ético duação;
com a implementação de políticas públicas voltadas para as 9. apoiar a criação e o fortalecimento de fóruns, nú-
necessidades básicas desses segmentos; cleos, comissões e centros de pesquisa e extensão destina-
c) o princípio básico norteador da educação em direi- dos à promoção, defesa, proteção e ao estudo dos direitos
tos humanos como prática permanente, contínua e global, humanos nas IES;
deve estar voltado para a transformação da sociedade, com 10. promover o intercâmbio entre as IES no plano re-
vistas à difusão de valores democráticos e republicanos, ao gional, nacional e internacional para a realização de progra-
fortalecimento da esfera pública e à construção de projetos mas e projetos na área da educação em direitos humanos;
coletivos; 11. fomentar a articulação entre as IES, as redes de
d) a educação em direitos humanos deve se constituir educação básica e seus órgãos gestores (secretarias esta-
em princípio éticopolítico orientador da formulação e crítica duais e municipais de educação e secretarias municipais de
da prática das instituições de ensino superior; cultura e esporte), para a realização de programas e pro-
e) as atividades acadêmicas devem se voltar para a for- jetos de educação em direitos humanos voltados para a
mação de uma cultura baseada na universalidade, indivi- formação de educadores e de agentes sociais das áreas de
sibilidade e interdependência dos direitos humanos, como esporte, lazer e cultura;
tema transversal e transdisciplinar, de modo a inspirar a ela- 12. propor a criação de um setor específico de livros e
boração de programas específicos e metodologias adequa- periódicos em direitos humanos no acervo das bibliotecas
das nos cursos de graduação e pós-graduação, entre outros; das IES;
f) a construção da indissociabilidade entre ensino, pes- 13. apoiar a criação de linhas editoriais em direitos hu-
quisa e extensão deve ser feita articulando as diferentes manos junto às IES, que possam contribuir para o processo
áreas do conhecimento, os setores de pesquisa e extensão, os de implementação do PNEDH;
programas de graduação, de pós-graduação e outros;
143
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
14. estimular a inserção da educação em direitos hu- Os espaços das atividades de educação não-formal distri-
manos nas conferências, congressos, seminários, fóruns e buem-se em inúmeras dimensões, incluindo desde as ações
demais eventos no campo da educação superior, especial- das comunidades, dos movimentos e organizações sociais,
mente nos debates sobre políticas de ação afirmativa; políticas e não governamentais até as do setor da educação e
15. sugerir a criação de prêmio em educação em direi- da cultura. Essas atividades se desenvolvem em duas verten-
tos humanos no âmbito do MEC, com apoio da SEDH, para tes principais: a construção do conhecimento em educação
estimular as IES a investir em programas e projetos sobre popular e o processo de participação em ações coletivas, ten-
esse tema; do a cidadania democrática como foco central.
16. implementar programas e projetos de formação
e capacitação sobre educação em direitos humanos para Nesse sentido, movimentos sociais, entidades civis e par-
gestores(as), professores(as), servidores(as), corpo discente tidos políticos praticam educação não formal quando estimu-
das IES e membros da comunidade local; lam os grupos sociais a refletirem sobre as suas próprias con-
17. fomentar e apoiar programas e projetos artísticos e dições de vida, os processos históricos em que estão inseridos
culturais na área da educação em direitos humanos nas IES; e o papel que desempenham na sociedade contemporânea.
18. desenvolver políticas estratégicas de ação afirma- Muitas práticas educativas não-formais enfatizam a reflexão e
tiva nas IES que possibilitem a inclusão, o acesso e a per- o conhecimento das pessoas e grupos sobre os direitos civis,
manência de pessoas com deficiência e aquelas alvo de políticos, econômicos, sociais e culturais. Também estimulam
discriminação por motivo de gênero, de orientação sexual os grupos e as comunidades a se organizarem e proporem
e religiosa, entre outros e seguimentos geracionais e étni- interlocução com as autoridades públicas, principalmente no
co-raciais; que se refere ao encaminhamento das suas principais reivindi-
19. estimular nas IES a realização de projetos de edu- cações e à formulação de propostas para as políticas públicas.
cação em direitos humanos sobre a memória do autori- A sensibilização e conscientização das pessoas contri-
tarismo no Brasil, fomentando a pesquisa, a produção de buem para que os conflitos interpessoais e cotidianos não
material didático, a identificação e organização de acervos se agravem. Além disso, eleva-se a capacidade de as pessoas
históricos e centros de referências; identificarem as violações dos direitos e exigirem sua apura-
20. inserir a temática da história recente do autoritaris- ção e reparação.
mo no Brasil em editais de incentivo a projetos de pesquisa As experiências educativas não-formais estão sendo
e extensão universitária; aperfeiçoadas conforme o contexto histórico e a realidade
21. propor a criação de um Fundo Nacional de Ensino, em que estão inseridas. Resultados mais recentes têm sido
Pesquisa e Extensão para dar suporte aos projetos na área as alternativas para o avanço da democracia, a ampliação da
temática da educação em direitos humanos a serem imple- participação política e popular e o processo de qualificação
mentados pelas IES. dos grupos sociais e comunidades para intervir na definição
de políticas democráticas e cidadãs. O empoderamento dos
EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL grupos sociais exige conhecimento experimentado sobre os
mecanismos e instrumentos de promoção, proteção, defesa e
Concepção e princípios reparação dos direitos humanos.
Cabe assinalar um conjunto de princípios que devem
A humanidade vive em permanente processo de refle- orientar as linhas de ação nessa área temática. A educação
xão e aprendizado. Esse processo ocorre em todas as di- não-formal, nessa perspectiva, deve ser vista como:
mensões da vida, pois a aquisição e produção de conheci-
mento não acontecem somente nas escolas e instituições a) mobilização e organização de processos participativos
de ensino superior, mas nas moradias e locais de trabalho, em defesa dos direitos humanos de grupos em situação de
nas cidades e no campo, nas famílias, nos movimentos so- risco e vulnerabilidade social, denúncia das violações e cons-
ciais, nas associações civis, nas organizações não-governa- trução de propostas para sua promoção, proteção e repara-
mentais e em todas as áreas da convivência humana. ção;
A educação não-formal em direitos humanos orienta- b) instrumento fundamental para a ação formativa das
se pelos princípios da emancipação e da autonomia. Sua organizações populares em direitos humanos;
implementação configura um permanente processo de c) processo formativo de lideranças sociais para o exercí-
sensibilização e formação de consciência crítica, direcio- cio ativo da cidadania;
nada para o encaminhamento de reivindicações e a for- d) promoção do conhecimento sobre direitos humanos;
mulação de propostas para as políticas públicas, podendo e) instrumento de leitura crítica da realidade local e con-
ser compreendida como: a) qualificação para o trabalho; b) textual, da vivência pessoal e social, identificando e analisan-
adoção e exercício de práticas voltadas para a comunidade; do aspectos e modos de ação para a transformação da so-
c) aprendizagem política de direitos por meio da partici- ciedade;
pação em grupos sociais; d) educação realizada nos meios f) diálogo entre o saber formal e informal acerca dos di-
de comunicação social; e)aprendizagem de conteúdos da reitos humanos, integrando agentes institucionais e sociais;
escolarização formal em modalidades diversificadas; e f) g) articulação de formas educativas diferenciadas, envol-
educação para a vida no sentido de garantir o respeito à vendo o contato e a participação direta dos agentes sociais e
dignidade do ser humano. de grupos populares.
144
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
145
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A aplicação da lei é critério para a efetivação do direito Para esses(as) profissionais, a educação em direitos hu-
à justiça e à segurança. O processo de elaboração e aplica- manos deve considerar os seguintes princípios:
ção da lei exige coerência com os princípios da igualdade,
da dignidade, do respeito à diversidade, da solidariedade e a) respeito e obediência à lei e aos valores morais que a
da afirmação da democracia. antecedem e fundamentam, promovendo a dignidade ine-
A capacitação de profissionais dos sistemas de justiça e rente à pessoa humana e respeitando os direitos humanos;
segurança é, portanto, estratégica para a consolidação da b) liberdade de exercício de expressão e opinião;
democracia. Esses sistemas, orientados pela perspectiva da c) leitura crítica dos conteúdos e da prática social e ins-
promoção e defesa dos direitos humanos, requerem quali- titucional dos órgãos do sistema de justiça e segurança;
ficações diferenciadas, considerando as especificidades das d) reconhecimento de embates entre paradigmas, mo-
categorias profissionais envolvidas. Ademais, devem ter delos de sociedade, necessidades individuais e coletivas e
por base uma legislação processual moderna, ágil e cidadã. diferenças políticas e ideológicas;
Assim como a segurança e a justiça, a administração e) vivência de cooperação e respeito às diferenças so-
penitenciária deve estar fundada nos mecanismos de pro- ciais e culturais, atendendo com dignidade a todos os seg-
teção internacional e nacional de direitos humanos. mentos sem privilégios;
f) conhecimento acerca da proteção e dos mecanismos
No tocante às práticas das instituições dos sistemas de de defesa dos direitos humanos;
justiça e segurança, a realidade demonstra o quanto é ne- g) relação de correspondência dos eixos ético, técnico
cessário avançar para que seus(suas) profissionais atuem e legal no currículo, coerente com os princípios dos direitos
como promotores(as) e defensores(as) dos direitos huma- humanos e do Estado Democrático de Direito;
nos e da cidadania. Não é admissível, no contexto demo- h) uso legal, legítimo, proporcional e progressivo da for-
crático, tratar dos sistemas de justiça e segurança sem que ça, protegendo e respeitando todos(as) os(as) cidadãos(ãs);
os mesmos estejam integrados com os valores e princípios i) respeito no trato com as pessoas, movimentos e en-
dos direitos humanos. A formulação de políticas públicas tidades sociais, defendendo e promovendo o direito de to-
de segurança e de administração da justiça, em uma socie- dos(as);
j) consolidação de valores baseados em uma ética soli-
dade democrática, requer a formação de agentes policiais,
dária e em princípios dos direitos humanos, que contribuam
guardas municipais, bombeiros(as) e de profissionais da
para uma prática emancipatória dos sujeitos que atuam nas
justiça com base nos princípios e valores dos direitos hu-
áreas de justiça e segurança;
manos, previstos na legislação nacional e nos dispositivos
k) explicitação das contradições e conflitos existentes
normativos internacionais firmados pelo Brasil.
nos discursos e práticas das categorias profissionais do sis-
A educação em direitos humanos constitui um instru-
tema de segurança e justiça;
mento estratégico no interior das políticas de segurança e l) estímulo à configuração de habilidades e atitudes
justiça para respaldar a consonância entre uma cultura de coerentes com os princípios dos direitos humanos;
promoção e defesa dos direitos humanos e os princípios m) promoção da interdisciplinaridade e transdisciplina-
democráticos. ridade nas ações de formação e capacitação dos profissio-
A consolidação da democracia demanda conhecimen- nais da área e de disciplinas específicas de educação em
tos, habilidades e práticas profissionais coerentes com os direitos humanos;
princípios democráticos. O ensino dos direitos humanos n) leitura crítica dos modelos de formação e ação poli-
deve ser operacionalizado nas práticas desses(as) profissio- cial que utilizam práticas violadoras da dignidade da pessoa
nais, que se manifestam nas mensagens, atitudes e valores humana.
presentes na cultura das escolas e academias, nas institui-
ções de segurança e justiça e nas relações sociais. Ações programáticas
O fomento e o subsídio ao processo de formação
dos(as) profissionais da segurança pública na perspectiva 1. Apoiar técnica e financeiramente programas e proje-
dos princípios democráticos, devem garantir a transversa- tos de capacitação da sociedade civil em educação em di-
lização de eixos e áreas temáticas dos direitos humanos, reitos humanos na área da justiça e segurança;
conforme o modelo da Matriz Curricular Nacional de Se- 2. sensibilizar as autoridades, gestores(as) e responsá-
gurança Pública. veis pela segurança pública para a importância da forma-
Essa orientação nacional tem sido de fundamental im- ção em direitos humanos por parte dos operadores(as) e
portância, se considerarmos que os sistemas de justiça e servidores(as) dos sistemas das áreas de justiça, segurança,
segurança congregam um conjunto diversificado de cate- defesa e promoção social;
gorias profissionais com atribuições, formações e experiên- 3. criar e promover programas básicos e conteúdos cur-
cias bastante diferenciadas. Portanto, torna-se necessário riculares obrigatórios, disciplinas e atividades complemen-
destacar e respeitar o papel essencial que cada uma dessas tares em direitos humanos, nos programas para formação
categorias exerce junto à sociedade, orientando as ações e educação continuada dos profissionais de cada sistema,
educacionais a incluir valores e procedimentos que possi- considerando os princípios da transdisciplinaridade e da in-
bilitem tornar seus(suas) agentes em verdadeiros(as) pro- terdisciplinaridade, que contemplem, entre outros itens, a
motores(as) de direitos humanos, o que significa ir além do acessibilidade comunicacional e o conhecimento da Língua
papel de defensores(as) desses direitos. Brasileira de Sinais (LIBRAS);
146
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
4. fortalecer programas e projetos de cursos de espe- 16. promover e incentivar a implementação do Plano
cialização, atualização e aperfeiçoamento em direitos hu- de Ações Integradas para Prevenção e Controle da Tortura
manos, dirigidos aos(às) profissionais da área; no Brasil18, por meio de programas e projetos de capaci-
5. estimular as instituições federais dos entes federati- tação para profissionais do sistema de justiça e segurança
vos para a utilização das certificações como requisito para pública, entidades da sociedade civil e membros do comitê
ascensão profissional, a exemplo da Rede Nacional de Cur- nacional e estaduais de enfrentamento à tortura;
sos de Especialização em Segurança Pública – RENAESP; 17. produzir e difundir material didático e pedagógico
6. proporcionar condições adequadas para que as ou- sobre a prevenção e combate à tortura para os profissio-
vidorias, corregedorias e outros órgãos de controle social nais e gestores do sistema de justiça e segurança pública e
dos sistemas e dos entes federados, transformem-se em órgãos de controle social;
atores proativos na prevenção das violações de direitos e 18. incentivar a estruturação e o fortalecimento de
na função educativa em direitos humanos; academias penitenciárias e programas de formação dos
7. apoiar, incentivar e aprimorar as condições básicas
profissionais do sistema penitenciário, inserindo os direitos
de infraestrutura e superestrutura para a educação em di-
humanos como conteúdo curricular;
reitos humanos nas áreas de justiça, segurança pública, de-
19. implementar programas e projetos de formação
fesa, promoção social e administração penitenciária como
continuada na área da educação em direitos humanos para
prioridades governamentais;
8. fomentar nos centros de formação, escolas e acade- os profissionais das delegacias especializadas com a parti-
mias, a criação de centros de referência para a produção, cipação da sociedade civil;
difusão e aplicação dos conhecimentos técnicos e cientí- 20. estimular a criação e/ou apoiar programas e proje-
ficos que contemplem a promoção e defesa dos direitos tos de educação em direitos humanos para os profissionais
humanos; que atuam com refugiados e asilados;
9. construir bancos de dados com informações sobre 21. capacitar os profissionais do sistema de segurança
policiais militares e civis, membros do Ministério Público, e justiça em relação à questão social das comunidades ru-
da Defensoria Pública, magistrados, agentes e servido- rais e urbanas, especialmente as populações indígenas, os
res(as) penitenciários(as), dentre outros, que passaram por acampamentos e assentamentos rurais e as coletividades
processo de formação em direitos humanos, nas instâncias sem teto;
federal, estadual e municipal, garantindo o compartilha- 22. incentivar a proposta de programas, projetos e
mento das informações entre os órgãos; ações de capacitação para guardas municipais, garantindo
10. fomentar ações educativas que estimulem e incen- a inserção dos direitos humanos como conteúdo teórico e
tivem o envolvimento de profissionais dos sistemas com prático;
questões de diversidade e exclusão social, tais como: luta 23. sugerir programas, projetos e ações de capaci-
antimanicomial, combate ao trabalho escravo e ao trabalho tação em mediação de conflitos e educação em direitos
infantil, defesa de direitos de grupos sociais discriminados, humanos, envolvendo conselhos de segurança pública,
como mulheres, povos indígenas, gays, lésbicas, transgê- conselhos de direitos humanos, ouvidorias de polícia, co-
neros, transexuais e bissexuais (GLTTB), negros(as), pessoas missões de gerenciamento de crises, dentre outros;
com deficiência, idosos(as), adolescentes em conflito com a 24. estimular a produção de material didático em di-
lei, ciganos, refugiados, asilados, entre outros; reitos humanos para as áreas da justiça e da segurança pú-
11. propor e acompanhar a criação de comissões ou blica;
núcleos de direitos humanos nos sistemas de justiça e se- 25. promover pesquisas sobre as experiências de edu-
gurança, que abarquem, entre outras tarefas, a educação
cação em direitos humanos nas áreas de segurança e justi-
em direitos humanos;
ça;
12. promover a formação em direitos humanos para
26. apoiar a valorização dos profissionais de seguran-
profissionais e técnicos(as) envolvidos(as) nas questões
ça e justiça, garantindo condições de trabalho adequadas e
relacionadas com refugiados(as), migrantes nacionais, es-
trangeiros(as) e clandestinos(as), considerando a atenção formação continuada, de modo a contribuir para a redução
às diferenças e o respeito aos direitos humanos, indepen- de transtornos psíquicos, prevenindo violações aos direitos
dentemente de origem ou nacionalidade; humanos.
13. incentivar o desenvolvimento de programas e pro-
jetos de educação em direitos humanos nas penitenciárias EDUCAÇÃO E MÍDIA
e demais órgãos do sistema prisional, inclusive nas delega-
cias e manicômios judiciários; Concepção e princípios
14. apoiar e financiar cursos de especialização e pós-
graduação stricto sensu para as áreas de justiça, segurança Os meios de comunicação são constituídos por um
pública, administração penitenciária, promoção e defesa conjunto de instituições, aparatos, meios, organismos e
social, com transversalidade em direitos humanos; mecanismos voltados para a produção, a difusão e a ava-
15. sugerir a criação de um fórum permanente de liação de informações destinadas a diversos públicos.
avaliação das academias de polícia, escolas do Ministério
Público, da Defensoria Pública e Magistratura e centros de
formação de profissionais da execução penal;
147
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Diferentes mídias são por eles empregadas: revistas, Para fundamentar a ação dos meios de comunicação
jornais, boletins e outras publicações impressas, meios na perspectiva da educação em direitos humanos, devem
audiovisuais, tais como televisão, cinema, vídeo, rádio, ser considerados como princípios:
outdoors, mídia computadorizada on-line, mídia interati-
va, dentre outras. Todo esse aparato de comunicação tem a) a liberdade de exercício de expressão e opinião;
como objetivo a transmissão de informação, opinião, pu- b) o compromisso com a divulgação de conteúdos que
blicidade, propaganda e entretenimento. É um espaço po- valorizem a cidadania, reconheçam as diferenças e promo-
lítico, com capacidade de construir opinião pública, formar vam a diversidade cultural, base para a construção de uma
consciências, influir nos comportamentos, valores, crenças cultura de paz;
e atitudes. c) a responsabilidade social das empresas de mídia
São espaços de intensos embates políticos e ideológi- pode se expressar, entre outras formas, na promoção e di-
cos, pela sua alta capacidade de atingir corações e mentes, vulgação da educação em direitos humanos;
construindo e reproduzindo visões de mundo ou podendo d) a apropriação e incorporação crescentes de temas
consolidar um senso comum que frequentemente moldam de educação em direitos humanos pelas novas tecnologias
posturas acríticas. Mas pode constituir-se também, em um utilizadas na área da comunicação e informação;
espaço estratégico para a construção de uma sociedade e) a importância da adoção pelos meios de comunica-
fundada em uma cultura democrática, solidária, baseada ção, de linguagens e posturas que reforcem os valores da
nos direitos humanos e na justiça social. não-violência e do respeito aos direitos humanos, em uma
perspectiva emancipatória.
A mídia pode tanto cumprir um papel de reprodução
ideológica que reforça o modelo de uma sociedade indi- Ações programáticas
vidualista, não-solidária e não-democrática, quanto exer-
cer um papel fundamental na educação crítica em direitos 1. Criar mecanismos de incentivo às agências de pu-
humanos, em razão do seu enorme potencial para atingir blicidade para a produção de peças de propaganda ade-
todos os setores da sociedade com linguagens diferentes quadas a todos os meios de comunicação, que difundam
na divulgação de informações, na reprodução de valores e valores e princípios relacionados aos direitos humanos e à
na propagação de ideias e saberes. construção de uma cultura transformadora nessa área;
A contemporaneidade é caracterizada pela sociedade 2. sensibilizar proprietários(as) de agências de publici-
do conhecimento e da comunicação, tornando a mídia um dade para a produção voluntária de peças de propaganda
instrumento indispensável para o processo educativo. Por que visem à realização de campanhas de difusão dos valo-
meio da mídia são difundidos conteúdos éticos e valores res e princípios relacionados aos direitos humanos; Plano
solidários, que contribuem para processos pedagógicos Nacional de Educação em Direitos Humanos
libertadores, complementando a educação formal e não- 3. propor às associações de classe e dirigentes de
formal. meios de comunicação a veiculação gratuita das peças de
Especial ênfase deve ser dada ao desenvolvimento de propaganda dessas campanhas;
mídias comunitárias, que possibilitam a democratização da 4. garantir mecanismos que assegurem a implemen-
informação e do acesso às tecnologias para a sua produ- tação de ações do PNEDH, tais como premiação das me-
ção, criando instrumentos para serem apropriados pelos lhores campanhas e promoção de incentivos fiscais, para
setores populares e servir de base a ações educativas capa- que órgãos da mídia empresarial possam aderir às medidas
zes de penetrar nas regiões mais longínquas dos estados propostas;
e do país, fortalecendo a cidadania e os direitos humanos. 5. definir parcerias com entidades associativas de em-
Pelas características de integração e capacidade de presas da área de mídia, profissionais de comunicação, en-
chegar a grandes contingentes de pessoas, a mídia é reco- tidades sindicais e populares para a produção e divulgação
nhecida como um patrimônio social, vital para que o direito de materiais relacionados aos direitos humanos;
à livre expressão e o acesso à informação sejam exercidos. 6. propor e estimular, nos meios de comunicação, a
É por isso que as emissoras de televisão e de rádio atuam realização de programas de entrevistas e debates sobre
por meio de concessões públicas. A legislação que orienta direitos humanos, que envolvam entidades comunitárias
a prestação desses serviços ressalta a necessidade de os e populares, levando em consideração as especificidades
instrumentos de comunicação afirmarem compromissos e as linguagens adequadas aos diferentes segmentos do
previstos na Constituição Federal, em tratados e conven- público de cada região do país;
ções internacionais, como a cultura de paz, a proteção ao 7. firmar convênios com gráficas públicas e privadas,
meio ambiente, a tolerância e o respeito às diferenças de além de outras empresas, para produzir edições popula-
etnia, raça, pessoas com deficiência, cultura, gênero, orien- res de códigos, estatutos e da legislação em geral, relacio-
tação sexual, política e religiosa, dentre outras. Assim, a mí- nados a direitos, bem como informativos (manuais, guias,
dia deve adotar uma postura favorável à não-violência e ao cartilhas etc.), orientando a população sobre seus direitos
respeito aos direitos humanos, não só pela força da lei, mas e deveres, com ampla distribuição gratuita em todo o ter-
também pelo seu engajamento na melhoria da qualidade ritório nacional, contemplando também nos materiais as
de vida da população. necessidades das pessoas com deficiência;
148
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
8. propor a criação de bancos de dados sobre direi- 22. inserir a temática da história recente do autorita-
tos humanos, com interface no sítio da Secretaria Especial rismo no Brasil em editais de incentivo à produção de fil-
dos Direitos Humanos, com as seguintes características: a) mes, vídeos, áudios e similares, voltada para a educação em
disponibilização de textos didáticos e legislação pertinente direitos humanos;
ao tema; b) relação de profissionais e defensores(as) de di- 23. incentivar e apoiar a produção de filmes e material
reitos humanos; c) informações sobre políticas públicas em audiovisual sobre a temática dos direitos humanos.
desenvolvimento nos âmbitos municipal, estadual e fede-
ral, dentre outros temas; Fonte
9. realizar campanhas para orientar cidadãos(ãs) e enti- Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministério
dades a denunciar eventuais abusos e violações dos direi- da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO, 2007.
tos humanos cometidos pela mídia, para que os(as) auto-
res(as) sejam responsabilizados(as) na forma da lei;
10. incentivar a regulamentação das disposições VI - DIREITOS DAS MULHERES
constitucionais relativas à missão educativa dos veículos de
comunicação que operam mediante concessão pública;
11. propor às comissões legislativas de direitos huma-
nos a instituição de prêmios de mérito a pessoas e entida- Direitos da Mulher
des ligadas à comunicação social, que tenham se destaca-
do na área dos direitos humanos; Segundo a ONU - Organização das Nações Unidas os
12. apoiar a criação de programas de formação de direitos das mulheres são:
profissionais da educação e áreas afins, tendo como obje- - Direito à vida
tivo desenvolver a capacidade de leitura crítica da mídia na - Direito à liberdade e a segurança pessoal
perspectiva dos direitos humanos; - Direito à igualdade e a estar livre de todas as formas
13. propor concursos no âmbito nacional e regional de discriminação
de ensino, nos níveis fundamental, médio e superior, sobre - Direito à liberdade de pensamento
meios de comunicação e direitos humanos; - Direito à informação e a educação
14. estabelecer parcerias entre a Secretaria Especial - Direito à privacidade
dos Direitos Humanos e organizações comunitárias e em- - Direito à saúde e a proteção desta
presariais, tais como rádios, canais de televisão, bem como - Direito a construir relacionamento conjugal e a pla-
organizações da sociedade civil, para a produção e difusão nejar sua família
de programas, campanhas e projetos de comunicação na - Direito à decidir ter ou não ter filhos e quando tê-los
área de direitos humanos, levando em consideração o pa- - Direito aos benefícios do progresso científico
rágrafo 2° do artigo 53 do Decreto 5.296/2004; - Direito à liberdade de reunião e participação política
15. fomentar a criação e a acessibilidade de Obser- - Direito a não ser submetida a torturas e maltrato
vatórios Sociais destinados a acompanhar a cobertura da
mídia em direitos humanos; Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher
16. incentivar pesquisas regulares que possam iden-
tificar formas, circunstâncias e características de violações As Partes Contratantes,
dos direitos humanos pela mídia; Desejando pôr em execução o princípio da igualdade
17. apoiar iniciativas que facilitem a regularização dos de direitos dos homens e das mulheres, contido na Carta
meios de comunicação de caráter comunitário, como estra- das Nações Unidas,
tégia de democratização da informação; Reconhecendo que toda pessoa tem o direito de tomar
18. acompanhar a implementação da Portaria n°. 310, parte na direção dos assuntos públicos de seu país, seja
de 28 de junho de 2006, do Ministério das Comunicações, diretamente, seja por intermédio de representantes livre-
sobre emprego de legenda oculta, janela com intérprete de mente escolhidos, ter acesso em condições de igualdade
LIBRAS, dublagem e áudio, descrição de cenas e imagens às funções públicas de seu país e desejando conceder a
na programação regular da televisão, de modo a garantir homens e mulheres igualdade no gozo e exercício dos di-
o acesso das pessoas com deficiência auditiva e visual à reitos políticos, de conformidade com a Carta das Nações
informação e à comunicação; Unidas e com as disposições da Declaração Universal dos
19. incentivar professores(as), estudantes de comuni- Direitos do Homem.
cação social e especialistas em mídia a desenvolver pesqui- Tendo decidido concluir uma Convenção com essa fi-
sas na área de direitos humanos; nalidade, estipularam as condições seguintes:
20. propor ao Conselho Nacional de Educação a inclu-
são da disciplina “Direitos Humanos e Mídia” nas diretrizes Artigo 1
curriculares dos cursos de Comunicação Social; As mulheres terão, em igualdade de condições com os
21. sensibilizar diretores(as) de órgãos da mídia para a homens, o direito de voto em todas as eleições, sem ne-
inclusão dos princípios fundamentais de direitos humanos nhuma restrição.
em seus manuais de redação e orientações editoriais;
149
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Artigo 2 Artigo 9
As mulheres serão, em condições de igualdade com os Toda controvérsia entre dois ou mais Estados Contra-
homens, elegíveis para todos os organismos públicos de tantes referente à interpretação ou aplicação da presente
eleição, constituídos em virtude da legislação nacional, sem Convenção, que não tenha sido regulada por meio de ne-
nenhuma restrição. gociação será levada, a pedido de uma das partes, à Corte
Internacional de Justiça para que ela se pronuncie, a menos
Artigo 3 que as partes interessadas convencionem outro modo de
As mulheres terão, em condições de igualdade o mes- solução.
mo direito que os homens de ocupar todos os postos pú-
blicos e de exercer todas as funções públicas estabelecida Artigo 10
em virtude da legislação, nacional sem nenhuma restrição. Todos os Estados-Membros mencionados no parágra-
fo primeiro do artigo 4 da presente Convenção serão no-
Artigo 4 tificados pelo Secretário-Geral da Organização das Nações
1. A presente Convenção será aberta à assinatura de Unidas a respeito:
todos os Estados-Membros da Organização das Nações a) das assinaturas apostas e dos Instrumentos de ratifi-
Unidas e de outro Estado ao qual a Assembleia Geral tenha cação recebidos conforme o artigo 4;
endereçado convite para esse fim. b) dos Instrumentos de adesão recebidos conforme o
2. Esta Convenção será ratificada e os Instrumentos de artigo 5;
ratificação serão depositados junto ao Secretário-Geral da c) da data na qual a presente Convenção entra em vi-
Organização das Nações Unidas. gor conforme o artigo 6;
d) das comunicações e notificações recebidas do acor-
Artigo 5 do com o artigo 7;
1. A presente Convenção será aberta à adesão de todos e) das notificações de denúncia recebidas conforme as
os Estados mencionados no parágrafo primeiro do artigo 4. disposições do parágrafo primeiro do artigo 8;
2. A adesão se fará pelo depósito de um instrumento f) da extinção resultante do parágrafo 2 do artigo 8.
de adesão junto ao Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas. Artigo 11
1. A presente Convenção, cujos textos em inglês, chi-
Artigo 6 nês, espanhol, francês ou russo, farão igualmente fé, será
1. A presente Convenção entrará em vigor noventa dias depositada nos arquivos da Organização das Nações Uni-
após a data do depósito do sexto Instrumento de ratificação das.
ou de adesão.
2. Para cada um dos Estados que a ratificarem, ou que a A mulher e o Código Civil
ela aderirem após o depósito do sexto Instrumento de rati-
ficação ou adesão, a presente Convenção entrará em vigor De acordo com o novo Código, as mulheres são vis-
noventa dias após ter sido depositado o seu Instrumento de tas como cidadãs, sujeitas de direitos e deveres. A seguir,
ratificação ou de adesão. destacam-se algumas mudanças introduzidas pelo Código
Civil em vigor:
Artigo 7
Se, no momento da assinatura, da ratificação ou da Disposições gerais sobre o casamento
adesão, um Estado formular uma reserva a um dos artigos
da presente Convenção o Secretário-Geral comunicará o O casamento é um ato solene onde duas pessoas de
texto da reserva a todos os Estados que são ou vierem a ser sexos diferentes se unem para formar uma família. Com o
partes desta Convenção. Qualquer Estado que não acertar a casamento, se estabelece comunhão plena de vida, com
reserva poderá, dentro do prazo de noventa dias, a partir da base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.
data dessa comunicação, (ou da data em que passou a fazer Isto significa que mulheres e homens são iguais e am-
parte da Convenção), notificar ao Secretário-Geral que não bos podem opinar sobre todas as questões da família. Com
aceita a dita reserva. Neste caso a Convenção não vigorará o novo Código Civil, acabou a “chefia da sociedade conju-
entre esse Estado e o Estado que formulou a reserva. gal” que era exercida apenas pelo homem.
150
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Este Capítulo também traz uma inovação quando inclui A Constituição da República Federativa do Brasil é uma
entre os direitos regulamentados pelo Código Civil, a ques- das mais avançadas do mundo no que diz respeito aos di-
tão do Planejamento Familiar. E repetindo a Constituição Fe- reito civis e sociais. O Capítulo I do Título II trata dos Direi-
deral, afirma que o Planejamento Familiar é livre decisão do tos e Deveres Individuais e Coletivos, tendo o seu artigo 5º,
casal, além de expressar que é uma competência do Estado, 77 incisos detalhando todos eles.
propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício Os direitos individuais também são chamados de direi-
desse direito. Proíbe, também, qualquer tipo de coerção por tos humanos, direitos das pessoas, direitos de mulheres e
parte de instituições privadas ou públicas. Ou seja, nenhuma homens. Seus fundamentos estão no direito natural e em
instituição pode dizer às pessoas quantas filhas e quando certas liberdades essenciais à personalidade e a dignidade
elas devem ter. A opção é da mulher, do homem ou do casal. da pessoa humana. Com os direitos fundamentais nossa
Constituição proclama que a sociedade e o Estado existem
Direção da sociedade conjugal para o bem-estar da pessoa humana.
O artigo 5º diz: Todos são iguais perante a lei, sem dis-
Com este novo Código civil, a mulher deixou de ser tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
apenas uma colaboradora do marido, que tinha a chefia da e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
família. Agora, a direção da sociedade conjugal passa a ser direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro-
exercida por ambos, marido e mulher, um colaborando com priedade, nos termos seguintes:
o outro, no mesmo pé de igualdade. Deve ser respeitado, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obriga-
em primeiro lugar, o interesse do casal e das filhas. Se hou- ções, nos termos desta Constituição;
ver alguma divergência, qualquer um dos cônjuges poderá Isto significa igualdade de direitos
recorrer ao juiz, que decidirá considerando os interesses do Se homens e mulheres são iguais em direitos e obri-
casal e das filhas. gações, não pode haver qualquer tipo de discriminação na
família, no trabalho nem na sociedade. Com este inciso,
Sustento da família
quem é tratada desigual por razão do sexo - masculino ou
feminino, deve buscar a igualdade.
Partindo do princípio de que, a todo direito corresponde
Exemplos:
um dever, este novo Código, além de estabelecer o direito
- Na família - a mulher tem os mesmos direitos do ma-
da igualdade, estabelece, também, as obrigações para com
rido ou companheiro, com relação às decisões que devem
as despesas de sustento da família e a educação das filhas,
ser tomadas referentes aos filhos e à família. Os trabalhos
que são obrigações tanto do homem como da mulher. Esta
domésticos devem ser divididos entre ambos, de comum
obrigação deve ser cumprida, qualquer que seja o regime
patrimonial. acordo.
- No trabalho - uma mulher não pode, como trabalha-
Domicílio do casal dora, receber menos que um homem, para fazer o mesmo
trabalho.
Outra inovação é referente ao domicílio do casal. Ante- - Na sociedade - mulheres e homens devem ser trata-
riormente, o homem era quem tinha o privilégio de escolher das com igual respeito em qualquer situação e ambiente
o local de moradia da família. Entre os direitos conquistados social.
pela mulher está a sua participação na escolha do domicílio, Apesar desta obrigação de igualdade, existem situa-
em igualdade de condições com o homem. Também está ções em que, por motivo do sexo, mulheres e homens ne-
explícito que qualquer um dos cônjuges pode ausentar-se cessitam ser tratados de forma diferente, como por exem-
do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao plo, com relação à função reprodutiva da mulher: só a mu-
exercício de sua profissão, ou a interesses particulares rele- lher pode menstruar, engravidar e parir. Nestas situações,
vantes, sem que, com isto, esteja violando um dos deveres seus direitos têm de ser diferenciados e protegidos pois, a
no casamento. maternidade é uma função social.
Da mesma forma, a mulher deve ser tratada diferen-
Em caso de ausência temente do homem quando, por exemplo, se trata de sua
capacidade de suportar peso, pois esta é, naturalmente, in-
Para os casos nos quais um dos cônjuges esteja em lu- ferior à do homem.
gar remoto ou não se saiba de seu paradeiro, esteja encar-
cerado pois mais de cento e oitenta (180) dias, interditado A Violência contra a Mulher e a Lei
judicialmente ou privado, mesmo que seja temporariamente
de consciência, em virtude de enfermidade ou de acidente, A violência contra a mulher ocorre de várias formas e
o outro exercerá com exclusividade a direção da família, ca- em qualquer lugar e, pela legislação atual, pode ser: sexual,
bendo-lhe a administração dos bens, responsabilidades com física, psicológica ou patrimonial.
as filhas e todos os demais direitos e deveres no casamento.
151
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A violência sexual pode ser considerada um dos piores Assim, o projeto de lei foi encaminhado para a sanção pre-
crimes praticados pelo ser humano. A prática da violência sidencial, dando origem à Lei Maria da Penha, uma proposta
sexual é punida através do Direito Penal, que é o ramo do inovadora resultante do debate de toda a sociedade e intensa
direito onde está escrito o que é crime e quais as penas para mobilização do movimento feminista.
cada tipo de crime.
Nosso Código Penal diz que são crimes contra a liberda- LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006
de sexual: estupro; atentado violento ao pudor; posse sexual
mediante fraude e atentado ao pudor mediante fraude. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e fami-
A violência psicológica, emocional ou moral é muitas ve- liar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Cons-
zes “sutil” isto é, leve, mansa, hábil, mesmo assim, não deixa tituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
de ser “violência” e abala o emocional da mulher. Ser cha- Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
mada de estúpida, boca aberta, burra ou louca, é violência Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência con-
psicológica. Da mesma forma, ser chamada de gorda, velha, tra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência
feia, também é violência. Sofrer chantagem emocional tipo Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Pro-
ameaças de separação ou que vai tirar de você seus filhos, cesso Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá
não vai lhe dar dinheiro para as despesas da família ou se outras providências.
“gaba” de sustentar a casa e por isto manda na família, são
formas de violência emocional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
Muitas mulheres passam anos e anos sofrendo de vio- gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
lência psicológica, ou emocional, a tal ponto que, desespera- TÍTULO I
das, cometem desatinos, loucuras, até mesmo o suicídio. Para DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
essa violência existem três tipos de crime em nosso Código
Penal: calúnia, injúria e difamação. Estes tipos penais (crimes), Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a
também são chamados de “crimes contra a honra”. violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do §
A denúncia para estes três tipos de crime só pode ser fei- 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a
ta pela própria vítima ou, em caso de menores ou incapazes, Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher,
pelos seus representantes legais. da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais
A Lei Maria da Penha ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a
criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
A competência para processar os crimes resultantes da a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às
violência contra a mulher era dos Juizados Especiais Crimi- mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
nais, porém o resultado dessa sistemática de processamento
judicial era a impunidade e a baixa repressão aos agressores. Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe, raça,
Os réus, quando condenados, eram “obrigados apenas a etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, ida-
pagarem uma cesta básica alimentar ou prestar serviços à co- de e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pes-
munidade. Tal situação tem levado à banalização da violência soa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e faci-
doméstica, desestimulando as vítimas a denunciar esses cri- lidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e
mes e dando aos agressores um sentimento de impunidade”. mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.
Em vista disso, cada vez mais se fazia imprescindível uma
norma eficaz, que trouxesse reais mecanismos de combate Art. 3o Serão asseguradas às mulheres as condições para
à violência doméstica contra a mulher. Assim, foi criado o o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à
Grupo de Trabalho Interministerial, integrado pelos seguin- alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à jus-
tes órgãos: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres tiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade,
(SPM) da Presidência da República (coordenação); Casa Civil à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
da Presidência da República; Advocacia-Geral da União; Mi- § 1o O poder público desenvolverá políticas que visem
nistério da Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Humanos garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das re-
da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas lações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de
de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da Repúbli- toda forma de negligência, discriminação, exploração, violên-
ca; Ministério da Justiça e Secretaria Nacional de Segurança cia, crueldade e opressão.
Pública. § 2o Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar
O fruto desse esforço, capitaneado pela SPM, foi o proje- as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos
to de lei nº 4.559, de 2004, encaminhado ao Congresso pelo enunciados no caput.
presidente da República em 3 de dezembro daquele ano.
Em 2006, o Senado, através unicamente de sua Comissão de Art. 4o Na interpretação desta Lei, serão considerados os
Constituição, Justiça e Cidadania, promoveu uma verdadeira fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições
revisão no projeto. Essas mudanças foram eminentemente peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e
redacionais, objetivando enxugar e harmonizar o texto, per- familiar.
mitindo sua execução social com clareza e precisão.
152
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência do- Art. 8o A política pública que visa coibir a violência
méstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: Distrito Federal e dos Municípios e de ações não governa-
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como mentais, tendo por diretrizes:
o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem I - a integração operacional do Poder Judiciário, do
vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas
II - no âmbito da família, compreendida como a comu- de segurança pública, assistência social, saúde, educação,
nidade formada por indivíduos que são ou se consideram trabalho e habitação;
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e
vontade expressa; outras informações relevantes, com a perspectiva de gê-
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agres- nero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conse-
sor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independen- quências e à frequência da violência doméstica e familiar
temente de coabitação. contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos re-
artigo independem de orientação sexual. sultados das medidas adotadas;
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos
Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma
constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.
a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exa-
cerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o
CAPÍTULO II
estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e
DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;
CONTRA A MULHER
IV - a implementação de atendimento policial especia-
lizado para as mulheres, em particular nas Delegacias de
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar con-
Atendimento à Mulher;
tra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta V - a promoção e a realização de campanhas educati-
que ofenda sua integridade ou saúde corporal; vas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a
II - a violência psicológica, entendida como qualquer mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral,
conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da au- e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos
toestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desen- direitos humanos das mulheres;
volvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, ter-
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, mos ou outros instrumentos de promoção de parceria en-
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigi- tre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não
lância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, governamentais, tendo por objetivo a implementação de
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou programas de erradicação da violência doméstica e familiar
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicoló- contra a mulher;
gica e à autodeterminação; VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Mi-
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta litar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos
que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de rela- profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enuncia-
ção sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coa- dos no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou
ção ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, etnia;
de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar VIII - a promoção de programas educacionais que dis-
qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimô- seminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade
nio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule ou etnia;
o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos
conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial humanos, à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao
ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documen- problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.
tos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta
que configure calúnia, difamação ou injúria.
153
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
154
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos pro-
processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado: cessuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinen-
I - do seu domicílio ou de sua residência; tes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intima-
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; ção do advogado constituído ou do defensor público.
III - do domicílio do agressor. Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar inti-
mação ou notificação ao agressor.
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à
representação da ofendida de que trata esta Lei, só será Seção II
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em au- Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam
diência especialmente designada com tal finalidade, antes o Agressor
do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá
doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta
aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separada-
básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
mente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre
substituição de pena que implique o pagamento isolado
outras:
de multa.
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas,
CAPÍTULO II com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
Seção I II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivên-
Disposições Gerais cia com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofen- quais:
dida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre
as medidas protetivas de urgência; estes e o agressor;
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao ór- b) contato com a ofendida, seus familiares e testemu-
gão de assistência judiciária, quando for o caso; nhas por qualquer meio de comunicação;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as c) frequentação de determinados lugares a fim de pre-
providências cabíveis. servar a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar
concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou serviço similar;
ou a pedido da ofendida. V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser § 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a
concedidas de imediato, independentemente de audiência aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sem-
das partes e de manifestação do Ministério Público, deven- pre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o
do este ser prontamente comunicado. exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Minis-
§ 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas tério Público.
isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a § 2o Na hipótese de aplicação do inciso I, encontran-
qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que do-se o agressor nas condições mencionadas no caput e
os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou
incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de
violados.
2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação
§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Pú-
ou instituição as medidas protetivas de urgência concedi-
blico ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas
das e determinará a restrição do porte de armas, ficando
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se
entender necessário à proteção da ofendida, de seus fa- o superior imediato do agressor responsável pelo cumpri-
miliares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. mento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos
crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o
Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da caso.
instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, § 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas
decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento,
Público ou mediante representação da autoridade policial. auxílio da força policial.
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão pre- § 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no
ventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art.
para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobre- 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de
vierem razões que a justifiquem. Processo Civil).
155
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e crimi-
de outras medidas: nais, a mulher em situação de violência doméstica e fami-
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a pro- liar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o
grama oficial ou comunitário de proteção ou de atendi- previsto no art. 19 desta Lei.
mento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de vio-
dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do lência doméstica e familiar o acesso aos serviços de De-
agressor; fensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendi-
prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e mento específico e humanizado.
alimentos;
IV - determinar a separação de corpos. TÍTULO V
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da so-
ciedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar
mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguin- contra a Mulher que vierem a ser criados poderão contar
tes medidas, entre outras: com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser in-
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo tegrada por profissionais especializados nas áreas psicos-
agressor à ofendida; social, jurídica e de saúde.
II - proibição temporária para a celebração de atos e
contratos de compra, venda e locação de propriedade em Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidis-
comum, salvo expressa autorização judicial; ciplinar, entre outras atribuições que lhe forem reservadas
III - suspensão das procurações conferidas pela ofen- pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz,
dida ao agressor; ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante lau-
IV - prestação de caução provisória, mediante depó- dos ou verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos
sito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da de orientação, encaminhamento, prevenção e outras me-
prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. didas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares,
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório com- com especial atenção às crianças e aos adolescentes.
petente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.
Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avalia-
CAPÍTULO III ção mais aprofundada, o juiz poderá determinar a manifes-
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO tação de profissional especializado, mediante a indicação
da equipe de atendimento multidisciplinar.
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for
parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da violência Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua pro-
doméstica e familiar contra a mulher. posta orçamentária, poderá prever recursos para a criação
e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar,
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
outras atribuições, nos casos de violência doméstica e fa-
miliar contra a mulher, quando necessário: TÍTULO VI
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
de educação, de assistência social e de segurança, entre
outros; Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particu- Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
lares de atendimento à mulher em situação de violência criminais acumularão as competências cível e criminal para
doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas ad- conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de vio-
ministrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer lência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as
irregularidades constatadas; previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar processual pertinente.
contra a mulher. Parágrafo único. Será garantido o direito de preferên-
cia, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das
causas referidas no caput.
156
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
TÍTULO VII Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem
DISPOSIÇÕES FINAIS outras decorrentes dos princípios por ela adotados.
Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Domés- Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica
tica e Familiar contra a Mulher poderá ser acompanhada e familiar contra a mulher, independentemente da pena pre-
pela implantação das curadorias necessárias e do serviço vista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
de assistência judiciária.
Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de ou-
Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- tubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar
nicípios poderão criar e promover, no limite das respectivas acrescido do seguinte inciso IV:
competências: “Art. 313. .................................................
I - centros de atendimento integral e multidisciplinar ................................................................
IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar
para mulheres e respectivos dependentes em situação de
contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a
violência doméstica e familiar;
execução das medidas protetivas de urgência.” (NR)
II - casas-abrigos para mulheres e respectivos depen-
dentes menores em situação de violência doméstica e fa-
Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei
miliar; no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços vigorar com a seguinte redação:
de saúde e centros de perícia médico-legal especializados “Art. 61. ..................................................
no atendimento à mulher em situação de violência domés- .................................................................
tica e familiar; II - ............................................................
IV - programas e campanhas de enfrentamento da vio- .................................................................
lência doméstica e familiar; f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de rela-
V - centros de educação e de reabilitação para os ções domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com
agressores. violência contra a mulher na forma da lei específica;
........................................................... “(NR)
Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
nicípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de de-
programas às diretrizes e aos princípios desta Lei. zembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as se-
guintes alterações:
Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindivi- “Art. 129. ..................................................
duais previstos nesta Lei poderá ser exercida, concorrente- ..................................................................
mente, pelo Ministério Público e por associação de atuação § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descen-
na área, regularmente constituída há pelo menos um ano, dente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem convi-
nos termos da legislação civil. va ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente
Parágrafo único. O requisito da pré-constituição po- das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
derá ser dispensado pelo juiz quando entender que não há Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
outra entidade com representatividade adequada para o ..................................................................
ajuizamento da demanda coletiva. § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será au-
mentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa
portadora de deficiência.” (NR)
Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e
familiar contra a mulher serão incluídas nas bases de dados
Art. 45. O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de
dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim
1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a seguinte
de subsidiar o sistema nacional de dados e informações
redação:
relativo às mulheres. “Art. 152. ...................................................
Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Públi- Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a
ca dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório
informações criminais para a base de dados do Ministério do agressor a programas de recuperação e reeducação.” (NR)
da Justiça.
Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os após sua publicação.
Municípios, no limite de suas competências e nos termos
das respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão Brasília, 7 de agosto de 2006; 185o da Independência
estabelecer dotações orçamentárias específicas, em cada e 118o da República.
exercício financeiro, para a implementação das medidas
estabelecidas nesta Lei. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Dilma Rousseff
157
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
158
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
No Brasil, desde 2004, o Plano Nacional de Políticas Saúde integral das mulheres, direitos sexuais e direitos
para as Mulheres trata a educação como um dos eixos fun- reprodutivos
damentais para a construção de uma sociedade igualitá-
ria entre mulheres e homens. Até este momento, em que O Sistema Único de Saúde (SUS) tem na Constituição
o atual Plano Nacional de Políticas para Mulheres para o Federal o suporte para sua construção e afirma no artigo
período de 2013-2015 está sendo entregue à sociedade 196 que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado,
brasileira, a educação brasileira ainda não incorporou to- garantido mediante políticas sociais e econômicas que vi-
talmente o princípio da igualdade de gênero. Há paridade sem à redução do risco de doença e de outros agravos e
nas matrículas em quase todos os níveis de ensino. A desi- ao acesso universal e igualitário às ações serviços para sua
gualdade de gênero foi reduzida no acesso e no processo promoção, proteção e recuperação” (CF, 1988).
educacional, mas permanecem diferenças nos conteúdos As mulheres constituem a maioria da população bra-
educacionais e nos cursos e nas carreiras acessados por sileira e são as principais usuárias do Sistema Único de
mulheres e homens. Saúde. Conformam, portanto, um segmento social funda-
Se, por um lado, grande parte dos indicadores educa- mental para as políticas de saúde, especialmente porque
cionais mostra que as mulheres se sobressaem em relação as históricas desigualdades de poder entre mulheres e ho-
aos homens; esses indicadores também comprovam a per- mens implicam em forte impacto nas condições de saúde
sistência de graves desigualdades associadas à discrimina- das mulheres. Associadas às questões referentes às rela-
ção sexista, étnica e racial, à concentração de renda, à dis- ções sociais de gênero, outras variáveis como raça, etnia,
tribuição desigual de riqueza entre campo e cidade. Se, por situação de pobreza, orientação sexual, idade, aprofundam
um lado, a situação mais favorável para as mulheres do que ainda mais as desigualdades vividas pelas mulheres, exi-
para os homens no campo educacional revela o sexismo gindo do SUS cada vez mais o olhar para este segmento
nas escolhas das carreiras acadêmicas; por outro, desnuda da população.
a ampliação da desigualdade entre as próprias mulheres. É O governo brasileiro, em contraposição a práticas na-
preciso considerar a interseccionalidade entre gênero, raça, talistas e de controle do corpo e da sexualidade, incorpora
ao longo dos anos, nas políticas de saúde, a visão dos direi-
etnia, rural/urbano e orientação sexual para o desenvolver
tos sexuais e direitos reprodutivos como parte integrante
políticas específicas que combatam preconceitos, mesmo
dos Direitos Humanos. Isso também é fruto da organiza-
entre mulheres. A taxa de analfabetismo das mulheres ne-
ção e da presença do movimento feminista e de mulheres.
gras é o dobro da taxa das mulheres brancas; e o acesso à
Em 1983, a implementação do Programa de Assistência
educação das meninas e mulheres das áreas rurais é me-
Integral à Saúde da Mulher (Paism) foi impulsionada pelo
nor, em relação às que vivem nas áreas urbanas. Já entre
movimento organizado de mulheres. Com forte atuação
os povos indígenas a desigualdade de gênero é maior nas
no campo da saúde, o movimento de mulheres contribuiu
matrículas, principalmente no ensino médio.
para introduzir na agenda política nacional questões até
então relegadas ao segundo plano, por serem considera-
A escola acaba reproduzindo a desigualdade vivida das restritas ao espaço e às relações privadas. Tratou-se
entre as pessoas na sociedade, seja nos currículos, nos li- de revelar as desigualdades nas condições de vida e nas
vros didáticos, nas práticas das salas de aula ou nos pro- relações entre os homens e as mulheres, os problemas
cedimentos de avaliação. A linguagem sexista dos textos e associados à sexualidade e à reprodução, as dificuldades
práticas cotidianas, a invisibilidade das mulheres na ciência relacionadas à anticoncepção e à prevenção de doenças
e na história responde à ideologia patriarcal e ao androcen- sexualmente transmissíveis e a sobrecarga de trabalho das
trismo do conhecimento; estes são denunciados como um mulheres, responsáveis pelo trabalho doméstico e de cria-
dos elementos da construção da desigualdade de gênero. ção dos filhos. As mulheres organizadas argumentavam
A massiva presença das mulheres no professorado marca que as desigualdades nas relações sociais entre mulheres e
a formação e o reconhecimento social da profissão, neste homens se traduziam também em problemas de saúde que
persistente quadro desigual. Muitas ações e programas são afetavam particularmente a população feminina.
hoje executados, mas urge o fortalecimento dessas ações,
no âmbito da educação, de modo a contribuir para uma Enquanto a reforma sanitária apontava para um mode-
educação igualitária e sem discriminação no ambiente es- lo de sistema de saúde (público, universal e equitativo); o
colar. Paism, também influenciado pelos princípios do SUS, sig-
A preocupação com a igualdade de gênero, raça, etnia, nificou um rompimento com a abordagem demográfica e
liberdade de orientação sexual, com fortalecimento dos di- controlista, bem como com a concepção materno-infantil,
reitos humanos, perpassa transversalmente o planejamen- ao enunciar uma política de “saúde integral da mulher”.
to das políticas federais. Uma educação de qualidade deve Esta passou a compreender um novo conceito de atenção
estar intrinsecamente associada à busca da igualdade entre à saúde que tem nas mulheres não mais objetos reprodu-
os seres humanos e à valorização da diversidade da so- tivos das ações de saúde materno-infantil ou de sua ex-
ciedade brasileira. Foram estas premissas que nortearam a clusão, e sim sujeitos ativos no cuidado de sua saúde, em
construção destas políticas no âmbito do capítulo de edu- todos os ciclos da vida, e para quem a reprodução é um
cação igualitária e sem discriminação do atual PNPM. direito e não dever ou determinismo biológico.
159
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Ao longo dos anos os planos de ação da saúde foram Para que esse conjunto de compromissos com as mu-
ampliados de modo a incluir grupos historicamente alijados lheres seja alcançado é imprescindível a implementação de
das políticas públicas, nas suas especificidades e necessida- políticas públicas integrais, específicas e transversais.
des. Entre elas, as mulheres lésbicas, bissexuais, no climatério,
as mulheres do campo e da floresta, as índias, as negras, as Enfrentamento de todas as formas de violência contra as
quilombolas, as que vivenciam a transexualidade, mulheres mulheres
em situação de prisão, as portadoras de deficiência, as que
vivem em situação de rua e as ciganas. Ser mulher pode se constituir um sério fator de risco.
Outros elementos que influíram nas definições das polí- Pesquisa revela que, segundo dados de 2006 a 2010 da Or-
ticas de saúde foram as diversas conferências internacionais ganização Mundial de Saúde, o Brasil está entre os dez paí-
organizadas pelas Nações Unidas. A Conferência Internacio- ses com maior número de homicídios femininos. Esse dado
nal de População e Desenvolvimento (Cairo, 1994) estabe- é ainda mais alarmante quando se verifica que, em geral, o
leceu que “a saúde reprodutiva é um estado geral de bem homicídio contra as mulheres é cometido por homens, em
estar físico, mental e social, e não mera ausência de enfermi- sua maioria com quem a vítima possui uma relação afetiva,
dades ou doenças, em todos os aspectos relacionados com utilizando arma de fogo ou objeto cortante/penetrante e
o sistema reprodutivo e suas funções e processos. Em conse- realizado nas próprias residências. A Lei nº 11.340/2006 (co-
quência, a saúde reprodutiva inclui a capacidade de desfru- nhecida por Lei Maria da Penha) foi um importante avanço
tar de uma vida sexual satisfatória e sem riscos de procriar, e no sentido de coibir a violência doméstica e familiar contra
a liberdade para decidir fazê-lo ou não, quando e com que a mulher. E, para tanto, conceitua os seguintes tipos de vio-
frequência”. O documento do Cairo é o primeiro texto de lência que podem existir: violência física, psicológica, sexual,
adoção universal a acolher e explicitar a expressão “direitos patrimonial e moral.
reprodutivos”, contemplando o direito à liberdade de escolha Em 09 de fevereiro de 2012, o Plenário do Supremo Tribu-
do número de filhos e seu espaçamento. nal Federal declarou, por unanimidade, a constitucionalidade
A Conferência Mundial sobre Mulheres (Beijing, 1995) do artigo 41 da Lei Maria da Penha, que afastou a aplicação
apontou para a eliminação de leis e medidas punitivas contra do artigo 89 da Lei nº 9.099/95 quanto aos crimes praticados
as mulheres que tenham se submetido a abortos ilegais, garan- com violência doméstica e familiar contra a mulher, tornando
tindo o acesso a serviços de qualidade para tratar das compli- impossível a aplicação dos institutos despenalizadores nela
cações derivadas destas situações. Em seu documento final, a previstos, como a suspensão condicional do processo. Na
Conferência afirma: “na maior parte dos países, a violação aos mesma sessão, o Plenário do Supremo Tribunal Federal jul-
direitos reprodutivos das mulheres limita dramaticamente suas gou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI
oportunidades na vida pública e privada, suas oportunidades 4424) ajuizada pela Procuradoria-Geral da República, que
de acesso à educação e o pleno exercício dos demais direitos”. defendeu ser a violência contra mulheres não uma questão
Estabelece-se aí o nexo entre a saúde sexual e reprodutiva e privada, mas sim merecedora de ação penal pública, afastan-
a cidadania efetiva das mulheres e a sua relação com as po- do a aplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais (9.099/95)
líticas de desenvolvimento, o que estará expresso nas Metas aos crimes cometidos no âmbito da Lei Maria da Penha, bem
do Milênio, em 2000. O compromisso assumido pelo governo como para determinar que o crime de lesão corporal de na-
brasileiro em relação à saúde das mulheres tendo em vista os tureza leve cometido contra mulher seja processado median-
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que deverão ser al- te ação penal pública incondicionada.
cançados até 2015, refere-se à melhoria da saúde materna e ao Além dessas conquistas históricas, foi visto que o II Pla-
combate a um conjunto de doenças, entre as quais o HIV/Aids. no Nacional de Políticas para as Mulheres cumpriu valoroso
Em 2004, o Paism ganha status de Política Nacional de papel na consolidação da Política Nacional de Enfrentamen-
Atenção Integral à Saúde da Mulher - PNAISM, com o obje- to à Violência. Entre outros, o II PNPM consolidou a imple-
tivo de consolidar os avanços no campo dos direitos sexuais mentação do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência
e direitos reprodutivos com a preocupação em aperfeiçoar a contra as Mulheres e o Plano Nacional de Enfrentamento ao
atenção obstétrica e o acesso ao planejamento familiar; me- Tráfico de Pessoas, dois marcos cruciais para a concretização
lhorar a atenção nas intercorrências obstétricas e à violência do enfrentamento de todas as formas de violência contra as
doméstica e sexual; reduzir a morbimortalidade por causas mulheres.
previsíveis e evitáveis, a prevenção e o tratamento das doen-
ças sexualmente transmissíveis incluindo o HIV/Aids; o cân- Foi através dos resultados alcançados por estas políticas
cer de mama e de colo de útero e o tratamento das doenças e com o objetivo de ampliar a efetividade do enfrentamento à
crônicas não transmissíveis. violência que o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência
Para assegurar a qualidade do atendimento e ampliar o contra as Mulheres passou por uma releitura em 2011. Após
acesso, o governo propôs novos programas como o Rede ter sido assinado pelas 27 unidades federativas do país e ter
Cegonha e o Plano de Enfrentamento à Feminização das visto a política consolidada em seus primeiros quatro anos, o
DST/HIV/Aids. Somam-se a isso, as Políticas de Atenção Inte- Pacto foi reestruturado em cinco eixos, ampliando seus subei-
gral à População Negra, às Pessoas com Deficiência, à Popu- xos e suas ações. A reestruturação gerou uma desconformida-
lação Indígena, à População LGBT, de Saúde Mental, dos Tra- de com as premissas do II PNPM, então em vigor, em relação
balhadores/as, enfim, políticas específicas que reconhecem aos novos eixos. Frente a isto, a presente reedição do PNPM
a diversidade e buscam dar respostas adequadas para um sana a desatualização e dá unicidade às ações de enfrenta-
atendimento de qualidade e cidadão. mento a todas as formas de violência contra as mulheres.
160
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Muitas das novas ações do PNPM estão em plena exe- Fortalecimento e participação das mulheres nos espaços
cução. Em 2012, o Ministério da Previdência assinou con- de poder e decisão
vênio com a Secretaria de Políticas para as Mulheres para
entrar com ações regressivas nos casos de aposentadorias A construção de uma sociedade justa e democrática
ou pensões causadas pela violência doméstica. Com isso, passa necessariamente pela igualdade entre mulheres e
há a responsabilização do agressor, e o Estado não Į ca com homens. Hoje, todas as organizações internacionais e acor-
os custos da violência. dos entre os países indicam como recomendações a am-
Houve, também, um notório crescimento da Rede Es- pliação da presença das mulheres nos espaços de poder
pecializada de Atendimento à Mulher, que hoje conta com e de decisão, assim como a implementação de medidas
cerca de 974 serviços. Esse dado demonstra que o número que favoreçam e contribuam para a participação das mu-
de serviços especializados aumentou em 65,3% em com- lheres como um importante aspecto da construção cidadã.
paração com o ano de 2007 (lançamento do Pacto) e em Exemplos disso são as recomendações da Convenção para
194,3% em comparação com o ano de 2003 (criação da Eliminação de Todas as Formas de Discriminações Contra a
SPM). Outra inovação corresponde as Unidades Móveis Mulher (Cedaw), as Conferências Internacionais do Cairo,
de Atendimento às Mulheres em situação de Violência no Beijing, Durban, entre outras.
Campo e na Floresta que integrarão a Rede Especializada Esta concepção igualitária foi forjada pelas mulheres
com a vantagem de alcançar uma capilaridade única nos ao longo dos séculos. Inconformadas com a situação de
serviços até então disponibilizados. desigualdades e opressão vivida e pela destinação quase
que restrita de seu papel social ao espaço doméstico, as
Em relação aos números e estatísticas da aplicação da mulheres se organizaram e construíram um movimento
Lei Maria da Penha nos Juizados Especializados em Violên- político ideológico que articula na sua concepção as lutas
cia Doméstica e Familiar contra a Mulher, dados divulgados específicas das mulheres com as questões macroeconômi-
pelo Conselho Nacional de Justiça referentes ao período cas e estruturantes da sociedade. O feminismo no Brasil,
de 22/09/2006 a 31/12/2011 revelam que foram distribuí- em especial a partir da década de 70, traz importante con-
dos 685.905 procedimentos, realizadas 304.696 audiências, tribuição para uma nova abordagem conceitual e política
efetuadas 26.416 prisões em flagrantes, 4.146 prisões pre- do papel da mulher na sociedade. As mulheres organiza-
ventivas e 278.364 medidas protetivas de urgência. Pen- das propõem uma articulação entre a participação política
sando-se em casos onde ainda é vista impunidade e, prin- e a vida cotidiana, entre a esfera pública e esfera privada.
cipalmente, em maiores articulações junto à Justiça e aos A mulher, ao emergir da esfera privada para reivindicar na
operadores da lei, foi lançada a campanha “Compromisso esfera pública, torna-se visível e protagonista, denuncia as
e Atitude pela Lei Maria da Penha – a Lei é mais forte”, com grandes desigualdades e violências vividas fazendo emer-
o objetivo de dar celeridade aos julgamentos dos casos e gir novo sujeito político da construção histórica, marcando
mobilizar a sociedade brasileira para o enfrentamento da importantes avanços tanto na luta pelo direito ao voto (das
violência contra as mulheres. sufragistas) como no processo de enfrentamento político à
Além disso, merece destaque neste PNPM 2013-2015 a ditadura militar em nosso país.
Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180 que já atingiu A 3ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulhe-
quase 3 milhões atendimentos desde a sua criação. Uma res, ao indicar mais uma vez a permanência deste capítulo
de suas ações foi a ampliação de suas atividades para o ní- para o Plano Nacional de Políticas para Mulheres, traz para
vel internacional, de forma a alcançar brasileiras que vivem a sociedade a necessidade de igualdade nas relações so-
no exterior e sofrem de diversas formas de violência, entre ciais entre mulheres e homens, o enfrentamento de todas
as quais tráfico de pessoas. Outro avanço que vem sendo as formas de discriminações contra as mulheres e o reco-
construído, e agora corroborado pela decisão do Supremo nhecimento e respeito à diversidade para a construção de
Tribunal Federal, é a implementação da antiga demanda de valores sociais, que têm na igualdade as condições para
aumentar o escopo do Ligue 180 e transformá-lo em uma superar as desigualdades de oportunidades no mundo
Central de Denúncias. do trabalho e na política. Exige também, atitudes e com-
Entre outras, essas ações são respostas do governo promissos do Estado e dos governos, nas suas diferentes
federal à violência contra as mulheres, que se configura esferas, que sejam transformadores das estruturas institu-
como um fenômeno multidimensional que não escolhe cionais que ainda reproduzem e reafirmam a desigualda-
lugar, classe social, raça, etnia, faixa etária, entre outros e, de. Para isso, é necessário consolidar e articular a maior
consequentemente, deve contemplar ações nas diversas presença das mulheres nos espaços de poder e de decisão
esferas da vida social. Portanto, enfrentar todas as formas e fortalecer Secretarias Estaduais e Municipais de Políticas
de violência contra as mulheres é um dever do Estado e para as Mulheres, que contribuem para um novo modelo
uma demanda da sociedade. Coibir, punir e erradicar todas de gestão e trazem na sua concepção a defesa da autono-
as formas de violência devem ser preceitos fundamentais mia e da igualdade como pressupostos e princípios de suas
de um país que preze por uma realidade justa e igualitária ações e políticas.
entre mulheres e homens.
161
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O Brasil e a América Latina vivem importante momen- Importante destacar que, associado à ampliação da
to para a ampliação e fortalecimento da participação das participação das mulheres nos espaços institucionais de
mulheres nos espaços de poder e de decisão em espe- representação como o Parlamento e o Executivo, é funda-
cial na política. Hoje, 40% da população da América Latina mental que este processo esteja associado à divulgação e
está sob o governo de mulheres: Dilma Rousseff no Brasil, afirmação de uma plataforma feminista, contribuindo cada
Cristina Kirchner na Argentina e Laura Chinchilla na Cos- vez mais para a construção da igualdade e da cidadania.
ta Rica. A eleição de Presidentas é um passo importante Por isso, a ampliação da presença das mulheres em
para a ruptura do “teto de vidro” sempre colocado para postos de direção, espaços de poder e de decisão dos go-
as mulheres nestes espaços. Importante destacar que isso vernos, construção dentro dos governos de organismos
ocorre após 20 anos, desde a aprovação da lei de cotas na executivos de políticas para as mulheres (nos diferentes
Argentina e após 18 países latinoamericanos incorporarem níveis da federação), nos espaços de controle social das
mudanças em suas leis eleitorais estabelecendo cotas e ou políticas públicas, no parlamento, nos partidos políticos,
paridade na inscrição de candidatas ao parlamento, inclu- nos movimentos sociais, no meio acadêmico e no acesso
sive o Brasil. às profissões tidas como masculinas, ampliam o horizonte
Apesar de as mulheres brasileiras representarem 52% da participação e atuação política das mulheres e impri-
da população, o Brasil ainda encontra-se na 118ª posição mem uma nova configuração para a ocupação e constru-
no ranking da participação política das mulheres nos 198 ção destes espaços com igualdade e justiça social.
países pesquisados, conforme informações do Relatório
Global Data Base of Quotas for Women. Desenvolvimento sustentável com igualdade econômica
e social
Sabemos que a ampliação da participação das mulhe-
res na política passa por sua maior presença nas direções A 3ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulhe-
dos partidos que cumprem fundamental papel no sistema res ratificou a importância de políticas e ações que venham
político brasileiro. Além de serem maioria na população, as a promover as mudanças necessárias em direção ao desen-
mulheres são também maioria como filiadas nos partidos volvimento sustentável, à proteção e à justiça ambiental no
políticos, na base da organização dos movimentos sociais. país, com a ampla participação das mulheres do campo, da
Entretanto, esta presença não se reflete nos espaços de floresta e das cidades. Este é um processo em construção,
poder e decisão. Poucos são ainda os partidos brasilei- já previsto nas edições anteriores do PNPM, e, como tal, re-
ros que hoje instituem a paridade de gênero e até o ano quer o esforço conjunto de diferentes setores do governo,
de 2011 diversos partidos nem mesmo implementavam no atendimento a demandas sociais que exigem a integra-
as cotas mínimas de 30% de mulheres candidatas. Esta é ção de medidas e políticas intersetoriais visando ao alcance
parte das explicações para o fato de hoje contarmos com dos objetivos propostos.
presença tão reduzida de mulheres no Congresso Nacio- Nessa perspectiva, é importante salientar, em primeiro
nal (cerca de 11%), ou como governadoras de estados. As lugar, que, em sua grande parte, as ações em curso neste
eleições municipais de 2012 foram as primeiras sob a vi- eixo de atuação da SPM/ PR foram validadas pela 3ª CNPM,
gência da Lei 12.034/2009, que estabeleceu a obrigatorie- enquanto outras iniciativas foram criadas, garantindo a
dade de cada partido ou coligação preencher o mínimo de continuidade e a consolidação de programas e atividades
30% para candidaturas de cada sexo aos cargos propor- em andamento.
cionais. Isso significou um aumento do número de candi- Neste caso, permanecem na pauta do governo as
datas inscritas para o cargo de vereadoras, mas ainda não ações referentes à infraestrutura social nas áreas urbana e
rural, incluindo o direito à moradia digna, garantido pela
se refletiu no aumento das mulheres eleitas vereadoras.
Constituição Federal. Enfatiza-se, porém, a demanda por
Houve aumento significativo das mulheres eleitas prefei-
maior facilidade de acesso a formas de financiamento que
tas, influência talvez de uma maior presença das mulheres
atendam às mulheres em situação de vulnerabilidade so-
nas instâncias governamentais do governo federal, com a
cial, o que supõe a expansão dos programas habitacionais
eleição da Presidenta Dilma Rousseff. Ações afirmativas –
nos meios rural e urbano. A moradia digna, condição básica
como a paridade nas direções, as cotas mínimas nas elei-
para a realização da inserção social e para a proteção am-
ções, a presença de pelo menos 10% do uso do espaço
biental, constitui-se numa pré-condição para a efetivação
de divulgação das ações partidárias para a participação
do desenvolvimento sustentável.
das mulheres na política, instâncias nacionais de mulhe- O que se defende como desenvolvimento sustentável
res nos partidos políticos – são instrumentos que, se não supõe mudanças fundamentais nos padrões de desenvol-
resolvem, visam contribuir para que possamos enfrentar vimento ainda vigentes no país, estabelecendo como um
o modelo patriarcal que associa aos homens o direito ao de seus princípios norteadores a promoção da igualdade
espaço público, a não valorização das trajetórias políticas nas suas diferentes dimensões. A igualdade de gênero,
das mulheres e a sobrecarga do cuidado com a família que portanto, constitui uma exigência básica para a promoção
recai ainda sobre as mulheres. Diante de tudo isso, a Re- do desenvolvimento sustentável e solidário. Por essa razão,
forma Política se mantém como pauta fundamental para ganham mais relevância as ações orientadas para a valori-
que o Brasil possa avançar. zação do trabalho reprodutivo, historicamente a cargo das
162
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
mulheres, a partir da divisão sexual do trabalho, que lhes Entendemos que o desenvolvimento do país não pode
impôs o cuidado da família e a garantia das suas condições prescindir da contribuição das mulheres, que representam
de bem-estar e sobrevivência. Este constitui um ponto cen- a maioria da população. Mais do que isso, um novo para-
tral para a compreensão das relações entre gênero e mun- digma de desenvolvimento – que incorpore a sustentabi-
do do trabalho, uma vez que a inserção produtiva das mu- lidade da vida humana – não poderia abrigar as desigual-
lheres está condicionada pela permanente tensão entre as dades entre os sexos, raças, etnias, entre outros exemplos
suas responsabilidades familiares e as profissionais. Assim, – pois as desigualdades são, por definição, desintegrado-
a valorização do trabalho reprodutivo requer, em primeiro ras, excludentes, pelas assimetrias de poder geradas e cris-
lugar, a percepção da sua importância social e econômica, talizadas por meio da “naturalização” dos valores e práticas
por toda a sociedade. A liberação das mulheres da obriga- que lhes dão suporte.
toriedade de seus encargos domésticos constitui um dos Dessa forma, um novo padrão de desenvolvimento de-
fatores decisivos para a conquista da sua autonomia, prin- verá incluir medidas e instrumentos que permitam conciliar
cipalmente a econômica. O rompimento do ciclo da pobre- o avanço econômico com novos padrões de inclusão so-
za, que atinge as mulheres jovens e adultas, depende, entre cial, embasados pelos princípios que enalteçam o valor de
outros fatores, do tempo disponível e das condições objeti- uso, em detrimento do valor de troca, ou seja: a valorização
vas para terem acesso ao mercado de trabalho e conquistar da vida nas suas múltiplas manifestações, servindo de re-
os seus espaços profissionalmente. A sobrecarga ocasiona- ferência às relações de produção. Isso supõe, sobretudo,
da pelas tarefas domésticas é assumida pelas filhas e netas, mudanças nos padrões de consumo, que irão impor novas
num processo contínuo, intergeracional, de reprodução da regras às cadeias produtivas dos alimentos, envolvendo
divisão sexual do trabalho, principalmente entre as classes desde as técnicas de manejo do solo, até o momento da
sociais menos favorecidas. É preciso que ocorra, da parte sua distribuição, nos mercados locais, seja no campo ou
do Estado e das próprias famílias, o reconhecimento so- na cidade.
bre as suas responsabilidades no processo de reprodução Daí a importância da articulação entre diferentes pla-
social, o que deve expressar-se por meio de mudanças de nos setoriais para o alcance dos objetivos aqui propostos,
mentalidade e de comportamento, bem como de políti-
no âmbito das políticas públicas. Cabe destacar, nesse sen-
cas públicas de compartilhamento, já em curso em muitos
tido, o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricio-
países. Estas, por sua vez, além de medidas de estímulo
nal, que amplia as possibilidades de diálogo entre as ins-
direto à divisão de tarefas entre mulheres e homens – no
tâncias governamentais responsáveis pelas políticas volta-
caso das licenças parentais, por exemplo – incluem, ainda,
das para a inserção produtiva das mulheres, reconhecendo
a oferta sistemática, nas áreas rurais e urbanas, de equipa-
a sua participação na defesa da soberania alimentar – e na
mentos sociais que possam contribuir para a liberação de
produção dos alimentos de qualidade, como protagonistas
tempo para as mulheres, citando-se, neste caso, as creches,
nesses processos.
as cozinhas comunitárias, restaurantes populares, lavande-
rias populares, entre outras medidas importantes. Somen-
te por meio da igualdade de gênero as mulheres poderão Os temas referentes ao desenvolvimento sustentável
conquistar, efetivamente, a sua autonomia, no sentido mais convergem, ainda, para uma questão desafiadora para as
amplo. políticas públicas: o impacto das grandes obras sobre a
vida das mulheres - um ponto sempre presente nas pautas
A autonomia econômica das mulheres depende ainda, dos movimentos feministas e que se inclui entre as priori-
em grande parte, do reconhecimento da sua contribuição dades desta edição do PNPM. Cabe aos diferentes seto-
para o desenvolvimento econômico e social, na condição res de governo (nas suas três instâncias) definir os marcos
de protagonistas nesse processo, de agentes de mudan- regulatórios e os procedimentos para se alcançar padrões
ça, capazes de interferir nas decisões sobre as prioridades desejáveis de desenvolvimento econômico e social efetiva-
que deverão orientar as políticas públicas de caráter local, mente comprometidos com a inserção social, o que supõe
regional ou nacional. É preciso combater, acima de tudo, um novo entendimento sobre a participação das mulheres
a invisibilidade do trabalho que realizam, notadamente as nesses processos, sabendo-se que são elas as pessoas mais
mulheres do campo e da floresta, valorizando a sua parti- penalizadas. O crescimento da prostituição e da violência
cipação no processo produtivo, destacando-se as suas es- nos canteiros das grandes obras de construção, de minera-
pecificidades, expressas por seus saberes e diferentes prá- ção, entre outras, talvez sejam os exemplos mais conheci-
ticas. Por esta razão, o PNPM conserva os programas e as dos, ou os mais evidentes para a opinião pública em geral.
ações de fortalecimento da inserção econômica, a exemplo Porém, vale lembrar os efeitos desses grandes empreendi-
do Programa de Organização Produtiva das Mulheres Ru- mentos sobre as histórias de vida de populações inteiras;
rais (POPMR), lançado em 2008, incorporando suas novas histórias sempre associadas com as formas de produção
etapas, resultantes dos avanços obtidos ao longo de sua de sua sobrevivência e que são interrompidas, muitas ve-
implementação. Cabe assinalar que no período de 2008 a zes, num processo que, contraditoriamente, exclui grandes
2011, cerca de 79 mil mulheres foram atendidas pelo Pro- contingentes do mercado de trabalho, deixando as mulhe-
grama, das quais 15 mil foram capacitadas nos 26 estados res sem alternativas e mais vulneráveis à exploração e à
da federação e no Distrito Federal, compreendendo 26 Ter- violência.
ritórios da Cidadania.
163
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Por tudo isso, também é importante considerar a par- Entre os pontos que continuam na pauta do governo,
ticipação das mulheres nas mais diversas instâncias de como demanda dos movimentos de trabalhadoras rurais,
controle social sobre as políticas públicas voltadas para o destaca-se o acesso à terra, histórico objeto de uma luta
desenvolvimento socioambiental. É importante dar voz aos que sempre contou com a ampla participação das mulhe-
segmentos das populações do campo e da floresta que res do campo e da floresta. A conquista do direito a um
respondem pelo manejo, distribuição e utilização de gran- título de posse, já garantido pela Constituição de 1988, às
de parte dos nossos recursos naturais, tendo como prin- mulheres assentadas pelo Programa Nacional de Reforma
cípio a sua conservação – um processo no qual a partici- Agrária, foi concretizado em 2007, por meio da Instrução
pação das mulheres é tradicionalmente reconhecida como Normativa 38, do Instituto Nacional de Reforma Agrária
fundamental. Por esta razão, as lideranças reunidas na 3ª (Incra).
CNPM destacaram, enfaticamente, a defesa da água como
um bem público a ser preservado pelo esforço conjunto do Essa luta, porém, permanece, não só entre as traba-
governo e da sociedade organizada. lhadoras rurais candidatas à Reforma Agrária, como para
Ainda sobre esse ponto, a 3ª CNPM trouxe, também, outros segmentos que vivem sob condições distintas, do
para o debate, outros temas que, embora não estivessem ponto de vista cultural e da organização social de suas co-
ausentes das pautas dos movimentos sociais, ou do gover- munidades a exemplo das quilombolas e indígenas. O pro-
no, ganharam maior ênfase no âmbito das políticas públi- blema da desintrusão e demarcação de suas áreas constitui
cas. Este é o caso de temas como a transição agroecológi- um grande desafio e afeta diretamente a vida dessas po-
ca, o acesso a energias limpas, o consumo consciente, ob- pulações, em especial a das mulheres, que, por não terem
jetos de debate na Rio+20, que constituem pressupostos acesso à terra, não conseguem o reconhecimento de sua
inquestionáveis de um novo padrão de desenvolvimento condição de produtoras rurais, ficando, assim, excluídas de
efetivamente sustentável e solidário. políticas públicas importantes.
A experiência, porém, já demonstrou que embora a
Direito à terra com igualdade para as mulheres do cam- terra constitua uma condição básica para as mulheres do
po e da floresta campo e da floresta conquistarem a sua autonomia econô-
mica, é preciso ir além. A construção da igualdade de gêne-
Este capítulo trata das políticas públicas e ações volta- ro representa um outro pré-requisito, tão essencial quanto
das para os instrumentos e recursos que viabilizam a pro- a obtenção de um título de posse da terra.
dução das mulheres no campo e na floresta, constituindo- Nessa perspectiva, nas últimas décadas, os diferen-
se em condições básicas para a conquista, o fortalecimento tes segmentos de mulheres do campo e da floresta vêm
e a consolidação da sua autonomia econômica. Estamos ampliando a sua capacidade de mobilização, bem como
referindo-nos às políticas públicas que visam ao acesso as suas bandeiras de luta. Ao tema histórico do direito à
à terra, à água, à documentação, ao crédito, à assistência terra agrega-se a conquista da cidadania plena, como a
técnica, à comercialização da pequena produção familiar, expressão da igualdade que vem sendo construída entre
entre outras medidas que, de forma articulada, contribuem mulheres e homens, entre as diferentes raças e etnias, e da
para a inserção produtiva das mulheres rurais. valorização das características que as distinguem.
Para essas mulheres, a conquista da autonomia eco- Reconhecendo que um primeiro passo na direção da
nômica supõe um processo de diálogo permanente entre cidadania plena é o acesso à documentação básica, a 3ª
a sociedade civil organizada e setores do governo, com a CNPM recomenda a ampliação e fortalecimento do Pro-
determinação de superar barreiras para produzir os resul- grama Nacional de Documentação das Trabalhadoras Ru-
tados esperados. A primeira edição do Plano Nacional de rais (PNDTR), lançado em 2004, e que tem se destacado
Políticas para as Mulheres já expressava o reconhecimento como um Programa central para a inserção social e eco-
do governo brasileiro sobre a necessidade da articulação nômica das mulheres rurais, possibilitando o seu acesso às
de diferentes setores e medidas para estender às trabalha- políticas públicas vigentes. No período de 2004 a 2011, o
doras do campo e da floresta as oportunidades de acesso a PNDTR já havia emitido 1.783.738 documentos, benefician-
direitos legítimos como produtoras e como cidadãs. do um total de 830.317 mulheres, uma vez que algumas
Nesse sentido, a 3ª CNPM referendou programas e necessitam mais de um documento. Hoje, novas demandas
ações em curso, considerando a natureza de sua execução, surgem com o avanço das ações em andamento, amplian-
de médio e longo prazos. Outras medidas foram recomen- do-se as possibilidades de acesso das mulheres a políti-
dadas ou reiteradas, a partir das avaliações sobre as polí- cas e serviços, como por exemplo, a formalização de suas
ticas em curso e dos avanços ocorridos nos últimos anos, organizações produtivas, o que exige a emissão de docu-
entre a segunda e a terceira edição do PNPM. Vários temas, mentos jurídicos, além dos civis.
embora não estivessem ausentes das pautas dos movimen- Como parte das ações integradas de apoio à inserção
tos sociais ou mesmo do governo, passaram a integrar as produtiva das mulheres, o governo federal vem investin-
agendas políticas com maior ênfase, na condição de novas do na consolidação das formas associativas de produção já
linhas de ação. existentes, e no estímulo à sua multiplicação, por meio do
Programa de Organização Produtiva de Mulheres Rurais, já
citado anteriormente. Os princípios da Economia Feminista
164
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
e Solidária contribuem para a estruturação dessas orga- Não se pode esquecer, ainda, dos avanços obtidos no
nizações, que adotam a autogestão e a formação conti- campo da Assistência Técnica e Extensão Rural, por meio
nuada de suas integrantes, como normas norteadoras de da inclusão do recorte de gênero, tanto nas ações voltadas
suas ações. Assume-se que a consolidação desses grupos para o atendimento às produtoras rurais, como no âmbi-
depende da capacitação das produtoras rurais e suas lide- to da própria seleção de profissionais, lembrando que no
ranças, tanto para o exercício de uma gestão competente programa Brasil Sem Miséria a participação de mulheres no
de suas organizações, como para o acesso às políticas de corpo técnico já chega a 51%.
apoio à produção e para exercer o controle social qualifica- Por meio dos objetivos, das linhas de ação e das pró-
do sobre tais políticas. prias ações que integram este Capítulo, reafirma-se a im-
portância da inserção produtiva das mulheres do campo
Nesse processo, ressalta-se a necessidade de investi- e da floresta, bem como da sua contribuição ao processo
mento nas ações que considerem as especificidades cultu- decisório sobre as questões socioambientais no país, para
rais do campo e da floresta, reconhecendo as contribuições a efetivação do desenvolvimento sustentável com inclusão
de todos os segmentos de mulheres que concorrem para a social.
produção de alimentos e outros bens, sob os princípios do
desenvolvimento sustentável e na perspectiva da transição Cultura, esporte, comunicação e mídia
agroecológica. Isto significa, sobretudo, o esforço para a
articulação de políticas de valorização dos saberes e prá- As práticas culturais expressam-se na capacidade que
ticas das mulheres indígenas, quilombolas e das comuni- os seres humanos têm de criar símbolos: idiomas, costu-
dades tradicionais, por seu reconhecido papel no manejo mes, culinária, modos de vestir, crenças, tecnologias, arqui-
e conservação das sementes crioulas, sobre o cultivo e o tetura e linguagens artísticas (teatro, música, dança, artes
uso de diferentes espécies da nossa flora. Por outro lado, a visuais, literatura). Atividades relacionadas às necessidades
transição agroecológica coloca em evidência as práticas e e bem-estar das pessoas, tanto enquanto indivíduos como
saberes da agricultura camponesa, da pequena produção, sujeitos coletivos. As desigualdades de gênero, raça e etnia
que se opõem às formas de produção convencionais, e que estão ancoradas nos valores e crenças e estas se transfor-
mam em capacidades e habilidades da população humana
precisam ser difundidas e ampliadas, com a ajuda de po-
– mulheres e homens – negra, branca, indígena de defini-
líticas de apoio à agricultura familiar, à produção de base
rem suas possibilidades e espaços na sociedade.
extrativista, entre outros segmentos que contribuem para a
A Constituição Federal afirma a cultura como um direi-
defesa e conservação do ecossistema.
to básico do cidadão e da cidadã. O exercício deste direito
Nessa cadeia de ações que visam ao fortalecimento
deve ser garantido por políticas que ampliem também o
das organizações produtivas das mulheres rurais, deve es-
acesso aos meios de produção, difusão dos bens e serviços
tar garantido o acesso ao crédito, assim como a possibili-
culturais e da própria produção cultural.
dade de comercialização - reconhecidamente dois grandes
Na sociedade atual, as justificativas para as desigualda-
desafios para o desenvolvimento da pequena produção, des sociais e econômicas são de uma maneira geral referen-
situação que se agrava, no caso das mulheres, pelas ra- ciadas ao contexto cultural que marcam determinado meio
zões já expostas. Nessa perspectiva, enfatizam-se as ações social. Os comportamentos preconceituosos e misóginos
orientadas para a ampliação e fortalecimento do Programa decorrem de uma cultura discriminatória engendrada pelo
Nacional de Fortalecimento da Agricultura (Pronaf) Mulher patriarcalismo na sociedade humana. A relação da questão
e outras modalidades de crédito, ressaltando a necessida- cultural com a dimensão de gênero e de raça/ etnia funda-
de de maior apoio às mulheres assentadas pela Reforma menta-se numa abordagem antropológica que ultrapassa a
Agrária, contribuindo para a sua maior integração nas polí- formação erudita e amplia-se na produção dos bens mate-
ticas de desenvolvimento local. Outro ponto muito presen- riais para os imateriais e inclui valores, crenças, rituais, hábi-
te nas resoluções da 3ª CNPM foi a ampliação do acesso tos, identidades e processos de organização social.
das trabalhadoras rurais ao Crédito Fundiário, instrumento A transmissão cultural acontece nos diferentes pro-
fundamental nas políticas de reordenamento agrário, favo- cessos de socialização aos quais mulheres e homens são
recendo a aquisição de terra às/aos pequenos(as) produto- submetidos, seja por meio de famílias, igrejas, sistema
res(as) ou àquelas que não possuem qualquer propriedade, educacional, como também pelo Estado. Na atualidade, a
e possibilitando a estruturação das unidades produtivas, globalização, informatização e a mídia assumem papel cen-
por meio da melhoria ou implantação da infraestrutura ne- tral como veículo de comunicação e difusão cultural, espe-
cessária. cialmente através do rádio e televisão, presentes em pra-
Da mesma maneira, foram apontados os Programas de ticamente todos os domicílios brasileiros, sendo que, por
compras governamentais, como o Programa de Aquisição exemplo, 96,9% dos domicílios brasileiros estão equipados
de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimenta- com televisores (PNAD/IBGE, 2011). Sua utilização massiva
ção Escolar (PNAE), como ferramentas importantes para o em quase toda a totalidade das casas brasileiras expressa
acesso das mulheres à comercialização, estimulando o for- sua importância enquanto veículo de difusão de ideias e
talecimento de suas organizações produtivas. proporcionam um papel determinante tanto para manu-
tenção como a desconstrução de crenças, valores, como
também para romper com a submissão e a discriminação.
165
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Reconhecemos a necessidade de garantir, no setor de A abrangência do PNPM 2013 - 2015 realça o signi-
comunicações, a pluralidade, a liberdade de expressão e a ficado das atividades esportivas e de lazer no interior do
comunicação que possibilite a universalidade e a acessibili- Plano, já que a iminência da realização da Copa de 2014 e
dade das mulheres. A comunicação é um direito que pode das Olimpíadas e Paralimpíadas de 2016 no Brasil tornam
beneficiar o cotidiano feminino, valorizando sua diversida- essas competições um foco de atenção da sociedade como
de. Por isso esses serviços devem primar por qualidade e um todo. Estes eventos sem dúvida influenciarão as mu-
garanta de acesso. lheres brasileiras de diversas maneiras, trazendo oportu-
nidades, possibilidades de afirmação para o sexo feminino
Na atualidade, a preocupação com o valor simbólico como também preocupações relativas a violência contra as
dos conteúdos veiculados nos diferentes meios de comu- mulheres que grandes eventos podem gerar e exigem me-
nicação é também uma preocupação do Estado, pois esses didas adequadas para responder aos desafios colocados
conteúdos atuam na construção simbólica dos marcadores pela situação.
de gênero, etnia, raça, geração e classe. As políticas de pro-
moção da igualdade consideraram as dimensões da cul- Enfrentamento do racismo, sexismo e lesbofobia
tura, da comunicação e da mídia em suas estratégias de
valorização das diversidades e fim das discriminações de Uma das características a ser ressaltada da composi-
gênero, raça/etnia, orientação sexual, identidade de gêne- ção da população brasileira refere-se ao quesito cor/raça e
ro, geração, região. Alterar os processos de construção de etnia. Entre as mulheres, que representam mais da metade
relações assimétricas de poder a partir dos campos de cul- da população brasileira (51,5%), as negras são metade des-
tura e comunicação é um dos objetivos do PNPM. te contingente feminino, ou seja representavam, em 2011,
Outra dimensão deste capítulo refere-se ao esporte e (PNAD/IBGE) 50,2 milhões de brasileiras. As pessoas que
lazer, que também constituem dimensões da vida socio- se declararam indígenas foram 784 mil e desta população
cultural e representam fatores essenciais à promoção da as mulheres são 52,5%, portanto há também predomínio
qualidade de vida, da inclusão social, da cidadania e do feminino no conjunto indígena nacional.
São estes grupos de mulheres os mais vulneráveis à
desenvolvimento humano. A Constituição Federal, em seu
dupla discriminação racista e sexista da ordem social bra-
artigo 217, aponta o fomento aos esportes como dever do
sileira. Agrega-se a isto discriminações devido a orientação
Estado e direito de cada pessoa e em seu artigo 6º arrola
sexual, regionalidade e situação de moradia, seja urbana,
o lazer como um dos direitos sociais, lado a lado com o
rural ou central, periférica, adicionando-se a estas situa-
trabalho, educação, saúde, alimentação, moradia e segu-
ções as questões geracionais e de condições físicas.
rança, devendo, portanto, ser assegurados a todas e todos
As mulheres negras, indígenas e lésbicas encontram-se
de maneira igualitária.
expostas a diversas formas de violência e mecanismos de
Porém, a resistência ao longo de anos e no transcorrer
exclusão na sociedade, e nas políticas públicas ainda são
da história a que as mulheres participassem plenamente pouco consideradas. A melhora das condições de vida des-
dos esportes exprime a realidade de que o mundo do es- tes grupos populacionais depende de compromisso políti-
porte foi, durante muito tempo, considerado um espaço co que assegure o enfrentamento do racismo, do sexismo,
masculino. No Brasil, até o ano de 1979, as mulheres esta- e da lesbofobia, uma vez que reforçam as desigualdades na
vam proibidas de praticar lutas e jogar futebol, considera- sociedade brasileira.
dos incompatíveis com o que se considerava adequado às O governo brasileiro, ao criar as Secretarias de Políti-
mulheres. Já com relação ao direito ao lazer, associado ao cas para as Mulheres, de Promoção da Igualdade Racial e
tempo livre das obrigações sociais, as mulheres também de Direitos Humanos, assumiu o compromisso político de
vivenciam limitações significativas, em grande parte resul- superar as desigualdades de gênero, raça e etnia e as dis-
tantes da influência da divisão sexual do trabalho. Para as criminações com base na orientação sexual.
mulheres, principais responsáveis pelo trabalho usualmen- A reafirmação do eixo 9 na 3ª Conferência Nacional de
te referido como reprodutivo, o lazer é visto como relacio- Políticas para as Mulheres possibilita a ampliação de ações
nado a atividades em família, ao lado das crianças e quase que contribuem para romper com as bases do racismo,
sempre restrito ao espaço doméstico, pouco ou nada se sexismo e lesbofobia.
diferenciando da rotina. Aos homens, por outro lado, o la-
zer é relacionado a atividades destinadas à diversão e em A articulação entre o sexismo e o racismo incide de
locais públicos. forma implacável sobre o significado do que é ser mulher
É papel também das políticas públicas alterar essa di- negra no Brasil. O racismo constrói uma postura hierárqui-
nâmica e garantir às mulheres pleno direito ao lazer. Ao ca que ser negra significa ser inferior. O sexismo por sua
mesmo tempo, é preciso fortalecer uma imagem feminina vez desqualifica a mulher, hierarquiza as relações de gê-
sem estereótipos e promover a inserção igualitária de mu- nero, impõe a heteronormatividade como única forma do
lheres e homens na área do esporte, seja ele profissional exercício da sexualidade e considera desviante e negativa
ou não, com especial atenção aos recortes de classe social, o exercício das relações sexuais entre pessoas do mesmo
étnicas, raciais, geracionais, de orientação sexual e às espe- sexo. Assim, estimula a discriminação, autoriza o precon-
cificidades das mulheres com deficiência. ceito e promove a cultura de ódio e criminaliza na prática
as relações entre pessoas homossexuais.
166
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Nas últimas décadas, a mobilização política das mulhe- Igualdade para as mulheres jovens, idosas e mulheres
res negras, indígenas e lésbicas tem apontado para o reco- com deficiência
nhecimento do papel do Estado na elaboração de políticas
capazes de reduzir o impacto dessas formas de discrimina- O processo de desenvolvimento da sociedade bra-
ção na vida dessas mulheres. Estas questões são agravadas sileira nos últimos 70 anos foi acompanhado por um ex-
para mulheres negras devido às condições decorrentes da traordinário crescimento econômico, aliado nas primeiras
pobreza, da baixa escolaridade, das condições precárias de quatro décadas pelo crescimento acelerado da população,
saúde. Enquanto que as demais são profundamente afeta- que passou de 70 milhões em 1960, para 190,7 milhões em
das pelas diferenças culturais do sexismo e do fundamen- 2010. Os progressos da medicina e da indústria farmacêu-
talismo religioso. tica, aliado às condições de saneamento e acesso à água,
Neste sentido, as políticas públicas para este conjunto tiveram como consequência uma redução na taxa de mor-
de mulheres têm partido de diferentes níveis de ações afir- talidade; mas, como a taxa de fecundidade das mulheres
mativas e incluem sua participação na formulação e na ges- brasileiras continuou alta, a população triplicou ao longo
tão destas políticas em posição de igualdade em relação às do tempo. No entanto, esta evolução demográfica nas úl-
outras mulheres, como também na proposição de ações timas décadas vem sendo marcada por uma transição nos
que promovem mudanças nas suas condições de vida. níveis de fecundidade, que começou a declinar a partir de
Chamamos atenção para os aspectos do racismo insti- 1960. Assim, seu declínio foi a principal explicação para a
tucional, entendido como a forma que o racismo adentra diminuição do ritmo de crescimento da população brasi-
nas instituições, resultando em ações e mecanismos de ex- leira verificado em 1980. Provavelmente a aceleração da
clusão que interferem sorrateiramente nos modos de fun- urbanização, difusão dos métodos contraceptivos, maior
cionamento, na qualidade dos serviços e nas definições de acesso ao mercado de trabalho e maior escolarização das
prioridades e metas das políticas. A denúncia do racismo mulheres, bem como a existência do movimento de mulhe-
institucional alerta para esta forma difusa de preconceitos res com suas propostas de mudanças no papel feminino,
que atuam no funcionamento cotidiano de instituições e foram fatores que influenciaram esta redução da taxa de
fecundidade. Esta foi de 2,38 filhos por mulher em idade
organizações e que acabam por discriminar com base em
fértil no ano de 2000 e caiu para 1,95 filho por mulher em
raça e etnia.
2010 (IBGE, 2010).
Por outro lado, o preconceito baseado e disseminado
O Brasil passou de um país jovem para um país que está
a partir da ideologia patriarcal e heteronormativa, ou seja,
envelhecendo, fenômeno similar aos dos países desenvol-
a hierarquização dos papéis sexuais de mulheres e homens
vidos. Em 1960, tinha apenas 4,7% da população com 60
e a não aceitação de outras expressões sexuais que não
anos ou mais e o Censo Demográfico de 2000 constatou
seja a heterossexual, impactam por toda vida das mulheres
que 14,5 milhões de pessoas, ou seja 8,5% da população,
lésbicas, bissexuais e transexuais.
tinham 60 anos ou mais. Na última década, o aumento foi
A educação para a cidadania e promoção da igualda-
expressivo e, em 2010, o percentual passou para 10,8% da
de, a cultura para valorização da diversidade e convivência população, com 20,5 milhões de pessoas (IBGE, 2010).
com as diferenças, a implementação de ações de comuni-
cação que valorize a construção de um imaginário positivo Este processo influencia a forma como o Estado deve
de mulheres negras, indígenas e lésbicas são mecanismos formular suas políticas, atento a diversidades de sexo, raça,
urgentes no enfrentamento ao racismo, sexismo e lesbo- etnia; da juventude, das pessoas idosas e das pessoas com
fobia. deficiências. Todas as políticas públicas devem assegurar
O entendimento de que as dimensões de gênero, raça um olhar específico para a realidade das mulheres jovens,
e etnia são estruturantes das desigualdades sociais levou a idosas e com deficiências. No campo da saúde, essas po-
definição de transversalidade de gênero e raça como estra- líticas devem considerar desde a vivência da sexualidade,
tégia no diverso Plano Nacional de Política para Mulheres, riscos de gravidez na adolescência, até o climatério. Em re-
que supõe que as políticas públicas são responsabilidade lação ao trabalho, as políticas públicas devem considerar,
compartilhada de vários órgãos do governo federal, articu- além das dificuldades de inserção no mercado de trabalho,
lados com os governos estaduais e municipais. Assim, será a sobrecarga de tarefas com os encargos domésticos.
possível gerar impactos efetivos e sustentados nas vidas A maior expectativa de vida feminina não significa um
das mulheres negras, indígenas e lésbicas. processo de envelhecimento sem mazelas, pode significar
O Plano de Ação que se apresenta a seguir traz apenas maior dificuldades devido às trajetórias de vida repletas de
algumas das ações dedicadas a este tema; sendo impor- discriminações e preconceitos. Além disso, o aumento das
tante ressaltar que todas as ações propostas neste PNPM separações, seja por divórcios ou morte dos maridos, le-
estão em consonância com os objetivos de enfrentamento gam às mulheres vidas sem rendimentos para aquelas que
ao racismo, sexismo e lesbofobia, tendo em vista seu cará- foram exclusivamente donas de casa. Umas são vulneráveis
ter transversal e estruturante da realidade social. na velhice porque sempre foram dependentes dos mari-
dos, enquanto outras o são devido a deficiências oriundas
do processo de envelhecimento.
167
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
As mulheres jovens se encontram no período de tran- Gestão e monitoramento do plano nacional de políticas
sição à vida adulta, passando por um processo intenso de para as mulheres
construção da autonomia material e afetiva, constituindo
trajetórias pessoais e profissionais que as colocarão em di- - Objetivo geral
ferentes papéis sociais, alguns deles conflitantes entre si,
por vezes de difícil conciliação. Implementar, acompanhar e monitorar o Plano Nacional
Ser mulher jovem está associado a diversos aspectos, de Políticas para as Mulheres - PNPM, com integração das
pressupostos, expectativas, temores e idealizações que, ações e articulação entre os diferentes órgãos dos governos
historicamente, podem implicar em posições de desigual- federal, distrital, estaduais e municipais.
dade social marcadas pelas diferenças de classe, raça, cor,
etnia, orientação sexual, presença de deficiências, falta de - Objetivos específicos
acesso e controle a serviços de educação e saúde - em
I. Acompanhar e monitorar a implementação do PNPM.
especial a garantias de direitos sexuais e reprodutivos -
II. Apoiar e incentivar a implementação do PNPM nos esta-
exposição à violência e variadas formas de abuso e /ou
dos, Distrito Federal e municípios.
exploração sexual, inserção precarizada no mercado de
III. Ampliar e disseminar o conhecimento sobre a situação
trabalho, bem como o acúmulo de jornadas de trabalho,
das mulheres na sociedade brasileira e das políticas públicas de
estudo e em muitos casos das atividades de cuidado. gênero, considerando as múltiplas formas de desigualdades.
Nesse sentido, a concepção que orienta as políticas IV. Ampliar a participação e o controle social da implemen-
governamentais para a juventude é que estas não podem tação do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM.
ser únicas, mas heterogêneas; com características distintas V. Fortalecer a articulação, o monitoramento e a avaliação
e ações afirmativas que variam de acordo com aspectos do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM.
sociais, culturais, econômicos e territoriais. Esta concepção VI. Criar e fortalecer de mecanismos de gênero nos minis-
é norteada pelas noções fundamentais de oportunidades térios do governo federal (núcleos, coordenações, diretorias,
e acesso a direitos. As ações e programas governamentais conforme a estrutura de cada ministério).
esperam oferecer oportunidades e garantir direitos às jo-
vens mulheres na construção de uma sociedade mais justa Metas
e cidadã no Brasil.
A. Contribuir para a criação e o fortalecimento de organis-
As mulheres com deficiências, jovens ou idosas, en- mos de promoção de políticas para as mulheres em todas as
frentam desafios maiores, com preconceitos e estereóti- Unidades da Federação.
pos, histórias de exclusão e violências que limitam suas B. Incentivar a formulação de Planos de políticas para as
vidas, dificultando o acesso ao mercado de trabalho, à mulheres nos estados, Distrito Federal e municípios.
saúde e à educação. Para uma efetiva mudança dessa rea- C. Incentivar a produção e a disseminação de dados, es-
lidade, elas devem ser inseridas no processo democrático, tudos e pesquisas que tratem das temáticas de gênero e suas
na vida cotidiana, no trabalho, na educação, nos mais va- múltiplas formas de desigualdades, tais como raça, etnia, orien-
riados serviços e equipamentos públicos. A perspectiva de tação sexual, identidade de gênero, mulheres com deficiência,
acessibilidade para as mulheres com deficiências é uma mulheres rurais/urbanas, geração e origem/região geográfica.
das metas perseguidas pelas políticas. Estas políticas de- D. Sensibilizar servidoras/es públicas/os para os temas de
vem garantir segurança e autonomia; para que as mulhe- gênero e suas múltiplas formas de desigualdades.
res com deficiência sejam inseridas em todas as esferas da E. Dobrar o número de mecanismos de gênero nos órgãos
do governo federal com prioridade para os representados no
vida, pública e privada, sem serem alijadas de seus direitos
Comitê de Articulação e Monitoramento do PNPM, bem como
e cidadania.
estimular o aprimoramento e fortalecimento dos mecanismos
Esses elementos compõem um desafio às políticas pú-
já existentes.
blicas e, em especial, ao Plano Nacional de Políticas para
as Mulheres que, com a inserção dessa temática neste Ca- Linhas de ação
pítulo 10, será trabalhado como política articulada de go-
verno para as mulheres com deficiência. 1. Ampliação e fortalecimento da institucionalização das
O Plano de Ação que se apresenta a seguir traz apenas políticas de gênero nos poderes executivos federal, distrital, es-
algumas das ações dedicadas a este tema; sendo impor- taduais e municipais.
tante ressaltar que todas as ações propostas neste PNPM 2. Capacitação e qualificação de agentes públicos para os
visam igualdade para as mulheres jovens, idosas e mulhe- temas de gênero e suas múltiplas formas de desigualdades.
res com deficiência, tendo em vista seu caráter transversal. 3. Produção, organização e disseminação de dados, estu-
dos e pesquisas que tratem das temáticas de gênero e suas
múltiplas formas de desigualdades.
4. Monitoramento e avaliação do Plano Nacional de Políti-
cas para as Mulheres.
168
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
169
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
170
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) anos. Deve- rária docente, além de considerar os aspectos normativos
rá também considerar as modalidades: Educação Profissio- nacionais, estaduais e municipais, deverão se articular ao
nal Técnica de Nível Médio, Educação de Jovens e Adultos, universo sociocultural quilombola. Trata-se de realizar a
Educação Especial, bem como a Educação a Distância. Cabe devida mediação entre gestão escolar e os processos de
ressaltar que os sistemas de ensino na organização das ati- conhecimento.
vidades consideradas letivas das escolas quilombolas e das A Educação Escolar Quilombola desenvolverá suas ati-
escolas que atendem estudantes oriundos de territórios vidades de acordo com o proposto nos respectivos pro-
quilombolas deverão considerar as orientações dadas pelo jetos político-pedagógicos e regimentos escolares com as
art. 23 da LDB e sua relação com as demandas e especifici- prerrogativas de: organização das atividades escolares, in-
dades dessas comunidades. dependente do ano civil, respeitado o fluxo das atividades
Sendo assim, a Educação Escolar Quilombola poderá econômicas, sociais, culturais e religiosas; e duração diver-
se organizar de variadas formas, tais como séries anuais; sificada dos períodos escolares, ajustando-a às condições e
períodos semestrais; ciclos; alternância regular de períodos especificidades de cada comunidade. Assim como na Edu-
de estudos com tempos e espaços específicos; grupos não cação Escolar Indígena, a participação da comunidade qui-
seriados, com base na idade, na competência e em outros lombola, na definição do modelo de organização e gestão
critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que da Educação Escolar Quilombola, deverá considerar:
o interesse do processo de aprendizagem assim o reco- I – suas estruturas sociais;
mendar. Reitera-se que os sistemas de ensino, ao organizar II – suas práticas socioculturais e religiosas;
as etapas e modalidades da Educação Escolar Quilombola III – suas formas de produção de conhecimento, pro-
na Educação Básica, deverão considerar o exposto nestas cessos próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
Diretrizes, no conjunto das Diretrizes Curriculares Nacionais IV – suas atividades econômicas;
aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação e homo- V – critérios de edificação de escolas produzidos em
logadas pelo Ministro da Educação, com especial atenção diálogo com as comunidades quilombolas e que atendem
para a aproximação entre a Educação Escolar Quilombola, aos seus interesses;
a Educação Escolar Indígena e a Educação do Campo no VI – a produção e o uso de material didático-pedagó-
processo de implementação destas Diretrizes.
gico em parceria com os quilombolas e de acordo com o
contexto sociocultural de cada comunidade;
A GESTÃO E A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA
VII – a organização do transporte escolar;
VIII – a definição da alimentação escolar.
A Educação Escolar Quilombola deverá atentar aos
princípios constitucionais da gestão democrática que se
Fonte
aplicam a todo o sistema de ensino brasileiro. As práticas
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/ju-
de gestão da escola deverão ser realizadas junto com as
lho-2013-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-p-
comunidades quilombolas por ela atendidas. Nesse pro-
cesso, faz-se imprescindível o diálogo entre a gestão da df/file
escola, a coordenação pedagógica, as comunidades qui-
lombolas e suas lideranças em âmbitos nacional, estadual
e local. A gestão deverá considerar os aspectos históricos, RESOLUÇÃO Nº 8, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2012
políticos, sociais, culturais e econômicos do universo socio-
cultural quilombola no qual está inserida. Os processos de Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
gestão da Educação Escolar Quilombola também apresen- ção Escolar Quilombola na Educação Básica.
tam aspectos já contemplados nas Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica e mantêm diálogo O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
muito próximo com alguns aspectos das Diretrizes Curri- selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições
culares Nacionais para a Educação Escolar Indígena. Cabe legais, e de conformidade com o disposto na alínea “c” do §
enfatizar que a gestão das escolas quilombolas deverá ser 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação dada pela Lei
realizada, preferencialmente, por quilombolas. Os sistemas nº 9.131/95, nos arts. 26-A e 79-B da Lei nº 9.394/96, com a
de ensino, em regime de colaboração, poderão estabelecer redação dada, respectivamente, pelas Leis nº 11.645/2008 e
convênios e parcerias com as instituições de Educação Su- nº 10.639/2003 e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº
perior e de Educação Profissional e Tecnológica, sobretudo 16/2012, homologado por Despacho do Senhor Ministro
com os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e grupos corre- da Educação, publicado no DOU de 20 de novembro de
latos dessas instituições, para a realização de processos de 2012,
formação continuada e em serviço de gestores que atuam
nas escolas quilombolas e nas escolas que atendem estu- CONSIDERANDO,
dantes oriundos desses territórios. A Constituição Federal, no seu artigo 5º, inciso XLII, dos
O processo de gestão da Educação Escolar Quilombola Direitos e Garantias Fundamentais e no seu artigo 68 do
também deverá se realizar articulado à matriz curricular e Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
ao projeto político-pedagógico. A organização do tempo e
espaço curricular, a distribuição e o controle da carga ho-
171
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
172
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
173
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
III - assegurar que as escolas quilombolas e as esco- XI - superação do racismo – institucional, ambiental,
las que atendem estudantes oriundos dos territórios qui- alimentar, entre outros – e a eliminação de toda e qualquer
lombolas considerem as práticas socioculturais, políticas e forma de preconceito e discriminação racial;
econômicas das comunidades quilombolas, bem como os XII - respeito à diversidade religiosa, ambiental e se-
seus processos próprios de ensino-aprendizagem e as suas xual;
formas de produção e de conhecimento tecnológico; XV - superação de toda e qualquer prática de sexismo,
IV - assegurar que o modelo de organização e gestão machismo, homofobia, lesbofobia e transfobia;
das escolas quilombolas e das escolas que atendem estu- XVI - reconhecimento e respeito da história dos qui-
dantes oriundos desses territórios considerem o direito de lombos, dos espaços e dos tempos nos quais as crianças,
consulta e a participação da comunidade e suas lideranças, adolescentes, jovens, adultos e idosos quilombolas apren-
conforme o disposto na Convenção 169 da OIT; dem e se educam;
V - fortalecer o regime de colaboração entre os siste- XVII - direito dos estudantes, dos profissionais da edu-
mas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e cação e da comunidade de se apropriarem dos conheci-
dos Municípios na oferta da Educação Escolar Quilombola; mentos tradicionais e das formas de produção das comu-
VI - zelar pela garantia do direito à Educação Escolar nidades quilombolas de modo a contribuir para o seu reco-
Quilombola às comunidades quilombolas rurais e urbanas, nhecimento, valorização e continuidade;
respeitando a história, o território, a memória, a ancestrali- XVIII - trabalho como princípio educativo das ações di-
dade e os conhecimentos tradicionais; dáticopedagógicas da escola;
VII - subsidiar a abordagem da temática quilombola XIX - valorização das ações de cooperação e de solida-
em todas as etapas da Educação Básica, pública e privada, riedade presentes na história das comunidades quilombo-
compreendida como parte integrante da cultura e do patri- las, a fim de contribuir para o fortalecimento das redes de
mônio afro-brasileiro, cujo conhecimento é imprescindível colaboração solidária por elas construídas;
para a compreensão da história, da cultura e da realidade XX - reconhecimento do lugar social, cultural, político,
brasileira. econômico, educativo e ecológico ocupado pelas mulhe-
res no processo histórico de organização das comunidades
TÍTULO II quilombolas e construção de práticas educativas que visem
DOS PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR QUI- à superação de todas as formas de violência racial e de
LOMBOLA gênero.
Art. 7º A Educação Escolar Quilombola rege-se nas Art. 8º Os princípios da Educação Escolar Quilombola
suas práticas e ações políticopedagógicas pelos seguintes deverão ser garantidos por meio das seguintes ações:
princípios: I - construção de escolas públicas em territórios qui-
I - direito à igualdade, liberdade, diversidade e plura- lombolas, por parte do poder público, sem prejuízo da
lidade; ação de ONG e outras instituições comunitárias;
II - direito à educação pública, gratuita e de qualidade; II - adequação da estrutura física das escolas ao con-
III - respeito e reconhecimento da história e da cultura texto quilombola, considerando os aspectos ambientais,
afro-brasileira como elementos estruturantes do processo econômicos e socioeducacionais de cada quilombo;
civilizatório nacional; III - garantia de condições de acessibilidade nas esco-
IV - proteção das manifestações da cultura afro-bra- las;
sileira; IV - presença preferencial de professores e gestores
V - valorização da diversidade étnico-racial; quilombolas nas escolas quilombolas e nas escolas que re-
VI - promoção do bem de todos, sem preconceitos de cebem estudantes oriundos de territórios quilombolas;
origem, raça, sexo, cor, credo, idade e quaisquer outras for- V - garantia de formação inicial e continuada para os
mas de discriminação; docentes para atuação na Educação Escolar Quilombola;
VII - garantia dos direitos humanos, econômicos, so- VI - garantia do protagonismo dos estudantes quilom-
ciais, culturais, ambientais e do controle social das comuni- bolas nos processos político-pedagógicos em todas as eta-
dades quilombolas; pas e modalidades;
VIII - reconhecimento dos quilombolas como povos ou VII - implementação de um currículo escolar aberto,
comunidades tradicionais; flexível e de caráter interdisciplinar, elaborado de modo a
XIX - conhecimento dos processos históricos de luta articular o conhecimento escolar e os conhecimentos cons-
pela regularização dos territórios tradicionais dos povos truídos pelas comunidades quilombolas;
quilombolas; VIII - implementação de um projeto político-pedagó-
X - direito ao etnodesenvolvimento entendido como gico que considere as especificidades históricas, culturais,
modelo de desenvolvimento alternativo que considera a sociais, políticas, econômicas e identitárias das comunida-
participação das comunidades quilombolas, as suas tradi- des quilombolas;
ções locais, o seu ponto de vista ecológico, a sustentabili- IX - efetivação da gestão democrática da escola com
dade e as suas formas de produção do trabalho e de vida; a participação das comunidades quilombolas e suas lide-
ranças;
174
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
X - garantia de alimentação escolar voltada para as espe- § 1º O Dia Nacional da Consciência Negra, comemo-
cificidades socioculturais das comunidades quilombolas; rado em 20 de novembro, deve ser instituído nos estabe-
XI - inserção da realidade quilombola em todo o material lecimentos públicos e privados de ensino que ofertam a
didático e de apoio pedagógico produzido em articulação com Educação Escolar Quilombola, nos termos do art. 79-B da
a comunidade, sistemas de ensino e instituições de Educação LDB, com redação dada pela Lei nº 10.639/2003, e na Re-
Superior; solução CNE/CP nº 1/2004, fundamentada no Parecer CNE/
XII - garantia do ensino de História e Cultura Afro-Brasilei- CP nº 3/2004.
ra, Africana e Indígena, nos termos da Lei nº 9394/96, com a § 2º O calendário escolar deve incluir as datas consi-
redação dada pelas Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, e na deradas mais significativas para a população negra e para
Resolução CNE/CP nº 1/2004, fundamentada no Parecer CNE/ cada comunidade quilombola, de acordo com a região e a
CP nº 3/2004; localidade, consultadas as comunidades e lideranças qui-
XIII - efetivação de uma educação escolar voltada para o et- lombolas.
nodesenvolvimento e para o desenvolvimento sustentável das
comunidades quilombolas; Art. 12 Os sistemas de ensino, por meio de ações co-
XIV - realização de processo educativo escolar que respeite laborativas, devem implementar, monitorar e garantir um
as tradições e o patrimônio cultural dos povos quilombolas; programa institucional de alimentação escolar, o qual de-
XV - garantia da participação dos quilombolas por meio verá ser organizado mediante cooperação entre a União, os
de suas representações próprias em todos os órgãos e espaços Estados, o Distrito Federal e os Municípios e por meio de
deliberativos, consultivos e de monitoramento da política públi- convênios entre a sociedade civil e o poder público, com os
ca e demais temas de seu interesse imediato, conforme reza a seguintes objetivos:
Convenção 169 da OIT; I - garantir a alimentação escolar, na forma da Lei e em
XVI - articulação da Educação Escolar Quilombola com as conformidade com as especificidades socioculturais das
demais políticas públicas relacionadas aos direitos dos povos e comunidades quilombolas;
comunidades tradicionais nas diferentes esferas de governo. II - respeitar os hábitos alimentares do contexto so-
cioeconômico-cultural-tradicional das comunidades qui-
lombolas;
TÍTULO III
III - garantir a soberania alimentar assegurando o direi-
DA DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA
to humano à alimentação adequada;
IV - garantir a qualidade biológica, sanitária, nutricional
Art. 9º A Educação Escolar Quilombola compreende:
e tecnológica dos alimentos, bem como seu aproveitamen-
I - escolas quilombolas;
to, estimulando práticas alimentares e estilos de vida sau-
II - escolas que atendem estudantes oriundos de territórios
dáveis que respeitem a diversidade cultural e étnico-racial
quilombolas.
da população;
Parágrafo Único Entende-se por escola quilombola aquela
localizada em território quilombola. Art. 13 Recomenda-se que os sistemas de ensino e suas
escolas contratem profissionais de apoio escolar oriundos
TÍTULO IV das comunidades quilombolas para produção da alimenta-
DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR QUI- ção escolar, de acordo com a cultura e hábitos alimentares
LOMBOLA das próprias comunidades.
Parágrafo Único Os sistemas de ensino, em regime de
Art. 10 A organização da Educação Escolar Quilombola, em colaboração, poderão criar programas de Educação Profis-
cada etapa da Educação Básica, poderá assumir variadas formas, sional Técnica de Nível Médio para profissionais que exe-
de acordo com o art. 23 da LDB, tais como: cutam serviços de apoio escolar na Educação Escolar Qui-
I - séries anuais; lombola, de acordo com o disposto na Resolução CNE/CEB
II - períodos semestrais; nº 5/2005, fundamentada no Parecer CNE/CEB 16/2005,
III - ciclos; que cria a área Profissional nº 21, referente aos Serviços de
IV - alternância regular de períodos de estudos com tem- Apoio Escolar.
pos e espaços específicos;
V - grupos não-seriados, com base na idade, na competên- Art. 14 A Educação Escolar Quilombola deve ser acom-
cia e em outros critérios ou por forma diversa de organização, panhada pela prática constante de produção e publicação
sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o de materiais didáticos e de apoio pedagógico específicos
recomendar. nas diversas áreas de conhecimento, mediante ações cola-
borativas entre os sistemas de ensino.
Art. 11 O calendário da Educação Escolar Quilombola § 1º As ações colaborativas constantes do caput des-
deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climá- te artigo poderão ser realizadas contando com a parceria
ticas, econômicas e socioculturais, a critério do respectivo e participação dos docentes, organizações do movimento
sistema de ensino e do projeto político-pedagógico da es- quilombola e do movimento negro, Núcleos de Estudos
cola, sem com isso reduzir o número de horas letivas pre- Afro-Brasileiros e grupos correlatos, instituições de Educa-
visto na LDB. ção Superior e da Educação Profissional e Tecnológica.
175
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- § 1º Os programas de material pedagógico para a Edu-
cípios devem assegurar, por meio de ações cooperativas, a cação Infantil devem incluir materiais diversos em artes,
aquisição e distribuição de livros, obras de referência, lite- música, dança, teatro, movimentos, adequados às faixas
ratura infantil e juvenil, materiais didático-pedagógicos e etárias, dimensionados por turmas e número de crianças
de apoio pedagógico que valorizem e respeitem a história das instituições e de acordo com a realidade sociocultural
e a cultura local das comunidades quilombolas. das comunidades quilombolas.
§ 2º Os equipamentos referidos no parágrafo anterior,
TÍTULO V pelo desgaste natural com o uso, devem ser considerados
DAS ETAPAS E MODALIDADES DE EDUCAÇÃO ES- como material de consumo, havendo necessidade de sua
COLAR QUILOMBOLA reposição;
§ 3º Compete ao Ministério da Educação viabilizar por
Art. 15 A Educação Infantil, primeira etapa da Educação meio de criação de programa nacional de material peda-
Básica, na qual se privilegiam práticas de cuidar e educar, é gógico para a Educação Infantil, processo de aquisição e
um direito das crianças dos povos quilombolas e obrigação
distribuição sistemática de material para a rede pública de
de oferta pelo poder público para as crianças de 4 (quatro)
Educação Infantil, considerando a realidade das crianças
e 5 (cinco) anos, que deve ser garantida e realizada me-
quilombolas.
diante o respeito às formas específicas de viver a infância, a
identidade étnico-racial e as vivências socioculturais.
§ 1º Na Educação Infantil, a frequência das crianças de Art. 17 O Ensino Fundamental, direito humano, social
0 (zero) a 3 (três) anos é uma opção de cada família das e público subjetivo, aliado à ação educativa da família e
comunidades quilombolas, que tem prerrogativa de, ao da comunidade deve constituir-se em tempo e espaço dos
avaliar suas funções e objetivos a partir de suas referências educandos articulado ao direito à identidade étnico-racial,
culturais e de suas necessidades, decidir pela matrícula ou à valorização da diversidade e à igualdade.
não de suas crianças em: § 1º A oferta do Ensino Fundamental como direito pú-
I - creches ou instituições de Educação Infantil; blico subjetivo é de obrigação do Estado que, para isso,
II - programa integrado de atenção à infância; deve promover a sua universalização nas comunidades
III - programas de Educação Infantil ofertados pelo po- quilombolas.
der público ou com este conveniados. § 2º O Ensino Fundamental deve garantir aos estudan-
§ 2º Na oferta da Educação Infantil na Educação Es- tes quilombolas:
colar Quilombola deverá ser garantido à criança o direito I - a indissociabilidade das práticas educativas e das
a permanecer com o seu grupo familiar e comunitário de práticas do cuidar visando o pleno desenvolvimento da for-
referência, evitando-se o seu deslocamento. mação humana dos estudantes na especificidade dos seus
§ 3º Os sistemas de ensino devem oferecer a Educação diferentes ciclos da vida;
Infantil com consulta prévia e informada a todos os envol- II - a articulação entre os conhecimentos científicos,
vidos com a educação das crianças quilombolas, tais como os conhecimentos tradicionais e as práticas socioculturais
pais, mães, avós, anciãos, professores, gestores escolares e próprias das comunidades quilombolas, num processo
lideranças comunitárias de acordo com os interesses legíti- educativo dialógico e emancipatório;
mos de cada comunidade quilombola. III - um projeto educativo coerente, articulado e inte-
§ 4º As escolas quilombolas e as escolas que atendem grado, de acordo com os modos de ser e de se desenvol-
estudantes oriundos de territórios quilombolas e que ofer- ver das crianças e adolescentes quilombolas nos diferentes
tam a Educação Infantil devem: contextos sociais;
I - promover a participação das famílias e dos anciãos,
IV - a organização escolar em ciclos, séries e outras for-
especialistas nos conhecimentos tradicionais de cada co-
mas de organização, compreendidos como tempos e espa-
munidade, em todas as fases de implantação e desenvolvi-
ços interdependentes e articulados entre si, ao longo dos
mento da Educação Infantil;
II - considerar as práticas de educar e de cuidar de cada nove anos de duração do Ensino Fundamental, conforme a
comunidade quilombola como parte fundamental da edu- Resolução CNE/CEB nº 7/2010;
cação das crianças de acordo com seus espaços e tempos V - a realização dos três anos iniciais do Ensino Funda-
socioculturais; mental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequen-
III - elaborar e receber materiais didáticos específicos cial, não passível de interrupção, voltado para ampliar a
para a Educação Infantil, garantindo a incorporação de as- todos os estudantes as oportunidades de sistematização e
pectos socioculturais considerados mais significativos para aprofundamento das aprendizagens básicas, imprescindí-
a comunidade de pertencimento da criança. veis para o prosseguimento dos estudos, conforme a Reso-
lução CNE/CEB nº 7/2010.
Art. 16 Cabe ao Ministério da Educação redefinir seus
programas suplementares de apoio ao educando para in- Art. 18 O Ensino Médio é um direito social e dever do
corporar a Educação Infantil, de acordo com o inciso VII Estado na sua oferta pública e gratuita a todos, nos termos
do art. 208 da Constituição Federal que, na redação dada da Resolução CNE/CEB nº 2/2012.
pela Emenda Constitucional n º 59/2009, estendeu esses
programas a toda a Educação Básica.
176
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 19 As unidades escolares que ministram esta etapa § 2º O Ministério da Educação, em sua função indutora
da Educação Básica na Educação Escolar Quilombola de- e executora de políticas públicas educacionais, deve rea-
vem estruturar seus projetos político-pedagógicos consi- lizar diagnóstico da demanda por Educação Especial nas
derando as finalidades previstas na Lei nº 9.394/96, visan- comunidades quilombolas, visando criar uma política na-
do: cional de Atendimento Educacional Especializado aos estu-
I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci- dantes quilombolas que dele necessitem.
mentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando § 3º Os sistemas de ensino devem assegurar a acessi-
o prosseguimento de estudos; bilidade para toda a comunidade escolar e aos estudan-
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania tes quilombolas com deficiência, transtornos globais do
do educando para continuar aprendendo, de modo a ser desenvolvimento e com altas habilidades e superdotação,
capaz de se adaptar a novas condições de ocupação ou mediante:
aperfeiçoamento posteriores; I - prédios escolares adequados;
III - o aprimoramento do educando como pessoa hu- II - equipamentos;
mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da III - mobiliário;
autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - transporte escolar;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tec- V - profissionais especializados;
nológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria VI - tecnologia assistiva;
com a prática. VIII - outros materiais adaptados às necessidades des-
ses estudantes e de acordo com o projeto político-peda-
Art. 20 O Ensino Médio na Educação Escolar Quilom- gógico da escola.
bola deverá proporcionar aos estudantes: § 4º No caso dos estudantes que apresentem necessi-
I - participação em projetos de estudo e de trabalho dades diferenciadas de comunicação, o acesso aos conteú-
e atividades pedagógicas que visem o conhecimento das dos deve ser garantido por meio da utilização de lingua-
gens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille, a Língua
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cul-
Brasileira de Sinais (LIBRAS) e a tecnologia assistiva, facul-
tura próprios das comunidades quilombolas, bem como da
tando-lhes e às suas famílias a opção pela abordagem pe-
sociedade mais ampla;
dagógica que julgarem adequada, ouvidos os profissionais
II - formação capaz de oportunizar o desenvolvimento
especializados em cada caso.
das capacidades de análise e de tomada de decisões, reso-
§ 5º Na identificação das necessidades educacionais
lução de problemas, flexibilidade, valorização dos conhe-
especiais dos estudantes quilombolas, além da experiên-
cimentos tradicionais produzidos pelas suas comunidades
cia dos professores, da opinião da família, e das especi-
e aprendizado de diversos conhecimentos necessários ao
ficidades socioculturais, a Educação Escolar Quilombola
aprofundamento das suas interações com seu grupo de
deve contar com assessoramento técnico especializado e
pertencimento. o apoio da equipe responsável pela Educação Especial do
sistema de ensino.
Art. 21 Cabe aos sistemas de ensino promover consulta § 6º O Atendimento Educacional Especializado na Edu-
prévia e informada sobre o tipo de Ensino Médio adequado cação Escolar Quilombola deve assegurar a igualdade de
às diversas comunidades quilombolas, por meio de ações condições de acesso, permanência e conclusão com suces-
colaborativas, realizando diagnóstico das demandas rela- so aos estudantes que demandam esse atendimento.
tivas a essa etapa da Educação Básica em cada realidade
quilombola. Art. 23 A Educação de Jovens e Adultos (EJA), caracte-
Parágrafo Único As comunidades quilombolas rurais e riza-se como uma modalidade com proposta pedagógica
urbanas por meio de seus projetos de educação escolar, flexível, tendo finalidades e funções específicas e tempo
têm a prerrogativa de decidir o tipo de Ensino Médio ade- de duração definido, levando em consideração os conhe-
quado aos seus modos de vida e organização social, nos cimentos das experiências de vida dos jovens e adultos, li-
termos da Resolução CNE/CEB nº 2/2012. gadas às vivências cotidianas individuais e coletivas, bem
como ao mundo do trabalho.
