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INSTITUITO

FEDERAL
AMAZONAS

Arte de Educar:
O PARFOR no
IFAM
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Dilma Vana Rousseff
Presidente da República

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Aluizio Mercadante
Ministro da Educação

Marcelo Machado Feres


Secretário de Educação Profissional e Tecnológica

Antônio Venâncio Castelo Branco


Reitor

Antônio Ribeiro da Costa Neto


Pró-reitor de Ensino

Sandra Magni Darwich


Pró-reitora de Extensão

Josiane Faraco de Andrade Rocha


Pró-reitora de Administração

Jaime Cavalcante Alves


Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional

José Pinheiro de Queiroz Neto


Pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação

Paulo Henrique Rocha Aride


Diretor de Pesquisa

Maria Stela de Vasconcelos Nunes de Mello


Diretor Geral do Campus Manaus Centro
A Arte de Educar:
o PARFOR no
IFAM
A Arte de Educar:
o PARFOR no IFAM

Manaus-Am
2015
© 2015 Instituto Federal do Amazonas

SISTEMATIZAÇÃO DO DOCUMENTO
João Batista Neto
Lucilene da Silva Paes

REVISÃO
João Batista Neto
Lucilene da Silva Paes

EDITORAÇÃO
William de Almeida Costa
João Batista Neto

BATISTA NETO, João; PAES, Lucilene da Silva (organizadores). A Arte de educar: o PARFOR no IFAM.
Manaus: EDUA-UFAM/IFAM, 2015.

158 p.: il.; 21x29,7cm

Prefixo Editorial: 7401

Número ISBN: 978-85-7401-809-6

Título: A arte de educar: o parfor no Ifam

Editora da Universidade Federal do Amazonas 9EDUA) em parceria com o IFAM

1. PARFOR 2. Educação 3. IFAM

I. Batista Neto, João. II. PAES, Lucilene da Silva.


Sumário
PREFÁCIO........................................................................................................................................................ 09

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................. 11

I O VÍDEO COMO RECURSO FACILITADOR PARA O ENSINO DE GENÉTICA................................. 13

II UTILIZAÇÃO DE ÁREA VERDE PARA


O ENSINO DE BOTÂNICA COM CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL........................................ 23

III Horta como instrumento para


Educação Ambiental no contexto escolar....................................................................... 31

IV JOGOS LÚDICOS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS:


UMA PROPOSTA A FAVORECER A APRENDIZAGEM............................................................................. 39

V PRODUÇÃO DE VÍDEO COMO RECURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO


DE ENSINO EM ECOLOGIA: EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA NUMA ESCOLA PÚBLICA.................... 49

VI RECICLAGEM DE PAPEL: UMA ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL.................................................. 65

VII Uma proposta de Ensino voltada à Educação Ambiental:


Preservar e Conservar o Igarapé do Alto Rio Preto da Eva como
Subsídio à Sustentabilidade.......................................................................................................... 75

VIII A FALTA DE ESTÍMULO NO PROCESSO ENSINO


APRENDIZAGEM: UM PROBLEMA VISÍVEL EM NOSSOS ALUNOS................................................... 85

IX O USO DO LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS COMO


INSTRUMENTO DIDÁTICO PEDAGÓGICO ........................................................................................... 100

X DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS


NO SEGUNDO SEGMENTO DA MODALIDADE EJA DO ENSINO FUNDAMENTAL......................... 112

XI VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS COMO FONTE ALIMENTAR............................... 130

XII O ALTO ÍNDICE DE REPROVAÇÃO EM MATEMÁTICA NO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL EM


UMA ESCOLA MUNICIPAL DE MANAUS................................................................................................. 148
prefácio
“Acho que todo professor tem de ter alguma coisa de ator, senão ele não terá
sucesso. Sendo somente um expositor de idéias, dificilmente ele chamará a
atenção dos estudantes”.

Ariano Suassuna, na Revista Nova Escola, junho/2014.

O Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica (Parfor) surgiu em


decorrência da ação conjunta do Ministério da Educação (MEC), de Instituições de Educação Su-
perior (IES) e das Secretarias de Educação dos Estados e Municípios, no âmbito do PDE - Plano de
Metas Compromisso Todos pela Educação – que constituiu no país um novo regime de coopera-
ção da União com os estados e municípios, respeitando a de autonomia dos entes federados.

O Parfor é destinado aos professores em exercício das escolas públicas estaduais e mu-
nicipais sem formação adequada à LDB. No âmbito do Ifam são oferecidos cursos de Segunda
Licenciatura, para professores licenciados que estejam em exercício há pelo menos três anos na
rede pública de educação básica e que atuem em área distinta da sua formação inicial. Os cursos
ofertados são os de Licenciatura em Química, Matemática, Física e Ciências Biológicas.

O curso de Licenciatura em Ciências Biológicas foi o primeiro a ser implantado. O que se


apresenta nesse livro foi resultado das pesquisas realizadas em conjunto entre os discentes com
os seus professores, totalizando onze artigos que tratam sobre experiências educacionais no eixo
do curso, terminado em 2013. Um artigo que trata sobre o ensino de Matemática e suas dificulda-
des também foi incluído por ser fruto de uma pesquisa de uma discente do curso.

Trata-se de um fato inédito. E que se espera continuidade. Pois se ao final de cada curso
superior no Ifam forem publicados os artigos dos discentes e docentes envolvidos durante toda a
sua atividade acadêmica durante anos, sempre existirá produção do conhecimento, comunicação
científica e maior comunhão entre os membros da comunidade Ifam naquilo que nos é essencial:
o ensino público, gratuito e de qualidade!

Boa leitura!

Prof. Dr. João Batista Neto

Diretor de Graduação

PROEN-IFAM
introdução

“O professor medíocre conta. O bom professor explica. O professor superior


demonstra. O grande professor inspira.”

William Arthur Ward

C om o foco voltado para o aprimoramento de aulas em escolas de ensino público, este livro apre-
senta 12 artigos acadêmicos resultados de experiências de docentes que atenderam a cursos oferecidos
pelo IFAM para o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR).

Os autores buscam documentar as dificuldades dos discentes em sala de aula e as formas alterna-
tivas de se trabalhar conteúdos considerados complexos. O objetivo de tais pesquisas é amplificar a com-
preensão dos discentes e os estimular ao estudo crítico de temas supostamente pouco atraentes.

Os artigos descrevem a experiência desses profissionais em diferentes estratégias de ensino. Entre


elas estão: a aplicação de conteúdo em ambiente externo a sala de aula por meio de atividades práticas;
o uso de recursos audiovisuais e jogos lúdicos dentro da sala de aula como uma abordagem de ensino e a
produção de vídeo como consolidação dos alunos com o conteúdo estudado.

Há também artigos de cunho investigativo direcionados ao mapeamento das dificuldades que


os discentes enfrentam em estudar certos conteúdos da grade curricular das escolas especificamente nas
matérias de matemática e ciências naturais.

Educar é uma atividade complexa que vai além da simples exposição de conteúdo. O profissional
competente da educação sabe que deve dialogar constantemente com seus alunos. Por meio do diálogo,
pode-se compreender melhor o público ao qual se dirige e assim os docentes podem alcançar resultados
mais satisfatórios no âmbito escolar.
O VÍDEO COMO RECURSO
FACILITADOR PARA O
ENSINO DE GENÉTICA
O VÍDEO COMO RECURSO FACILITADOR PARA O ENSINO DE
GENÉTICA

BECKAM, Leila1

SILVA, Cirlande Cabral da2

MACIEL, Hiléia Monteiro3

Resumo

Sabe-se que no ensino da Genética existem conteúdos com vários graus de complexidade, em
virtude de sua difícil compreensão. O presente estudo propõe o uso de vídeos educativos no ensino
da Genética, visto que os estudantes assistem televisão em diversos momentos de descanso e de
descontração. A pesquisa foi realizada em uma escola da rede pública estadual, localizada na zona
sul do município de Manaus. Para coleta e análise dos dados, os alunos assistiram ao filme intitulado:
GATTACA “A Experiência Genética”, em sala de aula. Os resultados mostraram que essa atividade
foi bastante proveitosa, pois no momento do filme percebemos que os alunos interagiram entre si,
trocando ideias e opiniões, além de desenvolverem percepções como atenção e poder de síntese.
Dessa forma, acreditamos que o uso de estratégias pedagógicas diferenciadas, como a utilização de
vídeos para o ensino, pode ser uma ferramenta poderosa para o processo ensino-aprendizagem de
Genética.

Palavras-chave: Genética; Vídeos; Ensino-aprendizagem

1 Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal de Educação,


Ciências e Tecnologia do Amazonas - IFAM. E-mail para contato: thais.regina18@hotmail.com
2 Doutor em Ensino de Ciências e Matemática e professor efetivo do Instituto Federal
de Educação, Ciências e Tecnologia do Amazonas- IFAM. E-mail para contato: cirlandecabral@
gmail.com
3 Mestra em Educação em Ciências na Amazônia pela Universidade do Estado do
Amazonas –UEA, e professora da SEMED/SEDUC. E-mail para contato: hileiamaciel@gmail.com

14
O VÍDEO COMO RECURSO FACILITADOR PARA O ENSINO DE
GENÉTICA

BECKAM, Leila

SILVA, Cirlande Cabral da

MACIEL, Hiléia Monteiro

Abstract

It is known that there are genetic in teaching contents with varying degrees of complexity, due to
their elusive. The present study proposes using educational videos in teaching genetics, as students
watch television at different times of rest and relaxation. The research was conducted in a state public
school, located in the southern part of the city of Manaus. For collecting and analyzing data students
watched the movie titled: GATTACA “Genetic experience” in the classroom. The results showed that
this activity was very fruitful, because at the time of the film we realize that students interacted with
each other, exchanged ideas and opinions, and perceptions developed as attention and power of
synthesis. Thus, we believe that the use of differentiated instructional strategies, such as using video
for teaching, can be a powerful tool for teaching learning process.

Keywords: Genetics, videos, teaching learning

15
INTRODUÇÃO alcançar este objetivo quando o ponto de
partida para o aprendizado é um elemento
vivencial do aluno, dando significado à
aprendizagem e garantindo um melhor
Sabe-se que no ensino da genética contato professor-estudante. Nesse
existem conteúdos de difícil compreensão sentido, o uso de um recurso audiovisual
e assimilação, em virtude de os conteúdos atende a esta proposta, visto que se trata
serem bastante abstratos, o que resulta na de um elemento bastante presente no
falta de interesse por parte dos alunos. cotidiano do alunado.
Em nossa vivência, ao longo de Mandarino (2002) propõe que o
alguns anos de magistério, tanto no Ensino vídeo apenas deve ser utilizado como
Fundamental quanto no Ensino Médio, estratégia quando for adequado e puder
verificamos que a maioria dos alunos contribuir significativamente com o
não consegue se apropriar dos saberes desenvolvimento do trabalho.
aprendidos em sala de aula. Muitos desses
conhecimentos não têm nenhum sentido O PCN+ descreve essa
ou significado com a vida do aluno. Desse contextualização sócio-cultural como
modo, parece evidente que as estratégias competência a ser desenvolvida na área
tradicionais de ensino são pouco eficazes das Ciências da Natureza: ‘’[...] compreender
para promover uma aprendizagem e utilizar a ciência como elemento de
realmente significativa. interpretação e intervenção, e a tecnologia
como conhecimento sistemático de
Não sabemos exatamente o sentido prático...’’ Neste sentido, o uso de
porquê de tal dificuldade. Talvez seja tecnologias educacionais no ensino pode
por esta disciplina apresentar um grau auxiliar a construção de conhecimentos
de raciocínio abstrato, exigindo do do aluno, principalmente no caso de
aluno um aporte teórico mais elevado, disciplinas como a Genética, que tratam de
ou quem sabe, devido aos alunos não conceitos muito específicos, em especial,
apresentarem o que Ausubel chama de ligados ao mundo molecular. Nesses
subsunçores ou “pontos de ancoragem”, casos, a explicação apenas teórica torna-
para que o conhecimento de genética se insuficiente para promover a educação
se torne realmente significativo, ou mais científica aos alunos.
ainda, pela ausência de uma metodologia
adequada que facilite o processo ensino- O presente estudo salienta o uso de
aprendizagem. vídeos educativos no ensino da Genética,
de modo a reduzir as barreiras entre a vida
Muitos são os recursos que podem e a escola, já que os estudantes assistem
ser utilizados em sala de aula: jogos lúdicos, à televisão em diversos momentos de
livros didáticos, artigos, vídeos, dentre descanso e de descontração. Nesse
outros. Os filmes, se utilizados de maneira sentido, essa associação pode representar
adequada, deixam o objeto de estudo mais um grande avanço em conseguir captar a
claro, permitindo melhor compreensão atenção do aluno, bem como despertar a sua
dos conceitos mais complexos e abstratos, curiosidade em relação à teoria ministrada,
como no caso da Genética, por conta haja vista que os estudantes vivem em
de sua dinamicidade, e por terem uma uma cultura na qual a habilidade visual e a
linguagem mais próxima dos alunos, além capacidade de processar informações são
de incentivarem a aquisição de novos constantemente exercitadas. De acordo
conhecimentos (MORAN, 1995). com Schimdt (2006), as potencialidades
da televisão podem ser utilizadas em sala
Segundo a Lei de Diretrizes e de aula auxiliando na (re)construção do
Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), conhecimento:
a aprendizagem na área de Ciências da
Natureza deve ter pretensões formativas
e não simplesmente de transmissão e
acúmulo de conhecimento. Pode-se Não podemos ignorar que a mídia

16
entra na sala de aula pela porta da área, bem como o campo fundamental da
frente sem ser convidada, e não Biologia, pelo seu caráter unificador e que
há como não dar ouvidos a ela. As
crianças brasileiras passam uma
integra todos os conceitos e informações
média de cinco horas diárias na biológicas (FRANCISCO, 2005). Dentre
frente da televisão, ou seja, mais os diversos conteúdos da Biologia, a
tempo que permanecem dentro Genética é a disciplina que pode interferir
da escola diariamente. Além disso, diretamente na forma de participação na
chegam à idade escolar impregnadas
pela “cultura midiática”, o que já
sociedade, colaborando na formação de
seria motivo suficiente para que um sujeito social mais crítico, autônomo
dispensássemos uma atenção maior e comprometido com sua cidadania.
sobre os saberes ensinados seja pela Isto porque “para entender o avanço das
telinha, nas páginas dos jornais ou inovações científicas e tecnológicas é
mesmo na internet. Mas, antes de
encarar a televisão e os outros meios
necessário certo grau de alfabetização
de comunicação – tão mais atrativos, científica, que estabeleça um compromisso
tão mais coloridos e sedutores – com a cidadania e permita a participação
como inimigos, há de se considerar ativa do indivíduo na sociedade” (WOOD-
a mídia como uma possível aliada ROBINSON et al., 1998).
na (re)construção do conhecimento.
(SCHMIDT, 2006, p. 6/7)
Para Silva, Oliveira & Bello (1999 apud
NASCIMENTO, 2003), apesar de atraírem
a atenção dos alunos, os conteúdos de
Os vídeos são considerados bastante Genética não são compreendidos por
eficazes não somente pela proximidade diferentes motivos: vocabulário muito
com o cotidiano, como também pelo forte específico, excesso de termos técnicos,
apelo emocional que podem ocasionar apresentação apenas cognitiva e criação de
e, assim, motivar a aprendizagem dos barreiras para o aprendizado pela falta de
conteúdos apresentados pelos professores. interação entre professores e estudantes.
Rosa (2000) afirma que a quebra de ritmo Além disso, segundo Silveira (2008), o
provocada pela apresentação de um ensino de Genética envolve o contato
recurso audiovisual é saudável, pois altera dos alunos com inúmeros conceitos que,
a rotina da sala de aula. Percebe-se assim, muitas vezes, são bastante conflitantes
que o interesse do aluno é maior quando com as explicações construídas pelo senso
atividades incomuns são aplicadas, comum sobre os fenômenos genéticos.
trazendo novo ânimo para a análise da
teoria ministrada. Por outro lado, o ensino de Genética
necessita de que o aluno tenha condições
Assim sendo, devido à disciplina de formar uma rede de conceitos
Genética apresentar um grau complexo que envolvem a Biologia Molecular, a
de conceitos e abstrações, este trabalho Bioquímica, cálculos elementares de
tem por objetivo utilizar o vídeo como probabilidade e uma série de exceções
mecanismo facilitador no ensino de relacionadas à produção e aplicabilidade
Genética. do conhecimento biológico. Assim, o que
se observa é que ao “encarar” exercícios
que envolvem resolução de problemas
de Genética, falta para o aluno alguns
desses conceitos citados acima, tornando
1. REFERENCIAL TEÓRICO
insolúvel determinado problema ou
1.1 Ensino da Genética levando a uma resolução mecânica por
aproximação, criando com isto obstáculos
Nos últimos 50 anos, a Genética a uma aprendizagem significativa para ele
tem se destacado como uma das áreas (SILVEIRA, 2008).
da Biologia que mais tem apresentado
mudanças tanto nos aspectos conceituais Para Leite (2004), o ensino de
como tecnológicos, sendo considerada a Genética desenvolve-se através de uma
mais básica de todas as disciplinas dessa postura fragmentada, a-histórica e linear na

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apresentação de conceitos aos estudantes principalmente nas escolas. De forma
que, apesar de demonstrarem interesse a auxiliar a aprendizagem, muitas
por temas ligados à área, apresentam alternativas didáticas estão sendo
pouca compreensão sobre eles. E essa implantadas na sala de aula com o intuito
falta de compreensão dos conteúdos de fazer o aluno se interessar pelo assunto
pode ser atribuída à centralização do abordado, de modo a desenvolver
uso do livro didático, que muitas vezes o raciocínio por meio de atividades
apresenta problemas como o de dar cognitivas que ajudam na construção do
ênfase em termos, conceitos e definições, conhecimento (BEZERRA et al.; 2010).
fragmentação de conteúdos e pouca
referência à história do desenvolvimento Sabe-se que a utilização de
do conhecimento científico, como recursos audiovisuais como os vídeos, mais
também a apresentação de exemplos especificamente os filmes, são práticas
que estão distantes da realidade do que aos poucos vêm sendo utilizadas
aluno, sendo dificilmente imaginável, pelos professores para facilitar o ensino-
o que normalmente desestimularia a aprendizagem dos alunos. De acordo com
aprendizagem. os PCNs (2000):
Frente às diversas dificuldades
mencionadas, entende-se que para o
adequado ensino de Genética se faz As novas tecnologias da comunicação
necessário, antes de tudo, atualização e da informação permeiam o
cotidiano, independente do espaço
constante do professor sobre a evolução físico, e criam necessidades de
da Biologia, do pensamento científico, vida e convivência que precisam
estratégias, teorias de aprendizagem e ser analisadas no espaço escolar. A
material didático adequado. Dessa forma, televisão, o rádio, a informática, entre
o propósito do professor não deve ser mais outras, fizeram com que os homens
se aproximassem por imagens e sons
o de levar o aluno a adquirir informações de mundos antes inimagináveis.
factuais sobre genética, mas sim de ajudá- (...) Os sistemas tecnológicos, na
lo a mobilizar esquemas cognitivos que o sociedade contemporânea, fazem
permitam formular e responder questões, parte do mundo produtivo e da
relacionar informações, sintetizar prática social de todos os cidadãos,
exercendo um poder de onipresença,
conhecimentos e aplicá-los nas condições uma vez que criam formas de
em que eles forem requeridos (SILVÉRIO, organização e transformação de
2005). processos e procedimentos.

O ensino de Genética tem sido


um dos tópicos mais investigados pelos
pesquisadores que se dedicam ao ensino O uso de imagens como
de biologia devido a uma variedade de alternativa metodológica traduz noções
fatores, que se estendem da relevância e visões distintas dentro de contextos
social e econômica da Genética, com sobre a biotecnologia e suas aplicações,
todas as implicações tecnológicas, sociais melhorando a aprendizagem, vinculando
e éticas envolvidas, à sua importância os fenômenos científicos ao dia a dia do
na estrutura conceitual das ciências aluno (OTERO, 2003).
biológicas (RODRÍGUEZ, 1995; LEWIS &
WOOD-ROBINSON, 2000; BANET & AYUSO, Moran (1995, p. 3) menciona:
2005).

O vídeo nos seduz, informa,


entretém, projeta em outras
1.2 O vídeo e o ensino da Genética realidades (no imaginário) em outros
tempos e espaços. O vídeo combina
A utilização das mídias é ampla a comunicação sensorial-cinestésica
nos diversos campos educacionais, com a audiovisual, a intuição com
a lógica, a emoção com a razão.

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Combina, mas começa pelo sensorial, Sendo assim, este trabalho está
pelo emocional e pelo intuitivo, para fundamentado na pesquisa de diversos
atingir posteriormente o racional.
autores que teorizam sobre o uso de vídeos
e seus inúmeros benefícios como recurso
facilitador e motivador da aprendizagem.
Vários são os relatos de professores Porém, vale lembrar que o vídeo ou a
que corroboram sobre a importância da televisão, por si só, não garantem uma
utilização desse recurso. Maestrelli & Ferrari aprendizagem significativa. A presença do
(2006) relatam que os filmes têm sido educador é indispensável para a efetiva
utilizados na área de Ciências Biológicas construção do conhecimento, pois ele com
e Ciências, tanto para tratar de assuntos sua criatividade, bom senso, habilidade
relacionados à saúde quanto à educação, e experiência docente, é que percebe
ao papel dos sujeitos envolvidos na ocasiões adequadas ao uso do vídeo e
construção do conhecimento científico, realiza as devidas colocações no decorrer
aos valores morais, às pressões sociais, da aula ministrada, a fim de que o recurso
econômicas e até às políticas exercidas não seja um simples entretenimento, e
sobre a produção. sim um componente fundamental para
total compreensão do conteúdo ensinado
A utilização de vídeos em sala (Mandarino, 2002).
de aula deve ser realizada com o intuito
de incentivar o educando a aprender, a
tornar mais próximo de sua realidade os
conteúdos mais complexos, tornando- 2. METODOLOGIA
se uma alternativa de ensino que auxilie
em seu desempenho, conduzindo a
abordagem dos conteúdos de maneira
instigante (DE OLIVEIRA & SILVEIRA, 2010; A pesquisa desenvolvida é cunho
DE CAMPOS JÚNIOR et al., 2010). qualitativo, pois segundo Richardson
(1999), este tipo de pesquisa:
Segundo Carvalho (2005),
as Tecnologias da Informação e da
Comunicação - TICs na educação [...] pode ser caracterizado como
correspondem à descoberta de uma a tentativa de uma compreensão
nova pedagogia, uma pedagogia ativa detalhada dos significados
que atenda às necessidades e anseios de e características situacionais
apresentadas pelos entrevistados,
uma sociedade que tem a comunicação em lugar da produção de medidas
como processo mediador da educação. quantitativas de características ou
Esses processos se configuram por comportamentos.
uma alfabetização audiovisual,
coletiva e interativa que de certa
forma desestabilizam os processos de
organização tradicionais de ensino. Alguns Para Minayo (1996 apud Lakatos,
autores chegam a afirmar que “os avanços 2007), a pesquisa qualitativa “responde
das TICs poderão revolucionar a pedagogia a questões particulares” em Ciências
do século XXI, da mesma forma que a Sociais, preocupando-se com “um nível de
inovação de Gutemberg revolucionou a realidade que não pode ser quantificado”,
educação a partir do século XV” (Holmberg ou seja, “ela trabalha com o universo de
apud Belloni, 1999). Percebe-se dessa significados, motivos, aspirações, crenças,
forma, que metodologias que despertam valores, atitudes, o que corresponde a
áreas sensoriais e cognitivas têm sido cada um espaço mais profundo das relações,
vez mais utilizadas e incentivadas, não só dos processos e dos fenômenos que não
por sua constante presença na atualidade podem ser reduzidos à operacionalização
como também por sua notável eficácia de variáveis”.
no desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem. A pesquisa foi realizada em uma

19
escola da rede pública estadual, localizada
na zona sul do município de Manaus. Os
participantes escolhidos foram os alunos 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
do 2º ano do Ensino Médio, do turno
noturno.

O instrumento de análise utilizada Nessa atividade percebemos


foi a pesquisa-ação. Segundo Thiollent claramente que a metodologia utilizada
(2005), uma das possíveis definições para foi bastante proveitosa para a maioria
esse tipo de pesquisa é a seguinte: dos alunos. Faremos aqui uma análise dos
discursos transcritos por eles.

Em relação à primeira questão


A pesquisa-ação é um tipo de
pesquisa social com base empírica,
foi evidenciado que a maior parte dos
que é concebida e realizada em alunos percebeu realmente do que o
estreita associação com uma ação filme tratava. O aluno 01 respondeu “que
ou com a resolução de um problema os seres humanos nascem idênticos, mas
coletivo, e no qual os pesquisadores conforme o crescimento... mudam”. Já o
e os participantes representativos
da situação ou do problema estão
aluno 02 disse que o filme tratava “sobre
envolvidos de modo cooperativo ou as diferenças genéticas de uma pessoa para
participativo. outra”.

Outros alunos responderam


praticamente a mesma coisa, mas com
Portanto, tanto o pesquisador pequenas diferenças em suas respostas.
quanto o grupo pesquisado interagem Alguns sendo mais objetivos, ou seja,
de modo participativo, desenvolvendo dizendo que o filme tratava “apenas de
as ideias propostas no plano de pesquisa. diferenças genéticas”, e outros sendo mais
Para a pesquisa-ação, é preciso que ao extensos explicando que nem tudo que se
final do processo haja algum tipo de fala sobre genética é verdadeiro.
transformação do grupo envolvido,
gerando assim a solução para o problema A segunda pergunta trata da
em questão, conforme os objetivos compreensão dos conceitos genéticos
específicos da pesquisa. Por esse motivo, através do vídeo. O interessante aqui
durante um determinado estudo, é que alguns alunos abordaram mais
poderão ocorrer ajustes progressivos nos especificamente os aspectos genéticos, e
planejamentos da investigação, se assim outros mais o aspecto ético, mesmo não
for necessário, fortalecendo a questão da se dando conta. Eis algumas respostas dos
pesquisa com ação (FRANCO, 2005). alunos:

Para coleta e análise dos dados, O aluno 03 respondeu: “sim, pois


os alunos assistiram ao filme intitulado: aprendi que cada pessoa cresce do seu
GATTACA “A experiência Genética”, em jeito, não adianta tentar ser igual ao outro”
sala, depois de terem discutido em aulas (aspecto ético).
anteriores conceitos básicos de genética,
clonagem gênica e engenharia genética. O aluno 04 disse: “aprendi sobre a
genética dos gêmeos, que são parecidos,
Foi elaborado um questionário mas são normalmente diferentes” (aspecto
com cinco perguntas sobre o filme, sendo genético).
quatro questões abertas, de interpretação,
e uma questão mais específica. Após O aluno 05 afirmou: “sim, o filme
o filme, houve uma breve discussão facilitou, pois agora percebo que algumas
referente à temática em questão e, em coisas genéticas não são verdadeiras”
seguida, foi entregue a cada um dos alunos (aspecto ético).
um questionário para eles responderem.
O aluno 06, ao fazer sua análise

20
respondeu: “Sim, a gente percebe que ele
(ator do filme) foi capaz de fazer qualquer
coisa para ter a identidade do outro” CONSIDERAÇÕES
(aspecto ético).

A terceira pergunta trata da


utilização de vídeos em aulas de biologia. De uma maneira geral acreditamos
Foi interessante notar que nessa questão que essa atividade foi bastante proveitosa,
os alunos falam claramente da utilização pois no momento do filme percebemos
de aulas alternativas e lúdicas. que os alunos interagiram entre si,
trocando ideias e opiniões.
O aluno 07 respondeu: “sim, porque
explica de um modo mais diferente e mais Pelos resultados obtidos através
fácil”. O aluno 08 afirma que “a utilização do questionário, tomamos ciência de
de vídeo em aula de biologia mostra o que os alunos conseguiram entender
conteúdo de uma forma divertida, resumida o assunto proposto e desenvolveram
e bastante explicada”. O aluno 09 disse percepções, como atenção e poder de
que nem sempre “os alunos conseguem síntese, fatores fundamentais para a
compreender o que os professores estão formulação das respostas. P o r
explicando”. O aluno 10 afirmou que isso, acreditamos que o uso de estratégias
esse método “dá mais dinamismo na aula pedagógicas diferenciadas, como a
trazendo mais curiosidade aos alunos”. utilização de vídeos para o ensino, pode
ser uma ferramenta poderosa para o
A quarta questão trata da pergunta processo ensino-aprendizagem.
de como as aulas de biologia deveriam
acontecer. As respostas dos alunos foram
diversificadas, porém todos são unânimes
em afirmar que há um ganho significativo REFERÊNCIAS
quando as aulas acontecem dessa
maneira. Acompanhemos
a fala de alguns deles. O aluno 11 afirma
BANET, E.; AYUSO, G. E. Introducción a la
que se as aulas acontecessem com mais
genética em la ensenanza secundaria y
frequência desse modo haveria uma
bachillerato. Ensenanza de las Ciências.
“maior interação entre alunos e professores.
p. 373-407, 1995.
Esses (os professores) sairiam mais da teoria
e partiriam mais pra prática”. O aluno 12 BELLONI, M. L. (1999). Educação à
acredita que as aulas deveriam acontecer
Distância. 1. ed. Campinas: Autores
“com mais vídeos, filmes e outros tipos de
Associados, 1999. v. 1. p.
aula”. Já o aluno 13 acredita que as aulas
deveriam “ter mais teorias e mais práticas”. BEZERRA, N. P. A. et al. Elaboração,
Utilização e Avaliação de Jogos Didáticos
A última questão trata de uma
para o Ensino da Genética aos Alunos do
pergunta aberta. Num total de 19 alunos,
Ensino Médio. In: X Jornada de Ensino,
cinco disseram que aprenderam muito com
Pesquisa e Extensão – JEPEX. Recife, out.
a utilização de vídeo. Dez alunos disseram
2010.
que aprenderam razoavelmente bem, e
quatro disseram que aprenderam pouco. BRASIL. Ministério da Educação e do
Nenhum aluno se manifestou dizendo que Desporto. Secretaria de Educação
não aprendeu nada. Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Ciências Naturais. Ensino

Médio; Brasília: MEC/Secretaria de
Educação Básica, p. 71, 2000.

________. Ministério da Educação e do


Desporto. LDB - Leis de Diretrizes e

21
Bases da Educação Nacional. LEI No. revista comunicação e educação. São
9.394, de 20 de dezembro de 1996. D.O. U. Paulo, ECA-Ed. Moderna, [2]: 27 a 35, jan./
de 23 de dezembro de 1996. abr. de 1995.

CARVALHO, A. M. P. Referenciais teóricos NASCIMENTO, J.F. de M. A Genética


para análise do processo de Ensino de se Faz Presente no Vestibular da
Ciências. Caderno de pesquisa, São Universidade Federal de Santa
Paulo, n. 96, 2005. Catarina. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade Federal de
FRANCISCO, G.C.B de. Ensino de Santa Catarina, Florianópolis, BR-SC, 2003.
Genética: uma abordagem a partir
dos estudos sociais de ciência e OTERO, R. M. Imagines e Investigación
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22
UTILIZAÇÃO DE ÁREA
VERDE PARA O ENSINO
DE BOTÂNICA COM
CRIANÇAS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
UTILIZAÇÃO DE ÁREA VERDE PARA O ENSINO DE BOTÂNICA
COM CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Bindá, Célia de Souza1

Genovese-Marcomini, Poliana Roversi2

RESUMO
A Botânica é a ciência que estuda as plantas em todos os seus aspectos, como um campo da Biologia e também
muitas vezes referenciada como a Ciência das plantas ou Biologia Vegetal. Este artigo visou à utilização de uma
área verde durante aulas de campo para o ensino de Botânica direcionadas ao Ensino Fundamental. O estudo
utilizou uma área verde localizada nos arredores da escola, e foi desenvolvido com alunos do 6º ao 9º ano da Escola
Municipal Divino Espírito Santo ( município Rio Preto da Eva). Para a realização da pesquisa foram elaborados
debates, pesquisas, aulas práticas de campo, além da elaboração de coleções com materiais coletados nas
trilhas da área verde. Observou-se que desta forma houve participação por parte dos alunos e professores, pois
foram receptivos à metodologia, na pesquisa, observação e coleta de materiais, com posterior confecção de
materiais didáticos, diversificando e valorizando ainda mais o aprendizado de Ciências e Botânica.

Palavras-chave: ensino de Ciências; aula prática; aulas de campo

1 Graduada do Curso de Segunda Licenciatura em Ciências Biológicas – PARFOR –


IFAM. E-mail de contato: celia.binda@hotmail.com
2 Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Botânica do Instituto Nacional de
Pesquisa do Amazonas (INPA). E-mail de contato: polianaroversibe@yahoo.com.br

24
UTILIZAÇÃO DE ÁREA VERDE PARA O ENSINO DE BOTÂNICA
COM CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Bindá, Célia de Souza

Genovese-Marcomini, Poliana Roversi

ABSTRACT
The Botany is the science that studies the plants in all its aspects, as a field of biology and also often
referred to as the science of plants or plant biology. This study is the use of a green area during field
classes for teaching Botany directed to elementary school. The study used a green area located in
the vicinity of the school, and was developed with students from 6th to 9th grade Municipal School
Divino Espírito Santo (Rio Preto da Eva). To conduct the study was prepared debates, research,
teaching practices and the development of field collections with materials collected in the green
trails. It was observed that in this way there was participation by students and teachers as they
have been receptive to the methodology, research, observation and collection of materials, with
subsequent production of teaching materials, further diversifying and enhancing the learning of
Science and Botany.

Keywords: Science education; classroom practice; field classes

25
INTRODUÇÃO conscientização ambiental, indispensáveis
para a formação de cidadãos.
Na busca por uma melhor A Educação Ambiental pode ser
qualidade de vida, o homem se apropria entendida como processo permanente
dos recursos que a natureza oferece, de em que os indivíduos tomam consciência
modo irracional e intenso, causando os do meio ambiente e adquirem
diversos problemas ambientais pelos quais conhecimentos, valores, habilidades,
passamos atualmente (Silva & Melo, 2007). experiências e determinação que os tornam
Uma maneira de amenizar essa situação é aptos a agir individual e coletivamente e
através da Educação Ambiental, que atua resolver problemas ambientais presentes
como ferramenta político-transformadora e futuros. De acordo com o Ministério
dos valores e atitudes da sociedade, em do Meio Ambiente, deve-se possibilitar
busca de um equilíbrio entre o homem e o desenvolvimento progressivo de um
o ambiente. senso de preocupação com o Meio
Ambiente a sua volta. A Educação
Harlen (1989) acredita que a Ambiental deve também ser entendida
falta de percepção da importância do como um senso de preocupação com o
ensino de Ciências para crianças leva Meio Ambiente, baseado num completo
professores, a escola, as autoridades e sensível entendimento das relações do
escolares, formadores de professores a homem com o ambiente a sua volta, além
desenvolverem uma postura negativa de ser entendida como um processo em
em relação à melhoria do ensino nesta que o indivíduo constrói valores voltados
área.Castelo (1985) argumenta que para a conservação do Meio Ambiente,
como o progresso científico avança essencial à sadia qualidade de vida e a sua
em ritmo extremamente acelerado, o sustentabilidade. (Art.1º, Lei Federal nº
velho ensino, baseado na transmissão 9.795, de 27/4/99).
de conhecimentos, deixou de ser eficaz,
pois esses conhecimentos adquiridos na A utilização de áreas verdes no
escola, ao fim de dez anos têm pouco ensino de Biologia é um recurso didático
valor, uma vez que foram substituídos de extrema importância para melhorar
por noções mais novas. Dessa forma uma a percepção e a compreensão de seus
atualização constante é exigida de todos conteúdos e relacioná-lo com outras áreas
que queiram progredir, e a função da do conhecimento. As aulas de campo
escola não pode ser mais a de transmitir e a vivência ambiental em áreas verdes
saberes que envelhecerão a curto prazo. permitem a articulação entre o conteúdo
Segundo o autor, a principal função didático e a realidade dos estudantes,
da escola já não é promover a simples além de aproximá-los da metodologia
aquisição de conhecimentos, mas sim didático-científica, como observação,
ensinar a cada um como adquirir o máximo inferência, formulação de hipóteses e
deles com maior economia de tempo, isto discussão (Viana et al. 2011).
é, ensinar a cada um como estudar e como
raciocinar com eficiência. Muitas escolas dispõem de áreas
verdes próximas ou dentro da própria
Assim, educação e percepção instituição, porém diversos fatores como
ambiental são uma contribuição para o a formulação de um projeto pedagógico
processo ensino-aprendizagem, no qual inadequado ou a falta de tempo dos
a questão ecológica se encontra cada vez professores inviabilizam a utilização dessas
mais presente no cotidiano da sociedade áreas na prática educacional. Segundo as
em geral, seja através da divulgação pela Orientações Curriculares para o Ensino
mídia, seja devido a nítidas alterações Médio (BRASIL, 2006), o uso de espaços
da paisagem e do clima nos diversos além da sala de aula é interessante para o
ambientes. A Educação Ambiental é aprendizado de biologia, desde a visita a
uma ferramenta para subsidiar o debate um museu ou a uma instituição científica
ecológico e expandir o número de pessoas até o uso do pátio, da horta ou do jardim
envolvidas na prática da conservação e da

26
da escola para o desenvolvimento de Escola Municipal Divino Espírito Santo,
atividades, enfim, todas essas ações na AM-010, a 105 km do Município de Rio
podem conduzir a uma maior efetividade Preto da Eva, durante o ano letivo de 2012.
do aprendizado.
A área verde trabalhada se localiza
Isso mostra que estes espaços ao lado da escola, sendo composta por
também são um local de aprendizado, vegetação nativa com algumas plantas já
como uma extensão da sala de aula, onde cultivadas pela comunidade, formada por
além de evidenciarem a necessidade de 184 metros de comprimento e 2 metros
serem mantidas relações harmônicas e de largura.
equilibradas entre sociedade e natureza,
mostram quanto o Meio Ambiente faz Participaram deste estudo
parte do cotidiano das pessoas de uma 80 alunos do 6º ao 9º ano do Ensino
forma prazerosa e estimulante, o que Fundamental, 20 de cada turma. Este
quase não ocorre no ambiente de sala de quantitativo foi determinado com base na
aula. metodologia dos pesquisadores Guerrier
& Jolibois, (1998), Melo (2003) e Zeedyk &
De acordo com Krasilchik (2004), os Kelly (2002).
alunos não aparentam familiaridade com
o universo biológico, tendo problemas de A pesquisa foi dividida em
compreensão do vocabulário da Biologia três momentos: o primeiro foi sobre a
como um todo, devido ao excesso técnico preservação do Meio Ambiente e áreas
de informação nas aulas agregado à verdes; o segundo foi prático, através das
falta de interação professor-aluno e pela aulas de campo, onde foram realizadas
escassez de dinâmicas que explorem o observações e a coleta de material
universo do conhecimento de modo a Botânico para posterior pesquisa em sala
construir uma ponte de ligação entre a de aula; o terceiro consistiu no estudo
atividade e o ensino. e elaboração de material didático pelos
alunos.
Diante do exposto, o presente
trabalho tem como objetivo utilizar No primeiro momento, o professor,
uma área verde ao lado da escola para a junto aos alunos, estabeleceu os tópicos
realização de aulas de campo com o intuito para a realização da pesquisa bibliográfica,
de os alunos vivenciarem o ecossistema e com o intuito de elaborarem seminários e
suas dinâmicas, podendo reconhecer a debates, buscando preparar e motivar os
importância ecológica e econômica das alunos para as aulas de campo realizadas
espécies desta área, as plantas coletadas, posteriormente. Os temas escolhidos
aprimorando metodologias de ensino na foram: O que a Botânica estuda? Por
área de Botânica, desenvolvendo práticas que os vegetais possuem pigmentos de
de vivência ambiental com os estudantes, diferentes cores? Quais os tipos de raízes
seguindo trilhas para coleta de material e frutos que as plantas possuem?
visando a construção de um herbário
para assim cumprir a função científica No segundo, foram realizadas oito
de preservar e acondicionar as coleções aulas de campo na área verde, onde foram
de plantas devidamente coletadas para coletados os materiais botânicos, entre
estudo, identificação e classificação de eles folhas, raízes e frutos secos.
exemplares formando uma coleção.
No terceiro momento, foi realizada
a confecção dos trabalhos, na qual cada
equipe ficou responsável por efetuar
as coleções. Nas coleções de raízes das
1. MATERIAL E MÉTODOS plantas, tinham que observar sobre a
forma da raiz, a espessura e o tamanho e
classificarem o tipo. Na coleção de frutos
secos, era preciso identificar as espécies
Este trabalho foi desenvolvido na encontradas, descrever o formato,

27
cor, textura, sabor, além de medir o
comprimento e a largura. Na observação
das folhas, tinham que confeccionar
exsicatas, passando por todo o processo
de secagem das folhas e seguido pela
montagem e fixação das folhas.

