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Química dos Produtos Naturais

Formação de prostaglandinas,
tromboxanos e leucotrienos

Biotransformação de ácidos gordos: formação de


prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos

A acção fisiológica das prostaglandinas foi detectada pela primeira vez em


1930 por dois ginecologistas de Nova York, os quais notaram que uma
substância desconhecida presente no sémen humano provocava a contracção
do músculo liso, ou seja dos músculos do tracto gastro-intestinal, do útero e do
sistema circulatório. Poucos anos depois dois farmacologistas, von Euler na
Suécia e Goldblatt na Inglaterra, confirmaram a existência dessa substância no
fluido seminal e verificaram que ela provocava a diminuição da pressão arterial
nos animais. Von Euler deu-lhe o nome de prostaglandina pois pensava que
esta substância era formada na próstata. Em 1962 Bergström conseguiu isolar
alguns miligramas e elucidar a estrutura das prostaglandinas as quais tinham
sido isoladas partindo de várias toneladas de vesículas de carneiro.
As prostaglandinas são compostos que ocorrem principalmente nos tecidos
animais, embora já tenham sido encontradas numa alga (Gracilaria
lichenoides), em cebolas e num coral do mar das caraíbas (Plexaura
homomalha).
Têm acção fisiológica em concentrações diminutas, da ordem dos microgramas
por kg de tecido. Estão envolvidas em diversos processos fisiológicos como a
regulação da pressão arterial, no relaxamento dos músculos lisos, e portanto
no controle da asma. Têm acção abortiva, regulam o início do trabalho de parto
e controlam a secreção gástrica, entre outros.
As prostaglandinas são biossintetizadas a partir dos ácidos eicosatetraenóicos
por reacção com oxigénio singuleto. Esta reacção é catalisada pelo enzima
cicloxigenase (ou prostaglandina H sintase). Inicialmente dá-se a formação de
um composto intermediário que possui um grupo endoperóxido e um radical
peróxido simultaneamente. Este composto sofre várias alterações dando
origem às várias prostaglandinas (Figura 7.1). Este mesmo intermediário pode
sofrer outro tipo de oxidação catalisada por um outro enzima dando origem a
um outro tipo de compostos, os tromboxanos (Figura 6.1).

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Figura 6.1 – Formação de prostaglandinas e tromboxanos a partir do ácido


araquidónico

Tanto as prostanglandinas como os tromboxanos são activos biologicamente


em quantidades mínimas (da ordem do nanomolar). Os tromboxanos e a PGI 2
têm acção oposta. O primeiro promove a agregação das plaquetas (o nome

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tromboxano advém de este ser um agente que origina os “trombos”) e a


segunda impede esta agregação e consegue mesmo que o trombo se
desagregue. A PGD2 tem uma acção semelhante à da PGI 2. A PGE2 controla a
contracção dos bronquíolos e favorece a formação do muco protector das
paredes do estômago. A PGF 2 tem, como a PGE2, acção sobre as contracções
dos bronquíolos e promove as contracções uterinas no final da gravidez.
O enzima cicloxigenase (COX), que catalisa o passo inicial da formação das
prostaglandinas, é inibido por vários agentes entre os quais o ácido acetil-
salicílico (comercializado, entre outros, com o nome de aspirina). As
prostaglandinas estão envolvidas na dor e na resposta inflamatória e a inibição
deste enzima (COX) trava essa resposta, o que explica a acção analgésica e
anti-inflamatória deste princípio activo. Explica também porque motivo o seu
uso frequente origina problemas de estômago: não é devido ao facto de ser um
ácido orgânico mas sim ao facto de inibir a produção de PGE 2 que, esta sim,
tem a acção de produzir o muco que protege as paredes do estômago e sem o
qual este fica sujeito ao ataque do ácido gástrico e dos enzimas digestivos.
Formalmente as prostaglandinas são derivadas do ácido prostanóico (Figura
6.2).
As prostaglandinas são indicadas pela sigla PG seguida de uma letra
maiúscula que indica a substituição do anel pentagonal, presença e posição de
funções oxigenadas e presença ou não de insaturações. Em índice encontra-se
um número que representa o tipo de cadeia ligada nas posições 8 e 12. Na
Figura 6.2 estão representadas duas prostaglndinas, a PGA 2 e a PGE2. As
prostaglndinas são biossintetizadas a partir de ácidos gordos com 20 átomos
de carbono. A série 2, por exemplo, é proveniente do ácido araquidónico, ácido
5(Z), 8(Z), 11(Z), 14(Z) - eicosatetraenóico.

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3 1
7 5
9 8 COOH
6 4 2
10
ácido prostanóico
12 13 15 16 18 20
14
11 17 19

O
R1

R1 =
R2 COOH
PG -A 2

O
R1 R2 =

R2
HO
PG -E2

Figura 6.2 – Representação do ácido prostanóico e das prostaglandinas PGA 2


e PGE2

Os tromboxanos são compostos também biossinteticamente provenientes de


ácidos eicosatetraenóicos como o ácido araquidónico. As suas estruturas
químicas são baseadas no anel de tetra-hidropirano e possuem dois
substituintes idênticos aos das prostaglandinas (Figura 6.3). Os tromboxanos
formam-se dentro das plaquetas e a sua libertação na corrente sanguínea leva
a que estas se agreguem dando origem a um coágulo ou trombo.

OH
R1 R1
O
O R2 HO O R2
TXA2 TXB2

Figura 6.3 – Estruturas dos tromboxanos das séries A e B

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A nomenclatura dos tronboxanos é semelhante à das prostaglandinas em que a
lera T significa tromboxano as letras A e B o tipo de substituinte do anel e o
número em índice o tipo de radical R1 e R2 ligados ao anel heterocíclico.
Existe uma outra classe de compostos biossintetizada a partir do ácido
araquidónico, e que é catalisada pelo enzima 5-lipoxigenase. São compostos
com actividade anti-inflamatória e que têm uma estrutura linear (não possuem
nenhum ciclo). São chamados de leucotrienos.
A Figura 6.4 representa a formação dos vários leucotrienos a partir do ácido
araquidónico.

Figura 6.4 – Formação de leucotrienos a partir do ácido araquidónico

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Os leucotrienos C4 e D4 estão implicados em várias doenças alérgicas, em


particular na bronquite asmática. Sabe-se ainda que o leucotrieno B 4 está
implicado na psoríase, na colite ulcerosa e na artrite. Devido á grande
reactividade química destes compostos bem como ao facto de se encontrarem
no organismo em quantidades diminutas, a acção fisiológica destes compostos
não está totalmente esclarecida.

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