Art. 22 A Educação Especial é uma modalidade de § 1º Na Educação Escolar Quilombola, a EJA deve aten-
ensino que visa assegurar aos estudantes com deficiên- der às realidades socioculturais e interesses das comuni-
cia, transtornos globais do desenvolvimento e com altas dades quilombolas, vinculando-se a seus projetos de vida.
habilidades e superdotação o desenvolvimento das suas § 2º A proposta pedagógica da EJA deve ser contex-
potencialidades socioeducacionais em todas as etapas e tualizada levando em consideração os tempos e os espaços
modalidades da Educação Básica nas escolas quilombolas humanos, as questões históricas, sociais, políticas, culturais
e nas escolas que atendem estudantes oriundos de territó- e econômicas das comunidades quilombolas.
rios quilombolas. § 3º A oferta de EJA no Ensino Fundamental não deve
§ 1º Os sistemas de ensino devem garantir aos estu- substituir a oferta regular dessa etapa da Educação Básica
dantes a oferta de Atendimento Educacional Especializado na Educação Escolar Quilombola, independentemente da
(AEE). idade.
177
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 4º Na Educação Escolar Quilombola, as propostas Art. 27 Quando os anos finais do Ensino Fundamental,
educativas de EJA, numa perspectiva de formação ampla, o Ensino Médio, integrado ou não à Educação Profissional
devem favorecer o desenvolvimento de uma Educação Técnica, e a Educação de Jovens e Adultos não puderem ser
Profissional que possibilite aos jovens, adultos e idosos ofertados nos próprios territórios quilombolas, a nucleação
quilombolas atuar nas atividades socioeconômicas e cul- rural levará em conta a participação das comunidades qui-
turais de suas comunidades com vistas ao fortalecimento lombolas e de suas lideranças na definição do local, bem
do protagonismo quilombola e da sustentabilidade de seus como as possibilidades de percurso a pé pelos estudantes
territórios. na menor distância a ser percorrida e em condições de se-
gurança.
Art. 24 A Educação Profissional Técnica de Nível Médio
na Educação Escolar Quilombola deve articular os princí- Art. 28 Quando se fizer necessária a adoção do trans-
pios da formação ampla, sustentabilidade socioambiental porte escolar no Ensino Fundamental, Ensino Médio, inte-
e respeito à diversidade dos estudantes, considerando-se grado ou não à Educação Profissional Técnica, e na Educa-
as formas de organização das comunidades quilombolas ção de Jovens e Adultos devem ser considerados o menor
e suas diferenças sociais, políticas, econômicas e culturais, tempo possível no percurso residência-escola e a garantia
devendo: de transporte intracampo dos estudantes quilombolas, em
I - contribuir para a gestão territorial autônoma, pos- condições adequadas de segurança.
sibilitando a elaboração de projetos de desenvolvimento Parágrafo Único Para que o disposto nos arts. 25 e 26
sustentável e de produção alternativa para as comunidades seja cumprido, deverão ser estabelecidas regras para o re-
quilombolas, tendo em vista, em muitos casos, as situações gime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito
de falta de assistência e de apoio para seus processos pro- Federal e os Municípios ou entre Municípios consorciados.
dutivos;
II - articular-se com os projetos comunitários, defi- Art. 29 O eventual transporte de crianças e jovens com
nidos a partir das demandas coletivas das comunidades deficiência, em suas próprias comunidades ou quando
quilombolas, contribuindo para a reflexão e construção de houver necessidade de deslocamento para a nucleação,
alternativas de gestão autônoma dos seus territórios, de deverá adaptar-se às condições desses estudantes, confor-
sustentabilidade econômica, de soberania alimentar, de me leis específicas.
educação, de saúde e de atendimento às mais diversas ne- § 1º No âmbito do regime de cooperação entre os en-
cessidades cotidianas; tes federados, do regime de colaboração entre os sistemas
III - proporcionar aos estudantes quilombolas oportu- de ensino e admitindo-se o princípio de que a responsabi-
nidades de atuação em diferentes áreas do trabalho técni- lidade pelo transporte escolar de estudantes da rede mu-
co, necessárias ao desenvolvimento de suas comunidades, nicipal seja dos próprios Municípios, e de estudantes da
como as da tecnologia da informação, saúde, gestão terri- rede estadual seja dos próprios Estados, os veículos per-
torial e ambiental, magistério e outras. tencentes ou contratados pelos Municípios também pode-
rão transportar estudantes da rede estadual e vice-versa.
Art. 25 Para o atendimento das comunidades quilom- § 2º O ente federado que detém as matrículas dos es-
bolas a Educação Profissional Técnica de Nível Médio de- tudantes transportados é o responsável pelo seu transpor-
verá ser realizada preferencialmente em seus territórios, te, devendo ressarcir àquele que efetivamente o realizar.
sendo ofertada:
I - de modo interinstitucional; Art. 30 O transporte escolar quando for comprovada-
II - em convênio com: mente necessário, deverá considerar o Código Nacional de
a) instituições de Educação Profissional e Tecnológica; Trânsito, as distâncias de deslocamento, a acessibilidade,
b) instituições de Educação Superior; as condições de estradas e vias, as condições climáticas, o
c) outras instituições de ensino e pesquisa; estado de conservação dos veículos utilizados e sua idade
d) organizações do Movimento Negro e Quilombola, de uso, a melhor localização e as melhores possibilidades
de acordo com a realidade de cada comunidade. de trabalho pedagógico com padrão de qualidade.
178
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
II - observância das Diretrizes Curriculares Nacionais e § 2º O currículo deve considerar, na sua organização e
locais, estas últimas definidas pelos sistemas de ensino e prática, os contextos socioculturais, regionais e territoriais
seus órgãos normativos; das comunidades quilombolas em seus projetos de Educa-
III - atendimento às demandas políticas, socioculturais ção Escolar Quilombola.
e educacionais das comunidades quilombolas;
IV - ser construído de forma autônoma e coletiva me- Art. 35 O currículo da Educação Escolar Quilombola,
diante o envolvimento e participação de toda a comunida- obedecidas as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas
de escolar. para todas as etapas e modalidades da Educação Básica,
deverá:
Art. 32 O projeto político-pedagógico da Educação Es- I - garantir ao educando o direito a conhecer o con-
colar Quilombola deverá estar intrinsecamente relacionado ceito, a história dos quilombos no Brasil, o protagonismo
com a realidade histórica, regional, política, sociocultural e do movimento quilombola e do movimento negro, assim
econômica das comunidades quilombolas. como o seu histórico de lutas;
§ 1º A construção do projeto político-pedagógico de- II - implementar a Educação das Relações Étnico-Ra-
verá pautar-se na realização de diagnóstico da realidade ciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Afri-
da comunidade quilombola e seu entorno, num processo cana, nos termos da Lei nº 9.394/96, na redação dada pela
dialógico que envolva as pessoas da comunidade, as lide- Lei nº 10.639/2003, e da Resolução CNE/CP nº 1/2004;
ranças e as diversas organizações existentes no território. III - reconhecer a história e a cultura afro-brasileira
§ 2º Na realização do diagnóstico e na análise dos da- como elementos estruturantes do processo civilizatório
dos colhidos sobre a realidade quilombola e seu entorno, o nacional, considerando as mudanças, as recriações e as
projeto político-pedagógico deverá considerar: ressignificações históricas e socioculturais que estruturam
I - os conhecimentos tradicionais, a oralidade, a ances- as concepções de vida dos afro-brasileiros na diáspora afri-
tralidade, a estética, as formas de trabalho, as tecnologias e cana;
a história de cada comunidade quilombola; IV - promover o fortalecimento da identidade étnico
II - as formas por meio das quais as comunidades
-racial, da história e cultura afro-brasileira e africana res-
quilombolas vivenciam os seus processos educativos co-
significada, recriada e reterritorializada nos territórios qui-
tidianos em articulação com os conhecimentos escolares
lombolas;
e demais conhecimentos produzidos pela sociedade mais
V - garantir as discussões sobre a identidade, a cultu-
ampla.
ra e a linguagem, como importantes eixos norteadores do
§ 3º A questão da territorialidade, associada ao et-
currículo;
nodesenvolvimento e à sustentabilidade socioambiental
VI - considerar a liberdade religiosa como princípio ju-
e cultural das comunidades quilombolas deverá orientar
rídico, pedagógico e político atuando de forma a:
todo o processo educativo definido no projeto político-pe-
dagógico. a) superar preconceitos em relação às práticas religio-
sas e culturais das comunidades quilombolas, quer sejam
Art. 33 O projeto político-pedagógico da Educação Es- elas religiões de matriz africana ou não;
colar Quilombola deve incluir o conhecimento dos proces- b) proibir toda e qualquer prática de proselitismo reli-
sos e hábitos alimentares das comunidades quilombolas gioso nas escolas.
por meio de troca e aprendizagem com os próprios mora- VII - respeitar a diversidade sexual, superando práticas
dores e lideranças locais. homofóbicas, lesbofóbicas, transfóbicas, machistas e sexis-
tas nas escolas.
CAPÍTULO I – DOS CURRÍCULOS DA EDUCAÇÃO BÁ-
SICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR Art. 36 Na construção dos currículos da Educação Es-
QUILOMBOLA colar Quilombola, devem ser consideradas as condições de
escolarização dos estudantes quilombolas em cada etapa e
Art. 34 O currículo da Educação Escolar Quilombola diz modalidade de ensino; as condições de trabalho do profes-
respeito aos modos de organização dos tempos e espaços sor; os espaços e tempos da escola e de outras instituições
escolares de suas atividades pedagógicas, das interações educativas da comunidade e fora dela, tais como museus,
do ambiente educacional com a sociedade, das relações de centros culturais, laboratórios de ciências e de informática.
poder presentes no fazer educativo e nas formas de con-
ceber e construir conhecimentos escolares, constituindo Art. 37 O currículo na Educação Escolar Quilombola
parte importante dos processos sociopolíticos e culturais pode ser organizado por eixos temáticos, projetos de pes-
de construção de identidades. quisa, eixos geradores ou matrizes conceituais, em que os
§ 1º Os currículos da Educação Básica na Educação Es- conteúdos das diversas disciplinas podem ser trabalhados
colar Quilombola devem ser construídos a partir dos valo- numa perspectiva interdisciplinar.
res e interesses das comunidades quilombolas em relação
aos seus projetos de sociedade e de escola, definidos nos Art. 38 A organização curricular da Educação Escolar
projetos político-pedagógicos. Quilombola deverá se pautar em ações e práticas político-
pedagógicas que visem:
179
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
I - o conhecimento das especificidades das escolas qui- § 2º A gestão das escolas quilombolas deverá ser realiza-
lombolas e das escolas que atendem estudantes oriundos da, preferencialmente, por quilombolas.
dos territórios quilombolas quanto à sua história e às suas § 3º Os sistemas de ensino, em regime de colaboração,
formas de organização; estabelecerão convênios e parcerias com instituições de Edu-
II - a flexibilidade na organização curricular, no que se cação Superior para a realização de processos de formação
refere à articulação entre a base nacional comum e a parte continuada e em serviço de gestores em atuação na Educação
diversificada, a fim de garantir a indissociabilidade entre o Escolar Quilombola.
conhecimento escolar e os conhecimentos tradicionais pro-
duzidos pelas comunidades quilombolas; Art. 40 O processo de gestão desenvolvido na Educação
III - a duração mínima anual de 200 (duzentos) dias leti- Escolar Quilombola deverá se articular à matriz curricular e ao
vos, perfazendo, no mínimo, 800 (oitocentas) horas, respei- projeto político-pedagógico, considerando:
tando-se a flexibilidade do calendário das escolas, o qual I - os aspectos normativos nacionais, estaduais e muni-
poderá ser organizado independente do ano civil, de acordo cipais;
com as atividades produtivas e socioculturais das comunida- II - a jornada e o trabalho dos profissionais da educação;
des quilombolas; III - a organização do tempo e do espaço escolar;
IV - a interdisciplinaridade e contextualização na articula- IV - a articulação com o universo sociocultural quilom-
ção entre os diferentes campos do conhecimento, por meio bola.
do diálogo entre disciplinas diversas e do estudo e pesquisa
de temas da realidade dos estudantes e de suas comunida- CAPÍTULO III – DA AVALIAÇÃO
des;
V - a adequação das metodologias didáticopedagógi- Art. 41 A avaliação, entendida como um dos elementos
cas às características dos educandos, em atenção aos mo- que compõem o processo de ensino e aprendizagem, é uma
dos próprios de socialização dos conhecimentos produzidos estratégia didática que deve:
e construídos pelas comunidades quilombolas ao longo da I - ter seus fundamentos e procedimentos definidos no
história; projeto político-pedagógico;
VI - a elaboração e uso de materiais didáticos e de apoio II - articular-se à proposta curricular, às metodologias, ao
pedagógico próprios, com conteúdos culturais, sociais, políti- modelo de planejamento e gestão, à formação inicial e conti-
cos e identitários específicos das comunidades quilombolas; nuada dos docentes e demais profissionais da educação, bem
VII - a inclusão das comemorações nacionais e locais no como ao regimento escolar;
calendário escolar, consultadas as comunidades quilombo- III - garantir o direito do estudante a ter considerado e
las no colegiado, em reuniões e assembleias escolares, bem respeitado os seus processos próprios de aprendizagem.
como os estudantes no grêmio estudantil e em sala de aula,
a fim de, pedagogicamente, compreender e organizar o que Art. 42 A avaliação do processo de ensino e aprendiza-
é considerado mais marcante a ponto de ser rememorado e gem na Educação Escolar Quilombola deve considerar:
comemorado pela escola; I - os aspectos qualitativos, diagnósticos, processuais, for-
VIII - a realização de discussão pedagógica com os es- mativos, dialógicos e participativos do processo educacional;
tudantes sobre o sentido e o significado das comemorações II - o direito de aprender dos estudantes quilombolas;
da comunidade; III - as experiências de vida e as características históricas,
IX - a realização de práticas pedagógicas voltadas para políticas, econômicas e socioculturais das comunidades qui-
as crianças da Educação Infantil, pautadas no educar e no lombolas;
cuidar; IV - os valores, as dimensões cognitiva, afetiva, emocional,
X - o Atendimento Educacional Especializado, comple- lúdica, de desenvolvimento físico e motor, dentre outros.
mentar ou suplementar à formação dos estudantes quilom-
bolas com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- Art. 43 Na Educação Infantil, a avaliação far-se-á median-
mento e com altas habilidades e superdotação. te acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem
o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino
CAPÍTULO II – DA GESTÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR Fundamental.
QUILOMBOLA
Art. 44 A Educação Escolar Quilombola desenvolverá
Art. 39 A Educação Escolar Quilombola deve atender práticas de avaliação que possibilitem o aprimoramento das
aos princípios constitucionais da gestão democrática que se ações pedagógicas, dos projetos educativos, da relação com
aplicam a todo o sistema de ensino brasileiro e deverá ser a comunidade, da relação professor/estudante e da gestão.
realizada em diálogo, parceria e consulta às comunidades Art. 45 Os Conselhos de Educação devem participar da
quilombolas por ela atendidas. definição dos parâmetros de avaliação interna e externa que
§ 1º Faz-se imprescindível o diálogo entre a gestão da atendam às especificidades das comunidades quilombolas
escola, a coordenação pedagógica e organizações do mo- garantindo-lhes:
vimento quilombola nos níveis local, regional e nacional, a I - a consideração de suas estruturas sociais, suas práti-
fim de que a gestão possa considerar os aspectos históricos, cas socioculturais e suas atividades econômicas;
políticos, sociais, culturais e econômicos do universo socio- II - as suas formas de produção de conhecimento e
cultural quilombola no qual a escola está inserida. processos e métodos próprios de ensino-aprendizagem.
180
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 46 A inserção da Educação Escolar Quilombola nos c) o estudo das metodologias e dos processos de ensi-
processos de avaliação institucional das redes da Educação no-aprendizagem;
Básica deve estar condicionada às especificidades das co- d) os conteúdos curriculares da base nacional comum;
munidades quilombolas. e) o estudo do trabalho como princípio educativo;
f) o estudo da memória, da ancestralidade, da orali-
CAPÍTULO IV – DA FORMAÇÃO INICIAL, CONTI- dade, da corporeidade, da estética e do etnodesenvolvi-
NUADA E PROFISSIONALIZAÇÃO DOS mento, entendidos como conhecimentos e parte da cos-
PROFESSORES PARA ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO ES- movisão produzidos pelos quilombolas ao longo do seu
COLAR QUILOMBOLA processo histórico, político, econômico e sociocultural;
g) a realização de estágio curricular em articulação
Art. 47 A admissão de profissionais do magistério para com a realidade da Educação Escolar Quilombola;
atuação na Educação Escolar Quilombola nas redes públi- h) as demais questões de ordem sociocultural, artísti-
cas deve dar-se mediante concurso público, nos termos do ca e pedagógica da sociedade e da educação brasileira de
art. 37, inciso II, da Constituição Federal. acordo com a proposta curricular da instituição.
Parágrafo Único As provas e títulos podem valorizar
conhecimentos profissionais e técnicos exigidos para a Art. 51 Nos cursos de formação inicial da Educação Es-
atuação na Educação Escolar Quilombola, observando a colar Quilombola deverão ser criados espaços, condições
natureza e a complexidade do cargo ou emprego. de estudo, pesquisa e discussões sobre:
I - as lutas quilombolas ao longo da história;
Art. 48 A Educação Escolar Quilombola deverá ser con- II - o papel dos quilombos nos processos de libertação
duzida, preferencialmente, por professores pertencentes às e no contexto atual da sociedade brasileira;
comunidades quilombolas. III - as ações afirmativas;
IV - o estudo sobre a articulação entre os conhecimen-
Art. 49 Os sistemas de ensino, no âmbito da Política tos científicos e os conhecimentos tradicionais produzidos
Nacional de Formação de Professores da Educação Bási- pelas comunidades quilombolas ao longo do seu processo
ca, deverão estimular a criação e implementar programas histórico, sociocultural, político e econômico;
de formação inicial de professores em licenciatura para IV - as formas de superação do racismo, da discrimina-
atuação em escolas quilombolas e escolas que atendem ção e do preconceito raciais, nos termos da Lei nº 9.394/96,
estudantes oriundos de territórios quilombolas ou ainda na redação dada pela Lei nº 10.639/2003, e da Resolução
em cursos de magistério de nível médio na modalidade CNE/CP nº1/2004.
normal, de acordo com a necessidade das comunidades
quilombolas. Art. 52 Os sistemas de ensino podem, em articulação
com as instituições de Educação Superior, firmar convênios
Art. 50 A formação inicial de professores que atuam na para a realização de estágios curriculares de estudantes dos
Educação Escolar Quilombola deverá: cursos de licenciatura para que estes desenvolvam os seus
I - ser ofertada em cursos de licenciatura aos docentes projetos na Educação Escolar Quilombola, sobretudo nas
que atuam em escolas quilombolas e em escolas que aten- áreas rurais, em apoio aos docentes em efetivo exercício.
dem estudantes oriundos de territórios quilombolas; § 1º Os estagiários que atuarão na Educação Escolar
II - quando for o caso, também ser ofertada em serviço, Quilombola serão supervisionados por professor designa-
concomitante com o efetivo exercício do magistério; do pela instituição de Educação Superior e acompanhados
III - propiciar a participação dos graduandos ou nor- por docentes em efetivo exercício profissional nas escolas
malistas na elaboração, desenvolvimento e avaliação dos quilombolas e nas escolas que atendem estudantes oriun-
currículos e programas, considerando o contexto sociocul- dos de territórios quilombolas;
tural e histórico das comunidades quilombolas; § 2º As instituições de Educação Superior deverão as-
IV - garantir a produção de materiais didáticos e de segurar aos estagiários, em parceria com o poder público,
apoio pedagógico específicos, de acordo com a realidade condições de transporte, deslocamento e alojamento, bem
quilombola em diálogo com a sociedade mais ampla; como todas as medidas de segurança para a realização do
V - garantir a utilização de metodologias e estratégias seu estágio curricular na Educação Escolar Quilombola.
adequadas de ensino no currículo que visem à pesquisa, à
inserção e à articulação entre os conhecimentos científicos Art. 53 A formação continuada de professores que
e os conhecimentos tradicionais produzidos pelas comuni- atuam na Educação Escolar
dades quilombolas em seus contextos sócio-histórico-cul- Quilombola deverá:
turais; I - ser assegurada pelos sistemas de ensino e suas ins-
VI - ter como eixos norteadores do currículo: tituições formadoras e compreendida como componente
a) os conteúdos gerais sobre a educação, política edu- primordial da profissionalização docente e estratégia de
cacional, gestão, currículo e avaliação; continuidade do processo formativo, articulada à realida-
b) os fundamentos históricos, sociológicos, sociolin- de das comunidades quilombolas e à formação inicial dos
guísticos, antropológicos, políticos, econômicos, filosóficos seus professores;
e artísticos da educação;
181
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
II - ser realizada por meio de cursos presenciais ou a § 1º Quando necessário, os territórios quilombolas po-
distância, por meio de atividades formativas e cursos de derão se organizar mediante Arranjos de Desenvolvimento
atualização, aperfeiçoamento, especialização, bem como da Educação, nos termos da Resolução CEB/CNE nº 1/2012.
programas de mestrado ou doutorado; § 2º Municípios nos quais estejam situados territó-
III - realizar cursos e atividades formativas criadas e de- rios quilombolas poderão, em colaboração com Estados e
senvolvidas pelas instituições públicas de educação, cultura União, se organizar, visando à oferta de Educação Escolar
e pesquisa, em consonância com os projetos das escolas e Quilombola, mediante consórcios públicos intermunicipais,
dos sistemas de ensino; conforme a Lei nº 11.107/2005.
IV - ter atendidas as necessidades de formação conti-
nuada dos professores pelos sistemas de ensino, pelos seus Art. 58 Nos termos do regime de colaboração, definido
órgãos próprios e instituições formadoras de pesquisa e no art. 211 da Constituição Federal e no artigo 8º da LDB:
cultura, em regime de colaboração. I - Compete a União:
a) legislar e definir diretrizes e políticas nacionais para
Art. 54 Os cursos destinados à formação continuada na a Educação Escolar Quilombola;
Educação Escolar Quilombola deverão atender ao disposto b) coordenar a política nacional em articulação com os
no art. 51 desta Resolução. sistemas de ensino, induzindo a criação de programas es-
pecíficos e integrados de ensino e pesquisa voltados para a
Art. 55 A profissionalização de professores que atuam Educação Escolar Quilombola, com a participação das lide-
na Educação Escolar Quilombola será realizada, além da ranças quilombolas em seu acompanhamento e avaliação;
formação inicial e continuada, por meio das seguintes c) apoiar técnica, pedagógica e financeiramente os sis-
ações: temas de ensino na oferta de educação nacional e, dentro
I - reconhecimento e valorização da carreira do magis- desta, de Educação Escolar Quilombola;
tério mediante acesso por concurso público; d) estimular a criação e implementar, em colaboração
II - garantia das condições de remuneração compatível com os sistemas de ensino e em parceria com as institui-
com sua formação e isonomia salarial; ções de Educação Superior, programas de formação inicial
III - garantia de condições dignas e justas de trabalho e e continuada de professores para atuação na Educação Es-
de jornada de trabalho nos termos da Lei. colar Quilombola;
§ 1º Os docentes que atuam na Educação Escolar Qui- e) acompanhar e avaliar o desenvolvimento de ações
lombola, quando necessário, deverão ter condições ade- na área da formação inicial e continuada de professores
quadas de alojamento, alimentação, material didático e de para atuação na Educação Escolar Quilombola;
apoio pedagógico, bem como remuneração prevista na Lei, f) promover a elaboração e publicação sistemática de
garantidos pelos sistemas de ensino. material didático e de apoio pedagógico específico, em
§ 2º Os sistemas de ensino podem construir, quando parceria com as instituições de Educação Superior, destina-
necessário, mediante regime de colaboração, residência do à Educação Escolar Quilombola;
docente para os professores que atuam em escolas qui- g) realizar, em colaboração com os Estados, o Distrito
lombolas localizadas nas áreas rurais, sendo que a distri- Federal e os Municípios, as Conferências Nacionais de Edu-
buição dos encargos didáticos e da sua carga horária de cação Escolar Quilombola;
trabalho deverá levar em consideração essa realidade. h) aprofundar a discussão específica sobre a Educação
Escolar Quilombola nas Conferências
Art. 56 Dada a especificidade das comunidades qui- Nacionais de Educação.
lombolas rurais e urbanas do país, estas Diretrizes orientam II - Compete aos Estados:
os sistemas de ensino, em regime de colaboração, e em a) garantir a oferta do Ensino Médio no nível estadual,
parceria com instituições de Educação Superior a desen- levando em consideração a realidade das comunidades
volver uma política nacional de formação de professores quilombolas, priorizando a sua oferta nessas comunidades
quilombolas. e no seu entorno;
b) ofertar e executar a Educação Escolar Quilombola
TÍTULO VIII diretamente ou por meio de regime de colaboração com
DA AÇÃO COLABORATIVA PARA A GARANTIA DA seus Municípios;
EDUCAÇÃO ESCOLAR c) estruturar, nas Secretarias de Educação, instâncias
QUILOMBOLA administrativas de Educação Escolar Quilombola com a
participação de quilombolas e de profissionais especiali-
CAPÍTULO I – Competências dos sistemas de ensino zados nas questões quilombolas, destinando-lhes recursos
no regime de colaboração financeiros específicos para a execução dos programas de
Educação Escolar Quilombola;
Art. 57 As políticas de Educação Escolar Quilombola se- d) criar e regularizar as escolas em comunidades qui-
rão efetivadas por meio da articulação entre os diferentes lombolas como unidades do sistema estadual e, quando
sistemas de ensino, definindo-se, no âmbito do regime de for o caso, do sistema municipal de ensino;
colaboração, suas competências e corresponsabilidades.
182
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
e) prover as escolas quilombolas e escolas que atendem c) regularizar a vida escolar dos estudantes quilombolas,
estudantes oriundos dos territórios quilombolas de recursos quando for o caso;
financeiros, técnico-pedagógicos e materiais, visando o pleno d) elaborar Diretrizes Curriculares estaduais para a Edu-
atendimento da Educação Básica; cação Escolar Quilombola em diálogo com as comunidades
f) promover a formação inicial e continuada de professo- quilombolas, suas lideranças e demais órgãos que atuam dire-
res quilombolas, em regime de cooperação com a União, o tamente com a educação nessas comunidades.
Distrito Federal e os Municípios; V - compete aos Conselhos Municipais de Educação:
g) realizar Conferências Estaduais de Educação Escolar a) estabelecer critérios específicos para a criação e a re-
Quilombola, em regime de colaboração com a União, o Distri- gularização da Educação Infantil e do Ensino Fundamental na
to Federal e os Municípios; Educação Escolar Quilombola, com a participação das lideran-
h) implementar Diretrizes Curriculares estaduais para a ças quilombolas;
Educação Escolar Quilombola, em diálogo com as comunida- b) autorizar o funcionamento e reconhecimento das esco-
des quilombolas, suas lideranças e demais órgãos que atuam las de Educação Infantil e de Ensino Fundamental em comuni-
diretamente com a educação dessas comunidades; dades quilombolas;
i) promover a elaboração e publicação sistemática de ma- c) regularizar a vida escolar dos estudantes quilombolas,
terial didático e de apoio pedagógico e específico para uso nas quando for o caso;
escolas quilombolas e escolas que atendem estudantes oriun- d) elaborar Diretrizes Curriculares municipais para a Edu-
dos dos territórios quilombolas. cação Escolar Quilombola, em diálogo com as comunidades
§ 1º As atribuições dos Estados na oferta da Educação Es- quilombolas, suas lideranças, e demais órgãos que atuam di-
colar Quilombola poderão ser realizadas por meio de regime retamente com a educação nessas comunidades.
de colaboração com os Municípios, desde que estes tenham
se constituído em sistemas de educação próprios e disponham TÍTULO IX
de condições técnicas, pedagógicas e financeiras adequadas, e DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
consultadas as comunidades quilombolas.
III - Compete aos Municípios: Art. 59 É responsabilidade do Estado cumprir a Educação Esco-
a) garantir a oferta da Educação Infantil e do Ensino Fun- lar Quilombola tal como previsto no art. 208 da Constituição Federal.
damental no nível municipal, levando em consideração a rea-
lidade das comunidades quilombolas, priorizando a sua oferta Art. 60 As instituições de Educação Superior poderão rea-
nessas comunidades e no seu entorno; lizar projetos de extensão universitária voltados para a Educa-
b) ofertar e executar a Educação Escolar Quilombola direta- ção Escolar Quilombola, em articulação com as diversas áreas
mente ou por meio do regime de colaboração com os Estados; do conhecimento e com as comunidades quilombolas.
c) estruturar, nas Secretarias de Educação, instâncias admi-
nistrativas de Educação Escolar Quilombola com a participação Art. 61 Recomenda-se que os Entes Federados (União,
de quilombolas e de profissionais especializados nas questões Estados, Distrito Federal e Municípios) trabalhem no sentido
quilombolas, destinando-lhes recursos financeiros específicos de articular as ações de diferentes setores que garantam o
para a execução das ações voltadas para a Educação Escolar direito às comunidades quilombolas à educação, à cultura, à
Quilombola; ancestralidade, à memória e ao desenvolvimento sustentável,
d) prover as escolas quilombolas e as escolas que aten- especialmente os Municípios, dada a sua condição de estarem
dem estudantes oriundos dos territórios quilombolas de re- mais próximos dos locais em que residem as populações qui-
cursos financeiros, técnicos, materiais e humanos visando, o lombolas rurais e urbanas.
pleno atendimento da Educação Básica;
f) implementar Diretrizes Curriculares municipais para a Art. 62 O Ministério da Educação, em cooperação com os
Educação Escolar Quilombola, em diálogo com as comunida- Estados, o Distrito Federal e os Municípios, ouvidas as lideran-
des quilombolas, suas lideranças e demais órgãos que atuam ças quilombolas e em parceria com as instituições de Educação
diretamente com a educação dessas comunidades; Superior e de Educação Profissional e Tecnológica, Núcleos de
g) realizar Conferências Municipais de Educação Escolar Estudos Afro-Brasileiros e grupos correlatos, organizações do
Quilombola, em colaboração com os Estados. Movimento Quilombola e do Movimento Negro deverá insti-
§ 2º As atribuições dos Municípios na oferta da Educa- tuir o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curri-
ção Escolar Quilombola poderão ser realizadas por meio do culares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola.
regime de colaboração com os Estados, consultadas as comu-
nidades quilombolas, desde que estes tenham se constituído Art. 63 O financiamento da Educação Escolar Quilom-
em sistemas de educação próprios e disponham de condições bola deve considerar o disposto no art.10, inciso XV, da Lei
técnicas, pedagógicas e financeiras adequadas. nº 11.494/2007 (FUNDEB), o qual dispõe que a distribuição
IV - Compete aos Conselhos Estaduais de Educação: proporcional de recursos dos Fundos levará em conta a
a) estabelecer critérios específicos para criação e regula- Educação do Campo, a Educação Escolar Indígena e Qui-
rização das escolas de Ensino Fundamental, de Ensino Médio lombola dentre as diferentes etapas, modalidades e tipos
e de Educação Profissional na Educação Escolar Quilombola; de estabelecimento de ensino da Educação Básica.
b) autorizar o funcionamento e reconhecimento das es-
colas de Ensino Fundamental, de Ensino Médio e de Educação Art. 64 Esta Resolução entra em vigor na data de sua
Profissional em comunidades quilombolas; publicação.
183
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
RESOLVE:
VIII - A ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO CAPÍTULO I
DA EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA NO DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
ESTADO DE MINAS GERAIS
Art. 1º - Ficam estabelecidas as Diretrizes para a or-
ganização da Educação Escolar Quilombola no Estado de
Minas Gerais, na forma desta Resolução.
RESOLUÇÃO SEE Nº 3.658, DE 24 DE NOVEMBRO
DE 2017. Art. 2º - A Educação Escolar Quilombola na Educação
Básica fundamenta-se nos princípios:
Institui as Diretrizes para a organização da Educação I- da memória coletiva;
Escolar Quilombola no Estado de Minas Gerais. II- das línguas reminiscentes;
III- dos marcos civilizatórios;
A SECRETÁRIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, no uso IV- das práticas culturais;
de sua competência, tendo em vista o disposto na Lei de V- das tecnologias e formas de produção do trabalho
Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394, de 20 como princípio educativo;
de dezembro de 1996, o Parecer do Conselho Nacional de VI- dos acervos e repertórios orais;
Educação nº 16, de 05 de junho de 2012, a Resolução CNE/ VII- dos festejos, usos, tradições e demais elementos
CEB nº 8, de 20 de novembro de 2012, que define as Dire- que conformam o patrimônio cultural das comunidades
trizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Qui- quilombolas de todo o país;
lombola na Educação Básica, a Resolução SEE nº 2.197, de VIII- da territorialidade e respeito aos processos histó-
26 de outubro de 2012, que dispõe sobre a organização e ricos de luta pela regularização dos territórios tradicionais
o funcionamento do ensino nas Escolas Estaduais de Edu- dos povos quilombolas;
cação Básica de Minas Gerais, a Resolução SEE nº 2.820, de IX - reconhecimento dos quilombolas como povos ou
11 de dezembro de 2015, que institui as Diretrizes para a comunidades tradicionais;
Educação Básica nas escolas do campo de Minas Gerais, e X - direito ao etnodesenvolvimento, entendido como
considerando: modelo de desenvolvimento alternativo, que considera a
- o direito à Educação Escolar Quilombola às comuni- participação das comunidades quilombolas, as suas tradi-
dades quilombolas rurais e urbanas, respeitando a história, ções locais, o seu ponto de vista ecológico, a sustentabili-
o território, a memória, a ancestralidade e os conhecimen- dade e as suas formas de produção do trabalho e de vida;
XI - superação do racismo institucional, ambiental, ali-
tos tradicionais;
mentar, entre outros;
- que a Educação Escolar Quilombola destina-se ao
XII - a articulação entre os conhecimentos científicos,
atendimento das populações quilombolas rurais e urbanas
os conhecimentos tradicionais e as práticas socioculturais
em suas mais variadas formas de produção cultural, social,
próprias das comunidades quilombolas, em processo edu-
política e econômica;
cativo dialógico e emancipatório.
- a necessidade de assegurar que as escolas quilom-
bolas e as escolas que atendem estudantes oriundos dos
Art. 3º - A Educação Escolar Quilombola deve estabele-
territórios quilombolas considerem as práticas sociocultu-
cer interface com a Educação do Campo e a Indígena, reco-
rais, políticas e econômicas das comunidades quilombolas, nhecidos os seus pontos de intersecção política, histórica,
bem como os seus processos próprios de ensino-aprendi- social e econômica, sem perder sua especificidade.
zagem e as suas formas de produção e de conhecimento
tecnológico, admitindo pedagogia própria em respeito à CAPÍTULO III
especificidade étnico-cultural de cada comunidade, obser- DO ATENDIMENTO DA DEMANDA
vados os princípios constitucionais, a Base Nacional Co-
mum Curricular e os princípios que orientam a Educação Art. 4º - A Educação Escolar Quilombola destina-se ao
Básica brasileira; atendimento das populações quilombolas rurais e urbanas
- os subsídios para implementação das Diretrizes Cur- em suas mais variadas formas de produção cultural, social,
riculares da Educação Escolar Quilombola, elaborados pelo política e econômica.
grupo de trabalho da Educação Quilombola, criado pela
Resolução SEE nº 2.796, de 2 outubro de 2015; Art. 5º - A Educação Escolar Quilombola será ofertada
- a Convenção 169 da Organização Internacional do preferencialmente por estabelecimentos de ensino locali-
Trabalho, ratificada pelo Estado brasileiro por meio do De- zados em comunidades quilombolas, rurais e urbanas, re-
creto nº 5.051, de 19 de abril de 2004; conhecidas pelos órgãos públicos responsáveis. Parágrafo
- a Política Estadual de Desenvolvimento Sustentável único. Os estabelecimentos de ensino próximos às comu-
para os Povos e Comunidades Tradicionais, estabelecida nidades quilombolas poderão ofertar a Educação Escolar
pela Lei nº 21.147, de 14 de janeiro de 2014; Quilombola desde que mais da metade de seus estudantes
sejam oriundos dos territórios quilombolas.
184
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 11 - O projeto político-pedagógico deverá consi- Art. 17 - O Ensino Fundamental, direito humano, social,
derar: público subjetivo, aliado à ação educativa da família e da
I – os princípios descritos no art. 2 desta Resolução; comunidade, deve articular-se, no contexto da Educação
II – os conhecimentos tradicionais, a oralidade, a an- Escolar Quilombola, com os conhecimentos tradicionais,
cestralidade, a estética, as formas de trabalho, as tecnolo- com o direito à identidade étnico-racial, e com a dinâmica
gias e a história de cada comunidade quilombola; própria de organização de cada comunidade quilombola,
III – as formas por meio das quais as comunidades tendo o respeito à diversidade como valor fundamental.
quilombolas vivenciam os seus processos educativos co- Parágrafo único. O Estado, em regime de colaboração
tidianos em articulação com os conhecimentos escolares com os municípios, deve garantir o Ensino Fundamental,
e demais conhecimentos produzidos pela sociedade mais com duração de nove anos, para toda a população quilom-
ampla; bola de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos de idade.
IV - a possibilidade de articulação entre Escola Quilom-
bola e instituições de Ensino Superior, devidamente apoia- Art. 18 - A proposta pedagógica do Ensino Fundamen-
das por agências de fomento à pesquisa; tal deverá ser coerente, articulada e integrada com os mo-
V – os processos de aprendizagens com os próprios dos de ser e de desenvolver das crianças e adolescentes
moradores e lideranças locais. quilombolas nos diferentes contextos sociais.
185
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 19 - O Ensino Médio na Educação Escolar Quilom- Art. 23 - A Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Edu-
bola deverá proporcionar aos estudantes: cação Escolar Quilombola deve atender às realidades socio-
I - Formação capaz de oportunizar o desenvolvimen- culturais e interesses das comunidades quilombolas, vincu-
to das capacidades de análise e de tomada de decisões, lando-se a seus projetos de vida e trabalho.
de resolução de problemas, com flexibilidade e valorização § 1º - A EJA deve favorecer uma formação ampla aos
dos conhecimentos tradicionais produzidos pelas suas co- estudantes, possibilitando a atuação nas atividades socioe-
munidades e aprendizado de diversos conhecimentos ne- conômicas e culturais de suas comunidades, fortalecendo os
cessários ao aprofundamento das suas interações com seu laços de pertencimento, o protagonismo quilombola e em
grupo de pertencimento e com a sociedade mais ampla. diálogo com o mundo do trabalho.
II - Participação em projetos de estudo e de trabalho § 2º - Os critérios para autorização de abertura de turmas
e atividades pedagógicas que visem ao conhecimento das de EJA em escolas quilombolas ou em escolas que atendam
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cul- a maioria dos estudantes oriundos das comunidades quilom-
bolas serão diferenciados e devem ocorrer em consonância
tura próprias das comunidades quilombolas, bem como da
com as demandas das comunidades.
sociedade mais ampla;
§ 3º - A oferta de EJA no Ensino Fundamental não deve
substituir a oferta regular dessa etapa da Educação Básica na
Art. 20 - O Estado deve garantir a universalização do
Educação Escolar Quilombola, independentemente da idade.
atendimento escolar do Ensino Médio para toda a popula-
ção quilombola de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos. Art. 24 - O atendimento da Educação Especial deve ser
contemplado nas escolas quilombolas e nas escolas que
Art. 21 - A proposta pedagógica do Ensino Médio na atendem estudantes oriundos de territórios quilombolas, em
Educação Escolar Quilombola deve abrir perspectivas para todas as etapas e modalidades da Educação Básica, confor-
os estudantes vislumbrarem seu ingresso no Ensino Supe- me orientações específicas.
rior.
CAPÍTULO VI
Art. 22 - A Educação Profissional Técnica de Nível Mé- DA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
dio na Educação Escolar Quilombola deve articular os prin-
cípios da formação ampla, sustentabilidade socioambiental Art. 25 - O currículo da Educação Escolar Quilombola diz
e respeito à diversidade dos estudantes, considerando-se respeito aos modos de organização dos tempos e espaços
as formas de organização das comunidades quilombolas escolares de suas atividades pedagógicas, das interações do
e suas diferenças sociais, políticas, econômicas e culturais, ambiente educacional com a sociedade, das relações de po-
devendo: der presentes no fazer educativo e nas formas de conceber
I – contribuir para a gestão territorial autônoma, pos- e construir conhecimentos escolares, constituindo parte im-
sibilitando a elaboração de projetos de desenvolvimento portante dos processos sociopolíticos e culturais de constru-
sustentável e de produção alternativa para as comunidades ção de identidades.
quilombolas, tendo em vista, em muitos casos, as situações Parágrafo único. O currículo da Educação Escolar Qui-
de falta de assistência e de apoio para seus processos pro- lombola deve observar e respeitar as disposições e orienta-
dutivos; ções da Base Nacional Comum Curricular, do Currículo Básico
II – articular-se com os projetos comunitários, defi- Comum (CBC) e articulados com a parte diversificada, a fim
nidos a partir das demandas coletivas das comunidades de garantir a indissociabilidade entre o conhecimento escolar
quilombolas, contribuindo para a reflexão e construção de e os conhecimentos tradicionais produzidos pelas comunida-
des quilombolas.
alternativas de gestão autônoma dos seus territórios, de
sustentabilidade econômica, de soberania alimentar, de
Art. 26 - O currículo da Educação Escolar Quilombola,
educação, de saúde e de atendimento às mais diversas ne-
obedecidas as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas
cessidades cotidianas;
para todas as etapas e modalidades da Educação Básica, de-
§ 1º - As escolas poderão solicitar a autorização de verá:
oferta de Cursos Técnicos via Plano de Atendimento, em I - garantir ao estudante o direito a conhecer o concei-
conformidade com o Catálogo Nacional de Cursos Técni- to, a história dos quilombos no Brasil e em Minas Gerais, o
cos, ressaltando a importância de que essa modalidade protagonismo do movimento quilombola e do movimento
esteja voltada para o estudo aprimorado de tecnologias negro, assim como o seu histórico de lutas;
apropriadas ao contexto quilombola. II - implementar a Educação das Relações Étnico-Raciais
§ 2º - Para o atendimento das comunidades quilombo- e o Ensino de História e Cultura afrobrasileira, Africana e Indí-
las, a Educação Profissional Técnica de Nível Médio deverá gena, nos termos da legislação em vigor;
ser realizada preferencialmente em seus territórios, poden- III - reconhecer a história e a cultura afrobrasileira como
do ser ofertada nas escolas estaduais ou através de parce- elementos estruturantes do processo de formação nacional e
rias com outras instituições de ensino e organizações do regional, considerando as mudanças, as recriações e as res-
Movimento Negro e Quilombola. significações históricas e socioculturais que fundamentam as
concepções de vida dos afrobrasileiros na diáspora africana;
186
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 28 - A organização curricular da Educação Escolar Art. 34 - A avaliação coletiva do desempenho da es-
Quilombola deverá se pautar em ações e práticas político cola deverá ser desenvolvida periodicamente, com ampla
-pedagógicas que visem: I - a interdisciplinaridade e contex- participação da comunidade escolar e da comunidade qui-
tualização na articulação entre os diferentes campos do co- lombola.
nhecimento, por meio do diálogo entre disciplinas diversas e
do estudo e pesquisa de temas da realidade dos estudantes CAPÍTULO IX
e de suas comunidades; DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
II - a adequação das metodologias pedagógicas às ca-
racterísticas dos estudantes, em atenção aos modos próprios Art. 35 - A Secretaria de Estado de Educação deve man-
de socialização dos conhecimentos produzidos e construí- ter em seu espaço virtual e/ou eletrônico divulgação das
dos pelas comunidades quilombolas ao longo da história; ações pedagógicas, normas, orientações e informações
III - as estratégias e metodologias de pesquisa como pertinentes à Educação Escolar Quilombola.
eixo para a produção de conhecimentos;
IV - os conhecimentos produzidos no percurso forma- Art. 36 - A composição do quadro de pessoal das Es-
tivo dos estudantes tornar-se-ão uma fonte para a elabora- colas Quilombolas deverá observar as normas específicas
ção e produção de materiais pedagógicos, contemplando os da Secretaria de Estado de Educação e o disposto na legis-
conteúdos culturais, sociais, políticos e identitários específi- lação pertinente à Carreira dos Profissionais da Educação.
cos das comunidades quilombolas.
Art. 37 - O processo de escolha de servidor ao exercício
CAPÍTULO VIII de cargo de diretor e à função de vice-diretor de escolas
DA AVALIAÇÃO
estaduais quilombolas ocorrerá mediante processo especí-
fico, conforme as normas vigentes da Secretaria.
Art. 29 - A avaliação, entendida como um dos elementos
que compõem o processo de ensino e aprendizagem deverá
Art. 38 - Esta Resolução entra em vigor na data de sua
garantir o direito do estudante a ter considerados e respeita-
dos os seus processos próprios de aprendizagem. publicação.
Art. 30 - A avaliação do processo de ensino e aprendi- SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, em Belo Hori-
zagem na Educação Escolar Quilombola deverá considerar: zonte, aos 24 de novembro de 2017.
I - os aspectos qualitativos, diagnósticos, processuais,
formativos, dialógicos e participativos do processo educa- (a) Macaé Maria Evaristo dos Santos
cional; Secretária de Estado de Educação
II - o direito de aprender dos estudantes;
III - as experiências de vida e as características históricas,
políticas, econômicas e socioculturais das comunidades;
IV - os valores, as dimensões cognitiva, afetiva, lúdica, de
desenvolvimento físico e motor, dentre outros .
187
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
188
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Assim sendo, sistemas de ensino e estabelecimentos de Convivem, no Brasil, de maneira tensa, a cultura e o
diferentes níveis converterão as demandas dos afro-brasi- padrão estético negro e africano e um padrão estético e
leiros em políticas públicas de Estado ou institucionais, ao cultural branco europeu. Porém, a presença da cultura ne-
tomarem decisões e iniciativas com vistas a reparações, re- gra e o fato de 45% da população brasileira ser compos-
conhecimento e valorização da história e cultura dos afro ta de negros (de acordo com o censo do IBGE) não têm
-brasileiros, à constituição de programas de ações afirma- sido suficientes para eliminar ideologias, desigualdades
tivas, medidas estas coerentes com um projeto de escola, e estereótipos racistas. Ainda persiste em nosso país um
de educação, de formação de cidadãos que explicitamente imaginário étnico-racial que privilegia a brancura e valoriza
se esbocem nas relações pedagógicas cotidianas. Medidas principalmente as raízes europeias da sua cultura, ignoran-
que, convém, sejam compartilhadas pelos sistemas de en- do ou pouco valorizando as outras, que são a indígena, a
sino, estabelecimentos, processos de formação de profes- africana, a asiática.
sores, comunidade, professores, alunos e seus pais. Os diferentes grupos, em sua diversidade, que cons-
Medidas que repudiam, como prevê a Constituição tituem o Movimento Negro brasileiro, têm comprovado o
Federal em seu Art.3º, IV, o “preconceito de origem, raça, quanto é dura a experiência dos negros de ter julgados ne-
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimina- gativamente seu comportamento, ideias e intenções antes
ção” e reconhecem que todos são portadores de singula- mesmo de abrirem a boca ou tomarem qualquer iniciativa.
ridade irredutível e que a formação escolar tem de estar Têm, eles, insistido no quanto é alienante a experiência de
atenta para o desenvolvimento de suas personalidades fingir ser o que não é para ser reconhecido, de quão dolo-
(Art.208, IV). rosa pode ser a experiência de deixar-se assimilar por uma
visão de mundo que pretende impor-se como superior e,
Educação das relações étnico-raciais por isso, universal e que os obriga a negarem a tradição do
seu povo.
O sucesso das políticas públicas de Estado, institucio- Se não é fácil ser descendente de seres humanos es-
nais e pedagógicas, visando a reparações, reconhecimento cravizados e forçados à condição de objetos utilitários ou
e valorização da identidade, da cultura e da história dos a semoventes, também é difícil descobrir-se descendente
negros brasileiros depende necessariamente de condições dos escravizadores, temer, embora veladamente, revanche
físicas, materiais, intelectuais e afetivas favoráveis para o dos que, por cinco séculos, têm sido desprezados e mas-
ensino e para aprendizagens; em outras palavras, todos sacrados.
os alunos negros e não negros, bem como seus profes- Para reeducar as relações étnico-raciais, no Brasil, é ne-
sores, precisam sentir-se valorizados e apoiados. Depende cessário fazer emergir as dores e medos que têm sido gera-
também, de maneira decisiva, da reeducação das relações dos. É preciso entender que o sucesso de uns tem o preço
entre negros e brancos, o que aqui estamos designando da marginalização e da desigualdade impostas a outros.
como relações étnico-raciais. Depende, ainda, de trabalho E então decidir que sociedade queremos construir daqui
conjunto, de articulação entre processos educativos esco- para frente.
lares, políticas públicas, movimentos sociais, visto que as Como bem salientou Frantz Fanon, os descendentes
mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políticas nas re- dos mercadores de escravos, dos senhores de ontem, não
lações étnico-raciais não se limitam à escola. têm, hoje, de assumir culpa pelas desumanidades provo-
É importante destacar que se entende por raça a cons- cadas por seus antepassados. No entanto, têm eles a res-
trução social forjada nas tensas relações entre brancos e ponsabilidade moral e política de combater o racismo, as
negros, muitas vezes simuladas como harmoniosas, nada discriminações e, juntamente com os que vêm sendo man-
tendo a ver com o conceito biológico de raça cunhado no tidos à margem, os negros, construir relações raciais e so-
século XVIII e hoje sobejamente superado. Cabe esclarecer ciais sadias, em que todos cresçam e se realizem enquanto
que o termo raça é utilizado com frequência nas relações seres humanos e cidadãos. Não fossem por estas razões,
sociais brasileiras, para informar como determinadas carac- eles a teriam de assumir, pelo fato de usufruírem do muito
terísticas físicas, como cor de pele, tipo de cabelo, entre que o trabalho escravo possibilitou ao país.
outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam Assim sendo, a educação das relações étnico-raciais
o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da socie- impõe aprendizagens entre brancos e negros, trocas de
dade brasileira. conhecimentos, quebra de desconfianças, projeto conjunto
Contudo, o termo foi ressignificado pelo Movimento para construção de uma sociedade justa, igual, equânime.
Negro que, em várias situações, o utiliza com um sentido Combater o racismo, trabalhar pelo fim da desigual-
político e de valorização do legado deixado pelos africanos. dade social e racial, empreender reeducação das relações
É importante, também, explicar que o emprego do termo étnico-raciais não são tarefas exclusivas da escola. As for-
étnico, na expressão étnico-racial, serve para marcar que mas de discriminação de qualquer natureza não têm o seu
essas relações tensas devidas a diferenças na cor da pele nascedouro na escola, porém o racismo, as desigualdades
e traços fisionômicos o são também devido à raiz cultural e discriminações correntes na sociedade perpassam por ali.
plantada na ancestralidade africana, que difere em visão de Para que as instituições de ensino desempenhem a conten-
mundo, valores e princípios das de origem indígena, euro- to o papel de educar, é necessário que se constituam em
peia e asiática. espaço democrático de produção e divulgação de conheci-
189
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
mentos e de posturas que visam a uma sociedade justa. A hoje. Contudo, o Movimento Negro ressignificou esse ter-
escola tem papel preponderante para eliminação das dis- mo dando-lhe um sentido político e positivo. Lembremos
criminações e para emancipação dos grupos discriminados, os motes muito utilizados no final dos anos 1970 e no de-
ao proporcionar acesso aos conhecimentos científicos, a correr dos anos 1980, 1990: Negro é lindo! Negra, cor da
registros culturais diferenciados, à conquista de racionali- raça brasileira! Negro que te quero negro! 100 % Negro!
dade que rege as relações sociais e raciais, a conhecimen- Não deixe sua cor passar em branco! Este último utilizado
tos avançados, indispensáveis para consolidação e concer- na campanha do censo de 1990.
to das nações como espaços democráticos e igualitários. Outro equívoco a enfrentar é a afirmação de que os
Para obter êxito, a escola e seus professores não po- negros se discriminam entre si e que são racistas também.
dem improvisar. Têm que desfazer mentalidade racista e Esta constatação tem de ser analisada no quadro da ideo-
discriminadora secular, superando o etnocentrismo euro- logia do branqueamento que divulga a idéia e o sentimen-
peu, reestruturando relações étnico-raciais e sociais, desa- to de que as pessoas brancas seriam mais humanas, teriam
lienando processos pedagógicos. Isto não pode ficar redu- inteligência superior e, por isso, teriam o direito de coman-
zido a palavras e a raciocínios desvinculados da experiên- dar e de dizer o que é bom para todos. Cabe lembrar que,
cia de ser inferiorizados vivida pelos negros, tampouco das no pós-abolição, foram formuladas políticas que visavam
baixas classificações que lhe são atribuídas nas escalas de ao branqueamento da população pela eliminação simbó-
desigualdades sociais, econômicas, educativas e políticas. lica e material da presença dos negros. Nesse sentido, é
Diálogo com estudiosos que analisam, criticam estas possível que pessoas negras sejam influenciadas pela ideo-
realidades e fazem propostas, bem como com grupos do logia do branqueamento e, assim, tendam a reproduzir o
Movimento Negro, presentes nas diferentes regiões e Esta- preconceito do qual são vítimas. O racismo imprime mar-
dos, assim como em inúmeras cidades, são imprescindíveis cas negativas na subjetividade dos negros e também na
para que se vençam discrepâncias entre o que se sabe e a dos que os discriminam.
realidade, se compreendam concepções e ações, uns dos Mais um equívoco a superar é a crença de que a discus-
outros, se elabore projeto comum de combate ao racismo são sobre a questão racial se limita ao Movimento Negro
e a discriminações. e a estudiosos do tema e não à escola. A escola, enquan-
Temos, pois, pedagogias de combate ao racismo e a to instituição social responsável por assegurar o direito da
discriminações por criar. É claro que há experiências de educação a todo e qualquer cidadão, deverá se posicionar
professores e de algumas escolas, ainda isoladas, que mui- politicamente, como já vimos, contra toda e qualquer for-
to vão ajudar. ma de discriminação. A luta pela superação do racismo e
Para empreender a construção dessas pedagogias, é da discriminação racial é, pois, tarefa de todo e qualquer
fundamental que se desfaçam alguns equívocos. Um deles educador, independentemente do seu pertencimento ét-
diz respeito à preocupação de professores no sentido de nico-racial, crença religiosa ou posição política. O racismo,
designar ou não seus alunos negros como negros ou como segundo o Artigo 5º da Constituição Brasileira, é crime
pretos, sem ofensas. inafiançável e isso se aplica a todos os cidadãos e institui-
Em primeiro lugar, é importante esclarecer que ser ne- ções, inclusive, à escola.
gro no Brasil não se limita às características físicas. Trata-se, Outro equívoco a esclarecer é de que o racismo, o mito
também, de uma escolha política. Por isso, o é quem assim da democracia racial e a ideologia do branqueamento só
se define. Em segundo lugar, cabe lembrar que preto é um atingem os negros. Enquanto processos estruturantes e
dos quesitos utilizados pelo IBGE para classificar, ao lado constituintes da formação histórica e social brasileira, estes
dos outros – branco, pardo, indígena - a cor da população estão arraigados no imaginário social e atingem negros,
brasileira. Pesquisadores de diferentes áreas, inclusive da brancos e outros grupos étnico-raciais. As formas, os ní-
educação, para fins de seus estudos, agregam dados relati- veis e os resultados desses processos incidem de maneira
vos a pretos e pardos sob a categoria negros, já que ambos diferente sobre os diversos sujeitos e interpõem diferentes
reúnem, conforme alerta o Movimento Negro, aqueles que dificuldades nas suas trajetórias de vida escolar e social. Por
reconhecem sua ascendência africana. isso, a construção de estratégias educacionais que visem ao
É importante tomar conhecimento da complexidade combate do racismo é uma tarefa de todos os educadores,
que envolve o processo de construção da identidade negra independentemente do seu pertencimento étnico-racial.
em nosso país. Processo esse, marcado por uma sociedade Pedagogias de combate ao racismo e a discriminações
que, para discriminar os negros, utiliza-se tanto da desva- elaboradas com o objetivo de educação das relações étni-
lorização da cultura de matriz africana como dos aspectos co/raciais positivas têm como objetivo fortalecer entre os
físicos herdados pelos descendentes de africanos. Nesse negros e despertar entre os brancos a consciência negra.
processo complexo, é possível, no Brasil, que algumas pes- Entre os negros, poderão oferecer conhecimentos e segu-
soas de tez clara e traços físicos europeus, em virtude de rança para orgulharem-se da sua origem africana; para os
o pai ou a mãe ser negro(a), se designarem negros; que brancos, poderão permitir que identifiquem as influências,
outros, com traços físicos africanos, se digam brancos. É a contribuição, a participação e a importância da história
preciso lembrar que o termo negro começou a ser usado e da cultura dos negros no seu jeito de ser, viver, de se
pelos senhores para designar pejorativamente os escravi- relacionar com as outras pessoas, notadamente as negras.
zados e este sentido negativo da palavra se estende até Também farão parte de um processo de reconhecimento,
190
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
por parte do Estado, da sociedade e da escola, da dívida A autonomia dos estabelecimentos de ensino para
social que têm em relação ao segmento negro da popula- compor os projetos pedagógicos, no cumprimento do exi-
ção, possibilitando uma tomada de posição explícita contra gido pelo Art. 26A da Lei 9.394/1996, permite que se valham
o racismo e a discriminação racial e a construção de ações da colaboração das comunidades a que a escola serve, do
afirmativas nos diferentes níveis de ensino da educação apoio direto ou indireto de estudiosos e do Movimento
brasileira. Negro, com os quais estabelecerão canais de comunica-
Tais pedagogias precisam estar atentas para que todos, ção, encontrarão formas próprias de incluir nas vivências
negros e não negros, além de ter acesso a conhecimen- promovidas pela escola, inclusive em conteúdos de disci-
tos básicos tidos como fundamentais para a vida integrada plinas, as temáticas em questão. Caberá, aos sistemas de
à sociedade, exercício profissional competente, recebam ensino, às mantenedoras, à coordenação pedagógica dos
formação que os capacite para forjar novas relações étni- estabelecimentos de ensino e aos professores, com base
co-raciais. Para tanto, há necessidade, como já vimos, de neste parecer, estabelecer conteúdos de ensino, unidades
professores qualificados para o ensino das diferentes áreas
de estudos, projetos e programas, abrangendo os diferen-
de conhecimentos e, além disso, sensíveis e capazes de di-
tes componentes curriculares. Caberá, aos administradores
recionar positivamente as relações entre pessoas de dife-
dos sistemas de ensino e das mantenedoras prover as es-
rentes pertencimento étnico-racial, no sentido do respeito
colas, seus professores e alunos de material bibliográfico
e da correção de posturas, atitudes, palavras preconcei-
tuosas. Daí a necessidade de se insistir e investir para que e de outros materiais didáticos, além de acompanhar os
os professores, além de sólida formação na área específica trabalhos desenvolvidos, a fim de evitar que questões tão
de atuação, recebam formação que os capacite não só a complexas, muito pouco tratadas, tanto na formação inicial
compreender a importância das questões relacionadas à como continuada de professores, sejam abordadas de ma-
diversidade étnico-raciais, mas a lidar positivamente com neira resumida, incompleta, com erros.
elas e, sobretudo criar estratégias pedagógicas que pos- Em outras palavras, aos estabelecimentos de ensino
sam auxiliar a reeducá-las. está sendo atribuída responsabilidade de acabar com o
Até aqui apresentaram-se orientações que justificam e modo falso e reduzido de tratar a contribuição dos africa-
fundamentam as determinações de caráter normativo que nos escravizados e de seus descendentes para a construção
seguem. da nação brasileira; de fiscalizar para que, no seu interior, os
alunos negros deixem de sofrer os primeiros e continuados
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana – De- atos de racismo de que são vítimas. Sem dúvida, assumir
terminações estas responsabilidades implica compromisso com o en-
torno sociocultural da escola, da comunidade onde esta se
A obrigatoriedade de inclusão de História e Cultura encontra e a que serve, compromisso com a formação de
Afro-Brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica cidadãos atuantes e democráticos, capazes de compreen-
trata-se de decisão política, com fortes repercussões peda- der as relações sociais e étnico-raciais de que participam e
gógicas, inclusive na formação de professores. Com esta ajudam a manter e/ou a reelaborar, capazes de decodificar
medida, reconhece-se que, além de garantir vagas para ne- palavras, fatos e situações a partir de diferentes perspec-
gros nos bancos escolares, é preciso valorizar devidamente tivas, de desempenhar-se em áreas de competências que
a história e cultura de seu povo, buscando reparar danos, lhes permitam continuar e aprofundar estudos em diferen-
que se repetem há cinco séculos, à sua identidade e a seus tes níveis de formação.
direitos. A relevância do estudo de temas decorrentes da Precisa, o Brasil, país multiétnico e pluricultural, de or-
história e cultura afro-brasileira e africana não se restringe ganizações escolares em que todos se vejam incluídos, em
à população negra, ao contrário, diz respeito a todos os
que lhes seja garantido o direito de aprender e de ampliar
brasileiros, uma vez que devem educar-se enquanto cida-
conhecimentos, sem ser obrigados a negar a si mesmos, ao
dãos atuantes no seio de uma sociedade multicultural e
grupo étnico/racial a que pertencem e a adotar costumes,
pluriétnica, capazes de construir uma nação democrática.
ideias e comportamentos que lhes são adversos. E estes,
É importante destacar que não se trata de mudar um
foco etnocêntrico marcadamente de raiz europeia por um certamente, serão indicadores da qualidade da educação
africano, mas de ampliar o foco dos currículos escolares que estará sendo oferecida pelos estabelecimentos de en-
para a diversidade cultural, racial, social e econômica brasi- sino de diferentes níveis.
leira. Nesta perspectiva, cabe às escolas incluir no contex- Para conduzir suas ações, os sistemas de ensino, os
to dos estudos e atividades, que proporciona diariamente, estabelecimentos e os professores terão como referência,
também as contribuições histórico-culturais dos povos in- entre outros pertinentes às bases filosóficas e pedagógicas
dígenas e dos descendentes de asiáticos, além das de raiz que assumem, os princípios a seguir explicitados.
africana e europeia. É preciso ter clareza que o Art. 26A
acrescido à Lei 9.394/1996 provoca bem mais do que inclu-
são de novos conteúdos, exige que se repensem relações
étnico-raciais, sociais, pedagógicas, procedimentos de en-
sino, condições oferecidas para aprendizagem, objetivos
tácitos e explícitos da educação oferecida pelas escolas.
