Você está na página 1de 5

TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/FAL PROCESSO Nº 31.195/16


ACÓRDÃO

Embarcação, tipo voadeira de alumínio, sem nome e o comboio liderado pelo


E/M “JEAN FILHO LXII”. Naufrágio da embarcação sem nome e óbito de
seu condutor, além do óbito do seu passageiro que teria subido a bordo do
comboio, mas que caiu na água ao passar do rebocador para uma balsa. Com
pedido de arquivamento da D. Procuradoria Especial da Marinha. Equiparado
aos casos cujas circunstâncias determinantes não foram apuradas com a
necessária precisão. Arquivamento.

Vistos e relatados os presentes autos.


Consta que no dia 9 de agosto de 2015, cerca das 3h30min, ocorreu o
naufrágio de uma embarcação sem nome, casco de alumínio, tipo voadeira, rabeta,
resultando no desaparecimento desta embarcação e no óbito de seu condutor, Valdelino
Rocha, que teria levado para o comboio, como passageiro, Jonas Rodrigues de Freitas e
este teria caído na água ao passar do rebocador para uma balsa do comboio, após
embarcar no E/M “JEAN FILHO LXII” (nº de inscrição 001-022254-5, casco de aço, de
21,5m de comprimento e 7,5m de boca, de 155 AB, ano de construção 2008, motor 1.280
HP, classificado para rebocador e empurrador, navegação interior, de propriedade de J. F.
de Oliveira Navegação Ltda.), em comboio com as balsas “GEOVANA 7” e “ISABELE
24”, sob o comando de José Maria Borges Tavares, no rio Amazonas, nas proximidades
da cidade de Óbidos, PA, mas sem registro de poluição ao meio ambiente hídrico.
No Inquérito instaurado pela Capitania Fluvial de Santarém foram ouvidas
sete testemunhas e anexados os documentos de praxe.
Na fl. 2 consta o Boletim de Ocorrência Policial 00069/2015.000878-7, em
10 de agosto de 2015, no qual Aldenor Augusto da Silva Neto, Policial Civil, informou
que estava de plantão quando foi acionado por populares acerca de um acidente
envolvendo o rebocador “JEAN FILHO LXII” e uma lancha de casco de alumínio, de 6m
de comprimento e motor de 15 HP, que havia transportado o “maniqueiro” Jonas
Rodrigues de Freitas, que se desequilibrou no momento que passava do referido
rebocador para a balsa, caindo no rio e se afogando e, na mesma ocasião, desapareceu a
lancha e seu condutor, Valdelino Rocha.
Na fl. 3 consta recorte de notícia do GI Santarém, 09/08/2015 18h50min, no

1/5
(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 31.195/2016........................................................)
=====================================================================
qual consta que o corpo do jovem Jonas Rodrigues da Silva, “de 27 anos”, foi encontrado
por ribeirinhos cerca das 7h do domingo, após acidente; que “O Jonas estava vindo em
uma balsa de Belém, rumo a Manaus. Ele trabalhava na balsa. A embarcação parou em
Óbidos para manutenção. O Jonas desceu e começou a ingerir bebida alcoólica, perdendo
o horário da balsa sair. Ele fretou uma lancha para alcançar a balsa. Ele conseguiu passar
da rabeta, pequena embarcação motorizada, para o rebocador, embarcação que empurra a
balsa, e quando foi passar do rebocador para a balsa, se desequilibrou, caiu no rio e se
afogou”. O condutor da rabeta que levou Jonas ao comboio teve sua embarcação sugada
pelo motor do rebocador logo após embarcar seu passageiro e desapareceram no rio,
rabeta e seu condutor, não tendo sido encontrados até aquele momento. Na fl. 4 consta
recorte de notícia do G1 Santarém, 10/08/2015 14h25min, no qual consta que as buscas
pelo condutor da rabeta continuavam, identificado como Valdelino Rocha Nesta, 39 anos.
Na fl. 9 consta a Certidão de Óbito de Jonas Rodrigues de Freitas, 30 anos de
idade, tendo como causa da morte “afogamento”; e na fl. 14 consta a Certidão de Óbito
de Valdelino Rocha, com 39 anos de idade, tendo como causa da morte “afogamento”.
Nas fls. 6 a 31 consta a apuração dos fatos em pauta na Delegacia de Polícia
Civil de Óbitos, incluindo as Certidões de óbito acima citadas e Termos de Declarações,
nos quais André Ferreira de Aquino, fls. 20 e 21, informou que era frentista na balsa de
combustível “PONTÃO SUCESSO”; que cerca das 3h abasteceu R$6,00 (seis reais) de
gasolina em uma bajara conduzida por “Preto”, levando a bordo uma pessoa, que depois
foi identificado como Jonas Rodrigues de Freitas, apresentando estado de embriaguez;
que após 15 a 20 minutos depois de saírem retornaram e o “Preto” perguntou ao
Valdelino Rocha, vigilante do pontão, se poderia levar o Jonas até o rebocador, porque
este já havia saído e a bajara não conseguiria alcançá-lo; que Jonas teria prometido pagar
R$ 40,00 (quarenta reais) ao Valdelino e saíram na voadeira pertencente a balsa de
combustível; como Valdelino não retornou, o depoente ligou para a Polícia Militar
informando o fato e, posteriormente, para o proprietário da balsa de combustível; e na fl.
23, Clemerson Evangelista Viana declarou que recebeu ligação de um colega moto
taxista lhe perguntando se poderia levar Jonas em sua bajara até o rebocador, e ele
aceitou; que Jonas estava aparentemente alcoolizado; sua bajara estava com pouca
gasolina e foi no posto “PONTÃO SUCESSO” onde abasteceu; foi informado que o
rebocador havia saído e o depoente perguntou ao Valdelino se poderia levar Jonas por R$
40,00 (quarenta reais) até o rebocador na voadeira do “PONTÃO SUCESSO”, visto que
era mais veloz que a bajara; que ficou algumas horas aguardando o retorno da voadeira e

