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1.
Antecedentes legislativos imediatamente anteriores:
O regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais entidades públicas foi,
durante décadas, regulado, essencialmente, pelo Dec. Lei nº 48051 de 21/11/1967 e por
algumas normas do Código de Processo Penal.
Assim,
- O Dec. Lei nº 48051 de 21/11/1967 – regulava a responsabilidade civil extracontratual do
Estado e demais pessoas colectivas públicas no domínio dos actos de gestão pública.
Considerava-se que abrangia apenas os actos integrados na função administrativa do Estado.
Por essa razão era inaplicável aos actos integrados na função jurisdicional e na função legislativa.
[Este diploma foi expressamente revogado pela Lei nº 67/2007, de 31 de Dezembro].
- O regime jurídico da indemnização por privação da liberdade ilegal ou injustificada e da
condenação penal injusta encontra-se densificado nos artºs 225º, 226º e 462º do CPP,
respectivamente. [A vigência destas normas foi expressamente ressalvada – artº 13º, nº1, da Lei
nº 67/2007, de 31 de Dezembro].
- O dever de indemnizar por prejuízos decorrentes dos demais actos da função jurisdicional, bem
como o relativo à função político-legislativa, não se encontrava densificado.
Face a essa ausência de normação, a Jurisprudência, na última década e sob impulso da
Doutrina, foi paulatina e reiteradamente ancorando no artº 22º da CRP a faculdade de exigir
uma indemnização por prejuízos causados por qualquer acção funcional do Estado,
designadamente, por actos relativos à função jurisdicional, e à função legislativa.
No entanto, na ausência de quadro normativo relativo aos pressupostos e condições desse dever
público de indemnizar, procedeu-se à aplicação directa e irrestrita dos princípios da
responsabilidade aquiliana (artº 483º do CC) [ para existir a responsabilidade aquiliana tornava-
se, tão só, necessária a presença de um facto, da ilicitude, da imputação do facto ao lesante, e
existência de danos e de um nexo de causalidade entre o facto e o dano].
Face à mencionada omissão de densificação normativa a discussão jurídica foi prosseguindo de
modo não inteiramente acorde, chegando a colocar-se a questão de saber se no artº 22º da CRP,
estavam compreendidas quer a responsabilidade civil por acto ilícito, quer pelos lícitos, quer
mesmo a responsabilidade civil objectiva do Estado.
O ato ilícito pode pois consistir num comportamento ativo ou omissivo, sendo que, neste último
caso, a ilicitude apenas se verifica quando exista, por parte da Administração, a obrigação, o
dever de praticar o ato que foi omitido.
Perante a prova feita, resulta que o Município demonstrou terem sido cumpridos os deveres de
vigilância que legalmente lhe eram impostos, até por não ter Recorrente logrado demonstrar a
existência de qualquer “lençol de água” ou buracos na via, suscetíveis de determinar o acidente
participado.
3 – Não tendo o “guarda corpos”, inexistente aquando do acidente, a virtualidade de suster um
qualquer veículo em despiste, não pode a sua ausência considerar-se como tendo contribuído
para os danos resultantes do participado acidente.*
Não sendo apurados factos que permitam concluir que o lesado contribuiu para a produção ou
agravamento dos danos e mostrando-se preenchidos os demais pressupostos do dever de
indemnizar com fundamento em responsabilidade civil extracontratual devem ser indemnizados
os danos patrimoniais e não patrimoniais causados à A. pela omissão ilícita do dever de
conservação da calçada.
Com efeito, conforme o próprio A., ora recorrente, afirma no articulado 178º da p.i., a presente
acção é consubstanciada, em primeira mão, na responsabilidade civil extracontratual do Estado,
nos termos regulados no Dec. Lei nº 48051 de 22.11.1967.
I. A remissão contida no art. 04°, n.° 1 do DL n.° 48.051 para o art. 487° do CC abrange também
o n.° 1 deste último artigo e daí a admissão de presunções legais de culpa, entre as quais se
inclui a do art. 493°, n.° 1 do CC, pelo que à responsabilidade civil extracontratual dos entes
públicos por facto ilícito de gestão pública, designadamente no que respeita à violação dos
deveres de fiscalização e conservação de vias de trânsito, é aplicável a presunção de culpa
prevista no referido art. 493º, n.º 1.
II.
II. Para beneficiar dessa presunção o A. só tem que demonstrar a realidade dos factos que
servem de base aquela para que se dê como provada a culpa do R. cabendo a este ilidir a
presunção.
III.
III. A ilisão de uma presunção “juris tantum” só é feita mediante a prova do contrário, não
sendo bastante a mera contraprova, pelo que o “non liquet” prejudica a pessoa/parte contra
quem funciona a presunção.
IV.
IV. Sobre o R. impende o ónus de provar a adopção de todas as providências que, segundo
a experiência comum e as regras técnicas aplicáveis, fossem susceptíveis de evitar o perigo,
prevenindo o dano, o qual não se teria ficado a dever a culpa da sua parte, ou que os danos
se teriam igualmente produzido ainda que não houvesse culpa sua.
