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APONTAMENTOS

1.
Antecedentes legislativos imediatamente anteriores:
O regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais entidades públicas foi,
durante décadas, regulado, essencialmente, pelo Dec. Lei nº 48051 de 21/11/1967 e por
algumas normas do Código de Processo Penal.
Assim,
- O Dec. Lei nº 48051 de 21/11/1967 – regulava a responsabilidade civil extracontratual do
Estado e demais pessoas colectivas públicas no domínio dos actos de gestão pública.
Considerava-se que abrangia apenas os actos integrados na função administrativa do Estado.
Por essa razão era inaplicável aos actos integrados na função jurisdicional e na função legislativa.
[Este diploma foi expressamente revogado pela Lei nº 67/2007, de 31 de Dezembro].
- O regime jurídico da indemnização por privação da liberdade ilegal ou injustificada e da
condenação penal injusta encontra-se densificado nos artºs 225º, 226º e 462º do CPP,
respectivamente. [A vigência destas normas foi expressamente ressalvada – artº 13º, nº1, da Lei
nº 67/2007, de 31 de Dezembro].
- O dever de indemnizar por prejuízos decorrentes dos demais actos da função jurisdicional, bem
como o relativo à função político-legislativa, não se encontrava densificado.
Face a essa ausência de normação, a Jurisprudência, na última década e sob impulso da
Doutrina, foi paulatina e reiteradamente ancorando no artº 22º da CRP a faculdade de exigir
uma indemnização por prejuízos causados por qualquer acção funcional do Estado,
designadamente, por actos relativos à função jurisdicional, e à função legislativa.
No entanto, na ausência de quadro normativo relativo aos pressupostos e condições desse dever
público de indemnizar, procedeu-se à aplicação directa e irrestrita dos princípios da
responsabilidade aquiliana (artº 483º do CC) [ para existir a responsabilidade aquiliana tornava-
se, tão só, necessária a presença de um facto, da ilicitude, da imputação do facto ao lesante, e
existência de danos e de um nexo de causalidade entre o facto e o dano].
Face à mencionada omissão de densificação normativa a discussão jurídica foi prosseguindo de
modo não inteiramente acorde, chegando a colocar-se a questão de saber se no artº 22º da CRP,
estavam compreendidas quer a responsabilidade civil por acto ilícito, quer pelos lícitos, quer
mesmo a responsabilidade civil objectiva do Estado.

