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ww ‘4 pun bh foto kad dom vN tes cee do Wuncle aioneira Tot Cus 0350 ants can Trad. Mansa Forkwurada. A AC \ pebo akvol Editare Unease 2004, » 42-30. =a ciadko Lapecko don SON ON | ne por eh orrade., Bo Paulo s Edicke ve SX SCHAFFER Pa f SA QM oes e ee Avra & Dilogravora de "The Tuning of the Work” de Orage Comms Hato, de Raden Fudl (1617, Marina ¢ An reson Introdugao Now Pu co nothing but sen, hear et sounds rwining togetber, combined, fused or flowing, Sounds of oe city and sounds out of the city, sounds ofthe day ana nigh Walt Whitman, Songs of Mytef* A paisagem sonora do mundo ests midando. © homem moderne comes 4 habitar um mundo que tem um ambiente acistico radicalmente diverso de qualquer outro que tenha conhecido até aqui Fsses novos Sons, que cliferem em qualidade e itensidade daqueles 6o pessaco, tm alenado mui tos pesquisadores quanto 40s perigos de ua dust indscriminada e linpe- rialsta de sons, em maior quantidade ¢ volume, em cada reduto da vida humana. A poluigio sonora € hoje um problem mundial. Pde-se dizer que em todo © mundo paisger sonora ating o Apice da vlgandade em nosso tempo, © muitos especialistas tém predito a surder universal como a Gltima consequéncia dessefendmeno, « menos que o problema venha a ser rap mente controlado ‘do dia edt noe. (N.T) Em virias partes do mundo, importantes pesquisas esido sendo eferwadas fem muitas areas independentes de estudas s6nicos: actstic ‘otologia, priticas © procedimentos imernacionais de controle do ruido, co- municagées ¢ engenasia de registos sonoros (rmisica eletronctistica € ele tronics), pereepeio de padrdes audiuvos e analise estruturil cla Kinguagem & 5 Sho imter-relacionadas, e cads dda mnsiea, Essas pesquis pecios da paisagem sonont mundial, De um modo ou de obtro, os 1m a esses variados temas esto Fazendo a mes %, pesquiscorey que se ded ma pergunia/Qual€ a relagao entre os homens ¢ os sons de seu ambiente © 0 que aconteze quand esses sons se modiican®)Os eulas a resp da prisagem sorortentam vnifcar esas diferentes peaquis > (x poluigis sono ocome quando o homem nfo ouve cuidadosamente Ruidos sto os sone que aprendemos ignort. A polugto sonora vernsendo ~combain pela Giminigso do ruil. Ess € uma abordagemm negatva) Pre tisamas procurar uma manera de tomar a acti ambiental um programa encorojar, mokiplica? de estudos positive, Que sons queremos preserva Quando soubermos responder a essa pergunta, os sons desagradiveis ou desirutivas predominario a tal ponto que saberemos por que devemos climind-los. Somente uma total apreciagio do ambiente acistico pode nos dar recursos para aperfelgoar @ orquestragio da paisagem sonora. mundial Hd muitos anos venho lutando em prol da limpeza de ouvidos nas eseclas & dda eliminagio da audiometria nas fibricas, Clariaudincia, ¢ no ouvides amorecidos: eis uma idéia da qual no desejo ter a posse permanente. © temt6rio fe cesiudos da paisagem sonora estari situado a (meio [ciéncia, a sociedade e as artes. Com a acistica © a psico-actistica aprendétemos a respeito das propriedades fisicas do som € do modo pelo qual este € interpretado pelo cérebro humana. Com a socie- Do projeto industrial ao projeto acustico |A mais importante revolugio na educagio ‘aquela realizacla pela Bauhaus, a mais célebre escola de arte alema desse 18 A afinogto do munda século, Sob a lideranga dolar unt water Gropits, « Biuhava resnts ‘gins clos natreaetrdored,eltririetagio{ teat Pa’ Gist anda ota amy ena ee atanestee coer See ee ere ec ee ae ee ee pct caer ara ele sea oat niet e dea et Mas © propésto da escola era outro. A snerlainterdiscplinar das hab lidades dos membros permit estabelecer um novo campo de estudos ragas a riagdo da cisciplina chamsda iprojeo industial; A Bauhaus Jevou a estiea A maquinara © & produgio de masa, _Cabesnos agora eriar ura inerdeciplina que’ poderlamos chamar ojo acistica} na qual misicos, engenheiros acdsicos,psicclogos, saciilogos © outros esudariam em eonjurio a palsagenv sonora mun: eal qd esse faces aa easel eg sua melhors. Esse estado teria por'abftivo/Yocumentar aspects im- portantesidos sens, cbservtr sous tifcengas) semelhapae tends, colecionér sons atieafadoa de exingio, esudar oe’ efchox dor naves sine ates de les [espe colocadac neicruninac ete 0 RIE te, exudar 6 fice siabolisma dos sot Gx pacoes'lo Cotnporaripe thao en ferences arablentes tonowac, como imide oplcat coches! mento ao planejamento de futuros ambientes. Dados interculturais de Jado 0 srando precisam ser culdadosamente reunidos ¢ ioterpretados. (ee métodos de educar 0 publica para a importincia do ambiente ponsrolbneeasrdise: crises A questi ial cerdl(lpatNaers ante tiundnl® Gna: Composi¢io indeierminaday sobre! sual ntol Gos ee eed een entre eee er at Orquestragdo € assunto para misicos No tanscurso deste liv, tratarel do mundo como uma composigao musical macsocésmica. asa € uma idéiainslia, mas vou leva inca favelmente adiante. A Wefinigio de misiG2\tem sofrido uma mudanga radical nos dkimes anos. Numa das mis recentes, John Cage decarou *Misica € sons, sons & nossa vols, quer estejamos dentzo ou fora das salas de conceno = vejam Thoreav", Cage esti aludindo a Walden, de ry B Muroy Sehoer ‘Thoreau, onde 0 autor descobre uma inesgotivel fonte de entretenimen to nos sons e visdes da natureza# > Definir a musica meramente como sons teria sido impensivel alguns. {anos atris, embora hoje as definigdes mais restitas scjam as que se \ceitiveis. Pauco a pouco, no decorrer do século XX, todas 10 da revelado mais i ‘as definigdes tradicionais de misica foram caindo por terra em ru |" aundante avidade dos préprios misicos. Em primeiro lugar, pel nossas orquestrs, muitos dos \S\ Fekbansio dos insiramentos de percussio na 4°77 quais produaem sons sem altura definids ou arritmicos, depois, pela intro- dugao de precedimento®eatérios, nos quais todas as tentativas para orgie nizar os sons de uma composicio raciogal foram suplantadas pelas leis ‘mais alas” da entropia; em seguieh, pel{dbemura dos recipivntes espuyo: temporais que chamamos de “composigdes" ou “salas de concerto” para permitir a invodugie de todo um mundo novo de sons situados fora delas (em 4° 33° Silence de Cage, ouvimos apenas os sons extemos & propria composigiio, que no passa de uma cesura prolongac); depois, pelas priti- Qs da musique conertie tmisica concretal, que inggse qualquer som ambiental ra composigo por via da fit; ¢, finalmente, pela Wsica eletrOnica, que em todo © munco nos tem revelado toda uma nova gama de sons musical ‘muitos deles relacionadas com a tecnologia industrial e elétrica, Hoje, todos as sons fazem pane de um campo continuo de possiblida- des, que perience ao dominio compreensivo da misica{tis a nova orques- tra: 0 universo sonoro!) E 08 miiscos: qualquer um qualquer coisa que soe! Conceito dionisiaco versus 0 conceito apolineo de musica £ mais facil perceber as responsabilidad da engenharia uedstica ou da audiologie para com a paisagem sonora mundial do que entender a exata maneir. pela qual o misico comtemporineo pretende ligarse a esse vvasto tema, Dai eu bater na mesma tecls mais algurm tempo. 1 duasidéias basicas a respeito do que a musica ¢ ou deveria ser Blas podem ser vistas mais claramente em dois mitos gregos que explicam a 7D Apud ® M Shaler The Aew Soundscape London, Viena, 1971 Wer R.B. Schafer 0 nie pensente Sto Pao: Edors UNESE, 1981/1986) 20 ‘Aofinagbo de mundo ‘ origem da masic’) Nas Doze odes piticas, Pindaso nos conta como a are de ese eee ee lees ite eeeeeer eek este ec eee eer ee eee ek terra earls ecg exis ee Ce ete tvs € mencionaia, ize que lia fol averiaéa porGlemnedsaeardo ele percebeu que a caripaca de uma ianarugs, 9 fsee utils como calxa de ressontncis, peer produc