Em um certo ponto da linha do tempo, na quase metrópole de Mossoró, em um kitnet comum
e simples, vivia Margarida: uma jovem adulta, da cor do chocolate meio amargo, cabelos pretos e longos pranchados a ferro. Vinda recentemente de uma comunidade rural das redondezas, Margarida não havia se adaptado ainda ao ritmo da cidade. Estava lá porque soube através do rádio que iria haver uma prova para o ingresso na renomada Universidade Todos, e que a nova Lei de Cotas da vez contemplaria uma vaga para os inscritos no curso Determinado que vivessem em comunidades rurais carentes (os chamados sem-nada). No mesmo instante que ouviu a informação, Margarida tratou de avisar aos pais; e apesar de os pais não gostarem muito da ideia, em uma semana já estava com suas malas prontas. Agora, em seu kitnet, Margarida pensa nas palavras que seus pais disseram: “Mia fia, fique aqui cum nóis, num vai não.”; “Olhe mia fia, onde você tiver, a gente estaremos com você tamem. Se é isso que você quer mermo... então vá... estude muito lá pra conseguir um trabalho bem bom, Deus te abençoi.” Margarida, apesar de viver em comunidade rural e ter pais analfabetos, era estudada: sabia somar, dividir, subtrair e multiplicar. Conseguiu com muito esforço terminar o ensino médio em uma escola de baixa qualidade de ensino (que ficava à quilômetros de casa), todavia, tinha prazer em estudar, ler e escrever. Sonhava com um futuro brilhante, ajudando cada um que visse, mas principalmente seus pais e irmãos. Porém as oportunidades eram poucas, e Margarida não tinha muitas chances. Ao surgir essa da Lei de Cotas, ela sentiu que havia chegado sua hora de buscar o seu sonho, e de brilhar. Existem muitas dificuldades a se enfrentar, se você é acostumado no campo e está indo à cidade pela primeira vez. Todavia Margarida não se deixou abater: mantinha sua vista focada no futuro, e estava disposta a renunciar tudo aquilo que fosse preciso. O dinheiro que tinha era pouco, com ele pagou sua inscrição, seus 2 livros de estudo, pagou 3 meses de aluguel, e mantinha o resto para sustento e o pagamento das demais contas (água e luz). Margarida, coitada, por possuir poucas coisas às vezes se encontrava pensando no que as outras pessoas falavam a respeito dos moradores de comunidades carentes como a dela (os sem-nada); chorava um pouco, mas conseguia esquecer se lembrando dos seus momentos de infância: quando brincava de imaginar chuva, quando brincava de comer uma maçã, de dormir em uma cama macia e suave, de vestir roupas lindas... O tão esperado dia da prova chegou! Margarida tratou em se arrumar, e após comer uma maçã de almoço, um copo d’água para se hidratar, foi a pé para a Universidade Todos (local da prova), levando consigo somente uma caneta, um caderno e sua confiança. Para sua felicidade, além de estar concorrendo sob uma Lei que contempla sua situação, estava concorrendo sozinha nela! Fez sua prova, e dos 100 pontos que a prova valia, Margarida tirou 65: Passou! Sentia-se tão feliz, finalmente realizaria o seu sonho de poder ajudar os outros; de dar uma vida melhor aos seus pais. Uma semana depois da prova Margarida foi fazer sua inscrição, sempre com muita alegria. Sabia que todo seu esforço, toda a sua renúncia estavam dando resultados. Graças a sua “reserva” a “sem-nada” conseguiu passar. Agora, iria mostrar ao mundo que sua história é um exemplo de que mesmo não tendo nada, na escola na vida não lhe faltou uma coisa: As oportunidades.
João Marcos Oliveira Silva
1° ano – Eletrotécnica (1.02201.1M) Professora: Mônica Freitas