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Introdução

A expressão jurídica se confere materialidade por acto comunicativo. O uso inadequado dos
argumentos pode enfraquecer a possibilidade de convencimento (verdade racional) e o poder de
persuasão, que é a adesão à tese proposta.

É neste âmbito que se aborda, aqui, a argumentação numa dimensão jurídica, inspirada na
cadeira de Retórica. Pela sua natureza essencial no sistema Jurídico, a argumentação é tema
central na cedeira de retórica, pois é através deste que o orador influencia por persuasão um
auditório para a adesão de um determinado assunto.

Na construção de argumento para a audiência, o orador deve, principalmente, no âmbito do


direito, ser norteado por argumentos alicerçados em raciocínio jurídico (sinceridade, seriedade,
imparcialidade).
É desta forma que pretende-se descrever os elementos constituintes de argumentação jurídica.

A estrutura do trabalho é:

 Conceitualizar o argumento no quadro do direito;


 Descrever os tipos de argumentos;
 Descrever a ordem de argumentação.
1

Conceitos

Argumentação jurídica

Na retórica jurídica, argumento é um instrumento ou técnica básica para operacionalizar e


facilitar a prática do direito num auditório, levando-o a adesão por persuasão. Sendo por isso,
existirem vários conceitos de argumentação. Entende-se por:

Argumento1 é um termo que deriva do vocábulo latim argumentum. Para Égina Pereira, apoud
Souza, argumentar é um acto que visa provocar em um auditório, por meio de um enunciado ou
conjunto de enunciados, uma relativa adesão a um outro enunciado.

Argumentação Jurídica2 é objecto que visa sustentação de uma tese e cada tese é passível de uma
antítese, o que determina que as escolhas do argumento aspiram a superar e a reforçar os
procedimentos de sustentação da tese já que a verdade do argumento é sempre parcial, não há
verdade absoluta.

É através da argumentação do discurso que os advogados buscam obter o aumento da intensidade


da adesão, por persuasão ou convencimento, que corresponde aos valores reconhecidos pelo
auditório

Diferença entre Persuadir e Convencer

Segundo Tiago Silva de Freitas, na argumentação jurídica o intérprete deve eleger as premissas
que valoriza para apresentar ao auditório mediante o tipo de argumento, para persuadir ou
convencer buscando, e buscando a adesão. Assim, persuadir, constitui uma ação finalística
adesiva irracional, ao passo que, convencer, diz respeito a uma tentativa de adesão racional.

1
https://conceito.de/argumento
2
Mendonça apoud andrade, 2011. Pag 212
2

Elementos da argumentação

Neste sentido, a argumentação3 é composta por 3 elementos fundamentais a saber:


 O discurso que constitui o instrumento da argumentação;
 O orador é o sujeito que profere o argumento e o
 Auditório que é o destinatário do discurso ou do argumento.

Além dos elementos que compõem o argumento, este, igualmente, assenta em dois ângulos,
argumento jurídico:

 Formal, pelo qual se verifica a racionalidade procedimental, aferida pelo cumprimento


de regras da lógica;
 Material, o conteúdo das normas da lógica.

Portanto, argumentação não se vale pela lógica formal, mas busca a persuasão ou convencimento
no momento da aplicação do Direito em concreto, por isso é usada na advocacia, por exemplo
em tribunais, para provar ou refutar a validade de certos tipos de evidências.

Tipos de argumentos

A retórica pode ser entendida como a arte de persuadir com o uso de instrumentos linguísticos e,
nesse sentido, pode ser confundida com a argumentação. Todavia, a questão do emprego da
retórica e das técnicas de persuasão e convencimento, no Direito.