191
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
192
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
nham em comunicação diferentes sistemas simbólicos e ações em prol da união africana em nossos dias, bem como
estruturas conceituais, bem como se busquem formas de o papel da União Africana, para tanto; – às relações entre as
convivência respeitosa, além da construção de projeto de culturas e as histórias dos povos do continente africano e
sociedade em que todos se sintam encorajados a expor, os da diáspora; – à formação compulsória da diáspora, vida
defender sua especificidade étnico-racial e a buscar garan- e existência cultural e histórica dos africanos e seus des-
tias para que todos o façam; – sejam incentivadas ativida- cendentes fora da África; – à diversidade da diáspora, hoje,
des em que pessoas – estudantes, professores, servidores, nas Américas, Caribe, Europa, Ásia; – aos acordos políticos,
integrantes da comunidade externa aos estabelecimentos econômicos, educacionais e culturais entre África, Brasil e
de ensino – de diferentes culturas interatuem e se inter- outros países da diáspora.
pretem reciprocamente, respeitando os valores, visões de - O ensino de Cultura Afro-Brasileira destacará o jeito
mundo, raciocínios e pensamentos de cada um. próprio de ser, viver e pensar manifestado tanto no dia-a-
- O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Afri- dia, quanto em celebrações como congadas, moçambi-
cana, a educação das relações étnico-raciais, tal como ex- ques, ensaios, maracatus, rodas de samba, entre outras.
plicita o presente parecer, se desenvolverão no cotidiano - O ensino de Cultura Africana abrangerá: – as con-
das escolas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, tribuições do Egito para a ciência e filosofia ocidentais; –
como conteúdo de disciplinas, particularmente, Educação as universidades africanas Timbuktu, Gao, Djene que flo-
Artística, Literatura e História do Brasil, sem prejuízo das resciam no século XVI; – as tecnologias de agricultura, de
demais , em atividades curriculares ou não, trabalhos em beneficiamento de cultivos, de mineração e de edificações
salas de aula, nos laboratórios de ciências e de informática, trazidas pelos escravizados, bem como a produção cientí-
na utilização de sala de leitura, biblioteca, brinquedoteca, fica, artística (artes plásticas, literatura, música, dança, tea-
áreas de recreação, quadra de esportes e outros ambientes tro), política, na atualidade.
escolares. - O ensino de História e de Cultura Afro-Brasileira, se
- O ensino de História Afro-Brasileira abrangerá, en- fará por diferentes meios, inclusive, a realização de proje-
tre outros conteúdos, iniciativas e organizações negras, tos de diferentes naturezas, no decorrer do ano letivo, com
incluindo a história dos quilombos, a começar pelo de Pal- vistas à divulgação e estudo da participação dos africanos
mares, e de remanescentes de quilombos, que têm con- e de seus descendentes em episódios da história do Bra-
tribuído para o desenvolvimento de comunidades, bairros,
sil, na construção econômica, social e cultural da nação,
localidades, municípios, regiões (exemplos: associações
destacando-se a atuação de negros em diferentes áreas
negras recreativas, culturais, educativas, artísticas, de assis-
do conhecimento, de atuação profissional, de criação tec-
tência, de pesquisa, irmandades religiosas, grupos do Mo-
nológica e artística, de luta social (tais como: Zumbi, Luiza
vimento Negro). Será dado destaque a acontecimentos e
Nahim, Aleijadinho, Padre Maurício, Luiz Gama, Cruz e Sou-
realizações próprios de cada região e localidade.
za, João Cândido, André Rebouças, Teodoro Sampaio, José
- Datas significativas para cada região e localidade se-
Correia Leite, Solano Trindade, Antonieta de Barros, Edison
rão devidamente assinaladas. O 13 de maio, Dia Nacional
Carneiro, Lélia Gonzáles, Beatriz Nascimento, Milton San-
de Denúncia contra o Racismo, será tratado como o dia
de denúncia das repercussões das políticas de eliminação tos, Guerreiro Ramos, Clóvis Moura, Abdias do Nascimento,
física e simbólica da população afro-brasileira no pós-abo- Henrique Antunes Cunha, Tereza Santos, Emmanuel Araújo,
lição, e de divulgação dos significados da Lei Áurea para os Cuti, Alzira Rufino, Inaicyra Falcão dos Santos, entre outros).
negros. No 20 de novembro será celebrado o Dia Nacional - O ensino de História e Cultura Africana se fará por
da Consciência Negra, entendendo-se consciência negra diferentes meios, inclusive a realização de projetos de di-
nos termos explicitados anteriormente neste parecer. Entre ferente natureza, no decorrer do ano letivo, com vistas à
outras datas de significado histórico e político deverá ser divulgação e estudo da participação dos africanos e de
assinalado o 21 de março, Dia Internacional de Luta pela seus descendentes na diáspora, em episódios da história
Eliminação da Discriminação Racial. mundial, na construção econômica, social e cultural das na-
- Em História da África, tratada em perspectiva positiva, ções do continente africano e da diáspora, destacando-se
não só de denúncia da miséria e discriminações que atin- a atuação de negros em diferentes áreas do conhecimento,
gem o continente, nos tópicos pertinentes se fará articula- de atuação profissional, de criação tecnológica e artística,
damente com a história dos afrodescendentes no Brasil e de luta social.
serão abordados temas relativos: – ao papel dos anciãos e Para tanto, os sistemas de ensino e os estabelecimen-
dos gritos como guardiãos da memória histórica; – à histó- tos de Educação Básica, nos níveis de Educação Infantil,
ria da ancestralidade e religiosidade africana; – aos núbios Educação Fundamental, Educação Média, Educação de Jo-
e aos egípcios, como civilizações que contribuíram deci- vens e Adultos, Educação Superior, precisarão providenciar:
sivamente para o desenvolvimento da humanidade; – às - Registro da história não contada dos negros brasilei-
civilizações e organizações políticas pré-coloniais, como os ros, tais como em remanescentes de quilombos, comuni-
reinos do Mali, do Congo e do Zimbabwe; – ao tráfico e à dades e territórios negros urbanos e rurais.
escravidão do ponto de vista dos escravizados; – ao papel - Apoio sistemático aos professores para elaboração
de europeus, de asiáticos e também de africanos no tráfi- de planos, projetos, seleção de conteúdos e métodos de
co; - à ocupação colonial na perspectiva dos africanos; – às ensino, cujo foco seja a História e Cultura Afro-Brasileira e
lutas pela independência política dos países africanos; – às Africana e a Educação das Relações Étnico-Raciais.
193
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Mapeamento e divulgação de experiências pedagó- - Previsão, nos fins, responsabilidades e tarefas dos con-
gicas de escolas, estabelecimentos de ensino superior, se- selhos escolares e de outros órgãos colegiados, do exame e
cretarias de educação, assim como levantamento das prin- encaminhamento de solução para situações de racismo e de
cipais dúvidas e dificuldades dos professores em relação ao discriminações, buscando-se criar situações educativas em
trabalho com a questão racial na escola e encaminhamento que as vítimas recebam apoio requerido para superar o sofri-
de medidas para resolvê-las, feitos pela administração dos mento e os agressores, orientação para que compreendam a
sistemas de ensino e por Núcleos de Estudos Afro-Brasi- dimensão do que praticaram e ambos, educação para o reco-
leiros. nhecimento, valorização e respeito mútuos.
- Articulação entre os sistemas de ensino, estabeleci- - Inclusão de personagens negros, assim como de outros
mentos de ensino superior, centros de pesquisa, Núcleos grupos étnico-raciais, em cartazes e outras ilustrações sobre
de Estudos Afro-Brasileiros, escolas, comunidade e movi- qualquer tema abordado na escola, a não ser quando tratar
mentos sociais, visando à formação de professores para a de manifestações culturais próprias, ainda que não exclusivas,
diversidade étnico-racial. de um determinado grupo étnico-racial.
- Instalação, nos diferentes sistemas de ensino, de gru- - Organização de centros de documentação, bibliotecas,
po de trabalho para discutir e coordenar planejamento e midiotecas, museus, exposições em que se divulguem valores,
execução da formação de professores para atender ao dis- pensamentos, jeitos de ser e viver dos diferentes grupos étni-
posto neste parecer quanto à Educação das Relações Ét- co-raciais brasileiros, particularmente dos afrodescendentes.
nico-Raciais e ao determinado nos Art. 26 e 26A da Lei - Identificação, com o apoio dos Núcleos de Estudos Afro
9.394/1996, com o apoio do Sistema Nacional de Forma- -Brasileiros, de fontes de conhecimentos de origem africana,
ção Continuada e Certificação de Professores do MEC. a fim de selecionarem-se conteúdos e procedimentos de en-
- Introdução, nos cursos de formação de professores e sino e de aprendizagens;
de outros profissionais da educação: de análises das rela- - Incentivo, pelos sistemas de ensino, a pesquisas sobre
ções sociais e raciais no Brasil; de conceitos e de suas bases processos educativos orientados por valores, visões de mun-
teóricas, tais como racismo, discriminações, intolerância, do, conhecimentos afro-brasileiros e indígenas, com o obje-
preconceito, estereótipo, raça, etnia, cultura, classe social, tivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas para a
educação brasileira.
diversidade, diferença, multiculturalismo; de práticas peda-
- Identificação, coleta, compilação de informações sobre
gógicas, de materiais e de textos didáticos, na perspectiva
a população negra, com vistas à formulação de políticas pú-
da reeducação das relações étnico-raciais e do ensino e
blicas de Estado, comunitárias e institucionais.
aprendizagem da História e Cultura dos Afro-brasileiros e
- Edição de livros e de materiais didáticos, para diferen-
dos Africanos.
tes níveis e modalidades de ensino, que atendam ao disposto
- Inclusão de discussão da questão racial como parte
neste parecer, em cumprimento ao disposto no Art. 26A da
integrante da matriz curricular, tanto dos cursos de licencia- LDB, e, para tanto, abordem a pluralidade cultural e a diver-
tura para Educação Infantil, os anos iniciais e finais da Edu- sidade étnico-racial da nação brasileira, corrijam distorções e
cação Fundamental, Educação Média, Educação de Jovens equívocos em obras já publicadas sobre a história, a cultura, a
e Adultos, como de processos de formação continuada de identidade dos afrodescendentes, sob o incentivo e supervi-
professores, inclusive de docentes no Ensino Superior. são dos programas de difusão de livros educacionais do MEC
- Inclusão, respeitada a autonomia dos estabelecimen- – Programa Nacional do Livro Didático e Programa Nacional
tos do Ensino Superior, nos conteúdos de disciplinas e em de Bibliotecas Escolares (PNBE).
atividades curriculares dos cursos que ministra, de Educa- - Divulgação, pelos sistemas de ensino e mantenedoras,
ção das Relações Étnico-Raciais, de conhecimentos de ma- com o apoio dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, de uma
triz africana e/ou que dizem respeito à população negra. bibliografia afro-brasileira e de outros materiais como mapas
Por exemplo: em Medicina, entre outras questões, estudo da diáspora, da África, de quilombos brasileiros, fotografias
da anemia falciforme, da problemática da pressão alta; em de territórios negros urbanos e rurais, reprodução de obras de
Matemática, contribuições de raiz africana, identificadas e arte afro-brasileira e africana a serem distribuídos nas escolas
descritas pela Etno-Matemática; em Filosofia, estudo da fi- da rede, com vistas à formação de professores e alunos para o
losofia tradicional africana e de contribuições de filósofos combate à discriminação e ao racismo.
africanos e afrodescendentes da atualidade. - Oferta de Educação Fundamental em áreas de remanes-
- Inclusão de bibliografia relativa à história e cultura centes de quilombos, contando as escolas com professores
afro-brasileira e africana às relações étnico-raciais, aos pro- e pessoal administrativo que se disponham a conhecer física
blemas desencadeados pelo racismo e por outras discrimi- e culturalmente, a comunidade e a formar-se para trabalhar
nações, à pedagogia antirracista nos programas de concur- com suas especificidades.
sos públicos para admissão de professores. - Garantia, pelos sistemas de ensino e entidades man-
- Inclusão, em documentos normativos e de planeja- tenedoras, de condições humanas, materiais e financeiras
mento dos estabelecimentos de ensino de todos os níveis – para execução de projetos com o objetivo de Educação das
estatutos, regimentos, planos pedagógicos, planos de ensi- Relações Étnico-Raciais e estudo de História e Cultura Afro-
no – de objetivos explícitos, assim como de procedimentos Brasileira e Africana, assim como organização de serviços e
para sua consecução, visando ao combate do racismo, das atividades que controlem, avaliem e redimensionem sua con-
discriminações, e ao reconhecimento, valorização e respei- secução, que exerçam fiscalização das políticas adotadas e
to das histórias e culturas afro-brasileira e africana. providenciem correção de distorções.
194
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Realização, pelos sistemas de ensino federal, estadual A esses órgãos normativos cabe, pois, a tarefa de ade-
e municipal, de atividades periódicas, com a participação quar o proposto neste parecer à realidade de cada sistema
das redes das escolas públicas e privadas, de exposição, de ensino. E, a partir daí, deverá ser competência dos ór-
avaliação e divulgação dos êxitos e dificuldades do ensi- gãos executores – administrações de cada sistema de en-
no e aprendizagem de História e Cultura Afro-Brasileira e sino, das escolas – definir estratégias que, quando postas
Africana e da Educação das Relações Étnico-Raciais; assim em ação, viabilizarão o cumprimento efetivo da Lei de Di-
como comunicação detalhada dos resultados obtidos ao retrizes e Bases que estabelece a formação básica comum,
Ministério da Educação, à Secretaria Especial de Promoção o respeito aos valores culturais, como princípios constitu-
da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de Educação, e cionais da educação tanto quanto da dignidade da pessoa
aos respectivos Conselhos Estaduais e Municipais de Edu- humana (inciso III do art.1O) , garantindo-se a promoção
cação, para que encaminhem providências, quando for o do bem de todos, sem preconceitos (inciso IV do Art.3O) ,
caso. a prevalência dos direitos humanos (inciso II do art. 4O) e
- Adequação dos mecanismos de avaliação das condi- repúdio ao racismo (inciso VIII do art. 4° ).
ções de funcionamento dos estabelecimentos de ensino, Cumprir a Lei é, pois, responsabilidade de todos e não
tanto da educação básica quanto superior, ao disposto nes- apenas do professor em sala de aula. Exige-se, assim, um
te Parecer; inclusive com a inclusão nos formulários, preen- comprometimento solidário dos vários elos do sistema de
chidos pelas comissões de avaliação, nos itens relativos a ensino brasileiro, tendo-se como ponto de partida o pre-
currículo, atendimento aos alunos, projeto pedagógico, sente parecer, que junto com outras diretrizes e pareceres
plano institucional, de quesitos que contemplem as orien- e resoluções, têm o papel articulador e coordenador da or-
tações e exigências aqui formuladas. ganização da educação nacional.
- Disponibilização deste parecer, na sua íntegra, para os
professores de todos os níveis de ensino, responsáveis pelo CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
ensino de diferentes disciplinas e atividades educacionais, CONSELHO PLENO
assim como para outros profissionais interessados a fim de
que possam estudar, interpretar as orientações, enriquecer,
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 17 DE JUNHO DE 2004.
executar as determinações aqui feitas e avaliar seu próprio
trabalho e resultados obtidos por seus alunos, consideran-
Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
do princípios e critérios apontados.
ção das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História
e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro
-Brasileiras, Educação das Relações Étnico-Raciais e os Con-
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, ten-
selhos de Educação
do em vista o disposto no art. 9º, § 2º, alínea “c”, da Lei nº
9.131, publicada em 25 de novembro de 1995, e com fun-
Diretrizes são dimensões normativas, reguladoras de
caminhos, embora não fechadas a que historicamente damentação no Parecer CNE/CP 3/2004, de 10 de março
possam, a partir das determinações iniciais, tomar novos de 2004, homologado pelo Ministro da Educação em 19 de
rumos. Diretrizes não visam a desencadear ações unifor- maio de 2004, e que a este se integra, resolve:
mes, todavia, objetivam oferecer referências e critérios para
que se implantem ações, as avaliem e reformulem no que Art. 1° A presente Resolução institui Diretrizes Curricu-
e quando necessário. lares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Ra-
Estas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação ciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Africana, a serem observadas pelas Instituições de ensino,
Cultura Afro-Brasileira e Africana, na medida em que pro- que atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira
cedem de ditames constitucionais e de marcos legais na- e, em especial, por Instituições que desenvolvem progra-
cionais, na medida em que se referem ao resgate de uma mas de formação inicial e continuada de professores.
comunidade que povoou e construiu a nação brasileira, § 1° As Instituições de Ensino Superior incluirão nos
atingem o âmago do pacto federativo. Nessa medida, cabe conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cur-
aos conselhos de Educação dos Estados, do Distrito Federal sos que ministram, a Educação das Relações Étnico-Raciais,
e dos Municípios aclimatar tais diretrizes, dentro do regi- bem como o tratamento de questões e temáticas que di-
me de colaboração e da autonomia de entes federativos, a zem respeito aos afrodescendentes, nos termos explicita-
seus respectivos sistemas, dando ênfase à importância de dos no Parecer CNE/CP 3/2004.
os planejamentos valorizarem, sem omitir outras regiões, a § 2° O cumprimento das referidas Diretrizes Curricula-
participação dos afrodescendentes, do período escravista res, por parte das instituições de ensino, será considerado
aos nossos dias, na sociedade, economia, política, cultura na avaliação das condições de funcionamento do estabe-
da região e da localidade; definindo medidas urgentes para lecimento.
formação de professores; incentivando o desenvolvimento
de pesquisas bem como envolvimento comunitário.
195
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 2° As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- Art. 4° Os sistemas e os estabelecimentos de ensino
cação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de His- poderão estabelecer canais de comunicação com grupos
tória e Cultura Afro-Brasileira e Africanas constituem-se de do Movimento Negro, grupos culturais negros, instituições
orientações, princípios e fundamentos para o planejamen- formadoras de professores, núcleos de estudos e pesqui-
to, execução e avaliação da Educação, e têm por meta, pro- sas, como os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, com a
mover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no finalidade de buscar subsídios e trocar experiências para
seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil, bus- planos institucionais, planos pedagógicos e projetos de
cando relações étnico-sociais positivas, rumo à construção ensino.
de nação democrática.
§ 1° A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por Art. 5º Os sistemas de ensino tomarão providências no
objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem sentido de garantir o direito de alunos afrodescendentes
como de atitudes, posturas e valores que eduquem cida- de frequentarem estabelecimentos de ensino de qualidade,
dãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os ca- que contenham instalações e equipamentos sólidos e atua-
pazes de interagir e de negociar objetivos comuns que ga- lizados, em cursos ministrados por professores competen-
rantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização tes no domínio de conteúdos de ensino e comprometidos
de identidade, na busca da consolidação da democracia com a educação de negros e não negros, sendo capazes de
brasileira. corrigir posturas, atitudes, palavras que impliquem desres-
§ 2º O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e peito e discriminação.
Africana tem por objetivo o reconhecimento e valorização
da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem Art. 6° Os órgãos colegiados dos estabelecimentos de
como a garantia de reconhecimento e igualdade de valori- ensino, em suas finalidades, responsabilidades e tarefas, in-
zação das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das cluirão o previsto o exame e encaminhamento de solução
indígenas, europeias, asiáticas. para situações de discriminação, buscando-se criar situa-
§ 3º Caberá aos conselhos de Educação dos Estados, ções educativas para o reconhecimento, valorização e res-
peito da diversidade.
do Distrito Federal e dos Municípios desenvolver as Dire-
§ Único: Os casos que caracterizem racismo serão tra-
trizes Curriculares Nacionais instituídas por esta Resolução,
tados como crimes imprescritíveis e inafiançáveis, confor-
dentro do regime de colaboração e da autonomia de entes
me prevê o Art. 5º, XLII da Constituição Federal de 1988.
federativos e seus respectivos sistemas.
Art. 3° A Educação das Relações Étnico-Raciais e o estu-
Art. 7º Os sistemas de ensino orientarão e supervisio-
do de História e Cultura Afro-Brasileira, e História e Cultura
narão a elaboração e edição de livros e outros materiais
Africana será desenvolvida por meio de conteúdos, com-
didáticos, em atendimento ao disposto no Parecer CNE/CP
petências, atitudes e valores, a serem estabelecidos pelas
003/2004.
Instituições de ensino e seus professores, com o apoio e
supervisão dos sistemas de ensino, entidades mantenedo- Art. 8º Os sistemas de ensino promoverão ampla di-
ras e coordenações pedagógicas, atendidas as indicações, vulgação do Parecer CNE/CP 003/2004 e dessa Resolução,
recomendações e diretrizes explicitadas no Parecer CNE/ em atividades periódicas, com a participação das redes das
CP 003/2004. escolas públicas e privadas, de exposição, avaliação e divul-
§ 1° Os sistemas de ensino e as entidades mantenedo- gação dos êxitos e dificuldades do ensino e aprendizagens
ras incentivarão e criarão condições materiais e financeiras, de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Educa-
assim como proverão as escolas, professores e alunos, de ção das Relações Étnico-Raciais.
material bibliográfico e de outros materiais didáticos ne- § 1° Os resultados obtidos com as atividades mencio-
cessários para a educação tratada no “caput” deste artigo. nadas no caput deste artigo serão comunicados de forma
§ 2° As coordenações pedagógicas promoverão o apro- detalhada ao Ministério da Educação, à Secretaria Especial
fundamento de estudos, para que os professores concebam de Promoção da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de
e desenvolvam unidades de estudos, projetos e programas, Educação e aos respectivos Conselhos Estaduais e Munici-
abrangendo os diferentes componentes curriculares. pais de Educação, para que encaminhem providências, que
§ 3° O ensino sistemático de História e Cultura Afro forem requeridas.
-Brasileira e Africana na Educação Básica, nos termos da
Lei 10639/2003, refere-se, em especial, aos componentes Art. 9º Esta resolução entra em vigor na data de sua
curriculares de Educação Artística, Literatura e História do publicação, revogadas as disposições em contrário.
Brasil.
§ 4° Os sistemas de ensino incentivarão pesquisas so-
bre processos educativos orientados por valores, visões de
mundo, conhecimentos afro-brasileiros, ao lado de pesqui-
sas de mesma natureza junto aos povos indígenas, com o
objetivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas
para a educação brasileira.
196
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
197
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Retirar as reservas contrárias ao objeto e finalidade da Promover o papel positivo que líderes políticos e parti-
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as dos políticos, líderes de comunidades religiosas e os meios
Formas de Discriminação Racial, e considerar a supressão de comunicação podem desempenhar no combate ao ra-
de outras reservas; cismo, à discriminação racial, à xenofobia e à intolerância
Empreender uma revisão abrangente da legislação na- correlata, através, inter alia, do reconhecimento e respeito
cional com vistas a identificar e abolir disposições que im- público pela cultura, história e patrimônio dos povos afro-
pliquem em discriminação direta ou indireta; descendentes;
Adotar ou reforçar leis antidiscriminatórias abrangen- Aumentar a sensibilização através de medidas informa-
tes e garantir sua efetiva implementação; tivas e educativas com vista à restauração da dignidade dos
Fornecer proteção efetiva para os povos afrodescen- povos afrodescendentes, e considerar a disponibilização de
dentes, e rever e rejeitar todas as leis que tenham efeito apoio às organizações não governamentais para tais ativi-
discriminatório de afrodescendentes sofrendo formas múl- dades;
Apoiar iniciativas de educação e treino para organiza-
tiplas, agravadas e inter-relacionadas de discriminação;
ções não governamentais e povos afrodescendentes no uso
Adotar, fortalecer e implementar políticas, programas
das ferramentas fornecidas pelos instrumentos internacio-
e projetos orientados à ação para combater o racismo, a
nais de direitos humanos relacionadas ao racismo, à discri-
discriminação racial, a xenofobia e a intolerância correla-
minação racial, à xenofobia e à intolerância correlata;
ta concebidos para assegurar o pleno desfrute dos direi- Assegurar que livros didáticos e outros materiais edu-
tos humanos e das liberdades fundamentais pelos povos cativos reflitam precisamente fatos históricos relacionados
afrodescendentes; os Estados também são incentivados a a tragédias e atrocidades passadas, em particular a escravi-
elaborar planos de ação nacionais para promover a diver- dão, o comércio de escravos, o comércio transatlântico de
sidade, igualdade, equidade, justiça social, igualdade de escravos e o colonialismo, de modo a evitar estereótipos e a
oportunidades e a participação de todos; distorção ou falsificação destes fatos históricos, o que pode
Estabelecer e/ou fortalecer mecanismos ou instituições levar ao racismo, à discriminação racial, à xenofobia e à in-
nacionais com vistas a formular monitorar e implementar tolerância correlata, incluindo o papel dos respectivos países
políticas de combate ao racismo, a discriminação racial, a nos mesmos, através de:
xenofobia e a intolerância correlata, e promover a igualda- - Apoio à pesquisa e às iniciativas educacionais;
de racial, com a participação de representantes da socie- Reconhecimento às vítimas e seus descendentes atra-
dade civil; vés da criação de memoriais nos países que lucraram e/ou
Conforme o caso, estabelecer e/ou fortalecer as insti- foram responsáveis pela escravidão, pelo comércio de escra-
tuições nacionais de direitos humanos independentes, em vos, o comércio transatlântico de escravos e o colonialismo,
conformidade com os Princípios de Paris, e /ou mecanis- e tragédias passadas onde estes não existam, bem como em
mos similares com a participação da sociedade civil, e for- pontos de partida, chegada e realocação de escravos, e pro-
necer-lhes recursos financeiros adequados, competência teção de locais culturais relacionados.
e capacidade para proteção, promoção e monitoramento - Coleta de informações
para combater o racismo, a discriminação racial, a xenofo- Em acordo com o parágrafo 92 do Plano de Ação de
bia e a intolerância correlata; Durban, os Estados devem coletar, compilar, analisar, divul-
gar e publicar dados estatísticos seguros em níveis nacio-
Educação para a igualdade e ampliação da conscienti- nais e locais, e tomar quaisquer outras medidas relacionadas
zação necessárias para avaliar regularmente a situação dos afro-
descendentes que foram vítimas de racismo, discriminação
racial, xenofobia e intolerância correlata.
Os países devem:
Celebrar o lançamento da Década Internacional em ní-
Tais dados estatísticos devem ser discriminados de acor-
vel nacional e desenvolver programas nacionais de ação
do com a legislação nacional, garantindo o direito à privaci-
e atividades para a completa e efetiva implementação da
dade e ao princípio da autoidentificação.
Década;
Organizar conferências nacionais e outros eventos des- A informação deve ser coletada para monitorar a situa-
tinados a desencadear um debate aberto e a sensibilização ção dos afrodescendentes, avaliar o progresso realizado, au-
para a luta contra o racismo, a discriminação racial, a xeno- mentar sua visibilidade e identificar lacunas sociais. Também
fobia e a intolerância correlata, com a participação de todas deve ser utilizada para avaliar e guiar a formulação de polí-
as partes relevantes, incluindo o governo, representantes ticas e ações para prevenir, combater e erradicar o racismo,
da sociedade civil e indivíduos ou grupos que são vítimas; a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância correlata.
Promover um maior conhecimento, reconhecimento e
respeito pela cultura, história e patrimônio dos povos afro- Participação e inclusão
descendentes, inclusive através de pesquisa e educação, e Os Estados devem adotar medidas para permitir a com-
promover a inclusão completa e precisa da história e da pleta, igual e efetiva participação dos afrodescendentes nos
contribuição dos povos afrodescendentes nos currículos assuntos públicos e políticos sem discriminação, de acordo
escolares; com as leis internacionais de direitos humanos.
198
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
199
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
200
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Solicitar ao secretário-geral que apresente um relatório Solicitar ao alto comissário das Nações Unidas para
de progresso anual sobre a implementação das atividades os Direitos Humanos que aumente e fortaleça o apoio aos
da Década, tendo em conta informações e pontos de vista mecanismos relevantes do Conselho de Direitos Humanos
dos Estados, de organismos de direitos humanos relevan- no combate ao racismo, à discriminação racial, à xenofobia
tes, programas, fundos e agências especializadas da ONU, e à intolerância correlata no contexto da Década;
organizações internacionais, regionais, sub-regionais e não Incentivar todos os Estados, organizações intergover-
governamentais, inclusive organizações de afrodescenden- namentais e não governamentais, instituições privadas e
tes, instituições nacionais de direitos humanos e outras indivíduos, bem como a outros doadores em condições de
partes interessadas; fazê-lo, que contribuam generosamente com o fundo fidu-
Solicitar ao Departamento de Informação Pública da ciário para o programa da Década de Ação para o Comba-
ONU (DPI), em colaboração com a Organização das Nações te ao Racismo e à Discriminação Racial a fim de contribuir
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o com a implementação bem-sucedida do programa;
Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Solicitar ao secretário-geral que dê prioridade máxima
Direitos Humanos (ACNUDH) e as organizações regionais à execução do programa de atividades para a Década, e
e sub-regionais, que lancem uma campanha de conscien- que reserve os fundos previstos do orçamento ordinário e
tização para informar ao público em geral sobre história, de recursos extraorçamentários das Nações Unidas para a
contribuições – inclusive para o desenvolvimento global –, implementação efetiva do Programa de Ação e as ativida-
desafios, experiências e situação contemporâneas dos di- des da Década;
reitos humanos dos afrodescendentes; Manter a Década sob análise e convocar uma avalia-
Incentivar a emissão de um selo pela administração ção de médio prazo para realizar um balanço do progresso
postal das Nações Unidas sobre a Década Internacional de atingido e decidir as ações subsequentes;
Afrodescendentes; Convocar uma avaliação final da Década, a ser reali-
Convidar as organizações regionais e sub-regionais, zada no âmbito de um evento internacional de alto nível,
agências especializadas, fundos, programas e demais es- marcando o encerramento da Década Internacional de
critórios das Nações Unidas para desenvolver estudos em Afrodescendentes;
suas respectivas áreas de competência e especialidade, e Garantir a conclusão da construção e a inauguração,
para divulgar os temas da Década; tais estudos poderão antes da avaliação de médio prazo em 2020, de um memo-
ser usados para informar uma avaliação de médio prazo rial permanente em homenagem à memória das vítimas da
da Década para monitorar o progresso alcançado, com- escravidão e do comércio transatlântico de escravos.
partilhar práticas de aprendizagem entre os atores-chave e
informar os planos e políticas para os cinco anos restantes Fonte
da Década e mais além; Disponível em: http://www.decada-afro-onu.org/plan
Solicitar ao Alto Comissariado das Nações Unidas para -action.shtml
os Direitos Humanos (ACNUDH) que continue e reforce seu
programa de bolsas para afrodescendentes;
Solicitar ao Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Direitos Humanos (ACNUDH) que inclua uma seção no XI - DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA
banco de dados antidiscriminação sobre a Década Interna- NAS ESCOLAS DO CAMPO EM MINAS GERAIS
cional de Afrodescendentes;
Solicitar aos Estados que considerem a adoção de me-
didas destinadas a promover e proteger os direitos huma-
nos dos afrodescendentes consagrados pelos instrumen- RESOLUÇÃO SEE Nº 2820, DE 11 DE DEZEMBRO DE
tos internacionais de direitos humanos, inclusive através 2015.
da elaboração de um projeto de declaração das Nações
Unidas sobre a promoção e o pleno respeito aos direitos Institui as Diretrizes para a Educação Básica nas escolas
humanos dos afrodescendentes; do campo de Minas Gerais.
Estabelecer um fórum que sirva como mecanismo
de consulta, que será fornecido por um mecanismo de A SECRETÁRIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, no uso das
acompanhamento de Durban já existente, como o Grupo atribuições que lhe confere o artigo 93, § 1º, inciso II da
de Trabalho de Peritos sobre Pessoas de Ascendência Afri- constituição do Estado de Minas Gerais.
cana ou o Grupo de Trabalho Intergovernamental sobre a
Implementação Efetiva da Declaração e Plano de Ação de RESOLVE:
Durban, e neste contexto solicitar ao Conselho de Direitos
Humanos da ONU que dedique dois ou três dias das ses- Art. 1º Ficam instituídas as Diretrizes para a Educação
sões anuais de um desses mecanismos a este fim, e garantir Básica nas escolas do campo de Minas Gerais, que deverão
a participação inclusiva de todos os Estados-membros das ser observadas no desenvolvimento dos programas e pro-
Nações Unidas, agências especializadas, fundos e progra- jetos e na atuação das instituições educacionais que inte-
mas das Nações Unidas, organizações da sociedade civil de gram o sistema estadual de ensino de Minas Gerais.
afrodescendentes e todas as partes interessadas;
201
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 2º Para os efeitos desta Resolução, entende-se por: VI- Implementação de gestão democrática das insti-
I- populações do campo: os agricultores familiares, os tuições escolares, por meio do controle social, sobretudo
extrativistas, os ribeirinhos, os assentados e acampados da da qualidade da educação oferecida, mediante a efetiva
reforma agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os participação das comunidades e dos movimentos sociais e
quilombolas, geraizeiros, vazanteiros, caatingueiros, vere- sindicais do campo na definição do modelo de organização
deiros, pescadores artesanais, integrantes do movimento pedagógica e de gestão.
dos atingidos por barragens, apanhadores de sempre viva,
faiscadores e outros que produzam suas condições mate- Art. 4º A política de educação do campo destina-se à
riais de existência a partir do trabalho no meio rural; ampliação e qualificação da oferta de Educação Básica às
II- escola do campo: aquela situada em área rural, con- populações do campo, será desenvolvida em regime de co-
forme definida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geo- laboração entre Estado e os municípios, de acordo com as
grafia e Estatística – IBGE ou aquela situada em área urba- orientações e metas estabelecidas no Plano Nacional de
Educação e o disposto nestas diretrizes, a saber:
na, desde que atenda, predominantemente, às populações
I- alfabetização e redução das desigualdades educa-
do campo.
cionais para a população jovem e adulta;
§ 1º Serão consideradas do campo as turmas anexas e/
II- universalização da Educação Básica conforme a le-
ou localizadas nos segundos endereços vinculados às esco-
gislação;
las com sede em área urbana (sede de município) que fun- III- desenvolvimento de políticas que promovam a per-
cionem nas condições especificadas no inciso II, do art.2º. manência e a aprendizagem dos estudantes em todos os
§ 2º As escolas do campo, as turmas anexas e/ou lo- níveis e modalidades da Educação Básica;
calizadas nos segundos endereços de escolas com sede
em área urbana (sede do município), deverão elaborar seu Art. 5º A Educação Infantil constitui a primeira etapa
projeto político pedagógico na forma estabelecida pelo da educação básica em creches e escolas do campo, pro-
Conselho Nacional de Educação e pelo Conselho Estadual movendo o desenvolvimento integral de crianças de zero a
de Educação, especificada nas resoluções instituídas pela cinco anos de idade.
Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. § 1º A Secretaria de Estado de Educação colaborará
com os municípios para definir, conforme estabelecido no
Art. 3º São princípios da Educação do Campo: Plano Nacional de Educação – PNE 2014, a meta de ex-
I- respeito à diversidade do campo em seus aspectos pansão da respectiva rede de educação infantil do campo,
sociais, culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gê- observando o padrão de qualidade e considerando as pe-
nero, geracional e de etnias; culiaridades locais.
II- incentivo à formulação de projetos político-pedagó-
gicos específicos para as escolas do campo, estimulando Art.6º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove)
o desenvolvimento das unidades escolares como espaços anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis)
públicos de investigação e articulação de experiências e anos de idade, terá por objetivo a formação básica do ci-
estudos direcionados para o desenvolvimento social, eco- dadão.
nomicamente justo e ambientalmente sustentável, com Parágrafo Único. A Secretaria de Estado de Educação
base na agroecologia e em articulação com o mundo do colaborará com os municípios, para a garantia da universa-
trabalho; lização do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos para toda
III- desenvolvimento de política de valorização dos a população do campo de 6 (seis) a 14(quatorze) anos de
profissionais da Educação do Campo, que garanta uma re- idade, e ainda:
I- garantir que, até o último ano de vigência do PNE,
muneração digna, com a inclusão e reconhecimento dos
pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos
diplomas das Licenciaturas do Campo pelos editais de con-
concluam o Ensino Fundamental na idade própria reco-
curso público;
mendada;
IV- desenvolvimento de políticas de formação de pro-
II- criar mecanismos para acompanhamento e monito-
fissionais de educação para o atendimento da especificida- ramento do acesso, permanência e aproveitamento escolar
de das escolas do campo, considerando-se as condições das crianças e adolescentes do campo, matriculados nas
concretas de produção e reprodução social da vida do escolas públicas de Ensino Fundamental;
campo; III- caberá à Secretaria de Estado de Educação, em par-
V- valorização da identidade da escola do campo, con- ceria com outros órgãos públicos de assistência social, saú-
siderando as práticas socioculturais e suas formas específi- de e proteção à infância, promover a busca ativa de crian-
cas de organização do tempo, por meio de projetos peda- ças e adolescentes do campo fora da escola.
gógicos com conteúdos curriculares e metodologias ade-
quadas às reais necessidades dos estudantes do campo, Art. 7º O Ensino Médio, etapa final da educação básica,
bem como flexibilidade na organização escolar, incluindo com duração mínima de três anos, terá como finalidade a
adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola, consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos ad-
às condições climáticas e às características socioculturais quiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosse-
da região; guimento de estudos.
202
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 1º Caberá à Secretaria de Estado de Educação, em regime Art.12 A Educação Básica do Campo será preferencial-
de colaboração com os municípios, assegurar, até o final da vi- mente ofertada nas próprias comunidades rurais, evitan-
gência do PNE, a universalização do atendimento escolar para do-se os processos de nucleação de escolas e de deslo-
toda a população do campo de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos. camento de estudantes para fora de sua comunidade de
§ 2º Caberá à Secretaria de Estado de Educação a ga- pertencimento.
rantia da oferta de educação profissional e tecnológica, in- § 1º Para garantir o atendimento mais próximo às co-
tegrada, concomitante ou sucessiva ao Ensino Médio, com munidades de pertencimento, as escolas poderão adotar
perfis adequados às características socioeconômicas das estratégias de oferta multisseriada, classes unidocentes ou
regiões onde será ofertada. ciclos por idade de formação.
§ 3º Compete aos entes federativos citados no caput § 2º Deve-se evitar que sejam agrupadas, em uma mes-
promover, de forma colaborativa, parceria com os serviços ma turma, crianças da Educação Infantil com crianças do
públicos de assistência social, saúde e proteção à adoles- Ensino Fundamental.
cência e à juventude para a busca ativa da população do § 3º Quando os anos iniciais do Ensino Fundamental
campo de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos fora da escola. não puderem ser ofertados nas próprias comunidades das
crianças, o processo de nucleação rural (intracampo) deve-
Art. 8º A educação na modalidade da Educação de rá garantir a participação das comunidades, especialmente
Jovens e Adultos deverá atender, mediante procedimen- as famílias das crianças, na definição do local, bem como na
tos adequados, às populações do campo que não tiveram avaliação das possibilidades de percurso a pé pelos alunos,
acesso ou não concluíram seus estudos no Ensino Funda- na menor distância a ser percorrida.
mental ou no Ensino Médio. § 4º Para os anos finais do Ensino Fundamental e para
Parágrafo único. A oferta da educação básica na mo- o Ensino Médio, integrado ou não à Educação Profissional
dalidade de Educação de Jovens e Adultos poderá ser ar- Técnica, o processo de nucleação intracampo poderá cons-
ticulada com qualificação social e profissional, visando à tituir-se, desde que salvaguarde o diálogo, o respeito, os
promoção do desenvolvimento sustentável do campo. valores e a cultura das comunidades atendidas.
§ 5º A oferta da Educação de Jovens e Adultos tam-
Art. 9º A Educação Especial será compreendida conforme
bém deve considerar que os deslocamentos sejam feitos
a Lei nº 12.796, de 4/4/2013, como a modalidade de educa-
nas menores distâncias possíveis, preservado o princípio
ção escolar para estudantes com deficiência, transtornos glo-
intracampo.
bais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.
§ 6º A Secretaria de Estado de Educação, em colabora-
Parágrafo único. Os sistemas de ensino adotarão pro-
ção com os municípios buscará estabelecer o tempo má-
vidências para que as crianças e os jovens com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida- ximo de deslocamento intracampo dos alunos do Ensino
des/superdotação, residentes no campo, tenham acesso à Fundamental e Médio a partir de sua realidade.
Educação Básica e ao atendimento educacional especiali-
zado em escolas da rede de ensino regular. Art. 13 Caberá à Secretaria de Estado de Educação por
meio do Programa Estadual de Transporte Escolar – PTE
Art. 10 Anualmente, no período do cadastro escolar, -MG, Lei nº 21777 de 29 de setembro de 2015, transferir
deverá ser feita a avaliação da demanda escolar da popu- recursos financeiros, de forma direta, aos municípios que
lação do campo de cada município, relacionando-a com os realizam o transporte escolar dos alunos da rede estadual
dados da população do campo por faixa etária, com a fina- de ensino, residentes em zona rural.
lidade de verificar as taxas de frequência líquida, tanto na § 1º Deverá ser criado procedimento de controle e mo-
Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental e Médio. nitoramento do transporte escolar em cada município, em
consonância com as Superintendências Regionais de En-
Art. 11 Caberá à Secretaria de Estado de Educação, em sino – SRE e comunidades, com vistas ao melhor atendi-
colaboração com os entes federados – União e os municípios mento aos estudantes e considerando o tempo de deslo-
mineiros -, nos seus respectivos âmbitos de atuação priori- camento, a melhoria das condições do transporte, das vias
tária, sempre que o cumprimento do direito à educação as- de acesso e das rotas utilizadas.
sim o exigir, o desenvolvimento e manutenção da política de § 2º O transporte escolar, quando necessário, deverá
educação do campo, em seus respectivos sistemas de ensino: ser ofertado de acordo com as normas do Código Nacional
I- organização e funcionamento de turmas formadas de Trânsito.
por estudantes de diferentes idades e graus de conheci-
mento de uma mesma etapa de ensino, especialmente nos Art. 14 Para o atendimento dos objetivos previstos nas
anos iniciais do Ensino Fundamental; diretrizes propostas, a condição do trabalho docente bem
II- oferta de educação básica, em suas diversas modali- como a formação de professores para a educação do cam-
dades e considerando, quando necessário, os princípios da po observarão os princípios e objetivos da Política Nacional
pedagogia da alternância nos anos finais do Ensino Funda- de Formação de Profissionais do Magistério da Educação
mental e no Ensino Médio; Básica, conforme disposto no Decreto Federal nº 6.755, de
III- organização do calendário escolar, de acordo com 29 de janeiro de 2009, e será orientada, no que couber,
as fases do ciclo produtivo, das condições climáticas e das pelas diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de
características socioculturais de cada região. Educação.
203
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 15 A Secretaria de Estado de Educação, em colabo- Parágrafo Único. A forma de apresentação das deman-
ração com os municípios nos seus respectivos âmbitos de das de apoio técnico e financeiro para cobertura de despe-
atuação prioritária, e com a devida participação da União, sas de custeio, capital, reforma, ampliação e manutenção e
buscará garantir: pequenos investimentos será por meio de Planos de Ação
I- remuneração digna, melhoria nos planos de carreira específicos para esse atendimento, visando:
e concursos públicos para os professores e demais profis- I- adequação e benfeitoria na infraestrutura física des-
sionais; sas unidades educacionais, necessárias à realização de ati-
II- institucionalização de programas de formação inicial vidades educativas e pedagógicas voltadas à melhoria da
e continuada para os profissionais da educação do campo qualidade do ensino e à elevação do desempenho escolar;
que atendam às necessidades de funcionamento da escola II- melhoria de suas instalações, bem como aquisição
do campo e propiciem, no mínimo, o disposto nos artigos de mobiliário escolar e concretização de outras ações que
13, 61, 62 e 67 da LDB; e concorram para a elevação do desempenho escolar;
III- formação específica de gestores e profissionais da
III- promoção, fortalecimento e consolidação de terri-
educação que atendam às necessidades de funcionamento
tórios educativos sustentáveis, valorizando o diálogo entre
da escola do campo, produção de recursos didáticos, peda-
saberes comunitários e escolares, integrando na realidade
gógicos, tecnológicos, culturais e literários que atendam às
escolar as potencialidades educativas do território em que
especificidades formativas das populações do campo.
§ 1º A formação de professores poderá ser oferecida a escola está inserida;
concomitante à atuação profissional, de acordo com meto- IV- comprometimento de professores e alunos com os
dologias adequadas, como a Pedagogia da Alternância e a saberes culturais locais, bem como pesquisa, inovação, me-
Educação a Distância, sem prejuízo de outras que atendam mória e história das comunidades, fomentando-as.
às especificidades da educação do campo e por meio de
atividades de ensino, pesquisa e extensão. Art. 18 A Secretaria de Estado de Educação, em colabo-
§ 2º A formação de professores incorporará, em seus ração com os municípios, deve promover a criação e imple-
projetos político-pedagógicos, as orientações das Diretri- mentação de mecanismos para garantia da manutenção e
zes Curriculares Nacionais do Conselho Nacional de Edu- desenvolvimento da Educação do Campo nas suas respec-
cação – CNE para os cursos de formação continuada, os tivas esferas de competências.
princípios e as concepções da educação diferenciada, as Parágrafo único. A construção de escolas do campo
especificidades e diversidades socioculturais, ambientais, poderá constituir objeto de cooperação entre os entes fe-
políticas e econômicas, os processos de interação entre o derados.
campo e a cidade e a organização dos espaços e tempos
da formação. Art. 19 Competirá à Secretaria de Estado de Educa-
§3º Os recursos didáticos, pedagógicos, tecnológicos, ção, em colaboração com os municípios, buscar constituir
culturais e literários destinados à educação do campo de- instâncias colegiadas, com participação de representantes
verão atender às especificidades e peculiaridades das po- municipais, das organizações sociais do campo, das uni-
pulações do campo. versidades públicas e outras instituições afins, com vistas
a colaborar para a formulação, implementação e acompa-
Art. 16 Em cumprimento ao art. 12 da Lei federal nº nhamento das políticas de Educação do Campo.
11.947, de 16 de junho de 2009, caberá à Secretaria de
Estado de Educação e aos entes federados, no âmbito de Art. 20 Esta Resolução entra em vigor na data de sua
suas competências específicas e sob o regime de colabora- publicação.
ção, buscar garantir alimentação escolar aos estudantes, de
acordo com os hábitos alimentares próprios do contexto
Fonte
predominante em que a escola está inserida.
Disponível em: http://www.uberlandia.mg.gov.br/
Parágrafo único. Do total dos recursos financeiros re-
uploads/cms_b_arquivos/16886.pdf
passados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação, no âmbito do Programa Nacional de Alimenta-
ção Escolar, no mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser
utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamen-
te da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural
ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos
da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas
e as comunidades quilombolas.
204
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
205
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Nacionais para a respectiva etapa da Educação Básica I - estudos a respeito da diversidade e o efetivo
ou Profissional; protagonismo das crianças, dos jovens e dos adultos do
II - direcionamento das atividades curriculares e pe- campo na construção da qualidade social da vida individual
dagógicas para um projeto de desenvolvimento sustentá- e coletiva, da região, do país e do mundo;
vel; II - propostas pedagógicas que valorizem, na orga-
III - avaliação institucional da proposta e de seus im- nização do ensino, a diversidade cultural e os processos de
pactos sobre a qualidade da vida individual e coletiva; interação e transformação do campo, a gestão democráti-
IV - controle social da qualidade da educação escolar, ca, o acesso ao avanço científico e tecnológico e respecti-
mediante a efetiva participação da comunidade do campo. vas contribuições para a melhoria das condições de vida e a
fidelidade aos princípios éticos que norteiam a convivência
Art. 9º As demandas provenientes dos movimentos so- solidária e colaborativa nas sociedades democráticas.
ciais poderão subsidiar os componentes estruturantes das
Art. 14. O financiamento da educação nas escolas do
políticas educacionais, respeitado o direito à educação es-
campo, tendo em vista o que determina a Constituição Fe-
colar, nos termos da legislação vigente.
deral, no artigo 212 e no artigo 60 dos Atos das Disposi-
ções Constitucionais Transitórias, a LDB, nos artigos 68, 69,
Art. 10. O projeto institucional das escolas do campo,
70 e 71, e a regulamentação do Fundo de
considerado o estabelecido no artigo 14 da LDB, garantirá Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamen-
a gestão democrática, constituindo mecanismos que pos- tal e de Valorização do Magistério - Lei 9.424, de 1996, será
sibilitem estabelecer relações entre a escola, a comunidade assegurado mediante cumprimento da legislação a respei-
local, os movimentos sociais, os órgãos normativos do sis- to do financiamento da educação escolar no Brasil.
tema de ensino e os demais setores da sociedade.
Art. 11. Os mecanismos de gestão democrática, tendo Art. 15. No cumprimento do disposto no § 2º, do art.
como perspectiva o exercício do poder nos termos do dis- 2º, da Lei 9.424, de 1996, que determina a diferenciação
posto no parágrafo 1º do artigo 1º da Carta Magna, contri- do custo-aluno com vistas ao financiamento da educação
buirão diretamente: escolar nas escolas do campo, o Poder Público levará em
I - para a consolidação da autonomia das escolas consideração:
e o fortalecimento dos conselhos que propugnam por um I - as responsabilidades próprias da União, dos Es-
projeto de desenvolvimento que torne possível à popula- tados, do Distrito Federal e dos Municípios com o atendi-
ção do campo viver com dignidade; mento escolar em todas as etapas e modalidades da Edu-
II - para a abordagem solidária e coletiva dos pro- cação Básica, contemplada a variação na densidade demo-
blemas do campo, estimulando a autogestão no processo gráfica e na relação professor/aluno;
de elaboração, desenvolvimento e avaliação das propostas II - as especificidades do campo, observadas no
pedagógicas das instituições de ensino. atendimento das exigências de materiais didáticos, equi-
pamentos, laboratórios e condições de deslocamento dos
Art. 12. O exercício da docência na Educação Básica, alunos e professores apenas quando o atendimento esco-
cumprindo o estabelecido nos artigos 12, 13, 61 e 62 da lar não puder ser assegurado diretamente nas comunida-
LDB e nas Resoluções 3/1997 e 2/1999, da Câmara da Edu- des rurais;
cação Básica, assim como os Pareceres 9/2002, 27/2002 III - remuneração digna, inclusão nos planos de car-
e 28/2002 e as Resoluções 1/2002 e 2/2002 do Pleno do reira e institucionalização de programas de formação con-
Conselho Nacional de Educação, a respeito da formação tinuada para os profissionais da educação que propiciem,
no mínimo, o disposto nos artigos 13, 61, 62 e 67 da LDB.
de professores em nível superior para a Educação Básica,
prevê a formação inicial em curso de licenciatura, estabele-
Art. 16. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
cendo como qualificação mínima, para a docência na Edu-
publicação, ficando revogadas as disposições em contrário.
cação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
o curso de formação de professores em Nível Médio, na FRANCISCO APARECIDO CORDÃO
modalidade Normal. Presidente da Câmara de Educação Básica
Parágrafo único. Os sistemas de ensino, de acordo com
o artigo 67 da LDB desenvolverão políticas de formação MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
inicial e continuada, habilitando todos os professores lei- CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
gos e promovendo o aperfeiçoamento permanente dos CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
docentes.
RESOLUÇÃO Nº 2, DE 28 DE ABRIL DE 2008
Art. 13. Os sistemas de ensino, além dos princípios
e diretrizes que orientam a Educação Básica no país, ob- Estabelece diretrizes complementares, normas e princí-
servarão, no processo de normatização complementar da pios para o desenvolvimento de políticas públicas de atendi-
formação de professores para o exercício da docência nas mento da Educação Básica do Campo.
escolas do campo, os seguintes componentes:
206
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A Presidenta da Câmara de Educação Básica do Con- Art. 4º Quando os anos iniciais do Ensino Fundamental
selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições le- não puderem ser oferecidos nas próprias comunidades das
gais e de conformidade com o disposto na alínea “c” do § crianças, a nucleação rural levará em conta a participação
1º do art. 9º da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela das comunidades interessadas na definição do local, bem
Lei nº 9.131/1995, com fundamento no Parecer CNE/CEB nº como as possibilidades de percurso a pé pelos alunos na
23/2007, reexaminado pelo Parecer CNE/CEB nº 3/2008, ho- menor distância a ser percorrida.
mologado por despacho do Senhor Ministro de Estado da Parágrafo único. Quando se fizer necessária a adoção
Educação, publicado no DOU de 11/4/2008, resolve: do transporte escolar, devem ser considerados o menor
tempo possível no percurso residência-escola e a garantia
Art. 1º A Educação do Campo compreende a Educação de transporte das crianças do campo para o campo.
Básica em suas etapas de Educação Infantil, Ensino Funda-
mental, Ensino Médio e Educação Profissional Técnica de nível Art. 5º Para os anos finais do Ensino Fundamental e para
médio integrada com o Ensino Médio e destina-se ao aten- o Ensino Médio, integrado ou não à Educação Profissional
dimento às populações rurais em suas mais variadas formas Técnica, a nucleação rural poderá constituir-se em melhor
de produção da vida – agricultores familiares, extrativistas, solução, mas deverá considerar o processo de diálogo com
pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados as comunidades atendidas, respeitados seus valores e sua
da Reforma Agrária, quilombolas, caiçaras, indígenas e outros. cultura.
§ 1º A Educação do Campo, de responsabilidade dos En- § 1º Sempre que possível, o deslocamento dos alunos,
tes Federados, que deverão estabelecer formas de colabora- como previsto no caput, deverá ser feito do campo para o
ção em seu planejamento e execução, terá como objetivos campo, evitando-se, ao máximo, o deslocamento do campo
a universalização do acesso, da permanência e do sucesso para a cidade.
escolar com qualidade em todo o nível da Educação Básica. § 2º Para que o disposto neste artigo seja cumprido, de-
§ 2º A Educação do Campo será regulamentada e ofereci- verão ser estabelecidas regras para o regime de colabora-
da pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, nos ção entre os Estados e seus Municípios ou entre Municípios
respectivos âmbitos de atuação prioritária. consorciados.
§ 3º A Educação do Campo será desenvolvida, preferente-
mente, pelo ensino regular. Art. 6º A oferta de Educação de Jovens e Adultos tam-
§ 4º A Educação do Campo deverá atender, mediante bém deve considerar que os deslocamentos sejam feitos
procedimentos adequados, na modalidade da Educação de nas menores distâncias possíveis, preservado o princípio
Jovens e Adultos, as populações rurais que não tiveram aces- intracampo.
so ou não concluíram seus estudos, no Ensino Fundamental
ou no Ensino Médio, em idade própria. Art. 7º A Educação do Campo deverá oferecer sempre
§ 5º Os sistemas de ensino adotarão providências para o indispensável apoio pedagógico aos alunos, incluindo
que as crianças e os jovens portadores de necessidades espe- condições infraestruturais adequadas, bem como materiais
ciais, objeto da modalidade de Educação Especial, residentes e livros didáticos, equipamentos, laboratórios, biblioteca
no campo, também tenham acesso à Educação Básica, pre- e áreas de lazer e desporto, em conformidade com a rea-
ferentemente em escolas comuns da rede de ensino regular. lidade local e as diversidades dos povos do campo, com
atendimento ao art. 5º das Diretrizes Operacionais para a
Art. 2º Os sistemas de ensino adotarão medidas que as- Educação Básica nas escolas do campo.
segurem o cumprimento do artigo 6º da Resolução CNE/CEB § 1º A organização e o funcionamento das escolas do
nº 1/2002, quanto aos deveres dos Poderes Públicos na oferta campo respeitarão as diferenças entre as populações aten-
de Educação Básica às comunidades rurais. didas quanto à sua atividade econômica, seu estilo de vida,
Parágrafo único. A garantia a que se refere o caput, sem- sua cultura e suas tradições.
pre que necessário e adequado à melhoria da qualidade do § 2º A admissão e a formação inicial e continuada dos
ensino, deverá ser feita em regime de colaboração entre os professores e do pessoal de magistério de apoio ao traba-
Estados e seus Municípios ou mediante consórcios munici- lho docente deverão considerar sempre a formação peda-
pais. gógica apropriada à Educação do Campo e às oportunida-
des de atualização e aperfeiçoamento com os profissionais
Art. 3º A Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino comprometidos com suas especificidades.
Fundamental serão sempre oferecidos nas próprias comuni-
dades rurais, evitando-se os processos de nucleação de esco- Art. 8º O transporte escolar, quando necessário e indis-
las e de deslocamento das crianças. pensável, deverá ser cumprido de acordo com as normas do
§ 1º Os cincos anos iniciais do Ensino Fundamental, ex- Código Nacional de Trânsito quanto aos veículos utilizados.
cepcionalmente, poderão ser oferecidos em escolas nuclea- § 1º Os contratos de transporte escolar observarão os
das, com deslocamento intracampo dos alunos, cabendo aos artigos 137, 138 e 139 do referido Código.
sistemas estaduais e municipais estabelecer o tempo máximo § 2º O eventual transporte de crianças e jovens porta-
dos alunos em deslocamento a partir de suas realidades. dores de necessidades especiais, em suas próprias comu-
§ 2º Em nenhuma hipótese serão agrupadas em uma nidades ou quando houver necessidade de deslocamento
mesma turma crianças de Educação Infantil com crianças do para a nucleação, deverá adaptar-se às condições desses
Ensino Fundamental. alunos, conforme leis específicas.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
XVI - realização de pesquisas, incluídas aquelas desti- Art. 20. Este Decreto entra em vigor na data de sua
nadas ao mapeamento, ao aprofundamento e à consoli- publicação.
dação dos estudos sobre perfil, demanda e processos de
formação de profissionais da educação. Brasília, 9 de maio de 2016; 195o da Independência e
128o da República.
Art. 13. Os cursos de formação inicial e continuada
deverão privilegiar a formação geral, a formação na área do DILMA ROUSSEFF
saber e a formação pedagógica específica. Aloizio Mercadante
Art. 14. O Ministério da Educação, em colaboração Este texto não substitui o publicado no DOU de
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, apoiará 10.5.2016
programas e cursos de segunda licenciatura e complemen-
tação pedagógica para profissionais que atuem em áreas
do conhecimento nas quais não possuam formação espe-
cífica de nível superior.
XIV - ORGANIZAÇÃO E O FUNCIONAMENTO
Art. 15. Serão fortalecidas as funções de avaliação, re-
DO ENSINO NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE
gulação e supervisão da educação profissional e superior, EDUCAÇÃO BÁSICA DE MINAS GERAIS.
visando a plena implementação das diretrizes curriculares
relativas à formação dos profissionais da educação básica.
Parágrafo único. O Sinaes, instituído pela Lei no 10.861,
RESOLUÇÃO SEE Nº 2.197, DE 26 DE OUTUBRO DE
de 2004, preverá regime especial para avaliação das licen-
2012.
ciaturas, inclusive no que diz respeito ao Exame Nacional
de Desempenho dos Estudantes - Enade.
Dispõe sobre a organização e o funcionamento do ensi-
no nas Escolas Estaduais de Educação Básica de Minas Ge-
Art. 16. A Coordenação Nacional de Aperfeiçoamento
rais e dá outras providências.
de Pessoal de Nível Superior - Capes fomentará a pesqui-
sa aplicada nas licenciaturas e nos programas de pós-gra-
duação, destinada à investigação dos processos de ensi- A SECRETÁRIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, no uso
no-aprendizagem e ao desenvolvimento da didática espe- de sua competência, tendo em vista o disposto na Lei nº
cífica. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, nas Resoluções do Con-
selho Nacional de Educação nº 4, de 13 de julho de 2010,
Art. 17. O Ministério da Educação coordenará a rea- nº 7, de 14 de dezembro de 2010 e nº 2, de 30 de janeiro
lização de prova nacional para docentes para subsidiar os de 2012, nos Pareceres do Conselho Estadual de Educação
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, mediante ade- nº 1132, de 12 de dezembro de 1997, e nº 1158, de 11 de
são, na realização de concursos públicos de admissão de dezembro de 1998, RESOLVE:
profissionais do magistério da educação básica pública, de
maneira a harmonizar a conclusão da formação inicial com TÍTULO I
o início do exercício profissional. DA ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO ESCOLAR
Art. 18. O Ministério da Educação regulamentará este Art. 1º A presente Resolução estabelece as diretrizes
Decreto no prazo máximo de sessenta dias, contado da para a organização e o funcionamento do ensino nas Esco-
data de sua publicação. las Estaduais de Educação Básica de Minas Gerais.
Parágrafo único. O apoio do Ministério da Educação Parágrafo único. Estas diretrizes estão em consonância
aos planos estratégicos estadual e distrital de formação em com a legislação nacional, com os fundamentos e procedi-
andamento e aos outros programas e ações de formação mentos definidos pelos Conselhos Nacional e Estadual de
de profissionais da educação em execução continuam em Educação, com as normas do Sistema Estadual de Ensino
vigência até seu encerramento ou até que novos acordos de Minas Gerais e com a estratégia governamental de lon-
colaborativos sejam construídos e regulamentados no âm- go prazo definida no Plano Mineiro de Desenvolvimento
bito da Política Nacional de Formação dos Profissionais da Integrado - PMDI 2011- 2030.
Educação Básica.
Art. 2º O disposto nesta Resolução, complementada,
Art. 19. Ficam revogados: quando necessário, por normas específicas, aplica-se a to-
I - o Decreto no 6.755, de 29 de janeiro de 2009; e das as etapas e modalidades da Educação Básica.
II - o Decreto no 7.415, de 30 de dezembro de 2010.
212
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 3º As Escolas da Rede Estadual de Ensino ado- Art. 6º Os profissionais da Escola devem reunir-se,
tarão, como norteadores de suas ações pedagógicas, os periodicamente, conforme cronograma estabelecido pela
seguintes princípios: Equipe Gestora, para estudos, avaliação coletiva das ações
I - Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e au- desenvolvidas e redimensionamento do processo pedagó-
tonomia; de respeito à dignidade da pessoa humana e de gico, conforme o previsto no Projeto Político-Pedagógico e
compromisso com a promoção do bem de todos, con- no Plano de Intervenção Pedagógica (PIP).
tribuindo para combater e eliminar quaisquer manifesta-
ções de preconceito de origem, gênero, etnia, cor, idade e CAPÍTULO III
quaisquer outras formas de discriminação; DO CALENDÁRIO ESCOLAR
II - Políticos: de reconhecimento dos direitos e deve-
res de cidadania, de respeito ao bem comum e à preser- Art. 7º O Calendário Escolar deve ser elaborado pela
vação do regime democrático e dos recursos ambientais; Escola, em acordo com os parâmetros definidos em norma
da busca da equidade e da exigência de diversidade de específica, publicada anualmente pela Secretaria de Estado
tratamento para assegurar a igualdade de direitos entre os de Educação – SEE, discutido e aprovado pelo Colegiado e
alunos que apresentam diferentes necessidades; amplamente divulgado, cabendo à Inspeção Escolar super-
III - Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente visionar o cumprimento das atividades nele previstas.
com o da racionalidade; do enriquecimento das formas § 1º Serão garantidos, no Calendário Escolar, os míni-
de expressão e do exercício da criatividade; da valorização mos de 200 (duzentos) dias letivos e carga horária de 800
das diferentes manifestações culturais, especialmente, a horas, para os anos iniciais, e de 833 horas e 20 minutos,
da cultura mineira e da construção de identidades plurais para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Mé-
e solidárias. dio. § 2º A Escola deve oferecer atividades complementares
Parágrafo único. Na Educação Básica, as dimensões in- para os alunos que, no ato da matrícula, não tiverem op-
separáveis do educar e do cuidar deverão ser consideradas tado pelo Componente Curricular facultativo, para cumpri-
no desenvolvimento das ações pedagógicas, buscando re- mento da carga horária obrigatória.
cuperar, para a função social desse nível da educação, a
Art. 8º Considera-se dia letivo aquele em que professo-
sua centralidade, que é o educando.
res e alunos desenvolvem atividades de ensino-aprendiza-
gem, de caráter obrigatório, independentemente do local
Art. 4º As Escolas da Rede Estadual de Ensino devem
onde sejam realizadas.
assegurar aos pais, conviventes ou não com seus filhos, ou
responsáveis, o acesso às suas instalações físicas, informá
Art. 9º Considera-se dia escolar aquele em que são rea-
-los sobre a execução de seu Projeto Político Pedagógico
lizadas atividades de caráter pedagógico e administrativo,
e, a cada bimestre, sobre a frequência e o rendimento dos
com a presença obrigatória do pessoal docente, técnico e
alunos. administrativo, podendo incluir a representação de pais e
alunos.
CAPÍTULO II
DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E DO REGI- Art. 10 É recomendada a abertura da Escola nos fe-
MENTO ESCOLAR riados, finais de semana e férias escolares, para atividades
educativas e comunitárias, cabendo à direção da escola
Art. 5º O Projeto Político-Pedagógico e o Regimento encontrar formas para garantir o funcionamento previsto,
Escolar de cada unidade de ensino devem ser elaborados e observadas as vedações da legislação.
atualizados em conformidade com a legislação, assegura-
da a participação de todos os segmentos representativos CAPÍTULO IV
da Escola, com assessoramento do Serviço de Inspeção DA ORGANIZAÇÃO DO TEMPO ESCOLAR
Escolar e Equipes Pedagógicas Central e Regional, e apro-
vados pelo Colegiado de cada Escola, implementados e Art. 11 A jornada escolar no Ensino Fundamental deve
amplamente divulgados na comunidade escolar. ser de, no mínimo, 4 horas de trabalho diário, excluído o
§ 1º O Projeto Político-Pedagógico deve expressar, tempo destinado ao recreio.
com clareza, os direitos de aprendizagem que devem ser
garantidos aos alunos. § 2º Faz parte integrante do Projeto Art. 12 Respeitados os dispositivos legais, compete à
Político-Pedagógico o Plano de Intervenção Pedagógica escola proceder à organização do tempo escolar no ensino
(PIP) elaborado, anualmente, pela Equipe Pedagógica da fundamental e médio, assegurando a duração da semana
Escola, a partir dos resultados das avaliações internas e letiva de 05 (cinco) dias.
externas, com o objetivo de melhorar o desempenho dos
alunos no processo de ensino-aprendizagem e garantir a Art. 13 Poderá ser organizado horário escolar, com au-
continuidade de seu percurso escolar. las geminadas de um mesmo Componente Curricular, para
melhor desenvolvimento do processo de ensino- aprendi-
zagem.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 46 O Atendimento Educacional Especializado – AEE, § 1º Para ingresso nos cursos Técnicos de Nível Médio,
deve identificar, elaborar, organizar e oferecer os recursos o aluno deve apresentar certificado de conclusão do Ensino
pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras Fundamental e submeter- se a exame de capacitação, na
para a plena participação dos alunos, considerando suas forma regimental.
necessidades específicas, em constante articulação com os § 2º Os Conservatórios Estaduais de Música devem ar-
demais serviços ofertados. ticular com as Escolas de Ensino Fundamental e Médio para
o cumprimento do disposto nos incisos I a IV deste artigo.
SEÇÃO III § 3º Os cursos e ações de extensão devem atender,
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA prioritariamente, os alunos da Rede Pública da Educação
Básica e abranger Escolas localizadas em outros municí-
Art. 47 A Educação Profissional e Tecnológica integra- pios, além do município sede do Conservatório Estadual
se aos diferentes níveis e modalidades de Educação e às de Música.
dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e arti- § 4º Os planos de trabalho dos Conservatórios Esta-
cula-se com o ensino regular e com as modalidades educa- duais de Música, após parecer da Superintendência Re-
cionais da Educação de Jovens e Adultos, Educação Espe- gional de Ensino, devem ser encaminhados anualmente
cial e Educação a Distância. à Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação Básica,
para aprovação.