fon Na primeir desses mits, a mss surge como emordo subjetive; no ee oe eet eee eee riais do universo. Tais slo os fundamentos sobre os quais todas as teorias racteristicamente, a lita é 0 da misica subseqiientes esto fundadas instrument de Homero, da epopeia, da serena contemplagio do univer: 80, enquanto © aulas(o obo8 com palheta) € 0 instrumento da exaltago da tragédia, o instrumento do ditirambe? ¢ do drama. A lira é 0 instrumen- to de Apolo, 0 aulas dos festivais de Dioniso. No mito dionists interno, que itrompe do peito do homem; no € concebida como um $01 mito apolineo, ela € con para nos lembrar a harmonia do universo. Na visio apolinea, a masica é exata, serena, matemitica, associada as visdes transcendentais da Utopia e ds Harmonia das Esferas. £ também a anabata dos te6ricos hindus. £ a base da especulago de Pitagoras e dos tedricos medievais (época em que a misica era ensinada como uma discplina do quadrivium, a0 lado da eendida como som externo, enviado por Deus artmétiea, da geometria © da astronomia), bem como da téenica de com- posigio sobre doze notas de Schoenberg * Seus migtodos de exposi¢ao S20 45 teorias dos. nimeros. Ela busca harmonizar 0 mundo pelo projeto acs Nico, Nalvisdo dionisiaca] a musica € iracional e subjetiva. Ela emprega recursos expressvos: flutuacdes temponis, obscurecimento da dindmica, coloragiio tonal. £ a misica de paleo cperistico, do bel canto, e sua voz 3 Auk wsrumento de palhes dupa, artceser do modemno oboe, bastante conbecio na Grecia amiga. NT) 4 Nomon na Grecia antiga, melodiasinaeiveis 24 quale se aula iftncis mpi ou los. Os momor cram dexgrador pelo deus que loutavam. Conslar Mino de Andade Poquena biti da mista, 98. Belo Horne: ais, 1997. p30-(N.T) _Dtrambe:composko de estas e vers ieglares que exprinem entsasne «dino "a Grecia aga, ero canto em louver 3 Baca (Dion) (. T) 5 © autor selerese 29 méiodo de compesipto dadecanica (ST) 2 Murrey Schofor aguda ¢ penetrante pode também ser ouvida nas Paixdes de Bach. £ so bretudo a expresso musical do artista roméntico, tendo prevalecido du- rante todo 0 século XIX € no expressionismo do século XX. Ainda hoje € tela que preside a formagao das misicos. Pelo fato de a producto de sons ser, em grande pane, uma questio ~subjetiva do homem moderno, a paisagem sonora contemporinea € notivel por seit hedonismo dindmico. A pesquisa que pretendo descrever repre Senta uma recfiemagto da misica como busca das influéncias harmonizado: ris dos sons do mundo sobre nés. Em Uneisque Cosmi Historia, de Robert luda, hd uma ilustragio entitulada “A afinaglo do mundo”? na qual a Terra Forma 0 compo de um instrument sobre © qual cordas so esticadas e afina- das por mio divina, E preciso reencontrar 0 segredo desst afinayao, A mosica, a paisagem sonora e o bem-estar social Em 0 jogo das contas de vidro, Hermann Hesse nos apresenta uma idéia interessante. Diz ele ter encontrado uma teoria a respeito da relaco entre a mmisica € 0 Estado numa antiga fonte chinesa: “Por isso, a musica de uma época harmoniosa é calma € jovial, € © governo equilibrado, A ‘musica de umia época inquieta é excitaca e colérica, e seu governo € mau. [A miisica de uma nagao em decadéncia ¢ sentimental e tiste, e seu gover- \\no core perigo”* ssa teoria poderia sugerir que o igualitério ¢ iluminista reinado de Maria Teresa (por exemplo, como esti expresso em seu cédigo criminal unificado, de 1768) e a graca e o equilirio da musica de Mozart nao sto acidentais. Ou que as extravagincias sentimenais de Richard Strauss esto perfeitamente de acordo com o dedlinio do Império Austro-hingaro. Em Gustav Mahler encontramos, esbogadas por dcida mao judaica, marchas ¢ dangas alemas de tal sarcasmo que nelas temos uma espécie de antevistio da dance macabre [danga macabra] politica que logo se segulria, | tese ¢ igualmenie confirmada nas sociedades tribals em que, sob o estrito