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aoa eo AHISTORIA DA FOTOGRAFIA CINEMATOGRAFICA, © periodo pré-clissico (de 189 até os anos 1920) [A primeira fase da hist da fotografia cinematogritic tem inicio junto com 0 proprio cinema, em 1895, ¢ esté dictamente igada ao staus de tansposicdo da realidad para as tel que 6 meio entdo desrutava Se uma das principais motivagdes do. pico para i is exiigdes do cinematsgrafo era ver @ vida tal qual ela ea, comegamos © entender mebior por qv, nests primeiros anos, a iz do teatro, atamente significative e codificada, nfo foi uma grande inne para a maior pate daquelaprodugio. E claro que houve, em alguns filmes, © esbogo de convengies que se cstabeleeram em momento ules (ndicar através do posisionamento em una rea de sombras do cenirio que determinado personagsm é mau, envolvr com uma aura Juminosa os mocinhos e ~prncipalment ~ as mocinhas da hist). Mas até a déeada de vine, isso foi excep, e no regra.AUé porque limitag es tecnokiyicas coldboravarn para que coisa no foss diferent. 0 180 dos filmes oscilava ene 6 e 8, algo impensével para nis hoje. Ou sj, cra hz pra todos os dos. Antes de se preocupar com efeitos huminosos, oS profssonas da época am que se preacupar com imprimir imagem 1 negativ. Esta imagem de um esto dos prmcros anos stra so bastante bem. Apenas uma das paredes& preta e impede a passager de hz, As demas so cheias de janes © 6 telo éde material transicido. Podemos deduzir que a grande forte de hu €0 sol, 0 ual ndo se pode controler. Até bavia alguns sistemas de difisdo, mas basta olhar pra Aaquitetura do lar pra pereebero quanto eles era lmizados. ‘Além disso, os primeitos filmes cram ortocromiticos, ou seja, pouguiss sensiveis és cores amareo, laraja e vermelho. Como nossa pele tem muito vermelho, nio € diffe imaginar a quantidade de maquiagern necessria para que, por exemple, 0 libios de todo mundo no imprimissem preto, E, vale lembrar, muita hz. (que é quase sinGnimo de calor) ¢ maguiagem ndo formam uma boa dup Poranto, nada de lu, desnecesséria: fazer com que as imagens das pessoas se aproximassem mais da 4243 Achared.comdociULZ4 TEnvpredennd 18 ra0s3 oo realidade (0 que era obtido com @ maquiagem) foi considerado proritirio em relago a efeitos expressivos da huz A atitude fotogrifica s6 vai conhecer suas primeiras mudangas substanciais na década de 1920, com o expressionismo alemio, Como a sensibildade das emulbes continuava baixa (embora houvesse passado para ISO 20), muitos fatores serio mobilizados para explicar as transformagbes fotogrificas empreendidas: a forte tradigio dde uma luz romintica — exacerbads, dramitica a derrota do pais na Primeira Guetra © ‘a ascensio do nazismo, o fato de a Alemanha ser obrigada a tabalhar com luz artificial, {ii que no contava com hz solar suficiente Independente de qual deles tenka realmente contribuido ou predominado, importa que, pela primeira ver na historia do cinema, um conjunto de filmes realizados no mesmo local em determinado espago de tempo se props a trabalhar a luz ndo como la era na realidade, e sim como um elemento 2 mais para transmitrinformagBes para 0 espectador ~ 0 que ¢ totalmente diferente de se utilizar a hz apenas para imprimir @ imagem. F como os alemaes fizerem isso? Com refletores de hiz artical e espethos, para que pudessem controlar o feite de luz e projetar as sombras tio caracteisticas do cexpressionismo. Ou seja, do mesmo jeito que sera feito hoje. Justamente por falar da histria, seus acontecimentos e personagens, através da luz, que 0 expressionisme aleméo & considerado um precursor do periodo clissico da fotografia cinematogrética. © periodo chissico (dos anos 1930 até os anos 1950) A fotografia clissica, em oposirao a pré-clissiea e & modema, se sustenta sobre © seguintetripé: dramatizagdo, hirarquizaeo e visbilidade ‘A dramatizagao nada mais € que o cariter teatrizado, expressivo, dramitico, metaforico, codificado e conotado da fotografia clissica, Se algum personagem & santo ou divino, ser uminado por uma luz também divina - ou