Gabinete de Juízes Assessores do Supremo Tribunal d e Justiça Assessoria Cível


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A responsabilidade civil extracontratual do Estado na jurisprudência das Secções Cíveis do
Supremo Tri bunal de Justiça
Responsabilidade civil por danos decorrentes do exercício da função administrativa
Gabinete de Juízes Assessores do Supremo Tribunal d e Justiça
Assessoria Cível
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A responsabilidade civil extracontratual do Estado na jurisprudência das Secções Cíveis do
Supremo Tribunal de Justiça
Responsabilidade civil - Estado - Empresa intervencionada - Dolo - Matéria de facto
I - O Estado só responde civilmente pelos actos dos seus representantes nas empresas
intervencionadas se estes, no cometimento dos actos que causarem prejuízos, procederem com
dolo; assim como tais representantes só respondem perante os lesados se actuaram com esse
mesmo dolo.
II - É o que inequivocamente resulta do n.º 2, do art.º 10, do DL 422/76, de 21 de Maio,
conjuntamente interpretado com os DL n.ºs 40833 de 29/10/1956, 44722 de 25/11 e 597/72 de
28/10, bem como com o art.º 500 do CC, uma vez que nos termos daquele n.º 2 a
responsabilidade do Estado emergente de actos dos seus representantes será, nos termos
gerais, a dos comitentes.
III - Na medida em que o n.º 2, do art.º 487, do CC, remete para a diligência de um bom pai de
família, será de admitir que o juízo sobre a culpa - no fundo aquele que faria o “homo prudens”
ou o homem comum - integra uma mera questão de facto, da exclusiva competência das
instâncias.
15-10-1998 - Revista n.º 647/98 - 2.ª Secção - Relator: Cons. Costa Soares
Estado - Responsabilidade extracontratual - Dever de vigilância
I - A existência de fundões numa praia fluvial de acesso público - naturais ou decorrentes de
obra humana - podem gerar obrigação de indemnizar por parte do Estado, verificados os demais
pressupostos de tal obrigação por actos de gestão d o Estado.
II - É o que se verifica se, depois de licenciar a extracção de areias no interior das águas, o Estado
descura a vigilância omitindo a sinalização, não averiguando dos perigos existentes ou, mesmo
no limite exigível, vedando o acesso do público.
13-12-2000 - Revista n.º 2392/00 - 7.ª Secção - Neves Ribeiro (Relator), Sousa Dinis e Óscar
Catrola
Responsabilidade civil de entes públicos
I - O art.º 22 da CRP consagra o princípio da responsabilidade patrimonial directa das entidades
públicas por danos causados aos cidadãos resultantes do exercício das funções política,
legislativa, administrativa e jurisdicional; e abrange quer a responsabilidade do Estado por actos
ilícitos, quer por actos lícitos, quer pelo risco.
II - Assim, para que terceiros possam ser ressarcidos dos prejuízos causados pelas acções ou
omissões do Estado, basta a prova da existência do dano e do nexo de causalidade adequada
entre esse dano e aquelas acções ou omissões.
III - Trata-se duma norma directamente aplicável, por integrar um direito fundamental de
natureza análoga à dos direitos, liberdades e garantias; mas compete ao legislador ordinário o
poder de estabelecer diferentes tipos de responsabilidade e de fixar os especiais pressupostos
de cada um deles
.
27-03-2003 - Revista n.º 84/03 - 2.ª Secção - Abílio Vasconcelos (Relator), Duarte Soares e
Ferreira
Girão
Responsabilidade civil do Estado - Acidente de viação - Pressupostos
I - O instituto da responsabilidade civil não se limita, no âmbito do direito público, a satisfazer
as necessidades de reparação e de prevenção à semelhança do que sucede no direito civil. A
responsabilidade estadual é, ela mesma, instrumento de legalidade, não só porque assegura a
conformidade ao direito dos actos estaduais, como a indemnização por sacrifícios impostos
cumpre a outra função do Estado, que a realização da justiça material.
II - Sustentado o pedido de indemnização formulado pelo autor nos prejuízos sofrido pelo
despiste do seu automóvel em resultado do gelo que se formou na via pública na sequência de
uma ruptura de um esgoto público, competindo aos serviços municipalizados a manutenção da
conduta e a limpeza da via, tendo o Município transferido a sua responsabilidade e para a ré
seguradora, tal pedido suporta-se na responsabilidade civil extracontratual, para o que é
necessário alegar e provar os factos consubstanciadores dos requisitos do art.º 483, do CC.
III - Não tendo as instâncias dado como provado que no circunstancialismo do acidente a água
gelada existente no pavimento da via provinha de esgoto público, falece a acção.
06-05-2003 - Revista n.º 1987/02 - 1.ª Secção - Pinto Monteiro (Relator), Azevedo Ramos e Silva
Salazar
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Responsabilidade civil por danos decorrentes do exercício da função administrativa
Competência material - Tribunal comum - Tribunal administrativo - Responsabilidade extra
contratual - Empreitada de obras públicas
I - O tribunal comum é competente em razão da matéria, para conhecer de uma relação jurídica
litigiosa entre o Estado (Estado-Administração indirecta-ICOR) e um particular atingido no seu
direito de propriedade, com danificação da casa, em consequência das escavações, remoção de
terras e pedras, bem como detonações, tudo provocado para execução de uma obra de abertura
de uma estrada nacional, levada a cabo pela ICOR ou seu empreiteiro).
II - Para a determinação da natureza, pública ou privada, da relação litigiosa, assim constituída
entre Estado/Administração e o particular, e da consequente determinação do tribunal
competente para dela conhecer, deve considerar-se a acção (pedido e causa de pedir), tal como
foi proposta pelo particular/autor, tendo ainda em conta as demais circunstâncias disponíveis
pelo Tribunal que possam relevar da exacta configuração da causa proposta.
19-10-2004 - Revista n.º 3001/04 - 7.ª Secção - Neves Ribeiro (Relator) *, Araújo Barros e Oliveira
Barros
Responsabilidade civil do Estado - Pressupostos
I - A responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais entidades públicas por actos
ilícitos está consagrada no art.º 22 da CRP e regulamentada no DL n.º 48051, de 21-11-67.
II - Consideram-se ilícitos os actos jurídicos que violem as normas legais e regulamentares ou os
princípios gerais aplicáveis e os actos materiais que infrinjam estas normas e princípios ou ainda
as regras de ordem técnica e de prudência comum que devam ser tidas em consideração (art.º
6 do DL n.º
48051).
III - Os pressupostos da responsabilidade civil em apreço são o facto voluntário, a ilicitude, a
imputação do facto ao lesante (ou seja, a culpa, a qual é apreciada nos termos do art.º 487 do
CC), o dano e o nexo de causalidade entre o facto e o dano (art.ºs 1 a 3 do DL n.º 48051).
13-01-2005 - Revista n.º 4130/04 - 7.ª Secção - Ferreira de Sousa (Relator), Armindo Luís e Pires
da Rosa.