Art. 48 Na modalidade de Educação Profissional e Tec-
nológica, os cursos são oferecidos pela Rede Mineira de SEÇÃO IV
Formação Profissional Técnica de Nível Médio da Secretaria DA EDUCAÇÃO DO CAMPO
de Estado de Educação, obedecidos os critérios definidos
em norma específica. Art. 51 A Educação do Campo, tratada como educação
rural na legislação brasileira, incorpora os espaços da flo-
Art. 49 Os Conservatórios Estaduais de Música tem suas resta, da pecuária, das minas e da agricultura, e se estende,
ações voltadas para a formação profissional de músicos, também, aos espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos, qui-
em nível técnico, a educação musical e a difusão cultural. lombolas e extrativistas, entre outros.
§ 1º A Educação Musical abrange a formação inicial e
sistemática na área da Música pela oferta de cursos regula- Art. 52 As Escolas que oferecem a educação para a po-
res a crianças, jovens e adultos. pulação rural devem proceder às adaptações necessárias às
§ 2º A formação profissional de músicos em nível téc- peculiaridades da vida rural e de cada região, observando
nico abrange as funções de criação, execução e produção os seguintes aspectos essenciais à organização da ação pe-
próprias da arte musical objetivando: dagógica:
I - A capacitação de alunos com conhecimentos, habi- I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
lidades gerais e específicas para o exercício de atividades às reais necessidades e aos interesses dos estudantes da
artístico-musicais; zona rural;
II - a habilitação profissional em nível técnico para o II - organização escolar própria, incluindo adequação
exercício competente de atividades profissionais na área da do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condi-
música; ções climáticas;
III - o aperfeiçoamento e a atualização de músicos em III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
seus conhecimentos e habilidades, bem como a qualifica-
ção, a profissionalização e a requalificação de profissionais Art. 53 As Escolas Estaduais do campo podem adotar a
da área da música para seu melhor desempenho no traba- metodologia da Pedagogia da Alternância, nos anos finais
lho artístico. do Ensino Fundamental, Ensino Médio e na Modalidade de
§ 3º A difusão cultural deverá ocorrer por meio de cur- Jovens e Adultos.
sos livres, oficinas e atividades de conjunto, visando o enri- § 1º As Escolas do Campo que optarem por essa meto-
quecimento da produção pedagógica e artística dos Con- dologia devem encaminhar seu Projeto Político-Pedagógi-
servatórios e a preservação do patrimônio artístico-musical co, Regimento Escolar, matriz curricular e calendário esco-
regional. lar devidamente aprovados pela comunidade escolar e pa-
recer da SRE com indicativo da viabilidade de sua organiza-
Art. 50 Os Conservatórios Estaduais de Música ofere- ção, para análise da Subsecretaria de Desenvolvimento da
cem: Educação Básica, até o mês de maio do ano anterior àquele
I - conteúdos específicos de Educação Musical para em que se propõe a sua implementação § 2º Na elaboração
alunos que estão cursando o Ensino Fundamental e Médio; do Projeto Político-Pedagógico, deve ser considerado que
II - habilitações profissionais para alunos que estão fre- a escala de férias dos professores e dos demais servidores
quentando o Ensino Médio ou já o concluíram; das Escolas do Campo deve se organizar preservando o
III - cursos de extensão para a comunidade; funcionamento escolar, conforme a proposta apresentada
IV - cursos de extensão em Educação Musical para pro- no calendário específico, observando a impossibilidade de
fessores da rede pública de ensino visando à sua formação designação de servidores no mês de janeiro.
inicial e continuada.
217
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
§ 3º Para as Escolas do Campo que adotarem a meto- § 2º A interdisciplinaridade parte do princípio de que
dologia da Pedagogia da Alternância, consideram-se, tam- todo conhecimento mantém um diálogo permanente com
bém, dias letivos aqueles do tempo laboral ou de ativida- outros conhecimentos e a contextualização requer a con-
de na comunidade, em que os alunos desenvolvem ações cretização dos conteúdos curriculares em situações mais
orientadas por seus professores. próximas e familiares aos alunos.
218
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
CAPÍTULO II c) Arte:
DOS CICLOS INTERMEDIÁRIO E DA CONSOLIDAÇÃO - saber se expressar artisticamente, articulando a per-
cepção, imaginação, emoção, sensibilidade e reflexão em
Art. 66 A passagem dos alunos dos ciclos dos anos ini- suas produções artísticas visuais, corporais, cênicas e mu-
ciais para os ciclos dos anos finais do Ensino Fundamen- sicais, compreendendo a arte em todas as suas linguagens
tal deverá receber atenção especial da Escola, a fim de se e manifestações;
garantir a articulação sequencial necessária, especialmen- - apreciar e analisar criticamente produções artísticas
te entre o Ciclo Complementar e o Ciclo Intermediário, em (artes visuais, dança, teatro e música), estabelecendo re-
face das demandas diversificadas exigidas dos alunos, pelos lações entre análise formal, contextualização, pensamento
diferentes professores, em contraponto à unidocência dos artístico e identidade cultural;
anos iniciais. - refletir acerca da manifestação artística, sobre si pró-
Parágrafo único. A Escola deverá, ainda, articular com a prio e sobre a experiência estética.
Rede Municipal de Ensino, para evitar obstáculos de acesso
d) Educação Física:
aos ciclos dos anos finais do Ensino Fundamental, dos alu-
- reconhecer o potencial do esporte, dos jogos, das
nos que se transfiram de uma rede para outra, para comple-
brincadeiras, da dança e da ginástica para o desenvolvi-
tar esta etapa da Educação Básica.
mento de atitudes e de valores democráticos de solidarie-
dade, respeito, autonomia, confiança, liderança;
Art. 67 Os Ciclos Intermediário e da Consolidação do - conhecer as modalidades esportivas, sua história,
Ensino Fundamental, com o objetivo de consolidar e apro- suas regras, movimentos técnicos e táticos, bem como as
fundar os conhecimentos, competências e habilidades ad- diferenças na forma de apresentação dos esportes;
quiridos nos Ciclos da Alfabetização e Complementar, terão - conhecer e identificar os elementos constitutivos da
suas atividades pedagógicas organizadas de forma gradati- dança, utilizando as múltiplas linguagens corporais, possi-
va e crescente em complexidade, considerando os Conteú- bilitando a superação dos preconceitos, bem como conhe-
dos Básicos Comuns – CBC, de modo a assegurar que, ao cer e identificar diversos jogos e brincadeiras da nossa e de
final desta etapa, todos os alunos tenham garantidos, pelo outras culturas;
menos, os seguintes direitos de aprendizagem: - compreender os riscos e benefícios das atividades e
I - Linguagens: práticas esportivas na promoção da saúde e qualidade da
a) Língua Portuguesa: vida.
- ler, de maneira autônoma, textos de diferentes gêne-
ros, construindo a compreensão global do texto, identifi- II - Matemática:
cando informações explícitas e implícitas, produzindo infe- - comparar, ordenar e operar com números naturais,
rências, reconhecendo as intenções do enunciador e sendo inteiros, racionais, interpretando e resolvendo situações
capazes de aderir ou recusar as ideias do autor; -problema;
- identificar e utilizar os diversos gêneros e tipos tex- - Identificar e resolver situações-problema que envol-
tuais que circulam na sociedade para a resolução de proble- vam proporcionalidade direta e inversa; porcentagem e ju-
mas cotidianos que requerem o uso da língua; ros; equações de primeiro e segundo graus; sistemas de
- produzir textos orais e escritos, com coerência, coesão equações de primeiro grau; conversão de medidas; cálculo
e correção ortográfica e gramatical, utilizando os recursos de perímetro, de área, de volume e capacidade; probabili-
sociolinguísticos adequados ao tema proposto, ao gênero, dade; utilização de linguagem algébrica;
ao destinatário e ao contexto de produção; - reconhecer as principais relações geométricas entre
as figuras planas; - interpretar e utilizar informações apre-
- analisar e reelaborar seu próprio texto segundo crité-
sentadas em tabelas e gráficos.
rios adequados aos objetivos, ao destinatário e ao contexto
III - Ciências da Natureza:
de circulação previstos; - desenvolver atitudes e procedi-
- compreender a inter-relação dos seres vivos entre si e
mentos de leitor e escritor para a construção autônoma de
com o meio ambiente; - identificar os conhecimentos físi-
conhecimentos necessários a uma sociedade baseada em cos, químicos e biológicos presentes no cotidiano;
informação e em constante mudança. - compreender o processo de reprodução na evolução
e diversidade das espécies, a sexualidade humana, méto-
b) Língua Estrangeira moderna: dos contraceptivos e doenças sexualmente transmissíveis;
- compreender textos de diferentes gêneros em Língua - compreender o efeito das drogas e suas consequên-
Estrangeira moderna, bem como suas condições de produ- cias no convívio social.
ção e de recepção; IV - Ciências Humanas: a) História:
- produzir textos escritos em Língua Estrangeira moder- - compreender as relações da natureza com o processo
na, coesos e coerentes e com correção lexical e gramatical, sociocultural, político e econômico, no passado e no pre-
considerando as condições de produção e circulação; sente;
- utilizar a linguagem oral da Língua Estrangeira mo- - reconhecer e compreender as diferentes relações de
derna como instrumento de interação sociocomunicativa. trabalho na realidade atual e em outros momentos histó-
ricos;
220
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- compreender o processo de formação dos povos, VII - assegurar tempos e espaços de reposição de temas
suas lutas sociais e conquistas, guerras e revoluções, assim ou tópicos dos Componentes Curriculares, ao longo do ano
como cidadania e cultura no mundo contemporâneo; letivo, aos alunos com frequência insuficiente;
- realizar, autonomamente, trabalhos individuais e co- VIII - possibilitar a aceleração de estudos para os alunos
letivos usando fontes históricas. com distorção idade ano de escolaridade.
221
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
III - adotando as providências necessárias para que a Art. 78 A Escola deve oferecer aos alunos diferentes
operacionalização do princípio da continuidade não seja oportunidades de aprendizagem definidas em seu Plano de
traduzida como “promoção automática” de alunos de um Intervenção Pedagógica, ao longo de todo o ano letivo, após
ano ou ciclo para o seguinte, e para que o combate à repe- cada bimestre e no período de férias, a saber:
tência não se transforme em descompromisso com o ensi- I - estudos contínuos de recuperação, ao longo do pro-
no-aprendizagem. cesso de ensino aprendizagem, constituídos de atividades
especificamente programadas para o atendimento ao aluno
Art. 74 A progressão parcial, que deverá ocorrer a par- ou grupos de alunos que não adquiriram as aprendizagens
tir do 6º ano do ensino fundamental, deste para o ensino básicas com as estratégias adotadas em sala de aula;
II - estudos periódicos de recuperação, aplicados imedia-
médio e no ensino médio, é o procedimento que permite
tamente após o encerramento de cada bimestre, para o alu-
ao aluno avançar em sua trajetória escolar, possibilitando-
no ou grupo de alunos que não apresentarem domínio das
lhe novas oportunidades de estudos, no ano letivo seguin- aprendizagens básicas previstas para o período; III - estudos
te, naqueles aspectos dos Componentes Curriculares nos independentes de recuperação, no período de férias escola-
quais necessita, ainda, consolidar conhecimentos, compe- res, com avaliação antes do início do ano letivo subsequente,
tências e habilidades básicas. quando as estratégias de intervenção pedagógica previstas
nos incisos I e II não tiverem sido suficientes para atender às
Art. 75 Poderá beneficiar-se da progressão parcial, em necessidades mínimas de aprendizagem do aluno.
até 3 (três) Componentes Curriculares, o aluno que não Parágrafo único. O plano de estudos independentes de re-
tiver consolidado as competências básicas exigidas e que cuperação, para o aluno que ainda não apresentou domínio no(s)
apresentar dificuldades a serem resolvidas no ano subse- tema(s) ou tópico(s) necessário(s) à continuidade do percurso es-
quente. § 1º O aluno em progressão parcial no 9º ano do colar, deve ser elaborado pelo professor responsável pelo Compo-
Ensino Fundamental tem sua matrícula garantida no 1º ano nente Curricular e entregue ao aluno, no período compreendido
do Ensino Médio nas Escolas da Rede Pública Estadual, entre o término do ano letivo e o encerramento do ano escolar.
onde deve realizar os estudos necessários à superação das
deficiências de aprendizagens evidenciadas nos tema(s) ou Art. 79 A Escola deve garantir, no ano em curso, estraté-
tópico(s) no(s) respectivo(s) componente(s) curricular(es). gias intervenção pedagógica, para atendimento dos alunos
§ 2º Ao aluno em progressão parcial devem ser assegu- que, após todas as ações de ensinoaprendizagem e opor-
tunidades de recuperação previstas no art. 78, ainda apre-
rados estudos orientados, conforme Plano de Intervenção
sentarem deficiências em capacidades ou habilidades no(s)
Pedagógica elaborado, conjuntamente, pelos professores
Componente(s) Curricular(es) do ano anterior.
do(s) Componente(s) Curricular(es) do ano anterior e do
ano em curso, com a finalidade de proporcionar a supe- Art. 80Art. 80 A promoção e a progressão parcial dos
ração das defasagens e dificuldades em temas e tópicos, alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio devem
identificadas pelo professor e discutidas no Conselho de ser decididas pelos professores e avaliadas pelo Conselho de
Classe. Classe, levando-se em conta o desempenho global do aluno,
§ 3º Os estudos previstos no Plano de Intervenção Pe- seu envolvimento no processo de aprender e não apenas a
dagógica devem ser desenvolvidos, obrigatoriamente, pe- avaliação de cada professor em seu Componente Curricular,
lo(s) professor(es) do(s) Componente(s) Curricular(es) do de forma isolada, considerando-se os princípios da continui-
ano letivo imediato ao da ocorrência da progressão parcial. dade da aprendizagem do aluno e da interdisciplinaridade.
§ 4º O cumprimento do processo de progressão parcial Parágrafo único. Os Componentes Curriculares cujos ob-
pelo aluno poderá ocorrer em qualquer época do ano letivo jetivos educacionais colocam ênfase nos domínios afetivo e
seguinte, uma vez resolvida a dificuldade evidenciada no(s) psicomotor, como Arte, Ensino Religioso e Educação Física,
tema(s) ou tópico(s) do(s) Componentes Curricular(es). devem ser avaliados para que se verifique em que nível as
habilidades previstas foram consolidadas, sendo que a nota
Art. 76 A Escola deve utilizar-se de todos os recursos ou conceito, se forem atribuídos, não poderão influir na defi-
pedagógicos disponíveis e mobilizar pais e educadores nição dos resultados finais do aluno.
para que sejam oferecidas aos alunos do 3º ano do Ensino
Art. 81 Os resultados da avaliação da aprendizagem de-
Médio condições para que possam ser vencidas as dificul-
vem ser comunicados em até 20 dias após o encerramento
dades ainda existentes, considerando que o aluno só con- de cada 1(um) dos 4(quatro) bimestres, aos pais, conviventes
cluirá a Educação Básica, quando tiver obtido aprovação ou não com os filhos, e aos alunos, por escrito, utilizando-se
em todos os Componentes Curriculares. Art. 77 É exigida notas ou conceitos, devendo ser informadas, também, quais
do aluno a frequência mínima obrigatória de 75% da carga estratégias de atendimento pedagógico diferenciado foram
horária anual total. e serão oferecidas pela Escola. Parágrafo único. No encerra-
Parágrafo único. No caso de desempenho satisfatório mento do ano letivo e após os estudos independentes de re-
do aluno e de frequência inferior a 75%, no final do perío- cuperação, a Escola deve comunicar aos pais, conviventes ou
do letivo, a Escola deve usar o recurso da reclassificação não com os filhos, ou responsáveis, por escrito, o resultado
para posicionar o aluno no ano seguinte de seu percurso final da avaliação da aprendizagem dos alunos, informando,
escolar. inclusive, a situação de progressão parcial, quando for o caso.
222
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
223
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 1° O Art. 78 da Resolução SEE nº 2.197, de 26 de partir de uma identidade específica, como também esses
outubro de 2012, passa a vigorar com a seguinte redação: espaços estão organizados pedagogicamente para manter
“Art. 78 A Escola deve oferecer aos alunos diferentes tal separação, definindo as atribuições de seus professores,
oportunidades de aprendizagem definidas em seu Plano currículos, programas, avaliações e promoções dos que fa-
de Intervenção Pedagógico, ao longo do ano letivo, após zem parte de cada um desses espaços.
cada bimestre e após o encerramento do ano letivo, a sa- Os que têm o poder de dividir são os que classificam,
ber: formam conjuntos, escolhem os atributos que definem os
I - ... alunos e demarcam os espaços, decidem quem fica e quem
II - ... sai destes, quem é incluído ou excluído dos agrupamentos
III- estudos independentes de recuperação, após o en- escolares.
cerramento do ano letivo, com avaliação a ser aplicada an- Ambientes escolares inclusivos são fundamentados
tes do encerramento do ano escolar, quando as estratégias em uma concepção de identidade e diferenças, em que as
de intervenções pedagógicas previstas nos incisos I e II não relações entre ambas não se ordenam em torno de oposi-
tiverem sido suficientes para atender às necessidades míni- ções binárias (normal/especial, branco/negro, masculino/
mas de aprendizagem do aluno. feminino, pobre/rico). Neles não se elege uma identidade
Parágrafo único. Os estudos independentes de recupe- como norma privilegiada em relação às demais.
ração a serem desenvolvidos com os alunos antes do en- Em ambientes escolares excludentes, a identidade nor-
cerramento do ano escolar deverão contemplar apenas os mal é tida sempre como natural, generalizada e positiva
temas ou tópicos em que o aluno não apresentou domínio em relação às demais, e sua definição provém do processo
necessário à continuidade do percurso escolar, o que deve- pelo qual o poder se manifesta na escola, elegendo uma
rá ser informado ao aluno antes da aplicação. ” identidade específica através da qual as outras identidades
são avaliadas e hierarquizadas.
Art. 2° Esta Resolução entra em vigor na data de sua Esse poder que define a identidade normal, detido por
publicação. professores e gestores mais próximos ou mais distantes
das escolas, perde a sua força diante dos princípios educa-
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, em Belo Hori- cionais inclusivos, nos quais a identidade não é entendida
zonte, aos 29 de outubro de 2015. como natural, estável, permanente, acabada, homogênea,
generalizada, universal. Na perspectiva da inclusão esco-
lar, as identidades são transitórias, instáveis, inacabadas e,
(a) MACAÉ MARIA EVARISTO DOS SANTOS
portanto, os alunos não são categorizáveis, não podem ser
Secretária de Estado de Educação
reunidos e fixados em categorias, grupos, conjuntos, que
se definem por certas características arbitrariamente esco-
lhidas.
É incorreto, portanto, atribuir a certos alunos identida-
XV - O CURRÍCULO NA PERSPECTIVA DA des que os mantêm nos grupos de excluídos, ou seja, nos
INCLUSÃO, DA DIVERSIDADE E DO DIREITO À grupos dos alunos especiais, com necessidades educacio-
APRENDIZAGEM. nais especiais, portadores de deficiências, com problemas
de aprendizagem e outros tais. É incabível fixar no outro
uma identidade normal, que não só justifica a exclusão dos
demais, como igualmente determina alguns privilegiados.
SOBRE IDENTIDADE E DIFERENÇAS NA ESCOLA A educação inclusiva questiona a artificialidade das
identidades normais e entende as diferenças como re-
A inclusão rompe com os paradigmas que sustentam sultantes da multiplicidade, e não da diversidade, como
o conservadorismo das escolas, contestando os sistemas comumente se proclama. Trata-se de uma educação que
educacionais em seus fundamentos. Ela questiona a fixação garante o direito à diferença e não à diversidade, pois asse-
de modelos ideais, a normalização de perfis específicos de gurar o direito à diversidade é continuar na mesma, ou seja,
alunos e a seleção dos eleitos para frequentar as escolas, é seguir reafirmando o idêntico.
produzindo, com isso, identidades e diferenças, inserção e/ A diferença (vem) do múltiplo e não do diverso. Tal
ou exclusão. como ocorre na aritmética, o múltiplo é sempre um pro-
O poder institucional que preside a produção das iden- cesso, uma operação, uma ação. A diversidade é estática,
tidades e das diferenças define como normais e especiais é um estado, é estéril. A multiplicidade é ativa, é fluxo, é
não apenas os alunos, como também as suas escolas. Os produtiva. A multiplicidade é uma máquina de produzir di-
alunos das escolas comuns são normais e positivamente ferenças - diferenças que são irredutíveis à identidade. A
valorados. Os alunos das escolas especiais são os negativa- diversidade limita-se ao existente. A multiplicidade estende
mente concebidos e diferenciados. e multiplica, prolifera, dissemina. A diversidade é um dado
Os sistemas educacionais constituídos a partir da opo- - da natureza ou da cultura. A multiplicidade é um movi-
sição - alunos normais e alunos especiais - sentem-se aba- mento. A diversidade reafirma o idêntico. A multiplicidade
lados com a proposta inclusiva de educação, pois não só estimula a diferença que se recusa a se fundir com o idên-
criaram espaços educacionais distintos para seus alunos, a tico (SILVA, 2000, p.100-101).
224
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
De fato, a diversidade na escola comporta a criação de Quando entendemos esses processos de diferenciação
grupos de idênticos, formados por alunos que têm uma mes- pela deficiência ou por outras características que elegemos
ma característica, selecionada para reuni-los e separá-los. Ao para excluir, percebemos as discrepâncias que nos faziam
nos referirmos a uma escola inclusiva como aberta à diversi- defender as escolas dos diferentes como solução privilegia-
dade, ratificamos o que queremos extinguir com a inclusão da para atender às necessidades dos alunos. Acordamos,
escolar, ou seja, eliminamos a possibilidade de agrupar alu- então, para o sentido includente das escolas das diferenças.
nos e de identificá-los por uma de suas características (por Essas escolas reúnem, em seus espaços educacionais, os alu-
exemplo, a deficiência), valorizando alguns em detrimento nos tais quais eles são: únicos, singulares, mutantes, com-
de outros e mantendo escolas comuns e especiais. preendendo-os como pessoas que diferem umas das outras,
Atenção, pois ao denominarmos as propostas, progra- que não conseguimos conter em conjuntos definidos por
mas e iniciativas de toda ordem direcionadas à inclusão, in- um único atributo, o qual elegemos para diferenciá-las.
sistimos nesse aspecto, dado que somos nós mesmos quem
atribuímos significado, pela escolha das palavras que utili- 3. A ESCOLA COMUM NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
zamos para expressá-lo. É por meio da representação que a
diferença e a identidade passam a existir e temos, dessa for- A escola das diferenças é a escola na perspectiva inclu-
ma, ao representar o poder de definir identidades, currículos siva, e sua pedagogia tem como mote questionar, colocar
e práticas escolares. em dúvida, contrapor-se, discutir e reconstruir as práticas
que, até então, têm mantido a exclusão por instituírem uma
2. ESCOLA DOS DIFERENTES OU ESCOLA DAS DIFE- organização dos processos de ensino e de aprendizagem in-
RENÇAS? contestáveis, impostos e firmados sobre a possibilidade de
exclusão dos diferentes, à medida que estes são direciona-
A educação inclusiva concebe a escola como um espaço dos para ambientes educacionais à parte.
de todos, no qual os alunos constroem o conhecimento se- A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as
gundo suas capacidades, expressam suas ideias livremente, diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca
participam ativamente das tarefas de ensino e se desenvol-
a participação e o progresso de todos, adotando novas prá-
vem como cidadãos, nas suas diferenças.
ticas pedagógicas. Não é fácil e imediata a adoção dessas
Nas escolas inclusivas, ninguém se conforma a padrões
novas práticas, pois ela depende de mudanças que vão além
que identificam os alunos como especiais e normais, co-
da escola e da sala de aula. Para que essa escola possa se
muns. Todos se igualam pelas suas diferenças!
concretizar, é patente a necessidade de atualização e desen-
A inclusão escolar impõe uma escola em que todos os
volvimento de novos conceitos, assim como a redefinição e
alunos estão inseridos sem quaisquer condições pelas quais
a aplicação de alternativas e práticas pedagógicas e educa-
possam ser limitados em seu direito de participar ativamente
cionais compatíveis com a inclusão.
do processo escolar, segundo suas capacidades, e sem que
nenhuma delas possa ser motivo para uma diferenciação Um ensino para todos os alunos há que se distinguir
que os excluirá das suas turmas. pela sua qualidade. O desafio de fazê-lo acontecer nas sa-
Como garantir o direito à diferença nas escolas que las de aulas é uma tarefa a ser assumida por todos os que
ainda entendem que as diferenças estão apenas em alguns compõem um sistema educacional. Um ensino de qualidade
alunos, naqueles que são negativamente compreendidos e provém de iniciativas que envolvem professores, gestores,
diagnosticados como problemas, doentes, indesejáveis e a especialistas, pais e alunos e outros profissionais que com-
maioria sem volta? põem uma rede educacional em torno de uma proposta que
O questionamento constante dos processos de diferen- é comum a todas as escolas e que, ao mesmo tempo, é cons-
ciação entre escolas e alunos, que decorre da oposição entre truída por cada uma delas, segundo as suas peculiaridades.
a identidade normal de alguns e especial de outros, é uma O Projeto Político Pedagógico é o instrumento por exce-
das garantias permanentes do direito à diferença. Os alvos lência para melhor desenvolver o plano de trabalho eleito e
desse questionamento devem recair diretamente sobre as definido por um coletivo escolar; ele reflete a singularidade
práticas de ensino que as escolas adotam e que servem para do grupo que o produziu, suas escolhas e especificidades.
excluir. Nas escolas inclusivas, a qualidade do ensino não se
Os encaminhamentos dos alunos às classes e escolas confunde com o que é ministrado nas escolas-padrão, con-
especiais, os currículos adaptados, o ensino diferenciado, a sideradas como as que melhor conseguem expressar um
terminalidade específica dos níveis de ensino e outras so- ideal pedagógico inquestionável, medido e definido objeti-
luções precisam ser indagados em suas razões de adoção, vamente e que se apresentam como modelo a ser seguido
interrogados em seus benefícios, discutidos em seus fins, e e aplicado em qualquer contexto escolar. As escolas-padrão
eliminados por completo e com urgência. São essas medidas cabem na mesma lógica que define as escolas dos diferen-
excludentes que criam a necessidade de existirem escolas tes, em que as iniciativas para melhorar o ensino continuam
para atender aos alunos que se igualam por uma falsa nor- elegendo algumas escolas e valorando-as positivamente,
malidade - as escolas comuns - e que instituem as escolas em detrimento de outras. Cada escola é única e precisa ser,
para os alunos que não cabem nesse grupo - as escolas es- como os seus alunos, reconhecida e valorizada nas suas di-
peciais. Ambas são escolas dos diferentes, que não se ali- ferenças.
nham aos propósitos de uma escola para todos.
225
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
226
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O professor, portanto, ao contribuir para a elabora- A democracia, frequentemente proclamada, mas nem
ção do PPP, bem como ao participar de sua execução no sempre vivenciada nas redes de ensino, tem no PPP a opor-
cotidiano da escola, tem a oportunidade de exercitar um tunidade de ser exercida, e essa oportunidade não pode
ensino democrático, necessário para garantir acesso e per- ser perdida, para que consiga espalhar-se por toda a insti-
manência dos alunos nas escolas e para assegurar a inclu- tuição. Gadotti e Romão (1997) manifestam suas posições
são, o ensino de qualidade e a consideração das diferenças sobre a construção da democracia na escola e afirmam que
dos alunos nas salas de aula. Exercer esse papel como um esse tipo de gestão constitui um passo relevante no apren-
dos mentores do PPP não é uma obrigação formal, mas o dizado da democracia.
resultado de um envolvimento pessoal do professor. Nesse
sentido, vem antes a sua disposição de participar, porque Os professores constroem a democracia no cotidiano
contribuir é reconhecer a importância de sua colaboração escolar por meio de pequenos detalhes da organização da
para que o projeto se execute. prática pedagógica. Nesse sentido, fazem a diferença: o
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 206, ex- modo de trabalhar os conteúdos com os alunos; a forma de
plicita, como um dos princípios para a educação no Brasil, sugerir a realização de atividades na sala de aula; o controle
“[...] a gestão democrática do ensino público”. Essa preo- disciplinar; a interação dos alunos nas tarefas escolares; a
cupação é reiterada na LDBEN (Lei nº 9394/96), no artigo sistematização do AEE no contraturno; a divisão do horário;
3º, ao assinalar que a gestão democrática, além de estar a forma de planejar com os alunos; a avaliação da execução
em conformidade com a Lei, deve estar consoante à legis- das atividades de forma interativa.
lação dos sistemas de ensino, pois como Lei que detalha Embora já tenhamos uma Constituição, estatutos, le-
a educação nacional, acrescenta a característica das varia- gislação, políticas educacionais e decretos que propõem e
ções dos sistemas nas esferas federal, estadual e municipal. viabilizam novas alternativas para a melhoria do ensino nas
Ainda nesse detalhamento, a LDBEN avança, no seu artigo escolas, ainda atendemos a alunos em espaços escolares
14, afirmando que: semi ou totalmente segregados, tais como as classes espe-
ciais, as turmas de aceleração, as escolas especiais, as aulas
[...] Os sistemas de ensino definirão as normas da ges-
de reforço, entre outros.
tão democrática do ensino público na educação básica, de
O salto da escola dos diferentes para a escola das di-
acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguin-
ferenças demanda conhecimento, determinação, decisão.
tes princípios: participação dos profissionais da educação
As propostas de mudança variam e dependerão de dispo-
na elaboração do projeto pedagógico da escola; participa-
sição, discussões, estudos, levantamento de dados e inicia-
ção das comunidades escolar e local em conselhos escola-
tivas a serem compartilhadas pelos seus membros, enfim,
res ou equivalentes.
de gestões democráticas das escolas, que favoreçam essa
mudança.
Nos textos legais, fica clara a ênfase dada ao Projeto
Político Pedagógico de cada escola, bem como a reiteração Muitas decisões precisam ser tomadas pelas escolas
de que a proposta seja construída e administrada à luz de ao elaborarem seus Projetos Político Pedagógicos, entre as
uma gestão democrática. quais destacamos algumas, que estão diretamente relacio-
Outra legislação que vem corroborar nesse sentido nadas com as mudanças que se alinham aos propósitos da
é o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei Nº. inclusão: fazer da aprendizagem o eixo das escolas, garan-
8.069/90), que, no seu artigo 53, enfatiza os objetivos da tindo o tempo necessário para que todos possam apren-
educação nacional, repetindo os princípios constitucionais der; reprovar a repetência; abrir espaço para que a coope-
e os da LDBEN, mas deixando claro em seu parágrafo único ração, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito
que “[...] é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do crítico sejam praticados por seus professores, gestores,
processo pedagógico, bem como participar da definição funcionários e alunos, pois essas são habilidades mínimas
das propostas educacionais”. Evidencia-se na legislação para o exercício da verdadeira cidadania; valorizar e formar
o caráter da comunidade escolar participativa e ampliada continuamente o professor, para que ele possa atualizar-se
para além dos muros escolares, com compromisso conjun- e ministrar um ensino de qualidade.
to nos rumos da educação dos cidadãos. A gestão demo- É freqüente a escola seguir outros caminhos, adotando
crática ampliada nos contornos da comunidade ganha, por práticas excludentes e paliativas, que as impedem de dar o
meio do texto legal, condições de ser exercida com auto- salto qualitativo que a inclusão demanda. Elas se apropriam
nomia. de soluções utilitárias, prontas para o uso, alheias à realida-
Embora a escola não seja independente de seu sistema de de cada instituição educacional. Essas práticas admitem:
de ensino, ela pode se articular e interagir com autonomia ensino individualizado para os alunos com deficiência e/ou
como parte desse sistema que a sustenta, tomando deci- problemas de aprendizagem; currículos adaptados; termi-
sões próprias relativas às particularidades de seu estabele- nalidade específica; métodos especiais para ensino de pes-
cimento de ensino e da sua comunidade. Entretanto, mes- soas com deficiência; avaliação diferenciada; categorização
mo outorgada por lei, a autonomia escolar é construída aos e diferenciação dos alunos; formação de turmas escolares
poucos e cotidianamente. Do ponto de vista cultural e edu- buscando a homogeneização dos alunos.
cacional, encontram-se poucas experiências de construção
da autonomia e do cultivo de hábitos democráticos.
227
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
No nível da sala de aula e das práticas de ensino, a mo- Opor-se a inovações educacionais, resguardando-se
bilização do professor e/ou de uma equipe escolar em torno no despreparo para adotá-las, resistir e refutá-las simples-
de uma mudança educacional como a inclusão não acon- mente, distancia o professor da possibilidade de se formar
tece de modo semelhante em todas as escolas. Mesmo ha- e de se transformar pela experiência. Oposições e contra-
vendo um Projeto Político Pedagógico que oriente as ações posições à inclusão incondicional são freqüentes entre os
educativas da escola, há que existir uma entrega, uma dispo- professores e adiam projetos do ensino comum e especial
sição individual ou grupal de sua equipe de se expor a uma focados na inserção das diferenças nas escolas.
experiência educacional diferente das que estão habituados É nos bancos escolares que se aprende a viver entre os
a viver. Para que, qualquer transformação ou mudança seja, nossos pares, a dividir as responsabilidades, a repartir tare-
verdadeira, as pessoas têm de ser tocadas pela experiência. fas. Nesses ambientes, desenvolvem-se a cooperação e a
Precisam ser receptivas, disponíveis e abertas a vivê-la, bai- produção em grupo com base nas diferenças e talentos de
xando suas guardas, submetendo-se, entregando-se à expe- cada um e na valorização da contribuição individual para
riência [...] sem resistências, sem segurança, poder, firmeza, a consecução de objetivos comuns de um mesmo grupo.
garantias (BONDÍA, 2002). A interação entre colegas de turma, a aprendizagem
colaborativa, a solidariedade entre alunos e entre estes e o
As mudanças não ocorrem pela mera adoção de prá- professor devem ser estimuladas. Os professores, quando
ticas diferentes de ensinar. Elas dependem da elaboração buscam obter o apoio dos alunos e propõem trabalhos di-
dos professores sobre o que lhes acontece no decorrer da versificados e em grupo, desenvolvem formas de compar-
experiência educacional inclusiva que eles se propuseram a tilhamento e difusão dos conhecimentos nas salas de aula.
viver. O que vem dos livros e o que é transmitido aos profes-
sores nem sempre penetram em suas práticas. A experiência A formação de turmas tidas como homogêneas é um
a que nos referimos não está relacionada com o tempo de- dos argumentos de defesa dos professores, gestores e es-
dicado ao magistério, ao saber acumulado pela repetição de pecialistas em favor da qualidade do ensino, que precisa
uma mesma atividade utilitária, instrumental. Estamos nos ser refutado, porque se trata de uma ilusão que compro-
referindo ao saber da experiência, que é subjetivo, pessoal, mete o ensino e exclui alunos.
relativo, adquirido nas ocasiões em que entendemos e atri- A avaliação de caráter classificatório, por meio de no-
buímos sentidos ao que nos acontece, ao que nos passa, ao tas, provas e outros instrumentos similares, mantém a re-
que nos sucede ao viver a experiência (BONDÍA, 2002). petência e a exclusão nas escolas. A avaliação contínua e
O reconhecimento de que os alunos aprendem segun- qualitativa da aprendizagem, com a participação do aluno,
do suas capacidades não surge de uma hora para a outra, tendo, inclusive, a intenção de avaliar o ensino oferecido e
só porque as teorias assim afirmam. Acolher as diferenças torná-lo cada vez mais adequado à aprendizagem de to-
terá sentido para o professor e fará com que ele rompa com dos os alunos conduz a outros resultados. A adoção desse
seus posicionamentos sobre o desempenho escolar padro- modo de avaliar com base na qualidade do ensino e da
nizado e homogêneo dos alunos, se ele tiver percebido e aprendizagem já diminuiria substancialmente o número de
compreendido por si mesmo essas variações, ao se subme- alunos que são indevidamente avaliados e categorizados
ter a uma experiência que lhe perpassa a existência. O pro- como deficientes nas escolas comuns.
fessor, então, desempenhará o seu papel formador, que não Os professores em geral concordam com novas alter-
se restringe a ensinar somente a uma parcela dos alunos que nativas de se avaliar os processos de ensino e de aprendi-
conseguem atingir o desempenho exemplar esperado pela zagem e admitem que as turmas são naturalmente hete-
escola. Ele ensina a todos, indistintamente. rogêneas. Sentem-se, contudo, inseguros diante da possi-
O caráter de imprevisibilidade da aprendizagem é cons- bilidade de fazer uso dessas alternativas em sala de aula e
tatado por professores que aproveitam as ocasiões para ob- inovar as rotinas de trabalho, rompendo com a organização
servar, abertamente e sem ideias pré-concebidas, a curio- pedagógica pré-estabelecida.
sidade do aluno que vai atrás do que quer conhecer, que Ao contrário do que se pensa e se faz, as práticas es-
questiona, duvida, que se detém diante do que leu, do que colares inclusivas não implicam um ensino adaptado para
lhe respondemos, procurando resolver e encontrar a solução alguns alunos, mas sim um ensino diferente para todos,
para o que lhe perturba e desafia com avidez, possuído pelo em que os alunos tenham condições de aprender, segundo
desejo de chegar ao que pretende. suas próprias capacidades, sem discriminações e adapta-
ções.
Ao se deixar levar por uma experiência de ensinar dessa A idéia do currículo adaptado está associada à exclusão
natureza, querendo entender o que ela revela e comparti- na inclusão dos alunos que não conseguem acompanhar o
lhando-a com seus colegas, o professor poderá deduzir que progresso dos demais colegas na aprendizagem. Currícu-
certas práticas e aparatos pedagógicos, como os métodos los adaptados e ensino adaptado negam a aprendizagem
especiais e o ensino adaptado para alguns alunos, não cor- diferenciada e individualizada. O ensino escolar é coleti-
respondem ao que se espera deles. Ambos provêm do con- vo e deve ser o mesmo para todos, a partir de um único
trole externo da aprendizagem, de opiniões que circulam currículo. É o aluno que se adapta ao currículo, quando se
e se firmam entre os professores, que são creditadas pelo admitem e se valorizam as diversas formas e os diferentes
conhecimento livresco e generalizado e pelas informações níveis de conhecimento de cada um.
equivocadas que se naturalizam nas escolas e fora delas.
228
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A aprovação e a certificação por terminalidade especí- Outras práticas educacionais inclusivas que derivam
fica, como propõe a LDBEN/1996, não faz sentido, quando dos propósitos de se ensinar à turma toda, sem discrimi-
se entende que a aprendizagem é diferenciada de aluno nações, por vezes são refutadas pelos professores ou acei-
para aluno, constituindo-se em um processo que não pode tas com parcimônia, desconfiança e sob condições. Moti-
obedecer a uma terminalidade prefixada com base na con- vos não faltam para que eles se comportem desse modo.
dição intelectual de alguns. Muitos receberam sua própria formação dentro do modelo
Outra prática usual nas escolas é o ensino dos con- conservador, que foi sendo reforçado dentro das escolas.
teúdos das áreas disciplinares (Matemática, Língua Portu-
guesa, Geografia, Ciências, etc.) como fins em si mesmos e Fonte
tratados de modo fragmentado nas salas de aulas. ROPOLI, Edilene Aparecida. A Educação Especial na
A afirmação da interdisciplinaridade é a afirmação, em Perspectiva da Inclusão Escolar : a escola comum inclusi-
última instância, da disciplinarização: só poderemos de- va / Edilene Aparecida Ropoli [et.al.]. - Brasília : Ministério
senvolver um trabalho interdisciplinar se fizermos uso de da Educação, Secretaria de Educação Especial ; [Fortaleza] :
várias disciplinas. [...] A interdisciplinaridade contribui para Universidade Federal do Ceará, 2010.
minimizar os efeitos perniciosos da compartimentalização,
mas não significaria, de forma alguma, o avanço para um DIVERSIDADE E CURRÍCULO
currículo não disciplinar (GALLO, 2002, p. 28-29).
Um currículo não disciplinar implica um ensino sem as Diversidade e currículo
gavetas das disciplinas, em que se reconhece a multiplici-
dade das áreas do conhecimento e o trânsito livre entre Que indagações o trato pedagógico da diversidade
elas. O ensino não disciplinar não deve ser confundido com traz para o currículo? Como a questão da diversidade tem
os Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacio- sido pensada nos diferentes espaços sociais, principalmen-
nais, os quais não superam a disciplinarização, continuando te, nos movimentos sociais? Como podemos lidar pedago-
a organizar o currículo em disciplinas, pelas quais perpas- gicamente com a diversidade? Esses e outros questiona-
sam assuntos de interesse social, como o meio ambiente,
mentos estão colocados, hoje, pelos educadores e educa-
sexualidade, ética e outros.
doras nas escolas e nos encontros da categoria docente. Ao
Segundo Gallo (2002), transversalidade em educação e
realizarmos essa discussão, a nossa primeira tarefa poderá
currículo não disciplinar tem a ver com processos de ensino
ser o questionamento sobre a presença ou não dessas in-
e de aprendizagem em que o aluno transita pelos saberes
dagações na nossa prática docente, nos projetos pedagó-
escolares, integrando-os e construindo pontes entre eles,
gicos e nas propostas educacionais. Será que existe sensi-
que podem parecer caóticas, mas que refletem o modo
bilidade para a diversidade na educação infantil, especial,
como aprendemos e damos sentido ao novo.
na EJA, no ensino fundamental, médio e profissional? Seria
interessante diagnosticar se a diversidade é apenas uma
As propostas curriculares, quando contextualizadas,
reconhecem e valorizam os alunos em suas peculiaridades preocupação de um grupo de professores(as), de alguns
de etnia, de gênero, de cultura. Elas partem das vidas e coletivos de profissionais no interior das escolas e secreta-
experiências dos alunos e vão sendo tramadas em redes rias de educação ou se já alcançou um lugar de destaque
de conhecimento, que superam a tão decantada sistema- nas preocupações pedagógicas e nos currículos. Ao anali-
tização do saber. O questionamento dessas peculiaridades sarmos o cotidiano da escola, qual é o lugar ocupado pela
e a visão crítica do multiculturalismo trazem uma perspec- diversidade? Ela figura como tema que transversaliza o cur-
tiva para o entendimento das diferenças, a qual foge da rículo? Faz parte do núcleo comum? Ou encontra espaço
tolerância e da aceitação, atitudes estas tão carregadas de somente na parte diversificada? Do ponto de vista cultu-
preconceito e desigualdade. ral, a diversidade pode ser entendida como a construção
O multiculturalismo crítico, segundo Hall (2003), um histórica, cultural e social das diferenças. A construção das
estudioso das questões da pós-modernidade e das dife- diferenças ultrapassa as características biológicas, observá-
renças na atualidade, é uma das concepções do multicultu- veis a olho nu. As diferenças são também construídas pelos
ralismo. Essa concepção questiona a exclusão social e de- sujeitos sociais ao longo do processo histórico e cultural,
mais formas de privilégios e de hierarquias das sociedades nos processos de adaptação do homem e da mulher ao
contemporâneas, indagando sobre as diferenças e apoian- meio social e no contexto das relações de poder. Sendo
do movimentos de resistência dos dominados. assim, mesmo os aspectos tipicamente observáveis, que
O multiculturalismo crítico toma como referência a li- aprendemos a ver como diferentes desde o nosso nasci-
berdade e a emancipação e defende que a justiça, a de- mento, só passaram a ser percebidos dessa forma, porque
mocracia e a equidade não são dadas, mas conquistadas. nós, seres humanos e sujeitos sociais, no contexto da cul-
Difere do multiculturalismo conservador, em que os domi- tura, assim os nomeamos e identificamos. Mapear o trato
nantes buscam assimilar as minorias aos costumes e tradi- que já é dado à diversidade pode ser um ponto de partida
ções da maioria. para novos equacionamentos da relação entre diversidade
e currículo. A primeira constatação talvez seja que, de fato,
não é tarefa fácil para nós, educadores e educadoras, tra-
229
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
balharmos pedagogicamente com a diversidade. Mas não Por isso, a presença da diversidade no acontecer humano
será essa afirmativa uma contradição? Como a educação nem sempre garante um trato positivo dessa diversidade. Os
escolar pode se manter distante da diversidade sendo que diferentes contextos históricos, sociais e culturais, permeados
a mesma se faz presente no cotidiano escolar por meio da por relações de poder e dominação, são acompanhados de
presença de professores/as e alunos/as dos mais diferentes uma maneira tensa e, por vezes, ambígua de lidar com o diver-
pertencimentos étnico-raciais, idades e culturas? Esse de- so. Nessa tensão, a diversidade pode ser tratada de maneira
safio é enfrentado por todos nós que atuamos no campo desigual e naturalizada. Estamos diante de uma terceira tarefa.
da educação, sobretudo, o escolar. Ele atravessa todos os A relação existente entre educação e diversidade coloca-nos
níveis de ensino desde a educação básica (educação in- diante do seguinte desafio: o que entendemos por diversida-
fantil, ensino fundamental e ensino médio) até a educa- de? Que diversidade pretendemos esteja contemplada no cur-
ção superior incluindo a EJA, a Educação Profissional e a rículo das escolas e nas políticas de currículo? Para responder
a essas questões, fazem-se necessários alguns esclarecimentos
Educação Especial. Portanto, as reflexões aqui realizadas
e posicionamentos sobre o que entendemos por diversidade e
aplicam-se aos profissionais que atuam em todos esses
currículo. Seria muito mais simples dizer que o substantivo di-
campos, os quais realizam práticas curriculares variadas. versidade significa variedade, diferença e multiplicidade. Mas
Para avançarmos nessas questões, uma outra tarefa faz- essas três qualidades não se constroem no vazio e nem se li-
se necessária: é preciso ter clareza sobre a concepção de mitam a ser nomes abstratos. Elas se constroem no contexto
educação que nos orienta. Há uma relação estreita entre o social e, sendo assim, a diversidade pode ser entendida como
olhar e o trato pedagógico da diversidade e a concepção um fenômeno que atravessa o tempo e o espaço e se torna
de educação que informa as práticas educativas. A educa- uma questão cada vez mais séria quanto mais complexas vão
ção de uma maneira geral é um processo constituinte da se tornando as sociedades. A diversidade faz parte do aconte-
experiência humana, por isso se faz presente em toda e cer humano. De acordo com Elvira de Souza Lima (2006, p.17),
qualquer sociedade. A escolarização, em específico, é um a diversidade é norma da espécie humana: seres humanos são
dos recortes do processo educativo mais amplo. Durante diversos em suas experiências culturais, são únicos em suas
toda a nossa vida realizamos aprendizagens de naturezas personalidades e são também diversos em suas formas de
mais diferentes. Nesse processo, marcado pela interação perceber o mundo. Seres humanos apresentam, ainda, diversi-
contínua entre o ser humano e o meio, no contexto das dade biológica. Algumas dessas diversidades provocam impe-
relações sociais, é que construímos nosso conhecimento, dimentos de natureza distinta no processo de desenvolvimen-
valores, representações e identidades. Sendo assim, tanto o to das pessoas (as comumente chamadas de “portadoras de
desenvolvimento biológico, quanto o domínio das práticas necessidades especiais”). Como toda forma de diversidade é
hoje recebida na escola, há a demanda óbvia, por um currículo
culturais existentes no nosso meio são imprescindíveis para
que atenda a essa universalidade.
a realização do acontecer humano. Este último, enquanto
As discussões acima realizadas poderão ajudar a apro-
uma experiência que atravessa toda sociedade e toda cul- fundar as reflexões sobre a diversidade no coletivo de educa-
tura, não se caracteriza somente pela unidade do gênero dores, nos projetos pedagógicos e nas diferentes Secretarias
humano, mas, sobretudo, pela riqueza da diversidade. Os de Educação. Afinal, a relação entre currículo e diversidade é
currículos e práticas escolares que incorporam essa visão muito mais complexa. O discurso, a compreensão e o trato
de educação tendem a ficar mais próximos do trato posi- pedagógico da diversidade vão muito além da visão romântica
tivo da diversidade humana, cultural e social, pois a expe- do elogio à diferença ou da visão negativa que advoga que ao
riência da diversidade faz parte dos processos de socializa- falarmos sobre a diversidade corremos o risco de discriminar
ção, de humanização e desumanização. A diversidade é um os ditos diferentes. Que concepções de diversidade permeiam
componente do desenvolvimento biológico e cultural da as nossas práticas, os nossos currículos, a nossa relação com os
humanidade. Ela se faz presente na produção de práticas, alunos e suas famílias e as nossas relações profissionais? Como
saberes, valores, linguagens, técnicas artísticas, científicas, enxergamos a diversidade enquanto cidadãos e cidadãs nas
representações do mundo, experiências de sociabilidade e nossas práticas cotidianas? Essas indagações poderão orientar
de aprendizagem. Todavia, há uma tensão nesse processo. os nossos encontros pedagógicos, os processos de formação
Por mais que a diversidade seja um elemento constituti- em serviço desde a educação infantil até o ensino médio e EJA.
vo do processo de humanização, há uma tendência nas Elas já acompanham há muito o campo da educação especial,
culturas, de um modo geral, de ressaltar como positivos e porém, necessitam ser ampliadas e aprofundadas para com-
preendermos outras diferenças presentes na escola. É nessa
melhores os valores que lhe são próprios, gerando um cer-
perspectiva que privilegiaremos, neste texto, alguns aspectos
to estranhamento e, até mesmo, uma rejeição em relação
acerca da diversidade a fim de dar mais elementos às nossas
ao diferente. É o que chamamos de etnocentrismo. Esse indagações sobre o currículo. São eles:
fenômeno, quando exacerbado, pode se transformar em • diversidade biológica e currículo;
práticas xenófobas (aversão ou ódio ao estrangeiro) e em • diversidade cultural e currículo;
racismo (crença na existência da superioridade e inferiori- • a luta política pelo direito à diversidade;
dade racial). Há uma relação estreita entre o olhar e o tra- • diversidade e conhecimento;
to pedagógico da diversidade e a concepção de educação • diversidade e ética;
que informa as práticas educativas. • diversidade e organização dos tempos e espaços esco-
lares.
230
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Algumas considerações sobre a diversidade biológica ou qual impõe monoculturas. O desenvolvimento ecológico e
biodiversidade socialmente sustentável tem como orientação a construção
da biodemocracia com quem respeita/cultiva a biodiver-
A diversidade pode ser entendida em uma perspectiva sidade. A discussão acima suscita algumas reflexões: que
biológica e cultural. Portanto, o homem e a mulher par- indagações o debate sobre a diversidade biológica traz
ticipam desse processo enquanto espécie e sujeito socio- para os currículos? A nossa abordagem em sala de aula e
cultural. Do ponto de vista biológico, a variedade de seres os nossos projetos pedagógicos sobre educação ambien-
vivos e ambientes em conjunto é chamada de diversidade tal têm explorado a complexidade e os conflitos trazidos
biológica ou biodiversidade. Nessa concepção, entende-se pela forma como a sociedade atual se relaciona com a di-
que a natureza é formada por vários tipos de ambientes e versidade biológica? Como incorporar a discussão sobre a
cada um deles é ocupado por uma infinidade de seres vivos biodiversidade nas propostas curriculares das escolas e das
diferentes que se adaptam ao mesmo. Mesmo os animais redes de ensino? Um primeiro passo poderia ser a reflexão
e plantas pertencentes à mesma espécie apresentam dife- sobre a nossa postura diante desse debate enquanto edu-
renças entre si. Os seres humanos, enquanto seres vivos, cadores e educadoras e partícipes dessa mesma biodiver-
apresentam diversidade biológica, ou seja, mostram dife- sidade.
renças entre si. No entanto, ao longo do processo histórico
e cultural e no contexto das relações de poder estabele- A diversidade cultural: algumas reflexões
cidas entre os diferentes grupos humanos, algumas des-
sas variabilidades do gênero humano receberam leituras O ser humano se constitui por meio de um processo
estereotipadas e preconceituosas, passaram a ser explo- complexo: somos ao mesmo tempo semelhantes (enquan-
radas e tratadas de forma desigual e discriminatória. Por to gênero humano) e muito diferentes (enquanto forma de
isso, ao refletirmos sobre a presença dos seres humanos no realização do humano ao longo da história e da cultura).
contexto da diversidade biológica, devemos entender dois Podemos dizer que o que nos torna mais semelhantes en-
aspectos importantes: a) o ser humano enquanto parte da quanto gênero humano é o fato de todos apresentarmos
diferenças: de gênero, raça/etnia, idades, culturas, expe-
diversidade biológica não pode ser entendido fora do con-
riências, entre outros. E mais: somos desafiados pela pró-
texto da diversidade cultural; b) toda a discussão a que hoje
pria experiência humana a aprender a conviver com as di-
assistimos sobre a preservação, conservação e uso susten-
ferenças. O nosso grande desafio está em desenvolver uma
tável da biodiversidade não diz respeito somente ao uso
postura ética de não hierarquizar as diferenças e entender
que o homem faz do ambiente externo, mas, sobretudo, da
que nenhum grupo humano e social é melhor ou pior do
relação deste como um dos componentes dessa diversida-
que outro. Na realidade, somos diferentes. Ao discutir a di-
de. Ou seja, os problemas ambientais não são considera-
versidade cultural, não podemos nos esquecer de pontuar
dos graves porque afetam o planeta, entendido como algo
que ela se dá lado a lado com a construção de processos
externo, ... Os problemas ambientais não são considerados identitários. Assim como a diversidade, a identidade, en-
graves porque afetam o planeta, entendido como algo ex- quanto processo, não é inata. Ela se constrói em determi-
terno, mas porque afetam a todos nós e colocam em risco nado contexto histórico, social, político e cultural. Jacques
a vida da espécie humana e a das demais espécies. d’Adesky (2001) destaca que a identidade, para se consti-
tuir como realidade, pressupõe uma interação. A ideia que
Nos últimos anos, esses grupos vêm se organizando um indivíduo faz de si mesmo, de seu “eu”, é intermediada
cada vez mais e passam a exigir das escolas e dos órgãos pelo reconhecimento obtido dos outros em decorrência de
responsáveis pelas elas o direito ao reconhecimento dos sua ação.
seus saberes e sua incorporação aos currículos. Além dis-
so, passam a reivindicar dos governos o reconhecimento Assim como a diversidade, nenhuma identidade é
e posse das suas terras, assim como a redistribuição e a construída no isolamento. Ao contrário, ela é negociada
ocupação responsável de terras improdutivas.3 A falta de durante a vida toda dos sujeitos por meio do diálogo, par-
controle e de conhecimento dos fatores de degradação cialmente exterior, parcialmente interior, com os outros.
ambiental, dos desequilíbrios ecológicos de qualquer parte Tanto a identidade pessoal quanto a identidade social são
do sistema, da expansão das monoculturas, a não efetiva- formadas em diálogo aberto. Estas dependem de manei-
ção de uma justa reforma agrária, entre outros fatores, têm ra vital das relações dialógicas com os outros. A diversi-
colaborado para a vulnerabilidade desses e outros grupos. dade cultural varia de contexto para contexto. Nem sem-
Tal situação afeta toda a espécie humana da qual fazemos pre aquilo que julgamos como diferença social, histórica
parte. Coloca em risco a capacidade de sustentabilidade e culturalmente construída recebe a mesma interpretação
proporcionada pela biodiversidade. Dessa forma, os pro- nas diferentes sociedades. Além disso, o modo de ser e
blemas ambientais, políticos, culturais e sociais estão inti- de interpretar o mundo também é variado e diverso. Por
mamente embricados. De acordo com Shiva (2003), citado isso, a diversidade precisa ser entendida em uma perspec-
por Silvério (2006), o desenvolvimento só pode ser um de- tiva relacional. Ou seja, as características, os atributos ou
senvolvimento ecológico e socialmente sustentável, orien- as formas “inventadas” pela cultura para distinguir tanto
tado pela busca de políticas e estratégias de desenvolvi- o sujeito quanto o grupo a que ele pertence dependem
mento alternativo, para romper com o bioimperialismo o do lugar por eles ocupado na sociedade e da relação que
231
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
mantêm entre si e com os outros. Não podemos esquecer suas ações (aquilo que fazemos) e em seus efeitos (o que
que essa sociedade é construída em contextos históricos, ele nos faz). Também pode ser considerado um discurso
socioeconômicos e políticos tensos, marcados por proces- que, ao corporificar narrativas particulares sobre o indiví-
sos de colonização e dominação. Estamos, portanto, no duo e a sociedade, participa As discussões sobre currículo
terreno das desigualdades, das identidades e das diferen- incorporam, com maior ou menor ênfase, debates sobre os
ças. Trabalhar com a diversidade na escola não é um apelo conhecimentos escolares, os procedimentos pedagógicos,
romântico do final do século XX e início do século XXI. Na as relações sociais, os valores e as identidades dos nossos
realidade, a cobrança hoje feita em relação à forma como alunos e alunas.
a escola lida com a diversidade no seu cotidiano, no seu
currículo, nas suas práticas faz parte de uma história mais A produção do conhecimento, assim como sua seleção
ampla. Tem a ver com as estratégias por meio das quais os e legitimação, está transpassada pela diversidade. Não se
grupos humanos considerados diferentes passaram cada trata apenas de incluir a diversidade como um tema nos
vez mais a destacar politicamente as suas singularidades, currículos. As reflexões do autor nos sugerem que é preciso
cobrando que as mesmas sejam tratadas de forma justa e ter consciência, enquanto docentes, das marcas da diversi-
igualitária, desmistificando a ideia de inferioridade que pai- dade presentes nas diferentes áreas do conhecimento e no
ra sobre algumas dessas diferenças socialmente construí- currículo como um todo: ver a diversidade nos processos
das e exigindo que o elogio à diversidade seja mais do que de produção e de seleção do conhecimento escolar. O au-
um discurso sobre a variedade do gênero humano. Ora, tor ainda adverte que as narrativas contidas no currículo
se a diversidade faz parte do acontecer humano, então a trazem embutidas noções sobre quais grupos sociais po-
escola, sobretudo a pública, é a instituição social na qual dem representar a si e aos outros e quais grupos sociais
as diferentes presenças se encontram. Então, como essa podem apenas ser representados ou até mesmo serem to-
instituição poderá omitir o debate sobre a diversidade? E talmente excluídos de qualquer representação. Elas, além
como os currículos poderiam deixar de discuti-la? Mas o disso, representam os diferentes grupos sociais de forma
que entendemos por currículo? Segundo Antonio Flávio B. diferente: enquanto as formas de vida e a cultura de alguns
Moreira e Vera Maria Candau (2006, p.86) existem várias grupos são valorizadas e instituídas como cânone, as de
concepções de currículo, as quais refletem variados posi- outros são desvalorizadas e proscritas. Assim, as narrativas
cionamentos, compromissos e pontos de vista teóricos. As do currículo contam histórias que fixam noções particula-
discussões sobre currículo incorporam, com maior ou me- res de gênero, raça, classe – noções que acabam também
nor ênfase, debates sobre os conhecimentos escolares, os nos fixando em posições muito particulares ao longo des-
procedimentos pedagógicos, as relações sociais, os valores ses eixos (de autoridade).
e as identidades dos nossos alunos e alunas. Os autores se
apoiam em Silva (1999), ao afirmarem que, em resumo, as A perspectiva de currículo acima citada poderá nos
questões curriculares são marcadas pelas discussões sobre ajudar a questionar a noção hegemônica de conhecimento
conhecimento, verdade, poder e identidade. Retomo, aqui, que impera na escola, levando-nos a refletir sobre a tensa e
uma discussão já realizada em outro texto (Gomes, 2006, complexa relação entre esta noção e os outros saberes que
pp.31-2). O currículo não está envolvido em um simples fazem parte do processo cultural e histórico no qual esta-
processo de transmissão de conhecimentos e conteúdos. mos imersos. Podemos indagar que histórias as narrativas
Possui um caráter político e histórico e também constitui do currículo têm contado sobre as relações raciais, os mo-
uma relação social, no sentido de que a produção de co- vimentos do campo, o movimento indígena, o movimento
nhecimento nele envolvida se realiza por meio de uma re- das pessoas com deficiência, a luta dos povos da floresta,
lação entre pessoas. Segundo Tomaz Tadeu da Silva (1995, as trajetórias dos jovens da periferia, as vivências da infân-
p.194) o conhecimento, a cultura e o currículo são produzi- cia (principalmente a popular) e a luta das mulheres? São
dos no contexto das relações sociais e de poder. narrativas que fixam os sujeitos e os movimentos sociais
Esquecer esse processo de produção – no qual estão em noções estereotipadas ou realizam uma interpretação
envolvidas as relações desiguais de poder entre grupos so- emancipatória dessas lutas e grupos sociais? Que grupos
ciais – significa reificar o conhecimento e reificar o currículo, sociais têm o poder de se representar e quais podem ape-
destacando apenas os seus aspectos de consumo e não de nas ser representados nos currículos? Que grupos sociais
produção. Ainda segundo esse autor, mesmo quando pen- e étnico/raciais têm sido historicamente representados de
samos no currículo como uma coisa, como uma listagem forma estereotipada e distorcida? Diante das respostas a
de conteúdos, por exemplo, ele acaba sendo, fundamen- essas perguntas, só nos resta agir, sair do imobilismo e da
talmente, aquilo que fazemos com essa coisa, pois, mesmo inércia e cumprir a nossa função pedagógica diante da di-
uma lista de conteúdos não teria propriamente existência versidade: construir práticas pedagógicas que realmente
e sentido, se não se fizesse nada com ela. Nesse sentido, o expressem a riqueza das identidades e da diversidade cul-
currículo não se restringe apenas a ideias e abstrações, mas tural presente na escola e na sociedade. Dessa forma po-
a experiências e práticas concretas, construídas por sujei- deremos avançar na superação de concepções românticas
tos concretos, imersos em relações de poder. O currículo sobre a diversidade cultural presentes nas várias práticas
pode ser considerado uma atividade produtiva e possui um pedagógicas e currículos.
aspecto político que pode ser visto em dois sentidos: em
232
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A luta política pelo direito à diversidade Estamos, portanto, em um campo político. Cabe des-
tacar, aqui, o papel dos movimentos sociais e culturais nas
Como já foi dito, nem sempre a diversidade entendida demandas em prol do respeito à diversidade no currículo.
como a construção histórica, social e cultural das diferen- Tais movimentos indagam a sociedade como um todo e,
ças implica em um trato igualitário e democrático em rela- enquanto sujeitos políticos, colocam em xeque a escola
ção àqueles considerados diferentes. Muito do que fomos uniformizadora que tanto imperou em nosso sistema de
educados a ver e distinguir como diferença é, na realidade, ensino. Questionam os currículos, imprimem mudanças
uma invenção humana que, ao longo do processo cultural nos projetos pedagógicos, interferem na política educacio-
e histórico, foi tomando forma e materialidade. No pro- nal e na elaboração de leis educacionais e diretrizes curri-
cesso histórico, sobretudo nos contextos de colonização e culares. De acordo com Valter Roberto Silvério (2006, p.09),
dominação, os grupos humanos não passaram a hostilizar a entrada em cena, na segunda metade do século XX, de
e dominar outros grupos simplesmente pelo fato de serem movimentos sociais denominados identitários, provocou
diferentes. Como nos diz Carlos Rodrigues Brandão (1986, transformações significativas na forma como a política pú-
p.08) “por diversas vezes, os grupos humanos tornam o ou- blica educacional era concebida durante a primeira metade
tro diferente para fazê-lo inimigo”. Por isso, a inserção da daquele século. Para este autor, a demanda por reconheci-
diversidade nos currículos implica compreender as causas mento é aquela a partir da qual vários movimentos sociais
políticas, econômicas e sociais de fenômenos como etno- que têm por fundamento uma identidade cultural (negros,
centrismo, racismo, sexismo, homofobia e xenofobia. Falar indígenas, homossexuais, entre outros) passam a reivin-
sobre diversidade e diferença implica posicionar-se contra dicar reconhecimento, quer seja pela ausência deste ou
processos de colonização e dominação. por um reconhecimento considerado inadequado de sua
diferença. Os educandos são os sujeitos centrais da ação
É perceber como, nesses contextos, algumas diferenças educativa. E foram eles, articulados ou não em movimen-
foram naturalizadas e inferiorizadas sendo, portanto, trata- tos sociais, que trouxeram a luta pelo direito à diversidade
das de forma desigual e discriminatória. É entender o impac- como uma indagação ao campo do currículo.
to subjetivo destes processos na vida dos sujeitos sociais e
no cotidiano da escola. É incorporar no currículo, nos livros
Ainda segundo Silvério (2006), um dos aprendizados
didáticos, no plano de aula, nos projetos pedagógicos das
trazidos pelo debate sobre o lugar da diversidade e da dife-
escolas os saberes produzidos pelas diversas áreas e ciências
rença cultural no Brasil contemporâneo é que a sociedade
articulados com os saberes produzidos pelos movimentos
brasileira passa por um processo de (re)configuração do
sociais e pela comunidade. Há diversos conhecimentos pro-
pacto social a partir da insurgência de atores sociais até
duzidos pela humanidade que ainda estão ausentes nos cur-
então pouco visíveis na cena pública. Esse contexto coloca
rículos e na formação dos professores, como, por exemplo, o
um conjunto de problemas e desafios à sociedade como
conhecimento produzido pela comunidade negra ao longo
da luta pela superação do racismo, o conhecimento produ- um todo. No que diz respeito à educação, ou mais preci-
zido pelas mulheres no processo de luta pela igualdade de samente, à política educacional, um dos aspectos signifi-
gênero, o conhecimento produzido pela juventude na vivên- cativos desse novo cenário é a percepção de que a escola
cia da sua condição juvenil, entre outros. É urgente incorpo- é um espaço de sociabilidade para onde convergem dife-
rar esses conhecimentos que versam sobre a produção his- rentes experiências socioculturais, as quais refletem diver-
tórica das diferenças e das desigualdades para superar tratos sas e divergentes formas de inserção grupal na história do
escolares românticos sobre a diversidade. Para tal, todos nós país. Podemos dizer que a sociedade brasileira, a partir da
precisaremos passar por um processo de reeducação do segunda metade do século XX, começa a viver – não sem
olhar. O reconhecimento e a realização dessa mudança do contradições e conflitos - um momento de maior consoli-
olhar sobre o Falar sobre diversidade e diferença implica po- dação de algumas demandas dos movimentos sociais e da
sicionar-se contra processos de colonização e dominação. sua luta pelo direito à diferença.