controle da comunidade préspera, a milsica é firmemente estru- 7 The Taming cf the World em ings, qve ce lo 40 presente Io em 52 er ei own 16 Hermann Heme. he Gas Bead Game. New York, 918, p30. ed bras: 0 ogo das contas de udm Tod. avinis Abranches Vee Flv Vira de Souza. Sto Paulo: Basen, 19721 2 turada, enquanto nas areas destribalizadas os individuos cantam hore eis cangdes sentimentais. Qualquer etnomusicdlogo pode confi ifirmagao. Resta pouca chivida, portanio, de que{a musica € um indica dor da época, revelando, para os que sabem como ler suas mensagens sintomaticas, um modo de reordenar acontecimentos sociais € mesmo politicos.) Desde algum tempo, eu também acredito que o /ambiente actistico > eral de uma Sociedade pode ser lido como um indicador das condigoes) 2 sociais que 0 produzem e nos contar muita coisa a respeito das tendéncias € ¢a evolucto dessa sociedade. No decerrer deste lio, vou suger muitas dessasrelogdes e, embora minha natureza me leve provavelmente a faze co, espero que o leitor poss contiauar a considerar 0 es parecerem desopratives. Todas Jo de modo en método vilide mesmo se algumas eq) clas estio abertas a investigagdes poste-iores. Annotagdo da paisagem sonora (sonografia) (Ae pecan eae ea See Flea cic Wi ta ED A Pp a as 1 a ga ge eet Ul wee cies Saat tat SEBS SCy ca ala GE po el Eee ae emma cage sar Fiera er cai rcae er taal eee eee eis cu emcee ee wesc ee es cs arcies ante Saha tare acres eee teen eat oae eens Beate aad oF se tenc an eae incre ren ha te eee te Se ee eee ae Sy cee a eee tg soe Dae Ee Neamcc acca a nigiha cooeneoms na Ieitura de mapas € muitos podem extrairinformagses significativas de ‘outros diagramas da paisagem visual, cono plantas arquiter6nicas ou ma pas executados por gedgrafos, poucos conseguem ler as elaboradissimas Cartas utilizadas pelos foneticistas, engenheiros actsticos ov misicos (Dar uma imagem totalmente convincente de uma paisagem sonora requer Rabi- lidade e paciéncia extraordinérias: seria necessario fazer milhares de grava- a bor Apa. & Munray Scholer oes e dezenas de miltares de medigBes, € um novo modo de descrigio teria que ser inventado. er {Uma paisigem sonora const em eventos ouridos€ nao em objetos istos/Paraalém da percep audiiva esi20 a notagio € a fotografia dos sons, que, for serem silentes, apresentam cerlos problemas que serio diseutidos num capitulo especial, na segio “Andlise” deste livro. lnfeliz mente, poragresentar os nossos dados em paginas silenciosas, antes dessa dliscussio seremos forcados a uilizar alguns ipos de projesao visual e tan bem de notazdo musical, € eles somente serio dels se puderem abrie os ‘ouvidos ¢ esimular a clariaudiénca 10 igualmente desvantajosa quando se trata de © objeto de nosso estudlo. Embors Estamos numa posi Ihuscar uma perspectiva histories pa disponhamos de muitas fotos tiridas em épocas diferentes e, antes de de desenhase mapas que nos mostram como um determinado cenitio se ‘modificou cam o passar dos anos, precisamos fizer inferéniciag no tocante 2s mudangas Sobrevindas na paisgem sonora, Podemos saber exatamente {quantos ediftios foram construidos numa determinada drea 20 longo de tuma década ou qual foi o erescimento da populagto, mas nao sabemos dizer em quantos decibéis o nivel de ruido ambiental pode ter sumentado ‘em um perico de tempo comparivel} Mais que isso-(os sons podem ser alterados ou desaparecer © merecer apenas parcos comentirios, mesmo por pane dc mais sensivel dos historiadores) Assim, embora possamos utilizar modernas técricas de gravagao e analise no estydo das paisagens sonoras conlemporineas, para fundamentar as ferspecivshistérieas te remos que nos voltar para o'féaio de testemunhas auditivas da lieratura © a mitologia, bem como aos registros antropol6gicos e hist6ricos. © testemunho auditivo A principe deste vo tm una divids expel pars com tis relatos. Sempre procure