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- Quatro cinco um
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Jessé Souza.
A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato.
LeYa • 240 pp • R$ 49,90/R$ 31,99
Estou entre aqueles que consideram urgente repensar as classes brasileiras à luz
da globalização capitalista. Nos últimos 25 anos, o país passou por profundas
mudanças, com especial impacto nas classes subalternas. Nesse sentido, sou o
primeiro a reconhecer a importância de Jessé Souza, que, há tempos, vem
inovando teórica e empiricamente nesse campo: noções como “ralé” e
“batalhadores” já entraram para o léxico sociológico nacional.
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10/01/2018 Pode o subalterno lutar? - Quatro cinco um
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Síntese provisória entre pressão e traição das massas populares, essa hegemonia
precária poderia se reproduzir apenas se o desenvolvimento econômico
acomodasse parte dos interesses em conflito: de forma semelhante ao ocorrido
em 2016, quando a crescente participação popular coincidiu com a recessão
econômica de 1962, ameaçando o modelo de desenvolvimento, as classes
dominantes optaram pelo golpe de Estado.
Talvez a indisposição de Souza com Weffort seja de outra ordem. Enquanto este
apreendeu as massas populares como sujeitos de sua história, Souza silenciou a
agência política dos pobres em sua noção de “ralé de novos escravos”. Assim,
quando o sociólogo insiste na resiliência da escravidão como eixo de uma leitura
globalizante do presente, ele o faz à custa do apagamento da história das lutas e
mobilizações dos subalternos.
Essa “ralé” não apenas imigrou para as grandes cidades como também ocupou
regiões peri éricas próximas às empresas, ergueu suas casas em regime de
mutirão, formou associações de moradores a fim de exigir das prefeituras
investimentos nos bairros, ligou-se à Igreja Católica e, após sua absorção pela
indústria, disputou a direção dos sindicatos. Em suma, a “ralé” transformou-se
nos “peões” da indústria participando de greves e de mobilizações políticas ao
longo de todo o ciclo populista.
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Sabemos que esses grupos estão misturados nas mesmas famílias, fazendo com
que melhorias nas condições de vida dos trabalhadores interessem à “ralé” e
vice-versa. Daí ser possível identificar, ao longo do ciclo grevista de 1978 a 1995,
a existência de laços de solidariedade atando as lutas operárias nas ábricas e as
lutas populares nos bairros. A tese da existência de uma classe passiva,
inadaptada e vitimada, localizada no centro dos dilemas nacionais, não
convence.
Esta elite foi delineada a partir das trajetórias de vida de dois teleoperadores,
feirantes de Caruaru, um pequeno produtor rural bem-sucedido de Cachoeiro
do Sul, comerciantes do Ver-o-Peso de Belém, uma costureira e
microempresária de Juazeiro do Norte... Com exceção dos dois teleoperadores,
pode parecer um tanto inusitado que esse heteróclito conjunto de trabalhadores
precarizados e microempresários represente “uma classe social nova e
moderna, produto das transformações recentes do capitalismo mundial”.
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Na realidade, a relação mais notável que a maioria deles mantém entre si não é
com o pós-fordismo financeirizado, mas com as políticas públicas dos antigos
governos petistas. Quem realmente garante a unidade dessa “nova classe
trabalhadora” não é a exploração capitalista mundializada, mas sim o lulismo:
quando elogios aos programas federais começam a se multiplicar nos relatos,
fica ácil entender por que uma população tão amparada pelo governo federal
tenha se identificado com o “profeta exemplar”, isto é, com Lula. Para Souza, a
prática política dos subalternos resume-se a sufragar o “profeta exemplar”.
Aqui, cabe notar a inusitada ressignificação com sinal trocado da tese da
manipulação pelo líder carismático das expectativas das massas erroneamente
atribuída a Weffort.
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10/01/2018 Pode o subalterno lutar? - Quatro cinco um
A partir de 2008, as greves não só aumentaram sem cessar ano após ano, como,
entre 2013 e 2016, mantiveram-se em um patamar historicamente inédito,
comparável apenas ao final dos anos 1980. Dentre os setores grevistas mais
ativos, encontraremos os subalternos que fazem parte da “ralé”: garis,
cobradores de ônibus, terceirizados do setor de limpeza, agentes comunitários
de saúde etc.
Além disso, não devemos esquecer que a “ralé de novos escravos” atuante no
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto é hoje não só a principal força política
de resistência aos desdobramentos do golpe de 2016, como também — por meio
da Frente Povo Sem Medo —, a grande esperança de reinvenção da esquerda
brasileira.
Edição 08 • Resenhas
Destaques
subalterno na Espelho,
universidade espelho
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