De acordo com Miguel Arroyo (2006) os educandos
nunca foram esquecidos nas propostas curriculares; a ques- É possível perceber alguns avanços na produção teóri-
tão é com que tipo de olhar eles foram e são vistos. Pode- ca educacional, no Governo Federal, no Ministério da Edu-
mos ir além: com que olhar foram e são vistos os educandos cação, nas Secretarias Estaduais e Municipais de Educação,
nas suas diversas identidades e diferenças? Será que ainda nos projetos pedagógicos das escolas, na literatura infan-
continuamos discursando sobre a diversidade, mas agindo, to-juvenil, na produção de material didático alternativo e
planejando, organizando o currículo como se os alunos fos- acessível em consonância às necessidades educacionais
sem um bloco homogêneo e um corpo abstrato? Como se especiais dos alunos. Entretanto, apesar dos avanços, ainda
convivêssemos com um protótipo único de aluno? Como se existe muito trabalho a fazer. Aos poucos, vêm crescendo
a função da escola, do trabalho docente fosse conformar to- os coletivos de profissionais da educação sensíveis à di-
dos a esse protótipo único? Os educandos são os sujeitos versidade. Muitos deles têm a sua trajetória marcada pela
centrais da ação educativa. E foram eles, articulados ou não inserção nos movimentos sociais, culturais e identitários e
em movimentos sociais, que trouxeram a luta pelo direito à carregam para a vida profissional suas identidades coleti-
diversidade como uma indagação ao campo do currículo. vas e suas diferenças. Há uma nova sensibilidade nas esco-
Esse é um movimento que vai além do pedagógico. las públicas, sobretudo, para a diversidade e suas múltiplas
233
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
dimensões na vida dos sujeitos. Sensibilidade que vem se A cultura não deve ser vista como um tema e nem como
traduzindo em ações pedagógicas de transformação do disciplina, mas como um eixo que orienta as experiências
sistema educacional em um sistema inclusivo, democrático e práticas curriculares. Podemos indagar como a diversida-
e aberto à diversidade. Mas será que essas ações são inicia- de é apresentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
tivas apenas de grupos de educadores(as) sensíveis diante Nacional – LDB nº 9394/96, entendida como a orientação
da diversidade? Ou elas são assumidas como um dos eixos legal para a construção das diretrizes curriculares nacionais
do trabalho das escolas, das propostas políticas pedagógi- dela advindas. No seu artigo 26, a LDB confere liberdade
cas das Secretarias de Educação e do MEC? Elas são legiti- de organização aos sistemas de ensino, desde que eles se
madas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais? Fazem parte orientem a partir de um eixo central por Um bom exercí-
do currículo vivenciado nas escolas e das políticas curri- cio para perceber o caráter indagador da diversidade nos
culares? A resposta a essas questões poderá nos ajudar a currículos seria analisar as propostas e documentos oficiais
compreender o lugar ocupado pela diversidade cultural na com os quais lidamos cotidianamente.
educação escolar. Há uma nova sensibilidade nas escolas Podemos dizer que houve avanço em relação à sensi-
públicas, sobretudo, para a diversidade e suas múltiplas bilidade para com a diversidade incorporada – mesmo que
dimensões na vida dos sujeitos. Sensibilidade que vem se de forma tímida – na Lei. Os movimentos sociais, a refle-
traduzindo em ações pedagógicas de transformação do xão das ciências sociais, as políticas educacionais, os pro-
sistema educacional em um sistema inclusivo, democrático jetos das escolas expressam esse avanço com contornos e
e aberto à diversidade. nuances diferentes. Esse movimento de mudança sugere a
necessidade de aprofundar mais sobre a diversidade nos
Que indagações a diversidade traz aos currículos? currículos. Reconhecer não apenas a diversidade no seu as-
pecto regional e local, mas, sim, a sua presença enquanto
E nas escolas, nos currículos e políticas educacionais, construção histórica, cultural e social que marca a trajetória
como a diversidade se faz presente? Será que os movimen- humana. Rever o nosso paradigma curricular. Ainda esta-
tos sociais conseguem indagar e incorporar mais a diver- mos presos à divisão núcleo comum e parte diversificada
sidade do que a própria escola e a política educacional? presente na lei 5692/71. O peso da rigidez dessa lei marcou
Um bom exercício para perceber o caráter indagador da profundamente a organização e a estrutura das escolas. É
diversidade nos currículos seria analisar as propostas e do- dela que herdamos, sobretudo, a forma fragmentada de
cumentos oficiais com os quais lidamos cotidianamente. como o conhecimento escolar e o currículo ainda são tra-
Certamente, iremos notar que a questão da diversidade tados e a persistente associação entre educação escolar e
aparece, porém, não como um dos eixos centrais da orien- preparo para o mercado de trabalho.
tação curricular, mas, sim, como um tema. E mais: muitas
vezes, a diversidade aparece somente como um tema que Segundo Arroyo (2006), a visão reducionista dessa lei
transversaliza o currículo entendida como pluralidade cul- marcou as décadas de 1970 e 1980 como uma forma hege-
tural. A diversidade é vista e reduzida sob a ótica da cultura. mônica de pensar e organizar o currículo e as escolas e ain-
É certo que a antropologia, hoje, não trabalha mais com a da se faz presente e persistente na visão que muitas escolas
ideia da existência de uma só cultura. As culturas são diver- têm do seu papel social e na visão que docentes e adminis-
sas e variadas. tradores têm de sua função profissional. Nessa perspectiva
curricular, a diversidade está presente na parte diversifica-
A escola e seu currículo não demonstram dificuldade da, a qual os educadores sabem que, hierarquicamente, por
de assumir que temos múltiplas culturas. Essa situação mais que possamos negar, ocupa um lugar menor do que o
possibilita o reconhecimento da cultura docente, do aluno núcleo comum. E é neste último que encontramos os ditos
e da comunidade, a presença da cultura escolar, mas não conhecimentos historicamente acumulados recontextua-
questiona o lugar que a diversidade de culturas ocupa na lizados como conhecimento escolar. Nessa concepção, as
escola. Mais do que múltiplas, as culturas diferem entre si. características regionais e locais, a cultura, os costumes, as
E é possível que, em uma mesma escola, localizada em uma artes, a corporeidade, a sexualidade são “partes que diver-
região específica, que atenda uma determinada comuni- sificam o currículo” e não “núcleos”. Elas podem até mesmo
dade, encontremos no interior da sala de aula alunos que trazer uma certa diversificação, um novo brilho, mas não
portam diferentes culturas locais, as quais se articulam com são consideradas como integrantes do eixo central. O lugar
as do bairro e região. Eles apresentam diferentes formas de não hegemônico ocupado pelas questões sociais, culturais,
ver e conceber o mundo, possuem valores diferenciados, regionais e políticas que compõem a “parte diversificada”
pertencem a diferentes grupos étnico-raciais, diferem-se dos currículos pode ser visto, ao mesmo tempo, como vul-
em gênero, idade e experiência de vida. Por isso, mais do nerabilidade e liberdade. É nesta parte que, muitas vezes,
que uma multiplicidade de culturas, no que se refere ao seu os educadores e as educadoras conseguem ousar, realizar
número, variedade ou “pluralidade”, vivemos no contexto trabalhos mais próximos da comunidade, explorar o poten-
das diferentes culturas, marcadas por singularidades advin- cial criativo, artístico e estético dos alunos e alunas. O lugar
das dos processos históricos, políticos e também culturais não hegemônico ocupado pelas questões sociais, culturais,
por meio dos quais são construídas. Vivemos, portanto, no regionais e políticas que compõem a “parte diversificada”
contexto da diversidade cultural e esta, sim, deve ser um dos currículos pode ser visto, ao mesmo tempo, como vul-
elemento presente e indagador do currículo. nerabilidade e liberdade.
234
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
No entanto, mesmo que reconheçamos a importância ciência moderna na escola brasileira. Estes já conseguiram
desse fôlego dado à diversidade nos documentos oficiais, algumas vitórias satisfatórias. Tal processo vem ocorrendo,
é importante destacar que ele não é suficiente, pois coloca sobretudo, nas propostas mais progressistas de educação
essa discussão em um lugar provisório, transversal e, por escolar tais como: educação do campo, educação indíge-
vezes, marginal. Além disso, tende a reduzir a diversida- na, educação e diversidade étnico-racial, educação inclusi-
de cultural à diversidade regional e não dialoga com os va, educação ambiental e EJA. Estas propostas e projetos
sujeitos, suas vivências e práticas. A incorporação da di- têm se realizado - não sem conflitos - em algumas escolas
versidade no currículo deve ser entendida não como uma públicas e em propostas pedagógicas da educação básica.
ilustração ou modismo. Antes, deve ser compreendida no São experiências de gestão democrática, educação para
campo político e tenso no qual as diferenças são produzi- a diversidade, educação ambiental, educação do campo,
das, portanto, deve ser vista como um direito. Um direito educação quilombola etc. Essas e outras indagações que
garantido a todos e não somente àqueles que são conside- podemos fazer ao conhecimento e sua presença no currí-
rados diferentes. Se a convivência com a diferença já é salu- culo são colocadas principalmente pelos movimentos so-
tar para a reeducação do nosso olhar, dos nossos sentidos, ciais e pelos sujeitos em movimento.
da nossa visão de mundo, quanto mais o aprendizado do
imperativo ético que esse processo nos traz. Conviver com Eles questionam não só o currículo que se efetiva nas
a diferença (e com os diferentes) é construir relações que escolas como, também, os procedimentos e instrumentos
se pautem no respeito, na igualdade social, na igualdade que usamos para avaliar os alunos e a forma como os co-
de oportunidades e no exercício de uma prática e postura nhecimentos são aprendidos e apreendidos. Isso nos impe-
democráticas. le, enquanto educadores a “(...) refletir sobre nossas ações
cotidianas na escola, nossas práticas em sala de aula, sobre
Alguns aspectos específicos do currículo indagados pela a linguagem que utilizamos, sobre aquilo que prejulgamos
diversidade. ou outras situações do cotidiano”. A diversidade coloca
em xeque os processos tradicionais de avaliação escolar.
Diversidade e conhecimento – A antropóloga Paula Nessa perspectiva, os movimentos sociais conquanto sujei-
Meneses (2005), ao analisar o caso da universidade em Mo- tos políticos podem ser vistos como produtores de saber.
çambique e a produção de saberes realizada pelos países Este nem sempre tem sido considerado enquanto tal pelo
que se encontram fora do eixo do Ocidente, traz algumas próprio campo educacional. O não reconhecimento dos sa-
reflexões que podem nos ajudar a indagar a relação entre beres e das práticas sociais no currículo tem resultado no
conhecimento e diversidade no Brasil. Essa autora discute desperdício da experiência social dos(as) educandos(as),
que o saber científico se impôs como forma dominante de dos(as) educadores(as) e da comunidade nas propostas
conhecimento sobre os outros conhecimentos produzidos educacionais (Santos, 2006). ... Certos saberes que não en-
pelas diferentes sociedades e povos africanos. Nesse sen- contram um lugar definido nos currículos oficiais podem
tido, a discussão sobre a relação ou distinção entre conhe- ser compreendidos como uma ausência ativa e, muitas ve-
cimento e saber - e que tem servido aos interesses dos zes, intencionalmente produzida.
grupos sócio raciais hegemônicos - é colocada pela autora A consideração destes e de outros saberes trará novos
no contexto de um debate epistemológico e político. Nesse elementos não só para as análises dos movimentos sociais
mesmo debate, podemos localizar a dicotomia construída e seus processos de produção do conhecimento como
nos currículos entre o saber considerado como “comum a também para a discussão sobre a reorientação curricular. A
todos” e o saber entendido como “diverso”. Guardadas as luta travada em torno da educação do campo, indígena, do
devidas especificidades históricas, sociais, culturais e geo- negro, das comunidades remanescentes de quilombos, das
gráficas que dizem respeito à realidade africana abordada pessoas com deficiência tem desencadeado mudanças na
pela autora acima citada, podemos notar uma situação se- legislação e na política educacional, revisão de propostas
melhante quando refletimos sobre o lugar ocupado pelos curriculares e dos processos de formação de professores.
saberes construídos pelos movimentos sociais e pelos se- Também tem indagado a relação entre conhecimento esco-
tores populares na escola brasileira. Não podemos afirmar lar e o conhecimento produzido pelos movimentos sociais.
que esses saberes são totalmente inexistentes na realidade Ainda inspirados em Boaventura de Sousa Santos (2006),
escolar. Eles existem, porém, muitas podemos dizer que a relação entre currículo e conhecimen-
Se a convivência com a diferença já é salutar para a to nos convida a um exercício epistemológico e pedagó-
reeducação do nosso olhar, dos nossos sentidos, da nossa gico de tornar os saberes produzidos pelos movimentos
visão de mundo, quanto mais o aprendizado do imperativo sociais e pela comunidade em “emergências”, uma vez que
ético que esse processo nos traz. a sua importância social, política e pedagógica, por vezes,
Essa forma de interpretar e lidar com o conhecimen- tem sido colocada no campo das “ausências” resultando no
to se perpetua na teoria e na prática escolar em todos os “desperdício da experiência social e educativa”. Essa é mais
níveis de ensino desde a educação infantil até o ensino uma indagação que podemos fazer aos currículos.
superior. Ao mesmo tempo, existem focos de resistência
que sempre lutaram contra a hegemonia de certos con-
teúdos escolares previamente selecionados e o apogeu da
235
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Diversidade e ética – além de indagar a relação cur- A relação entre ética e diversidade nos coloca diante
rículo e conhecimento, a discussão sobre a diversidade de práticas e políticas voltadas para o respeito às diferen-
permite-nos avançar em um outro ponto do debate: a in- ças e para a superação dos preconceitos e discriminações.
dagação sobre diversidade e ética. Como se pode notar, Tomaremos como exemplo dessas práticas a educação de
assumir a diversidade no currículo implica compreender o pessoas com deficiência, a educação dos negros e a edu-
nosso caminhar no processo de formação humana que se cação do campo. No que se refere à educação de pessoas
realiza em um contexto histórico, social, cultural e político. com deficiência, algumas indagações podem ser feitas:
Nesse percurso construímos as nossas identidades, repre- como vemos o debate sobre a inclusão das crianças com
sentações e valores sobre nós mesmos e sobre os “ou- deficiência na escola regular comum? As escolas regulares
tros”. Construímos relações que podem ou não se pautar comuns introduzem no seu currículo a necessidade de uma
no respeito às diferenças. Estas extrapolam o nível inter- postura ética em relação a essas crianças? Enxergamos es-
pessoal e intersubjetivo, pois são construídas nas relações sas crianças na sua potencialidade humana e criadora ou
sociais. Será que nos relacionamos com os “outros” pre- nos apegamos à particularidade da “deficiência” que elas
sentes na escola, considerando- os como sujeitos sociais apresentam? Esse debate faz parte dos processos de for-
e de direitos? O reconhecimento do aluno e do profes- mação inicial e em serviço? Buscamos conhecer as expe-
sor como sujeitos de direitos é também compreendê-los riências significativas realizadas na perspectiva da educa-
como sujeitos éticos. No entanto, a relação entre ética e ção inclusiva? Nesse momento, faz-se necessário retomar a
diversidade ainda é pouco explorada nas discussões sobre concepção de diversidade que orienta a reflexão presente
o currículo. Segundo Marilena Chauí (1998), do ponto de nesse texto: a diversidade é entendida como a construção
vista dos valores, a ética exprime a maneira como a cultura histórica, cultural e social das diferenças. A construção das
e a sociedade definem para si mesmas o que julgam ser a diferenças ultrapassa as características biológicas, observá-
violência e o crime, o mal e o vício e, como contrapartida, veis a olho nu. Nessa perspectiva, no caso das pessoas com
o que consideram ser o bem e a virtude. Por realizar-se deficiência, interessa reconhecê-las como sujeitos de direi-
como relação intersubjetiva e social a ética não é alheia ou tos e compreender como se construiu e se constrói histori-
indiferente às condições históricas e políticas, econômicas
camente o olhar social e pedagógico sobre a sua diferença.
e culturais da ação moral.
A construção do olhar sobre as pessoas com deficiên-
O reconhecimento do aluno e do professor como su-
cias ultrapassa as características biológicas. Não será sufi-
jeitos de direitos é também compreendê-los como sujeitos
ciente incluir as crianças com deficiência na escola regular
éticos.
comum se também não realizarmos um processo de reedu-
Marilena Chauí (1998) ainda esclarece que embora
cação do olhar e das práticas a fim de superar os estereó-
toda ética seja universal do ponto de vista da sociedade
tipos que pairam sobre esses sujeitos, suas histórias, suas
que a institui (universal porque os seus valores são obri-
potencialidades e vivências. A construção histórica e cul-
gatórios para todos os seus membros), ela está em rela-
tural da deficiência (ou necessidade especial, como ainda
ção com o tempo e a história. Por isso se transforma para
responder a exigências novas da sociedade e da cultura, nomeiam alguns fóruns), enquanto uma diferença que se
pois somos seres históricos e culturais e nossa ação se faz presente nos mais diversos grupos humanos, é permea-
desenrola no tempo. Um bom caminho para repensar as da de diversas leituras e interpretações. Muitas delas estão
propostas curriculares para infância, adolescência, juven- alicerçadas em preconceitos e discriminações denunciados
tude e vida adulta poderá ser uma orientação que tenha historicamente por aqueles(as) que atuam no campo da
como foco os sujeitos da educação. A grande questão é: Educação Especial e pelos movimentos sociais que lutam
como o conhecimento escolar poderá contribuir para o pela garantia dos direitos desses sujeitos. Como todo pro-
pleno desenvolvimento humano dos sujeitos? Não se trata cesso de luta pelo direito à diferença, esse também é tenso,
de negar a importância do conhecimento escolar, mas de marcado por limites e avanços. É nesse campo complexo
abolir o equívoco histórico da escola e da educação de que se encontram as propostas de educação inclusiva. Na
ter como foco prioritariamente os “conteúdos” e não os última década houve vários avanços nas políticas de inclu-
sujeitos do processo educativo. Discutir a diversidade no são. Propostas de educação inclusiva acontecem nas redes
campo da ética significa rever posturas, valores, represen- de educação e nas escolas. São políticas e propostas orien-
tações e preconceitos que permeiam a relação estabele- tadas por concepções mais democráticas de educação.
cida com os alunos, a comunidade e demais profissionais O debate torna-se necessário não apenas no âmbito das
da escola. Segundo Amauri Carlos Ferreira (2006), a ética é propostas, mas também no âmbito das concepções de di-
referência para que a escolha do sujeito seja aceita como ferença, de deficiência e de inclusão. A inclusão de toda di-
um princípio geral que respeite e proteja o ser humano no versidade e, especificamente, das pessoas com deficiência
mundo. Nesse sentido, o ethos, como costume, articula- indaga a escola, os currículos, a sua organização, os rituais
se às escolhas que o sujeito faz ao longo da vida. A ética de enturmação, os processos de avaliação e todo o pro-
fundamenta a moral, ao expressar a sua natureza reflexiva cesso ensino- aprendizagem. Indaga, sobretudo, a cultura
na sistematização das normas. escolar não imune à construção histórica, cultural e social
da diversidade e das diferenças. As práticas significativas
de educação inclusiva se propõem a desconstruir o imagi-
236
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
nário negativo sobre as diferenças, construído no contexto Caminhando na mesma perspectiva de Boaventura
das desigualdades sociais, das práticas discriminatórias e Sousa Santos (2006), podemos dizer que a resposta a essas
da lenta implementação da igualdade de oportunidades questões passa por uma ruptura política e epistemológica.
em nossa sociedade. Os teóricos que investigam a inclusão Do ponto de vista político, estamos desafiados a reinven-
de crianças com deficiência na escola regular comum pos- tar novas práticas pedagógicas e curriculares e abrir um
suem opiniões diversas sobre o tema e o indagam Propos- novo horizonte de possibilidades cartografado por alter-
tas de educação inclusiva acontecem nas redes de educa- nativas radicais às que deixaram de o ser. E epistemoló-
ção e nas escolas. São políticas e propostas orientadas por gico na medida em que realizarmos uma crítica à racio-
concepções mais democráticas de educação. nalidade ocidental, entendida como uma forma de pensar
que se tornou totalizante e hegemônica, e propusermos
Carlos Skliar (2004) questiona: a escola regular tende novos rumos para sua superação a fim de alcançarmos uma
a produzir mecanismos educativos dentro de um marco transformação social. Isso nos leva a indagar em que me-
de diversidade cultural? Ao refletir sobre a estrutura rígida
dida os currículos escolares expressam uma visão restrita
que ainda impera nas escolas, a sua organização temporal,
de conhecimento, ignorando e até mesmo desprezando
sobre o fenômeno da repetência, a exclusão sistemática,
outros conhecimentos, valores, interpretações da realida-
a discriminação com relação às variações linguísticas, ra-
de, de mundo, de sociedade e de ser humano acumulados
ciais, étnicas etc, o autor conclui que esse processo ainda
não se concretizou. Podemos dizer que ele ainda está em pelos coletivos diversos. Entendendo que a questão racial
construção, com maior ou menor amplitude, dependendo permeia toda a história social, cultural e política brasilei-
do contexto político-pedagógico, do alcance das políticas ra e que afeta a todos nós, independentemente do nosso
e práticas de educação inclusiva, da forma como as dife- pertencimento étnico-racial, o movimento negro brasileiro
renças são vistas no interior das escolas e da organização tem feito reivindicações e construído práticas pedagógicas
escolar. Nesse sentido, o debate sobre a inclusão de crian- alternativas, a fim de introduzir essa discussão nos currícu-
ças com deficiência revela que não basta apenas a inclusão los. Ricas experiências têm sido desenvolvidas em vários
física dessas crianças na escola. Há também a necessidade estados e municípios, com apoio ou não das universidades
de uma mudança de lógica, da postura pedagógica, da or- e secretarias estaduais e municipais.
ganização da escola (seus tempos e espaços) e do currículo No entanto, no início do terceiro milênio, o movimen-
escolar para que a educação inclusiva cumpra o seu obje- to negro passou a adotar uma postura mais propositiva,
tivo educativo. realizando intervenções sistemáticas no interior do Estado.
Dessas novas iniciativas, alguns avanços foram consegui-
É preciso também compreender os dilemas e conflitos dos. Um deles é a criação da Secretaria Especial de Políticas
entre as perspectivas clínicas e pedagógicas que acompa- de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Esta secretaria,
nham a história da Educação Especial. E mais: compreender de abrangência nacional, é responsável por várias ações
as discussões e práticas em torno dessa diferença como voltadas para a igualdade racial em conjunto com outros
mais um desafio na garantia do direito à educação e co- ministérios, secretarias estaduais e municipais, universida-
nhecer as várias experiências educacionais inclusivas que des, movimentos sociais e ONG’s. Além da SEPPIR, foi cons-
vêm sendo realizadas em diferentes estados e municípios. tituída no interior da Secretaria de Educação Continuada,
Estas experiências têm revelado a eficiência e os benefí- Alfabetização e Diversidade (SECAD), a Coordenadoria de
cios da educação inclusiva não só para os alunos com de- Diversidade e Inclusão Educacional que tem realizado pu-
ficiência, mas para a escola com um todo. A educação dos blicações, conferências e produção de material didático
negros é um outro campo político e pedagógico que nos voltado para a temática. Nessa nova forma de intervenção
ajuda a avançar na relação entre ética e diversidade e traz
do Movimento Negro e de intelectuais comprometidos
mais indagações ao currículo. Como a escola lida com a
com a luta anti-racista, as escolas de educação básica es-
cultura negra e com as demandas do Movimento Negro?
tão desafiadas a implementar a lei de nº 10.639/03. Esta
Garantir uma educação de qualidade para todos significa,
lei torna obrigatória a inclusão do ensino da História da
também, a nossa inserção na luta anti-racista? Colocamos
a discussão sobre a questão racial no currículo no campo África e da Cultura Afro- Brasileira nos currículos dos es-
da ética ou a entendemos como uma reivindicação dos di- tabelecimentos de ensino públicos e particulares da edu-
tos “diferentes” que só deverá ser feita pelas escolas nas cação básica. Trata-se de uma alteração da lei nº 9394/96,
quais o público atendido é de maioria negra? Afinal, alunos Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, na qual fo-
brancos e índios precisam saber mais sobre a cultura negra, ram incluídos mais três artigos, os quais versam sobre essa
o racismo, a desigualdade racial? De forma semelhante po- obrigatoriedade. Ela também acrescenta que o dia 20 de
demos indagar: e os alunos brancos, negros e quilombolas novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deverá ser
precisam saber mais sobre os povos indígenas? Como fa- incluído no calendário escolar como dia nacional da cons-
remos para articular todas essas dimensões? Precisaremos ciência negra, tal como já é comemorado pelo movimento
de um currículo específico que atenda a cada diferença? Ou negro e por alguns setores da sociedade.
essas discussões podem e devem ser incluídas no currículo
de uma maneira geral?
237
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A partir desta lei, o Conselho Nacional de Educação tempos da vida tão precários? Serão os(as) educandos(as)
aprovou a resolução 01 de 17 de março de 2004, que ins- que terão que se adequar aos tempos rígidos da escola
titui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação ou estes terão que ser repensados em função das diversas
das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e vivências e controle dos tempos dos(as) educandos(as)?
Cultura Afro-Brasileira. Nesse sentido, as escolas da educa- Propostas de escolas e de redes de ensino vêm tentando
ção básica poderão se orientar a partir de um documento minorar essas tensões tomando como critério o respeito
que discute detalhadamente o teor da lei, apresentando à diversidade de vivências do tempo dos(as) alunos(as) e
sugestões de trabalho e de práticas pedagógicas. Os Mo- da comunidade. Nesse ponto tão nuclear, a diversidade in-
vimentos do Campo também têm conseguido, aos poucos, daga os currículos e as escolas: repensar seu ordenamen-
transformar demandas em práticas e políticas educacio- to temporal como exigência da garantia do direito de to-
nais (Arroyo, Caldart e Molina, 2004). Em 2002, o Conselho dos(as) à educação.
Nacional de Educação aprovou as Diretrizes Operacionais
para a Educação Básica nas Escolas do Campo, por meio da As pesquisas educacionais mostram que a rigidez des-
Resolução CNE/CEB n. 01, de 03 de abril de 2002. A insti- se ordenamento é uma das causas do abandono escolar de
tuição das diretrizes é resultado das lutas e reivindicações coletivos sociais considerados como mais vulneráveis. Re-
dos movimentos sociais e organizações que lutam por uma ver esses ordenamentos temporais é uma exigência ética e
educação que contemple a diversidade dos povos que vi- política para a garantia do direito à diversidade. A tendên-
vem no e do campo com suas diversas identidades, tais cia da escola é flexibilizar os tempos somente para aqueles
como, Sem Terra, Pequenos Agricultores, Quilombolas, Po- alunos e alunas estigmatizados como lentos, desacelera-
vos da Floresta, Pescadores, Ribeirinhos, Extrativistas e As- dos, desatentos e/ou com problemas de aprendizagem.
salariados Rurais. A implementação das leis e das diretrizes Quando refletimos sobre a lógica temporal, na perspectiva
acima citadas vem somar às demandas destes e de outros da diversidade cultural e humana, trazemos novas inda-
movimentos sociais que se mantêm atentos à luta por uma gações e problematizações a esse tipo de raciocínio ainda
educação que articule a garantia dos direitos sociais e o tão presente nas escolas. Na realidade, a preocupação da
respeito à diversidade humana e cultural. No entanto, há escola deverá ser dar a todos(as) o devido tempo de apren-
que se indagar como, e se, esses avanços políticos têm sido der, conviver, socializar, formar-se, consequentemente, ter
considerados pelo campo do currículo, pelo currículo que como critério na organização do currículo a produção de
se realiza no cotidiano das escolas e pela ação pedagógica um tempo escolar acolhedor e flexível que se aproxime
de uma maneira geral. cada vez mais da dimensão cíclica e complexa das tempo-
ralidades humanas. O tempo para aprender não é um tem-
Diversidade e organização dos tempos e espaços es- po curto. E, além disso, a escola não é só um espaço/tempo
colares – Um currículo que respeita a diversidade precisa de aprendizagem. Ela é também um espaço sociocultural e
de um espaço/tempo objetivo para ser concretizado. Nesse imprime marcas profundas no nosso processo de forma-
sentido, podemos indagar como a educação escolar tem ção humana. Por isso, a organização escolar não pode ser
equacionado a questão do tempo e do espaço escolar. Eles reduzida a um tempo empobrecido de experiências peda-
são pensados levando em conta os coletivos diversos? O gógicas e de vida. ... A diversidade indaga os currículos e as
tempo/espaço escolar leva em conta os educandos com escolas: repensar seu ordenamento temporal como exigên-
deficiência ou aqueles que dividem o seu tempo entre es- cia da garantia do direito de todos(as) à educação.
cola, trabalho e sobrevivência, os jovens e adultos trabalha-
dores da EJA etc? Os currículos incorporam uma organiza- É preciso desnaturalizar o nosso olhar sobre o tempo
ção espacial e temporal do conhecimento e dos processos escolar. Como nos diz Miguel Arroyo (2004a), o tempo da
de ensino- aprendizagem. A rigidez e a naturalização da escola é conflitivo porque é um tempo instituído, que foi
organização dos tempos e espaços escolares entram em durante mais de um século se cristalizando em calendários,
conflito com a diversidade de vivências dos tempos e es- níveis, séries, semestres, bimestres, rituais de transmissão,
paços dos alunos e das alunas. Segundo Arroyo (2004a), avaliação, reprovação, repetência. Entender a lógica insti-
a escola é também uma organização temporal. Por isso, o tucionalizada do tempo escolar que se impõe sobre os/as
currículo pode ser visto como um ordenamento temporal alunos/as e professores(as) é fundamental para compreen-
do conhecimento e dos processos de ensinar e aprender. A der muitos problemas crônicos da educação escolar. É ain-
organização escolar é ainda bastante rígida, segmentada da este autor que nos diz que a compreensão das nuances
e a rigidez e a naturalização da organização dos tempos e e dos dilemas da construção do tempo da escola poderá
espaços escolares entram em conflito com a diversidade de nos ajudar a corrigir os problemas de evasão, reprovação
vivências dos tempos e espaços dos alunos e das alunas. e repetência que atingem, sobretudo, os setores populares
Como equacionar essas tensões? Que tipo de organi- e os exclui da instituição escolar. Assim como o tempo, o
zação escolar e que ordenamento temporal dos currículos espaço da escola também não é neutro e precisa passar
e dos processos de ensinar-aprender serão os mais ade- por um processo de desnaturalização. O espaço escolar
quados para garantir a permanência e o direito à educação exprime uma determinada concepção e interpretação de
de crianças, adolescentes, jovens e adultos submetidos a sujeito social. Podemos dizer que a escola enquanto insti-
238
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
tuição social se realiza, ao mesmo tempo, como um espaço A articulação entre currículo, tempos e espaços escola-
físico específico e também sociocultural. No que concer- res pressupõe uma nova estrutura de escola que se articu-
ne ao espaço físico da escola, é importante refletir que ele la em torno de uma concepção mais ampla de educação,
exprime uma determinada concepção e interpretação de entendida como pleno desenvolvimento dos(as) educan-
sujeito social. Como será a organização dos nossos espaços dos (as). Só assim os(as) alunos(as) serão realmente consi-
escolares? Será que o espaço da escola é pensado e ressig- derados como o eixo da ação pedagógica e da realização
nificado no sentido de garantir o desenvolvimento de um de toda e qualquer proposta de currículo. Dessa forma, os
senso de liberdade, de criatividade e de experimentação? conteúdos escolares, a distribuição dos tempos e espaços
Será que a forma como organizamos o espaço possibilita estarão interligados a um objetivo central: a formação e
ao aluno e à aluna interagir com o ambiente, arranjar sua vivência sociocultural próprias das diferentes temporali-
sala de aula, alterá-la esteticamente, movimentar-se com dades da vida – infância, pré- adolescência, adolescência,
tranquilidade e autonomia? Ou o espaço entra como um juventude e vida adulta. Em consequência, o tempo es-
elemento de condicionamento e redução cultural de nos- colar poderá ser organizado de maneiras diversas, como,
sas crianças, adolescentes e jovens? por exemplo, em fluxos mais flexíveis, mais longos e mais
atentos às múltiplas dimensões da formação dos sujeitos.
Enquanto espaço sociocultural, a escola participa dos Além disso, os critérios do que seja precedente, do que seja
processos de socialização e possibilita a construção de reprovável/aprovável, fracasso/ sucesso serão redefinidos
redes de sociabilidade a partir da inter-relação entre as a fim de garantir aos alunos e às alunas o direito a uma
experiências escolares e aquelas que construímos em ou- educação que respeite a diversidade cultural e os sujei-
tros espaços sociais, tais como a vida familiar, o trabalho, tos nas suas temporalidades humanas. Nesse processo, os
os movimentos sociais e organizações da sociedade civil instrumentos tradicionais da avaliação escolar e a própria
e as manifestações culturais. Pensar o espaço da escola é concepção de avaliação que ainda imperam na escola tam-
considerar que o mesmo será ocupado, apropriado e alte- bém serão indagados. A avaliação poderá ser realizada de
rado por sujeitos sociais concretos: crianças, adolescentes, forma mais coletiva e com o objetivo de acompanhamento
jovens e adultos. Esses mesmos sujeitos, no decorrer das do processo de construção do conhecimento dos(as) alu-
suas temporalidades humanas, interagem com o espaço e no(as) nas suas múltiplas dimensões humanas e não como
com o tempo de forma diferenciada. Será que essa tem instrumento punitivo ou como forma de “medir o desem-
sido uma preocupação da educação escolar? Será que ao penho escolar”. A avaliação poderá ser realizada de forma
pensarmos a gestão da escola consideramos a organiza- mais coletiva e com o objetivo de acompanhamento do
ção dos espaços escolares como uma questão relevante? processo de construção do conhecimento dos(as) aluno(as)
Será que exploramos o conteúdo histórico e político imer- nas suas múltiplas dimensões humanas e não como instru-
so na arquitetura escolar? O espaço escolar exprime uma mento punitivo ou como forma de “medir o desempenho
determinada concepção e interpretação de sujeito social. escolar”.
Podemos dizer que a escola enquanto instituição social se
realiza, ao mesmo tempo, como um espaço físico específi- Finalizando, é importante considerar que o questiona-
co e também sociocultural. mento às lógicas e práticas cristalizadas e endurecidas de
Compreender a percepção e utilização do espaço pe- organização dos tempos/ espaços escolares faz parte das
las crianças, adolescentes, jovens e adultos é um desafio lutas e conquistas da categoria docente que, historicamen-
para os(as) educadores(as) e uma questão a ser pensada te, vem apontando para a necessidade de uma redefinição
quando reivindicamos uma escola democrática e um cur- e organização da escola a qual inclui, também, a denúncia
rículo que contemple a diversidade. A construção de uma aos tempos mal remunerados, autoritários, extenuantes e
escola democrática implica em repensar as estruturas e alienantes. Portanto, no tempo da escola estão em jogo di-
o funcionamento dos sistemas de ensino como um todo, reitos dos profissionais da educação, dos pais, mães e dos
como, por exemplo, reorganizar o coletivo dos(as) profes- alunos e alunas. O movimento dos(as) trabalhadores(as)
sores(as), criar tempos mais democráticos de formação do- da educação e os movimentos sociais vêm lutando por
cente e dos alunos, alterar a lógica e a utilização do espaço maior controle e alargamento do tempo de escola, assim
escolar e garantir uma justa remuneração aos educadores como os(as) jovens e adultos(as) trabalhadores(as) lutam
e educadoras. Ao discutirmos sobre o espaço, fatalmente, por adequar o tempo rígido do trabalho a um tempo mais
o tempo escolar será questionado. Para construir uma nova flexível de educação. Parafraseando Boaventura de Sousa
forma de organização dos tempos teremos que superar a Santos, ao discutir a relação entre diversidade e organiza-
ideia de um tempo linear, organizado em etapas em ascen- ção dos tempos e espaços escolares, podemos dizer que
são, calcado na ideia de um percurso único para todos e da estamos diante de questões fortes que indagam o currículo
produtividade. É preciso pensar o tempo como processo, das nossas escolas e por isso exigem respostas igualmente
como construção histórica e cultural. fortes e ágeis.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
As teorias tradicionais consideram–se neutras, científicas e de- Esses questionamentos dizem respeito aos conteúdos es-
sinteressadas, as críticas argumentam que não existem teorias neu- colares. Na escola aprendemos a fazer listagens de conteúdos
tras, científicas e desinteressadas, toda e qualquer teoria está impli- e julgamos que eles vão explicar o mundo para os alunos. No
cada em relações de poder. entanto, não estamos conseguindo articular esses conteúdos
As pós-críticas começam a se destacar no cenário nacional, os com a vida dos nossos alunos. Ultimamente utilizamos de
currículos existentes abordam poucas questões que as representam. temas transversais, projetos especiais e há até sugestões de
Encontramos estas que dimensões nos PCNS, temas transversais criar novas disciplinas, como direito do consumidor, educação
(ética, saúde, orientação sexual, meio ambiente, trabalho, consumo fiscal, ecologia, para dar conta desta realidade imediata.
e pluralidade cultural) e em algumas produções literárias no campo Temos dificuldades de assumirmos estas discussões cur-
do multiculturalismo. riculares devido a uma tradição que designava a outros segui-
O que é essencial para qualquer teoria é saber qual conheci- mentos da educação as decisões pedagógicas ou pela falta
mento deve ser ensinado e justificar o porquê desses conhecimen- de tempo, devido as condições do trabalho docente ou pela
tos e não outros devem ser ensinados, de acordo com os conceitos falta de conhecimento das propostas políticas-pedagógicas
que enfatizam. implantadas pelo Governo.
Quantas vezes em nosso cotidiano escolar paramos para refle- Todavia, diante do desafio de ser professor, cabe-nos
tir sobre Teorias do currículo e o Currículo? Quando organizamos entender quais os saberes socialmente relevantes, quais os
um planejamento bimestral, anual pensamos sobre aquela distri- critérios de hierarquização entre esses saberes/disciplinas, as
buição de conteúdo de forma crítica? Discute-se que determinado concepções de educação, de sociedade, de homem que sus-
conteúdo é importante porque é fundamento para a compreensão tentam as propostas curriculares implantadas. Quem são os
daquele que o sucederá no bimestre posterior ou no ano que vem. sujeitos que poderão definir e organizar o currículo? E quais
Alegamos que se o aluno não tiver acesso a determinado conteúdo os pressupostos que defendemos?
não conseguirá entender o seguinte. Somos capazes de perceber O estudo das teorias do currículo não é a garantia de se
em nossas atitudes (na prática docente), na forma como abordamos encontrar as respostas a todos os nossos questionamentos,
os conteúdos selecionados, um posicionamento tradicional ou críti- é uma forma de recuperarmos as discussões curriculares no
co? E por que adotamos tal atitude?
ambiente escolar e conhecer os diferentes discursos pedagó-
Precisamos entender os vínculos entre o currículo e a socieda-
gicos que orientam as decisões em torno dos conteúdos até
de, e saber como os professores/as, a escola, o currículo e os mate-
a “racionalização dos meios para obtê-los e comprovar seu
riais didáticos tenderão a reproduzir a cultura hegemônica e favore-
sucesso” (SACRISTÁN, 2000).
cer mais uns do que outros. Também é certo que essa função pode
ser aceita com passividade ou pode aproveitar espaços relativos de
autonomia, que sempre existem, para exercer a contra-hegemonia, Para nós, professores, os estudos sobre as teorias do
como afirma Apple. Essa autonomia pode se refletir nos conteúdos poderão responder aos questionamentos da comunidade
selecionados, mas principalmente se define na forma como os con- escolar como: a valorização dos professoras/es, o baixo ren-
teúdos são abordados no ensino. dimento escolar, dificuldades de aprendizagem, desinteresse,
A forma como trabalhamos os conteúdos em sala de aula in- indisciplina e outras dimensões. Poderão, sobretudo, mostrar
dica nosso entendimento dos conhecimentos escolares. Demonstra que os Currículos não são neutros. Eles são elaborados com
nossa autonomia diante da escolha. orientações políticas e pedagógicas. Ou seja, é produto de
SARUP (apud SACRISTÁN, 2000) distingue a perspectiva crítica grupos sociais que disputam o poder.
da tradicional da seguinte forma: As reformulações curriculares atuais promovem discus-
A finalidade do currículo crítico é o inverso do currículo tradicio- sões entre posições diferentes, há os que defendem os cur-
nal; este último tende a “naturalizar” os acontecimentos; aquele tenta rículos por competências, os científicos, os que enfatizam a
obrigar os alunos/a a que questione as atitudes e comportamentos cultura, a diversidade, os mais críticos à ciência moderna, en-
que considera “naturais “. O currículo crítico oferece uma visão da fim, teorias tradicionais, críticas e pós-críticas disputam esse
realidade como processo mutante contínuo, cujo agentes são os se- espaço cheio de conflitos, Como afirma Silva (2005), o Currí-
res humanos, os quais, portanto, estão em condição de realizar sua culo é um território político contestado.
transformação. A função do currículo não é “refletir “uma realidade Diante desse complexo mundo educacional de tendên-
fixa, mas pensar sobre a realidade social; é demonstrar que o conhe- cias, teorias, ideologias e práticas diversas, cabe-nos estudar
cimento e os fatos sociais são produtos históricos e, consequente- para conhecê-las, podendo assim assumir uma conduta críti-
mente, que poderiam ter sido diferentes (e que ainda podem sê-lo). ca na ação docente.
É por isso que Albuquerque /Kunzle (2006) perguntam: William Pinar (apud LOPES, 2006), estudioso do campo
Quando pensamos o currículo tomamos a ideia de cami- do currículo, afirma:
nho: que caminho vamos percorrer ao longo deste tempo es- [...] estudar teoria de currículo, é importante na medida em
colar? Que seleções vamos fazer? Que seleções temos feito? E que oferece aos professores de escolas públicas, a compreensão
mais: em que medida nós, professoras/es e pedagogas/os in- dos diversos mundos em que habitamos e, especialmente a re-
terferimos nesta seleção? Qual é o conhecimento com que a es- tórica política que cerca as propostas educacionais e os conteú-
cola deve trabalhar? Quando escolhemos um livro didático, ele dos curriculares. Os professores de escolas (norte americanas)
traz desenhado o currículo oficial: o saber legitimado, o saber têm dificuldades em resistir a modismos educacionais passa-
reconhecido que deve ser passado ás novas gerações. Porque geiros, porque, em parte não lembram das teorias e da história
isso é que o currículo faz: uma seleção dentro da cultura daquilo do currículo, porque muito frequentemente não as estudaram
que se considera relevante que as novas gerações aprendam. [...]
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação Buscar uma nova organização para a escola constitui
intencional, com um sentido explícito, com um compromis- uma ousadia para educadores, pais, alunos e funcionários.
so definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagó- Para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um re-
gico da escola é, também, um projeto político por estar ferencial que fundamente a construção do projeto políti-
intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com copedagógico. A questão é, pois, saber a qual referencial
os interesses reais e coletivos da população majoritária. E temos que recorrer para a compreensão de nossa prática
político no sentido de compromisso com a formação do pedagógica. Nesse sentido, temos que nos alicerçar nos
cidadão para um tipo de sociedade. “A dimensão política pressupostos de uma teoria pedagógica crítica viável, que
se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto práti- parta da prática social e esteja compromissada em solucio-
ca especificamente pedagógica”. Na dimensão pedagógica nar os problemas da educação e do ensino de nossa esco-
reside a possibilidade da efetivação da intencionalidade da la; uma teoria que subsidie o projeto políticopedagógico.
escola, que é a formação do cidadão participativo, respon- Por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve
sável, compromissado, crítico e criativo. É pedagógico no estar ligada aos interesses da maioria da população. Faz-
sentido de definir as ações educativas e as características se necessário, também, o domínio das bases teóricometo-
necessárias às escolas para cumprir seus propósitos e sua dológicas indispensáveis à concretização das concepções
intencionalidade. assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas,
Político e pedagógico têm, assim, uma significação in- (...) as novas formas têm que ser pensadas em um contexto
dissociável. Nesse sentido é que se deve considerar o pro- de luta, de correlações de força - às vezes favoráveis, às
jeto políticopedagógico como um processo permanente vezes desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da
de reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca escola”, com apoio dos professores e pesquisadores. Não
de alternativas viáveis à efetivação de sua intencionalidade, poderão ser inventadas por alguém, longe da escola e da
que “não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva”. luta da escola.
Por outro lado, propicia a vivência democrática necessária Isso significa uma enorme mudança na concepção do
para a participação de todos os membros da comunidade projeto políticopedagógico e na própria postura da admi-
nistração central. Se a escola se nutre da vivência cotidiana
escolar e o exercício da cidadania. Pode parecer complica-
de cada um de seus membros, coparticipantes de sua or-
do, mas se trata de uma relação recíproca entre a dimensão
ganização do trabalho pedagógico à administração central,
política e a dimensão pedagógica da escola.
seja o Ministério da Educação, a Secretaria de Educação Es-
O projeto políticopedagógico, ao se constituir em pro-
tadual ou Municipal, não compete a eles definir um modelo
cesso democrático de decisões, preocupa-se em instaurar
pronto e acabado, mas sim estimular inovações e coorde-
uma forma de organização do trabalho pedagógico que
nar as ações pedagógicas planejadas e organizadas pela
supere os conflitos, buscando eliminar as relações compe-
própria escola. Em outras palavras, as escolas necessitam
titivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina
receber assistência técnica e financeira decidida em con-
do mando impessoal e racionalizado da burocracia que
junto com as instâncias superiores do sistema de ensino.
permeia as relações no interior da escola, diminuindo os Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica
efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as de organização das instâncias superiores, implicando uma
diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. mudança substancial na sua prática.
Desse modo, o projeto políticopedagógico tem a ver Para que a construção do projeto políticopedagógico
com a organização do trabalho pedagógico em dois níveis: seja possível não é necessário convencer os professores, a
como organização de toda a escola e como organização equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou mobi-
da sala de aula, incluindo sua relação com o contexto so- lizá-los de forma espontânea, mas propiciar situações que
cial imediato, procurando preservar a visão de totalidade. lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer peda-
Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto gógico de forma coerente.
políticopedagógico busca a organização do trabalho peda- O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não
gógico da escola na sua globalidade. tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e
A principal possibilidade de construção do projeto po- na ótica do poder centralizador que dita as normas e exer-
líticopedagógico passa pela relativa autonomia da escola, ce o controle técnico burocrático. A luta da escola é para a
de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isso descentralização em busca de sua autonomia e qualidade.
significa resgatar a escola como espaço público, como lu- Do exposto, o projeto políticopedagógico não visa
gar de debate, do diálogo fundado na reflexão coletiva. simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a uma
Portanto, é preciso entender que o projeto políticopeda- qualidade em todo o processo vivido. Vale acrescentar, ain-
gógico da escola dará indicações necessárias à organização da, que a organização do trabalho pedagógico da escola
do trabalho pedagógico que inclui o trabalho do professor tem a ver com a organização da sociedade. A escola nessa
na dinâmica interna da sala de aula, ressaltado anterior- perspectiva é vista como uma instituição social, inserida na
mente. sociedade capitalista, que reflete no seu interior as deter-
minações e contradições dessa sociedade.
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A construção do projeto políticopedagógico, para ges- A ideia de autonomia está ligada à concepção emanci-
tar uma nova organização do trabalho pedagógico, passa padora da educação. Para ser autônoma, a escola não pode
pela reflexão anteriormente feita sobre os princípios. Acre- depender dos órgãos centrais e intermediários que definem
ditamos que a análise dos elementos constitutivos da orga- a política da qual ela não passa de executora. Ela concebe seu
nização trará contribuições relevantes para a construção do projeto políticopedagógico e tem autonomia para executá-lo
projeto políticopedagógico. e avaliá-lo ao assumir uma nova atitude de liderança, no sen-
Pelo menos sete elementos básicos podem ser apon- tido de refletir sobre suas finalidades sociopolíticas e culturais.
tados: a) as finalidades da escola; b) a estrutura organiza-
cional; c) o currículo; d) o tempo escolar; e) o processo de b) A estrutura organizacional
decisão; f) as relações de trabalho; g) a avaliação.
A escola, de forma geral, dispõe basicamente de duas
a) As finalidades da escola estruturas: as administrativas e as pedagógicas. As primeiras
A escola persegue finalidades. É importante ressaltar asseguram, praticamente, a locação e a gestão de recursos
que os educadores precisam ter clareza das finalidades de humanos, físicos e financeiros. Fazem parte, ainda, das estru-
sua escola. Para tanto, há necessidade de refletir sobre a turas administrativas todos os elementos que têm uma forma
ação educativa que a escola desenvolve com base nas fi- material, como, por exemplo, a arquitetura do edifício escolar
nalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades da e a maneira como ele se apresenta do ponto de vista de sua
escola referem-se aos efeitos intencionalmente pretendi- imagem: equipamentos e materiais didáticos, mobiliário, dis-
dos e almejados. tribuição das dependências escolares e espaços livres, cores,
- Das finalidades estabelecidas na legislação em vigor, limpeza e saneamento básico (água, esgoto, lixo e energia
o que a escola persegue, com maior ou menor ênfase? elétrica).
- Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a ação
de preparar culturalmente os indivíduos para uma melhor das administrativas, “organizam as funções educativas para
compreensão da sociedade em que vivem? que a escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas fina-
- Como a escola procura atingir sua finalidade política lidades”.
e social, ao formar o indivíduo para a participação política As estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmen-
que implica direitos e deveres da cidadania? te, às interações políticas, às questões de ensino e aprendiza-
- Como a escola atinge sua finalidade de formação pro- gem e às de currículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se
fissional, ou melhor, como ela possibilita a compreensão do todos os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho
papel do trabalho na formação profissional do aluno? pedagógico.
- Como a escola analisa sua finalidade humanística, ao A análise da estrutura organizacional da escola visa iden-
procurar promover o desenvolvimento integral da pessoa? tificar quais estruturas são valorizadas e por quem, verificando
As questões levantadas geram respostas e novas inda- as relações funcionais entre elas. É preciso ficar claro que a es-
gações por parte da direção, de professores, funcionários, cola é uma organização orientada por finalidades, controlada
alunos e pais. O esforço analítico de todos possibilitará a e permeada pelas questões do poder.
identificação de quais finalidades precisam ser reforçadas, A análise e a compreensão da estrutura organizacional
quais as que estão relegadas e como elas poderão ser deta- da escola significam indagar sobre suas características, seus
lhadas de acordo com as áreas do conhecimento, das dife- polos de poder, seus conflitos - O que sabemos da estrutura
rentes disciplinas curriculares, do conteúdo programático. pedagógica? Que tipo de gestão está sendo praticada? O que
É necessário decidir, coletivamente, o que se quer re- queremos e precisamos mudar na nossa escola? Qual é o or-
forçar dentro da escola e como detalhar as finalidades para ganograma previsto? Quem o constitui e qual é a lógica inter-
atingir a almejada cidadania. na? Quais as funções educativas predominantes? Como são
Alves afirma que é preciso saber se a escola dispõe de vistas a constituição e a distribuição do poder? Quais os fun-
alguma autonomia na determinação das finalidades e dos damentos regimentais? -, enfim, caracterizar do modo mais
objetivos específicos. O autor enfatiza: “Interessará reter se preciso possível a estrutura organizacional da escola e os pro-
as finalidades são impostas por entidades exteriores ou se blemas que afetam o processo de ensino e aprendizagem, de
são definidas no interior do ‘território social’ e se são de- modo a favorecer a tomada de decisões realistas e exequíveis.
finidas por consenso ou por conflito ou até se são matéria Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os
ambígua, imprecisa ou marginal” (p. 19). pressupostos que embasam a estrutura burocrática da escola
Essa colocação está sustentada na ideia de que a es- que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a mo-
cola deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o dificar a realidade social. Para poderem realizar um ensino de
trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educativa. qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que rom-
Nesse sentido, ela procura alicerçar o conceito de autono- per com a atual forma de organização burocrática que regula
mia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar o trabalho pedagógico - pela conformidade às regras fixadas,
de lado os outros níveis da esfera administrativa educacio- pela obediência a leis e diretrizes emanadas do poder central
nal. Nóvoa nos diz que a autonomia é importante para “a e pela cisão entre os que pensam e executam -, que conduz
criação de uma identidade da escola, de um ethos científi- à fragmentação e ao consequente controle hierárquico que
co e diferenciador, que facilite a adesão dos diversos atores enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a ordem
e a elaboração de um projeto próprio” (1992, p. 26). e a disciplina.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao Como alertaram Domingos et al., “cada conteúdo deixa de
avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e ter significado por si só, para assumir uma importância relativa e
vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelan- passar a ter uma função bem determinada e explícita dentro do
do a realidade escolar, estabelecendo relações, definindo fi- todo de que faz parte”.
nalidades comuns e configurando novas formas de organizar O quarto ponto refere-se à questão do controle social, já
as estruturas administrativas e pedagógicas para a melhoria que o currículo formal (conteúdos curriculares, metodologia e
do trabalho de toda a escola na direção do que se preten- recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica) implica con-
de. Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos trole. Por outro lado, o controle social é instrumentalizado pelo
disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade currículo oculto, entendido este como as “mensagens transmi-
escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecen- tidas pela sala de aula e pelo ambiente escolar”. Assim, toda a
do, no coletivo, seu projeto políticopedagógico, propiciando gama de visões do mundo, as normas e os valores dominantes
consequentemente a construção de uma nova forma de or- são passados aos alunos no ambiente escolar, no material didá-
ganização. tico e mais especificamente por intermédio dos livros didáticos,
na relação pedagógica, nas rotinas escolares. Os resultados do
c) O currículo currículo oculto “estimulam a conformidade a ideais nacionais e
Currículo é um importante elemento constitutivo da or- convenções sociais ao mesmo tempo que mantêm desigualda-
ganização escolar. Currículo implica, necessariamente, a inte- des socioeconómicas e culturais”.
ração entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle social
por um referencial teórico que o sustente. que têm permeado as principais tendências do pensamento
Currículo é uma construção social do conhecimento, curricular, procurou defender o ponto de vista de que controle
pressupondo a sistematização dos meios para que essa cons- social não envolve, necessariamente, orientações conservado-
trução se efetive; é a transmissão dos conhecimentos histo- ras, coercitivas e de conformidade comportamental. De acordo
ricamente produzidos e as formas de assimilá-los; portanto, com o autor, subjacente ao discurso curricular crítico, encontra-
produção, transmissão e assimilação são processos que com- se uma noção de controle social orientada para a emancipação.
põem uma metodologia de construção coletiva do conheci- Faz sentido, então, falar em controle social comprometido com
mento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito. Nesse fins de liberdade que deem ao estudante uma voz ativa e crítica.
sentido, o currículo refere-se à organização do conhecimento Com base em Aronowitz e Giroux (1985), o autor chama a
escolar. atenção para o fato de que a noção crítica de controle social não
O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera pode deixar de discutir “o contexto apropriado ao desenvolvi-
simplificação do conhecimento científico, que se adequaria à mento de práticas curriculares que favoreçam o bom rendimen-
faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí a necessidade de to e a autonomia dos estudantes e, em particular, que reduzam
promover, na escola, uma reflexão aprofundada sobre o pro- os elevados índices de evasão e repetência de nossa escola de
cesso de produção do conhecimento escolar, uma vez que ele primeiro grau”.
é, ao mesmo tempo, processo e produto. A análise e a com- A noção de controle social na teoria curricular crítica é mais
preensão do processo de produção do conhecimento escolar um instrumento de contestação e resistência à ideologia veicu-
ampliam a compreensão sobre as questões curriculares. lada por intermédio dos currículos, tanto do formal quanto do
Na organização curricular é preciso considerar alguns oculto.
pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não é um Orientar a organização curricular para fins emancipatórios
instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e a escola implica, inicialmente, desvelar as visões simplificadas de socie-
precisa identificar e desvelar os componentes ideológicos do dade, concebida como um todo homogêneo, e de ser huma-
conhecimento escolar que a classe dominante utiliza para a no, como alguém que tende a aceitar papéis necessários à sua
manutenção de privilégios. A determinação do conhecimento adaptação ao contexto em que vive. Controle social, na visão
escolar, portanto, implica uma análise interpretativa e crítica, crítica, é uma contribuição e uma ajuda para a contestação e a
tanto da cultura dominante, quanto da cultura popular. O cur- resistência à ideologia veiculada por intermédio dos currículos
rículo expressa uma cultura. escolares.
O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser se-
parado do contexto social, uma vez que ele é historicamente d) O tempo escolar
situado e culturalmente determinado. O tempo é um dos elementos constitutivos da organização
O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o tempo:
curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas insti- determina o início e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as
tuições têm sido orientadas para a organização hierárquica férias, os períodos escolares em que o ano se divide, os feriados
e fragmentada do conhecimento escolar. Com base em Ber- cívicos e religiosos, as datas reservadas à avaliação, os períodos
nstein (1989), chamo a atenção para o fato de que a escola para reuniões técnicas, cursos etc.
deve buscar novas formas de organização curricular, em que O horário escolar, que fixa o número de horas por semana e
o conhecimento escolar (conteúdo) estabeleça uma relação que varia em razão das disciplinas constantes na grade curricu-
aberta e inter-relacione-se em torno de uma ideia integrado- lar, estipula também o número de aulas por professor. Tal como
ra. Esse tipo de organização curricular, o autor denomina de afirma Enguita: “Às matérias tornam-se equivalentes porque
currículo-integração. O currículo integração, portanto, visa re- ocupam o mesmo número de horas por semana, e são vistas
duzir o isolamento entre as diferentes disciplinas curriculares, como tendo menor prestígio se ocupam menos tempo que as
procurando agrupá-las num todo mais amplo. demais”.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Gestão educacional decorrente da concepção do Aqui no Brasil, Padilha explica que “Durante o regime
projeto políticopedagógico autoritário (1964-1985), eles foram utilizados com um sen-
tido autocrático. Toda decisão política era centralizada e
A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho, justificada tecnicamente por tecnocratas à sombra do po-
de sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa der. ” Kuenzer complementa a citação acima explicando
criar condições para gerar uma outra forma de organização que “A ideologia do Planejamento então oferecida a todos,
do trabalho pedagógico. no entanto, escondia essas determinações político-econô-
A reorganização da escola deverá ser buscada de den- micas mais abrangentes e decididas em restritos centros
tro para fora. O fulcro para a realização dessa tarefa será o de poder. ”
empenho coletivo na construção de um projeto político- O regime autoritário fez com que muitos educadores
pedagógico, e isso implica fazer rupturas com o existente criassem uma resistência com relação à elaboração de pla-
para avançar. nos, uma vez que esses planos eram supervisionados ou
É preciso entender o projeto políticopedagógico da elaborados por técnicos que delimitavam o que professor
escola como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto, ela deveria ensinar, priorizando as necessidades do regime po-
precisa de um tempo razoável de reflexão e ação necessá- lítico. “Num regime político de contenção, o planejamento
rio à consolidação de sua proposta. passa a ser bandeira altamente eficaz para o controle e or-
A construção do projeto políticopedagógico requer denamento de todo o sistema educativo”.
continuidade das ações, descentralização, democratização Apesar de se ter claro a importância do planejamento
do processo de tomada de decisões e instalação de um na formação, Fusari (2008) explica que:
processo coletivo de avaliação de cunho emancipatório. “Naquele momento, o Golpe Militar de 1964 já implan-
Finalmente, é importante destacar que o movimento tava a repressão, impedindo rapidamente que um trabalho
de luta e resistência dos educadores é indispensável para mais crítico e reflexivo, no qual as relações entre educação
ampliar as possibilidades e apressar as mudanças que se e sociedade pudessem ser problematizadas, fosse vivencia-
fazem necessárias dentro e fora dos muros da escola. das pelos educadores, criando, assim, um “terreno” propí-
cio para o avanço daquela que foi denominada “tendência
tecnicista” da educação escolar. ”
Referência:
Mas não se pode pensar que o regime político era o
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (Org.) Projeto político-
único fator que influenciava no pensamento com relação à
pedagógico da escola: uma construção possível. Papirus,
elaboração dos planos de aulas; as teorias da administra-
2002.
ção também refletiam no ato de planejar do professor, uma
vez que essas teorias traziam conceitos que iriam auxiliar
PLANO DE ENSINO, O PLANO DE AULA E A GESTÃO
na definição do tipo de organização educacional que seria
DA SALA DE AULA adotado por uma determinada instituição.
No início da história da humanidade, o planejamento
“O planejar é uma realidade que acompanhou a traje- era utilizado sem que as pessoas percebessem sua impor-
tória histórica da humanidade. O homem sempre sonhou, tância, porém com a evolução da vida humana, principal-
pensou e imaginou algo na sua vida”. mente no setor industrial e comercial, houve a necessidade
Segundo Moretto, percebe-se que o planejamento é adaptá-lo para os diversos setores. Nas escolas ele também
fundamental na vida do homem, porém no contexto es- era muito utilizado; a princípio, o planejamento era uma
colar ele não tem tanta importância assim: “o planejamen- maneira de controlar a ação dos professores de modo a
to no contexto escolar não parece ter a importância que não interferir no regime político da época. Hoje o planeja-
deveria ter”. Este fato acontece porque o planejamento só mento já não tem a função reguladora dentro das escolas,
passou a ser bem definido a partir do século passado, com ele serve como uma ferramenta importantíssima para or-
a revolução comunista que construiu a União Soviética. ganizar e subsidiar o trabalho do professor, assunto este
No mundo capitalista, segundo Gandin (2008), o pla- que será abordado mais detalhadamente nos próximos ca-
nejamento passa a ser utilizado pelo governo, após a se- pítulos desta pesquisa.
gunda guerra mundial, para a resolução de questões mais
complexas. A adoção do planejamento pelo governo teve Planejamento, Plano (s), Projeto (s) – Compreensão Ne-
uma adesão tão grande que as outras instituições se sen- cessária
tiram motivadas e passaram a se preocupar com a impor-
tância do planejamento, uma vez que ele visava a suprir as “Hoje vivemos a segunda grande onda do planejamen-
necessidades de um comércio em ascensão que exigia uma to. A primeira entra em crise na década de 70. A década
nova organização. Com isso pode-se dizer que foi a partir de 80, embora, na prática, se apresente como uma grande
desta época que o planejamento se universalizou. resistência ao planejamento, contém os mais efetivos anos
Na educação esta realidade também não poderia ter em termos da compreensão da necessidade, do estudo, do
sido diferente, uma vez que, segundo Kuenzer “o planeja- esclarecimento e da confirmação desta ferramenta. ”.
mento de educação também é estabelecido a partir das A citação demonstra a dimensão da necessidade de se
regras e relações da produção capitalista, herdando, por- compreender a importância do ato de planejar, não apenas
tanto, as formas, os fins, as capacidades e os domínios do no nosso dia-a-dia, mas principalmente, no dia-a-dia de
capitalismo monopolista do Estado. ” sala de aula.
249
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Para Moretto (2007), planejar é organizar ações. Essa é “Qualquer atividade, para ter sucesso, necessita ser
uma definição simples, mas que mostra uma dimensão da planejada. O planejamento é uma espécie de garantia dos
importância do ato de planejar, uma vez que o planejamento resultados. E sendo a educação, especialmente a educação
deve existir para facilitar o trabalho tanto do professor como escolar, uma atividade sistemática, uma organização da si-
do aluno. tuação de aprendizagem, ela necessita evidentemente de
O planejamento deve ser uma organização das ideias e planejamento muito sério. Não se pode improvisar a edu-
informações. cação, seja ela qual for o seu nível. ”
Gandin (2008) sugere que se pense no planejamento
como uma ferramenta para dar eficiência à ação humana, ou Professor x Plano de Aula: Inimigos Ou Aliados?
seja, deve ser utilizado para a organização na tomada de de-
cisões e para melhor entender isto precisa-se compreender “A educação, a escola e o ensino são os grandes meios
alguns conceitos, tais como: planejar, planejamento e planos que o homem busca para poder realizar o seu projeto de
que segundo Menegolla & Sant’Anna (2001) “são palavras so- vida. Portanto, cabe à escola e aos professores o dever de
fisticadamente pedagógicas e que “rolam” de boca em boca, planejar a sua ação educativa para construir o seu bem vi-
no dia-a-dia da vida escolar. ” Porém, para Padilha (2003, p. ver.