Sociedade comercial - Sociedade de capital público - Empresa concessionária de serviço público


- Empresa pública - Pessoa colectiva de direito público - Responsabilidade civil do Estado - Lei
aplicável - Aplicação da lei no tempo – Competência material
I - A Metro..., S.A. é uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos que se rege
pela lei comercial e seus estatutos e portanto uma sociedade de direito privado, concretamente,
adoptando a forma de uma sociedade comercial.
II - Com efeito, o n.º 3 do art. 2.º do DL n.º 394-A/98 de 15-12, que aprovou as bases da
concessão da exploração, em regime de serviço público e de exclusivo, de um sistema de metro
ligeiro na área metropolitana do ......, dispõe taxativamente que «A Metro do ......, S.A., é uma
sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, que se rege pela lei comercial e pelos
seus estatutos, salvo no que o presente diploma ou disposições legais especiais disponham
diferentemente» (sublinhado nosso).
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A responsabilidade civil extracontratual do Estado na jurisprudência das Secções Cíveis do
Supremo Tribunal de Justiça
III - A circunstância desta sociedade anónima ser de capitais exclusivamente públicos não lhe
retira a qualidade de sociedade comercial e, portanto, de uma pessoa colectiva de direito
privado, como todas as sociedades comerciais.
IV - Por outro lado, certo é que as sociedades comerciais podem constituir Empresa Púbicas,
desde que obedeçam aos requisitos previstos no art. 3.º do DL n.º 558/99 de 17-12, isto é, desde
que sendo sociedades constituídas nos termos da lei comercial, possam o Estado ou outras
entidades públicas estaduais, exercer nelas, isolada ou conjuntamente, de forma directa ou
indirecta, uma influência dominante em virtude de alguma das circunstâncias referidas nas duas
alíneas daquele preceito legal.
V - Porém o conceito de pessoa colectiva pública ou de pessoa colectiva de direito público não
se confunde com o de empresa pública.
VI - A sociedade anónima, sendo uma típica sociedade comercial (criada e regida pela lei
comercial) é uma pessoa colectiva de direito privado, não colhendo também o argumento de
que por ser uma sociedade de capitais exclusivamente públicos, tal a converteria em ente
colectivo dotado de personalidade jurídica de direito público.
VII - Neste sentido, escreveu o Prof. Carvalho Fernandes: «Tendo em conta os aspectos
determinantes do seu regime jurídico, entendemos dever situar, em geral, as empresas de
capital exclusiva ou maioritariamente públicos, no elenco das pessoas colectivas privadas».
VIII - Para este civilista de Lisboa, há no entanto situações em que as denominadas empresas
públicas de regime especial podem ser consideradas como pessoas colectivas públicas.
IX - No que à competência jurisdicional ratione materiae tange, convirá ter presente Acórdão
deste
Supremo Tribunal de 14-04-2008 (Proc. 08B845, Relator, o Exmº Conselheiro Salvador da Costa,
disponível em www.dgsi.pt), que sentenciou no sentido de que «à concessionária do sistema do
metropolitano do ......, pessoa jurídica de direito privado na forma de sociedade anónima de
capital público, não é aplicável o regime substantivo da responsabilidade civil extracontratual
concernente aos entes públicos, dada a falta de disposição legal nesse sentido e que não
compete, por isso, aos tribunais da ordem administrava – mas sim aos tribunais da ordem
judicial – o conhecimento do pedido de indemnização formulado contra a referida sociedade
por danos causados ao seu autor pelo agrupamento complementar de empresas no exercício da
sua actividade de construção no âmbito da mencionada concessão».
X - O art. 1.º do Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais Entidades
Públicas, aprovado pela Lei n.º 67/2007, de 31-12, veio dispor no seu n.º 5, que as disposições
da referida lei, são aplicáveis também à responsabilidade civil das pessoas colectivas de direito
privado
(...) por acções ou omissões que adoptem no exercício de prerrogativas de poder público ou que
sejam reguladas por disposições ou princípios de direito administrativo.
XI - Porém, como doutamente alega a Recorrida, este diploma legal só entrou em vigor em 30-
01-2008, já que o art. 6.º do mesmo estatuiu que tal lei entrava em vigor 30 dias após a sua
publicação que ocorreu em 31 de Dezembro.
XII - Assim sendo, tendo em atenção que o presente processo é de 2007, tal lei não lhe é
aplicável, não só pelo disposto no art. 12.º do CC, como também pelo disposto no art. 22.º, n.º
2, da Lei n.º 3/99, de 13-01 (Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais),
aplicável in casue segundo o qual, em matéria da lei reguladora de competência e tendo em
conta que a competência se fixa no momento da propositura da acção «são irrelevantes as
modificações de direito, excepto se for suprimido o órgão a que a causa estava afecta ou lhe for
atribuída competência de que inicialmente
carecesse para o conhecimento da causa». XIII - De resto, já no domínio do DL n.º 260/76, de
02-04, que foi o diploma legal antecessor do DL n.º 558/99, de 17-12, que actualmente disciplina
o regime jurídico das empresas públicas, o seu art. 46.º, n.º 1, estatuía que «salvo o disposto
nos números seguintes, compete aos tribunais judiciais o julgamento de todos os litígios em que
seja parte uma empresa pública, incluindo as acções para efectivação da responsabilidade civil
por actos dos seus órgãos, bem como a apreciação da responsabilidade civil dos titulares desses
órgãos para com a respectiva empresa», o que só demonstra que tal regime de competência
jurisdicional tem tradição no nosso ordenamento jurídico.
11-02-2010 - Agravo n.º 385/07.0TVPRT-A.P1.S1 - 2.ª
Secção - Álvaro Rodrigues (Relator) *, Santos
Bernardino e Bettencourt de Faria
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Notas soltas de Acórdãos

