: =--,sa6.::.u no plano me
nues esses vestígios - a frase de O. de A. depende quase que exclusiva-
mente da interpretação que· lhe possa dar o leitor. Ela não é auto-suficien-
'-'--"-=..., ser if'ii==-»Gida corno um coa
te, não pode ser claramente entendida, mesmo que situada no seu contex- - -;.:--=:;:~~t=i::leme. da am:i
to (capítulo "145. Criação de papagaios", em que o Autor faz a crônica ~- diz I, i. Revzín (cir,
rr.:r:J=:::JC-.;.:_ ~:iques", na revista !mj
mordaz da "sala verde das audiências no Fórum Cível Paulista"), a menos
que o leitor se encarregue de "mentalizar" os possíveis enlaces lógicos, sin-
- ~-el_se rrouven: justitj
táticos e semânticos entre os seus componentes.4 ~- 1
4 Predominante não apenas em Memórias sentimencais de João Miramar (1924) mas também
em Serafim Ponte Grande (1933), essa estrutura de frase reflete aquele experimentalismo estilís- oagruências incompaábili
tico rebelde e irreverente da segunda e da terceira décadas deste século (impressionismo, que, ms configuradas em ou resul
aliás, vem de muiro antes, dadaísmo, surrealismo, "escrita automática"). Fragmentada e inten-
cionalmente antidiscursiva, pictórica e visual à maneira da técnica cinematográfica pela sua jus·
riio lógica lueral: "os qua
raposíção de planos, essa frase revela o propósito de romper com os moldes tradicionais, de in- - e quadrada ". "seus olhos 31
vestir ironicamente, desdenhosamente até, contra a verbosidade oca, elitista, e engravatada que, ~ tipo só são conrradirórías se ~
não apenas entre nós mas também alhures (ou sobretudo alhures), acabara estiolando o estilo - roda possibilidade de um -9.~
daquela prosa (e também daquele verso) cuidada, pomposa, apolínea, preciosista e elegante,
co1:res-..a5ão c-es[a mesa, que
purista e canônica - herança parnasiana - que precedeu a "revolução" estilística desencadea-
da pelo advento dos vários "ismos" gerados pelo fuc:urismo martnennno. Se é válida como expe- arada . "seus olhos. que
riência, válida sobretudo por ter rompido os grilhões rigidamente gramaticais e retóricos do quer de um sentido meraf ·
passado írncdíaro ou remoto, não constitui, em virtude dos seus excessos, nem padrão nem mo- seus termos: "os quadrúpedes,
delo. Tendo rompido com um passado, está hoje sepultada em outro. Mas deixou as suas pega-
das, por onde outros seguiram e têm seguido com menos radica llsmo.
5 Cf. o comentário que, a próposito dessa frase de Chomsky, faz R. Jakobson em Lingü{stica e
rado por CH0!-151-."Y,~ t!t
comunicação, p. 94-5.
ÜTIION M. GARCIA + 35
Fxernplo inspirado por CHOMSKY, A.~pecrs de lu théorie sy11taxh1ue. trad. fr., p. 111.
36 • (OMUN CAÇÃO EM PROSA MODERNA
pedes". É o "subentendimento" do sentido metafórico subjacente que dá duos nos dias de hoje,
validade aos paradoxos do tipo "falo melhor quando emudeço", aos oxí- meios de comunicação."