Houve avaliação dos trabalhos e


da participação dos alunos em relação às
atividades.

Imagem 04 - alunos confeccionando as


coleções

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa realizada pelos alunos


sobre os temas que seriam trabalhados na
aula de campo, com posterior realização
de debates sobre o valor da preservação,
foi essencial para estimular e motivá-los à
prática.
Imagem 1 - Apresentação de seminário
Para Santos (2002), as aulas de
campo são positivas na aprendizagem
dos conceitos à medida que representam
um estímulo para os professores que
veem nesta atividade a oportunidade
de inovação para seus trabalhos. No
entanto, para um melhor aproveitamento
da atividade por partes dos alunos é
importante que o professor conheça bem
o ambiente a ser explorado no sentido
de atender plenamente aos objetivos da
aula.

Imagem 2 - Alunos coletando material no Durante as aulas de campo, os


trajeto da trilha alunos fizeram observações e perguntas
sobre a tonalidade das cores das plantas,
suas texturas, as diferenças entre
tamanhos e formas observadas, além de
outros questionamentos feitos por eles
ao se depararem com diversas formas de
vida. Tal situação foi proporcionada pela
prática, que possibilitou ao aluno sentir,
deixando de ser abstrato e permitindo a
problematização.

Segundo Benetti (2002), muitos


professores não exploram adequadamente
as oportunidades oferecidas em um
Imagem 3 - Alunos em observação no trabalho de campo por desconhecimento
trajeto da trilha sobre o local a ser visitado, o que acarreta
um despreparo quanto à maneira de lidar
com os fenômenos apresentados.

28
Através da descrição dos tipos deve nem poluir, nem destruir o Meio
de caule, folha, raiz, produção de Ambiente.
exsicatas e carpotecas, os alunos tiveram
a oportunidade de se familiarizarem Sabemos que este trabalho em si
com os termos específicos da Botânica. é bastante difícil, pois não é fácil mudar
Krasilchik (2004) afirma que falta aos a consciência de uma população em tão
alunos familiaridade com o vocabulário pouco tempo, mais a principal finalidade
biológico devido à carência de práticas deste projeto foi contribuir para que
que estimulem o uso desses termos. no futuro, ele sirva de modelo para que
outros professores possam trabalhar com
Ficou claro o êxito do trabalho, mais persistência na preservação do nosso
pois foi possível realizar todas as etapas verde.
da pesquisa e a confecção das exsicatas,
tendo grande aproveitamento do material
recolhido nas áreas verdes nos arredores
da escola.

Com a avaliação da participação


dos alunos foi observado o interesse dos
mesmos durante o trabalho de campo, o
envolvimento na coleta de material e na
observação a respeito da área trabalhada.

Deve-se considerar também que


outras áreas verdes podem ser utilizadas
para o ensino de Ciências, desde um
canteiro de horta a um pequeno jardim,
contanto que se ofereça condições
para o desenvolvimento de uma aula
diferenciada, que se aproxime da realidade Imagem 05 - seleção de materiais para
do estudante e do meio que o cerca. formação de exsicatas

Segundo Pereira e Putzke (1996),


qualquer ambiente diferente da sala de
aula, podendo inclusive ser o pátio da
escola, as ruas do bairro ou os parques, REFERÊNCIAS
são lugares onde os estudantes podem
ser motivados a participar ativamente das BENETTI, B. A. Temática ambiental e os
ações. Nestes casos, a proposta de trabalho procedimentos didáticos: perspectivas
deve ser reelaborada para se adequar às de professores de Ciências. In: VIII
condições do ambiente utilizado. ENCONTRO DO ENSINO DE BIOLOGIA, 6.,
2002, São Paulo. Anais. São Paulo: FEUSP,
Além de estimular outras práticas 2002. 1 CD-ROM.
de ensino, o desenvolvimento das
atividades de campo e a vivência ambiental BRASIL. Lei 9.795/99 Meio Ambiente.
auxiliam nas atividades didáticas durante Disponível em: http://www.mma.gov.
a abordagem de conteúdos e tornam
as aulas de Ciências mais dinâmicas e br/port/sbf/dap/educamb.html Acesso
atrativas, atividades como essas são em: 18/02/2014.
fundamentais para a formação de
futuros professores e para a melhoria da BRASIL. Secretaria de Educação Básica.
aprendizagem dos estudantes. (Viana et Orientações curriculares para o ensino
al, 2011). médio: volume 2 – Ciências da Natureza,
Matemática e suas tecnologias. Brasília:
O projeto que teve como finalidade ME/SEB, 2006. Disponível em: http://
estimular a preservação do Meio portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/
Ambiente, como a realização de aulas de book_volume_02_internet.pdf. Acesso
campo na área verde nos arredores da em: 10 jun. 2011.
escola e da comunidade como um todo,
possibilitou a compreensão que não se
CASTELO, M. F. A didática na reforma do

29
ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 2ª
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and Ergonomics Society 42nd Annual
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MELO, L. B. Estudo da velocidade


média de caminhada de pedestres em
travessias localizada sem rodovias.
120fl Dissertação de Mestrado. Mestrado
em Transportes. Universidade de Brasília
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86-6 Acesso em: 10 jan 2007.

30
Horta como
instrumento
para Educação
Ambiental no
contexto escolar
Horta como instrumento para Educação Ambiental
no contexto escolar

Bonet, Jaila1

Genovese-Marcomini, Poliana Roversi2

Resumo
Os conteúdos escolares ensinados aos educandos são entendidos como parte de um instrumental
necessário para que todos compreendam a realidade a sua volta e adquiram as condições necessárias
para discutir, debater e opinar. Dessa maneira, este artigo visou a sensibilizar a questão ambiental e
alimentar toda comunidade escolar, em especial os educandos do 6º ano do Ensino Fundamental da
Escola Estadual de Tempo Integral Irmã Gabrielle Cogels, localizada no bairro Puraquequara, Manaus.
Lembrando que a alimentação escolar é um direito de todos os educandos. O presente artigo foi
resultado do projeto “Horta no contexto escolar”, no qual se buscou valorizar o meio ambiente, criando
pequenas mudanças ao longo do processo educativo com a implantação da educação ambiental,
trabalhando a área cognitiva dos educandos, de forma que se ampliasse o aprendizado para além
do ambiente escolar. Como resultado, o projeto criou novos hábitos alimentares, cuidados com o
meio em que se vive e conservação deste, uma vez que a aprendizagem contribui para a formação
ampla de cidadãos críticos e participativos, capazes de atuarem com competência, dignidade e
responsabilidade na sociedade em que vivem.

Palavras-chave: ensino de ciências; aula prática; alimentação saudável

1 Graduada do Curso de Segunda Licenciatura em Ciências Biológicas – PARFOR –


IFAM. E-mail de contato: jailabonet@hotmail.com
2 Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Botânica do Instituto Nacional de
Pesquisa do Amazonas (INPA). E-mail de contato: polianaroversibe@yahoo.com.br

32
Horta como instrumento para Educação Ambiental
no contexto escolar

Bonet, Jaila

Genovese-Marcomini, Poliana Roversi

Abstract
The school content taught to students are understood as part of an instrumental need for everyone
to understand the reality around them and acquire the necessary conditions to discuss, debate and
opine. Thus the present paper was to raise awareness of environmental issues and feed the whole
school community, especially the students of the 6th year of Elementary Education State School
Full-Time Sr. Gabrielle Cogels, located in the neighborhood Puraquequara, Manaus. Recalling that
the school food is a right of all learners. This article was a result of the project “Horta in the school
context”, where we sought to enhance the environment, creating small changes throughout the
educational process with the implementation of environmental education, working cognitive area
of learners, so that they broaden learning beyond the school environment. As a result the project
has created new eating habits, care of the environment in which it lives and conserve the same, since
learning contributes to the formation of broad participatory and critical citizens, able to act with
competence, dignity and responsibility in the society live.

Keywords: Science education; classroom practice; healthy eating.

33
Introdução fora das unidades escolares e acadêmicas,
cuja mensagem e público-alvo podem
ser de intensidade e concentração,
respectivamente, variável.
A relação do ensino de ciências
com as concepções que os educandos A horta pode ser um instrumento
têm a respeito dos conceitos científicos para a educação ambiental no contexto
nos últimos anos têm ganhado crescente escolar. Quando inserida se torna
importância (Driver, 1985) juntamente um laboratório vivo que possibilita o
com a sua repercussão na formulação desenvolvimento de diversas atividades
curricular. Da mesma forma, a história da pedagógicas, além de fornecer alimento
Ciência vem adquirindo relevância para o para a comunidade escolar, unindo
ensino (Mattews, 1989). teoria e prática de forma contextualizada,
auxiliando no processo de ensino-
A importância do ensino de ciências aprendizagem e estreitando relações
para educandos hoje é reconhecida em através da promoção do trabalho coletivo
todo o mundo, em grande parte em virtude e cooperado entre os agentes sociais
das recentes descobertas no campo do envolvidos, (Morgano, 2006).
estudo das concepções construídas pelos
educandos (Driver, 1985). Hoje, crianças e adolescentes
das grandes cidades estão em frente a
O ensino de ciências na escola de videogames, computadores e televisores,
séries iniciais pode realmente adquirir um não tendo mais contato com o meio
aspecto lúdico, envolvendo as crianças ambiente. Desta forma, faz-se necessário
no estudo de problemas interessantes, que os educadores resgatem o contato,
de fenômenos que as rodeiam em seu permitindo a implementação de uma
cotidiano (Unesco, 1983). horta na escola, visto que possui um papel
de suma importância, além de colaborar
Acreditamos que o impacto do
com a discussão sobre a necessidade
ensino de ciências sobre a qualidade
de se ter uma alimentação saudável e
da educação se deve ao fato de que ele
equilibrada e permitir ao aluno vivência e
envolve um exercício extremamente
participação da dinâmica dos organismos
importante de raciocínio, que desperta
ali presentes.
no educando seu espírito criativo, seu
interesse, melhorando a aprendizagem Diante do exposto, a finalidade
de todas as disciplinas. Por isso, se o deste trabalho é utilizar a horta como
educando se familiariza com a Ciência instrumento para a educação ambiental
desde cedo, mais chances ele tem de se e ensino de ciências, sensibilizando
desenvolver neste campo e em outros. a comunidade escolar sobre sua
importância para a saúde, meio ambiente
Falar em ensino de ciências nos
e economia, além da complementação
remete à educação ambiental. No Brasil,
e melhoria na alimentação através
a educação ambiental foi regulamentada
dos vegetais provenientes da horta.
pela Política Nacional de Educação
Portanto, o presente estudo teve como
Ambiental (PNEA), Lei 9.795, de 27 de
objetivo oportunizar ao educando a
abril de 1999, que define seus princípios
conquista do seu espaço preservando
básicos, incorporando oficialmente a
o meio ambiente, proporcionando
educação ambiental nos sistemas de
descoberta e aprendizagem; desenvolver,
ensino, (Tote & Andrade, 2009).
de modo integrado, a consciência da
Segundo Munhoz (2004), a responsabilidade nos educandos para
educação ambiental é subdivida como preservação da horta e do meio ambiente;
formal e informal. A formal é um processo sensibilizá-los para um resgate ao cultivo
aplicado nas instituições de ensino da terra para uma reflexão sobre a
seguindo uma estrutura pedagógica. A importância do consumo de alimentos
informal é aquela realizada e absorvida saudáveis; promover a interação

34
entre professor, aluno, funcionário e Terceiro passo: foram trabalhadas
comunidade, com o intuito de fomentar a as escolhas das hortaliças, seu tempo de
responsabilidade social pela participação colheita, sua base nutricional, o bem que
em grupo, incentivando o respeito pelo elas trazem para nossa saúde.
outro e o diálogo, criando um intercâmbio
sistemático de informações no contexto Quarto passo: reconhecimento
ambiental através de observações, ações do local onde foi feita a horta, seu solo,
concretas e práticas a serem realizadas no números de canteiros, o tamanho dos
ambiente escolar, levando os educandos canteiros.
a perceberem a horta como um espaço
vivo, onde todos os organismos juntos Quinto passo: preparação do
formam uma cadeia, proporcionando terreno para a parte prática, foi feita a
uma produção sustentável e fonte de limpeza do espaço reservado para a horta.
alimentação saudável.
Sexto passo: construção dos
canteiros, medição e obtenção do material
a ser utilizado.
1. Material e Métodos
Sétimo passo: adubamos os
canteiros, para posteriormente fazermos
as plantações das hortaliças.
O presente trabalho foi
desenvolvido na Escola Estadual de Tempo Oitavo passo: Cultivo da plantação.
Integral Irmã Gabrielle Cogels – situada na
Rua Barroso, s/n, no bairro Puraquequara, Concomitantemente foi realizada a
na cidade de Manaus – com alunos do análise do solo, pesquisa sobre as plantas
Ensino Fundamental II, durante o ano cultivadas, sua utilidade para o ambiente,
letivo de 2011, com 25 educandos do 6º importância econômica e os organismos
ano do Ensino Fundamental. relacionados às plantas.

A escola apresenta estrutura bem As hortaliças cultivadas foram:


preservada, por ser de tempo integral as
alimentações dos educandos, juntamente
com funcionários e corpo docente são
fornecidas por uma empresa terceirizada, Nome científico: AlliumschoenoprasumL.
assim como o serviço de limpeza. Família: Liliaceae
Observou-se a necessidade de criar
Cebolinha
uma horta na instituição. O trabalho foi
desenvolvido em aulas teóricas e práticas A  cebolinha  é uma planta exterior
com os seguintes tópicos: o solo, os tipos de textura herbácea, aparentada com a
de canteiro, as hortaliças e a importância cebola. Os bulbos da cebolinha são brancos
de uma alimentação saudável em nossa e alongados e suas folhas são verdes,
vida. compridas e cilíndricas, como tubos ocos,
inflados desde a base. Após um período
O projeto se deu nos seguintes
frio, ela começa a florescer, com flores de
passos:
coloração branca-esverdeada. Há muitas
Primeiro passo: trabalhou-se a variedades, incluindo plantas de coloração
teoria, com o tema “Os tipos de solo”, para avermelhada, outras de bulbos maiores
podermos desenvolver nosso projeto. ou folhas mais ou menos grossas. Produz-
se híbridos com a cebola, originando
Segundo passo: foi trabalhado “Os plantas estéreis, mas bem adaptadas ao
tipos de canteiro”, no qual reutilizamos clima quente.
garrafas pet, estimulando e sensibilizando
os educandos para uma consciência
ambiental. Família: Bassicaceae

35
Couve Cheiro verde

É um alimento rico em nutrientes É uma planta de flores pequenas e


e possui baixo teor calórico. aromáticas, cujas folhas são usadas como
tempero, tendo um cheiro característico. É
É rico em vitaminas A e C. originária do sul da Europa e do Oriente
Médio, tem efeitos medicinais, usada
Possui cálcio, beta caroteno e para combater dores nas articulações,
elevada quantidade de antocianinas e digestivas e com efeitos anafrodisíacos
fibras. (diminui a libido).

Nome científico: CapsicumfrutensensL. 2. Resultados e discussões


Família: Piperáceae

Pimenta Malagueta

Trepadeira originária da Índia e sudeste Diante do desenvolvimento,


asiático, cujos frutos são bagas vermelhas. Utilizada notou-se que os educandos se sentiram
em diversos pratos nacionais, principalmente os bastante motivados, responsáveis em
do nordeste e de origem negra. É estimulante das cuidar do meio ambiente.
funções intestinais e rubefaciente. O decocto das
folhas, com algumas pimentas, em gargareja, é útil
no combate às anginas. Em lavagens estomacais, é
Através da coleta de solo, tiveram a
bom contra as hemorroida. oportunidade de conhecer o solo onde a
horta foi implantada, como, por exemplo,
solo arenoso, solo argiloso, sensibilizando
os educandos ao cuidado com meio
Nome científico: Cichoriumendivia. em que estão inseridos, despertando a
Família: Asteráceas responsabilidade com sua morada.
Chicória

É uma planta semelhante à alface,


mas difere no formato das folhas por
ser mais alongada, de consistência mais
firme e cor verde-escura. Dependendo
de variedades, as folhas podem ser lisas
e onduladas, crespas ou recortadas, além
de serem levemente amargas ou sem
nenhum amargor. Trata-se de uma cultura
anual, herbácea, de ciclo relativamente
curto. As plantas se desenvolvem bem
em condições de temperatura amena à
quente e em solos bem drenados, férteis, Imagem 6 - Educandos coletando solo
ricos em matéria orgânica e com boa
disponibilidade de água durante todo Na apresentação do projeto aos
o ciclo da planta. A propagação é feita visitantes, o intuito principal era chamar a
através de sementes e todo o sistema atenção para a importância de se cultivar
de produção é semelhante à cultura da uma horta e, principalmente, seu poder
alface. Existem variedades selecionadas às nutritivo.
diferentes condições climáticas brasileiras.
Os educandos pesquisaram e
confeccionaram cartazes identificando
cada hortaliça e seu poder nutricional,
Nome científico: Coriandrumsativum. chamando a atenção dos visitantes para
Família: Apiáceas se ter uma alimentação saudável.

36
Foi possível observar nos A implementação da horta
educandos a preocupação em cuidar e possibilitou a interação e o conhecimento
manter a horta. A educação ambiental científico aos educandos. Almejando
atua como um processo de educação uma educação de qualidade é preciso
política que possibilita a aquisição de atentar para um aspecto fundamental: o
conhecimentos e habilidades, e, ainda, a ensino de ciências não consiste apenas
formação de atitudes que se transformam em inserir disciplinas no currículo, mas,
em práticas de cidadania, que garantem é extremamente deficiente devido, entre
uma sociedade sustentável (Frisk, 2008). outras coisas, à falta de prática no ensino
de ciências para a experimentação do
conhecimento científico (Driver, 1985).

No ensino de ciências, é preciso


transmitir conhecimentos que são
elementares e que gerem interesse dos
educandos pela experimentação. Eles se
entusiasmam, querem praticar e começar
a produzir trabalho em equipe. Mediante a
conversa e o diálogo, os alunos chegam a
sua própria compreensão de um conceito
ou conhecimento (Flores, 2001).
Imagem 7 - Educandos semeando a terra
A aprendizagem é caracterizada
pela presença de grupos de alunos que
No desenvolvimento do projeto se responsabilizam pela interação que
de aprendizagem foi proporcionada aos os levará a uma meta comum (Flores,
educandos a oportunidade de conciliar 2001).
teoria e prática, aplicando o que se
aprendeu na sala de aula e levando uma Faz-se importante observar, que
experiência valiosa para a vida, uma vez para uma educação com noções de
que a saúde do homem está ligada a uma cidadania, o educando deve adquirir na
alimentação saudável e rica em vegetais escola a capacidade de entender e de
(Frisk, 2008). participar, de maneira social e política,
dos problemas da comunidade e saber se
Através da prática, foi estimulada posicionar de maneira crítica, responsável
a cognição dos educandos, trabalhando e construtiva em relação, por exemplo, a
seus sentidos, como tato, olfato e paladar. problemas científicos e tecnológicos que
Observou-se neles um novo olhar. O ensino afetam toda a sociedade. As metas devem
de ciências como construção mental e podem ser conquistadas tanto na sala de
pode promover o desenvolvimento aula, como fora dela, através do diálogo
intelectual dos educandos. Sabemos que como forma de mediar conflitos e de
as ciências contribuem positivamente tomar decisões coletivas. (BRASIL, 1997).
com o desenvolvimento de outras áreas,
principalmente na Linguagem e na
Matemática. Para muitos educandos de
outros países, o ensino elementar é a única
oportunidade real de escolaridade, sendo,
portanto, a única forma de travar contato
sistematizado com a ciência. O ensino de
ciências na escola pode realmente adquirir
um aspecto lúdico, envolvendo as crianças
no estudo de problemas interessantes,
de fenômenos que as rodeiam em seu
cotidiano (UNESCO, 1983).

37
DRIVER, R. Children’s ideas in
science. Milton Keynes, Open University
Press, 1985.

FLORES, E. M. O trabalho de equipe


interdisciplinar. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2001.

FRISK, P. R; Horta na Escola. São Paulo:


Moderna, 2008.

Disponível em: http://www.ima.matrix.


Imagem 8- Educandos semeando coentro com.br/mariabene/pimentamalagueta.
htm. Acesso em: 17 fev 2013.

MATTHEWS, M. A role for history


and philosophy in science teaching. 
Considerações Interchangev. 20, n.2, p. 3-15. 1989.

MORGADO, F. A Horta Escolar na


Educação Ambiental e alimentar. Rio de
A pesquisa foi realizada com o Janeiro: Ática, 2008.
intuito de desenvolver no indivíduo a
consciência sobre o meio ambiente e a MUNHOZ, T. Desenvolvimento
importância de se ter uma alimentação sustentável e educação ambiental. São
saudável, pois possibilitou ao educando Paulo: Editora Moderna, 2004.
ir além da teoria, partindo para a prática
através da construção da horta. TOTE, M.; ANDRADE, M. Ensino de ciências
e cidadania.São Paulo: Moderna, 2009.
Enfatizou a necessidade de
haver aulas mais dinâmicas e com UNESCO. New trends in primary school
experimentação nas escolas, favorecendo science education. Vol 1.Paris, 1983
assim uma aprendizagem significativa aos
educandos.

Então, se almejamos educandos


críticos e reflexivos, há a necessidade
de pensarmos em novas práticas
pedagógicas, nas quais se insira o
educando como agente principal da
mudança e o sensibilizando com novo
olhar sobre o meio em vive.

Referências

BRASIL. Parâmetros Curriculares


Nacionais: Ciências Naturais (1º e 2º
ciclos). Vol. 4. Secretaria de Educação
Fundamental. 2 ed. Rio de Janeiro: MEC/
SEF, 1997.

38
JOGOS LÚDICOS PARA
O ENSINO DE CIÊNCIAS:
UMA PROPOSTA
A FAVORECER A
APRENDIZAGEM
JOGOS LÚDICOS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA PROPOSTA
A FAVORECER A APRENDIZAGEM

CORRÊA, Betânia da Costa1

Mello, Maria Stela Vasconcelos Nunes de 9

Resumo
Os materiais didáticos são ferramentas fundamentais para o processo de ensino aprendizagem,
e o jogo lúdico se caracteriza como uma importante ferramenta para auxiliar tal processo. Assim,
a proposta desenvolvida tem por objetivo elaborar, confeccionar, avaliar e divulgar esses jogos
como auxílio na compreensão do conteúdo de Citologia e de Elementos Químicos. Os jogos foram
elaborados com base na literatura referente aos Jogos Didáticos e aos conteúdos específicos. Um
protótipo de cada jogo foi confeccionado e avaliado por alunos e professores do CETI – Elisa Bessa
Freire, localizado na Zona Leste de Manaus, no bairro Jorge Teixeira. Os resultados indicaram que
a maioria dos alunos aprendeu sobre o tema abordado, e que os jogos elaborados auxiliaram os
professores no processo de ensino, bem como favorecem a apropriação desses conhecimentos pelo
aluno.

Palavras-chave: ensino; jogos; aprendizagem; processo

JOGOS LÚDICOS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA PROPOSTA


1 8
Graduada do Curso de Segunda Licenciatura em Ciências Biológicas – PARFOR –
IFAM. E-mail de contato: betannycosta@hotmail.com
9
Professora do IFAM

40
A FAVORECER A APRENDIZAGEM

CORRÊA, Betânia da Costa

Mello, Maria Stela Vasconcelos Nunes de

Abstract
The educational materials are key tools to the teaching-learning process, and the playful game
it is characterized as an important tool to assist this process. Thus, the proposal developed aims:
to develop, prepare, evaluate and disseminate these games as an aid in the understanding of the
content of cytology and chemical elements. The games were drawn up based on the literature
relating to educational games and to the specific contents. A prototype of each game was created
and evaluated by teachers and students of Heaven - Elisa Bessa Freire, located in the East of Manaus,
in the neighborhood of Jorge Teixeira. The results indicated that the majority of the students learned
about the topic addressed, and that the games prepared helped the teachers in the teaching process,
as well as favor the ownership of such knowledge by the student.

Keywords: education. Games. Learning. Process.

41
INTRODUÇÃO personalidade, fundamentais para a
construção de conhecimentos); afeição
(desenvolvimento da sensibilidade
e da estima e atuação no sentido de
Referencial Teórico estreitar laços de amizade e afetividade);
socialização (simulação de vida em
Reconhecendo as dificuldades
grupo); motivação (envolvimento da ação,
para se ministrar conteúdos de ciências
do desafio e mobilização da curiosidade e
no ensino fundamental, optamos por
criatividade). Assim, consideramos que a
pensar em uma forma de contribuir para
apropriação e a aprendizagem significativa
o processo de ensino-aprendizagem
de conhecimentos são facilitadas
neste nível de ensino. Surgiu, assim, a
quando tomam a forma aparente de
ideia de elaborarmos jogos lúdicos, que
atividades lúdicas, pois os alunos ficam
facilitassem a compreensão do conteúdo
entusiasmados quando recebem a
de forma motivadora e divertida.
proposta de aprender de uma forma mais
Acreditamos que, neste sentido, seria uma
interativa e divertida, resultando em um
alternativa interessante a utilização dos
aprendizado significativo. O jogo será
jogos lúdicos para preencher as lacunas
uma ferramenta para a aprendizagem, a
deixadas pelo processo de transmissão-
qual propõe estímulo, desenvolve níveis
recepção, na construção de conhecimento
diferentes de experiência pessoal e social,
num trabalho em grupo, assim como a
ajuda a construir novas descobertas,
socialização de conhecimentos prévios
desenvolve e enriquece personalidade,
e sua utilização para a construção de
simboliza um instrumento pedagógico
conhecimentos novos e mais elaborados.
que leva o professor à condição de
O jogo lúdico é aquele fabricado condutor, estimulador e avaliador da
com o objetivo de proporcionar aprendizagem. Ele pode ser utilizado como
determinadas aprendizagens, promotor de aprendizagem das práticas
diferenciando-se do material pedagógico, escolares, possibilitando a aproximação
por conter o aspecto lúdico (CUNHA, 1988), dos alunos ao conhecimento científico,
e utilizado para atingir determinados levando-os a ter uma vivência, mesmo
objetivos pedagógicos, sendo uma que virtual, de solução de problemas que
alternativa para melhorar o desempenho são muitas vezes próximos da realidade
dos estudantes em alguns conteúdos de que o ser humano enfrenta ou enfrentou.
difícil aprendizagem (GOMES et al, 2001).
A compreensão da aprendizagem
Nesta perspectiva, o jogo não com os jogos lúdicos é válida quando
é o fim, mas o eixo que conduz a um refletimos sobre os processos de ensino
conteúdo didático específico, resultando e aprendizagem dos conteúdos de
em um empréstimo da ação lúdica para ciências. Estes processos envolvem
a aquisição de informações (KISHIMOTO, conteúdos abstratos e, muitas vezes, de
1996). No entanto, o jogo nem sempre difícil compreensão e, ainda hoje, sofrem
foi visto como didático, pois como ideia influências da abordagem tradicional do
de jogo se encontra associado ao prazer, processo educativo, no qual prevalece a
sem importância para a formação do transmissão-recepção de informações, a
educando. Sendo assim, a utilização do dissociação entre conteúdo e realidade e
jogo como meio educativo demorou a ser sua memorização.
aceita no ambiente educacional (GOMES
O conteúdo “Célula”, embora
ET AL, 2001). E ainda hoje, ele é pouco
desperte interesse nos alunos, não tem
utilizado nas escolas, e seus benefícios são
sido transmitido/apropriado de forma
desconhecidos por muitos professores.
correta, sendo comum a ideia de que a
Segundo Miranda (2001), mediante célula é fundamental para a existência dos
aos jogos didáticos, vários objetivos podem seres vivos.
ser atingidos, relacionados à cognição
Em face desse contexto, propostas
(desenvolvimento da inteligência e da

42
necessitam ser elaboradas e desenvolvidas Os jogos didáticos desenvolvidos
para que este quadro possa ser alterado, consistiram em conteúdos estruturantes
considerando-se as propostas atuais para da disciplina de ciências para 8º e 9º ano,
o ensino de ciências. tais como: célula para as turmas do 8º ano,
e elementos químicos para as turmas de 9º
O professor deve auxiliar na tarefa ano, elencados nas Diretrizes Curriculares
de formulação de conceitos ativando o da Educação Básica do Amazonas.
conhecimento prévio dos alunos, com Para isso, foram realizadas pesquisas
uma introdução da matéria que articule bibliográficas em livros, internet e artigos
esses conhecimentos à nova informação sobre “Os conteúdos lúdicos para o ensino
que está sendo apresentada (POZO, de Ciências”, que poderiam ser utilizados
1998), e utilizando ferramentas didáticas na elaboração dos jogos lúdicos. Como
para facilitar a compreensão do conteúdo forma de avaliar, os protótipos dos jogos
pelo aluno. Nesse sentido, o jogo lúdico se foram apresentados em sala de aula e
constitui em uma importante ferramenta analisados.
para o professor desenvolver a habilidade
de resolução de problemas, favorecer a
apropriação de conceitos e atender às
características do educando.

Diante do exposto, foi desenvolvida


uma proposta que visou elaborar,
confeccionar, avaliar e divulgar os jogos
lúdicos no auxílio do processo de ensino-
aprendizagem na disciplina de ciências,
abordando conceitos de citologia e
química.

Imagem 9 - Apresentação de protótipo de jogo

1. MÉTODO OU FORMALISMO Ao término desta fase, as atividades


lúdicas da unidade didática foram aplicadas
1.1 Metodologia Aplicada no período de março a julho de 2012,
obedecendo ao planejamento semestral
Preocupada com a excessiva do 8ª e 9º anos da escola. Durante sua
valorização dada às aulas expositivas aplicação foi observada a interatividade
e de memorização de conteúdos de dos alunos, o entusiasmo e a motivação
Ciências, dificultando a construção de no aprender. Ainda, como forma de
conhecimento, resultando em aulas avaliação da unidade didática, foram
monótonas e desinteressantes, foi produzidos e aplicados questionários aos
descrito um artigo sobre “Jogos Lúdicos alunos (gráficos 1 e 2). Estes questionários
para o Ensino de Ciências” direcionado foram aplicados em dois momentos: um
aos alunos do Ensino Fundamental 8º e 9º para a verificação dos conhecimentos
ano do CETI – Elisa Bessa Freire, localizado prévios sobre o assunto, e outro para a
no bairro Jorge Teixeira, no município de verificação dos conhecimentos adquiridos
Manaus, estado do Amazonas. após a aplicação das atividades lúdicas
contidas na unidade didática. De posse
O trabalho envolveu quatro fases de todas as informações, os resultados
distintas: 1) pesquisa e elaboração dos foram analisados e compartilhados,
jogos; 2) apresentação e avaliação dos possibilitando sua discussão.
protótipos; 3) aplicação dos jogos em
uma feira de bioexatas; 4) análise dos
conhecimentos adquiridos pelos alunos,
a partir da comparação de questionários.

43
dos jogos e, posteriormente, as versões
finais de acordo com conteúdos de
Gráfico 1 - Porcentagens dos resultados citologia e química.
dos questionários aplicados da verificação
dos conhecimentos prévios sobre assuntos
Para confeccionar uma trilha
abordados na criação e elaboração dos jogos.
das células, foram usados materiais tais
como: tinta guache, pincel, TNT. O TNT foi
recortado com 1 metro de largura para 3
metros de comprimento no qual foi usada
a tinta guache para demarcar os processos
em que ocorre a jogada. Para as cartas
de perguntas e respostas foi utilizados
papel cartão, cola, tesoura e pincéis. O
papel cartão foi recortado em quadrados
equivalentes a 10 cm de largura por 10 de
comprimento, o pincel foi utilizado para
Gráfico 02 - Verificação dos descrever as perguntas e respostas na
conhecimentos adquiridos e as dificuldades
encontradas na construção e apresentação dos confecção das cartas, ainda com conteúdo
jogos lúdicos de ciências sobre assuntos variados,
tais como: célula, hereditariedade,
sexualidade e etc. Foi confeccionada uma
ampulheta com garrafa pet, fita adesiva
e areia fina branca para cronometrar o
tempo das perguntas e respostas em
que o mediador a coloca para o aluno
responder até terminar o tempo, também
foi confeccionada uma trilha sob a forma
de amarelinha, usada também como jogo
Os jogos foram elaborados com de perguntas e respostas.
base em pesquisas de literaturas existentes
sobre jogos didáticos e conteúdos
específicos de ciências e química, com
coleta de dados a partir das pesquisas
que foram realizadas em sala de aula e no
laboratório de informática do CETI – Elisa
Bessa Freire.

Foram desenvolvidos conceitos,


ideias e entendimentos a partir de
padrões encontrados nos dados obtidos
nas pesquisas.

Imagem 10 - Trilha em forma de amarelinha


1.2 Público Alvo

Alunos de 8º e 9º anos, com faixa


Os alunos do 9º ano, através do
etária de 11 a 16 anos, constituíram os
conteúdo de química, confeccionaram
grupos de pesquisas e de elaboração de
jogos de xadrez gigantes de garrafa pet,
jogos.
e um tabuleiro gigante, onde as garrafas
apresentavam os elementos químicos.
Ainda com o conteúdo de química,
1.3 Caracterização dos Jogos foram confeccionados jogos envolvendo
elementos químicos através de uma trilha
Foram confeccionados protótipos química composta de um dado gigante,

44
um jogo da velha químico e cartas com perguntas e respostas, aplicadas com no
perguntas e respostas. máximo 3 a 4 alunos, onde os mesmos
retiravam uma carta e respondiam uma
pergunta, a cada acerto se andava uma
casa, e a cada erro se permanecia na
mesma casa, ganhava o jogo o jogador que
chegasse à trilha final primeiro. Os demais
jogos apresentavam as mesmas regras,
sendo que o jogo de xadrez gigante, com
base no conteúdo de química, tinha como
regra a captura do símbolo do oxigênio na
qual o jogador que capturasse primeiro o
oxigênio se tornava o vencedor.

Imagem 11 - Xadrez químico avaliado pela


gestora

Foi confeccionado um twister


químico, com a finalidade de formar
quadrados com a sigla de cada elemento
químico ao centro de cada quadrado.

Imagem 13 - Trilha (mundo das células)

Imagem 12 - Twister químico

1.4 Procedimento e Aplicabilidade


Imagem 14 - Jogo de perguntas e respostas
Foram elaborados, com os alunos usando uma ampulheta
dos 8º e 9º anos do CETI – Elisa Bessa
Freire, alguns Jogos Lúdicos envolvendo 2. RESULTADOS E DISCUSSÕES
conteúdos de ciências, tais como: célula
e elemento químico, com o objetivo de 2.1 Aplicação de questionário
contribuir para a solução do aprendizado
no ensino de citologia e química, através
da fixação e da revisão de conteúdos
ensinados, propiciando o aperfeiçoamento A princípio, houve a aplicação de
do poder argumentativo, gerando o um questionário com alunos e professores
raciocínio lógico e a interação dos alunos do CETI – Elisa Bessa Freire, localizado na
com seus colegas de classe. Zona Leste de Manaus, no bairro Jorge
Teixeira.
O jogo sobre célula foi constituído
de uma trilha gigante, algumas cartas de O questionário foi elaborado por

45
uma estagiária e orientado pela professora
coordenadora da disciplina de ciências
Rosely Araújo da Silva, tendo como
objetivo verificar se os jogos precisavam
de alterações, considerando questões
positivas e negativas para verificar se
os objetivos dos jogos foram atingidos,
possibilitando que a versão fosse alterada
ou não.

Baseada nesses dados segue


abaixo a tabela 1, organizada por número Participaram do questionário
de alunos, séries/turma e tipos de jogos. 164 pessoas no total, das quais 24 eram
Na tabela 02, há o número de respostas do corpo docente, e 140 eram do corpo
positivas e negativas, respondidas pelos discente, relatando assim os dados nas
alunos de cada turma. Na tabela 03, tabelas apresentadas.
pode-se verificar as respostas positivas e
negativas dos professores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredita-se que os aspectos lúdico


e cognitivo presentes nos jogos foram
importantes estratégias para o ensino e
a aprendizagem de conceitos abstratos
e complexos, favorecendo a motivação
interna, o raciocínio, a argumentação, a
interação entre os alunos e o professor.
Dessa forma, o jogo desenvolveu além
da cognição, outras habilidades, como a
construção de representações mentais, a
afetividade e a área social (relação entre
os alunos e percepção das regras).

Diante do exposto, defende-se a


ideia de que os jogos poderiam merecer
um espaço na prática pedagógica dos
professores por ser uma estratégia
motivadora e que agrega aprendizagem
de conteúdo ao desenvolvimento de
aspectos comportamentais saudáveis.

Cabe ressaltar que os jogos


pedagógicos não são substitutos de

46
outros métodos de ensino. São suportes
para o professor e poderosos motivadores
para os alunos que usufruem deles, como
recurso didático para a sua aprendizagem. Desta forma, aproveitar-se destas
novas competências que vão sendo
Os professores precisam estar desenvolvidas naturalmente nos alunos,
atentos aos objetivos da utilização de uma vez que eles estão imersos num
um jogo em sala de aula e saber como mundo tecnológico, irá possibilitar o
dar encaminhamento ao trabalho após incremento da prática educativa na sala
seu uso. Além disso, deve dispor de de aula. Como, por exemplo, a tarefa de
subsídios que os auxiliem a explorar as construção de jogos, que foi apresentada
possibilidades do jogo e avaliar os seus aqui neste trabalho como uma atividade
efeitos em relação ao processo ensino- construcionista, auxiliando o aluno a
aprendizagem. desenvolver capacidades cognitivas
que são normalmente difíceis de serem
Sendo assim, é dever do professor trabalhadas em atividades convencionais
subsidiar as atividades como mediador, na escola.
no intuito de evitar as desvantagens que
os jogos oferecem, e também ajudar na Já é sabido que o ato de ensinar
concretização das vantagens que eles, se promove a aprendizagem de quem
bem utilizados, oferecem. o pratica. Alguns estudos mostram a
quantidade de informações que se retém
Todas essas considerações para cada disponibilidade empregada:
enfatizam que, ao professor assumir 10% do que lemos; 20% do que ouvimos;
uma proposta de trabalho com jogos, 30% do que vemos; 50% do que vemos
significa que deverá estudá-la como e ouvimos; 70% do que discutimos com
uma opção, apoiada em uma reflexão outras pessoas; 80% de experiência vivida;
com pressupostos metodológicos, 95% do que ensinamos. Pode-se considerar
prevista em seu plano de ensino. Nesse os jogos lúdicos uma atividade parecida
sentido, o currículo escolar necessita ser com o ato de ensinar, pois o aluno ensina
redimensionado, criando espaços de aos colegas na medida em que desenvolve
tempo para os jogos, a fim de que eles o jogo lúdico para desempenhar as tarefas
sejam aceitos como uma possibilidade idealizadas nos seus projetos de jogos.
metodológica ao processo ensino- Outro aspecto interessante é o aluno
aprendizagem de conceitos. Via ação ensinar algum conteúdo quando o jogo
do jogo, o professor não pode se isolar estiver contextualizado num assunto
do processo, mas sim assumir a posição abordado pela escola.
de elemento integrante, ora como
observador, juiz e organizador, ora como A atividade de construir jogos
questionador, enriquecendo o jogo. lúdicos aproveita muitos dos pontos
positivos, no contexto educacional, como
Não devemos subestimar os as ricas etapas do desenvolvimento
alunos quanto a sua capacidade de criar (descrição, execução, reflexão, depuração)
jogos lúdicos e tantas outras coisas mais que ocorrem sob muita motivação, o
que envolvam o entendimento obtido a envolvimento dos alunos na construção,
partir de conteúdos estudados. a dedicação voluntária, a colaboração
entre si para realização das atividades
e o estímulo ao trabalho cooperativo.
“Não é preciso ser pai ou professor para notar Ainda assim, é importante lembrar que a
que as crianças estão mais espertas do que
nunca. Dominam informações que só deveriam preparação adequada do professor que
aprender anos mais tarde. Fazem perguntas irá mediar o processo é fator fundamental
que surpreendem. Mexem em computadores, para sucesso destas atividades.
celulares e aparelhos eletrônicos como se
agissem por instinto – realizando operações que,
para os adultos, exigem consultas ao manual de
instruções” (Souza, 2006).

47
REFERÊNCIAS

GOMES, R. R.; FRIEDRICH, M. A


Contribuição dos jogos didáticos na
aprendizagem de conteúdos de Ciências
e Biologia. In: EREBIO, 1, Rio de Janeiro,
2001, Anais..., Rio de Janeiro, 2001, p.389-
92.

KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo,


brincadeira e a educação. Cortez, São
Paulo, 1996.

MIRANDA, S. No Fascínio do jogo, a alegria


de aprender. In: Ciência Hoje, v.28, 2001
p. 64-66.

POZO, J. I. Teorias Cognitivas da


Aprendizagem. 3. ed. Porto Alegre: Artes
médicas, 1998.

48
PRODUÇÃO DE
VÍDEO COMO
RECURSO DIDÁTICO-
PEDAGÓGICO DE
ENSINO EM ECOLOGIA:
EXPERIÊNCIA
PEDAGÓGICA NUMA
ESCOLA PÚBLICA
PRODUÇÃO DE VÍDEO COMO RECURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
DE ENSINO EM ECOLOGIA: EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA NUMA
ESCOLA PÚBLICA

CORRÊA, Samaroni Adilson Moreira10

SALAZAR, Deuzilene Marques11

RESUMO

Atualmente, observa-se que o conteúdo de ecologia está entre os mais difíceis de entender no
campo da Biologia. Muitas informações são geralmente ilustrativas e sem participação direta do
aluno, baseadas apenas em livros didáticos e figuras da internet. Este trabalho foi realizado com o
objetivo de melhorar o aprendizado do aluno através da produção de vídeo como documentário
simples e direto, através de uma produção prática e construtiva. Utilizou-se a participação direta dos
alunos e com pouca interferência do professor, para que os resultados fossem evidentes. Portanto,
observaram-se vídeos com boa qualidade de produção e de informações, outros com qualidade
inferior, em se tratando de pesquisa, ainda assim, em todos se obteve aprendizado a partir da
produção.

Palavras-chave: ecologia; produção de vídeo; participação do aluno

10
Graduado do Curso de Segunda Licenciatura em Ciências Biológicas – PARFOR – IFAM. E-mail de contato:
samaronicorrea@gmail.com
11
Professora do IFAM

50
PRODUÇÃO DE VÍDEO COMO RECURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
DE ENSINO EM ECOLOGIA: EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA NUMA
ESCOLA PÚBLICA

CORRÊA, Samaroni Adilson Moreira

SALAZAR, Deuzilene Marques

ABSTRACT

Currently it is observed that the teaching of ecology is among the most difficult to understand the
content of biology. Many information are generally illustrative and without direct participation of the
student, based solely on textbooks and figures the internet. This study was conducted with the goal of
improving student learning through documentary video production as simple and straightforward,
through a constructive and practical production. We used the direct participation of the students
and the teacher with little interference, so the results were evidently constructivists. Therefore, there
was video with good output quality and information, others with lower quality when it comes to
research, but it was obtained in all learning from production.

Keywords: Ecology, video production, student participation.

51
INTRODUÇÃO

A ecologia é um dos conteúdos do ensino médio de uma escola da rede


que perpassa a educação básica desde a pública estadual. Partiu-se da seguinte
educação infantil ao ensino médio. Trata- problematização: a produção de vídeo
se de uma área das ciências biológicas que pelos alunos possibilita a compreensão
objetiva discutir as relações ambientais do conhecimento científico de ecologia?
e os impactos da ação antrópica no
funcionamento do planeta. Nessa A partir desta questão
perspectiva, dada sua relevância social norteadora, objetivou-se:
e científica, é necessário um trabalho
pedagógico que possibilite aos alunos Discutir os processos de ensino
a compreensão de sua ação nesse de ecologia na educação básica,
processo ambiental coletivo, por meio principalmente no ensino médio;
de estratégias educativas que suscitem a
pesquisa, a participação e a interação.
Identificar as potencialidades
No entanto, observa-se que o didáticas da produção do vídeo no
ensino de ecologia, muitas vezes, pauta- processo de ensino da ecologia;
se no repasse de informações geralmente
impressas, ilustrativas, baseadas apenas
Avaliar o uso de produção de vídeo
em livros didáticos, mapas, gráficos e pelos estudantes como recurso
imagens da internet, caracterizando um didático para a aprendizagem do
ensino descontextualizado da vivência conhecimento científico de ecologia.
social do aluno. Para o professor, isso
também se caracteriza como uma das
preocupações pedagógicas, pois o ensino Considerando o objetivo e as
fica limitado à sala de aula e a um processo questões norteadoras, a investigação se
de ensino memorístico e livresco. desenvolveu através de uma metodologia
qualitativa em que estão envolvidas
Nessa perspectiva, Moran (2006, p. as concepções e a experiência dos
31) afirma que existe a necessidade de pesquisadores e dos sujeitos, o método
adotado, os elementos obtidos no diálogo
com os sujeitos e o referencial teórico.

[...] variar a forma de dar aula, as


Utilizou-se a abordagem do estudo
técnicas usadas em sala de aula e de campo e pesquisa-ação. O estudo de
fora dela, as atividades solicitadas, as campo procura o aprofundamento das
dinâmicas propostas, o processo de questões propostas, e seu planejamento
avaliação. A previsibilidade do que o possui maior flexibilidade, como também
docente vai fazer pode tornar-se um tende a utilizar muito mais técnicas de
obstáculo intransponível. A repetição observação à técnicas de interrogação. O
pode tornar-se insuportável, a não pesquisador realiza, neste estudo, a maior
ser que a qualidade do professor parte do trabalho pessoalmente (GIL,
compense o esquema padronizado 2002). A pesquisa-ação, segundo Thiollent
de ensinar.
(1985), possibilita aos pesquisadores e
participantes envolvimento cooperativo
ou participativo para a resolução do
problema.
Sendo assim, este texto objetiva
relatar uma experiência pedagógica, com Empregaram-se como
o uso da produção de vídeo por discentes, instrumentos na coleta de dados a
como recurso didático para o ensino dos observação do participante, entrevistas
conteúdos de ecologia, junto aos alunos semiestruturadas e diário de campo,
buscando compreender o processo de
ensino e aprendizagem da ecologia no
52 ensino médio.
Busca-se com esse estudo apresentado de modo integrado, cabe
estimular o fomento de recursos ao professor, na posição de mediador
midiáticos que favoreça a aprendizagem entre aluno e conhecimento científico,
do conhecimento científico pelo aluno propor atividades que ajudem o aluno a
de uma maneira crítica e criativa, visando desenvolver um pensamento holístico.
à formação de um sujeito participativo e Essa postura deve ser encarada não
comprometido socialmente. só pelas características intrínsecas ao
conteúdo, mas também como exigências
previstas nos Parâmetros Curriculares
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nacionais (PCNs) onde Brasil (1997, p. 21)
lista como competências e habilidades
a serem desenvolvidas em Biologia as
Para entendermos quais os seguintes proposições:
benefícios (ou não) que a produção de
vídeo (documentário simples e direto) • Descrever processos e
como recurso didático-pedagógico características do ambiente ou
pode trazer para o ensino-aprendizagem de seres vivos, observados em
de ecologia, traçamos, no primeiro microscópio ou a olho nu;
momento, uma discussão sobre como
esse conteúdo vem sendo trabalhado
em sala de aula e, no segundo momento, • Perceber e utilizar os códigos
intrínsecos da Biologia;
apresentamos a classificação dos vídeos e
os seus benefícios como ferramenta para
o processo de ensino. • Apresentar suposições e hipóteses
acerca dos fenômenos biológicos
em estudo;

1.1 Ensino de Ecologia


• Apresentar, de forma organizada, o
conhecimento biológico apreendido,
através de textos, desenhos, esquemas,
Define-se Ecologia como uma gráficos, tabelas, maquetes etc. (grifo
área da Biologia que estuda as relações nosso);
entre os seres vivos e os componentes
da formação estrutural do planeta. Para
• Conhecer diferentes formas de
Amabis (2004):
obter informações (observação,
experimento, leitura de texto e
imagem, entrevista), selecionando
aquelas pertinentes ao tema biológico
O termo Ecologia (do grego oikos, casa, em estudo;
e logos, ciências) designa o estudo
das relações entre os seres vivos e
o ambiente em que vivem. Trata- • Expressar dúvidas, ideias e conclusões
se de uma ciência multidisciplinar acerca dos fenômenos biológicos.
que engloba diversos ramos do
conhecimento. Além da Biologia,
da Física e da Química, também Baseando-se no texto acima,
as ciências econômicas e sociais observa-se a exigência, por parte dos
têm de ser integradas para que se mecanismos governamentais, de um
possa entender a complexidade ensino de biologia interdisciplinar, teórico
das relações entre a humanidade, e prático, que assegure um ensino-
os outros seres vivos e o planeta. (p. aprendizagem mais eficiente e efetivo.
288)
Os PCNs, ainda discutindo o papel
Partindo do pressuposto de que da biologia na formação do aluno, destaca
o estudo da Ecologia deve ser feito e que é:

53
[...] essencial o desenvolvimento de desinteressante, pois, primeiramente, a
posturas e valores pertinentes às escola trabalha esta temática dissociada de
relações entre os seres humanos, sua vida cotidiana. Depois, o uso de termos
entre eles e o meio, entre o ser
técnicos é considerado complexo, de
humano e o conhecimento,
contribuindo para uma educação
difícil assimilação e memorização. Paralela
que formará indivíduos sensíveis e a isso, a dificuldade na interpretação
solidários, cidadãos conscientes dos compromete a compreensão dos
processos e regularidades de mundo conceitos e, assim, a articulação entre os
e da vida, capazes assim de realizar conceitos e o contexto social no qual o
ações práticas, de fazer julgamentos aluno está inserido.
e de tomar decisões. (BRASIL,
1997, p. 20) No estudo de Castro & Rocha
(2007) sobre o conteúdo de ecologia em
Desta forma, abordar a Ecologia livros didáticos de ciências no ensino
como um conteúdo capaz de integrar as fundamental, o conteúdo de ecologia
relações entre ser humano e ambiente é apresenta que:
considerada uma alternativa viável, tendo
em vista a sua correta aplicação. O nível de atualização do conteúdo foi
considerado satisfatório em 70% dos
Basicamente, ecologia é um livros, sendo um grande motivador
conteúdo da educação básica difícil de no processo de aprendizagem.
ser trabalhado pela escola, em função Apenas 30% dos livros apresentam
dos termos técnicos inerentes à área atividades práticas, estimulando
os alunos a resolverem problemas,
de estudo, bem como por necessitar
com base em uma hipótese. Vaniel &
de espaços para o desenvolvimento de Bemvenuti (2006) observaram que a
experiências práticas que possibilitem maioria dos livros não faz a relação
ao estudante uma vivência com o necessária da teoria com a prática,
ambiente. O professor, muitas vezes, tem sequer mostram a importância que
disponível apenas lousa e pincel, onde os conteúdos têm no o cotidiano do
tenta descrever, por exemplo, conceitos, aluno. (p.02)
organizar níveis tróficos, relacionar
informações bióticas com abióticas e por Ao analisar esta informação,
fim receber o feedback (realimentação, observa-se ainda mais que a teoria é
opinião, resposta) do aluno através de insuficiente no ensino de ecologia, e se
discussões, exercícios e provas. faz necessária a utilização de atividades
práticas no cotidiano do aluno.
Azambuja (2003) apud Júnior
(2008, p. 16) afirma que O que fazer quando não se tem
estrutura compatível com a disciplina? O
De fato, mais do que em palavras, a que fazer para estimular o interesse do
educação tem na ação concreta uma aluno? Como alertá-lo para algo que está
de suas principais bases, envolvendo ao seu redor? Esses são os frequentes
atitudes e comportamentos que, questionamentos que os professores
repetindo-se e transformando-se no
têm feito para articular atividades que
dia a dia, poderão vir a consolidar-
se como prática socialmente aceita.
melhorem o ensino e possibilitem a
Aliás, a diferença entre o discurso construção de conhecimento pelo aluno.
e a prática é considerada um dos
motivos que justificam a dificuldade O professor utiliza o livro didático
de assimilação/reprodução pelos no processo de ensino de ecologia, mas
estudantes de alguns dos ‘conteúdos’ encontra dificuldades na realização de
ministrados em classe pelos mestres. atividade extraclasse (floresta, bosque, sítio
escolar, margem de mata primária e etc.) e
Desta forma, constata-se que, para no uso de laboratórios. Há vários motivos
o aluno, o conteúdo de ecologia se tornou para isso, dentre eles, a disponibilidade de
locais próximos à escola que favoreçam

54
uma visita e observação in locu e também redes sociais. Então, por que não utilizar
as atuais medidas de segurança adotadas tal recurso no ensino-aprendizagem?
por muitas escolas, em função do elevado
índice de violência na sociedade, que Atualmente, procura-se realizar
inviabilizam a saída de alunos da escola trabalhos nos quais o aluno possa pesquisar,
para a realização de atividades fora do produzir, compreender o que se passa
ambiente escolar. ao seu redor, relacionar as informações
encontradas em sua pesquisa com o
Hofstein & Rosenfeld (1996) mundo em que vive e, principalmente,
apud Campos & Oliveira (2005, p. 02) disseminar tais informações com uma
afirmam que: prática adequada e aceitável. Sendo que,
ao produzir um vídeo, ele possa realizar
A abordagem da Ecologia no Ensino pesquisa e criar formas de solucionar
Médio comumente se encontra problemas referentes a si, ao aprendizado
dissociada do conhecimento prático, e ao fato ecológico.
o que acarreta em um desinteresse
por parte do corpo discente ou em
relação à matéria. Este processo de
desvinculação deve ser interrompido 1.2 A produção de vídeo como recurso
com práticas que unam a educação no processo de ensino de ecologia
científica, a educação formal e a
educação informal. As Tecnologias de Informação
e Comunicação (TIC) fazem parte do
De maneira geral, o aluno deve se cotidiano da sociedade atual, modificando,
conscientizar que vive num mundo em assim, as relações educacionais, bem como
plenas transformações e que essas podem a relação com o saber. A multiplicidade
afetá-lo direta ou indiretamente. O aluno de informações é uma realidade, e os
necessita, a partir de uma inquietação vídeos têm de ser considerados nesta
e curiosidade, procurar elucidá-las com perspectiva (DALLACOSTA et al., 2004, p. 3
a ajuda do professor ou através de apud SPANHOL, 2009, p.3).
pesquisas próprias onde possa ver, ouvir,
ler e pensar. A produção de vídeos como uma
TIC pode ser utilizada como ferramenta
Uma das alternativas para o ensino no processo de ensino-aprendizagem.
de ecologia na educação básica consiste Vargas, Rocha e Freire (2007) apud Spanhol
em fazer o aluno participar de atividades (2009) afirmam que
que possibilitem a reflexão e o fazer
prático, bem como o uso de tecnologias a produção de vídeos digitais
digitais que já são de seu domínio e de voltados para a aprendizagem
acesso facilitado, como, por exemplo, aponta para diversos benefícios
fotos e vídeos, que são acessíveis a educacionais, sendo eles:
todos através da internet ou que podem desenvolvimento do pensamento
produzir utilizando aparelhos móveis crítico, promoção da expressão e da
celulares, câmera fotográfica, notebook comunicação, favorecimento de uma
visão interdisciplinar, integração
etc. Isso poderá elevar o interesse dos de diferentes capacidades e
alunos quanto aos conteúdos pretendidos inteligências e valorização do
no currículo escolar. trabalho em grupo.

A produção de vídeos através de


celulares, câmeras fotográficas, tornou-se Observa-se que o aluno, ao participar
algo comum no cotidiano do aluno. Vídeos da produção de um vídeo, busca e
na internet, produzidos tecnicamente adquire outras informações elaborando
ou simplesmente por diversão, são e reelaborando novos conceitos e
formas de se fazerem aprender e divulgar compreensões, ao mesmo tempo em
informações de interesse comum nas que passa a se comunicar com várias
pessoas, com experiências diversas. Sua

55
aprendizagem, nesse momento, torna- meio, de experiências, de entrevistas,
se significativa na perspectiva cognitiva depoimentos” (MORAN, 2011, p.40). Para
interpessoal. os alunos, a produção de vídeos representa
diversão. Os vídeos permitem brincar com
A tecnologia contemporânea a realidade, devido a sua flexibilidade,
inseriu os acessórios câmeras fotográfica registrando pessoas, objetos, fenômenos
e filmadora nos aparelhos móveis, da natureza e qualquer relação ecológica.
possibilitando a produção de vídeo, que Filmar é uma das experiências mais
se tornou instrumento indispensável na envolventes, tanto para as crianças como
vida diária do individuo contemporâneo, para os adultos.
principalmente, na vida do aluno.
Atualmente, a maioria dos alunos possui É nessa perspectiva de
celular e produz fotos e vídeos de sua vida experimentar, que os alunos se dão conta
diária, que são muitas vezes publicados do que estão aprendendo, eles pesquisam
nas redes sociais Orkut, Facebook, Twitter informações para facilitar as ideias e depois
etc. Em alguns casos, estes vídeos podem as colocam em prática, filmando algo que
ser utilizados nas escolas para registrar os se torna divertido pelo lado dinâmico e
eventos e alguns trabalhos escolares. social da atividade, seja o comportamento
humano em determinado ambiente,
O vídeo bem produzido ou diferenças climáticas, comportamento
tecnicamente correto passa por uma animal ou a relação entre os diversos
elaboração onde a técnica é de suma níveis bióticos. Posteriormente, ao
importância no aprendizado do aluno por ver sua produção, criam novas formas
permitir que este participe ativamente de produzir imagens, reafirmam ou
na produção do vídeo e na pesquisa da reelaboram o que produziram e, por fim,
ecologia. A filmagem simples de qualquer fortalecem a aprendizagem de forma
local apresenta detalhes e características construtiva.
inerentes que podem ser analisadas
minuciosamente diversas vezes. As O vídeo como produção na
imagens sobre ecologia nos transmitem perspectiva como intervenção
informações que vão da simples beleza visa “interferir, modificar um
à relação da natureza com o próprio determinado programa, um material
indivíduo, superando a mera exposição audiovisual, acrescentando uma
didática dos conceitos científicos. Então, nova trilha sonora ou editando o
por que não produzir um vídeo e aprender material de forma compacta ou
sobre ecologia na prática? introduzindo novas cenas com
novos significados” (MORAN, 2011,
Moran (2006), ao discutir sobre a p.40).
integração das tecnologias inovadoras no
processo de ensino na educação básica, Assim, ao passo que o aluno
apresenta propostas de utilização do produz, também recria mentalmente
vídeo na educação escolar a partir dos várias formas de produzir e aprender
seguintes objetivos pedagógicos: vídeo determinado assunto, primeiro porque
como sensibilização, ilustração, simulação, se faz obrigatório obter informações
conteúdo de ensino, produção e como através da leitura, posteriormente, porque
processo de avaliação. adapta essas informações de acordo
com a situação na qual se produz o
Ainda segundo o autor, o vídeo conhecimento por meio do vídeo.
como produção pode ser trabalhado em
três perspectivas: como documentação, O vídeo como produção, na
intervenção e expressão. perspectiva da expressão, possibilita
nova forma de comunicação, adaptada à
O vídeo como produção pode ser sensibilidade principalmente das crianças
utilizado “como documentação, registro e dos jovens.
de eventos, de aulas, de estudos do

56
“A produção em vídeo tem uma com alunos do ensino médio. Foram
dimensão moderna, lúdica. Moderna, selecionadas quatro turmas de 1º ano,
como um meio contemporâneo, quatro turmas de 2º ano e uma turma de
novo e que integra linguagens.
3º ano, perfazendo um total de 78 alunos.
Lúdica, pela rniniaturização da
câmera, que permite brincar com a
realidade, levá-la junto para qualquer
A investigação compreendeu três
lugar” (MORAN, 2011, p.41). etapas denominadas neste estudo como
problematização inicial, levantamento de
informações sobre ecologia, produção de
A câmera registra pessoas ou vídeos e problematização final.
grupos, e depois se observa o resultado
com comentários de cada um sobre o
seu desempenho e sobre o dos outros. O
vídeo como expressão pode ser utilizado 2.1 Problematização inicial
pelo professor como instrumento para
avaliação, visto que cada aluno terá Nesta etapa da investigação, foram
participação no vídeo produzido. O levantadas algumas questões sobre
docente olha para o seu desempenho, ecologia, bem como houve a proposta de
comenta e ouve os comentários dos se produzir um vídeo com esta temática.
outros. Esta é uma ferramenta importante Decidiu-se pesquisar e produzir um
para o professor ter o feedback do aluno, pequeno documentário sobre o ambiente
percebendo através de uma entrevista a ecologicamente viável para se promover
quantidade de informações que foram atividade física e saúde – parques,
apreendidas, sejam estas referentes à zoológico, bosque, etc. Inicialmente,
parte técnica de produção ou ao tema discutiu-se quais os locais e os motivos
pesquisado. que pudessem ser viáveis à promoção
de saúde e a utilização do espaço para
O aluno, por sua vez, expõe o que atividades físicas ou de lazer.
aprendeu na prática e indiretamente
expõe suas dúvidas. Nesse momento, Optou-se pelo vídeo documentário
o professor intervém sutilmente no por entendê-lo como instrumento
aprendizado, moldando as arestas sem permissível à visualização de imagens,
desfazer o conhecimento obtido na que serviriam para analisar as conclusões
prática de produzir um vídeo ou sobre e as possíveis modificações nos conceitos
as informações abordadas no tema de cotidianos dos alunos. Solicitou-se aos
ecologia. alunos que observassem a acessibilidade
ao local, a estrutura, o ambiente ao redor,
Nota-se que o processo de a existência de mata, floresta ou qualquer
ensino-aprendizagem se dá de maneira tipo de fauna e flora e, principalmente,
positiva quando o vídeo é produzido as condições ambientais do espaço.
pelo professor e repassado aos alunos. Objetivava-se que o aluno descrevesse
Mas se o processo de produção do vídeo as características gerais e específicas do
se dá de forma inversa (aluno produz o local filmado bem como compreendesse
vídeo), o processo de ensino também as relações dos componentes abióticos e
será significativo? Vejamos então como se bióticos num contexto geral.
dá o processo ensino-aprendizagem de
ecologia por meio da produção de vídeo Diante do contrato didático
pelos próprios alunos. estabelecido entre professor e alunos,
empreendeu-se duas atividades: o
levantamento de informações sobre
ecologia e produção de vídeo e a
2. METODOLOGIA investigação de locais que pudessem ser
lócus para produção do vídeo.
O presente estudo foi realizado em
escola pública da rede estadual de ensino,
localizada na zona norte de Manaus,

57
2.2 Levantamento de informações equipe nomeava um líder que garantia a
sobre ecologia e sobre a produção de organização e participação de todos os
vídeo membros da equipe. De certa forma, todos
os alunos se manifestavam, com opiniões
significativas ou não. Novamente, tudo
em consenso e sem intervenção direta do
Os alunos, mediante o contrato professor.
didático estabelecido, procuraram
informações que pudessem dirimir as Roteiro pronto, eles realizaram
dúvidas e inquietações oriundas da a filmagem com todos os elementos
problematização inicial. Com esse intuito, possíveis (pessoal, material e ambiental).
realizaram pesquisas em livros e na A ideia era filmar todos os aspectos: a
internet. O processo de levantamento estrutura do local, para que pudesse
das informações possibilitou ao aluno ser utilizado em virtude da promoção
encontrar, relacionar e discutir as de saúde, trilhas, passarelas, escadas,
informações entre os componentes do espaços abertos, capoeiras etc; o
grupo, no qual seriam oportunizadas a ambiente em geral com seus aspectos
fala e a escuta de todos, tanto no que se climáticos, territoriais e humanos.
refere à ecologia quanto à produção do
vídeo. Então, iniciaram gravando uma
apresentação do local, narrando e
Cada equipe discutiu e elaborou mostrando características ambientais.
seu roteiro técnico para a produção do Apresentaram também informações
vídeo considerando o levantamento relevantes sobre ecologia, atividade física,
de informações realizadas. Definiram o saúde e as relacionaram entre si, com base
que filmar primeiro e, em seguida, que bibliográfica apresentada anteriormente.
as imagens ficassem ao máximo em
sequência lógica para edição delas. O A atividade física foi elaborada por
objetivo era construir tecnicamente uma eles de acordo com o ambiente para
relação entre as informações adquiridas promoção da saúde. Criaram um plano
anteriormente e durante a filmagem. de aula e aplicaram exercícios físicos
O próprio vídeo lhes daria um novo (alongamentos, caminhadas, corridas,
suporte de informações ecológicas, as pula-corda etc.) no local.
quais visualizariam quantas vezes fossem
necessárias e as regravariam. A edição de imagens foi feita de
forma alternativa, alguns grupos fizeram
Obteve-se o material alternativo suas edições e outros procuraram alguém
(celulares de vários tipos, câmeras com algum conhecimento que pudesse
fotográficas e raramente alguma filmadora editá-las. O objetivo era aprender a
para produção do vídeo) tanto para manipular imagens de forma direta ou
atividade prática realizada no local quanto indireta, através da observação.
para o ambiente envolvido, tendo como
objetivo encontrar soluções alternativas
para problemas materiais e ambientais.
2.3 Feedback final
Paralelas à pesquisa, surgiram
dúvidas sobre a forma de pesquisar e sobre A primeira entrevista se dá ao final
o próprio tema ecologia. Recorreram a do vídeo, onde os próprios integrantes
orientações do professor para confirmar se de sua criação, em grupo, dão seu
as soluções alternativas encontradas eram parecer sobre o assunto pesquisado,
viáveis ou não. Houve pouca intervenção sobre os dados encontrados no local e
do professor na produção do vídeo e sobre a relação destas. Analisa-se a parte
as soluções alternativas e tudo que se ecológica – informações observadas
decidisse deveria estar em consenso. na prática, como o estado do local, a
existência de preservação ou deterioração,
Na produção do roteiro, cada o clima durante a filmagem, as plantas

58
e animais que surgiram e apresenta-se com apenas quatro palavras: 1. Produção
também a parte técnica da produção – do vídeo – “Informações, Recursos,
organização de roteiro, recursos aplicados, Roteiro e Nada”; 2. Ecologia – “Ambiente,
tempo de produção, forma de filmar, Saúde, Ser vivo e Nada”. Todas as outras
posicionamento de câmera e de pessoal, palavras foram tratadas como “feedbacks”
identificação de erros e acertos etc. e, de acordo com seus significados, foram
sintetizadas para as categorias referidas.
A segunda entrevista se dá de
forma impessoal, com cada integrante da
produção do vídeo em particular (sala de
entrevista), para observar as informações
obtidas durante e, principalmente, após
todo o processo, seja da parte técnica ou
sobre ecologia. Em específico, esperou-
se feedback relacionado a estes itens
demonstrando ensino-aprendizagem por
parte da realização do vídeo.

2.4 Redação

Esta é apenas mais uma forma


de analisar as informações adquiridas
durante e após a elaboração do vídeo.
O objetivo era confirmar o feedback na
forma escrita, além de auxiliar o aluno
quando não conseguisse se expressar
na entrevista por questões de timidez,
analisando, do mesmo modo, tanto a
parte técnica quanto a temática (ecologia,
atividade física e saúde).

1 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Utilizou-se a participação direta


dos alunos com pouca interferência do
professor, para que os resultados fossem
evidentemente construtivos. Portanto,
observaram-se vídeos com boa qualidade
de produção e de informações, outros
com qualidade inferior, em se tratando
de pesquisa, mas em todos se obteve
aprendizado a partir da produção, tanto
na parte técnica da elaboração do vídeo
quanto na relação com a ecologia.

Obtiveram-se várias respostas


tratadas como “feedbacks” durante as
avaliações de entrevista e redação, porém
foram sintetizadas em duas categorias

59
Os gráficos a seguir mostram resultados da pesquisa:

Obs.: O item “Nada”, significa que em ambas as avaliações não apresentaram qualquer
tipo de respostas e que seus resultados estão relacionados apenas em ter ou não feedback.

Gráfico 1: Apresenta o número de feedbacks proposto em porcentagem, de acordo


com os itens analisados em cada avaliação, entrevista e redação, relacionados à parte técnica
da Produção do vídeo.

alunos, existe a necessidade da busca


de informações e de organização
Observa-se que o item “Recursos” no momento de produzir material
apresenta um equilíbrio entre as duas audiovisual.
formas de avaliação, entrevistas e redação,
mas que o resultado maior que 60% é Em geral, verificou-se que em
significativo por demonstrar lembrança determinado momento das avaliações, o
de algum dado referente aos recursos aluno apresentou retorno de informações
utilizados pelos alunos. quaisquer relacionadas a estudo, pesquisa,
experiência, prática. O mesmo se deu em
Nos itens “Informações e Roteiro”, relação ao item “Roteiro”, que teve como
o feedback apresenta resultados acima feedbacks organização, coordenação,
dos 100%, evidenciando que, para os tempo, local, espaço etc.

60
Vejamos o gráfico seguinte:

, Observa-se que no item “Ambiente” Apesar de os dados serem equilibrados,


houve diferença de 29,7% entre as duas tem outro significado: determina que
avaliações entrevista e redação. Há uma 15,5% dos entrevistados e 24,5% das
distinção muito grande entre os feedbacks redações não apresentaram retorno,
supramencionados, mas o importante expondo claramente os outros 84,5% dos
é que os percentuais foram elevados, entrevistados e 75,5% das redações de
indicando um resultado positivo, o forma positiva, resultado significativo no
que significa que, por várias vezes, processo ensino-aprendizagem.
houve retorno de qualquer informação
relacionada ao ambiente. Orientação primária – O objetivo
era sistematizar a produção do vídeo
No item “Saúde”, houve um de forma geral, apresentando o tema,
equilíbrio nas duas avaliações, tendo a o processo de pesquisa da ecologia, a
entrevista margem superior de 4,5% à criação de um roteiro, a organização geral
redação, resultado não preocupante, mas do grupo, o processo de apresentação e
que supõe que os feedbacks alcançados filmagem até a edição de imagens. Como
estão, basicamente, no mesmo patamar, e resultado, observou-se que:
que este item ou qualquer outro referente,
é de fácil lembrança pelos avaliados. A maioria dos alunos já apresentava
algum tipo de experiência em filmar,
O item “Ser vivo” apresenta 34,7% falava-se sobre imagens de celulares,
para redação e 28% para entrevista, filmes caseiros ou qualquer outro que
indicando que houve feedback, mas que teriam participado ou visto na internet;
precisa ser reanalisado para se identificar
os motivos causadores de um retorno tão Apresentavam certo medo em
baixo. relação à pesquisa do tema proposto,
justamente por desconhecerem ou
O item “Nada”, representa a acharem o assunto difícil;
ausência de qualquer tipo de feedback
que possa apontar algum dos itens Em momento algum se falou sobre
anteriores (Ambiente, Saúde , Ser vivo). dificuldade de encontrar material, pois já
tinha em mente a utilização de recurso

61
alternativo, como câmeras de celulares. possa reaprender e fixar a informação que
se deseja passar quando o vídeo estiver
De início, muitas perguntas foram pronto.
feitas sobre como organizar passo a passo
a produção e sobre ecologia. De forma Em meio ao processo ensino-
geral, foram orientados sutilmente a se aprendizagem, a informação é fixada
organizarem sozinhos e a pesquisarem os dinamicamente durante a passagem do
assuntos. Posteriormente, seriam tiradas roteiro a todos, uma vez que a discussão
as dúvidas no decorrer da produção do para produzi-lo fez com que cada um
vídeo. apresentasse o mínimo de informações
possíveis, tanto técnicas quanto temáticas.
Prática e orientação secundária
– O objetivo era criar dúvidas, durante Seguindo o roteiro, os alunos
o processo de pesquisa, procurando as foram ao local ecologicamente viável
informações em livros e na internet. Todos escolhido, inicialmente, filmaram tudo
os elementos do grupo encontrariam pela frente, mas, depois, baseados no
conceitos sobre atividade física, saúde e, próprio roteiro, começaram as filmagens
principalmente, ecologia, que lhes dariam específicas. Um dos alunos tomou a
uma visão geral sobre o tema proposto. Os liderança e, como apresentador do vídeo,
conceitos encontrados já lhes serviriam mostrou o local, relatando as informações
para orientá-los e para produzirem o relacionadas com o meio ambiente,
roteiro. filmando muitas vezes o próprio livro
de referência ou o documento impresso
Nesse aspecto, houve poucas da internet. Simultaneamente, os
dúvidas, porque para eles bastava outros se organizaram em suas funções
encontrar conceitos e trocarem entre si; o predeterminadas.
objetivo principal era justamente a própria
pesquisa. Procurar formas de pesquisar e Neste mesmo momento, além
encontrar o que se deseja torna o ensino- de apresentarem o local, e explanarem
aprendizagem mais eficiente porque, informações sequenciadas da seguinte
diretamente, eles estão construindo o maneira: conceito de ecologia e sua
próprio conhecimento. relação com o ser humano; atividade a
ser praticada, sua utilidade, local e modo
Encontradas as informações, eles de aplicação; conceito de saúde e de que
as relacionariam entre si, dando-lhes um forma pode ser promovida; e, por último,
ponto de vista diferenciado da proposta a relação dos itens anteriores entre si e
ensino-aprendizagem, que é aprender com o ser humano.
praticando ou, nesse caso, produzindo. O
fato de só encontrar não basta, mas trocar Apresentaram, no fim do filme e
essas informações com os outros colegas no próprio local, trocas de informação e
e fazer relação entre elas, tornam-nas debates.
mais dinâmicas e interessantes. Além de
transmitir, trocar e relacionar os conceitos, Entrevistas – Foram realizadas após
houve discussões para saber as que a produção e entrega do vídeo, com o
melhor se encaixavam na proposta do objetivo de obter um feedback dos alunos e
roteiro. analisar o processo ensino-aprendizagem
de acordo com os seguintes itens:
Por um lado, tais informações
serviriam de dados para montagem do Conhecimento técnico da
roteiro. Por outro lado, ele sistematizaria produção do vídeo – no geral, todos
a produção do vídeo, e a tornaria rápida os alunos tiveram participação efetiva,
e sequenciada para melhor edição de porém esta foi separada em várias
imagens. Na mesma condição, o roteiro técnicas de elaboração. Entre elas, a
serve de informativo, que vendo e revendo cinegrafia, a organização do roteiro, a
constantemente, faz com que cada um organização de pessoal e alguém para
liderar a apresentação. Essa participação

62
é relevante porque cada um apresentou lugar, permitiram um elevado feedback
suas próprias experiências ligadas a em se tratando de informações, recursos
informações novas encontradas em e roteiro.
pesquisas e vivenciadas durante a
produção do vídeo. Consideramos também que o
elevado percentual de feedbacks não
Conhecimento temático – as exprime que os alunos sejam especialistas
informações secundárias de atividade em vídeo, mas sim que deram um retorno
prática e saúde foram pesquisadas e de informações já existentes no dia a dia,
discutidas durante reunião, em local ou que precisam adquiri-las através de
pré-estabelecido, com a finalidade de pesquisas e estudos, melhorando, assim,
enriquecer a produção do vídeo e tornar seu conhecimento e sua experiência.
o tema principal, ecologia, em uma
disciplina mais agradável de aprender e Referente ao conteúdo de ecologia,
discutir. a experiência mostra, claramente, a
distância entre a teoria e a prática. Na sala
Redação – Foi mais uma forma de de aula, o aluno estuda a teoria baseada
avaliar os participantes da produção do em livros cheios de imagens, conceitos e
vídeo, obtendo-se um novo feedback, relação de informações, mas não existe
através da escrita. Em determinados uma associação da teoria com a prática
momentos, percebeu-se que alguns no cotidiano. Além disso, observa-se que
alunos se apresentaram tímidos diante o conteúdo pesquisado continua difícil,
da entrevista, portanto, fez-se necessário devido às palavras de origem latina ou
obter informações em outro aspecto, latinizadas.
permitindo cada aluno relembrar e
reaprender o conteúdo pesquisado e O aluno, lendo, estudando e
experimentado na produção do vídeo. memorizando apresenta feedbacks não
específicos, ou seja, não são respostas
exatas, tecnicamente ecológicas, mas,
sim, respostas gerais que representam
CONSIDERAÇÕES FINAIS ou se encaixam dentro do conteúdo,
fazendo uma relação direta com a
ecologia. Neste caso, a experiência
mostra resultado positivo, pois o aluno,
A pesquisa realizada se constitui após pesquisa do conteúdo, coloca
da produção de vídeo como recurso no em prática suas informações durante
ensino-aprendizagem de ecologia, sob a produção do vídeo, que serve como
visão construtivista. Como esperado, fixador delas. Podemos afirmar que
durante a orientação primária, os embora o processo não evidencie fixação
participantes tiveram dúvidas e de conteúdo extremamente técnico, com
questionaram, produziram informações palavras exclusivas da ecologia, favorece
no decorrer da criação do vídeo e, o aprendizado através de um leque de
principalmente, apresentaram resultados informações. Os alunos, ao se lembrarem
positivos nos feedbacks (realimentação, da experiência de produção do vídeo,
opinião, resposta, lembrança). criam uma relação direta com a disciplina,
daí o motivo de tanto retorno.
Na técnica de produção de vídeo,
existiu o aspecto experiência diária, que
os deixa familiarizados com as tecnologias
atuais, por outro lado, a pesquisa, a
elaboração e a prática, certamente
elevaram seus conhecimentos, dos quais
apresentaram feedbacks que comprovam
a relação com as informações anteriores.
Talvez a experiência dos alunos, com as
tecnologias contemporâneas em todo

63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS VARGAS, A.; ROCHA, H.; FREIRE, F. Promídia:
produção de vídeos digitais no contexto
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pedagógica. 10 ed. Campinas: Papirus,
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Disponível em: < http://www.ccmn.ufrj.br
> Acesso em: jan. 2013.

CASTRO, M. M.; ROCHA, M. P. Análise do


conteúdo de ecologia em livros didáticos
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JÚNIOR, R. M. O estudo de ecologia


no ensino médio: uma proposta
metodológica alternativa. Dissertação
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tecnologia. Manaus: CEFET/BK, 2007.

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2009.

64
RECICLAGEM DE PAPEL:
UMA ALTERNATIVA
SUSTENTÁVEL
RECICLAGEM DE PAPEL: UMA ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL

FARIA, Sidia1

SILVA, Cirlande Cabral da2

MACIEL, Hiléia Monteiro3

Resumo
O lixo, como um dos maiores impactos para o desequilíbrio ambiental, vem gerando problemas que já
começam a afetar a sobrevivência da humanidade. A finalidade deste trabalho, dividido em quatro momentos,
é conscientizar os alunos sobre a importância da reciclagem de papel, e que este pode ser um modelo de
alternativa sustentável. No primeiro momento, foi realizada uma palestra, para professores e alunos, sobre a
importância de reciclagem do papel. No segundo momento, a turma foi dividida em 3 grupos, sendo cada um
composto por 7 alunos. Na terceira etapa, foi feita observação dos alunos durante todo o desenvolvimento
desse trabalho, já na última, foi feito um questionário para obtermos as impressões dos alunos sobre o
desenvolvimento dele. Estimularmos nossos alunos a se conscientizarem sobre a importância do papel
reciclado é imprescindível para desenvolver atitudes quanto à conservação e preservação do meio ambiente.

Palavras-chave: reciclagem; conscientização; sustentabilidade

1 Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal de Educação,


Ciências e Tecnologia do Amazonas- IFAM. E-mail para contato: bopwesley_13@hotmail.com
2 Doutor em Ensino de Ciências e Matemática e professor efetivo do Instituto Federal
de Educação, Ciências e Tecnologia do Amazonas- IFAM. E-mail para contato: cirlandecabral@
gmail.com
3 Mestra em Educação em Ciências na Amazônia pela Universidade do Estado do
Amazonas –UEA, e professora da SEMED/SEDUC. E-mail para contato: hileiamaciel@gmail.com

66
RECICLAGEM DE PAPEL: UMA ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL

FARIA, Sidia

SILVA, Cirlande Cabral da

MACIEL, Hiléia Monteiro

ABSTRAT
Garbage as one of the greatest impacts to environmental imbalance is creating problems that
are beginning to affect the survival of humanity. This work aims to educate students about the
importance of recycling paper and that this can be a model of sustainable alternative. This work
was divided into four stages. At first it was made a speech about recycling paper for teachers and
students showing the importance of recycled paper. The second time the class was divided into 3
groups, each group consisting of 7 students. The third moment was made the observation of the
students during the development of this work. In the fourth and last time a survey was done to give
the impressions of the students on the development of the work. It is important that we make sure
that our students are aware of the importance of recycling thus developing important conservation
and environmental preservation attitudes.