seja, que vem de cima e no tem neshuma justifcativa dicgética, Como nesse frame do filme Joana D'Arc (Victor Fleming, EUA, 1948), 4243 Achared.comdociULZ4 TEnvpredennd ra0s3 oo Se um personagem é bonzinho ou frigil ou mulher, em quase todos os casos, sua luz serd suave, difusa (Mary of Scotland, BUA 1936) Se, por outro lado, o personagem for forte, mésculo, receberd uma iluminagzo ‘mais dura, com algumas sombras proeminentes (Audazes e malditos, John Ford, EUA, 1960), Ja para os vildes cabem as sombras, 08 grandes contrarizes © mesmo a penumbra (Pricose, Alfred Mitcheock, EUA, 1960), 4243 Achared.comdociULZ4 TEnvpredennd ra0s3 oo — Podemos falar o mesmo sobre as situapdes:& luz de um assassinat jamais seré a ‘mesma de uma cena romantica protagonizada por um casal apaixonade, por mais que no ‘mundo isso nfo fega diferenga algume (0 sol ihumina indiscriminadamente coisas © pessoas, donzelas e suicidas) ‘A bierarquizagdo acentuada da fotografia clissica é uma consequéncia direta do desenvolvimento do starsystem hollywoodiano. Nao que antes da fotografia clissica no houvesse hierarquizaglo entre personagens, e entre pessoas e cenétios, mas ela em zgeral era explorada através da escala de planos, e nfo de huzes diferenciadas. Com a ascensio das grandes estrelas, era necesséria uma mancira de duminar {que as tratassem visualmente como tal: brifiantes, acima de tudo, ifinitamente bess. Neste frame & possivel pereeber como 0 casa brilha, enquanto 0 censtio, salvo (8 objetos que esto no mesmo plano de luz, & apenas uma silhueta (O Galante Mr. Deeds, Frank Capra, BUA, 1936), Uma visiva em Trinidad (Vincent Sherman, EUA, 1952) 4243 Achared.comdociULZ4 TEnvpredennd ra0s3 oo Rita Hayworth no & uma mulher comum. Ela resplandece, tem aura A visbilidade, por sua vez, &a exigéneia de que tudo, mesmo os detalhes mais insigificantes, possam ser vistos pelo espectador. Sabendo dessa obrigagd6o, fica mais ficil olbar para fotos de estidios no auge da fotografia clissica (anos 1930 até anos 1950) sem se assustar com a grande quantidade de hu. além do fato de a sensibiidade das cnnlsdes ser muito menor & Spoca, 0 periodo clissivo da fotografia cinematogrifica sofew a in uéncia de diversas smudangas teenoligicas que, por terem aberto novos caminhos, ndo poderiam deixar de sercitadas, ‘A primeira dels & o advento do fime pancromitico, em 1925, 0 filme pancromitico & aquele euja sensibildade aos diferentes comprimentos de onda contidos na chamada luz visivel se assemole bastante & visio humana, Com emuk6es mais sensives ao amarelo, ao lana e,principalmente, ao vermelho, anecessidade de uma pesada maquiagem foi reavizada, ‘Além disso, em 1935 surge a possibildade de caplar em cores, através do ‘Technicolor. Basta pensar na ampla utlzapdo da psicologia das cores ~ no s6 pelo cinema, mas também pela publicidade, fotografia still design, ete ~ para descobrit 0 quanto tal invento foi importante para uma fotografia que caminheva rumo & dramatizagi Por fim, cabe destaar a apaigdo do som, que touxe para a fotografia clissca a possibidade de se “desexpressionizat’,partindo pars construgSes huminosas mais suis ~ inal, a partir de enti, pratcamente todas as informages relevanes do fie seri transmis pebata he soe Bdade dos flies — de I80 20 na déeada de 1930 para 250, nos anos 1950 -, apesar de se situar historicamente dentro do quadro da fotografia clissca, foi, na verdade, mais importante para a fotografia modema. ‘Mas antes de falar de fotografia modema ainda hé um tipo mito particulr de fotografia clissica 4 qual é preciso fazer referéneia: fotografia barroca, 4243 Achared.comdociULZ4 TEnvpredennd ra0s3 oo A fotografia barraca Podese dizer que a fotografia barroca se encontra no limite da fotografia clissiea porque se por um lado ea & chissica, jd que pretende transmiir informagiies através da nz, por outro © que el diz no & claro, evidente ou Sbvio, como na fotografia, clissiea. Os cineastas/ditetores de fotografia que se valiam desta estética se rebelavam contra o engessamento dos cédigos na fotografia clissica (sombras para vildes, um pouco menos de sombra para homens bons, fortes ¢ valentes, difusio para personagens bonzinhos, frigeis ou mulheres, ete), parindo para a divesificagdo © a complexificago da linguager uminosa, Estas imagens de Marlene Diettidh em O expresso de Xangai (Josef von Stemberg, Alemanha, 1932) sdo exemplares nesse sentido, posto que milo desvelam, totalmente o cariter desta personager, # claro que os fiimes que se utilizar este tipo de fotografia complexificam nfo apenas os c6digos luminosos, mas também a arte, a diresdo de atores, a dramaturgia, ate ‘A fotografia modema (neorrcalismo ¢ Nouvelle Vague) —__ © aumento da sensibilidade dos filmes no fotografia modema, mas gjuda a compreender por que muitos de seus elissicos puderam ser feitos fora dos estidios e com pouguissima Iv Porém, ao contro do que poderia parecer, nenhuma destas caracteristicas é definidora da fotografia modema, O que permite que consideremos uma fotografia ‘modema é o fim da luz significativa. Se nada no mundo autoriza o cinema a iuminar de modo diferenciado coisas e pessoas, assim se comportani a fotografia moderna. Se a liz do mundo nfo modifica suas caracteristicas para se adaptar as emogdes que envolvern diferentes situagGes, assim se comportaré a fotografia modema, © suficiente para explicar a 4243 Achared.comdociULZ4 TEnvpredennd ra0s3 pequeno soldado (Jean-Luc Godard, Franga, 1963) ‘Muitas maneiras de executar essa fidelidade & uz do mundo foram criadas, embora todas possam ser consideradas mais simples e sébrias em selago & fotografia clissiea, Destaca-se entre elas principalmente « chamada huz de aquiro, A luz de aquitio ficou eélebre com os tabalhos da dupla Jean-Luc Godard Raoul Coutatd, e recebeu esse nome por consistir em ums huz uniforme, difundida, por vvezes oriunda de apenas uma fonte de luz. Uma mulher casada (Jean-Luc Godard, Franga, 1964) Outro recurso da fotografia modema bastante difundido ¢ 9 uso da superexposigio para reforgar, visualmente, a impossibidade de se dizer sobre © mundo. 4243 Achared.comdociULZ4 TEnvpredennd 19 ra0s3 oo a Les Baisers de Secours (Philippe Gare, Franga, 1989) Cabe destacar que este filme & de 1989, e ndo dos anos 50 ou 60. Este exemplo “fora do seu tempo” ¢ importante para lembrar que todas estas periodizagSes, embora sejam importantes pra nos ajudarasistematizar o conhecimento, so falhas, porque no ccontemplam as sobreposigSes, 0 simulidneo... Assim como & possivel uma obra do final dos anos 1980 se valer de um recurso do periodo modemo da fotografia, uma produg30 de 2011 pode, perfeitamente, ter uma fotografia clissica, A fotografia dos anos 1970 para ed A partir dos anos 1970, a fotografia cinematogréfica tem misturado ingredientes das fotografia clissica, barroca e modema, variando a quantidade deles de acordo com, diversos fatores: estrutura de produgdo, padres da indistria, preferéncias estéticas do ditetor. A ogra geral é a mescla, a contaminag%o, ‘Ainda assim, é possivel encontrar algumas tendéncias, dentre as quais se destaca “luz de vitrine”, durante a década de 1970, a fotografia maneiista, no final dos anos 1970 ¢ anos 1980, 0 uso indiscriminado do low-key, nos anos 1980, ‘Alguns fatores de ordem tecnoligica também contsibuiram para este maior cecletismo da fotografia do cinema: * A proliferago das fontes de luz, como fica evident, entre outros fies, em De olhos bem fechades (Stanley Kubtick, EUA, 1999); * 0 desenvolvimento do T-grain, um gro de superficie tabular que permit a fabricagao de emulsdes mais sensiveis com grdo pouco procminente (js que aproveita toda a sua area, 0 que ndo acontece quando superficie do giao & “aleatéria”). REFERENCIAS BIBLIOGRAFIC: BELLANTONY, Patt. If it’s purple, someone's gonna die: the power of color in visual storytelling for fim. Burlington, USA: Focal Press, 2005. D'ALLONNES, Fabrice Revaul. La tumiére au cinema, Paris: Editions Cahiers de cinema, 1991 4243 Achared.comdociULZ4 TEnvpredennd ra0s3 4243 Achared.comdociULZ4 TEnvpredennd oo

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