moros, ou aliança de contrários (obscura claridade, triste contentamen- resulta uma inadequada
to, deliciosa desventura, doce amargura) e às sinestesias (rubras clari- queria dizer é que "apess
nadas, voz acetinada, cor berrante). municação" as relações
b) impropriedade ou ausência de partículas ou locuções de transição entre os tos ideológicos, raciais e
segmentos de uma frase: "A paz mundial tem estado constantemente
ameaçada, posto que a humanidade se vê dividida por ideologias anta- revele conformidade com
gônicas." "Posto que" não é "porque" nem "visto que", mas "embora", cultural: "O Sol é gélido
"se bem que". - "O progresso da ciência e da tecnologia tem resulta- répteis são mamíferos" e
do em extraordinário desenvolvimento dos meios de comunicação; os gral e indiscutível mas •
homens se desentendem cada vez mais." O que o autor da frase preten- rios a toda a nossa expe
dia era mostrar o contraste entre o desenvolvimento dos meios de co- 5 constitua um enunciado ~
municação e o desentendimento entre os homens, contraste que deve- re um mínimo de probal
ria vir explicitamente indicado por partícula de transição adequada, pos." Será que conhece?
como "no entanto", por exemplo; o simples ponto-e-virgula não é sufici- seja estruturada de tal ,
ente para estabelecer essa relação, de forma que os dois segmentos do componentes para se torr
texto não chegam a constituir uma unidade frasal, mas apenas duas de- de despejo que o advog
clarações desconexas (ver 3. Par., 4.0). desconheço mandou me
e) omissão de idéias de transição lógica: "O progresso tecnológico apresen- causa perdida." Apesar •
ta também seu lado negativo: a incidência de doenças das vias respira- vel com algum esforço.
tórias torna-se cada vez maior em cidades como Tóquio, Novà York e co~põem o período), e
São Paulo." A omissão de referência à poluição do ambiente, provoca- nhas das suas múltiplas.
da pelos gases venenosos expelidos por veículos, fábricas, incinerado- te confusa."
res, etc. das grandes cidades, torna as duas declarações, contidas nas
duas orações justapostas, se não incompatíveis, pelos menos descone- (Para outros aspecto
xas ou dissociadas. A omissão de certas idéias, de certos estágios do ra- ! .2, 1.3 e 2.5 a 2.8. Quar
ciocínio pode levar a estabelecer falsas relações: "Verdadeira revolução bérn 1.4.5.2, "Paralelismo ~
na área dos transportes e das comunicações levou ao desenvolvimento
de novas fontes de energia, e recentes conquistas da eletrônica e da n·
sica nuclear modificaram profundamente o conceito de guerra." É certo
que a "revolução na área dos transportes e das comunicações levou ao
1.2 Frases de situ:
desenvolvimento de novas fontes de energia", mas é preciso explicar co- Do ponto de vista d
mo, o que o autor não fez por ter omitido certas idéias de transição, uma unidade do discurso
certos estágios da seguinte relação de causa-e-efeito: revolução nos sempre é assim. Já vimos.
transportes > aumento do consumo de combustíveis > possível escas- jeito. Existem também as
sez ou exaustão deles > necessidade de novas fontes de energia (com- outro desses termos, ou o~
bustíveis, etc.). Difícil ainda de perceber é a relação entre "revolução Às vezes, no ccnre»
nos meios de transportes" e "recentes conquistas da eletrônica e da físi- rico onde se acha a frase
ca nuclear" que modificaram o conceito de guerra. No caso, uma locu- "ambiente físico e social o
ção como "por outro lado", em vez de um simples "e", correlacionaria
mais adequadamente as duas declarações, mostrando que elas correm
paralelas e vão ser desenvolvidas a seguir. Quanto à cssencia dos itens 4, S
d) subversão na ordem das idéias: 'Apesar dos conflitos ideológicos, raciais te "grammaticalité".
e religiosos que marcam inconfundivelmente as relações entre os indiví- 7 CÂMARA JÚNIOR, J. Matoso. l
ÜTHON M. GARCIA + 37
" Quanto à esscncía dos itens 4, 5 e 6, cf. DUBOIS, Jean, el ai., Diccionnaire de linguistic1ue, verbe-
re "grammaticalité".