Keywords: Recycling, awareness, sustainability

67
INTRODUÇÃO criador. Essa descoberta é responsável
pelo resgate da sua autoestima, pois, tanto
O lixo como um dos maiores é cultura a obra de um grande escultor,
impactos para o desequilíbrio ambiental quanto o tijolo feito pelo oleiro. Procura-
vem gerando problemas que já começam se superar a dicotomia entre teoria e
a afetar a sobrevivência da humanidade. prática, pois durante o processo, quando
o homem descobre que sua prática supõe
Na formação educacional de nossos um saber, conclui que conhecer é interferir
alunos, é imprescindível que a ação tenha na realidade, percebe-se como um sujeito
como meta prioritária a reciclagem como da história”.
eixo ético-ecológico, que proporcione a
formação de alunos críticos, solidários e, Os PCNs relatam que “os alunos
sobretudo, envolvidos com a cidadania podem tirar 10 nas provas, mas, ainda
de forma ampla, e o saber cumprir os assim, jogam lixo na rua, pescam peixes
deveres e exigir os direitos que lhe cabem fêmeas prontas para reproduzir, ateiam
como alunos, formadores da sociedade fogo no mato indiscriminadamente, ou
brasileira. realizam outro tipo de ação danosa, seja
por não perceberem a extensão dessas
No Seminário Internacional sobre ações, ou por não se sentirem responsáveis
educação ambiental, em Belgrado, a EA pelo mundo em que vivem”.
postula, em seus objetivos gerais, uma
ampliação da consciência individual Na maioria das cidades brasileiras,
para a coletiva, comprometida com a o lixo das casas, indústrias, dos hospitais
melhoria da qualidade do ambiente e da e das escolas simplesmente é jogado no
vida humana, entendida como ambiente solo, sem nenhuma cobertura, formando
equilibrado, seja ele local ou global. depósitos a céu aberto, também
conhecidos como “lixões”.
De acordo com Guimarães (1995),
a ampliação da consciência não passa Nos Estados Unidos, a indústria de
pela perda da consciência individual, reciclagem do lixo fatura 120 bilhões de
mas incorpora nesta os valores de união dólares por ano, enquanto o Brasil fatura
e solidariedade, de cooperação da 1,2 bilhões de dólares por ano, de acordo
vida como um todo, em seu dinâmico com o economista Calderoni (Revista Veja,
equilíbrio planetário. Assim, o indivíduo 1999).
não é somente uma parte, mas também
natureza, percebendo-se consciente. Dados levantados em 1989
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Ainda de acordo com o autor, a Estatística (IBGE), mostra que no município
aquisição desta postura ocasiona uma de Belo Horizonte (MG), apenas 28% do
nova ética para com a humanidade e lixo urbano coletado recebe algum tipo
alterações profundas nos atuais valores de tratamento e, a maioria, cerca de 72%,
sociais. Essa nova ética passa, entre outros é lançada indiscriminadamente em lixões
pontos, pela criação de uma sociedade a céu aberto (ECO-RIO, 1996).
mais justa, na qual haveria o equilíbrio
social, com a eliminação da miséria, No Estado do Amazonas,
tanto dentro de uma nação quanto especificamente no município de Manaus,
mundialmente. é observado tanto na periferia como na
área central, um descaso quase total com
Freire (1983) diz que: “O homem é a limpeza ou higiene do ambiente local.
um ser de relações. A cultura é o reflexo
do processo criativo do homem e este Sabemos que o lixo na área
processo criativo o torna um agente de da escola degrada o solo e também
adaptação ativa e não de uma acomodação. polui o meio ambiente, trazendo sérios
Essa concepção distingue natureza de problemas para os próprios alunos, como
cultura, entendendo a cultura como o alagações nas áreas internas nos períodos
resultado do seu trabalho, do seu esforço de chuvas, favorecendo a proliferação de

68
várias doenças (verminoses, amebíase, de problemas que ameaçam até a
leptospirose, dengue, etc.), atraindo sobrevivência do planeta, é necessária a
insetos, entre outros. reflexão sobre os erros que têm cometido
em sua escola. Refletir, Recusar, Reduzir,
Assim, conscientes dos problemas Reutilizar e Reciclar são verbos que
ambientais existentes e suas causas, pode- podem ser conjugados na própria escola;
se intervir neles, procurando resolvê- os chamados 5Rs.
los em nossa escola, ajudando a nossa
cidade, nosso estado e até mesmo nosso A discussão do problema do lixo
país, criando consciência de respeito ao deve ser frisada para que nossas crianças
meio ambiente, de cidadania, e ao mesmo desenvolvam uma consciência crítica em
tempo, um mundo mais humano e com relação à questão ambiental.
melhor qualidade de vida para todos.
Educar para uma vida sustentável
Parte do material que consumimos, é promover o entendimento de como
como alimentos, roupas, objetos escolares, os ecossistemas sustentam a vida
brinquedos, cosméticos, cedo ou tarde e, assim, obter o conhecimento e o
terminam como lixo. comprometimento necessários para
desenhar comunidades humanas
O tipo de resíduos depende do sustentáveis.
local onde é produzido e reflete os hábitos
e atividades da população que reside num Na pedagogia da educação para
determinado lugar. uma vida sustentável, o currículo é o
conteúdo e o contexto que dão suporte
Deve-se trabalhar a conscientização ao aprendiz para que, de forma criativa,
da comunidade escolar junto a palestras possa desenvolver comportamentos,
de convidados profissionais da área, como valores e a compreensão do mundo.
IBAMA, CONAMA, INPA, SEMMAS e outros,
focalizando especificamente a educação Assim, esse trabalho tem por
ambiental, o destino do lixo, a reciclagem objetivo conscientizar os alunos sobre a
do lixo e o equilíbrio da natureza. importância da reciclagem de papel e que
este pode ser um modelo de alternativa
Reciclar é transformar um produto sustentável.
que já foi utilizado e descartado em um
novo produto, seja por processo artesanal
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
ou industrial, poupando matéria-prima e
energia necessária a sua fabricação.

A reciclagem de papel é uma das A história do papel4


formas concretas de preservar e conservar
o meio ambiente e tem se tornado a
principal fonte de renda de muitas famílias.
Ótimo seria se esses indivíduos buscassem O Papel no Egito
desenvolver tal atividade por consciência
ecológica, mas infelizmente, no Brasil,
isto ocorre por falta de oportunidade de
empregos formais. Muito da História do Egito nos
foi transmitido pelos rolos de papiro
Uma maneira de aumentar a renda encontrados nos túmulos dos nobres e
familiar é utilizar embalagens descartáveis faraós. Foram os egípcios que, por volta de
de diversos produtos para transformá- 2200 antes de Cristo, inventaram o papiro,
las em utensílios como vassoura, bolsas, espécie de pergaminho e antepassado do
móveis, cintos, caixas para presentes etc. papel.

Com isso, os discentes descobrirão 4 Texto extraído do site: www.


que, em decorrência do surgimento Comofazerpapel.com.br/ papelbrasil.html

69
Papiro é uma planta aquática papel nos meados do século VIII, e dali a
existente no delta do Nilo. Seu talo em técnica expandiu para a Europa e o resto
forma piramidal chega a ter de 5 a 6 metros do mundo.
de comprimento. Era considerada sagrada
porque sua flor, formada por finas hastes
verdes, lembra os raios do Sol, divindade
máxima desse povo. O miolo do talo era O Papel no Japão
transformado em papiros, e a casca, bem
resistente depois de seca, era utilizada na
confecção de cestos, camas e até barcos.
Feitura de papel a mão no Japão
Para se fazer o papiro, corta-se
o miolo do talo - que é esbranquiçado e
poroso - em finas lâminas. Depois de secas
Hoje, como antigamente, fazer
em um pano, são mergulhadas em água
com vinagre, na qual permanecem por seis papel à mão, no Japão, é frequentemente
dias para eliminar o açúcar. Novamente realizado como uma fonte de renda fora
da estação pelos pequenos fazendeiros
secas, as lâminas são dispostas em fileiras
horizontais e verticais, umas sobre as que vivem em aldeias nas montanhas,
onde há pouca terra para cultivo de
outras. Esse material é colocado entre dois
arroz, mas abundância de água limpa nos
pedaços de tecido de algodão e vai para
riachos. Quando o fim do ano chega e a
uma prensa por seis dias. Com o peso, as
colheita do arroz acaba, esses fazendeiros
finas lâminas se misturam e formam um
invariavelmente se ocupam com a feitura
pedaço de papel amarelado, pronto para
de papel.
ser usado.
Em um certo sentido, o trabalho
é hereditário, sendo desempenhado
O papel na China em uma pequena escala, em casa, pelos
membros capazes de cada família. Os
métodos empregados são antiquíssimos
e têm sido passados através de gerações
No século II, a China começou a sucessivas com pequenas mudanças. A
produzir papel para escrita com fibras de estação para fazer papel difere de acordo
cânhamo ou de casca de árvore. Segundo com as localidades nas quais ele é feito. Ela
os registros da “História do Período geralmente começa no fim de novembro
Posterior da Dinastia Han”, do século V, ou início de dezembro e termina em abril
o marquês TSai Lun (?-125) dos Han do ou maio do ano seguinte. Nesta época do
Este (25-220 d.C.) produziu papel a partir ano, os fazendeiros que fazem papel como
de 105 d.C com materiais baratos - casca trabalho paralelo se encontram muito
de árvore, extremidades de cânhamo, ocupados pois eles têm muito o que fazer
farrapos de algodão e redes de pesca no transplante de mudas de arroz e na
rasgadas. O uso do papel se vulgarizou, a criação de bicho-da-seda.
partir de então; e o papel ficou conhecido
entre o povo como “papel TSai Lun”. Na fabricação de muitos
papéis japoneses, manufaturados ou
A partir de então, o papel começou industrializados, usam fibras vegetais
a substituir o bambu, a madeira e a seda. como matéria-prima. Entre essas fibras o
Nos séculos seguintes, os processos gampi, kozo e mitsumata constituem o trio
tecnológicos e equipamentos para a principal de materiais. O papel de gampi
produção de papel se desenvolveram mais é considerado nobre; o de kozo, forte;
ainda. O papel e métodos de fabricação e o de mitsumata, delicado. Para fazer
deste material foram primeiramente papel japonês é comum usar um material
introduzidos no Vietnã e Coreia, e, depois muscilaginoso vegetal, que é comumente
da Coreia, para o Japão. Os países árabes chamado neri. Há vários tipos de neri, o
aprenderam com a China a produzir mais comum é o tororo, uma substância

70
proveniente das raízes do crescimento encontrou-se um papel semelhante ao
do primeiro ano da planta tororo, que papiro produzido pelos Maias e pelos
é um tipo de malvácea. A função do astecas chamado Amatl. O processo de
tororo é fazer com que as fibras flutuem feitura difere do papiro, e é fabricado ainda
uniformemente na água. Outra função hoje na cidade de San Pablito, México, e
é retardar a velocidade de drenagem, constitui fonte de renda para seu povo.
resultando assim em uma folha de papel
melhor formada. O líber, palavra latina, é a entrecasca
de árvore usada para fazer papel, dando
origem à palavra livro. Era comum
escrever em folhas de plantas na China,
O Papel no Mundo daí a origem da expressão ‘folha de papel’.
A palavra grega Biblos era a designação
feita a várias folhas escritas sobre papiro,
originando assim a palavra Bíblia.
Referencial sobre a História do papel

O papel tem sua história ligada


a legítimos e nobres ascendentes. Além
das placas de argila, ossos, metais, pedras,
peles, o homem escreveu, desenhou e O Papel no Brasil
pintou em papiro, sobre o líber e logo a
seguir em pergaminho. O mais antigo
papiro já encontrado data por volta de
2200 a.C., e pertence ao Museu Britânico; Papel artesanal no século XIX
o papiro foi o suporte de escrita de uso
corrente até os primeiros séculos da
era Cristã, em toda a Europa, regiões
asiáticas, e naturalmente, África, de onde A primeira fábrica de papel no
se originou. O pergaminho se tornou Brasil surgiu entre 1809 e 1810, no Andaraí
o principal suporte de escrita durante Pequeno (Rio de Janeiro), e foi construída
quase toda a Idade Média. Havia ainda por Henrique Nunes Cardoso e Joaquim
o palimpseto, cuja palavra designa o José da Silva, industriais portugueses
pergaminho já usado e reaproveitado. transferidos para o Brasil. Deve ter
O fenômeno do reaproveitamento do começado a funcionar entre 1810 e 1811,
papiro se repetia, assim, com relação aos e pretendia trabalhar com fibra vegetal.
pergaminhos. Com a introdução do papel Outra fábrica aparece no Rio de Janeiro,
na Europa, os outros suportes de escrita montada por André Gaillard, em 1837 e,
e desenho desapareceram, restando a logo em seguida, em 1841, tem início a de
lembrança do papiro na palavra papel, Zeferino Ferraz, instalada na freguesia do
paper, papier. Foi longa e lenta a rota do Engenho Velho.
papel a partir da sua invenção em 105 d.C.
por T’sai Lun. O português Moreira de Sá
proclama a precedência da descoberta
O papel só chegou na Europa do papel de pasta de madeira como
10 séculos mais tarde, por caminhos estudo de seu laboratório e produto de
tortuosos e difíceis. Os árabes o produziam, sua fábrica, num soneto de sua autoria
comercializavam-no, e o transportavam da dedicado aos príncipes D. João e Dona
Ásia, pelo norte da África, e de Alexandria, Carlota Joaquina, impresso na primeira
Trípoli e Tunísia, fazendo-no chegar à amostra fabricada.
Espanha, e em seguida à França. Outros
países que produzem papel artesanal de
maneira rudimentar e ancestral são: Índia,
Paquistão, Nepal, Tibete etc. 2. METODOLOGIA

Com a descoberta da América, Esse trabalho foi desenvolvido na

71
Escola Municipal Governador Gilberto foi realizada uma palestra sobre
Mestrinho, no município de Rio Preto da reciclagem de papel para professores e
Eva, AM, com uma turma do 6º Ano A, alunos mostrando a importância do papel
composta por 21 alunos. reciclado.

O estudo é de natureza descritiva No segundo momento, a turma


por se situar no campo educacional. foi dividida em 3 grupos, sendo cada um
Segundo Moreira & Caleffe (2006), o valor formado por 7 alunos. Cada equipe ficou
da pesquisa descritiva está em melhorar responsável por trabalhar um item da
as práticas por meio da observação reciclagem de papel. Os itens escolhidos
objetiva e detalhada e na tentativa de foram: picagem de papel, fabricação
resolução dos problemas. Os resultados de canudos feitos de jornal e revistas e
serão expostos através de descrições, fabricação de bolinhas de papel. Foi feito
depoimentos, narrativas, trazendo um sistema de rodízio no qual cada grupo
declarações de pessoas, fotografias, passou pelos 3 itens escolhidos para essa
fragmentos de entrevistas etc. Assim, os atividade.
registros fotográficos, as entrevistas e
observações nos auxiliarão a descrever
os resultados da pesquisa.

Para obtermos informações


relevantes para esta análise, utilizamos um
questionário que foi aplicado aos alunos
participantes. Esse instrumento de coleta
de dados é uma forma de interlocução
planejada sistematicamente para obter
dos sujeitos da pesquisa, seus pareceres
acerca da problemática enfocada na
pesquisa (CHIZZOTTI, 2008).
Imagem 15 - Alunos se organizando para o
Utilizamos também uma segunda desenvolvimento do projeto Reciclagem de papel.
estratégia que foi a verificação. Para
Gil (2007), é grande a importância da Durante o sistema de rodízio cada
observação na fase de coleta de dados, grupo fabricou porta-retratos, cestas à
podendo ser utilizada sozinha ou base de jornais e revistas, fabricação de
combinada com outras técnicas. A esse porta-joias, alguns tipos de animais feito
respeito, Gil (2007) também escreveu de papel e fixação de cartazes.
que a observação tem como qualidade,
considerada essencial quando comparada
a outros modos de execução de uma
pesquisa, a possibilidade de perceber
por meio dos sentidos e compreender os
acontecimentos de forma direta.

Segundo Ludke e André (1986),


é através da observação direta que o
pesquisador pode se aproximar das
perspectivas dos sujeitos, pois, à medida
em que acompanha as experiências “in
loco”, pode tentar aprender o significado
que eles atribuem à realidade que os cerca Imagem 16 - Confecção de caixas, vasos, canudos
e as suas próprias ações.
a partir da Reciclagem de Papel.
Esse trabalho foi dividido em
quatro momentos. No primeiro momento,

72
Ao término dessa atividade, os “reduz a quantidade de lixo”. O aluno C
alunos apresentaram seus trabalhos respondeu: “é importante para preservar
na feira do conhecimento, que é uma o meio ambiente”. O aluno D respondeu:
atividade proposta pela escola com “ótima ação”.
a participação de outras instituições
Percebemos aqui que “todos” os
e da comunidade. Ela tem por
alunos sabem a respeito da reciclagem do
objetivo divulgar os trabalhos que são lixo, que vai desde aspectos atitudinais,
desenvolvidos em todas as séries. como disseram que é “uma excelente ação”
Na terceira etapa. foi feita até que é “importante para preservar o
observação dos alunos durante todo meio ambiente”. Diante disso, percebemos
o desenvolvimento desse trabalho. Tal que o que está faltando realmente é o
verificação foi extremamente importante, desenvolvimento de uma consciência
pois através dela captamos os gestos, ecológica onde eles possam entender
as emoções e a sociabilidade presentes realmente qual o verdadeiro sentido da
naquela atividade. reciclagem de papel.

No quarto e último momento, A observação foi feita de


foi feito um questionário para obtermos maneira processual durante todo o
as impressões dos alunos sobre o desenvolvimento desse projeto. Durante
desenvolvimento do trabalho. as atividades propostas captamos vários
tipos de sentimentos presentes, como
mudanças de atitudes entre eles, como
respeito, um pouco de coletividade na
confecção dos materiais, um certo grau de
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
autonomia, trabalho em grupo e parceria.
Percebemos também que esse tipo de
atividade desenvolve o lado emocional
A utilização dos questionários aumentado assim a afetividade e a
foi de extrema importância, pois através sociabilidade.
dele pudemos perceber a impressão dos
alunos sobre a atividade proposta.

A primeira pergunta feita foi se CONSIDERAÇÕES FINAIS


eles (os alunos) reciclam papel. Todos
responderam que não têm esse hábito.
Todo papel é descartado sem nenhum
tipo de aproveitamento. A reciclagem de papel, além de ser
extremamente importante para o meio
A segunda pergunta foi se eles ambiente, pode aumentar ou desenvolver
já tinham feito algum tipo de trabalho entre os alunos relações de afetividade, de
(na escola, em casa) sobre reciclagem de respeito e sociabilidade.
papel; 50% deles disseram que já haviam
feito essa atividade em algum momento Por isso, é importante
de suas vidas. Percebemos aqui que esse estimularmos nossos alunos a se
tipo de atividade é corriqueiro nas escolas. conscientizarem a respeito da reciclagem
No entanto, acreditamos também que ela do papel, desenvolvendo, assim, atitudes
é feita sem realmente trabalhar o aspecto importantes para a conservação e
da consciência ambiental e social que está preservação do meio ambiente.
inserida nesse contexto.

A terceira pergunta foi sobre a


impressão que eles tinham da reciclagem
de papel. Eis a resposta do aluno A: “uma
excelente atitude”. O aluno B respondeu:

73
REFERÊNCIAS

BARBARA, J. Lixo e reciclagem. São


Paulo: Editora Scipione, 1989.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências


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professor e a pesquisa. In: ANDRÉ, M. E.
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RODRIGUES, F.L. & CAVINATTO, V.M. Lixo


de onde vem? Para onde vai. In: Coleção
Desafio. São Paulo: Editora Moderna,
1992.

74
Uma proposta de
Ensino voltada à
Educação Ambiental:
Preservar e
Conservar o Igarapé
do Alto Rio Preto da
Eva como Subsídio à
Sustentabilidade
UMA PROPOSTA DE ENSINO VOLTADA À EDUCAÇÃO
AMBIENTAL: PRESERVAR E CONSERVAR O IGARAPÉ DO ALTO
RIO PRETO DA EVA COMO SUBSÍDIO À SUSTENTABILIDADE

FERNANDES, Clêupe Maria de Oliveira15

MELLO, Maria Stela Vasconcelos Nunes de 16

PAES, Lucilene da Silva 17

Resumo
Este artigo trata da pesquisa realizada no Igarapé do Alto Rio Preto da Eva: uma proposta voltada
à educação ambiental de preservação e conservação como subsídio à sustentabilidade, realizada
no ano de 2012, com o objetivo de divulgar a importância de preservar e conservar, contribuindo
para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e atuarem na realidade socioambiental,
comprometendo-se com as questões ambientais da sociedade local e global. A metodologia
utilizada foi a coleta de dados, buscando o desenvolvimento de ações que contribuíram na
conscientização de preservar e conservar o igarapé, com destaque especial aos trabalhos
educacionais em um desenvolver sustentável, na inclusão da comunidade escolar e local, com
atividades didáticas direcionadas à proteção do meio ambiente no âmbito escolar. A pesquisa
apresentou os seguintes resultados: coleta de lixo pelos alunos e comunitários; exposição de
placas com orientações às margens do igarapé; conscientização, através de palestras e distribuição
de panfletos às comunidades ribeirinhas e urbanas, sobre a não derrubada das matas ciliares;
conscientização dos alunos e seus familiares, credenciando-os como “guarda ambientais”; entrega
de panfletos aos moradores e visitantes dos balneários nos finais de semanas. Conclui-se que: à
escola não cabe apenas a responsabilidade de ministrar os conteúdos curriculares, mas também
a formação ética. É necessário despertar o interesse do aluno com atividades voltadas à formação
de sujeitos capazes de buscar resoluções para os problemas sociais. Falta muito a se fazer, contudo
temos certeza de que todo esforço e dedicação dos que participaram deste trabalho foram válidos.
Palavras-chave: igarapé do Alto Rio Preto da Eva; preservação; conservação; sustentabilidade

15
Graduado do Curso de Segunda Licenciatura em Ciências Biológicas – PARFOR – IFAM

16 e 17
Professoras do IFAM E-mail de contato lusilvapaes@gmail.com

76
Uma proposta de Ensino voltada à Educação
Ambiental: Preservar e Conservar o Igarapé do Alto
Rio Preto da Eva como Subsídio à Sustentabilidade

FERNANDES, Clêupe Maria de Oliveira

Mello. Maria Stela Vasconcelos Nunes de

PAES, Lucilene da Silva

Abstract
This paper discusses the survey conducted in Igarapé Alto Rio Preto da Eva: A proposal aimed
Education Environmental preservation and conservation as a subsidy to sustainability, held in 2012,
aiming to promote the importance of preserving and conserving, contributing to formation of
conscientious citizens, able to decide and act on socio environmental engaging with environmental
issues of local and global society. The methodology used was a survey for data collection in order and
seeking to develop actions that contributed in raising awareness to preserve and conserve the creek,
with special emphasis on educational work in a sustainable development, the inclusion of the school
and local community, with educational activities aimed at protecting the environment in the school.
The survey showed the following results: garbage collection by students and community; exhibition
boards with guidance on the banks of the creek; awareness through lectures and distributing
pamphlets coastal communities and urban areas, not on the clearing of riparian forests; awareness of
students and their families, qualifying them as “environmental guard”; delivering flyers to residents
and visitors of the pool on weekends. We conclude that: The school lies not only the responsibility
of delivering the curriculum, but the ethical training. It has to pique the interest of students with
activities focused on the creation of individuals, able to seek resolutions to social problems. Much
remains to be done, the more sure we won APENA every effort and dedication of everyone who
participated in this work.

Keywords: Igarapé Alto Rio Preto da Eva Preservation. Conservation and Sustainability.

77
Introdução o Igarapé do alto Rio Preto da Eva,
como subsídio à sustentabilidade, visa a
contribuir para a formação de cidadãos
A região amazônica abrange uma conscientes, aptos a decidirem e atuarem
das fontes de riqueza em água doce do na realidade socioambiental, de um modo
planeta, subsidiando ações que vão desde comprometido com o meio ambiente,
processos fisiológicos de manutenção do com a vida, com o bem-estar de cada um
homem até os processos industriais. No na sociedade local.
entanto, poucos são os investimentos
para a manutenção dos mananciais, e O crescimento do município de Rio
as políticas voltadas para a preservação Preto da Eva como ponto turístico gerou
ainda são um tanto insignificantes. mudanças de caráter ambiental. Por
esse motivo, surgiu a ideia de se colocar
No Brasil, a pressão para alcançar o em prática o projeto de preservação e
patamar de “desenvolvido” é muito grande, conservação, propiciando a continuidade
o que o leva a enfrentar dificuldades na do aproveitamento das águas para as
busca de estratégias adequadas para a mais variadas atividades humanas, mas,
gestão de seus recursos naturais e, mais do acima de tudo, com ações concretas em
que isso, a conhecer formas de promover favor da vida.
o bem-estar humano sem aceitar que seu
capital natural seja usado e degradado É consensual a necessidade de
por países ditos desenvolvidos (SANTOS, se propagar, entre os alunos do 6º ano do
2007, p.38). Ensino Fundamental da Escola Municipal
Francisco Alves da Costa, localizada no
Se hoje os países lutam por município de Rio Preto Eva, a preservação
petróleo, não está longe o dia em que a e conscientização quanto à conservação
água será devidamente reconhecida como dos mananciais. A escola, como um espaço
o bem mais precioso da humanidade. O importante de exercício da cidadania,
Brasil é um país privilegiado no que diz deve ser usada para a discussão dessas
respeito à quantidade de água. Tem a preocupações com o meio ambiente.
maior reserva de água doce do Planeta,
ou seja, 12% do total mundial. Sua Para que possamos atingir os
distribuição, porém, não é uniforme em objetivos propostos no projeto, mais
todo o território nacional. A Amazônia, por do que trabalhar com informações e
exemplo, é uma região que detém a maior conceitos, é essencial que a comunidade
bacia fluvial do mundo. O volume de água escolar trabalhe com formação de valores
do rio Amazonas é o maior do globo, e atitudes. Nessa perspectiva, elaborou-se
sendo considerado um rio essencial para o projeto de preservar e conservar, para
o planeta. Ao mesmo tempo, é também estimular uma consciência ecológica que
uma das regiões menos habitadas do objetiva despertar os alunos, para, não
Brasil. (GOMES, 2011, p.2). apenas agirem corretamente no processo
de preservação e conservação do meio
Para Bacci e Pataca (2008), a ambiente, como também a colaborarem
água tem fundamental importância com o compartilhar dessa consciência
para a manutenção da vida no planeta, junto às suas famílias e à comunidade.
e, portanto, falar da relevância dos
conhecimentos sobre a água, em suas Para Pátaro (2012, p.1), os
diversas dimensões, é falar da sobrevivência educadores e pesquisadores sempre se
da espécie humana, da conservação e perguntam se as disciplinas escolares têm
do equilíbrio da biodiversidade e das sido estudadas como uma finalidade em
relações de dependência entre seres vivos si mesma ou se estão contribuindo para a
e ambientes. aquisição de aprendizagens significativas
e para a formação de cidadãos preparados
A proposta de trabalhar com o para compreender e atuar sobre o mundo
ensino da educação ambiental voltado em que vivem.
para a temática: Preservar e Conservar

78
Tal pergunta faz sentido, uma
vez que, frequentemente, o que se vê
nas escolas é que “[...] as aprendizagens
1. Metodologia
escolares são vividas por alunos e alunas
como algo gratuito, cuja única finalidade
consiste em passar nos exames” (MORENO
apud PÁTARO, 2012, p. 1). Esta mentalidade A metodologia proposta
se deve ao fato de que, para as crianças, para este trabalho visou a buscar
é muito difícil entender a utilidade das o desenvolvimento de ações que
aprendizagens quando são apresentadas contribuíssem na conscientização de
como algo que justifica a si mesmo. preservar e conservar o igarapé do Alto
Sabemos que aprender requer esforço, Rio Preto da Eva, o qual desemboca no
mas também temos ciência de que este rio principal que banha o município, com
não é, necessariamente, sinônimo de ênfase em trabalhos educacionais sobre
algo que provoca rejeição. Acreditamos um desenvolver sustentável e sobre a
que a aprendizagem dos conteúdos pode inserção da comunidade interna e externa
ser prazerosa e expressiva quando se através de atividades didáticas voltadas
relaciona com as problemáticas sociais à proteção do meio ambiente no âmbito
vividas no cotidiano e proporciona escolar.
conhecimento sobre questões urgentes
acerca do mundo em que se vive. Afinal, No período de março de 2000 a
“nada desanima mais que realizar um dezembro de 2004, foi constituído um
trabalho que requer esforço sem que se trabalho na escola municipal 13 de Maio,
saiba para que serve’’ (MORENO apud situada no km 12, na comunidade Nova
PÁTARO, 2012, p. 2). Jerusalém, que apresentou relatos das
ações empreendidas e propôs novas
A partir de tais questões, ações que foram implantadas a partir de
colocamos em prática ações voltadas à março de 2012, a saber:
conservação dos mananciais de água doce,
como é o caso do igarapé do Alto Rio Preto Realização da análise da realidade
da Eva. Com o crescimento desordenado ambiental da comunidade, na qual,
da população, ocorreu a preocupação a escola está inserida feita por meio
iminente com a questão ambiental, de pesquisa de campo, entrevistas e
envolvendo o respectivo igarapé coletas de dados pelos alunos; palestras
quanto ao seu estado de conservação e, envolvendo profissionais da Secretaria
principalmente, com os altos índices de de Meio Ambiente e Saúde, com a
degradação ambiental, decorrente de participação dos alunos, não só como
variadas atividades humanas, que podem ouvintes, mas também se envolvendo
contribuir não somente com a perda da em dinâmicas que possibilitaram uma
biodiversidade local, como também da interação entre palestrante e aluno,
sustentabilidade ambiental, afetando além de uma reflexão sobre os assuntos
diretamente as futuras gerações que discutidos como a conscientização,
dependem dos recursos hídricos para sua preservação, conservação, a questão do
sobrevivência. lixo, esgoto e desmatamento das matas
ciliares, análise das modificações com
Diante do exposto, realizou-se as construções de novos balneários e o
uma série de atividades didáticas com desperdício dos recursos naturais: água,
alunos do 6º ano do Ensino Fundamental energia elétrica, papel, vidro etc., além de
e com a comunidade escolar, visando várias ações de limpeza e coleta de lixo nas
ao despertar das atitudes voltadas à margens do igarapé, com a participação
preservação e conservação do igarapé das comunidades escolar e local.
do Alto Rio Preto da Eva, como forma de Foram visitadas as famílias
proporcionar a sustentabilidade deste ribeirinhas, conscientizando-as sobre
ecossistema. a importância da preservação e
conservação do igarapé, por meio de

79
panfletos e orientações de profissionais do Alto Rio Preto da Eva como Subsídio
do meio ambiente e saúde. Também à Sustentabilidade faz parte do plano
foi realizado um levantamento sobre as de metas da comunidade escolar da
transformações que ocorreram no referido Escola Municipal Francisco Alves da Costa,
ambiente depois dos surgimentos de direcionado aos alunos do 6º ano do
novos balneários nos últimos quatro ensino fundamental, no município de Rio
anos, pesquisando, ainda, a quantidade Preto da Eva/AM.
de esgotos e lixo às margens do igarapé,
sendo comunicada às autoridades O igarapé do Alto Rio Preto da
municipais para que tomassem as devidas Eva concentra a maior parte de balneários:
providências. Balneário do Manú, Balneário Gonzagão,
Balneário Florestal, Thermas de Rio Preto
Durante o desenvolvimento da e Balneário Adão e Eva, visto que, ele
pesquisa sobre o igarapé do Alto Rio desemboca no rio Preto da Eva. Rio que
Preto da Eva, foram feitas várias atividades constitui uma das fontes de riquezas
em sala de aula sobre poluição da água, naturais da cidade e contribui com o
através de esgotos e lixo, como também atrativo turístico.
sobre as derrubadas das matas ciliares das
margens do igarapé. Por meio da interação escola-
comunidade, realizou-se uma série de
atividades didáticas, na qual os alunos
receberam informações relevantes,
1.1 A Pesquisa acompanhando e participando de
trabalhos sobre as questões ambientais
Conforme mencionado que serão desenvolvidas internamente
anteriormente, no período de 2000 a e externamente na comunidade
dezembro de 2004, foi constituído um escolar, visando a despertar o interesse
trabalho na Escola Municipal 13 de Maio, e a enriquecer o conhecimento e o
situada no km 12, na comunidade Nova desenvolvimento dos educandos.
Jerusalém, o qual foi realizado pela
autora da pesquisa Clêupe Maria de
Oliveira Fernandes, com os alunos da 4ª
série e a comunidade acima citada. Esse
projeto apresentou relato das ações já
empreendidas e propôs novas ações a
serem implantadas a partir de março de
2012.

Imagem 18 - Escola Municipal Francisco Alves da


Costa
Fonte: Gleyce Gurgel, set.2012.

Imagem 17 - Orla Municipal Encanto do Buriti 1.2 Atividades Didáticas


Fonte: Page-004, 2006. Desenvolvidas entre as
disciplinas

As atividades interdisciplinares
com os alunos envolvidos na pesquisa
O projeto realizado em 2012 sob
têm a finalidade de garantir os processos
o título Conhecer e Conservar o Igarapé

80
de ensino e aprendizagem quanto aos moradores e visitantes dos balneários
aspectos de educação ambiental a serem para que não jogassem lixo às margens
trabalhados. do igarapé. Essas ações podem ser
comprovadas pelas fotos abaixo:
Reuniões de conscientização das
atividades a serem desenvolvidas

Foram realizadas reuniões


indicando as ações a serem desenvolvidas
durante o projeto para as comunidades
escolar e local. Falamos sobre a importância
do desenvolvimento de as ações serem
realizadas juntas para buscarmos novas
habilidades com trabalhos em grupo,
aprendendo a cada dia uma nova
lição, da importância de valores como
respeito, deveres, comprometimento, Imagem 19 - Alunos visitando os balneários no
solidariedade, educação, humildade, que final de semana
serão de grande importância ao longo de Fonte: Clêupe Oliveira,2012
nossas vidas.

Diagnóstico dos Ambientes

A avaliação aconteceu ao longo


do desenvolvimento do projeto através
da observação e diagnóstico de alterações
dos ambientes nos locais estudados e
por meio do incentivo de práticas de
educação ambiental nos ambientes
alterados, práticas estas que despertaram
Imagem 20 - Igarapé do Alto Rio Preto da Eva
o interesse e desempenho dos educandos Fonte: Clêupe Oliveira, 2012
na conservação e preservação dos
ambientes naturais que servirão de
subsídios à sustentabilidade para as
futuras gerações rio-pretenses.

2. Resultados

Durante a realização do projeto


com o desenvolvimento das ações
propostas, foram constatados os seguintes
Imagem 21 - Atividade em sala de aula
resultados: coleta de lixo pelos alunos Fonte: Clêupe Oliveira, 2012
e demais membros da comunidade no
igarapé; colocação de placas de orientação
às margens do igarapé; conscientização
dos ribeirinhos através de palestras e
distribuição de panfletos sobre a não
derrubada de árvores; conscientização
dos alunos e seus familiares sobre a
preservação do igarapé, credenciando-
os como guardas ambientais; entrega
de panfletos, nos finais de semana, aos

81
Imagem 22 - Placas orientadoras Imagem 25 - Visita às comunidades

Fonte: Clêupe Oliveira, 2012 Fonte: Clêupe Oliveira, 2012

Imagem 23 - Coleta do Lixo

Fonte: Clêupe Oliveira, 2012 Imagem 26 – Lixo coletado

Fonte: Clêupe Oliveira, 2012

Imagem 24 - Reunião com a comunidade ribeirinha

Fonte: Clêupe Oliveira, 2012

82
Fizeram parte desta pesquisa Quadro 2: Problemas
informações interdisciplinares das áreas detectados nos balneários:
de Matemática, Português, Ciências,
História, Geografia e Educação Ambiental
conforme mostra a tabela 1.
Quadro 1. Principais atividades desenvolvidas
para a conscientização ambiental dentro das
disciplinas

Entre as alterações observadas


pelos alunos podemos destacar problemas
listados no Quadro 2.

83
A campanha foi realizada nos locais Referências
com distribuição de folder informativo,
contendo noções de práticas ideais a
serem desenvolvidas nos ambientes para
a manutenção dos ecossistemas. REGIANI, Tereza Barcelos. Projeto:
Preservação do Meio Ambiente. Vitória,
2003. Disponível em: htpp//www.iia.com.
br.

GOMES, Marco Antônio Ferreira. Artigo


Água: Sem ela seremos o planeta
marte de Amanhã.2011.Disponível em:
htpp//www.geologo.com.br

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO
AMAZONAS. PROFORMAR. Educação
Ambiental. (Coord.) Elizabeth da
Conceição Santos. UEA, Manaus, 2007.

PATACA, Ermelinda Moutinho; BACCI,


Denise de La Corte. Artigo Educação
para a água. São Paulo: 2008. Disponível
Imagem 27 - Folder de conscientização em: htpp//www.scielo.br/scielo.
php?script ̿ sci-arttex&pid=S0103-40...

Considerações

REGIANI, Tereza Barcelos. Projeto:


Preservação do Meio Ambiente. Vitória,
O presente artigo teve como 2003. Disponível em: htpp//www.iia.com.
objetivo levar conhecimento ao aluno, o br.
despertar da importância da preservação
e conservação ambiental, com atividades
didáticas, buscando uma interação entre
escola e comunidade local, divulgando PÁTARO, Ricardo Fernandes. Artigo.
o perigo de contaminação nas águas do Transversalidade e Complexidade
igarapé do Alto Rio Preto da Eva. na Escola: Um trabalho com
Educação Ambiental no Ensino
Esperamos, portanto, ter conseguido Fundamental. Paraná: 2012. Disponível
demonstrar como o conhecimento em: http//www.revistaea.org/artigo.
escolar investe na perspectiva de luta pela php?idartigo=1377&class=02.
proteção ao meio ambiente, podendo se
tornar mais significativo e contribuinte na
formação de cidadãos críticos e aptos, que
saibam lutar e buscar uma vida mais justa MORENO apud PÁTARO, Ricardo
e digna para nossa sociedade. Fernandes. Artigo. Transversalidade e
complexidade na escola: Um trabalho
com Educação Ambiental no Ensino
Fundamental. Paraná: 2012. Disponível
em:http//www.revistaea.org/artigo.
php?idartigo=1377&class=02.

84
A FALTA DE ESTÍMULO
NO PROCESSO ENSINO
APRENDIZAGEM: UM
PROBLEMA VISÍVEL EM
NOSSOS ALUNOS
A FALTA DE ESTÍMULO NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM:
UM PROBLEMA VISÍVEL EM NOSSOS ALUNOS

LEMOS, José Alcines Vasconcelos18

ALBUQUERQUE, Angelita Socorro França19

RESUMO

A falta de estímulo no processo ensino-aprendizagem: um problema visível em nossos alunos foi


o tema desenvolvido na pesquisa que envolveu professores, alunos da Escola Estadual Padre João
Van Den Dungen e pais da comunidade. A investigação foi voltada, principalmente, aos alunos de
1ª série do ensino médio do município de Jutaí, o qual apresenta um índice elevado de crianças
desestimuladas, tendo como objetivo verificar o que os entrevistados entendem por desestímulo.
O assunto surgiu devido ao número elevado de reprovações e abandono escolar nos últimos anos,
o que chamou a atenção, então houve a busca de soluções. Na exploração do tema, utilizaram- se
entrevistas e questionários. Como este tema envolve diretamente o aprendizado, que é transversal,
permitiu-se interdisciplinaridade, abrangendo todos os componentes curriculares, porém, focado
em Ciências Biológicas. Através de uma abordagem qualitativa e quantitativa, buscou-se descobrir
os fatores negativos que desestimulam os alunos da referida escola e, concomitantemente,
encontrar soluções viáveis para solucioná-los. Os resultados após as investigações foram
surpreendentes: 68,4% dos alunos se encontram desestimulados devido às condições de pobreza
da maioria das famílias, outro fator é a falta de tempo dos pais e também a formação inadequada dos
profissionais de educação. Portanto, acreditamos ser possível resolver essa questão, porém é preciso
que os envolvidos tenham compromisso de fato com o processo ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: educação; cultura; cidadania

18
Graduado do Curso de Segunda Licenciatura em Ciências Biológicas – PARFOR – IFAM
19
Professoras do IFAM

86
A FALTA DE ESTÍMULO NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM:
UM PROBLEMA VISÍVEL EM NOSSOS ALUNOS

LEMOS, José Alcines Vasconcelos1

ALBUQUERQUE, Angelita Socorro França

ABSTRACT

The lack of stimulus in the learning process: A visible problem in our students was the theme
developed in the research which involved teachers, students of E. E. Fr. John Van Den Dun gen parents
and the community, research was mainly focused on students of 1st series of high school in the city
of Jutaí, which has a high rate of children discouraged. Aiming at the research that all respondents
understand by discouragement. The issue arose because of the very high number of failures and
neglect in recent years, which has drawn attention, then there was the search for alternatives. In the
exploration of the theme was used interviews and questionnaires. As this issue directly involves the
learning, which is a cross-cutting theme, allowed himself interdisciplinary, covering all curriculum
components, however, focused on Life Sciences, and through a qualitative and quantitative approach,
seeking to discover the negative factors that discourage students of that school while finding viable
solutions to solve them. The results were surprising after the investigation, 68.4% of students are
discouraged and give up everything because of poor conditions of most of our student families,
lack of time by parents and also by inadequate training of education professionals. Therefore, we
believe we can solve this issue, but it is necessary that all involved here have actually committed to
the teaching - learning process.

Keywords: Education, Culture and Citizenship.