enquanto lesado, o Autor logrou demonstrar os factos integradores dos pressupostos da


responsabilidade extracontratual, regulada, fundamentalmente, no Decreto-Lei 48 051, de 21
de Novembro de 1967;

I.3 - essa responsabilidade assenta na verificação cumulativa dos pressupostos da idêntica


responsabilidade prevista na lei civil, que são o facto, a ilicitude, a imputação do facto ao lesante,
o prejuízo ou dano e o nexo de causalidade entre este e o facto;

Em termos análogos ao regime civilístico, também o regime da responsabilidade civil


extracontratual do Estado (Decreto – Lei nº 48051, de 21 de Novembro de 1967) pressupõe a
ocorrência dos seguintes requisitos: facto ilícito, culpa, dano e nexo de causalidade entre o facto
e o dano, bastando a falta de verificação de um destes pressupostos para que a acção
improceda.

1 – Como decorre da generalidade da Jurisprudência e Doutrina Administrativa, a


responsabilidade civil extracontratual dos entes públicos impõe que estes sejam responsáveis
quando for de concluir que os seus órgãos ou agentes praticaram, por ação ou omissão, atos
ilícitos e culposos, no exercício das suas funções e por causa desse exercício, e que daí resultou
um dano para terceiro.

2 - Efetivamente, a responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais pessoas coletivas


públicas por atos ilícitos e culposos, pressupõe a existência de um facto ilícito, imputável a um
órgão ou agente e a existência de danos que tenham resultado como consequência direta e
necessária daquele.

