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Resumo:

A PSICOLOGIA E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: QUAIS AS INTERFACES?

Sabemos que a psicologia, desde sua regulamentação como profissão no Brasil, passou por
diversas etapas, dentre elas a da inclusão de psicólogos no Sistema Único de Saúde, o SUS.
Contudo, não é apenas isso. A psicologia, que antes estava pouco preocupada com a saúde
pública, agora precisa adaptar-se a esse sistema, desde seu curso acadêmico, até os
profissionais já formados há anos. Essa preocupação implica em problematizarmos o que
podemos o que queremos e, principalmente, como vamos fazer para contribuir na melhoria
desse outro tipo de saúde, a saúde pública. Para agir no presente, devemos voltar e entender
o que aconteceu anteriormente. Sabe-se que a psicologia era voltada especificamente para a
área clínica privada, e que ao longo dos anos, novas psicologias surgiram e foram implantadas
na área, até chegarmos a psicologia que temos hoje. Nesse contexto vem a explicação pela
qual uma parte do problema que se dá. Psicólogos que não eram preparados para a saúde
pública, quando ingressa nesta, não sabia como lidar. Este é apenas o início de uma longa
jornada.

Sabemos que na psicologia, o sujeito está no centro e para a política precisamos da


coletividade, o interesse de um todo. Nesse contexto, é notável que mesmo tendo o sujeito no
centro, ele ainda assim é cercado do meio social. Essa relação de interno/externo, predomina-
se numa realidade de uma separação necessária de sujeito/indivíduo, social e política.
Portanto, vemos a noção de que ciência e política são separadas e não se misturam, e que as
práticas psicológicas não devem interferir nas práticas políticas. Mas, como combinar duas
esferas tão opostas, em um único sistema? É preciso uma despolitização entre essas duas
esferas. Então, temos o SUS como um direito garantido na Constituição Federal de 1988, como
uma política pública voltada em prol da sociedade universal. Já que a psicologia agora está
neste sistema, também passa a se tornar um direito universal e garantido por lei. Passando
agora, a fazer parte de uma política pública.

É quando temos a pergunta insistente: Afinal, quais as interfaces da psicologia no SUS? Além
de termos as inclusões de disciplinas necessárias no curso e conteúdos curriculares, devemos
perguntar também quais as práticas que estes profissionais têm efetuado quais as prioridades
de suas ações? Trata-se de uma discussão ética-política. Dentre essas e muitas outras
perguntas, precisamos entender quais as relações entre o capitalismo contemporâneo, o
exercício da clínica e a produção de subjetividade. Devemos destacar que esse aspecto de
produção do sujeito, sujeito autônomo, consiste historicamente moldando-se ao capitalismo
há muitos anos. E surgimos, como psicólogos, para controlar essa subjetividade do sujeito,
justamente para que a convivência social fosse moldada. E por essa lógica, temos a clínica
voltada para o sujeito subjetivo, visando a melhoria do coletivo. A experiência clínica passa a
ter a experimentação do plano coletivo, o que nos leva a saúde coletiva, a saúde pública.
Entrando nisso, temos os três princípios da Psicologia com o SUS: inseparabilidade, que une,
mesmo com distinções a política com a clínica, o sujeito com o coletivo, ou seja, os processos
de subjetivação se darão em um plano coletivo; autonomia e corresponsabilidade, que visa
que os psicólogos estarão profundamente comprometidos com o mundo em que vivemos, o
país e as condições de vida brasileiras; e a transversalidade, que diz que a psicologia como
campo do saber não explicará nada, e sim será explicada. E intervir para uma saúde melhor
possível.

Apesar de ser uma maior contribuição dos psicólogos, também o maior desafio. Um deles, é o
de pensar com gestores e trabalhadores do próprio MS para construir políticas públicas. Não
bastava apenas concordar com os eixos do SUS: universalidade, integralidade e equidade. Seria
preciso também criar outras políticas públicas visando autonomia e emancipação social. Não
política de governo. Mas, vale lembrar que o SUS já teve muita luta até ser conquistado e
chegar onde estamos. Cabe a nós como psicólogos, decidir em qual movimento nos aliamos e
tomar nossas decisões, sempre visando melhorias, tanto na psicologia, quanto nas políticas
públicas.

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