ir dietamente s fone. Assy escttor 36 € considerado fidedigno quanclo vivenciados € intimamente conhecidos>Escrever sobre outros lugares € reve a respeito de sons dicetamente épocas costuia resultar em descrigdes simuladas. Para tomar um exemplo, Sbvio, quando Jonathan Swift descreve as cataratas do Nidgara dizendo. {que elas fazem um “barulho terrivel e cava", ficamos sabendo que ele Pa ‘Acfnagbo do mind nunca esteve la, mas quando Chateaubriand relata que, em 1791, ouviu 0 rugido das cataratas do Nidgara a oito ou dez milhas de distancia, fornece- nos uma itil informacio a respeito do nivel do som ambiental, com 0 qual se poderia comparar o nivel sonoro de hoje. Quando um escritor escreve de modo verdadeiro a respeito de experigncias diretamente apreendidas, as vezes 0s ouvidos podem burlar 0 cérebro, como Erich Maria Remarque descobriy nas trincheiras, durante a Primeira Guerra Mundia), quando ou viu granadas explodindo perto dele, seguidas pelo estrondo da aitharia distante que as disparava, Essa ilusio auditiva & perfeitamente explicivel porque, deslocando-se a velocidades supersdnicas, as granadas chegavam antes dos sons da detonagio original, ras somente alguém com formagio lem aciistica teria previsto esse fendmeno. Nada de novo no front” & con- Vincente porque o autor estava If. E acreditamos nele quando descreve ‘outros eventos sonoros no-usuais ~ por exemplo, os sons produzidos pelos cadliveres: "Os dias so quentes € 0s mortos jazem desenterrados. Nao podemos ir buscar todos, no saberiamos 0 que fazer com eles. No enterrados pelas granadas, precisamos, porém, aos preocuparmes: s Alguns t&m as barrigas inchadas como balées, assobiam, arrotam e me- emse. So 08 gases que se agitam neles’."” William Faulkner também conhecia o barulho dos cadaveres, que ele desereve como “pequenas ex- plosdes gotejantes de secreto © murmurante borbulhar”." ‘Assim se estabelece a autenticidade da testemunha. Um talento espe- cial permitiv a romancistas como TolstSi, Thomas Hardy e Thomas Mann capturar as paisagens sonoras de seus lugares € épocas, € tais descrisdes ‘constituem 0 melhor guia disponivel na reconstrugao das paisagens sono- ras do passado. Aspectos da paisogem sonora (© que o analista da paisagem sonora precisa fazer, em primeiro lugar, é descobrir 0s seus aspectos significativos, aqueles sons que sao importan: tes por causa de sua individualidade, quantidade ou prepondertincia. Fi- 9 ich Mave Reman. Al Quiet on the Wester Prom Boston, 192, et: cap 4: ee bas. da de now no ro, Trad, Helen Remanect. S30 Palo: Abel Cara, 1882 10 ier, p26. 11 iam Foulkes tJ Lay Dyn. New York, 1960, 202 2 8 Moy Shaler ralmente, slgum sistema de classifcagao genérica teri que ser delinendo, € esse serd o tema da Parte ml deste liv. Para as das primeiras pares, ser sufciente categorizar os principais temas da paisagem sonora, distin: zuindo entice 0 que chamamos de sons fundamentais, sinats ¢ marcas sonoras. A estes poderiamos acrescentat 08 sons arquetipicas, aqueles tmisterio-s08 sons anigos, nao earo imbuidos de oportuno simbolismo, que hherdamos di ala Antigdidade ou da Pré-histra umm temo musical. Ea nota que identifica a escala ou Tonalidade de uma determinada composigo. fa ancora ou som basico, , embora o material possa modular 8 sua volta, obscurecendo a sua int Ppontincia, & em referéncia a esse ponto que tudo o mais assume o seu significado especial. Os sons fundamentas no precisim sex ouvidos cons cientemente, eles sio entreouvidos mas ftdo podem scr examtinados, 8 que se tornam hibites auditives, a despeito deles mesmos. © psicdlogo da percep¢io visual fala de “figura” e “fundo". A figura € vista, enquanto o fundo s6 existe para dar figura seu contorno e sus massa, Mas a figura nao pode exists sem o fundo; subtrais-se o fundo, e a figura se tornard sem forma, inexistente, Assim, ainda que as sons fundamentais nem sempre possam set vidos conscientement,o fato de eles estarem -ubiquamente al sugere possiblidade de uma intra prfunda @ pe netrante em nosso comportamento € estos de espirto.