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Maj PMDF Julian Rocha Pontes
Cap PMDF Juvenildo dos Santos Carneiro
2º Ten PMESP Fem. Inaê Pereira Ramires
Para que você tenha uma ideia do caminho a ser percorrido, observe os objetivos
estabelecidos para o curso, contudo, vale ressaltar que os mesmos foram traçados
com a percepção voltada para a sua aprendizagem.
Módulo 3 – Aspectos jurídicos que balizam a ação policial diante dos crimes de
constrangimento ilegal, corrupção passiva, resistência, desobediência, desacato e
corrupção ativa.
Antes de iniciar os estudos dos módulos, reflita sobre algumas questões pertinentes à
ação do profissional da área de Segurança Pública, lendo a contextualização.
Contextualizando
Antes de iniciar o estudo dos módulos, leia o texto a seguir e reflita sobre a questão que ele
apresenta.
O cidadão passou a ter consciência de seu papel e importância no contexto social. Abandonou
as praxes passivas e, em postura ativa, exige, a todo instante, a concretização e preservação
de seus direitos e garantias, sejam individuais, coletivos ou difusos. Dessa situação,
imposições arbitrárias, apoiadas exclusivamente na vontade da autoridade, não são mais
aceitas como outrora. Toda e qualquer restrição a direitos deve encontrar fundamento na
legalidade, proporcionalidade, necessidade e adequação, caso contrário será combatida pelos
seus destinatários.
Essa nova relação construída entre o cidadão e o Estado exige do agente público (Conceito
adotado em seu sentido amplo) o desenvolvimento de seu labor (trabalho) com probidade,
impessoalidade, moralidade, eficiência, dentre outros. Tamanha a importância dessas
Muito ainda há que se fazer para que o cidadão tenha serviços públicos condizentes com a sua
dignidade, porém, são explícitas as melhoras já alcançadas. Nesse contexto, importa salientar
que a exigência de concurso público para a investidura em cargo ou emprego público, as
diversas formas de controle da administração, o regramento da responsabilidade civil do
Estado, por exemplo, consolidam a democratização e a transparência vivenciadas
atualmente.
No entanto, em todo esse desenvolvimento experimentado, o certo é que a vida em
sociedade ainda clama pela presença do Estado. A sociedade para manter sua sobrevivência
impõe normas de condutas a serem seguidas. Ao ser humano não é permitida a livre e
incondicionada satisfação de seus interesses. Caso contrário, retornaríamos à barbárie, a um
estado de natureza, situação em que só os mais fortes encontrariam voz. E mais, por vezes, a
harmonia social é quebrada por conflitos de interesses. Diante disso, dependendo da natureza
do bem jurídico, o Estado deixa à vontade da parte sua solução ou intervém de modo brando.
Mas, quando os valores de maior relevo para a sociedade são violados, o Estado age de forma
mais enérgica, impondo punições mais graves, inclusive com a privação da liberdade aos seus
transgressores. A aplicação da sanção penal se for o caso, só atinge o cidadão infrator após
regular processo que, além de fornecer elementos de convicção ao julgador, destina-se a
fornecer ao denunciado a oportunidade de exercitar sua ampla defesa. Nesse âmbito estão
inseridos os órgãos componentes da Segurança Pública relacionados, juntamente com suas
atribuições, no artigo 144, da Constituição Federal.
IMPORTANTE!
A atividade policial, com nítida natureza de ato administrativo, encontra limites que buscam
tutelar (proteger) a dignidade humana, bem como a legitimidade da atuação estatal.
O profissional de Segurança Pública deverá agir dentro das balizas definidas em lei, alinhado
com o propósito firme de ser um agente defensor da dignidade da pessoa humana. O bom
policial é justamente aquele que defende a sociedade por meio da proteção de seus
indivíduos, e isso implica, obrigatoriamente, em enxergar o cidadão, mesmo que infrator,
como detentor de direitos e garantias fundamentais, inerentes à sua condição de pessoa
humana.
Saiba que não é objetivo desse curso fornecer respostas exatas às indagações e, sim, em
conjunto com você, criar condições para que você possa construir conhecimentos condignos
com o Estado Democrático de Direito experimentado em nosso país.
Bom curso!
● A concepção básica do que vem a ser uma Constituição, sua importância para a
estrutura, organização e competências do Estado; e
Como agente policial, você tem noção das finalidades, objetivos e fundamentos
do Estado brasileiro?
E quais seriam as influências que ele pode sofrer nas relações internacionais
envolvendo as questões de direitos humanos?
O poder constituinte originário (PCO) é aquele capaz de criar uma nova ordem constitucional,
sendo inicial, ilimitado e incondicionado.
É inicial porque inaugura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem
antecedente.
É ilimitado porque não está sujeito a regras anteriores (Obs.: Os jusnaturalistas que
defendem a existência de um “direito natural” acima daquele estabelecido pelo homem
sustentam que o poder constituinte originário deve observância ao direito natural. Essa tese
não é adotada no Brasil).
Enfim, o objetivo fundamental do poder constituinte originário é criar um novo Estado, uma
nova ordem jurídica, não importando que a nova Constituição ocorra de movimento
revolucionário ou de assembleia popular.
É importante dizer para você que a Constituição cria e estrutura o Estado como uma
instituição organizada política, social e juridicamente, com a responsabilidade de
constituir e estabelecer as bases do controle social e o desenvolvimento de um país,
de uma nação.
Isso tudo se resume, como já dito, no objetivo único de promover o bem comum,
proporcionando a toda a sociedade: saúde, emprego, moradia, educação,
previdência, segurança, etc.
Por isso que se paga tributos ao Estado (impostos, taxas, contribuições, etc), e se
permite, por meio das leis, que seus agentes interfiram nos direitos e liberdades de
cada cidadão.
Avançando na ideia inicial, através da CF/88, o Brasil adotou como forma de governo
a República – organização política que visa a coisa pública, o interesse comum –,
como forma de Estado o federalismo – organização descentralizada, tanto
administrativa quanto politicamente, proporcionando a repartição de competências
entre o governo central e os estados-membros, que deliberam sobre os rumos da
nação – e constitui-se em um Estado democrático de direito, que é destinado,
através da proteção jurídica e material, a garantir o respeito das liberdades civis,
dos direitos humanos e garantias fundamentais. Para tanto sua estrutura tem por
fundamento a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores
sociais do trabalho, a livre-iniciativa e o pluralismo político.
Também não se deve esquecer os objetivos traçados para o Estado, quais sejam:
● De construir uma sociedade livre, justa e solidária;
● Garantir o desenvolvimento nacional;
● Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais; e
● Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.
Dentro da concepção apresentada até aqui, cabe dizer que o Estado brasileiro é
regido nas suas relações internacionais pelos princípios da prevalência dos direitos
humanos, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao
racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, dentre outros.
A questão dos direitos humanos, como se vê, assume relevância em nossa ordem
constitucional, pois que diz respeito a certas posições essenciais ao homem ao longo
de sua evolução histórica. Por assim dizer, suas bases assumem uma vocação
universalista, supranacional, razão pela qual são objeto de tratados ou convenções e
em outros documentos de direito internacional.
Nessa medida, sem ingressar nas discussões que são travadas entre autores, bem
como em nossos tribunais, no contexto atual, por conta das disposições
constitucionais já citadas, quando o Brasil celebra algum tratado internacional que
verse sobre direitos humanos, estes podem ingressar em nosso ordenamento jurídico
com status de normas constitucionais, merecendo especial tratamento pelo Poder
Público.