Recorrendo Maria Fernando Loureiro, Citando Cham Parelman, os argumentos mais usados no
Direito são:

 Argumento a Contrário é um procedimento discursivo segundo a qual, dada uma


proposição jurídica deve-se excluir a validade de uma preposição jurídica que dela seja
diferente. Exemplo: Se o legislador especificou taxativamente os casos de incidência do
tributo, o contrário senso os demais casos não estarão abrangidos;
 Argumento por Analogia (ou a simili) - é o argumento que pressupõe que a Justiça deve
tratar de maneira igual, situações iguais ou seja sendo dada uma proposição jurídica que
afirma uma obrigação, a mesma obrigação existe a respeito de qualquer sujeito, ou seja, a
razão que determinou a regra ao primeiro sujeito é válida também aos demais. Exemplo:

3
Perelman, chaïm. Lógica jurídica. P.139.
3

Se um comerciante que veio do norte do país e pretende vender o seu produto no mercado
central deve pagar uma taxa de 500,00Mt, então o mesmo valor é exigido a um outro
individuo de que pretenda vender no mesmo local mas este já vindo da zona centro do país

 Argumento a Fortiori que apresenta-se em duas formas:

 A minoria ad maius (do menor para o maior) aplicada numa prescrição negativa;
 A maioria ad minus (do maior para o menor) aplicada numa prescrição positiva.
 Argumento Ab exemplo permite interpretar a lei em conformidade com os precedentes,
com uma decisão anterior ou com uma doutrina usualmente admitida. Exemplo: Um reu e
julgado por roubo de viatura na via pública, o juiz pode basear-se na resolução deste
caso com recurso a um outro de roubo de viatura pública, praticada por um condenado.
 Argumento a Coheretia parte do pressuposto de que o legislador é sensato, e assim sendo,
não pode regulamentar uma mesma situação de maneiras incompatíveis;
 Argumento Sistemático parte do pressuposto de que o Direito é ordenado, onde suas
partes formam um sistema que deve ser interpretado no contexto em que estiver inserido.

Existem também outros argumentos, a saber:


 Argumento por Derradeiro em dada situação, um texto de lei é inaplicável, porque a
natureza das coisas se opõe a isso;
 A completude Fundamenta que o sistema jurídico é completo e, portanto, deve conter
uma regra concernente a todos os casos que não são regulamentados por disposições
particulares;
 Argumento de Autoridade ( ab autoritatem) - é o argumento que se vale da lição de pessoa
conhecida em determinada área, para corroborar a afirmação feita pelo advogado. As citações
de doutrina são os exemplos mais claros do argumento de autoridade;
 Argumento Silogístico ou entimema- suporta-se na sua explicação da lógica e raciocínio.
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A ordem da argumentação

Na argumentação defende-se uma tese. Neste sentido, o argumento deverá, sempre, na sua
construção apresentar as premissas argumentativas composto por: acordo, escolha e apresentação
das premissas. Assim, a retórica, para alcançar a persuasão do auditório, os factos e as ideias são
organizados em ordem lógica. Sendo assim, a dissertação do argumento obedece a:

 Tese ou Introdução;
 Desenvolvimento;
 Conclusão.

Introdução

Para Égina Glauce Pereira, esta parte deve conter proposição clara e sucinta da ideia que irá ser
comprovada, a Tese, a essa primeira parte designa-se de Introdução.

Desenvolvimento

No entender da mesma autora, a segunda parte da argumentação é, chamada de Desenvolvimento,


visa apresentação dos argumentos que comprovam a tese ou seja a prova. Igualmente, a estrutura
da argumentação é em ordem crescente de importância, a fim de apreender cada vez mais a
atenção do participante no auditório. De realçar que numa argumentação mais formal, o
desenvolvimento apresenta outra componente, antítese na qual refutam possíveis contra-
argumentos que possam contrariar a tese ou prova. Nessa parte, a ordem de importância inverte-se
colocando-se, em primeiro lugar, a refutação do contra- argumento mais forte, e por último do
mais fraco, com o propósito onde se depreciarem as ideias contrárias.

Conclusão

Assim, a argumentação termina com a Conclusão, onde enumera-se o argumento e conclui-se


reproduzindo as teses, isto é, faz-se uma síntese. Além da síntese, na conclusão, pode se propor a
solução do problema discutido.
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Conclusão:

A argumentação é uma técnica essencial que viabiliza a interpretação, compreensão e persuasão


de um auditório a adesão de uma ideia. Assim, a existência de argumento pressupõe a presença
deu orador, usando o argumento num determinado auditório.

Mesmo assim, no campo do direito a argumentação é um instrumento de comunicar. O orador ou


intérprete deve escolher um determinado tipo de argumento para persuadir um público-alvo. Deste
modo, o argumento deve sempre basear-se em premissas visando atrair atenção do público com a
finalidade de o persuadir ou convencer.

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