29), estes termos têm sido compreendidos de muitas manei- A citação acima deixa clara a importância tanto da es-
ras. Dentre elas destaca-se: cola como dos professores na formação humana; por este
- Planejamento: motivo todas as ações educativas devem ter como pers-
“É um instrumento direcional de todo o processo edu- pectiva a construção de uma sociedade consciente de seus
cacional, pois estabelece e determina as grandes urgências, direitos e obrigações, sejam eles individuais ou coletivos.
indica as prioridades básicas, ordena e determina todos os Infelizmente, apesar do planejamento da ação educa-
recursos e meios necessários para a consecução de grandes tiva ser de suma importância, existem professores que são
finalidades, metas e objetivos da educação. ” negligentes na sua prática educativa, improvisando suas
- Plano Nacional de Educação: atividades. Em consequência, não conseguem alcançar os
“Nele se reflete a política educacional de um povo, num
objetivos quanto à formação do cidadão.
determinado momento histórico do país. É o de maior abran-
“A ausência de um processo de planejamento de ensi-
gência porque interfere nos planejamentos feitos no nível na-
no nas escolas, aliado às demais dificuldades enfrentadas
cional, estadual e municipal. ”
pelos docentes do seu trabalho, tem levado a uma con-
- Plano de Curso:
tínua improvisação pedagógica das aulas. Em outras pa-
“O plano de curso é a sistematização da proposta geral de
lavras, aquilo que deveria ser uma prática eventual acaba
trabalho do professor naquela determinada disciplina ou área
sendo uma “regra”, prejudicando, assim, a aprendizagem
de estudo, numa dada realidade. Pode ser anual ou semestral,
dependendo da modalidade em que a disciplina é oferecida. ” dos alunos e o próprio trabalho escolar como um todo. ”
- Plano de Aula: Para Moretto (2007) “Há, ainda, quem pense que sua
“É a sequência de tudo o que vai ser desenvolvido em um experiência como professor seja suficiente para ministrar
dia letivo. (...) é a sistematização de todas as atividades que suas aulas com competência. ” Professores com este tipo
se desenvolvem no período de tempo em que o professor e de pensamento desconhecem a função do planejamento
o aluno interagem, numa dinâmica de ensinoaprendizagem. ” bem como sua importância. Simplesmente estão preocu-
- Plano de Ensino: pados em ministrar conteúdos, desconsiderando a reali-
“É a previsão dos objetivos e tarefas do trabalho docente dade e a herança cultural existente em cada comunidade
para um ano ou um semestre; é um documento mais elabora- escolar bem como suas necessidades.
do, no qual aparecem objetivos específicos, conteúdos e de- Outro aspecto que vem influenciando o ato de planejar
senvolvimento metodológico. ” dos professores são os materiais didáticos ou as instruções
- Projeto Político Pedagógico: metodológicas para os professores que acompanham estes
“É o planejamento geral que envolve o processo de re- materiais. Na presente pesquisa não se pretende discutir
flexão, de decisões sobre a organização, o funcionamento e a se eles são bons ou ruins e sim a forma com a qual estão
proposta pedagógica da instituição. É um processo de orga- sendo utilizados pelos professores. O que acontece é que o
nização e coordenação da ação dos professores. Ele articula professor faz um apanhado geral dos conteúdos dispostos
a atividade escolar e o contexto social da escola. É o planeja- no material e confronta com o tempo que tem disponível
mento que define os fins do trabalho pedagógico. ” para ensinar esses conteúdos aos alunos e a partir des-
Os conceitos apresentados têm por objetivo mostrar para ses dados divide-os atribuindo a este ato erroneamente o
o professor a importância, a funcionalidade e principalmen- nome de plano de aula.
te a relação íntima existente entre essas tipologias. Segundo “Muitas vezes os professores trocam o que seria o seu
Fusari (2008), “Apesar de os educadores em geral utilizarem, planejamento pela escolha de um livro didático. Infeliz-
no cotidiano do trabalho, os termos “planejamento” e “plano” mente, quando isso acontece, na maioria das vezes, esses
como sinônimos, estes não o são. ” Outro aspecto importante, professores acabam se tornando simples administradores
segundo Schmitz (2000) é que “as denominações variam mui- do livro escolhido. Deixam de planejar seu trabalho a partir
to. Basta que fique claro o que se entende por cada um desses da realidade de seus alunos para seguir o que o autor do
planos e como se caracterizam. ” O que se faz necessário é livro considerou como mais indicado”.
estar consciente que:
250
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Outra situação muito comum em relação à elaboração “Todo mestre precisa entender que esse conjunto de regras,
do plano de aula é que “em muitos casos, os professores embora pareça muito burocrático e teórico para uns, ou mesmo
copiam ou fazem cópia do plano do ano anterior e o en- inútil para outros, trata-se de uma tentativa clara para que os
tregam a secretaria da escola, com a sensação de mais uma alunos aprendam e apreendam o que for necessário durante o
atividade burocrática”. período escolar. ”
Luckesi (2001) afirma que o ato de planejar, em nosso Partindo do princípio de que o professor deve ensinar os
país, principalmente na educação, tem sido considerada conteúdos e também formar o aluno para que ele se torne
como uma atividade sem significado, ou seja, os professo- atuante na sociedade, ele deve organizar seu plano de aula de
res estão muito preocupados com os roteiros bem elabo- modo que o aluno possa perceber a importância do que está
rados e esquecem do aperfeiçoamento do ato político do sendo ensinado, seja num contexto histórico, para o seu dia-a-
planejamento. dia ou para seu futuro.
Os professores precisam quebrar o paradigma de que É claro que integrar estes dois aspectos, senso comum e
o planejamento é um ato simplesmente técnico e passar a consciência filosófica, nem sempre é tão fácil. Para que isso
se questionarem sobre o tipo de cidadão que pretendem aconteça faz-se necessário muito empenho por parte do pro-
formar, analisando a sociedade na qual ele está inserido, fessor.
bem como suas necessidades para se tornar atuante nesta “(...) um mínimo de intimidade com a realidade concreta das
sociedade. Para Luckesi (2001): escolas é necessário à formação do educador. Sem isso, abre-se
“O planejamento não será nem exclusivamente um a possibilidade de improvisação ou, o que é pior, de experimen-
ato político-filosófico, nem exclusivamente um ato técnico; tação para ver se “dá certo” em termos do encaminhamento do
será sim um ato ao mesmo tempo político-social, científico ensino. Até que o professor se situe criticamente no contexto de
e técnico: político-social, na medida em que está compro- sala de aula, os alunos passam a ser cobaias desse profissional. ”
metido com as finalidades sociais e políticas; científicas na Menegolla & Sant’Anna (2001) explicam que o planejamen-
medida em que não pode planejar sem um conhecimento to também serve para desenvolver tanto nos professores como
da realidade; técnico, na medida em que o planejamento nos alunos uma ação eficaz de ensino e aprendizagem, uma vez
exige uma definição de meios eficientes para se obter re-
que ambos são atuantes em sala de aula. Porém é de responsa-
sultados. ”
bilidade do professor elaborar o plano de aula, pois é ele quem
O ato de planejar não pode priorizar o lado técnico
conhece as reais aspirações de cada turma.
em detrimento do lado político-social ou vice-versa, ambos
“O preparo das aulas é uma das atividades mais impor-
são importantes. Por este motivo, devem ser muito bem
tantes do trabalho do profissional de educação escolar. Nada
pensados ao serem formulados visando à transformação
substitui a tarefa de preparação da aula em si. (...) faz parte da
da sociedade.
competência teórica do professor, e dos compromissos com a
Plano de Aula: do senso comum à consciência filosófica democratização do ensino, a tarefa cotidiana de preparar suas
aulas (...)”
Considerando que o planejamento deve ser pensado Moretto (2007) acredita que o professor, ao elaborar o pla-
como um ato político- -social, não se pode conceber que no de aula, deve considerar alguns componentes fundamentais,
o professor não realize o mínimo de planejamento neces- tais como: conhecer a sua personalidade enquanto professor,
sário para seus alunos, afinal, o planejamento, no processo conhecer seus alunos (características psicossociais e cognitivas),
educativo, segundo Menegolla & Sant’Anna (2001), não conhecer a epistemologia e a metodologia mais adequada às
deve ser visto como regulador das ações humanas, ou seja, características das disciplinas, conhecer o contexto social de
um limitador das ações tanto pessoais como sociais, e sim seus alunos. Conhecer todos os componentes acima possibili-
ser visto e planejado no intuito de nortear o ser humano na ta ao professor escolher as estratégias que melhor se encaixam
busca da autonomia, na tomada de decisões, na resolução nas características citadas aumentando as chances de se obter
de problemas e principalmente na capacidade de escolher sucesso nas aulas.
seus caminhos. Outro grupo que deve estar atento à importância de se ela-
“Essencialmente, educar/ensinar é um ato político. En- borar planos de aula são os professores em início de carreira,
tendamos bem essa proposição: a essência política do ato pois, para Schmitz (2000), esses profissionais iniciando sua car-
pedagógico orienta a práxis do educador quanto aos ob- reira no magistério adquirem confiança para dar aula, uma vez
jetivos a serem atingidos, aos conteúdos a serem transmi- que, no plano de aula, é possível esclarecer os objetivos da mes-
tidos e aos procedimentos a serem utilizados, quando do ma, sistematizar as atividades e facilitar seu acompanhamento.
trabalho junto a um determinado grupo de alunos. ”. Mediante todos os fatos pesquisados até agora, não se
Menegolla & Sant’Anna (2001) ainda completam argu- discute a necessidade e a importância de se elaborar o plano
mentando que o plano das aulas visa à liberdade de ação de aula, porém, segundo Schmitz (2000), ele não precisa ser
e não pode ser planejado somente pelo bom senso, sem descrito minuciosamente, mas deve ser estruturado, escrito
bases científicas que norteiem o professor. Segundo Gu- ou mentalmente. “Trata-se de fazer uma organização mental e
tenberg (2008) essa base científica utilizada para organizar uma tomada de consciência do que o professor de fato preten-
o trabalho pedagógico são os pilares e princípios da Edu- de fazer e alcançar. Se tiver esse planejamento presente, evitará
cação, anunciados e exigidos pela Lei de Diretrizes e Bases ser colhido de surpresa por acontecimentos imprevistos. A sua
da Educação (Lei 9.394/96); por este motivo faz-se necessá- criatividade, a sua intuição, torna-se mais aguçada e com mais
rio conhecê-los e compreendê-los muito bem. facilidade percebe novas oportunidades. ”
251
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Alguns autores sugerem que o planejamento tenha algu- Com relação ao fato do plano de aula ser inimigo ou
mas etapas principais, pois serão estas etapas que darão uma aliado do professor, pode-se observar que ele é um aliado,
visão do que é necessário e conveniente ao professor e aos uma vez que é por intermédio do planejamento que o pro-
alunos. São elas: fessor vai delinear suas ações para alcançar seus objetivos
ao longo de um período.
- Objetivos: Outro aspecto importante abordado foi com relação
“Os objetivos indicam aquilo que o aluno deverá ser ca- ao fato de que o planejamento não deve ser usado como
paz como consequência de seu desempenho em atividades um regulador das ações humanas e sim um norteador na
de uma determinada escola, série, disciplina ou mesmo uma busca da autonomia, na tomada de decisões, nas resolu-
aula. ” ções de problemas e nas escolhas dos caminhos a serem
- Conteúdo: percorridos partindo de o senso comum até atingir as ba-
“É um conjunto de assuntos que serão estudados du- ses científicas.
rante o curso em cada disciplina. Assuntos que fazem parte Conhecer as principais etapas do planejamento tam-
do acervo cultural da humanidade traduzida em linguagem bém foi de suma importância, pois através do conhecimen-
escolar para facilitar sua apropriação pelos estudantes. Estes to dessas etapas o professor poderá descrever com maior
assuntos são selecionados e organizados a partir da definição clareza seus objetivos, a forma com que irá aplicar o con-
dos objetivos, sendo assim meios para que os alunos atinjam teúdo, os conteúdos que serão ministrados e como fará o
os objetivos de ensino”. diagnóstico dos resultados obtidos ao longo do processo.
- Metodologia: Com esta pesquisa foi possível perceber que o plano
“Tratam-se de atividades, procedimentos, métodos, téc- de aula é realmente importante na prática pedagógica do
nicas e modalidades de ensino, selecionados com o propósito professor como organizador e norteador do seu trabalho.
de facilitar a aprendizagem. São, propriamente, os diversos É o plano de aula que dá ao professor a dimensão da im-
modos de organizar as condições externas mais adequadas à portância de sua aula e os objetivos a que ela se destina,
promoção da aprendizagem. ” bem como o tipo de cidadão que pretende formar. Por este
- Avaliação:
motivo, pensar que a experiência de anos de docência é
“Na verdade, a avaliação acompanha todo o processo de
suficiente para a realização de um bom trabalho é um dos
aprendizagem e não só um momento privilegiado (o de prova
principais motivos que levam um professor a não obter su-
ou teste) pois é um instrumento de feedback contínuo para o
cesso em suas aulas.
educando e para todos os participantes. Nesse sentido, fala
da consecução ou não dos objetivos da aprendizagem. (...) O
Referência:
processo de avaliação se coloca como uma situação frequen-
temente carregada de ameaça, pressão ou terror. ” CASTRO, P. A. P. P. de; TUCUNDUVA, C. C.; ARNS, E. M.
A partir das definições das principais etapas que devem
conter um planejamento, o professor já tem condições neces- A gestão na sala de aula: uma perspectiva demo-
sárias para fazê-lo e utilizá-lo adequadamente. Vale lembrar, crática
porém, que segundo Menegolla & Sant’anna (2001, p. 46),
não existe um modelo único de planejamento e sim vários A gestão da educação, entendida como tomada de
esquemas e modelos. Também não existe um modelo melhor decisão, organização, direção e participação, acontece em
do que o outro, cabe ao professor escolher aquele que me- todos os âmbitos da escola. Segundo Ferreira (2008), ela
lhor atenda suas necessidades bem como as de seus alunos, se desenvolve “fundamentalmente, na sala de aula, onde
que seja funcional e de bons resultados. concretamente se objetiva o projeto políticopedagógico
não só como desenvolvimento do planejado, mas como
Considerações finais fonte privilegiada de novos subsídios para novas tomadas
de decisões”. Para Libâneo (2004), a concepção democráti-
O objetivo principal ao estudar o tema “A importância do co-participativa implica a busca de objetivos comuns pela
planejamento para a organização do trabalho do professor direção, professores e demais profissionais da educação e a
em sua prática pedagógica” era analisar se o plano de aula tomada coletiva de decisões que orienta cada um a assumir
é realmente importante ou apenas uma questão burocrática com responsabilidade sua parte na execução do acordo.
exigida pelas escolas para aumentar o trabalho do professor. Assim, a gestão em sala de aula, como um prolonga-
Para tanto foi preciso compreender o contexto histórico do mento da gestão escolar, pressupõe um espaço onde, com
planejamento na vida das pessoas, sua influência e importân- a orientação do professor, possam ser produzidos, mani-
cia ao longo da evolução humana, desde a sua utilização de festados e experimentados comportamentos democráti-
forma inconsciente nos primórdios, até os dias atuais no qual cos. Ou seja, nesse espaço, os sujeitos serão levados a agir
o planejamento é utilizado para nortear um caminho a ser de forma coletiva e comprometida com os interesses co-
percorrido para se atingir objetivos traçados ou resolver al- letivos. Cabe aqui lembrar Paro (2007), quando afirma: “se
guma situação. estamos preocupados em formar cidadãos participativos,
Foi possível também compreender que as tipologias uti- por meio da escola, precisamos dispor as relações e as ati-
lizadas têm suas diferenças e devem ser usadas de acordo vidades que aí se dão de modo a ‘marcar’ os sujeitos que
com a necessidade de delimitar o tipo de plano e a que ele por elas passam com os sinais da convivência democrática”.
se destina.
252
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A sala de aula é também o espaço no qual, em deter- Outro aspecto ainda deve ser considerado na discus-
minado tempo, se lida com os acontecimentos de outros são sobre a gestão da sala de aula: não é possível atuar
tempos e espaços, com as histórias de vida dos os sujeitos. no interior da escola, especialmente no que diz respeito
A interação entre os grupos dependerá do professor, de sua ao ensino e aprendizagem, sem se comprometer com a
forma democrática de mediar as situações, possibilitando educação do aluno, já que o ato de ensinar, com tudo o
o crescimento de todos os integrantes do grupo. Atuan- que lhe é próprio - planejar, executar, verificar - “[...] é uma
do com conhecimento, organizando o espaço de convívio, prática humana que compromete moralmente quem a rea-
planejando o trabalho a ser realizado, mediando conflitos liza”. Toda prática pedagógica implica um relacionamento
e estabelecendo a confiança mútua, o professor tem con- intencional do professor com os alunos e dos alunos com
dições de criar situações propícias para a internalização dos o conhecimento, de forma que as atividades de ensino
conhecimentos por parte dos sujeitos e, ao mesmo tempo, -aprendizagem resultem da interação dos sujeitos entre si
possibilitar o desenvolvimento de cidadãos democráticos. e com o objeto do conhecimento. Assim, o trabalho na sala
A gestão democrática supõe a redefinição do papel do de aula requer do professor o compromisso e a ética para
educador. Neste caso, cabe-lhe o papel de influenciar seus com os alunos e suas famílias, pois só assim será possível
alunos para o envolvimento com o trabalho pedagógico. instrumentalizá-los para uma participação mais efetiva na
Como o processo de ensino é intencional, o professor deve sociedade.
explicar aos alunos os objetivos dos conteúdos curriculares A organização da sala de aula para a condução do tra-
e da aula, mostrando a importância de eles serem atingidos. balho didático, especialmente no que se refere à relação
Consideramos que o diálogo consentido, em que o alu- humana e à produção de conhecimento, exige do profes-
no se compromete com a apropriação dos conhecimentos, é sor, além do domínio dos conteúdos programáticos, algu-
uma forma de despertar nele a consciência de que aprender mas condições e atitudes mínimas, como autenticidade,
é uma ação que não se torna possível apenas pela ação do cooperação, determinação, solidariedade e respeito mú-
professor, mas também por sua vontade. O professor cons- tuo, enfim, comportamentos considerados democráticos.
ciente, ao desenvolver seu trabalho, almeja o desenvolvi- Isto porque, do nosso ponto de vista, a postura do profes-
mento intelectual e moral de seus alunos e planeja ocasiões sor será um argumento capaz de convencer o educando
para que ele exerça a percepção crítica da realidade, já que sobre a importância da escola e do trabalho ali desenvol-
a relação de ensino e aprendizagem com o educando deve vido para sua vida.
favorecer a análise de valores necessários ao convívio social. A gestão e a organização da sala de aula dependem da
Nisso se inclui a necessidade de dar feedback e ampliar construção de regras e procedimentos coletivos, do acom-
a capacidade perceptiva dos alunos, ou seja, “dar e pedir panhamento e da mediação dos comportamentos. Desta
feedback constituem habilidades essenciais para regularmos maneira, é possível que a ordem seja alcançada na sala de
nossos desempenhos e os das pessoas com quem convive- aula, de modo a favorecer as atividades de ensino-apren-
mos, visando relações saudáveis e satisfatórias”. Isso exige, dizagem. Também a adequação do espaço, para que os
por parte do professor, saber ouvir e prestar atenção à fala alunos construam o conhecimento, requer o envolvimento
e aos comportamentos dos alunos. O feedback é, portan- de todos e depende da forma como o professor realiza a
to, um mecanismo para retomar os conceitos apreendidos, gestão da sala de aula. Portanto, a aprendizagem dos con-
acrescentar, fazer adequações e correções. Enfim, o profes- teúdos científicos e da vivência no contexto da escola não
sor, em seu trabalho, deve alargar os horizontes dos alunos, prescinde do diálogo e da tomada de decisões pelo con-
possibilitando-lhes uma visão ampliada da realidade. junto dos sujeitos envolvidos no processo.
De nossa perspectiva, para que isso ocorra, tanto a es- Consideramos que, quando o professor planeja suas
cola deve ser organizada de forma democrática, quanto ar- atividades, ele dispõe de maiores condições para assegu-
ticulada com a construção de uma sociedade democrática, rar a qualidade do trabalho pedagógico. O papel do pro-
o que implica dizer que uma sociedade democrática passa, fessor é proporcionar condições para que o conhecimento
dentre outras coisas, pelo compromisso com a educação e seja adquirido pelo aluno e, para isso, ele deve administrar
com a aprendizagem do aluno. A transformação das práticas bem o tempo e o espaço escolar (o ritmo, as intervenções/
escolares pelo processo da gestão participativa, na qual o participações, os imprevistos, os obstáculos), selecionar os
aluno é sujeito das decisões e das ações que se realizarão objetivos e as atividades curriculares, dosar os conteúdos
pautadas em tais decisões, proporciona maiores possibilida- e construir a convivência, sem jamais excluir os alunos que
des para o desenvolvimento de uma vivência coletiva e de criam situações de conflito, que devem ser consideradas
uma a prática social democrática. como uma oportunidade de aprendizagem, desde que se
A aprendizagem, razão do trabalho escolar, apesar de saiba tirar proveito delas.
ser um processo individual, acontece quando o aluno é O fazer em sala de aula envolve, ainda, antecipação,
capaz de interagir socialmente e, com base nessa relação, ou seja, a previsão do tempo para o desenvolvimento do
construir seus conhecimentos. Desse modo, a aprendizagem trabalho em todas as etapas. Todas as atividades requerem
da vivência social democrática, tendo início na escola, mais a atenção e o acompanhamento do professor, que deve
especificamente na sala de aula, poderia instigar os alunos a organizar e sequenciar os conteúdos, prevendo o tempo
compartilhar experiências, relacionando-se com posiciona- para a realização das atividades.
mento diferentes ou mesmo divergentes.
253
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A ação educativa se caracteriza pela intencionalidade de Assim, o trabalho pedagógico na sala de aula deve ter
garantir a construção de conhecimentos amplos e diversifi- articulação com o projeto pedagógico da escola e com um
cados e, por isso, pode ser entendida como gestão. O ato de projeto social mais amplo, ou seja, sem perder de vista o
ensinar é, também, uma ação administrativa, já que envolve tipo de sociedade que se quer construir.
planejamento, organização e coordenação. Segundo a nova Cabe ao professor, por meio do exercício da demo-
concepção de gestão, o professor não abdica de sua auto- cracia no cotidiano da relação de ensino e aprendizagem,
ridade, pelo contrário, faz uso dela, de forma democrática, promover a efetivação de uma prática dialógica, baseada
para que os alunos ascendam a um nível elevado de assimi- em valores universais e de cidadania. Nesta perspectiva,
lação dos conhecimentos sistematizados. podemos dizer que a ação educativa orienta-se pela in-
A gestão da escola é um compromisso que exige dire- tencionalidade de garantir a construção de conhecimentos
tividade para se executar o que se planejou e alcançar os amplos e diversificados, podendo ser entendida como ges-
objetivos estabelecidos no Projeto Político Pedagógico da tão. Como já afirmamos, o ato de ensinar é, também, uma
escola. Na sala de aula, o professor dá continuidade ao que ação administrativa e, portanto, requer do professor uma
foi definido coletivamente, realizando um trabalho que re- tomada de decisão tanto na realização do planejado quan-
quer tanto solidariedade em compartilhar poder e respon- to na organização do espaço e na condução do processo
sabilidades, quanto capacidade de decisão. No entanto, para de ensino.
desempenhar essas funções, seja na sala de aula seja no Para que os conteúdos sejam assimilados pelos alunos,
âmbito mais amplo da instituição escolar, da organização e a disciplina é fator primordial. Isso requer que o professor,
gestão do trabalho escolar, o professor necessita ter conhe- ao planejar a aula, selecione e organize de forma intencio-
cimentos sobre esse aspecto da educação. nal e sistemática os procedimentos que irá utilizar. Dessa
Com base nos dados acima, poderíamos concluir que forma, ele orienta a conduta que os alunos devem adotar
a gestão democrática, ao mesmo tempo em que reflete a para desenvolver as atividades de ensino-aprendizagem,
oposição ao centralismo e ao autoritarismo, traz novos de- de forma a garantir a apropriação do saber sistematizado.
safios para a organização e gestão do trabalho escolar e pe- Segundo Machado, a investigação tradicional sobre o
dagógico.
ensino não se preocupava tanto com a gestão e a orga-
Para construirmos uma gestão verdadeiramente de-
nização da sala de aula. No entanto, “atualmente, debru-
mocrática é necessário, do ponto de vista da organização e
ça-se não só sobre o modo como a ordem é estabelecida
gestão do trabalho escolar, não só nos envolvermos na dis-
e mantida, como também sobre os processos que contri-
cussão, no diálogo, na tomada de decisões e nas ações cole-
buem para o seu estabelecimento, tais como a planificação
tivas, mas também visarmos os interesses coletivos. Dentro
e organização das aulas, o uso e distribuição de recursos,
dessa concepção de organização do trabalho pedagógico,
para criar oportunidades para a transmissão e apropriação o estabelecimento e explicitação das regras, a reação ao
dos conhecimentos historicamente produzidos, é necessário comportamento individual e de grupo, o enquadramento
que os profissionais da educação tenham clareza das finali- em que esta é atingida”.
dades da educação e dos objetivos que deverão nortear seu Para a autora, essa preocupação decorre do fato de que
trabalho. Só assim a escola cumprirá sua função para com a é na sala de aula que se desenvolve a maior parte do pro-
sociedade. cesso ensino-aprendizagem, processo que, segundo ela,
Para Saviani (2008), “é preciso, pois, resgatar a impor- apresenta duas tarefas estruturais: aprendizagem e ordem.
tância da escola e reorganizar o trabalho educativo, levando “A aprendizagem, de natureza individual, concretiza-se
em conta o problema do saber sistematizado, a partir do através da instrução, tendo por referência um currículo que
qual se define a especificidade da educação escolar”. os alunos devem dominar, persistindo nos seus esforços
No entanto, essa reorganização escolar, que deveria para aprender”. De acordo com Doyle, “a ordem realiza-se
assegurar aos alunos o acesso ao conhecimento científico pela função de gestão, isto é, pela organização de grupos
e à cultura socialmente produzida, depende da atuação de na sala, estabelecimento de regras e procedimentos, rea-
todos os setores da escola, orientados e incentivados pelo gindo ao mau comportamento, monitorizando e ritmando
diretor, como gestor democrático. os acontecimentos da sala de aula”. Assim, estas duas tare-
Quanto à sala de aula, o professor gestor tem que ser fas estruturais do ensino, na prática, não se separam, o que
um profissional comprometido com o que foi estabelecido significa que, “uma boa gestão e organização da sala de
pelo coletivo da escola e, ao mesmo tempo, ser capaz de aula é uma condição para que a aprendizagem possa ocor-
construir o espaço adequado à aprendizagem dos conteú- rer, dado que o envolvimento dos alunos no trabalho está
dos. relacionado com a forma como os professores gerem as
Segundo Libâneo (1993), o ensino pode ser definido estruturas da sala de aula, mais do que com a forma como
como uma atividade conjunta de professores e alunos e que, lidam com comportamentos individuais”.
sob a direção dos professores, tem a finalidade de promo- Outro aspecto a ser ressaltado é que a aprendizagem
ver condições e meios para que os alunos possam assimilar da vivência democrática se inicia na escola, mais especifi-
conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções. Isto im- camente na sala de aula, pois é no trabalho cotidiano com
plica que o ato educativo, como o trabalho pedagógico, não os alunos que os princípios democráticos se instauram e se
pode ser neutro, pois, se assim o for, torna-se uma prática reafirmam.
sem compromisso com a promoção do educando, ou seja,
reduz-se à mera transmissão de conteúdos de ensino.
254
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
255
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
go entre Igreja e mundo; o existencialismo buscou dar às Para Japiassu (1976), a interdisciplinaridade caracte-
ciências uma cara mais humana; a epistemologia buscou riza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas
desvendar o processo de construção do conhecimento e e pelo grau de integração real das disciplinas no interior
garantir maior integração entre as ciências, e o materialis- de um mesmo projeto. A interdisciplinaridade visa à re-
mo histórico e dialético buscou, no método indutivo-dedu- cuperação da unidade humana pela passagem de uma
tivo-indutivo, uma via para integrar parte e todo. subjetividade para uma intersubjetividade e, assim sendo,
Mais voltado à pedagogia, Georges Gusdorf lançou na recupera a ideia primeira de cultura (formação do homem
década de 1960 um projeto interdisciplinar para as ciências total), o papel da escola (formação do homem inserido em
humanas apresentado à Organização das Nações Unidas sua realidade) e o papel do homem (agente das mudanças
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Sua obra do mundo). Portanto, mais do que identificar um concei-
La parole (1953) é considerada muito importante para en- to para interdisciplinaridade, o que os autores buscam é
tender a interdisciplinaridade. O projeto de interdisciplina- encontrar seu sentido epistemológico, seu papel e suas
ridade nas ciências passou de uma fase filosófica (humanis- implicações sobre o processo do conhecer.
ta), de definição e explicitação terminológica, na década de
1970, para uma segunda fase (mais científica), de discussão Partindo do pressuposto apresentado por Japiassu
do seu lugar nas ciências humanas e na educação a partir
(1976), de que a interdisciplinaridade se caracteriza pela
da década de 1980.
intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau
Gadotti (1993) ressalta que atualmente, no plano teó-
de integração real das disciplinas no interior de um mes-
rico, se busca fundar a interdisciplinaridade na ética e na
antropologia, ao mesmo tempo em que, no plano prático, mo projeto de pesquisa, exige-se que as disciplinas,1 em
surgem projetos que reivindicam uma visão interdisciplinar, seu processo constante e desejável de interpenetração,
sobretudo no campo do ensino e do currículo. No Brasil, se fecundem cada vez mais reciprocamente. Para tanto,
o conceito de interdisciplinaridade chegou pelo estudo da é imprescindível a complementaridade dos métodos, dos
obra de Georges Gusdorf e posteriormente da de Piaget. O conceitos, das estruturas e dos axiomas sobre os quais se
primeiro autor influenciou o pensamento de Hilton Japiassu fundam as diversas práticas pedagógicas das disciplinas
no campo da epistemologia e o de Ivani Fazenda no campo científicas.
da educação. Japiassu (1976) destaca ainda: [...] do ponto de vista
Quanto à definição de conceitos, ou de um concei- integrador, a interdisciplinaridade requer equilíbrio entre
to, para interdisciplinaridade, tudo parece estar ainda em amplitude, profundidade e síntese. A amplitude assegura
construção. Qualquer demanda por uma definição unívoca uma larga base de conhecimento e informação. A profundi-
e definitiva deve ser a princípio rejeitada, por tratar-se de dade assegura o requisito disciplinar e/ou conhecimento e
proposta que inevitavelmente está sendo construída a par- informação interdisciplinar para a tarefa a ser executada. A
tir das culturas disciplinares existentes e porque encontrar o síntese assegura o processo integrador.
limite objetivo de sua abrangência conceitual significa con- As abordagens teóricas apresentadas pelos vários au-
cebê-la numa óptica também disciplinar. Ou, como afirma tores vão deixando claro que o pensamento e as práticas
Leis (2005), “a tarefa de procurar definições finais para a in- interdisciplinares, tanto nas ciências em geral quanto na
terdisciplinaridade não seria algo propriamente interdisci- educação, não põem em xeque a dimensão disciplinar do
plinar, senão disciplinar”. conhecimento em suas etapas de investigação, produção
Para esse autor (2005), na medida em que não existe e socialização. O que se propõe é uma profunda revisão
uma definição única possível para esse conceito, senão mui- de pensamento, que deve caminhar no sentido da intensi-
tas, tantas quantas sejam as experiências interdisciplinares ficação do diálogo, das trocas, da integração conceitual e
em curso no campo do conhecimento, entendemos que se metodológica nos diferentes campos do saber.
deva evitar procurar definições abstratas de interdisciplina- Nas palavras de Japiassu: Podemos dizer que nos re-
ridade. Os conhecimentos disciplinares são paradigmáticos
conhecemos diante de um empreendimento interdisciplinar
(no sentido de Kuhn, 1989), mas não são assim os interdis-
todas as vezes em que ele conseguir incorporar os resulta-
ciplinares. Portanto, a história da interdisciplinaridade con-
dos de várias especialidades, que tomar de empréstimo a
funde-se com a dinâmica viva do conhecimento. O mesmo
não pode ser dito da história das disciplinas, que congelam outras disciplinas certos instrumentos e técnicas metodo-
de forma paradigmática o conhecimento alcançado em de- lógicos, fazendo uso dos esquemas conceituais e das aná-
terminado momento histórico, defendendo-se de qualquer lises que se encontram nos diversos ramos do saber, a fim
abordagem alternativa numa guerra de trincheiras. de fazê-los integrarem e convergirem, depois de terem sido
O que se pode afirmar no campo conceitual é que a comparados e julgados. Donde podermos dizer que o papel
interdisciplinaridade será sempre uma reação alternativa à específico da atividade interdisciplinar consiste, primordial-
abordagem disciplinar normalizadora (seja no ensino ou na mente, em lançar uma ponte para ligar as fronteiras que
pesquisa) dos diversos objetos de estudo. Independente haviam sido estabelecidas anteriormente entre as discipli-
da definição que cada autor assuma, a interdisciplinaridade nas com o objetivo preciso de assegurar a um seu caráter
está sempre situada no campo onde se pensa a possibili- propriamente positivo, segundo modos particulares e com
dade de superar a fragmentação das ciências e dos conhe- resultados específicos.
cimentos produzidos por elas e onde simultaneamente se
exprime a resistência sobre um saber parcelado.
256
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Epistemologia, ciência e interdisciplinaridade Nessa mesma direção, Olga Pombo (2004) ressalta que
a especialização é uma tendência da ciência moderna, expo-
Para Morin (2005), certas concepções científicas mantêm nencial a partir do século XIX. Segundo ela:
sua vitalidade porque se recusam ao claustro disciplinar. A es-
pecialização do conhecimento científico é uma tendência que [...] a ciência moderna se constitui pela adopção da me-
nada tem de acidental. Ao contrário, é condição de possibili- todologia analítica proposta por Galileu e Descartes. Isto é,
dade do próprio progresso do conhecimento, expressão das se constituiu justamente no momento em que adoptou uma
exigências analíticas que caracterizam o programa de desen- metodologia que lhe permitia “esquartejar” cada totalidade,
volvimento da ciência que vem dos gregos e que foi reforçado cindir o todo em pequenas partes por intermédio de uma aná-
no século XVII, principalmente com Galileu e Descartes. Para lise cada vez mais fina. Ao dividir o todo nas suas partes cons-
lá das diferenças que os distinguem, eles comungam de uma titutivas, ao subdividir cada uma dessas partes até aos seus
mesma perspectiva metódica: pelo método indutivo, dividir mais ínfimos elementos, a ciência parte do princípio de que,
o objeto de estudo para estudar finamente seus elementos mais tarde, poderá recompor o todo, reconstituir a totalidade.
constituintes e, depois, recompor o todo a partir daí. A ideia subjacente é a de que o todo é igual à soma das partes.
Ainda que os membros do Círculo de Viena tenham bus-
cado elementos científicos para justificar a constituição de Todavia, o desenvolvimento das diferentes áreas cientí-
uma “ciência unificada” e tenham, por via do método induti- ficas, sobretudo a partir da segunda metade do século XX,
vo, buscado encontrar a verdade concreta ou uma concepção vem dependendo muito mais da relação recíproca e da ferti-
científica de mundo, o positivismo, desde sua fase comtiana, lização heurística de umas disciplinas por outras, da transfe-
seguiu contribuindo para uma espécie de fragmentação ou rência de conceitos, de problemas e métodos. Há uma espé-
especialização dos saberes, com o alargamento das fronteiras cie de inteligência interdisciplinar na ciência contemporânea.
entre as disciplinas e, por consequência, com a divulgação de Ou, como diz Pombo (2004): Trata-se de reconhecer que
uma concepção positiva de mundo, de natureza e de socie- determinadas investigações reclamam a sua própria abertu-
dade. A interdisciplinaridade, como reação a essa concepção, ra para conhecimentos que pertencem, tradicionalmente, ao
vem com a proposta de romper com a fragmentação das dis-
domínio de outras disciplinas e que só essa abertura permite
ciplinas, das ciências, enfim, do conhecimento.
aceder a camadas mais profundas da realidade que se quer es-
A superação dos limites que encontramos na produção
tudar. Estamos perante transformações epistemológicas muito
do conhecimento e nos processos pedagógicos e de sociali-
profundas. É como se o próprio mundo resistisse ao seu reta-
zação exige que sejam rompidas as relações sociais que estão
lhamento disciplinar. A ciência começa a aparecer como um
na base desses limites. No plano epistemológico (das rela-
processo que exige também um olhar transversal.
ções sujeito/objeto), mediadas pela teoria científica que dá
sustentação lógica a essa relação, Frigotto (1995) diz que a Para ilustrar essa afirmação, a autora exemplifica com ca-
interdisciplinaridade precisa, acima de tudo, de uma discussão sos bem concretos vivenciados no campo da ciência contem-
de paradigma, situando o problema no plano teórico-meto- porânea, como o da bioquímica, o da biofísica, o da enge-
dológico. Precisamos, segundo ele, perceber que a interdis- nharia e o da genética; estas duas últimas áreas - a engenha-
ciplinaridade não se efetiva se não transcendermos a visão ria e a genética - cuja mistura parecia impensável há 60 ou 70
fragmentada e o plano fenomênico, ambos marcados pelo anos. Algumas delas têm sido designadas como ciências de
paradigma empirista e positivista. fronteira - novas disciplinas que nascem nas fronteiras entre
Frigotto (1995) mostra que, no plano ontológico (plano duas disciplinas tradicionais -, outras como interdisciplinas
material histórico-cultural), o desafio que enfrentamos cons- - aquelas que nascem na confluência entre ciências puras e
titui antes um problema ético-político, econômico e cultural. ciências aplicadas. É nessa nova situação epistemológica que
Para ele, as relações sociais na estruturação da sociedade mo- as novas disciplinas ou ciências vêm sendo constituídas.
derna limitam e impedem o devir humano, na medida em que
a exclusão e a alienação fazem parte da lógica da sociedade Nessa mesma reflexão, Olga Pombo (2004) faz outra ob-
capitalista. servação muito importante, que mostra bem o esforço da
Parece evidente que a responsabilidade pela legitimação ciência para superar o caráter disciplinar que marcou boa
social e científica da especialização e da fragmentação do co- parte da modernidade. Segundo ela, já é possível identificar
nhecimento recai basicamente sobre o positivismo, a partir a existência de interciências, que seriam conjuntos discipli-
do qual se fortaleceram o cientificismo, o pragmatismo e o nares nos quais não há já uma ciência que nasça nas frontei-
empirismo. Japiassu faz esta constatação quando destaca: ras de duas disciplinas fundamentais (ciências de fronteira)
A nosso ver, foi uma filosofia das ciências, mais preci- ou que resulte do cruzamento de ciências puras e aplicadas
samente o positivismo, que constituiu o grande veículo e o (interdisciplinas), mas que se ligam, de forma descentrada,
suporte fundamental dos obstáculos epistemológicos ao assimétrica, irregular, capaz de resolver um problema preciso.
conhecimento interdisciplinar, porque nenhuma outra filo- Bons exemplos, segundo ela, são as ciências cognitivas e as
sofia estruturou tanto quanto ela as relações dos cientistas ciências da computação. São conjuntos de disciplinas que se
com suas práticas. E sabemos o quanto esta estruturação foi encontram de forma irregular e descentrada para colaborar
marcada pela compartimentação das disciplinas, em nome de na discussão de um problema comum. A juventude urbana, o
uma exigência metodológica de demarcação de cada objeto envelhecimento, a violência, o clima ou a manipulação gené-
particular, constituindo a propriedade privada desta ou da- tica, por exemplo, são novidades epistemológicas que só um
quela disciplina. (1976) enfoque interdisciplinar pode procurar dar resposta.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Imaginemos um médico que não tenha a disposição para Entretanto, essa qualificação não se dá no vazio. Ela é
acolher o seu cliente, no estado em que está; um empresário estabelecida a partir de um determinado padrão, de um de-
que não tenha a disposição para acolher a sua empresa na terminado critério de qualidade que temos, ou que estabe-
situação em que está; um pai ou uma mãe que não tenha lecemos, para este objeto. No caso da cadeira, ela está sen-
a disposição para acolher um filho ou uma filha em alguma do qualificada de satisfatória ou insatisfatória em função do
situação embaraçosa em que se encontra. Ou imaginemos quê? Ela, no caso, será satisfatória ou insatisfatória em função
cada um de nós, sem disposição para nos acolhermos a nós da finalidade à qual vai servir. Ou seja, o objeto da avaliação
mesmos no estado em que estamos. As doenças, muitas ve- está envolvido em uma tessitura cultural (teórica), compreen-
zes, não podem mais sofrer qualquer intervenção curativa siva, que o envolve. Mantendo o exemplo acima, a depender
adequada devido ao fato de que a pessoa, por vergonha, por das circunstâncias onde esteja a cadeira, com suas proprie-
medo social ou por qualquer outra razão, não pode acolher dades específicas, ela será qualificada de positiva ou de ne-
o seu próprio estado pessoal, protelando o momento de pro- gativa. Assim sendo, uma mesma cadeira poderá ser qualifi-
curar ajuda, chegando ao extremo de ‘já não ter muito mais cada como satisfatória para um determinado ambiente, mas
o que fazer!’. insatisfatória para um outro ambiente, possuindo as mesmas
A disposição para acolher é, pois, o ponto de partida para propriedades específicas. Desde que diagnosticado um obje-
qualquer prática de avaliação. É um estado psicológico opos- to de avaliação, ou seja, configurado e qualificado, há algo,
to ao estado de exclusão, que tem na sua base o julgamento obrigatoriamente, a ser feito, uma tomada de decisão sobre
prévio. O julgamento prévio está sempre na defesa ou no ata- ele. O ato de qualificar, por si, implica uma tomada de posi-
que, nunca no acolhimento. A disposição para julgar previa- ção – positiva ou negativa –, que, por sua vez, conduz a uma
mente não serve a uma prática de avaliação, porque exclui. tomada de decisão. Caso um objeto seja qualificado como
Para ter essa disposição para acolher, importa estar atento satisfatório, o que fazer com ele? Caso seja qualificado como
a ela. Não nascemos naturalmente com ela, mas sim a cons- insatisfatório, o que fazer com ele? O ato de avaliar não é um
truímos, a desenvolvemos, estando atentos ao modo como ato neutro que se encerra na constatação. Ele é um ato dinâ-
recebemos as coisas. Se antes de ouvirmos ou vermos alguma mico, que implica na decisão de ‘o que fazer’ Sem este ato de
coisa já estamos julgando, positiva ou negativamente, com decidir, o ato de avaliar não se completa. Ele não se realiza.
certeza, não somos capazes de acolher. A avaliação só nos Chegar ao diagnóstico é uma parte do ato de avaliar. A situa-
propiciará condições para a obtenção de uma melhor qua- ção de ‘diagnosticar sem tomar uma decisão’ assemelha-se à
lidade de vida se estiver assentada sobre a disposição para situação do náufrago que, após o naufrágio, nada com todas
acolher, pois é a partir daí que podemos construir qualquer as suas forças para salvar-se e, chegando às margens, morre,
coisa que seja. antes de usufruir do seu esforço. Diagnóstico sem tomada de
decisão é um curso de ação avaliativa que não se completou.
Por uma compreensão do ato de avaliar Como a qualificação, a tomada de decisão também não
se faz num vazio teórico. Toma-se decisão em função de um
Assentado no ponto de partida acima estabelecido, o ato objetivo que se tem a alcançar. Um médico toma decisões a
de avaliar implica dois processos articulados e indissociáveis: respeito da saúde de seu cliente em função de melhorar sua
diagnosticar e decidir. Não é possível uma decisão sem um qualidade de vida; um empresário toma decisões a respeito
diagnóstico, e um diagnóstico, sem uma decisão é um pro- de sua empresa em função de melhorar seu desempenho;
cesso abortado. um cozinheiro toma decisões a respeito do alimento que pre-
Em primeiro lugar, vem o processo de diagnosticar, que para em função de dar-lhe o melhor sabor possível, e assim
constitui-se de uma constatação e de uma qualificação do por diante.
objeto da avaliação. Antes de mais nada, portanto, é preciso Em síntese, avaliar é um ato pelo qual, através de uma
constatar o estado de alguma coisa (um objeto, um espaço, disposição acolhedora, qualificamos alguma coisa (um obje-
um projeto, uma ação, a aprendizagem, uma pessoa...), tendo to, ação ou pessoa), tendo em vista, de alguma forma, tomar
por base suas propriedades específicas. Por exemplo, consta- uma decisão sobre ela.
to a existência de uma cadeira e seu estado, a partir de suas Quando atuamos junto a pessoas, a qualificação e a de-
propriedades ‘físicas’ (suas características): ela é de madeira, cisão necessitam ser dialogadas. O ato de avaliar não é um
com quatro pernas, tem o assento estofado, de cor verde... ato impositivo, mas sim um ato dialógico, amoroso e cons-
A constatação sustenta a configuração do ‘objeto’, tendo por trutivo. Desse modo, a avaliação é uma auxiliar de uma vida
base suas propriedades, como estão no momento. O ato de melhor, mais rica e mais plena, em qualquer de seus setores,
avaliar, como todo e qualquer ato de conhecer, inicia-se pela desde que constata, qualifica e orienta possibilidades novas
constatação, que nos dá a garantia de que o objeto é como é. e, certamente, mais adequadas, porque assentadas nos da-
Não há possibilidade de avaliação sem a constatação. dos do presente.
A constatação oferece a ‘base material’ para a segunda
parte do ato de diagnosticar, que é qualificar, ou seja, atri- Avaliação da aprendizagem escolar
buir uma qualidade, positiva ou negativa, ao objeto que está
sendo avaliado. No exemplo acima, qualifico a cadeira como Vamos transpor esse conceito da avaliação para a com-
satisfatória ou insatisfatória, tendo por base as suas proprie- preensão da avaliação da aprendizagem escolar. Tomando
dades atuais. Só a partir da constatação, é que qualificamos as elucidações conceituais anteriores, vamos aplicar, passo
o objeto de avaliação. A partir dos dados constatados é que a passo, cada um dos elementos à avaliação da aprendiza-
atribuímos-lhe uma qualidade. gem escolar.
260
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Iniciemos pela disposição de acolher. Para se processar dizagem, mas, sim, sobre os que efetivamente configuram a
a avaliação da aprendizagem, o educador necessita dispor- conduta ensinada e aprendida pelo educando. Caso esteja
se a acolher o que está acontecendo. Certamente o educa- avaliando aprendizagens específicas de matemática, dados
dor poderá ter alguma expectativa em relação a possíveis sobre essa aprendizagem devem ser coletados e não outros;
resultados de sua atividade, mas necessita estar disponível e, assim, de qualquer outra área do conhecimento. Dados
para acolher seja lá o que for que estiver acontecendo. Isso essenciais são aqueles que estão definidos nos planejamen-
não quer dizer que ‘o que está acontecendo’ seja o melhor tos de ensino, a partir de uma teoria pedagógica, e que fo-
estado da situação avaliada. Importa estar disponível para ram traduzidos em práticas educativas nas aulas.
acolhê-la do jeito em que se encontra, pois só a partir daí é Isso implica que o planejamento de ensino necessita
que se pode fazer alguma coisa. ser produzido de forma consciente e qualitativamente sa-
Mais: no caso da aprendizagem, como estamos traba- tisfatória, tanto do ponto de vista científico como do ponto
lhando com uma pessoa – o educando –, importa acolhê-lo de vista políticopedagógicos.
como ser humano, na sua totalidade e não só na aprendiza- Por outro lado, os instrumentos de avaliação da apren-
gem específica que estejamos avaliando, tais como língua dizagem, também, não podem ser quaisquer instrumentos,
portuguesa, matemática, geografia.... mas sim os adequados para coletar os dados que estamos
Acolher o educando, eis o ponto básico para proceder necessitando para configurar o estado de aprendizagem
atividades de avaliação, assim como para proceder toda e do nosso educando. Isso implica que os instrumentos: a)
qualquer prática educativa. Sem acolhimento, temos a recu- sejam adequados ao tipo de conduta e de habilidade que
sa. E a recusa significa a impossibilidade de estabelecer um estamos avaliando (informação, compreensão, análise, sín-
vínculo de trabalho educativo com quem está sendo recu- tese, aplicação...); b) sejam adequados aos conteúdos es-
sado. senciais planejados e, de fato, realizados no processo de
A recusa pode se manifestar de muitos modos, desde ensino (o instrumento necessita cobrir todos os conteúdos
os mais explícitos até os mais sutis. A recusa explícita se dá que são considerados essenciais numa determinada unida-
quando deixamos claro que estamos recusando alguém. de de ensino-aprendizagem; c) adequados na linguagem,
Porém, existem modos sutis de recusar, tal como no exem- na clareza e na precisão da comunicação (importa que o
plo seguinte. Só para nós, em nosso interior, sem dizer nada educando compreenda exatamente o que se está pedindo
para ninguém, julgamos que um aluno X ‘é do tipo que dá dele); adequados ao processo de aprendizagem do edu-
trabalho e que não vai mudar’. Esse juízo, por mais silencio- cando (um instrumento não deve dificultar a aprendizagem
so que seja em nosso ser, está lá colocando esse educando do educando, mas, ao contrário, servir-lhe de reforço do
de fora. E, por mais que pareça que não, estará interferindo que já aprendeu. Responder as questões significativas sig-
em nossa relação com ele. Ele sempre estará fora do nos- nifica aprofundar as aprendizagens já realizadas.).
so círculo de relações. Acolhê-lo significa estar aberto para
Um instrumento de coleta de dados pode ser desastro-
recebê-lo como é. E só vendo a situação como é podemos
so, do ponto de vista da avaliação da aprendizagem, como
compreendê-la para, dialogicamente, ajudá-lo.
em qualquer avaliação, na medida em que não colete, com
qualidade, os dados necessários ao processo de avalia-
Isso não quer dizer aceitar como certo tudo que vem
ção em curso. Um instrumento inadequado ou defeituo-
do educando. Acolher, neste caso, significa a possibilida-
so pode distorcer completamente a realidade e, por isso,
de de abrir espaço para a relação, que, por si mesma, terá
confrontos, que poderão ser de aceitação, de negociação, oferecer base inadequada para a qualificação do objeto da
de redirecionamento. Por isso, a recusa consequentemente avaliação e, consequentemente, conduzir a uma decisão
impede as possibilidades de qualquer relação dialógica, ou também distorcida.
seja, as possibilidades da prática educativa. O ato de acolher Será que nossos instrumentos de avaliação da apren-
é um ato amoroso, que traz ‘para dentro’, para depois (e só dizagem, utilizados no cotidiano da escola, são suficien-
depois) verificar as possibilidades do que fazer. temente adequados para caracterizar nossos educandos?
Assentados no acolhimento do nosso educando, pode- Será que eles coletam os dados que devem ser coletados?
mos praticar todos os atos educativos, inclusive a avaliação. Será que eles não distorcem a realidade da conduta de
E, para avaliar, o primeiro ato básico é o de diagnosticar, que nossos educandos, nos conduzindo a juízos distorcidos?
implica, como seu primeiro passo, coletar dados relevantes, Quaisquer que sejam os instrumentos – prova, teste, re-
que configurem o estado de aprendizagem do educando dação, monografia, dramatização, exposição oral, arguição,
ou dos educandos. Para tanto, necessitamos instrumentos. etc. – necessitam manifestar qualidade satisfatória como
Aqui, temos três pontos básicos a levar em consideração: 1) instrumento para ser utilizado na avaliação da aprendiza-
dados relevantes; 2) instrumentos; 3) utilização dos instru- gem escolar, sob pena de estarmos qualificando inadequa-
mentos. damente nossos educandos e, consequentemente, prati-
Cada um desses pontos merece atenção. cando injustiças. Muitas vezes, nossos educandos são com-
Os dados coletados para a prática da avaliação da apren- petentes em suas habilidades, mas nossos instrumentos de
dizagem não podem ser quaisquer. Deverão ser coletados os coleta de dados são inadequados e, por isso, os julgamos,
dados essenciais para avaliar aquilo que estamos pretenden- incorretamente, como incompetentes. Na verdade, o defei-
do avaliar. São os dados que caracterizam especificamente to está em nossos instrumentos, e não no seu desempenho.
o objeto em pauta de avaliação. Ou seja, a avaliação não Bons instrumentos de avaliação da aprendizagem são con-
pode assentar-se sobre dados secundários do ensino-apren- dições de uma prática satisfatória de avaliação na escola.
261
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Ainda uma palavra sobre o uso dos instrumentos. Realizados os passos anteriores, chegamos ao diagnós-
tico. Ele é a expressão qualificada da situação, pessoa ou
Como nós nos utilizamos dos instrumentos de avalia- ação que estamos avaliando.
ção, no caso da avaliação da aprendizagem? Eles são utili- Temos, pois, uma situação qualificada, um diagnósti-
zados, verdadeiramente, como recursos de coleta de dados co. O que fazer com ela? O ato avaliativo, só se completará,
sobre a aprendizagem de nossos educandos, ou são utili- como dissemos nos preliminares deste estudo, com a toma-
zados como recursos de controle disciplinar, de ameaça e da de decisão do que fazer com a situação diagnosticada.
submissão de nossos educandos aos nossos desejos? Po- Caso a situação de aprendizagem diagnosticada seja sa-
demos utilizar um instrumento de avaliação junto aos nos- tisfatória, que vamos fazer com ela? Caso seja insatisfatória,
sos educandos, simplesmente, como um recurso de coletar que vamos fazer com ela? A situação diagnosticada, seja ela
dados sobre suas condutas aprendidas ou podemos utilizar positiva ou negativa, e o ato de avaliar, para se completar,
esse mesmo instrumento como recurso de disciplinamen- necessita da tomada de decisão A decisão do que fazer se
to externo e aversivo, através da ameaça da reprovação, da impõe no ato de avaliar, pois, em si mesmo, ele contém essa
geração do estado de medo, da submissão, e outros. Afinal, possibilidade e essa necessidade. A avaliação não se encerra
aplicamos os instrumentos com disposição de acolhimento com a qualificação do estado em que está o educando ou os
ou de recusa dos nossos educandos? Ao aplicarmos os ins- educandos ela obriga a decisão, não é neutra. A avaliação só
trumentos de avaliação, criamos um clima leve entre nossos se completa com a possibilidade de indicar caminhos mais
educandos ou pesaroso e ameaçador? Aplicar instrumentos adequados e mais satisfatórios para uma ação, que está em
de avaliação exige muitos cuidados para que não distorçam curso. O ato de avaliar implica a busca do melhor e mais sa-
a realidade, desde que nossos educandos são seres huma- tisfatório estado daquilo que está sendo avaliado.
nos e, nessa condição, estão submetidos às múltiplas variá- A avaliação da aprendizagem, deste modo, nos possibi-
veis intervenientes em nossas experiências de vida. lita levar à frente uma ação que foi planejada dentro de um
Coletados os dados através dos instrumentos, como arcabouço teórico, assim como político. Não será qualquer
nós os utilizamos? Os dados coletados devem retratar o resultado que satisfará, mas sim um resultado compatível
estado de aprendizagem em que o educando se encontra.
com a teoria e com a prática pedagógica que estejamos uti-
Isto feito, importa saber se este estado é satisfatório
lizando.
ou não. Daí, então, a necessidade que temos de qualificar
Em síntese, avaliar a aprendizagem escolar implica es-
a aprendizagem, manifestada através dos dados coleta-
tar disponível para acolher nossos educandos no estado em
dos. Para isso, necessitamos utilizar-nos de um padrão de
que estejam, para, a partir daí, poder auxiliá-los em sua tra-
qualificação. O padrão, ao qual vamos comparar o estado
jetória de vida. Para tanto, necessitamos de cuidados com a
de aprendizagem do educando, é estabelecido no planeja-
mento de ensino, que, por sua vez, está sustentado em uma teoria que orienta nossas práticas educativas, assim como
teoria do ensino. Assim, importa, para a prática da qualifi- de cuidados específicos com os atos de avaliar que, por si,
cação dos dados de aprendizagem dos educandos, tanto a implicam em diagnosticar e renegociar permanentemente o
teoria pedagógica que a sustenta, como o planejamento de melhor caminho para o desenvolvimento, o melhor caminho
ensino que fizemos. para a vida. Por conseguinte, a avaliação da aprendizagem
A teoria pedagógica dá o norte da prática educativa e escolar não implica aprovação ou reprovação do educando,
o planejamento do ensino faz a mediação entre a teoria pe- mas sim orientação permanente para o seu desenvolvimen-
dagógica e a prática de ensino na aula. Sem eles, a prática to, tendo em vista tornar-se o que o seu SER pede.
da avaliação escolar não tem sustentação.
Deste modo, caso utilizemos uma teoria pedagógica Concluindo
que considera que a retenção da informação basta para o
desenvolvimento do educando, os dados serão qualificados A qualidade de vida deve estar sempre posta à nossa
diante desse entendimento. Porém, caso a teoria pedagó- frente. Ela é o objetivo. Não vale a pena o uso de tantos ata-
gica utilizada tenha em conta que, para o desenvolvimento lhos e tantos recursos, caso a vida não seja alimentada tendo
do educando, importa a formação de suas habilidades de em vista o seu florescimento livre, espontâneo e criativo. A
compreender, analisar, sintetizar, aplicar..., os dados coleta- prática da avaliação da aprendizagem, para manifestar-se
dos serão qualificados, positiva ou negativamente, diante como tal, deve apontar para a busca do melhor de todos
dessa exigência teórica. os educandos, por isso é diagnóstica, e não voltada para a
Assim, para qualificar a aprendizagem de nossos edu- seleção de uns poucos, como se comportam os exames. Por
candos, importa, de um lado, ter clara a teoria que utili- si, a avaliação, como dissemos, é inclusiva e, por isso mesmo,
zamos como suporte de nossa prática pedagógica, e, de democrática e amorosa. Por ela, por onde quer que se passe,
outro, o planejamento de ensino, que estabelecemos como não há exclusão, mas sim diagnóstico e construção. Não há
guia para nossa prática de ensinar no decorrer das unidades submissão, mas sim liberdade. Não há medo, mas sim es-
de ensino do ano letivo. Sem uma clara e consistente teoria pontaneidade e busca. Não há chegada definitiva, mas sim
pedagógica e sem um satisfatório planejamento de ensino, travessia permanente, em busca do melhor. Sempre!
com sua consequente execução, os atos avaliativos serão
praticados aleatoriamente, de forma mais arbitrária do que Fonte: Disponível Pátio On-line
o são em sua própria constituição. Serão praticados sem Pátio. Porto alegre: ARTMED. Ano 3, n. 12 fev./abr. 2006.
vínculos com a realidade educativa dos educandos.
262
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
263
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Além das iniciativas ligadas diretamente à oferta da Educação Integral nas escolas, a partir da ampliação da jornada, outras
ações da SEE vêm convergindo para que o objetivo de formar integralmente os sujeitos seja alcançado. Podem ser mencionadas
aqui: o Programa de Convivência Democrática no Ambiente Escolar, no contexto da Educação para os Direitos Humanos; as
ações de Fomento à Participação Estudantil, materializadas na criação dos Conselhos e das Redes de Representantes Estudantis
e também no incentivo à criação de Coletivos Juvenis e Grêmios Estudantis; o fomento e apoio à criação da Rádio nas escolas;
o Programa Escola Aberta, importante aliado no fortalecimento da relação escola-comunidade; as ações voltadas à diversidade
e inclusão, como a Campanha Afroconsciência, ancorada na Educação para as Relações Étnico-raciais, o Atendimento Educacio-
nal Especializado na perspectiva da inclusão, a adoção da Pedagogia da Alternância, voltada ao atendimento de estudantes do
campo; as ações para o atendimento das especificidades de povos e comunidades tradicionais; a criação da Rede de Educação
Profissional; as ações ligadas ao desenvolvimento da Pesquisa e da Iniciação Científica no Ensino Médio; entre outras. Todas essas
ações contribuem para a promoção do desenvolvimento integral dos estudantes e devem ser concebidas como parte do currí-
culo escolar uma vez que dialogam com os diversos componentes curriculares, áreas do conhecimento e com o território, bem
como contribuem para o desenvolvimento de variadas habilidades e competências dos estudantes.
Contudo, há ainda um grande desafio pela frente: a Meta 6 do PNE estabelece que a oferta de Educação Integral deverá atingir, em
10 anos de vigência do Plano (até 2024), o mínimo de 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos estudantes da
Educação Básica. Apesar de ter atingido, até o final de 2016, a Meta estipulada em relação ao quantitativo de escolas (2.072 escolas - 57%), o
número de estudantes atendidos ainda está muito aquém da Meta. Até o final de 2016, de aproximadamente 2 milhões de estudantes ma-
triculados na Rede, foram atendidos 150 mil, devendo chegar a quase 190 mil, em 2017, incluindo aproximadamente 10 mil que passarão a
ser atendidos no Ensino Médio Integral. Mesmo com os esforços desta gestão para seguir ampliar o atendimento aos estudantes na Educa-
ção Integral, buscando-se superar a concepção de “tempo integral” e também a fragmentação e desarticulação entre as atividades e ações
ofertadas pelas escolas, a SEE-MG identificou a necessidade de se pensar uma estratégia para qualificar o atendimento em Educação Inte-
gral. Para isso, pretende-se promover maior integração entre as ações existentes, bem como proporcionar um formato de atendimento que
possa ser progressivamente estendido a todas as escolas da Rede, tornando efetiva a política de Educação Integral e Integrada no Estado.
Assim, em consonância com o cumprimento da Meta 6 do PNE e com a necessidade de ampliar, fortalecer e consolidar a Polí-
tica de Educação Integral e Integrada em Minas, a SEE apresenta a proposta dos Polos de Educação Múltipla - POLEM, a ser imple-
mentada como estratégia indutora da Política de Educação Integral e Integrada, contribuindo para alcançar os seguintes objetivos:
• Ampliação de Tempos e Espaços;
• Fortalecimento da Relação Escola-Comunidade;
• Redução da evasão e do abandono escolar;
• Melhoria no desempenho escolar;
• Desenvolvimento das Aprendizagens.
264
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Posto isso, é importante compreender elementos que As ideias mais atuais consideram o currículo não como
são fundamentais ao conceito de Educação Integral e In- algo feito, mas que se faz ao longo do tempo e é essa con-
tegrada: cepção que, aqui, adotaremos: o currículo como um pro-
cesso que envolve escolhas, conflitos e acordos, que ocor-
● Territórios Educativos rem em determinados contextos.