Cabe ressaltar que não será trabalhada a discussão travada na doutrina, mas sim na
tese firmada no Supremo Tribunal Federal – STF, no sentido de que os tratados sobre
direitos humanos que não forem aprovados de acordo com o §3º, do art. 5º, possuem
Nesse sentido, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu
Protocolo Facultativo (assinados em Nova York, no dia 30/03/2007), foram os
primeiros a serem aprovados pelo Congresso Nacional em observância ao §3º do art.
5º da CF/88, consoante o Decreto Legislativo nº 186, de 09/07/08. Mas, somente em
25/08/2009, por meio do Decreto Federal nº 6.949, passaram a compor a ordem
jurídica pátria com status de norma constitucional (disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm>).
De outro lado, existem alguns pactos que integram a ordem jurídica do Brasil, cujo
conteúdo versa sobre direitos humanos, constituindo verdadeiros limites da atuação
estatal, em especial para os órgãos policiais e jurisdicionais.
Com efeito, é possível citar dois pactos que estabelecem direitos individuais para
aqueles que se submetem à ação estatal, em face da sua atribuição de preservação
da ordem pública.
● Presunção de inocência;
● Direito a um julgamento justo por autoridade competente e imparcial;
● Direito à privacidade;
● Direito a não ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes;
● Direito a não produzir prova contra si mesmo e o de permanecer calado;
● Direito à comunicação prévia e pormenorizada da acusação formulada contra si;
● Direito de defender-se e de constituir defensor; e
● Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser
conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei
a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de
ser posta em liberdade, dentre outras.
A concepção sobre o tema está vinculada à ideia básica de que o detentor do poder,
invariavelmente, pode exorbitar suas finalidades, agindo com arbitrariedade.Vale
lembrar que os poderes são os de editar leis (Legislativo), aplicá-las em favor e
sobre os cidadãos, disciplinando as relações em sociedade (Executivo) e resolver
as controvérsias decorrentes de conflitos nas relações sociais e a inobservância do
direito (Judiciário). É bom dizer, empregando os ensinamentos do professor Paulo
Gonet Branco (2008), que os direitos fundamentais constituem um núcleo, um
conjunto de regras e princípios que visam proteger a dignidade da pessoa
humana.
De uma forma bem geral, os direitos representam por si bens, isto é, algo que está
inserido no patrimônio ou tem como objeto imediato um bem específico da
pessoa (vida, honra, liberdade, integridade física, etc.). Ao passo que as garantias
representam um instrumento posto à disposição dos indivíduos para assegurar os
direitos e limitar os poderes do Estado. Nessa medida, vários são os dispositivos
contidos no art. 5º, da Constituição, que comportam esse conceito.
Constituição - Art. 5º
III - Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
LVIII - O civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo
nas hipóteses previstas em lei (vide Lei nº 10.054/2000);
LXI - Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;
LXV - A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
LXVI - Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;
LXVIII - Conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;
LXIX - Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;
LXX - O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) Partido político com representação no Congresso Nacional;
Em razão disso é que esses valores recebem proteção especial do Estado, conhecida
também como “cláusulas pétreas”, isto é, não podem ser objeto de deliberação
sobre proposta de emenda à Constituição no sentido de lhes abolir (CF/88, art.
60, §4º).
Portanto, deve ficar claro que a informação contida avisa aos poderes constituídos,
bem como a seus órgãos, que seus atos devem conformidade aos direitos e garantias
fundamentais e se sujeitam à invalidação se os desprezarem, bem como à
responsabilização de seus agentes nas esferas administrativa, civil e criminal.
Entretanto, sabe-se que não é assim que funciona e, até hoje, o ser humano existe
porque o direito impõe limites na pratica de condutas, nas relações sociais, enfim,
no exercício de direitos. A isso Alexandre de Moraes (2007) chama de princípio da
relatividade ou convivência das liberdades públicas, traduzindo, em suma, a ideia
de que os direitos e garantias fundamentais consagrados na Constituição de 1988 não
são ilimitados, encontrando restrições nos demais direitos estatuídos nessa Lei Maior.
Essa noção é extraída da concepção comum de que o Estado deve cumprir suas
atribuições e de que o direito de cada pessoa acaba quando começa o de outra.
Assim, o Estado, por seus órgãos, pode intervir na liberdade das pessoas, desde
que seja para beneficiar a coletividade, para cumprir a sua finalidade.
Dignidade da pessoa humana
Até o presente momento, você estudou a razão de existir do Estado, qual seja, a de
atingir o bem comum, constituído, estruturado e organizado pela Constituição
Federal, a qual ainda estabelece os direitos e as garantias fundamentais.
Também estudou que o Estado, para alcançar o interesse de todos é composto por
poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e estruturado em órgãos, destacando-se
os da Segurança Pública.
Ainda que o cidadão seja o sujeito ativo de um crime hediondo, mesmo que o
aparato de segurança deva alcançar seus níveis máximos face às necessidades
concretas ao restabelecimento do status quo ante, a Constituição, através das
limitações impostas pelos direitos e garantias individuais, com suas características
indisponíveis, universais, absolutos, inalienáveis, assegura àquele, que é destinatário
dessa atuação estatal, um tratamento tal que o mínimo existencial deva ser
A resposta parece simples, mas na prática não o é. Perceba que com a liberdade a
pessoa pode desenvolver-se em várias dimensões (física, espiritual, educacional,
religiosa, política, etc.). E um dos aspectos dessa liberdade é o direito de locomoção
(direito de ir, vir e permanecer), que permite ao cidadão a possibilidade de
movimentar-se por todos os espaços públicos e privados na busca de integrar-se com
sua sociedade, com sua família, com o Poder Público, seja para emprego, educação,
saúde ou lazer. Vale lembrar que isso tudo faz parte da dignidade da pessoa, ponto
de partida de estudo, que contida na Constituição, ao Estado compete proteger e
estimular o seu pleno exercício, porque para isso foi concebido.
Então, como fazer para adequar a atuação policial sem se descuidar dos direitos e
garantias fundamentais?
Qual é o momento ideal para limitar a liberdade do indivíduo e observar a sua
dignidade?
A resposta não é tranquila. O policial tem que estar bem preparado tecnicamente
para aplicar seus conhecimentos em uma busca pessoal (abordagem), que abrange
níveis que vão desde a emissão de comandos verbais até a efetivação da busca,
com o contato físico e imobilização, se for o caso.
Essa dinâmica não pode ser levada a efeito de qualquer forma, sobre qualquer
pessoa, em qualquer momento, a qualquer pretexto. O ordenamento jurídico traça
os parâmetros, que, ao lado das técnicas de busca pessoal, de abordagem, devem
fazer parte da conduta do agente.
Observe que está sendo discutida a ponderação de valores que, através do princípio
da proporcionalidade, constitui instrumento capaz de solucionar os problemas mais
cruciais ou triviais do dia-a-dia enfrentados pelos agentes estatais.
Lembra o professor Thiago André Pierobom de Ávila (2007) que essa concepção é
própria da estrutura das normas de direitos fundamentais, esculpida no Estado
constitucional contemporâneo. Com essas palavras ele apresenta os ensinamentos de
Robert Alexy, para quem o direito, que existe para disciplinar as relações sociais, se
É nesse momento que entra a questão da ponderação. A questão é crucial. Tanto que
o professor Paulo Gonet (2008) indaga: O que acontece quando duas posições
protegidas como direitos fundamentais diferentes brigam por prevalecer numa
mesma situação? Pode uma prostituta invocar o direito de ir e vir para justificar
pedido de salvo conduto que lhe assegure fazer o trottoir?
Tendo por base a questão anterior, o agente do Estado, diante de eventual conflito
de direitos fundamentais, deve promover um juízo de valor, principalmente frente a
uma fundada suspeita, uma ponderação de valores que se assenta sobre o princípio
da proporcionalidade, que abrange três critérios: o da adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito.
