Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
C
C
2/5
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 28.876/2014........................................)
===============================================================
sob a luz da Lei nº 7.203/84, que trata de assistência e salvamento e, por fim, pediu para
ser exculpado, pois o evento seria resultado de força maior. Juntou a cópia da declaração
do Sr. Roberto Lúcio Machado, mestre da Escuna “INDIANA” na qual ele afirma que
navegava na mesma rota da Escuna “MONTE SANTO III” naquele dia e que foram
surpreendidos pela mudança brusca do tempo, tendo ele conseguido se abrigar na enseada
da Praia da Cerca, mas como a “MONTE SANTO III” já tinha ultrapassado a entrada
desse ponto de abrigo, seguiu e entrou pela enseada da Aldeia da Praia. Declarou, ainda,
que não buscar abrigo naquele momento seria um grande risco e que depois da
tempestade se aproximou da escuna para oferecer ajuda e foi informado que estava tudo
sob controle.
O segundo representado em sua defesa assevera o princípio da
insiginificância, ante o fato de que do acidente não ter resultado em dano de qualquer
natureza e ressalta também que, embora não estivesse a bordo, a prova colhida durante o
inquérito demonstrou que o evento se deu por força maior, ante a mudança brusca do
tempo, que acarretou baixa visibilidade em razão da chuva e do vento forte e o mestre
demonstrou cautela ao se aproximar da costa e desembarcar os passageiros em segurança,
ação que era mais apropriada que seguir viagem. Afirma que a bordo havia a Carta
Náutica apropriada e que o condutor era experiente e sabia por onde estava navegando.
Assim, por ter sido o acidente resultado de uma mudança brusca do tempo e por não ter
causado dano algum, pede para ser exculpado. Juntou cópia de sua identidade, do TIE da
embarcação e de uma folha do Rol de Equipagem.
As duas contestações foram protocoladas desacompanhadas das procurações
passadas aos advogados que firmaram as peças. Esses profissionais foram intimados para
regularizar a representação e somente o patrono do mestre da escuna, Sr. Carlos Norbin
Neves, primeiro representado, juntou a procuração. O segundo representado foi intimado
pessoalmente para regularizar a representação ante a inércia do advogado, mas também
se manteve inerte, tendo sido sua contestação considerada inexistente e ele revel, situação
da qual foi notificado na forma do Regimento Interno da Corte.
Aberta a instrução somente a PEM se manifestou e disse que não pretendia
produzir provas e em alegações finais, igualmente, somente a PEM se manifestou,
reiterando os termos da inicial.
É o relatório.
Decide-se:
A acusação que pesa sobre o primeiro representado, mestre da embarcação, é
a de ter causado o acidente ao errar e navegar por área demarcada por linha de perigo na
carta náutica, sobretudo em condições de baixa visibilidade. O segundo representado,
3/5
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 28.876/2014........................................)
===============================================================
proprietário da embarcação, foi acusado de causar o acidente ao não fornecer cartas
náuticas ao mestre.
A defesa do primeiro representado apresentou a excludente da força maior,
afirmando que durante a navegação foram surpreendidos por brusca mudança do tempo,
que o levou a se abrigar em águas rasas, que o choque com pedras não causou dano
algum e que sua atitude, ao contrário de trazer riscos, teria trazido alívio aos passageiros
que o elogiaram.
O segundo representado apresentou contestação desacompanhada, porém, de
procuração e mesmo intimado pessoalmente para regularizar a representação do
advogado que assinava a peça, manteve-se inerte, sendo considerada inexistente a
contestação e o representado revel. Desse modo, os fatos alegados contra ele na inicial
ficaram incontroversos.
Deve ser acatada a defesa do primeiro representado e considerar que sua
navegação por área repleta de obstáculos sem o auxílio de uma carta náutica deveu-se à
mudança brusca do tempo e, assim, o acidente teria estreita relação com um evento de
força maior. O primeiro representado somente buscou abrigo do mau tempo, conforme
teriam confirmado as testemunhas ouvidas durante o inquérito e também a declaração do
mestre de outra escuna que passara pela mesma situação. A falta de uma carta náutica
nesse caso fica ofuscada pela excludente da força maior.
O segundo representado por sua vez, embora revel, não pode tampouco ser
responsabilizado por não ter fornecido a carta náutica a seu mestre, pois não foi essa
falha a causa do acidente, conforme dito linhas acima. A falta de provimento desse
equipamento de navegação fundamental à segurança da navegação, porém, é motivo de
reprimenda da Autoridade Marítima por ferir as normas de navegação, ainda que não
tenha relação de causa e efeito com esse acidente especificamente.
Assim, o acidente da navegação que nesses autos se caracterizou pela colisão
de uma escuna com pedras submersas e causou danos materiais de pequena monta na
escuna, teve por causa determinante a necessidade da busca por águas abrigadas por parte
do mestre durante uma mudança brusca do tempo, caracterizando a excludente de
culpabilidade da força maior, devendo a representação ser julgada improcedente. Deve-
se, porém, oficiar a Agente Local da Autoridade Marítima para que possa aplicar as
sanções pertinentes ao proprietário da embarcação, por não prover a embarcação com
cartas náuticas, infringindo normas de tráfego.
Assim, acordam os Juízes do Tribunal Marítimo por unanimidade: a) quanto
à natureza e extensão do acidente da navegação: colisão de escuna com pedras submersas
com danos materiais de pequena monta na embarcação, sem danos a pessoas ou poluição;
4/5
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 28.876/2014........................................)
===============================================================
b) quanto à causa determinante: mudança de rumo da escuna em busca de águas
abrigadas durante mudança brusca do tempo; c) decisão: julgar o acidente da navegação
constante do art. 14, alínea “a”, como decorrente de força maior, exculpando Carlos
Norbin Neves e Roberto Barreto de Oliveira, mandando arquivar os autos; e d) medidas
preventivas e de segurança: oficiar a Capitania dos Portos do Espírito Santo, Agente
Local da Autoridade Marítima, para, nos termos do art. 33, parágrafo único, da Lei nº
9.537/97 (LESTA), possa aplicar as sanções administrativas cabíveis ao proprietário da
Escuna “MONTE SANTO III”, por ter deixado de prover a embarcação de cartas
náuticas.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 11 de outubro de 2017.