V. Para se ter como ilidida a presunção de culpa do R. não basta a simples prova, em
abstracto, de que o mesmo desenvolve ou dispõe de funcionários ou dum corpo técnico que
têm por função proceder à fiscalização e reparação das diversas artérias sob sua jurisdição
(pavimentos e rede de esgotos), e/ou que os mesmos procedem à sinalização de carácter
temporário de obras e obstáculos na via pública, pois tem de ser demonstrado quais são as
providências desencadeadas em relação à via pública em questão, a fim de que o Tribunal
possa aferir se aquele «organizou os seus serviços de modo a assegurar um eficiente sistema
de prevenção e vigilância de anomalias previsíveis», exercendo uma «adequada e contínua
fiscalização».
São fonte de responsabilidade civil das autarquias locais os danos resultantes de acidentes de
circulação automovel nas vias publicas sujeitas a sua jurisdição, em consequencia de ilicito
culposo da mesma, por falta de reparação e de sinalização de uma depressão do pavimento em
local de trafego intenso e não suficientemente fiscalizado pelos respectivos serviços
autarquicos.
O Codigo Civil consagra como principio geral no artigo 496, a reparabilidade dos danos não
patrimoniais.
Na realidade, o prejuizo tanto pode afectar o patrimonio do sinistrado como os seus direitos
pessoais, originando o dano moral.
O que se exige e tão so que a ofensa seja susceptivel de tradução material, economicamente
mensuravel ou avaliavel em dinheiro.
III - Não interessa tanto, em sede de ilicitude, saber se o facto foi provocado pelo Réu, ou por
culpa do Réu, mas saber só se o comportamento desviante estava a cargo do Réu evitar.
Por isso, não deixa de ser ilícito o comportamento, ainda que o facto material que despolotou
a omissão do dever de vigilância e conservação seja da autoria de terceiro, tanto quanto o facto
pressuposto da responsabilidade exigida na acção foi, não a causa material de um derrame, mas
a omissão dos deveres do Réu.
Quando está em causa, não uma acção mas uma omissão de agir, esta só será causa de dano
sempre que haja o dever jurídico de praticar o acto que, segura ou muito provavelmente,
impediria a consumação daquele.
Não se tendo provado senão a existência de um buraco na via como causa de um acidente, e
sendo aquele imputável à omissão de um dever jurídico do município, traduzindo na dupla
vertente da conservação da Rua e da sinalização adequada dos obstáculos de perigo, não
havendo pois qualquer outro elemento probatório excludente ou concorrencial de tais nexos de
dano e culpa, não pode a acção deixar de proceder por estarem presentes todos os elementos
da responsabilidade do agravante
Não é possível com base numa fotografia, tirada em condições diversas das
que existiam no momento em que ocorreu um acidente de trânsito, modificar
a resposta a um quesito, fundamentada em prova testemunhal, sobre a
visibilidade de um obstáculo à circulação.
Por outro lado, nos termos do n.º 2 do art. 5.º do C:E: os obstáculos eventuais
devem ser sinalizados por aquele que lhes der causa.
Este comportamento omissivo, que constitui facto ilícito gerador dos danos
sofridos pelo A., é igualmente culposo, sendo censurável no plano ético,
porquanto um funcionário zeloso e cumpridor (artº 487° n° 2 do C.Civil ex vi
n° 1 do artº 4° do DL 48.051, de 21.11.67) teria actuado em conformidade com
as normas que impõem a referida sinalização.
IV - Em abstracto, deve concluir-se que, para um condutor médio que, sem ser
avisado, nomeadamente por sinalização vertical, da aproximação duma curva
mais fechada no seu final, se depara com uma linha contínua que segue em
frente, e respeitante a anterior traçado da via, e outra linha que curva para a
direita, referente ao traçado actual, se cria uma situação de perplexidade,
podendo levar a que opte inicialmente pelo trajecto antigo, demorando algum
tempo a reagir quando se apercebe que é errado, e que esse tempo pode ser
o suficiente para que invada o eixo da via, se bem que só parcialmente,
embatendo assim em outro veículo que se apresenta em sentido contrário;
I - A sentença deve ser uma peça processual coerente e deve ser assim
porque, sendo a sua finalidade a prolação de uma decisão que defina o
direito numa relação conflituosa e que, consequentemente, estabeleça
a paz nessa relação, esse desiderato só poderá ser alcançado se a
mesma for clara, lógica e coerente, pois só assim se consegue que as
partes se convençam da sua bondade e se conformem com o que nela
se decidiu.
http://www.dgsi.pt/jtcn.nsf/89d1c0288c2dd49c802575c8003279c7/ccb334fc59ab606580257f
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http://www.dgsi.pt/jtrg.Nsf/86c25a698e4e7cb7802579ec004d3832/fb8cbb5eccbd916280258
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http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/-/86560C52CF04918380257C610059C56E