(Os sons funda- snentais de um determinado espaco sto imporantes porque nos ajudam a delinear 0 carter dos homens que vivern no melo dees (s(Gons fundamentais de uma paisagem)sto os sons eriados por sua copra e lima: §gua, vento, planicies, pears, instos € anima. Mui- tos desses sons podem encersir um significado arquetpico, iso &, podem terse imprimido to profundamente nas pessoas que os aovem que a vida sean eles sia sentida como um claro empobrecimento. Podem mesmo aletar 0 comportmento € o estilo de vida de uma sociedade, mas para uma discussio a esse respeito teremos que esperar alé que o letoresteja mais familanizido com 0 assuno. Qs|sinais yo sons destacados, ouviddos as Nas termos da sn pole ner ouvido coos ae eee eee he Cele Cientemenie’e, desse modo, qualquer som pode tomar-se uma figura ou sinal, mas para os propésitos de nosso estudo, orientado para w Gomunida. de, levers limitar:nos a mencionar alguns desses sinais, que precisam ser jcos: sinos, apitos, buzinas ouvides porque sio recursos de avisos acts % ‘A ctinasgo de monde € sirenes. No raro os sinals sonoros podem ser onganizados dentro de cédigos basante elaborados, que permtem mensagens de considerivel com- plexiclade a serem transmitidas aqueles que podem interpreté-las. £ 0 caso, or exemplo, da cor de chasselizompa da cagal, ov dos aptos de trem ot navio, como brit © termo) marca sonora yeriva de marca! ¢ se refere a um som da comunidade que sej8'inico ov que pessua determinadas qualidades que o torem especialmente significative ox notado pelo povo daquele lugar. [Uma vez identificada a marca sonora, € necessirio protegé-la porque as ‘marcas sonoras tornam Unica a vida acdstica da comunidade/ Este € um, tema a ser levantado na Parte 1V, deste livro, onde se discutern prineipios do projeto accstico. ‘Tentarei explicar todas as outras terminologias da palsigem sonora 2 ‘medida que forem sencio introduzicas. No final do liv, hi um pequeno glossiria de termos que ou Se neologsmas ou foram utilizados de maneira idiossineritica’ Ele poder dirimir as dkividas que porventura surgirem a0 longo do texto. Fiz © possivel para nao utilizar muitos termos acisticos complexes, emborz um conhecimento dos principios bisicos da acdstica e ‘uma familiaridade com a teoria e a hist6ria da musica sejam desejaveis, Oty ye [Nao argumentaremos a favor da priordade do ouvido, No Ocidente, 0 ‘ouvido cedeu lugar a0 olho, Fonsideralo uma das mais importantes fontes dle informagao desde a RenaScenca, com o desenvolvimento da imprensa dda pintura em perspectiva. Um dos mais evidentes testemunhos dessa mu- danga é o modo pelo qual imaginamos Deus. Nao foi senao na Renascenga que esse Deus tornou:se retrativel. Anteriormente ele era concebido como, som ou vibragio. Na seligito de Zoroasir, sicerdote Sroshi (que represen- 1a 0 génio da audiglo) se posta entre © homem e 0 pantedo dos deuses € ouve as mensagens divinas que ele transmite & humanidade. Samdé a pala- ‘ra sufi part audigo ou escuta, Os seguidores de Jalabuddin Rumi entra- vam em transe mistico cantando rodopiando em giros vagarasos. Sua anga & considerada por alguns pesquisaciores como baseada na represen- Ouvidos e clariaudiéncia 12 Em inglés conta que sundmark¢ derivado de landmark. Na aduto, x ere relagto cenive oF dos wort se perde (NT) a Murray Schoer 10 do sistema solar ¢ evoca também a crenga mistica profundamente alga, or in iden Csiereate (a tain a eters coe sai vezesa alm sfnada¢ capar de ous estes poderes de acto excep- Conals, que denomio claraudiencla nto foram obidos sm exfrpo. © poeta Sadi diz em um de seus poems liricos: unio die, x ‘Aates que saiba quem € 0 ovvinte mds, 0 que & 0 sam Antes da era da eserita, na época dos profetas