87
INTRODUÇÃO abordagem crítico-dialética, teremos
uma visão mais ampla e investigativa, o
que de fato trará benefícios para o futuro
profissional do aluno. Isso conforme
A falta de estímulo no processo os ensinamentos teóricos e básicos
ensino-aprendizagem, tema abordado que possam ser completados por uma
neste artigo, delimitou-se nas 1ª séries do aprendizagem correta e eficaz.
ensino médio da Escola Estadual Padre
João Van Den Dungen, turno noturno, no
município de Jutaí, estado do Amazonas,
no período de março a dezembro de 2012.

A referida investigação se deu pela


tentativa de descobrir as causas de tanta 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
evasão e reprovações, e o impressionante
são os fatores que afetam diretamente
o aprendizado e causam o desestímulo:
as condições de pobreza da maioria 1.1 - HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
das famílias, a falta de tempo dos pais
e também a formação inadequada dos
profissionais de educação. Daí o motivo do
tema escolhido. Porém, surge a indagação Ao falar em história da educação,
do que se entende como “desestímulo no já imaginamos o passado, a existência, a
processo ensino-aprendizagem” em nosso origem da educação e as transformações
município. Uma decadência na educação sofridas no decorrer da história.
básica, a qual deve ser pesquisada,
refletida, propondo projetos alternativos
que venham suprir as necessidades A educação, na história, não está
dentro de um programa escolar, já que isenta das contradições das diversas
na atualidade, a nação brasileira enfrenta ordens que perpassam o devir das
uma série de questões voltadas para a sociedades. A estrutura destas, mais
situação político- socioeconômica que do que isso, determina o aparecimento
evidenciam várias mudanças no âmbito da ideia de uma história da educação
educacional. Esse contexto, no atual e outra das ideias pedagógicas. Desse
momento histórico, está relacionado com modo, se conferirmos o estatuto de
as constantes crises do sistema capitalista uma elaboração sistemática da ação dos
imperante. E nesse cenário político, em homens, verificaremos que a história da
que o trabalho coloca os profissionais educação é, na verdade, da sociedade de
da educação para atuarem de maneira classes.
consciente e crítica, é necessário que
satisfaçam a realidade educacional de Segundo Aranha (1998. p. 15),
nossas escolas às instancias do meio social
onde elas estão inseridas.
a partir das relações que estabelecem
entre si, os homens criam padrões
Nossa preocupação é diagnosticar
de comportamentos, instituições
métodos práticos que supram as e saberes, cujo aperfeiçoamento
necessidades voltadas ao processo de é feito pelas gerações sucessivas,
aprendizado, aperfeiçoamento técnico- o que lhes permite assimilar e
cultural e científico. Pretende-se com isso, modificar os modelos valorizados
descobrir as principais causas que levam o em uma determinada cultura. É a
aluno do ensino médio a não ter interesse educação, portanto, que mantém
pela educação, como a evasão e o viva a memória de sobrevivência.
rendimento escolar e, assim, desenvolver Por isso dizemos que a educação
mecanismos de observação de temas é uma instância mediadora que
torna possível a reciprocidade entre
básicos na ação educativa. Seguindo uma
indivíduo e sociedade.

88
Isso porque, apesar das diferenças entender que o real e o ideal consistem no
existentes em cada sociedade, ninguém mais íntimo de nossa consciência.
escapa da educação. Podemos encontrá-
la em todo e qualquer lugar: em casa, na
rua, na igreja ou na escola. Certo é que, de
um modo ou outro, todos nós envolvemos 1.2. EDUCAÇÃO E FINALIDADES
pedaços de nossa vida com ela, seja
para aprender ou para ensinar. Por esse
motivo, dizemos que a educação não tem
uma definição precisa nem satisfatória. Quando falamos em finalidades da
Afinal, não existe a educação, visto que é educação, retratamos o que situa Veiga,
uma prática social, humana, constitutiva segundo os propósitos do PPP, que podem
do ser social do homem, desde a aldeia ser sintetizados como a explicitação
até a civilização do mais avançado dos pressupostos metodológicos, dos
desenvolvimento técnico-científico. Ela objetivos, da estrutura organizacional e
existe e se materializa numa pluralidade das formas de avaliação educacional.
de práticas, todas condicionadas pela
história e pela geografia, pelo tempo Em uma visão mais ampla da
e pelo espaço. Os diferentes níveis nossa realidade, dizemos que o Projeto
e modelos da prática educativa não Político-Pedagógico é o principal objetivo
podem ser abstraídos das determinações do sistema educacional, já que seus
(econômicas, políticas, ideológicas) das objetivos estão definidos pela legislação
forças produtivas sociais. educacional em vigor.

Veiga (1995, p. 25) define tal


Conforme Brandão (1995, p.9),
objetivo em quatro dimensões:
a educação existe de modo diferente
em pequenas sociedades tribais de • Finalidade Cultural: o que visa
povos caçadores, agricultores, pastores à preparação cultural do ser
nômades, em sociedades camponesas, em para uma melhor vivência em
países desenvolvidos e industrializados, sociedade;
em mundos sociais sem classes, de classes
com este ou aquele tipo de conflito entre • Finalidade política e social: define-
elas, em tipos de sociedades e cultura se na formação do ser humano para
sem estudo, com um estado em formação a participação política que envolva
ou com ele consolidado entre e sobre as direitos e deveres do cidadão;
pessoas.
• Finalidade de formação
É nessa perspectiva da realidade profissional: esta compreende a
efetiva do ser humano que encaminhamos função do trabalho na formação
nossa reflexão sobre a educação. Esta dos alunos;
existe no imaginário das pessoas e na
ideologia dos grupos sociais. Diz-se • Finalidade humanística:
que sua missão é transformar sujeitos e preocupa-se com a promoção
mundos em alguma coisa, de acordo com do desenvolvimento humano
a imagem que se tem de uns e outros. Mas, integral.
na prática, a mesma educação que ensina
pode deseducar, e pode-se correr o risco Ainda assim, é preciso que haja um
de fazer o contrário do que se pensa que envolvimento integral dos envolvidos no
faz, ou do que inventa que pode fazer. processo educacional, para que as metas
desejadas sejam alcançadas e, assim,
Nesse sentido, dizemos que a realizemos mais adequada organização
educação é uma ação intencionada, é dos trabalhos pedagógicos.
fato pessoal e comunitário, visto como
elemento essencial e permanente da
realidade e do pensamento. Devemos

89
1.2.1 ESCOLA 1.2.2 A IMPORTÂNCIA DO
ENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO

Somos todos sabedores de que


a escola consiste no berço do estado, Nada melhor para a educação
responsável pela gestão da educação da do que surgir a partir da reivindicação
criança e do adolescente. Portanto é um de uma participação ativa e abrangente
espaço rico em convivência social, onde em todo o processo educacional.
se relacionam indivíduos competentes O conhecimento da família, do
dos mais diversos grupos da sociedade. meio e da própria criança como também
a tomada de consciência dos pontos
De acordo com Brandão (1995, básicos que devem nortear a sua ação,
p.9): constitui os instrumentos do educador
para a sua prática na escola. Nesse sentido,
Não há uma forma única nem o planejamento, a utilização dos recursos
um único modelo de educação; a e o trabalho desenvolvido com a família
escola não é o único lugar onde ela assumem uma perspectiva dinâmica, na
acontece e talvez nem seja o melhor, qual a participação das crianças, dos pais
o ensino escolar não é sua única e da comunidade em todo o processo
prática e o professor profissional não transforma a escola num lugar vivo, a
seu único praticante. serviço dos cidadãos.

Dessa forma, cada sociedade possui 1.2.3 Trabalho x Crianças


valores e conhecimentos necessários a
sua reprodução, que são transmitidos de
geração a geração.
Nessa perspectiva, cabe à
Olhando por esse lado, concordo escola considerar o relativismo cultural,
com o que diz o pedagogo Paulo Freire valorizando o contexto de seus alunos
(1984, p. 22): e famílias e adaptando sua proposta de
trabalho às necessidades de sua clientela.
De alguma maneira, porém, podemos
ir mais longe e dizer que a leitura da
palavra não é apenas precedida pela O que se vê é que “as escolas
leitura do mundo, mas por uma certa não têm demonstrado flexibilidade e
forma de escrevê-lo ou de “reescrevê-lo”, disponibilidade suficiente para fazer
quer dizer, de transformá-lo através de convergir toda a sua ação educativa no
nossa prática consciente. sentido de melhorar o processo de ensino-
aprendizagem, assumindo uma postura
A escola torna-se, dessa forma, um crítica diante de sua prestação de serviços
grupo de convívio social, componente educacionais, de modo a buscarem as
de uma determinada coletividade, e soluções definidas que sejam eficazes
atua em permanente comunicação com para o sistema educacional”, conforme
ela. Podemos dizer que esse diálogo salienta o psicólogo americano Glasser
se materializa com maior clareza em (1983, p. 32).
momentos efetivos (familiar, religioso e
representantes de atividades econômicas
do bairro, participando ativamente dos Imputar o fracasso aos lares,
às comunidades, à cultura, aos
eventos), consolidando assim, as suas
antecedentes, à raça ou à pobreza
relações extraescolares. seria improdutivo por duas razões:
elimina a responsabilidade pessoal
pelo insucesso e não reconhece que
o êxito escolar está fraqueado a todos
os jovens. Existem fatores inerentes
ao próprio sistema educacional que
não só causam inúmeros problemas

90
escolares, mas também acrescentam montes, prejudicando, sem sombra de
os problemas que a criança leva à dúvida, o processo de aprendizagem em
escola. todos os aspectos.

Para Simão de Miranda, educador,


mestre em Educação e doutor em
Assim, se a escola não pode, por si Psicologia pela Universidade de Brasília,
só, modificar a sociedade da qual faz parte o trabalho do professor no combate ao
e que, portanto, a condiciona, isso não desestímulo é diário. “Ele precisa investir
quer dizer que a ela esteja restrita a um na sua relação com as crianças, mostrar
papel meramente passivo. Ao contrário, a que gosta de conviver com elas e de
escola pode contribuir para que ocorram partilhar todos aqueles momentos. Ele
determinadas mudanças, especialmente deve passar confiança, para que os alunos
aquelas relacionadas ao processo dividam seus medos e inseguranças,
ensino-aprendizagem e que, afinal, inclusive aquelas ligadas ao aprendizado”.
dizem respeito à maioria da população.
O que não podemos aceitar é que a não  
aprendizagem dos alunos seja atribuída
somente a fatores socioeconômicos 1.2.5 FALTA DE MOTIVAÇÃO DO
desfavoráveis. PROFESSOR

1.2.4 A FALTA DE ESTÍMULO, AFETO, Simão de Miranda também


acredita que um dos principais geradores
SEGURANÇA E BOM HUMOR PODEM
de desestímulo dos alunos é a falta de
LEVAR O ALUNO A SE DESINTERESSAR motivação do próprio professor.
PELA ESCOLA
“É uma cadeia. O professor
desmotivado não se mobiliza para
Para evitar que os alunos se encontrar iniciativas criativas e
sintam frustrados ou desestimulados, inovadoras dentro do contexto
os professores devem reavaliar da Educação. Ele espera que as
soluções para suas aulas apareçam
constantemente sua postura em sala de
prontas, como num toque de
aula. Aprender conteúdos de português, mágica, ou venham de autoridades
matemática, ciências, entre outras públicas, sendo que também cabe
disciplinas, não é mais o único intuito de as ao professor buscar novos recursos
crianças frequentarem a escola nos dias de pedagógicos e metodologias que
hoje. Pais e educadores concordam que o estimulem seus alunos em seus
universo escolar é também muito útil para aprendizados”, opina o professor
a socialização, para a troca de experiências, Miranda.
para o trabalho das emoções, para o
aluno se descobrir (e se redescobrir) como Um professor pouco estimulado
indivíduo, entre muitas outras finalidades. e que não acredita no seu potencial de
Conseguir que todos esses objetivos sejam educador produz aquém do que sua
devidamente alcançados não é função capacidade permite e não aproveita
apenas do professor, mas seu papel é, sim, devidamente os recursos que tem em
um dos mais decisivos no aproveitamento mãos ou que sua escola oferece. Não
que crianças e adolescentes fazem de raramente, esquece-se de que é uma
suas vivências no meio escolar. Por isso, é peça-chave da sociedade na formação
importante que ele reveja constantemente de cidadãos. “O educador precisa crer
seu comportamento, visando avaliar no valor de sua profissão, saber que esse
como anda sua influência sobre cada ofício vai muito além da missão de passar
integrante da sala. Do contrário, alunos conteúdos didáticos. E este pode ser um
desestimulados podem brotar aos pensamento promissor para o professor

91
se sentir mais motivado e conseguir vêm demonstrando sua desmotivação
transmitir mais paixão aos alunos, através de atitudes e comportamentos
estimulando-os também”. semelhantes aos citados anteriormente.

Sabemos que a principal fonte de


1.2.6 O QUE LEVA O ALUNO à
motivação são nossos próprios desejos,
DESMOTIVAÇÃO PARA O ESTUDO? as metas que traçamos e os objetivos
que almejamos atingir. Porém, é possível
perceber que, em crianças provenientes
O momento do planejamento, das classes sociais mais baixas (muitos
para todos os professores, é de muita casos sendo os pais analfabetos funcionais,
expectativa. Nele colocamos nosso satisfazendo-se com o fato de seus filhos
desejo de que os alunos adquiram um saberem ler e escrever), a expectativa de um
novo conhecimento, assimilando e futuro melhor baseado em seus estudos
acomodando as novas informações em e de seus filhos, é quase nenhuma. Com
busca de uma aprendizagem significativa. isso, muitos desses pais deixam de cobrar
de seus filhos a realização das tarefas de
Ao planejar, procuramos utilizar casa. Isso também foi apontado em uma
atividades e metodologias variadas, a pesquisa realizada por Knüppe (2006). As
fim de tornar nossas aulas atraentes e professoras entrevistadas apontaram que
motivadoras aos nossos alunos. Mas, não o incentivo da família é um dos fatores
é raro chegarmos à sala de aula e nos motivadores para os alunos.
depararmos com alunos que gostariam de
estar em qualquer lugar diferente da sala Podemos perceber isso em nossas
de aula. A desmotivação para o estudo é salas de aula, observando nossos alunos.
realidade na maioria de nossas escolas, Aqueles cujos pais acompanham sua vida
por isso, é de fundamental importância escolar normalmente mostram-se mais
que se reflita sobre o tema. Ela vem sendo motivados e interessados, o que facilita o
observada não só pelos professores. processo de aprendizagem.
Muitos pais já perceberam isso em seus
filhos, sendo essencialmente as atitudes Por outro lado, também
destes que revelam o problema. percebemos que muitas crianças preferem
brincar com jogos eletrônicos, por isso não
De acordo com Ruiz (2004.p.13): realizam as atividades escolares. Chegam
à escola preocupadas com a hora da saída
para poderem dar continuidade às suas
brincadeiras em casa, outros tantos, para
Exemplo disto são as queixas cada vez poder assistir televisão. Quanto a esses
mais frequentes dos pais a respeito do
baixo valor atribuído pelos seus filhos à atrativos, que são oferecidos pela mídia,
escola, e dos professores manifestando através dos vários meios de comunicação,
sua preocupação com a falta de a que as crianças têm acesso, Knüppe
interesse, com o baixo rendimento, com (2006, p. 278) afirma:
a pequena participação nas aulas e com
o pouco tempo dedicado pelos alunos
às atividades acadêmicas fora da classe,
sem falar nos comportamentos de
indisciplina em sala de aula e no fracasso
ou evasão, muitas vezes resultantes Os atrativos oferecidos pela mídia
deste quadro. despertam interesses que estão além
do simples fato de frequentarem
uma escola. No entanto, essas
muitas vezes, não oferecem os
O que impressiona é que essa mesmos atrativos, o que na maioria
realidade apresentada por Ruiz atinge dos casos gera certos desinteresses
alunos de todas as idades, séries, raças, e falta de motivação pelos estudos,
classes sociais. Inclusive as crianças que pois para uma criança, brincar é
estão em seus primeiros anos escolares muito mais interessante do que

92
estudar. Embora as pessoas saibam Em nossas escolas, a violência
da importância da educação para vem atingindo proporções assustadoras.
o desenvolvimento do ser humano, Muitos têm medo deste ou daquele
fazer com que os meninos e as
colega, ou ainda, há professores receosos
meninas compreendam isso é um
grande desafio.
de trabalhar nesta ou naquela turma em
virtude de algum(s) aluno(s), sendo que,
não é raro a necessidade de separar brigas
entre alunos dentro da escola.

Lahire (1997, p. 59) nos diz que “a


Partido da concepção de que escola é um simples lugar de aprendizado
“brincar é mais interessante do que de saberes, mas, ao mesmo tempo, um
estudar”, é que muitos professores lugar de aprendizagem de formas de
estão trabalhando mais com jogos exercício do poder e de relações com
pedagógicos, histórias dramatizadas, o poder”. Em turmas que há alunos
passeios e atividades mais atrativas para em defasagem idade/série (seja pela
os alunos e que – acima de tudo – partem repetência, pelo acesso tardio ou mesmo
da realidade deles gerando mais interesse pela evasão e consequente retorno, já que
e motivação pelos estudos. a legislação prevê que todas as pessoas até
os 18 anos precisam estar frequentando
Mas, esses “atrativos pedagógicos”
a escola) é bastante comum os maiores
não são garantia de que todos os
amedrontarem os menores, com ameaças
alunos estarão motivados, nem de
e agressões, conquistando, dessa forma,
que se extinguirão as dificuldades de
poder sobre esses.
aprendizagem. Aliás, essas também são
uma das causas da desmotivação para Nos alunos que são ameaçados
o estudo. Algumas das dificuldades e agredidos, é possível perceber uma
de aprendizagem mais comuns são a grande mudança em seu comportamento,
disgrafia, a discalculia e a dislexia. Muitas pois normalmente refletem seu medo
crianças que apresentam alguma dessas através da desmotivação. Precisamos
dificuldades acabam sendo vistas como observar atentamente as mudanças em
desinteressadas ou desmotivadas. relação às atitudes e comportamentos
de nossos alunos, que podem ser sinais
Sabemos que tais precisam de
de desmotivação, pois, com o passar
um acompanhamento mais atento e
do tempo, poderá tomar outro rumo: o
individualizado para poderem apresentar
fracasso escolar.
progresso de suas potencialidades. Porém,
em salas de aula com turmas numerosas Este insucesso pode se manifestar
de alunos, a realização de tal atendimento de diversas formas, entre elas, através da
fica comprometido. evasão escolar antes do fim do ensino
obrigatório e das reprovações sucessivas,
Diante disso, podem ocorrer
dando lugar a grandes diferenças entre
reações como apatia e revolta por parte
a idade cronológica do aluno e seu
desses alunos, que não conseguem
nível escolar. Esses alunos, geralmente,
acompanhar o restante da turma. Revolta
são rotulados, seja por seus pais,
essa que pode ser agravada de acordo
professores ou colegas. É aí que surge
com o contexto familiar em que essa
uma nova questão a ser discutida, a da
criança vive.
educação inclusiva, na qual o aluno que
Uma forma de os alunos apresentar qualquer tipo de problema,
mostrarem-na é através de agressões aos independente de qual seja, merece ser
colegas, que podem ser feitas através de acolhido pela escola, por seus colegas, por
gestos, palavras ou até mesmo violência seus professores. Esse discente rotulado
física. também precisa se sentir acolhido, e
cabe a nós, professores, dar um voto de
confiança a ele. Dessa forma, talvez não

93
consigamos resolver por completo o A pesquisa se restringiu às atividades
problema, mas, certamente, teremos feito desenvolvidas pelos alunos de primeira
a nossa parte e, principalmente, teremos série do ensino médio da Escola Estadual
feito a diferença para esse aluno. Padre João Van Den Dungen, que, durante
a jornada de observações, possibilitou
a notoriedade do frequente avanço na
falta de estímulo, o que interfere de
forma considerável no desenvolvimento
2. METODOLOGIA intelectual do indivíduo.

A presente investigação se deu


Os diversos fatores pela abordagem qualitativa e quantitativa
desestimuladores no processo educacional que visa a identificar os motivos que
a ser investigado nesta pesquisa ocasionam a falta de estímulo nos alunos
necessitam de amplos conhecimentos da escola acima citada, onde o índice maior
para a melhor compreensão de uma de educando são filhos de pais de baixa
realidade educativa. Desse modo, é renda com pouca formação e moradores
preciso que o questionamento sobre os de bairros periféricos da cidade.
conhecimentos seja ao mesmo tempo
alimentado e limitado por aquilo que se Diante da problemática foram
sabe sobre o sujeito, e ainda, é preciso elaborados instrumentos de pesquisa,
que nossa preocupação com o sujeito estes em forma de questionários mistos,
seja estimulada e informada por aquilo para os pais, professores e alunos, com
que sabemos sobre os conhecimentos o intuito de quantificar os resultados da
a fazê-lo adquirir (MEIRIEU, 1998. p.42). pesquisa, obedecendo a todos os passos
Selar a percepção de cada aluno sobre a de orientação para uma abordagem por
escola e suas conceituações a respeito do meio de questionário. Por isso, procurei
desestímulo escolar, certamente permitirá me embasar em grandes especialistas,
um olhar investigativo-dialético-histórico- como Meirieu (1998, p. 42), que define ser
crítico na perspectiva de encontrar
possíveis influências sobre os problemas
em questão.

Para tanto, é indispensável preciso que o questionário sobre


os conhecimentos seja ao mesmo
um estudo aprofundado, que aponte tempo alimentado e limitado por
as principais causas do desinteresse aquilo que se sabe sobre o sujeito,
pela educação, cujos dados sobre o seja estimulado e informado por
desestímulo foram coletados por meio de aquilo que sabemos sobre os
questionários e entrevistas não diretivas conhecimentos a fazê-lo adquirir.
com alunos de primeiras séries do ensino
médio, pais e professores, pretendendo,
assim, pesquisar e diagnosticar os
problemas e através deles buscar
alternativas viáveis para solucioná-los. Observou-se que os fatores
ocasionadores do desestímulo estão
relacionados com a carência da maioria
das famílias; fatores socioeconômicos,
3. MATERIAL E MÉTODO político e culturais interferem também
no processo ensino-aprendizagem. A
descoberta das razões do desestímulo foi
surpreendente, a solução para isso está
O presente relato procura mostrar
na motivação. Assim, constatamos que é
a importância de se refletir sobre a falta
preciso haver uma motivação, tanto para
de estímulo no processo de ensino e
alunos quanto para pais e professores,
aprendizagem, título deste trabalho.
Carvalho (2001), p. 104, define:

94
pais, professores e alunos das primeiras
séries do ensino médio da Escola Estadual
Padre João Van Den Dungen, num total
A motivação só é operante se
de cinquenta e dois entrevistados: onze
transformada em motivação. Isto é,
os estímulos externos (incentivos)
pais, onze professores e trinta alunos.
precisam sintonizar-se com motivos Dados estes sobre as possíveis causas
pré-existentes (estímulos externos) da temática em questão. O respectivo
para conseguir algum resultado. trabalho ocorreu entre os meses de março
Muitos incentivos chegam até nós a dezembro de 2012, quando na etapa
e nada conseguem, porque não do estágio profissional detectamos e
encontram ressonâncias em nosso registramos dados relevantes ao tema que
interior. contribuíram diretamente no andamento
de nosso trabalho de campo.
Esses fatores citados
anteriormente foram investigados no Entre agosto e setembro,
estágio supervisionado, nas turmas da pelo projeto de pesquisa, iniciamos a
instituição anteriormente mencionada, elaboração dos instrumentos desta em
e isso provocou mais curiosidade de forma de questionários mistos, contendo
entender melhor a educação, definindo para os pais um total de sete itens, para
assim, como instrumento de liberdade os professores nove itens e para os
e interação entre as classes sociais, alunos oito itens, além de questões do
mais uma política fundamental para o tipo sim/não, de livre e múltipla escolha.
desenvolvimento social e cultural de um Posteriormente, fizemos a distribuição dos
povo, de maneira que nem todos usufruem questionários aos envolvidos na pesquisa,
desses benefícios constitucionais. que tiveram um determinado tempo para
analisá-lo e respondê-lo. Após o prazo
É importante notarmos que o dado, fizemos coleta de dados para sua
objetivo da educação não é modelar o tabulação.
indivíduo e sim despertar a criatividade
do ser em descobrir que a educação é De acordo com os dados
um processo essencial para a integração tabulados, obedecendo a uma sequência,
do indivíduo com o meio em que está pais, professores e alunos, obteve-se
inserido. os seguintes resultados para cada item
proposto no questionário: 68,4% dos
Assim, faz-se necessário realizar alunos se encontram desestimulados
uma pesquisa científica que indique os para as questões escolares. Os demais
problemas que afetam e comprometem resultados se encontram integrados no
o crescimento socioeconômico, político corpo textual.
e educacional no município de Jutaí.
Precisamos respeitar a percepção de
cada aluno sobre a escola o que permitirá
um olhar investigativo dialético na 3.2 RESULTADOS OBTIDOS COM OS
perspectiva de encontrar no intimo PAIS
possíveis influências de problemas em
questão.

1- Quanto ao grau de instrução,


detectamos que 18,2% dos pais possuem
o 2º grau completo; com curso superior,
3.1 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO 10,6%; 71,2% não tem o primeiro grau
DOS RESULTADOS completo.

Este projeto de pesquisa 2- Em relação à renda mensal, 27,3%


apresenta dados coletados junto aos

95
recebe um salário mínimo; dois a três dos entrevistados possuem o Proformar;
salários, 9%; quatro salários, 18,2%; mais 5% possui o curso específico; 90% está
de quatro salários mínimos, 6%; e 39,5% cursando o PARFOR e 5% não participa de
não possui renda fixa. nenhum curso.

3- Quanto ao horário de trabalho, 54,7% 3-Quanto à inserção de gestor na escola,


trabalha no turno da manhã; à tarde, 81,2% acredita que deveria ser por eleição
27,3%; sem horário determinado, 18%. e 18,8% pensa que seria melhor através de
concurso;

4- A respeito da tomada efetiva das


4- Em relação aos meios de comunicação, decisões da escola, 9% participa
50% possui telefone; 85,3% possui efetivamente e 91% participa em parte;
televisores; os que possuem computadores
são expressos em 20,5%. 5- Quanto às mudanças ocorridas na
administração escolar, entre os conceitos
em questão, 60,5% as considera boas;
33,5% as considera regulares e 6%, ruim;
5- A respeito do que os levou a estudarem
na referida escola, 27,3% falou que é por 6- Quanto a grupos colegiados, 36,5%
conta da proximidade de sua residência; participa da Associação de Pais e Mestres
18,2% por indicação de alguém da família; e Comunitários; 9% participa do Conselho
45,5% por considerar uma boa escola. Escolar e 54,5% não participa de nenhum
grupo;

7- Quanto ao que consideram mais


6- Quanto ao acompanhamento dos importante na escola, 65,5% indica os
estudos dos filhos, 20,2% dos pais disseram alunos, e 34,5% considera a comunidade
que acompanham integralmente; 79,8% escolar;
direta ou indiretamente.
8- Quanto à avaliação de aprendizado
dos alunos a cada ano, entre os conceitos
propostos, 81,8% disse ser boa; 18,2%
7- Em relação aos eventos promovidos considera o aprendizado regular;
pelo estabelecimento, 70% dos pais
disseram que participam e 30% não 9- Quanto à relação professor x aluno na
participa constantemente. escola, 72,6% acredita ser satisfatória; e
27,4% disse que é insatisfatória.

3.3 DADOS OBTIDOS COM OS


PROFESSORES 3.4 DADOS OBTIDOS COM OS ALUNOS

1- Quanto à disciplina que mais gostam,


1-Quanto ao tempo de serviço no 25% afirmou gostar de língua portuguesa;
magistério, 18,2% já trabalha há oito anos; 33,3% gosta de matemática; de história;
de 9 a 11 anos de serviço 45,5%; de 12 a 33,3%, e 8,4% disse que gosta mais de
15 anos, 9%; e os que exercem a função há ciências biológicas;
mais de vinte anos, 27,3%.

2- Em relação ao que mais gostam na


2- Com relação ao grau de instrução, 100% escola, 50% optou pelo estudo; 40% gosta

96
dos professores; e 20% falou que gosta da atividades escolares e uma observação
merenda escolar; maior sobre as metodologias aplicadas
na transmissão dos conteúdos básicos de
1ª série do ensino médio. Nosso objetivo
é verificar o desenvolvimento da práxis
3- Em relação à escolha dessa escola, 41,6% pedagógica dos discentes, com o intuito
justificou pela proximidade; 50% por de analisar a forma teórica aplicada no dia
considerá-la boa e 8,4% por determinação a dia escolar.
dos pais;
Um dos momentos mais
intrigantes para a teoria e a prática
constitui-se no processo do estudo.
4- A respeito do gosto pela leitura; 100% Durante a sua realização, percebemos
dos alunos afirma que gosta de ler; que os conteúdos são ensinados sem
sequer observar as diferenças existentes
entre os alunos e, além disso, não são
estimulados a construírem seu próprio
5- Quanto a algo novo aprendido na
conhecimento. É como se todas as crianças
escola, 100% disse ter aprendido muito e
fossem recipientes vazios esperando ser
que fizeram descobertas maravilhosas;
preenchidos.

O que se constata é que a educação,


6- 100% dos alunos afirmam que os olhando dessa forma, está simplesmente
conteúdos ensinados na sala de aula tem preocupada em fornecer informações,
relação com aquilo que desejam aprender; deixando de considerar a criança como
ser dotado de conhecimentos, detentor
de uma história. Não respeitando essa
história já vivenciada por ela, nossas
7- Quanto à renda mensal da família, escolas acabam reprimindo a criatividade
58,3% ganha um salário mínimo; 33,3% dos alunos, o que dificulta também na
ganha cerca de dois salários mínimos, e aquisição de novas informações recebidas.
8,4% não possuem renda fixa;
Isso acontece porque muitas
escolas não estão preocupadas em
construir um ensino qualitativo, mas
8- A respeito do que lhe leva a estudar, sim em fazer estatísticas. Esse é um dos
33,3% disseram para conseguir um bom grandes problemas enfrentados pela
emprego, 58,3% para adquirir novos população.
conhecimentos e para fazer a vontade de
seus pais 8,4%. Diante da má preparação do
Sistema Educacional para a formação
adequada dos alunos, acreditamos
que é preciso estar sempre em busca
CONSIDERAÇÕES FINAIS de aperfeiçoamento para atender aos
objetivos propostos no início do estágio.

É de fundamental importância
O estágio supervisionado para a Escola Estadual Padre João Van
realizado na Escola Estadual Padre Den Dungen, na qual realizamos nossas
João Van Den Dungem, no município pesquisas, que os responsáveis olhem com
de Jutaí, Amazonas, localizada na Rua carinho para o profissional da educação,
Sebastião Campos, compreendeu promovendo orientações em prol de uma
o desenvolvimento de ações como preparação de qualidade, com cursos
observação direta e sistemática das de formação em metodologia e prática
práticas pedagógicas, participação nas do ensino para turmas iniciantes. Ainda,

97
implantar políticas educativas, no sentido professor que desestimulam. Educar para
de mobilizar a comunidade a participar da crescer. Texto, 29/07/2008.
educação junto à escola.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A
Diante dos problemas detectados educação como cultura. São Paulo,
no cotidiano escolar, faz-se necessária uma Brasiliense, 1985.
mudança em nosso processo de ensino-
aprendizagem. Cabe, então, intermediar ________________ O que é educação.
propostas de mudanças qualitativas, 33. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.
verdadeiramente comprometidas com a
democratização da prática pedagógica BUFFA. Ester (org.). Educação e
exercida em sala de aula. O professor Cidadania. São Paulo, Cortez, 1987
deverá ser criativo e polivalente, ou (Polemicas do nosso tempo, 23).
seja, precisa desenvolver atividades que
possibilitem à criança ser estimulada CAMBI, F. História da Pedagogia. São
globalmente, além de permitir que sejam Paulo: UNESP, 1999.
considerados os interesses infantis gerais e
específicos. Por esse mesmo motivo, digo CARVALHO, José Murilo. Cidadania do
que planejar suas aulas é a melhor forma Brasil: O longo caminho. Rio de Janeiro:
de educar. Mas esse planejar pressupõe civilização Brasileira, 2001.
flexibilidade para atender aos interesses
CASASSUS, Juan. Escola e a
dos alunos.
desigualdade. Brasília: Editora plano,
2002.

CASTANHO, Maria Eugênia L. e M.


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99
O USO DO LABORATÓRIO
DE CIÊNCIAS COMO
INSTRUMENTO DIDÁTICO
PEDAGÓGICO
O USO DO LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS COMO INSTRUMENTO
DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

LIMA, Raimundo Araújo de20

Genovese-Marcomini, Poliana Roversi 21

RESUMO
O conhecimento parte de um conjunto de ações ao qual o sujeito é desafiado. Assim, a importância
da prática no ensino de Biologia torna-se indispensável, levando a proporcionar um aprendizado
concreto. O presente trabalho teve o intuito de utilizar o laboratório de ciências como instrumento
didático-pedagógico, promovendo o seu funcionamento e acesso aos alunos do 2º ano “A” do
ensino médio da Escola Estadual Maria Emilia Martins Mestrinho de Medeiros Raposo (Autazes),
além de conhecer os benefícios do seu uso para o ensino da Biologia. Para realização deste trabalho
foi utilizado o laboratório de ciências da escola, foram feitas entrevistas com os alunos, avaliação
através de relatório e aula expositiva sobre o conteúdo trabalhado durante as aulas práticas,
visando aprimorar o aprendizado em sala de aula. Observou-se que a aula prática permitiu explorar
conteúdos que complementam as aulas expositivas, proporcionando ao educando um aprendizado
impossível de ser transmitido apenas com aulas expositivas e mostrando que a prática é indissociável
da teoria. Ficou notório que as aulas de biologia sem prática tornam-se incompletas, não permitindo
um aprendizado adequado e satisfatório, além de ocasionar uma deficiência a mais no processo de
aprendizagem.

Palavras-chave: aprendizado; aula prática; ensino de Biologia; ensino de Ciências

20
Graduado do Curso de Segunda Licenciatura em Ciências Biológicas – PARFOR – IFAM
21
Professoras do IFAM

101
O USO DO LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS COMO INSTRUMENTO
DIDÁTICO PEDAGÓGICO

LIMA, Raimundo Araújo de

Genovese-Marcomini, Poliana Roversi

ABSTRACT

The knowledge part of a set of actions to which the subject is challenged, so the importance of
practice in the teaching of biology becomes indispensable, leading to provide a concrete learning.
This study aimed to use the laboratory sciences as an educational tool teaching promoting their
operation and access to the students of 2nd year “A” school of public school Maria Emilia Martins
Mestrinho de Medeiros Raposo (Autazes), besides knowing the benefits of its use for the Teaching
of Biology. For this study we used the laboratory sciences school, interviews with students, using
assessment report, lecture content worked on during class practices to improve learning in the
classroom. It was observed that the practical allowed to explore content that complement the lectures
by providing the student an apprenticeship impossible to be transmitted with lectures, showing that
the practice is inseparable from theory. It became apparent that biology classes without practices
become incomplete not allowing an adequate and satisfactory learning becoming more a deficiency
in the learning process.

Keywords: learning, classroom practice, teaching Biology, Science education.

102
Introdução A busca por respostas que
atendessem aos questionamentos,
obrigou o uso de experimentos. Com
isso, o uso de laboratório de ciências, vem
Não basta ensinar a fazer, é preciso contribuindo com o aprendizado ao longo
aprender fazendo (práxis). As aulas práticas da história, desde o início do século XIX,
permitem o questionamento de um quando as disciplinas da área das ciências
aprendizado concreto, não submetendo começaram a fazer parte dos currículos de
os educandos à memorização, mas sim muitos países (DOURADO, 2001).
os estimulando a novas descobertas.
Desse modo, a educação passa a exercer O contexto histórico da educação
seu verdadeiro papel, tornando o sujeito nos remete a observar os diversos
protagonista do próprio aprendizado, estágios aos quais se submeteu para
preparando o aluno para o exercício da atender as exigências da época.
cidadania e para vida, conforme prevê Atualmente, sua clientela faz parte de um
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação mundo globalizado, bombardeado pela
Nacional, Art.2º. tecnologia. As escolas não conseguem
acompanhar esse processo evolutivo
A contribuição didático- por não usarem recursos tecnológicos
pedagógica que o laboratório de ciências para promover o ensino e aprendizado,
proporciona aos educandos está além de embora os parâmetros curriculares para
observações e experimentos, contribui o ensino de ciências nos remetam à
para o verdadeiro exercício de cidadania, obrigatoriedade de explorar recursos
propondo mudanças de comportamento que permitam produzir conhecimento.
e atitudes diante da realidade que o cerca Segundo os PCNs:
(PCNEM, Brasil, 2009, p.34). À vista desses
propósitos, torna-se uma obrigatoriedade
a implantação de laboratório de ciências O objetivo fundamental do ensino
de ciências é dar condições ao aluno
nas escolas, como consta no item 3.3.,
de vivenciar o que se denominava
nº 06, letras f e g do Plano Nacional de Método Científico, ou seja, a partir
Educação, aprovado pela Lei nº 10.172, de observações, levantar hipóteses,
de 09 de janeiro de 2001, sendo previsto testá-las, refutá-las e abandoná-las
como “Objetivos e Metas para o Ensino quando fosse o caso, trabalhando de
Médio: instalação para laboratórios de forma a redescobrir o conhecimento.
ciências”. Diante do exposto, é necessária a (BRASIL 1997, p.19 e 20).
elaboração de uma proposta pedagógica
que se comprometa a utilizá-lo como um A aula prática no laboratório
espaço didático-pedagógico na melhoria de ciências permite ao educando um
da qualidade do ensino e aprendizado de aprendizado diferente do obtido em aulas
biologia. expositivas, sem a exigência do esforço
de memorizar nomes e abreviaturas que
O conceito de unir estudantes em não se fixam como aprendizado devido
um local separado para a aprendizagem a se tornarem abstratos. A realização
existe desde a Antiguidade Clássica. O de experimentos e atividades práticas
ensino fundamental existe provavelmente é um fator determinante, pois ajuda a
desde a Grécia, Roma, Índia e China tornar a aprendizagem mais eficiente na
antigas. medida em que torna o aprendizado mais
significativo (KARAT, 2009).
Conhecimentos estratégicos
utilizados pelos exércitos baseavam-se A falta de um laboratório de
em caráter observatório, no qual se fazia ciências ou mesmo de um ambiente
o levantamento do território inimigo educacional melhor equipado faz com
levando em consideração a geografia, que a escola, em particular as de Nível
ponto relevante para descrever com Médio, em geral, apresente deficiências
precisão as estratégias a se adotar. no ensino de ciências, uma vez que

103
fica este ensino restrito a informações no ambiente escolar proporciona
teóricas pouco atrativas e pouco contribui oportunidades que certamente vão
para a formação cidadã do aluno (Karat, muito além de uma aula expositiva,
2009). A ausência de recursos que por melhor que seja. Escolas sem aulas
possibilite a realização de aulas práticas experimentais, alunos que não elaboram e
não aliena os educandos de atividades testam hipóteses são indicadores de uma
extraescolares ou na própria sala. educação incompleta, que não garante o
Como afirma Moreira (1985), acesso aos bens culturais da humanidade
os estudos de ciências não podem ser (KARAT, 2009).
vinculados ao princípio de memorização,
e sim de ampliação, que permita o sujeito A escola como produtora de
a fazer uso dos conceitos que adquiriu conhecimentos remete a um pensamento
como aprendizado para contestar sua de que esta deva disponibilizar à sua
própria realidade. Nesse sentido, os clientela um aprendizado de biologia
Parâmetros Curriculares Nacionais, ligado ao domínio do experimento
e observação como mecanismo de
produção de conhecimento, propondo
realizar atividades práticas, visando
conduzir o educando a desenvolver noção
acerca do ensino de Ciências, de percepção, a coletar dados, interpretar
propõem “[...] não se pode pensar fenômenos através de metodologia
no ensino de Ciências como um científica, além de proporcionar
ensino propedêutico, voltado para convivência em equipe, aprimorando o
uma aprendizagem efetiva em raciocínio lógico, levando ao pensamento
momento futuro [...]. Neste sentido,
crítico e reflexivo (KRASILCHIK, 1986).
a criança é vista não como cidadã
do futuro, mas sim de hoje, que
precisa conhecer a ciência visando
O estudo de biologia como parte
ampliar a sua possibilidade presente integrante das ciências precisa de postura
de participação social, viabilizando, que permita a continuação de descobertas
assim, sua “capacidade plena de propondo novos aprendizados. O uso
participação social no futuro” de ferramentas para tal exige recursos
(BRASIL, 1997, p.23). que vão além da sala de aula. Segundo
Lenke (1992), aprender ciências significa
se apropriar do discurso científico, isto é,
aprender como determinados termos se
relacionam entre eles e com o contexto
O aprendizado de Biologia em que são utilizados para produzir
necessita da junção de técnicas e métodos significados específicos. Não basta
que se complementam com objetivos submeter os alunos a textos científicos,
definidos, por apresentarem características nomes e conceitos sem levá-los a
específicas da área de conhecimento. A questionarem-se como chegaram a tal
prática no laboratório passa a ser aliada conclusão, por isso, as aulas experimentais
à teoria transmitida nas aulas expositivas ganham projeção. Como afirma Dourado
em sala de aula, sendo que estas não (2001), as atividades experimentais são
são capazes de permitir um aprendizado essenciais para o processo de ensino-
completo, o contato com novos objetos aprendizagem e devem estar adequadas
de estudos, no qual o sujeito passa ser às capacidades e atitudes que se pretende
o protagonista de seu aprendizado, desenvolver nos alunos.
realizando novas descobertas através de
experimentos, tendo como componente As práticas pedagógicas devem
a atitude, ligada à postura do estudante e se voltar para o processo investigativo,
sua predisposição para colocar suas ideias estimulando o educando a observar.
à prova (BIZZO 2008). Como afirma Piaget (1970), “a escola
deveria começar ensinando a criança

Um laboratório didático a observar. A verdadeira causa dos

104
fracassos da educação formal decorre cinco (5) dessas com turmas diversas, para
essencialmente do fato de se principiar testar as amostras e os equipamentos, e
pela linguagem ao invés do fazer pela dez (10) com a turma do segundo ano “A”
ação real e material”. vespertino, sendo esta alvo da presente
pesquisa, constituída de 32 alunos.
De acordo com os Parâmetros
Curriculares do Ensino Médio, as aulas Adotou-se uma abordagem
práticas devem promover experimentos qualitativa e quantitativa permitindo
capazes de levar o educando a observar atitudes, comportamentos e
contextualizar, buscando transformar sua dimensionando o universo trabalhado,
própria realidade. com entrevistas não diretivas, avaliações
e relatos sobre as aulas práticas e os
possíveis aprendizados adquiridos
pelos alunos. Foram definidos como
estratégia de organização alguns critérios
[…] a experimentação faz parte necessários para impossibilitar possíveis
da vida, na escola ou no cotidiano erros ou informações distorcidas capazes
de todos nós. Assim, a ideia de de camuflar a realidade durante o
experimentação como atividade desenvolvimento da pesquisa. Usaram
exclusiva das aulas de laboratório, como registro fotos das amostras,
onde os alunos recebem uma
receita a ser seguida nos mínimos
anotações das estruturas, seus formatos,
detalhes e cujos resultados já são cores e semelhanças, que foram discutidas
previamente conhecidos, não condiz e organizadas.
com o ensino atual. As atividades
experimentais devem partir de um Foi elaborado, primeiramente, um
problema, de uma questão a ser projeto de aprendizagem voltado para
respondida (BRASIL, 2002, p. 55). o uso do laboratório como instrumento
didático-pedagógico, definindo-se quais
os conteúdos, tipos de práticas, materiais
utilizados, cuidados, prevenções, riscos
e o conteúdo a ser desenvolvido. O
A escola como produtora de cronograma foi elaborado junto à
conhecimento sistematizado deve professora de biologia e relacionado ao
direcionar seus interesses a promoverem conteúdo trabalhado com o intuito de
recursos viáveis para que este ocorra assegurar a eficiência na realização.
de forma satisfatória. As aulas práticas
no laboratório para o aprendizado de Realizou-se o levantamento dos
biologia tornam-se indispensáveis, não materiais disponíveis no laboratório de
permitindo mascarar a realidade dos fatos. ciências para definir as possíveis práticas,
Portanto, esse projeto buscou utilizar o além da verificação do comportamento
laboratório de ciências como instrumento dos alunos em sala de aula durante as aulas
didático-pedagógico, promovendo o seu de biologia. Também foi feita a observação
funcionamento e acesso aos alunos, além do comportamento dos alunos durante as
de conhecer os benefícios do seu uso para aulas com recursos audiovisuais (slides e
o ensino de biologia. vídeos).

