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Pró-Reitoria de Pesquisa
Letras/CECH
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Esta pesquisa de Iniciação Científica faz parte das atividades de pesquisa desenvolvidas no Laboratório
de Estudos Epistemológicos e de Discursividades Multimodais – LEEDIM/UFSCAr-CNPq. Esse
laboratório está organizado em torno de dois grandes programas de pesquisa. No primeiro, objetiva-se
discutir inicialmente, os deslocamentos epistemológicos e metodológicos produzidos por autores
brasileiros e franceses no domínio da Análise do Discurso de orientação francesa do final dos anos oitenta
até os dias atuais; num segundo momento, verifica-se em que medida esses deslocamentos
epistemológicos e metodológicos podem ser aplicados a diferentes corpora de diferentes geografias e, por
último, faz-se uma descrição/interpretação da escrita da história linguageira dos conceitos da Análise do
Discurso de orientação francesa tanto na geografia francesa quanto na brasileira. No segundo, busca-se
compreender o modo como os mais diversos suportes midiáticos por meio de textos multimodais
constroem uma escrita da história de campanhas presidenciais brasileiras bastante distinta da história
oficial veiculada nos editoriais, nos artigos de opinião, nas análises políticas, por exemplo. Elege-se como
corpus de análise textos multimodais: fotografias derrisórias, fotomontagens, charges impressas, charges
eletrônicas, caricaturas políticas e, textos sobre o anedotário político brasileiro, veiculados por jornais,
sites e revistas brasileiras de grande circulação nacional durante os primeiros e segundos turnos das
campanhas presidenciais brasileiras de 1998, 2002, 2006 e 2010. A Análise do Discurso de orientação
francesa em diálogo com os estudos da Nova História são as perspectivas teórico-metodológicas que
sustentam os programas de pesquisa do LEEDIM. A criação do Laboratório justifica-se entre outras
razões diante da necessidade premente de se constituir redes de pesquisa envolvendo diversas
universidades brasileiras como forma de solidificar a pesquisa no campo das Ciências da Linguagem e,
sobretudo, nos domínios da epistemologia da Análise do Discurso e das discursividades multimodais
nessas instituições. O LEEDIM congregará pesquisadores de diversas Universidades Públicas Brasileiras
tais como a Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, a Universidade Federal de Mato Grosso -
UFMT, a Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT - e a Universidade Estadual da Bahia -
UNEB.
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Uma representação metonímica desse tipo de abordagem é o ótimo trabalho de Edson Carlos Romualdo.
Charge jornalística: intertextualidade e polifonia: um estudo das charges da Folha de S. Paulo. Maringá:
Eduem, 2000.
Neste projeto de Iniciação Científica nos propomos a analisar charges veiculadas
na mídia impressa e digital brasileira que tiveram a então candidata à Presidente da
República Dilma Rousseff como alvo. Com esta pesquisa procuraremos compreender
em que medida a ordem da cultura sobredetermina a produção dessas charges. Como
recorte temporal elegemos o período que vai de abril a outubro de 2010, momento que
compreende tanto a fase preparatória, quanto a fase da campanha eleitoral à Presidência
da República propriamente dita. Pensamos em não estabelecer de antemão os suportes
midiáticos com os quais trabalharemos, pois como assevera Dominique Maingueneau,
(2007, p. 32 – 3):
Os analistas do discurso podem ainda construir corpus de elementos de diversas
ordens (palavras, grupos de palavra, frases, fragmentos de textos, [charges,
caricaturas, videomontagens, etc]) extraídos do interdiscurso, sem buscar
construir espaços de coerência, ou seja, sem procurar constituir totalidades.
Nesse caso, deseja-se, ao contrário, desestruturar as unidades instituídas por
meio da definição de percursos inesperados: a interpretação se apóia, assim,
sobre a explicitação de relações imprevistas no interior do interdiscurso.
3
Denise Maldidier. A inquietação do discurso: (re)ler Michel Pêcheux hoje. Trad. Eni Orlandi. Campinas,
SP: Pontes, 2003.
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POSSENTI, Sírio. Questões para analistas do discurso. São Paulo: Parábola editorial, 2009.
chamar interdiscurso a esse “todo complexo com dominante” das formações
discursivas, esclarecendo que também ele é submetido à lei de desigualdade-
contradição-subordinação que (...) caracteriza o complexo das formações
ideológicas.
Desse modo, para Possenti não parece satisfatório definir de interdiscurso como
o todo complexo com o dominante; seria mais pertinente considerá-lo, como o faz
Courtine (1981), como o exterior específico que domina uma FD, “seja este exterior
outra FD determinada, ou um conjunto delas, com a qual, ou com as quais, uma relação
específica e relevante se mantém” (POSSENTI, 2009, p. 157).