e €picos, © sentido da audio era mais vital que 0 da visio. A palavra de Deus, a historia dis tibos todas as oatras informagdes importantes eram ouvidits, € no vistas. Fm algumas pares do mundo, o sentido Ua audiglo ainda tende 3 predominar or es ees ee Marshall McLuhan afirmou que desde o advento da cultura elétics podemos retroceder @ esse estado, € acho que ele estd certo. A grande ‘emergéncia ca poluigdo sonora como uum t6pico de interesse priblico ates- ta 0 fato de que @ homem moderna esta ficando interessado pelo menos em tirar as sujeiras de seu ouvido e em recuperar o talento para a clariau, digncia ~ a audicio limpida, Um sentido especial "© tato € 0 mais pessoal dos sentidos. A audicao € o tato se encontram: rho panto em que as mais baixas frequéncias de sons audiveis passam a Vibragdes ticeis (cerca de 20 hertz). A audi¢lo € um modo de tocar a TJ © Garth. Cole, Paychiauy and the Weiten Won, Pyebiatn, now, 1958, p 30810 ‘A ofinaseo do mundo dlistanci Ver que as pessoas se reiinem part ouvir algo especial. A esse respeito, leia-se o que um etnomusicéloge escreveu: “Todos os grupes Etnicos que conhego tém em comum sua grande aproximagio fisica € um incrvel 4 intimidade do primeiro sentido funde-se a sociabilidade cada senso te ritmo, Estes dois procedimertos parecem coexist" (© sentido da aucigao nao pode ser desigido & vontade. Nao existeni >) pilpebras auditvas.) Quando dormimas, nossa percepeio de sons é a / titima porta ase fechar,¢ € também a primeira a se abrir quando acorda- ( mos. Esse fatos levaram McLuhan a escrever:"O tezror & 0 estado nor-(” mal de qualquer sociedad orl, pois eis, tds a cos feta to, ) 7 © tempo todo" A tia proteyo par os oui & un eabonido mecinismo psicogi co que ft os sons indeseveis, para se concentar no que &desejvel. Os (olnos aponiam para fos; os ouvidos, para dent Fes absowem inform ‘io. age esse. "O homem volado pars o exterior ape para 0 olho; 0 hhomem interiorzado, para cuvido". © ouvido € tmibém um orci eréti- 0, Ovvir lindos sons, por exemplo, oF sons da misica, € como sentra Fg de um amane em nomox oud Asi, por appa rte, vid rene que oso person «confine tomOMPpaon Pts ae le poss concerts ao gt elment npr Sinai, evo ta dr sons qe eet pera, Para reve los, pode ser neces invest cons cr que MBO 0 Inporantes. Nas Fares evr oetors un nga exci plas pagers sonora na, con fone Sonera page do mando ocd, enor prec incerpon sempre que poe] mates deca pares do a dh Ns Pate i, + plsgem sonom sed subnets una ale ka, como pepo pana Pane onde se exboaro os principio do reo Acigico a0 menos na medida em que for pose dermis Fra peo sonora pein conc com olen) ee pense to Nquer que se epere por sev desenvinet not cpm fas Maso Ior perce ramen que ea ann ign 4 Pare ho Sia, uncro ain waempres ie sce de cae en, TH Marshall McLuhan. The Galaxy Gutenberg, Torom, 1962, p32 (ed. bras galt ‘Gutenberg Tea lenis Gonto de Carvalo Sho Pav: Ci Edtora Nacional, Ep paral 2” R. Mary Serer (Um alena final, Apesar de muitas vezes eu estar tratando de percepeio audiiva e de actisica como se fossem disciplinas abstratas, nao quero ‘esquecer-me de que 0 ovvido & apenas um sentido receptor entre muitos ‘outros. Chegou a hora de tirar 9 som do laborat6rio e colocé-lo no campo do ambiente vivo, Os estudos da paisagem sonora fazem isso. Acima de tudo, poréin eles precisam ser integrados ao estudo mais amplo do ambiente total, neste que ainda no € 0 melhor dos mundos possiveis. Vem agora, com todos os teus poderes discern a maneins como cada coisa se manvesta, conflando nia mais na visio do. que na aucigao © nfo mais no panicutar®) 15 Emporis, Pip Wheehorg, The Presents, New Yotk, 196, 2.70. 20 As primeiras paisagens sonoras Nagueles dias, os ouvides dos homens ouviram sons nio pod ser conjurads rovamente, por qualquer quanidade de ci2neia ow magia

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