2/5
(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 31.195/2016........................................................)
=====================================================================
como isso não aconteceu, pediu ao frentista para acionar a Polícia.
Nas fls. 90 e 91 consta o Boletim de Informações Ambientais, no qual consta
que nas proximidades do município de Óbidos estava sob a influência de áreas de
instabilidade, ventos de 5 a 17 nós, chuva fraca a moderada.
No Laudo de Exame Pericial indireto, fls. 154 a 158, realizado no dia 4 de
novembro de 2015, consta que não foi possível precisar as condições que se encontrava a
embarcação; e que, de acordo com as informações, o céu estava nublado e escuro, o rio
agitado e que houve brusca mudança do vento.
Os Peritos apresentaram a seguinte sequência de acontecimentos: “De acordo
com informações obtidas, no dia nove de agosto de dois mil e quinze, no Rio Amazonas,
nas proximidades da Costa do Carapanari, no Município de Óbidos-PA, o EM JEAN
FILHO LXII fez uma parada para manutenção, com isso o Sr. JONAS RODRIGUES DE
FREITAS desceu da referida embarcação e dirigindo-se a Cidade de Óbidos-PA, o
mesmo perdeu a hora de sua saída, vindo assim a fretar uma Lancha SEM NOME
conduzida pelo Sr. VALDELINO ROCHA, a fim de alcançar o Empurrador. Após o
desembarque do Sr. JONAS, o Sr. VALDELINO ROCHA naufragou com a referida
Lancha, vindo com isso a se afogar”.
Os Peritos consideraram que o fator humano contribuiu, “De acordo com
informações obtidas, a vítima não deveria ter se ausentado do seu local de trabalho sem
autorização”, mas que os fatores material e operacional não contribuíram e concluíram
que “a causa determinante do Acidente da Navegação foi à imprudência praticada pelo
Sr. VALDELINO ROCHA, pela inobservância das precauções necessárias na condução
da embarcação”.
As testemunhas ouvidas no IAFN nada esclareceram acerca do acidente da
navegação, naufrágio da voadeira, nem se manifestaram acerca da queda na água de
Jonas Rodrigues de Freitas, fato que nem lhes foi perguntado pelo Encarregado do IAFN,
embora o Comandante do navio, José Maria Borges Tavares, no seu depoimento da
Polícia Civil, fl. 16, em 9 de agosto de 2015, tenha declarado: “QUE, no dia de hoje por
volta das 02:30 hs o rebocador saiu do Paraná Miri para seguir viagem até Manaus; QUE,
momento depois soube que o maniqueiro de nome JONAS RODRIGUES DE FREITAS,
que fazia serviço nas Balsas, havia caído na água; QUE, afirma que não viu o momento
do ocorrido e quando foi informado os demais integrantes da tripulação já estavam
fazendo buscas na região (...); QUE, lhe informaram que JONAS caiu no momento em
que estava querendo passar do rebocador para a balsa, sendo que nesta hora o rebocador