A teoria do interdiscurso exige do estudioso, que se põe a analisar um corpus,
que ele analise “um discurso que se confronta com outro (e não com todos os outros)”
POSSENTI (2009, p. 159). O trabalho de Courtine (1981) é um bom exemplo disso, e
Possenti retoma parte das análises feitas pelo autor francês, a fim de mostrar ao leitor
que os enunciados dos comunistas dirigidos aos cristãos estabelecem relações com
formulações que se podem descobrir no processo discursivo inerente à formação
discursiva que o domina, o que implica, segundo o autor da coletânea, que cada
formação discursiva fornece os elementos a serem por ela retomados. Entretanto, a rede
interdiscursiva dos enunciados não se limita ao conjunto das formulações pertencentes à
FD que domina um discurso, porque essas mesmas formulações “só têm existência
discursiva na contradição que as opõe ao conjunto das formulações (...) produzidas em
CPs heterogêneas às suas” (POSSENTI, 2009, p. 160). Cada FD, portanto, fornece os
elementos a serem retomados por ela, e a outra FD, a antagonista, fornece os elementos
a serem recusados. Nessa perspectiva, a forma de incorporação dos pré-construídos e
dos já-ditos não é a mesma segundo se trate, em cada caso, de um ou de outro discurso;
o mesmo ocorre com o processo de contra-identificação da formação discursiva, que
tem a ver com o lugar de onde derivam esses pré-construídos.
Posteriormente, Possenti apresenta as formulações de Dominique Maingueneau
em relação ao interdiscurso, mostrando que o analista de discurso francês traz uma
contribuição muito relevante para pensar a noção. Maingueneau (2008) postula o
primado do interdiscurso, questionando a concepção primária de fechamento estrutural
da formação discursiva. Esse movimento acaba por resolver uma série de
incongruências presentes nas noções anteriores, visto que a questão não é mais analisar
as relações entre diversos “intradiscursos” compactos. O primado do interdiscurso exige
que se pense a presença do interdiscurso no coração do intradiscurso. Na análise de
Possenti (2009, p. 164), é da radicalidade dessa postulação que decorrerá
o caráter essencialmente dialógico de todo enunciado do discurso, a
impossibilidade de dissociar a interação dos discursos do funcionamento
intradiscursivo. Essa imbricação do Mesmo e do Outro rouba à coerência
semântica das formações discursivas todo o caráter de “essência”, cuja inscrição
na história seria acessória; não é dela mesma que a formação discursiva tira o
princípio de sua unidade, mas de um conflito regrado.
Essas são algumas das reflexões que Possenti realiza nesse artigo. Além da fina
revisão teórica que faz, mostrando que uma tentativa de comparação entre as versões de
Pêcheux e Courtine, de um lado, e de Maingueneau, de outro, esbarraria numa espécie
de incomensurabilidade, o autor ainda aponta, como já dissemos, para a necessidade de
uma melhor especificação sobre a natureza de certos elementos presentes nos discursos,
sem falar na interessante contribuição que dá nesse sentido, ao demonstrar, por meio de
resultados de análises, que há determinadas construções que parecem pré-construídos,
mas não são:
Se por um lado tal como diz Possenti “há construções cujo efeito é idêntico ao do
pré-construído, e que, no entanto, não se encontram no interdiscurso. Ou seja, não
pertencem, a rigor, a discurso nenhum”, pois são o resultado de um determinado
simulacro, defendemos que há outras construções que são da ordem da cultura5. Trata-
se na verdade de um conjunto de saberes cuja memória que os faz dizer não é nem da
ordem do acontecimento discursivo, nem da do pré-construído e nem da do simulacro.
Entendemos que nesses casos se trata de uma interdiscursividade cultural.
5
Essa expressão foi utilizada pela Professora Doutora Maria Cristina Leandro Ferreira da UFRGS
durante a sua palestra no IV SEAD, realizado em Porto Alegre – RS em novembro de 2009.
2 Objetivos
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O caráter global desta semântica se manifesta pelo fato de ela restringe simultaneamente o conjunto dos
planos discursivos: tanto o vocabulário quanto os temas tratados, intertextualidade ou as instâncias de
enunciação. Trata-se, com isso, de libertar-nos de uma problemática do signo, ou mesmo da sentença,
para apreender o dinamismo da significância que domina toda a discursividade: o enunciado, mas também
a enunciação, e mesmo além dela, como se verá. Recusamos a idéia de que há, no interior do
funcionamento discursivo, um lugar onde sua especificidade se condensaria de maneira exclusiva ou
mesmo privilegiada (as palavras, as frases, os arranjos argumentativos, etc). O que leva a recolocar o
princípio de sua disseminação sobre os múltiplos planos do discurso. Não há mais, então, lugar para uma
oposição entre superfície e profundeza, que reservaria apenas para a profundeza o domínio de validade
das restrições semânticas (MAINGUENEAU, 2005, p. 22-3)
5 Forma de Análise dos Resultados
editorial de uma revista científica da área de lingüística com vistas a sua publicação. E,
das análises;
2. Constituição do arquivo da pesquisa; X X X X
3. Recorte do corpus; X X
4. Análise do recorte; X X X
7. Participação em eventos; X X