7 CÂMARA JÚNIOR. J. Matoso. Princípios de lingii(stica geral, p. 103.
38 • e o M u N I e A e Ão EM p R os A Mo D E R NA
bos estão subentendidos. Uma advertência ou aviso (Fogo! Perigo de vida, Dá dois passos
Contramão), um anúncio (Leilão de obra de arte, Apartamentos à venda), ~ ~"10 de \lasm se
uma ordem (Silêncio1), um juízo (Ladrão, i.e., \locê é um ladrão), um ape-
lo (Socorro', Uma esmolinlia pelo amor de Deust), a indicação de um fenô- - Xão disse?
meno (Chuva! i.e., Está chovendo), um simples advérbio ou locução adver- A cama de ieri
bial (Sim, Não, Sem dúvida, Com licença), uma exclamação (Que bom!), nm. O lavatório esmaj
urna interjeição (Psiu!) são ou podem ser considerados como frases, embo- ra de pau, o rínteiro
ra lhes falte a característica material da integridade gramatical explícita.
Só mentalmente integralizados, com. o auxílio do contexto ou da situação,
é que adquirem legítima feição de frase.
A esse tipo de frase chamam alguns autores "frase de situação", 8 e _;;;;,; 511 verso:
outros "frases inarticuladas",9 entre as quais se podem ainda incluir, além
das acima indicadas, as saudações (Bom dia), as despedidas (Até logo), as
chamadas ou interpelações, isto é, vocativos desacompanhados (Joaquim!) 5..:lgue coalhado.
e fragmentos de perguntas ou respostas. No discurso direto (diálogo), se Espalmado
alguém nos diz "Ele chegou", é provável que peçamos um esclarecimento ?esadelo sinistro de ~
De sinisuas
sob a forma de um fragmento de pergunta representado por um simples
pronome interrogativo - Quem? - em que se subentende "Quem che-
gou?" - ou um advérbio interrogativo - Quando? i.e., "Quando che-
gou?" São frases de situação ou de contexto, insubsistentes por si mes- Sobre o capim on
mas, se destacadas do ambiente lingüístico ou físico e social em que são .laciez das boninas.
enunciadas. espinho de rosetas.
cncris sutis nesse m
tão pequenino ...
1.3 Frases nominais
Há outro tipo de frase que também prescinde de verbo, constituída __E as minhas unhas
que é apenas por nomes (substantivo, adjetivo, pronome): Cada louco com Idéia de olhos pinrad
sua mania, Ceda macaco no seu galho, Dia de muito, véspera de nada. Nes- ~.teus sentidos maqu
sas frases, chamadas nominais - e também, mas indevidamente, elípticas A tintas desconhecid
- na realidade não existe verbo, o qual, entretanto, pode ser "rnentado":
cada louco (tem, revela, age de acordo) com sua. mania, cada macaco (de-
ve ficar) no se.t galho, dia ele muito (é, sempre foi), véspera de nada. A fra- Firas de cor, vozeana
se, em si mesma, não é elíptica; o máximo que se poderia dizer é que o Os automóveis replec
verbo talvez o seja. Seus chauffeurs - o~
Com librés de fantasj
Característica de muitos provérbios e máximas, comum na língua fa- (M;i
lada, ocorre com freqüência na língua escrita, em prosa ou em verso. É
uma frase geralmente curta, incisiva, direta, que tanto indica de maneira
breve, sumária, as peripécias de uma ação quanto aponta os elementos es- ~ o primeiro exem
senciais de um quadro descritivo, quer em prosa: ~ não caótica, pois
_ no conjunto do quad
'llais verbos, mas ..-e~r
K Cf. FRANCIS, W. Nelson. Tne strucwre of Amcrican Englis/1, p. 374. de estado ou repo
9
CI'. MAROUZEAU. J. Précis ele scylistiquc .française, p. 146. Cf. ainda Said Ali, Meios de ex· seus associados semânri
pressão e alterações semânt.icas. p. 48 e ss.