O ato ilícito pode pois consistir num comportamento ativo ou omissivo, sendo que, neste último
caso, a ilicitude apenas se verifica quando exista, por parte da Administração, a obrigação, o
dever de praticar o ato que foi omitido.

Perante a prova feita, resulta que o Município demonstrou terem sido cumpridos os deveres de
vigilância que legalmente lhe eram impostos, até por não ter Recorrente logrado demonstrar a
existência de qualquer “lençol de água” ou buracos na via, suscetíveis de determinar o acidente
participado.
3 – Não tendo o “guarda corpos”, inexistente aquando do acidente, a virtualidade de suster um
qualquer veículo em despiste, não pode a sua ausência considerar-se como tendo contribuído
para os danos resultantes do participado acidente.*

Não sendo apurados factos que permitam concluir que o lesado contribuiu para a produção ou
agravamento dos danos e mostrando-se preenchidos os demais pressupostos do dever de
indemnizar com fundamento em responsabilidade civil extracontratual devem ser indemnizados
os danos patrimoniais e não patrimoniais causados à A. pela omissão ilícita do dever de
conservação da calçada.

Com efeito, conforme o próprio A., ora recorrente, afirma no articulado 178º da p.i., a presente
acção é consubstanciada, em primeira mão, na responsabilidade civil extracontratual do Estado,
nos termos regulados no Dec. Lei nº 48051 de 22.11.1967.

E, nos articulados seguintes da p.i., o próprio A. continua a invocar a responsabilidade do Estado,


quer por apelo ao art. 2º nº 1, do citado Dec. Lei, quer por apelo ao art. 483º nº 1 do Cód. Civil.

I. A remissão contida no art. 04°, n.° 1 do DL n.° 48.051 para o art. 487° do CC abrange também
o n.° 1 deste último artigo e daí a admissão de presunções legais de culpa, entre as quais se
inclui a do art. 493°, n.° 1 do CC, pelo que à responsabilidade civil extracontratual dos entes
públicos por facto ilícito de gestão pública, designadamente no que respeita à violação dos
deveres de fiscalização e conservação de vias de trânsito, é aplicável a presunção de culpa
prevista no referido art. 493º, n.º 1.
II.
II. Para beneficiar dessa presunção o A. só tem que demonstrar a realidade dos factos que
servem de base aquela para que se dê como provada a culpa do R. cabendo a este ilidir a
presunção.
III.
III. A ilisão de uma presunção “juris tantum” só é feita mediante a prova do contrário, não
sendo bastante a mera contraprova, pelo que o “non liquet” prejudica a pessoa/parte contra
quem funciona a presunção.
IV.
IV. Sobre o R. impende o ónus de provar a adopção de todas as providências que, segundo
a experiência comum e as regras técnicas aplicáveis, fossem susceptíveis de evitar o perigo,
prevenindo o dano, o qual não se teria ficado a dever a culpa da sua parte, ou que os danos
se teriam igualmente produzido ainda que não houvesse culpa sua.
V. Para se ter como ilidida a presunção de culpa do R. não basta a simples prova, em
abstracto, de que o mesmo desenvolve ou dispõe de funcionários ou dum corpo técnico que
têm por função proceder à fiscalização e reparação das diversas artérias sob sua jurisdição
(pavimentos e rede de esgotos), e/ou que os mesmos procedem à sinalização de carácter
temporário de obras e obstáculos na via pública, pois tem de ser demonstrado quais são as
providências desencadeadas em relação à via pública em questão, a fim de que o Tribunal
possa aferir se aquele «organizou os seus serviços de modo a assegurar um eficiente sistema
de prevenção e vigilância de anomalias previsíveis», exercendo uma «adequada e contínua
fiscalização».

São fonte de responsabilidade civil das autarquias locais os danos resultantes de acidentes de
circulação automovel nas vias publicas sujeitas a sua jurisdição, em consequencia de ilicito
culposo da mesma, por falta de reparação e de sinalização de uma depressão do pavimento em
local de trafego intenso e não suficientemente fiscalizado pelos respectivos serviços
autarquicos.

O Codigo Civil consagra como principio geral no artigo 496, a reparabilidade dos danos não
patrimoniais.
Na realidade, o prejuizo tanto pode afectar o patrimonio do sinistrado como os seus direitos
pessoais, originando o dano moral.