Para a realização das aulas no


laboratório foram utilizados os seguintes
recursos: microscópio óptico, lupa, água,
1. MATERIAL E MÉTODOS navalha, lâmina e lamínula.

As aulas foram definidas em


O presente trabalho foi realizado etapas seguindo as descrições do projeto
no ano de 2012, por meio de quinze (15) e a disponibilidade da turma alvo da
aulas no laboratório de Ciências, sendo presente pesquisa. Como instrumento de

105
coleta de dados, foram elaboradas oito 3ª Etapa: apresentação do
(8) questões as quais foram aplicadas aos laboratório aos alunos e orientação sobre
alunos em forma de entrevista. As demais o material a ser utilizado e coletado
informações foram coletadas através de (caule, folha, flor, fruto de angiospermas
observações e avaliação. diferentes) e os devidos cuidados.

4ª Etapa: Realização da aula


prática sobre a estrutura do caule (prática
realizada com diferentes cortes em caule
de angiospermas diferentes e observados
em microscópio e lupa).

5ª Etapa: observação das estruturas


da folha, tipos de folha e nervuras
(aula prática com cortes anatômicos
observando as diversas camadas das
folhas e sua importância para a planta).

6ª Etapa: visualização das estruturas


das flores, coloração e sua relação com o
Imagem 28: Preparação de laminas sobre mecanismo de polinização e reprodução
estrutura floral. (aula prática com microscópio e lupa,
visualização dos órgãos reprodutores
Fonte: Raybson de Soza Lima, maio de 2012.
masculinos e femininos e suas
constituições e importância no processo
de reprodução das plantas).
Durante a realização das aulas em
7ª Etapa: estruturação da semente
laboratório, foi aplicado um questionário
e o processo germinativo (aula prática
semiestruturado para avaliação: (Q1) -
com vários grãos de feijão e milho
Como você vê o laboratório de ciências?
para germinar, estudados de acordo
(Q2) - Você já teve contato com o
com os estágios de desenvolvimento -
laboratório de ciências? (Q3) - Você
embebição, raiz, hipocótilo e epicótilo
conhece algum dos equipamentos
–, os quais o aluno observa com lupa
expostos no laboratório de ciências?
e descreve cada parte da estrutura de
(Q4) - Qual a diferencia da aula prática
acordo com o estágio, definindo como
no laboratório de ciências das aulas
mono e eudicotiledôneas). As etapas das
expositivas em sala de aula? (Q5) - Como
atividades foram registradas em forma
você descreve essas diferenças? (Q6) -
de relatório com o acompanhamento
Quanto ao aprendizado nas aulas práticas
da professora de biologia e de língua
no laboratório de ciências, como você
portuguesa, assim como a produção de
descreve? (Q7) - Resuma com palavras as
cartazes e painéis com o acompanhamento
aulas no laboratório. (Q8) - Como você vê
do professor de artes.
o laboratório depois de ter vivenciado as
aulas práticas? 8ª Etapa: apresentação dos
trabalhos pelos alunos e avaliação final.
Descrições das etapas do projeto
de aprendizagem. Foi realizado o acompanhamento
das ações descritas, avaliadas e registradas
1ª Etapa: organização dos grupos e
através de anotações e fotos que serviram
definição das tarefas de cada um.
de base para a avaliação e organização
2ª Etapa: apresentação dos dos resultados obtidos.
conteúdos trabalhados durante as aulas
práticas.

106
Antes de entrarem no laboratório,
cada aluno respondia à primeira questão
da entrevista (como você vê o laboratório
de Ciências?).

Vinte e seis alunos responderam


(81,25 %): como um depósito. Apenas seis
alunos (18,75%) responderam: como um
local de estudo. A ideia que a maioria dos
alunos tem a respeito do laboratório é que
o mesmo sempre esteve fechado, sendo
utilizado para guardar material didático,
de expediente e produtos de limpeza,
mas nunca usado para o que se destinou,
demonstrando o quanto se desperdiça
recursos favoráveis à produção do
Imagem 29 - Aluna observando lâmina de tecido
conhecimento.
vascular de planta.
Fonte: Raybson de Soza Lima, maio de 2012
Quando apresentados ao
2. RESULTADOS laboratório de ciências, foi feita a segunda
pergunta a cada um dos alunos (você
A turma, composta por 32 alunos já teve contato com o laboratório de
do segundo ano do ensino médio, turma Ciências?).
A, participou de dez (10) aulas práticas
no laboratório de ciências, com cinco (5) As respostas foram unânimes: 32
grupos de cinco (5) alunos e um (1) grupo alunos (100 %) responderam que nunca
de sete (7), sendo que houve rodízio tinham tido contato, mesmo estando no
entre eles, comparecendo quatro, seis 2º ano do Ensino Médio, e o laboratório já
e sete alunos por aula, onde as mesmas se encontrava há vários anos pronto para
foram repetidas tantas vezes para que uso. Eram impostas inúmeras justificativas
todos participassem. Isso ocorreu devido que não convencem do porquê de não se
à impossibilidade de alguns alunos usar o laboratório.
participarem no horário estipulado para o
grupo. A necessidade de dividir em grupos Diante da terceira questão da
se deu pela falta de espaço no laboratório entrevista (você conhece algum dos
repleto de caixas de material didático, de equipamentos expostos no laboratório
expediente, de limpeza, e pela falta de de Ciências?), foram taxativos em suas
climatização da sala, que comprometia a respostas, 32 responderam (100%):
qualidade das amostras observadas. “conhecemos poucos só de nome,
encontrados nos livros, e outros não”.

Mediante o acontecimento das


aulas, explorando os instrumentos
necessários ao desenvolvimento da
prática, com auxílio do uso de slide
referente ao conteúdo trabalhado, foi
feito o próximo questionamento.

Qual a diferença da aula prática


no laboratório de ciências para as aulas
Imagem 30 - Participação dos alunos na aula expositivas em sala de aula? Nas aulas
prática no laboratório de Ciências. expositivas em sala de aula, trabalha-
Fonte: Raybson de Soza Lima, maio de 2012. se leitura de livros didáticos com
pouca explicação. Nas aulas práticas

107
no laboratório de ciências, trabalha-se
com observações, explicações e poucas
anotações. Mesmo havendo aulas com
grupos de alunos diferentes e em horários
distintos o resultado foi o mesmo.
Responderam 32 alunos (100%). É notável
que existam diferenças entre os ambientes
e suas respectivas finalidades, entretanto,
ambos oportunizam a produção do
conhecimento.

Quanto à quinta questão (como


você descreve essas diferenças?), 24 Imagem 31 - Material didático e expediente
alunos (75%) responderam que as aulas armazenados no laboratório de Ciências.
práticas no laboratório de ciências são
mais interessantes, se aprende mais em Fonte: Raybson de Soza Lima, maio de 2012.
pouco tempo os tirando da sala de aula.
Enquanto oito alunos (25%), responderam
que as aulas práticas são complementos
das aulas teóricas. Quando se oportuniza 2.1 Discussão
aos educandos métodos inovadores do
ensino-aprendizagem, tornam os alunos
mais independentes com opção de
escolher o que atenda seus anseios. As informações coletadas através
de entrevistas, observações e da avaliação
No que se refere ao aprendizado permitiram concluir que as aulas práticas
nas aulas práticas, no laboratório de realizadas no laboratório de ciências foram
ciências, 21 alunos (65,6%) responderam capazes de mudar a rotina dos educandos,
que vendo é mais fácil de aprender e proporcionando um aprendizado
quando restam dúvidas com a explicação satisfatório. Corroborando com Krasilchik
o recurso slide pode ser uma das soluções. (1987), promoveu motivação, discussão,
Nas aulas práticas se aprende mais rápido questionamento e interesse, tornando o
do que lendo, responderam onze alunos, educando sujeito ativo e participativo na
(34,4 %). produção do ensino-aprendizagem.

Diante do trabalho realizado no


decorrer das aulas no laboratório, foi
solicitado que cada aluno resumisse
com palavras as aulas práticas. Esses
as descreveram como legais e mais
proveitosas.

Quanto à última questão (como


você vê o laboratório depois de vivenciado
às aulas práticas?), a reposta foi única: 32
alunos (100%), responderam “um lugar
que se aprende mais que na sala de aula e
em pouco tempo”. Imagem 32 - Grupo de alunos no laboratório de
Ciências. Fonte: Raybson de Soza Lima, maio de 2012.

108
Há inúmeros aspectos positivos quanto precisa, sendo que este preza sempre
às aulas práticas de laboratório, mas não pela quantidade e não pela qualidade.
devemos descartar outros instrumentos Os recursos didáticos existentes são
e métodos pedagógicos. Como afirma disponíveis em algumas escolas, como
Latour e Woolgar (1997, p. 278), “o o laboratório de ciências da escola alvo,
laboratório é o local de trabalho e o faltando apenas iniciativa e compromisso
conjunto de forças produtivas que tornam com a qualidade do ensino. Não há mais
esta construção possível”. espaço para métodos ultrapassados
num mundo dominado pela tecnologia,
Sendo necessário promover onde a geração é constituída de clientes
alternativas que complementem as exigentes, com domínio de ferramentas
práticas de laboratório, as aulas teóricas capazes de produzirem novas descobertas,
tornam-se a garantia de estudos já impossíveis de se aprender em sala de
realizados, permitindo ao educando aula (SILVA 2000).
possibilidades de caminhar em busca de
novas descobertas, despertando novos A burocracia imposta por alguns
olhares que lhe permitam direcionar outros gestores que não permitem o uso do
caminhos. O fazer pedagógico no contexto laboratório por razões de cuidados
das ciências torna-se mais complexo, não excessivos não com o objeto em si, mas
podendo limitar-se em práticas isoladas, com o material armazenado no mesmo.
sem contextualização com as ocorrências
dos fatos ou fenômenos. Diante desta É possível que fatores
necessidade, o educando é submetido a extraescolares ou camuflados dentro da
inúmeros questionamentos que fazem escola possam interferir, impossibilitando
parte do processo ensino-aprendizagem, a realização de aulas práticas no
assim, as aulas práticas no laboratório de laboratório de ciências, sendo injustificável
ciências possibilitam uma nova visão no a alienação dos mecanismos produtores
aprendizado de biologia (BIZZO 2002). do conhecimento.

De acordo com as observações no Portanto, torna-se necessário


decorrer das aulas práticas no laboratório promover o acesso a bens de uso
de ciências, os alunos apresentavam exclusivo dos educandos, garantindo a
mais motivação, sendo estes atraídos estes um aprendizado de produção ativa
pela curiosidade das amostras. Segundo e participativa. O laboratório de ciências
Krasilchik (2000), as atividades de torna-se um mecanismo de grande
laboratório motivam a aprendizagem, relevância, comprovando sua importância
levam ao desenvolvimento de habilidades como instrumento didático-pedagógico
técnicas e auxiliam na fixação e no no aprendizado de biologia no presente
conhecimento sobre os fenômenos e trabalho. “uma vez que este tipo de
fatos. estratégia didática não somente auxilia
na fixação do assunto abordado como em
Era notório que o uso de slide na sua efetiva elucidação” (BRASIL, 1998).
aula atraia também a atenção dos alunos.
A prática tradicionalista submete os Fica evidente que o aprendizado
educandos a metodologias ultrapassadas não se limita à sala de aula, o uso do
que já não condizem com sua realidade. laboratório é mais um aliado na produção
O uso do laboratório de Ciências do conhecimento, criando um elo com as
promoveu um aprendizado consistente, aulas expositivas, na qual se materializa,
além de instigar os alunos a buscarem tornando o aprendizado mais eficiente.
conhecimentos futuros, levando a Como afirma Moraes (2000):
questionamentos típicos das ciências.
As atividades práticas desenvolvidas
O compromisso com a educação como investigação podem
por parte do sistema está muito aquém aproximar o ensino de biologia
do modelo de educação que a sociedade do trabalho científico, integrando,

109
além da parte experimental, outros BRASIL. Parâmetros Curriculares
aspectos próprios das ciências, em Nacionais. Brasília: MEC, 1999.
que teoria e prática constituem algo
que se complementa. CAPELETTO, A. Biologia e Educação
ambiental: Roteiro de trabalhos. Editora
Ática, 1992.

DOURADO, L. Trabalho Prático(TP),


É necessário lembrarmos que Trabalho Laboratorial(TL), Trabalho de
mesmo na ausência de um laboratório Campo(TC) e Trabalho Experimental(TE)
ou no uso restrito quanto a seus no Ensino das Ciências– contributo para
equipamentos e à infraestrutura não uma clarificação de termos. In: VERÍSSIMO,
adequada, as aulas práticas podem ser A.; PEDROSA, M. A.; RIBEIRO, R. (Coord.).
adaptadas, com algumas restrições, à sala Ensino experimental das ciências. (Re)
de aula ou a outra dependência disponível pensar o ensino das ciências, 2001. 1. ed.
na instituição. 3. v. Disponível em: <ciencias-expno-sec.
org/documentos>. Acessado em dez
Os questionamentos acerca 2012.
da eficiência na promoção de um
aprendizado satisfatório vêm sendo FRANCALANZA, H.O Ensino de Ciências
estudados por especialistas da área de no Primeiro Grau. São Paulo: Atual, 1986.
educação. Inúmeros desses estudos
visam melhorias, o que não basta, sendo INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO
necessário reformular o sistema e definir CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DO AMAZONAS;
metas. Quanto ao tema em questão, Manual de Didática Geral – PARFOR,
precisa-se de estudos mais aprofundados 2012. Manaus, 2012. 33 p.
para consolidar informações que
permitam novos olhares ao modelo de KARAT, M. LabBio Escola. Disponível em:
educação implantado. <WWW.biomania.com.br/bio/conteudo.
asp?cod=1247>. Acesso em 16 de mar
2012.

KRASILCHIK, M. O professor e o currículo


REFERÊNCIAS
das Ciências . São Paulo: Universidade de
São Paulo, 1987.

BEREZUK, P. A. Avaliação dos laboratórios KRASILCHIK, M. Prática de ensino de


de ciências e biologia das escolas biologia . 4.ªEd. São Paulo, EDUSP, 2004.
públicas e particulares de Maringá,
Estado do Paraná. Maringá, 2010. KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de
Biologia. 3. ed. São Paulo: Harbra.1996.
BIZZO N. Ciências, fácil ou difícil? São
Paulo: Editora Ática, 2007. LATOUR, B; WOOLGAR, S. A vida de
laboratório: a produção dos fatos
BRASIL. Lei nº 10.172/2001. Plano científicos (tradução Angela Ramalho
Nacional de Educação. MEC. 2001. Vianna) - Rio de Janeiro: Relume Dumara,
1997, p. 278.
BRASIL. Ministério da Educação.
Parâmetros Curriculares Nacionais: MARCONI, M. A., LAKATOS, Eva Maria.
Ciências Naturais. Secretaria de Educação Metodologia do trabalho cientifico. 6.
Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria MORAES, R. Construtivismo e Ensino


Nacional de Educação Básica. Parâmetros de Ciências: reflexões epistemológicas e
Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Metodológicas. Porto Alegre: EDIPUCRS,
Brasília: Ministério da Educação, 2002. 2000.

110
PIAGET, J. A construção do real na
criança. Trad. Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Zahar, 1970. 360p.

SANTANA, S. L. C. Utilização e gestão de


laboratórios escolares. Santa Maria, 27
de maio de 2011.

SILVA M, A. Educador. brasilescola.com ›


Estratégias de Ensino › Física. Disponível
em: <http://educador.brasilescola.
com/estrategias-ensino/a-utilizacao-
ex p e r imento s- co mo -meto dologia-
ensino.htm> . Acesso em 17 de jan 2013.

111
DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM NO
ENSINO DE CIÊNCIAS
NATURAIS NO SEGUNDO
SEGMENTO DA
MODALIDADE EJA DO
ENSINO FUNDAMENTAL
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DE CIÊNCIAS
NATURAIS NO SEGUNDO SEGMENTO DA MODALIDADE EJA DO
ENSINO FUNDAMENTAL

RAMIRES, Pedro Temóteo Arévalo22

Mello, Maria Stela Vasconcelos Nunes de23

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar os principais fatores que dificultam a aprendizagem da
Educação dos Jovens e Adultos (EJA), na disciplina de ciências naturais, do ensino fundamental
da Escola Municipal Caio de Araújo Lasmar, no Município de Jutaí (AM). A pesquisa realizada foi
descritiva de caráter quali-quantitativo e se enquadra no método de abordagem indutivo. O referido
estudo utilizou-se do enfoque fenomenológico-hermenêutico. O instrumento de coleta de dados
utilizado foi o questionário, e a técnica foi a observação não-participante em sala de aula com o
professor e alunos. Os resultados dos questionários aplicados com os discentes revelaram que a
maioria deles tem dificuldade em ler, elaborar, interpretar e resumir os textos estudados nas aulas
de ciências naturais. O questionário aplicado com o docente revelou que as maiores dificuldades
encontradas foram a falta de leitura e de interesse do próprio aluno em relacionar os termos
científicos aos seus devidos significados. Portanto, de acordo com os resultados obtidos, os alunos
apresentam diferentes dificuldades, o que dificulta a interação entre professor e aluno e o processo
de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: educação; Educação de Jovens e Adultos; ciências naturais

22
Graduado do Curso de Segunda Licenciatura em Ciências Biológicas – PARFOR – IFAM
23
Professoras do IFAM

113
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DE CIÊNCIAS
NATURAIS NO SEGUNDO SEGMENTO DA MODALIDADE EJA DO
ENSINO FUNDAMENTAL

RAMIRES, Pedro Temóteo Arévalo1

Mello. Maria Stela Vasconcelos Nunes de

ABSTRACT
Aiming to analyze the main factors that hinder the learning of young adults and the EJA, in the
discipline of natural sciences teaching fundamental Municipal School Caio de Araújo Lasmar the
City of Jutaí (AM). The research was descriptive in nature and qualitative-quantitative method
approach in framing indutivo. O said the study used hermeneutic-phenomenological approach.
The data collection instrument used was a questionnaire and was the non-participant observation
in the classroom with the teacher and students. The results of the questionnaires with the students
revealed that most of them find it difficult to read, create, interpret, summarize texts studied in
natural science classes and the teacher questionnaire revealed that the greatest difficulty was the
lack of reading and lack of student’s own interest in scientific terms relate to their proper meanings.
Therefore, according to the results, students have varying difficulties, which makes the interaction
between teacher and student and the teaching-learning process.

Keywords: Education. Youth and Adults. Natural Sciences.

114
Introdução 1. Fundamentação Teórica

Este artigo apresenta os resultados 1.1 O papel da escola na sociedade


da pesquisa realizada na Escola Municipal
Caio de Araújo Lasmar, no Município de A escola, considerada como
Jutaí (AM), localizado na margem direita um espaço estruturado para produção
do Rio Solimões, tendo como tema e socialização do conhecimento
as Dificuldades de Aprendizagem no e cotidianização, parte do pensar
Ensino de Ciências Naturais no Segundo histórico/cultural como o lugar onde o
Segmento da Modalidade EJA do Ensino indivíduo pode se constituir como sujeito
Fundamental. A escolha do tema deve- das relações sociais historicamente
se ao fato de que no início do ano letivo admitidas, sistematizadas e emergentes
de 2012, alguns alunos apresentavam e se desenvolver à medida que
problemas em seu aprendizado, levando- internaliza criticamente o seu meio
os assim ao fracasso escolar. social, fundamentalmente no domínio
da cultura, como uma das formas de
O estudo oferece contribuições transformação social (SILVA, 2006).
aos alunos e professores da comunidade
escolar, pois analisou os principais Nesse sentido, a escolarização
fatores que dificultaram a aprendizagem é um espaço de multiplicidades,
dos jovens e adultos na disciplina de onde diferentes valores, experiências,
ciências naturais do ensino fundamental. concepções, culturas, crenças e relações
Foram identificadas as dificuldades de sociais se misturam e fazem do cotidiano
aprendizagem que os alunos enfrentavam, escolar uma rica e complexa estrutura de
e, assim, as relacionamos aos fatores que conhecimentos e de sujeitos. Portanto,
contribuíram na dificuldade entre a teoria é na escola que os discentes têm a sua
e a prática pedagógica. aprendizagem, porque eles aprendem
junto aos educadores. E esses, por sua vez,
Este estudo é importante para têm o papel principal na escola, que é a
que os membros do grupo que lidam orientação do movimento da contradição
diretamente com esta problemática que a caracteriza como o processo de
possam usar os resultados da pesquisa ensino.
na resolução dessas dificuldades, sob
uma reflexão a respeito do processo
de ensino-aprendizagem, atento às
características do aluno quanto ao perfil O processo de ensino é um objeto de
estudo e didática, não pode ser algo
do professor, já que ambos são peças- restrito somente como atividade
chave para compreender o contexto da no espaço de sala de aula. Uma das
aprendizagem escolar. Por outro lado, modalidades específicas da prática
a verificação ocorreu porque os jovens educativa mais ampla que ocorre na
e adultos não medem esforços em seu sociedade é o trabalho do professor.
É importante compreender que
ensino-aprendizagem. Faz-se necessário o ensino é fundamental para a
que o trabalho educacional transcenda os vida do ser humano. É uma tarefa
muros da escola com práticas educativas considerada exigida pela vida em
que abranjam o contexto social do sociedade. A ciência que analisa a
aprendiz, proporcionando-lhe condições teoria e a prática da educação nos
seus vínculos com a prática social-
que possibilitem o desenvolvimento da global é a pedagogia. A didática
capacidade de aprender continuamente. é uma disciplina que estuda os
objetivos, os conteúdos, os meios
e as condições do processo de
ensino, tendo em vista finalidades
educacionais, ela se fundamenta na
Pedagogia; é, assim, uma disciplina
pedagógica. (LIBÂNEO, 1994, p.12)

115
Para que todos os jovens e adultos Neste sentido, os movimentos
possam ter um bom processo de ensino, sociais não se constroem
é necessária a correta organização da espontaneamente, pois são constituídos
aprendizagem. O conhecimento científico por indivíduos de diferentes lugares e
trabalhado na escola é que auxilia o papéis na sociedade onde convivem.
aluno a romper, superar o senso comum, Segundo Libâneo (1994, p. 4), é preciso que
entender, assimilar cada conceito básico o indivíduo frequente uma instituição de
de várias disciplinas, pois os mesmos ensino para que possa receber educação.
são instrumentos de análise e ação do Assim, a educação é vista como
ser humano para melhor compreender a
realidade escolar.

Dias (2003, p.3) destaca que a o produto da relação entre aluno


e professor, acontece que nesta
escola é organização com finalidade concepção, os papéis de cada
de atingir certos objetivos, os quais um são diferentes em relação à
dão sentido à organização escolar construção do conhecimento. O
e orientam, consequentemente, objetivo principal do professor é
a tomada de decisões no que se assegurar a unidade didática entre
refere à natureza dos currículos , ensino e aprendizagem através do
aos programas e ao tipo de edifício processo de ensino. O ensino e a
escolar, à quantidade e qualidade aprendizagem são duas facetas de
do equipamento, ao número de um mesmo processo. O professor
qualificação do pessoal escolar. planeja, dirige e controla o processo
Portanto, quem quer que se de ensino, tendo em vista estimular
proponha a trabalhar em uma escola e suscitar a atividade própria
precisa procurar informar-se sobre os dos alunos para a aprendizagem
seus objetos e, na medida do possível, (LIBÂNEO, 1994).
dar suas próprias contribuições para
o aperfeiçoamento dos mesmos.

1.3 A Educação Escolar Brasileira

1.2 Educação A Educação Brasileira está


assegurada na Lei de Diretrizes e Bases da
O papel da educação na construção Educação Nacional, Lei nº 9394/96 em seu
de cidadania segundo Gonh: Art. 1º, quando afirma que:

(...) A educação ocupa lugar central A educação abrange os processos


na acepção coletiva da cidadania. Isto formativos que se desenvolvem na
porque ela se constrói no processo vida familiar, na convivência humana,
de luta que é, em si própria, um no trabalho, nas instituições de
movimento educativo. A cidadania ensino e pesquisa, nos movimentos
não se constrói por decretos ou sociais e organizações da sociedade
intervenções externas, programas civil e nas manifestações culturais.
ou agentes pré-configurados. Ela (BRASIL, 1996).
se constrói como um processo
interno, no interior da prática social
em curso, como fruto do acúmulo
das experiências engendradas. A
cidadania coletiva é constituidora de E na Constituição Federal de 1988,
novos sujeitos históricos: as massas em seu Art. 205 e na LDB, Lei nº 9394/96,
urbanas espoliadas e as camadas que em seu Art. 2º declara que
médias expropriadas. (GONH, 2001,
p.16-17) a educação, dever da família e do

116
Estado, inspirada nos princípios ampliar a educação primária, de
de liberdade e nos ideais de modo a incluir o ensino supletivo para
solidariedade humana, tem por adolescentes e adultos;
finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, seu preparo para
• o Serviço de Educação de Adultos (SEA,
o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
de 1947), cuja finalidade era orientar e
(BRASIL, 1988 e 1996). coordenar os planos anuais do ensino
supletivo para adolescentes e adultos
analfabetos;

• a criação de campanhas, como a


Em nossa sociedade, temos Campanha de Educação de Adolescentes
escolas públicas (gratuitas), porém nem e Adultos (CEAA, de 1947), que teve
todos têm acesso à elas. Devido à falta de grande importância como fornecedora de
documentos ou vagas, muitos estudam infraestrutura aos estados e municípios
em escolas privadas. Por isso encontramos para atender à educação de jovens e
a educação em vários lugares, seja a formal adultos;
ou a informal. Cada um tem um sentido
diferente na formação do ser humano. • a Campanha Nacional de Educação Rural
Contudo, é na escola que recebemos uma (1952);
educação que possibilitará a inserção no
mercado de trabalho. • a Campanha Nacional de
Erradicação do Analfabetismo (1958)
2.4 Educação de Jovens e Adultos

Relatamos alguns fatos históricos


que marcaram o campo da Educação de As duas últimas, de curta duração, tiveram
Jovens e Adultos no Brasil. poucas realizações (BRASIL, 2002, p. 14).
Segundo Brasil (2002), a Educação Nos anos 50, a campanha começa a
de Jovens e Adultos em nosso país tem perder forças por usar materiais didáticos
suas origens no Brasil Colônia, em que inadequados para adultos e não atender
os religiosos exerciam ações educativas suas necessidades,, sendo criticada por
junto aos adultos. O império também educadores e estudiosos da época.
impetrou algumas atividades nesta
modalidade de ensino, no entanto, estes Nos anos 60, várias tentativas
fatos nada contribuíram, pois a concepção populares tentaram ampliar as
de cidadãos ficava bastante restrita à oportunidades educacionais para jovens
burguesia da época. e adultos. Podemos destacar desta fase
o Movimento Cultural de Base formado
Após a Segunda Guerra Mundial, por artistas e intelectuais. Motivadas pela
na década de 40, é que a educação de efervescência política e cultural da época,
adultos constituiu-se tema de políticas essas iniciativas tinham como paradigma
educacionais, através da promoção, pedagógico a educação para a liberdade,
pelo Ministério da Educação e Saúde, com enfoques críticos, voltados para a
da primeira campanha de educação de transformação social.
adultos. Na mesma década, a EJA se
consolidou como assunto de política Em 1962, já em vigência a lei
nacional por força da Constituição de n° 4.024/61, das Diretrizes e Bases
1934. Estabeleceu-se nacionalmente a da Educação Nacional, foi instituída
obrigatoriedade e a gratuidade do ensino pelo MEC, a Mobilização Nacional
primário para todos. Destacaram-se em contra o Analfabetismo (MNCA),
âmbito nacional: pelo decreto n° 51.470/62.
Em 1964, o Ministério da Educação
• a criação do Fundo Nacional de Ensino organizou o Programa Nacional de
Primário (1942), que tinha por objetivo Alfabetização, orientado pelo educador

117
brasileiro Paulo Freire, que criou um escolar, por não haver devida atenção,
método de alfabetização utilizando especialmente,  no preparo e formação
palavras do contexto social dos alunos no dos professores que atuam com esses
processo de aprendizagem da leitura e da alunos, para que possam desenvolver
escrita. a capacidade de selecionar conteúdos,
utilizar procedimentos e criar alternativas
O golpe militar de 1964 causou que possibilitem uma atuação voltada de
uma ruptura no trabalho de alfabetização forma adequada ao aluno trabalhador.
de adultos exatamente pela sua ação
conscientizadora. Paulo Freire foi exilado No contexto atual, a EJA está
e junto com ele vários educadores. assegurada na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, LDB nº 9394/96, nos
Em 1967, o Governo Militar lançou artigos 1º e 2º, que definem a educação
o MOBRAL - Movimento Brasileiro de escolar vinculando-a ao mundo do
Alfabetização, criado pela Lei número trabalho e à prática social, enfatizando
5.379, de 15 de dezembro de 1967, para que sua finalidade é o desenvolvimento
a população não alfabetizada na faixa do educando e seu preparo para
etária de 15 a 30 anos, e surgiu como o pleno exercício da cidadania. De
um prosseguimento das campanhas de acordo com o artigo 37, parágrafo 2º,
alfabetização de adultos iniciadas por “a educação de jovens e adultos deve
Lourenço Filho. Em 1985, o MOBRAL foi assegurar aos educandos oportunidades
extinto, seus projetos pedagógicos foram educacionais apropriadas, considerando
financiados pela Fundação Educar. No as características do aluno, suas condições
entanto, a década seguinte representou de vida e de trabalho” (BRASIL, 1996).
um imenso vazio no campo das políticas
públicas voltadas para a educação de De acordo com a legislação
jovens e adultos. Nos anos 70, foi criado vigente, a educação de jovens e adultos
o ensino supletivo pela Lei 5692/71. O é para estar estruturada visando oferecer
ensino supletivo possuía características todas as condições de aprendizagem
diferenciadas do ensino regular, pois necessárias ao seu desenvolvimento. Os
poderia ser ministrado à distância e cursos deveriam contar com professores
tinha como meta suprir as necessidades competentes e as aulas deveriam partir
de escolarização dos jovens e adultos de temas transversais fazendo com os
que não conseguiram supri-la na idade conteúdos significativos, além de ser
adequada. um processo permanente, devendo
considerar o desenvolvimento afetivo,
Em 1997, foi criada a Alfabetização intelectual, social e cultural dos alunos,
Solidária (Alfasol) pelo Conselho da numa perspectiva de conquista da
Comunidade Solidária, programa cidadania. Porém, na realidade, são muitas
de alfabetização de jovens e adultos as dificuldades encontradas por alunos
gerenciado por uma organização e professores nas próprias dependências
não governamental (ONG) sem fins das escolas.
lucrativos e de utilidade pública. Seu
objetivo era reduzir os elevados índices 1.4 O ensino de ciências naturais
de analfabetismo, que de acordo com
o IBGE eram de aproximadamente 15 O ensino de ciências naturais
milhões de analfabetos com 15 anos ou constitui, portanto, um meio importante
mais e, principalmente, desencadear um de preparar o estudante para os
movimento de educação de jovens e desafios que surgem em uma sociedade
adultos. preocupada em integrar, mais e mais, as
descobertas científicas ao bem estar dos
Portanto, a Educação de Jovens indivíduos. Segundo Fracalanza, (1986 p.
e Adultos (EJA) é um segmento da 26-27):
população representado por um universo
de cidadãos sem acesso ou permanência

118
O ensino de ciências, entre outros simplesmente introduzir conceitos,
aspectos, deve contribuir para o tem que levar os alunos a refletirem
domínio das técnicas de leitura sobre os conceitos usados na prática,
e escrita; permitir o aprendizado
como ferramenta para construção e
dos conceitos básicos das ciências
naturais e da aplicação dos princípios
reconstrução das ideias apresentadas
aprendidos em situações práticas; pelos alunos.
possibilitar a compreensão das
relações entre a ciência e a sociedade 2.7 Dificuldades de aprendizagem
e dos mecanismos de produção e no ensino de ciências naturais no
apropriação dos conhecimentos 2º segmento da modalidade EJA do
científicos e tecnológicos; garantir a ensino fundamental
transmissão e a sistematização dos
saberes e da cultura regional e local. No sentido mais amplo, a
aprendizagem ocorre quando a
experiência causa uma mudança
relativamente permanente no
Os Parâmetros Curriculares conhecimento e no comportamento
Nacionais (PCNs), apresentados pela de um indivíduo. A mudança pode
Secretaria de Educação Fundamental ser deliberada ou involuntária, para
do Ministério da Educação, contêm uma melhor ou pior. Para se qualificar como
série de propostas destinadas ao ensino aprendizagem, essa mudança deve ser
de ciências naturais de 5ª a 8ª série e ao realizada pela experiência e pela interação
ensino dos chamados temas transversais, de uma pessoa com seu ambiente.
que tratam de questões importantes para Conforme Meiriu:
a sociedade (ética, saúde, meio ambiente,
orientação sexual, pluralidade cultural,
trabalho e consumo). No que se refere
a objetivos e conteúdos do ensino de
ciências, englobando ainda estratégias (...) a aprendizagem é produção de
de trabalho, a proposta dos PCNs é ampla sentido por interação de informações
e deve ser lida e discutida por todos e de um projeto, estabilização
de prestação e introdução de
os envolvidos no processo de ensino-
uma situação de disfunção em
aprendizagem. que a inadequação de projeto às
informações, ou das informações do
O ensino de ciências naturais projeto, obriga a passar a um grau
para jovens e adultos fundamenta-se superior de compreensão (MEIRIU
nos mesmos objetivos gerais do ensino 1998, p.61).
voltado para crianças e adolescentes,
uma vez que a formação para a cidadania
constitui meta de todos os segmentos e
modalidades da escolaridade. Cada um Na aprendizagem, encontramos
dos objetivos dos Parâmetros Curriculares dificuldades de origem apenas
Nacionais - Ciências Naturais, dirigidos cognitiva, como atribuir ao próprio
para 5ª a 8ª série (alunos entre 7 e 14 aluno o seu fracasso, considerando que
anos), ressalta aspectos fundamentais haja algum comprometimento no seu
para a Educação de Jovens e Adultos. desenvolvimento psicomotor, cognitivo,
Compreender a ciência como um processo linguístico ou emocional (conversa muito,
de produção de conhecimento e uma é lento, não faz a lição de casa, não tem
atividade humana, histórica, associada assimilação, entre outros.), o que ocasiona
a aspectos de ordem social, econômica, o abandono escolar, sem considerar as
política e cultural, deve ser uma busca condições de aprendizagem que a escola
constante. oferece e os outros fatores intraescolares
que favorecem a não aprendizagem.
Lima (2004, p.1) afirma que o
conceito de aprender ciências não é Segundo Piaget (1993, p.81),

119
a aprendizagem ocorre mediante os A dificuldade de aprendizagem
processos de assimilação e acomodação, se refere a um grupo de transtornos
ou seja, a criança, ao interagir com o meio, manifestados por vários fatores que
busca satisfazer suas acomodações, e ocasionam o não aprendizado dos
nessa mesma interação também sofre com estudantes. Esses transtornos podem
a tentativa de satisfazer suas necessidades, ocorrer de várias maneiras na vida do
muitas vezes encontrando obstáculos que ser humano. Na maioria dos alunos, as
forçam sua formação, ocorrendo assim dificuldades de aprendizagem em ciências
uma adaptação ao meio, que resulta em naturais demonstram problemas em sua
um processo de aprendizagem. leitura e escrita, consequentemente, na
produção de texto. Conforme Brasil:

No ambiente escolar, as
dificuldades de aprendizagem podem
ser consideradas uma das causas que É importante que o aluno possa ter
podem conduzir os alunos (criança, acesso a uma diversidade de textos
jovem e adulto) ao fracasso escolar. Não informativos, pois cada um deles
se pode desconsiderar que o fracasso tem estruturas e finalidade próprias.
dos alunos também pode ser entendido Trazem informações diferentes, e
como um insucesso da escola por não muitas vezes divergentes, sobre um
saber lidar com a diversidade dos seus mesmo assunto, além de requererem
domínio de diferentes habilidades e
alunos. É preciso que o professor atente conceitos para sua leitura. (BRASIL,
para as diferentes formas de ensinar, 1997, v.4, p.124)
pois há muitas maneiras de aprender.
O docente deve ter consciência da
importância de criar vínculos com os seus
alunos através das atividades cotidianas,
construindo e reconstruindo sempre Atualmente, pesquisadores
laços mais fortes e positivos. O aluno, ao em ensino de ciências no Brasil, como
perceber que apresenta dificuldades em Mortimer, têm trabalhado com essa
sua aprendizagem, muitas vezes começa perspectiva, a qual sugere o uso de
a apresentar desinteresse, desmotivação, práticas dialógicas e problematizadoras:
irresponsabilidade e começa a faltar
frequentemente, etc. A dificuldade A eliminação, em sala de aula, de
acarreta sofrimentos e nenhum aluno algumas dificuldades para aceitação
apresenta baixo rendimento por vontade do atomismo, que envolve obstáculos
própria. Segundo Oliveira (1997, p.115): como a descrença no vazio entre
as partículas, não é questão a ser
decidida pelas evidências empíricas,
mas pela negociação baseada em
argumentos racionais e no uso de
exemplos da história das ciências
Frequentemente os professores se (MORTIMER, 1995, p. 26).
queixam de que seus alunos não
possuem estimulação necessária à
alfabetização e que isso interfere
no ensino. Em vez de culpar seus
alunos, os docentes devem procurar Segundo Ferreiro (1995,p.43), a
desenvolver as capacidades dos dificuldade com os atos de leitura e escrita
mesmos levando-os a sentirem existente no ambiente social em que vive,
necessidade de valorizarem os cria oportunidade para que o aluno reflita
instrumentos de cultura e as sobre esse objeto.
atividades que se relacionam com
ela. São esses dois atos de que cada
pessoa precisa para compreender o
mundo em que vive, pois a leitura é o mais

120
difícil de se aprender. O ensino da leitura 2. Metodologia
tem suas dificuldades no ato de ensinar
e aprender, mas quem se preocupa é
o educador de cada instituição. Para
solucionar este problema, precisam ser 2.1 Material e métodos
preparadas, pedagogicamente, algumas
A pesquisa traz como temática as
técnicas e métodos de ensino, não só para
Dificuldades de Aprendizagem no Ensino
a leitura, mas também para a produção
de Ciências Naturais no 2º Segmento da
de textos com seus devidos sinais de
Modalidade EJA do Ensino Fundamental.
pontuação.
Segundo Lakatos e Marconi (1991, p.155),
a pesquisa, “[...] é um procedimento formal
Quando uma criança escreve tal como o pensamento reflexivo, que requer
como acredita que poderia ou um tratamento cientifico e se constitui
deveria escrever certo conjunto
no caminho para conhecer a realidade ou
de palavras, está nos oferecendo
um valíssimo documento que
para descobrir verdades parciais”.
necessita ser interpretado para
poder ser avaliado [...] em um longo O trabalho em questão foi realizado
aprendizado que requer uma atitude em uma escola pública da rede municipal
tórica definida (FERREIRO,1995,p.61). de ensino, com alunos da EJA, no período
noturno, que apresentavam dificuldade
em seu aprendizado e baixo rendimento
escolar na disciplina de ciências naturais.
Assim como a criança, que escreve Trata-se de uma pesquisa de campo
tal palavra ou pequeno texto e acredita descritiva. Conforme Silva (2005, p.14), a
que esté certo, o jovem e o adulto têm pesquisa descritiva é caracterizada pela
o mesmo problema em sua produção não manipulação do pesquisador diante
textual. Eles também nos oferecem, dos fatos ou fenômenos pesquisados.
com isso, um valioso documento em seu
O estudo é de caráter quali-
aprendizado. Para quem educa, é preciso
quantitativo, pois, segundo Oliveira (2005),
interpretar a palavra, a frase ou o texto
esse tipo de pesquisa é usado quando se
que escreveram para depois avaliá-los em
trata de um processo que exige reflexões e
sua leitura.
análises da realidade, através da utilização
Para que o aluno não tenha de métodos e técnicas que ajudem na
dificuldade em sua aprendizagem, precisa compreensão detalhada do objeto de
ser letrado. Soares (1998, p.27) conceitua estudo em seu contexto histórico.
letramento
No mais, enquadra-se no âmbito
do método indutivo, em que a “indução
como resultado da ação de ensinar e é um processo mental por intermédio
aprender as práticas sociais de leitura do qual, partindo de dados particulares,
e escrita, os estados ou condições
suficientemente constatados, infere-
que adquirem um grupo social ou
um indivíduo, como consequência
se uma verdade geral ou universal, não
de ter se apropriado da escrita e das contida nas partes” (MARCONI; LAKATOS,
suas práticas sociais. 2006, p.86).