_;abalhada à maneira tra
I UFPE Bibiioteca-C~~·
ÜTHON M. GARCIA + 39
quer em verso:
~a literatura bra.si
via uma cama de ferro (sobre a quaJ se estendia) uma colcha branca e
C.OillSIBS delas se se.rveni
(onde repousava) um travesseiro com fronha de morim ... etc. - com um
:re:::.: de preferência ou e
só verbo (haver) a servir de madrinha a toda a tropa de nomes, ou um
=XEJ:Iolo de um cro=·
para cada unidade do trecho (repousava, estendia-se, etc.). Mas, qualquer
-=!!!?()râneos que manit
que fosse ele ou eles, seriam verbos de "encher", e a consciência - ou
e-excedíveis:
presciência - de que seriam desse teor levou o autor a evitá-los, por pre-
sumíveis, contribuindo assim para a economia da frase, já que não era seu
propósito deter-se na descrição detalhada do quarto, nem lhe interessava Um calor d
fantasiar ou animizar os seus componentes. Tratava-se apenas de uma vi-
são inicial rápida, de um simples correr d'olhos sem mais detença.
Nos exemplos em verso, mais ainda do que no anterior, a presença
Abismos em
do verbo é praticamente - perdoem-nos o adjetivo e a grafia - "ínmentá-
bam de explodir um
vel". O que os três poetas queriam expressar eram puras sensações - de
asco e tédio, em Cruz e Souza, de volúpia sensorial, em Augusto Meyer, e
de imagens que se gravaram na retina e na memória do poeta, em Sá-Car-
neiro. Neste, aliás, como nos simbolistas e impressionistas de um modo ge- O segundo trecho
ral, são muito freqüentes as frases nominais: no poema de que extraímos o ío: pane com verbo
exemplo há vinte e duas estrofes assim constituídas. calvez mais comum:
No caso dos provérbios, o verbo é facilmente mentável. Num exame P3l()ào. são nominais,
rápido de cerca de trezentos deles, dos mais comuns, verificou-se que vin- verbo claro. Veja-se
te e seis eram constituídos por frases nominais do tipo "cada macaco no
seu galho" (urna unidade) ou "dia de muito, véspera de nada" (duas uni-
dades em paralelismo). Desses vinte e seis, dezesseis - mais de 60% - - Chuvas d
ponteiros dos pára-h
poderiam admitir o verbo ser ou correlatos; oito - cerca de 30% -, ha-
ver ou correlatos, e somente dois admitiriam verbos de outras áreas (um ir, recortada na noite.
gos. Cacadupas des;i
o outro, ter). ::uma água única, e
Ora, nos provérbios de estrutura frásica não nominal, a variedade mágico (. . .)
dos verbos é inumerável, o que nos leva a presumir que nominais são, na
quase-totalidade dos casos, aquelas frases cujo verbo, "mentável", i.e.,
"pensável" é ser ou da área de ser, excepcionalmente haver e raríssimamen- que, com o desa
te outros. pessoas ( ...)
A tradição das frases sem verbo data do próprio latim (''.A.rs longa,
vita brevis"), particularmente na linguagem familiar, como nas comédias de ruas igualmente
Plauto. Entretanto, mesmo os clássicos puristas como César e Cícero, para morros( ...)
não citar outros, delas se serviam habitualmente.
Todavia, ao classicismo dos séculos XVI a XVIII, principalmente na li,
teratura francesa, parecia repugnar esse tipo de construção, que, em certa
medida, só se generalizou no decurso do século XIX, a partir do romantis-
mo, ou mais exatamente, a partir de Victor Hugo: "Dans les lettres com-
me dans la société, point d'étíquette, point d'anarchie des lois. Ni talons
ooes reduzidas de gerú
rouges, ni bonner rouge."1 º ~ "quando os ponteí
se avista ...., (a de l
csoorregarem .. ", além
'"'tiz:lsfonnando o Palá ·
JO Apud COHEN, Marcel. Grammaire er style, p. 93 .
• v- • t·- ...
ÜTHON M. GARCIA + 41