O que se exige e tão so que a ofensa seja susceptivel de tradução material, economicamente
mensuravel ou avaliavel em dinheiro.

III - Não interessa tanto, em sede de ilicitude, saber se o facto foi provocado pelo Réu, ou por
culpa do Réu, mas saber só se o comportamento desviante estava a cargo do Réu evitar.

Por isso, não deixa de ser ilícito o comportamento, ainda que o facto material que despolotou
a omissão do dever de vigilância e conservação seja da autoria de terceiro, tanto quanto o facto
pressuposto da responsabilidade exigida na acção foi, não a causa material de um derrame, mas
a omissão dos deveres do Réu.

Quando está em causa, não uma acção mas uma omissão de agir, esta só será causa de dano
sempre que haja o dever jurídico de praticar o acto que, segura ou muito provavelmente,
impediria a consumação daquele.

Não se tendo provado senão a existência de um buraco na via como causa de um acidente, e
sendo aquele imputável à omissão de um dever jurídico do município, traduzindo na dupla
vertente da conservação da Rua e da sinalização adequada dos obstáculos de perigo, não
havendo pois qualquer outro elemento probatório excludente ou concorrencial de tais nexos de
dano e culpa, não pode a acção deixar de proceder por estarem presentes todos os elementos
da responsabilidade do agravante

Não é possível com base numa fotografia, tirada em condições diversas das
que existiam no momento em que ocorreu um acidente de trânsito, modificar
a resposta a um quesito, fundamentada em prova testemunhal, sobre a
visibilidade de um obstáculo à circulação.

II - Não sendo um obstáculo à circulação de um veículo detectável pelo seu


condutor, não se pode concluir do facto de nele ter embatido que o veículo
seguia a velocidade superior à que permitiria a sua paragem no espaço livre
visível à sua frente.

O art. 563.º do Código Civil, consagra a teoria da causalidade adequada,


devendo adoptar-se a sua formulação negativa correspondente aos
ensinamentos de Ennecerus-Lehmann, segundo a qual a condição deixará de
ser causa do dano sempre que seja de todo indiferente para a produção do
dano e só se tenha tornado condição dele, em virtude de outras circunstâncias
extraordinárias.

I - Competindo às câmaras municipais o dever de velar pela segurança do


trânsito nas estradas municipais, cabe-lhes o ónus de sinalização dos
obstáculos que lá ocorram, designadamente aqueles que poderão, num juízo
de prudência comum, provocar acidentes.
II - Não se provando que o condutor conhecia a existência de obstáculo não
sinalizado, não pode atribuir-se-lhe, com este fundamento, uma parte da
culpa na verificação do acidente.

A sinalização de uma via pública é um acto de gestão pública.


III - O acto de gestão pública é aquele que decorre do exercício de um poder
público, integrando-se na realização de uma função pública, sob o domínio de
direito público.

Por outro lado, nos termos do n.º 2 do art. 5.º do C:E: os obstáculos eventuais
devem ser sinalizados por aquele que lhes der causa.

Este comportamento omissivo, que constitui facto ilícito gerador dos danos
sofridos pelo A., é igualmente culposo, sendo censurável no plano ético,
porquanto um funcionário zeloso e cumpridor (artº 487° n° 2 do C.Civil ex vi
n° 1 do artº 4° do DL 48.051, de 21.11.67) teria actuado em conformidade com
as normas que impõem a referida sinalização.

I - É aplicável à responsabilidade civil extracontratual dos municípios, por


actos de gestão pública, designadamente as resultantes de quebra do dever
de vigilância e conservação do pavimento das estradas sob a sua jurisdição, a
presunção de culpa estabelecida no art. 493º do Código Civil.
II - Para além dos casos de culpa de terceiro ou de caso fortuito ou de força
maior, o ente público pode ilidir tal presunção alegando e provando que, de
forma sistemática e continuada, empregou todos os esforços e adoptou todas
as medidas adequadas a prevenir acidentes do género, tendo-se os danos
produzido apesar dessa actuação.

III - Não é suficiente, para esse efeito, a prova, em abstracto, da existência de


um corpo de técnicos encarregue da vigilância e reparação das vias municipais,
devendo a mesma ser acompanhada da demonstração de que tais agentes
actuaram na situação concreta como seria lícito esperar-se.