Visto que estuda o ambiente


escolar, o referido trabalho utilizou o
método fenomenológico-hermenêutico
Enfim, os problemas de com o seguinte enfoque: “o maior objetivo
aprendizagem são multideterminados. De consiste no estudo dos autores que
acordo com as pesquisas, seriam aspectos convivem na sala de aula em suas relações
extra e intraescolares. sociais, ou seja, compreende a realidade
pedagógica na interação professor e
alunos” (SILVA, 2006, p.26). Isso significa

121
que se buscou descobrir as intenções, os extraescolares e intraescolares que
interesses, enfim, os desejos dos autores dificultam o ensino-aprendizagem dos
envolvidos na realidade escolar. alunos.

Este trabalho tem a sua linha Os instrumentos utilizados para


de pesquisa na didática. Segundo Silva alcance dos objetivos foi a aplicação de
(2003, p.25-26): “a didática é destinada à questionário, composto por 9 (nove)
teorização e à reflexão dos problemas e questões abertas, aplicado a 36 (trinta
desafios”. A disciplina se caracteriza como em seis) alunos, e 4 (quatro) questões
mediadora do processo de ensino, já que abertas para o professor da turma. Nas
recorre às outras disciplinas das ciências questões abertas, o aluno e o professor
pedagógicas para atingir seus objetivos. poderiam responder espontaneamente
sobre o que estava sendo perguntado.
3.2 População e amostra Todas as questões foram entregues
aos pesquisados e foi solicitado que as
Foram utilizadas na pesquisa devolvessem posteriormente.
as duas turmas de EJA-finalizante,
totalizando cinquenta (50) alunos na
matrícula do ano letivo de 2012. Desse
total, foram selecionados 36 alunos, que
correspondem a uma mostra de 72%, e 14 3. Apresentação e discussão dos
alunos que equivalem a uma mostra de resultados
28%, no abandono escolar no primeiro e
segundo semestre do ano letivo.
A presente investigação foi
3.3 Coleta de dados realizada na Escola Municipal Caio de
Araújo Lasmar com alunos de EJA-
A primeira fase desta pesquisa finalizante e o professor de ciências
correspondeu ao contato junto à direção naturais da escola do município de Jutaí
da Escola Municipal Caio de Araújo (AM).
Lasmar, onde foi entregue o Termo
de Compromisso de Estágio pedindo Nessa investigação foram
autorização para a realização do estágio levantados os dados do tema em questão.
e da pesquisa de campo. Na segunda fase Os resultados obtidos pela pesquisa
houve contato com alunos em sala de aula através da observação não participante
juntamente com o professor de ciências foram: despreparo do educador sem
naturais. Nesta fase, o método utilizado formação específica na área, desinteresse,
foi a observação no decorrer do processo desmotivação, abandono escolar,
de ensino-aprendizagem, para analisar os dificuldade na leitura e escrita (produção
alunos que apresentaram dificuldades e de textos, interpretação de textos e
baixo rendimento escolar na mencionada elaboração dos resumos), não faz a
disciplina. Na terceira e última fase, houve lição, conversa muito, são lentos, não
aplicação de questionário para a mostra tem assimilação, falta frequentemente e
de alunos. irresponsabilidade. Esses fatores podem
representar o porquê de o aluno não estar
aprendendo. Não se trata de resolver todos
os problemas dessa realidade, mas refletir
3.4 Técnica e instrumento
sobre os desafios que esta apresenta para
A técnica utilizada para o alcance uma didática mais consciente, crítica,
dos objetivos foi a observação não intelectual do professor em relação aos
participante, distribuída em duas salas alunos.
de aula com o professor da turma. Esta
Para resolver alguns desses fatores,
prática foi feita com cinquenta (50) alunos
o pesquisador e o professor de ciências
e um (01) professor no turno noturno,
entraram em consenso. Utilizaram as
na qual foram observados os aspectos

122
seguintes estratégias: elaboração de Gráfico 2 – O que você espera da EJA?
textos ou resumo de tema no final de
cada conteúdo; momentos de diálogo a
fim de explicar a importância do estudo;
explanação dos conteúdos de forma lenta;
jogos de interclasse; leitura dos conteúdos
pelos alunos. Todos esses métodos de
aprendizagem nos ajudaram no decorrer
do ano letivo, proporcionando um bom
rendimento escolar.

Vejamos os resultados da pesquisa


através dos gráficos abaixo:

Gráfico 1 – Por que você não concluiu seus Fonte: Questionário de Pesquisa – 2012
estudos na idade escolar?
O gráfico 02 mostra que 53% dos
alunos esperam alcançar seus objetivos
e investir no futuro, estudando e se
formando para se inserirem no mercado
de trabalho. 47% dos alunos esperam
melhorar a leitura, produção dos textos
e fazer contas matemáticas. Para Costa
(2007), com a criação de vários cursos
espalhados pelo país, a perspectiva é
de que todos os estudantes se tornem
empregáveis, pois já não se fala tanto
do ensino para formação da cidadania e
para a luta pelos direitos, mas sim para
as exigências do mercado. Portanto, a
novidade não é integrar todos, mas apenas
Fonte: Questionário de Pesquisa - 2012 aqueles que adquirirem “habilidades
básicas” que gerem “competências”
O gráfico 01 mostra que 53% reconhecidas pelo mercado.
dos alunos não concluíram seus estudos
devido à evasão escolar; 33%, por falta Gráfico 3 – Dê sua opinião sobre a sua
de interesse deles; 11%, porque moravam aprendizagem.
na zona rural do município e 3% por ser
cadeirante. Campos (2003) estabelece a
evasão escolar na EJA como abandono
por tempo (in)determinado. Diversas 0% 0% Aprendizagem
razões de ordem social e, principalmente,
não está nada
econômica colaboram para evasão escolar
dentro da EJA. 44% bem

56%

Aprendizagem
está muito bem

Fonte: Questionário de Pesquisa – 2012

123
O gráfico 03 mostra que para de valorização da vida em sua diversidade,
56% dos alunos a aprendizagem está de preservação do ambiente, de apreço e
boa e adquiriram novos conhecimentos. respeito à individualidade e à coletividade,
44% dos alunos informaram que sua que deve ser buscado por docentes e
aprendizagem não está nada bem pela alunos.
dificuldade em escrever, aprender a falar
bem, além da aquisição de conhecimentos
de modo vagaroso. Para Porto (2009), a
aprendizagem é um fenômeno do dia a Gráfico 5 – Você sente dificuldade em
dia que ocorre desde o início da vida, logo aprender ciências? Sim ou não?
pode ser reconhecida como um processo
fundamental, pois todo indivíduo aprende
e, por meio deste aprendizado, desenvolve
comportamentos que possibilitam o viver.

Gráfico 4 – Você gosta dos conteúdos de


ciências naturais? Sim ou não?

Fonte: Questionário de Pesquisa – 2012

O gráfico 05 mostra que 56% dos


alunos responderam que sim, sentem
dificuldades em aprender ciências e
afirmam que o motivo deve-se à forma
como o professor administra suas aulas,
deixando de demonstrar incentivo e
motivação em sala; 44% dos alunos
responderam que não sentem dificuldades
Fonte: Questionário de Pesquisa – 2012 em aprender ciências, entretanto não
responderam o porquê de não sentirem
O gráfico 04 mostra que 69% dos dificuldades. Libâneo (1994) diz que
alunos afirmaram gostar de ciências para que se diminuam as dificuldades de
porque os conteúdos são bastante aprendizagem dos alunos, o professor
interessantes e 31% respondeu que não precisa dominar conhecimentos da
gosta, pois não consegue acompanhar psicologia da educação, para que possa
a disciplina aplicada pelo professor. De conhecer e compreender os aspectos
acordo com os Parâmetros Curriculares internos do método a ser desenvolvido. Os
Nacionais (1997), tem lugar no processo alunos são portadores de conhecimentos e
de ensino-aprendizagem o incentivo às experiências, seja na prática cotidiana, seja
atitudes de curiosidade, de respeito à nas obtidas no processo de aprendizagem
diversidade de opiniões, à persistência na escolar, portanto não existe o não saber
busca e compreensão das informações, às absoluto.
provas obtidas por meio de investigações,

124
Gráfico 6 – Você consegue acompanhar os Gráfico 7 – Com que dificuldades você
conteúdos nas aulas de ciências naturais? se depara nas aulas de ciências e outras
Sim ou não? disciplinas do componente curricular?

0% 0%

33% Sim

67%
Não

Fonte: Questionário de Pesquisa – 2012

O gráfico 06 mostra que 67% dos


alunos responderam que conseguem
acompanhar os conteúdos nas aulas de
ciências e 33% dos alunos afirmaram
que não gostam das aulas de ciências.
Libâneo (1994) vê os conteúdos a serem
ensinados na escola como conhecimentos Fonte: Questionário de Pesquisa – 2012
sistematizados, selecionados das bases das
ciências e dos modos de ação acumulados O gráfico 07 mostra que 45% dos
pela experiência social da humanidade. alunos responderam que a dificuldade é
Assim, entende que habilidades e por não saber elaborar resumos dos textos
hábitos, vinculados aos conhecimentos, e efetuar os cálculos matemáticos; 30% dos
incluindo métodos e procedimentos de alunos indicaram a falta do livro didático;
aprendizagem e de estudo, são atitudes e 14% dos estudantes responderam que os
convicções envolvendo modos de agir, de conteúdos de ciências são difíceis e 11%
sentir e de enfrentar o mundo. respondeu que o tempo é pouco para
repassar os conteúdos. Essas dificuldades
encontradas pelos alunos podem ter
respaldo nas teorias de Kincheloe
(1997), que diz que a dificuldade de
aprendizagem é um atraso, desordem ou
imaturidade num ou mais processos da
linguagem falada, da leitura, da ortografia,
da caligrafia ou da aritmética, que são
resultantes de uma disfunção cerebral
ou distúrbios de comportamentos, e não
dependentes de uma deficiência mental,
de uma privação cultural ou de um
conjunto de fatores pedagógicos.

125
Gráfico 8 – Você tem dificuldade em ler os Gráfico 9 – Você interpreta os textos, para
textos aplicados pelo professor nas aulas responder as perguntas aplicadas pelo
de ciências? Sim ou não? professor?

0% 0% Sim

42%
58%
Não

Fonte: Questionário de Pesquisa – 2012 Fonte: Questionário de Pesquisa – 2012

O gráfico 09 mostra que 58% dos


alunos responderam que interpretam os
O gráfico 08 mostra que 61% dos textos aplicados pelo professor de ciências
alunos não têm dificuldades em ler os e 42% respondeu que não consegue
textos aplicados pelo professor em sala de interpretar os textos. Isso pode ser
aula e 39% apresenta dificuldade na leitura justificado, uma vez que, dependendo do
dos textos. Os desafios que os alunos e que se ensina, de como o ensinamento é
professores encontram podem ocasionar transmitido e das atitudes do grupo social
conflitos entre eles, dificultando ou até que frequenta a aula de ciências, a mesma
impossibilitando o diálogo entre os dois, tende a ser acompanhada de sentimentos
o que é um aspecto negativo, pois através como ansiedade e medo do fracasso. Em
da comunicação, reflexão e interação vez de tentar eliminar esses sentimentos,
entre professor e aluno que acontece a (re) os professores podem trabalhar para
construção do conhecimento (PECHLIYE e assegurar o sucesso na aprendizagem,
TRIVELATO, 2005). reforçando a ideia de que sucesso é o
processo de superação das dificuldades
(BRASIL, 1998).

126
Quadro 1 - resultados das questões ao
professor de ciências naturais

Considerações Finais

Com a metodologia aplicada,


foram levantadas hipóteses que
obtiveram seus resultados na pesquisa
realizada. Ao desenvolvê-la, houve
mudanças significativas no que se refere
à realidade de vida de cada educando em
seu cotidiano, além disso, constatamos
a educação como peso significativo nas
relações sociais. O estudo contribuiu com
a nossa formação acadêmica por ter nos
proporcionado uma nova experiência.

O estágio envolveu a maioria


dos alunos, porém, algumas dúvidas
permaneceram, precisando de maiores
estudos sobre o assunto. É notória
também a necessidade de mais empenho
dos alunos da EJA em seu aprendizado. O
Curso de Educação de Jovens e Adultos

127
precisa de apoio pedagógico na escola e
professores qualificados em cada área, ou
então oferecer cursos para os educadores ______•Ministério da Educação e Cultura.
que irão lecionar em determinada Secretaria de Educação Fundamental.
modalidade de ensino, para que os Parâmetros Curriculares nacionais:
conteúdos sejam contextualizados de ciências. Brasília, 1997.< Disponível em
forma clara e objetiva em sala de aula. www.mec.gov.br>. Acesse em: 1º set.
2009.
Sendo assim, é imprescindível que
utilizemos propostas práticas e interativas,
com as quais a escola possa contribuir no
aprendizado dos alunos, para que eles ______• SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
aprendam de forma passiva, participativa FUNDAMENTAL. Parâmetros
e, sempre que possível, sejam agentes Curriculares Nacionais: terceiro e
das situações, desempenhando um papel quarto ciclos do ensino fundamental/
ativo no processo de construção de seu ciências naturais. Secretaria de
conhecimento. Fazemos as seguintes Educação Fundamental. Brasília, MEC/SEF,
recomendações à escola onde foi realizada 1998.
a pesquisa:
CAMPOS, E. L. F.. A Infrequencia
 Incentive os alunos que não dos alunos adultos trabalhadores,
estudam ou que desistiram de em processo de alfabetização, na
voltar a estudar; Universidade Federal de Minas Gerais.
Belo Horizonte, MG: UFMG, 2003.
 Realize encontro pedagógico com
professores uma vez por mês;
DIAS, José Sobrinho. Avaliação: Políticas
educacionais. São Paulo: Cortez,
 Faça planejamento de aula 2003.200p.
de reforço para os alunos que
apresentarem dificuldade no seu
aprendizado.
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre
alfabetização. 17. ed. Tradução Herácio
Gonzáles. São Paulo: Cortez, 1995.
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Constituição Federativa do Brasil: primeiro grau. São Paulo: Atual.
promulgada em 5 de outubro de 1988,
com alterações adotadas pela Emendas
Constitucionais nº 1/92 e 28/2000 e KINCHELOE, J. L. A formação do
Emendas Constitucionais de Revisão professor como compromisso político:
nº1ª 6/94. Brasília: Senado Federal mapeando o pós-moderno. Porto Alegre:
Subsecretaria de Edições Técnicas, 2000. Artes Médicas, 1997.

______• Lei nº 9394, de 20 de dezembro GONH, Maria da Glória. Movimentos


de 1996. Fixa as Diretrizes e Bases para sociais e educação. São Paulo: Cortez,
o Ensino Nacional. Diário da Oficial da 2001. (coleção questões da nossa época,
União, 23 de dezembro de 1996. 5).

128
LIBÂNEO, C. COLEÇÃO Magistério 2º
Grau. Série Formação do Professor. 21ª
reimpressão. São Paulo: Cortez. 1994.

LIMA, V.A. de. Atividades Experimentais


no ensino médio: reflexão de um
grupo de professores a partir do tema
eletroquímico. 2004.

PIAGET, J. O nascimento do raciocínio


na criança. 5. Ed. São Paulo: EL Ateneo,
1993.

PORTO, Olívia. Psicopedagogia


institucional. Rio de Janeiro: Wak, 2009.

SILVA, Almir L. et al. Pesquisa e Prática


II. Manaus: Universidade do Estado do
Amazonas. Proformar II, 2006.

_________________• Metodologia do
Desenvolvimento da Pesquisa. Manaus:
Universidade do Estado do Amazonas.
Proformar, 2003.

_________________• Pesquisa e Prática


Pedagógica I. Manaus: Universidade do
Estado do Amazonas. Proformar II, 2005.

129
VALORIZAÇÃO DOS
RECURSOS NATURAIS
COMO FONTE
ALIMENTAR
VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS COMO FONTE
ALIMENTAR

SILVA, Renilson Meza da24

ANJOS, Chris Rocha dos25

RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso faz uma abordagem sobre a valorização dos recursos
naturais como fonte alimentar. Podemos afirmar que o homem é um ser natural, por isso precisa de
nutrientes para suas necessidades vitais. Quando falamos em alimentação, encontramos diversos
tipos de alimento e hábitos nas diferentes regiões; ainda assim, é indispensável que em toda dieta
contenha carboidratos, gorduras, proteínas, água, sais minerais e vitaminas, já que são nutrientes
fundamentais para o bom funcionamento de nosso organismo. O objetivo desta pesquisa é conhecer
os hábitos alimentares e os alimentos mais utilizados cotidianamente como fonte nutritiva, visando o
que é mais saudável para uma vida melhor. Utilizou-se a metodologia da observação direta, análises
bibliográficas e questionários para a coleta de dados qualitativos e quantitativos com posterior
seleção dos dados mais relevantes. O trabalho pode ser considerado descritivo e exploratório através
de material didático encontrado em fontes da internet, além de capítulos de livros e textos disponíveis.
Foram extraídas informações essenciais para embasar esta pesquisa, priorizando os recursos naturais
como fonte de alimentos saudáveis. A pesquisa apresenta um índice significativo da ausência de
informações sobre os hábitos alimentares, nutrientes necessários ao organismo, e, principalmente,
as fontes alimentares advindas de recursos naturais, o que nos permite identificar situações em que
uma alimentação equilibrada é fator básico e fundamental a todo ser humano. É preciso valorizar
os recursos naturais e regionais como fonte alimentar para nosso cotidiano, é essencial que sejam
realizados trabalhos educativos, auxiliando no despertar do interesse da população, na busca de
uma alimentação adequada que proporcione uma vida longa e saudável

Palavras-chave: recursos naturais; fonte alimenta

24
Graduado do Curso de Segunda Licenciatura em Ciências Biológicas – PARFOR – IFAM
25
Professoras do IFAM

131
VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS COMO FONTE
ALIMENTAR

SILVA, Renilson Meza da

ANJOS, Chris Rocha dos

ABSTRACT
The course conclusion present work does an approach on the valorization of the natural resources
as source feed. Because, we can affirm that the mankind is one be natural, because because of this
it needs nutrients to her vital needs. And, when we talk in alimentation, find several kinds of food
and alimentary habits in our population in the different regions; Even with these differences is
indispensable that in a diet contains the nutrients that our organism needs daily: Carbohydrates, fats,
proteins, water, mineral salts and vitamins. The research goal is to seek know the alimentary habits
and the food that are usedder daily as nutritious source to the human organism, aiming what it is
more healthy for one live better. The methodology that was used: Direct observation, bibliographical
analyses and questionnaires for the collection of qualitative and quantitative data with the selection
of the more important data. The research can be considered descriptive and exploratory through
didactic material found in internet sources, besides books chapters and available texts. They were
extracted dispensable information to bases this research, prioritizing the natural resources as source
of healthy food. It is in this sense that we prioritize this research study to obtain results that allowed
us to comprehend better the theme reality in study. The target of the research study presents a
significant index of information lack on the alimentary habits, necessary nutrients to the organism
and mostly the alimentary sources of the natural resources. What allows us to identify situations
in which a balanced alimentation is a basic and necessary factor to all human organism. It is
necessary to valorize the natural and regional resources, like source feed for our everyday, but that
are accomplished educational jobs, and in this sense there is one awake and population interest, in
the search of an alimentation with necessary nutrients for a long and healthy life, in our and for the
future generations.

Keywords: Natural resources – Source Feed.

132
INTRODUÇÃO 1. MATERIAL E MÉTODOS

Desde os tempos mais remotos da Essa pesquisa foi realizada entre


história, com o seu convívio e costumes os meses de agosto a novembro de 2012,
rudimentares, há a necessidade de uma na Escola Estadual Deputado Armando
alimentação nutritiva, que contribua para de Souza Mendes (GM3), no município
o bom funcionamento do organismo. de Tefé (AM), com três (03) turmas de 6º e
7º anos do ensino fundamental, do turno
O organismo humano necessita de matutino, onde foi entrevistado um total
nutrientes que contenham carboidratos, de cem (100) alunos.
já que é deles que nossas células obtêm
energia para realizar suas funções O desenvolvimento deste
metabólicas. Eles podem ser encontrados estudo foi realizado com metodologias
nos cereais, tubérculos e açúcares distintas: observações diretas, análises
(Lopes & Russo, 2009). Os lipídios, que bibliográficas e questionários.
são as gorduras, armazenam energia
no organismo e também auxiliam no As observações diretas foram
transporte e absorção das vitaminas feitas no seu cotidiano, entre docentes e
A, D, E e K; podem ser encontrados no discentes, com linguagem local, para troca
azeite, manteiga, ovos (Lopes & Russo, de informações. Segundo Prestes (2007):
2009). As proteínas, que constituem a “a pesquisa descritiva, observa, registra,
base estrutural do nosso organismo, analisa, classifica e interpreta os fatos
são indispensáveis para a formação e sem que o pesquisador faça qualquer
crescimento dos músculos, órgãos, pele interferência”.
e ossos. Também fornecem energia e
podem ser encontradas em alimentos de As observações diretas foram
origem animal e em cereais. As vitaminas utilizadas como aproximação aos
agem como catalisadores de reações discentes, através de participação e
químicas, ou seja, aumentam a velocidade conversas informais, para captar mais
sem serem gastas no processo; podem informações com o estudo de pesquisa
ser encontradas em frutas, verduras e para que pudessem ser feitos registros
alimentos de origem animal. Os sais descritivos e interpretação pessoal, a fim
minerais são responsáveis pelo equilíbrio de construir uma imagem mais realista
de todas as funções do organismo, daquilo que pretendíamos alcançar. Por
regulando o funcionamento do fígado, isso, durante as observações, procuramos
estômago, coração, baço, esôfago, pele e não ter pressa em concluir as horas de
de todos os órgãos do corpo; podem ser trabalho para que nosso projeto não
encontrados em frutas, legumes, leite e fosse comprometido, já que exigia
seus derivados. Quanto à água, precisamos tempo, dedicação, comprometimento
ingeri-la bastante; corresponde à mais e profissionalismo. Neste processo,
da metade do nosso peso corporal, é contamos com o apoio de docentes e
indispensável à vida. É encontrada nos discentes.
alimentos em geral (Lopes & Russo, 2009).
As análises bibliográficas
Portanto, o estudo desta pesquisa serviram para fazer uma abordagem
faz uma abordagem sobre a necessidade de caráter interpretativo, considerando
de o ser humano conhecer os hábitos a percepção do pesquisador como
alimentares e os nutrientes necessários uma leitura possível e não como um
ao organismo, além dos recursos naturais resultado pronto e concluído. Também
como fonte alimentar para uma vida podem ser caracterizadas como pesquisa
saudável. exploratória, através de livros didáticos,
revistas, artigos e sites sobre alimentação
e saúde.

133
Os critérios de inclusão adotados 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO
foram: livros, revistas, artigos e sites,
que ocasionaram uma abordagem aos Dos cem (100) alunos entrevistados,
aspectos inerentes dos recursos naturais 56% era do sexo feminino e 44%, do sexo
como fonte alimentar, datados do masculino. A faixa etária dos alunos é
ano 1989. Foram selecionados e lidos apresentada na tabela 1. Das três turmas
integralmente somente aqueles que (de 6º e 7º anos do ensino fundamental),
atendiam aos critérios de inclusão do a maioria dos discentes mora no bairro de
estudo. Jerusalém, no qual a escola foi construída.
Já o restante dos estudantes mora em
Lakatos & Marconi (2009) comentam bairros adjacentes como São José, Fonte
que “a propriedade fundamental não é a Boa, S. Raimundo, Juruá, entre outros.
extensão como relatam alguns autores,
mas sim, o modo de trabalho, procurando
delimitar um tema a ser abordado, levando
em consideração o grau de investigação,
que está profundamente ligado aos
fins propostos para sua preparação e
execução”.

Como aspecto ético, firmamos


o compromisso de respeitar as ideias e
pensamentos dos autores citados neste
estudo, trazendo, assim, uma análise crítica
e científica com o intuito de resguardar
seus estudos e publicações.

Já os questionários estruturados
nos possibilitaram levantar informações
referentes ao nível dos discentes e fazer
uma abordagem sobre recursos naturais Ao observarmos os docentes,
como fonte alimentar. percebemos que se falava pouco em
recursos naturais (como fonte alimentar)
Os nossos formulários foram em seu cotidiano quando o assunto era
elaborados e aplicados com questões alimentação. Os alimentos mais utilizados
pertinentes sobre os alimentos: tipos, em seu cotidiano são os de origem
hábitos alimentares, repouso, dentre animal, como peixe, frango, carne bovina
outras atividades realizadas pelos e suína, além de produtos alimentícios
discentes. Por meio dos questionários foi industrializados.
realizada coleta de dados quantitativos
e qualitativos para a seleção de assuntos Os discentes, através de conversas
mais relevantes, sendo desempenhada da informais, perceberam que possuíam
seguinte forma: reunião de informações, poucas informações sobre recursos
leitura e sistematização dos dados naturais como fonte de alimento, e, por
obtidos, e análises dos conteúdos para a isso, demonstravam pouco interesse em
compreensão do estudo. conhecer os melhores alimentos e seus
nutrientes.
A intenção desta pesquisa foi
despertar o interesse e valorização pelo Percebemos ainda que havia
uso dos recursos naturais regionais como maior interesse em consumir produtos
fonte alimentar para que as gerações alimentícios industrializados nos
presente e futura tenham vida longa e intervalos de aula. Os produtos
saudável no espaço e tempo decorrentes. consumidos mais mencionados foram
os salgados, bolachas recheadas, balas,
refrigerantes, entre outros.

134
Quando a alimentação fornecida importância desses recursos como fonte
pela escola era sopa, havia uma procura alimentar, gerando menos interesse nos
maior dos alunos para fazer sua alunos e, consequentemente, menos
alimentação. Contudo, vale ressaltar que o consumo destes, enquanto os produtos
alimento fornecido pela escola é feito com alimentícios industrializados alcançam
produtos alimentícios industrializados um alto índice de consumo nessa escola.
(arroz, almôndega, sucos artificiais,
charque, macarrão). Poucas vezes se viu As revistas utilizadas para
na alimentação frutas como banana, análises bibliográficas (Vida e Saúde.
melancia, macaxeira, cará, mamão, Francisco Lemos, meses jul/ago. 2011;
pupunha. O Sabor da saúde. Eunice Lene Vidal.
2012) apresentaram um significativo
Através das observações diretas, conhecimento na área de recursos naturais
percebemos que os docentes têm como fonte alimentar. Percebemos que
informações e conhecimentos em relação os conteúdos em análise são de muita
aos alimentos saudáveis ao organismo. importância para o organismo humano,
Todavia, nem sempre procuram ingeri- as matérias enfatizam e incentivam o
los, e, assim, continuam se alimentando consumo de produtos naturais desde o
de forma “errônea”, já que os nutrientes processo de mastigação, passando pela
saudáveis necessários não fazem parte de digestão e circulação, ao de excreção.
seu cardápio. Apresentam em detalhes os nutrientes de
que o nosso organismo necessita, dando
Os discentes, por falta de ênfase para melhor qualidade de vida.
informações e conhecimento, não
apresentam interesse em consumir Conforme o que lemos nas revistas
alimentos ricos em nutrientes. Além disso, sobre alimentação e saúde, nós somos
vale ressaltar que a mídia pode exercer o que comemos. Por exemplo: “se nós
forte influência sobre certos produtos ingerirmos alimentos ricos em gorduras
alimentícios, os quais acabam atingindo saturadas (origem animal) ocorrerá o
um alto nível de consumo, como por aumento do nível de colesterol ruim
exemplo: refrigerantes, achocolatados, (LDL), causando a aterosclerose, que
sanduíches e produtos de massa. é o acúmulo de placas nas artérias do
coração, podendo causar enfarto, uma
Quando analisamos os materiais das causas frequentes de morte, tanto
utilizados neste estudo para aumentar o em homens quanto e, mulheres. Sem
conhecimento dos docentes/discentes falar em problemas de pressão arterial e
sobre os recursos naturais como fonte de outras doenças cardiovasculares” (Revista
alimento, verificamos que: Vida e Saúde. Francisco Lemos, mês de
maio. 2012). É importante lembrar que
“os produtos alimentícios industrializados
têm contribuído para o aumento de
O conteúdo apresentado sobre os pessoas diabéticas e obesas; 40% da
alimentos (seu teor científico) não população do Brasil está acima do IMC
enfatiza ou incentiva suficientemente (Índice de Massa Corporal), conforme o
os docentes e discentes para a utilização IBGE, 2011.
e consumo de recursos naturais como
fonte alimentar, principalmente, se forem Procurando saber a causa do
levados em conta os produtos regionais. câncer, constatamos que, segundo o
Neste caso, interpretamos que os livros cientista Heinrich Warburg, “o câncer
didáticos aproveitados na escola são é consequência de uma alimentação
produzidos por autores que conhecem antifisiológica e de um estilo de vida
pouco ou quase nada da realidade de antifisiológico. Pois uma alimentação
nossa região, principalmente, quando antifisiológica – uma dieta baseada em
o assunto é recursos naturais. Assim, o alimentos acidificantes + sedentarismo
conteúdo didático ajuda pouco sobre a – cria em nosso organismo um ambiente

135
de acidez”. A acidez expulsa o oxigênio
das células e consequentemente falta
oxigênio em nosso organismo. Podemos
afirmar que, se uma célula for privada de
35% de seu oxigênio durante 48 horas,
o nosso organismo pode convertê-la em
cancerígena.

Com os sites acessados, foi


possível observar os recursos naturais
como fonte alimentar. As informações
dão muita ênfase e incentivo ao consumo
de alimentos naturais e outras atividade
físicas para viver com melhor qualidade
de vida.

Características gerais de
qualidade alimentar dos alunos
de três turmas de 6º e 7º Anos do
Já os alunos que responderam
Ensino Fundamental da Escola
fazer lanche na escola na hora do intervalo
Estadual Deputado Armando de revelam ter preferência por sanduiches
Souza Mendes do município de (54%), salgados (47%) e outros itens
Tefé. industrializados (tabela 02). Apenas 5%
dos alunos preferem a salada de fruta, que
apresenta maior poder nutritivo.
Através dos questionários
elaborados com questões pertinentes
sobre o assunto (qualidade alimentar)
verificamos que, aproximadamente
33% dos alunos, fazem seu desjejum
em casa antes de virem ao colégio; 56%
eventualmente o fazem, e 11% dos
alunos nunca fazem desjejum em casa.
Isso nos permite crer que um percentual
grande desses discentes que não fazem
seu desjejum, ou que eventualmente
não o fazem, podem ter problemas no
desenvolvimento das atividades escolares,
haja vista que a falta de alimentação poderá
causar desconforto e desinteresse. Alguns
sintomas podem trazer incômodos ou
prejuízo ao rendimento e aproveitamento
das atividades desenvolvidas.

Os alunos que fazem seu desjejum


em casa revelaram ter preferência por oito Para os alunos do 6o e 7o anos
itens alimentares principais (tabela 01), do ensino fundamental desta escola, os
sendo que 64% deles ingere o pão como alimentos mais consumidos diariamente
principal alimento no desjejum, apenas na alimentação básica, em casa, são
18% faz ingestão de frutas. apresentados na tabela 4. Os resultados
revelam que o alimento de origem
animal mais consumido é o frango
industrializado (77%), seguido de peixe
(47%) e carne bovina (43%). Já os itens

136
de origem vegetal mais consumidos são
o arroz (62%), seguido de farinha (56%)
e macarrão (43%). Analisando a tabela 3,
observamos que itens de origem animal
podem apresentar grande quantidade
de gorduras saturadas (encontradas
principalmente no frango e carne bovina)
e, neste caso, estaria sendo realizado
um alto consumo de gorduras pelos
discentes. Os carboidratos encontrados
principalmente no arroz e macarrão
(massa) também são consumidos pela
maioria dos alunos. Contudo, a macaxeira
(8%) e o cará (3%) são produtos regionais
pouco consumidos.

Sabemos que nossa região


oferece alimentos nutritivos, e isso é de
conhecimento popular há dezenas de
anos; essa informação é comprovada
através de pesquisas científicas.
Alimentos como a pupunha, castanha-
do-pará, fruta-pão, camu-camu, além
de produtos silvestres, como piqueá,
uxi-amarelo, buriti, tucumã etc, são ricos
em carboidratos, vitaminas e minerais
(Yuyama et al. 2007). Podemos destacar
dentre os produtos silvestres o tucumã, Se os discentes pudessem
que com apenas um fruto consumido escolher a alimentação diária, ela seria
é capaz de suprir a carência diária de composta, preferencialmente, por uma
vitamina A; do fruto dessa palmeira maior quantidade de itens, conforme o
também se pode extrair óleo comestível encontrado na tabela 5. Porém, a maioria
em taxas de 30% a 50%, destacando-se possui preferência por carne (70%) e
os ácidos graxos insaturados, saturados e frango (34%), seguidos de arroz (22%) e
glicerídeos trissaturados, além de possuir peixe (21%). Se eles fossem convidados a
um excelente potencial para a produção comer em restaurante e/ou na casa de um
de bicombustível. amigo também prefeririam carne (59%) e
frango (40%), conforme a tabela 6.

Ambos os resultados demonstram


que a opção pelo consumo de carne é
considerada elevada entre os discentes.
A maioria desconhece informações sobre
os problemas que podem ocorrer devido
ao exagerado consumo dela. O excesso
de proteína animal pode prejudicar o
organismo; os rins e fígado fazem esforços
para eliminar a proteína não utilizada.
A carne apresenta gordura saturada, o
que aumenta o colesterol ruim (LDL),
podendo causar aterosclerose e doenças
cardiovasculares (Vida, 2011; Lemos
2012). O estresse, os medicamentos e
as doenças dos animais podem refletir
na saúde do consumidor. O organismo

137
humano não tem um sistema digestório espécies de peixe é ligeiramente superior
projetado para digeri-la, por isso a (87% a 98%) a que se registra para as
digestão é lenta. As carnes são pobres proteínas da carne bovina e frango (87-
em fibras, seus resíduos se acumulam 90%) (Contreras-Guzman, 1994). Por
no intestino, podendo desencadear outro lado, o consumo de pescado na
inflamações. O consumo elevado de carne Amazônia é superior à maioria dos países,
pode causar morte prematura (Vida, 2011; e até mesmo às outras regiões de nosso
Lemos 2012). Além disso, para a criação país. No Brasil, o consumo médio é de 20g/
de animais bovinos é preciso causar dia (7 Kg/pessoa/ano). Já na Amazônia, a
sérios danos ao meio ambiente, como os média é de 369g/dia (135 Kg/pessoa/ano),
grandes desmatamentos e queimadas de acordo com Ferreira, 2009. Como o
que crescem a cada ano, principalmente consumo recomendado pela Organização
na nossa floresta tropical (Gascon & Mundial de Saúde (OMS) é de 12kg/
Moutinho, 1998). Qual a extensão de pessoa/ano, fica evidente a importância
área verde desmatada para pastagem desse alimento para a região onde o
de bovinos? No Brasil, cada quilo de consumo de pescado é 15 vezes maior
carne bovina equivale a 10 mil metros que o recomendado (Ferreira, 2009).
quadrados de floresta desmatada, a 15
mil litros de água doce limpa, sem contar
a emissão de dióxido de carbono e gás
metano para a atmosfera, os despejos
de elementos tóxicos provenientes de
fertilizantes e defensivos agrícolas que
se infiltram no solo e atingem os lençóis
freáticos e aquíferos subterrâneos.

Diante dos problemas que o


exagerado consumo de carne pode trazer
ao organismo humano e ao meio ambiente,
é preciso fazer campanhas de informações
ou esclarecimentos, utilizando panfletos,
vídeos, revistas, livros, para tentar reduzir
o alto índice de consumo de carne bovina.
Vale lembrar que a proteína encontrada
na carne pode ser encontrada na soja e
castanha-do-pará.

Também devemos incentivar um


maior consumo de peixe, pois o pescado
é um elemento muito nutritivo, rico em
micronutrientes, minerais, ácidos graxos
essenciais e proteínas; representam um
valioso complemento nas dietas pobres
em vitaminas e minerais essenciais (FAO,
2004). Geralmente, a carne de pescado
é assimilada com mais facilidade pelo
organismo humano, pelo fato de ser
constituída por tecido muscular formado
por feixes finos e curtos de fibras que
contêm menos tecido conjuntivo em
comparação a carne de animais terrestres,
como o boi e o frango. Isso faz com que
a sua permanência no sistema digestório
seja menor. A quantidade de proteínas
absorvidas pelo organismo para algumas

138
Sim (azul)........60%

Casualmente (amarelo)...........37%

Não (vermelho).....................03%
Figura 1 - Porcentagem total de alunos que
praticam algum tipo de atividade física

Grande parte dos discentes (68%)


consome água apenas quando sente
60% dos discentes praticam
sede (figura 2). Isso nos dá a entender que
alguma atividade física, percentual que
somente bebem água quando o organismo
é considerado regular, mas 37% pratica
já está dando sinais de alerta, o que indica
exercícios físicos apenas casualmente,
um nível baixo de hidratação.
e 3% deles nãoe executa nenhuma
A água tem como função regular a
atividade (figura 1). Pela situação em que
circulação no sangue, acalmar os nervos,
se encontra o mundo moderno, muitas
auxiliar na respiração, digestão, produção
pessoas não reservam um tempo para
de saliva e de lágrimas, além de controlar a
exercitar seu corpo, o que poderá ser
temperatura. As recomendações médicas
caracterizado como sedentarismo. As
sugerem que sejam ingeridos pelo menos
crianças e os adolescentes passam mais
oito (8) copos de água por dia para nos
tempo com brinquedos eletrônicos e
sentirmos bem (cerca de 2 litros de água).
recursos tecnológicos em suas mãos ou
assistindo à televisão do que em outra
atividade. Vejamos alguns benefícios da
prática de atividades físicas: estimula o
coração que passa a bombear melhor o
sangue; influencia o sistema respiratório,
estimulando a produção de glóbulos
vermelhos; os músculos ficam mais fortes
e exercem melhor suas funções; os ossos
tornam-se mais resistentes e a tendência
à osteoporose diminui. Crianças e
adolescentes devem ser estimulados a
realizar atividades físicas, pois é de suma Quando sentem sede........68%
importância para o seu desenvolvimento.
Sempre.............................29%
O exercício físico aliado a uma dieta
equilibrada e rica em nutrientes Casualmente.....................03%
influenciará na formação do jovem
tornando-o um ser saudável. A caminhada Figura 2 - Porcentagem total de alunos que
é a atividade física mais procurada para ingerem água enquanto estão em suas atividades
quem quer abandonar a vida sedentária, dentro da escola
não tem limite de idade.