3/5
(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 31.195/2016........................................................)
=====================================================================
já estava em movimento; QUE, afirma que foi informado de que a voadeira que
transportou JONAS de Óbidos até o rebocador havia sumido nas águas”; e do
Contramestre deste rebocador, Albino da Costa Souza, fl. 18, ouvido em 9 de agosto de
2015, tenha declarado: “QUE, é Marinheiro Fluvial de Convés do rebocador Jean Filho
62 que veio da cidade de Belém com destino à Manaus: QUE, na madrugada de hoje, por
volta da 03:45 estava no rebocador quando enxergou o nacional JONAS RODRIGUES
DE FREITAS, maniqueiro que trabalhava nas balsas Geovana 7 e Isabele 24, no
rebocador indo em direção à balsa Geovana 7; QUE, afirma que viu JONAS focando com
a lanterna do rebocador para a balsa; QUE, momentos depois viu apenas o lampejo da
lanterna e não viu mias o JONAS a bordo do reboque ou da balsa; QUE, afirma que
imediatamente avisou o mediato que estava no timão do rebocador que JONAS havia
caído na água; QUE, neste momento o rebocador estava nas proximidade da Ponta do
Carapanarí, perto de Óbidos/PA; QUE, afirma que de imediato o rebocador parou e os
tripulantes da embarcação começaram a fazer buscas no entorno, porém não encontraram
JONAS; QUE, afirma que não viu a voadeira que havia transportado JONAS até o
rebocador; QUE, apenas depois soube que JONAS havia vindo de Óbidos e retornado em
uma voadeira que estava sendo pilotada pelo nacional VALDELINO ROCHA; QUE,
afirma que soube que VALDELINO estava desaparecido, mas não sabe afirmar se a
voadeira afundou no rio quando foi deixar JONAS no rebocador”.
No Relatório, fls. 167 a 176, o Encarregado do IAFN, depois de resumir
apenas os depoimentos na Capitania e o Laudo de Exame Pericial indireto, considerou
que os fatores humano, material e operacional não contribuíram e concluiu que o acidente
da navegação em pauta decorreu de “fortuna do rio”, visto que, segundo as testemunhas,
houve brusca mudança do tempo, com ventos fortes agitando o rio e gerando marolas que
foram aumentando, surpreendendo a embarcação durante a sua travessia, ocasionando o
naufrágio.
A Douta Procuradoria, fls. 187 a 189, discordando do Encarregado do IAFN,
depois de resumir os principais fatos apurados no Inquérito, entendeu que Jonas
Rodrigues de Freitas sofreu queda na água a partir do comboio liderado pelo E/M “JEAN
FILHO XII”, pois estava embriagado, tendo sido sua punibilidade extinta em razão do
seu óbito e que não restaram apuradas as causa do naufrágio da lancha sem nome, que
provocou a morte de Valdelino Rocha.
Foi publicada Nota para Arquivamento, tendo decorrido o prazo legal sem
que possíveis interessados se manifestassem.

4/5
(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 31.195/2016........................................................)
=====================================================================
Por todo o exposto, deve-se concordar com a promoção da Douta
Procuradoria Especial da Marinha e mandar arquivar os presentes autos.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente e do fato da navegação: naufrágio de uma voadeira de
alumínio, sem nome, que resultou no desaparecimento desta e no óbito de seu condutor
Valdelino Rocha, por afogamento, e queda de Jonas Rodrigues de Freitas na água,
quando passava do E/M “JEAN FILHO LXII” para uma balsa do comboio, que resultou
em seu óbito, por afogamento, depois de desembarcar da voadeira sem nome, sem
registro de danos ambientais; b) quanto às causas determinantes: não apuradas, mas com
indícios de embriaguez de Jonas Rodrigues de Freitas; e c) decisão: julgar o acidente e o
fato da navegação, tipificados no art. 14, letra “a” (naufrágio), e 15, letra “e” (exposição a
risco), ambos da Lei nº 2.180/54, como equiparado aos casos cujas circunstâncias
determinantes não foram apuradas com a necessária precisão, mandando arquivar os
presentes autos, conforme promoção da Douta Procuradoria Especial da Marinha, de fls.
187 a 189.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 09 de novembro de 2017.

FERNANDO ALVES LADEIRAS


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão:
Rio de Janeiro, RJ, em 20 de fevereiro de 2018.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

5/5
COMANDO DA MARINHA
c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF,
cn=COMANDO DA MARINHA
2018.03.14 11:14:36 -03'00'

Você também pode gostar