III - O art. 563º do Código Civil consagra a teoria da causalidade adequada, na


sua formulação negativa, segundo a qual, o nexo de causalidade entre a
condição abstractamente adequada à produção do dano e o dano só é
afastado se se provar que aquela condição não interferiu no dano, que ele se
teria verificado independentemente de tal condição, isto é, que ele só se
produziu devido a circunstância extraordinária para a qual a condição
abstracta foi indiferente;

IV - Em abstracto, deve concluir-se que, para um condutor médio que, sem ser
avisado, nomeadamente por sinalização vertical, da aproximação duma curva
mais fechada no seu final, se depara com uma linha contínua que segue em
frente, e respeitante a anterior traçado da via, e outra linha que curva para a
direita, referente ao traçado actual, se cria uma situação de perplexidade,
podendo levar a que opte inicialmente pelo trajecto antigo, demorando algum
tempo a reagir quando se apercebe que é errado, e que esse tempo pode ser
o suficiente para que invada o eixo da via, se bem que só parcialmente,
embatendo assim em outro veículo que se apresenta em sentido contrário;

VI - O nexo de causalidade entre a manutenção dessa linha e o acidente que


ocorreu só seria afastado se viesse provado que ela em nada interferiu no
acidente, que ele se deveu a outra circunstância.

VIII - O art. 563º do Código Civil consagra a teoria da causalidade adequada,


na sua formulação negativa, segundo a qual, o nexo de causalidade entre a
condição abstractamente adequada à produção do dano e o dano só é
afastado se se provar que aquela condição não interferiu no dano, que ele se
teria verificado independentemente de tal condição, isto é, que ele só se
produziu devido a circunstância extraordinária para a qual a condição
abstracta foi indiferente;
IX - O nexo de causalidade entre a omissão de adequada sinalização e o
acidente que ocorreu, veículo que chocou na obra, só seria afastado se viesse
provado que aquela omissão em nada interferiu no acidente, que ele se deveu
a outra circunstância.

III - A omissão da sinalização adequada e da obrigação de criar as necessárias


condições de segurança na circulação rodoviária que aqueles factos
denunciam preencher os requisitos da responsabilidade civil extracontratual
dos entes públicos.

I - A sentença deve ser uma peça processual coerente e deve ser assim
porque, sendo a sua finalidade a prolação de uma decisão que defina o
direito numa relação conflituosa e que, consequentemente, estabeleça
a paz nessa relação, esse desiderato só poderá ser alcançado se a
mesma for clara, lógica e coerente, pois só assim se consegue que as
partes se convençam da sua bondade e se conformem com o que nela
se decidiu.

II - Por isso é que a lei fulmina com a nulidade a sentença cujos


fundamentos estejam em oposição com a conclusão – vd. al. c) do n.º
1 do art. 668.º do CPC - o que acontecerá sempre que a
fundamentação, de facto ou de direito, apontar num sentido e a decisão
expressar um resultado oposto ao que dela decorre.
III - A responsabilidade civil rege-se pelo disposto no DL 48.051, de
21/11/67, e pelo estatuído no DL n.º 100/84, de 29/3, - vd. seus art. 1.º
e 90.º, respectivamente – pelo que a Câmara demandada - de acordo
com o que se estabelece nessa legislação - será civilmente
responsável se se concluir que os seus órgãos ou agentes praticaram,
por acção ou omissão, actos de gestão ilícitos no exercício das suas
funções e por causa desse exercício
Acórdãos para retirar motivação e conclusões

http://www.dgsi.pt/jtcn.nsf/89d1c0288c2dd49c802575c8003279c7/ccb334fc59ab606580257f
11004fd245?OpenDocument

http://www.dgsi.pt/jtca.nsf/-/39AAB0E1B2F15B2F80257FA30063D4DB

http://www.dgsi.pt/jtcn.nsf/89d1c0288c2dd49c802575c8003279c7/14c12878ae79338080257
12d0064744a?OpenDocument

http://www.dgsi.pt/jtrg.Nsf/86c25a698e4e7cb7802579ec004d3832/fb8cbb5eccbd916280258
0d80059f564?OpenDocument

http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/-/86560C52CF04918380257C610059C56E

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