Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
. SLIDE 8
A “clientela” de Pindaro: Aimé Puech, na introdução à sua tradução de
Píndaro publicada pela Belles Lettres, observa que, entre as honras devidas
aos vencedores, havia duas que eram especialmente apreciadas: a
possibilidade de erigir uma estátua sua no Altis (recinto sagrado de Olímpia) e
propor a um poeta a composição de uma ode triunfal cantando o seu feito.
Ambas significavam altas despesas. Um exemplo desses dois tipos de honra é
fornecido pela família dos Deinomenides, que foram tiranos na Sicília. Eles
foram “clientes” dos poetas Baquílides e Píndaro, e este último compôs para
Hierão a Ia Ode Olímpica e as Odes Píticas Ia , IIa e IIIa. Seu irmão Polizalos
foi vencedor da corrida de carros em Delfos em 478 ou 474a.C. e dedicou ao
deus Apolo um grupo de esculturas em bronze, do qual chegou até nós a
estátua conhecida como o Auriga de Delfos. . SLIDE 9 Na parte conservada
da base do que foi esse grupo está escrito: “Polizalos me consagrou (...)
Abençoe-o, ó Apolo”.
Segundo Carrière, Gaillard, Martin e Mortier-Waldschmidt 4, Píndaro
trabalhou sob o comando de grandes famílias, em particular as da Beócia e de
Egina, para os tiranos da Sicília e os reis de Cirene, na África. Cânfora 5 coloca
3
Isto é, os estruscos.
4
La Littérature gréco-romaine - anthologie historique, ed. cit., p. 87.
5
Histoire de la Littérature Grecque – d’Homère à Aristote, ed. cit., p. 143.
4
Se o vencedor fosse uma criança, o seu mestre deveria ser mencionado. Esse é
o caso da IVa Ode Nemaica, em que, no verso 151, Píndaro nomeia o mestre
(alipte) do jovem Tisamarco de Egina, vencedor da luta na categoria meninos.
Como Píndaro é o representante de um pensamento aristocrático que
considera que a educação é apenas um dos dois fatores que determinam a
excelência – o outro é a hereditariedade – a família do atleta, sua antiguidade,
seus grandes feitos, deveria ser lembrada. Um bom exemplo para a influência
da hereditariedade pode ser encontrado na Xa Ode Pítica, dedicada a
Hipocléas da Tessália, vencedor da corrida dupla para meninos (versos 10-14):
SLIDE 14
6
O trecho acima também deixa claro que Píndaro não está interessado
nas multidões. Ele se dirige em primeiro lugar, a um nobre que é um atleta
vencedor, a seguir a uma platéia composta por aristocratas também eles
atletas, pertencentes à classe social que criou e que portanto entende a ética
que o poeta veicula.
8
Cf. Literatura en la Grécia Antigua, ed. cit., pág. 57.
9
Cf. Précis de Littérature Grecque, ed. cit., pág. 52.
10
elos com o fato a ser celebrado, isto é, a vitória de Hierão, Píndaro não parece
considerar que isso seja fundamental. De um modo geral, os mitos expressos
nas odes têm muito mais um valor de ensinamento do que o de instrumento de
glorificação do vencedor. Não é o mito quem está a serviço da vitória, e sim a
vitória que serve para a veiculação da moral aristocrática.
O mito vai do verso 25 ao verso 89. A partir do verso 90 torna-se clara a
característica circular do poema, pois ele começa e termina com o mesmo
tema: a glória de Olímpia e a de Hierão:
Versos 1 a 10:
Versos 90 a 117:
e propõe uma outra, em que a criança teria sido levada ao Olimpo por
Poseidon e que a versão do festim de Tântalo teria sido inventada por vizinhos
maledicentes, que não conheciam o verdadeiro paradeiro de Pélops.
Vários aspectos da moral arcaica podem ser encontrados na Ia Ode
Olímpica. Observe-se, em primeiro lugar, os versos 53-54: SLIDE 27
“(...) A impunidade
raramente cabe em sorte aos maldizentes.”
pois Píndaro está falando do castigo divino que fatalmente recairá sobre
aqueles que ousarem falar mal dos deuses. Por outro lado, da justiça divina
nenhum crime escapa, como o poeta deixa claro nos versos 63-64:
Tântalo, diante das honras que recebeu dos deuses, perdeu essa medida. Ele
esqueceu a sua condição de mortal e incorreu no pecado da hýbris ou
desmedida. Isso significa que ele ultrapassou os limites e a conseqüência seria,
necessariamente, o castigo dos deuses.
No enlaçamento que Píndaro tece entre os conceitos expostos na ode, o
relato do pecado da hýbris de Tântalo deve servir como exemplo para Hierão,
tal como está explícito nos versos 111-114:
Isto é, para Píndaro, a glória dos reis está acima de todas as outras glórias
humanas, mas Hierão não deve desejar a glória dos deuses, “olhar para mais
longe”, pois isso seria hýbris.
“Honra o meu filho, a quem coube um destino mais curto que aos outros.”
A opção por um destino glorioso com uma vida mais curta, que é a escolha de
Aquiles, ou por um grande feito que acarreta um grande risco – a escolha de
Pélops - é a opção do herói. É a busca da imortalidade do nome, e ela só se
realiza por meio da arte do poeta, que canta os feitos dos heróis, como vemos
nos versos 73-74 do canto VIII da Odisséia:
“(...) a Musa logo o incitou a falar sobre os feitos dos homens, gestas
de heróis, cuja fama o alto céu, nesse tempo, atingira, (...)”
Píndaro, ao compor as suas odes triunfais aos atletas vencedores realiza essa
função necessária à imortalidade do nome. Ele considera Olímpia o local
próprio para isso, como vemos nos versos 8-11: SLIDE 31
isto é, ele canta o filho de Cronos, Zeus o senhor de Olímpia, mas canta
também os feitos de Hierão de Siracusa. Ele assume a sua função de maneira
bastante clara no final do poema, a partir do verso 100:
Nesse caso, segundo o poeta, não se trata de uma obra qualquer. Píndaro
considera a sua arte elevada: SLIDE 32
Como um aedo homérico, ele está sob as ordens e o poder da Musa, deusa
protetora das artes:
12
cf. Paidéia, ed. cit., pág. 231 e segs
16
1 – Textos:
PINDARE – Olympiques, texte établi et traduit par Aimé Puech, Paris: Les
Belles Lettres, 1970.
PINDARE – Pythiques, texte établi et traduit par Aimé Puech, Paris: Les
Belles Lettres, 1977.
PINDARE – Néméennes, texte établi et traduit par Aimé Puech, Paris: Les
Belles Lettres, 1967.
2 – Estudos: