Solenidade da
Epifania do Senhor
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Bênção da Casa na
Solenidade da Epifania do Senhor
Para entendermos melhor esta data e a bênção que se segue, vejamos o que diz a Carta Circular
do Secretariado para a Liturgia da Ordem Cisterciense para os Mosteiros da Ordem, em 2006/2007,
que adaptamos:
O Tempo do Natal poderia ser comparado a uma elipse cujos pontos centrais são a Solenidade
do Natal, a 25 de dezembro e a Solenidade da Epifania, a 6 de Janeiro. Devido à nossa vida
contemporânea e ao mundo do trabalho, a Solenidade da Epifania, em muitos países e regiões, não é
mais celebrada no dia 6 de Janeiro, mas transferida para o domingo que ocorre entre 2 e 8 de Janeiro.
Em muitos lugares, esta solenidade foi mantida na data tradicional, como por exemplo, em Roma.
Seguramente, como ocorre no Natal, a data da Epifania remonta também ao culto pagão, ou
seja, está relacionada com a festa do solstício de inverno que, no Egito, provavelmente ocorria entre
5 e 6 de Janeiro. No dia 25 de Dezembro ou no dia 6 de Janeiro celebrava-se o aniversário de
nascimento do deus-sol invencível, transformado pelos cristãos no aniversário natalício de Jesus
Cristo, “verdadeira luz do mundo” (cf. Jo, 8, 12; 1, 9). Através de uma fonte antiga, sabe-se que a
seita gnóstica dos basilianos, em Alexandria, no começo do século III, celebrava no dia 6 de Janeiro
a festa do Batismo de Cristo, mediante o qual, pela descida do Espírito Santo, aconteciam a geração
e o nascimento do Filho de Deus. O Batismo de Cristo deveria, em seguida, se tornar a temática
própria da festa da Epifania, no Ocidente. De acordo com outras informações, no dia 6 de Janeiro, os
egípcios iam ao rio buscar água. Talvez esteja aqui um dos fundamentos da bênção da água na
Epifania. Do Egito, a festa de 6 de Janeiro parece ter-se também estendido tanto para o Ocidente
quanto para o Oriente, na segunda metade do século IV. Nas Igrejas do Ocidente, a festa da Epifania
1
Cf. “Benedictio Cretæ, in Festo Epiphaniæ”. Rituale Romanum, 25 de Março de 1752. De Benedictionibus. pp. 17-18.
2
Cf. Ritual de Bênçãos, números 474-491. Paulus: 6ª reimpressão, 2007.
2
foi estabelecida primeiramente na Gália, na Espanha, no norte da Itália e em Ravena, embora os seus
temas tenham sido ampliados.
Quando o Oriente (à exceção da Armênia) adotou, em fins do século IV, a celebração do Natal
no dia 25 de Dezembro, oriunda da liturgia romana, o dia 6 de Janeiro tornou-se primitivamente a
festa oriental da Encarnação do Senhor, transformando-se depois na festa do Batismo de Cristo. Na
liturgia romana, pelo menos na liturgia da Missa, o dia 6 de Janeiro passou a ser a festa da Adoração
dos Magos (cf. Mt 2, 1-12) ou festa dos três Santos Reis, enquanto a Liturgia das Horas romana
incorporava progressivamente os temas suplementares do Batismo de Cristo, das Bodas de Caná e da
Multiplicação dos pães, provenientes das regiões gaulesa, espanhola e norte-italiana. As influências
recíprocas da Liturgia da Igreja Oriental e da Igreja Ocidental são ainda hoje perceptíveis nos textos
litúrgicos da festa da Epifania. A antífona “Hodie cœlesti Sponso” (no Breviário próprio Cisterciense
e também no romano, é a antífona do Benedictus) exprime muito bem, em seu conjunto, a celebração
da festa:
Exatamente esse texto, bem como a célebre antífona do Magnificat, nas II Vésperas, “Tribus
miraculis” (Cf. abaixo), mostram de maneira significativa que o conteúdo teológico da festa da
Epifania ultrapassa de muito uma simples festa dos três Reis. Com efeito, a Epifania concentra os
acontecimentos mais importantes dos primeiros anos de Jesus de Nazaré e os celebra como revelações
e manifestações de sua divindade. Igualmente na Liturgia romana a Epifania foi outrora considerada
uma festa da maior importância, celebrada com vigília e oitava, e os domingos que se lhe seguiam
eram chamados “domingos depois da Epifania”.
A transladação das presumíveis relíquias dos três Santos Reis para Colônia - Alemanha, em
23 de Julho de 1164, onde ainda são conservadas no célebre relicário da Catedral, favoreceu
enormemente a propagação do culto dos três Reis, no Ocidente, além de contribuir de modo essencial
para o caráter popular de sua festa, no dia 6 de Janeiro. Aliás, foi Orígenes († 253/254), antigo escritor
cristão, que explicitou, pela primeira vez, serem três os Magos (o texto fala simplesmente de “magos”
ou “astrólogos vindos do Oriente”), talvez, por causa dos presentes também em número de três.
Posteriormente, desde São Cesário de Arles († 542), os três Magos se tornaram Reis (o texto bíblico
não diz nada disso) e, a partir dos séculos VIII ou IX, acreditava-se mesmo saber os seus nomes:
Gaspar, Melquior (o “Mouro” ou o “Negro”) e Baltasar.
Ao lado da tradicional Bênção das Casas, na Epifania, desenvolveu-se, sobretudo nos países
de língua alemã, uma forma própria: todos os lugares da casa são abençoados com água benta e
incenso; e, com um giz bento, se escreve acima das portas a fórmula de bênção: 20*C+M+B+18:
Christus Mansionem Benedicat”, que uma interpretação popular entende como sendo as iniciais dos
nomes dos três Reis: Caspar, Melquior, Baltasar. Supõe-se que por trás dessa prática esteja um antigo
costume germânico. Ainda nas regiões de língua alemã, em alguns lugares, são os “Sternsinger”,
personagens vestidas como os três Reis Magos, que se antecipam a esta bênção. A bênção das casas
na Epifania pretende, sobretudo, trazer a certeza de que a Encarnação de Jesus, pela qual Ele veio
morar entre nós (Jo 1,14), atua em nosso íntimo na vida de cada dia. O texto correspondente desta
bênção pode ser encontrado no “Benedictionale” (Ritual de Bênçãos) editado pelas Conferências
Episcopais de cada país.
Desde a antiguidade, a data da próxima festa da Páscoa e as datas das festas móveis que dela
decorrem são anunciadas durante a Missa da Epifania, após a leitura do Evangelho. Com efeito, nos
tempos antigos, era nesta festividade que se tornava pública a “Carta Pascal” informando à
cristandade a data da Páscoa. Este dia foi escolhido para o referido anúncio porque nele Cristo, o
novo Sol, se levantou para o Oriente na Epifania.
Em vários lares, tem-se o costume de convidar sacerdotes para que abençoem a casa, mas não
exatamente na Epifania, e sim quando se tem a graça da visita de um Padre. O comum é que o pároco
ou seu vigário faça a bênção. Todavia, nem sempre é possível encontrar um sacerdote disposto a
perpetuar costumes antigos; além disso, o ritual atual prevê que o pai de família pode realizar esta
bênção.
A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, pelo Diretório “Sobre a
piedade popular e a Liturgia - princípios e orientações, de 9 de Abril de 2002, no número 1183, ensina:
A respeito da solenidade da Epifania, que tem uma origem muito antiga e um conteúdo muito
rico, nasceram e se desenvolveram muitas tradições e expressões genuínas de piedade popular. Entre
estas se podem recordar:
- o solene anúncio da Páscoa e das principais festas do ano litúrgico: para a recuperação deste
anúncio, que se está realizando em diversos lugares, se deve favorecer, pois, ajuda aos fiéis para
descobrir a relação entre a Epifania e a Páscoa, e a orientação de todas as festas para a maior das
solenidades cristãs;
- a troca de “presentes de Reis”: este costume tem suas raízes no episódio evangélico dos presentes
oferecidos pelos Magos ao Menino Jesus (cf. Mt 2,11), e em um sentido mais radical, no dom que
Deus Pai concedeu para a humanidade com o nascimento do Emanuel entre nós (cf. Is 7,14; 9,6; Mt
1,23). É desejável que o intercâmbio de presentes por ocasião da Epifania mantenha um caráter
religioso, e mostre que sua motivação última se encontra na narração evangélica: isto ajudará a
converter o presente em uma expressão de piedade cristã e a desvinculá-lo dos condicionamentos de
luxo, ostentação e desperdício, que são estranhos às suas origens;
- a bênção das casas, em cujas portas se traça a Cruz do Senhor, o número do ano civil que começou,
as letras iniciais dos nomes tradicionais dos santos Magos (C+M+B), explicadas também como siglas
de “Christus Mansionem Benedicat”, escritas com um giz abençoado: estes gestos, realizados por
3
No Brasil, é o número 12 da coleção bege da Ed. Paulinas: 2010.
4
Trad. e Adapt. de Cleiton Robson do Nascimento Sousa, OESSJ.
5
- a ajuda à evangelização dos povos: o forte caráter missionário da Epifania é percebido pela piedade
popular, pelo qual, neste dia, têm lugar iniciativas a favor das missões, especialmente as vinculadas
à “Obra Missionária da Santa Infância”, também conhecida pelo nome de “Pontifícias Obras
Missionárias”, instituída pela Santa Sé Apostólica;
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No Brasil (e também em diversos outros países), devido à falta de sacerdotes com
disponibilidade para ir até as casas neste dia, pode-se realizar a bênção sem o sacerdote. Em cada lar,
o pai, como “sacerdote da Igreja doméstica”, conduz a celebração familiar. É uma celebração que a
Igreja muito valoriza, pela santidade do lar “em cujas portas se traça a Cruz do Senhor, o número do
ano civil que começou, as letras iniciais dos nomes tradicionais dos santos Magos (...) escritas com
um giz abençoado.”
A seguir, o roteiro para a bênção.
Para o rito, preparem-se: a água benta, velas, o giz a ser abençoado e os nomes dos Santos para o Patronato.
Todos se reúnem na porta de casa, na parte interior. Cantam um hino, como o sugerido abaixo:
1. Cristãos, vinde todos, com alegres cantos. Nós, igualmente, cheios de alegria.
Oh! Vinde, oh! Vinde até Belém.
Vede nascido, vosso rei eterno. 3. O Deus invisível de eterna grandeza,
sob véus de humildade, podemos ver.
Oh! Vinde adoremos! Oh! Vinde adoremos! Deus pequenino, Deus envolto em faixas!
Oh! Vinde adoremos o salvador!
4. Nasceu em pobreza, repousando em palhas.
2. Humildes pastores deixam seu rebanho O nosso afeto lhe vamos dar. Tanto amou-nos!
e alegres acorrem ao Rei do Céu. Quem não há de amá-lo?
Recitam, então, o Salmo Responsorial da Missa do dia (Salmo 71), com o pai ou a mãe lendo os
versículos e todos respondendo o responsório:
Dai ao Rei vossos poderes, Senhor Deus,/ vossa justiça ao descendente da realeza!/ Com justiça ele
governe o vosso povo,/ com equidade ele julgue os vossos pobres.
Nos seus dias a justiça florirá/ e grande paz, até que a lua perca o brilho!/ De mar a mar estenderá o
seu domínio,/ e desde o rio até os confins de toda a terra!
6
Os reis de Társis e das ilhas hão de vir/ e oferecer-lhe seus presentes e seus dons;/ e também os reis
de Seba e de Sabá/ hão de trazer-lhe oferendas e tributos./ Os reis de toda a terra hão de adorá-lo,/ e
todas as nações hão de servi-lo.
Libertará o indigente que suplica,/ e o pobre ao qual ninguém quer ajudar./ Terá pena do indigente e
do infeliz,/ e a vida dos humildes salvará.
Após, todos acendem as velas que carregam nas mãos, e recitam juntos:
R/. Uma criança é nascida em Belém, aleluia! Com plena alegria canta Jerusalém, aleluia,
aleluia. Do Oriente viram a estrela, aleluia, e os santos reis vêm de longe, aleluia, aleluia.
Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos
do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer?
Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. Ao saber disso, o rei Herodes ficou
perturbado assim como toda a cidade de Jerusalém. Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres
da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles responderam: “Em Belém, na Judeia,
pois assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as
principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”.
Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a
estrela tinha aparecido. Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações
exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”.
Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles,
até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma
alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-
se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso
e mirra. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo
outro caminho.
Palavra da Salvação.
Todos: Glória a vós, Senhor.
R/. Do Oriente vieram os Magos a Belém para adorar o Senhor, e abrindo os seus tesouros
ofereceram presentes caros: ouro para o Grande Rei, incenso para o verdadeiro Deus, e mirra
em símbolo de seu enterro, aleluia!
O pai, então, asperge todos os cômodos da casa, enquanto todos cantam ou recitam o Magnificat:
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R/. Do Oriente vieram os Magos a Belém para adorar o Senhor, e abrindo os seus tesouros
ofereceram presentes caros: ouro para o Grande Rei, incenso para o verdadeiro Deus, e mirra
em símbolo de seu enterro, aleluia!
O pai, então, voltando para a porta da casa recita a bênção sobre o giz:
Por cima da porta de casa, na parte externa, o pai escreve com giz o seguinte: 20*C+M+B+18. O 20
e o 18 representam 2018, o ano em que nos encontramos. O CMB representa Christus Mansionem
Benedicat – Cristo Abençoe esta Casa, e cada letra é intercalada com uma cruz. A sigla CMB também
era entendida como representando os três reis magos (sendo que Gaspar pode ser escrito Caspar) e
interpretado como uma forma de receber os Magos em casa.
Se for usado incenso, o pai pega o turíbulo e incensa a porta com três ductos de um só icto.
8
Oremos. Senhor Deus do Céu e da Terra, que revelastes o vosso Filho Unigênito a todas as nações
com o sinal de uma estrela: Abençoai esta casa e todos os que nela habitam. Enchei-os com a luz de
Cristo, e que o nosso amor pelos outros reflita o vosso amor. Pelo mesmo Cristo nosso Senhor.
R/. Amém.
Oremos. Ó Deus, que hoje revelastes o vosso Filho às nações, guiando-as pela estrela, concedei aos
vossos servos, que já vos conhecem pela fé, contemplar-vos um dia face a face no céu. Por nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
R/. Amém.
Enquanto cada membro da família “sorteia” o nome de um Santo para o Patronato ao longo do ano
corrente, todos cantam um hino, como o sugerido abaixo:
Fontes consultadas:
“Benedictio Cretæ, in Festo Epiphaniæ”. Rituale Romanum, 25 de Março de 1752. De Benedictionibus. pp.
17-18.
Ritual de Bênçãos, números 474-491. Paulus: 6ª reimpressão, 2007.
http://www.domesticaecclesia.com/2014/01/bencao-da-casa-na-epifania.html
Carta Circular do Secretariado para a Liturgia da Ordem Cisterciense para os Mosteiros da Ordem, em
2006/2007: http://www.ocist.net/liturgy/rundbrief6-por.htm
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccdds/documents/rc_con_ccdds_doc_20020513_vers-
direttorio_sp.html