É necessário abordar?
Qual a técnica a ser utilizada na abordagem?
O número de policiais garante a segurança da guarnição, da população e dos
próprios indivíduos a serem submetidos à atuação estatal?
Dentre os meios disponíveis para a busca, qual é o menos gravoso?
A atuação técnica mostra-se suficiente e equilibrada para neutralizar qualquer
tipo de reação e atingir os objetivos?
Nesta aula, você vai encontrar uma abordagem que traz as consequências pelas quais
o Estado e seus agentes se submetem a uma responsabilização quando os limites de
seus atos são extrapolados. Ao final, fechando este módulo, você terá a oportunidade
de conhecer as principais atribuições dos órgãos de Segurança Pública.
Código Civil
Art. 186 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187 Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.
Art. 927 Aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
A lógica dessa consequência é a de que se o dano foi causado pelo Estado, o qual foi
concebido para atuar em benefício e em nome da sociedade, com efeito, a
responsabilidade recairá sobre essa. Portanto, é a sociedade que suportará os custos
pelos prejuízos, os quais serão distribuídos de forma equitativa, igualitária e indireta
a cada membro.
Sim, seria. Por isso que o artigo 37, §6º, da CF/88, garante o direito de regresso
sobre o servidor público, ou seja, se ele praticou ato ilícito de forma dolosa ou
culposa, resultando na responsabilidade civil do Poder Público, e esse venha a arcar
com os prejuízos, o Estado poderá buscar as medidas cabíveis para repassar esse
encargo àquele que deu causa, assegurando, assim, a justiça.
Cabe salientar que o direito de regresso não comporta prazo prescricional (perda da
possibilidade de se cobrar o prejuízo em face do decurso do tempo), conforme
entendimento do Superior Tribunal de Justiça – STJ esposado no RESp. nº 328.391-DF,
julgado em 08.10.2002 e publicado no DJ de 02/12/2002.
É possível, ainda, que a responsabilidade civil estatal seja excluída quando os danos
originados decorrerem de caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da vítima.
Por fim, é possível ainda que o servidor público, além de responder diante de uma
ação regressiva, de natureza cível, venha a ser submetido a um processo
administrativo ou criminal, por ter excedido em suas atribuições, sem que isso
configure o bis in idem.
Dentro da execução do contrato social, citado no início de nossos estudos, onde cada
indivíduo cede uma parcela de sua liberdade para que o Poder Público defenda e
proteja de toda a força comum a pessoa e os seus bens, há a Segurança Pública.
Enfim, na lição de Diogo Figueiredo Moreira Neto, lembrado por Álvaro Lazzarini
(2003), a Segurança Pública se perfaz em um conjunto de processos políticos e
jurídicos, destinados a garantir a ordem pública, sendo essa objeto daquela.
O tema guarda tanta relevância que tem reservado um capítulo (III) no título V, da
CF/88, que cuida “Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”. Nessa
medida, traz o artigo 144 a previsão de que o Poder Público, dentro de suas
atribuições, tem a incumbência de assegurar a preservação da ordem pública, a
incolumidade das pessoas e do patrimônio. Essa atividade une na Segurança Pública,
que é implementada através de órgãos:
De outro lado, existe a denominada polícia administrativa que tem por objeto a
prevenção do ilícito penal e não penal (ex.; polícia de trânsito de veículos
terrestres, polícia das construções, polícia aduaneira, polícia fiscal, polícia do meio
ambiente, polícia sanitária, etc.). As atividades desenvolvidas aqui são atribuídas às
polícias federal, rodoviária federal, ferroviária federal e polícias militares.
Conclusão
Neste primeiro módulo, você estudou os principais aspectos das normas
constitucionais e da legislação internacional ligados aos direitos humanos, voltados
para a atuação policial.
6. Você, como agente policial, se depara com um evento em que exige sua
atuação. Caso seja necessário promover uma busca pessoal, descreva, de acordo
com os ensinamentos discorridos aqui, os critérios para a formulação de um juízo
de ponderação, para que sua ação seja legítima e atinja sua finalidade.
Como você estudará, a citada limitação, de ordem discricionária, para ser conforme
o ordenamento jurídico, deve ser justificada, não bastando a simples opção do
agente. O dever-poder de polícia, o dever-poder discricionário e a fundada suspeita
terão seu espaço garantido no estudo do módulo. Ao final, para fechar o módulo,
você estudará as buscas pessoal e domiciliar.
O doutor Celso Antônio Bandeira de Mello (2007, p. 368) conceitua da seguinte forma:
“Declaração do Estado (ou de quem lhe faça às vezes – como, por exemplo, um concessionário
de serviço público), no exercício de prerrogativas públicas, manifestada mediante
providências jurídicas complementares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a
controle de legitimidade por órgão jurisdicional”.
Já para o renomado Helly Lopes Meirelles (2001, p. 141), “ato administrativo é toda
manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade,
tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar
direitos ou impor obrigações aos administrados ou a si própria”.
Por fim, Carvalho Filho (2007, p. 92) considera ato administrativo como a “exteriorização da
vontade da Administração Pública ou de seus delegatários que, sob regime de direito público,
tenha por fim adquirir, resguardar, modificar, transferir, extinguir e declarar situações
jurídicas, com o fim de atender ao interesse público.”
O que deve ficar claro para você é que o profissional da área de Segurança Pública
é um agente público, representante do Estado, e como tal deve pautar suas ações
no interesse público, tendo o dever de praticar todos os seus atos dentro da
legalidade. Daí a necessidade de estudar diversas matérias, dentre elas, o ato
administrativo.
O atributo nada mais é do que uma qualidade do ato, ou seja, algo que o
particulariza, que o distingue. Ao conhecer essas características você será capaz de
fazer a distinção entre um ato de particulares e um ato do Poder Público.
Ex: Se um particular lhe der uma ordem, você a cumprirá se quiser; por outro lado,
uma ordem originária do Poder Público deve ser observada, sob pena de gerar
responsabilidade, nos termos do ordenamento jurídico. Veja que uma das formas
dessa ordem ser emanada é por você, agente da Administração Pública!
Presunção de legitimidade
Por esse atributo presume-se que, em princípio, a ação do Poder Público está em
conformidade com a lei, ou seja, que o ato administrativo foi praticado e/ou
elaborado de acordo com a legislação em vigor.
Princípio
Dizem em princípio, pois pode haver prova em contrário, já que aquele que se sentir
prejudicado poderá, posteriormente, se insurgir contra o ato praticado.
Imperatividade
Esse atributo permite que a administração pública imponha diretamente seus atos,
independentemente da anuência ou concordância dos administrados atingidos.
É importante que você saiba que essa característica não está presente em todos os
atos administrativos, mas tão-somente nos que impõem obrigações, pois existem atos
que são solicitados pelo próprio administrado, tais como as certidões e os atestados,
Autoexecutoriedade
É importante que você reflita que muito embora não precise de autorização do Poder
Judiciário, a parte que se sentir prejudicada poderá buscar amparo nele, frente ao
disposto no inciso XXV, artigo 5º, da Constituição Federal, como já estudado no
atributo da presunção de legitimidade.
Você já estudou que os atributos são as qualidades do ato, agora estudará que o ato
administrativo possui elementos indispensáveis, também chamados requisitos, para
a sua existência.
Sujeito;
Objeto;
Forma;
Finalidade; e
Motivo.
Como foi feito com os atributos, estude cada um dos elementos separadamente.
Sujeito
Objeto
● Lícito
O objeto está previsto e é autorizado em lei. A abordagem policial está prevista no
Código de Processo Penal Brasileiro, que será visto na aula 4.
● Determinado
Deve ser certo quanto ao destinatário, aos efeitos, ao tempo e ao lugar. A partir
desse entendimento, você, como aplicador da lei, não poderá realizar uma
abordagem indistintamente. Ao limitar o direito individual, deverá precisar a(s)
pessoa(s), o momento e o lugar em que a ação será levada a efeito, bem como o
tempo necessário para realizá-la com segurança.
● Escrito
Por meio de regulamentos, decretos, leis, dentre outros. Por exemplo, o mandado de
busca e apreensão, o qual deverá ser essencialmente escrito e emanado pela
autoridade judiciária competente, conforme preconizado no Código de Processo
Penal.
● Verbal
A abordagem é um excelente exemplo de ato verbal. Isso não significa que poderá
passar à margem da lei, pois é ela que estabelece as regras que deverão ser
respeitadas pelo profissional de Segurança Pública no desempenho de seu mister.
● Gestos
Os sinais que o agente de trânsito realiza com as mãos e braços.
● Sonoros
O emprego de apitos pelos agentes de trânsito, por exemplo.
Finalidade
Esse elemento refere-se ao resultado específico que cada ato deve produzir, qual
bem de ordem pública visa atingir. Em outras palavras, todo e qualquer ato
administrativo tem que buscar uma razão de interesse público, visando sempre o
bem comum. Além disso, o ato deve basear-se na finalidade descrita na norma,
expressão máxima do interesse comum, que atribui competência ao agente para a
sua prática.
Motivo
É importante você saber, conforme José dos Santos Carvalho Filho (2007, p. 37) que:
“O poder administrativo representa uma prerrogativa especial de direito público
outorgada aos agentes do Estado. Cada um desses terá a seu encargo a execução de
certas funções. Ora, se tais funções foram por lei cometidas aos agentes, devem eles
exercê-las, pois que seu exercício é voltado para beneficiar a coletividade. Ao fazê-
lo, dentro dos limites que a lei traçou, pode dizer-se que usaram normalmente os
seus poderes.”
Você se recorda do ato administrativo? Você estudou na aula passada, dentre outros
assuntos, seus atributos e elementos, indispensáveis à sua existência.
Nesse ponto, é possível dizer que o poder discricionário não alcança todos os
elementos do ato administrativo, ele está consolidado apenas no motivo e no
objeto, pois os demais (sujeito, a forma e a finalidade) são sempre vinculados à
lei. A administração pública só poderá exercer a escolha nos casos em que a lei não
vincular o objeto e o motivo.
Discricionariedade X Arbitrariedade
Embora ambos tragam a ideia de liberdade de escolha, são inconfundíveis.
É importante que você reflita acerca da grande responsabilidade que possui, pois,
diferentemente, dos demais agentes públicos, o policial, no desempenho de seu
labor, limita a liberdade das pessoas, sendo assim, se o seu ato for arbitrário,
possivelmente, acarretará grandes abusos.
Através do poder de polícia a lei confere a você, agente público, mecanismos para
restringir os abusos do direito individual. A abordagem policial nada mais é do que
um desses instrumentos.
Por sua relevância, o poder de polícia não escapou do labor legislativo, sendo
definido no artigo 78, do Código Tributário Nacional.
- Discricionariedade
Trata-se da liberdade de escolha dentro dos limites legais, da oportunidade e
conveniência para exercer o poder de polícia. A administração pública também
possui a liberdade de empregar os meios que julgar mais condizentes para atingir a
sua finalidade, a qual será sempre relacionada à proteção de algum interesse
público. Observe que o ato de polícia é, em princípio, discricionário, mas passará a
ser vinculado se a norma legal que o rege estabelecer o modo e a forma de sua
realização. Nesse caso, a autoridade só poderá praticá-lo validamente atendendo a
todas as exigências da lei ou regulamento pertinente.
- Autoexecutoriedade
A administração decide e executa diretamente suas decisões, por seus próprios
meios, sem precisar de autorização de outro poder, seja o Judiciário, seja o
Legislativo, para agir.
Como você já estudou, no atributo do ato administrativo, caso o particular se sinta
prejudicado pode reclamar perante o Poder Judiciário, com fundamento primeiro no
inciso XXXV, artigo 5º, da Constituição Federal.
Você, policial, sabe que para realizar a abordagem, dentro dos limites legais, não há
a necessidade de autorização judicial, pois o seu ato possui autoexecutoriedade. O
mesmo ocorrerá diante da recusa do abordado em obedecer a seu comando, quando
você poderá empregar a força necessária para fazer valer sua determinação, que é
legítima expressão da vontade estatal. Esse ato de coerção, do mesmo modo,
independe da autorização judicial.
Necessidade
O poder de polícia só deve ser empregado quando for necessário para evitar possíveis
ameaças de perturbações ao interesse público, se outro meio menos gravoso existir
para a preservação da ordem, deverá ser utilizado com prioridade.
Proporcionalidade
Precisa existir uma relação de equilíbrio entre a limitação ao direito individual e o
prejuízo a ser evitado.
Eficácia
O ato deve ser apropriado para impedir o dano ao interesse público, empregando
meios legais e humanos, a fim de evitar medidas extremas. Mesmo com o intuito de
realizar o bem comum, não é permitido ao agente público utilizar de meios ilícitos
para atingir seu intento, pois os fins não justificam os meios.
Nesta aula, você estudará sobre a fundada suspeita, levando em conta seu conceito,
fundamento legal e a necessidade de elementos objetivos para a sua caracterização.
Fundada suspeita
Você, como profissional da área de Segurança Pública, sabe o quanto as suas atitudes
são questionadas.
Não é difícil entender o motivo que leva as pessoas, quase que na sua totalidade, a
reclamar de qualquer intervenção policial, pois, de uma forma ou de outra, limita-
se, com essa ação, o seu direito. Dificilmente você ouvirá alguém dizer: “muito
obrigado senhor policial por me abordar!”.
É pouco provável que o cidadão saia contente após sofrer uma ação policial, como
colocado, seus interesses são de alguma forma atingidos. Contudo, quando percebe
que está sendo submetido a uma medida restritiva de direitos aplicada por um
profissional especializado, detentor do conhecimento pleno de suas atitudes, que
atua em prol do bem comum, passa a compreender e colaborar com o labor policial.
O maior intuito dessa aula é criar condições para habilitá-lo a realizar a abordagem
policial de acordo com o ordenamento jurídico pátrio com o fito de suas ações,
mesmo após análise do judiciário, serem consideradas legítimas e coerentes na sua
totalidade.
Você já deve ter escutado o termo fundada suspeita em sua vida profissional,
possivelmente, desde os cursos de formação. Diferentemente do poder de polícia,
ele ainda não foi conceituado em nenhum diploma legal.
"O uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de natureza excepcional, a ser
adotado nos casos e com as finalidades de impedir, prevenir ou dificultar a fuga ou
reação indevida do preso, desde que haja fundada suspeita ou justificado receio de
que tanto venha a ocorrer, e para evitar agressão do preso contra os próprios
policiais, contra terceiros ou contra si mesmo. O emprego dessa medida tem como
balizamento jurídico necessário os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade." (HC 89.429), Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 22-08-06, DJ
de 02-02-07). No mesmo sentido: HC 91.952, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em
07-08-08, Informativo 514.
A suspeita é a atitude do cidadão, é a forma como ele age que leva, você, policial,
a suspeitar de uma possível situação ilegal, merecedora de verificação.
Jamais pode se dizer que “a pessoa é suspeita”, o cidadão por si só não carrega
essa característica. Sem dúvidas, a adjetivação de suspeita deve recair sobre
condutas.
Reflita...
Seria possível estabelecer uma espécie de tabela com os detalhes físicos de quem
é suspeito e de quem não o é?
Lembre-se
Não existem pessoas suspeitas e sim, pessoas em atitudes suspeitas!
A suspeição não guarda relação com sexo, raça, nível social, dentre outros.
O cidadão por si só não é suspeito, o que leva a efetiva abordagem policial são as
suas atitudes, que por algum motivo destoam da realidade daquele momento.
Do que você estudou aqui, é possível obter que a fundada suspeita baseia-se no
entendimento do agente público, que ao visualizar determinado fato, pressupõe
que nele há fortes indícios de ilegalidade.
Fundamento legal
Observe que a fundada suspeita só foi referida pelo legislador quando da busca
pessoal, vez que a busca domiciliar apoia-se em requisitos que serão tema da
próxima aula.
Reflexão
Embora essa lei não trate especificamente da abordagem policial, ela nos leva a uma
questão interessante: Como você deve agir nos casos em que ao abordar um cidadão
ele se nega a fornecer a sua respectiva identificação?
Nesse exemplo, basta você, policial, conhecer o ordenamento jurídico para constatar
que a não-identificação, quando legalmente solicitada, configura delito, conforme
mostra o Decreto-lei nº 3.688.
O Presidente da República, usando das atribuições que lhe confere o artigo 180 da
Constituição,
DECRETA:
O verbo recusar indica que houve uma solicitação ou determinação anterior que não
foi obedecida e sim, rejeitada.
A autoridade descrita no tipo pode ser qualquer servidor público, desde que esteja
imbuído do poder-dever de polícia inerente àquela função, ou seja, tem que estar no
exercício do cargo, emprego ou função.
No caput do artigo pune-se a conduta do sujeito que se recusa a fornecer seus dados
quando solicitado ou exigido. Por sua vez, o parágrafo único tipifica a ação daquele
que faz afirmações inverídicas sobre seu estado natural.
Cultura jurídica
Você sabe apontar a diferença entre o artigo 307, do Código Penal, e o artigo 68,
da LCP?
Cabe salientar que, de acordo com o § 1º, do artigo 159, do Código de Trânsito
Brasileiro – CTB, se o abordado estiver na direção de veículo automotor deverá estar
portando, obrigatoriamente, a Carteira Nacional de Habilitação ou a Permissão para
Dirigir.
Ao realizar uma abordagem legítima, você sabe que diante da recusa do cidadão em
identificar-se haverá, no mínimo, uma contravenção penal.
O último tema dessa aula refere-se ao fato de que o policial não pode ficar restrito
apenas à sua subjetividade ao abordar alguém.
A atitude da pessoa pode ser considerada suspeita por uma série de características,
sendo que todas elas, obrigatoriamente, deverão ser incomuns diante da realidade do
lugar, momento, situação climática, dentre outros. Significa que a abordagem
legítima requer a existência de elementos concretos e sensíveis, anteriores a
execução do ato, os quais demandarão a real necessidade de limitação dos direitos e
garantias fundamentais.
Sabe-se que o rol de elementos objetivos é infindável, variando muito de acordo com
o lugar, costumes, cultura, só para exemplificar. Entretanto é imprescindível que
exista, pois é parte integrante da motivação do ato, logo, é requisito essencial para a
sua validade.
Nesta aula será estudada a busca pessoal e a domiciliar. É importante que saiba que
há um curso na Rede Nacional de EAD que trata desse assunto de forma mais
aprofundada. Aqui o foco será nos principais aspectos do ordenamento jurídico sobre
o tema.
É imprescindível que você leia o Capítulo XI, do Código de Processo Penal – CPP.
Busca pessoal
“A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou
prejuízo da diligência.”
Observe:
Primeiramente, o artigo não restringe que uma mulher faça a busca pessoal em um
homem. Mas, por questão de bom senso, se numa equipe policial tiver um homem,
não há porque a policial realizar a busca em pessoa do sexo masculino. Por outro
lado, a própria norma não proíbe que o policial faça a busca em mulher, entretanto a
restringe. Significa, em outras palavras, que nos casos excepcionais, em que não
houver policial feminina, o policial poderá executá-la. Mas reflita, se assim o fizer,
estará agindo na exceção da lei, em decorrência, além de fundamentar o ato de
abordar, deverá se preocupar para que o constrangimento causado seja o menor
possível.
Ex: Há forte suspeita que a abordada possua uma arma sob suas vestes e não há
policial feminino para verificar, o que fazer? Nesse caso, perfeitamente cabível que o
policial proceda na abordagem, na legítima intenção de garantir a ordem e a
Segurança Pública.
Veja o que estabelece a Constituição Federal e o Código Penal Brasileiro – CP, que
também traz em seus dispositivos o vocábulo “casa”.
Constituição Federal
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:XI - A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
Bom, existem hipóteses em que o veículo pode ser considerado a extensão do lar,
portanto, inviolável. Veja:
● Se o carro está na garagem da casa;
● Se é um veículo tipo trailer, enquanto parado;
● Se é uma embarcação; e
● Eventualmente a cabine de um caminhão, no qual, assim como nos dois casos
citados anteriormente, o proprietário também se estabeleça com ânimo de moradia.
É lícita a abordagem aos veículos, desde que haja a fundada suspeita de que no seu
interior possam existir objetos que constituam corpo de delito, mesmo que o
condutor não permita.
E M E N T A: PROVA PENAL - BANIMENTO CONSTITUCIONAL DAS PROVAS ILÍCITAS (CF, ART. 5º,
LVI) - ILICITUDE (ORIGINÁRIA E POR DERIVAÇÃO) - INADMISSIBILDADE - BUSCA E APREENSÃO DE
MATERIAIS E EQUIPAMENTOS REALIZADA, SEM MANDADO JUDICIAL, EM QUARTO DE HOTEL
AINDA OCUPADO - IMPOSSIBLIDADE - QUALIFICAÇÃO JURÍDICA DESSE ESPAÇO PRIVADO
(QUARTO DE HOTEL, DESDE QUE OCUPADO) COMO "CASA", PARA EFEITO DA TUTELA
CONSTITUCIONAL DA INVIOLABILIDADE DOMICILIAR - GARANTIA QUE TRADUZ LIMITAÇÃO
CONSTITUCIONAL AO PODER DO ESTADO EM TEMA DE PERSECUÇÃO PENAL, MESMO EM SUA
FASE PRÉ-PROCESSUAL - CONCEITO DE "CASA" PARA EFEITO DA PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL
(CF, ART. 5º, XI E CP, ART. 150, § 4º, II) - AMPLITUDE DESSA NOÇÃO CONCEITUAL, QUE
TAMBÉM COMPREENDE OS APOSENTOS DE HABITAÇÃO COLETIVA (COMO, POR EXEMPLO, OS
QUARTOS DE HOTEL, PENSÃO, MOTEL E HOSPEDARIA, DESDE QUE OCUPADOS): NECESSIDADE,
EM TAL HIPÓTESE, DE MANDADO JUDICIAL (CF, ART. 5º, XI). IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO,
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, DE PROVA OBTIDA COM TRANSGRESSÃO À GARANTIA DA
INVIOLABILIDADE DOMICILIAR - PROVA ILÍCITA - INIDONEIDADE JURÍDICA - RECURSO ORDINÁRIO
Busca domiciliar
Com relação à busca pessoal, o ordenamento jurídico usa o termo fundada suspeita,
já para a busca domiciliar utiliza fundadas razões.
É compreensível que para a busca domiciliar seja preciso mais do que a mera
suspeita, pois a Constituição elevou a inviolabilidade do domicílio à condição de
garantia. Então, para sua restrição, é preciso algo concreto, como informação
prestada por uma pessoa, um depoimento ou uma denúncia seguida de uma
investigação.
Você já sabe o que compreende o termo casa. Também já sabe que é asilo inviolável.
Flagrante delito
Você, policial, tem certeza absoluta que no interior da residência, naquele exato
momento, há uma situação de flagrante delito.
O mandado de busca
Esse artigo é incompatível com a nova ordem constitucional, não tendo sido
recepcionado (CF/88, artigo 5º, XI), pois prevê a possibilidade da autoridade policial
também expedir o mandado. Ainda sim, o mandado de busca pode ser dispensável,
caso o juiz queira participar da diligência. Não se exige que haja uma solicitação do
delegado ou do Ministério Público para a busca, o juiz pode determiná-la de ofício.
Correspondência (carta)
A maior parte dos doutrinadores entende que a alínea “f”, § 1º, artigo 240, do CPP,
que trata da apreensão de correspondência durante o cumprimento do mandado, não
foi recepcionada pela Constituição Federal, por se mostrar incompatível com a
redação do artigo 5º, inciso XII.
É interessante que você convide sempre duas testemunhas não policiais (maior de
idade e capaz) para que acompanhem a diligência, agindo assim estará dando maior
lisura ao seu ato.
Outro ponto que merece atenção, principalmente para evitar constrangimentos, é o
procedimento de solicitar que o morador e/ou testemunha acompanhe a diligência
em cada cômodo da residência, juntamente com os policiais.
Elaboração do relatório
Conclusão
( ) Forma e objeto.
( ) Imperatividade e lei.
( ) Sujeito e objeto.
( ) Motivo e forma.
( ) Sujeito
( ) Objeto
( ) Finalidade
( ) Forma
7. Descreva o que você deve fazer ao abordar uma pessoa que se recusa a
fornecer dados para identificação.
Neste módulo, você estudará três temas fundamentais da ação cotidiana dos
profissionais da área de Segurança Pública: A Súmula Vinculante nº 11 do Supremo
Tribunal Federal, o abuso da autoridade e os crimes de resistência,
desobediência, desacato e corrupção ativa.
Nesta aula, você estudará os dispositivos legais, tanto de ordem constitucional como
infraconstitucional, que tratam da utilização da algema, compreenderá os principais
julgados do STF sobre o assunto e as limitações impostas ao seu emprego.
Para que possa compreender a Súmula Vinculante nº 11 do STF, você terá que
analisar os julgados que lhe serviram de precedentes. São neles que encontrará os
principais fundamentos utilizados pelos ministros, bem como, por se tratarem de
casos concretos, auxiliarão no seu entendimento, tornando-o mais fácil. Cabe
ressaltar que será feito somente um relato dos principais fatos.
Diante da decisão, a defesa impetrou habeas corpus junto ao Supremo Tribunal Federal, na
ânsia de anular o veredicto popular, sob o raciocínio de ter o acusado permanecido algemado
durante a sessão de julgamento. Em apertada síntese, ressaltou, dentre outros aspectos, que
o princípio da isonomia entre a defesa e acusação, imprescindível ao devido processo legal,
não foi observado, existindo um desequilíbrio em favor da acusação, na medida em que o réu
permaneceu “sob ferros” na frente do júri. Chegou a essa conclusão ao mencionar que o
jurado é escolhido entre pessoas da comunidade que, na maioria das vezes, não possui
conhecimento jurídico, sofrendo influência em sua decisão ao se deparar com alguém
algemado, pois tal imagem passa a ideia de pessoa com alta periculosidade. A defesa aduziu
ainda, que o princípio da dignidade humana foi ofendido.
Por ocasião do julgamento, a juíza presidente do Tribunal do Júri, decidiu por manter o réu
algemado para a preservação e segurança do bom andamento dos trabalhos no Plenário.
Dizia que: “Se o réu não obedecer e procurar evadir-se, o executor tem direito
de empregar o grau da força necessária para efetuar a prisão, se obedecer,
porém, o uso da força é proibido”.
O argumento central, da qual os demais retiram sua validade para sustentar o dito, é
o princípio da dignidade da pessoa humana, apresentado no módulo 1, que como já
mencionado, por sua relevância, constitui fundamento do Brasil.
Pode-se garantir que a utilização do analisado objeto só será aceita como lícita
quando se reunir com os direitos do cidadão, mesmo que esse figure na qualidade de
suspeito, indiciado, denunciado e, até mesmo, condenado. A circunstância de alguém
vir a ser sentenciado em definitivo não lhe retira a dignidade. A repreensão estatal
não pode passar dos limites impostos pela pena. A pessoa privada de sua liberdade ou
que tem o gozo de seus direitos limitado, já se encontra em posição de fragilidade,
não sendo permitido ao agente do Estado potencializar esse sofrimento.
O Código de Processo Penal – CPP, em seu artigo 284, não trata diretamente das
algemas e sim, do uso da força, e indica as hipóteses em que aquelas poderão ser
aplicadas. O pensamento para tal assertiva é simples, basta lembrar que o uso da
força é gênero que contém entre suas espécies a utilização das algemas. Estatui o
dispositivo que: “Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no
caso de resistência ou de tentativa de fuga”. O CPP, ao tratar da prisão em
flagrante, mantém a mesma linha de raciocínio, dispondo que se houver, ainda que
Você já deve ter percebido que o uso de algemas representa medida excepcional.
Essa certeza jurídica deve, daqui em diante, fazer parte de sua rotina laboral. Sua
utilização só será aceita em situações pontuais, que estudará a seguir.
É muito importante registrar, para que você agente de Segurança Pública não tenha
dúvidas, que o emprego de algemas não está proibido, o que se pretendeu foi
regular seu uso com a adoção de determinados critérios.
A Constituição de 1988 estabeleceu com firmeza que não existem penas afora as
previamente prescritas em lei. Em complemento, somente ao Poder Judiciário, após
o devido processo legal, cabe a imposição de sanção ao infrator da norma. Nenhuma
outra forma de punição é admitida. Pensamento oposto certamente nos levaria ao
estado de exceção, duramente combatido. A violação dessa garantia constitucional
é reforçada quando acometida por agentes públicos, já que são os responsáveis
pela manifestação da vontade estatal.
Lembre-se
A Constituição Federal estipula que “ninguém será submetido a tortura nem a
tratamento desumano ou degradante” (artigo 5º, III). Em consequência, é dever do
profissional da área de Segurança Pública empregar as algemas dentro dos
permissivos legais, mesmo sabendo, como estudado anteriormente, que o
ordenamento jurídico nacional não é explícito na regulação do assunto.
Alguns pontos devem ficar solidamente assentados para que você desenvolva seu
trabalho de forma adequada em relação aos parâmetros legais. Tenha sempre em
mente que a algema só será utilizada com a finalidade de:
Vencer a resistência;
Também deve ser enfatizado que as finalidades acima destacadas só justificam o ato
quando estão em sintonia com os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade,
ou seja, sendo sem razão e sem guardar proporção legítima em relação ao
comportamento adotado por quem sofre a medida, não será juridicamente
sustentada a providência. Por fim, torna-se necessário que a medida seja justificada
por escrito, em formulário próprio, antes ou depois do uso das algemas. A exposição
da motivação servirá justamente para legitimar sua ação e de sua guarnição. O
controle, interno ou externo, da atuação policial é medida saudável para o
fortalecimento da democracia. Lembre-se de que a motivação deve abranger além da
sua apreciação dos fatos (aspecto subjetivo), critérios objetivos relacionados com a
finalidade da medida.
Concluindo
As algemas representam um valioso instrumento para o dia-a-dia dos policiais. Sua
utilização correta é capaz de salvaguardar a integridade física e moral dos mesmos,
de terceiros e, por que não dizer, do próprio contido. Sua licitude é atestada pela
mais alta corte do Brasil, o Supremo Tribunal Federal, responsável pala guarda da
Constituição e, por via direta, dos direitos e garantias do cidadão.
O que não se admite, no Estado Democrático, é que as algemas passem a ser símbolo
do poder arbitrário de um sobre o outro ser humano, que elas sejam forma de
humilhação pública, que elas se tornem instrumento de submissão juridicamente
indevida de alguém sobre o seu semelhante. Diante desses riscos, editou-se a Súmula
Vinculante nº 11, que antes de qualquer coisa, procurou reunir o emprego das
algemas com a dignidade da pessoa humana.
Para concluir esta aula bastam as palavras do Excelentíssimo Ministro César Peluso,
do STF, proferidas na sessão plenária realizada em 13 de agosto de 2008, por sua
sensibilidade em conjugar a difícil tarefa de ser policial ou guarda municipal com a
proteção dos direitos fundamentais do homem, em seus termos:
Nesta aula, será estudado um assunto importante tanto para você, profissional da
área de Segurança Pública, como para a sociedade. Trata-se do abuso de
autoridade, descrito na Lei nº 4.898/65.
Dessa forma, fica fácil obter que os seus crimes possuem dupla subjetividade
passiva. De um lado temos o Estado, titular da administração pública, na qualidade
de sujeito passivo mediato, do outro o cidadão, titular dos direitos e garantias
atingidos, como sujeito passivo imediato.
Direito de representação
Conforme José Afonso da Silva (1998, p. 443), o direito de petição define-se “como
o direito que pertence a uma pessoa de invocar a atenção dos Poderes Públicos
sobre uma questão ou situação (...), seja para denunciar uma lesão concreta, seja
para solicitar a modificação do direito em vigor no sentido mais favorável à
liberdade”.
Ao órgão do Ministério Público, promotor privativo da ação penal pública, nos termos
do inciso I, artigo 129, da Constituição Federal.
Sujeito ativo
Para descobrir é necessário saber quem é considerada autoridade nos termos da Lei
nº 4.898.
A resposta está estampada em seu artigo 5º, que diz: “Considera-se autoridade,
para fins desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza
civil ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração”.
Como salientam Moraes e Smanio (2005, p. 34): O conceito é amplo e acaba por
vincular a noção de autoridade não somente à condição de funcionário público,
mas também ao exercício de função pública, entendendo-se esta como qualquer
atividade que visa a fins próprios do Estado. Assim, é absolutamente
Fique atento! Situações podem acontecer em que o agente, mesmo não estando
no exercício de suas funções, comete o crime de abuso. Isso se dará quando o
funcionário, apesar de não estar no desempenho de seu labor ao praticar o abuso,
use ou invoque a autoridade de que é investido.
Crime de abuso de autoridade – Comete-o o miliciano que, embora, sem farda e fora
do efetivo exercício de suas funções, age, evocando a autoridade que é investida.
Exegese do artigo 5º, da Lei nº 4.898/65. Competente, todavia, para o processo e
julgamento, é a Justiça comum estadual, eis que inexistente crime militar. Habeas
corpus indeferido”. (STF – 2ª T, HC nº 59.676-2-SP, rel. Min. Djaci Falcão, DJU de
07/05/1982)
É indispensável que o dolo do possível autor do delito seja avaliado com cuidado,
somente merecendo a correspondente sanção penal àquele que agir com o
propósito de perseguição, vingança, capricho, maldade e não no interesse da
sociedade.
Você sabia?
Que uma pessoa não enquadrada no conceito de autoridade, exposto no artigo 5º da
legislação comentada, pode cometer crimes de abuso de autoridade. Para tanto,
somente poderá ser responsabilizada a título de participação, nos moldes do artigo
Tipos penais
Agora que você já estudou alguns aspectos gerais da Lei nº 4.898, chegou a hora de
analisar seus tipos penais, estabelecidos em seus artigos 3º e 4º. Lembre-se de que
o interesse aqui alinha-se àqueles relacionados com a abordagem policial. Leia
atentamente os destacados dispositivos:
● À liberdade de locomoção;
● À inviolabilidade de domicílio;
● Ao sigilo de correspondência;
● À liberdade de consciência e de crença;
● Ao livre exercício do culto religioso;
● À liberdade de associação;
● Aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
● Ao direito de reunião;
● À incolumidade física do indivíduo; e
● Aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
Comete o crime de abuso de autoridade, por incidência na letra “b”, do artigo 3º, o
funcionário público que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las,
O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a garantia constitucional não pode ser
transformada em meio de impunidade de crimes (RTJ 74/88), tanto em relação aos
que se praticam no interior da casa, como nas hipóteses em que o cidadão infrator se
esconde, após o seu cometimento, não estando em situação de flagrante delito
imperfeito, em seu domicílio ou no de terceiros.
Durante o dia
Em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, ainda, por
determinação judicial.
Durante a noite
Em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro.
Princípio da Especialidade
Segundo Cezar Bitencourt (2006, p. 248) “considera-se especial uma norma penal,
em relação a outra geral, quando reúne todos os elementos deste, acrescidos de mais
alguns, denominados especializantes.
O abuso de autoridade com base na letra i, artigo 3º, da Lei nº 4.898/65, consiste
em toda ofensa física concretizada pelo agente público, quando no exercício de
cargo, emprego ou função. Irrelevante, na espécie, que a conduta tenha deixado
vestígio, pois a violência exigida se caracteriza pelo emprego de força física, maus-
tratos ou vias de fato. Os tribunais brasileiros endossam esse entendimento, in
verbis:
Por certo, nem toda violência cometida por agente público deve ser levada à
condição de abuso de autoridade. Há situações em que o recurso da violência é
permitido e necessário, inserindo-se no estrito cumprimento de dever legal, como
exemplo, a violência utilizada por policiais para prender alguém em flagrante ou
em virtude de mandado judicial, quando houver resistência ou tentativa de fuga.
Você sabia?
1 - Se a violência praticada pelo agente público for cometida com o fim de obter
informação, declaração ou confissão, ou, ainda, para provocar ação ou omissão de
natureza criminosa, o crime será o de tortura, conforme os termos da Lei nº
9.455/97.
2 - A Súmula 172, do Superior Tribunal de Justiça, reza que: “Compete à Justiça
comum processar e julgar militar por crime de autoridade, ainda que em serviço”.
Neste curso, você estudou que a abordagem policial para ser conforme o
ordenamento jurídico requer conhecimentos, que vão desde noções de direito
constitucional – pelo estudo dos direitos e garantias fundamentais, dos princípios
regentes da administração pública, das atribuições dos diversos órgãos componentes
da Segurança Pública, dentre outros, passando pelo direito administrativo –, pois a
abordagem, como salientado, é um ato administrativo, até chegar ao âmbito penal.
Por que tais atitudes ocorrem? Qual a razão que leva um policial ou guarda
municipal a atentar contra a integridade física de alguém em uma abordagem de
rotina?
Não se pretende aqui responder as indagações feitas. Isso ficará para sua reflexão.
Mas, as condutas autoritárias, em alguns episódios, refletem ausência de
conhecimento, principalmente, do Código Penal.
Esta aula possui o objetivo central de criar condições para que tenha conhecimentos
sobre determinados tipos penais selecionados, não aleatoriamente, mas em razão da
possibilidade de seu acontecimento nas abordagens policiais.
Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de
multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de
prisão simples ou de multa, ou ambas. Alternativa ou cumulativamente.
É importante você ter a consciência que o juízo de tipicidade realizado pelo policial
não vincula a autoridade policial e nem o Ministério Público, que poderão, a
depender dos fatos, entender que a conduta apresentada amolda-se a outro tipo ou
que, até mesmo, não configura ilícito penal.
Essa rápida revisão cuidará das principais classificações doutrinárias a que estão
submetidos os tipos penais. A divisão dos diversos delitos em categorias é
elemento facilitador de seu entendimento. A doutrina realiza as seguintes
classificações:
Veja nas próximas páginas as características de cada uma das categorias citadas.
Você sabia?
Que em homenagem à garantia da reserva legal, constante no inciso XXXIX, artigo 5º,
da Constituição Federal, confirmada pelo parágrafo único do artigo 18, do Código
Penal, ninguém pode ser punido por conduta culposa, a menos que a figura penal
preveja, expressamente, a punição do agente a esse título.
O crime comum é aquele que pode ser cometido por qualquer pessoa, ou seja, não se
exige qualidade especial do sujeito ativo, por exemplo, homicídio, ameaça, furto. Já
os próprios só podem ser praticados por quem possua certa qualidade, como
exemplo, a condição de funcionário público para os crimes de peculato, concussão e
corrupção passiva.
Por sua vez, os ditos crimes de atividade se contentam com a ação humana
esgotando a descrição típica, podendo ocorrer ou não o resultado naturalístico, para
sua consumação. Conforme leciona Nucci (2007) é o caso da prevaricação (artigo
319). Contenta-se o tipo penal em prever punição para o agente que deixar de
praticar ato de ofício para satisfazer interesse pessoal, ainda que, efetivamente,
O crime unissubjetivo é aquele que pode ser praticado por um único agente, mas
admite o concurso (ajuda) eventual de pessoas. Essa modalidade de delito constitui
a regra no ordenamento penal. O crime plurissubjetivo exige o concurso necessário
de no mínimo duas pessoas, por exemplo, a rixa.
A conduta tida como injusto penal consiste em opor-se à execução de ato legal,
mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a
Situação 1: Ao perceber que vai ser detido, o infrator insurge-se contra a ordem
legal, dando vários chutes na viatura, fato que dificulta seu serviço.
Situação 2: O cidadão infrator não chuta as viaturas, mas, por diversas vezes, diz em
alto e bom som, buscando ameaçá-lo, que vai até a corregedoria representar contra
sua atuação.
Por último, você analisará o elemento objetivo representado pela necessidade de ser
o ato legal e o funcionário competente para executá-lo. A Constituição de 1988, no
inciso II, de seu artigo 5º, traz como garantia fundamental a norma que “ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.
Interpretando o dispositivo constitucional em conjunto com o artigo 329, do CP,
chega-se a inevitável conclusão que ao cidadão é permitido contrariar a ordem ilegal,
no exercício regular de seu direito. Não se pode esquecer que a legalidade da ordem
deve abranger seu aspecto substancial (conteúdo) e formal.
Apesar de tudo que foi dito é importante registrar que a ilegalidade da ordem não se
confunde com a sua justiça, ou seja, ela pode ser injusta, mas legal, circunstância
que impõem sua observância. No que toca ao funcionário público, não basta essa
qualidade para a configuração do ilícito, é necessária a presença de sua competência
funcional. Já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo, por exemplo, que não
caracteriza o delito de resistência a oposição a diligência efetuada por guardas
municipais, pois esses não possuem competências para abordar, revistar ou prender
alguém por porte ilegal de armas. (TJSP, RJTJSP 157/294)
Você sabia?
A resistência passiva – sujeito que ao receber uma ordem legal se deita no chão para
não acatá-la – não configura o crime de resistência, pois a violência e a ameaça estão
ausentes.
Você, policial, está realizando uma blitz quando determina a um condutor de veículo
que faça o teste do bafômetro. O cidadão, aparentemente ébrio, nega-se
decisivamente.
Nesse caso, você pode dar voz de prisão com base no crime de desobediência?
A conduta proibida pelo tipo do artigo 331 é representada pelo verbo desacatar, que
traz o sentido de ofender, menosprezar, humilhar e menoscabar. Na lição de Nelson
Hungria (1959), desacato é “a grosseira falta de acatamento, podendo consistir em
palavras injuriosa, difamatórias ou caluniosas, vias de fato, agressões físicas,
ameaças, gestos obscenos, etc.”, complementa por dizer, que é “qualquer palavra
ou ato que redunde em vexame, humilhação, desprestígio ou irreverência ao
funcionário”. Desde já, cabe ressaltar que a crítica ou censura contra a atuação
funcional de alguém não são abrangidas pelo núcleo do tipo, a não ser que proferidas
de modo ofensivo.
Como foi destacado anteriormente, o desacato pode ser concretizado por palavras,
gestos e até ofensas físicas. Esse crime absorverá a infração cometida em sua
execução, no caso mais leve, tendo como exemplo a ameaça, e vias de fato, lesão
corporal de natureza leve e difamação, pela aplicação do critério da consunção. Ao
contrário, em se tratando de delito mais grave, como a lesão corporal de natureza
grave, há concurso formal.
Ocorre o concurso formal quando o agente, mediante uma só conduta, pratica dois
ou mais crimes, idênticos ou não. Nessa espécie de concurso há unidade de ação e
pluralidade de crimes. Nesse caso, aplica-se a mais grave das penas cabíveis ou, se
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até
metade.
O tipo objetivo traz como um de seus elementos a vantagem indevida, que constitui
todo benefício ou proveito contrário ao direito, ainda que, ofensivo apenas aos bons
costumes (Nucci, 2007). A doutrina pátria diverge acerca da natureza da vantagem,
concedendo duas correntes:
Por ser crime comum qualquer pessoa pode cometê-lo. O sujeito passivo é o Estado.
O bem jurídico protegido é o normal funcionamento e o prestígio da administração
pública. Por ser um crime formal, sua consumação ocorre mesmo que o funcionário
público não aceite o suborno, bastando que o oferecimento ou promessa de
vantagem chegue ao seu conhecimento, conforme decisões dos principais tribunais
nacionais.
Conclusão
Neste módulo, você estudou sobre o uso de algemas, sobre abuso de autoridade e fez
uma breve revisão de alguns delitos descritos no Código Penal. Os temas abordados
possuem o objetivo de orientar sua atuação quando confrontado em uma abordagem
policial. Atue dentro da legalidade, não aja, exclusivamente, com base na emoção.
Lembre-se de que o maior prejudicado, em uma atuação arbitrária, será o próprio
policial.
Os assuntos tratados neste curso, não se esgotam aqui. Pelo contrário, exigem
aprimoramento constante.
A sociedade acredita e precisa muito de você. Conheça cada vez mais seu ofício, pois
um erro do policial conduz a legalidade à ilegalidade, a vida à morte.
Afirmam as autoridades policiais que não é possível saber quando haverá resistência,
uma vez que o detido pode reagir, ainda que seja uma pessoa tranquila colhida pela
ordem. Nesse sentido, as algemas seriam instrumento de segurança, até mesmo, para
a própria pessoa do preso, além de o ser também para policiais e terceiros. De outra
parte, é inegável que as algemas tornaram-se símbolo da ação policial, e da
submissão do preso àquele que cumpre a ordem de prisão. E é com essa figuração
que pode se tornar uma fonte de abusos e de ação espetaculosa, que promove a
prisão como forma de humilhação do preso e não de garantia da segurança das
providências adotadas. (Ministra do STF Carmém Lúcia – Relatora do HC nº. 89.429-1)
Gabarito