Na perspectiva da Educação Integral e Integrada, não Na perspectiva aqui adotada, o Currículo Integrado é
é possível promover desenvolvimento integral sem envol- aquele que pode e deve ser praticado por todos os atores
ver outros espaços, atores e saberes, além dos presentes da comunidade escolar, sejam eles gestores, pedagogos,
na escola. Os lugares em que os estudantes circulam, as professores da Educação Básica, servidores, educadores
pessoas com quem convivem e os serviços que acessam sociais e demais agentes que atuam na escola, desde que o
no território são potencialmente educativos, à medida que projeto educativo seja amplamente discutido e construído
lhes agregam saberes que contribuem para a sua formação coletivamente por todos os atores nele envolvidos.
integral. Importa dizer que a concepção de Currículo Integrado
De acordo com Milton Santos, o território não é apenas é aquela que visa romper com a fragmentação dos sabe-
o resultado da superposição de um conjunto de sistemas res, com a lógica da superespecialização que separa, isola e
naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo hierarquiza os componente e conteúdos curriculares, bem
homem. O território é o chão mais a população, isto é, uma como busca evidenciar as relações existentes entre áreas
identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que do conhecimento e as variadas disciplinas. Por fim, essa
nos pertence. O território é a base do trabalho, da resis- perspectiva busca reconectar o conhecimento produzido
tência, das trocas materiais e espirituais e da vida sobre os no contexto escolar e os saberes ali compartilhados àque-
quais ele influi. Quando se fala em território, deve-se, pois, les experienciados pelos estudantes no seu cotidiano, em
de logo, entender que se está falando em território usado, todos os demais espaços de socialização.
utilizado por uma dada população (SANTOS. 2000. p 96). Portanto, organizar uma proposta na perspectiva do
Currículo Integrado significa muito mais que acrescentar
O território, portanto, deve ser compreendido como novas disciplinas. Significa construir uma nova postura pe-
estruturante no processo da Educação Integral, pois é nele dagógica, que rompa com a estrutura fragmentada do cur-
que se configuram as relações sociais em toda a sua ri- rículo, adotando uma abordagem integradora, que traga
queza e diversidade e é a partir dele que surgem os temas os estudantes para o centro do processo de formação e
geradores para se definir o quê e como ensinar. As aprendi- que conecte a sua experiência escolar à experiência social.
zagens fazem sentido para estudantes e professores, à me-
dida que dialogam com questões concretas e localizadas ● Intersetorialidade
no meio em que vivem, envolvendo os distintos atores ins- Para viabilizar a perspectiva de “Territórios Educativos”,
titucionais e comunitários, e os saberes formais e informais. torna-se fundamental envolver outros espaços e atores no
Assim, os territórios tornam-se Territórios Educativos, processo educativo, além dos presentes na escola. Dessa
pois também educam, constituem-se como espaços de vi- forma, é importante o exercício de compreender o contex-
vência, socialização, expressão cultural e de construção e to em que a escola está inserida e estabelecer conexões
compartilhamento de saberes. Ao reconhecer esses sabe- sólidas com os atores presentes no território, para que seja
res e práticas locais, o conceito de Territórios Educativos é possível a articulação entre os distintos saberes, dando
potencialmente gerador do currículo, pois torna possível concretude à concepção de Educação Integral e Integrada.
relacioná-lo às experiências vivenciadas pelos estudantes A intersetorialidade, de maneira mais ampla, é definida
no território e à busca de soluções para os problemas vi- por Junqueira, Inojosa e Komatsu (1997) como:
venciados pela comunidade.
a articulação de saberes no planejamento, realização e
● Currículo Integrado avaliação de ações, com o objetivo de alcançar resultados
A palavra “currículo” teve diferentes significados ao integrados em situações complexas, visando um efeito si-
longo da história da Educação. Numa perspectiva mais tra- nérgico de desenvolvimento social. Visa promover um im-
dicional, significa a lista dos conteúdos a serem ensinados. pacto positivo nas condições de vida da população, num
Em outras visões como a da Escola Nova, por exemplo, re- movimento de reversão da exclusão social (p. 24).
fere-se ao conjunto das experiências vividas pelo estudan-
te sob a orientação da escola. No contexto do tecnicismo, A intersetorialidade, nessa perspectiva, pressupõe
reporta-se aos arranjos necessários para compatibilizar os ações sustentadas em rede(s). Para isso é importante inves-
objetivos com os conteúdos e as atividades do processo tigar: o que conectam os sujeitos, espaços, saberes, interes-
de escolarização. Esses significados não são simplesmente ses, demandas, etc. em um mesmo território? Ao identificar
substituídos uns pelos outros, mas permanecem no ima- tais conexões, de que maneira é possível potencializá-las e
ginário dos professores, até de forma inconsciente - o que fortalecê-las para que se possam empreender ações con-
nos leva à necessidade de refletir sobre suas influências na juntas de modo a que a produção do conhecimento seja
prática pedagógica. compartilhada e beneficie a todos?
265
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A atuação em rede constitui-se, assim, como impor- Além disso, a partir de sua participação, o sujeito de-
tante aliada no processo educativo, pois permite que os senvolve autonomia e senso crítico em relação às diversas
diversos atores sociais inseridos no território contribuam esferas da vida, exercita a habilidade para o diálogo e po-
na construção do conhecimento e, por conseguinte, na tencializa seu poder de argumentação, vivenciando, sobre-
formação integral de crianças, adolescentes e jovens. De tudo, o pleno exercício para a cidadania.
forma mais concreta, esse processo pode se desenvolver
por meio de parcerias entre a escola e os diferentes atores ● Gestão Democrática e Participativa
do território, que trazem consigo outras pedagogias que É importante considerar que, dentro da comunidade
não são contrárias e tampouco concorrentes a escolar, mas escolar, todos os atores envolvidos são considerados su-
complementares. jeitos ativos do processo educativo, pois cumprem papéis
Além disso, a intersetorialidade, na perspectiva de fundamentais na execução da política educacional e, além
atuação em rede, tende a fortalecer o sistema de proteção disso, contribuem para o desenvolvimento das aprendiza-
social das crianças, adolescentes e jovens, cabendo ressal- gens dos estudantes.
tar que a rede de proteção, conforme sustentam Gonçalves Dessa maneira, junto com os professores, são agentes
e Guará (2010), é muito mais ampla que os espaços insti- educadores os próprios estudantes, suas famílias, especia-
tucionalizados (públicos e privados) de proteção e garantia listas, diretores e vice-diretores, Assistentes Técnicos de
de direitos, abarcando também os espaços domésticos e Educação Básica (ATB), Auxiliares de Serviços Básicos (ASB)
comunitários. Dessa forma, podem ser inseridos na rede e demais servidores da escola; e também o são os varia-
de proteção social: Centro de Saúde, CRAS, CREAS e Cen- dos atores presentes no território: lideranças comunitárias,
tros de Convivência Intergeracional, Bibliotecas Públicas, educadores sociais e populares, artistas, comunidades tra-
Cinemas, Clubes, Grupos e Associações e bairro, coletivos dicionais, entre outros. Todos e cada um, se envolvidos no
juvenis, movimentos sociais, dentre outros atores que, não processo de reflexão, construção e execução do projeto
apenas fortalecem a rede de proteção social, mas também educativo, podem cumprir um papel significativo no de-
contribuem com o processo educativo. senvolvimento integral dos estudantes.
Cabe destacar que envolver a comunidade da escola
Cabe ressaltar, ainda, que a intersetorialidade deve
e do seu entorno na elaboração da Política Educacional e
ser colocada em prática a partir de uma intencionalida-
na tomada de decisões relacionadas ao cotidiano escolar é
de, levando em consideração uma atuação conjunta tanto
condição primordial para a apresentação de uma proposta
no planejamento, quanto na realização e na avaliação das
educativa que considere as peculiaridades do contexto local
ações. Muito mais que atender ao mesmo público, uma
e as singularidades dos sujeitos. Em outras palavras, para a
atuação intersetorial e em rede deve romper com a frag-
construção do Projeto Político Pedagógico que atenda às
mentação e a sobreposição de atividades realizadas por
necessidades da comunidade escolar, é necessário que a
distintos atores e instituições, para a mesma população. Os
gestão seja feita de forma dialogada e compartilhada, de
esforços são somados e, não, sobrepostos. modo que todos os atores sintam-se representados e cor-
Assim, é fundamental que a comunidade escolar co- responsáveis pelo projeto educativo. Isso inclui a constru-
nheça o território e a rede local de grupos e instituições ção do currículo, das normas de convivência, a organização
que atuam nele, de forma que seja possível uma ação con- dos tempos e espaços, dentre outros aspectos.
junta e articulada desses atores, com vistas ao pleno de-
senvolvimento dos estudantes e à garantia integral de seus 3. POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INTEGRAL E INTEGRA-
direitos. DA: OS POLOS DE EDUCAÇÃO MÚLTIPLA COMO ESTRA-
TÉGIA INDUTORA
● Participação e Protagonismo Estudantil
Só é possível considerar o estudante na centralidade A proposta educativa dos Polos de Educação Múltipla
do processo educativo envolvendo-o como protagonista busca promover o desenvolvimento das diversas aprendi-
da sua construção. Dessa forma, torna-se possível um mo- zagens, capacidades e habilidades dos estudantes.
delo de educação voltado para as demandas e necessida- A partir dos princípios e objetivos da Política de Edu-
des do público atendido, fomentando o seu pleno desen- cação Integral e Integrada, foram definidos alguns eixos
volvimento e a construção da convivência pautada no res- norteadores que ajudem a localizar estrategicamente as
peito às diversidades e às singularidades de cada sujeito. atividades, ações, programas e projetos pedagógicos que
Quando o estudante é envolvido na elaboração do compõem o currículo e também a evidenciar as possíveis
projeto educativo, suas vivências são valorizadas e apro- relações entre esses componentes, de forma que configure
priadas pelo currículo, de modo que as aprendizagens um Projeto Pedagógico coerente e organizada, superando-
constituídas ganham novos sentidos e significados. Dessa se, assim, a fragmentação das ações.
forma, aumenta-se o vínculo do estudante com a escola e
ele se torna corresponsável tanto pelos espaços escolares 3.1. Os eixos norteadores das Escolas POLEM
quanto pelo processo de construção e compartilhamento A organização do Projeto Pedagógico se orienta a par-
do conhecimento. tir de cinco eixos norteadores, por sua vez, elaborados com
base nos princípios e objetivos da Política de Educação In-
tegral e Integrada. São eles:
266
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
• Direito à Educação Integral: esse é o eixo central da proposta educativa aqui apresentada, visto que o foco em ga-
rantir o direito à aprendizagem perpassa todas as dimensões curriculares e, na perspectiva do Currículo Integrado, todas
as ações pedagógicas cumprem o objetivo de garantir tal direito; (conceito de educação integral)
• Gestão Democrática e Participativa: esse eixo, por sua vez, é o que oferece a viabilidade para que seja construído o
Currículo Integrado e para que o Projeto Político Pedagógico da escola esteja ancorado nas reais demandas da Comuni-
dade Escolar, refletindo as peculiaridades de seus atores e territórios;
• Valorização Profissional e do Trabalho Coletivo: a escola não se constrói sem que sejam valorizados seus profissio-
nais, por meio da melhoria das condições de trabalho, tampouco sem o empenho e corresponsabilidade de todas e todos
ali presentes. Portanto, tal eixo também se torna imprescindível;
• Relação da Escola com a Comunidade: o que faz a escola existir e ter sentido é a Comunidade na qual ela se insere.
Por isso, estreitar os laços entre a escola e a comunidade contribui sobremaneira para que os vínculos sejam formados e
consolidados, para que cada sujeito possa se enxergar como parte da escola e para que a escola se veja como parte do
Território;
• Protagonismo Estudantil: esse eixo reafirma a importância de que os estudantes estejam no centro do processo edu-
cativo, reconhecendo-se como sujeito da Política Educacional. O Protagonismo Estudantil também contribui para que os
estudantes se corresponsabilizem pelo espaço escolar e pelos projetos e atividades que ali se desenvolvem. Acrescenta-se
a esse eixo a dimensão do Projeto de Vida, que significa dizer que o processo de formação integral dos sujeitos remete
à necessidade de que sejam capazes de elaborar perspectivas de vida condizentes com o seu contexto social específico
e que tenham interface com a construção da sua identidade, forjada a partir das suas relações e práticas sociais. Assim,
o Projeto de Vida é uma estratégia que permite ao indivíduo organizar objetivos e prioridades, bem como elencar meios
para realizar-se, tendo em vista os campos de possibilidades que se apresentam, podendo ser produzidos e ampliados.
A proposta de organização por eixos, portanto, não tem a intenção de engessar o currículo, ao contrário, visa esta-
belecer e evidenciar as relações existentes entre os seus componentes e todos os outros elementos que configuram o
processo educativo. Assim, as escolas poderão se orientar a partir desses eixos, ao elaborarem seu Projeto Pedagógico, de
forma que consigam visualizar que ações, atividades, projetos e programas são mais relevantes para a composição do seu
currículo, tendo em vista aqueles objetivos e princípios que precisem perseguir com maior dedicação.
O Currículo Integrado dá sustentação ao Projeto Pedagógico construído na perspectiva da Educação Integral e In-
tegrada, pois sem a articulação entre as áreas do conhecimento, os componentes curriculares, os temas transversais, as
estratégias metodológicas, os recursos didáticos, as práticas e saberes dos sujeitos envolvidos no processo, o contexto
da comunidade, entre outros aspectos que conformam o currículo, a tarefa de promover o desenvolvimento integral dos
sujeitos torna-se infecunda. A noção de Territórios Educativos, nesse sentido, vem validar essas considerações, ao admitir
que o Currículo Integrado é aquele que mobiliza as práticas e saberes da comunidade e do território. O currículo legitima
e fortalece o papel educativo dos territórios. Também, aqui, a perspectiva da intersetorialidade é fundamental para que
haja uma integração efetiva da escola com os diversos atores do território, proporcionando além das aprendizagens, a
proteção social e o acesso a direitos.
Feitas essas considerações, a concretização e execução do Projeto Pedagógico ancorada nesses dois elementos (cur-
rículo integrado e território educativo) se dará a partir da oferta articulada de atividades pedagógicas distribuídas em
quatro Campos de Integração Curricular e das Ações, Programas e Projetos que a escola já oferta.
267
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
• Cultura e Artes: bandas, canto coral, música na escola, artesanato popular, capoeira, práticas circenses, teatro e percussão;
• Esporte e Saúde: atletismo, futsal, voleibol, xadrez, tênis de mesa, judô e brinquedoteca;
• Ciência, tecnologia e empreendedorismo: Iniciação Científica, Meu Primeiro Negócio, Rede de Educação Profissional e
Rede UAITEC;
• Desenvolvimento das aprendizagens: acompanhamento pedagógico, metodologia diferenciada para estudantes em dis-
torção idade-ano, apoio pedagógico de Língua Portuguesa e Matemática e Sala de Recursos para alunos da Educação Especial.
268
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
As atividades distribuídas nos quatro Campos de Integração Curricular serão definidas pela escola a partir da demanda
apontada pelos estudantes e as possibilidades de oferta de cada tipo de atividade. Essas atividades farão parte do Currículo
da escola e serão estratégicas para a consolidação das aprendizagens, habilidades e competências de cada sujeito.
A elaboração e execução do Projeto Pedagógico, mais que criar novas linhas de atuação, impõe a necessidade estra-
tégica de organizar e articular as ações já existentes, de forma a potencializar seu impacto no desenvolvimento integral. A
proposta dos Polos de Educação Múltipla, desta forma, é superar a fragmentação das ações, com o propósito de convergir
e somar esforços para uma Política Educativa que, efetivamente, contribua para o desenvolvimento integral dos estudantes.
Portanto, as escolas POLEM são uma estratégia indutora da Educação Integral e Integrada, que busca reunir:
269
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra XX - EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA:
gente é no meio da travessia. (Guimarães Rosa, 1994) POSSIBILIDADES E DESAFIOS
270
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A partir da visão dos direitos humanos e do conceito de A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus
cidadania fundamentado no reconhecimento das diferenças objetivos fundamentais “promover o bem de todos, sem
e na participação dos sujeitos, decorre uma identificação dos preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
mecanismos e processos de hierarquização que operam na outras formas de discriminação” (art.3º, inciso IV). Define,
regulação e produção das desigualdades. Essa problema- no artigo 205, a educação como um direito de todos, ga-
tização explicita os processos normativos de distinção dos rantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício
alunos em razão de características intelectuais, físicas, cul- da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu arti-
turais, sociais e linguísticas, entre outras, estruturantes do go 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de
modelo tradicional de educação escolar. acesso e permanência na escola” como um dos princípios
A educação especial se organizou tradicionalmente para o ensino e garante, como dever do Estado, a oferta do
como atendimento educacional especializado substitutivo atendimento educacional especializado, preferencialmente
ao ensino comum, evidenciando diferentes compreensões, na rede regular de ensino (art. 208).
terminologias e modalidades que levaram à criação de insti-
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº
tuições especializadas, escolas especiais e classes especiais.
8.069/90, no artigo 55, reforça os dispositivos legais supra-
Essa organização, fundamentada no conceito de normalida-
citados ao determinar que “os pais ou responsáveis têm a
de/anormalidade, determina formas de atendimento clínico-
obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede re-
terapêuticos fortemente ancorados nos testes psicométricos
que, por meio de diagnósticos, definem as práticas escolares gular de ensino”. Também nessa década, documentos como
para os alunos com deficiência. a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a
No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência teve Declaração de Salamanca (1994) passam a influenciar a for-
início na época do Império, com a criação de duas institui- mulação das políticas públicas da educação inclusiva.
ções: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, atual Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação
Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos Especial, orientando o processo de “integração instrucio-
Mudos, em 1857, hoje denominado Instituto Nacional da nal” que condiciona o acesso às classes comuns do ensino
Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro. No regular àqueles que “(...) possuem condições de acompa-
início do século XX é fundado o Instituto Pestalozzi (1926), nhar e desenvolver as atividades curriculares programadas
instituição especializada no atendimento às pessoas com do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos
deficiência mental; em 1954, é fundada a primeira Associa- normais” (p.19). Ao reafirmar os pressupostos construídos
ção de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE; e, em 1945, a partir de padrões homogêneos de participação e apren-
é criado o primeiro atendimento educacional especializado dizagem, a Política não provoca uma reformulação das
às pessoas com superdotação na Sociedade Pestalozzi, por práticas educacionais de maneira que sejam valorizados os
Helena Antipoff. diferentes potenciais de aprendizagem no ensino comum,
Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com mas mantendo a responsabilidade da educação desses alu-
deficiência passa a ser fundamentado pelas disposições da nos exclusivamente no âmbito da educação especial.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
nº 4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à edu- Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas
cação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos,
A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao de- recursos e organização específicos para atender às suas
finir “tratamento especial” para os alunos com “deficiências necessidades; assegura a terminalidade específica àque-
físicas, mentais, os que se encontram em atraso considerá- les que não atingiram o nível exigido para a conclusão do
vel quanto à idade regular de matrícula e os superdotados”, ensino fundamental, em virtude de suas deficiências; e
não promove a organização de um sistema de ensino capaz
assegura a aceleração de estudos aos superdotados para
de atender às necessidades educacionais especiais e acaba
conclusão do programa escolar. Também define, dentre as
reforçando o encaminhamento dos alunos para as classes e
normas para a organização da educação básica, a “possibi-
escolas especiais.
lidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verifica-
Em 1973, o MEC cria o Centro Nacional de Educação
Especial – CENESP, responsável pela gerência da educação ção do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades
especial no Brasil, que, sob a égide integracionista, impulsio- educacionais apropriadas, consideradas as características
nou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência do alunado, seus interesses, condições de vida e de traba-
e às pessoas com superdotação, mas ainda configuradas por lho, mediante cursos e exames” (art. 37).
campanhas assistenciais e iniciativas isoladas do Estado. Em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº
Nesse período, não se efetiva uma política pública de 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Inte-
acesso universal à educação, permanecendo a concepção de gração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a edu-
“políticas especiais” para tratar da educação de alunos com cação especial como uma modalidade transversal a todos
deficiência. No que se refere aos alunos com superdotação, os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação
apesar do acesso ao ensino regular, não é organizado um complementar da educação especial ao ensino regular.
atendimento especializado que considere as suas singula-
ridades de aprendizagem.
271
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes Em 2003, é implementado pelo MEC o Programa Edu-
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, cação Inclusiva: direito à diversidade, com vistas a apoiar a
Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam transformação dos sistemas de ensino em sistemas educa-
que: cionais inclusivos, promovendo um amplo processo de for-
“Os sistemas de ensino devem matricular todos os mação de gestores e educadores nos municípios brasileiros
alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o aten- para a garantia do direito de acesso de todos à escolariza-
dimento aos educandos com necessidades educacionais ção, à oferta do atendimento educacional especializado e à
especiais, assegurando as condições necessárias para uma garantia da acessibilidade.
educação de qualidade para todos.” Em 2004, o Ministério Público Federal publica o docu-
As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial mento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e
para realizar o atendimento educacional especializado Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de dis-
complementar ou suplementar à escolarização, porém, ao seminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão,
admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, não reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de
potencializam a adoção de uma política de educação inclu- alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do en-
siva na rede pública de ensino, prevista no seu artigo 2º. sino regular.
O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº
Impulsionando a inclusão educacional e social, o De-
10.172/2001, destaca que “o grande avanço que a década
creto nº 5.296/04 regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº
da educação deveria produzir seria a construção de uma
10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promo-
escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade
ção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com
humana”. Ao estabelecer objetivos e metas para que os sis-
temas de ensino favoreçam o atendimento às necessidades mobilidade reduzida. Nesse contexto, o
educacionais especiais dos alunos, aponta um déficit refe- Programa Brasil Acessível, do Ministério das Cidades, é
rente à oferta de matrículas para alunos com deficiência desenvolvido com o objetivo de promover a acessibilidade
nas classes comuns do ensino regular, à formação docente, urbana e apoiar ações que garantam o acesso universal aos
à acessibilidade física e ao atendimento educacional espe- espaços públicos.
cializado. O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº
10.436/2002, visando ao acesso à escola dos alunos surdos,
A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular,
Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas a formação e a certificação de professor, instrutor e tra-
com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liber- dutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa
dades fundamentais que as demais pessoas, definindo como segunda língua para alunos surdos e a organização
como discriminação com base na deficiência toda diferen- da educação bilíngue no ensino regular.
ciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividades
dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais. de Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em todos os
Este Decreto tem importante repercussão na educação, estados e no Distrito Federal, são organizados centros de
exigindo uma reinterpretação da educação especial, com- referência na área das altas habilidades/superdotação para
preendida no contexto da diferenciação, adotado para pro- o atendimento educacional especializado, para a orienta-
mover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à ção às famílias e a formação continuada dos professores,
escolarização. constituindo a organização da política de educação inclu-
Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução siva de forma a garantir esse atendimento aos alunos da
CNE/CP nº 1/2002, que estabelece as Diretrizes Curricula- rede pública de ensino.
res Nacionais para a Formação de Professores da Educação A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
Básica, define que as instituições de ensino superior devem ciência, aprovada pela ONU em 2006 e da qual o Brasil é
prever, em sua organização curricular, formação docente signatário, estabelece que os Estados-Partes devem asse-
voltada para a atenção à diversidade e que contemple co-
gurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis
nhecimentos sobre as especificidades dos alunos com ne-
de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvi-
cessidades educacionais especiais.
mento acadêmico e social compatível com a meta da plena
A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Si-
participação e inclusão, adotando medidas para garantir
nais – Libras como meio legal de comunicação e expressão,
determinando que sejam garantidas formas institucionali- que:
zadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas
disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos do sistema educacional geral sob alegação de deficiência
cursos de formação de professores e de fonoaudiologia. e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do
A Portaria nº 2.678/02 do MEC aprova diretrizes e nor- ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação
mas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do siste- de deficiência;
ma Braille em todas as modalidades de ensino, compreen- b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao
dendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em
e a recomendação para o seu uso em todo o território na- igualdade de condições com as demais pessoas na comu-
cional. nidade em que vivem (Art.24).
272
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Neste mesmo ano, a Secretaria Especial dos Direitos Hu- A partir de 2004, são efetivadas mudanças no instru-
manos, os Ministérios da Educação e da Justiça, juntamente mento de pesquisa do Censo, que passa a registrar a série
com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a ou ciclo escolar dos alunos identificados no campo da edu-
Ciência e a Cultura – UNESCO, lançam o Plano Nacional de cação especial, possibilitando monitorar o percurso escolar.
Educação em Direitos Humanos, que objetiva, dentre as suas Em 2007, o formulário impresso do Censo Escolar foi trans-
ações, contemplar, no currículo da educação básica, temáticas formado em um sistema de informações on-line, o Censo
relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afir- Web, que qualifica o processo de manipulação e tratamento
mativas que possibilitem acesso e permanência na educação das informações, permite atualização dos dados dentro do
superior. mesmo ano escolar, bem como possibilita o cruzamento
Em 2007, é lançado o Plano de Desenvolvimento da Edu- com outros bancos de dados, tais como os das áreas de saú-
cação – PDE, reafirmado pela Agenda Social, tendo como eixos de, assistência e previdência social. Também são realizadas
a formação de professores para a educação especial, a implan- alterações que ampliam o universo da pesquisa, agregando
tação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade informações individualizadas dos alunos, das turmas, dos
arquitetônica dos prédios escolares, acesso e a permanência professores e da escola.
das pessoas com deficiência na educação superior e o moni- Com relação aos dados da educação especial, o Censo
toramento do acesso à escola dos favorecidos pelo Benefício Escolar registra uma evolução nas matrículas, de 337.326 em
de Prestação Continuada – BPC. 1998 para 700.624 em 2006, expressando um crescimento
No documento do MEC, Plano de Desenvolvimento da de 107%. No que se refere ao ingresso em classes comuns
Educação: razões, princípios e programas é reafirmada a visão do ensino regular, verifica-se um crescimento de 640%, pas-
que busca superar a oposição entre educação regular e edu- sando de 43.923 alunos em 1998 para 325.316 em 2006.
cação especial. Quanto à distribuição dessas matrículas nas esferas pú-
Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade blica e privada, em 1998 registra-se 179.364 (53,2%) alunos
da educação especial nos diferentes níveis, etapas e modali- na rede pública e 157.962 (46,8%) nas escolas privadas, prin-
dades de ensino, a educação não se estruturou na perspectiva cipalmente em instituições especializadas filantrópicas. Com
da inclusão e do atendimento às necessidades educacionais
o desenvolvimento das ações e políticas de educação inclu-
especiais, limitando, o cumprimento do princípio constitucio-
siva nesse período, evidencia-se um crescimento de 146%
nal que prevê a igualdade de condições para o acesso e per-
das matrículas nas escolas públicas, que alcançaram 441.155
manência na escola e a continuidade nos níveis mais elevados
(63%) alunos em 2006.
de ensino (2007, p. 09).
Com relação à distribuição das matrículas por etapa de
Para a implementação do PDE é publicado o Decreto nº
ensino em 2006: 112.988 (16%) estão na educação infantil,
6.094/2007, que estabelece nas diretrizes do Compromisso
466.155 (66,5%) no ensino fundamental, 14.150 (2%) no en-
Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no
sino médio, 58.420 (8,3%) na educação de jovens e adul-
ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais
especiais dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas escolas tos, e 48.911 (6,3%) na educação profissional. No âmbito da
públicas. educação infantil, há uma concentração de matrículas nas
escolas e classes especiais, com o registro de 89.083 alunos,
Diagnóstico da Educação Especial enquanto apenas 24.005 estão matriculados em turmas co-
muns.
O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente em to- O Censo da Educação Especial na educação superior re-
das as escolas de educação básica, possibilita o acompanha- gistra que, entre 2003 e 2005, o número de alunos passou
mento dos indicadores da educação especial: acesso à educa- de 5.078 para 11.999 alunos, representando um crescimento
ção básica, matrícula na rede pública, ingresso nas classes co- de 136%. A evolução das ações referentes à educação espe-
muns, oferta do atendimento educacional especializado, aces- cial nos últimos anos é expressa no crescimento de 81% do
sibilidade nos prédios escolares, municípios com matrícula de número de municípios com matrículas, que em 1998 registra
alunos com necessidades educacionais especiais, escolas com 2.738 municípios (49,7%) e, em 2006 alcança 4.953 municí-
acesso ao ensino regular e formação docente para o atendi- pios (89%).
mento às necessidades educacionais especiais dos alunos.
Para compor esses indicadores no âmbito da educação Aponta também o aumento do número de escolas com
especial, o Censo Escolar/MEC/INEP coleta dados referentes matrícula, que em 1998 registra apenas 6.557 escolas e, em
ao número geral de matrículas; à oferta da matrícula nas es- 2006 passa a registrar 54.412, representando um crescimen-
colas públicas, escolas privadas e privadas sem fins lucrativos; to de 730%. Das escolas com matrícula em 2006, 2.724 são
às matrículas em classes especiais, escola especial e classes co- escolas especiais, 4.325 são escolas comuns com classe es-
muns de ensino regular; ao número de alunos do ensino regu- pecial e 50.259 são escolas de ensino regular com matrículas
lar com atendimento educacional especializado; às matrículas, nas turmas comuns.
conforme tipos de deficiência, transtornos do desenvolvimen- O indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios
to e altas habilidades/superdotação; à infraestrutura das esco- escolares, em 1998, aponta que 14% dos 6.557 estabeleci-
las quanto à acessibilidade arquitetônica, à sala de recursos ou mentos de ensino com matrícula de alunos com necessida-
aos equipamentos específicos; e à formação dos professores des educacionais especiais possuíam sanitários com aces-
que atuam no atendimento educacional especializado. sibilidade. Em 2006, das 54.412 escolas com matrículas de
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
alunos atendidos pela educação especial, 23,3% possuíam devem ter acesso à escola regular, tendo como princípio
sanitários com acessibilidade e 16,3% registraram ter de- orientador que “as escolas deveriam acomodar todas as
pendências e vias adequadas (dado não coletado em 1998). crianças independentemente de suas condições físicas, in-
No âmbito geral das escolas de educação básica, o índice telectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras”.
de acessibilidade dos prédios, em 2006, é de apenas 12%. O conceito de necessidades educacionais especiais,
Com relação à formação inicial dos professores que que passa a ser amplamente disseminado a partir dessa
atuam na educação especial, o Censo de 1998, indica Declaração, ressalta a interação das características indi-
que 3,2% possui ensino fundamental, 51% ensino médio viduais dos alunos com o ambiente educacional e social.
e 45,7% ensino superior. Em 2006, dos 54.625 professores No entanto, mesmo com uma perspectiva conceitual que
nessa função, 0,62% registram ensino fundamental, 24% aponte para a organização de sistemas educacionais inclu-
ensino médio e 75,2% ensino superior. Nesse mesmo ano, sivos, que garanta o acesso de todos os alunos e os apoios
77,8% desses professores, declararam ter curso específico necessários para sua participação e aprendizagem, as po-
nessa área de conhecimento. líticas implementadas pelos sistemas de ensino não alcan-
çaram esse objetivo.
Objetivo da Política Nacional de Educação Especial Na perspectiva da educação inclusiva, a educação es-
na Perspectiva da Educação Inclusiva pecial passa a integrar a proposta pedagógica da escola
regular, promovendo o atendimento às necessidades edu-
A Política Nacional de Educação Especial na Perspec- cacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos
tiva da Educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdo-
participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, tação. Nestes casos e outros, que implicam em transtornos
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida- funcionais específicos, a educação especial atua de forma
des/superdotação nas escolas regulares, orientando os sis- articulada com o ensino comum, orientando para o aten-
temas de ensino para promover respostas às necessidades dimento às necessidades educacionais especiais desses
educacionais especiais, garantindo: alunos.
- Transversalidade da educação especial desde a edu-
cação infantil até a educação superior; A educação especial direciona suas ações para o aten-
- Atendimento educacional especializado; dimento às especificidades desses alunos no processo
- Continuidade da escolarização nos níveis mais eleva- educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na
dos do ensino; escola, orienta a organização de redes de apoio, a forma-
- Formação de professores para o atendimento edu- ção continuada, a identificação de recursos, serviços e o
cacional especializado e demais profissionais da educação desenvolvimento de práticas colaborativas.
para a inclusão escolar; Os estudos mais recentes no campo da educação es-
- Participação da família e da comunidade; pecial enfatizam que as definições e uso de classificações
- Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobi- devem ser contextualizados, não se esgotando na mera
liários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e especificação ou categorização atribuída a um quadro de
informação; e deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão.
- Articulação intersetorial na implementação das polí- Considera-se que as pessoas se modificam continuamente,
ticas públicas. transformando o contexto no qual se inserem. Esse dina-
mismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar
Alunos atendidos pela Educação Especial a situação de exclusão, reforçando a importância dos am-
bientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem
Por muito tempo perdurou o entendimento de que a de todos os alunos.
educação especial, organizada de forma paralela à educa- A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com
ção comum, seria a forma mais apropriada para o atendi- deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo,
mento de alunos que apresentavam deficiência ou que não de natureza física, mental ou sensorial que, em interação
se adequassem à estrutura rígida dos sistemas de ensino. com diversas barreiras, podem ter restringida sua partici-
Essa concepção exerceu impacto duradouro na história pação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos
da educação especial, resultando em práticas que enfati- com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles
zavam os aspectos relacionados à deficiência, em contra- que apresentam alterações qualitativas das interações so-
posição à sua dimensão pedagógica. O desenvolvimento ciais recíprocas e na comunicação, um repertório de inte-
de estudos no campo da educação e dos direitos humanos resses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. In-
vêm modificando os conceitos, as legislações, as práticas cluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do
educacionais e de gestão, indicando a necessidade de se espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com altas
promover uma reestruturação das escolas de ensino regu- habilidades/superdotação demonstram potencial elevado
lar e da educação especial. em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combi-
Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as nadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade
escolas regulares com orientação inclusiva constituem os e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvi-
meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias mento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas
e que alunos com necessidades educacionais especiais de seu interesse.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial Na educação superior, a educação especial se efetiva por
na Perspectiva da Educação Inclusiva meio de ações que promovam o acesso, a permanência e
a participação dos alunos. Estas ações envolvem o planeja-
A educação especial é uma modalidade de ensino que mento e a organização de recursos e serviços para a promo-
perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o ção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos
atendimento educacional especializado, disponibiliza os sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógi-
recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no cos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos
processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam
do ensino regular. o ensino, a pesquisa e a extensão.
O atendimento educacional especializado tem como Para o ingresso dos alunos surdos nas escolas comuns, a
função identificar, elaborar e organizar recursos pedagó- educação bilíngue – Língua Portuguesa/Libras desenvolve o
gicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de sinais, o
plena participação dos alunos, considerando suas necessi- ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na mo-
dades específicas. As atividades desenvolvidas no atendi- dalidade escrita para alunos surdos, os serviços de tradutor/
mento educacional especializado diferenciam-se daquelas intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o ensino da Libras
realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas para os demais alunos da escola. O atendimento educacional
à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou su- especializado para esses alunos é ofertado tanto na modali-
plementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e dade oral e escrita quanto na língua de sinais. Devido à di-
independência na escola e fora dela. ferença linguística, orienta-se que o aluno surdo esteja com
Dentre as atividades de atendimento educacional es- outros surdos em turmas comuns na escola regular.
pecializado são disponibilizados programas de enriqueci- O atendimento educacional especializado é realizado
mento curricular, o ensino de linguagens e códigos espe- mediante a atuação de profissionais com conhecimentos es-
cíficos de comunicação e sinalização e tecnologia assistiva. pecíficos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua
Ao longo de todo o processo de escolarização esse aten- Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do
dimento deve estar articulado com a proposta pedagógica sistema Braille, do Soroban, da orientação e mobilidade, das
atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do
do ensino comum. O atendimento educacional especializa-
desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos pro-
do é acompanhado por meio de instrumentos que possi-
gramas de enriquecimento curricular, da adequação e produ-
bilitem monitoramento e avaliação da oferta realizada nas
ção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de re-
escolas da rede pública e nos centros de atendimento edu-
cursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e outros.
cacional especializados públicos ou conveniados.
A avaliação pedagógica como processo dinâmico consi-
O acesso à educação tem início na educação infantil, na
dera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desen-
qual se desenvolvem as bases necessárias para a constru- volvimento do aluno quanto às possibilidades de aprendiza-
ção do conhecimento e desenvolvimento global do aluno. gem futura, configurando uma ação pedagógica processual
Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de e formativa que analisa o desempenho do aluno em relação
comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, ao seu progresso individual, prevalecendo na avaliação os as-
emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convi- pectos qualitativos que indiquem as intervenções pedagógi-
vência com as diferenças favorecem as relações interpes- cas do professor. No processo de avaliação, o professor deve
soais, o respeito e a valorização da criança. criar estratégias considerando que alguns alunos podem de-
Do nascimento aos três anos, o atendimento educa- mandar ampliação do tempo para a realização dos trabalhos
cional especializado se expressa por meio de serviços de e o uso da língua de sinais, de textos em Braille, de informá-
estimulação precoce, que objetivam otimizar o processo tica ou de tecnologia assistiva como uma prática cotidiana.
de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação
serviços de saúde e assistência social. Em todas as etapas especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar
e modalidades da educação básica, o atendimento educa- as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras e guia
cional especializado é organizado para apoiar o desenvol- intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos alunos
vimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimen-
sistemas de ensino. Deve ser realizado no turno inverso ao tação, locomoção, entre outras, que exijam auxílio constante
da classe comum, na própria escola ou centro especializa- no cotidiano escolar.
do que realize esse serviço educacional. Para atuar na educação especial, o professor deve ter
Desse modo, na modalidade de educação de jovens como base da sua formação, inicial e continuada, conheci-
e adultos e educação profissional, as ações da educação mentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos
especial possibilitam a ampliação de oportunidades de es- específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação
colarização, formação para ingresso no mundo do trabalho no atendimento educacional especializado, aprofunda o ca-
e efetiva participação social. ráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns
A interface da educação especial na educação indíge- do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de aten-
na, do campo e quilombola deve assegurar que os recursos, dimento educacional especializado, nos núcleos de acessi-
serviços e atendimento educacional especializado estejam bilidade das instituições de educação superior, nas classes
presentes nos projetos pedagógicos construídos com base hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos
nas diferenças socioculturais desses grupos. serviços e recursos de educação especial.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
da lei 10.098/2000 e da lei 10.172/2001 devem assegurar As diretrizes curriculares nacionais estendem-se para a
a acessibilidade aos alunos que apresentem necessida- educação especial, assim como se estendem para a educa-
des educacionais especiais, eliminando barreiras nos pré- ção básica em todas as modalidades e etapas da educação
dios, incluindo instalações equipamentos e mobiliário, nos básica, caberá as instâncias educacionais da União, Estados,
transportes escolares e comunicação, adaptando as escolas municípios a implementação destas diretrizes pelos siste-
existentes e construindo novas escolas, acessibilizando os mas de ensinos.
conteúdos curriculares, utilizando linguagens alternativas
como Braille e a língua de sinais (libras), sem prejuízo no RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 11 DE SETEMBRO
aprendizado da língua portuguesa. DE 2001
Devem organizar o atendimento educacional especia-
lizado a alunos que não possam frequentar as aulas por Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
vários motivos ou precisem de atendimento em domicilio na Educação Básica.
por um longo tempo, devem dar continuidade ao processo
de desenvolvimento de aprendizagem de educação básica O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
para o retorno e reintegração ao grupo escolar, com um selho Nacional de Educação, de conformidade com o dis-
currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos facili- posto no Art. 9o, § 1o, alínea “c”, da Lei 4.024, de 20 de
tando seu acesso à escola regular. dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei 9.131, de
Os sistemas públicos serão responsáveis pela identifi- 25 de novembro de 1995, nos Capítulos I, II e III do Título
cação, analise avaliação da qualidade de escolas, públicas V e nos Artigos 58 a 60 da Lei 9.394, de 20 de dezembro
ou privadas observados os princípios da educação inclu- de 1996, e com fundamento no Parecer CNE/CEB 17/2001,
siva, organizando currículos de competência e responsa- homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação
bilidade as escolas constando no seu PPP, respeitadas as em 15 de agosto de 2001, RESOLVE:
etapas e modalidades da Educação Básica.
Não sendo obrigatórias as instituições de ensino via- Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Na-
bilizar ao aluno com deficiência mental grave ou múltiplas, cionais para a educação de alunos que apresentem neces-
que não apresente resultados na escolarização, certificados sidades educacionais especiais, na Educação Básica, em
de conclusão de escolaridade. todas as suas etapas e modalidades.
Em consonância com princípios da educação inclusiva Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos
as escolas regulares e de educação profissional, pública ou terá início na educação infantil, nas creches e pré-escolas,
privada, devem atender todos os alunos com necessidades assegurando-lhes os serviços de educação especial sem-
educacionais especiais, a captação de recursos humanos, a pre que se evidencie, mediante avaliação e interação com
flexibilização e adaptação do currículo o encaminhamento a família e a comunidade, a necessidade de atendimento
para o trabalho. educacional especializado.
As escolas de educação profissional podem realizar
parcerias com escolas especiais para construir competên- Art. 2º Os sistemas de ensino devem matricular todos
cias necessárias a inclusão, e podem avaliar competências os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o aten-
das pessoas encaminhando-as para o mundo de trabalho. dimento aos educandos com necessidades educacionais
Cabe aos Sistemas de ensino estabelecer normas para especiais, assegurando as condições necessárias para uma
o bom funcionamento das escolas para que tenham con- educação de qualidade para todos.
dições suficientes para elaborar o PPP, contando com os Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem co-
professores capacitados e especializados, para a formação nhecer a demanda real de atendimento a alunos com ne-
de docentes na educação infantil, anos iniciais, ensino fun- cessidades educacionais especiais, mediante a criação de
damental, nível médio e em nível superior, licenciatura de sistemas de informação e o estabelecimento de interface
graduação plena com os órgãos governamentais responsáveis pelo Censo
Professores capacitados são considerados os que com- Escolar e pelo Censo Demográfico, para atender a todas
provem a formação de nível médio ou superior, incluídos as variáveis implícitas à qualidade do processo formativo
conteúdos sobre educação especial, que percebam as ne- desses alunos.
cessidades educacionais especiais dos alunos e valorizem a
educação inclusiva, flexibilizem a ação pedagógica em di- Art. 3º Por educação especial, modalidade da educação
ferentes áreas de conhecimentos, avaliem continuamente a escolar, entende-se um processo educacional definido por
eficácia do processo educativo, atuem em equipe. uma proposta pedagógica que assegure recursos e servi-
Professores capacitados em educação especial são ços educacionais especiais, organizados institucionalmente
aqueles que desenvolvem competências para identificar as para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns ca-
necessidades educacionais especiais, liderem e apoiem a sos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a
implementação de estratégias de flexibilização, adaptação garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento
curricular. E deverão comprovar a formação em cursos de das potencialidades dos educandos que apresentam ne-
licenciatura em educação especial, complementação de es- cessidades educacionais especiais, em todas as etapas e
tudos ou pós-graduação nas áreas especifica da educação modalidades da educação básica.
especial e que tenham uma formação continuada.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem consti- Art. 8° As escolas da rede regular de ensino devem pre-
tuir e fazer funcionar um setor responsável pela educação ver e prover na organização de suas classes comuns:
especial, dotado de recursos humanos, materiais e finan- I- professores das classes comuns e da educação es-
ceiros que viabilizem e deem sustentação ao processo de pecial capacitados e especializados, respectivamente, para
construção da educação inclusiva. o atendimento às necessidades educacionais dos alunos;
II- distribuição dos alunos com necessidades educacio-
Art. 4º Como modalidade da Educação Básica, a edu- nais especiais pelas várias classes do ano escolar em que
cação especial considerará as situações singulares, os perfis forem classificados, de modo que essas classes comuns se
dos estudantes, as características biopsicossociais dos alu- beneficiem das diferenças e ampliem positivamente as ex-
nos e suas faixas etárias e se pautará em princípios éticos, periências de todos os alunos, dentro do princípio de edu-
políticos e estéticos de modo a assegurar: car para a diversidade;
I- a dignidade humana e a observância do direito de III– flexibilizações e adaptações curriculares que con-
cada aluno de realizar seus projetos de estudo, de trabalho siderem o significado prático e instrumental dos conteú-
e de inserção na vida social; dos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos
II- a busca da identidade própria de cada educando, diferenciados e processos de avaliação adequados ao de-
o reconhecimento e a valorização das suas diferenças e senvolvimento dos alunos que apresentam necessidades
potencialidades, bem como de suas necessidades educa- educacionais especiais, em consonância com o projeto
cionais especiais no processo de ensino e aprendizagem, pedagógico da escola, respeitada a frequência obrigatória;
como base para a constituição e ampliação de valores, ati- IV – serviços de apoio pedagógico especializado, reali-
tudes, conhecimentos, habilidades e competências; zado, nas classes comuns, mediante:
III- o desenvolvimento para o exercício da cidadania, a) atuação colaborativa de professor especializado em
da capacidade de participação social, política e econômica educação especial;
e sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres b) atuação de professores-intérpretes das linguagens e
e o usufruto de seus direitos. códigos aplicáveis;
c) atuação de professores e outros profissionais itine-
Art. 5º Consideram-se educandos com necessidades
rantes intra e interinstitucionalmente;
educacionais especiais os que, durante o processo educa-
d) disponibilização de outros apoios necessários à
cional, apresentarem:
aprendizagem, à locomoção e à comunicação.
I- dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limi-
V– serviços de apoio pedagógico especializado em
tações no processo de desenvolvimento que dificultem o
salas de recursos, nas quais o professor especializado em
acompanhamento das atividades curriculares, compreen-
didas em dois grupos: educação especial realize a complementação ou suplemen-
a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica espe- tação curricular, utilizando procedimentos, equipamentos e
cífica; materiais específicos;
b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limita- VI– condições para reflexão e elaboração teórica da
ções ou deficiências; educação inclusiva, com protagonismo dos professores,
II– dificuldades de comunicação e sinalização diferen- articulando experiência e conhecimento com as necessida-
ciadas dos demais alunos, demandando a utilização de lin- des/possibilidades surgidas na relação pedagógica, inclu-
guagens e códigos aplicáveis; sive por meio de colaboração com instituições de ensino
III- altas habilidades/superdotação, grande facilidade superior e de pesquisa;
de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente con- VII– sustentabilidade do processo inclusivo, mediante
ceitos, procedimentos e atitudes. aprendizagem cooperativa em sala de aula, trabalho de
equipe na escola e constituição de redes de apoio, com a
Art. 6 Para a identificação das necessidades educacio- participação da família no processo educativo, bem como
nais especiais dos alunos e a tomada de decisões quanto de outros agentes e recursos da comunidade;
ao atendimento necessário, a escola deve realizar, com as- VIII– temporalidade flexível do ano letivo, para aten-
sessoramento técnico, avaliação do aluno no processo de der às necessidades educacionais especiais de alunos com
ensino e aprendizagem, contando, para tal, com: deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas,
I- a experiência de seu corpo docente, seus diretores, de forma que possam concluir em tempo maior o currícu-
coordenadores, orientadores e supervisores educacionais; lo previsto para a série/etapa escolar, principalmente nos
II- o setor responsável pela educação especial do res- anos finais do ensino fundamental, conforme estabelecido
pectivo sistema; por normas dos sistemas de ensino, procurando-se evitar
III– a colaboração da família e a cooperação dos servi- grande defasagem idade/série;
ços de Saúde, Assistência Social, Trabalho, Justiça e Espor- IX– atividades que favoreçam, ao aluno que apresente
te, bem como do Ministério Público, quando necessário. altas habilidades/superdotação, o aprofundamento e en-
riquecimento de aspectos curriculares, mediante desafios
Art. 7º O atendimento aos alunos com necessidades suplementares nas classes comuns, em sala de recursos ou
educacionais especiais deve ser realizado em classes co- em outros espaços definidos pelos sistemas de ensino, in-
muns do ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade clusive para conclusão, em menor tempo, da série ou etapa
da Educação Básica. escolar, nos termos do Artigo 24, V, “c”, da Lei 9.394/96.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 9° As escolas podem criar, extraordinariamente, §1° Para atender aos padrões mínimos estabelecidos
classes especiais, cuja organização fundamente-se no Capí- com respeito à acessibilidade, deve ser realizada a adaptação
tulo II da LDBEN, nas diretrizes curriculares nacionais para a das escolas existentes e condicionada a autorização de cons-
Educação Básica, bem como nos referenciais e parâmetros trução e funcionamento de novas escolas ao preenchimento
curriculares nacionais, para atendimento, em caráter tran- dos requisitos de infraestrutura definidos.
sitório, a alunos que apresentem dificuldades acentuadas §2° Deve ser assegurada, no processo educativo de alu-
de aprendizagem ou condições de comunicação e sinaliza- nos que apresentam dificuldades de comunicação e sinali-
ção diferenciadas dos demais alunos e demandem ajudas e zação diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade
apoios intensos e contínuos. aos conteúdos curriculares, mediante a utilização de lingua-
§1° Nas classes especiais, o professor deve desenvolver gens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille e a língua
o currículo, mediante adaptações, e, quando necessário, de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa,
atividades da vida autônoma e social no turno inverso. facultando-lhes e às suas famílias a opção pela abordagem
§2° A partir do desenvolvimento apresentado pelo alu- pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os profissionais
no e das condições para o atendimento inclusivo, a equipe especializados em cada caso.
pedagógica da escola e a família devem decidir conjunta-
mente, com base em avaliação pedagógica, quanto ao seu Art. 13. Os sistemas de ensino, mediante ação integrada
retorno à classe comum. com os sistemas de saúde, devem organizar o atendimen-
to educacional especializado a alunos impossibilitados de
Art. 10. Os alunos que apresentem necessidades edu- frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que
cacionais especiais e requeiram atenção individualizada implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou
nas atividades da vida autônoma e social, recursos, ajudas permanência prolongada em domicílio.
e apoios intensos e contínuos, bem como adaptações cur- §1° As classes hospitalares e o atendimento em ambiente
riculares tão significativas que a escola comum não consiga domiciliar devem dar continuidade ao processo de desenvol-
prover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário, em vimento e ao processo de aprendizagem de alunos matricu-
escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse lados em escolas da Educação Básica, contribuindo para seu
retorno e reintegração ao grupo escolar, e desenvolver currí-
complementado, sempre que necessário e de maneira ar-
culo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não matricu-
ticulada, por serviços das áreas de Saúde, Trabalho e Assis-
lados no sistema educacional local, facilitando seu posterior
tência Social.
acesso à escola regular.
§1º As escolas especiais, públicas e privadas, devem
§ 2° Nos casos de que trata este Artigo, a certificação de
cumprir as exigências legais similares às de qualquer escola
frequência deve ser realizada com base no relatório elabora-
quanto ao seu processo de credenciamento e autorização
do pelo professor especializado que atende o aluno.
de funcionamento de cursos e posterior reconhecimento.
§2º Nas escolas especiais, os currículos devem ajustar- Art. 14. Os sistemas públicos de ensino serão responsá-
se às condições do educando e ao disposto no Capítulo II veis pela identificação, análise, avaliação da qualidade e da
da LDBEN. idoneidade, bem como pelo credenciamento de escolas ou
§3° A partir do desenvolvimento apresentado pelo serviços, públicos ou privados, com os quais estabelecerão
aluno, a equipe pedagógica da escola especial e a família convênios ou parcerias para garantir o atendimento às ne-
devem decidir conjuntamente quanto à transferência do cessidades educacionais especiais de seus alunos, observa-
aluno para escola da rede regular de ensino, com base em dos os princípios da educação inclusiva.
avaliação pedagógica e na indicação, por parte do setor
responsável pela educação especial do sistema de ensino, Art. 15. A organização e a operacionalização dos currícu-
de escolas regulares em condição de realizar seu atendi- los escolares são de competência e responsabilidade dos es-
mento educacional. tabelecimentos de ensino, devendo constar de seus projetos
pedagógicos as disposições necessárias para o atendimento
Art. 11. Recomenda-se às escolas e aos sistemas de en- às necessidades educacionais especiais de alunos, respeita-
sino a constituição de parcerias com instituições de ensino das, além das diretrizes curriculares nacionais de todas as
superior para a realização de pesquisas e estudos de caso etapas e modalidades da Educação Básica, as normas dos
relativos ao processo de ensino e aprendizagem de alunos respectivos sistemas de ensino.
com necessidades educacionais especiais, visando ao aper-
feiçoamento desse processo educativo. Art. 16. É facultado às instituições de ensino, esgotadas
as possibilidades pontuadas nos Artigos 24 e 26 da LDBEN,
Art. 12. Os sistemas de ensino, nos termos da Lei viabilizar ao aluno com grave deficiência mental ou múltipla,
10.098/2000 e da Lei 10.172/2001, devem assegurar a aces- que não apresentar resultados de escolarização previstos no
sibilidade aos alunos que apresentem necessidades educa- Inciso I do Artigo 32 da mesma Lei, terminalidade específica
cionais especiais, mediante a eliminação de barreiras arqui- do ensino fundamental, por meio da certificação de conclu-
tetônicas urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, são de escolaridade, com histórico escolar que apresente, de
equipamentos e mobiliário – e nos transportes escolares, forma descritiva, as competências desenvolvidas pelo edu-
bem como de barreiras nas comunicações, provendo as es- cando, bem como o encaminhamento devido para a educa-
colas dos recursos humanos e materiais necessários. ção de jovens e adultos e para a educação profissional.
279
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Art. 17. Em consonância com os princípios da educa- § 3º Os professores especializados em educação espe-
ção inclusiva, as escolas das redes regulares de educação cial deverão comprovar:
profissional, públicas e privadas, devem atender alunos que I- formação em cursos de licenciatura em educação
apresentem necessidades educacionais especiais, median- especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de
te a promoção das condições de acessibilidade, a capacita- modo concomitante e associado à licenciatura para educa-
ção de recursos humanos, a flexibilização e adaptação do ção infantil ou para os anos iniciais do ensino fundamental;
currículo e o encaminhamento para o trabalho, contando, II- complementação de estudos ou pós-graduação em
para tal, com a colaboração do setor responsável pela edu- áreas específicas da educação especial, posterior à licencia-
cação especial do respectivo sistema de ensino. tura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação
§1° As escolas de educação profissional podem realizar nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio;
parcerias com escolas especiais, públicas ou privadas, tanto §4º Aos professores que já estão exercendo o magisté-
para construir competências necessárias à inclusão de alu- rio devem ser oferecidas oportunidades de formação con-
nos em seus cursos quanto para prestar assistência técnica tinuada, inclusive em nível de especialização, pelas instân-
e convalidar cursos profissionalizantes realizados por essas cias educacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal
escolas especiais. e dos Municípios.
§ 2° As escolas das redes de educação profissional po-
dem avaliar e certificar competências laborais de pessoas Art. 19. As diretrizes curriculares nacionais de todas as
com necessidades especiais não matriculadas em seus cur- etapas e modalidades da Educação Básica estendem-se
sos, encaminhando-as, a partir desses procedimentos, para para a educação especial, assim como estas Diretrizes Na-
o mundo do trabalho. cionais para a Educação Especial estendem-se para todas
as etapas e modalidades da Educação Básica.
Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer nor-
mas para o funcionamento de suas escolas, a fim de que Art. 20. No processo de implantação destas Diretrizes
essas tenham as suficientes condições para elaborar seu pelos sistemas de ensino, caberá às instâncias educacionais
projeto pedagógico e possam contar com professores ca-
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
pacitados e especializados, conforme previsto no Artigo 59
em regime de colaboração, o estabelecimento de referen-
da LDBEN e com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais
ciais, normas complementares e políticas educacionais.
para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, na
Art. 21. A implementação das presentes Diretrizes Na-
modalidade Normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais
cionais para a Educação Especial na Educação Básica será
para a Formação de Professores da Educação Básica, em
obrigatória a partir de 2002, sendo facultativa no período
nível superior, curso de licenciatura de graduação plena.
de transição compreendido entre a publicação desta Reso-
§1º São considerados professores capacitados para
lução e o dia 31 de dezembro de 2001.
atuar em classes comuns com alunos que apresentam ne-
cessidades educacionais especiais aqueles que comprovem
que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram Art. 22. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
incluídos conteúdos sobre educação especial adequados publicação e revoga as disposições em contrário.
ao desenvolvimento de competências e valores para:
I– perceber as necessidades educacionais especiais dos FRANCISCO APARECIDO CORDÃO
alunos e valorizar a educação inclusiva; Presidente da Câmara de Educação Básica
II- flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas
de conhecimento de modo adequado às necessidades es-
peciais de aprendizagem;
III- avaliar continuamente a eficácia do processo edu-
cativo para o atendimento de necessidades educacionais
especiais;
IV - atuar em equipe, inclusive com professores espe-
cializados em educação especial.
§2º São considerados professores especializados em
educação especial aqueles que desenvolveram competên-
cias para identificar as necessidades educacionais especiais
para definir, implementar, liderar e apoiar a implementação
de estratégias de flexibilização, adaptação curricular, pro-
cedimentos didáticos pedagógicos e práticas alternativas,
adequados ao atendimentos das mesmas, bem como tra-
balhar em equipe, assistindo o professor de classe comum
nas práticas que são necessárias para promover a inclusão
dos alunos com necessidades educacionais especiais.
280
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
281
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
(B) constitui um paradigma educacional fundamentado ( ) A atuação pedagógica deve ser direcionada a man-
na concepção de direitos humanos, que conjuga igualda- ter a situação de exclusão, reforçando a importância dos
de e diferença como valores indissociáveis, e que avança ambientes homogêneos para a promoção da aprendiza-
em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as gem de todos os alunos.
circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e As afirmativas são, respectivamente,
fora da escola. (A) V, V e V.
(C) o atendimento educacional especializado tem (B) V, V e F.
como função identificar, elaborar e organizar recursos pe- (C) V, F e V.
dagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras (D) F, F e V.
para a plena participação dos alunos, considerando suas (E) F, V e F.
necessidades específicas.
(D) tem como objetivo o acesso, a participação e a 12. (FCC/2016) Se praticado no contexto de violência
aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos glo- doméstica, a ação será pública incondicionada no caso de
bais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação crime de
nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino (A) lesão corporal contra a mulher, mas apenas se grave.
para promover respostas às necessidades educacionais es- (B) ameaça, independentemente da condição da vítima.
peciais. (C) lesão corporal leve contra pai.
(E) para atuar na educação especial, o professor deve (D) ameaça contra mulher.
ter como base da sua formação, inicial e continuada, co- (E) lesão corporal contra mulher, independentemente da
nhecimentos gerais para o exercício da docência, bem extensão.
como conhecimentos gerais da área.
13. (VUNESP/2016) O conceito de currículo está as-
10. (SEDUC-AM- FGV/2014) De acordo com o do- sociado às diferentes concepções, que derivam dos diver-
cumento “Política Nacional de Educação Especial na pers- sos modos como a educação é concebida historicamente,
pectiva da Educação Inclusiva”, a respeito da formação do e pode ser entendido como as experiências escolares que
professor para atuar na Educação Especial, assinale a afir- se desdobram em torno do conhecimento, em meio a rela-
mativa correta. ções sociais, e que contribuem para a construção das iden-
(A) O professor deve ter, como base da sua formação, tidades dos alunos. Assim, um currículo precisa contemplar
conhecimentos gerais para o exercício da docência, sem (A) um rol de conteúdos a serem transmitidos para os
necessidade de conhecimentos específicos da área. alunos.
(B) A formação não deve possibilitar a sua atuação no (B) o plano de atividades de ensino dos professores.
atendimento educacional especializado. (C) o uso de textos escolares, efeitos derivados das
(C) A formação deve aprofundar o caráter interativo práticas de avaliação.
e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino (D) uma série de estudos do meio que contemplem as
regular para a oferta dos serviços e recursos de educação relações sociais.
especial. (E) conhecimentos, valores, costumes, crenças e hábi-
(D) A formação não precisa contemplar conhecimentos tos.
de gestão de sistema educacional inclusivo.
(E) A formação deve favorecer conhecimentos de ges- 14. (VUNESP/2016) O sentido social que se atribui
tão de sistema educacional inclusivo, mas sem precisar à profissão docente está diretamente relacionado à com-
considerar o desenvolvimento de projetos em parceria com preensão política da finalidade do trabalho pedagógico, ou
outras áreas. seja, da concepção que se tem sobre a relação entre so-
ciedade e escola. Assim, a escola é o cenário onde alunos
11. (SEDUC/AM-FGV/2014) A respeito da Política Na- e professores, juntos, vão construindo uma história que se
cional de Educação Especial na Perspectiva da Educação modifica, amplia, transforma e interfere em diferentes âm-
Inclusiva, assinale V para a afirmativa verdadeira e F para bitos: o da pessoa, o da comunidade na qual está inserida
a falsa. e o da sociedade, numa perspectiva mais ampla. É correto
( ) Na perspectiva da educação inclusiva, a educação afirmar que a escola
especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola (A) é suprassocial, não está ligada a nenhuma classe
regular, promovendo o atendimento às necessidades edu- social específica e serve, indistintamente, a todas.
cacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos (B) não é capaz de funcionar como instrumento para
globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdo- mudanças, serve apenas para reproduzir as injustiças.
tação. (C) não tem, de forma alguma, autonomia, é determi-
( ) A educação especial direciona suas ações para o nada, de maneira absoluta, pela classe dominante da socie-
atendimento às especificidades desses alunos no processo dade.
educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na (D) é o lugar especialmente estruturado para poten-
escola, orienta a organização de redes de apoio, a forma- cializar a aprendizagem dos alunos.
ção continuada, a identificação de recursos, serviços e o (E) tem a tarefa primordial de servir ao poder e não a
desenvolvimento de práticas colaborativas. de atuar no âmbito global da sociedade.
282
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
15. (IFRO/ 2014) O Projeto Políticopedagógico é por si 17. (FCC/2017) Dentre as formas de violência domés-
a própria organização do espaço escolar. Ele organiza as ati- tica e familiar contra a mulher, expressamente previstas na
vidades administrativas, pedagógicas, curriculares e os pro- Lei nº 11.340/06, NÃO figura a violência
pósitos democráticos. Dizer que o Projeto Políticopedagógi- A) psicológica.
co abrange a organização do espaço escolar significa dizer B) patrimonial.
que o ambiente escolar é normatizado por ideais comuns a C) moral.
todos que constitui esse espaço, visto que o Projeto Político D) endêmica.
Pedagógico deve ser resultado dos atributos participativos. E) sexual.
Dessa forma, Libâneo (2001) elenca quatro áreas de ação em
que a organização do espaço escolar deve abranger. 18. (UPENET/2016) Os órgãos públicos devem ofere-
cer à criança e ao adolescente
Qual das alternativas não se refere às áreas elencadas A) o acesso à rede particular de ensino.
pelo autor? B) oferta de ensino noturno regular, adequada às
a) A organização da vida escolar, relacionado à organi- condições do aprendiz.
zação do trabalho escolar em função de sua especificidade C) o acesso e a manutenção do indivíduo ao ensino
de seus objetivos. superior.
b) Organização do processo de ensino e aprendizagem D) oportunidade de trabalho, mesmo que este retire
– refere-se basicamente aos aspectos de organização do tra- o adolescente do ensino regular.
balho do professor e dos alunos na sala de aula. E) formação técnica-profissional em instituições pri-
c) Organização das atividades de apoio técnico admi- vadas que ofereçam o curso desejado.
nistrativo – tem a função de fornecer o apoio necessário ao
trabalho docente. 19. O trabalho educativo descrito no ECA é
d) Orientação de atividades que vinculam escola e famí-
lia – refere-se às relações entre a escola e o ambiente inter- (A) atividade laboral em que as exigências pedagógicas
no: com os alunos, professores e famílias.
referentes ao desenvolvimento pessoal e social das crian-
e) Organização de atividades que vinculam escola e co-
ças e adolescentes prevalecem sobre o aspecto produtivo.
munidade – refere-se às relações entre a escola e o ambiente
(B) atividade laboral desenvolvida em parceria com as
externo: com os níveis superiores da gestão de sistemas es-
instituições de ensino superior que propiciam acesso ao
colar, com as organizações políticas e comunitárias.
ensino superior aos adolescentes entre dezesseis e dezoito
anos de idade com renda familiar inferior a três salários
16. (IFRO/ 2014) O Projeto Políticopedagógico é por si
mínimos.
a própria organização do espaço escolar. Ele organiza as ati-
vidades administrativas, pedagógicas, curriculares e os pro- (C) trabalho de monitoria de crianças carentes realiza-
pósitos democráticos. Dizer que o Projeto Políticopedagógi- do por adolescentes já formados nos cursos de capacitação
co abrange a organização do espaço escolar significa dizer das escolas técnicas federais.
que o ambiente escolar é normatizado por ideais comuns a (D) trabalho executado pelos licenciados em pedago-
todos que constitui esse espaço, visto que o Projeto Político gia ou ciência da educação na capacitação de professores
Pedagógico deve ser resultado dos atributos participativos. da rede pública de ensino.
Dessa forma, Libâneo (2001) elenca quatro áreas de ação em (E) o trabalho prestado por bolsistas do PROUNI nas
que a organização do espaço escolar deve abranger. comunidades carentes destinado a capacitar crianças e
adolescentes em atividades extracurriculares e profissiona-
Qual das alternativas não se refere às áreas elencadas lizantes.
pelo autor?
A) A organização da vida escolar, relacionado à organi- 20. (Acesso Público/2016) Considerando a diversida-
zação do trabalho escolar em função de sua especificidade de sociocultural do país e com o objetivo de promover a
de seus objetivos. igualdade de acesso e permanência dos indivíduos no sis-
B) Organização do processo de ensino e aprendizagem tema regular de ensino e, simultaneamente, combater desi-
– refere-se basicamente aos aspectos de organização do tra- gualdades sociais e regionais, assim como preconceitos de
balho do professor e dos alunos na sala de aula. qualquer ordem, relacionam-se às políticas educacionais
C) Organização das atividades de apoio técnico admi- de ação afirmativa e inclusiva:
nistrativo – tem a função de fornecer o apoio necessário ao (A) Educação para jovens e adultos em situação de pri-
trabalho docente. vação de liberdade nos estabelecimentos penais, educação
D) Orientação de atividades que vinculam escola e famí- escolar quilombola, educação escolar indígena, educação
lia – refere-se às relações entre a escola e o ambiente inter- do campo e dos povos das águas e das florestas.
no: com os alunos, professores e famílias. (B) Educação mista, integral e participativa.
E) Organização de atividades que vinculam escola e co- (C) Educação para a cidadania e ensino profissionali-
munidade – refere-se às relações entre a escola e o ambiente zante.
externo: com os níveis superiores da gestão de sistemas es- (D) Educação infantil, ensino fundamental e ensino mé-
colar, com as organizações políticas e comunitárias. dio.
(E) Educação ambiental e educação laica.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Respostas ___________________________________________________
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
ANOTAÇÕES
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ANOTAÇÕES
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