139
Quanto à merenda escolar
(oferecida na hora do intervalo pela
instituição), houve um percentual
consideravelmente baixo para os que
dela gostam (18%) e um número alto
de discentes que esporadicamente a
consomem (63%), como se pode constatar
na figura 3. Contudo, vale ressaltar que,
na(s) escola(s) do Estado, não sabemos
se há nutricionistas para fazer análises
e balanceamento dos alimentos para
que os discentes tenham um melhor
paladar e mais nutrientes necessários ao
funcionamento do organismo. Sabemos
que a merenda escolar é fundamental na
vida dos discentes, pois é um dos motivos
pelos quais estes vêm á escola, porque
na maioria das vezes, como já vimos, não
fazem seu desjejum em casa. Como todo
ser humano, necessitam de nutrientes para
desempenhar suas atividades cotidianas,
o que, sem dúvida, reflete de forma
considerável no bom desenvolvimento de
suas atividades escolares e no processo de
ensino-aprendizagem.

Quando se trata de repouso,


Casualmente...................63% percebemos que a maioria dos discentes
dorme, em média, nove horas por noite,
Não.................................19% o que nos permite dizer que têm uma
noite bem tranquila para descansar. Mas
Sim.................................18% um quarto desses discentes sente sono
durante os tempos de aula.
Figura 3 - Porcentagem total de alunos que
consomem o alimento (merenda) oferecido pela
escola

Porém, se os discentes pudessem


escolher sua merenda, entre os itens de
preferência estariam o sanduíche, a carne e
o suco (tabela 6). Dados estes que refletem
uma parcela a sociedade local, pelo visto,
para quem consome carne é questão de
melhor status social, como se uma pessoa
pudesse se “alimentar melhor”.

140
Não...........................58%
Às 22:00 horas.............45%

Às 23:00 horas.............30% Eventualmente.........30%

Às 21:00 horas.............19% Sim...........................12%


Às 20:00 horas..............6% Figura 7 - Porcentagem em relação à dificuldade
para dormir bem durante a noite
Às 00:00 horas.............0

Às 06:00 horas...........82%
Eventualmente..........54%
Às 05:00 horas...........11%
Sim............................26%
Às 07:00 horas...........7%
Não...........................20
Às 08:00 horas...........0%
Figura 8 - Porcentagem em relação a sentir sono
durante os tempos de aula

CONsiderações

O respectivo trabalho foi realizado


com três (03) turmas de discentes, num
total de cem (100) alunos. Eles cursavam
o 6º e 7º anos do ensino fundamental
(2012), na Escola Estadual Deputado
Sim.............................66%
Armando de Souza Mendes, situada na
Eventualmente...........34% Estrada do Bexiga, SN, bairro Jerusalém,
no município de Tefé (AM).
Não..............................0%
Conforme as observações diretas
Figura 6. Porcentagem em relação à característica realizadas na escola em período letivo,
de dormir bem à noite notamos que os docentes e discentes

141
apresentavam um bom relacionamento tiveram dúvidas e foram categóricos em
diário, o que nos permitiu realizar suas respostas, sabendo que não era
nossas atividades com mais detalhes. obrigatório escrever o nome.
Sobre recursos naturais como fonte
alimentar, se observou que a maioria não A respeito da faixa etária dos
comentava sobre o uso e consumo diário entrevistados, a maioria é pré-adolescente,
dos alimentos naturais, especialmente, outros, adolescentes. Isso faz com que
os regionais. Ainda assim, as conversas sejam notórias as modificações no corpo
sempre giravam em torno dos produtos tanto do menino quanto no corpo da
alimentícios industrializados, sobre os menina, devido aos hormônios que fazem
quais a mídia tem forte influência. modificações tanto no aspecto físico,
surjam pelos no corpo, modificando a voz,
Podemos afirmar que o incentivo alargando os ombros (menino); pernas
em relação ao consumo de alimentos torneadas, aparecem os seios, a menarca
naturais e regionais deve ser enfatizado, (menina) se torna precoce.
tanto pela escola quanto pelos veículos
de comunicação, como um trabalho Vale ressaltar que o papel de
educativo, e seu resultado será perceptível orientação da família, escola, instituição
e notório em nossa sociedade vigente e religiosa é de fundamental importância
futura. nesse momento para esses pré-
adolescentes e adolescentes. Sendo bem
As análises bibliográficas nos orientados poderão ser pessoas adultas
proporcionaram a clareza de saber que responsáveis, críticas, participativas,
os produtos naturais têm um alto poder criativas para o avanço, crescimento e
nutritivo. Mas quando lemos sobre os desenvolvimento de nossa sociedade e
produtos alimentícios industrializados assim terão um futuro promissor para o
verificamos que seu consumo pode bem de suas famílias na sociedade.
causar complicações, como o surgimento
de muitos sintomas patológicos e O organismo humano é formado
doenças adquiridas devido à sua ingestão, por um conjunto de trilhões de unidades
além do câncer em suas mais diversas vivas microscópicas, as células, que
manifestações, chegando inclusive a ser a desempenham atividades geralmente
causa de muitas mortes em nosso país e flexíveis conforme a função que exercem,
no mundo. visto que têm formas cilíndricas,
estreladas, fusiformes, discóides, esféricas
Assim, as literaturas, quando ou alongadas. Todas as células normais
fazem uma abordagem em relação aos têm como requisito absoluto o oxigênio,
recursos naturais como fonte alimentar, porém as células cancerosas podem viver
deixam claro que esses alimentos podem sem ele. As células sadias vivem em um
contribuir para reduzir ou eliminar ambiente alcalino e oxigenado, o qual
sintomas e doenças que podem afetar permite seu normal funcionamento,
o organismo humano, enquanto os enquanto as células cancerosas vivem
produtos alimentícios industrializados em um ambiente extremamente ácido e
podem gerar enfermidades, menos tempo carente de oxigênio.
de vida e um viver doentio.
Por isso, afirmamos que ao findar
Os questionários elaborados para o processo de digestão, os alimentos
pesquisa foram aplicados a fim de adquirir ingeridos, de acordo com a qualidade de
dados qualitativos e quantitativos que proteínas, hidrato de carbono, gordura,
caracterizassem o tema de estudo da minerais e vitaminas que fornecem, vão
pesquisa. gerar uma condição de acidez ou de
alcalinidade em nosso organismo. Vale
Quanto à aplicação do lembrar que é importante saber como os
questionário, os discentes puderam ficar alimentos ácidos e alcalinos afetam nossa
à vontade para respondê-lo, poucas vezes saúde, para que as células funcionem

142
de modo adequado; seu nível de acidez a produção de oxigênio. O exercício
(pH) deve ser ligeiramente alcalino. físico oxigena todo o organismo,
o sedentarismo desgasta (www.
Vidasaudavel.PowerMinas.com.br.
Observe alguns alimentos que acidificam
Acessado em 29/10/2012).
o nosso organismo:

A valorização dos recursos


naturais como fonte alimentar é
indispensável ao organismo humano.
(...) açúcar refinado, que não tem Mas para isso é preciso alertar nossa
proteínas, nem gorduras, nem população com trabalhos educativos em
mineral, nem vitaminas, apenas relação às causas e consequências de cada
hidrato de carbono refinado, que produto, sem falar no uso de agrotóxicos,
pressiona o pâncreas. Carnes (todas). fertilizantes, pesticidas etc. É preciso
Leite de vaca e derivados (queijos, que haja palestras, debates, discussões,
iogurtes, requeijão). Sal refinado.
seminários com profissionais da área de
Farinha refinada e derivados
(massas, bolos, biscoitos etc.).
competência para esclarecimento sobre
Produtos de padaria: margarina, sal, os hábitos alimentares e, para evitar
açúcar, refrigerante, álcool, tabaco, sintomas patológicos ou outras doenças,
cafeína (chá preto, café, chocolate). dentre as quais, o câncer,
Medicamentos antibióticos.
Qualquer alimento cozido; o
cozimento elimina o oxigênio e
o transforma em ácido; inclusive
as verduras cozidas. Tudo que (..) que não se contrai nem se herda, o que se herda
contenha conservantes, corantes, são os costumes alimentícios, ambientais e o estilo
aromatizantes, estabilizantes. Enfim, de vida que produz o câncer” (www.Vidasaudavel.
todos os alimentos enlatados e PowerMinas.com.br. Acessado em 29/10/2012).
industrializados. (www.Vidasaudavel.
PowerMinas.com.br. Acessado em
29/10/2012). Somente com um processo
de reeducação alimentar poderá
haver mudanças em nossa população
para alcançar os melhores índices de
longevidade e vida saudável. Pois, no
Agora, faremos uma abordagem princípio da Criação
dos alimentos alcalinizantes, que fazem
com que as células desempenhem bom
funcionamento e, consequentemente,
todo o nosso organismo. Vejamos:
“disse Deus ainda: Eis que vos
tenho dado todas as ervas que dão
sementes e se acham na superfície
de toda terra e todas as árvores em
Todas as verduras cruas (algumas são que há fruto que dê semente: isso
ácidas ao paladar, porém dentro do vos será para mantimento”. (Gen.
organismo tem ação alcalinizante) 1:29).
produzem oxigênio, cozidas, não.
Frutas, igualmente as verduras,
dentro do organismo, são altamente Podemos afirmar que, desde o
alcalinizantes. As frutas e sementes princípio, o Criador de todas as coisas
produzem quantidades saudáveis permite ao ser humano que faça o uso
de oxigênio. Os cereais devem e consumo de alimentos da forma mais
ser consumidos cozidos. O mel é natural possível.
altamente alcalinizante, assim como
a clorofila das plantas (sobretudo
a Aloe Vera, conhecida como
babosa). A água é importante para

143
Tatuí, SP. Casa Publicadora Brasileira,
1990.
REFERÊNCIAS
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(acessado em 15/10/2012).
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VIDAL, Eunice Lene. O Sabor da Saúde:


O Alimento Certo para Você Viver bem.
Tatuí, São Paulo. Casa Publicadora
Brasileira, 2011.

WHITE, Ellen G. A Ciência do Bom Viver.

144
Apêndice

QUESTIONÁRIO

ESCOLA ESTADUAL DEPUTADO ARMANDO DE SOUZA MENDES

Alunos: 6º e 7º Anos do Ensino Fundamental

Nome (não é obrigatório):______________________________Ano:___________

QUESTIONÁRIO SOBRE ALIMENTAÇÃO

1. Pela manhã, você faz em casa seu desjejum?

( ) sim ( ) não ( ) às vezes

2. No seu desjejum você utiliza:

( ) pão ( ) queijo ( ) Nescau ( ) manteiga/margarina

( ) leite ( ) frutas ( ) mingau ( ) bolos

3. Na hora do lanche em sua escola ou em outro lugar, você lancha:

( ) suco ( ) sanduíche ( ) salgado ( ) bolo

( ) bolacha recheada ( ) refrigerante

( ) salgados ( ) salada de frutas

4. Quais desses alimentos você mais consome na sua alimentação diária?

( ) carne ( ) frango ( ) macarrão

( ) ovos ( ) salsicha ( ) cará

( ) farinha ( ) arroz ( ) macaxeira

( ) peixe ( ) feijão ( ) batata

5. Se você pudesse escolher seus alimentos, qual ou quais seriam?

145
6. Se você fosse convidado(a) para almoçar em um restaurante ou casa de um(a)
amigo(a) e fossem servidos os pratos abaixo, qual você escolheria?

( ) carne ( ) frango ( ) peixe ( ) verdura

7. Você pratica atividade física?

( ) sim ( ) não ( ) às vezes

8. Você bebe água:

( ) sempre ( ) quando sente sede ( ) às vezes

9. Você gosta da merenda de sua escola?

( ) sim ( ) não ( ) às vezes

10. Se você pudesse escolher a merenda de sua escola, qual seria?

11. À que horas da noite você costuma deitar para dormir?

( ) às 20:00h ( ) às 21:00h ( ) às 22:00h ( ) às 23:00h

( ) às 00:00h

12. Você acorda pela manhã:

( ) às 05:00h ( ) às 06:00h ( ) às 07:00h ( ) às 08:00h

13. Durante a noite, você dorme bem?

( ) sim ( ) não ( ) às vezes

146
14. Você tem dificuldade para dormir durante a noite?

( ) sim ( ) não ( ) às vezes

15. Você sente sono durante os tempos de aula?

( ) sim ( ) não ( ) às vezes

147
O ALTO ÍNDICE DE
REPROVAÇÃO EM
MATEMÁTICA NO
6º ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
EM UMA ESCOLA
MUNICIPAL DE
MANAUS
O ALTO ÍNDICE DE REPROVAÇÃO EM MATEMÁTICA NO 6º ANO
DO ENSINO FUNDAMENTAL EM UMA ESCOLA MUNICIPAL DE
MANAUS

SOARES, Nilza de Souza1

SILVA, Cirlande Cabral da2

MACIEL, Hiléia Monteiro3

Resumo
Este trabalho trata dos motivos mais pertinentes ao alto índice de reprovação em matemática. Foi
realizado com alunos do 6º ano, na Escola Municipal Abílio Alencar, com o intuito de minimizar
essa triste realidade. A metodologia utilizada foi a coleta de dados referentes aos resultados de
desempenho dos alunos, na disciplina de matemática, nos anos de 2010, 2011 e 2012. Realizaram-
se jogos pedagógicos com o objetivo de buscar, dentro da realidade vivida na escola, quais eram
os motivos pelos quais os alunos reprovavam tanto em matemática. Com base em todos os dados
levantados, pudemos observar que aparecem com muita frequência, fatores como a defasagem
do aprendizado e a falta de interesse dos alunos em estudar e aprender o que está sendo
proposto. Conhecer estas causas é imprescindível para entendermos como podemos ajudar a
tornar o ensino-aprendizagem desta disciplina mais interessante e atrativo para os alunos.

Palavras-chave matemática; reprovação; ensino-aprendizagem

1 26
Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal de
Educação, Ciências e Tecnologia do Amazonas- IFAM. E-mail para contato: soarenilza.niza4@
gmail.com
2 27
Doutor em Ensino de Ciências e Matemática e professor efetivo do Instituto Federal
de Educação, Ciências e Tecnologia do Amazonas- IFAM. E-mail para contato: cirlandecabral@
gmail.com
3 28 Mestra em Educação em Ciências na Amazônia pela Universidade do Estado do
Amazonas – UEA, e professora da SEMED/SEDUC. E-mail para contato: hileiamaciel@gmail.com

142
O ALTO ÍNDICE DE REPROVAÇÃO EM MATEMÁTICA NO 6º ANO
DO ENSINO FUNDAMENTAL EM UMA ESCOLA MUNICIPAL DE
MANAUS

SOARES, Nilza de Souza

SILVA, Cirlande Cabral da

MACIEL, Hiléia Monteiro

Abstract
This work addresses the most relevant reasons that lead to high failure rate in mathematics . The
aim of this study was to investigate the high rate of school failure in the 6th grade students in the
discipline of mathematics at the Municipal School Abilio Alencar and reduce or minimize this sad
reality in schools . Methodology as data relating to the results of student performance in the years
2010 , 2011 and 2012 were collected . Educational games were performed, aiming to seek about
the experience in school what were the reasons for which students reproach both in mathematics.
Based on all the data collected , we observed that two factors appear very often , which is the gap of
learning and lack of student interest in studying and learn what is being proposed . Knowing these
causes is essential to understand how we can help make the teaching and learning of this most
interesting and attractive for students discipline.

Keywords: mathematics, reproof, teaching and learning

143
INTRODUÇÃO Se o ensino da matemática fosse
relacionado às necessidades diárias e
à realidade vivida, ele se tornaria mais
interessante, e os assuntos poderiam ser
Apesar dos esforços em propor apresentados de maneira mais clara e
mudanças no ensino da matemática nos significativa, proporcionando motivação
últimos anos, esta disciplina continua e momentos de prazer.
sendo considerada a grande vilã dentre as
áreas do conhecimento, responsável pelos Muitos alunos apresentam
altos índices de reprovação dos alunos. dificuldades para aprender a matemática
da sala de aula, embora possam ter
Os problemas apresentados em muita facilidade em lidar com diversas
relação ao seu ensino, em todos os níveis, situações como, por exemplo, dar um
não são novos e se mostram de forma troco, medir a distância certa entre um
variada e com graus de complexidade ponto e outro, ou então fazer uma pipa.
distintos, quase sempre difíceis de Todas essas circunstâncias envolvem a
resolver. Neste trabalho, pretendemos matemática, e eles conseguem resolver
refletir sobre alguns dos aspectos que esses tipos de problemas, às vezes até
normalmente dificultam a aprendizagem ensinam aos colegas como fazer. O
da matemática, como: falta de interesse fracasso na aprendizagem dessa matéria
dos alunos, metodologia não condizente não pode ser visto com conformismo
com a realidade, falta de aperfeiçoamento pelos educadores matemáticos. É preciso
de técnicas que estimulem o interesse do que eles percebam a hora e a necessidade
aluno na disciplina. Muitos problemas são de mudar suas práticas metodológicas e a
apontados, logo não se pode afirmar que forma de avaliar, tendo em vista o pleno
um ou outro é o único responsável por desenvolvimento cognitivo dos alunos
existirem tantos alunos com dificuldades e, consequentemente, a facilitação do
em aprendê-la. processo educacional.

Para alguns professores, o aluno A reprovação na disciplina de


chega ao ensino fundamental com matemática representa um grande
uma falha na aprendizagem que vai fracasso para o aluno. Esse fracasso
progredindo à medida que sua vida escolar reflete inúmeras dificuldades na vida
se desenvolve. Para outros, os alunos não do educando, como a exclusão social,
querem saber de nada, uma vez que são a busca pelos subempregos, as poucas
obrigados a frequentar a escola. Muitos oportunidades de avançar na vida
deles, senão todos, veem o ensino fora da profissional e de obter, plenamente, a
realidade. Em matemática, por exemplo, realização pessoal.
há cálculos e mais cálculos realizados
sem uma justificativa clara e concreta, Outro ponto a considerar na
reprovação e fracasso do aluno sob tais
ocasionando antipatia pela matéria.
aspectos é o lado emocional abalado pelo
Deste modo, o conhecimento de sentimento de frustração e incompetência
algumas destas causas pode orientar nossa diante dos desafios e dificuldades não
futura prática como professor na busca de superadas nesta disciplina. O estudante
soluções para reduzir esses problemas acaba se considerando incapaz para a
que, cada vez mais, têm aumentado, aprendizagem da matemática e muitas
prejudicando assim o futuro dos vezes abandona a escola para livrar-
educandos no nosso país. Sabemos que se desse sentimento de incapacidade.
o desinteresse que os alunos apresentam Podemos afirmar que a reprovação e o
tem relação com o baixo rendimento, o fracasso na educação matemática elevam
que eleva o índice de reprovação, no qual a baixa-estima e a desmotivação para a
se insere a matemática, entre as disciplinas aprendizagem.
que mais provocam evasão escolar. Diante do exposto, não podemos

144
nos contentar em apenas verificar as decorre, pois, essencialmente, do
reprovações em matemática, mas é de fato de se principiar pela linguagem
suma importância encontrar caminhos (acompanhada de desenhos, de
ações reais fictícias ou narradas etc),
para amenizar esse problema, favorecendo
ao invés de fazer pela ação real e
o desenvolvimento e sucesso de todos os material.
alunos na construção e aprendizagem do
conhecimento matemático.
A aprendizagem da matemática
Segundo Fiorentini (2008), o papel envolve inúmeros conflitos entre
do professor desta ciência é ajudar os professores e alunos. Tais conflitos são
alunos a gostarem de matemática e a resultantes de um olhar negativo sobre
desenvolverem autoestima positiva, já a disciplina, construindo barreiras que
que estudando as causas das dificuldades acabam dificultando a aprendizagem
na aprendizagem da disciplina podem significativa de seus conteúdos. Diante
conseguir melhores resultados no seu dessa questão, Pires (2006) se pergunta
ensino. Sendo assim, nos propomos a “qual a reação dos nossos alunos quando
investigar o alto índice de reprovação o assunto é matemática?” Essa inquietação
escolar dos alunos do 6º ano, na disciplina deixa-nos cada dia mais “inconformados”
de matemática, da Escola Municipal Abílio em relação ao seu ensino no contexto
Alencar, com o intuito de minimizar essa escolar, visto que ela faz parte da nossa
triste realidade no âmbito escolar. vida diária. No entanto, muitos de
nossos alunos se julgam incapazes de
compreender tal ciência.

Para Vigotsky (1991),


conhecimento é um produto de interação
social da cultura, sustentando que todos
1. Fundamentação Teórica os processos psicológicos e superiores
(comunicação, linguagem, pensamento,
De acordo com Imenes et al. (1997): etc.) são adquiridos primeiro num
“A matemática é importante não só pela contexto social e, depois, se internalizam.
sua utilidade prática, mas também como Portanto, toda a situação de aprendizagem
exercício e aventura da nossa própria possui uma história prévia, um caminho
mente”, de modo que interfere fortemente que teve que ser percorrido em meio de
na formação de capacidades intelectuais, articulações com o meio físico e o social.
na construção do pensamento e na Desta forma, o professor deve atuar como
agilização do raciocínio dedutivo do mediador, interagindo com o aluno,
aluno. contribuindo para que este construa
novas respostas para as situações-
Ao analisar as razões ou motivos problemas que lhe são colocadas como
do fracasso do discente no ensino desta desafios. Reconhecendo que o aluno é
disciplina, alguns matemáticos têm capaz de realizar as atividades, com e sem
mostrado, através de estudos e pesquisas, ajuda externa, é que se pode conseguir
que os alunos chegam às séries posteriores planejar as situações de ensino e avaliar
e até mesmo nas universidades sem os progressos individuais.
o domínio do conhecimento lógico-
matemático, conhecendo apenas a Por isso, o ambiente em que o aluno
matemática tradicional. A esse respeito, vive e os contatos sociais são importantes
Piaget (1973) comenta que: na construção do conhecimento, visto
que precisa haver estímulos, cooperação
e trocas para que o potencial que todos
possuem se torne conhecimento real; um
ambiente rico em que há possibilidades
(...) sem dúvida, a verdadeira causa de aprender, com certeza, permitirá
do fracasso da educação formal aos alunos a chance de conhecer e de

145
desenvolver-se mais do que outro aluno até mesmo a evasão escolar. A falta de
que viva onde essas possibilidades sejam preparo do professor não permite que
menores. eles percebam a forma que abandonam
determinados conteúdos de matemática,
A aprendizagem é fruto da realidade sendo que muitos, infelizmente, não
histórico-social, ou seja, o processo de favorecem a aprendizagem do aluno.
desenvolvimento é a apropriação ativa do No entender de Dante (1989, p. 12), “o
conhecimento disponível na sociedade, professor não é responsável pelo tipo
sendo a educação um produto da interação de ensino que recebeu, mas tem uma
social da cultura. Como sabemos, a grande responsabilidade sobre o que leva
aprendizagem não entra em contato pela para as aulas”. Outra importante análise
primeira vez na idade escolar, mas está referente ao insucesso da aprendizagem
ligada entre os vários desenvolvimentos na matemática está relacionada à
desde os primeiros dias de vida do ser descontextualização dos conteúdos,
humano, que, antes de ir para a escola, muitas vezes ensinados sem nenhuma
já desenvolve uma compreensão da relação de interdependência entre a
matemática no cotidiano através das matemática e o cotidiano, levando os
noções de ganho e perda, sem contar alunos a não perceberem a aplicabilidade
as que trabalham e estão acostumadas desses conteúdos conceituais no
a fazer cálculos. A esse respeito, Santos contexto social. Muitas vezes, o educador
(1997) salienta que: preocupa-se primeiramente com o
conteúdo programático para aquela
turma, esquecendo-se da verdadeira
essência, que é o aprendizado dos alunos.
É justamente esse conhecimento que
a escola não valoriza e nem mesmo Dessa forma, o ensino da
reconhece. Faz-se necessário então matemática acaba, na maioria das vezes,
reconhecê-lo, valorizá-lo e permitir resumindo-se à mera transmissão de
que ele penetre na escola. É preciso informações dos conteúdos contidos nos
que nos treinemos e capacitemos livros didáticos, sem a mínima relação
para ouvi-lo. com a realidade do aluno. D’Ambrósio
(1976) diz que “a preocupação maior no
Em vez de a escola valorizar os ensino da matemática está em levar ao
processos intuitivos espontâneos que o conhecimento do aluno uma série de
aprendiz traz consigo de suas experiências algoritmos, fórmulas e símbolos, sem
cotidianas e ir construindo uma que fique explícito para quê servem,
linguagem matemática para expressar onde e como serão usados”. Não há, pois,
essa experiência, encaminhando-a para uma preocupação maior de integrar
abstrações mais gerais, a escola opta por os conteúdos matemáticos com outras
adestrá-la. Esta compreensão significa áreas do conhecimento. Sendo assim,
que o aprendizado das estruturas a matemática, hoje, não pode mais ser
mentais, organizadas pela ação, têm um vista como uma ciência abstrata, mas sim
caráter de integração em formação, e que como uma área de papel bem definido,
a ação constitutiva de todo conhecimento de formação de pensamentos e aquisição
é a assimilação dos objetos. Pois, como de atitudes, propiciando ao aluno o
sabemos, o homem nasce com potencial desenvolvimento de competências,
para aprender, mas essa capacidade só habilidades e a capacidade de resolver
poderá ser desenvolvida quando este problemas, investigar, analisar e enfrentar
interagir com o mundo e experimentar novas situações e desafios, ou seja, ser
o objeto de conhecimento na reflexão capaz de ter uma visão ampla da realidade.
sobre a ação.
Precisamos entender que o ensino
Por outro lado, se o aluno não e a aprendizagem dessa disciplina estão
perceber a importância da aprendizagem, passando por um profundo processo de
acabará acontecendo a reprovação ou renovação. Renovação esta não apenas

146
de conteúdos, mas principalmente de declaram sua rejeição, não sentem prazer
objetivos e de metodologias. Segundo em resolver problemas matemáticos,
Cury (2001), a aprendizagem hoje não declaram ainda que não gostam das aulas,
é vista mais como a simples transmissão pois são muito chatas. Alguns asseveram
e recepção de informações, mas sim que não entendem nada do que o professor
como um processo de construção fala, dentre outras queixas. Este fato pode
de conhecimentos, que é favorecido ser observado desde os primeiros anos
mediante a estimulação da investigação e de escolarização até os cursos superiores.
participação dos alunos. Sem dúvida, a matemática é rigorosa em
suas demonstrações e aplicações, contudo
Sabemos que os professores de necessita ser assim pela fidelidade ao
Matemática têm passado por momentos modelo que pretende representar para
angustiantes no que se refere às questões dar credibilidade ao fenômeno estudado.
de aprendizagem. Por ser uma área que Talvez por ser tão rígida, provoca certo
trata da complexidade dos números, medo aos alunos que a acham difícil,
os problemas de ensino-aprendizagem criando, assim, uma relação áspera, às
nesta área são gritantes tanto nas aulas vezes até traumática, que pode culminar
teóricas quanto nas aulas práticas. em dificuldade. Uma das hipóteses que
Os vestígios herdados dos reflexos pode ser levantada a partir daí é a de que,
históricos de um ensino reprimido da quando o aluno não consegue relacionar
matemática até hoje refletem em nossos os conteúdos matemáticos ensinados a
alunos, e isto tem comprometido o ele na escola com sua vivência, a tendência
ensino-aprendizagem nesta área de é evitar a matemática por não ter sentido
conhecimento. Atualmente, a matemática para ele. Para a maioria dos estudantes,
é uma disciplina que faz parte dos não há construção do conhecimento
componentes curriculares da educação matemático. Por isso, em vez de
básica, a qual contribui significativamente compreenderem, passam a memorizar
para a formação dos alunos. Embora seja os conteúdos para conseguirem notas
uma disciplina obrigatória, são grandes nas provas e, em vez de desenvolverem
os problemas vividos nesta relação raciocínio, eles desenvolvem a memória,
professor-aluno. Apresentam-se como e não buscam o efetivo conhecimento da
dificuldades dos alunos a falta de atenção, matéria.
comportamentos desajustados, falta de
afetividade, falta de compromisso com Os novos currículos em processo
o processo de aprendizagem. Muitas de generalização marcam um importante
vezes estes problemas decorrem da progresso, prevendo, por vezes, o uso
postura do professor, dificultando a de metodologias inovadoras, orientadas
lógica do raciocínio e acarretando um para a participação ativa dos alunos na
desinteresse dos alunos na participação descoberta dos conceitos, mas quando é
das aulas. Entende-se que estes fatos preciso “ganhar tempo”, a primeira coisa
são ocasionados pela sua própria que se suprime são essas metodologias.
história, na qual a matemática sempre
foi vista e rotulada pelos alunos como Segundo Lorenzato, (2006)
a pior disciplina da escola; até mesmo “o sucesso ou o fracasso dos alunos
professores alimentam esta cultura de diante da matemática depende de uma
dificuldades, talvez contribuindo para a relação estabelecida desde os primeiros
evasão e a reprovação, consequentemente, dias escolares entre a matemática
excluindo o aluno do meio escolar. e os alunos”. Por isso, o papel que o
professor desempenha é fundamental
É fácil observar na comunidade para a aprendizagem dessa disciplina,
escolar que a relação entre aluno e e a metodologia de ensino por ele
matemática não é das mais amistosas. empregada é determinante para o
Muitos são enfáticos quando afirmam comportamento dos estudantes. Para
não gostarem desta disciplina, até mesmo tanto, o educador precisa motivar seus
os alunos que têm bom rendimento alunos com metodologias inovadoras,

147
pois sem interesse não há atenção. de 2012, e aos pais de alunos, buscando
identificar as dificuldades com relação à
No entanto, para conseguir motivar matemática.
o aluno, é necessário que o docente
também esteja motivado, que tenha amor O passo seguinte foi o
pela profissão, que respeite o seu aluno da acompanhamento da realização de jogos
mesma forma como deseja ser respeitado, matemáticos com os alunos, feito pela
que demonstre segurança naquilo que professora, com o objetivo de mostrar
está ensinando e que se coloque como a eles que esta disciplina pode ser
um eterno aprendiz, aceitando as críticas trabalhada de maneira mais divertida,
e sugestões dos alunos, pois estas podem de modo a envolvê-los em uma aula
ajudá-lo a melhorar como professor. dinâmica e prazerosa.

No entender de Parra (1996), a


escola precisa ser um espaço que envolva
o aluno, ajudando-o no engajamento
3. Resultado e Discussão
social e na busca de sua realização, ou seja,
a escola é um lugar possível de educação
consciente, crítica, criativa e participativa.
Durante as entrevistas, alguns alunos
disseram que não gostam da matemática,
pois nas aulas aprendem conteúdos que
2. Metodologia nunca irão usar e tampouco ter aplicação
prática. Assim, percebemos o quanto é
importante que o professor relacione os
O presente estudo caracteriza-se conteúdos matemáticos à prática, para
como descritivo, pois, segundo Lakatos que desperte no aluno maior interesse em
e Marconi (2003), a pesquisa descritiva estudá-los.
aborda quatro aspectos principais:
descrição, registro, análise e interpretação O aluno A disse que nunca foi bem
de fenômenos atuais, objetivando o seu em matemática: “sempre tive dificuldades
funcionamento na realidade. O presente e por isso não gosto de matemática”. Já a
estudo busca descrever, registrar e aluna B afirma que gosta porque sempre
analisar os dados coletados no decorrer foi bem na disciplina: “minha mãe sempre
da pesquisa de campo, que tem como me ajuda com os deveres em todas as
objetivo conseguir informações acerca de disciplinas, por isso, gosto de matemática”.
um problema para o qual se procura uma
resposta. Ao analisar o histórico escolar destes
alunos, observamos que, realmente, os
A primeira etapa do processo que disseram não ter bom rendimento
metodológico foi apresentar a proposta da na disciplina, tinham notas baixas em
pesquisa à direção da escola, professores matemática desde os primeiros anos
e alunos. Em seguida, foi feito um da sua vida escolar, e os alunos que
levantamento sobre o rendimento escolar disseram que sempre foram bem, tinham,
dos alunos na disciplina de matemática, desde os seus primeiros contatos com a
com o intuito de verificar como as notas matemática, boas notas.
dos alunos do 6º ano se encontram quando
iniciam o ensino fundamental II, sendo Assim, podemos constatar que as
que, no ano de 2010, havia duas turmas primeiras experiências com a matemática
do 6º ano com 76 alunos matriculados, podem ser um fator de grande influência,
em 2011, três turmas com um total de pois se o aluno desde o início está tendo
98 alunos matriculados na disciplina e notas baixas ele pode se julgar incapaz,
em 2012, quatro turmas com 139 alunos. desmotivado a aprender, já que não
Posteriormente, aplicou-se questionário consegue obter bons resultados.
aos alunos, ao professor da turma do ano
Outros alunos falam que não gostam

148
de matemática porque não gostam do realidade na qual vivemos. Assim, nos
professor, por ele não animar e motivar perguntamos: como um aluno pode estar
as aulas, ou ainda por outros motivos. A motivado a aprender se o meio social em
relação de afetividade entre professor que vive não permite?
e aluno, nesse caso, pode ter influência
direta sobre a matéria ensinada. Sabemos Em relação à entrevista com os pais,
que alunos que não se dão bem com o o caso que mais chamou a atenção foi um
professor também criam uma antipatia em que o pai era professor de matemática
por sua disciplina, isso pode afetar e o filho não gostava de tal disciplina. Ao
diretamente o rendimento escolar dos questionar pai e filho, percebemos que
alunos em questão. o pai cobrava muito do filho quanto à
matemática; ele esperava que seu filho
Durante as entrevistas, alguns alunos fosse o melhor aluno da turma e para
admitiram também que não gostam de isso obrigava o filho a estudar muito,
matemática devido a alguns conteúdos não deixando um tempo para o filho se
exigirem raciocínio; eles preferem as divertir, descansar etc. Observemos a fala
disciplinas decorativas, uma vez que basta do professor:
alguns conceitos para irem bem em provas
e trabalhos. Isso demonstra que o excesso (...) quando se é professor queremos
do uso da memória pode levar o aluno a cobrar muito dos nossos filhos,
criar uma certa acomodação, fazendo com achando que se os deixarmos muito
que ele não goste de situações que exijam livres vão seguir caminho errados,
raciocínio e não apenas memorização. por isso falo para meu filho e cobro
mesmo porque quero o seu melhor,
Quando a entrevista foi feita com o mesmo porque a sociedade também
professor, este afirmou que os alunos não cobra, dizendo: “olha, nem parece
têm interesse em aprender, ou ainda, que filho de professor”, não sabe nada,
e esse professor ainda cobra dos
não têm o apoio dos pais, o que é muito alunos para aprenderem se nem o
importante para que o aluno estude. Eis a filho dele sabe.
fala do professor:
Em alguns questionários com os
pais, foi possível observar casos onde os
pais não gostavam da matemática e o
Sempre gosto de complementar filho também. Um pai disse o seguinte:
meus trabalhos passando atividades
para o aluno fazer em casa, mas A escola é que deve ensinar meu
nem todos trazem o que eu solicito, filho, os professores são pagos
dizem que não tiveram tempo pra isso e, se ele não gosta e se é
porque estavam ajudando os pais reprovado em matemática, é porque
ou porque tinham outros trabalhos os professores não estão sabendo
para realizar. E isso fica muito difícil ensinar. Um outro afirmou: “no meu
para o meu trabalho, pois, vejo o tempo em que estudava também
desinteresse de muitos alunos e pais não gostava de alguns conteúdos
que não incentivam seus filhos em matemática, porque não sabia onde
casa. iria usar”.

Também os pais neste caso, ao


A fala desse professor demonstra falarem que a matemática é difícil ou que
a realidade do nosso ensino: alunos tem conteúdos inúteis, passam para o
desinteressados, a família que não dá o filho, inconscientemente, a ideia de que
suporte necessário, ou então a maioria o filho poderá torná-la consciente a partir
dos alunos que precisa trabalhar para do momento em que se deparar com
ajudar no sustento dela. Essa é a triste qualquer dificuldade na disciplina.

149
Através dos questionários, dos alunos;
observamos em alguns casos que esta
rejeição pela matemática pode apresentar • entender que a baixa escolaridade
mais de uma causa, por exemplo: associar dos pais e o meio podem ser fatores de
a antipatia pelo professor à disciplina, influência e de decisão para a continuidade
conteúdos não condizendo com a da escolaridade dos filhos;
realidade, aula conteudista sem nenhuma
dinamicidade. • desafiar o aluno a superar o comum,
propondo criatividade, arrojo e superação;

• detectar e combater as lacunas de


aprendizagem existentes na turma e em
CONSIDERAÇÕES FINAIS particular;

• adequar as estratégias, materiais e


Por meio das respostas dadas aos metodologias à realidade de cada turma
questionários e às entrevistas, foi possível e da comunidade em que estão inseridas;
constatar que as causas do alto índice de
reprovação são oriundas de vários fatores • estabelecer conexões matemáticas entre
e estão ligadas diretamente com o meio os novos conceitos e os que já foram
em que o aluno vive, ou seja, com os estudados, assim como com a história da
pais, professores e amigos, pois estes o matemática;
influenciam, tanto de maneira consciente
• promover laços de afetividade entre o
como de maneira inconsciente, tanto
professor e o aluno que ajudarão o aluno a
positiva como negativamente.
aproximar-se do professor de matemática
Após realizar diversas leituras, e consequentemente da disciplina;
entrevistas e análises, constatamos,
• fazer a ligação entre a matemática teórica
mesmo que de maneira superficial, que
e a matemática prática.
as causas do alto índice de reprovação em
matemática são ou estão relacionadas à Portanto, é essencial que haja
ideia pré-concebida de que a matemática uma mudança na forma de educar,
é difícil, à falta de interesse, a uma uma mudança que desperte no aluno o
autoimagem negativa que o aluno tem de interesse e a motivação em aprender a
si próprio, à falta de apoio familiar, à falta matemática.
de motivação devido aos conteúdos não
terem uma aplicação prática e à falta de
incentivo de alguns professores.

A partir destas causas, fizemos REFERÊNCIAS


uma análise de nossa prática pedagógica,
da qual se pôde levantar algumas
alternativas que, principalmente os CURY, Helena Noronha. Formação de
professores podem tomar para que haja Professores de Matemática: Uma
uma atitude de mudança quanto ao alto Visão Multifacetada. Ed. 1, Porto Alegre:
índice de reprovação relacionado aos Edipucrs, 2001.
conhecimentos matemáticos. Assim,
acreditamos que todos os professores
deveriam:
FIORENTINI, Dario. A formação
• fazer uma reflexão e uma autoavaliação matemática e didático-pedagógica
da sua prática pedagógica e estar em nas disciplinas da licenciatura em
formação contínua; matemática. Disponível em: http:<www.
capem.fae.unicamp.br.html.> Acesso em:
• conhecer a realidade socioeconômica
4 de out. 2008.

150
IMENES, Luiz Márcio; LELLIS, Marcelo.
Matemática. 4 volumes. São Paulo:
Scipione, 1997.

PARRA, Cecilia. (org). Didática


da Matemática: Reflexões
Psicopedagógicas. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1996.

PIRES, V. E. O. O ensino da matemática


nos dias atuais. Disponível em:
http:<www.somatematica.com.br/
coluna/educ.html>. Acesso em: 4 de out.
2008.

PIAGET, Jean. Biologia e conhecimento:


ensaio sobre as relações entre as
regulações orgânicas e os processos
cognitivos. Petrópolis, Vozes, 1973.

SANTOS, Vânia Maria Pereira (coord.).


Avaliação de aprendizagem e
raciocínio de Matemática. Rio de
Janeiro, Instituto de Matemática da UFRJ
– Projeto Fundão, SPEC/PADCT/CAPES,
1997.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e
Linguagem. São Paulo: Martins Fontes,
1991.

151

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